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MICHEL DE CERTEAU: VIDA E OBRA

BENTIVOGLIO, Julio; AVELAR, Alexandre de Sá (Orgs.). Afirmação da história como


ciência no século XX: de Arlette Farge a Robert Mandrou. Petrópolis: Vozes, 2016. 168 p.

Michel Jean Emmanuel de La Barge de Certeau nasceu em 17 de maio de 1925 em


Chambéry, na França e faleceu em Paris em 9 de janeiro de 1986. Durante a infância e juventude
estudou em colégios católicos, como o Notre Dame de La Villete, no Colégio Marista e em
seguida em Sainte-Marie de La Seyne-sur-Mer. Neste último aproximou-se da liga dos Jovens
Estudantes Cristãos. Na Adolescência lutou esgrima e praticou montanhismo nas encostas dos
Alpes de sua Savoia Natal. No catolicismo encontrou sua maior vocação. Formou-se em
filosofia, tendo estudado nas universidades de Grenoble e Paris, depois no Instituto Católico de
Lyon de onde seguiu para o seminário de Issy-des-Moulineux, dos Jesuítas, em 1944, em 1948
recebeu a tonsura e também se tornou discípulo de Henri de Lubac.
Em suas duas primeiras obras editou fontes relacionadas com a Companhia de Jesus.
Ali já promovia uma elisão das fronteiras nas Ciências Humanas. Sua atuação é
multidisciplinar: jesuítas, historiador, antropólogo, semiólogo, teólogo, especialistas em
mística e psicanálise. Lecionou História e Antropologia na Universidade de Paris VII em
Vicennes entre 1968 e 1971 e em Paris VII (Jussieu) entre 1971 e 1978. De 1977 a 1978 foi
professor convidado da Universidade de Genebra e também, a partir de 1978 até sua morte, foi
professor titular da Universidade de São Diego, na Califórnia. Seus estudos sobre a
Correspondência de Surin, jesuíta místico do século XVII, configuram um “minucioso”
trabalho de erudição que foi o prenúncio de suas reflexões sobre a escrita da história.
Certeau foi um dos fundadores da Revista Christus, periódico da Companhia de Jesus,
e também, junto com Jacques Lacan, da École Freudienne de Paris (1964-1980). Transitou com
independência diferentes instituições como a Igreja, o Estado e a Universidade. Iconoclasta,
relativizou a noção de verdade e de objetividade absoluta na produção do conhecimento.
Perfeccionista, via sempre com insatisfação seus textos e sempre voltava a retomá-los, refazê-
los e a corrigi-los. Ao viajar por diferentes países, somou bagagem que o credenciou como um
dos melhores analistas de seu tempo, em particular, do movimento de Maio de 1968. Naquela
ocasião fez dura crítica dos excessos retóricos mobilizados na crítica política e cultural que se
colocava. Em 1968 comprovou que “cada partido recebe a sua credibilidade daquilo que crê e
faz crer a respeito de seu referente [...] cada discurso político tira efeitos de real ao que supõe e
faz supor da análise econômica que o sustenta” (CERTEAU, 1994, p. 290).
Com La prise de la Parole (A suspensão da palavra, 1968) criticou determinadas
posturas de Maio de 1968 e ganhou muitas inimizadas. Ali, combateu a presença da ideologia
e da presunção na produção dos saberes, pois, tais como as verdades da fé, seriam fomentadoras
de aparatos de ortodoxia e incompreensão. A sua desilusão com Maio de 1968, culminará na
redação de A cultura no plural (1974). Nessas duas obras, Certeau percebeu que há uma
convergência entre as convicções políticas, religiosas e científicas, que lhe permitiu
desenvolver uma verdadeira antropologia da fé e da crença, provocando um deslocamento da
centralidade da razão como elemento decisivo para compreensão do real rumo às sensibilidades
e paixões, que, por sua vez, seriam instituidoras poderosas de ações e de significados. Para o
jesuíta, a vida social exige a crença, nos mitos, na política, nas religiões e até na ciência.
Seu quadro de suas influências é bastante multifacetado. Nele figuram o impacto do
pensamento de Foucault sobre o poder, as práticas e os discursos; a psicanálise de Freud e de
Lacan na discussão sobre a formação da subjetividade e da alteridade; o apreço à desconstrução
e a linguagem na trilha de Roland Barthes; a contribuição da etnologia de Lévi-Strauss.
Ademais, tentou integrar a história e a antropologia, mostrando as afinidades entre ambas. Foi
ainda um leitor atento de Hegel, de Wittgenstein, de Nietzsche e de Karl Marx.
Semelhantemente a Bourdieu, interessou-se pelo surgimento e o lugar das práticas nas relações
sociais, e a Foucault pelos seus efeitos. De Immanuel Kant, Certeau extraiu suas reflexões mais
gerais sobre o sentido das práticas e sua relação com a teoria e a arte: o tato lógico. É possível
perceber em Certeau a construção de procedimentos à la Foucault e de estratégias conforme
Bourdieu, que “formam um campo de operações dentro do qual se desenvolve também a
produção da teoria” (CERTEAU, 1994, p. 152). Certeau apontará limites para a ambição da
sociologia de Pierre Bourdieu em relação ao alcance das operações interpretativas, sobretudo
em relação ao conceito de habitus, localizando aí aspectos mais flexíveis, dinâmicos e
multifacetados. Esse tipo de reflexão teórica não era bem-visto por alguns historiadores. Ao
lado de Paul Veyne e Henri-Irenée Marrou promove uma historização da disciplina histórica,
realizando uma análise genealógica sobre o fazer do discurso historiográfico. Para ele havia um
déficit de historização da história, como afirmou no seminário Magazine Littéraire realizado
em 1977, que reuniu Phelipe Ariès, Certeau, Le Goff, Emmanuel Ladurie e Paul Vayne.
Baudrillard é outra referência, sobretudo em sua teoria sobre o simulacro. Assim como
Benveniste e Greimas no tocante à linguagem. Mais influências vieram também dos estudos
literários com Maurice Blanchot e Jacques Derrida, da filosofia de Emmanuel Lévinas, da
antropologia cultural de Clifford Geertz e dos estudos políticos-culturais de Edwad Said. Um
dado importante em sua formação é a presença de Hegel, que estudou a partir da leitura de
Alexandre Kojève. Passou a confrontar a dialética com a heterologia, ao defender que um
mesmo objeto ou objetos iguais são capazes de emanar uma diversidade de funções e
significados. Tal pista levou-o a discutir os fundamentos disciplinares no campo das ciências
sociais. Segundo Olivier Mongin, Certeau era seduzido pela heterologia – inspirada, sobretudo
na leitura de Hegel, Georges Bataille, Gilles Deleuze e Michel Foucault. É frequente em sua
obra a reflexão a partir da completa relação entre o vivido e o discurso, bem como a referência
constante ao “retorno do reprimido”. A respeito de Foucault, confessa: “A arqueologia foi para
mim o modo através do qual tentei particularizar o retorno de um reprimido, um sistema de
escritas do qual a Modernidade fez um ausente, sem poder, entretanto, eliminá-lo” (CERTEAU,
2002, p. 25).
Além da teorização sobre a sociedade, com ênfase no recorte histórico, Certeau procura
articular o pensamento de maneira sinuosa, que atravessa e brota das práticas cotidianas. Logo
percebeu as aporias estruturalistas no interior das ciências humanas que desconsideravam a
materialidade das práticas e sua refiguração por meio da escrita. Na verdade, Certeau elabora
um sofisticado sistema de análise dos relatos e das práticas que aparece em diversas obras, como
a Invenção do cotidiano, A escrita da história, L`Absente de l`histoire e na La fable mystique.
Estudioso atendo do cotidiano e das práticas culturais populares no espaço público, Certeau
procurou articulá-los através de diferentes aportes teóricos e métodos, na qual se destacam duas
grandes temáticas: a) a literatura mística, ao reler o corpus da tradição cristã na Renascença e
na Idade Clássica, estabelecendo uma cartografia das estruturas psicológicas dos autores
místicos, captando-lhes a expressividade e as manifestações da fé cristã, e b) a crítica das
instituições e os processos de institucionalização das disciplinas, tomando como mote a história
e os movimentos sociais.
Outro ponto importante de seu trabalho e o que denomina de, na esteira de Freud, o
“ausente da história”; cujo

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