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Fotógrafo faz registro raro de tribo isolada em floresta no Acre; veja imagens

Caio Quero e Felipe Souza Da BBC Brasil em São Paulo 22 dezembro 2016
http://www.bbc.com/portuguese/brasil-38399604
O céu escureceu e uma forte chuva obrigou o helicóptero que sobrevoava uma floresta no Acre a
pousar. O temporal demorou para passar e a tripulação decidiu voltar ao ponto de partida antes de
escurecer.
A chuva frustrou a viagem, mas proporcionou um registro raro e histórico de uma tribo indígena isolada,
próximo à fronteira com o Peru. "É como achar uma agulha no palheiro. Pura sorte", definiu o fotógrafo Ricardo
Stuckert.
A BBC Brasil teve acesso a parte dos registros feitos por Stuckert no último domingo. Ele viajava para a
aldeia Caxinauá (também no Acre), onde faria uma sessão de fotos para o livro Índios Brasileiros.
A obra vai documentar a rotina de 12 tribos brasileiras e será lançada no dia 19 de abril de 2017 - Dia do Índio.
Um dia após a publicação dessa reportagem, a Funai se manifestou sobre o tema criticando a maneira que
classifica como 'invasiva' com a qual as fotos foram feitas.
"A reportagem demonstra desrespeito aos povos indígenas isolados ao expor publicamente indígenas que
se mantêm em isolamento por decisões próprias. (...) Os efeitos de uma violência simbólica desse nível são social e
culturalmente imensuráveis", afirmou, por meio de nota.
Mas ele estava acompanhado do experiente sertanista José Carlos Meirelles, que trabalhou para a
Fundação Nacional do Índio (Funai) durante 40 anos, e a dupla resolveu investigar uma área da mata com mais
calma.
"Depois da chuva, a gente voltou e viu umas malocas feitas de palha. A gente estava voando muito rápido,
mas vimos plantações e decidimos voltar. Encontramos a tribo e eu comecei a fotografar", relata o fotógrafo.
Ao identificar uma possível ameaça, os índios reagiram. Os olhares de surpresa e raiva contra o
helicóptero foram registrados pelas poderosas lentes de longo alcance de Stuckert. A tribo atirou dezenas de
flechas na tentativa de afastar a aeronave, que sobrevoou a região durante sete minutos.
O próprio Meirelles avalia o voo como algo invasivo à comunidade isolada. "É um registro importante,
mas é uma certa agressão. Por isso, a gente toma o cuidado de não voar baixo para não assustar tanto. Por outro
lado, o mundo precisa saber que eles existem e que precisamos de políticas para conservá-los", disse Meirelles,
que demarcou áreas de tribos isoladas durante os 20 anos que trabalhou na região.
Ele estima que a tribo, identificada apenas como "Índios do Maitá", por estar próxima ao rio de mesmo
nome, é composta por cerca de 300 pessoas. O número, segundo ele, é bem grande para uma aldeia isolada.
Algodão
Segundo o sertanista, não há nenhum relato ou documento de aproximação dessa tribo com povos
civilizados e até mesmo outros grupos.
Após o sobrevoo e uma primeira análise das fotos de Stuckert, José Carlos Meirelles identificou detalhes
que revelam alguns costumes dos índios isolados.

"As mulheres usam uma saiota e eles têm plantações de algodão. São sinais de um povo que tece e fia.
Parte deles também possui um cabelo incomum: careca até a metade da cabeça e comprido da metade para trás",
relatou.
O sertanista afirmou que os índios são mais altos que a média e os homens amarram o pênis a uma espécie
de cinta. O especialista também identificou que a tribo planta milho, banana, mandioca e batata.
O grupo fotografado vive numa área de 630 mil hectares onde estão três reservas indígenas: Kampa
Isolados do Envira, Alto Tarauacá e Riozinho do Alto Envira. O sertanista disse que, apesar do completo
isolamento, a localização aproximada da tribo já era conhecida.
Nas fotos, não foram identificados objetos ou características que possam ter sido influenciadas ou levadas
a eles por outros povos.
Um dos fatores apontados pelos especialistas para a sobrevivência da tribo é o fato dela estar localizada
numa região de difícil acesso de madeireiros, garimpeiros e seringueiros.
Emocionante
Stuckert, que trabalhou como fotógrafo da Presidência da República durante oito anos e tem 28 anos de
experiência na profissão, disse que o registro dos índios está entre "os mais emocionantes" de sua carreira.
"Eu gostaria de voltar lá, mas acho que a gente não pode ter contato. Precisamos preservar isso e quero
que as minhas fotos mostrem que a gente tem que mapear tudo o que está perto e protegê-los para que não tenham
problemas externos", afirmou.
O fotógrafo disse ter ficado "maravilhado" por registrar pela primeira vez na sua carreira uma população
que nunca teve contato com uma população isolada.
O sertanista José Carlos Meirelles também demonstra felicidade por ter visto os índios isolados, mas se
disse preocupado com o possível avanço do desmatamento e de seringueiros.
"Fiquei muito feliz em saber que estão bem. Foi muito bom ver que eles têm um roçado e estão no seu
espaço. O problema é que ninguém sabe até quando."
Funai
Leia a íntegra da nota da Funai sobre as fotos.
"Primeiramente, a reportagem demonstra desrespeito aos povos indígenas isolados ao expor publicamente
indígenas que se mantêm em isolamento por decisões próprias. O teor invasivo do sobrevoo e, consequentemente,
das fotografias pode ser percebido no semblante de terror dos indígenas e na postura de ataque ao empunhar arcos
e flechas contra a aeronave, conforme registrado na própria reportagem. Os efeitos de uma violência simbólica
desse nível são social e culturalmente imensuráveis.
A instituição refuta argumentos que defendem que esse tipo de trabalho pode, de alguma maneira,
contribuir para a defesa dos povos em questão, uma vez que atende somente aos interesses de venda de notícias
sensacionalistas, não segue estratégias de proteção territorial e se omite diante dos direitos dos povos indígenas.
Prova disso é o fato de que o trabalho foi realizado à revelia dos trâmites necessários ao controle de acesso a Terras
Indígenas, inexistindo autorização de ingresso ou observância do direito de imagem, o que configura violação de
direitos fundamentais preconizados na Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho.
A legislação indigenista tem mecanismos de proteção aos povos indígenas isolados e de recente contato,
de maneira que a Funai tomará providências para a devida responsabilização dos autores e envolvidos, assim como
para o resguardo dos povos indígenas em questão."
Comentário:

Portugueses invadiram as terras do litoral Brasileiro há 518 anos, em caravelas vindas da


Europa cruzaram o oceano atlântico e atracaram no continente americano. Depois de entrar em
contato com os povos nativos, fizeram excursões levando indígenas para a nobreza europeia
conhecê-los, além das tentativas em evangelizar os índios. Semelhante ao fato narrado pela matéria,
agora com a câmera fotográfica e um helicóptero, fotografa-se essas pessoas e as usa para promover
um livro. Provavelmente, com o intuito de mostrar o “primitivo”, “selvagem”, isolado, etc. Para
satisfazer o prazer estético/intelectual dos moradores de centros urbanos, muitos deles alienados e
com a mesma curiosidade que a corte portuguesa tinha há centenas de anos. Em uma das imagens os
índios assustados tentam se proteger da ameaça atirando flechas ao helicóptero. Ironicamente essa
imagem é a que rende mais louros ao fotografo, por demonstrar a inocente ignorância do selvagem.
Retrato triste.
O velho é ressignificado pela tecnologia, pela moral e ética na atualidade, pela antropologia e
a arte. Troca-se navios por aeronaves, a captura física pela captura visual da máquina, a
prisão/assentamento pelas páginas de um livro, que eles nunca verão nem saberão da existência.
Apenas servindo a um registro.

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