Вы находитесь на странице: 1из 16

Débora Aparecida Ataíde Ampessan

Acadêmica do 4º ano do curso de Direito da Universidade Positivo

Em Crime e Castigo1, Raskolnikov, um jovem e inteligente estudante


que mora em São Petersburgo, longe da mãe e irmã, encontra-se em uma
fase turbulenta de sua vida: está sem dinheiro para sobreviver ao mesmo
tempo em que, devido a uma rebeldia existencial interior, não aceita serviços
que poderiam lhe retornar alguma renda. Além disso, permanece dia-a-dia
no máximo isolamento possível, evitando contato com os demais seres hu-
manos porque estes lhes causam uma irritação insuportável. Interrompeu
seus estudos, não consegue pagar o aluguel de sua moradia e tem empe-
nhado objetos com uma velha usurária. Surge-lhe, então, a idéia de que po-
deria matar essa velha e roubar seu dinheiro e objetos empenhados, poden-
do, assim, resolver seus problemas econômicos. Estimula-o, ainda, o pen-
samento de que o assassinato seria uma forma de fazer um bem à humani-
dade, já que a velha, em sua perspectiva, prejudica diversas pessoas porque
usurpa bens alheios e maltrata a irmã.

1
DOSTOIÉVSKI, Fiódor. Crime e Castigo. São Paulo: 34, 2001.

RAÍZES JURÍDICAS Curitiba, v. 5, n. 2 jul/dez 2009 299


A justificativa para o assassinato fundamenta-se em uma tese por ele
mesmo elaborada: o mundo é composto por duas categorias de pessoas, as
extraordinárias e as ordinárias, características essas determinadas por lei da
natureza. As pessoas extraordinárias têm a faculdade, ou talvez até mesmo o
dever, de praticar condutas que violem a lei vigente se assim for necessário
para executar grandes obras, nem que para isso precisem eliminar pessoas. Já
os ordinários, que seriam a maioria, são os demais indivíduos que vivem na
obediência às leis e gostam de agir dessa forma porque é esse seu destino.
Raskolnikov resolve pôr em prática seu plano de matar a velha para re-
solver seus problemas econômicos, mesmo compreendendo ser um ato vil
que vai de encontro aos valores morais e à lei posta, pois, logicamente, en-
contra uma justificante para essa atitude, já que se considera um homem
extraordinário. O direito oficial que proíbe “matar alguém” pode ser descon-
siderado e sua consciência está autorizada porque, com a realização do la-
trocínio, além de obter vantagem econômica para si, dará cabo da velha usu-
rária que prejudica tantas outras pessoas.
Raskolnikov leva adiante seu plano e comete um duplo homicídio, ma-
tando a velha com um machado e também a irmã dela que chega inespera-
damente no apartamento e encontra o corpo sangrando no chão enquanto
ele ainda recolhia objetos. Apesar de planejar previamente todos os atos, por
vários dias, de forma a não deixar pistas, ele comete vários deslizes porque
não consegue comportar-se friamente e racionalmente como previra. Entre-
tanto, alguns acasos permitem que ele saia do local do crime sem que nin-
guém o perceba.
Após a execução dos homicídios, Raskolnikov é assolado por neuroses
e passa a ter um comportamento extremamente doente e arredio, tendo difi-
culdades para controlar suas atitudes. Do ponto de vista objetivo, seu crime
foi perfeito, pois o investigador, apesar de conseguir elaborar uma convicção
própria de que Raskolnikov é o assassino – ainda que outro suspeito tenha
confessado o crime por motivos particulares – não pode acusá-lo publica-
mente, nem levá-lo a julgamento, por falta de provas materiais e porque ele
não confessa ser o verdadeiro criminoso.
Durante o passar dos dias, o estado físico, emocional e mental de Ras-
kolnikov agrava-se extremamente e sua consciência não consegue suportar
o sentimento de culpa pelas execuções que realizou. Além da angústia insu-
portável em virtude do crime desprezível que cometeu, Raskolnikov reluta
em aceitar o fato de que é um homem ordinário na sua concepção de mun-
do, pois não permitiu à própria consciência sustentar as suas atitudes. Por
fim, acaba confessando o crime e indicando provas irrefutáveis em relação à
autoria. É, então, julgado, e passa a cumprir sua pena na Sibéria. Após al-
guns anos na prisão, Raskolnikov acaba por experimentar uma espécie de
redenção, a qual lhe traz certo alívio para a mente e alma; só então passa a

300 RAÍZES JURÍDICAS Curitiba, v. 5, n. 2 jul/dez 2009


considerar uma nova vida para quando sair da prisão, junto com Sônia, pri-
meira pessoa a quem ele havia confessado o crime e que lhe acompanhou
durante todo o tempo em que esteve em reclusão.

Na concepção de Raskolnikov, uma lei da natureza, ainda desconheci-


da, divide o mundo em indivíduos ordinários e extraordinários, ambos com
direito de existir, mas cada um com características próprias e cumprindo
funções diferentes que os tornam imprescindíveis ao mundo. Os ordinários
têm o papel de povoar o mundo, correspondendo a “material que serve uni-
camente para criar seus semelhantes”2, pessoas corretas que “vivem na obe-
diência e gostam de ser obedientes”, conservando o mundo da forma como
3
está: “são os senhores do presente” .
Os extraordinários são os seres dotados para “dizer em seu meio a pa-
lavra nova”4, os senhores do futuro que “fazem o mundo mover-se e o con-
duzem para um objetivo”5. Diferente dos ordinários que devem manter-se
obedientes às leis, os extraordinários podem permitir à sua própria consci-
ência realizar condutas ainda que contrárias às normas vigentes, de forma
que ocorra “a destruição do presente em nome de algo melhor”6. Ou seja, se
para a execução da obra de um homem extraordinário for necessário come-
ter algum crime, como, por exemplo, sacrificar a vida de um ou de mais in-
divíduos que estão sendo obstáculos, ele estaria, não só autorizado, mas
7
“inclusive obrigado, a... eliminar esses dez ou cem homens” .
Raskolnikov admite, ainda, que alguns indivíduos ordinários poderiam
cometer o erro de se considerarem extraordinários, pois, apesar da predesti-
nação para a obediência, gostariam de “imaginar-se pessoas avançadas (...)
portadoras da ‘palavra nova’”. Entretanto, pessoas nessa situação nunca iri-
am longe, pois elas mesmas acabariam punindo a si próprias, justamente
por serem submissas: “elas mesmas se chicoteiam, porque são muito bem-
comportadas (...) Impõem-se a si mesmas diversas confissões públicas.”8.
A tese elaborada por Raskolnikov, juntamente com suas atitudes,
demonstra seu comportamento orgulhoso e arrogante, especialmente
porque ele, obviamente, considera-se um extraordinário e despreza os
homens ordinários, buscando fundamentos para seu caráter presunçoso e
seus comportamentos caprichosos. A possibilidade de definir justificantes

2
DOSTOIÉVSKI. Op. cit., p. 269.
3
DOSTOIÉVSKI. Op. cit., p. 270.
4
DOSTOIÉVSKI. Op. cit., p. 269.
5
DOSTOIÉVSKI. Op. cit., p. 270.
6
DOSTOIÉVSKI. Op. cit., p. 270.
7
DOSTOIÉVSKI. Op. cit., p. 269.
8
DOSTOIÉVSKI. Op. cit., p. 271.

RAÍZES JURÍDICAS Curitiba, v. 5, n. 2 jul/dez 2009 301


para si mesmo que o autorizem a realizar condutas proibidas a homens
comuns fortalece a imagem que ele faz de si próprio como alguém supe-
rior aos demais.
Entretanto, em que pese o sucesso objetivo na execução do seu plano,
produzindo, praticamente, um crime perfeito – já que não havia testemunhas
e não foi encontrado nenhum elemento material que pudesse incriminá-lo –
ele não pôde “se permitir, no seu interior, na sua consciência passar por ci-
9
ma do sangue” , conduzindo-se, ele próprio, para uma fracasso subjetivo e a
conseqüente confissão pública do seu crime. A sua angústia perdura por
muito tempo, não apenas por considerar abominável o que fez, mas princi-
palmente porque, com o desfecho de seu caso, é obrigado a admitir para si
mesmo que é um ordinário, já que sua própria teoria explica que, justamente
quando pessoas ordinárias “gostam de imaginar-se pessoas avançadas,
‘destruidoras’, de meter-se a portadoras da ‘palavra nova’ (...) elas nunca
vão longe (...) elas mesmas se chicoteiam, porque são muito bem-
comportadas (...) Impõem-se a si mesmas diversas confissões públicas”10.
Seu drama interior só é diminuído após um tempo na prisão, quando um
sonho parece trazer um novo elemento a ser considerado, apontando que
apenas crer-se um homem extraordinário não faz de alguém um verdadeiro
ser extraordinário, pois definir o que é mal ou bem não cabe a um único ser
humano:

Doente, sonhou que o mundo estava condenado ao sacrifício de uma


peste terrível (...) povoados inteiros, cidades inteiras e povos eram con-
tagiados e enlouqueciam. Todos estavam alarmados e não se entendiam,
cada um pensava que nele e só nele se resumia a verdade (...) Não sabi-
am como julgar quem e como julgar, não conseguiam combinar o que
chamar de mal, o que de bem (...) Abandonaram os ofícios mais habitu-
ais, porque qualquer um sugeria as suas idéias, as suas correções, e não
conseguiam chegar a um acordo.11

Esse sonho é narrado nos momentos finais da história e o autor não


explora detalhes, mas é isso que sinaliza a mudança de Raskolnikov e seu
novo posicionamento diante da vida, passando a dar atenção às pessoas ao
seu redor e, especialmente, à Sônia, com quem passa a considerar o com-
partilhamento de uma vida futura após sair da prisão.

9
DOSTOIÉVSKI. Op. cit., p. 270.
10
DOSTOIÉVSKI. Op. cit., p. 271.
11
DOSTOIÉVSKI. Op. cit., pgs. 556-557.

302 RAÍZES JURÍDICAS Curitiba, v. 5, n. 2 jul/dez 2009


O Direito, compreendido em seu significado mais comum, designa
um conjunto de princípios e normas – estruturado em um ordenamento
jurídico – que tem como objetivo disciplinar e organizar a vida em socie-
12
dade , buscando a coexistência harmônica dos indivíduos. O Direito Pe-
nal é ramo desse ordenamento jurídico, regulando as relações entre o
Estado e os particulares no exercício do poder punitivo e, dessa forma,
“define crimes, comina penas e prevê medidas de segurança aplicáveis
aos autores das condutas incriminadas” 13.
Em tese, entre os objetivos declarados do Direito Penal está a prote-
ção de bens jurídicos – valores relevantes para uma determinada socieda-
de, selecionados para serem protegidos juridicamente – “sob ameaça de
pena”14, como a vida, a integridade física e moral, a liberdade, a família, o
patrimônio e a paz pública, entre outros. Nem todos os bens jurídicos são
protegidos pelo Direito Penal, mas apenas aqueles mais fundamentais à
sociedade e, ainda, apenas quando a lesão ou a ameaça de lesão atingi-
los de forma mais grave.
É imprescindível apontar que, na prática, o Direito Penal pode servir de
instrumento para a manutenção do poder e de “controle social nas socieda-
des contemporâneas”15 pois, usualmente, desde o momento em que se defi-
ne quais bens jurídicos devem ser protegidos e até a efetiva aplicação da
pena, prevalecem os interesses das classes hegemônicas que detêm o mo-
nopólio da economia capitalista e têm interesse em perpetuar o modo de
produção. Dessa forma, paralelamente aos objetivos declarados do Direito
Penal, existem os objetivos reais, sendo esse um tema amplamente discutido
e criticado na atualidade.
Entretanto, ainda que todos os esforços devam ser empregados para
dar mais efetividade aos objetivos declarados do Direito Penal, paralelamente
é importante que seja delineada de forma adequada uma teoria do delito -
também chamada de teoria do crime ou teoria do fato punível – que é “a par-
te da ciência do direito penal que se ocupa de explicar o que é o delito em
geral, isto é, quais são as características que deve ter qualquer delito” 16 com
o objetivo de “tornar mais fácil a averiguação da presença, ou ausência, do
delito em cada caso concreto”17. Com esse propósito, o Direito Penal tem o
crime – também denominado de delito ou fato punível – como objeto central
de seu estudo, o qual se refere a uma conduta humana, comissiva ou omis-

12
AMARAL, Francisco. Direito civil: introdução. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. p. 02.
13
SANTOS, Juarez Cirino dos. Direito penal: parte geral. Curitiba, ICPC. p. 03.
14
SANTOS. Op. cit., p. 05.
15
SANTOS. Op. cit., p. 06.
16
SANTOS. Op. cit., p. 331.
17
SANTOS. Op. cit., p. 331.

RAÍZES JURÍDICAS Curitiba, v. 5, n. 2 jul/dez 2009 303


siva, que cause lesão ou ameaça de lesão a um bem jurídico por ele tutelado.
Um estudo analítico do crime procura identificar os elementos que o consti-
tuem e, dessa forma, “determinar a existência concreta de ações crimino-
18
sas” para, só então, cominar uma pena. Apesar da diversidade de posicio-
namentos utilizados para estruturar o conceito de crime, é possível adotar “o
sistema tripartido de fato punível, dominante na dogmática contemporânea,
19
[que] define crime como ação típica, antijurídica e culpável” .
Seguindo o modelo da teoria finalista de fato punível, ação é o conceito
central do crime e refere-se a uma conduta humana voluntária e dirigida a
um fim, ou seja, em uma primeira etapa de análise, para verificar se uma
conduta deve ser considerada crime, excluem-se todas aquelas ações não
realizadas por seres humanos e os comportamentos involuntários. Em segui-
da, em observância ao princípio da legalidade20, deve ser verificado se a con-
duta é típica, analisando se o fato ocorrido identifica-se exatamente com a
conduta descrita na lei (tipo penal), ou seja, se ocorre a subsunção do fato à
norma penal. Ainda, em relação à tipicidade, deve ser verificado se a conduta
foi dolosa ou culposa: é a análise subjetiva na qual se avalia a esfera anímica
do agente, onde se define se o crime foi doloso (havia um querer em praticar
a conduta definida como crime e conhecimento dos elementos do fato) ou
apenas culposo (não praticou o crime porque queria o resultado esperado da
conduta proibida, mas pela violação do dever de cuidado objetivo exigido ao
executar uma outra conduta, não proibida, mas que teve como conseqüência
algo definido como crime). Em virtude do dolo exigir uma “vontade realiza-
dora do tipo objetivo, guiada pelo conhecimento dos elementos deste no
21
caso concreto” , se houver uma falta ou um falso conhecimento sobre algum
elemento essencial descrito no tipo que determina a conduta proibida, pode
ocorrer o erro de tipo, que afasta o dolo. Um exemplo clássico do erro de
tipo é aquele que “crê que está disparando sobre um urso e de fato não se
trata disto, e sim de seu companheiro de caçada” 22; nesse caso a tipicidade
poderia ser afastada e a conduta não ser considerada crime.
Mas se o fato for típico, o próximo pressuposto a ser verificado é se a
conduta foi antijurídica. De regra, uma conduta típica é antijurídica, pois os
tipos penais descritos no Código Penal e em leis esparsas procuram definir
condutas proibidas, ou seja, contrárias à lei. Mas há situações que excluem a
ilicitude de uma conduta, assim, toda ação típica será antijurídica, salvo se

18
SANTOS. Op. cit., p. 72.
19
SANTOS. Op. cit., p. 75. Grifo no original.
20
BATISTA, Nilo. Introdução crítica ao direito penal brasileiro. Rio de Janeiro: Revan, 2005. p. 68: “Entre
nós, o princípio figura na Constituição, entre os direitos e garantias fundamentais e no artigo 1o do Código
Penal, com a seguinte redação: “‘Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia comin a-
ção legal’”.
21
ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Manual de direito penal brasileiro, volume 1: parte geral. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2006. p. 414.
22
ZAFFARONI. Op. cit., p. 421.

304 RAÍZES JURÍDICAS Curitiba, v. 5, n. 2 jul/dez 2009


justificada. A dogmática contemporânea relaciona cinco causas de exclusão
de antijuridicidade: legítima defesa, estado de necessidade, estrito cumpri-
mento de dever legal, exercício regular de direito e consentimento do titular
23
do bem jurídico . Se o fato sob análise adequar-se em uma dessas causas
de exclusão, então não houve crime; caso contrário, a análise segue para a
terceira etapa que verifica se a ação é culpável ou não.
A análise de culpabilidade, de acordo com a teoria normativa pura –
adotada preponderantemente –, refere-se a um juízo de reprovabilidade do
agente, desdobrando-se em três estágios a serem verificados: a imputabili-
dade, a consciência da antijuridicidade e a exigibilidade de conduta diversa24.
Em relação à imputabilidade é verificada a capacidade de culpabilidade do
agente através de um critério biológico – a lei penal brasileira determina ida-
25
de mínima de 18 anos para uma pessoa ser considerada imputável – e um
critério psicológico que considera doenças e anomalias mentais que podem
26
excluir ou reduzir a capacidade de culpabilidade .
Sendo a pessoa imputável, passa a ser analisada a consciência da anti-
juridicidade ou também denominada como potencial ou real conhecimento
da ilicitude. Segundo Cirino, a teoria da culpabilidade vinculada à teoria fina-
lista da ação diferencia “conhecimento do fato e conhecimento da antijuridi-
cidade do fato: a consciência e vontade do fato constituem o dolo, como
elemento subjetivo geral dos crimes dolosos; a consciência da antijuridicida-
de é o elemento especial da culpabilidade, como fundamento do juízo de
27
reprovação” . Essa diferença possibilita distinguir o erro sobre o tipo legal,
que exclui o dolo – o chamado erro de tipo, como exposto anteriormente –
do erro sobre a proibição, que afasta a culpabilidade (reprovação). No erro
de proibição ocorre um engano sobre a natureza proibida ou permitida da
ação descrita no tipo legal: “o autor sabe o que faz, mas pensa, erroneamen-
te, que é permitido, ou por crença positiva na permissão do fato, ou por falta
de representação da valoração jurídica do fato”28.
A teoria limitada da culpabilidade classifica o erro de proibição em di-
reto ou indireto (erro de permissão), e além desses, trata do erro de tipo
permissivo29.

23
SANTOS. Op. cit., pgs. 229-264.
24
SANTOS. Op. cit., p. 275.
25
BRASIL. Lei n. 7.209, de 11 de julho de 1984: “Art. 27 - Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente
inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial.”.
26
BRASIL. Lei n. 7.209, de 11 de julho de 1984: “Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental
ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente
incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Parágrafo
único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental
ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter
ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.”.
27
SANTOS. Op. cit., p. 300.
28
SANTOS. Op. cit., p. 301.
29
SANTOS. Op. cit., p. 301.

RAÍZES JURÍDICAS Curitiba, v. 5, n. 2 jul/dez 2009 305


O erro de proibição direto “tem por objeto a lei penal, considerada do
30
ponto de vista da existência, da validade e do significado da norma” , ou
seja, o agente desconhece que a conduta é proibida, situação que pode ex-
cluir ou reduzir a culpabilidade. O erro de proibição indireto analisa o desco-
nhecimento sobre os limites jurídicos das causas de exclusão de antijuridici-
dade, é quando o agente acredita estar agindo dentro daquelas situações
que excluem a antijuridicidade da conduta, mas erra sobre isso: um pai que
pensa que pode corrigir o filho do vizinho porque este está em sua casa.
Essa situação também pode afastar ou reduzir a reprovabilidade. Já o erro de
tipo permissivo “tem por objeto os pressupostos objetivos de justificação
31
legal” e erra por crer que existe uma situação justificante (causa de exclu-
são de antijuridicidade) e, dessa forma, exclui o dolo. Nesse caso, o agente
cria uma falsa interpretação sobre a realidade do fato e comporta-se como
se estivesse amparado por uma das causas de exclusão da antijuridicidade:
acredita que tem permissão para realizar a conduta, mas na verdade não
tem. Um exemplo de erro de tipo permissivo é a legítima defesa putativa: o
agente imagina que a vítima está puxando uma arma do bolso para atirar e,
para se defender, reage disparando antes com sua arma de fogo, como se
estivesse em legítima defesa, embora depois se verifique que a vítima estava
apenas procurando um cigarro no bolso.
Dessa forma, considerando-se a teoria limitada da culpabilidade, en-
quanto o erro de tipo permissivo pode afastar o dolo, os erros de proibição
são analisados na culpabilidade e, se não forem suficientes para excluir a
reprovabilidade do agente, a análise do fato prossegue para o último ele-
mento integrante da estrutura da culpabilidade: a exigibilidade de conduta
diversa.
Assim, após ser constatado que uma ação humana voluntária e dirigida
a um fim é típica, antijurídica e que o agente é imputável e tinha potencial ou
real conhecimento da ilicitude, sem incorrer em erros que afastem o dolo
(erro de tipo ou erro de tipo permissivo) ou a reprovabilidade (erro de proibi-
ção), passa a se considerar o último elemento que constitui a culpabilidade:
a exigibilidade de conduta diversa. Nesse aspecto, analisa-se se o agente
poderia ter agido conforme o direito ou se as circunstâncias de realização do
fato apresentavam alguma anormalidade na qual não poderia se exigir de
nenhuma outra pessoa, de mesmas características, um comportamento dife-
rente naquela dada situação e, dessa forma, constituiriam “situações de ex-
culpação que excluem ou reduzem o juízo de exigibilidade de comporta-
mento conforme ao direito.”32.

30
SANTOS. Op. cit., p. 301.
31
SANTOS. Op. cit., p. 302.
32
SANTOS. Op. cit., p. 324. Grifo no original.

306 RAÍZES JURÍDICAS Curitiba, v. 5, n. 2 jul/dez 2009


Enquanto a verificação da imputabilidade e da consciência da antijuri-
dicidade considera características particulares do agente, a exigibilidade de
conduta diversa deve ser aferida levando em conta parâmetros que reflitam o
comportamento padrão de uma comunidade humana ou de um conjunto de
pessoas de mesmo perfil. Nas palavras de Bitencourt:

(...) a imputabilidade e o conhecimento da antijuridicidade são efetiva-


mente suscetíveis de uma análise individual. Porém, o mesmo não ocor-
re com outro elemento: a exigibilidade de conduta adequada à norma.
Esse elemento aparece quase sempre em sentido negativo, exatamente
como uma causa de exclusão de culpabilidade. Assim, pois, naquelas si-
tuações que constituem a base da inexigibilidade não há a possibilidade
de um processo de individualização. Para esses pressupostos, são con-
clusivas as medidas das capacidades reconhecidas ao termo médio im-
pessoal, estabelecendo-se, assim, mesmo na lei, e com caráter geral, os
limites de abstenção.33

Cirino classifica as situações de exculpação em situações de exculpa-


ção legais – que compreendem a coação irresistível, a obediência hierárquica
e o excesso de legítima defesa real e o excesso de legítima defesa putativa –
e situações de exculpação supralegais – o fato de consciência, a provocação
da situação de legítima defesa, a desobediência civil e o conflito de deve-
res34. Em todos esses casos, estaria a pessoa desculpada por ter agido con-
trariamente ao direito e, dessa forma, não se configura culpável a ação típica
e antijurídica, como, por exemplo, quando uma ameaça irresistível é empre-
gada contra o agente obrigando-o a realizar um fato definido como crime:
um pai que realiza um assalto a um banco ordenado por um seqüestrador
que mantém o filho em seu poder até que lhe entregue o dinheiro.
Como observado anteriormente na citação de Bitencourt, a impossibili-
dade de agir conforme ao direito não pode ser reconhecido de forma indivi-
dualizada, mas sempre comparando a situação de fato com um termo médio
impessoal reconhecido por uma comunidade – qualquer pessoa, de mesmo
perfil, naquelas condições, agiria daquela forma –, caso contrário, tal análise
poderia servir de instrumento para exculpar crimes bárbaros, como, por e-
xemplo, quando fossem considerados interesses particulares de quem está
no poder. Ou seja, não podem ser consideradas exculpantes quaisquer situ-
ações autônomas, mas desde que apresentem circunstâncias, consolidadas
pela doutrina e política criminal, que exculpariam qualquer pessoa em de-
terminada situação e condição.

33
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral, volume 1. São Paulo: saraiva, 2007. p.
345. Grifo no original.
34
SANTOS. Op. cit., p. 328-336.

RAÍZES JURÍDICAS Curitiba, v. 5, n. 2 jul/dez 2009 307


Com o objetivo de explorar o tema, procura-se fazer uma reflexão da
tese de Raskolnikov à luz da estrutura do conceito analítico do crime, apre-
sentada brevemente no capítulo anterior.
Raskolnikov admite a possibilidade de que o homem extraordinário es-
teja autorizado a cometer ações contrárias às normas vigentes, e, ainda as-
sim, não se sinta culpado, desde que essas ações sejam necessárias à reali-
zação de suas obras. Analisando-se uma dessas ações, como, por exemplo,
o assassinato cometido por Raskolnikov em Crime e Castigo, verifica-se que
foi voluntário (o agente queria o resultado, atuava de acordo com sua vonta-
de e tinha pleno conhecimento dos elementos da situação concreta), era di-
rigido a um fim (matar alguém), era típico (a conduta estava prevista em um
tipo penal legal que a definia como proibida), foi doloso (o agente tinha co-
nhecimento do seu ato e queria as conseqüências dele), era antijurídico (no
contexto do assassinato, a antijuridicidade não poderia ser afastada por ne-
nhuma das excludentes previstas) e o agente era imputável (tinha maioridade
penal e capacidade de dirigir sua vontade).
No elemento que trata da consciência da antijuridicidade, é possível
refletir se Raskolnikov incidiria em erro de proibição direto ou indireto. Para
agir em erro de proibição direto, deveria o agente cometer um engano em
relação à compreensão da antijuridicidade da conduta. Mas, no romance,
Raskolnikov tem pleno entendimento de que matar alguém é antijurídico e,
além disso, admite que a sociedade comine a pena ao homem extraordiná-
rio, se conseguir acusá-lo:

- ... Mas qual é o problema? Porque a sociedade está excessivamente


provida de pontos de confinamento, cadeias, juízes de instrução, traba-
lhos forçados – logo, por que essa preocupação? É só procurar o la-
drão!...
- Bem. E se o encontrarmos?
- Para lá é o destino dele.35

Para agir em erro de proibição indireto – situação em que o agente a-


credita que está dentro dos limites de uma das causas de exclusão de antiju-
ridicidade, mas na verdade extrapola o permitido – o homem extraordinário
deveria somente praticar a conduta se estivesse convicto de que não estaria
excedendo os limites de uma das causas de exclusão. Entretanto, pela tese
de Raskolinikov, o homem extraordinário deve afastar qualquer obstáculo
para executar sua grande obra e, portanto, não precisa e nem deve se preo-

35
DOSTOIÉVSKI. Op. cit., p. 273.

308 RAÍZES JURÍDICAS Curitiba, v. 5, n. 2 jul/dez 2009


cupar em agir apenas se pudesse justificar sua conduta por uma das causas
de exclusão de antijuridicidade.
Ainda em relação aos erros que Raskolnikov poderia ter incorrido, cabe
a análise do erro de tipo permissivo, no qual o agente teria uma falsa repre-
sentação da realidade, acreditando que as circunstâncias em que se encontra
preencheriam os requisitos de uma das causas de exclusão de antijuridicida-
de. Por exemplo, pelo fato de a conduta do homem extraordinário ser reali-
zada para viabilizar uma grande obra, a qual traria um grande bem para a
humanidade, poderia ele acreditar-se amparado pela legítima defesa de bem
jurídico alheio, ou mesmo por uma nova causa que seria o “ser extraordiná-
rio”. Entretanto, na tese de Raskolnikov não há a preocupação de que a con-
duta do homem extraordinário seja justificada juridicamente porque é o ex-
traordinário que define os seus próprios fundamentos, os quais são suficien-
tes para autorizar a sua consciência sem precisar levar em conta o direito
posto ou o julgamento de reprovabilidade das demais pessoas.
Um outro aspecto que pode ser explorado é a respeito do terceiro ele-
mento de análise da culpabilidade – exigibilidade de conduta diversa – em
que situações exculpantes seriam definidas pelo próprio agente, dependen-
do das circunstâncias do caso. Ou seja, o homem extraordinário acredita não
ser dele exigível uma conduta conforme ao direito – não matar – porque,
sendo ele extraordinário, pode e até mesmo deve fazer o que for necessário
“para dizer em seu meio a palavra nova”36. Raskolnikov afirma que um ho-
mem extraordinário não deve executar qualquer tipo de crime independen-
temente de quaisquer circunstâncias, mas sempre que for para levar adiante
uma de suas grandes idéias que poderia mudar o mundo:

...eu, de modo algum, insisto em que as pessoas extraordinárias devam


e sejam forçosamente obrigadas a cometer toda sorte de desmandos (...)
eu insinuei pura e simplesmente que o homem extraordinário tem o di-
reito... ou seja, não o direito oficial, mas ele mesmo tem o direito de
permitir à sua consciência passar... por cima de diferentes obstáculos e
unicamente no caso em que a execução da sua idéia (às vezes salvadora,
talvez, para toda a humanidade) o exija.37

Ou seja, é como se Raskolnikov admitisse uma causa supralegal na


qual o extraordinário pudesse, ele próprio, de forma individualizada, deter-
minar se as circunstâncias de uma situação seriam exculpantes para o ato
ilícito: se o agente é um homem extraordinário e se a conduta for necessária
para realizar uma grande idéia, a conduta proibida não é reprovável e está
autorizada.

36
DOSTOIÉVSKI. Op. cit., p. 269. Grifo no original.
37
DOSTOIÉVSKI. Op. cit., p. 268.

RAÍZES JURÍDICAS Curitiba, v. 5, n. 2 jul/dez 2009 309


É interessante perceber que, segundo a estrutura do conceito analítico
de crime exposto anteriormente, uma das preocupações no processo de
análise de um fato ilícito para verificar se é um crime ou não, é justamente
que o terceiro estágio de análise da culpabilidade – exigibilidade de conduta
diversa – seja aferido a partir de parâmetros externos ao agente, consideran-
do o comportamento de um homem médio de um dado grupo humano. Por
exemplo, no caso clássico do gerente que chega na sua casa e encontra sua
família sob a mira de armas de bandidos e é coagido a ir ao banco para rou-
bar o dinheiro do cofre: a ação desse homem de ir ao banco, abrir o cofre,
retirar o dinheiro e entregar aos bandidos, apesar de preencher os demais
requisitos do conceito analítico de crime (é ação voluntária, típica, antijurídi-
ca, o agente é imputável e tem conhecimento da ilicitude) é realizada sob
uma ameaça irresistível – coação moral – e, no lugar desse gerente, em re-
gra, outro pai de família não agiria de forma diferente. Ou seja, utiliza-se
como parâmetro, para verificar a ocorrência ou não de um crime, o compor-
tamento esperado do “homem médio” dentro de determinado grupo humano
e não simplesmente uma análise individual dos motivos que poderiam levar,
ou não, aquela pessoa a praticar a conduta.
A importância de ser levado em conta o comportamento do homem
médio como parâmetro e não as justificativas internas de uma única pessoa
pode ser reforçada ao se destacar que o objetivo do Direito Penal, como do
Direito de forma geral, é a manutenção do equilíbrio de um grupo social, e,
dessa forma, as situações exculpantes não podem ser definidas com base
em critérios individuais – como se cada pessoa pudesse comportar-se ape-
nas de acordo com sua vontade sem considerar os demais –, mas sim a partir
de comportamentos que sejam esperados de qualquer indivíduo dentro de
uma comunidade: dentro da normalidade, espera-se que as pessoas ajam
conforme o direito para se garantir a coexistência harmônica do grupo, mas,
em situações de anormalidade extrema, então se verifica qual seria o com-
portamento-padrão da maior parte das pessoas. Usar critérios autônomos
para exculpar determinados agentes, como já observado, pode servir de ins-
trumento legal para o cometimento de crimes bárbaros onde os culpados
não são punidos por se colocarem à parte das demais pessoas, ou seja, uma
sociedade onde a lei não vale para todos, mas somente para os ordinários.
E também nesse ponto é possível associar com o romance, pois o autor
sinaliza, através do sonho de Raskolnikov descrito na parte final do livro, que
quando as pessoas, de forma individual, pretendem determinar o que é bem
ou mal apenas para si mesmas e agem sem considerar os valores dos de-
mais, o mundo vira um caos. Os efeitos dos comportamentos de pessoas que
se consideram no direito de negar normas vigentes apenas porque individu-
almente entendem que tem esse direito, podem ser funestos:

310 RAÍZES JURÍDICAS Curitiba, v. 5, n. 2 jul/dez 2009


Doente, sonhou que o mundo estava condenado ao sacrifício de uma
peste terrível (...) Povoados inteiros, cidades inteiras e povos eram contagia-
dos e enlouqueciam. Todos estavam alarmados e não se entendiam, cada um
pensava que nele e só nele se resumia a verdade, e atormentava-se ao olhar
para os outros, batia no peito, chorava e torcia os braços. Não sabiam quem
e como julgar, não conseguiam combinar o que chamar de mal, o que de
38
bem. Não sabiam a quem acusar, a quem absolver.

Diante do exposto, é possível perceber que o Direito Penal, através da


análise de uma conduta segundo a estrutura do conceito analítico de crime,
procura harmonizar a vida em sociedade, pois somente seria admissível ex-
culpar determinada conduta típica e antijurídica, cometida por um agente
imputável com conhecimento da ilicitude, quando as circunstâncias sob as
quais a ação foi praticada era de anormalidade e qualquer “homem médio”
agiria também daquela forma, não se esperando, então, nessas situações
excepcionais, que a pessoa se comportasse conforme o direito e admitindo-
se que não havia exigibilidade de conduta diversa à realizada.
Assim, não parece apropriado admitir a existência de uma lei da natu-
reza que determine previamente quais homens são ordinários ou extraordi-
nários, sendo que o relato do sonho de Raskolnikov no final do romance,
apresentando um mundo caótico quando as pessoas julgam-se extraordiná-
rias e definem, cada uma a seu modo, o que podem ou não fazer, aponta a
direção de que, no entendimento de Dostoiévski, a negação e destruição de
valores tradicionais não podem ser um exercício de autonomia dos indiví-
duos desconsiderando a existência de outras vidas relacionadas.
Entretanto, também não é possível desconsiderar algumas pessoas ex-
traordinárias que ao longo da História deram novos rumos para a humanida-
de e que, para realizarem as transformações, foram contra as normas vigen-
tes, negando e destruindo valores tradicionais. Dessa forma, uma releitura
da tese de Raskolnikov possibilitaria considerar que, em regra, somos todos
homens ordinários, ninguém nasce extraordinário porque uma lei da nature-
za assim o determinou, mas alguém se torna um homem extraordinário,
dependendo da sua postura em um determinado momento histórico e dos
efeitos supervenientes de suas atitudes para um determinado grupo social e,
aí sim, verifica-se, posteriormente, que esse homem conquistou o direito de
ir contra as normas vigentes, mas de forma alguma teria a autorização prévia
de ir de encontro ao Direito. Ou seja, a qualidade “extraordinária” de uma
pessoa não nasce como uma pré-destinação e nem decorre de uma auto-

38
DOSTOIÉVSKI. Op. cit., pgs. 556-557.

RAÍZES JURÍDICAS Curitiba, v. 5, n. 2 jul/dez 2009 311


atribuição – que seria vinculada a uma análise individual e autônoma – mas é
adquirida quando um conjunto de pessoas – a humanidade ou parte dela –
passa a reconhecer um novo conjunto de valores criados ou esclarecidos por
tal pessoa. Dependendo da situação e dos efeitos, o Direito positivo poderá
até mesmo ajustar-se em função desse fato extraordinário, mas, até essa
consolidação, um homem realmente extraordinário poderá ser punido pela
lei vigente.
Considerando-se essa perspectiva, de que todos somos ordinários, o
Direito Penal encontra espaço para sua função sócio-educativa, pois a partir
do momento em que define quais são os bens jurídicos importantes para a
sociedade e quais comportamentos são socialmente indesejáveis – conside-
rando-se que esses valores atendam realmente a todas as pessoas e não
apenas às classes sociais dominantes –, faz com que a sociedade tenha como
referência e aprenda a respeitar condutas que possibilitem uma coexistência
harmônica entre os indivíduos. Entretanto, o Direito Penal não dá conta de
esclarecer àqueles ordinários que se julgam extraordinários de que são ape-
nas homens como os demais, pois, diferentemente do que defendeu Raskol-
nikov, essas pessoas que não são avançadas, mas que assim acreditam ser,
na maior parte das vezes não se punem a si mesmas, pois continuam no seu
orgulho e crêem que podem colocar-se à parte da sociedade porque acredi-
tam que não há exigibilidade de conduta diversa, já que imaginam uma cau-
sa supralegal fundamentada no “ser extraordinário”.
Crime e Castigo mostra a importância da formação interior de um indi-
víduo e do fortalecimento de valores que considerem as demais pessoas com
as quais convivemos, pois, se um indivíduo não sentir remorsos por ter pra-
ticado uma dada conduta que prejudique outras pessoas e não sentir vonta-
de de comportar-se de forma diferente, não será o Direito Penal, ainda que
consiga condenar, cominar e aplicar as penas correspondentes ao crime, que
conseguirá mostrar que não basta negar e destruir valores, mas que é neces-
sário ter atitudes que contribuam para uma convivência mais harmoniosa
com os seus semelhantes, compartilhando convicções, sentimentos e aspira-
ções.

DOSTOIÉVSKI, Fiódor. Crime e Castigo. São Paulo: 34, 2001.


AMARAL, Francisco. Direito civil: introdução. Rio de Janeiro: Renovar, 2006.
SANTOS, Juarez Cirino dos. Direito penal: parte geral. Curitiba, ICPC.
BATISTA, Nilo. Introdução crítica ao direito penal brasileiro. Rio de Janeiro:
Revan, 2005.

312 RAÍZES JURÍDICAS Curitiba, v. 5, n. 2 jul/dez 2009


ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Manual de direito penal brasileiro, volume 1: parte
geral. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006.
BRASIL. Lei n. 7.209, de 11 de julho de 1984: “Art. 27 - Os menores de 18
(dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às nor-
mas estabelecidas na legislação especial.”.
BRASIL. Lei n. 7.209, de 11 de julho de 1984: “Art. 26 - É isento de pena o
agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto
ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente inca-
paz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo
com esse entendimento. Parágrafo único - A pena pode ser reduzida
de um a dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde
mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não
era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de de-
terminar-se de acordo com esse entendimento.”.
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral, volume 1.
São Paulo: Saraiva, 2007.

RAÍZES JURÍDICAS Curitiba, v. 5, n. 2 jul/dez 2009 313


314 RAÍZES JURÍDICAS Curitiba, v. 5, n. 2 jul/dez 2009

Вам также может понравиться