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GERAÇÃO DE ENERGIA

SOLAR DESCENTRALIZADA
CENÁRIOS E IMPLICAÇÕES PARA O SETOR NO BRASIL
Por Jean Le Corre, André Pinto, Ricardo Simas, Georges Almeida, Luis Daniel Viana, Damien
Delaunay e Daniel Gorodicht

E nergia solar, em um país famoso por seu clima


ensolarado, parece inevitável. Em grande escala, a
geração de energia fotovoltaica já é uma realidade no
elétrica e em suas economias -- assim como aconteceu
em outros mercados.

Brasil e, apesar de representar menos de 1% da Cenário Local


matriz de energia elétrica, leilões recentes a
colocaram em temos competitivos com outras fontes O Brasil desfruta de muitos dos elementos que condu-
de energia e a expectativa do governo é que ela ziram um crescimento significativo do uso de energia
cresça significativamente ao longo dos próximos 10 solar em outros países. A alta radiação solar, as tarifas
anos. de eletricidade cobradas em uma base puramente va-
riável e um crescimento esperado no consumo de
Como fonte de geração de energia bastante intermi- energia em longo prazo colocam o Brasil entre os
tente, ela exige uma abordagem diferente para o pla- mais promissores mercados de energia solar do mun-
nejamento e a operação de sua capacidade, em um do.
sistema que até recentemente estava acostumado à
quase total flexibilidade operacional das usinas hi- Desde que a ANEEL revisou as regras de net metering
drelétricas. No entanto, ela ainda é uma fonte de em dezembro de 2015 (ver Quadro 1), a grande maio-
energia centralizada, o tipo de fonte para o qual o sis- ria dos estados brasileiros alcançou a paridade de
tema atual e a regulamentação foram projetados. rede, isto é, quando a fonte de energia alternativa
tem o custo inferior ou igual ao preço de compra dire-
Este artigo trata da natureza potencialmente disrupti- tamente de uma concessionária de energia elétrica.
va da geração solar distribuída. Isso resultou em um aumento de quatro vezes mais
em instalações de energia solar até setembro de 2016,
Uma revisão recente das regras do sistema de com- indo de aproximadamente 1.150 a 5.000.
pensação de energia elétrica (net metering) pela
ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) e a in- Ao mesmo tempo, diversos fatores podem atrasar a
trodução de novos planos de incentivos pelo governo adoção e crescimento do mercado:
ativaram um segmento de mercado que poderá rapi-
damente crescer para uma porcentagem significativa •• Custo dos sistemas de geração solar distribuí-
da capacidade instalada de geração no Brasil. A pers- da: Apesar de os custos terem caído globalmente,
pectiva é que este segmento avance rapidamente, po- impulsionados pela crescente demanda, as taxas,
dendo chegar até 5% da capacidade instalada, com tarifas e custos de importação no Brasil afetam o
impactos desproporcionais em empresas de energia preço total do sistema, que chega a ser aproxima-

Para obter mais informações sobre este tópico, acesse bcgperspectives.com 1


Quadro 1 | Net Metering Regras Atuais

Em novembro de 2015, a ANEEL emitiu a Resolução nº 687 que altera e modifica as regras previamente
estabelecidas e define uma estrutura para permitir a distribuição de energia solar em uma escala mais
ampla e com um potencial melhorado de retorno financeiro aos investidores. Os principais componentes da
nova resolução são os seguintes:
•• Expande o programa net metering, permitindo
que geradores de até 5 Megawatts (MW) •• Permite que os clientes participantes distribuam
compensem suas contas de energia elétrica com os créditos de net metering entre diversas contas
créditos provenientes da energia que eles de serviços de energia elétrica, por exemplo, em
inserem na rede uma propriedade comercial de vários inquilinos
ou em um prédio residencial
•• Estabelece que agora os créditos obtidos pelo
produtor são válidos por até 60 meses •• Permite que os créditos de net metering não
utilizados por uma instalação geradora compen-
•• Introduz o conceito de energia solar comparti- sem o excesso de consumo de energia em
lhada/comunitária, que permite que diversos outros locais contanto que (I) o proprietário de
clientes compartilhem dos benefícios de uma ambos os locais seja o mesmo; e (II) os locais
única instalação de geração de energia solar estejam na mesma área de concessão
como um único cliente

damente 30% mais alto que na Alemanha – apesar consumo de carga do local ou da demanda
da renda média no Brasil ser cerca de um terço da contratada. Isso tem efeito de fato na limitação do
renda média desse país. Em razão disso, clientes uso de sistemas de energia solar descentralizada
podem ser desencorajados pelo tamanho do para o consumo próprio, ao invés de maximizar o
investimento inicial. potencial de geração e exportações para a rede,
em particular para grandes consumidores comer-
•• Ambiente macroeconômico: A atual crise ciais e industriais
econômica do Brasil junto com as altas taxas de
juros impactam negativamente na confiança do •• Revenda direta não permitida: Além de não
consumidor, no empréstimo pessoal e no investi- poder ser remunerado por exportar à rede mais
mento; energia do que o consumo atual, também não é
permitido ao proprietário a venda de energia para
•• Incerteza sobre os preços futuros de eletricida- terceiros.
de: O investimento em um sistema de telhado
solar é, em sua essência, uma aposta sobre um Mesmo assim, diversas novas empresas e modelos de
eventual aumento do preço da energia. No negócios surgiram no Brasil, geralmente com a
entanto, é muito difícil prever o aumento ou promessa para clientes residenciais desfrutarem dos
redução dos valores para o consumidor final em benefícios dos sistemas de geração solar ao mesmo
razão do contexto complexo e instável do país, o tempo em que reduzem os riscos associados com o in-
que tende a desencorajar investimentos. Um vestimento inicial.
exemplo disso é que após 5 anos de aumento regu-
lares de preços, duas empresas de distribuição de Além das tradicionais opções de arrendamento e fi-
energia em São Paulo - CPFL Piratininga e EDP nanciamento, há, por exemplo, alternativas em que os
Bandeirante - reduziram os preços para clientes custos são arcados pela empresa que então garante
residenciais em aproximadamente 20% em 2016. uma redução na conta de energia elétrica, dos quais
uma comissão mensal é devolvida pelo cliente. Em
Além desses fatores de mercado, algumas disposições outros países, o aluguel do espaço do telhado e a
na regulamentação atual também podem limitar a revenda direta também auxiliam a atenuar o proble-
atratividade de investimento em um sistema solar fo- ma de investimento pela pessoa física.
tovoltaico:
Essencialmente, esse recente ecossistema nasceu da
•• Limite máximo no porte do sistema solar: A premissa que a economia continuará a ser favorável
capacidade instalada não deve exceder o pico de para a adoção de sistemas solares fotovoltaicos, e que

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o setor continuará a crescer. geração distribuída, abordando um tópico para o
desenvolvimento do mercado.
Os Motivos para a Adoção
Com a continuação da atual agenda de estímulos -
Há bons motivos para acreditar em uma perspectiva seja ela explícita, como as isenções fiscais menciona-
positiva para a geração solar distribuída. Em dezem- das, ou implícita, incorporada na estrutura variável da
bro de 2015, o governo brasileiro anunciou um pro- tarifa (ver Quadro 2) - e com a inovação contínua dos
grama de incentivo nacional (ProGD) para o desen- fabricantes e prestadores de serviço deste ecossistema
volvimento da geração de energia por meio de fontes melhorando sua oferta, parece quase inevitável que a
distribuídas, com um foco especial nos sistemas so- geração distribuída não surja como uma significativa
lares fotovoltaicos. Os incentivos fiscais incluem: fonte de produção de energia na próxima década.

•• Isenção de ICMS e PIS/COFINS sobre a energia Possíveis Cenários


injetada na rede elétrica - é importante ressaltar
que a maioria dos estados, desde então, já ratifica- Para avaliar o futuro desenvolvimento e penetração
ram a isenção do ICMS da energia elétrica. da geração distribuída de energia solar, criamos três
cenários de crescimento, considerando as possíveis
•• A redução de 14% para 2% na alíquota do Imposto combinações de alavancas regulatórias e políticas
de Importação incidente sobre bens de capital para apoiar o desenvolvimento do mercado, que in-
destinados à produção de equipamentos de cluem a manutenção dos incentivos mencionados
geração solar fotovoltaica até o final de 2016. para reduzir os custos de financiamento, a redução
Espera-se que isso seja estendido para os próximos das taxas de importação para equipamentos de
anos. geração solar fotovoltaica e a isenção do ICMS e PIS/
COFINS sobre a eletricidade inserida na rede da dis-
Além disso, e talvez mais importante, o programa es- tribuidora. Eles incluem até, em um cenário mais
tabelece as bases para a futura venda direta de ener- otimista, a introdução de créditos fiscais para novas
gia excedente no mercado liberalizado, sujeito a um instalações e a isenção do ISS para as instalações de
estudo de viabilidade e impacto, e propõe a criação e sistemas de energia solar fotovoltaica (ver figura 1).
expansão de linhas de crédito para projetos de No entanto, para efeito do nosso estudo,

Figura 1

1.Para residência e pequenas unidades comerciais apenas 2. ISS: Imposto Sobre Serviços 3. Caso de 21 dentre os 27 Estados.
4. Comparado ao caso Moderado.
Fonte: Análise BCG

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Quadro 2 | Estrutura do preço da energia solar varia muito entre os países

No Brasil, diferentemente de muitos outros países, a conta para clientes residenciais é avaliada em uma base
puramente variável, conforme ilustrada no gráfico abaixo:

Observação: Considera-se tarifas de baixa tensão para demanda de potencia de 6 kW e consumo anual de 3500 kWh com base em tarifas sem postos tarifários; California PGE possui uma taxa mensal
mínima de US$ 10 para taxas de entrega.
Fonte: Portugal – EDP; Espanha – Iberdrola; Reino Unido – EDF energy; Italia – Enel; França – EDF Energy; Alemanha – eOn; California – PGE; Análise BCG

Como tal, há um subsídio implícito em qualquer modelo de net metering em um contexto de tarifas totalmente
variáveis, uma vez que a parcela do custo correspondente à manutenção e operação da rede também é descontada
da conta de eletricidade, juntamente com a parcela correspondente à energia elétrica. Além disso, essa parcela da
própria energia é descontada pelo preço de varejo, de modo que o cliente está, em essência, vendendo energia a
um preço de varejo quando injeta sua energia na rede elétrica, reduzindo o lucro da concessionária.

O gráfico a seguir representa as múltiplas partes de uma conta com base em um cliente hipotético que reside em
Minas Gerais e os impactos no Custo Nivelado de Energia (“LCOE”) ao remover os subsídios implícitos na atual
estrutura de net metering:

Efeito no LCOE de subsídios ocultos

Premissas: Cliente utilizando toda a produção do painel (400kWh/mês), que seria equivalente a 60% de suas demandas. Tarifa inclui transporte de energia e encargos setoriais e energia usando o valor de
referência da ANEEL para o estado. LCOE pagando pela rede presume uma medição de rede 1:1, que paga pela rede se o cliente ainda estiver pagando pelo transporte de energia (para toda a energia gerada) e
com preços no atacado estaria recebendo créditos no atacado em oposição ao valor de varejo da energia (para toda a energia consumida da rede).
Fonte Análise BCG

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consideramos apenas os cenários Conservador e periores aos nacionais, o que contribui decisivamente
Moderado, uma vez que é provável que a ANEEL não para a decisão de um investimento tão alto. A taxa de
permita que ocorra um crescimento descontrolado adoção pode chegar a aproximadamente 1,5% da de-
sem ajustar rapidamente as regras de net metering. manda total do estado, alinhado com a média espera-
da no Brasil.
Dado o grande interesse de empresas de tecnologia
verde que estão recentemente expandindo operações Rio de Janeiro e Minas Gerais serão os próximos esta-
no Brasil para a fabricação de módulos de células PV dos a terem maior capacidade instalada de geração
solares e o crescente mercado para prestadores de solar distribuída, de acordo com os nossos estudos.
serviço de energia solar, não esperamos, em qualquer Ambos desfrutam de alta irradiação solar e preços de
cenário, nenhum obstáculo da cadeia de suprimentos varejo de eletricidade relativamente altos. Assim, es-
para o crescimento do mercado. peramos que até 2024 instalem uma capacidade total
de 0,5 GW e 0,2 GW de geração solar distribuída e al-
Resultados cancem taxas de adoção de cerca de 3% e 2% da de-
manda total, respectivamente.
No cenário moderado, o nosso estudo sugere que a
geração solar distribuída poderá crescer mais rápido Esses cenários não levam em consideração as pos-
do que o previsto pelas autoridades do setor e repre- síveis revisões das regras de net metering, que a
sentará quase 5% da nova capacidade instalada no ANEEL já sinalizou que poderiam ser consideradas no
Brasil até 2024, atingindo cerca de 3 GW de capaci- caso de rápida aceitação da tecnologia, nem a elimi-
dade instalada e cobrindo cerca de aproximadamente nação dos estímulos à geração solar distribuída no
2% do pico de demanda – crescimento a partir de uma curto prazo. De fato, sem o plano de net metering
base quase inexistente em 2016. atualmente em vigor, praticamente nenhuma região
do Brasil estaria em paridade de rede. Incentivos fis-
Dividindo esse crescimento por região, observamos cais, sejam por meio da remuneração da energia in-
que São Paulo, apesar da irradiação solar comparati- jetada na rede ou por meio da redução dos custos de
vamente menos favorável, será o principal estado na importação de equipamentos de geração solar fotovol-
capacidade instalada de geração até 2024. Isso é expli- taica, são cruciais para o futuro da energia solar dis-
cado em grande parte por níveis de renda média su- tribuída no país. De acordo com os nossos estudos,

No cenário moderado, a geração solar distribuída com capacidade


instalada pode atingir aproximadamente 2% do pico de demanda em 2024

Observação: para a carga de pico de 2015 de ~86 GW, aqui assumimos um aumento estável da carga de pico com um CAGR de 4%. LCOE
calculado com base no modelo apresentado. O fator de capacidade varia de estado para estado e também é baseado no modelo LCOE.
Lei de adoção usando o modelo de Bass e parâmetros da experiência dos EUA. Para residencial, o máximo potencial foi calculado pela
estimativa do consumo das classes A e B no Brasil, que usam as casas, com um fator de correção de 70% (deixando 30% de fora). Para
comercial, 50% da carga do pico considerada o máximo da carga atingível, e a carga de pico considerada proporcional à demanda de
energia. Fonte: Relatório final PDE 2024 ; Relatório de demanda de energia EPE 2014; IBGE ; ANEEL; Análise BCG

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esses incentivos são equivalentes a um desconto de Para lidar com esses desafios, que se tornarão mais
20% no custo nivelado de eletricidade a partir de fon- frequentes e graves conforme o aumento da pene-
te solar. tração de energia distribuída, serão necessários inves-
timentos na rede elétrica. No entanto, com o atual
Desta maneira, esperamos um crescimento vigoroso modelo de net metering, um número cada vez menor
de 40 a 50% ao ano em média da geração solar dis- de consumidores irá contribuir para esses investimen-
tribuída, resultando em uma penetração significativa tos.
em uma década e na consolidação de um “ecossiste-
ma solar” no Brasil. Acreditamos que será uma questão de tempo até que
as empresas brasileiras de energia elétrica brasileiras
Essa penetração afetará vários aspectos do atual con- enfrentem esses desafios. Neste contexto, é essencial
texto energético. As empresas de energia elétrica que elas desenvolvam uma abordagem proativa em
tradicionais podem estar entre as mais impactadas. relação à energia descentralizada, considerando não
apenas os desafios operacionais e regulatórios, mas
O Impacto da Geração Distribuída Nas Em- também as pressões e oportunidades de negócio.
presas do setor
Lições de Outros Países
As distribuidoras de energia enfrentam uma série de
ameaças pela proliferação da energia solar distribuí- A experiência em outras regiões sugere que as empre-
da em suas áreas de concessão. A primeira é derivada sas de energia elétrica estão em melhor situação
da queda das receitas de varejo e distribuição prove- quando antecipam o crescimento da energia solar dis-
nientes da geração distribuída de energia solar. Cada tribuída.
unidade de energia gerada por um sistema solar
descentralizado reduz a demanda na rede de energia Com a diminuição das receitas, empresas de energia
proveniente de fontes centrais de geração (conhecidas elétrica tendem a buscar a recuperação de seus cus-
como “carga líquida total”). No Brasil, com uma tarifa tos, pedindo um aumento nas tarifas de energia para
quase puramente variável para clientes residenciais, os consumidores convencionais. Isso cria um subsídio
uma carga líquida mais baixa significa que as conces- cruzado implícito entre os dois grupos de consumi-
sionárias terão uma redução na receita das tarifas de dores, os que produzem energia descentralizada e os
energia elétrica destinada a pagar os custos de ma- que não, e aumenta ainda mais a relativa atratividade
nutenção e operação da rede elétrica e da geração, dos sistemas de energia solar descentralizados, ali-
que são tipicamente fixos. mentando um ciclo vicioso. Em uma escala grande o
suficiente, as companhias elétricas terão mais dificul-
Uma segunda ameaça potencial está associada com dade em persuadir as agências reguladoras e o gover-
o aumento da volatilidade da carga induzida pela no a protegerem as suas receitas à custa dos consumi-
geração distribuída de energia solar e a tensão opera- dores convencionais.
cional que ela pode criar na rede. Quando a produção
de energia descentralizada excede o consumo local, a Em outros mercados, especialmente nos Estados Uni-
energia reflui para as redes, resultando em sobrecarga dos, algumas companhias tiveram uma abordagem de
e flutuações de tensão, para as quais essas redes po- confronto, buscando ativamente medidas regulatórias
dem não estar adequadamente projetadas. Além dis- contra a geração distribuída. Diversas empresas ten-
so, os níveis acentuados de flutuação da demanda da taram se opor ao net metering, implementar limites de
rede perto das horas de pico levantam problemas de tamanho do sistema solar ou reduzir a compensação
equilíbrio do sistema elétrico que nem sempre são líquida da energia inserida na rede elétrica. Outras
facilmente resolvidos pelas tecnologias tradicionais tentaram medidas mais amplas, como o aumento da
de controle centralizado. parcela fixa na estrutura de tarifas ao cliente final ou
na introdução de tarifas de energia solar específicas
Podemos estar longe de um cenário em que haja um para geradores distribuídos.
risco significativo, considerando os níveis de pene-
tração da geração distribuída que estamos antecipan- Se expandirmos essa discussão para termos mais am-
do, mas é algo a se manter em mente à medida que plos, a noção de venda de kWh pode ser intuitiva
as empresas de energia planejarem seus futuros in- para as empresas de distribuição e agências regulado-
vestimentos, especialmente se houverem concen- ras, mas, do ponto de vista do cliente, o que está real-
trações regionais de geração distribuída solar. mente sendo comprado é a luz, o conforto. Como tal,

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mecanismos de formação de preços alternativos energia aumentem sua base de ativos regulados e,
poderiam ser explorados, como é o caso de alguns portanto, suas receitas.
players internacionais que optaram pela estratégia de
introduzir tarifas totalmente fixas, principalmente Possíveis Implicações no Brasil
quando a geração em sua maioria é por custo fixo
(por exemplo, energias renováveis e nuclear). Algumas empresas de energia elétrica no Brasil já es-
tão antecipando a tendência, fazendo três séries de
No entanto, muitos desses esforços tiveram resultados perguntas:
mistos. Algumas empresas enfrentaram reações nega-
tivas dos legisladores, e também de clientes: suas •• Posicionamento de Negócio: Qual posição tomar
posições regulatórias impactaram negativamente na na cadeia de valor da geração distribuída?
percepção da marca e lealdade do cliente.
•• Operações: Como preparar a rede para suportar a
Por outro lado, um modo passivo de “esperar para penetração da geração distribuída em crescimen-
ver” também dificilmente tem sido uma estratégia to?
vencedora. Já que expõe as empresas de energia
elétrica ao risco de redução de receitas e “perda” da •• Regulação: Como garantir que o valor seja
oportunidade de negócios criada pelo surgimento da distribuído de forma justa entre todos os agentes
geração distribuída solar. Por exemplo, no estado de no mercado?
Nova York nos Estados Unidos, as empresas não
responderam claramente às tendências emergentes e Para desenvolver uma estratégia de geração distribuí-
tiveram um papel passivo na condução da agenda de da, as empresas de energia elétrica devem considerar
políticas regulatórias na presença da crescente pene- em quais etapas da cadeia de valor elas querem estar
tração de energia solar distribuída. Nesse contexto, os presentes. Uma opção seria focar em ativos, como as
reguladores estaduais propuseram a iniciativa de instalações solares em telhados ou consórcios solares.
“Reformar a Visão Energética”, com o objetivo de Elas também poderiam oferecer serviços “por trás do
rever os sistemas de geração e distribuição do estado. medidor”, como instrumentos avançados de medição
O objetivo era forçar as empresas de energia elétrica ou armazenamento de energia. Além disso, outras
a operar apenas como “plataformas do sistema de opções para as empresas de energia elétrica seriam
distribuição”. De acordo com a estrutura regulamen- ser facilitadoras de serviços de terceiros ou competir
tar proposta, as empresas de energia elétrica atuari- como prestadores totalmente integrados.
am como provedores de plataformas, com a
obrigação, mas também com incentivos financeiros, O valor econômico geral de um cliente de energia de-
de suportar o uso de sistemas de energia distribuída. centralizada é muito maior do que o de um cliente
Com isso, as empresas teriam oportunidades legais convencional, assim que incluído o valor investido no
limitadas de possuir sistemas de energia distribuída sistema de geração distribuída. As distribuidoras de-
além do armazenamento de energia para operações vem estar cientes desse fator na hora de decidir qual
do sistema, e podem ter perdido a oportunidade de parte desse valor elas devem se concentrar.
apropriar-se do valor de um mercado em crescimento
e transfomação. No entanto, antes de desenvolverem a sua estratégia,
as empresas de energia elétrica precisam, primeiro,
Mais recentemente, empresas na América do Norte e considerar como a introdução de novos modelos de
Europa desenvolveram uma abordagem mais equili- negócios pode afetar as atuais vendas de eletricidade
brada, reconhecendo os sistemas solares não apenas no varejo e como elas podem explorá-las de forma
como ameaças, mas também como oportunidades sustentável. Para isso, é necessário considerar uma
para participar de novos modelos de negócios, en- ligação clara entre sua estratégia de negócios e suas
trando no mercado como instaladores em pequena abordagens operacionais e regulatórias para controlar
escala de energia solar nos telhados do cliente, ou ou permitir a energia descentralizada.
mesmo construindo fazendas solares comunitárias de
grande escala. Outras decidiram proativamente Apesar do aumento da capacidade dos sistemas de
apoiar a geração distribuída através da modernização geração distribuída, os sistemas de distribuição con-
da rede e novos investimentos, como o armazena- tinuarão sendo peças fundamentais das redes elétri-
mento. Cada vez mais, a geração distribuída está se cas futuras. O aumento da penetração da geração de
tornando um incentivo para que as distribuidoras de energia solar intermitente afetará o equilíbrio da rede

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e irá exigir investimentos em recursos de rede serviços e estruturas de tarifas. Novas respostas,
flexíveis e inovadores, como soluções de rede inteli- capacitações e modelos de negócios serão necessári-
gente, automação da rede, inversores solares avança- os, com maior foco nos clientes e inovação.
dos e outras novas tecnologias.
Como ponto de partida, acreditamos que há uma
Independentemente de sua opção estratégica, as em- série de movimentos de baixo risco “sem arrependi-
presas terão de se adaptar e desenvolver novos pla- mento” que as empresas de energia já podem
nos de investimento para melhorar a rede e reduzir o realizar para se preparar para essa potencial dis-
risco de ativos improdutivos à medida que a deman- rupção:
da liquida da rede elétrica diminui. Isso exigirá uma
abordagem ativa desde o início para determinar as •• Buscar a excelência operacional para ganhar
futuras necessidades e rever os planos de investimen- eficiência, reduzir custos, maximizar receitas em
to com as agências reguladoras e consumidores, com seus negócios tradicionais - garantindo preparo
o objetivo de garantir que todos estejam cientes dos operacional e econômico para melhor encarar os
próximos desafios e custos. diversos desafios impostos pela geração distribuí-
da solar;
O papel da gestão regulatória será crucial e deve con-
siderar os impactos sobre o valor da marca e fideli- •• Pressionar por uma estrutura tarifária mais
dade dos clientes. Ao invés de lutar contra a geração justa que ajude a recuperar os custos da rede e a
distribuída, é mais aconselhável que as distribuidoras reduzir os subsídios cruzados, potencialmente
de energia procurem uma estrutura da tarifa que incluindo um componente fixo;
reflita com mais precisão seus custos e que evite sub-
sídios cruzados entre os clientes. •• Identificar potenciais ativos de geração em
risco para que eles não fiquem “encalhados” na
A tarifa totalmente variável no Brasil para os próxima década à medida que a demanda líquida
domicílios beneficia aqueles que instalam por conta eletricidade se reduz. Antecipamos que as usinas
própria a geração distribuída à custa de todos os termelétricas a gás natural, relativamente mais
outros consumidores que ainda dependem exclusiva- caras, possuem maior risco de perder posição de
mente da rede. As distribuidoras de energia devem mérito;
exercer a sua influência para um desenho de tarifas
que evite subsídios cruzados e mantenha em um •• Revisar os planos de investimentos na rede
valor mínimo a tarifa de energia, enquanto continua para incorporar o perfil em mudança da carga
a permitir uma maior integração da geração distribuí- líquida da rede.
da na rede.
Pensando no futuro, as distribuidoras de energia tam-
Há uma série de abordagens para atingir esses objeti- bém devem se engajar em uma reflexão profunda so-
vos, tais como contas de eletricidade com um valor bre seu posicionamento no espaço da geração dis-
mínimo de consumo, taxas de acesso à rede ou mes- tribuída, as vantagens competitivas que elas
mo modalidades tarifárias com tarifas diferenciadas desfrutam ou podem desenvolver - começando pelo
de consumo de acordo com a horas de utilização que acesso ao capital, o valor da marca, experiência
incentivam o uso de energia em momentos em que operacional e conhecimento de seus clientes - e como
energia solar é mais produtiva. De forma menos con- melhor impulsioná-las para maximizar o valor da
troversa, as companhias de energia elétrica podem revolução da geração distribuída para elas e seus
pressionar por regras técnicas mais rigorosas para no- acionistas.
vas instalações distribuídas que facilitarão a operação
da rede, como padrões avançados de inversores so-
lares.

A adoção rápida de novas fontes distribuídas e a


evolução das tecnologias transformarão o setor
de energia elétrica. A crescente ameaça competitiva
agora está em telhados de todo o Brasil. As empresas
de energia elétrica tradicionais enfrentarão um
ambiente mais complexo com novas tecnologias,

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Sobre os Autores

Jean Le Corre é sócio sênior e diretor executivo no escritório de São Paulo. . Você pode contatá-lo pelo e-mail
lecorre.jean@bcg.com.

André Pinto é sócio e diretor executivo no escritório do Rio de Janeiro. Você pode contatá-lo pelo e-mail
pinto.andre@bcg.com.

Ricardo Simas é principal no escritório do Rio de Janeiro. Você pode contatá-lo pelo e-mail simas.ricardo@bcg.com.

Georges Almeida é principal no escritório do Rio de Janeiro. Você pode contatá-lo pelo e-mail almeida.georges@bcg.com.

Luis Daniel Viana é consultant no escritório de São Paulo.

Damien Delaunay é associate no escritório de São Paulo.

Daniel Gorodicht é senior knowledge analyst no escritório do Rio de Janeiro.

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