Boletim Operário 485
Caxias do Sul, 17 de março de 2018.
A Época
Rio de Janeiro
03 de setembro de 1912.
Página 6
Edição 35
Coluna Operária
Indignação Justa
Os crimes praticados pela policia de São
Paulo no último movimento grevista de
Santos, crimes esses que mais
revoltantes se tornaram ainda com a
prisão de operários que para aqui
vieram remetidos e que pela nossa
policia chefiada pelo Senhor Rivadavia
Corrêa, não obstante o seu positivismo,
repercutiram no seio das classes
trabalhadoras desta capital e hão de,
estamos certos, repercutir em todos os
homens sensatos, em todos os
verdadeiros republicanos, em todos os
corações bem formados.
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Entre esses companheiros ilustres
vitimados pela sanha capitalista, estava
um que era brasileiro nato, e os que o
não eram já tinham aqui domiciliado a
muito, constituindo família e tinham
filhos brasileiros, que ficaram
abandonados e separados daqueles que
dia a dia, com o seu penoso trabalho mal
pago, lhes garantiam pão.
E é assim que se pratica em um país em
que os patriotas de barriga cheia se
ufanam a dizer que somos generosos,
que precisamos de braços, que temos
campos vastos para todos os que
queiram trabalhar, que sustentamos uma
A policia do civilismo paulista do Senhor
porção de parasitas vivendo
Conselheiro Rodrigues Alves, o antigo
nababescamente na Europa a arranjar
fazendeiro, escravocrata, perseguidor dos
imigrantes, quando o que vemos é esse
abolicionistas e republicanos, não podia
infame procedimento de só se querer o
se colocar senão ao lado da poderosa
trabalhador braçal que ainda não soube
Companhia das Docas de Santos e, para
compreender o seu papel de vitima nesta
ser agradável aos argentários que dirigem
maldita sociedade.
e exploram aquela empresa, prende
Felizmente, porém, os protestos vão se
dentro de uma associação operária alguns
fazendo em todos os tons, na imprensa,
operários que dirigiam um movimento
nas associações e cremos que o mais alto
justo em favor de seus companheiros;
tribunal do país ainda possui juízes que
prendem, envia a tão afamada Paulicéia
hão de saber colocar a justiça acima
onde pontificou o grande abolicionista
dessas detestáveis autoridades policiais
que se chamou Antônio Bento e de lá
dos civilistas de São Paulo com os
remetem para a policia daqui onde
militaristas cariocas ao mando dos
domina um chefe cheio de zelos
argentários das Docas de Santos;
religiosos, com a nota infame de caftens e
felizmente não ficara isolado esse fato e a
ladrões, e o Senhor Rivadavia que dizem
prepotência dominante há de sentir que
ser um devoto de Augusto Conte e
embora pela força e pela violência
Clotilde de Veix, sem mais nem menos,
tenham concluído a sua torpe
metem-nos em navios mercantes,
empreitada atual, terá de futuro de
expulsos do território nacional por serem
proceder com mais cautela porque não
perigosos a ordem pública.
se zomba impunemente por muito tempo
De forma que em poucos dias de trabalho
da ingenuidade de uma classe que para
nestas colunas, já temos, fortes
todos trabalha e a quem todos os direitos
elementos de provas para demonstrar aos
se pretende tirar mesmo o direito de
operários o que são os politicantes que
revolta, que é um direito natural de todos
nos governam tiranicamente sejam eles
quantos tem sentimentos nobres.
civilistas ou militaristas, todos muito
Essa violência contra esses
nossos amigos para explorarem a nossa
companheiros, como muitas outras que
boa fé; todos unidos contra nós quando
tratamos de nos unir para obter mais um
se praticaram ou que se pretendem
praticar, terão o seu epilogo
pedaço de pão!
desagradável para todos esses tiranetes,
o dia em que na consciência do
operariado só predominar uma vontade,
robustecida pela coragem que eleva os
heróis que se batem pela justiça humana,
unidos por um só pensamento, e
revoltados na praça pública bradarem:
Basta de Infâmias!
Mariano Garcia
Workers’ Bulletin