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DIREITO CIVIL
CRISTIANO SOBRAL
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OAB PRIMEIRA FASE – XV EXAME
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contrato. O contrato faz lei entre as partes, o contratos cuja execução se prolongue no
que traduz o conhecido pacta sunt servanda, tempo, ou seja, quando a execução é
ou seja, os pactos devem ser cumpridos. continuada ou diferida no tempo. Como o
contrato de execução instantânea tem
Essa é a noção básica do princípio, mas o seu prestações cumpridas quando da celebração
estudo pode e deve ser aprofundado. O atual do contrato, estas não serão atingidas pelo fato
CC adotou o princípio do pacta sunt servanda, imprevisível superveniente.
mas não de forma absoluta, pois foi mitigado b) Prestação excessivamente onerosa para
pela previsão da chamada cláusula rebus sic uma das partes: É a ideia da teoria, a
stantibus. excessiva onerosidade para uma das partes,
Para entender essa cláusula, é necessária uma desequilibrando o contrato.
breve análise histórica. Desde a origem dos c) Extrema vantagem para a outra parte: Para
contratos, vigora o princípio do pacta sunt a resolução dos contratos, não basta este ter
servanda, ou seja, o contrato sempre fez lei ficado muito oneroso para uma das partes. É
entre as partes. No entanto, a Idade Média foi preciso que, concomitantemente, tenha havido
uma época que ameaçou a sobrevivência extrema vantagem para a outra parte. Assim
desse princípio, pois foi um período marcado sendo, se o contratante perde seu emprego e
por constantes guerras e conflitos feudais, o consegue outro recebendo metade do salário
que inviabilizava o cumprimento de um anterior, o contrato fica excessivamente
contrato. Por isso, naquela época, tornou-se oneroso para ele, mas não poderá pedir a
comum vir nos contratos com prestação que se resolução pela onerosidade excessiva porque
prolongava no tempo uma cláusula liberando o não houve extrema vantagem para a outra
contratante em caso de ocorrer uma guerra ou parte.
conflito feudal, permitindo-lhe pedir o fim do c) Fato superveniente e imprevisível: A
contrato. resolução do contrato só terá lugar se o
Rebus sic stantibus significa “coisa assim ficar”, desequilíbrio das prestações decorrerem de um
ou seja, o contratante é obrigado a cumprir o fato superveniente que as partes não podiam
contrato, mas apenas se a coisa assim ficar. prever quando da celebração do contrato.
A inovação do atual CC foi tornar a cláusula Atenção: não confunda teoria da onerosidade
rebus sic stantibus implícita aos contratos, excessiva com lesão e estado de perigo.
quando passou a prever a teoria da imprevisão Nesses defeitos do negócio jurídico, o ato já
ou da onerosidade excessiva. Se um contrato nasce viciado, enquanto que na aplicação da
for assinado e sobrevier fato imprevisível que o teoria ora em estudo, o contrato nasce
desequilibre, tornando-o excessivamente conforme a lei, mas se vicia por fato
oneroso para uma das partes e com extrema superveniente. A consequência disso é que na
vantagem para a outra, poderá aquela pedir a lesão e no estado de perigo o contrato é
resolução do contrato (art. 478 do CC). O anulado, enquanto que na teoria da imprevisão
exemplo típico é o contrato de leasing de um ele é objeto de resolução. Nos citados vícios da
carro, vontade, como o ato é invalidado, a sentença
com valor atrelado ao dólar (locação com anulatória retroage à data da prática do ato,
opção de compra ao fim do contrato mediante desfazendo todos os efeitos produzidos,
pagamento de valor residual). O dólar vale um inclusive os anteriores à anulação.
real e passa do dia para noite para dois reais, Na resolução do contrato pela onerosidade
dobrando o valor a ser pago. Poderá ser excessiva, a sentença não deveria retroagir, só
pedida a resolução do contrato com base na aniquilando os efeitos a partir da resolução.
teoria da imprevisão ou da onerosidade Todavia, por expressa previsão legal, efeitos
excessiva. anteriores à resolução serão desfeitos, pois a
São os elementos necessários para incidência lei determina que a sentença retroaja à data da
da teoria da imprevisão ou da onerosidade citação, ou seja, só são preservados os efeitos
excessiva: anteriores à citação.
a) Contrato de execução continuada ou Importante lembrar que o contrato atingido pela
diferida: A teoria da teoria da imprevisão ou onerosidade excessiva
imprevisão se aplica a pode se manter, sem ser objeto de resolução, o
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intervenção do juiz, caso contrarie o interesse pacta sunt servanda com regras específicas,
social, como a cláusula rebus sic stantibus ou com a
como é o caso de um contrato muito lucrativo, previsão da lesão ou do estado de perigo,
mas que gera danos ambientais ou que fraude mas também relativiza permitindo intervenção
leis trabalhistas. A questão é: nesse caso de judicial em uma relação que deveria interessar
mútuo benefício, a quem caberá pedir a unicamente às partes do contrato, mas que
intervenção judicial? interessa a toda a sociedade, pois a lei diz que
O papel de guardião do princípio da função o contrato tem uma função social.
social do contrato deve recair sobre os ombros 3.5. Princípio da boa-fé objetiva
do Ministério Público. A princípio, o parquet
não teria legitimidade ativa para pedir a Este princípio vem consagrado no art. 422 do
intervenção do juiz no contrato, por tratar-se de CC, que obriga as partes contratantes a
interesse privado. Todavia, como o contrato agirem de boa-fé quando da celebração de um
tem uma função social, não podendo prejudicar contrato. A palavra chave do princípio é
a sociedade como um todo, o interesse passa confiança, que significa parceria contratual. A
a ser coletivo, legitimando a atuação ideia é que os contratantes não são lutadores,
ministerial. um querendo prejudicar o seu adversário, mas
Com efeito, o princípio da função social do sim parceiros, porque um confia no outro, uma
contrato possibilita uma nova tendência de vez que são obrigados a agir conforme os
controle dos contratos inaugurada pelo atual ditames da boa-fé.
CC: o dirigismo judicial dos contratos. O que Imagine um casal de noivos que compra suas
significa isso? O contrato sempre sofreu alianças em uma joalheria, optando por um
controle externo, limitando a atuação dos modelo que é feito com ouro amarelo e ouro
contratantes. Até então, prevalecia o controle branco. Satisfeitos com a bela aliança, no dia
feito pela lei, razão pela qual esse controle é da festa do noivado, um casal de amigos
chamado de dirigismo legal dos contratos. informa que toda aliança com ouro branco fica
Pense, como exemplo, no contrato de locação, amarelada com o decorrer do tempo.
onde a lei do inquilinato limita a atuação do Revoltados, reclamam junto à joalheria,
locador. Hoje, com o CC vigente, prevalece o que diz nada poder fazer. Os noivos poderão
dirigismo judicial dos contratos, ou seja, não é pedir a resolução do contrato de compra e
a lei que controla o contrato, mas sim o juiz, na venda, devolvendo as alianças e recebendo
análise do caso concreto. seu dinheiro de volta, em função da quebra da
O que torna isso possível é a utilização das boa-fé do vendedor, que não informou um
chamadas cláusulas gerais ou conceitos relevante aspecto do contrato, que interferiria
jurídicos indeterminados, que tem como na escolha do modelo da aliança ou na própria
exemplo a função social dos contratos. São realização do negócio.
expressões vagas em seu conteúdo, exigindo O princípio que rege os contratos é o princípio
do aplicador do direito uma análise do caso da boa-fé objetiva, mas, em realidade, existem
concreto para suprir a vacância. A lei diz que o dois tipos: a objetiva ou a subjetiva. A
contrato deve atender a função social, ou seja, subjetiva, como o nome sinaliza, é a boa-fé
não pode ir contra o interesse social. interior, psicológica, ou seja, o que o
O que é atender ou ir contra o interesse social? contratante acredita ser correto. Já a objetiva
A lei não enumera casos, preferindo usar uma lhe é exterior, ou seja, é agir de forma correta,
expressão vaga, permitindo ao juiz dizer, segundo um padrão normal de conduta. A boa-
analisando o contrato, se ele atende ou não o fé que rege os contratos é a objetiva, pois é
interesse social. mais segura, uma vez que não depende do que
Em conclusão, não se pretende aniquilar o pensa o outro contratante, mas sim em verificar
princípio da autonomia da vontade ou o pacta se o contratante agiu seguindo um
sunt servanda, mas temperá-lo, tornando-os comportamento normal das pessoas.
mais vocacionados ao bem-estar comum, sem O que é um comportamento normal? Como
prejuízo do interesse econômico pretendido saber se o contratante agiu seguindo um
pelas partes contratantes. A padrão normal de conduta? É o juiz que dirá na
lei relativiza o princípio do análise do caso concreto. Com efeito, vimos
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contrato, pois este resulta do acordo de ser válido é estar de acordo com a lei e,
vontade das partes, que são livres para portanto, apto a produzir seus regulares
negociar de acordo com suas necessidades. efeitos. O art. 107 do CC prevê que a validade
Ademais, as alterações da lei não conseguem dos contratos não exige forma especial, senão
acompanhar o surgimento de novos contratos quando a lei exigir, ou seja, o contrato se forma
em razão da dinâmica social. com o simples acordo de vontades, mas, em
Contratos típicos são aqueles previstos e alguns casos, sua validade reclama uma forma
regulamentados em lei, enquanto que os especial para produzir efeitos. Assim,
contratos atípicos não os são. São lícitos os destacando que em alguns casos deve haver
contratos atípicos em razão do princípio da uma forma especial do contrato, o que
autonomia da vontade. Que normas são tratamos aqui é do momento da sua formação,
aplicadas a eles, já que não há pois passando a existir no mundo jurídico,
regulamentação específica em lei? Nos termos obriga as partes ao seu cumprimento, sob pena
do seu art. 425, as normas gerais do CC, tanto de responsabilidade civil contratual, ou seja,
da sua parte geral quanto da teoria geral dos indenização de perdas e danos em razão da
contratos, ora em estudo. mora ou do inadimplemento (tema tratado em
obrigações, para onde remetemos sua leitura).
4.3. Pacto Sucessório O CC trata do tema formação dos contratos
nos arts. 427/435, mencionando a proposta e
Pacto sucessório é o contrato que tem por a aceitação. Todavia, a formação do contrato
objeto herança de pessoa viva, sendo também não é composta apenas por esses dois atos.
chamado de pacta corvina ou pacto de abutres. Normalmente existe uma fase prévia, de
Nos termos do art. 426 do CC, é um contrato negociações preliminares, chamada de fase de
proibido por lei, sendo inválido se praticado. A puntuação, que poderá culminar na formulação
questão é: será nulo ou anulável? A lei proíbe a de uma proposta, que, se aceita, formará o
prática sem dizer, no entanto, se nulo ou contrato. São as fases que passamos a
anulável, razão pela qual é considerado nulo estudar.
pela lei, conforme prevê o art. 166, VII, do CC.
Note não poder ser objeto de contrato herança 5.1. Fase de puntuação e a responsabilidade
de pessoa viva, ou seja, após morte do de pré-contratual
cujos, após a abertura da sucessão, os
herdeiros podem negociar seus quinhões Fase de puntuação é a fase de negociações
hereditários, mesmo antes da individualização preliminares que antecedem a proposta,
obtida ao fim do inventário com o formal de marcada por conversações prévias,
partilha, sendo considerado por lei um contrato ponderações, reflexões, sondagens, cálculos e
de bem imóvel (art. 80, II, do CC). estudos de viabilidade de negociação futura.
Pode resultar, inclusive, em uma minuta
5. FORMAÇÃO DOS CONTRATOS contratual se alguns pontos acordados forem
reduzidos a termo, ou seja, a escrito (difere da
O contrato se forma, em regra, quando a uma proposta, pois esta é completa, uma vez bastar
proposta se seguir uma aceitação, seja com o um sim para o contrato se formar).
acordo de vontades das partes. Como Sobrevindo uma proposta à fase de puntuação,
exceção, temos os contratos reais, em que esta vincula o proponente, pois, se a outra
este acordo não é suficiente para a formação parte a aceitar, o contrato estará formado e
do contrato, o que só ocorre com um ato ambos estarão obrigados em seus termos. A
posterior: a tradição, ou seja, a entrega do questão é: podemos falar em responsabilidade
bem. É o caso de três tipos contratuais: mútuo, civil nesta fase de negociações preliminares
comodato e depósito. pela não conclusão do contrato? Em regra não,
Não confunda a formação do contrato com a pois não há qualquer problema em se iniciarem
sua validade. O contrato se formar significa negociações e se perceber a inviabilidade ou
passar a existir no mundo jurídico, obrigando inconveniência da contratação.
as partes ao seu Todavia, em alguns casos, pode haver
cumprimento, enquanto que responsabilidade civil extracontratual ou
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aquiliana, pois não há ainda um contrato, celebrar um contrato definitivo no futuro, por
sendo chamada de responsabilidade civil pré- não ser possível a contratação agora ou por
contratual. não ser o melhor momento.
Quando isso ocorre? Quando, nas negociações
preliminares, uma das partes cria na outra a Exemplo: Um time de futebol quer contratar um
justa expectativa de contratação e, sem jogador. Não pode celebrar um contrato
qualquer justificativa, por mero capricho, não definitivo agora, pois ele tem contrato em vigor
formaliza a proposta. O fundamento é a quebra com outro clube. No entanto, poderão celebrar
da boa-fé objetiva na fase das negociações um pré-contrato, em que se obrigam a
preliminares. Há um abuso de direito, que é contratar ao término do contrato em vigor.
considerado pela lei ato ilícito a ensejar Caso o jogador negocie seu passe com outro
responsabilidade civil (art. 187 c/c art. 927, clube ou este não queira mais contratá-lo,
ambos do CC). Ora, ao criar a justa expectativa haverá descumprimento do contrato, devendo
de contratação, legitima a outra parte a contrair arcar com perdas e danos, que provavelmente
gastos e até a recusar outras propostas, virá pré-fixada em uma cláusula penal.
e não concluir o contrato sem qualquer Importante: O pré-contrato deve ter os mesmos
justificativa é causar o que chamamos de “dano elementos do contrato definitivo, à exceção de
de confiança”, em razão da quebra da boa fé um deles: a forma. As partes e o objeto são os
objetiva, que deve nortear o comportamento mesmos, mas a forma não precisa ser a
dos contratantes até mesmo antes da proposta. mesma. Se o contrato definitivo tem que ser
Como exemplo, cito um caso cobrado na prova por escritura pública, nada impede que o pré-
organizada pela FGV. Imagine que durante contrato seja por instrumento particular.
anos um fabricante de extrato de tomate Qual a importância do pré-contrato? Em
distribui gratuitamente sementes de tomate princípio, a responsabilidade civil na fase de
entre agricultores de uma região, procurando- negociações preliminares é extracontratual,
os na época da colheita para celebrar com eles pois ainda não há um contrato. No entanto, se
contrato de compra e venda de toda a celebrarem um pré-contrato, as partes
produção de tomate. No décimo ano distribuiu transformarão essa responsabilidade pré-
as sementes, mas não apareceu para compra contratual em contratual antes mesmo da
da safra. Procurada pelos agricultores, celebração do contrato definitivo, pois o pré-
recusou-se, sem qualquer justificativa, a contrato é um contrato. Qual a vantagem? A
celebrar o contrato. Nesse caso, há parte prejudicada não precisará provar a culpa
responsabilidade civil pré-contratual aquiliana do inadimplente no descumprimento do
do fabricante de extrato de tomate, tendo que contrato nem tampouco o dano, seja sua
indenizar os agricultores em razão dos própria existência, seja a sua extensão. Você
prejuízos que resultaram da não contratação, lembra o que vimos a respeito do tema?
como os custos da produção e eventual recusa Lembrando: tanto a responsabilidade civil
de venda para outros compradores. extracontratual (em regra) como a contratual
O fundamento da responsabilidade pré- são subjetivas, mas esta tem culpa presumida.
contratual é a violação do princípio da boa-fé Assim, se o caso é de responsabilidade
objetiva nessa fase de negociações contratual, basta ao contratante prejudicado
preliminares anterior à proposta, pois o provar o inadimplemento, sem precisar provar
fabricante criou nos agricultores a justa que o outro teve culpa no descumprimento do
expectativa de contratação e, sem qualquer contrato (este poderá elidir sua
justificativa, por mero capricho, não formalizou responsabilidade provando não ter tido culpa,
a proposta de compra e venda. pois a presunção de culpa é relativa, admitindo
prova em contrário, o que representa inversão
5.2. Pré-contrato ou contrato preliminar do ônus da prova). Por outro lado,
se é caso de responsabilidade civil
O pré-contrato, também chamado de contrato extracontratual subjetiva, a vítima do dano, ao
preliminar ou pacto de contrahendo, é um cobrar perdas e danos, deverá provar que o
contrato em que as partes agressor teve culpa em causá-lo. Assim sendo,
assumem a obrigação de a responsabilidade civil contratual é mais
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vantajosa para quem sofre o dano, pois não Na fase de policitação, não deixa de haver uma
precisará provar o difícil elemento subjetivo da negociação entre as partes, o que já acontece
culpa. Além disso, como há um contrato, na fase de puntuação. Ora, qual a diferença
podemos pré-fixar as perdas e danos em uma entre a fase de puntuação e a fase de
cláusula penal, dispensando a parte policitação na formação dos contratos? É a
prejudicada de provar não só o dano, mas, existência de uma proposta. A fase de
sobretudo, a sua extensão. puntuação é a fase de negociações
No supramencionado exemplo da compra dos preliminares, ou seja, anterior à proposta. Já a
tomates, o fabricante, por ser fase anterior à fase de policitação se dá após a proposta,
proposta, tem responsabilidade civil sucedendo-se sucessivas contrapropostas.
extracontratual, somente sendo A pergunta se mantém: como saber se uma
responsabilizado civilmente se os agricultores conversa entre as partes já configura uma
provarem a justa expectativa de contratação e proposta ou apenas negociações preliminares,
a recusa sem qualquer justificativa, mas que até pode resultar em uma minuta, se
também a sua culpa na não celebração do reduzido a termo? É a seriedade da proposta.
contrato. Significa que a proposta é pronta e acabada,
No entanto, se na fase de negociações abordando todos os elementos do contrato,
preliminares, as partes reduzirem as bases do pois basta um sim para a formação do contrato.
contrato a escrito em um pré-contrato, bastarão Se isso já existe, é fase de policitação; se
provar que o fabricante assinou um pré- ainda não existe, sendo conversados apenas
contrato e que houve inadimplemento, além de alguns pontos do contrato, a fase é de
sequer precisar provar o dano e a sua puntuação.
extensão, pois poderão executar direto a O aspecto mais importante da proposta é o seu
cláusula penal. aspecto vinculatório, ou seja, a proposta
O mesmo ocorre no exemplo da contratação do obriga o proponente. Se eu faço uma proposta,
jogador de futebol. Se o clube apenas crio na outra parte a justa expectativa de
conversa em negociações preliminares, contratação, que pode levá-la a contrair gastos
acertando as bases de um futuro contrato, e até a recusar outras propostas. Feita a
pode ser que, ao final do contrato em vigor, o proposta, o proponente a ela se obriga, ou
atleta quebre a confiança e resolva permanecer seja, se houver aceitação, não poderá alegar
no clube que está ou contratar com outro. Para desistência ou arrependimento, podendo o
responsabilizá-lo civilmente, deverá provar que aceitante pedir em juízo a execução forçada do
o atleta não contratou culposamente, mas, se contrato ou indenização por perdas e danos.
assinar um pré-contrato, bastará comprovar o Já é responsabilidade civil contratual, pois com
inadimplemento, sem sequer precisar provar o a aceitação o contrato se formou, passando a
dano e a sua extensão. existir no mundo jurídico. A proposta só obriga
o proponente e a aceitação passa a obrigar
5.3. A proposta ambas as partes.
A questão é: a proposta sempre obriga o
O contrato se forma quando a uma proposta se proponente? Não, pois nos termos do art. 427
seguir uma aceitação. É raro uma pessoa do CC a proposta não obriga o proponente em
fazer uma proposta e a outra simplesmente a três casos:
aceitar, pois é normal se sucederem
sucessivas contrapropostas até culminar em a) Se isso resultar dos termos da proposta: se
uma aceitação final. Essa fase de sucessivas no próprio corpo da proposta vier expressa a
contrapropostas a partir de uma proposta é não obrigatoriedade, não cria justa expectativa
chamada de fase de policitação ou fase de de contratação na outra parte.
oblação. b) A depender da natureza do negócio: há
Isso dá nome aos atores envolvidos: quem faz certos negócios jurídicos que, por sua
a proposta é chamado de proponente ou de natureza, não obrigam o proponente, como
policitante e quem a aceita é chamado de proposta de venda de produto com quantidade
aceitante ou de oblato. limitada em estoque, a partir do fim do estoque.
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entrevista exclusiva a um programa de rádio. por defeito jurídico é responder pela evicção,
Se o terceiro não cumprir a prestação, o ou seja, quem alienou o bem não poderia tê-lo
promitente responde por perdas e danos, feito e o adquirente o perdeu para um terceiro,
mesmo que tenha feito todos os esforços para podendo buscar uma indenização do alienante.
o cumprimento da prestação. O promitente não
responderá, mas sim o terceiro, se este aceitar Procederemos aqui ao estudo em separado do
a prestação e depois não cumpri-la. Ademais, o vício redibitório e da evicção. No entanto, de
promitente não responde pelo descumprimento plano, merecem destaque três observações
da prestação do terceiro se, pendendo sua comuns a ambos os institutos, pois são
aceitação, forem casados e, a depender do questões muito recorrentes em prova e que
regime de bens do casamento, a cobrança merecem sua especial atenção:
sobre o promitente recair de alguma forma a) O alienante responde por eles mesmo que
sobre o terceiro. não haja previsão expressa em contrato, pois
são garantias implícitas, que decorrem de lei e
6.3. Contrato com pessoa a declarar: É o não da vontade das partes.
contrato em que um dos contratantes pode b) O alienante responde por eles apenas diante
indicar uma pessoa que irá assumir a sua de alienações onerosas. Atenção: a doação é
posição no contrato. É um terceiro ao contrato uma alienação gratuita, mas o alienante
tendo direitos e deveres que dele decorrem. responderá por eles quando a doação for com
Exemplo: uma pessoa quer comprar uma casa, encargo, o que a lei chama de doação onerosa.
cujo dono jamais lhe venderá por problemas c) O alienante responde por eles mesmo que a
pessoais, podendo se valer de uma pessoa aquisição do bem tenha se dado em hasta
para contratar com o proprietário, inserindo no pública, ou seja, através da venda pública de
contrato cláusula que lhe permite indicá-lo a bem penhorado em processo de execução.
assumir sua posição no contrato.
Essa indicação deve ser feita em cinco dias, se 7.1. Vícios Redibitórios
outro prazo não for estipulado, mas tem efeito
retroativo à data da celebração do contrato, Aqui a responsabilidade é diante da existência
pois o indicado assume os direitos e deveres de defeitos materiais, ou seja, o bem está
do contrato desde a sua celebração e não quebrado. Importante você não confundir a
apenas a partir da sua nomeação. Esse disciplina civil dos vícios redibitórios com a
contrato exige muita confiança entre quem disciplina consumerista. Sendo o CDC uma lei
indicará e quem será indicado, pois se não especial em relação ao CC, só aplicamos suas
houver nomeação ou se esta não for aceita regras quando inaplicáveis as regras do CDC.
pelo indicado, o contrato produz efeitos entre Quando, então, aplicamos as regras dos vícios
os contratantes originários. redibitórios previstas no CC? Quando não
houver relação de consumo, o que ocorre em
7. GARANTIAS IMPLÍCITAS IMPOSTAS AO dois casos: (i) quando o alienante não é
ALIENANTE fornecedor, como ocorre na venda ocasional de
um bem usado, pois ser fornecedor exige
Quando uma pessoa aliena um bem, deve habitualidade da negociação; e (ii) quando o
garantir ao adquirente, em nome da boa-fé adquirente não for consumidor, como ocorre no
objetiva, o seu normal uso e fruição, bem como caso de alguém adquirir um bem para
a garantia de que não o perderá para terceiros renegociação, pois o CDC afirma que só é
por razões de direito. Assim sendo, o alienante consumidor quem adquire um bem como
responde perante o adquirente do bem tanto destinatário final. Aqui nos concentraremos na
por defeitos materiais como por defeitos disciplina civil do tema, deixando as regras da
jurídicos. relação de consumo para um estudo específico
O alienante, responder por defeito material é do tema.
responder por vício redibitório, ou seja, o bem Por definição, vícios redibitórios são defeitos
apresenta um defeito físico que o torna inútil ao ocultos que tornam o bem impróprio para o
seu uso ou que lhe diminui o uso a que se destina ou que lhe diminuem o
valor. Por sua vez, responder valor. Note que na disciplina civil, diferente da
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do contrato, razão pela qual não será devedor inadimplemento indenizáveis em perdas e
em perdas e danos à outra parte. Por danos quando com culpa do devedor, pois, se
exemplo: sem culpa, apenas haverá resolução do
o direito de revogação de contrato de mandato. contrato.
Pode a lei não permiti-la, mas a vontade das Cláusula resolutória é a cláusula que permite
partes sim, quando inserem no contrato ao contratante resolver o contrato diante do
cláusula permissiva, podendo ou não ser fixada inadimplemento da outra parte. O contrato
uma multa a ser paga ao outro contratante se pode trazer uma cláusula resolutória expressa,
esta ocorrer. Se não houver previsão legal nem mas esta também pode ser implícita aos
contratual, a parte não poderá unilateralmente contratos. Quando isso ocorre?
resilir o contrato, podendo ser o caso de Todo contrato bilateral tem implícita a cláusula
reclamação judicial para sua execução forçada. resolutória. A razão é que todo contrato
Exemplo: contrato de locação em que há bilateral é sinalagmático, o que significa que a
previsão apenas para o locatário o resilir, tendo prestação de uma das partes é causa da
o locador que esperar o fim do contrato pela prestação da outra parte. Como uma das
total execução. partes só cumpre a sua prestação porque a
b) Resilição bilateral: ocorre quando a extinção outra cumpre a sua, o descumprimento
do contrato se dá unicamente por vontade, mas autoriza a outra parte pedir a resolução do
de ambas as partes, sendo chamado de contrato, mesmo que não tenha nele cláusula
distrato. É um acordo das partes, pondo vim à permissiva expressa.
avença contratual, sem se externar qualquer Sendo contrato unilateral ou plurilateral,
causa para isso, razão pela qual, em princípio, necessária a cláusula resolutiva expressa no
nenhuma das partes deve qualquer contrato, para que uma das partes possa pedir
indenização ao outro contratante. a resolução em razão do inadimplemento ou
Importante sobre o tema é o art. 472 do CC, mora da outra parte.
que diz que o distrato deverá ser feito na Há vantagem da cláusula resolutória expressa
mesma forma exigida para ser feito o contrato. em relação à implícita, o que justifica sua
Como exemplo, se o contrato de compra e inserção inclusive no contrato bilateral. Vindo
venda de um imóvel de valor superior a trinta expressa no contrato, haverá extinção
salários mínimos deve ser por escritura pública, automática do contrato em caso de
o distrato assim também deve ser. inadimplemento, enquanto que, se implícita,
depende de interpelação judicial (art. 474 do
8.2. Resolução do contrato CC). Além disso, vindo expressa no contrato, já
se insere cláusula penal prefixando o valor da
Resolução do contrato é a sua extinção em indenização por perdas e danos.
razão do inadimplemento ou da mora da outra
parte. Aqui o contrato não termina apenas em 8.2.1. Exceção de contrato não cumprido
razão da vontade das partes, pois há uma (exceptio non adimplenti contractus)
causa que autoriza uma delas a pedir sua
extinção: o não cumprimento do contrato. Se uma das partes é inadimplente, legitima a
Esse descumprimento pode ser com culpa ou outra a pedir a resolução do contrato. Agora,
sem culpa do contratante inadimplente, o que imagine que antes disso o inadimplente ajuíze
faz com que existam dois tipos de resolução do uma ação cobrando o cumprimento da
contrato: com culpa (voluntária) ou sem culpa prestação da outra parte. O que ela poderá
(involuntária). A grande diferença é que no fazer? Sendo um contrato bilateral, poderá
caso de resolução culposa, o inadimplente será alegar a exceção de contrato não cumprido, ou
devedor de perdas e danos junto com a seja, que não cumprirá sua prestação em razão
resolução, o que não será devido quando a do autor da ação não ter cumprido a sua.
resolução não for culposa. Perceba que aqui A razão já foi exposta: como o contrato bilateral
falamos de mora e de inadimplemento, tema é sinalagmático, a prestação de uma das
que abordamos no estudo das obrigações partes é causa da prestação da outra parte,
neste livro, valendo lembrar razão pela qual quem não cumpre a sua
que só há mora e
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