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OAB PRIMEIRA FASE – XV EXAME

DIREITO CIVIL
CRISTIANO SOBRAL

I. TEORIA GERAL DOS CONTRATOS ou seja, há equilíbrio econômico entre as


partes porque ambos perdem e ganham na
1. CONCEITO mesma proporção econômica, por exemplo,
contrato de compra e venda.
Contrato é o negócio jurídico bilateral formado b) Contrato gratuito: é aquele em que a parte
pela convergência de duas ou mais vontades, não ganha algo equivalente à sua prestação,
que cria, modifica ou extingue relações ou seja, há desequilíbrio econômico, pois uma
jurídicas de natureza patrimonial. das partes só ganha e uma das partes só
perde, por exemplo, contrato de doação.
É um negócio jurídico, pois é uma atuação
humana em que as partes escolhem os efeitos 2.3. Contrato comutativo e aleatório
que serão produzidos ao praticarem o ato. É
bilateral, pois é formado pelo acordo de a) Contrato comutativo: é aquele em que as
vontades, ou seja, são necessárias pelo menos partes podem antever os seus efeitos, ou seja,
duas vontades. O testamento é um negócio ao celebrar o contrato, já sabem os efeitos que
jurídico, pois é atuação humana em que se serão produzidos. Exemplo: contrato de
escolhem os efeitos que dele serão produzidos, compra e venda, pois já se sabe que um
mas não é um contrato, pois é um negócio entrega o bem e que outro entrega o preço.
jurídico unilateral. b) Contrato aleatório: é aquele em que as
partes não podem antever os seus efeitos, ou
2. CLASSIFICAÇÕES DOS CONTRATOS seja, ao celebrar o contrato não há como saber
os efeitos que serão produzidos. A razão é
2.1. Contrato unilateral, bilateral e plurilateral simples: contrato aleatório é o contrato de risco
(álea significa risco). Exemplo: contrato de
Não se fala aqui no número de vontades seguro, pois o segurado pode ou não receber a
envolvidas, pois vimos que não existe contrato indenização, a depender se ocorre ou não o
com uma vontade apenas. Fala-se aqui em sinistro, o que não se sabe quando o contrato é
número de prestações. celebrado.
O contrato aleatório pode ser naturalmente
a) Contrato unilateral: é aquele em que há aleatório (aleatório típico) ou acidentalmente
prestação apenas para uma das partes. aleatório (aleatório atípico). O contrato é
Doação é contrato, pois há duas vontades, em naturalmente aleatório quando for da sua
razão da necessidade do donatário aceitá-la. essência ser aleatório, por exemplo, contrato
Todavia, é contrato unilateral, pois só tem de seguro. O contrato é acidentalmente
prestação para o doador (entregar o bem). aleatório quando for da sua essência ser
b) Contrato bilateral: é aquele que, além de comutativo, mas é aleatório em razão de uma
duas vontades, tem prestação para ambas as circunstância que lhe é específica. Exemplo:
partes, por exemplo, contrato de compra e contrato de compra e venda é comutativo, mas
venda, pois o vendedor tem a prestação de o contrato de compra e venda de uma safra
entregar o bem e o comprador tem a prestação que está sendo plantada é aleatório, pois não
de dar o preço. se sabe qual será a quantidade da produção.
c) Contrato plurilateral: é aquele em que há Os arts. 458 a 461 do CC trazem dois tipos de
pelo menos três vontades envolvidas. Exemplo: contratos de compra e venda atipicamente
contrato de sociedade, em que são partes os aleatórios: compra e venda de coisa futura e de
sócios e a própria sociedade, como parte coisa exposta a risco.
credora das prestações dos sócios a) Compra e venda de coisa futura: O contrato
(contribuição para o capital social). de compra e venda de coisa futura é aleatório,
pois não se sabe se a coisa virá a existir e em
2.2. Contrato oneroso e gratuito que quantidade. Pode o contratante assumir o
risco da coisa não vir a existir, pagando mesmo
a) Contrato oneroso: é aquele em que as assim o preço (chamado de contrato de
partes ganham algo compra e venda emptio spei) ou assumir o
equivalente à sua prestação, risco de vir a existir em qualquer quantidade,

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pagando o preço se vier a existir em cumprido em uma só vez, no momento da


quantidade inferior à esperada, mas não celebração do contrato (exemplo: compra e
pagando se nada do avençado vier a existir venda com pagamento à vista).
(chamado contrato de compra e venda emptio b) Contrato de execução continuada: é aquele
rei speratae). em que a prestação é cumprida em cotas
Em ambos os casos, não pagará o preço se periódicas (exemplo: compra e venda com
menos do esperado vier a existir por culpa ou pagamento parcelado).
dolo do contratante. Como exemplo, pense na
compra de peixes que ainda serão pescados, c) Contrato de execução diferida: é aquele em
em que se paga o preço mesmo que nenhum que a prestação é cumprida em uma só vez,
peixe seja pescado (emptio spei) ou se vier em mas no futuro (exemplo: compra e venda com
qualquer quantidade, só não pagando se pagamento a prazo).
nenhum vier (emptio rei speratae). Em nenhum
dos dois casos pagará, se o insucesso total ou 2.6. Contrato entre presentes e entre ausentes
parcial decorreu de dolo ou culpa do pescador.
b) Compra e venda de coisa exposta a risco: O É uma classificação que se refere à formação
contrato de compra e venda de coisa exposta a do contrato. Pelos nomes, parece que
risco é de coisa que já existe, mas é depende se as partes estão ou não na
atipicamente aleatório, pois o comprador presença física um do outro. Não é bem assim,
assume o risco exposto. Exemplo: compra de pois há tecnologias que fazem com que uma
cerâmica a ser transportada em navio, cujo conversa entre pessoas distantes seja como se
risco de vir a se quebrar o comprador assuma. estivessem fisicamente presentes, pois
Deverá pagar todo o preço, mesmo que alguns proposta e aceitação se dão em tempo real.
venham quebrados, a menos que dolosamente a) Contrato entre presentes: é aquele em que
o vendedor se aproveite, colocando alguns já proposta e aceitação se dão em tempo real,
quebrados. sendo firmado não só entre pessoas
fisicamente presentes, mas também por
2.4. Contrato consensual e real telefone ou meio de comunicação semelhante
(vídeo conferência, chats, entre outros).
O contrato se forma, em regra, quando a uma
proposta se seguir uma aceitação, ou seja, b) Contrato entre ausentes: é aquele em que
com o acordo de vontade das partes. Essa proposta e aceitação não se dão em tempo
regra é quebrada em alguns casos, quando o real, cujos principais exemplos são aqueles
acordo de vontades não é suficiente para a formados por carta ou por e-mail.
formação do contrato, o que só ocorre com a
prática de um ato posterior: a entrega do bem 3. PRINCÍPIOS CONTRATUAIS
objeto da prestação.
a) Contrato consensual: é aquele que se forma 3.1. Princípio da autonomia da vontade
com o acordo de vontades das partes. É a
regra em matéria de contratos, por exemplo, o As partes são livres para contratar, ou seja,
contrato de compra e venda. contratam se quiserem, com quem quiserem e
sobre o que quiserem. Isso decorre de simples
b) Contrato real: é aquele que se forma com a razão: contrato é um acordo de vontades. O
tradição, ou seja, com a entrega do bem, que limite para suas atuações é a lei e, como
se segue ao acordo de vontade das partes. veremos mais à frente, o interesse social e a
São três os contratos reais: mútuo, comodato e boa-fé.
depósito.
3.2. Princípio da obrigatoriedade e a teoria da
2.5. Contrato de execução instantânea, imprevisão (pacta sunt servanda x cláusula
continuada e diferida rebus sic stantibus)

a) Contrato de execução As partes contratam se quiserem, mas, se


instantânea: é aquele que é contratarem, são obrigadas a cumprir o

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contrato. O contrato faz lei entre as partes, o contratos cuja execução se prolongue no
que traduz o conhecido pacta sunt servanda, tempo, ou seja, quando a execução é
ou seja, os pactos devem ser cumpridos. continuada ou diferida no tempo. Como o
contrato de execução instantânea tem
Essa é a noção básica do princípio, mas o seu prestações cumpridas quando da celebração
estudo pode e deve ser aprofundado. O atual do contrato, estas não serão atingidas pelo fato
CC adotou o princípio do pacta sunt servanda, imprevisível superveniente.
mas não de forma absoluta, pois foi mitigado b) Prestação excessivamente onerosa para
pela previsão da chamada cláusula rebus sic uma das partes: É a ideia da teoria, a
stantibus. excessiva onerosidade para uma das partes,
Para entender essa cláusula, é necessária uma desequilibrando o contrato.
breve análise histórica. Desde a origem dos c) Extrema vantagem para a outra parte: Para
contratos, vigora o princípio do pacta sunt a resolução dos contratos, não basta este ter
servanda, ou seja, o contrato sempre fez lei ficado muito oneroso para uma das partes. É
entre as partes. No entanto, a Idade Média foi preciso que, concomitantemente, tenha havido
uma época que ameaçou a sobrevivência extrema vantagem para a outra parte. Assim
desse princípio, pois foi um período marcado sendo, se o contratante perde seu emprego e
por constantes guerras e conflitos feudais, o consegue outro recebendo metade do salário
que inviabilizava o cumprimento de um anterior, o contrato fica excessivamente
contrato. Por isso, naquela época, tornou-se oneroso para ele, mas não poderá pedir a
comum vir nos contratos com prestação que se resolução pela onerosidade excessiva porque
prolongava no tempo uma cláusula liberando o não houve extrema vantagem para a outra
contratante em caso de ocorrer uma guerra ou parte.
conflito feudal, permitindo-lhe pedir o fim do c) Fato superveniente e imprevisível: A
contrato. resolução do contrato só terá lugar se o
Rebus sic stantibus significa “coisa assim ficar”, desequilíbrio das prestações decorrerem de um
ou seja, o contratante é obrigado a cumprir o fato superveniente que as partes não podiam
contrato, mas apenas se a coisa assim ficar. prever quando da celebração do contrato.
A inovação do atual CC foi tornar a cláusula Atenção: não confunda teoria da onerosidade
rebus sic stantibus implícita aos contratos, excessiva com lesão e estado de perigo.
quando passou a prever a teoria da imprevisão Nesses defeitos do negócio jurídico, o ato já
ou da onerosidade excessiva. Se um contrato nasce viciado, enquanto que na aplicação da
for assinado e sobrevier fato imprevisível que o teoria ora em estudo, o contrato nasce
desequilibre, tornando-o excessivamente conforme a lei, mas se vicia por fato
oneroso para uma das partes e com extrema superveniente. A consequência disso é que na
vantagem para a outra, poderá aquela pedir a lesão e no estado de perigo o contrato é
resolução do contrato (art. 478 do CC). O anulado, enquanto que na teoria da imprevisão
exemplo típico é o contrato de leasing de um ele é objeto de resolução. Nos citados vícios da
carro, vontade, como o ato é invalidado, a sentença
com valor atrelado ao dólar (locação com anulatória retroage à data da prática do ato,
opção de compra ao fim do contrato mediante desfazendo todos os efeitos produzidos,
pagamento de valor residual). O dólar vale um inclusive os anteriores à anulação.
real e passa do dia para noite para dois reais, Na resolução do contrato pela onerosidade
dobrando o valor a ser pago. Poderá ser excessiva, a sentença não deveria retroagir, só
pedida a resolução do contrato com base na aniquilando os efeitos a partir da resolução.
teoria da imprevisão ou da onerosidade Todavia, por expressa previsão legal, efeitos
excessiva. anteriores à resolução serão desfeitos, pois a
São os elementos necessários para incidência lei determina que a sentença retroaja à data da
da teoria da imprevisão ou da onerosidade citação, ou seja, só são preservados os efeitos
excessiva: anteriores à citação.
a) Contrato de execução continuada ou Importante lembrar que o contrato atingido pela
diferida: A teoria da teoria da imprevisão ou onerosidade excessiva
imprevisão se aplica a pode se manter, sem ser objeto de resolução, o

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que ocorrerá se o contratante beneficiado circunstâncias que forçam a contratação. Isso


concordar com a redução do seu ganho, demonstra a preocupação socializante do atual
reequilibrando as prestações. CC, pois,
3.3. Princípio da relatividade dos efeitos dos mesmo preenchidos os requisitos formais de
contratos validade do negócio jurídico, a lei pretende
amparar um dos contratantes da esperteza ou
O contrato só produz efeitos em relação às ganância do outro ou do prejuízo econômico
partes. É por isso que dizemos que o direito imprevisível com extrema vantagem para o
contratual é inter parte (entre as partes), outro contratante. Qual a razão disso? O Poder
diferente dos direitos reais, que são direitos Judiciário só pode chancelar contratos que
oponíveis erga omnes (contra todos). Significa respeitem não só regras formais de validade
que o contratante só pode opor seu direito jurídica, mas, sobretudo, normas superiores de
contratual ao outro contratante e não a cunho moral e social.
pessoas estranhas à relação contratual, pois só Essa concepção social do contrato chega ao
as partes podem ter direitos e deveres frutos seu ápice quando o CC, já em seu primeiro
do contrato que celebraram. artigo sobre contratos, diz que a função social
do contrato representa uma limitação na
3.4. Princípio da função social do contrato liberdade de contratar (art. 421 do CC). As
partes são livres para, dentro dos limites legais,
O contrato não interessa apenas às partes colocarem no contrato as cláusulas que
contratantes, mas sim a toda sociedade, quiserem, mas a limitação à autonomia da
porque ele repercute no meio social. Essa é a vontade não se dá apenas pela lei, mas
ideia do princípio da função social do contrato, também pelo interesse social.
que reflete a atual tendência de sociabilidade Imagine um contrato para a construção de uma
do direito, ou seja, de subordinação da obra de vulto ou de uma indústria. Não
liberdade individual em função do interesse obstante estejam observados os requisitos
social. Assim sendo, se o contrato repercute legais de validade (agente capaz, objeto
negativamente para a sociedade, o juiz pode possível, determinado ou determinado e forma
nele intervir para preservação do interesse prescrita ou não defesa em lei), alguns
coletivo. questionamentos podem ser feitos: e os
Como exemplo, podemos pensar em um reflexos ambientais? E os reflexos trabalhistas?
contrato com juros excessivamente elevados. E os reflexos sociais? E os reflexos morais, ou
Não é ruim apenas para a parte devedora, mas seja, no âmbito dos direitos da personalidade?
para toda a sociedade, pois aumenta o risco de Por melhor que seja o contrato do ponto de
inadimplemento, o que aumenta ainda mais os vista econômico para os contratantes,
juros, o que dificulta a circulação do crédito, não se pode chancelar como válido um negócio
diminuindo os investimentos produtivos e negativo para a sociedade em razão do
fazendo com que o Estado não se desenvolva. desrespeito de leis ambientais, que pretenda
O juiz, sob o fundamento da função social do fraudar leis trabalhistas ou que viole a livre
contrato, poderá intervir nessa relação entre concorrência, as leis do mercado ou postulados
particulares, trazendo os juros para valor de de defesa do consumidor, mesmo sob o
mercado. pretexto da livre iniciativa.
O CC, em várias oportunidades, tem regras Analisando os exemplos supramencionados,
que refletem essa tendência da sociabilidade podemos verificar que um contrato que não
do direito. É o caso, por exemplo, da teoria da cumpre a sua função social pode ser bom
imprevisão, podendo o juiz pôr fim ao contrato apenas para uma das partes, como ocorre com
em razão do seu desequilíbrio econômico pela o contrato com juros excessivos. Neste caso,
superveniência de um fato imprevisível. O caberá ao contratante prejudicado pedir a
mesmo ocorre no caso de lesão e estado de tutela jurisdicional com base na função social
perigo, podendo o juiz invalidar o contrato, por do contrato. No entanto, até mesmo quando o
uma das partes ter assumido obrigação contrato for bom do ponto de vista econômico
excessivamente onerosa em para ambas as partes, poderá ser alvo de
razão de determinadas

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intervenção do juiz, caso contrarie o interesse pacta sunt servanda com regras específicas,
social, como a cláusula rebus sic stantibus ou com a
como é o caso de um contrato muito lucrativo, previsão da lesão ou do estado de perigo,
mas que gera danos ambientais ou que fraude mas também relativiza permitindo intervenção
leis trabalhistas. A questão é: nesse caso de judicial em uma relação que deveria interessar
mútuo benefício, a quem caberá pedir a unicamente às partes do contrato, mas que
intervenção judicial? interessa a toda a sociedade, pois a lei diz que
O papel de guardião do princípio da função o contrato tem uma função social.
social do contrato deve recair sobre os ombros 3.5. Princípio da boa-fé objetiva
do Ministério Público. A princípio, o parquet
não teria legitimidade ativa para pedir a Este princípio vem consagrado no art. 422 do
intervenção do juiz no contrato, por tratar-se de CC, que obriga as partes contratantes a
interesse privado. Todavia, como o contrato agirem de boa-fé quando da celebração de um
tem uma função social, não podendo prejudicar contrato. A palavra chave do princípio é
a sociedade como um todo, o interesse passa confiança, que significa parceria contratual. A
a ser coletivo, legitimando a atuação ideia é que os contratantes não são lutadores,
ministerial. um querendo prejudicar o seu adversário, mas
Com efeito, o princípio da função social do sim parceiros, porque um confia no outro, uma
contrato possibilita uma nova tendência de vez que são obrigados a agir conforme os
controle dos contratos inaugurada pelo atual ditames da boa-fé.
CC: o dirigismo judicial dos contratos. O que Imagine um casal de noivos que compra suas
significa isso? O contrato sempre sofreu alianças em uma joalheria, optando por um
controle externo, limitando a atuação dos modelo que é feito com ouro amarelo e ouro
contratantes. Até então, prevalecia o controle branco. Satisfeitos com a bela aliança, no dia
feito pela lei, razão pela qual esse controle é da festa do noivado, um casal de amigos
chamado de dirigismo legal dos contratos. informa que toda aliança com ouro branco fica
Pense, como exemplo, no contrato de locação, amarelada com o decorrer do tempo.
onde a lei do inquilinato limita a atuação do Revoltados, reclamam junto à joalheria,
locador. Hoje, com o CC vigente, prevalece o que diz nada poder fazer. Os noivos poderão
dirigismo judicial dos contratos, ou seja, não é pedir a resolução do contrato de compra e
a lei que controla o contrato, mas sim o juiz, na venda, devolvendo as alianças e recebendo
análise do caso concreto. seu dinheiro de volta, em função da quebra da
O que torna isso possível é a utilização das boa-fé do vendedor, que não informou um
chamadas cláusulas gerais ou conceitos relevante aspecto do contrato, que interferiria
jurídicos indeterminados, que tem como na escolha do modelo da aliança ou na própria
exemplo a função social dos contratos. São realização do negócio.
expressões vagas em seu conteúdo, exigindo O princípio que rege os contratos é o princípio
do aplicador do direito uma análise do caso da boa-fé objetiva, mas, em realidade, existem
concreto para suprir a vacância. A lei diz que o dois tipos: a objetiva ou a subjetiva. A
contrato deve atender a função social, ou seja, subjetiva, como o nome sinaliza, é a boa-fé
não pode ir contra o interesse social. interior, psicológica, ou seja, o que o
O que é atender ou ir contra o interesse social? contratante acredita ser correto. Já a objetiva
A lei não enumera casos, preferindo usar uma lhe é exterior, ou seja, é agir de forma correta,
expressão vaga, permitindo ao juiz dizer, segundo um padrão normal de conduta. A boa-
analisando o contrato, se ele atende ou não o fé que rege os contratos é a objetiva, pois é
interesse social. mais segura, uma vez que não depende do que
Em conclusão, não se pretende aniquilar o pensa o outro contratante, mas sim em verificar
princípio da autonomia da vontade ou o pacta se o contratante agiu seguindo um
sunt servanda, mas temperá-lo, tornando-os comportamento normal das pessoas.
mais vocacionados ao bem-estar comum, sem O que é um comportamento normal? Como
prejuízo do interesse econômico pretendido saber se o contratante agiu seguindo um
pelas partes contratantes. A padrão normal de conduta? É o juiz que dirá na
lei relativiza o princípio do análise do caso concreto. Com efeito, vimos

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que a tendência atual em matéria de controle


contratual é o chamado dirigismo judicial dos 4. PRELIMINARES
contratos, em substituição da antiga
prevalência do dirigismo legal. Cabe ao juiz O CC trata da teoria geral dos contratos a partir
controlar os contratos, o que lhe é permitido a do seu art. 421, iniciando com questões
partir do uso de cláusulas gerais ou de preliminares. De todos os princípios vistos,
conceitos jurídicos indeterminados, que são trata do princípio da função social dos
expressões vagas, reclamando suprimento da contratos e da boa-fé objetiva. A seguir, trata
vacância pelo aplicador do direito na análise do de três temas: contrato de adesão, contratos
caso concreto. atípicos e pacto sucessório, o que passamos a
É o caso não só da função social dos abordar.
contratos, mas também da boa-fé objetiva. A lei
obriga as partes a agirem de boa-fé, sem, no 4.1. Contratos de adesão
entanto, enumerar as condutas permitidas e
proibidas sob esse aspecto. Esse papel caberá Contrato de adesão é o contrato elaborado
ao juiz, que poderá intervir em um contrato, unilateralmente por uma das partes
podendo até resolvê-lo, mesmo tendo sido contratantes, opondo-se ao contrato paritário,
observados os requisitos formais de validade em que elas elaboram conjuntamente as
em uma livre negociação entre particulares. cláusulas do contrato. Não é um negócio
Atenção: Conforme o art. 422 do CC, a boa-fé jurídico unilateral, pois o aderente, embora não
deve nortear o comportamento dos tenha o poder de negociar as cláusulas do
contratantes não só no momento da conclusão contrato, tem que aceitar a proposta, não
do contrato, mas também durante a sua perdendo, portanto, sua natureza contratual de
execução. É o fundamento da chamada bilateralidade.
responsabilidade civil pós-contratual. Às vezes, O aderente é parte mais fraca nessa relação
um contrato produz efeitos após a sua contratual. Para garantir a isonomia material
celebração, devendo a boa-fé perdurar ou real, o CC lhe confere duas proteções:
enquanto durarem esses efeitos. a) Art. 423: quando houver no contrato de
Imagine que uma pessoa compre um carro adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias,
junto a uma concessionária. O carro quebra, deve ser adotada uma interpretação mais
mas não existe peça para reposição e o favorável ao aderente.
comprador não poderá mais utilizá-lo. Ele
poderá pedir a resolução do contrato alegando b) Art. 424: são nulas as cláusulas em um
quebra da boa-fé objetiva em razão de não ter contrato de adesão que estipulem a renúncia
informado fato que poderia ocorrer após a do aderente de um direito seu resultante da
execução do contrato. própria natureza do negócio. Exemplo: contrato
Importante: embora não mencionado de depósito é aquele em que o depositante
expressamente no art. 422 do CC, a boa- fé entrega temporariamente ao depositário a
deve nortear o comportamento dos guarda e conservação de um bem, que tem o
contratantes até mesmo antes da proposta. É o dever de devolver o bem tal como recebido.
fundamento da chamada responsabilidade civil Note que é um direito do depositário receber o
pré-contratual, que será analisada a seguir nas bem tal como entregou ao depositário. Sendo o
considerações sobre a formação dos contratos. estacionamento em estabelecimentos
Exemplo típico é a proibição da propaganda comerciais um contrato de depósito e de
enganosa. O contrato celebrado a partir de adesão, é nula a cláusula que diz não haver
uma propaganda enganosa poderá ser responsabilidade pelos objetos deixados no
resolvido a requerimento da parte prejudicada, interior do veículo.
pois a boa-fé já deve fazer-se presente mesmo
durante as negociações preliminares para uma 4.2. Contratos atípicos
futura contratação.
O CC, nos arts. 481/853, trata da
regulamentação das várias espécies de
contrato. Não há como a lei prever todo tipo de

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contrato, pois este resulta do acordo de ser válido é estar de acordo com a lei e,
vontade das partes, que são livres para portanto, apto a produzir seus regulares
negociar de acordo com suas necessidades. efeitos. O art. 107 do CC prevê que a validade
Ademais, as alterações da lei não conseguem dos contratos não exige forma especial, senão
acompanhar o surgimento de novos contratos quando a lei exigir, ou seja, o contrato se forma
em razão da dinâmica social. com o simples acordo de vontades, mas, em
Contratos típicos são aqueles previstos e alguns casos, sua validade reclama uma forma
regulamentados em lei, enquanto que os especial para produzir efeitos. Assim,
contratos atípicos não os são. São lícitos os destacando que em alguns casos deve haver
contratos atípicos em razão do princípio da uma forma especial do contrato, o que
autonomia da vontade. Que normas são tratamos aqui é do momento da sua formação,
aplicadas a eles, já que não há pois passando a existir no mundo jurídico,
regulamentação específica em lei? Nos termos obriga as partes ao seu cumprimento, sob pena
do seu art. 425, as normas gerais do CC, tanto de responsabilidade civil contratual, ou seja,
da sua parte geral quanto da teoria geral dos indenização de perdas e danos em razão da
contratos, ora em estudo. mora ou do inadimplemento (tema tratado em
obrigações, para onde remetemos sua leitura).
4.3. Pacto Sucessório O CC trata do tema formação dos contratos
nos arts. 427/435, mencionando a proposta e
Pacto sucessório é o contrato que tem por a aceitação. Todavia, a formação do contrato
objeto herança de pessoa viva, sendo também não é composta apenas por esses dois atos.
chamado de pacta corvina ou pacto de abutres. Normalmente existe uma fase prévia, de
Nos termos do art. 426 do CC, é um contrato negociações preliminares, chamada de fase de
proibido por lei, sendo inválido se praticado. A puntuação, que poderá culminar na formulação
questão é: será nulo ou anulável? A lei proíbe a de uma proposta, que, se aceita, formará o
prática sem dizer, no entanto, se nulo ou contrato. São as fases que passamos a
anulável, razão pela qual é considerado nulo estudar.
pela lei, conforme prevê o art. 166, VII, do CC.
Note não poder ser objeto de contrato herança 5.1. Fase de puntuação e a responsabilidade
de pessoa viva, ou seja, após morte do de pré-contratual
cujos, após a abertura da sucessão, os
herdeiros podem negociar seus quinhões Fase de puntuação é a fase de negociações
hereditários, mesmo antes da individualização preliminares que antecedem a proposta,
obtida ao fim do inventário com o formal de marcada por conversações prévias,
partilha, sendo considerado por lei um contrato ponderações, reflexões, sondagens, cálculos e
de bem imóvel (art. 80, II, do CC). estudos de viabilidade de negociação futura.
Pode resultar, inclusive, em uma minuta
5. FORMAÇÃO DOS CONTRATOS contratual se alguns pontos acordados forem
reduzidos a termo, ou seja, a escrito (difere da
O contrato se forma, em regra, quando a uma proposta, pois esta é completa, uma vez bastar
proposta se seguir uma aceitação, seja com o um sim para o contrato se formar).
acordo de vontades das partes. Como Sobrevindo uma proposta à fase de puntuação,
exceção, temos os contratos reais, em que esta vincula o proponente, pois, se a outra
este acordo não é suficiente para a formação parte a aceitar, o contrato estará formado e
do contrato, o que só ocorre com um ato ambos estarão obrigados em seus termos. A
posterior: a tradição, ou seja, a entrega do questão é: podemos falar em responsabilidade
bem. É o caso de três tipos contratuais: mútuo, civil nesta fase de negociações preliminares
comodato e depósito. pela não conclusão do contrato? Em regra não,
Não confunda a formação do contrato com a pois não há qualquer problema em se iniciarem
sua validade. O contrato se formar significa negociações e se perceber a inviabilidade ou
passar a existir no mundo jurídico, obrigando inconveniência da contratação.
as partes ao seu Todavia, em alguns casos, pode haver
cumprimento, enquanto que responsabilidade civil extracontratual ou

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aquiliana, pois não há ainda um contrato, celebrar um contrato definitivo no futuro, por
sendo chamada de responsabilidade civil pré- não ser possível a contratação agora ou por
contratual. não ser o melhor momento.
Quando isso ocorre? Quando, nas negociações
preliminares, uma das partes cria na outra a Exemplo: Um time de futebol quer contratar um
justa expectativa de contratação e, sem jogador. Não pode celebrar um contrato
qualquer justificativa, por mero capricho, não definitivo agora, pois ele tem contrato em vigor
formaliza a proposta. O fundamento é a quebra com outro clube. No entanto, poderão celebrar
da boa-fé objetiva na fase das negociações um pré-contrato, em que se obrigam a
preliminares. Há um abuso de direito, que é contratar ao término do contrato em vigor.
considerado pela lei ato ilícito a ensejar Caso o jogador negocie seu passe com outro
responsabilidade civil (art. 187 c/c art. 927, clube ou este não queira mais contratá-lo,
ambos do CC). Ora, ao criar a justa expectativa haverá descumprimento do contrato, devendo
de contratação, legitima a outra parte a contrair arcar com perdas e danos, que provavelmente
gastos e até a recusar outras propostas, virá pré-fixada em uma cláusula penal.
e não concluir o contrato sem qualquer Importante: O pré-contrato deve ter os mesmos
justificativa é causar o que chamamos de “dano elementos do contrato definitivo, à exceção de
de confiança”, em razão da quebra da boa fé um deles: a forma. As partes e o objeto são os
objetiva, que deve nortear o comportamento mesmos, mas a forma não precisa ser a
dos contratantes até mesmo antes da proposta. mesma. Se o contrato definitivo tem que ser
Como exemplo, cito um caso cobrado na prova por escritura pública, nada impede que o pré-
organizada pela FGV. Imagine que durante contrato seja por instrumento particular.
anos um fabricante de extrato de tomate Qual a importância do pré-contrato? Em
distribui gratuitamente sementes de tomate princípio, a responsabilidade civil na fase de
entre agricultores de uma região, procurando- negociações preliminares é extracontratual,
os na época da colheita para celebrar com eles pois ainda não há um contrato. No entanto, se
contrato de compra e venda de toda a celebrarem um pré-contrato, as partes
produção de tomate. No décimo ano distribuiu transformarão essa responsabilidade pré-
as sementes, mas não apareceu para compra contratual em contratual antes mesmo da
da safra. Procurada pelos agricultores, celebração do contrato definitivo, pois o pré-
recusou-se, sem qualquer justificativa, a contrato é um contrato. Qual a vantagem? A
celebrar o contrato. Nesse caso, há parte prejudicada não precisará provar a culpa
responsabilidade civil pré-contratual aquiliana do inadimplente no descumprimento do
do fabricante de extrato de tomate, tendo que contrato nem tampouco o dano, seja sua
indenizar os agricultores em razão dos própria existência, seja a sua extensão. Você
prejuízos que resultaram da não contratação, lembra o que vimos a respeito do tema?
como os custos da produção e eventual recusa Lembrando: tanto a responsabilidade civil
de venda para outros compradores. extracontratual (em regra) como a contratual
O fundamento da responsabilidade pré- são subjetivas, mas esta tem culpa presumida.
contratual é a violação do princípio da boa-fé Assim, se o caso é de responsabilidade
objetiva nessa fase de negociações contratual, basta ao contratante prejudicado
preliminares anterior à proposta, pois o provar o inadimplemento, sem precisar provar
fabricante criou nos agricultores a justa que o outro teve culpa no descumprimento do
expectativa de contratação e, sem qualquer contrato (este poderá elidir sua
justificativa, por mero capricho, não formalizou responsabilidade provando não ter tido culpa,
a proposta de compra e venda. pois a presunção de culpa é relativa, admitindo
prova em contrário, o que representa inversão
5.2. Pré-contrato ou contrato preliminar do ônus da prova). Por outro lado,
se é caso de responsabilidade civil
O pré-contrato, também chamado de contrato extracontratual subjetiva, a vítima do dano, ao
preliminar ou pacto de contrahendo, é um cobrar perdas e danos, deverá provar que o
contrato em que as partes agressor teve culpa em causá-lo. Assim sendo,
assumem a obrigação de a responsabilidade civil contratual é mais

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vantajosa para quem sofre o dano, pois não Na fase de policitação, não deixa de haver uma
precisará provar o difícil elemento subjetivo da negociação entre as partes, o que já acontece
culpa. Além disso, como há um contrato, na fase de puntuação. Ora, qual a diferença
podemos pré-fixar as perdas e danos em uma entre a fase de puntuação e a fase de
cláusula penal, dispensando a parte policitação na formação dos contratos? É a
prejudicada de provar não só o dano, mas, existência de uma proposta. A fase de
sobretudo, a sua extensão. puntuação é a fase de negociações
No supramencionado exemplo da compra dos preliminares, ou seja, anterior à proposta. Já a
tomates, o fabricante, por ser fase anterior à fase de policitação se dá após a proposta,
proposta, tem responsabilidade civil sucedendo-se sucessivas contrapropostas.
extracontratual, somente sendo A pergunta se mantém: como saber se uma
responsabilizado civilmente se os agricultores conversa entre as partes já configura uma
provarem a justa expectativa de contratação e proposta ou apenas negociações preliminares,
a recusa sem qualquer justificativa, mas que até pode resultar em uma minuta, se
também a sua culpa na não celebração do reduzido a termo? É a seriedade da proposta.
contrato. Significa que a proposta é pronta e acabada,
No entanto, se na fase de negociações abordando todos os elementos do contrato,
preliminares, as partes reduzirem as bases do pois basta um sim para a formação do contrato.
contrato a escrito em um pré-contrato, bastarão Se isso já existe, é fase de policitação; se
provar que o fabricante assinou um pré- ainda não existe, sendo conversados apenas
contrato e que houve inadimplemento, além de alguns pontos do contrato, a fase é de
sequer precisar provar o dano e a sua puntuação.
extensão, pois poderão executar direto a O aspecto mais importante da proposta é o seu
cláusula penal. aspecto vinculatório, ou seja, a proposta
O mesmo ocorre no exemplo da contratação do obriga o proponente. Se eu faço uma proposta,
jogador de futebol. Se o clube apenas crio na outra parte a justa expectativa de
conversa em negociações preliminares, contratação, que pode levá-la a contrair gastos
acertando as bases de um futuro contrato, e até a recusar outras propostas. Feita a
pode ser que, ao final do contrato em vigor, o proposta, o proponente a ela se obriga, ou
atleta quebre a confiança e resolva permanecer seja, se houver aceitação, não poderá alegar
no clube que está ou contratar com outro. Para desistência ou arrependimento, podendo o
responsabilizá-lo civilmente, deverá provar que aceitante pedir em juízo a execução forçada do
o atleta não contratou culposamente, mas, se contrato ou indenização por perdas e danos.
assinar um pré-contrato, bastará comprovar o Já é responsabilidade civil contratual, pois com
inadimplemento, sem sequer precisar provar o a aceitação o contrato se formou, passando a
dano e a sua extensão. existir no mundo jurídico. A proposta só obriga
o proponente e a aceitação passa a obrigar
5.3. A proposta ambas as partes.
A questão é: a proposta sempre obriga o
O contrato se forma quando a uma proposta se proponente? Não, pois nos termos do art. 427
seguir uma aceitação. É raro uma pessoa do CC a proposta não obriga o proponente em
fazer uma proposta e a outra simplesmente a três casos:
aceitar, pois é normal se sucederem
sucessivas contrapropostas até culminar em a) Se isso resultar dos termos da proposta: se
uma aceitação final. Essa fase de sucessivas no próprio corpo da proposta vier expressa a
contrapropostas a partir de uma proposta é não obrigatoriedade, não cria justa expectativa
chamada de fase de policitação ou fase de de contratação na outra parte.
oblação. b) A depender da natureza do negócio: há
Isso dá nome aos atores envolvidos: quem faz certos negócios jurídicos que, por sua
a proposta é chamado de proponente ou de natureza, não obrigam o proponente, como
policitante e quem a aceita é chamado de proposta de venda de produto com quantidade
aceitante ou de oblato. limitada em estoque, a partir do fim do estoque.

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c) A depender de determinadas circunstâncias: concordar, mas se quiser poderá aceitá-la. Por


existem certas circunstâncias que fazem com isso, dizemos que a aceitação fora do prazo ou
que a proposta deixe de ser obrigatória, com modificações tem natureza de nova
estando elas elencadas no art. 428 do CC - a proposta.
primeira delas para contrato entre presentes e O contrato se forma quando a uma proposta se
as três restantes para contrato entre ausentes, seguir uma aceitação. Se o contrato é entre
a saber: presentes, fácil será determinar o momento,
(i) se feita proposta sem prazo à pessoa pois proposta e aceitação se dão em tempo
presente e esta não foi imediatamente aceita; real. E se o contrato for entre ausentes, quando
(ii) se feita proposta sem prazo a pessoa se dá sua formação? Em regra, quando a
ausente e tiver decorrido tempo suficiente para aceitação é expedida, pois é quando o
chegar a resposta ao conhecimento do aceitante perde o controle de sua vontade.
proponente; Como exceção, o contrato entre ausentes se
(iii) se feita proposta com prazo à pessoa forma quando a resposta chegar ao
ausente e esta não expedir a resposta no proponente, se assim convencionado entre as
prazo; partes.
(iv) se feita uma proposta entre ausentes e
antes dela ou simultaneamente chegar ao 6. CONTRATOS QUE PRODUZEM EFEITOS
conhecimento da outra parte a sua retratação. A TERCEIROS
A proposta fixa o local de formação do contrato
(art. 435 do CC). A importância em saber o Em razão do princípio da relatividade de seus
local de sua formação é determinar qual lei efeitos, o contrato só atinge as partes, ou seja,
será aplicada ao contrato. só quem é parte pode ter direito e deveres que
dele decorrem. Todavia, há três contratos em
5.4. A aceitação que um terceiro é por ele atingido, pois terão
direitos e deveres decorrentes de um contrato
Se a proposta obriga apenas o proponente, a em que não celebraram originariamente:
aceitação vincula também o aceitante, pois ela 6.1. Estipulação em favor de terceiro: É o
faz o contrato se formar, passando a existir no contrato em que um dos contratantes estipula
mundo jurídico, estando ambas as partes um terceiro para quem o outro contratante
obrigadas ao seu cumprimento nos termos da deverá cumprir a prestação. É um terceiro ao
responsabilidade civil contratual. contrato tendo um direito dele decorrente.
Exemplo: contrato de compra e venda em que
A aceitação pode ser expressa ou tácita. o estipulante determina a entrega do bem para
Expressa é a aceitação inequívoca, podendo um beneficiário. Se a prestação não for
ser escrita, verbal ou até gestual (ex. leilão). cumprida, o estipulante poderá exigi-la em
Tácita é a aceitação presumida pela prática de juízo.
um ato incompatível com a não aceitação. O beneficiário também tem esse poder, desde
Exemplo: doação de vaso não aceita de forma que não haja essa restrição no contrato. Caso
expressa, mas o donatário manda buscá-lo na tenha sido retirado do beneficiário esse poder,
casa do doador e o coloca exposto em sua poderá o estipulante exonerar o devedor de
sala. É por isso que o art. 111 do CC prevê que cumprir a prestação. E a substituição do
o silêncio, embora não seja a regra, até pode beneficiário é possível? Sim, independente da
valer como aceitação, mas apenas quando as anuência dele e do outro contratante, se
circunstâncias indicarem que a pessoa aceitou reservar esta faculdade no contrato.
tacitamente e, evidente, a lei não exija
aceitação expressa. 6.2. Promessa de fato de terceiro: É o contrato
Conforme visto, a proposta obriga o em que um dos contratantes promete que um
proponente. No entanto, essa obrigatoriedade terceiro cumprirá a prestação para o outro
não é eterna, mas sim pelo prazo dado. Se contratante. É terceiro ao contrato com um
houver aceitação fora do prazo ou até mesmo dever dele decorrente. Exemplo: contrato por
com modificações, o meio do qual uma das partes promete que seu
proponente não é obrigado a irmão, um cantor famoso, concederá uma

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entrevista exclusiva a um programa de rádio. por defeito jurídico é responder pela evicção,
Se o terceiro não cumprir a prestação, o ou seja, quem alienou o bem não poderia tê-lo
promitente responde por perdas e danos, feito e o adquirente o perdeu para um terceiro,
mesmo que tenha feito todos os esforços para podendo buscar uma indenização do alienante.
o cumprimento da prestação. O promitente não
responderá, mas sim o terceiro, se este aceitar Procederemos aqui ao estudo em separado do
a prestação e depois não cumpri-la. Ademais, o vício redibitório e da evicção. No entanto, de
promitente não responde pelo descumprimento plano, merecem destaque três observações
da prestação do terceiro se, pendendo sua comuns a ambos os institutos, pois são
aceitação, forem casados e, a depender do questões muito recorrentes em prova e que
regime de bens do casamento, a cobrança merecem sua especial atenção:
sobre o promitente recair de alguma forma a) O alienante responde por eles mesmo que
sobre o terceiro. não haja previsão expressa em contrato, pois
são garantias implícitas, que decorrem de lei e
6.3. Contrato com pessoa a declarar: É o não da vontade das partes.
contrato em que um dos contratantes pode b) O alienante responde por eles apenas diante
indicar uma pessoa que irá assumir a sua de alienações onerosas. Atenção: a doação é
posição no contrato. É um terceiro ao contrato uma alienação gratuita, mas o alienante
tendo direitos e deveres que dele decorrem. responderá por eles quando a doação for com
Exemplo: uma pessoa quer comprar uma casa, encargo, o que a lei chama de doação onerosa.
cujo dono jamais lhe venderá por problemas c) O alienante responde por eles mesmo que a
pessoais, podendo se valer de uma pessoa aquisição do bem tenha se dado em hasta
para contratar com o proprietário, inserindo no pública, ou seja, através da venda pública de
contrato cláusula que lhe permite indicá-lo a bem penhorado em processo de execução.
assumir sua posição no contrato.
Essa indicação deve ser feita em cinco dias, se 7.1. Vícios Redibitórios
outro prazo não for estipulado, mas tem efeito
retroativo à data da celebração do contrato, Aqui a responsabilidade é diante da existência
pois o indicado assume os direitos e deveres de defeitos materiais, ou seja, o bem está
do contrato desde a sua celebração e não quebrado. Importante você não confundir a
apenas a partir da sua nomeação. Esse disciplina civil dos vícios redibitórios com a
contrato exige muita confiança entre quem disciplina consumerista. Sendo o CDC uma lei
indicará e quem será indicado, pois se não especial em relação ao CC, só aplicamos suas
houver nomeação ou se esta não for aceita regras quando inaplicáveis as regras do CDC.
pelo indicado, o contrato produz efeitos entre Quando, então, aplicamos as regras dos vícios
os contratantes originários. redibitórios previstas no CC? Quando não
houver relação de consumo, o que ocorre em
7. GARANTIAS IMPLÍCITAS IMPOSTAS AO dois casos: (i) quando o alienante não é
ALIENANTE fornecedor, como ocorre na venda ocasional de
um bem usado, pois ser fornecedor exige
Quando uma pessoa aliena um bem, deve habitualidade da negociação; e (ii) quando o
garantir ao adquirente, em nome da boa-fé adquirente não for consumidor, como ocorre no
objetiva, o seu normal uso e fruição, bem como caso de alguém adquirir um bem para
a garantia de que não o perderá para terceiros renegociação, pois o CDC afirma que só é
por razões de direito. Assim sendo, o alienante consumidor quem adquire um bem como
responde perante o adquirente do bem tanto destinatário final. Aqui nos concentraremos na
por defeitos materiais como por defeitos disciplina civil do tema, deixando as regras da
jurídicos. relação de consumo para um estudo específico
O alienante, responder por defeito material é do tema.
responder por vício redibitório, ou seja, o bem Por definição, vícios redibitórios são defeitos
apresenta um defeito físico que o torna inútil ao ocultos que tornam o bem impróprio para o
seu uso ou que lhe diminui o uso a que se destina ou que lhe diminuem o
valor. Por sua vez, responder valor. Note que na disciplina civil, diferente da

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relação de consumo, o alienante só responde quando da entrega efetiva do bem e não


por defeitos ocultos, ou seja, que não poderia quando da alienação, pois só com o seu uso é
ter sido facilmente detectado pelos órgãos dos que ele consegue perceber o defeito oculto. No
sentidos, pois se o vício era aparente, entanto, se o adquirente já tinha a posse do
presume-se que o adquirente o admitiu, pois bem, o prazo se iniciará quando da prática do
dele ciente. ato, pois é quando adquire legitimidade para
Note que o vício redibitório é um defeito reclamação em juízo, mas os prazos serão
material que pode tornar o bem impróprio para reduzidos à metade, por já ter tido contato com
o seu uso ou que pode apenas lhe diminuir o o bem. Além disso, se for um defeito oculto que
valor. Portanto, haverá vício redibitório tanto no por sua natureza seja de difícil percepção, o
defeito oculto em um motor de um carro que o prazo só se inicia quando o adquirente dele
faz não mais funcionar, como também no tiver ciência. Todavia, a lei confere um prazo
defeito oculto de uma máquina que produz máximo para ciência do defeito a se somar ao
determinado produto, diminuindo a sua prazo de reclamação: cento e oitenta dias para
produção, embora ela ainda funcione. Assim bem móvel e um ano para bem imóvel.
sendo, o adquirente pode reclamar do vício Por fim, não se esqueça que eventual prazo de
redibitório em juízo optando por uma de duas garantia convencional oferecida pelo alienante
ações judiciais: não substitui o prazo de garantia legal, mas sim
a) Ação Redibitória: ação judicial em que se a ele se soma, pois, se houver garantia
pede para redibir o contrato, ou seja, desfazer convencional, o prazo de garantia legal só se
o negócio jurídico. Trata-se de anulação e não inicia quando este for encerrado.
de declaração de nulidade, pois a lei impõe
prazo para reclamá-lo, sob pena de 7.2. Evicção
convalescimento.
b) Ação Quanti Minoris ou Ação Estimatória: Evicção é a perda ou desapossamento judicial,
ação judicial em que se pede abatimento do ou excepcionalmente administrativo, de um
preço, ou seja, o adquirente quer permanecer bem, em razão de um defeito jurídico anterior à
com o bem, mas quer devolução do valor da alienação. Quem alienou o bem não poderia tê-
desvalorização em razão do defeito oculto ou, lo feito, e o adquirente o perdeu, tendo ação de
se ainda não pagou, descontá-lo quando do indenização contra o alienante. O adquirente
pagamento. Nessa ação se apura o valor a ser que perde o bem é o evicto, e o terceiro que
abatido do preço, o que justifica o seu nomem dele o toma é o evictor.
iuris: “estimar” “quanto menos” vale o bem. Exemplo: estelionatário invade terreno e,
Detalhe importante para a prova: o alienante falsificando a escritura pública, vende-o. O
responde por vícios redibitórios estando ele de verdadeiro dono ajuíza ação reivindicatória
má-fé ou até mesmo de boa-fé, ou seja, reclamando seu terreno. Ao se constatar a
sabendo ou não do defeito oculto. A diferença falsidade da escritura pública, o comprador
é que apenas diante da má-fé será obrigado a perderá judicialmente o imóvel, o que
indenizar perdas e danos. Nos termos do art. chamamos de evicção, tendo apenas direito
443 do CC, se o alienante agiu de boa-fé, indenizatório contra o alienante.
apenas ressarcirá o adquirente dos gastos que
teve com o negócio em si, ou seja, devolução Note que a evicção pode se dar
do valor recebido e ressarcimento das excepcionalmente através de uma perda
despesas do contrato. Se o alienante procedeu administrativa do bem, pois, em alguns casos,
de má-fé, não só devolverá o valor recebido, a jurisprudência do STJ tem admitido a evicção
mas também indenizará o adquirente de todas independente de decisão judicial. Destaque
as perdas e danos decorrentes do vício para o caso em que há apreensão policial da
redibitório. coisa em razão de furto ou roubo anterior à
Qual o prazo que tem o adquirente para alienação, podendo o caso ser resolvido no
reclamar vício redibitório em juízo? Depende próprio âmbito da delegacia. Exemplo: ladrão
do bem adquirido: trinta dias para bem móvel e que vende carro roubado, sendo o evicto
um ano para bem imóvel. A parado em uma blitz e o carro levado à
princípio, o prazo se inicia delegacia e devolvido ao seu real dono.

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foram abonadas, ou seja, se não foram pagas


Informação importante para a sua prova: Nos pelo evictor. No entanto, completa o art. 454 do
termos do art. 448 do CC, as partes podem CC, se as benfeitorias foram feitas pelo
por cláusula expressa reforçar, diminuir ou até alienante e abonadas, ou seja, pagas ao evicto
excluir a responsabilidade do alienante pela pelo evictor, o valor será deduzido quando o
evicção. Cuidado, pois a exclusão só valerá se evicto cobrar a indenização do alienante.
o evicto foi informado do risco da evicção e o
tenha assumido (art. 449 do CC). Para cobrar o direito que da evicção lhe
resulta, o evicto poderá denunciar ao alienante
Ao perder o bem, o evicto poderá cobrar da lide, para, em caso de sentença decretando
indenização do alienante. A regra é o a perda do bem, já determine o juiz na
ressarcimento da integralidade do dano do sentença a indenização por ele devida ao
evicto, o que lhe permite cobrar do alienante evicto. Em havendo sucessivas vendas antes
não só a devolução do que pagou pelo bem, de o dono reclamar o bem, poderá o evicto
como também as perdas e danos em razão da cobrar indenização não só do alienante
evicção, os frutos que eventualmente tenha imediato, mas também qualquer dos anteriores
sido obrigado a restituir ao evictor e o que (art. 456 do CC).
gastou com custas judiciais e honorários
advocatícios (art. 450 do CC). Por fim, fechando o tema evicção, precisamos
Ainda dentro da regra da indenização da entender o que é evicção parcial, tema que é
integralidade do dano, o alienante responderá tratado no art. 455 do CC. Haverá evicção
perante o evicto por eventual valorização do parcial quando o evicto perder apenas parte do
bem entre a época da alienação e da evicção. que adquiriu na alienação, por exemplo,
Se o bem se desvalorizou, o evicto cobrará do quando compra cem cabeças de gado e perde
alienante o preço que lhe pagou, mas se vinte ou trinta delas pela evicção. Qual a
houver valorização, cobrará o valor do bem da consequência? Depende se a evicção é
época em que se evenceu, ou seja, da época considerável ou irrisória, pois uma coisa é
em que perdeu o bem pela evicção. perder uma ou duas cabeças de gado, outra é
Mais uma vez, ainda dentro da regra da perder noventa delas. Se a perda for
indenização da integralidade do dano, ainda considerável, o evicto pode pedir a rescisão do
que o bem esteja deteriorado, o evicto poderá contrato ou restituição da parte do preço
cobrar do alienante o valor total do bem, a correspondente ao desfalque sofrido, ou seja,
menos que tenha sido causado dolosamente devolver o que sobrou e cobrar devolução do
por ele, quando só poderá cobrar do alienante que pagou ou ficar com o que sobrou e cobrar
o valor que passou a valer o bem. Note que, se apenas o equivalente à sua perda. Se, no
a título de culpa em sentido estrito a entanto, a perda for irrisória, só poderá o evicto
deterioração, ainda assim o evicto cobrará do cobrar a indenização pela perda sofrida,
alienante o valor integral do bem. permanecendo com o que sobrou.

Conforme será visto no estudo da posse no 8. EXTINÇÃO DO CONTRATO


capítulo de direitos reais deste livro, para onde
remetemos a sua leitura, o possuidor que Extinção do contrato é o fim de sua existência,
realiza benfeitorias no bem e vem a perdê-lo, é a sua morte, é o seu desaparecimento do
tem direito de ser indenizado quando as mundo jurídico. Extinção é o gênero, que
benfeitorias forem necessárias e úteis. É o contempla várias espécies, pois é a expressão
caso que ocorre aqui, pois o evicto tem a posse mais ampla para o fim do contrato, seja pela
do bem e a perde para o evictor. causa que for.
Assim, se ele realizou benfeitorias necessárias
ou úteis no bem antes da perda, poderá Quando falamos em extinção do contrato, esta
reclamar indenização do evictor. O art. 453 do pode se dar, em princípio, por duas formas
CC diz que o evicto pode cobrar do alienante o diferentes: por causa anterior ou superveniente
que gastou com benfeitorias à formação do contrato.
necessárias e úteis, se não

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Se a causa de extinção do contrato é anterior Exemplo: mesmo contrato de aluguel de três


ou até concomitante à sua formação, temos anos, resolvido pelo locador em razão do
um caso de imperfeição do contrato, pois ele já inquilino não pagar o aluguel.
nasceu viciado. Nesse caso, o contrato é
inválido, podendo ele ser nulo ou anulável, a c) Rescisão: não há consenso na doutrina
depender do vício. Não é tema para aqui ser sobre o significado de rescisão do contrato.
visto, pois é assunto da parte geral do direito Muitos usam o termo rescisão como sinônimo
civil, para onde remetemos sua leitura. de extinção do contrato, até mesmo por causa
Se a causa de extinção do contrato é antecedente, sendo, inclusive, o sentido que
superveniente à sua formação, estamos caiu no gosto popular, que só fala em rescisão
tratando de um contrato perfeito, ou seja, que do contrato quando este chega ao fim. Autores
se formou de forma válida, não sendo caso de clássicos, como Orlando Gomes e Caio Mário,
nulidade nem de anulabilidade. O contrato no entanto, com base na doutrina italiana,
perfeito pode ser extinto de duas formas ensinam que rescisão em sentido técnico só
diferentes: por execução ou por inexecução do ocorre quando um contrato é extinto em caso
contrato. de lesão ou de estado de perigo.
Execução do contrato é quando ele é Modernamente, esse não é o entendimento,
cumprido, o que pode ocorrer pelo pagamento até porque são defeitos do negócio jurídico,
ou até pelas formas anormais de extinção das portanto, causas antecedentes ou
obrigações, quais sejam: pagamento em concomitantes à formação do contrato, caso de
consignação, pagamento com sub-rogação, invalidade e não de inexecução, quando
novação, imputação ao pagamento, dação em pressupomos um contrato perfeito. Outros
pagamento, compensação, confusão ou autores mencionam rescisão como uma
remissão. Também não é tema para aqui ser espécie de resolução do contrato, significando
tratado, pois é assunto de obrigações, para a resolução culposa ou voluntária, ou seja,
onde remetemos a sua leitura. quando o contrato é extinto por inadimplemento
culposo do outro contratante. O conselho é
O caso é de inexecução quando não há evitar o uso do termo rescisão, pois, como não
cumprimento de um contrato perfeito, que é o há consenso, é um risco desnecessário em
tema que aqui estudamos. Perceba a prova.
impropriedade do CC ao tratar do tema sob o
título “da extinção dos contratos”, quando, na 8.1. Resilição do contrato
verdade, deveria tê-lo intitulado de “inexecução
dos contratos” ou até mesmo “da extinção dos Conforme visto, resilição do contrato ocorre
contratos pela inexecução”. quando há extinção do contrato unicamente
A inexecução pode causar três tipos de em razão da vontade das partes. A resilição
extinção do contrato: resilição, resolução e pode ser unilateral ou bilateral, a depender se a
rescisão. Vamos definir cada um dos institutos, vontade é de apenas um dos contratantes ou
para em seguida aprofundar o estudo. de ambos. Não se discute aqui culpa da parte
a) Resilição: extinção do contrato por vontade fazendo surgir uma causa de extinção do
de um ou de ambos os contratantes, ou seja, é contrato, pois não há causa jurídica que motive
quando eu termino o contrato porque quero ou o seu fim, simplesmente não quero ou não
quando terminamos porque queremos, sem ter queremos mais.
qualquer razão jurídica para isso. Exemplo: a) Resilição unilateral: ocorre quando apenas
celebrei contrato de aluguel pelo prazo de três uma das partes não quer mais manter o
anos e decido resili-lo com dois anos por contrato, sem precisar externar qualquer razão
questão pessoal. para isso. O art. 473 do CC diz que se opera
mediante denúncia notificada à outra parte, ou
b) Resolução: extinção do contrato em razão seja, o contratante deve notificá-la
do inadimplemento da outra parte, ou seja, um formalmente. A resilição unilateral do contrato
dos contratantes não cumpre o contrato, pode se dar quando a lei permitir ou quando
legitimando a outra parte houver expressa previsão no contrato. Há
pedir sua resolução. casos em que a lei permite a resilição unilateral

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do contrato, razão pela qual não será devedor inadimplemento indenizáveis em perdas e
em perdas e danos à outra parte. Por danos quando com culpa do devedor, pois, se
exemplo: sem culpa, apenas haverá resolução do
o direito de revogação de contrato de mandato. contrato.
Pode a lei não permiti-la, mas a vontade das Cláusula resolutória é a cláusula que permite
partes sim, quando inserem no contrato ao contratante resolver o contrato diante do
cláusula permissiva, podendo ou não ser fixada inadimplemento da outra parte. O contrato
uma multa a ser paga ao outro contratante se pode trazer uma cláusula resolutória expressa,
esta ocorrer. Se não houver previsão legal nem mas esta também pode ser implícita aos
contratual, a parte não poderá unilateralmente contratos. Quando isso ocorre?
resilir o contrato, podendo ser o caso de Todo contrato bilateral tem implícita a cláusula
reclamação judicial para sua execução forçada. resolutória. A razão é que todo contrato
Exemplo: contrato de locação em que há bilateral é sinalagmático, o que significa que a
previsão apenas para o locatário o resilir, tendo prestação de uma das partes é causa da
o locador que esperar o fim do contrato pela prestação da outra parte. Como uma das
total execução. partes só cumpre a sua prestação porque a
b) Resilição bilateral: ocorre quando a extinção outra cumpre a sua, o descumprimento
do contrato se dá unicamente por vontade, mas autoriza a outra parte pedir a resolução do
de ambas as partes, sendo chamado de contrato, mesmo que não tenha nele cláusula
distrato. É um acordo das partes, pondo vim à permissiva expressa.
avença contratual, sem se externar qualquer Sendo contrato unilateral ou plurilateral,
causa para isso, razão pela qual, em princípio, necessária a cláusula resolutiva expressa no
nenhuma das partes deve qualquer contrato, para que uma das partes possa pedir
indenização ao outro contratante. a resolução em razão do inadimplemento ou
Importante sobre o tema é o art. 472 do CC, mora da outra parte.
que diz que o distrato deverá ser feito na Há vantagem da cláusula resolutória expressa
mesma forma exigida para ser feito o contrato. em relação à implícita, o que justifica sua
Como exemplo, se o contrato de compra e inserção inclusive no contrato bilateral. Vindo
venda de um imóvel de valor superior a trinta expressa no contrato, haverá extinção
salários mínimos deve ser por escritura pública, automática do contrato em caso de
o distrato assim também deve ser. inadimplemento, enquanto que, se implícita,
depende de interpelação judicial (art. 474 do
8.2. Resolução do contrato CC). Além disso, vindo expressa no contrato, já
se insere cláusula penal prefixando o valor da
Resolução do contrato é a sua extinção em indenização por perdas e danos.
razão do inadimplemento ou da mora da outra
parte. Aqui o contrato não termina apenas em 8.2.1. Exceção de contrato não cumprido
razão da vontade das partes, pois há uma (exceptio non adimplenti contractus)
causa que autoriza uma delas a pedir sua
extinção: o não cumprimento do contrato. Se uma das partes é inadimplente, legitima a
Esse descumprimento pode ser com culpa ou outra a pedir a resolução do contrato. Agora,
sem culpa do contratante inadimplente, o que imagine que antes disso o inadimplente ajuíze
faz com que existam dois tipos de resolução do uma ação cobrando o cumprimento da
contrato: com culpa (voluntária) ou sem culpa prestação da outra parte. O que ela poderá
(involuntária). A grande diferença é que no fazer? Sendo um contrato bilateral, poderá
caso de resolução culposa, o inadimplente será alegar a exceção de contrato não cumprido, ou
devedor de perdas e danos junto com a seja, que não cumprirá sua prestação em razão
resolução, o que não será devido quando a do autor da ação não ter cumprido a sua.
resolução não for culposa. Perceba que aqui A razão já foi exposta: como o contrato bilateral
falamos de mora e de inadimplemento, tema é sinalagmático, a prestação de uma das
que abordamos no estudo das obrigações partes é causa da prestação da outra parte,
neste livro, valendo lembrar razão pela qual quem não cumpre a sua
que só há mora e

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prestação não pode exigir o cumprimento da e imprevisível que desequilibra


prestação da outra parte (art. 476 do CC). economicamente o contrato, legitimando o
pedido de resolução do contrato pelo fato da lei
8.2.2. Resolução sem culpa ou involuntária não exigir mais o seu cumprimento.
8.2.3. Resolução com culpa ou voluntária (que,
A extinção do contrato se dá pelo para alguns autores, é a rescisão)
inadimplemento da outra parte, sem ela ter
tido culpa no descumprimento contratual. Aqui A extinção do contrato se dá pelo
não há indenização por perdas e danos, mas inadimplemento da outra parte, tendo ela culpa
apenas resolução do contrato, pois o no descumprimento do contrato. Exemplo:
contratante quer cumprir o contrato, mas não contrato de aluguel resolvido em razão do
consegue. Isso ocorre em dois casos: caso inquilino não ter pago o aluguel porque não
fortuito ou motivo de força maior e no caso de quis ou porque foi negligente.
aplicação da teoria da imprevisão ou da A diferença para a resolução não culposa é
onerosidade excessiva. que aqui o inadimplente, além de suportar a
a) Caso fortuito ou motivo de força maior: são resolução do contrato, deve pagar indenização
situações inevitáveis, insuperáveis, que por perdas e danos ao outro contratante
impedem o contratante de cumprir sua (embora isso possa ocorrer na resolução sem
prestação. Imagine contrato de compra e culpa, mas por exceção nos casos
venda de produto agrícola, que não pôde ser supramencionados).
entregue em razão de violenta tempestade que A resolução com culpa não pode ser bilateral,
destruiu toda a plantação. Não há culpa no apenas podendo ser unilateral. Se ambas as
inadimplemento, havendo simples resolução do partes tiverem culpa no inadimplemento, a
contrato, retornando as partes ao estado em culpa será daquele que primeiro tinha a
que se encontravam antes de sua celebração, obrigação de cumprir sua prestação. A razão
sem direito de indenização da parte disso é o princípio da exceção de contrato não
prejudicada. cumprido, pois, se houver prestações
Cuidado: há dois casos em que haverá simultâneas e um dos contratantes não cumpre
resolução sem culpa do contratante sua prestação, o outro está legitimado a não
inadimplente, por decorrer de caso fortuito ou cumprir a sua prestação.
motivo de força maior, mas que haverá dever
indenizar o outro contratante em perdas e 8.3. Efeitos no tempo da resolução e da
danos, o que já foi visto neste livro, em resilição dos contratos
obrigações, para onde remetemos sua leitura:
Havendo resolução do contrato, essa decisão
(i) quando houver previsão expressa no tem efeito retroativo ou não retroativo?
contrato impondo o dever de indenizar perdas Depende se o contrato for de execução
e danos pelo seu descumprimento, mesmo em instantânea, diferida ou continuada.
razão de caso fortuito ou motivo de força maior Se o contrato é de execução única, ou seja, de
(art. 393 do CC); e execução instantânea ou até diferida, a
(ii) quando a impossibilidade da prestação se decisão produz efeitos retroativos ou ex tunc,
dá por caso fortuito ou motivo de força maior desfazendo-se o que foi feito até então, pois
que ocorre durante a mora do contratante (art. resolver o contrato é fazer retornar ao estado
399 do CC). em que as partes se encontravam antes da sua
celebração. Assim, se estamos diante da
b) Teoria da imprevisão ou da onerosidade resolução de um contrato de compra e venda,
excessiva: o tema já foi visto neste livro, neste o comprador devolve o bem e o vendedor
capítulo dos contratos, quando do estudo do devolve o dinheiro recebido, buscando-se
princípio da obrigatoriedade mitigado pela eventual indenização diante da perda ou
cláusula rebus sic stantibus, para onde deterioração do bem ou até em razão de algum
remetemos a sua leitura. É resolução do melhoramento por que passou.
contrato sem culpa, pois Se, no entanto, o contrato for de execução
acontece fato superveniente prolongada no tempo, ou seja, de execução

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continuada, os efeitos serão não retroativos ou


ex nunc, mantendo-se os efeitos até então
produzidos. A razão disso é evitar um
enriquecimento sem causa de um dos
contratantes. Imagine um contrato de locação:
se a resolução tivesse efeito retroativo, faria
com que o locador devolvesse o valor recebido
durante o contrato, não tendo como o inquilino
devolver o tempo que usou o bem, o que lhe
geraria um enriquecimento sem causa por ter
alugado o imóvel por um tempo sem por isso
pagar.
O efeito retroativo (ex tunc) da resolução dos
contratos de execução instantânea ou diferida
e o efeito não retroativo (ex nunc) da resolução
dos contratos de execução continuada valem
tanto para a resolução com culpa quanto para
a resolução sem culpa. A única diferença entre
eles é que na resolução culposa o inadimplente
será devedor de indenização por perdas e
danos, o que não ocorre, em regra, na
resolução sem culpa.
Cuidado com um detalhe: no caso da resolução
sem culpa decorrente da aplicação da teoria
da imprevisão ou da onerosidade excessiva,
para cuja abordagem remetemos sua leitura,
seja contrato de execução continuada ou
diferida, o efeito será, por expressa previsão
legal, retroativa, mas até à data da citação do
processo em que o contratante pede a sua
resolução (a teoria não se aplica aos contratos
de execução instantânea).
E se o caso for de resilição do contrato, a
decisão tem efeito retroativo ou não retroativo?
Quando falamos em resilição, estamos falando
de contrato de execução continuada, pois na
resilição o contratante quer interromper o
cumprimento da sua prestação prolongada no
tempo. Por isso, a resilição do contrato tem
efeito não retroativo ou ex nunc, não se
desfazendo os efeitos produzidos até então,
mas apenas afastando a produção de efeitos
daí para frente, até porque não há qualquer
causa jurídica a gerar o seu término, apenas o
acordo de vontades em acabar com um
contrato que produziu efeitos normalmente até
então.

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