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Direito Civil
Cristiano Sobral
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OAB XV EXAME
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naturezas: dar coisa certa ou dar coisa incerta. aquisição da propriedade só se dá com a
Na obrigação de dar coisa certa, o devedor tem entrega do bem. Na obrigação de restituir, o
a prestação de entregar um bem específico. dono é o credor, pois ele sempre foi o dono,
Por exemplo, quando alguém vende o cavalo uma vez só ter emprestado para o devedor.
campeão de sua fazenda. Já a obrigação de Regra acessória 1: desde que, em vez
dar coisa incerta é aquela em que o devedor da perda, ocorra apenas a deterioração do
assume a obrigação de dar um gênero em bem, a solução é a mesma, no entanto com
certa quantidade - por exemplo, uma diferença: ele poderá optar entre a
quando alguém vende três cavalos de sua solução da perda supramencionada ou receber
fazenda. o bem deteriorado, abatendo-se o valor da
deterioração.
2.1.1. Obrigação de dar coisa certa Regra acessória 2: na hipótese de a
coisa perecer para o dono, ela também
É a obrigação de dar um bem específico, não melhora para o dono, quer dizer, se, em vez da
servindo outro de mesma espécie, como perda ou deterioração, houver uma melhora no
quando uma pessoa vende o cavalo campeão bem antes da entrega, quem dela se
de sua fazenda. Na verdade, há duas beneficiará será o dono.
categorias de obrigação de dar coisa certa: dar
e restituir. Vamos analisar, com base no macete
A razão é que quando disponho da obrigação apresentado, as regras dos artigos 234 a 242
de devolver um bem que recebi, não posso do Código Civil. Qual a consequência da perda,
impor a entrega de outro de mesma espécie. deterioração ou melhora do bem antes da
Portanto, tenho obrigação de dar coisa certa tradição, no caso da prestação de dar e no
tanto quando preciso entregar um cavalo que caso da prestação de restituir?
vendi quanto como sou obrigado a devolver um
cavalo que me foi emprestado. a) Prestação de dar, perda do bem, com culpa
O assunto vem previsto entre os artigos 233 e do devedor (art. 234): devedor de um carro por
242 da Lei Civil, onde uma única questão é tê-lo vendido ao credor, todavia antes da
tratada: perda ou deterioração do bem depois entrega o destrói porque provoca um acidente
que a obrigação de dar é assumida, mas antes com perda total do carro por dirigir embriagado.
da efetiva entrega. Como é obrigação de dar Será devedor no equivalente (devolve o valor
coisa certa, não sendo possível a entrega de recebido ou não o recebe) acrescido de perdas
outro bem equivalente, qual é a consequência? e danos.
Quem suporta o prejuízo? As possibilidades b) Prestação de dar, perda do bem, sem culpa
são muitas, pois pode ser com culpa ou sem do devedor (art. 234): devedor de um carro por
culpa do devedor, pode ser um dar ou um tê-lo vendido ao credor, entretanto antes da
restituir, pode ser perda ou deterioração ou até entrega o carro cai em uma ribanceira por ser
mesmo uma melhora no bem. levado pela correnteza da inundação
Para tomar ciência de todos os casos previstos provocada por violenta tempestade.
nos citados artigos, basta conhecer uma regra Consequência: resolve-se a obrigação, o que
básica, à qual são acrescentadas duas regras significa desfazer o negócio. Veja que o dono
acessórias lógicas: (devedor do carro) sofreu a perda, pois ficou
sem o carro e sem o dinheiro.
Regra básica: se o devedor teve culpa c) Prestação de dar, deterioração do bem, com
na perda do bem, a regra sempre será a culpa do devedor (art. 236): devedor de um
mesma: deverá pagar ao credor o equivalente carro por tê-lo vendido ao credor, contudo
acrescido de perdas e danos. Se o devedor antes da entrega o amassa ao bater por dirigir
não teve culpa na perda do bem, a regra será embriagado. O credor poderá escolher entre
sempre a mesma: res perit domino (a coisa receber o equivalente mais perdas e danos ou
perece para o dono), será dele o prejuízo. aceitar o bem no estado em que se acha
. E quem é o dono? Depende se a obrigação é acrescido de perdas e danos, incluindo o
de dar ou de restituir. Na obrigação de dar, abatimento do valor em razão da deterioração.
antes da entrega o dono é o devedor, pois a
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ganho financeiro ao cliente. O profissional não pode o devedor obrigar o credor a receber
contratado não assume obrigação de resultado, parte em uma prestação e parte em outra.
mas de meio – de bem gerir o investimento, na Atenção! O que ocorre sempre que uma
tentativa de obter o máximo de lucro. ou todas as prestações não puderem ser
c) Perda de prazo por advogado: o profissional cumpridas? A resposta irá variar se a escolha
responde pelos erros de fato e de direito que cabia ao devedor ou ao credor.
venha a cometer no desempenho de sua
função, no entanto, ao patrocinar a causa, a) Impossibilidade de uma das prestações: se a
obriga-se a conduzi-la com toda a diligência, escolha couber ao devedor, subsiste a
não se lhe impondo o dever de entregar um obrigação com a outra prestação (art. 253 do
resultado certo. Desta forma, o fato de o CC). Mesma solução, se a escolha couber ao
advogado perder o prazo para contestar ou credor e a impossibilidade se deu sem culpa do
interpor recurso não resulta na sua automática devedor. Todavia, se por culpa dele, o credor
responsabilização civil. poderá exigir a prestação subsistente ou o
valor em dinheiro da prestação impossibilitada,
2.3. Obrigação de não Fazer acrescido de perdas e danos (art. 255 do CC).
Exemplo: devedor de um carro ou uma moto
A obrigação de não fazer é uma obrigação a destrói a moto ao dirigir embriagado.
uma abstenção, por exemplo, não levantar um Consequência: se a escolha cabe ao devedor,
muro divisório. Se o devedor descumprir a obrigação simples de dar o carro;
obrigação, fazendo o que se obrigou a não se cabe ao credor, pode cobrar o carro ou o
fazer, deverá indenizar o credor em perdas e valor em dinheiro da moto mais perdas e
danos? Nem sempre, pois às vezes se tornou danos. Se a moto foi destruída acidentalmente,
impossível, sem culpa do devedor, abster-se mesmo cabendo a escolha ao credor,
do ato. Nesse caso, apenas se resolve a obrigação simples de dar o carro.
obrigação (volta ao estado anterior do
negócio), não tendo que indenizar perdas e b) Impossibilidade de ambas as prestações:
danos. caso a seleção incumbir ao devedor e este tiver
Exemplo: a pessoa se viu obrigada a levantar o culpa, ficará obrigado a pagar o valor da
muro para impedir que a água invadisse sua prestação que se impossibilitou por último,
casa. Se, porém, simplesmente decidiu fazer o acrescido de perdas e danos (art. 254 do CC).
que se obrigara a não fazer, será condenado a Se a escolha couber ao credor e o devedor
indenizar perdas e danos e, se o fizer, consistir culpado, poderá reclamar o valor de qualquer
em uma obra, poderá o credor pedir uma delas acrescido de perdas e danos (art.
judicialmente para desfazê-la. Se for urgente, 255 do CC, in fine). Entretanto, se ambas as
poderá mandar desfazer independente de prestações tornaram-se impossível sem culpa
autorização judicial, buscando em juízo o do devedor, independe de quem cabe a
ressarcimento. escolha: extinta estará a obrigação, ou melhor,
desfeito o negócio jurídico (art. 256 do CC).
2.4. Obrigações Alternativas
2.5. Obrigações divisíveis e Indivisíveis
A obrigação alternativa é aquela que
compreende duas ou mais prestações, porém Obrigação divisível é aquela em que pode ser
se extingue com a realização de apenas uma fracionado o objeto da prestação, o que não é
delas. Exemplo: obrigação de dar um carro ou possível na obrigação indivisível. Como
uma moto. A quem cabe a escolha de que exemplo, a obrigação de dar dinheiro é
prestação cumprir? Em regra ao devedor, pois obrigação divisível e a obrigação de dar um
a obrigação se extingue com ele cumprindo cavalo é obrigação indivisível.
uma ou outra prestação. No entanto, o contrato Só há importância em determinar a espécie de
pode prever que a escolha cabe ao credor. É o obrigação quando houver pluralidade de
que diz o artigo 252 do Diploma Civil, que devedores e/ou credores. Sendo obrigação
completa: divisível, não há problema, pois cada um exige
ou é exigido em sua parte (se não for
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bem por culpa do devedor. Consoante visto, se dividida em partes iguais). Contudo, se a
torna-se devedor no equivalente acrescido em dívida solidária interessar exclusivamente a um
perdas e danos, no que permanecerá havendo dos devedores solidários, responderá este por
a solidariedade. toda a dívida quando da ação regressiva aos
demais credores. O exemplo típico é o contrato
2.6.2. Solidariedade passiva de fiança. Quando há renúncia ao benefício de
ordem, devedor principal e fiador são
É a obrigação em que há mais de um devedor, devedores solidários.
cada um deles obrigados a toda a dívida. Se o fiador for cobrado, poderá cobrar em
Significa que o credor tem direito de exigir de regresso do devedor principal não só a metade
qualquer deles o valor total da dívida, porém da dívida, mas também sua totalidade, pois é
quem pagar se tornará credor dos demais uma dívida contraída no seu exclusivo
devedores nas suas respectivas partes interesse. Da mesma maneira, sendo caso de
(internamente não há solidariedade). Se o mais de um fiador e um deles sendo cobrado
credor optar cobrar apenas parcialmente de um pela dívida, só terá ação regressiva contra o
dos devedores solidários, os demais continuam devedor principal na totalidade da dívida, não
obrigados solidariamente pelo resto. tendo ação contra os demais cofiadores.
Se um dos devedores solidários falecer, a
solidariedade é transferida aos seus herdeiros? 3. TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES (arts.
Não, pois, como visto, a solidariedade é 286 a 303, CC)
personalíssima. Significa que os herdeiros só
podem ser cobrados na quota que corresponde Haverá transmissão da obrigação quando
ao seu quinhão hereditário. Mas há duas houver uma substituição subjetiva em seus
exceções: se a obrigação for indivisível (ex.: polos, ou seja, uma troca de devedor ou de
devedores solidários devem um cavalo) ou se credor. São duas as classes de transmissão
os herdeiros forem cobrados juntos através do das obrigações: cessão de crédito e assunção
espólio, pois o direito das sucessões preceitua de dívida. Na cessão de crédito há uma
que o espólio se sub-roga nos deveres do de substituição no polo ativo, isto é, há uma troca
cujos. de credores, pois o credor cede a um terceiro o
Atenção: A lei dá tratamento seu crédito.
diferenciado quanto à manutenção da Na assunção de dívida há uma substituição no
solidariedade no que se refere ao pagamento polo passivo, ou melhor, uma troca de
de perdas e danos e de juros que podem ser devedores, pois um terceiro assume a
irradiados da obrigação, pois nas perdas e obrigação do devedor.
danos não subsiste a solidariedade. No entanto
nos juros, sim. 3.1. Cessão de Crédito
Se devedores solidários têm obrigação de dar
um carro e, por culpa de um deles, este é A cessão de crédito se caracteriza pela
destruído, a obrigação se converte no substituição no polo ativo da obrigação,
pagamento do valor equivalente acrescido de havendo uma troca de credores em razão da
perdas e danos. No valor equivalente, todos alienação, gratuita ou onerosa, de um crédito a
continuam devedores solidários, todavia pelas um terceiro, que se tornará o novo credor da
perdas e danos só responde o culpado (art. obrigação. A lei permite a cessão do crédito
279 do CC). Entretanto, se um dos devedores quando a isso não se opuser a natureza da
solidários dá causa a acréscimo de juros ao obrigação, a lei ou o acordo das partes. Quem
valor devido, todos respondem solidariamente cede o crédito é chamado de cedente e quem o
pelo valor dos juros, pois o pagamento de juros recebe é chamado de cessionário.
é uma obrigação acessória e o acessório
segue a sorte do principal (art. 280 do CC). A cessão do crédito independe da
Atenção! Art. 285 do CC. Em conformidade concordância do devedor. A lei exige apenas a
com o que O devedor solidário que paga a notificação da cessão, para que ele não pague
dívida pode cobrar dos demais devedores a à pessoa errada. Caso o devedor não seja
parte que lhes cabe (se nada for dito, presume- notificado e pague de boa-fé ao antigo credor,
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uma forma alternativa, de uma forma diferente do devedor, é considerado uma mera ajuda,
do que o cumprimento da prestação. São as não tendo direito de reaver o que pagou.
formas anormais de extinção da obrigação: A quem se deve pagar? O pagamento deve ser
pagamento em consignação, pagamento com feito ao credor ou a quem de direito o
sub-rogação, imputação de pagamento, dação represente. Se o pagamento foi feito à pessoa
em pagamento, novação, compensação, errada, pagou-se mal e quem paga mal, paga
confusão e remissão. duas vezes, pois o verdadeiro credor poderá
cobrá-lo. Mas em dois casos o pagamento feito
4.1. Pagamento a um terceiro libera o devedor: se o credor
confirmar o pagamento ou tanto quanto provar
Pagamento é o meio normal de extinção da ter se revertido ao credor.
obrigação, ou melhor, o cumprimento da
prestação (dar, fazer ou não fazer). A presente Há um caso em que o pagamento é feito a um
Lei Civil inicia o tema abordando quem deve terceiro e o devedor está liberado, mesmo que
pagar (chamado de solvens) e a quem se deve o credor não confirme nem se prove a reversão
pagar (chamado de accipiens). em seu benefício. É o caso do pagamento feito
O Código Civil trata de quem deve pagar, no ao chamado credor putativo. Putativo vem de
entanto, na verdade, o que se estabelece são putare, que significa crer, acreditar. Haverá
regras sobre quem pode pagar. A obrigação credor putativo quando se paga de boa-fé a
pode ser paga por qualquer pessoa que tenha quem não é o credor, ou seja, se pagou à
algum tipo de interesse, quer dizer, pelo pessoa errada, no entanto havia motivos para
devedor ou por um terceiro. A lei, todavia, acreditar ser ele o credor. Um exemplo já foi
estabelece consequências diferentes para o visto quando da abordagem do tema cessão de
pagamento sendo feito pelo devedor, por crédito. Vimos que o devedor não precisa
terceiro interessado ou por terceiro não concordar,
interessado. Quando se fala em terceiro todavia deve ser notificado da cessão de
interessado ou não interessado, fala-se em crédito para saber que o credor mudou. Vimos
interesse jurídico, pois, se o terceiro paga, que se não for notificado e de boa-fé pagar ao
alguma espécie de interesse ele tem. cedente, ele está exonerado e a razão é
O terceiro será interessado quando puder ser simples: pagou a credor putativo.
cobrado pela dívida. Assim, um fiador que paga No que se refere ao objeto do pagamento, este
a dívida do afiançado é um terceiro será o cumprimento da prestação. O credor
interessado, entretanto o pai que paga a dívida não é obrigado a aceitar prestação diversa da
de um filho maior de idade, embora tenha um que lhe é devida, ainda que mais valiosa,
interesse sentimental, é considerado um afirma o artigo 313 da Norma Civilista. Ainda
terceiro não interessado. que a obrigação seja divisível, como dever
Se o devedor efetuar o pagamento, extinta dinheiro, não pode o credor ser obrigado a
estará a obrigação e ele estará exonerado. Se receber nem o devedor ser obrigado a pagar
um terceiro pagar, também estará extinta, por partes, se assim não se ajustou.
contudo ele poderá reaver o valor pago, Quem paga tem direito de receber uma prova
embora de forma diferente a depender de de que pagou. É o que chamamos de quitação.
quem pagou: se terceiro interessado, sub-roga- O instrumento da quitação é o recibo, que
se nos direitos do credor; se terceiro não sempre pode ser por instrumento particular. Se
interessado, apenas tem direito de reembolso, o credor se recusar a dar quitação, o devedor
não se sub-rogando nos direitos do credor. Em pode legitimamente reter o pagamento
ambos os casos, o terceiro cobra do devedor o enquanto não lhe for concedida.
que pagou por ele, porém diferem porque, ao
se sub-rogar nos direitos do credor, terá as Assim sendo, em regra, quem prova o
garantias especiais dadas a ele, o que não pagamento é o devedor, apresentando o recibo
ocorre no mero direito de reembolso. admitido como instrumento da quitação.
Atenção! Isso ocorrerá se o terceiro Entretanto em três casos haverá presunção de
pagar em seu nome, pois se pagar em nome pagamento, dispensando o devedor de mostrar
que pagou. Ocorre que é uma presunção
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Antes de a lei definir quais obrigações estão há sentido que os pagamentos sejam feitos
extintas (imputação legal), as partes têm o para extinção das obrigações. Compensam-se
direto de definir (imputação convencional). as dívidas e extintas estão as obrigações até
Assim, em primeiro lugar, quem define é o onde se compensarem.
devedor. No seu silêncio, o credor define em A compensação pode ser de dois tipos: legal
quais dá quitação. Se nenhum deles definir, a ou convencional, a depender se decorre da lei
lei definirá, estabelecendo a seguinte ordem: (i) ou da vontade das partes. A compensação
primeiro se pagam os juros vencidos e só legal se dará automaticamente, bastando
depois o capital; (ii) pagamento imputado às presentes os requisitos legais, quais sejam:
dívidas vencidas há mais tempo; (iii) se todas reciprocidade das obrigações (um deve ao
vencidas no mesmo tempo, a imputação será outro e vice versa), liquidez e vencimento das
na mais onerosa (maiores juros ou multas); prestações e envolverem bens fungíveis entre
(iv) se todas no mesmo tempo e mesmos ônus, si (não basta serem bens fungíveis, devem ser
a lei não dá solução, todavia a jurisprudência substituíveis entre si, ou melhor, homogêneos,
diz ser de forma proporcional em cada uma das por exemplo, dinheiro por dinheiro ou saca de
obrigações. café por saca de café, não podendo ser
dinheiro por saca de café).
4.6. Dação em Pagamento Mesmo ausentes tais requisitos, ainda sim
poderá haver compensação, contudo será
Dação em pagamento é a forma de extinção da convencional, por depender da vontade das
obrigação através da qual o credor aceita partes. Nada impede, portanto, haver
receber prestação diversa da que lhe é devida. compensação de uma dívida vencida com
De acordo com o que foi visto, nos termos do outra a termo, com bens infungíveis ou de
artigo 313 da Norma Civilista, o credor não é natureza diferente (dinheiro por saca de café),
obrigado a aceitar prestação diversa da porém será compensação convencional, onde
contratada, ainda que mais valiosa. Porém, o que importa é a vontade das partes.
nada impede que o credor aceite prestação A reciprocidade é um requisito para a
diversa, caso em que haverá extinção da compensação legal, quer dizer, devedor deve
obrigação de uma forma anormal, que não pelo ao credor e vice-versa, mas há uma exceção:
pagamento, chamada de dação em quando envolver o fiador. O devedor somente
pagamento. compensa sua dívida para o credor com a
dívida do credor contra ele, no entanto o fiador
Segundo será visto em contratos neste livro, pode compensar sua dívida para o credor (é
evicção é a perda judicial ou até administrativa dele devedor porque é fiador) com a dívida que
de um bem em razão de vício jurídico anterior à o credor tem com o afiançado, ou seja, não
alienação. Quem vende não poderia ter com ele, pois o fiador não é devedor em causa
vendido e quem compra perde para um própria, todavia mero garantidor de uma dívida
terceiro, buscando do alienante uma do afiançado (art. 371 do CC).
indenização. Se o devedor dá coisa diversa em
pagamento e o credor a perde pela evicção, 4.8. Confusão e Remissão
restabelece-se a obrigação primitiva, ficando
sem efeito a quitação dada, ressalvados os Confusão é a forma de extinção das
direitos de terceiro (art. 359 do CC). obrigações por reunirem na mesma pessoa a
qualidade de credor e devedor. Idealize um pai
4.7. Compensação que deve uma quantia em dinheiro a seu filho,
que é seu único herdeiro. Com a morte do pai,
Compensação é a forma de extinção das o filho assume o débito, entretanto ele próprio é
obrigações entre duas pessoas que são, ao o credor, gerando extinção da obrigação pela
mesmo tempo, credora e devedora uma da confusão. A confusão pode se verificar a
outra. O meio normal de extinção da obrigação respeito de toda a dívida (total) ou só de parte
é o pagamento, isto é, o cumprimento da dela (parcial). No exemplo citado, se são dois
prestação. Entretanto, quando duas pessoas filhos, tendo o credor um irmão,
são devedoras e credoras uma da outra, não
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marcada lhe ser bastante anterior, o caso é de ato do credor, propondo ação judicial (citação
mora; se já houve a cerimônia, em razão da válida constitui o devedor em mora). No
data marcada ter sido na véspera do entanto, tal entendimento é equivocado, pois a
casamento, o caso é de inadimplemento, caso lei diz que essa mora é automática,
em que o credor poderá rejeitar a coisa e pedir independendo de qualquer ato do credor.
perdas e danos, pois ao se tornar inútil a ela, a O artigo neste momento em análise diz que,
mora se transformou em inadimplemento nas obrigações provenientes de ato ilícito, se
absoluto. considera o devedor em mora desde que o
praticou (a responsabilidade de reparar o dano
Completa a ideia de mora o artigo 396 da Lei fixada na sentença judicial retroage à data do
Civil, que preceitua não incorrer em mora o ato para aplicar os efeitos da mora).
devedor quando não haja fato ou omissão
imposta a ele. Significa que a mora é o não Os artigos 399 e 400 do Diploma Civil trazem
cumprimento culposo da obrigação. Se não há dois efeitos da mora, um para mora do devedor
culpa, não há mora. Se uma conta do devedor e outro para a mora do credor:
só pode ser paga no banco e o vencimento cai
em um domingo, ao se pagar no dia seguinte, a) Efeito da mora do devedor (art. 399 do CC):
não há de se falar em mora, tanto que se paga o devedor em mora responde pela
sem encargos moratórios. impossibilidade da prestação, ainda que esta
O artigo 397 do Código Civil nos faz perceber se dê por caso fortuito ou força maior. Se a
haver duas naturezas de mora: ex re e ex prestação do devedor se torna impossível sem
persona. A mora ex re é automática, isto é, é culpa do devedor, simplesmente se resolve a
aquela que independe de ato do credor para o obrigação sem qualquer ônus a lhe ser
devedor ser constituído em mora (interpelação imposto.
judicial ou extrajudicial, notificação, protesto ou No entanto, se a impossibilidade ocorrer
citação do devedor). Por sua vez, a mora ex durante seu atraso, o devedor ficará obrigado a
persona é aquela que precisa de um dos indenizar o credor pela impossibilidade da
citados atos do credor para o devedor ser prestação, mesmo que esta tenha se dado por
constituído em mora. Quando a mora é ex re e caso fortuito ou por força maior. Apenas em
quando é ex persona? dois casos, estará desobrigado de indenização:
Há duas classes de obrigações: com dia certo quando provar isenção de culpa no seu atraso
de vencimento e sem dia certo de vencimento. (evidente, pois nesse caso não há mora, pois a
Quando a obrigação tem um dia certo de mora é o não cumprimento culposo da
vencimento, o devedor não precisa ser obrigação) e se provar que o dano ocorreria
constituído em mora por ato do credor, pois o mesmo se a prestação tivesse sido cumprida
simples não pagamento no vencimento o no tempo, lugar ou forma devida, quer dizer,
constitui em mora (dies interpellat pro homine, mesmo se não houvesse mora.
ou melhor, o próprio dia interpela o devedor). b) Efeito da mora do credor (art. 400 do CC): a
Por outro lado, quando a obrigação não tem dia mora do credor, ou seja, se o credor se recusar
certo de vencimento, o devedor só estará em injustificadamente a receber o pagamento, gera
mora se for constituído por ato do credor. três efeitos: (i) retira do devedor isento de dolo
Assim, quando a obrigação é com dia certo de a responsabilidade pela conservação da coisa
vencimento, a mora é ex re e quando a (só indeniza perda ou deterioração do bem se
obrigação é sem dia certo de vencimento, a teve dolo, não respondendo se teve culpa
mora é ex persona. stricto sensu, isto é, imprudência, negligência
ou imperícia); (ii) obriga o credor a ressarcir o
O artigo 398 da Norma Civilista demonstra que devedor das despesas que teve para conservar
a mora é ex re quando a obrigação não o bem;
cumprida decorre de ato ilícito. Com efeito, ato e (iii) sujeita o credor a receber o bem pela
ilícito civil é causar dano a alguém, gerando ao estimação mais favorável ao devedor se o seu
causador o dever de indenizá-lo. Poderíamos valor oscilar entre o dia estabelecido para o
pensar ser caso de mora ex persona, pois o pagamento e o da sua efetivação.
devedor deve ser constituído em mora por um
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prevendo que sequer é necessário comprovar b) Se a prestação tiver sido cumprida em parte:
que houve dano, se este foi prefixado no a função da cláusula penal compensatória é
contrato. compensar o contratante pelo fato do outro não
Uma questão pode ser levantada: se o prejuízo ter cumprido a prestação. Assim, se este
do contratante for maior do que o valor da cumpre parte da prestação, a compensação
multa, poderá ele cobrar a diferença? A deve ser apenas da parte não cumprida.
princípio não, pois o parágrafo único do artigo Exemplo: se o contrato de locação diz que o
416 da Legislação Civilista diz que só poderá locatário deve pagar multa de três meses de
cobrar eventual valor a mais, se esta aluguel se devolver as chaves antes do fim do
possibilidade estiver expressa no contrato. Se contrato, caso ele devolva tendo cumprido
assim for, metade do contrato, não deverá arcar com toda
o valor da multa já é objeto de execução e o a multa, contudo apenas metade dela.
valor a mais deverá ser provado em ação de
conhecimento para seguir a execução por título 5.5. Arras
executivo judicial. Se não houver permissivo
contratual, limita-se a executar a multa. Arras significam sinal, ou seja, é aquilo que é
Há importante diferença na cobrança da entregue por um dos contratantes ao outro
cláusula penal a depender se compensatória como princípio de pagamento quando da
ou se moratória (arts. 410 e 411 do CC): no celebração do contrato para confirmação do
inadimplemento, o credor cobra cláusula penal acordo. A vantagem do adiantamento de um
compensatória ou o cumprimento da prestação, sinal é validar o negócio, pois se houver
enquanto na mora, desistência, aquele que desistiu perderá o valor
o credor cobra cumprimento da prestação e das arras para compensar os prejuízos. Se
cláusula penal moratória. quem deu o sinal renunciar, não poderá cobrá-
No caso da cláusula penal lo de volta; se quem o recebeu desistir,
compensatória, havendo inadimplemento, esta devolverá o valor em dobro (como recebeu
se converterá em alternativa a benefício do arras, a perda efetiva será no valor das arras).
credor, quer dizer, este poderá escolher entre São duas as naturezas de arras: confirmatória
cobrar do contratante inadimplente a multa ou e penitenciais. A diferença decorre se no
o cumprimento da prestação. No exemplo do contrato existe ou não cláusula de
cantor contratado para cantar no casamento, arrependimento.
diante do não comparecimento à cerimônia,
o contratante poderá cobrar a multa ou pedir a) Confirmatórias: quando não houver previsão
para cantar depois, por exemplo, no aniversário no contrato de direito de arrependimento. É o
dele que será na semana seguinte. Sendo normal, pois as partes celebram um contrato
cláusula penal moratória, sobrevindo mora, o não esperando que a outra parte desista.
credor pode exigir o cumprimento da prestação Assim, estipulam um valor de sinal a ser pago
acrescido da multa, pois, se não pagou a dívida imediatamente para confirmar o negócio. Se
no dia, o credor a cobrará acrescido da multa quem deu arras desistir, perderá o sinal dado,
com os demais encargos moratórios. porém se quem desistir foi quem recebeu o
Para fechar o tema, é preciso saber que o juiz sinal, devolverá o dobro do valor.
pode reduzir o valor da cláusula penal b) Penitenciais: se existir previsão no contrato
compensatória em dois casos previsto no artigo de direito de arrependimento. Qualquer das
413 da Lei Civil: partes terá direito de se arrepender, mas tem
um preço para isso, ou seja, o valor das arras.
a) Se o valor é manifestamente excessivo: O Se quem desiste deu arras, perderá o sinal
artigo 412 do C estipula um valor máximo da dado, no entanto se quem desistir foi quem
cláusula penal compensatória ao afirmar que recebeu o sinal, devolverá o dobro do valor.
ela não pode exceder o valor da obrigação Ora, tanto nas arras confirmatórias como
principal. Entretanto, mesmo dentro desse penitenciais, a consequência é a mesma: se
limite, o juiz poderá reduzi-la a pedido da parte quem desiste deu arras, perderá o sinal dado,
se manifestamente excessivo segundo as todavia se quem desiste foi quem recebeu o
circunstâncias do caso.
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sinal, devolverá o dobro do valor. Então, d) cabe a João promover a escolha, se outra
pergunto: para que diferenciar uma da outra? coisa não se estipulou, restando irrevogável
quando a individuação do objeto chega ao
Para o caso do prejuízo com a desistência ser conhecimento de Maria, salvo se no contrato
maior que o valor fixado a título de arras. Se celebrado exista cláusula de arrependimento.
forem arras confirmatórias, não há previsão de
direito de arrependimento e posso cobrar o 2- (UEG - 2013 - PC-GO - Delegado de
prejuízo que a desistência me acarretar. Como Polícia) Questão 85 No que concerne ao
já me beneficiei do valor das arras, cobro estudo do adimplemento, são várias as
apenas o prejuízo que tive a mais. Entretanto, situações de extinção das obrigações que
se forem arras penitenciais, há no contrato não são precedidas pelo pagamento
previsão de direito de arrependimento, sendo ordinário. Diante do exposto, tem-se que:
fixado um preço para isso, isto é, o valor de
arras, não podendo o prejudicado cobrar a) no caso de o devedor ser simultaneamente
eventual valor a mais que tenha tido de devedor e credor, aplicar-se-á a modalidade de
prejuízo com a desistência do outro extinção das prestações por novação tanto
contratante. objetiva como subjetiva, de acordo com a
vontade e eticidade das partes envolvidas.
Diferença: nas arras confirmatórias (quando b) no caso da consignação em pagamento de
não há direito de arrependimento), o dívida em dinheiro, é facultativo ao solvens
contratante pode cobrar indenização respeitar os requisitos objetivos e subjetivos
suplementar, enquanto não poderá fazê-lo nas previamente ajustados para o pagamento,
arras penitenciais (quando há direito de sendo bastante o depósito efetivo para elidir
arrependimento), pois se fixou um preço para sua mora.
isso. c) sub-rogação do pagamento é prevista no
ordenamento jurídico civil nos casos de o
Vamos treinar? devedor possuir duas ou mais obrigações para
com um mesmo credor, e posteriormente paga
1- (UEG - 2013 - PC-GO - Delegado de uma quantia insuficiente para liquidação da
Polícia) Questão 84 João e Maria firmaram dívida.
contrato de compra e venda, nos moldes do d) considera-se pagamento a consignação que
Código Civil. Ficou estipulado, em uma das pode ser conceituada como o meio judicial ou
cláusulas do referido contrato, que João extrajudicial adotado pelo devedor ou terceiro
pagará a dívida perante Maria, mediante a para libertar-se da obrigação depositando o
entrega de R$ 400.000,00 ou um valor devido nos casos e formas legais.
apartamento devidamente cientificado
nesse valor. Assim, tem-se que: 3- (UEG - 2013 - PC-GO - Delegado de
Polícia) Questão 86 Obrigações não
a) se todas as prestações estipuladas em executadas geram inadimplemento, ou seja,
contrato vierem a se tornar impossíveis, a falta da prestação devida ocasiona uma
mesmo com culpa do devedor, extinguir-se-á a crise na relação obrigacional, sendo
obrigação. necessária a intervenção do ordenamento
b) a categoria das obrigações plurais ou jurídico, que neste sentido, dispõe o
compostas é formada pelas obrigações seguinte:
cumulativas, facultativas e alternativas, no caso
do exemplo acima, tem-se um exemplo típico a) o Código Civil, acerca do estudo da
da modalidade das obrigações facultativas. responsabilidade civil por danos morais,
c) de acordo com o exemplo acima, sendo este obedece à matéria consoante aos estudos do
uma obrigação alternativa, de acordo com o direito da personalidade no campo do direito da
ordenamento civil atual, em se tratando da dignidade humana, segundo disposto no artigo
escolha do objeto, esta cabe ao credor, Maria, 1º, inciso III da CF, sem acrescentar diferenças
ou ao sujeito ativo da prestação, se outra coisa em relação à culpa ou não do agente
não se estipulou. inadimplente.
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Gabarito:
1- D
2- D
3- C
4- A
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