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NICOLAU SEVCENKO

A cidade
metástasis e
o urbanismo
inflacionário:
incursões
na entropia
paulista
NICOLAU SEVCENKO
é professor de História da
Cultura do Departamento de
História da FFLCH-USP.
Q
“Eu durmo e vivo ao sol como cigano,
Fumando meu cigarro vaporoso;
Nas noites de verão namoro estrelas
Sou pobre, sou mendigo e sou ditoso!

Ando roto, sem bolso nem dinheiro


Mas tenho na viola uma riqueza:
Canto à lua de noite serenatas,
E quem vive de amor não tem pobreza. […]

Tenho por meu palácio as longas ruas;


ual a rua Passeio a gosto e durmo sem temores […]
mais representativa de O degrau das igrejas é meu trono,
São Paulo? A resposta a
essa pergunta depende,
Minha pátria é o vento que respiro […]
obviamente, do mo-
mento que se considere Escrevo na parede as minhas rimas,
e da perspectiva que se
assuma. No início do sé-
De painéis a carvão adorno a rua […]
culo XX, quando foi Sinto-me um coração de lazzaroni;
inaugurado o moderno Sou filho do calor, odeio o frio […]”
urbanismo da capital,
provavelmente se toma- (Álvares de Azevedo, Lira dos Vinte Anos,
ria a Rua Direita ou,
São Paulo, 1853).
mais amplamente, o
conjunto integrado do
Este texto foi originalmente apre- Triângulo Central – Di-
sentado no 2o Curso de História de reita, 15 de Novembro e São Bento –, como se vê, não faltam candidatas competindo
São Paulo, organizado pelo Cen-
tro de Integração Empresa-Escola o núcleo articulador da vida da cidade em pela honra de responder à pergunta acima.
(CIEE), sob a coordenação da pro-
fessora Ana Maria de Almeida
processo rápido de remodelação. Com o Se me fosse dado responder àquela ques-
Camargo, sob o título ligeiramente desdobramento da área urbanizada para o tão, no entanto, diria que a rua mais emble-
diferente de “A Cidade Vertigem e
o Urbanismo Inflacionário: Incur- lado oposto do Vale do Anhangabaú e o mática da cidade é a Rua São Paulo. Claro,
sões na Entropia Paulista”. rápido crescimento do que passou então a muitíssimo pouca gente sabe, soube ou ja-
Apresentei este texto no CIEE na ser chamado de Cidade Nova, vieram a mais saberá onde fica a Rua São Paulo. Ela,
quinta-feira, dia 19 de agosto de
2004. No dia seguinte, ao abrir o assumir destaque predominante a Rua São portanto, e com mais justiça, talvez deves-
jornal da manhã, as manchetes
anunciavam o espancamento bru-
João e a Rua Ipiranga. O deslocamento do se figurar no rol das vias mais obscuras,
tal de 11 moradores de rua na eixo de investimentos para o espigão cen- desconhecidas e irrelevantes desta metró-
região da Glória e da Sé. No
domingo, dia 22, mais seis mora- tral, a sudoeste, projetaria a primeira e mais pole de mais de 100 mil ruas. Em que sen-
dores de rua foram cruelmente ata- moderna das grandes avenidas, a Paulista, tido então ela pode ser emblemática? Essa
cados, dentre os quais uma mulher
morreu. Das vítimas só se sabe, até tornada desde os seus primórdios até hoje é a questão na qual pretendo me concentrar
o momento em que redijo esta nota,
os nomes de Ivanildo Amaro da no principal cartão-postal da cidade. A neste ensaio de reflexão sobre a urbaniza-
Silva, Cosme Rodrigues Machado contínua migração da fronteira de investi- ção paulista.
e a mulher identificada apenas
como Maria. A eles, aos outros mentos imobiliários na direção sudoeste Quando se elege alguma via em parti-
quatro mortos anônimos e às de-
mais vítimas dessa horrenda desu-
geraria, porém, uma rápida sucessão de cular como a mais representativa de uma
manidade dedico este artigo, para novas vedetes urbanas, a Faria Lima, a cidade, o que se leva em consideração, em
que a lembrança da sua dor e da
liminaridade da sua existência ilu- Berrini, a Águas Espraiadas e, mais re- geral, é seu potencial de polarização de
mine mais uma dimensão da me- centemente, o complexo Avenida das recursos, centralidade orgânica, articula-
mória pesarosa do Distrito da Gló-
ria e da Liberdade. Nações Unidas-Nova Faria Lima. Como ção de fluxos, referência espacial, simbo-

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lização e visibilidade. Ou seja, o que define A resposta é que aquele era o espaço
o seu papel e identidade é a sua condição ao maldito da cidade. A presença sinistra que
mesmo tempo de núcleo da cidade-centrí- galvanizava o Distrito da Glória por muito
fuga, vitrine da cidade-mercadoria, de pas- tempo foi a de um monte saliente, como
sarela da cidade-desfile, de palco da cida- uma gigantesca verruga geológica em meio
de-espetáculo e de pódio da cidade-poder. à crista elevada do Caminho do Carro de
Evidentemente a Rua São Paulo não se Santo Amaro, conhecido pelo nome som-
enquadra em nenhuma dessas categorias, brio de Morro da Forca. O patíbulo fora ali
muito pelo contrário. Mas, então, talvez estabelecido, desde 1775, por ordem ex-
coubesse perguntar se essa é a única ma- pressa do vice-rei, o Marquês de Lavradio.
neira pela qual se pode definir a fisionomia Aquele espaço estava portanto longe de ser
e a substância de uma cidade. Ou será que invisível. Ele fora deliberadamente esco-
também se pode tentar compreendê-la por lhido por ser visível de praticamente todos
aquilo que ela oculta, pelo que relega, pelo os quadrantes da cidade, expondo assim
que escamoteia? Há desvãos, espaços e cruamente a todas as gentes a força da jus-
presenças que são como que resíduos var- tiça implacável de Sua Majestade Imperial
ridos para debaixo do tapete vistoso da pairando sobre todos os seus súditos e
paisagem urbana. São seus pontos-cegos, supliciando exemplarmente os réprobos, re-
justamente porque revelam seu avesso ou calcitrantes e insubordinados, mas sobre-
suas vísceras. Eles são o contraponto da tudo intimidando os escravos rebeldes.
identidade pretendida, são a sua mais com- Mesmo porque, a poucos metros dali, na
pleta negação, mas por isso mesmo tam- conexão do Caminho de Santo Amaro com
bém são a revelação daquilo que ela mais o Largo de São Gonçalo (atual Praça João
teme revelar: não a máscara exuberante, Mendes), ficava o Largo do Pelourinho
mas o rosto nu por trás da fantasia. (atual Largo Sete de Setembro), ao lado da
Cadeia, símbolo do poder municipal, onde
• • • os escravos eram açoitados aos olhos do
público.
A Rua São Paulo, originalmente cha- No espaço circunjacente a oeste do
mada de Rua dos Ingleses, não fica em ne- Morro da Forca se estendia o Cemitério
nhum ponto remoto da capital. Bem ao Geral ou Cemitério dos Aflitos, o primeiro
contrário, ela está ligada ao coração do co- cemitério público da cidade (1779), desti-
ração da cidade, no contexto da colina his- nado ao enterro dos condenados, dos indi-
tórica em que foi fundada. Fica a uns 500 gentes e dos soldados. As sepulturas rústi-
metros do marco central da cidade, na Pra- cas levavam apenas uma cruz de pau, sem
ça da Sé e, portanto, a uns 700 metros do nomes, datas, bênçãos ou encomendações.
seu marco de fundação, no Pátio do Colé- Era o cemitério dos anônimos, dos despre-
gio. Ela fica no então chamado Distrito do zíveis e dos indignos. Naturalmente era
Sul da Sé, depois denominado de Distrito também o cemitério dos escravos. Como,
da Glória e hoje conhecido como Bairro da dentre os africanos – fossem eles bantus ou
Liberdade. Até meados do século XIX o iorubas e jeje-nagôs subsaarianos –, o ful-
Distrito da Glória assinalava o limite sul da cro da tradição religiosa se concentra no
cidade, compreendendo o Caminho do Car- culto dos antepassados, toda a região, o
ro de Santo Amaro (hoje Avenida da Liber- redor da forca e do cemitério, cercou-se da
dade), até o Largo da Pólvora, e se estenden- aura da mais elevada sacralidade. A capela
do pelas duas baixadas, a do Tamanduateí do cemitério, chamada de Igreja dos Afli-
ao leste (chamada de Caminho do Mar, atual tos, tornou-se um centro devocional da re-
Glicério) e a ribanceira do Anhangabaú a ligiosidade popular.
oeste. Como um espaço tão próximo, tão Mas, naturalmente, era o contexto es-
central e tão histórico pode se tornar invisí- pacial do Morro da Forca que catalisava as
vel, abandonado e desconhecido? imaginações e as mais fortes cargas emo-

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do cabo Francisco José das Chagas, um
homem negro. Em 1821, um ano antes da
Cristina Carletti
Independência, ele e o praça Joaquim José
Cotindiba, também negro, encabeçaram um
motim pelo pagamento de soldos atrasa-
dos, no 1o Batalhão de Caçadores aquarte-
lado na cidade de Santos. Tendo sido pre-
sos e condenados à morte, o soldado foi
executado primeiro. Mas quando procede-
ram ao enforcamento do cabo Chagas, diz
Igreja da a lenda, a corda se rompeu por três vezes
seguidas, o mesmo ocorrendo após uma
Santa Cruz dos
última tentativa com um laço de couro. A
Enforcados vítima foi então executada diretamente no
em 2004 chão, pelas mãos de seus algozes, para re-
volta dos populares presentes, que exalta-
vam o milagre da intervenção divina atra-
vés das cordas rompidas e exigiam a comu-
tação da pena capital.
Chagas teria se tornado então um mártir
e um santo na devoção da população local.
Um beato, Olegário Pedro Gonçalves, e um
negro, Chico Gago, teriam erguido um cru-
zeiro aos pés do Morro da Forca, em frente
ao qual teriam posto uma mesa para ofe-
rendas. Diz a lenda que velas acesas naque-
cionais. Daí o hábito de fincar cruzes e acen- le altar improvisado jamais se apagavam,
der velas naquele espaço. Dele derivaria a mesmo sob os mais fortes ventos daqueles
quintessencial Santa Cruz dos Enforcados. altos de morro ou sob as tempestades mais
Criou-se uma tradição lendária a respeito torrenciais, confirmando a santidade do
desse monumento crucial na história da mártir Chagas. Multidões acorriam para
cidade, que deve ser redimensionada em cultuar o que passou a ser chamado de a
função da sacralidade intrínseca adquirida Santa Cruz dos Enforcados. Criou-se uma
pelo local. A lenda gira em torno da figura festa anual, com grande afluxo popular,

Morro da
Forca e Santa
Cruz dos
Enforcados em
1874. Desenho
de Pedro
Alexandrino
Borges
(1864-1942)

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exacerbando o prestígio do culto e alarman- oferta ritual de pipocas, velas e flores
do as autoridades. dedicadas às Almas – comprovará a vitória
Em meados do século XIX a forca foi do sentimento popular e, em particular, da
desativada e o nome do local mudado, em comunidade negra.
1851, para Praça da Liberdade, por sua li-
gação com o Chafariz da Liberdade, loca- • • •
lizado junto ao Largo do Curso Jurídico
(atual São Francisco). Aquele chafariz, por Que a Glória tinha uma presença e sig-
sua vez, fora assim denominado em 1832, nificados peculiares para as comunidades
numa homenagem da Câmara Municipal à negras ficou atestado pelo fato de que as
revolta popular que culminara, no Rio de figuras mais populares e conhecidas da
Janeiro, no ano anterior, com a queda do região, conforme testemunhos de cronistas
governo absolutista de D. Pedro I e seu e memorialistas, eram negros como o Chi-
retorno a Portugal. A homenagem assina- co Gago, o Preto Badaró, o Baduíra (Pai
lava assim a vocação liberal da elite paulis- Zarabinda) e o Chico Mimi. Sobre o pri-
ta e o papel-chave que vinha assumindo na meiro, o Chico Gago, já vimos que era
gestão da jovem nação independente. Do homem de sólidas convicções devocionais,
chafariz, o nome se estendeu à praça, de- sempre ativo na organização das celebra-
pois à rua que os ligava e finalmente pas- ções, festividades e rituais relacionados
sou a abranger toda a área do que fora o tanto ao cemitério e à Igreja dos Aflitos,
Distrito da Glória. quanto ao cruzeiro e depois à Capela e à
Com o declínio da forca e a nova cono- Igreja da Santa Cruz dos Enforcados. Já o
tação liberal, o motim comandado por Preto Badaró era uma criatura caminhante,
Chagas foi sendo interpretado crescente- sempre errando pelas ruas, becos e desvãos
mente, dentre os círculos dirigentes, como da Glória, do Bexiga, do Lavapés, do
uma resistência ao jugo português, já pre- Cambuci e do Morro do Piolho. Veterano
conizando a jornada heróica da luta dos da Guerra do Paraguai, dotado de extraor-
paulistas pela Independência, cujo gesto dinária cultura oral e contador de casos
decisivo haveria de ocorrer em seu territó- irresistível, esse rapsodo tornava suas nar-
rio, no Ipiranga, em área vizinha ao Distri- rativas sobre as peripécias dos batalhões
to da Glória, ou melhor, a essa altura, da negros nas guerras do Prata numa autêntica
Liberdade. O Cemitério dos Aflitos foi epopéia afro-americana. Já o Baduíra era
desativado e loteado (1885), assim como o babalorixá respeitadíssimo, com tenda nos
Morro da Forca foi arrasado e o paiol da baixos do Lavapés, no então chamado Ca-
pólvora demolido, sendo a área em seguida minho do Cambuci. Visitado pelo espírito
repartida em lotes para a venda. A popula- do Pai Zarabinda, um negro morto no su-
ção, contudo, reerguia a Santa Cruz dos plício do tronco, ele dispensava conselhos,
Enforcados em pontos cada vez mais dis- curas, orientações, bênçãos e profecias.
tantes, toda vez que as obras chegavam a Apegado a convicções cristãs, identifica-
ela. Essa situação perdurou, até que em 1891 va-se como espírita. Seu prestígio era sem
foi construída uma capela, a qual, diante do igual e sua reputação atravessava toda a
contínuo afluxo de multidões, teve que ser cidade. E também todas as classes. As crô-
sucessivamente ampliada, culminando na nicas confirmam que era visitado por se-
reforma final, em 1917, que resultou na atual nhoras e cavalheiros da mais alta elite pau-
Igreja da Santa Cruz dos Enforcados. O lista. As damas se achegavam à sua tenda
empenho das autoridades e da Cúria per- com a identidade discretamente encoberta,
sistiu no sentido de vinculá-la à figura do tal como, aliás, as senhoras e cavalheiros
Chagas e não às tradições rituais afro-bra- que visitavam os babalorixás do Morro do
sileiras. Uma breve visita àquele templo Castelo, marco fundador do Rio de Janei-
porém – local de intensa vibração mística ro, arrasado no começo do século XX. Nesse
especialmente às segundas-feiras, com a sentido, ressalte-se de passagem a extraor-

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dinária homologia que há em se vislumbrar dida, justamente pelo flanco sul, sua zona
a história do Rio sob a perspectiva do Morro mais vulnerável, por uma legião enfurecida
do Castelo e a de São Paulo pelos relevos de guaianás, tamoios e carijós confedera-
acidentados da Glória. dos. Foi Anchieta em pessoa quem relatou
O caso do Chico Mimi não é menos a coragem e determinação cega com que os
interessante. Sua fama se devia à sua des- tupis defenderam a vida dos padres e dos
treza na produção artesanal de bainhas para colonos, rendendo-lhes a mais exaltada
facas e facões por um lado e petecas pelo homenagem. Já no século XIX o quadro
outro. A importância das lâminas, com sua era bem diverso, mas a molecada ainda
infinidade de formas, tamanhos e usos, ates- descia a Rua São Paulo para ir nadar e se
ta os hábitos mateiros e a grande importân- divertir, jogando peteca pelados nas águas
cia para as classes populares da caça, da do Tamanduateí, na altura do Porto dos
pesca e da coleta na natureza ainda abun- Ingleses. A brincadeira era proibida e a
dante dos arredores da capital. As petecas polícia da cidade, os Urbanos, tentava cer-
constituem outro elemento interessantíssi- car a garotada pelas duas margens, mas eles
mo. A peteca é ao mesmo tempo uma brin- escapuliam, caçoando da guarda, os “es-
cadeira e um esporte, sendo o mais auten- panta-gatos”, nadando até desaparecerem
ticamente americano dos folguedos. A pa- nas matas densas rio abaixo.
lavra é tupi e assinala o modo específico de
os indígenas baterem as petecas com as • • •
mãos. Já os africanos e afro-brasileiros,
quando a adotaram, introduziram o uso, Mas nem só negros, índios e seus des-
concomitante ou exclusivo, dos golpes com cendentes rondavam pela Rua São Paulo e
os pés na brincadeira. Ainda está para ser pelas adjacências da Glória. Também os
avaliado o impacto que essa tradição teve metecos eram convenientemente induzidos
no desenvolvimento da paixão e do estilo a se estabelecerem ali. Como vimos, origi-
brasileiro de jogar futebol. nalmente ela se chamava Rua dos Ingleses.
As petecas do Chico Mimi ajudam a A bem da verdade, ela apresentava uma
Templo chinês lembrar que a Rua São Paulo conectava o descontinuidade de nome, embora não de
na Rua alto do Morro da Forca – onde ele tinha sua curso, chamando-se Rua dos Ingleses até à
oficina ribanceira abaixo – com o Morro do altura da Rua da Glória e a partir daí assu-
Conselheiro
Tabatingüera, área em que se estabelecera, mindo o nome de Beco do Rath. Como se
Furtado, onde desde a fundação da cidade, a comunidade sabe, desde a vinda da Corte Imperial Por-
antes ficava o tupi do cacique Caaubi. A evocação é im- tuguesa para o Brasil, sob a proteção da
perativa, já que foram ele e seus bravos flotilha britânica, e por decreto depois con-
Casarão dos guerreiros que salvaram São Paulo da ex- firmado pelo Tratado de Abertura dos Por-
Ingleses tinção, em 1562, quando a aldeia foi inva- tos e mantido após a Proclamação da Inde-
pendência, estrangeiros passaram a ser
admitidos em todas as partes do Brasil. Mas,
se não fossem católicos, só poderiam pra-
Cristina Carletti

ticar seus credos e cerimônias na intimida-


de dos lares, sem qualquer sinal externo
identificador de suas convicções heterodo-
xas, mantidas sob a máxima discrição, so-
briedade e recato. Não poderiam ademais
ser enterrados em campo-santo, consagra-
do pela Igreja Católica. Razão pela qual
muitos estrangeiros, especialmente os do
norte da Europa e de filiação protestante,
tendiam a se sentir mais à vontade às mar-
gens do contexto urbano.

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Assim se deu com o coronel John
Rademaker, que adquiriu a quinta de Fran-
cisco José Machado, instalando-se num
casarão no Largo da Glória (depois Largo
dos Ingleses, Largo São Paulo e atualmen-
te Praça Almeida Junior). Desde então a
via íngreme, que dava acesso direto ao so-
lar Rademaker, passou a ser chamada de
Rua dos Ingleses. Seu vizinho em direção

Cristina Carletti
ao alto da Glória era o alemão dr. Karl
Joseph Fredrich Rath, médico, naturalista,
cartógrafo, escritor e pintor, que ao morrer
legou sua rica coleção de história natural,
de arte e de mapas da cidade para se tornar
uma das bases do acervo do futuro Museu Igreja de Nossa
do Ipiranga. A extensão da mesma via
mudava de nome para Beco do Rath (hoje
Senhora da
Rua Américo de Campos) ao adentrar em Paz, erguida
sua propriedade. A futura Rua São Paulo se entre 1940 e
tornou assim uma via que conectava o con-
texto afro-brasileiro do alto da Glória com 1943 na Rua
o contexto indígena-brasileiro do Taba- do Glicério. Ao
tingüera, através de um eixo anglo-germâ-
lado, modelo do
nico. Com o posterior arrasamento do
Morro do Tabatingüera para a criação do
Cristina Carletti
projeto original
aterro do Glicério, a Glória se conectou com talou, no ano seguinte, seu hospital e, a e, em cima, o
o Bexiga, abrindo um novo flanco italiano pedido das autoridades, uma Roda dos
de convívio, marcado pela pequena e Enjeitados, para aliviar crescentes tensões
prédio
elegantíssima Igreja de Nossa Senhora da socioconjugais dentre as elites. Para fazer efetivamente
Paz. Depois vieram os migrantes de Minas, as vezes de amas-de-leite dos órfãos da
construído
do Norte e Nordeste, os japoneses, os co- instituição, as irmãs apelaram para as ín-
reanos, os chineses, os bolivianos, os dias do aldeamento de Santo Amaro. Como
nigerianos… outros indígenas foram incorporados para
atividades diversas, houve um como que
• • • segundo repovoamento indígena dos bai-
xos da Glória. A propósito, o local bem que
O casarão dos ingleses tem também uma comportaria um monumento à mãe-índia,
história interessantíssima. Com a morte do semelhante àquele dedicado à mãe-negra
coronel John Rademaker ele foi vendido no Largo do Paissandu. Um personagem
no início de 1820 para o coronel João de afinal, menos conhecido, mas não menos
Castro Canto e Melo, cuja filha, Domitila, relevante das histórias paulista e brasileira.
futura Marquesa de Santos, se tornaria Em 1840 a Santa Casa de Misericórdia
amante do primeiro imperador. Foi portan- teve que mudar para um prédio maior na
to para visitá-la na Glória que D. Pedro su- Rua da Glória, esquina com a Rua dos Es-
biu a Serra do Mar em direção a São Paulo, tudantes, e o casarão se tornou uma turbu-
emancipando de passagem o país do esta- lenta república de estudantes, onde, entre
tuto colonial, no célebre episódio do Ipi- muita esbórnia e bandalheira, brilhou a mais
ranga. A situação marginal da Glória tam- fina flor da juventude romântica da cidade,
bém servia para essas indiscrições. E para encabeçada por Bernardo Guimarães e
outras. Em 1824 o casarão foi vendido para Álvares de Azevedo. Alguns de seus textos
a Santa Casa de Misericórdia, que ali ins- clássicos foram escritos ali mesmo. No seu

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Chácara dos

Reprodução: Rômulo Fialdini


Ingleses em
1823, aquarela
de Edmund
Pink. O casarão
era voltado para
o Cemitério dos
Aflitos e Beco do
Rath, tendo ao
fundo a várzea
do Tamanduateí
transgressivo Noites na Taverna, quando dos estudantes, vieram o pequeno teatro
Álvares de Azevedo revela o endereço do Rath, depois o Colombo (onde, aliás, D.
demônio, ele não poderia ser outro senão o Pedro foi declarado o primeiro rei do Brasil
insólito solar da Chácara dos Ingleses, nos independente, na noite do dia 7 de setem-
altos da Glória. Revela Satã, para o sobres- bro de 1822) e o São Paulo. As salas de
salto dos seus leitores: “– Tenho uma casa espetáculos por sua vez atraíram as tascas,
aqui na entrada da cidade. Entrando à direi- as bodegas ratés e as casas de moças ale-
ta, defronte ao cemitério…” gres, que viriam a dar um ar de festa às
noites da Glória.
• • • Quando se criaram as feiras livres, uma
das primeiras foi instalada no Distrito da
Como se vê, a Glória, quando não era o Glória, na baixada da Rua São Paulo, onde
inferno, era o purgatório. A cidade empur- está até hoje, em plena vitalidade. As pen-
rava para lá tudo aquilo que percebia como sões, cortiços, freges, zungas e moquiços
ameaçador, desagradável, tumultuário, des- se apertavam disputando as ladeiras em
prezível, repugnante ou indigno. Em dife- direção às várzeas, recebendo a multidão
rentes épocas e distintos locais, foram ins- de migrantes e imigrantes que buscavam
taladas lá instituições as mais problemáti- aquela área, ao mesmo tempo central e de
cas. Em primeiro lugar, como vimos, a passagem. Dentre as habitações populares,
Forca e, ao seu lado, o arsenal e depósito de entremeadas com elas, concentravam-se
pólvora da cidade, razão pela qual o morro inúmeras cocheiras, abrigando os contin-
e o largo ora eram referidos como “da For- gentes de cavalos, burros e carroças que
ca”, ora como “da Pólvora”, nome que rodavam pela cidade. Naquele contexto,
permaneceu atualmente para o largo rema- mas na vertente do Anhangabaú, ficavam
nescente, ao sul da antiga praça. Adjacente também o matadouro e o Curtume e, mais
estava o cemitério dos supliciados e dos tarde, no próprio Largo São Paulo, insta-
indigentes. Vieram depois o hospital, a lou-se um mercado de carnes verdes. As
Roda dos Enjeitados, o Asilo dos Aliena- tropas de gado, vindas do sul e invernadas
dos e o Asilo de Mendicidade. No início da nos campos, capoeiras e alagados do Ibira-
Rua da Liberdade (antigo Caminho do puera, desciam em longas caravanas diári-
Morro da Forca), ficavam a Cadeia Públi- as, troando em passo cadenciado pelo cal-
ca, a Casa de Correição e Trabalho e o pe- çamento de pedra da Rua da Liberdade,
lourinho. Nos limites da Boa Morte se ins- tangidas para o seu destino final. Pelas
talou o quartel da Milícia. Com a boemia encostas da Glória ecoavam os gemidos dos

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animais sacrificados, tingindo as águas do lo, a atividade mais rentável passou a ser a Asilo de
córrego de um vermelho encarnado e sinis- especulação imobiliária, para a qual mui-
tro. O cheiro do Curtume e do Depósito de tos cafeicultores decadentes passaram a
Mendicidade na
Ossos criava uma atmosfera mefítica, mór- desviar seus recursos. A perpetuação dessa Rua da Glória,
bida e macabra. A Glória era o fundunço, o situação se tornou o problema crônico da em 1910, onde
lumbambo, o sarrabulho e a trabuzana de cidade, com uma demanda de imóveis sem-
São Paulo. pre exponencialmente maior do que a ofer-
hoje se encontra
ta. Era esse o quadro expresso pelo slogan o Colégio São
• • • pífio, porém dramaticamente verdadeiro, José. Embaixo,
louvando São Paulo como “a cidade que
O boom da cafeicultura transfigurou a mais cresce no mundo”. Mercado de
cidadela provinciana desde o terço final do A Crise de 29 e depois a Segunda Guer- carnes do Largo
século XIX, desencadeando um processo ra Mundial tenderam a reduzir a imigração
São Paulo, no
de reforma urbana que se estende até hoje. estrangeira, que foi no entanto compensa-
Essa primeira fase do processo de urbani- da por um intenso movimento migratório final do século
zação moderna, assinalada pela atualiza- interno, principalmente encabeçado pelos XIX. Em 1904
ção em sintonia com os padrões cosmopo- estados de Minas Gerais e do Nordeste,
seria construído o
litas do mercado capitalista internacional, acentuando um grave padrão de desnível
definiu já o que seria o caráter disfuncional regional. O resultado é que o crescimento Teatro São Paulo
do desenvolvimento da cidade. A aversão vertiginoso da cidade prosseguiu, assumin- no seu lugar
das novas elites em relação aos rios, às
várzeas e à natureza exuberante da Pirati-
ninga, que faziam justamente dessas as
áreas sagradas para os índios e as mais atra-
entes para os negros e seus descendentes,
secretou um pendor deletério das camadas
dirigentes para estabelecer os referenciais
da cidade na sua própria área construída,
nos portentos da engenharia, nas dinâmi-
cas dos fluxos de mercadorias, finanças e
comunicações, nos processos de valoriza-

Aurélio Becherini
ção cumulativa pela concentração de rique-
zas, nos nichos de segregação social e
assepsia ambiental.
O surto de prosperidade, coincidindo
com uma reconfiguração do mercado de
mão-de-obra em escala mundial, atraiu para
a região paulista gentes dos diversos can-
tos do mundo, particularmente do sul e
centro da Europa, do Oriente Médio e do
Extremo Oriente, em sucessivas ondas
migratórias. Destinados em especial para
as lavouras, com o progressivo declínio dos
preços do café nas três primeiras décadas
do século XX, esses grupos foram buscan-
Fotógrafo desconhecido

do refúgio e novas oportunidades na cres-


cente economia urbana da capital do esta-
do, atraídos pelo crescimento das ativida-
des industriais e comerciais. A pressão
demográfica logo se tornou tão intensa que,
já por volta das primeiras décadas do sécu-

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QUADRO 1 do proporções ainda mais alarmantes entre
CURVAS DE CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO DO BRASIL, DO ESTADO as décadas de 1940 e 1980 (ver quadros 1
DE SÃO PAULO E DA CAPITAL PAULISTA (1872-1950) e 2). Só recentemente, a partir dos anos 90,
a população urbana de São Paulo tendeu a
7.000
alguma estabilidade, com um crescimento
mais acentuado, se não explosivo, concen-
trando-se nas áreas ao redor do município,
6.000
que com ele constituem uma zona de ampla
conurbação, normalmente referida como
Região Metropolitana.
5.000

De fins do século XIX até o final da


4.000 década de 1920, a expansão da mancha
urbana se concentrou sobretudo nos cha-
mados bairros centrais. A norma consagra-
3.000 da foi a de as camadas dominantes se esta-
belecerem nos terrenos mais altos da topo-
grafia, relegando as baixadas, as várzeas e
2.000 demais zonas alagáveis ou vizinhas às es-
tradas de ferro para as fábricas, armazéns,
AL
PIT

oficinas e populações operárias. No caso


CA

1.000 da Glória, o arrasamento do Morro do


O
AD Tabatingüera e a retificação do curso do
EST BRASIL

100 Tamanduateí abriram amplas áreas nos


0
baixos do Glicério, atraindo fábricas, de-
1872

1890

1900

1920

1940

1950

pósitos, pequenas lojas, oficinas e manufa-

QUADRO 2
EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO NA CIDADE DE SÃO PAULO E REGIÃO METROPOLITANA ENTRE 1872 E 1996
Ano São Paulo Taxa de Outros Taxa de Região Taxa de
crescimento municípios crescimento Metropolitana crescimento
anual (%) da RM anual (%) Total anual (%)

1872 31.385
1890 64.934 4,12
1900 239.820 13,96
1920 579.033 4,51
1940 1.326.261 4,23 241.784 1.568.045
1950 2.198.096 5,18 464.690 6,75 2.662.786 5,44
1960 3.781.446 5,58 957.960 7,50 4.739.406 5,93
1970 5.924.615 4,59 2.215.115 8,74 8.139.730 5,56
1980 8.493.217 3,67 4.095.508 6,34 12.588.725 4,46
1991 9.646.185 1,16 5.798.756 3,21 15.444.941 1,88
1996 9.839.436 0,40 6.743.798 3,07 16.583.234 1,43

Fonte: Para 1872-1991, IBGE, Censo Brasileiro; para 1996, IBGE, Contagem 1996.
Obs.: A Região Metropolitana de São Paulo é formada pelo município (cidade) de São Paulo e outros 38 municípios adjacentes (OM).

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Rua da Glória
em 1862, a
partir do Largo
do Pelourinho,
atual Largo
7 de Setembro

Militão Augusto de Azevedo


turas. De entremeio, difundiram-se conjun- Nesse primeiro período da urbanização
tos homogêneos de habitações populares, de São Paulo, o bonde fora o vetor básico
geralmente em sobrados geminados, de três de transporte na capital. Pelo alto custo da
Antiga
pavilhões, que eram repartidos internamen- instalação de suas linhas e porque o serviço residência da
te, sendo então alugados e compartilhados era monopolizado por uma única compa- família
por várias famílias. Até os porões, em geral nhia, a Light & Power, a rede de integração
com janela ou saída direta para a rua, eram urbana era estreita e limitada, promovendo Albuquerque
alugados e compartilhados. Paradoxalmen- o adensamento da população nos bairros Lins no Largo
te, a parte mais elevada da Glória foi alvo centrais e arredores imediatos. De 1930 a
São Paulo,
de uma reurbanização exuberante pelo en- 70, porém, coincidindo com dois períodos
tão prefeito, o Conselheiro Antônio Prado, autocráticos, o de Vargas e o da Ditadura ocupada
que transformou a agora Avenida da Liber- Militar, os recursos básicos de transporte atualmente
dade num elegante bulevar arborizado. urbano se tornaram os veículos automo-
O sinal maior de distinção foi a mudan- tores, ônibus e carros particulares. O plane-
pelo 1o Distrito
ça para aquela área do escritório do mais jador e depois prefeito Prestes Maia defini- Policial
prestigioso arquiteto do período, Ramos de
Azevedo, que edificaria várias mansões e
residências de alto padrão na região. O
proprietário de uma dessas residências lu-
xuosas foi Manuel Joaquim de Albuquer-
que Lins, presidente (governador) do Esta-
do de São Paulo, de 1908 a 1912, período
em que transferiu a sede do governo para o
Largo São Paulo, despachando direto do
casarão elegante que ainda está lá, no alto
da praça e a cavaleiro da Radial Leste, ocu-
Cristina Carletti

pado atualmente pelo Primeiro Distrito


Policial. O contraste entre os altos da Li-
berdade e os baixos do Glicério definia
agora o retrato acabado da nova segrega-
ção social que marcaria a cidade.

REVISTA USP, São Paulo, n.63, p. 16-35, setembro/novembro 2004 27


Cristina Carletti

Rua ria o Projeto Avenidas como o novo mode- dios de apartamentos ou, a partir dos anos
lo para a expansão da cidade, mudando 70, nos chamados condomínios fechados.
Pirapitingui.
radicalmente a lógica do desenvolvimento De certa forma, o processo tumultuoso de
O sobrado, de urbano paulista. Dada a sua maior flexibi- verticalização das áreas centrais era o con-
1891, foi a lidade e a possibilidade de transitar em ruas traponto da expansão horizontal caótica
de terra e a longas distâncias sem grandes das periferias. Essa combinação exótica
residência do custos, os ônibus promoveram uma ampla de compactação no centro e dispersão nas
arquiteto expansão da malha urbana, com as áreas de margens atribuiu um papel decisivo aos
Ramos de loteamentos se multiplicando caoticamen- veículos automotores. A rarefação da ocu-
te, conforme a ganância desenfreada e as pação periférica e a falta de conexão entre
Azevedo estratégias manipulatórias mais delirantes seus bairros – a qual tenderia sempre a ser
dos agentes especuladores. mediada pelos terminais no centro – tor-
Assim, o padrão predominante até en- navam limitado, precário e sacrificado o
tão, do aluguel de casas ou aposentos na transporte coletivo. Por outro lado, com o
área central, concentrando a população na veículo particular se tornando um recurso
região, foi substituído pela nova tendência, imprescindível, ademais de prestigioso,
a da compra de lotes nas periferias, onde para os grupos privilegiados das áreas
aos poucos se construiria a casa própria, centrais, as sucessivas administrações da
dispersando as populações pelos subúrbios prefeitura passaram a planejar o espaço
distantes. Bairros surgiram ao deus-dará, urbano em favor dos carros, promovendo
sem conexão uns com os outros, fora dos a proliferação feérica de vias expressas,
parâmetros e gabaritos legais, sem quais- corredores de circulação, pontes, túneis,
quer recursos de infra-estrutura básica, em viadutos, rótulas, passarelas, grades, fai-
terrenos grilados ou irregularmente demar- xas, faróis, sinais, mãos e contramãos, ter-
cados. A São Paulo original, já suficiente- minais gigantescos e extensos estaciona-
mente anárquica, desdobrou-se em várias mentos. A área urbana foi retalhada em
São Paulos precárias, distantes, isoladas, todos os quadrantes e direções, e tornada
paupérrimas e ilegais. Foi a origem do ne- ainda mais fragmentada, inorgânica e inós-
fasto modelo centro-periferia. pita, via de regra às expensas dos espaços
Do ponto de vista da área central, esse públicos, além de transformar num autên-
foi o momento da grande verticalização. tico inferno a vida dos transeuntes. Nesse
Para as camadas mais abonadas, não basta- momento, a baixada da Glória (ou do Gli-
va mais residir nas áreas mais elevadas, a cério) praticamente sumiu, submersa pela
distinção agora obrigava a residir em pré- massa dos viadutos do complexo do extin-

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to Parque D. Pedro I e do Minhocão, e pelas ralelo a um grau jamais visto de depredação
vias expressas às margens e sobre o Ta- do patrimônio urbano, de degradação am-
manduateí. biental, de miséria, privação e abandono das
Dos anos 80 aos nossos dias, as tendên- áreas carentes. Vae victis!
cias dominantes foram outra vez contradi-
tórias. Por um lado tivemos a organização • • •
e politização das comunidades dos bairros
periféricos, pressionando as autoridades Eis a lógica, ou antes o desvario, do ur-
pela legalização das propriedades e forçan- banismo inflacionário, sua intrínseca ten-
do investimentos em transporte, serviços e dência entrópica. Ele decorre, em primeiro
infra-estrutura. Pelo outro, o surgimento lugar, de uma tibieza crônica da instância
de lobbies de planejadores e incorporadores, pública, da ausência ou insuficiência da
empenhados na alteração de códigos, es- ação interveniente da autoridade urbana,
tatutos e gabaritos, de forma a capitalizar da abdicação de qualquer sentido de orien-
megaprojetos privados, criando áreas de tação, controle, fiscalização ou moderação
exclusividade, privilégios de circulação e da disputa desigual pelo espaço e pelo di-
se especializando na arte da utilização de reito à cidade, permitindo aos agentes mais
áreas e equipamentos públicos para fins es- fortes e organizados que submetam a urbe
peculativos, promocionais e privativos. Pa- à vertigem caótica de seus interesses e da
radoxalmente, enquanto as populações ca- sua ganância. Destituída assim de um nexo
rentes lutam por direitos, pela legalização orgânico, seja ele de sentido histórico, cul-
de suas posses e propriedades e por novos tural ou racional, a cidade se torna num
espaços públicos, os grupos privilegiados amálgama amorfo e disfuncional, impossí-
se empenham pela “flexibilização” das leis vel de ser incorporado como uma experiên- Rua Anita
e normas, assim como pela apropriação pri- cia traduzível num vernáculo compartilha- Ferraz. Os
vada dos espaços e bens públicos. A marca do como o patrimônio espiritual de toda a
restos de uma
desse novo momento na Glória (ou na Li- comunidade dos cidadãos. Retalhada pe-
berdade) foi a expansão predatória das “uni- los impulsos e lapsos esquizóides da vora- casa servem de
versidades” privadas, dos bingos e diver- cidade especulativa, ela incorpora e reflete moradia a
sões eletrônicas, de estabelecimentos ban- essa condição dilacerada nos seus compo-
cários multinacionais, de lojas de fast-food, nentes heteróclitos, nas partes disparata-
famílias que
dos megaestacionamentos, dos blocos bu- das, conexões inconclusas, articulações vivem do
rocráticos de repartições públicas e mega- esclerosadas, fluxos desencontrados e pre-
depósito de lixo
templos pentecostais, proliferando em pa- senças esvaziadas.
ao redor

Cristina Carletti

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A percepção dos seus habitantes fica ridade básica: por um lado a proliferação
tolhida pela ausência de algum princípio caótica de ações, presenças e circuitos; de
orgânico, de pontos focais ou de diretrizes outro a dissipação de sentidos e nexos
gerais. Passam a prevalecer então os impe- cognitivos, dos investimentos afetivos da
rativos da topografia; das contingências memória e da experiência compartilhada,
aleatórias de uma história marcada por fa- assim como dos laços de pertencimento e
tores externos e inexoráveis; das pressões dos espaços de participação.
eventuais dos setores mais prósperos e mais A história do crescimento explosivo de
organizados da sociedade ou, sobretudo e São Paulo não decorre de seus potenciais
cada vez mais, pelos marcos efêmeros das intrínsecos, como sempre pretende fazer
ondas especulativas e das proezas do crer a propaganda populista, nem tampou-
marketing político, cultural ou imobiliário. co comporta alguma gênese orgânica ou
A conseqüência mais direta dessa prolife- alguma diretriz estruturadora. Ela manifesta
Sob o Viaduto ração aleatória de ações de construção, de os profundos desequilíbrios econômicos,
apropriação dos espaços e de multiplica- sociais e regionais, característicos do sub-
do Glicério, ção de referências simbólicas alheias ao desenvolvimento do país. O crescimento
invisível para os convívio coletivo, é a impossibilidade da desmesurado da cidade compõe assim a afli-
consolidação de qualquer configuração de ção crescente de gentes deslocadas com-
motoristas que
memória capaz de gerar algum sentido de pulsoriamente de suas origens rurais e ar-
trafegam na identidade comum. A ocorrência, em para- rastadas para o destino imprevisível da
Radial Leste, a lelo, dessa fragmentação do espaço e da precariedade das periferias e da inconsis-
dilaceração da memória se manifesta reite- tência do mercado de trabalho. As altas
Cidade da rada na indefinição arquitetônica, urbanís- expectativas que essa aflição coletiva gera,
Informalidade tica e paisagística da cidade. Eis a dispa- entretanto, deflagram as energias tanto das
práticas especulativas quanto da manipu-
lação política, formas gêmeas de rapinagem
que se nutrem do desespero, usando como
isca, naturalmente, a esperança.
Cristina Carletti

Prevalecem como receitas para o


equacionamento desse quadro tumultuoso
as fórmulas da engenharia e da gestão esta-
tística. Não que elas resolvam, mas ao
menos fornecem a cenografia da interven-
ção pública e da racionalidade inclusiva do
mercado, ao mesmo tempo em que circuns-
crevem as decisões em círculos técnicos
altamente especializados, cujo jargão e cuja
operação tecnológica estarão sempre aci-
ma e fora da possibilidade de ser interpelado
pelas pessoas comuns. Tudo assim tende a
ser planejado e conduzido em grande esca-
la, sobrepondo níveis os mais complexos de
competência técnica para ser sequer com-
preendido, quanto mais contestado. Só
quem está no centro desses círculos
decisórios sabe avaliar quais as conseqüên-
cias a médio e longo prazo dessas ações, o
que lhes garante para sempre a informação
privilegiada e a conseqüente vantagem na
ação especulativa. Como as necessidades e
as expectativas são imensas e como a sua

30 REVISTA USP, São Paulo, n.63, p. 16-35, setembro/novembro 2004


exploração política e mercantil as acompa-
nha na mesma escala, tudo é desmesurado.
Preponderam o quantitativo, o superlativo,
o monumental, o acelerado, o maciço, o
concentrado, o volátil e, como é inevitável
para essas instâncias, o descartável.
São Paulo inclui, nesse sentido, várias
dinâmicas concorrentes, mas também con-
vergentes, que se alimentam reciprocamen-
te. Em primeiro lugar está a Cidade Espe-
culação, estabelecendo as fronteiras sem-
pre voláteis do mercado de valorização imo-
biliária e dos espaços urbanos de excelên-
cia e de exclusividade. Em paralelo se ar-
ticula a Cidade Cooptação, acenando com
a “possibilidade”, sempre a “possibilida-
de”, das legalizações, das anistias, das isen-
ções, dos serviços básicos, dos direitos ele-
mentares, das “megaunidades” de atendi-
mento, dos “auxílios”, da “participação”,
das “decisões”, tudo negociado em função
das contrapartidas eleitorais. O nexo mais
recentemente planejado para se cruzar en-
tre a Cidade da Especulação e a da
Cooptação é a ponte das PPPs, as chama-
das “parcerias público-privado”. Conviven-
do com ambas está a Cidade da Informali-
dade, a da imensa população que sobrevive
sem bases fixas, sem fundamentos legais,
sem vínculos institucionais, sem amparo,
sem proteção e sem garantias, sem identi-
dade e sem reconhecimento. Se a primeira
Cristina Carletti

for a cidade da luz, a segunda será a do


lusco-fusco e a terceira a das sombras.
Evidentemente essas três dimensões da
cidade estão representadas na Rua São
Paulo. Nos seus altos (a secção, aliás, de-
nominada Rua Américo de Campos) – vin-
culada ao contexto do Bairro da Liberdade,
que foi transformado em área de caracteri- outra extremidade, nos baixos do Glicério, Nesta página e
zação exótica e destinação turística, por sua insinua-se a Cidade Cooptação, os com-
plexos de burocracia pública na várzea ar-
nas seguintes,
tradicional associação com colônias do
Extremo Oriente, região já valorizada des- rasada, nomes de candidatos políticos bor- diferentes
de a grande reforma do Conselheiro Antô- rados vandalicamente nos muros e pare- trechos da Rua
nio Prado, como vimos – estão os emble- des, entre belíssimas imagens de grafite
mas da Cidade Especulação. Lá estão os popular e a eventual faixa anunciando uma São Paulo
estabelecimentos de ensino e medicina pri- “rua de lazer” nas cercanias.
vados, as agências bancárias e de viagens Mas o que prepondera na Rua São Pau-
transnacionais, os bingos e palácios de di- lo, sem dúvida, é a Cidade Informal. Do
versões eletrônicas, os lançamentos imo- antigo Largo São Paulo até as ribanceiras,
biliários e os megaestacionamentos. Na hoje concretadas, do Tamanduateí, local do

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antigo Porto do Tabatingüera (ou Porto dos públicos acessíveis), os motoristas de car-
Ingleses), onde a molecada pelada jogava a ros, vindos do complexo do Minhocão,
peteca do Chico Mimi, habita toda uma inseguros naquele ambiente que assumem
comunidade que mantém uma identidade ameaçador, a atravessam em grande velo-
histórica com o contexto social da Glória. cidade, acelerando ansiosos rumo à Liber-
Gente de todos os cantos e todos os ofícios, dade e ao Paraíso.
relegada a um vácuo da cidadania, a um Toda aquela população da Rua São
hiato sombrio entre a Cidade Especulação Paulo e adjacências tem um modo peculiar
e a Cidade Cooptação. O tipo de lugar que e diferente de se inserir e conviver com a
em língua inglesa tende a ser chamado de cidade, prospectando seus desvãos, suas do-
no-man’s land ou no-go area. Zona proibi- bras, seus lapsos, seus interstícios e suas
da, interdita pelo estranhamento absoluto, sobras. Aliás essa é a atividade que se des-
pela impossibilidade de classificação, em- taca ali, a coleta de sobras. Sob toda a
bora seja tão central e tão intimamente parte intrincada rede de viadutos, passagens ele-
da memória desta cidade. Apesar da gran- vadas, alças e pontes que compõem o com-
de concentração de crianças brincando nas plexo de distribuição viária da Várzea do
ruas (elas não têm mais o rio, nem espaços Carmo, o atual Parque D. Pedro I (em que
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Cristina Carletti

outro espaço da cidade a autoridade públi- A melhor metáfora para entender a Rua
ca teria se atrevido a um delírio tão desen- São Paulo e por que ela é tão significativa
freado de depredação urbana e ambiental?), talvez seja a da metástasis. A palavra é de
espalha-se uma enorme população viven- origem grega e conota o sentido de um pro-
do das várias atividades de reciclagem. Os cesso contínuo de deslocamento, mobili-
vãos sob os prodígios da engenharia dos dade, transporte e comunicação entre con-
elevados estão todos ocupados como de- textos diversos. E assim é. Tomando os
pósitos e também como moradia desse povo diversos rumos a que os levam os inúmeros
incansável. Como sua extensão natural, a viadutos sob os quais se alocam, os reci-
Rua São Paulo também inclui áreas de de- clantes alcançam todos os quadrantes da
pósitos, moradias de reciclantes e popula- cidade, percorrendo-a em busca de seus
ção de rua. As antigas cocheiras e oficinas resíduos descartáveis. Eles estão por toda
estão hoje em dia ocupadas pelas carroças parte, é impossível virar uma esquina, qual-
superlotadas puxadas por essas criaturas quer esquina da cidade, sem se deparar com
pelas vias e caminhos de São Paulo, acom- algum deles, com suas crianças e seus ca-
panhados, não raro, de suas crianças e de chorros. Em geral as pessoas não apreciam
seus cachorros. cruzar com eles, com suas crianças e seus

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cachorros, ou porque eles atrapalham o sempre teve para a aceitação do que fos-
trânsito, ou porque a imagem daquela cria- se condenado, abandonado, renegado ou
tura frágil puxando aquele peso descomu- proscrito. Impossível não sentir, naquele
nal seja ingrata (não é bem assim como a local, o poder de ressurreição latente
locomotiva São Paulo puxando os “vagões numa comunidade que incorpora o opos-
vazios” da Federação), ou porque a ativi- to da prodigalidade e o avesso do consu-
dade em si não tenha a dignidade da pro- mo como desígnios. Como metástasis,
fissão reconhecida. não há parte de São Paulo que não convi-
Como quer que seja, eles estão lá, por va, admita ou não, queira ou não, goste
toda parte, por toda a cidade. Eles são ou não, com a comunhão errante da Rua
propriamente uma cidade dentro da ou- São Paulo. Onde quer que você esteja,
tra. Uma cidade que recebe tudo aquilo olhe para o lado, olhe para a sombra e a
Rua São Paulo que a outra rejeita. Uma cidade que reto- Rua São Paulo estará lá, com suas crian-
ma tudo aquilo que foi abandonado pela ças e seus cachorros. Olhe bem para ela,
com Rua outra e lhe dá uma vida nova. Algo muito talvez você descubra ali algo que você
Sinimbu parecido com a vocação que a Glória perdeu, algo que todos nós perdemos.
Cristina Carletti

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