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Uma oportunidade para o Livre Pensar


Vol. 2 - Ano 1 - Nº 2 - Julho / 2013 ISSN 2317-8612

2013
Salvador – Bahia – Brasil

Revista Transdisciplinar – Vol. 2 - Ano 1 - Nº 2 - Julho / 2013


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Uma oportunidade para o Livre Pensar

Vol. 2 - Ano 1 - Nº 2 - Julho / 2013 ISSN 2317-8612

APRESENTAÇÃO

A Revista Transdisciplinar é um periódico on-line semestral, organizado por Celeste Carneiro, que
tem como objetivo socializar o pensamento de autores que desejam expressar suas reflexões
sobre os mais diversos temas inter-relacionados com o Ser Integral e sua interação com o mundo
que o cerca. Busca a integração de saberes e perfis, valorizando o diálogo entre sabedoria e
conhecimento, estimulando a liberdade expressiva e dando oportunidade ao exercício da beleza,
quer através da articulação de temas, ideias e conceitos, quer através do estilo de apresentação
dessas ideias e conceitos

Pautamos esta Revista no pensamento de Basarab Nicolescu e grupo que escreveu a Carta da
Transdisciplinaridade (1994), onde esclarece:

A pluridisciplinaridade diz respeito ao estudo de um objeto de uma mesma e única disciplina por
várias disciplinas ao mesmo tempo.

A interdisciplinaridade diz respeito à transferência de métodos de uma disciplina para outra.

A transdisciplinaridade, como o prefixo "trans" indica, diz respeito àquilo que está ao mesmo tempo
entre as disciplinas, através das diferentes disciplinas e além de qualquer disciplina. Seu objetivo é
a compreensão do mundo presente, para o qual um dos imperativos é a unidade do conhecimento.

Rigor, abertura e tolerância são as características fundamentais da visão transdisciplinar. O rigor da


argumentação que leva em conta todos os dados é o agente protetor contra todos os possíveis
desvios. A abertura pressupõe a aceitação do desconhecido, do inesperado e do imprevisível. A
tolerância é o reconhecimento do direito a idéias e verdades diferentes das nossas.

E no texto Educação para o Séc. XXI, do Relatório Delors (UNESCO, 2006):


Na visão transdisciplinar, há uma transrelação que conecta os quatro pilares do novo sistema de
educação (aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser) e tem sua
fonte na nossa própria constituição, enquanto seres humanos. Uma educação viável só pode ser
uma educação integral do ser humano. Uma educação que é dirigida para a totalidade aberta do ser
humano e não apenas para um de seus componentes.

Esperamos contribuir para a difusão do conhecimento com a sabedoria da abertura e da


tolerância, aliada ao rigor que dá o ajuste necessário.

Como símbolo, trazemos a Flor da Vida, rico em mistérios estudados desde a mais antiga
civilização e que encanta até os nossos dias. Lembra a conexão de todos com o Universo, a
semente da vida, a relação do um com o todo, a gênese e o encadeamento dos genes, o que nos
une e nos dá vida.

Os textos são de responsabilidade dos autores que deverão encaminhá-los para nossa
apreciação já revisados.

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EQUIPE EDITORIAL
Criação, editoração e coordenação geral

Maria Celeste Carneiro dos Santos – Especialista em Arteterapia Junguiana e Psicologia


Transpessoal (IJBA/ Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública/ Instituo Hólon).
Graduada em Desenho e Artes Plásticas (Faculdade de Belas Artes de São Paulo –
FEBASP). Professora e supervisora no Instituto Junguiano da Bahia – IJBA e em cursos de
pós-graduação. Escritora. Membro do Grupo de Pesquisa EFICAZ, da Universidade do
Estado da Bahia – UNEB. Membro do Colégio Internacional dos Terapeutas – CIT e da
Associação Baiana de Arteterapia – ASBART/UBAAT. Currículo lattes disponível em:
http://lattes.cnpq.br/0119114800261879

EQUIPE DE EDITORAÇÃO

Dulciene Anjos de Andrade e Silva – Doutora em Educação (UFBA). Mestre em


Educação (UFBA). Graduada em Letras Vernáculas com Inglês (UFBA). Professora
Adjunta da Universidade do Estado da Bahia – UNEB, campus II. Currículo lattes
disponível em: http://lattes.cnpq.br/8015189418594078.

Priscila Peixinho Fiorindo – Doutora em Psicolinguística (USP). Mestre em Linguística


(USP). Graduada em Letras (Mackenzie). Professora Faculdade Ruy Barbosa, Salvador-
BA. Docente na pós-graduação do Instituo Hólon, Salvador-BA. Currículo lattes disponível
em: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4744418Z4

CONSELHO EDITORIAL

Agnès Bague-Forst – Doutora em Ciências Econômicas (Universidade Paris 1 Panthéon


Sorbonne). Artista Plástica, Escola Nacional de Belas Artes de Paris, Ateliê la Glacière,
sob orientação de Jean Zuber. Graduada em Ciências Políticas e Ciências Econômicas
(Université Paris 1 Panthéon Sorbonne). Professora de Economia e Sociologia das
Organizações em diferentes universidades e também no Instituto de Estudos Políticos de
Paris.

Francesca Freitas – Graduada em Medicina pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde


Pública - EBMSP em 1981. Professora Assistente de Neuroanatomia (EBMSP, 1982 a
2012). Tutora do Departamento de Biomorfologia da EBMSP, 2005 a 2012. Coordenadora
do Serviço de Neurofisiologia Clínica do Hospital São Rafael de 1992 a 1998. Atuação em
Neurofisiologia Clínica – Eletroneuromiografia.

Gildenor Carneiro dos Santos – Pós-Doutor em Educação (FACED-UFBA). Doutor em


Educação (USP). Mestre em Educação (FACED-UFBA). Graduado em Matemática e em
Arquitetura (Universidade de São Paulo - USP). Prof. da Universidade do Estado da Bahia
– UNEB, Campus XI. Currículo lattes disponível: http://lattes.cnpq.br/0814023926904547

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PARA PUBLICAR

A Revista Transdisciplinar é um periódico semestral, organizado por Celeste Carneiro, que tem
como objetivo socializar o pensamento de autores que desejam expressar suas reflexões sobre os
mais diversos temas inter-relacionados com o Ser Integral e sua interação com o mundo que o
cerca. Busca a integração de saberes e perfis, valorizando o diálogo entre sabedoria e
conhecimento, estimulando a liberdade expressiva e dando oportunidade ao exercício da beleza,
quer através da articulação de temas, ideias e conceitos, quer através do estilo de apresentação
dessas ideias e conceitos, seguindo os parâmetros expressos na Apresentação.

A Revista Transdisciplinar será publicada nos meses de Janeiro e de Julho de cada ano e os
artigos deverão ser enviados com até dois meses de antecedência.

Os artigos serão avaliados, por ordem de recebimento, por dois membros do Conselho Editorial.
Caso haja divergência quanto à aprovação dos mesmos, um terceiro parecer de outro membro do
Conselho Editorial será solicitado.

Os textos poderão ter o formato acadêmico ou serem escritos de forma mais livre, desde que em
linguagem clara e de acordo com os padrões normativos da Língua Portuguesa. Devem procurar
coerência com a proposta da Revista Transdisciplinar.

Se o autor escolher escrever de acordo com as normas acadêmicas, deverá fazê-lo em


conformidade com os padrões da ABNT, com resumo, problemática anunciada e desenvolvida,
objetivos, metodologia, conclusões e referências. Nas referências, deverão constar apenas as
obras citadas no texto.

Os textos que seguirem uma forma mais livre (ou seja, por um estilo que não priorize o rigor
acadêmico, podendo valer-se ou não da poesia, mas que também possibilite a exposição do
pensamento com fluidez, clareza, coerência e consistência), se fizerem uso de citações diretas ou
indiretas, devem também listar essas referências ao final, de acordo com as normas da ABNT.
Entretanto, caso o autor queira também indicar livros e sites que não fazem parte do texto, mas
que são complementares a ele, pode fazê-lo anunciando após as referências o item “Para saber
mais”.

Os artigos não precisam ser inéditos, desde que seja explicitada a fonte original de sua
publicação. Preferencialmente os artigos estarão no idioma Português, mas eventualmente outros
idiomas poderão ser aceitos.

Cada artigo deverá ter, no máximo, 20 páginas (incluídas as notas de pé de página e as


referências) e deverá ser escrito em fonte Arial, tamanho 10, seguindo um espaçamento de 1,5
cm e obedecendo as margens superior e inferior de 2,5cm, esquerda e direita 3,0cm.

Os artigos deverão ser encaminhados já revisados.

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CONTATO

Endereço postal da revista

Celeste Carneiro
Rua Agnelo Brito, 187 sala 107 – Federação
CEP 40210-245 – Salvador – Bahia – Brasil

CONTATO PRINCIPAL

Celeste Carneiro
Telefone: 71 - 3497-1306 / 3237-5570 / 8874-1155 (Tim)
cel5zen@gmail.com / cel5@terra.com.br
www.artezen.org

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EDIÇÃO ATUAL

Revista Transdisciplinar
Vol. 2 - Ano 1 - Nº 2 - Julho / 2013
ISSN 2317-8612

ÍNDICE

1. A AFINAÇÃO PSÍQUICO CORPORAL: DO SOM PESSOAL AO SOM COLETIVO


Arthur Fernando Drischel p. 7

2. METODOLOGIAS INTEGRATIVAS: ABRINDO NOVOS CAMINHOS PARA A CRIAÇÃO


COLETIVA NA GESTÃO SOCIAL
Maria Suzana Moura p. 16

3. SÍNDROME DE PÂNICO: DIAGNÓSTICO E PERSPECTIVAS QUANTO AO


TRATAMENTO TRANSDISCIPLINAR
Uma Abordagem da Medicina à Psicologia Transpessoal
Norma Alves de Oliveira p. 23

4. O CORPO COMO EXPRESSÃO DO INCONSCIENTE


Maria Lúcia Cerqueira Bastos p. 31

5. O SAGRADO MOMENTO PRESENTE


Tânia Regina Contreiras p. 33

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1. A AFINAÇÃO PSÍQUICO CORPORAL: DO SOM PESSOAL AO SOM COLETIVO

Arthur Fernando Drischel*

RESUMO

Este artigo tem como objetivo mostrar a relação de uma conceituação técnica, histórica e cultural
da música com a fenomenologia psíquica, que aquela provoca no ser humano. Surgiu de
pesquisas bibliográficas e do relato de experiências da aplicação de técnicas com som e música
em grupos de imaginação ativa. Como resultado deste trabalho surge uma técnica chamada
“Afinação Corporal” em que profissionais da Arteterapia podem utilizar a música e som cantado
em suas sessões de atendimento. Tal técnica revela uma explanação sobre os efeitos benéficos
que a afinação corporal oferece aos participantes, no processo terapêutico, e como é possível
alcançar e manter a afinação corporal para melhoria da qualidade de vida física, mental e
espiritual.

Palavras-chave: arteterapia; música; afinação corporal.

ABSTRACT

This article aims to show the relationship of a concept art, history and culture of music with the
psychic phenomenology that it causes in humans. Emerged from research literature and report of
experiences from the application of techniques with sound and music groups active imagination.
As a result of this work emerges a tuning technique called Body Art therapy in which practitioners
can use music and sound sung in their attendances. This technique reveals an explanation of the
beneficial effects that the tuning body provides participants in the therapeutic process and how you
can achieve and maintain the tuning body to improve the quality of life physically, mentally and
spiritually.

Keywords: art therapy; music; body tuning.

________
* Arthur Fernando Drischel atua como Mediador de Aprendizado e Vivências com Música desde 1994. É formado em Educação
Artística com Habilitação em Música na FAP-PR, com Extensões Universitárias pela UFPR em: Piano Popular, Teclado, Técnica Vocal,
Regência Coral, Flauta Doce, Teoria Musical, Harmonia Funcional, Improvisação e Composição. Pela UNICAMP, Extensões em:
Ópera e Psicanálise, Movimentos Expressivos e Terapêuticos, Folclore, Neurolinguística, Fonética e Fonologia, Midiologia, Atualização
em Arte Educação e História do Canto. Pós Graduado em Arteterapia (FAVI), formação no Programa de Valores Humanos -
EDUCARE (HUMANITATIS) e conselheiro em adicções à drogas. Pesquisa e aplica fundamentos terapêuticos com mandalas e música
com Arteterapia.

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INTRODUÇÃO civilização humana, a música que


conhecemos hoje era menos organizada e
O pesquisador define a afinação planejada. Ele diz que era proveniente de
corporal como uma técnica de harmonização, sons humanos produzidos pelos músculos de
ou equalização, ou purificação do corpo reflexo da garganta, que em suas funções
físico, mental e espiritual do ser humano por originais servem para selar a laringe e
meio de atividades corporais com sons e proteger as vias aéreas de partículas sólidas
música. O foco deste estudo é a promoção e líquidas. Também refere-se a ela como
da saúde integral do ser humano por meio do sons que impulsionaram o homem a imitar a
uso da música na Arteterapia. Com base nos natureza, quer seja nos cantos dos pássaros
trabalhos de Stephen Chun-Tao Cheng como no rugir de animais de grande porte;
(1999) em O Tao da Voz e John M. Ortiz quer seja no fluir de uma cachoeira, como no
(1998) em O Tao da Música, busca-se assombroso som dos trovões ou também nos
congruências entre o uso pedagógico e ruídos dos ventos do inverno e das sombrias
artístico da música e seu uso como recurso noites de breu sem luar. Diz que eram ritmos
Arteterapêutico. É um trabalho que se nascidos nas antigas tribos, com a
justifica com uma fundamental importância necessidade de ordenação e variação do
para os profissionais da Arteterapia ao tempo de produção do trabalho, onde os pés
oferecer o som e a música como ferramenta e as mãos que removiam pedras e
para uso nas sessões individuais e/ou derrubavam árvores produziam repetições
coletivas. Esta pesquisa formou-se como constantes nas atividades laborais de corte
embrião do uso da linguagem musical em da madeira, farquejamento de pedras,
meio a grande quantidade de entalhes das construções, etc.
fundamentações em teorias de estudo das Segundo as reflexões de Lévy-Bruhl
imagens do inconsciente para aplicação (in Wikipédia-a, 2012) “o pensamento mágico
Arteterapêutica. Como há uma considerável seria uma relíquia de mentalidade
predominância das Artes Visuais na primitiva, no sentido etnológico. Pensamento
Arteterapia, o presente trabalho pretende mágico e mentalidade primitiva subsistiriam
trazer o som e a musicalidade como recurso sob uma forma latente dentro do
terapeutizador na proposta de afinação subconsciente de cada um”. Com base nesta
corporal. Para que este trabalho reflexão, entende-se que com o passar dos
acontecesse, foi utilizada pesquisa séculos e com a incessante repetição de
bibliográfica para conceituar as relações padrões rítmicos e sons, produzidos pelos
propostas e aplicação prática com dois seres humanos, a música foi evoluindo para
grupos: um de 36 e outro de 40 participantes. status de linguagem da alma, considerada
em sua essência, como a linguagem do
A música como música e como indutora Reino da Magia. Por meio desta crença,
de estados alterados de consciência acreditava-se no poder de dialogar com a
natureza, em suas explosivas condições
Tecnicamente falando, segundo naturais, tentativas de controle e em suas
Lacerda (1997), “música é a arte do som e o fartas recompensas pelo trabalho árduo de
som tem quatro propriedades: duração, comunhão e pacificidade com ela. Deste
intensidade, altura e timbre”. Esta afirmação diálogo mágico com a natureza, nasceu a
considera o aspecto físico e estético dos consciência de conexão com o Divino,
sons combinados entre si. A relação de justamente pela propriedade da música
equilíbrio e harmonia dos quatro elementos revelar o que há por trás do mundo visível.
que constituem o som resultam em um Neste período, nasce a música como canal
produto culturalmente aceito e repassado de de comunicação e manifestação dos
ser para ser, ora pela oralidade dos folclores potenciais nobres e ocultos do ser humano
e tradições ancestrais, ora pela grande mídia para se chegar até um Poder Maior, ou
de massa. O aspecto estético da música faz Centro da Existência.
com que ela reflita o estado de consciência Para explicar então toda essa nova
coletiva do povo que a produz e de suas fenomenologia que a música acabou
origens e raízes primitivas. assumindo, no status de comunicadora do
Sadie (1994) mostra em seu mundo oculto e subjetivo, a cultura grega
Dicionário de Música, que no início da deixou seu legado mítico com as famosas
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figuras mensageiras desse reino: as musas, natureza, com o Divino e com os próprios
inspiradoras da criatividade, das ciências e sentimentos e emoções do ser humano,
das artes. São elas: como resultado da expansão da consciência
da sua própria alma.
SIGNIFICADO ARTE REPRESEN- Contando um pouco da história da
MUSA DO NOME OU TAÇÃO música relatada por Sadie (1994): passa-se
CIÊN- (ATRIBUTO)
CIA por Roma antes e depois de Cristo e como
Calíope Bela voz Eloquên- Tabuleta e surgimento da era cristã institucional,
cia buril observa-se que a música começou a tomar
Clio - A proclama- História Pergaminho formas cada vez mais litúrgicas e
Kleio dora parcialmente pertencentes ao grande clã dos sacerdotes
aberto
Erato Amável Poesia Pequena Lira
da Igreja. A contribuição deste período foi
Lírica uma definição dos padrões de escrita dos
Euterpe A doadora de Música Flauta sons em linhas, representados por
prazeres quadrados de diferentes formatos: a partitura
Melpô- A poetisa Tragédia Uma primitiva. Com início na era medieval, o
mene máscara
trágica, uma
desenvolvimento da escrita de uma linha
grinalda e evoluiu para duas, três e quatro linhas até
uma clava chegar ao período renascentista com o
Polímnia A de muitos Música Figura velada sistema que temos até hoje, o pentagrama.
–Polyhy- hinos Cerimo- Hoje, os sons são escritos nas cinco linhas e
mnia nial
(sacra) organizados de forma estruturada em sons
Tália - A que faz Comédia Máscara graves e agudos e alinhada matema-
Thaleia brotar flores cômica e ticamente para organização temporal dos
coroa de sons, resultando num produto simbólico
hera ou um
chamado partitura.
bastão
Terpsí- A rodopiante Dança Lira e plectro Ainda contando um pouco sobre a
core história da música relatada por Sadie (1994),
Urânia A celestial Astro- Globo vê-se a música passando por um refinamento
nomia celestial e humano, onde sempre ficou implícito o
compasso
*As nove musas – fonte: Wikipédia-b (2012).
processo criativo psíquico, como propulsor
da atuação musical, e sua posterior fixação
As musas são arquétipos da simbólica por meio das notas e figuras
criatividade expressada em sons, e sua musicais na partitura ou fonografia. O músico
personificação no ser humano dá-se por de hoje tem a disposição todas as
meio de versos, poemas, bela voz, ferramentas possíveis para se organizar as
declamações, louvor, comédia, dança e estruturas sonoras. A música, atualmente, é
estudo das esferas planetárias. Na Grécia amplamente englobada em valores que
Antiga, essas manifestações personificações variam da produção acadêmica formal e da
eram chamadas de Mousiké – a arte das produção independente e experimental.
Musas – de onde provém o nome Música. Música hoje, no Séc. 21, é o som manipulado
Com base nestas pesquisas, conclui- de qualquer forma pelo ser humano. Gostos
se que as musas são as “deusas à parte nesta definição contemporânea,
inspiradoras” dos “dons”, e que a música sai música é tudo que o homem expressa de sua
da visão primitiva e começa a estabelecer percepção para o meio, organizado ou não,
uma profunda ligação com a ordenação da intencional ou não, construtivo ou destrutivo,
linguagem e da dança.Começa a existir uma único ou repetitivo.
variação de tipos dos movimentos ordenados Seguindo as linhas de pensamento
(ritmos) correspondentes às sonoridades das pesquisas bibliográficas, é justo afirmar
necessárias para as estruturas de linguagens que a música é, indiscutivelmente, o produto
necessárias a determinada apresentação. artístico mais intrigante. Tem essa
Com isso tudo, a música pode enfim tomar o caracterização especialmente por sua
conceito de arte dos sons, pois nasce da materialidade ser invisível aos olhos
necessidade de ordenar símbolos sonoros humanos. É invisível e potencialmente
em contextos culturais específicos para sensível aos ouvidos, ao universo psíquico e
evocar -as profundas conexões com a à alma que a compreende. Ela passa direto
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pelos portais das reservas e das defesas as áreas em que o instrumento corpo requer
psíquico humanas, tocando os mais autoconsciência. As áreas corporais deste
profundos pontos que o ser humano tenda a estudo segundo Stephen Chun-Tao Cheng
ocultar. Ela assim o faz, por ser constituída (1999) são: saúde mental, saúde física e a
de vibração, que tende a movimentar os saúde espiritual.
corpos sólidos quando se propaga. Assim,
ela consegue desobstruir caminhos e A afinação do instrumento corporal para
desperta ímpetos de coragem para a vida no atividades arteterapêuticas
aqui e agora. Também consegue alterar
ânimos e despertar emoções, sensações “Afinar: tornar algo fino, harmonizar,
capazes de fazer o ser humano transcender temperar, purificar algo”. LUFT
sua própria existência rotineira do dia a dia. A
música segue um caminho subjetivo que A reflexão sobre a definição de
mostra ao ser humano a importância do que afinação para o instrumento corporal incide
há por trás das aparências. Ela desvia o em “harmonizar a saúde”, “temperar a
olhar interior daquilo que os medos, as saúde”, “purificar a saúde”, “enobrecer a
culpas e as vergonhas insistem em focar saúde”. A saúde ao qual se refere à afinação
para esconder as verdades invisíveis do ser foi associada neste trabalho com os três
– tão invisíveis quanto a própria música. É níveis existenciais do ser humano: saúde
um mistério intangível e ao mesmo tempo mental, saúde física e saúde espiritual.
uma das ferramentas mais poderosas de Em relação à saúde mental, “a
comunicação entre almas que existe. É autopercepção é ampliada quando sentimos
material apenas quando vemos os prazer em amar e ser amado, quando
instrumentos que originam os sons e é promovemos a paz conosco e com os outros,
imaterial como a alma que os capturam; é quando temos compaixão por nós e pelos
sentida pela materialidade da audição e pelo outros, quando desejamos apenas o
tato, porém decodificada pelo cérebro e essencial, quando valorizamos o sentimento
“transformada em imaterial”. É vivificada pelo de felicidade, quando deixamos nossa
Self, o centro da existência e a razão para imaginação desabrochar pelos resultados
que ela continue sendo imaterial, como próprios, quando admitimos e vivemos o
substrato da própria invisibilidade e presença sofrimento como parte do processo de
incontestável da existência espiritual interior. crescimento pessoal, quando admitimos
qualidades nossas e dos outros, quando
O instrumento corporal deixamos de lado as preocupações
excessivas, quando nos lançamos à grande
As experiências práticas de vida faz jornada da vida pessoal rumo às vitórias,
com que o ser humano perceba que toda a quando procuramos sentir-nos renascidos a
intenção de fazer algo necessita uma cada dia, quando mantemos o coração
iniciativa do corpo para que haja ação no alegre, quando rimos de nós mesmos,
mundo externo. Entretanto o corpo tem suas quando choramos no momento oportuno,
grandezas e suas limitações. A saúde é a quando meditamos, quando exercitamos
grande medida tanto dessa grandiosidade algum passatempo especial, (...)”. (CHENG,
como da limitação do corpo. Ter uma saúde 1999)
em equilíbrio seria o ideal para toda a Resumindo as ideias de Cheng (1999)
população mundial, principalmente para em relação à saúde física, pode-se ter noção
quem usa seu corpo como instrumento. de que a propriocepção aprofunda-se à
Tudo que acontece no corpo afeta a medida que fazemos exercícios com
mente e tudo que acontece na mente afeta o movimentos dinâmicos e coordenados com
corpo. Esta reação interdependente entre certa regularidade, quando dançamos,
corpo e mente mostra o quanto é quando observamos e trabalhamos nossa
indispensável ter consciência do respiração, quando nos atemos para uma
funcionamento do instrumento corporal. A postura adequada (ao sentar, ao deitar e ao
autopercepção é a porta de acesso para o ficar de pé), quando andamos com leveza e
autoconhecimento e domínio das suavidade, quando dormimos
capacidades e potenciais inatos do corpo. É adequadamente, quando nos alimentamos
preciso também dirigir a autopercepção para com sabedoria, quando evitamos bebidas
alcoólicas e/ou outras drogas que alteram o
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humor e a mente, quando procuramos ar espiritualista então tem uma dupla função: a
fresco e puro, quando nos vestimos de de sintonizar-nos com nosso próprio Self e a
acordo com o clima, quando nos precavemos de nosso Self conectar-se aos outros Selfs
de manter o pescoço aquecido no inverno, em expansão para ressoarem juntos uma
quando fazemos sexo moderadamente (o canção em busca de harmonização do
sexo em excesso consome muita energia próprio cosmos em que estamos inseridos.
vital), quando cuidamos da saúde dos dentes
e da boca, quando fazemos automassagem, Os exercícios de afinação corporal
quando usamos o tom de voz adequado para
o ambiente, quando usamos a massagem Toda a construção dos exercícios
interna dos órgãos, com sons de mantras está fundamentada na aplicação de dois
meditativos. conceitos principais: o de imaginação ativa e
Assim, “a saúde espiritual tem início de mandalas energético sonoras,
com a tomada de posse das próprias desenvolvido por este trabalho de pesquisa.
capacidades físicas e mentais (ORTIZ, O conceito de imaginação ativa, segundo o
1998). dicionário crítico de Análise Junguiana
Complementando as ideias de Cheng, (2012), refere-se “ao processo onde se dá
Ortiz (1998) deixa claro que é necessário que liberdade ao processo imaginativo em
haja um ajuste natural e confortável entre as técnicas que compreendem contemplação
auras dos seres humanos. Para isso é dramatizada. Por essa via dramática o cliente
fundamental que se encontre um ou mais pode apresentar conteúdos do inconsciente,
“guias exteriores”, sábios e praticantes da emergentes desse estado de vigília que a
“harmonização interior” para que possa se atividade oferece. É uma técnica relatada por
desenvolver um aprendizado e uma C. G. Jung em 1935, para descrever o
maturidade espiritual. Com o passar da processo de sonhar acordado”.
prática de harmonização interior, o “guia O conceito de mandalas energético
exterior” passa a ser o próprio “guia interior”. sonoras surge neste trabalho de pesquisa
A explicação do Dicionário Crítico de com base na explicação de Cheng (1999),
Análise Junguiana (2012), sobre o “guia sobre os efeitos do uso combinado de
interior”, mostra a simbologia vivificadora do movimentos circulares na vertical e na
Self“ em sonhos, mitos, animais de poder e horizontal, em forma circular – por isso
contos de fada como o Rei, o Mestre, o chamado aqui de mandalas energético
Sábio, o Herói, o Profeta, o Salvador (...) e sonoras. “Esses exercícios em forma circular
em imagens, como a cruz, a união dos ativam a energia e estimulam a interação
opostos (yin/yang), a mandala, (...)”. dinâmica dos hemisférios direito e esquerdo
Entende-se com essa explicação que o Guia do cérebro. Estas vibrações operam em
Interior desenvolvido passa a ser uma níveis mais elevados de energia, e que
“entidade etérea” e permanecer nela oferece aumentam assim o potencial criativo do
confiança, segurança, conforto e paz. O Ser artista”. (CHENG, 1999). É possível associar
interior pode se comunicar com o mundo os exercícios mais a imaginação ativa com
externo por meio de sons, emoções, mandalas e toda sua circularidade,
imagens, odores, sinais, símbolos, transpondo essa imaginação para uma
visualizações, cores ou de qualquer outro imagem de que o som cria esses mesmos
modo que haja liberação de energia do círculos com suas vibrações dentro e fora do
campo etéreo para quem o capta. corpo.
Aí sim, em relação à saúde espiritual, Tanto a imaginação ativa de Jung
a música pode atuar como profundo toque à como os exercícios propostos por Cheng são
saúde da alma, pois a música enquanto juntos, uma ferramenta bastante eficaz na
estrutura organizada e refinada, mensageira afinação psíquico corporal. Oferece uma
do contexto espiritual interior, é a própria fundamentação clara para a revelação da
musicalidade do Self. A voz do Self é a expressão vocal individual e coletiva. Os
própria voz do núcleo da existência, voz essa instrumentistas corporais “veem” seu foco
que propicia a ressonância que reverbera sonoro com a imaginação ativa, ao invés de
tanto no campo universal interior como no apenas reproduzir padrões dados e imitativos
campo universal externo, ecoando vibrações (como a voz de um artista de preferência ou
para todo o cosmo. Cantar músicas de cunho até mesmos vocalizes tradicionais das aulas
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de canto e coral). Oferece também uma consciente é que se encontra o processo


excelente oportunidade para o cantor simbólico da transcendência que neste
resgatar sua identidade vocal natural, pois a trabalho de pesquisa é chamado de afinação
própria imaginação ativa faz com que psíquico corporal.
venham os conteúdos do inconsciente do
próprio cantor, e com eles, os sons pessoais Os exercícios: afinação física – o canto e
e coletivos que também estão por lá. o movimento da phoenix arquetípica
(exercícios de CHENG, 1999) – adaptação
A proposta prática: afinação psíquico para o arquétipo = resultado do trabalho de
corporal com o despertar da phoenix pesquisa)
interior e o despertar da phoenix –
buscando dentro de si a função 1- Exercício de acordar e relaxar (a
transcendente da psique Phoenix relaxada versus a Phoenix
pronta para caminhar) – entoando o
Segundo o dicionário Crítico de canto da Phoenix: iniciando com os
Análise Junguiana (2012), “a função joelhos flexionados e o corpo contraído,
transcendente representa o vínculo entre os ao inspirar o ar, estica os joelhos e
dados da realidade e do imaginário e que estende-se até abrir todo o corpo e
preenchem a lacuna entre o consciente e o braços no espaço; ao expirar, contrai-se
inconsciente, interligando-os através de uma e flexiona os joelhos voltando à posição
lógica funcional. Essa ligação é resultado da original: ao soltar o ar, entoa-se um
criação de caminhos simbólicos para canto improvisado de um pássaro
representar as forças opostas e antagônicas qualquer.
que provocam o fenômeno do conflito. 2- Exercício de abrir as asas (a Phoenix
Metaforicamente, no campo da teologia, é desenvolve a abertura e o fechamento
conhecida como uma benção dos céus”. das suas asas) – entoando o canto da
A função transcendente na Phoenix: iniciando com os joelhos
Arteterapia é observada no processo de flexionados, tronco ereto e braços soltos
produção simbólica do cliente. Os símbolos ao lado do corpo, ao inspirar o ar, estica
considerados na análise da função os joelhos e levanta-se os braços como
transcendente podem ser imagéticos, num movimento ascendente de bater
sonoros e também sinestésicos, assim como asas; ao expirar, abaixa-se os braços e
nos sonhos. Os sonhos (produtos do flexiona os joelhos voltando à posição
inconsciente) são compostos de imagens, original: ao soltar o ar, entoa-se um
sons e movimento (sinestesia) ou sensações canto improvisado de um pássaro
dos órgãos dos sentidos. Esta é a chave para qualquer.
entender que o inconsciente está povoado de 3- Exercício do voo (a Phoenix desenvolve
sons e movimentos, além das imagens. e coordena o equilíbrio do seu voo por
Ao considerar essas definições, o sobre a terra) – entoando o canto da
despertar da Phoenix é uma metáfora que Phoenix: Iniciando com apenas uma
traz o mito do renascimento e da perna no chão e joelho flexionado (a
transformação para a realidade objetiva no outra fica esticada para trás, no ar),
trabalho com a afinação psíquico corporal. braços largados ao lado do corpo, ao
Encontrar com a Fênix em termos de inspirar, impulsionar o corpo para cima,
afinação corporal significa uma metáfora de esticando os joelhos e abrindo os braços
conectar os dois universos (do consciente e no movimento de abertura das asas; ao
do inconsciente) como um renascimento e expirar, descer os braços no movimento
uma transformação dessa ligação em si no de fechamento das asas e novamente
trabalho simbólico dos sons e dos flexionar o joelho: ao soltar o ar, entoa-
movimentos. Esse resultado de ligação entre se um canto improvisado de um pássaro
os dois mundos é como se fosse a gota da qualquer. Este exercício requer uma
lágrima que faz resgatar o vigor e a energia habilidade mais elaborada de equilíbrio e
do Self para benefício próprio das saúdes coordenação.
física, mental e espiritual. É nesse resultado 4- Exercício de bater as asas (a Phoenix
de ligação energético sonoro e sinestésica finalmente voa por sobre a terra) –
entre o mundo do inconsciente e do entoando um canto livre, da própria
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Fênix interior despertada: é neste profunda, fazendo com que as atividades


exercício que o corpo se solta no fossem aproveitadas no íntimo pessoal e
espaço, andando pelas pontas dos pés, coletivo. Todos participaram e todos aderiram
batendo as asas livremente, descendo e ao tema e à proposta.
subindo o corpo no espaço, mirando os Nos exercícios de afinação física, os
outros participantes do grupo que participantes trouxeram elementos
também estão se soltando. Respiração sinestésicos pessoais para dar vida à Fênix
profunda onde: inspiração muito interior despertada. No exercício de acordar
profunda e expiração com canto que e relaxar sentiu-se uma profunda
agora é chamado de Phoenix interior interiorização, com o momento do despertar
despertada. muscular para o equilíbrio que o exercício
requeria. Foi um momento claro em que o
Afinação mental: mandalas energético corpo realmente buscou um estado de
sonoras (CHENG, 1999): atenção especial para a proposta de
despertar, tanto no campo psíquico como
1 - Puxar (imaginar) um tom qualquer caindo físico, observado pela insistência e pelo vigor
para dentro da laringe (inspiração) e soltar o das ações individuais do exercício. No
ar com ruído de fuuuu (expiração). exercício de abrir as asas, o momento foi de
2- Puxar (imaginar) um tom qualquer caindo calorosa alegria e contagiante reflexão à
para dentro da laringe na inspiração e ao liberdade. Alguns participantes começaram o
expirar, cantar o mesmo som imaginado na bater das asas com certa tensão e medo, o
entrada (ao mesmo tempo em que o som sai que à medida do desenvolvimento da
continuar imaginando ele entrando e atividade foram aos poucos desenvolvendo a
caindo na laringe) – (imaginação circular plenitude do movimento. Foi um momento
vertical). em que o treino do bater as asas configurou
3 - Entoar o mantra SO-HAM (SO, pra a ligação com o dar asas a imaginação,
dentro, na inspiração e HAM pra fora, na porém apenas em fase de testes por ainda
expiração) fazendo movimentos circulares estar com os pés presos ao solo. Percebi
com a mão no topo da cabeça (imaginação certo contentamento com a possibilidade de
circular horizontal). voltar a usar as asas míticas para alçar os
voos internos possíveis de se fazer. No
Afinação espiritual: a afinação psíquica exercício do voo, tanto a sensação como a
coletiva = harmonia sonoro corporal emoção do ser completo em ação com as
próprias asas foram incríveis. Por se tratar de
Música coletiva (SiahambEkukanieny- um exercício onde o equilíbrio em ficar
Kwenkos), com elementos de canto, apenas na ponta de um dos pés é
percussão vocal, percussão corporal e dança fundamental, a sensação do voo era
circular criativa (coreografia composta especialmente sentida à medida que esse
espontaneamente). estado de equilíbrio era atingido pelos
Segue link da música (You Tube, 2012) participantes. Palavras como: “eu estou
http://www.youtube.com/watch?v=QYKKRT0 voando mesmo” e “nossa, parece que decolei
0yTM&feature=related no ar” foram algumas das reações marcantes
dos participantes nesse exercício. No
CONCLUSÃO exercício de bater as asas coletivamente, aí
A aplicação da Afinação Psíquico sim houve a grande explosão da liberdade
Corporal foi aplicada em dois grupos, um coletiva. Os participantes puderam então
com 36 participantes de um curso de experimentar o grande voo arquetípico em
especialização em abril de 2012, cujo tema seus próprios corpos. Foi um momento de
foi trabalhado em uma das aulas, e outro grande interação, alegria, emoção e
com 40 alunos participantes de um curso de comoção do grupo. A interação entre as
formação de cantores, em maio de 2012. pessoas foi possível porque neste exercício,
Tanto em um grupo como em outro, o voar pode associar também o
observou-se que a afinação psíquico corporal deslocamento pelo ambiente. Com esse
despertou uma enorme variação de reações deslocamento, os participantes puderam
e sentimentos. Os dois grupos como um todo confrontar-se em voo arquetípico uns com os
se envolveram no trabalho de forma outros, tendo como efeito a consciência do
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voo de si inserido num contexto do voo do transcendência total, em que as pessoas


grupo. Também foi possível observar o entreolhavam-se assombradas com tamanho
quanto o voo fez com que as pessoas se poder de harmonização que emitiam das
comovessem com a sensação de liberdade próprias vozes. A música foi afinada
que o arquétipo provoca. Alguns rapidamente e assim a condução da
concordaram entre si que não imaginavam atividade para que cada grupo se
que voar ainda fosse possível nesta vida subdividisse em seis participantes cada,
(sic). Outra participante relatou que o voo aconteceu de forma tranquila e pacífica, sem
trouxe a certeza de que somos nós os tumulto muito menos falatório. Cada grupo
responsáveis pela própria ancoragem e começou novamente a entoar a canção e
libertação delas (sic). Outra participante criou uma coreografia espontânea com
comentou que houve uma profunda movimentos das mãos em círculos: o que
sensação de segurança e autonomia (sic). neste estudo foi chamado de mandalas
Outra ainda, falou do quanto deixamos de corporais. Cada grupo juntava as mãos,
voar pelas adversidades do dia a dia, e que braços, pernas, combinando movimentos e
agora ela sabe que pode fazer uma pausa elementos da dança circular em formas vivas
para voar nesses momentos. Da afinação de mandalas únicas e é claro, vindas do
física, conclui-se que foi uma experiência que processo anterior de imaginação ativa
tocou no aspecto delicado do ser livre, pois realizadas nas etapas anteriores. Tanto no
mostrou ao participante que existe um grupo de abril como no grupo de maio, os
potencial latente para o voo e que é este voo resultados de afinação coletiva foram
que representa a liberdade do ser. surpreendentes e satisfatórios ao extremo.
Na afinação psíquica foi observada De posse destes fatos e desta
uma certa dificuldade em imaginar a pesquisa, é contundente concluir que o
circularidade dos sons. Neste momento, foi trabalho de afinação psíquico corporal revela
que surgiu a complementação da imaginação um método novo de acesso ao inconsciente,
com o movimento dos braços desenhando os por meio das linguagens musical e corporal.
círculos no topo da cabeça (imaginação É importante concluir que são linguagens
circular horizontal) e os círculos na frente do úteis e especialmente eficazes para se
corpo, de cima para baixo (imaginação mediar um processo de libertação e
circular vertical). Com os movimentos transcendência, tanto no indivíduo como na
sinestésicos circulares, a constatação de que interação desse indivíduo com outros. Ficou
a sonoridade alcançou um grau de pureza e claro que a manifestação sonora e
equilíbrio foi evidente. Foi interessante sinestésica revelam aspectos do inconsciente
concluir que a sinestesia realmente ativa as tanto quando a imagem os revela. É
memórias arquetípicas de energização do importante deixar firmado que o trabalho do
corpo, e que essa energização do corpo é arteterapeuta nestas áreas é possível e deve
transmitida para a laringe e traduzida em ser promovido tanto quando os trabalhos
ondas sonoras especialmente ligadas a essa com artes visuais.
memória arquetípica. O som veio mais puro e
limpo e a preparação tanto de um grupo BIBLIOGRAFIA
como de outro começou a tomar uma forma CHENG, S. Chun-Tao. O tao da voz. Trad. Anna
mais homogênea e harmoniosa. Foi neste Christina Nyström. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
LACERDA, O. Compêndio de teoria elementar da
instante que as vozes que antes música. 10ª Ed. São Paulo: Ed. Ricordi Brasileira,
exacerbavam individualidade cessaram seus 1997.
gritos desesperados de atenção para uma LUFT, C. P. Minidicionário LUFT. 11ª Ed. São Paulo:
aceitação do valor da coletividade ali Ed. Ática, 1996.
ORTIZ, J. M. O tao da música. São Paulo: Mandarim,
presente. Foi lindo observar esse fenômeno 1998.
todo se fazendo afinado pelo som uníssono SÁ, S. Fábrica de sons. 3ª Ed. São Paulo: Globo,
de um timbre único de todo um grupo. 1998.
E, para finalizar, a afinação psíquico SADIE, S. Dicionário grove de música. Trad. Eduardo
coletiva foi o ápice de ambos os grupos. Foi Francisco Alves. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994.
Wikipédia -a (2012) pensamento mágico:
o momento em que eles sentiram o propósito http://pt.wikipedia.org/wiki/Pensamento_m%C3%A1gico
de todo esse estudo na prática: a afinação de Wikipédia –b(2012) musas:
dois grupos cantando melodias diferentes, http://pt.wikipedia.org/wiki/Musas
porém complementares. Foi um momento de Dicionário Crítico de Análise Junguiana:
http://www.rubedo.psc.br/dicjunga.htm
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O despertar da phoenix interior


Arthur Fernando Drischel

Mandala corporal

(Curso com o autor promovido pela ASBART – Associação Baiana de Arteterapia, em Salvador – BA,
em dez/2012 – fotos de Celeste Carneiro)

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Uma oportunidade para o Livre Pensar

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2. METODOLOGIAS INTEGRATIVAS: ABRINDO NOVOS CAMINHOS PARA A CRIAÇÃO


COLETIVA NA GESTÃO SOCIAL

Maria Suzana Moura*

RESUMO

Trazemos aqui uma narrativa e reflexão sobre o tema das Metodologias Integrativas com base no
que temos vivenciado com grupos na universidade e em outros contextos. A nossa intenção é
abrir o diálogo sobre as possibilidades de gerarmos coletivamente “novos” conhecimentos, nas
salas de aula e em ambientes de gestão social, a partir da “religação de várias dimensões” do ser
humano, incluindo o contato com o corpo e o deixar vir o sensível e o intuitivo. A narrativa está
estruturada da seguinte forma: após a introdução descrevemos o modo como temos abordado o
tema das Metodologias Integrativas (MI) na sala de aula e nas oficinas fora da universidade, o que
denominamos nesta narrativa de trilha; em seguida tecemos um breve diálogo entre as definições
geradas nos grupos com os quais temos trabalhado e o conceito de MI que encontramos em
Gianella (2008) e Gianella e Moura (2009), momento em que podemos ver as convergências e o
conhecimento novo gerado; encerramos a narrativa com algumas considerações visando o
aprofundamento da reflexão.

PALAVRAS-CHAVE: Metodologias Integrativas, Gestão Social

________
* Maria Suzana Moura - Doutora em Administração Pública pela Universidade Federal da Bahia. Formação complementar em
Dinâmica Energética do Psiquismo e Técnicas de Yoga para Educação. Professora Associada da UFBA. Integrante do Grupo de
Pesquisa Paideia - Laboratorio de Pesquisa e Extensão sobre Metodologias Integrativas na Educação e Gestão Social.

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ABERTURA AO DIÁLOGO sobre as experimentações que muitos de nós


temos trilhado – o campo das Metodologias
A percepção da gestão social Integrativas. E é deste lugar que falamos e
enquanto liderança coletiva nos remete a que tecemos as experiências que
uma vontade partilhada por muitos que propiciaram a narrativa/reflexão que segue,
1
vivenciam este campo - a aprendizagem e a sendo este um convite ao diálogo.
prática de valores emancipatórios As experiências que vamos abordar
(solidariedade, cooperação, justiça, respeito aqui são duas oficinas sobre Metodologias
à diferença, democracia participativa e zelo Integrativas2 e uma atividade em sala de aula
com a vida) no próprio processo de gestão; na universidade3; embebidas pelas vivências
onde quer que esta se realize, em anteriores com estudantes da graduação e
organizações da sociedade civil, estatais, da pós graduação, desde 2008. Tais
empreendimentos econômicos, territórios, experiências têm evidenciado o quão
redes colaborativas, entre outras (Moura, fecunda é a conexão com a nossa natureza
Moura e Calil, 2009). mais próxima, o nosso corpo, aliada a
Podemos dizer que a prática dessa interação das pessoas e a disposição das
gestão social requer metodologias que cadeiras em círculos. Esses dois elementos
estimulem o diálogo, o reconhecimento e de conexão pessoal e coletiva propiciam um
respeito das diversidades; que fortaleçam as caminho de encontro com o sensível e o
capacidades de escuta e fala integradas, e intuitivo e de mobilização das pessoas para a
de (cri)ação coletiva de planos, projetos e produção compartilhada do conhecimento,
ações de desenvolvimento eco-socio- para criar coletivamente.
territorial. Trata-se de uma mudança E como isso acontece? Através de
significativa frente aos modelos de gestão diferentes chaves: toques, movimentos
dominantes, baseados na hierarquia, nas corporais, respiração, sons, ativação dos
tomadas de decisão centralizadas e na sentidos no contato com a natureza exterior a
separação entre quem decide e quem nós; integração de múltiplas linguagens de
executa. Observando muitas das nossas percepção e expressão, olhar e partilha com
reuniões e salas de aula vamos nos deparar o outro e com o coletivo, entre outras
com pessoas presentes ausentes, um ou dinâmicas de grupo.
poucos falando, reproduzindo a verticalidade Com base nesse tipo de dinâmica,
e as relações de mando obediência e temos observado a emergência de campos
absenteísmo. Isso tende a acontecer, de unidade e (in)formação que favorecem a
inclusive, nos processos participativos. mudança de percepção sobre nós mesmos e
A esse respeito, Gianella (2008) nos o nosso entorno e, também, a co-criação
fala da necessária virada paradigmática coletiva. Este é um ponto que merece ser
frente aos dilemas que se apresentam nos aprofundado no âmbito das metodologias
processos participativos, na medida em que integrativas, sendo este ensaio um passo
se mostram insuficientes os códigos nessa direção.
tecnocientíficos baseados, essencialmente, Vejamos, então, o caminho que temos
na racionalidade lógico-analítica-verbal. trilhado com os grupos para deixar vir as
Virada paradigmática que pode ser percepções sobre o que são Metodologias
propiciada pela integração, no âmbito da Integrativas (ou quaisquer outros temas),
formação e da gestão, de dimensões sem nenhuma leitura ou exposição prévia
esquecidas do humano, do ser fazer humano sobre o tema.
– corpo, emoção, intuição, arte… É aqui que
encontramos um campo fértil para dialogar A TRILHA

1 A Gestão Social é um campo de práticas diversas, 2 Falamos, especificamente, da oficina realizada em


antigas e novas, que vem se constituindo como campo outubro de 2011 a pedido dos integrantes do
de conhecimento, que se manifesta, entre outros, Programa Eco bairro do Instituto Roerich de
através de cursos de graduação e pós-graduação e do Salvador, e a realizada em março de 2012 no
Encontro Nacional de Pesquisadores em Gestão Fórum Nacional de Educação Ambiental, também
Social, que acontece desde 2007. Encontramos nos em Salvador/BA
anais desses encontros um amplo debate conceitual 3 Na graduação e na pós-graduação. Encontro com
sobre Gestão Social, mas este não é nosso objetivo estudantes da graduação sobre o tema das MI, em
aqui. abril de 2012
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Ponto de Partida livres ou outros que permitam trazer a


Um ambiente harmonizado e que consciência para o momento presente e para
favoreça a interação é um dos elementos as sensações de conforto, desconforto,
básicos que caracteriza o campo das MI. Um conforto. Este é um portal para adentrar, em
passo é colocar as cadeiras (ou almofadas, seguida, ao tema.
ou bancos...) em círculo, seja numa sala na “Fomos para o corredor onde fizemos
universidade, ou num centro de convenções, um grande círculo ovalado e realizamos um
ou, ainda, em uma varanda e um jardim. O exercício de desbloqueio, revitalização e
centro pode ser constituído com um ou mais percepção dos meridianos, baseado no Chi
objetos ou, simplesmente, com um papel Kung 6. Damos seguimento no despertar da
onde escrevemos/desenhamos o tema, para sensibilidade e conexão com a Teia da Vida
ajudar na formação do círculo e na coesão em cada um de nós, solicitando para cada
do grupo. um tocar na superfície do corpo, sentir o
A chegada das pessoas vai interior e fazer movimentos que normalmente
compondo o cenário e, a depender da hora e não faz; percorrendo uma trilha de
do ânimo que chegam, podemos dispor de reconhecimento desta Natureza mais
um ou mais recursos para auxiliar no próxima; percebendo sensações e
despertar das pessoas e na criação de um sentimentos (os vários sentidos foram sendo
ambiente mais harmonizado, a exemplo da ativados desde o início da oficina)” 7.
utilização de músicas apropriadas e de “Fomos conduzidos a tomar
essências aromáticas (óleo essencial de consciência corporal, fazendo movimentos de
laranja doce, de tangerina...) 4. automas-sagem e de alongamento, para
“À medida que as pessoas iam depois sairmos andando pela grama a fim de,
chegando sentiam o cheiro, olhavam, e à medida que andávamos, fazer reflexão
recebiam uma gota da essência na mão, sobre o tema Metodologias Integrativas –
ativando o olfato de forma prazerosa” 5. foram sendo dados comandos para parar e
O encontro (a oficina, a aula...) inicia compartilhar com a primeira pessoa que
no momento em que as pessoas vão encontrasse à sua frente” 8
chegando, inclusive pelas interações que vão Tanto nas oficinas, como na sala de
acontecendo. aula, temos percebido que este tipo de
prática permite criar um campo de unidade,
O Corpo, Ativando a Presença um campo fecundo para o fluir da intuição e
de outros níveis de percepção. Após uma
Estando todos aconchegados breve pausa no processo de caminhada
partimos para reafirmar porque estamos ali e, introduzimos uma pergunta, por exemplo: O
conforme o grupo, para a apresentação dos que são as Metodologias Integrativas?
participantes. Expressar o nome ou outra “Vamos caminhar e sentir que
informação é mais um passo para que as estamos adentrando num campo de
pessoas se tornem presentes, no momento informação sutil das MI. Qual a palavra, frase
presente. No entanto, não é suficiente. ou imagem que vem quando perguntamos –
Nesta parte da trilha resgatamos uma o que são as MI?”
das dimensões esquecidas de nós nos
ambientes da educação, da administração…, Deixando Fluir a Intuição, Co-Criando
ou seja, o nosso corpo que é a Natureza
mais próxima de nós. Este é outro passo As percepções geradas em cada um
fundamental para ativar o sensível e o dos participantes podem ser compartilhadas
intuitivo e expandir a nossa Presença. Para no encontro com uma ou duas pessoas e/ou
isso convidamos as pessoas a uma prática registradas no papel. É interessante quando
corporal: automassagem, alongamento, dispomos de lápis e pinceis de várias cores,
respiração, caminhada, dança, movimentos
6 Exercícios de harmonização e desbloqueio que
permite o fluir da energia vital – parte dos
4 Óleo essencial de laranja doce e de tangerina ensinamento da medicina tradicional chinesa.
podem ser encontrados em lojas de produtos 7 Ver nota 4
naturais 8 Relato da Oficina realizada em outubro de 2011
5 Relato da oficina realizada no Fórum Nacional de com integrantes do Ecobairro/Instituto Roerich
Educação Ambiental (março/2012) (Salvador)
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pois estimula a expressão. A depender do pessoa e, posteriormente, a reunião em


tamanho do grupo podemos registrar em um pequenos grupos para gerar novos
único papel (tipo papel metro) ou em folhas significados.
individuais (tipo A4).
“Após estes momentos fomos SIGNIFICADOS GERADOS NAS OFICINAS
solicitados a registrar, em um papel metro
comum, as imagens e palavras que vieram e As definições elaboradas como
que foram partilhadas (uma mandala síntese verbal nos subgrupos, em cada uma
conceitual). E, na sequência, fomos das vivências, nos revelam convergências
convidados a observar a mandala e escrever com o conceito que encontramos em
uma definição do nosso novo entendimento Gianella (2008) e em Gianella e Moura
sobre Metodologias Integrativas” 9 (2009) a respeito das Metodologias
Os registros individuais levam a Integrativas e, ao mesmo tempo, trazem
tecitura de uma espécie de mandala aspectos que agregam ao conhecimento já
conceitual10, que integra as percepções de sistematizado. É interessante observar que
cada pessoa sobre o tema, em forma de isso acontece sem que as pessoas tenham
palavras, frases, símbolos e outras imagens. lido anteriormente sobre o tema.
Ao observarmos o conjunto dos registros (em Em Gianella e Moura (2009, p.6)
um único papel ou nos papeis individuais encontramos que as MI “visam propiciar a
dispostos em círculo no chão) os produção do conhecimento interativo, (...)
participantes são estimulados a fazer pretendem valorizar as competências reais
conexões e sínteses. Este é um caminho dos sujeitos envolvidos em cada processo e
para elaboração coletiva do conhecimento mobilizar na esfera pública toda riqueza do
que integra o sensível, o intuitivo e o intelecto humano (...).”
É interessante observar que os E mais, “São meios que nos levam a
movimentos corporais anteriores focados no integrar as nossas múltiplas inteligências,
sensorial e no sentimento, assim como o como, por exemplo, a analítico racional com
posicionamento em círculos, têm o potencial a estética, a intuitiva, a sensível (…).” (idem)
de gerar um campo fecundo para a primeira Neste campo, o “Recurso às artes e ao lúdico
aproximação com o tema. As percepções são instrumentos potencialmente poderosos,
intuitivas geradas nas oficinas e na sala de porque tocam teclas, despertam e legitimam
aula, quando se faz a pergunta “o que são as sensibilidades outras com respeito àquelas
Metodologias Integrativas”, têm convergido puramente racionais.” (idem)
em alguns aspectos: integração em vários Ainda com as autoras temos que “o
níveis, do pessoal ao coletivo; o poder de respirar, o movimentar-se, o tocar-se… são
pacificação; a presença da arte e do lúdico; recursos que nos ajudam a relaxar, a nos
entre outros. Todos são aspectos do campo centrarmos, a nos mantermos mais inteiros,
das MI. um caminho para integrarmos pensamento,
Um grande desafio que temos sentimento, ação, para integrarmos a
encontrado é a tecitura de uma síntese percepção sensorial no processo de ensino-
coletiva que integre o sensorial, o aprendizagem e de gestão social” (idem, p.
sentimento, a intuição e o conhecimento 23 e 24)
prévio, sem que a nossa maneira corriqueira A seguir destacamos as sínteses
de pensar/falar, lógica e analítica, domine a elaboradas nos eventos aqui relatados e,
cena. Nos grupos procuramos chamar a como veremos adiante, encontramos muitos
atenção para este ponto. Uma possibilidade pontos de contato com as definições acima e
é iniciar com uma breve síntese do que alguns acréscimos que vem enriquecer este
observamos dos registros e, a partir daí, as campo de conhecimento e práticas.
pessoas agregam e criam outras sínteses.
Outra possibilidade é a elaboração individual Sínteses elaboradas pelos subgrupos na
de definições a partir do observado por cada oficina de outubro de 2011…

“Metodologias Integrativas são


9 Ver nota 7
10 Uma das técnicas que utilizamos na formação do “ferramentas” (recursos) simples e naturais
RYE (Rede de Investigação sobre Yoga na que trabalham o corpo, a mente e o espírito,
Educação).
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criando um caminho de integração do ser nos expresso nos elementos da natureza e na


âmbitos individual e coletivos (na teia da relação do homem com Deus”. 11
vida/na natureza). Tais metodologias Agora, vamos às definições sobre MI
possibilitam a troca de saberes, resgatam a elaboradas pelos estudantes na sala de aula
sabedoria dos círculos e abrem para espirais (abril/2012).
de consciência e síntese. Fortalecem os “Propiciam a união dos sentidos e do
vínculos de cooperação e comunhão com o intelecto... diversas formas de saberes e
sagrado, chamando o SER para a Presença expressões”.
no aqui e agora, através do diálogo, da “Novas formas de construção em
escuta ativa, do ancoramento e alinhamento. Grupo… Favorece o Criar Juntos”.
“Após vivenciar várias metodologias e “Metodologias Integrativas são
experiências, o ser humano, no seu caminho recursos provindos de diferentes
evolutivo em direção ao centro de si mesmo racionalidades, que se unem
e ao processo de percepção da unidade, complementando umas as outras, e
busca um caminhar de reintegração do corpo potencializam a formação de novos
mente e espírito, se integra ao todo, conhecimentos, numa lógica de inovação e
formando grandes redes interconectadas aprendizados contínuos”.
espiralizadas numa forma de viver; através “Favorece o aprendizado e o advento
da união, harmonia, acolhimento, solidarie- da imaginação para transformar a realidade”.
dade, iluminação e paz...” “Formas de reunir subjetividades com
Não é nossa intenção aqui aprofundar harmonia, cores e unicidade, numa
a análise das definições acima. Queremos convergência e cooperação, para o intuito
destacar o fato de que, sem leitura prévia ou maior que será a transformação do ser
qualquer exposição sobre o tema, os grupos social, na sua beleza maior que é a
criaram sínteses a partir das percepções habilidade de viver em grupo/comunidade,
individuais, que convergem e acrescentam para seu fortalecimento”.
ao conceito de Metodologias Integrativas, “MI é trabalhar, construir ações em
conforme as autoras citadas trazem. Este conjunto, aprender com o outro, assumindo
fato nos coloca diante de um potencial de que todos somos aprendizes, que há várias
construção coletiva do conhecimento quando realidades”.
integramos o sensível e o intuitivo tendo Partindo das convergências, é
como elementos catalisadores a observação interessante observar que uma primeira
e movimentos corporais, o posicionamento aproximação ao tema, com base no sensível
do grupo em círculo, as artes e o lúdico. e no intuitivo, possibilita que os grupos
Vamos seguir adiante com o registro destaquem uma série de elementos que
das sínteses elaboradas pelos subgrupos na caracterizam as MI, conforme encontramos
oficina de março de 2012. em Gianella (2008) e Gianella e Moura
“Metodologias Integrativas constituem (2009):
um campo de Sabedoria-legítima, com poder • Trabalham o corpo, a mente; o corpo
de gerar conexões entre pessoas, da pessoa e a arte; o diálogo e a escuta ativa.
consigo, com o meio e com o Divino, ativa e • Integram os sentidos e o intelecto;
integra conhecimentos individuais e coletivos diversas formas de saberes e
e sentimentos de paz, harmonia e unidade. O expressões; diferentes
corpo e a arte são chaves para criar e agir racionalidades.
em coletivo, com base em propósitos • Propiciam e contribuem para integrar
comuns”. o ser nos âmbitos individual e
“Metodologia Integrativa é coletivo; estabelecem conexões entre
sensibilidade no pensar e agir criativo frente pessoas e da pessoa consigo;
a um objetivo comum”. fortalecem os vínculos de
“Metodologia Integrativa é um campo cooperação; ativam e integram
epistemológico que estabelece conexões conhecimentos individuais e coletivos.
intrapessoais (amor, harmonia, paz) e • Permitem, ainda, elaborar novos
interpessoais (amor, harmonia, paz, unidade)
em prol da construção de objetivos comuns,
utilizando a arte como saber criativo, 11 Esta última definição foi escrita por uma pessoa ao
final da reflexão do primeiro grupo.
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conhecimentos; criar e agir em o que existe..., afeta-nos de maneiras que só


coletivo; e construir objetivos comuns. agora principiamos a compreender”. E, ainda
É interessante observar, também, que com o autor, “Em vez de considerarmos o
essa mesma trilha de co-criação coletiva campo como algo separado da nossa
contribui para que novos significados realidade do dia a dia, o que os experimentos
emerjam, enriquecendo o conhecimento e a nos dizem é que o mundo visível, na
prática das MI. Destacamos a seguir alguns realidade, é a origem do campo… todas as
desses novos elementos: coisas são apenas ondulações do campo”
• Trabalham o espírito, além do corpo e (p.43).
da mente, e resgatam a sabedoria E, ao que parece, deixamos este
dos círculos. campo vir à consciência quando nos
• Propiciam um caminho de integração entregamos, em coletivo, à experiência da
na teia da vida/na natureza; de respiração, do movimento, da arte e do
integração com o meio e com o lúdico. O que chamamos anteriormente de
Divino; a comunhão com o sagrado, campo de unidade, um campo fecundo para
chamando o SER para a Presença no o fluir da intuição e de outros níveis de
aqui e agora; abrem para espirais de percepção. Isso, pudemos observar nos
consciência e síntese; conexões grupos com os quais trabalhamos, um
intrapessoais (amor, harmonia, paz) e processo de co-criação do conhecimento
interpessoais (amor, harmonia, paz, sobre Metodologias Integrativas.
unidade)
• Geram sensibilidade no pensar e agir ENCERRANDO A NARRATIVA...
criativo, frente a um objetivo comum;
e sentimentos de paz, harmonia e As percepções intuitivas e as sínteses
unidade. sobre Metodologias Integrativas, que foram
• É um campo epistemológico, um geradas nos grupos, revelam a ponta do
campo de Amor–Sabedoria. iceberg do potencial que temos e
vivenciamos. O trabalho a partir dos círculos,
Com esses pontos deixamos vir à mobilizando o corpo-natureza, a arte e o
tona, na formação e na gestão social, mais lúdico, despertam teclas que estavam
uma dimensão esquecida do humano, a adormecidas em nossa consciência de
dimensão espiritual, a dimensão sutil que humanidade e abrem possibilidades de
perpassa e é base da nossa existência. novas conexões neurais e de integração em
Muitos de nós estranhamos quando trazemos vários níveis (do pessoal ao coletivo e com a
esta dimensão nos espaços da tecnociência Teia da Vida).
e, portanto, da educação, da gestão, da O poder de harmonização e de
política, entre outras. Este estranhamento é pacificação, que podemos experimentar com
compreensível, pois esta dimensão foi as Metodologias Integrativas, cria canais
negada ou vivida apenas nos espaços para que possamos lidar de forma mais
privados e religiosos, desde que fizemos a criativa com os conflitos e tensões que
necessária cisão entre ciência e religião no presenciamos, com os desafios que
ocidente, lá pelos idos do XVI. encontramos em termos do relacionamento
Recentemente, a dimensão do sutil e entre pessoas, da escolha dos caminhos a
espiritual vem sendo tocada e reinserida e seguir e da sustentabilidade dos projetos e
um novo diálogo fecundo se estabelece, com grupos, na sala de aula e em outros âmbitos.
as contribuições da física quântica, da teoria Certamente, limitações e paradoxos
dos sistemas vivos, da psicologia também se revelam nessa caminhada.
transpessoal, do movimento da transdisci- Destacamos aqui o que nos parece um corte
plinaridade, entre outras abordagens. Assim, na passagem dos estados de sensibilização,
a própria ciência tem tocado no que quietude, alegria e/ou celebração em grupo,
vivenciamos enquanto experiência para o momento de atribuição de
transcendente (Divino, Espírito, Prana, Chi, significados/sentidos, integrando os códigos
Tao…) e tem evidenciado, conforme Braden da racionalidade lógica verbal. Parece-nos
(2008, p.43), “a existência de um campo de que a riqueza do que se vivencia e se
energia permeando nosso mundo... Liga tudo percebe a partir da intuição e da expressão
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com símbolos, palavras, cenas, poesia e/ou CAPRA, Fritjof. As conexões ocultas:
música, se perde, em parte, quando Ciência para uma Vida Sustentável. São
adentramos o momento da compreensão Paulo: Editora Pensamento-Cultrix Ltda,
intelectiva – que tende a se realizar através 2003.
da associação, correlação, análise crítica e
síntese verbal. Seria este um paradoxo entre GIANELLA, Valeria. Base Teórica e Papel
o sensível e substantivo e o instrumental (a das Metodologias Não Convencionais para
delimitação de objetivos/ações e alcance de Formação em Gestão Social. In. CANÇADO,
resultados) no âmbito da gestão? Esta é uma Airton et al (orgs). Os desafios da formação
questão que merece ser aprofundada e, para em gestão social. Palmas, Tocantins: Nesol;
isso, precisamos recorrer e dialogar com UFT; Católica do Tocantins; UNITINS, 2008.
outros campos de conhecimento e teorias, p. 11-36, (Coleção ENAPEGS; v. 2).
alguns que são afins a gestão social
(aprendizagem organizacional, por exemplo) Giannella, Valéria; Moura, Maria Suzana.
e outros que, ainda, estão distantes (estudos Gestão em rede e metodologias não
transpessoais, psicologia social, dinâmica de convencionais para a gestão social.
grupos e teoria dos sistemas vivos, por Salvador: Editora CIAGS, 2009. v. 2. (Série
exemplo). Este é um convite para seguirmos Editorial CIAGS / Roteiros Gestão Social).
adiante com o campo das Metodologias
Integrativas na formação e na gestão social. MOURA, Maria Suzana; MOURA, Solange;
CALIL, Monica. Sala em cena: jogos
teatrais na formação do/a gestor/a social.
REFERÊNCIAS Revista Terceiro Incluído: transdiscipli-
naridade e educação ambiental. Goiânia, v.1,
BRADEN, Gregg. A matriz divina: Uma n.1, p. 57-74, jan./jun. 2011. ISSN 2237079X.
Jornada através do Tempo, do Espaço, dos Disponível em: <
Milagres e da Fé. São Paulo, Cultrix, 2008. www.revistas.ufg.br/index.php/teri/article/view
/14389>. Acesso em 2012.

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Uma oportunidade para o Livre Pensar

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3. SÍNDROME DE PÂNICO: DIAGNÓSTICO E PERSPECTIVAS QUANTO AO


TRATAMENTO TRANSDISCIPLINAR
Uma Abordagem da Medicina à Psicologia Transpessoal

Norma Alves de Oliveira*

Um dos distúrbios psíquicos formigamento) e, no entanto, era tratado


enquadrado nos transtornos de ansiedade como apresentando questões somáticas ou
que tem causado imenso sofrimento na conversivas, em que muitas vezes com o
humanidade tem sido o Transtorno de perjorativo de Pitti, recebiam um placebo em
Pânico. Estudos epidemiológicos calculam meio a gozações com desvalorização
que aproximadamente seis milhões de norte- daquela dor profunda da alma. Tem recebido
americanos adultos apresentem transtorno na área médica denominações diversas
de pânico, dentre os quais, apenas 60% dos como: síndrome do coração irritável,
diagnosticados nas unidades de atenção síndrome de DaCosta, síndrome do esforço,
primária cuja prevalência é em torno de 19%, síndrome da hiperventilação, astenia
recebem tratamento adequado (MELLO, neurocirculatória, etc. (RAMOS, 2009)
2008). Na proporção de 2:1, é mais frequente
nas mulheres. Quadro Clínico
Desde 1980 que o diagnóstico
Transtorno de Pânico foi inserido na terceira O Transtorno de Pânico caracteriza-
edição da classificação norte-americana de se por ataques recorrentes de início brusco,
Psiquiatria, no DSM-III (Manual de podendo atingir seu pico máximo em até 10
Diagnósticos e Estatísticas de Transtornos minutos e durar em torno de 15 a 30 minutos,
Mentais) (MELLO; VALENTE, 2007), no com sensação súbita e inesperada de terror
entanto, entendemos que o transtorno (RAMOS, 2009).
sempre existiu de forma significativa, porém A pessoa apresenta mal-estar súbito,
não era devidamente diagnosticado. medo, sensação de perigo e morte iminente,
Inúmeras vezes nos serviços de ameaça à integridade física e mental,
urgência de hospitais gerais vimos chegar palpitações ou ritmo cardíaco acelerado,
pessoas expressando intensa ansiedade ou sudorese, tremores ou abalos, sensações de
medo ao extremo, ritmo cardíaco acelerado, falta de ar ou sufocamento, sensações de
taquipneia, sudorese, tremores, sensação asfixia, dor ou desconforto torácico, náusea
iminente de morte, sensação de sufocamento ou desconforto abdominal, tontura,
e/ou asfixia, dor ou desconforto torácico, instabilidade, vertigem ou desmaio, medo de
náuseas ou desconforto abdominal, perder o controle ou enlouquecer, parestesia
sensação de tontura, despersonalização (anestesia ou sensações de formigamento),
(estar distanciado de si mesmo), sensação calafrios ou ondas de calor, desrealização
de irrealidade, medo de perder o controle ou (sensações de irrealidade) ou desperso-
enlouquecer, medo de morrer, calafrio ou nalização (estar distanciado de si mesmo).
ondas de calor, parestesia (sensação de
______
* Norma Alves de Oliveira - Psiquiatra e Psicanalista Transpessoal. Mestre em Ciências da Saúde. Autora e participante de livros sobre
a Transpessoal. Coordenou pós-graduações na área de Transpessoal.

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Surge, então, a agorafobia que se nervoso autônomo do paciente com


caracteriza pelo medo e comportamento de transtorno de pânico tenha um tônus
evitação de um novo ataque (APA, 2000; simpático anormal, adaptando-se mais
RAMOS, 2009). O medo de ter novos lentamente a estímulos repetidos.
ataques faz com que o sujeito em crise evite Os principais neurotransmissores
lugares onde o socorro seja de difícil acesso, envolvidos em alterações seriam a
alguns tendendo ao isolamento social. noradrenalina, a serotonina e o ácidoga-
A princípio, o paciente pensa estar maaminobutírico.
apresentando um ataque cardíaco e acha
que vai morrer. Faz uma peregrinação Fatores Genéticos
interminável aos prontos-socorros de
hospitais gerais. Frequentemente, procura Fatores genéticos têm sido aventados
um cardiologista, achando que está com um a partir de dados estatísticos. O índice entre
infarto agudo do miocárdio (OLIVEIRA, parentes do primeiro grau tem se revelado
2005). quatro a oito vezes mais, em comparação a
O cardiologista faz os inúmeros outros distantes, e também tem se levado em
exames e constata que o coração, do ponto consideração a incidência entre gêmeos
de vista orgânico, está funcionando monozigóticos.
perfeitamente bem. Recebe do profissional o
diagnóstico que a princípio poderia aliviá-lo: Fatores Ambientais
“Você não tem nada.” Muitas vezes o médico
ainda diz: “A sua saúde está melhor do que a Situações estressantes, sobrecarga
minha.” Só que o paciente sabe o que sentiu emocional e mental podem gerar sintomas
e longe de ficar satisfeito com o diagnóstico, somáticos no cotidiano do ser humano sem
fica mais angustiado ainda. Ele sentiu algo causar maiores apreensões. São frequentes
que lhe causou a sensação de morte e fica na clínica as queixas de falta de ar, cefaleia,
achando que a qualquer momento pode dores nos ombros e nas costas, taquicardia,
morrer em qualquer lugar (OLIVEIRA, 2005). formigamento nas mãos e pés, aumento da
Não satisfeito com o diagnóstico, o pressão arterial, tontura, uma “pontada” no
paciente sai em busca de vários médicos. Os peito, mal-estar gástrico, etc.
vários médicos dizem que ele não tem nada A síndrome de pânico tem se
e, assim começa a achar que tem uma alastrado com características de uma
doença muito grave que médico nenhum epidemia na sociedade moderna. Supõe-se
consegue descobrir. Se ele tem condições que o excesso de informações é um dos
financeiras, vai para outro estado e faz os grandes responsáveis pelas ameaças à
exames mais sofisticados que houver na integridade física e emocional. Disso decorre,
tentativa de descobrir que doença grave tem. um estado de estresse cerebral com
Fica nessa caminhada até que alguém lhe repercussões orgânicas e psíquicas como
diz que seu problema é de nervos e ele então comprometimento do sistema imunológico,
vai para o neurologista, que de tanto receber sofrimento orgânico, podendo advir lesões e
esses casos, diagnostica a situação. Alguns sofrimento psíquico. Embora o indivíduo não
prescrevem e encaminham para o psiquiatra; perceba conscientemente, na síndrome de
outros continuam apenas mantendo o pânico há fatores etiológicos externos e
tratamento farmacológico à base de internos multicausais a serem cuidados no
antidepressivos e ansiolíticos (OLIVEIRA, tratamento multidimensional, pois o
2005). tratamento precisa ir além do procedimento
com uso exclusivo de psicofármacos.
O Que Causa o Transtorno de Pânico Em situações de perigo, o ser
humano lança mão de um complexo sistema
Fatores Neurobiológicos de defesa, preparando-se para a luta ou
fuga. O fenômeno é automático, pois não há
Na causalidade acadêmica, os tempo para elaborações. Ocorre então
estudos científicos apontam para reações orgânicas e emocionais como
anormalidades biológicas na estrutura e aceleração dos batimentos cardíacos,
função cerebral. Supõe-se que o sistema retenção de sangue em regiões centrais,
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retesamento muscular, estado de alerta. O transtorno de pânico apresenta alta


Essas reações são viabilizadas pela comorbidade com outras doenças clínicas
liberação de substâncias neuroquímicas como depressão, distúrbios de conduta,
gerenciadas pelas regiões subcorticais. dependência química, prolapso de válvula
Assim que cessa o perigo, a situação mitral, angina pectoris, cardiomiopatia
orgânica e psíquica volta à normalidade. idiopática, hipertensão arterial instável,
Quando essas reações surgem doenças respiratórias, enxaquecas, dores de
inesperadamente sem um dispositivo cabeça, úlcera péptica, diabetes mellitus e
perceptível, ou seja, sem uma ameaça que doenças da tireóide (MELLO, 2008).
as justifique, temos então a síndrome de
pânico (DEUS, 2010). Consequências Biopsicossociais
No Transtorno de Pânico, o indivíduo
literalmente entra em pânico, sentindo uma Em virtude dos ataques de pânico
ameaça de morte iminente ou de apresentarem sintomas semelhantes, na
enlouquecimento. O desespero diante do que maioria das vezes os pacientes acreditam
pensa estar acontecendo, o deixa hiper- estar apresentando um ataque cardíaco,
reativo, maximizando e desencadeando os surgindo o pavor da morte ou de
sintomas. Instala-se, então, um mecanismo enlouquecer. Muitos adotam um
de feedback no qual os sintomas comportamento com inúmeras restrições em
desencadeiam o pânico que por sua vez suas vidas, evitando atividades normais
agravam os sintomas. como ir ao supermercado, ausência no
O estado de alerta diante dos trabalho, abstenção de atividades de lazer,
sintomas ameaçadores confirmam a sua medo de dirigir, etc. Além do isolamento e
hipótese de que algo muito grave está casa, só se sentem seguros com alguém por
acontecendo e isso gera um comportamento perto, alguém que possa lhe socorrer caso
de medo e evitação. O sujeito, se não tratado ele venha a ter um novo ataque. Passa a ter
em tempo hábil, desenvolve uma fobia social medo de lugares abertos e com muita gente,
secundária, pois buscará ficar em lugares pois se algo acontecer, ele pode não receber
seguros que lhe permitam um socorro caso o socorro necessário. O paciente desenvolve,
os sintomas reapareçam. Começa então uma então, uma agorafobia secundária.
série de consultas repetidas em vários O Transtorno de Pânico leva a gastos
médicos de diversas especialidades, até que exorbitantes com a saúde, tanto por parte do
ao aceitar ir para um psiquiatra, geralmente o paciente, como também dos órgãos públicos
último especialista a ser procurado, inicia, a e planos de saúde, pois o paciente vai a
depender da formação do profissional, um inúmeros médicos, não especialistas, devido
tratamento clínico à base de antidepressivos a multiplicidade de sintomas. Clínicos e
e ansiolíticos para tratar dos distúrbios cardiologistas são os mais requisitados. Em
neurofisiológicos. média, os pacientes com transtorno de
ansiedade visitam clínicos gerais ou outros
Fatores Psicodinâmicos (Abordagens especialistas cerca de seis vezes antes de
psicoterápicas) passarem por uma avaliação psiquiátrica.
Estudos revelam que indivíduos com
As abordagens psicoterápicas têm transtorno de pânico têm mais chances de
desenvolvido suas teorias tentando dar suas apresentarem doenças cardiovasculares,
contribuições a respeito da origem dos gastrintestinais e respiratórias e apresentam
transtornos de pânico, encontrando na pior prognóstico nas doenças clínicas quando
história de vida do sujeito e nos fatores ocorre associação com o Transtorno de
ambientais a gênese do transtorno. De Pânico.
acordo com o princípio de cada abordagem, O Transtorno de Pânico leva a
teremos um tratamento apropriado. Mais prejuízos funcionais e na qualidade de vida.
considerações com relação as abordagens
psicológicas: Diagnóstico Diferencial

Associação com Outras Doenças No diagnóstico do Transtorno de


Pânico é necessário ficar atento com a
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possibilidade de outras doenças que podem Os ISRSs também são eficazes e


apresentar sintomatologia semelhante como com melhor adesão ao tratamento, pois eles
a angina pectoris, a hipertensão arterial, têm menos efeitos colaterais em relação aos
infarto agudo do miocárdio, arritmias ATDs e inibidores da monoaminoxidase
cardíacas, hipertireoidismo, uso abusivo de (IMAOs) que foram bastante usados
estimulantes (cafeína, cocaína, metanfe- anteriormente, além de facilitarem quanto à
tamina), crises epilépticas e feocromocitoma. posologia, o que tem permitido o uso
frequente por médicos de outras
Como Tratar o Transtorno de Pânico especialidades. Confrontados com os
benzodiazepínicos (BZDs), também bastante
O tratamento medicamentoso, desde utilizados, levam vantagem em relação ao
o início, é necessário, porém, sendo um risco de dependência. No entanto, estudiosos
transtorno que envolve os aspectos alertam para a síndrome de descontinuação,
multidimensionais do ser humano, o caracterizada por tonturas, náuseas, letargia
tratamento requer uma abordagem integrada e dores de cabeça diante da parada brusca
que inclua os aspectos físicos, emocionais, dos ISRSs (CHANG:TENG, (2010).
mentais, existenciais e energéticos. As Nos últimos 10 anos, os ISRSs como
alterações neurobiológicas implicam o uso de fluvoxamina, paroxetina, fluoxetina, sertra-
psicofármacos como antidepressivos e lina, citalopran e excitalopran tiveram sua
ansiolíticos, visando normalizar os níveis eficácia comprovada e passaram a ser a
afetados dos neurotransmissores e obter primeira linha de tratamento (PUL; DAMSA,
alívio dos sintomas que afetam a qualidade 2008).
de vida do sujeito. Importante levar em
consideração a particularidade de cada Benzodiazepínicos (BZDs)
paciente para a escolha do tratamento
adequado. Se houver outras patologias Os BZDs como o clonazepan,
associadas, é necessário um tratamento em alprazolan e lorazepan são frequentemente
conjunto. utilizados sozinhos ou combinados com um
ISRSs por serem bem tolerados e seguros
Tratamento Farmacológico quanto aos efeitos colaterais, sendo,
portanto, considerados de primeira linha para
Os psicofármacos aliviam o o tratamento (PUL; DAMSA, 2008; CHANG,
sofrimento psíquico, embora os fatores TENG, 2010). O clonazepam que tem uma
etiológicos permaneçam e quando o sujeito meia–vida longa de 20 a 50 horas, possibilita
se vê sem o efeito anestésico que a um início de tratamento com doses baixas,
medicação possibilita, a síndrome volta com geralmente de 0,5 a 1mg por dia// e a seguir
mais carga de sofrimento potencializada pelo vai aumentando de acordo com a evolução
sentimento de desesperança. É o fenômeno clínica do paciente. O alprazolam que
que constatamos na clínica quando o mostrou uma eficácia no alívio dos sintomas
paciente vem de tratamentos nos quais se semelhante aos ADTs com efeitos nos
utilizam apenas os psicofármacos. sistemas noradrenadrenérgicos, proporcio-
nando down regulaton de receptores beta-
Antidepressivos tricíclicos (ATDs) adrenérgicos pós-sinápticos e aumento da
atividade da proteína P que acopla o receptor
Os ATDs foram as primeiras drogas a pós-sináptico ao sistema energético
serem utilizadas. A imipramina e a intraneuronal, o que justificaria o efeito
clomipramina são reconhecidos pela sua antipânico e antidepressivo da substância
eficácia devido ao fato de terem uma ação (CHANG, TENG, 2010).
serotoninérgica mais incisiva, porém devem
ser evitados quando há comorbidade com Outros Medicamentos
doenças cardíacas e glaucoma (RAMOS,
2009). A venlafaxina (inibidor da receptação
da serotonina e da noradrenalina) e alguns
Inibidores seletivos da recaptação anticonvulsivantes (valproato, carbamazepina
de serotonina (ISRSs) e gabapentina) têm sido avaliados.
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A venlafaxina se mostrou eficaz na interpretação catastrófica das sensações


redução da frequência dos ataques de pânico experenciadas, que aciona um estado de
e na melhora da ansiedade antecipatória, apreensão e a espiral ascendente da
medo e esquiva (PUL; DAMSA, 2008). ansiedade, o tratamento requer a neutra-
lização da atribuição catastrófica e do estado
Tratamento Psicológico de apreensão infundado, através da
desativação do esquema de vulnerabilidade,
O profissional, de acordo com a sua o desafio das interpretações distorcidas das
formação psicológica, buscará as causas sensações iniciais e o abandono dos
psicodinâmicas relacionadas com a comportamentos de segurança. Enfim,
sintomatologia desencadeada. Os sintomas desativar a ideia de que as sensações iniciais
físicos e psíquicos têm sua psicodinâmica sinalizam algum perigo ou ameaça de morte
particular, que envolve toda a história do ou descontrole iminentes (CLARK, 2005;
sujeito, desde as questões do cotidiano, às SALKOSKIS, 2005).
experiências infantis, intrauterinas e de vidas
passadas. A psicanálise, a terapia cognitivo- Psicologia Transpessoal
comportamental e a psicologia transpessoal
têm operado consideráveis resultados no A Psicologia Transpessoal reconhece
tratamento do Transtorno de Pânico. na gênese profunda dos transtornos de
pânico todos os fatores já mencionados,
O Tratamento Psicanalítico porém aprofunda as pesquisas, enveredando
a sua sonda de investigação pelas
As teorias psicanalíticas abordam experiências evolutivas na vida intra-uterina e
sobre uma defesa mal sucedida diante de também em reencarnações passadas
fatores ansiogênicos e vivências de perda (OLIVEIRA, 2005).
não assimiladas psiquicamente. Supõe-se O que nos chama a atenção com
que separações traumáticas na infância relação ao Transtorno de Pânico é o fato de
afetem o desenvolvimento do sistema que as primeiras crises costumam ser
nervoso na criança, fazendo com que ele espontâneas sem que o paciente tenha
fique mais vulnerável na vida adulta. Novos consciência do fator que o desencadeou. Em
acontecimentos estressantes na vida adulta alguns casos ele aparece como um
se ligariam a situações anteriormente vividas Transtorno de Estresse Pós-traumático,
na infância, ativando os fatores desencadeado após uma situação traumática
neurofisiológicos. A fala, no setting que provoque bastante sofrimento. No
psicanalítico, proporciona o acesso ao entanto, experiências consideradas traumati-
inconsciente através da associação livre e zantes e que determinariam alterações no
das intervenções pontuais do psicanalista, funcionamento da estrutura cerebral, embora
liberando a angústia decorrente dos conflitos fazendo conexão com os fatores
intrapsíquicos vinculados aos fatores desencadeantes atuais, elas também
estressantes atuais, possibilitando estiveram presentes na vida de outras
ressignificação das experiências conscientes pessoas.
e inconscientes relacionadas aos sintomas Atendo-se à questão genética e
que configuram o transtorno de pânico hereditária, lembremos que o processo da
(FREUD, 1968; ZIMERMAN, 2007). reencarnação encontra nos genes e
cromossomas as matrizes fixadoras das
A Terapia Cognitivo-comportamental necessidades de reparação do ser em
desenvolvimento, renascendo em grupos
A teoria cognitivo-comportamental familiares que lhe propiciem pelo mapa
afirma que a ansiedade em suas diversas genético, as condições orgânicas e psíquicas
manifestações é uma resposta apreendida para tais reparações. O perispírito, nosso
pela modelagem do comportamento parental modelo organizador biológico, modela o
ou pelo processo de condicionamento nosso organismo de acordo com as nossas
clássico. Estudiosos propõem que o necessidades espirituais no que se refere às
elemento essencial para a instalação e estruturas e funções cerebrais, equipando o
manutenção da síndrome de pânico é a nosso cérebro com neurotransmissores que
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possam manifestar os fenômenos-resgates acidentes terrestres e aéreos, situações de


necessários para o nosso equilíbrio ser enterrado vivo. São situações que
(FRANCO, 1994). Ou seja, nosso corpo provocam pânico, revolta e terror no
manifesta as necessidades da nossa alma. momento do desencarne, fazendo com que
Os transtornos psíquicos geralmente as imagens, sensações e sentimentos vividos
procedem do nosso ser profundo, sendo fiquem impressas nos dédalos do
decorrentes das experiências mal-sucedidas subconsciente como fixações mentais que
em experiências transatas. Criado o espírito são reativadas em situações posteriores para
simples, para adquirir experiências a esforço serem curadas. Situações em que o ser foi
próprio, e renascendo para aprimorar-se, as sepultado vivo geram claustrofobias
realizações se transferem de uma para outra aterradoras, influenciando de forma decisiva
vida, dando curso ao impositivo da evolução no comportamento do ser. No trabalho
que, enquanto não viger o amor, impulsos terapêutico, a queixa do paciente é analisada
evolutivos se imporão através dos processos com seriedade, porque levamos em
aflitivos; lembra-nos Joana de Ângelis, consideração a verdade psíquica do sujeito.
acrescentando que a hereditariedade, a Uma das angústias reveladas pelos
família, a presença da mãe castradora ou pacientes é estarem sentindo algo que lhe
superprotetora, todos os fenômenos traz profundo sofrimento, e o médico dizer:
perinatais perturbadores são consequências “Você não tem nada, você é um felizardo,
das referidas ações morais pretéritas. Os sua saúde está melhor do que a minha”.
conflitos são heranças de experiências No trabalho psíquico nunca dizemos
fracassadas não elaboradas, deixadas pelo que o sintoma é irracional, ilógico, sem
caminho, por falta de conhecimento e de sentido. Se alguém tem medo de entrar em
evolução, que se vão adquirindo etapa a elevador, não adianta dizermos que o
etapa no processo dos renascimentos do elevador é seguro, que a manutenção é bem
espírito – seu psiquismo eterno (FRANCO, feita, que nada vai lhe acontecer, porque
1994). para o paciente, o medo é real. Quando um
No que se refere ao Transtorno de paciente revela que teve um ataque súbito
Pânico, encontram-se comumente, expe- com sensação de morte iminente e que acha
riências fortemente traumáticas em que se que vai morrer, que está com medo de ter
evidencia o papel de vítimas, porém a outro ataque, que acha estar com uma
experiência não foi assimilada, a lição não foi doença grave, nada adianta tentar
apreendida; ou encontramos experiências em tranquilizá-lo, dizendo: “Sua saúde está ótima
que agiram como algoz, deixando marcas rapaz, você não tem nada, pode ir para casa
profundas de dor naqueles que estavam e dormir tranquilo”. Se uma pessoa diz: “Eu
juntos encetando a mesma caminhada. tenho pavor de falar em público, pois eu
Quando foram algozes, a situação é entro em pânico, acho que alguma coisa ruim
agravada pelo fato daqueles que foram as vai me acontecer...” de nada adianta
vítimas interagirem com a consciência dizermos: "Você fala muito bem....”
culpada. As descargas mentais da vítima, Diante dessas e outras situações, é
encarnadas ou não, liberam fluidos tóxicos preciso termos consciência de que o
que penetram nas correntes nervosas dos sentimento e a sensação são reais, embora
neurotransmissores e estimulam a aparentemente irracionais. Dizemos aparen-
eliminação de substâncias excessivas que temente porque não há fatores atuais que
desequilibram o organismo neurofisiológico. justifiquem a expressão dos sintomas e sim
Não descartamos as causas os sintomas estão intimamente ligados a
abordadas pelas ciências psíquicas crenças e lembranças inconscientes que
tradicionais, porém fazemos ponte com as de estão desencadeando aquela situação.
natureza espiritual, ou seja, mesmo que não No entanto, quando aprofundamos no
tenhamos consciência, somos responsáveis sentido de acessarmos as experiências
pelos transtornos que nos acontecem. psíquicas que estariam originando o
Nos Transtornos de Pânico, transtorno, além de situações vividas nessa
encontramos com frequência situações de existência, encontramos ressonância simbóli-
traumas graves e inesperados como mortes ca com traumas de vida intra-uterina e
em terremotos, afogamentos, sufocamento, traumas em reencarnações anteriores. Um
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senhor na faixa dos sessenta anos nos como dono do circo e que tinha muito amor
procurou para tratamento após apresentar pelo circo e todo o trabalho que era
crises frequentes de transtorno de pânico desempenhado, ficou imobilizado e não
que o estavam impedindo de gerenciar suas conseguiu fugir do local como as outras
empresas. Ele já vinha fazendo tratamento pessoas fizeram. Todos conseguiram sair do
psicoterápico e medicamentoso com antide- circo, alguns, em graus variados de
pressivos e ansiolíticos de última geração. queimadura, porém com vida, enquanto ele
Procurou-nos referindo que já havia tentado morreu queimado e longe da sua família, por
de tudo e que agora gostaria de passar pelo eles estarem numa cidadezinha distante.
trabalho de aprofundamento com regressão Depois que entrou em contato com
de memória. essa experiência, ele se deu conta que ele
O quadro clínico era clássico e se tinha um fascínio por circos pequenos,
agravava à medida que o paciente se sentia sentindo-se realizado quando estava
impossibilitado de sair de casa com medo de assistindo a um espetáculo, por mais simples
ter uma crise longe de casa e não ter a que fosse. No trabalho com respiração
devida assistência, principalmente quando holotrópica, ele liberava muita dor no corpo e
precisava viajar, pois administrava empresas sufocamento relacionados à vida intra-
fora do seu estado. uterina. À medida que as vivências foram
Como médica e psiquiatra, nós não acontecendo, ele foi sentindo melhora
prescindimos dos recursos que a tecnologia progressiva e retornando às suas atividades
da medicina moderna nos traz. Procuramos cotidianas.
trabalhar o paciente de uma forma integrada Vários são os casos de Transtorno de
e se temos conhecimento que determinada Pânico que temos trabalhado na nossa
conduta vai aliviar o sofrimento do paciente e prática clínica, e a evolução em muitos
possibilitar a cura num nível mais profundo, desses casos vem comprovar a eficácia da
nós adotamos e incluímos o que a medicina Terapia de Regressão a Vivências Passadas,
holística e psicologia transpessoal nos pois a maioria dos pacientes vai
oferecem no sentido de aprofundarmos o gradativamente se libertando da medicação e
tratamento do paciente. Um dos recursos retomando as suas atividades cotidianas com
técnicos utilizado com êxito na psicologia segurança (OLIVEIRA, 2005).
transpessoal é a hipnose que permite
acessar camadas mais profundas do Terapias Complementares
inconsciente.
Desse ponto de vista, como a crise de O homem é um ser multidimensional
pânico é algo que traz um sofrimento intenso, e o tratamento dos transtornos psíquicos e
porque o paciente apresenta sintomas que orgânicos implica uma abordagem do sujeito
lhe traz a sensação de morte iminente, a como um todo.
medicação é necessária, uma vez que vai Na síndrome do pânico, o paciente é
regularizar os neurotransmissores cerebrais afetado nos campos físico, etérico,
que estão envolvidos na síndrome de pânico. emocional, mental e espiritual. Os
Iniciamos o tratamento com psicofármacos e antidepressivos e os ansiolíticos atuam nas
abordagem psicoterápica simultânea e, alterações biológicas. O Reiki e a Cura
quando o setting terapêutico proporciona Prãnica atuam no campo energético
condições, introduzimos o trabalho da eliminando os resíduos negativos e
Terapia Regressiva a Vivências Passadas. harmonizando com energias salutares; as
No processo psicoterapêutico não massagens terapêuticas liberam os nódulos
encontramos, na existência atual, nenhuma resultantes das tensões emocionais e
experiência significativa que pudesse mentais congeladas no corpo proporcionando
desencadear a situação. relaxamento e bem estar; as terapias
Numa das regressões ele se viu como transpessoais acessam os níveis mais
dono de um circo popular que viajava de profundos da consciência através de técnicas
cidadezinha em cidadezinha, apresentando que conduzem a estados alterados de
seus espetáculos, quando num determinado consciência como hipnose, visualização
dia, um acidente provocou incêndio no circo, criativa, relaxamento, respiração holotrópica,
gerando uma situação coletiva de pânico. Ele meditação, regressão de memória,
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possibilitando tratar as causas mais CHANG, T.M.M.; TENG, C. T.


profundas dos sintomas. Psicofarmacologia dos Transtornos
Ansiosos. Re. Bras. Med.
Considerações Finais DEUS, P.R.G. Síndrome de Pânico. RBM.
RevBbras Med., vol 67, 2010.
O transtorno de pânico tem FRANCO, D. O Homem Integral, Alvorada
aumentado sua prevalência na sociedade Editora, Salvador – BA, 1994
moderna, causando enorme sofrimento, FREUD, S. Inibições, sintomas e
prejuízos funcionais e econômicos aos angústias. In: Rio de Janeiro: Imago, V20
acometidos pela síndrome e à sociedade em (Edição standart brasileira), 1968.
geral. Diante da sintomatologia bastante MELO, M.J.: VALENTE, N.L,M. Como
diversificada com sintomas comuns a Diagnosticar e Tratar Transtorno do
diversos transtornos orgânicos e graves, o Pânico. Rev Bras Med, vol. 64, edição
sujeito acometido busca tratamentos outros especial, 2007.
por um longo tempo antes de buscar a OLIVEIRA, N. A. Psicanálise Transpessoal
terapêutica psiquiátrica. Isso implica a e Terapia de Vivências Passadas, Print,
necessidade de ampliarmos o acesso à Aracaju, 2005.
população quanto ao conhecimento sobre as PUL, C.R.; DAMSA, C. Pharmacoterapy of
características da síndrome e das panic disorder. Neuropsychiatr Dis. Tret,
perspectivas positivas no que se refere ao vol. 4(4), 779-795, 2008.
tratamento. RAMOS, T. R. Como Diagnosticar e Tratar
Transtornos de Ansiedade. RBM. Ver.
REFERÊNCIAS Bras. Med., vol. 66, 2009.
SALKOSKIS, P. M. A Abordagem Cognitiva
American Psychiatric Association. Diag- aos Transtornos de Ansiedade: Crenças
nostic and Statical Manual of Mental de Ameaça, Comportamento de Busca de
Disordes. 3rd edition, Washington DC:APA. Segurança e o Caso Especial da Ansiedade
1980 e Obsessões Relativas à Saúde. In
Associação Psiquiátrica Americana. Manual Fronteiras da Terapia Cognitiva, P.
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Salkovskis, São Paulo, Casa do Psicólogo,
Mentais. Quarta edição – Texto revisado 2005.
2000. ZIMERMAN, D.E. Manual de Técnica
CLARK, D. M. Transtorno do Pânico: Da Psicanalítica. Características clínicas e
Teoria à Terapia. In Fronteiras da Terapia manejo técnico das diferentes
Cognitiva, P. Salkovskis, São Paulo, Casa do psicopatologias. Artmed, 2004.
Psicólogo, 2005. Vol. 67, edição especial,
2010.

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4. O CORPO COMO EXPRESSÃO DO INCONSCIENTE

Maria Lúcia Cerqueira Bastos*

“Quando você toca alguém, nunca toque só um corpo.” Quer dizer


não esqueça que você toca uma pessoa e que neste corpo está toda
a memória de sua existência. (...) Assim, quando você toca um
corpo, lembre-se de que você toca um Templo.
(Jean-Yves Leloup, 1998, p. 26).

O corpo é o nosso veículo de substituídas pela máscara social aceitável, a


expressão, nele estão todos os registros de qual é composta por tensões crônicas,
nossa história de vida. Nele tudo começa. Ele projeções, racionalizações e sentimentos
é o próprio caminho de mudança e redireção pequenos.
do nosso destino. Encontramos no ser Este sistema de defesa de caráter
humano uma consciência desperta que está por um lado salva a vida da criança. Porém,
relacionada à sua autoimagem, e outra, que causa a disfunção energética, enrijece a
diz respeito ao seu Ser verdadeiro, na musculatura, suprime as sensações naturais,
maioria das vezes, em estado de distorce a mente e o comportamento.
inconsciência. Consequentemente as crianças crescem no
Não fomos educados dentro de mundo agindo e reagindo a partir de suas
uma relação genuína de verdade com os defesas, separadas da verdade e beleza de
nossos pais, ao contrário, fomos confundidos sua Essência Natural.
e reprimidos em nossos sentimentos e Com Wilhelm Reich, pai das
sensações. No nascimento a criança traz abordagens psicocorporais, o ser humano
consigo toda a beleza, potencial criativo, fé passa a ser visto como uma unidade
na vida e capacidade de amar. Esta é a psicossomática, conectando a realidade
Essência do Eu Superior. Cedo na vida a física aos conceitos analíticos de Freud.
criança descobre que sentimentos de raiva, Nesta visão tudo o que ocorre na mente se
medo e terror não são tolerados. Ela é expressa no corpo e vice-versa. A identidade
punida, violada, castigada ou envergonhada corporal é o somatório das experiências
por expressar essas fortes emoções. Em emocionais da criança, expressas no corpo e
reação a falta de aceitação externa ela analisadas como estratégias de defesa.
esconde os fortes sentimentos, mesmo Alguns já disseram que o corpo não mente.
vindos do EU e os reprime no corpo. As Mais que isso, ele conta muitas histórias e
emoções tornam-se distorcidas, congeladas em cada uma delas há um sentido a
e são chamadas de: EU Inferior. Elas são

________
*Maria Lúcia Cerqueira é psicoterapeuta (CRP-15/0027), Membro do Colégio Internacional dos Terapeutas, autora da Terapia
Integrativa CONECTAR. Escritora com publicações sobre a Terapia Integrativa Conectar, autoconhecimento e CDs de meditação.
Trabalha com abordagens psicocorporais: Bioenergética, Core Energetics e abordagem Transpessoal.
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descobrir, como o significado dos de toda e qualquer situação que possa lhe
acontecimentos, das doenças ou do prazer proporcionar um número determinado de
que anima algumas de suas partes. O corpo tensão. Porém, sem a possibilidade de uma
é nossa memória mais arcaica. Nele, nada é descarga o que aliviaria a dor e lhe traria
esquecido. Cada acontecimento vivido, uma sensação de prazer, ele fica estagnado
particularmente na primeira infância, mas na própria dor.
também na vida adulta, deixa no corpo sua A vivacidade de um corpo é função
marca profunda. Ele se recorda de todos os de seu metabolismo e de sua motilidade. O
momentos que atravessou e viveu. Trata-se, metabolismo é quem provê a energia que
pois, de escutar cada uma de suas partes do resulta em movimento. Nas situações em que
ponto de vista físico, psicológico e espiritual. o metabolismo é reduzido, a motilidade
A imagem corporal se forma através também decresce. Porém esta relação
da síntese dos contatos físicos entre a funciona igualmente no sentido inverso. Isso
criança e os pais. As atitudes destes em se deve ao fato da motilidade ter um efeito
relação ao filho são expressas na forma direto sobre a respiração, pois quanto mais
como eles satisfazem a sua sensação de uma pessoa se movimenta, mais ela respira.
fome, como pegam e seguram, e como Um corpo ativo caracteriza-se pela sua
tentam regular processos fisiológicos tais espontaneidade e pela respiração plena e
como a eliminação de fezes. O “como” fácil.
refere-se à qualidade do toque, o olhar, a Para que o processo de
delicadeza do gesto, atitudes que são desenvolvimento da criança seja pleno é
registradas na consciência da criança como necessário que o self (Essência) possa se
sensações corporais que irão afetar a descobrir no corpo, dando-lhe uma sensação
formação da sua imagem corporal. O de inteireza e plena realização. Porém pode
indivíduo desenvolve a sua identidade à ocorrer ao contrário uma dissociação. No
medida que o seu ego cresce e amadurece. caso de falha na função materna, a criança
O ego cresce através da percepção e da passa a não poder integrar as sensações
integração da sensação corporal e da corporais, os estímulos ambientais e a sua
expressão do sentimento. capacidade motora. Vendo-se assim
O ego saudável é forte, flexível, ameaçada ela passa a substituir proteção
permeável, com uma energia que pulsa e flui materna por outra produzida por si mesmo.
nas direções de dentro para fora e de fora Cria-se aqui o conceito de falso self (Eu
para dentro. O ego fraco não é capaz de lidar Inferior cujos sentimentos são substituídos
com a vida. Um ego inflado, controlador e pela máscara social aceitável) e verdadeiro
agressivo não é forte, pois, força é sinônimo self (Essência). Falso self também
de flexibilidade e receptividade. Este ego denominado por Reich de couraça
super desenvolvido não é capaz de dar, sua caracterológica, por Jung de segunda
dureza e inflexibilidade o mantém sempre natureza e por Pierrakos de Máscara.
acima de todos e de tudo. Somente um ego Desta forma, expressar o falso Self
saudável é capaz de se identificar com o Eu (couraça ou máscara), é um caminho para
Interno, permitindo que a Alma o transcenda transcender o Ego expresso no corpo. Assim,
e que a Essência o informe. no corpo está a dissociação e nele também
Para experienciar o corpo como vivo está o caminho de cura, ultrapassando todas
e saudável, ele precisa funcionar de maneira estas fronteiras o homem chega ao seu
viva e saudável. A vivacidade do corpo núcleo, a pura luz.
denota a sua capacidade de sentir. Na
ausência de sentimento, o corpo fica “morto”, REFERÊNCIA
pelo menos no que se refere à sua habilidade
de se impressionar pelas situações e reagir a LELOUP, Jean-Yves. O corpo e seus
símbolos. 2 ed. Petrópolis: Editora Vozes, 1998.
elas. Para evitar a dor o indivíduo se afasta

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5. O SAGRADO MOMENTO PRESENTE

Tânia Regina Contreiras*

Eu estou aqui. Este momento é o meu lar. Por mais que me chamem as galáxias,
seu olhar de ontem, os planos que eu fiz pro futuro, eu estou aqui.
Já sofri de anseio de tocar as estrelas, de desvendar os segredos do universo, e desviava
a atenção do momento presente, não via e nem ouvia a respiração da terra
sob os meus pés, escapava-me
escapava me um sorriso fresco dado ao meu lado
e a forma das nuvens que desenhavam o presente que insistia em escapar.

Mas agora estou aqui. Caminho sem escapar de mim mesma.


Sinto sob os pés o chão áspero, ouço o ruído que vem de longe,
quero construir uma casa
casa simples no meio do mato, almejo fazer tantas coisas,
mas meu lar atual é aqui e agora. Eu inspiro e me habito. Expiro e me expando.
E eu, que olhava o céu como algo separado da terra, que buscava o sagrado
para além das montanhas que eu ainda iria alcançar,
alcançar, sinto que tudo é uno
quando não me separo de mim. Mente e corpo se abraçam quando inspiro e expiro,
sem perder a consciência do que acontece ao redor de mim.

Posso caminhar sem me perder de mim. Sem deixar que o momento presente me escape.
Não, não abandonei meus sonhos. Meus olhos continuam embriagados e as borboletas azuis
me falam coisas profundas. Mas agora eu sei estar aqui, no agora.
Isso me faz muito livre. O momento presente é tão lindo...tão leve...Liberdade é saber
desvencilhar-se
se da perseguição do passado e dos anseios pelo futuro.
Liberdade é poder estar aqui, agora, habitando meu lar, o momento atual.

É tão simples viver. Difícil é alcançar a simplicidade.

_________
*
Tânia Regina Contreiras é Arteterapeuta com abordagem junguiana e poeta.
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