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Belém
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2017
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RESUMO
O presente artigo se propõe a realizar uma breve análise conceitual do presente
estado de desordem da linguagem moral, indicando como uma de suas principais
causas, a perda do arcabouço tradicional que dava sentido aos conceitos e teorias
éticas. Verificar como se implantou o atual estado de incomensurabilidade moral e
conseguinte desordem social. O eixo central do presente trabalho se dá na
percepção que houve uma substituição das virtudes, como guias centrais da ação
humana, pela vontade.
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INTRODUÇÃO.
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Alasdair MacIntyre , em uma de suas mais proeminentes obras, After Virtue, nos faz
uma proposição curiosa. Ele nos convida a imaginar um mundo no qual as ciências
naturais sofressem o efeito de uma catástrofe. A culpa por uma série de desastres
ambientais fosse atribuída, pela população em geral, aos cientistas. Resultando na
destruição da maior parte do conhecimento cientifico e na morte ou no
aprisionamento dos cientistas. Além da proibição do ensino das ciências naturais
nas escolas e universidades. Tempos depois, haveria um movimento de tentativa de
ressureição e resgate destas disciplinas cientificas. Porem só restariam vestígios,
meros fragmentos destituídos do contexto teórico que lhes dava significado.
Dessa forma, os indivíduos se valeriam de conceitos e teorias cientificas que
lembrariam em maior ou menor grau o que se conhecia como ciência antes desta
catástrofe. Porém, é inegável que haveria uma enorme arbitrariedade, e um fundo
subjetivista nas interpretações de fatos objetivamente incontestáveis, e talvez o pior,
os indivíduos desta sociedade não perceberiam o grave estado de desordem em que
as “ciências naturais” ou o que sobrou destas se encontraria.
MacIntyre nos apresenta esse recurso de pensamento para levantar uma hipótese.
De que em nosso mundo atual a linguagem moral está no mesmo estado de
desordem em que se encontram as ciências naturais do mundo imaginário por ele
proposto. Conforme MacIntyre “ we posses indeed simulacra of morality, we continue
to use many of the key expressions. But we have – very largely, if not entirely – lost
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our comprehension, both theoretical and practical of morality”
1- ORDEM E LOGOS
Para que seja possível a investigação filosófica e dialética pretendida, é necessário
compreender a tradição de pensamento da qual se trata. De tal sorte, analisar-se-á o
conceito de ordenação, central na tradição clássica grega – posteriormente vindo a
ser considerada uma virtude cardial cristã, na idade média-.
Para se ter ideia da importância da ordem para o pensamento ateniense é preciso
pensar o logos. Que dentre muitos possíveis significados, unidos de certa forma na
língua grega, dentre eles: verbo; razão; conceito; pensar. Foi por Heráclito
1
Filósofo Escocês, radicado nos EUA, reconhecido, principalmente, por suas contribuições para a
filosofia moral e política. Pesquisador Sênior do Centre for contemporary Aristotelian Studies in Ethics
and Politics (CASEP) na universidade metropolitana de Londres, Professor emérito de filosofia da
universidade de Notre Dame. suas principais obras são: “After Virtue” “Whose Justice? Which
Rationality?” E “Three Rival Versions of Moral Enquiry”
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MACINTYRE, Alasdair. After Virtue: A study in moral theory. University of Notre Dame Press, 2007,
p. 2.
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A própria sociedade ateniense também conta com uma ordenação, que de forma
fina, mantem a harmonia – através da ordem-. O homem ateniense, portanto, sabe
quem é através de seu papel, de sua natureza, e ao saber isto, sabe o que lhe é
devido. Tendo um entendimento claro das ações que lhe são exigidas e aquelas que
deixam a desejar daquilo que lhe e exigido.
MacIntyre ao caracterizar a ação entendida na Grécia antiga afirma: “ mas o
interesse de um indivíduo é sempre seu interesse enquanto esposa ou enquanto
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anfitrião ou algum outro papel” .
A importância de se entender isto é perceber o paralelo entre duas cosmovisões. A
grega clássica, e a moderna –pós iluminista-. O indivíduo ateniense não possui a
capacidade que é pressuposto para a filosofia moderna: A capacidade de abstrair-se
de forma completa de um ponto de vista particular, para então analisar e julgar este
ponto de vista “de fora”. E porque o homem ateniense não possui essa capacidade?
Porque não existe um “fora”, o homem que tentasse retirar-se de sua posição, ou de
seu papel, estaria tentando fazer com que ele mesmo desaparecesse, pois só há
sentido na ordem.
Portanto a ideia implícita nesta ontologia grega é o pertencimento. O indivíduo está
ligado, está verdadeiramente engendrado em sua comunidade, e não faz sentido
fora dela. De tal sorte que a própria ideia de virtude só pode ser entendida –só fara
sentido- quando herdada como parte de uma tradição.
“Uma tradição é uma argumentação, desenvolvida ao longo do tempo, na qual
certos acordos fundamentais são definidos e redefinidos em termos de dois
tipos de conflito: os conflitos com críticos e inimigos externos a tradição que
rejeitam todos ou pelo menos partes essenciais dos acordos fundamentais, e
os debates internos, interpretativos, através dos quais o significado e a razão
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Diels-Kranz 22B1
4
MACINTYRE, Alasdair. Justiça de quem? Qual racionalidade. Edições Loyola, São Paulo, 2010. 4º
edição, p. 32
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5
MACINTYRE, Alasdair. Justiça de quem? Qual racionalidade. Edições Loyola, São Paulo, 2010. 4º
edição, p. 23
6
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco, 1106b36- 1107ª3
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MACINTYRE, Alasdair. After Virtue: A study in moral theory. University of Notre Dame Press, 2007,
p. 148.
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ARISTÓTELES. Eudemian Ethics 1228a1
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ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco, 1140b4-6.
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ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco, 1138b25
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Aqui podemos fazer o primeiro paralelo com a filosofia ética moderna, e por
conseguinte o Direito: Este julgamento jamais poderia ser somente a aplicação de
regras rotineiras, ou leis.
Há de fato pouca menção a regras, ou normas, em Aristóteles, pois ele toma esta
parte da moralidade -obediência a normas promulgadas pela cidade estado, que
proíbem ou encorajam certas ações, que estejam de acordo com a razão- como
ações que o individuo virtuoso já saberia refrear ou executar. Posto sua prontidão
para a excelência
E aqui se faz outro paralelo importantíssimo entre lei e virtude. Talvez o mais
importante paralelo de todos, para este trabalho: Saber como aplicar a lei – e a
formulação da lei em si - só é possível para aquele que possui a virtude da justiça.
Pois ser justo é dar aquele aquilo que lhe é devido.
Não há na visão aristotélica, essa cisão entre lei e moralidade. Trata-las como duas
dimensões distintas é uma ficção moderna, separando artificialmente, duas coisas
que fazem parte de uma só, naturalmente.
Desse modo o florescimento da virtude da justiça em uma comunidade se dá a partir
de dois pressupostos: a existência de um critério objetivo e verificável de
merecimento, e a existência de um acordo socialmente estabelecido para quais
seriam estes critérios. Assim, grande parte da distribuição dos bens e das punições,
fica a cargo do governo, sendo especificados nas leis da cidade. Porem, sempre
haverá casos no quais a lei não é suficiente, ou é incerto como aplica-la, ou não se
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sabe exatamente o que a justiça demanda . E nesses casos deve-se agir “kata ton
orthon logon”.
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Ver Antígona; tragédia sofocliana que trata especificamente do embate entre a “lei divina” ou “lei
natural” e a “lei da cidade”.
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PLATÃO. O banquete. 204a
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ou não perceber os pressupostos desta, nem o arcabouço intelectual que lhe dava
sentido.
A tentativa de encontrar e justificar um princípio ético normativo - seja ele fundado na
razão prática ou no princípio da utilidade, tendo em vista o fato do pluralismo das
concepções de bem e as várias formas de ceticismo moral em favor de
argumentações de caráter subjetivista, particularista ou também pragmatista - se
afasta da pergunta ética clássica sobre qual a melhor forma de vida e dissolve-se.
A primeira diferença, que salta aos olhos, entre estas duas formas de entender o ser
e o fazer, se dá na própria ideia de individuo. Destituído dos papeis e locais que lhe
davam sentido, é agora percebido como um ser “livre” sem amarras, analisado no
vazio, ele passa a ser o centro da discussão e do pensamento moderno. Sozinho,
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isolado. Segundo MacIntyre , podemos identificar a sociedade moderna da seguinte
forma: “modern society is indeed often, at least in surface appearance, nothing but a
collection of strangers, each pursuing his or her own interests under minimal
constraints.”
A questão principal na modernidade se torna: Que regras devemos seguir? E porque
devemos obedece-las? Isto tem fundo na expurgação da teleologia aristotélica do
arcabouço moral. E na tentativa de estruturação de uma ética secularizada, que
acaba por nos deixar órfãos de propósitos ou objetivos concretos.
Se não existe uma fundamentação teleológica da realidade, o que nos resta para
fundamentar e organizar a vida? Um voluntarismo individualista, ou então uma ficção
moral, baseada no consenso. Uma alteridade artificial, com vistas na tolerância.
“Ronald Dworkin has recently argued that the central doctrine of modern
liberalism is the thesis that questions about the good life for man or the ends of
human life are to be regarded from the public standpoint as systematically
unsettlable. On these individuals are free to agree or to disagree. The rules of
morality and law hence are not to be derived from or justified in terms of some
more fundamental conception of the good for man. In arguing thus Dworkin
has, I believe, identified a stance characteristic not just of liberalism, but of
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modernity. Rules become the primary concept of the moral life”
13
MACINTYRE, Alasdair. After Virtue: A study in moral theory. University of Notre Dame Press, 2007,
p. 250-251
14
MACINTYRE, Alasdair. After Virtue: A study in moral theory. University of Notre Dame Press, 2007,
p. 119.
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Filósofo e jurista inglês, nascido em Londres. Foi dos últimos iluministas a propor a construção de
um sistema de filosofia moral, não apenas formal e especulativa, juntamente com John Stuart
Mill e James Mill, foi tradicionalmente considerado como o difusor do utilitarismo
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NIETZSCHE, Friedrich. Assim falou Zaratustra. Editora Companhia das Letras, 2011.
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ir para além dos próprios limites. “O mundo visto de dentro, o mundo determinado
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por seu ‘caráter inteligível’ – seria justamente ‘vontade de potência’, e nada mais” .
A vontade se mostra como sede de dominar, fazer-se mais forte, constranger outras
forças mais fracas e assimilá-las. Quanto pode uma força? A onda sonora que se
expande, o ímã que atrai, a célula que se divide formando o tecido orgânico, o
animal que subjuga o outro são exemplos desta Vontade que não encontra um ponto
de repouso, mas procura sempre conquistar mais. Cada força, quando dominante,
abre novos horizontes, encontra novas passagens, cria novos caminhos.
4- CONCLUSÃO
Diante da análise do exposto podemos retirar duas conclusões: A falha do projeto de
secularização ética iluminista. As conclusões e frutos desse projeto não são capazes
de sustentar-se de forma coerente e racional. O que acabou por contribuir de forma
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NIETZSCHE, Friedrich. Além do Bem e do Mal. Editora Companhia das Letras, 2005. §36
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NIETZSCHE, Friedrich. Assim falou Zaratustra. Editora Companhia das Letras, 2011.
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REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco.
ARISTÓTELES. Eudemian Ethics.
Diels-Kranz.
NIETZSCHE, Friedrich. Além do Bem e do Mal. Editora Companhia das Letras, 2005
NIETZSCHE, Friedrich. Assim falou Zaratustra. Editora Companhia das Letras, 2011
PLATÃO. O banquete
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