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2015
Laura Erber*
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – Rio de Janeiro – RJ – Brasil
Quando nos referimos hoje à crítica laços ainda existentes entre modernismo
formalista, a expressão frequentemente e o último suspiro da expressividade
arrasta consigo, ainda que possivelmente romântica. Greenberg certamente con-
a contragosto, uma forte tonalidade tribuiu para a construção da imagem
depreciativa. Em geral isso se deve à cool da arte moderna enquanto seus
associação instantânea entre formalismo oponentes passaram a conectá-lo aos
e a presumida assepsia do discurso crítico aspectos mais ranhetas da crítica forma-
moderno, que teve, no último século, na lista.
figura de Clement Greenberg, um de seus No campo do pensamento estético, o
mais admirados e detestados representantes. conceito de forma, que mais tarde derivaria
E, no entanto, foi apenas no início dos na vertente formalista de estudo da arte,
anos 70, com o ensaio “A necessidade esteve inicialmente atrelado e por muito
do formalismo” (1972), que Greenberg tempo condicionado pela platônica teoria
passou a empregar positivamente o termo das ideias. No final do século XIX, e após
formalismo, utilizando-o para sublinhar o diversos golpes de antitranscendentalismo
rigor frio da arte modernista cortando os e recusa do idealismo filosófico, a noção
* Artista visual, escritora e professora adjunta do Departamento de Teoria do Teatro da Universidade Federal do Estado do
Rio de Janeiro (Unirio). Doutora pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro com tese sobre os pactos verbais
no cinema de Carl Theodor Dreyer.
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Erber, L. | Aquém e além do formalismo 126
muito tempo depois de terem desaparecido Essa ideia de arte como interrupção
as intenções e as funções. Para Focillon, do tempo cronológico traz à tona um
existe um corte não suturável entre a forma debate que, décadas mais tarde, viria a
artística e a sua origem. Refuta o Zeitgeist, ser um dos pivôs da crise e da renovação
a cultura da época e a genialidade do da história da arte como disciplina. Essa
artista como fatores mais profundamente interrupção momentânea do tempo
determinantes da criação das formas. Dinâ- histórico caracterizaria o acontecimento
mica, pluralidade, antinomia e tempo formal, sendo que acontecimento é,
iridescente são as noções que mobiliza, para Focillon, “uma precipitação eficaz”,
fazendo convergir a noção de arte com e essa precipitação, um modo de agir
a de forma, numa visão materialista que sobre o tempo, não mais o tomando
dialetiza a relação entre forma e matéria. A como um fator de conformação passiva
arte importa, portanto, enquanto fenômeno das formas emergentes. Há assim um
visível e concreto, seu engendramento constante tensionamento entre forma e
e sua vida se dá numa dinâmica de dife- história. A precipitação de uma forma
renciação que tem como base o tempo. num determinado momento não é forço-
E é na abordagem do tempo que Focillon samente uma inovação absoluta, e pode
se mostra muito mais atrevido que seus acontecer de produzir um acontecimento
predecessores formalistas, pois é o primeiro formal que não seja um acontecimento
que, certamente influenciado por Bergson, histórico.
rompe totalmente com a linearidade Nessa lógica de disjunções e fricções
cronológica e com o historicismo positivista. entre o histórico e o formal, Focillon
Para Focillon as formas não estão nem desloca a atenção da interpretação das
“suspensas acima do tempo” nem dele re- formas para as condições internas de sua
sultam como num experimento com ele- irrupção, ou individuação (Simondon/
mentos químicos em contato, o próprio da Deleuze), enfim, para a lógica criadora,
vida das formas é sua intempestividade. sem recair no obscurantismo da genialidade
Na parte final do livro se delineia mais cla- do artista como causa. Nessa colocação
ramente a ideia de inatualidade da arte deri- do problema da forma, Focillon desfaz
vada de sua compreensão de forma como o reducionismo a que havia conduzido
fenômeno autônomo, mas não impermeável a noção tradicional de estilo, enquanto
às circunstâncias em que emerge. inaugura uma abordagem radicalmente
antideterminista, entende que não é a
O estágio da vida das formas não se história que cria a vida das formas, mas
confunde automaticamente com o
é a vida das formas, em seu ímpeto
estágio da vida social. O tempo que
comporta a obra de arte não a define metamórfico contínuo, que age sobre a
no seu princípio nem na particularidade vida histórica.
de sua forma. [...] O artista habita
uma região do tempo que não é,
obrigatoriamente, a história do seu Recebido: 19 de agosto de 2014.
tempo. (1981, p. 122-123) Aceite: 17 de setembro de 2014.