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INSTITUTO MULTIDISCIPLINAR
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS
CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS
MONOGRAFIA
NOVA IGUAÇU
2017
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO MULTIDISCIPLINAR
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS
CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS
Nova Iguaçu, RJ
2017
RAPHAEL RAMOS DE ALMEIDA
______________________________________
______________________________________
______________________________________
Fevereiro, 2017
Dedico este trabalho a minha mãe, razão por
eu ter chego até aqui. Mãe, só tenho a
agradecer, por ter investido em mim, e sempre
ter apoiado em minhas decisões, e se
esforçado ao máximo por mim.
AGRADECIMENTOS
ABSTRACT
There is much talk about Islamic space, however, as far as finance or financial markets
are concerned, this subject is hardly treated because it is very recent. In this context, there
is a common sense that the main characteristic of this market, is that there is no interest,
but little is said about the mechanisms of operation. From this the purpose of this work is
to give a description about the functioning of the Islamic financial market, and to present
its tensions. From this the monograph makes an empirical survey of three Islamic
Countries: Egypt, Malaysia and Qatar, and compare them with three Western countries:
Australia, Canada and United States from the period 2004 to 2014. The Hypothesis of the
work is that the Islamic Banking does not differ from the traditional financial market.
Finally, to present the influence of globalization on the market and the contradictions
about the objective of Islamic banking, and the convergence to legal duality. It is intended
to contribute to broader debates about the influence of culture, the financial market and
some aspects of the functioning of the international political economy.
LISTA DE GRAFICOS
................................................................................................................................ 25
................................................................................................................................ 26
DEPÒSITO, %) ...................................................................................................... 30
INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 12
CAPÍTULO 1: O MERCADO FINANCEIRO ISLÂMICO ................................... 14
1.1 APRESENTAÇÃO DO ISLAMIC BANKING ............................................... 14
1.2 MECANISMOS E FUNCIONAMENTO DO ISLAMIC BANKING .............. 16
1.3 TENSÕES DO ISLAMIC BANKING COM OS VALORES ISLÂMICOS
TRADICIONAIS .................................................................................................... 19
CAPITULO 2: ANÁLISE DE DADOS DO ISLAMIC BANKING NO PERÍODO
DE 2004-2014 ............................................................................................................ 23
2.1 RECORTE DOS DADOS ............................................................................. 23
2.2 O ACESSO DA POPULAÇÃO ISLÂMICA AOS SERVIÇOS
FINANCEIROS ...................................................................................................... 24
2.3 DADOS DO FUNCIONAMENTO DO MERCADO FINANCEIRO
ISLÂMICO ............................................................................................................. 26
CAPITULO 3: A GLOBALIZAÇÃO, INFLUENCIAS INTERNACIONAIS E
OBJETIVO DO ISLAMIC BANKING ..................................................................... 34
3.1 GLOBALIZAÇÃO E MERCADO FINANCEIRO INTERNACIONAL ....... 34
3.2 OBJETIVOS, TENSÕES E A DUALIDADE LEGAL DO ISLAMIC
BANKING .............................................................................................................. 37
CONCLUSÃO ........................................................................................................... 42
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 44
INTRODUÇÃO
O mercado financeiro já foi exaustivamente estudado: seus mecanismos de
funcionamento, riscos, especulação 1, entre vários outros temas que o envolvem. Tal
mercado é orientado atualmente pela globalização dos mercados financeiros, e por um
grande fluxo de capitais. Entretanto, existem os Países Islâmicos que por seu afastamento
ao movimento da globalização, por causa da sua religião e cultura, acabaram por criar um
mercado financeiro com funcionamento diferenciado.
A cultura e religião Islâmica de forma geral é regulada pela Sharia2, que proíbe a
cobrança de juros, premissa para o funcionamento do mercado financeiro convencional.
Ou seja, para os mulçumanos não deve haver remuneração do dinheiro apenas pela
passagem tempo. Porém, com a descoberta do petróleo, no pós-guerra, cresce o uso de
mecanismos financeiros nos países muçulmanos. Surge, assim, um sistema financeiro
islâmico cada vez mais complexo, e consequentemente, a questão de como relacioná-lo
com a Sharia e os preceitos religiosos islâmicos.
1
O Termo especulação nesta passagem, e durante a dissertação, trata-se fenômeno puramente monetário,
no sentido de uma arbitragem entre posições contratuais, sem reflexo na esfera produtiva.
2
Interpretação legal e jurídica da fé islâmica.
3
Destaca-se que os países islâmicos em estudo, possuem sistemas econômicos diferentes dos ocidentais,
não somente ao que cerne mercado financeiro.
4 Foi analisado que a economia do Qatar, é muito pequena e em virtude disto, pode haver influência nos
dados.
5
Foi analisado que a economia Norte-Americana é muito peculiar, dado seu poder monetário, e sua
influencia no mercado financeiro internacional, o que dificulta a interpretação e análise de dados.
12
Deve-se destacar algumas limitações do objetivo, visto, a ausência de alguns
dados e informações, e da necessidade de realizar uma análise de dados mais abrangente,
visto o tamanho da região islâmica e do mercado financeiro, para melhor compreensão e
interpretação.
No capítulo 2, foi realizado uma ampla análise de dados que cernem ao mercado
financeiro como: taxa de juros, spread, número de tomadores de crédito, número de
usuários de caixas eletrônicos, quantidade de unidades bancárias, entre outros.
Comparado em todos os casos, com três países capitalista (Austrália, Canadá e Estados
Unidos), na tentativa de buscar analisar o comportamento dos dados.
6
O indivíduo islâmico e o indivíduo ocidental (capitalista), são representações sociais e filosóficas com
intuito de representar a tendência de comportamento desses dois indivíduos.
13
CAPÍTULO 1: O MERCADO FINANCEIRO ISLÂMICO
Segundo Chachi (2005), o contexto histórico em que surge o Islamic Banking foi
anterior ao período em que as transações de financiamento (Madabara/Musharaka) foram
realmente efetivadas e disponibilizadas, mas sim no período monárquico Egípcio em que
havia o recolhimento de taxas e impostos, e eram realizados depósitos compulsórios
juntamente com os reis e cobradores do Egito. Desta forma alguns historiadores fazem
alusão disto, como a real origem do mercado financeiro. Tal período mencionado ocorre
simultaneamente ao período de Medieval7 europeu que foi marcado segundo Warde
(2000) por uma estagnação política, social e econômica do Oriente Médio.
7
Período histórico demarcado pelo do declínio do Império Romano, e a deterioração econômica e cultural
da Europa.
14
segundo Warde (2000), seu marco inicial está na década de 70 no primeiro
aggiornamento8 causado pela crise do petróleo e a nova ordem política mundial.
8
Significado: Atualização, traduzido do Italiano, que segundo WARDE (2000) seu contexto teórico
significa a representação do período de político e econômico da crise do petróleo e o surgimento do pan-
islamismo (Marca do Nacionalismo, Secularização e Socialismo associado a um novo Estado Independente
Islâmico)
15
das partes da negociação financeira. O sabab se refere ao objeto contratual, que não pode
ser considerado ilegal, como transações ilícitas que possam envolver, violência, drogas,
falsificação ou até mesmo financiamento ao terrorismo.
9
PLS – profit and loss sharing –lucros e prejuízos divididos;
16
Ou seja, uma operação financeira é fruto de uma relação econômica e comercial,
diferentemente do sistema financeiro convencional, na qual as relações comerciais são
irrelevantes, e isso será mostrado por meio da explicação dos tipos de operações de
crédito:
10
Madabara/Musharaka genuínos não devem conter relação alguma com taxa de juros somente partilha
de lucro, por parte do investimento.
17
caridade, seguindo o princípio corânico do zakat, que também é chamado imposto da
purificação, e tratado pela sociedade islâmica como um imposto rigoroso.
Entretanto quando se fala que o conceito da inflação não é aceito, observa-se uma
ruptura da tradição cultural e social, pois atualmente este é tolerado, e se apresenta
incipiente para este povo.
18
1.3 TENSÕES DO ISLAMIC BANKING COM OS VALORES ISLÂMICOS
TRADICIONAIS
Segundo El-Gamal (2010) tal desenvolvimento sai dos princípios éticos e tornam-
se produtos financeiros atrativos aos olhos dos religiosos islâmicos praticantes, uma vez
que o indivíduo aceita paulatinamente a ideia de que tal prática está de acordo com sua
religião, e aceita pagar uma alta remuneração por crédito, em outras palavras, acaba por
existir um juro, que por não se ser considerado como tal, paga-se um valor bem alto por
este, sem haver uma regulamentação.
Tal conjuntura financeira é assim sem regulamentação, pois o Estado não é laico
ou eclesiástico, mas em todos os países em estudo11 têm sua legislação com regime dual,
tendo uma legislação secular e outra religiosa, contudo o Egito possui caráter dual
somente após a Primavera Árabe12 que ocorreu em 2011, e após novas eleições. Tal
11
Como visto na introdução (p.: 12) os países selecionados são: Egito, Malásia e Qatar
12
É o nome dado à onda de protestos, revoltas e revoluções populares contra governos do mundo árabe que
eclodiu em 2011. A origem dos protestos é o agravamento da situação dos países, provocado pela crise
econômica e pela falta de democracia.
19
caráter nos infere a verificar segundo Warde (2000) uma ambiguidade, pois os valores
religiosos têm se tornado gradualmente secundárias frentes as políticas econômicas e
financeiras. E a ocorrência disto segundo Warde (2000) trata-se de uma ruptura dos
valores culturais e religiosos frente as necessidades econômicas e políticas, provocados
por uma pressão dos interesses geral - capitalistas e do povo - e das necessidades de se
alcançar o bem-estar econômico e as exigências de uma economia global, que se
articulam e geram preocupações por teóricos teológicos e antropólogos.
20
que as instituições financeiras islâmicas não estão sob objetivo diferente das
convencionais, mas com interesses de lucro sob “disfarces”.
Há, alguns autores, que definem o Islamic Banking como uma falácia porque se
trata de uma readaptação da usura.
Até agora foi discutido o assunto sobre finanças islâmicas partindo do pressuposto
de fator agregado, instituição, aglomeração e mercado. Mas tal assunto pressupõe a
existência de indivíduos, e estes possuidores de sentimentos, ações, que formam tais
mercados, que podemos inferir, que possuem caraterísticas opostas.
13
O Homo Economicus, é uma construção de um modelo de indivíduo, que tem suas caraterísticas sociais
e filosóficas oriundas do sistema ocidental econômico, de livre comercio, no qual a motivação básica para
a ação é o autointeresse.
21
contrário ao indivíduo islâmico 14, que segundo (Kuran apud.Warde, 1986) as regras para
torna-se membro da sociedade islâmica é ser justo, socialmente responsável e altruísta -
pelo menos como declaração dos valores perseguidos pela sociedade islâmica.
Under capitalism, human beings are selfish; under the Islamic economic
system, human beings are selfish as well as altruistic;
14
O Indivíduo Islâmico, é uma construção de um modelo de indivíduo social e filosófico, elucidada por
Warde (2000) como Homo Islamicus, que segundo seu modelo, servem como orientação para as pessoas
que vivem na região do Oriente médio e são praticantes da religião islâmica, de modo não fundamentalista.
22
CAPITULO 2: ANÁLISE DE DADOS DO ISLAMIC BANKING NO PERÍODO
DE 2004-2014
Apesar que é importante ressaltar que cada instituição islâmica possui um Comitê
da Sharia, e o que delimita a utilização do banco por um islâmico é o próprio, analisando
se a operação ou sua utilização do mercado financeiro está de acordo com os princípios
religiosos gerando uma diversidade no mercado financeiro islâmico, no qual a escolha e
oferta são determinadas pelo usuário, sua cultura e seus valores.
23
2.2 O ACESSO DA POPULAÇÃO ISLÂMICA AOS SERVIÇOS FINANCEIROS
40
20
0
1990 2010 2030
Egito Malásia Qatar
Fonte: Elaboração Própria, a partir dos dados extraídos do Pew Research Center’s Forum
24
Por meio de análise dos percentuais, sugere-se um aumento da população islâmica
no Egito e Malásia em relação as outras religiões, e uma redução da população islâmica
relativa no Qatar, que também não representa uma redução real, mas sim em relação a
outras religiões. Tal aumento da população islâmica vem crescendo em todo mundo, e
reconhecido como o processo de Islamisation, ou seja, de aumento da conversão de
pessoas ao islamismo.
Entretanto, analisar o nível de acesso de uma forma global, ou seja, das empresas
e dos indivíduos, é inviável em virtude da ausência de dados. Mas a fim de compreender
o acesso dos indivíduos aos serviços financeiros, a análise considerará o a população total,
seja ela islâmica ou adepta a outra religião. Desta forma, a análise será: da penetração dos
bancos e financeiras nos países escolhidos como objeto de análise.
Países / Ano 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
Egito 4 4 4 4 5 5 5 5 5 5 5
Malásia 14 13 12 11 11 11 11 11 11 11 11
Qatar 24 22 20 19 19 19 18 13 13 12 14
EUA 33 33 34 35 35 36 35 35 35 34 32
Austrália 31 31 31 32 32 31 31 30 31 30 29
Canadá .. .. 25 25 25 24 24 24 24 24 24
Fonte: Elaboração Própria, a partir dos dados extraídos do World Bank DATA
A partir dos dados acima analisa-se uma constância nos países ocidentais apesar
de leves variações, entretanto uma redução de 42% no número de unidades financeiras
no Qatar e uma redução de 21% no número de unidades financeiras na Malásia. Ou seja,
uma leve retraída do setor financeiro no Qatar e na Malásia, no qual pode-se inferir que
se deve ao fato da redução das unidades financeiras e bancárias cenário internacional pela
tendência tecnológica da utilização do banco. Além disso, a partir dos dados da Economia
do Qatar, observa-se uma média de crescimento do PIB de cerca de 13,4% no período em
análise e deflações de até 4,9%, segundo World Bank Data.
25
TABELA 3: CAIXAS ELETRÔNICOS A CADA 100.000 HABITANTES
Países / Ano 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
Egito 3 3 5 6 7 8 9 10 11 11 13
Malásia 27 27 28 38 41 51 53 53 53 54 52
Qatar 56 58 56 54 47 49 53 52 60 62 61
EUA 165 169 166 173 167 173 .. .. .. .. ..
Austrália 134 143 148 153 149 154 161 166 166 161 161
Canadá 185 198 206 212 218 216 218 208 203 221 222
Fonte: Elaboração Própria, a partir dos dados extraídos do World Bank DATA
Logo, por meio do número das unidades bancárias e dos caixas eletrônicos, infere-
se um maior acesso da população do Egito, Malásia e Qatar ao mercado financeiro de
forma geral, assim como nos países ocidentais. Demonstrando um crescimento que apesar
de não ser proporcional entre eles, devido a realidade diferente de cada país. Não obstante,
é necessário deixar claro o fato do Egito ter um crescimento expressivo ao acesso do
mercado financeiro, talvez, em virtude de instauração da legislação de regime dual em
seu Estado, após a Revolução da Primavera Árabe.
26
No que cerne a tomar crédito, se fará a exposição de dados tanto de tomadores
islâmicos ao mercado financeiro convencional e do Islamic banking instalado em seus
respectivos países.
450
400
350
300
250
200
150
100
50
0
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
EGY 40 39 54 71 73 81 81 82 111 105
MYS 205 281 326 340 368 375 375 379 388 394 392
QAT 371 365 355 357 340 311 247 220 227 237 237
Fonte: Elaboração Própria, a partir dos dados extraídos do World Bank DATA
15
O aumento do PIB per capita no período de (2004-2014) foi de cerca de 123,16% (2004: U$$ 43.347 /
2014: U$$ 96.732)
16
Conforme explicitado na página 26, o crescimento do PIB foi de 13,4% no período de 2004-2014
17
A informação de elevação da taxa real de juros (%) foram extraídos da base de dados do World Bank
Data, sendo estes: 2008: -13,1 / 2009: 41,3; Ou seja: ∆TX J REAL = 41,3 – (-13,1) = 54,4
27
Outra forma de analisar como se obteve crescimento nos tomadores de crédito, é
por meio da análise das taxas de juros de empréstimos de curto e médio prazo do setor
privado.
28
GRÁFICO 3: TAXA DE JUROS DE EMPRÈSTIMOS (%)
16,0
13,4
13,1
14,0
12,6
12,5
12,3
12,3
12,0
12,0
11,7
11,0
12,0
11,0
9,4
10,0
9,1
8,9
8,9
8,2
8,1
8,0
7,7
7,4
7,3
7,3
8,0
7,2
7,0
7,0
7,0
6,8
6,7
6,5
6,4
6,2
6,2
6,1
6,1
6,0
6,0
6,0
6,0
5,8
5,5
5,4
6,0
5,1
5,1
5,1
5,0
5,0
4,9
4,8
4,7
4,6
4,6
4,4
4,3
4,0
4,0
3,3
3,3
3,3
3,3
3,3
3,3
3,0
3,0
3,0
3,0
2,6
2,4
2,0
0,0
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
Fonte: Elaboração Própria, a partir dos dados extraídos do World Bank DATA
29
Por meio da observação da taxa de juros dos empréstimos dos países de objeto de
análise, percebe-se que em todos os países uma redução da taxa de juros do ano de 2008
para o ano de 2009, com exceção do Qatar. Tal ocorrido, pode-se inferir, se não é
influência do mercado financeiro islâmico e convencional frente a crise de 2008, a fim de
não reduzir a demanda por crédito.
Países / Ano 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
Egito 5,7 5,9 6,6 6,4 5,7 5,5 4,8 4,3 4,4 4,6 4,8
Malásia 3,0 3,0 3,3 3,2 3,0 3,0 2,5 2,0 1,8 1,6 1,5
Qatar 3,8 3,5 2,9 3,0 3,9 2,8 4,4 3,7 3,7 3,7 3,6
EUA - - - - - - - - - - -
Austrália 5,0 5,2 5,4 3,7 4,2 2,9 3,1 3,4 3,1 2,9 3,0
Canadá 3,2 3,6 4,0 4,0 3,2 2,3 2,4 2,5 2,5 2,5 2,5
Fonte: Elaboração Própria, a partir dos dados extraídos do World Bank DATA
No mercado financeiro dos países ocidentais com exceção dos EUA18, observa-se
uma redução de forma geral do spread, mas nos anos de 2008 e 2009, verifica-se sob o
efeito da crise de 2008 uma instabilidade positiva e negativa respectivamente a fim de
proporcionar equilíbrio no mercado financeiro.
18
Ausência de dados no World Bank Data.
30
Desta forma analisa-se que a margem de lucro dos bancos derivado dos
empréstimos foi gradativamente comprimida. Contudo, mesmo com redução da margem
de lucro dos empréstimos, há um consenso na pesquisa realizada, de que o lucro dos
bancos islâmicos tem aumentado consideravelmente.
Foi tratado no Capítulo I, que o Islamic banking cresce sob ótica, na qual a
sociedade aceita gradativamente a instalação de mercado financeiro que funciona de
forma diferenciada, porém com altos preços. Todavia, altos preços, volume, e maior
quantidade de tomadores de empréstimos não são sinônimos de qualidade de crédito.
Países / Ano 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
Egito 23,6 26,5 18,2 19,3 14,8 13,4 13,6 10,9 9,8 9,3 8,9
Malásia 11,7 9,4 8,5 6,5 4,8 3,6 3,4 2,7 2,0 1,8 1,6
Qatar - - - - 1,2 1,7 2,0 1,7 1,7 1,9 1,7
EUA 0,8 0,7 0,8 1,4 3,0 5,0 4,4 3,8 3,3 2,5 1,9
Austrália 0,2 0,6 0,6 0,6 1,3 2,0 2,1 2,0 1,8 1,5 1,1
Canadá 0,7 0,5 0,4 0,4 0,8 1,3 1,2 0,8 0,7 0,6 0,5
Fonte: Elaboração Própria, a partir dos dados extraídos do World Bank DATA
19
Carteira de crédito considerada antes a provisão de perdas de empréstimos.
20
O Qatar é um dos maiores produtores de Petróleo e Gás no cenário internacional, tal conjuntura
econômica, foi demonstrada e verifica-se um alto desenvolvimento deste país, seja no crescimento do PIB
e PIB per capita.
31
Além do crédito, a remuneração dos depósitos é uma variável de extrema
importância para esta análise, visto que dado o aumento ou redução da remuneração dos
depósitos, este pode esclarecer uma maior procura pelo povo islâmico em utilizar ou até
mesmo uma pressão externa para redução da remuneração do crédito, logo reduz-se a taxa
de depósitos.
Países / Ano 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
Egito 7,7 7,2 6,0 6,1 6,6 6,5 6,2 6,7 7,6 7,7 6,9
Malásia 3,0 3,0 3,1 3,2 3,1 2,1 2,5 2,9 3,0 3,0 3,0
Qatar 3,2 3,2 4,2 4,4 3,0 4,2 2,9 1,7 1,7 1,4 1,4
EUA - - - - - - - - - - -
Austrália 3,9 3,9 4,1 4,5 4,7 3,1 4,2 4,3 3,9 3,3 2,9
Canadá 0,8 0,8 1,8 2,1 1,5 0,1 0,2 0,5 0,5 0,6 0,6
Fonte: Elaboração Própria, a partir dos dados extraídos do World Bank DATA
Nos países ocidentais observa-se uma elevação das taxas de depósito em 2008.
Porém nos outros anos, houveram oscilações que não representam aumento ou redução
significativo das taxas de remuneração dos depósitos.
32
Banking no caso do Egito e Malásia. Além disso pode-se perceber um funcionamento
atípico do mercado financeiro no Qatar, causado pela situação econômica do país.
33
CAPITULO 3: A GLOBALIZAÇÃO, INFLUENCIAS INTERNACIONAIS E
OBJETIVO DO ISLAMIC BANKING
Tal pressão, é dada como agressiva e é rejeitada pelo povo mulçumano, que busca
uma integração a fim de manter sua cultura, conforme citação:
34
mundo globalizado é permitido. Ou seja, em parte aquilo o que é proibido pelos preceitos
religiosos e culturais é observado como desejo. Contudo, este processo está sendo
alterado pois no passado iniciou-se de forma sistêmica e individual e atualmente tem se
apresentado de forma anti sistêmica e militante.
Conforme visto no capítulo 2, a povo que professa o Islã cresceu em 55% de 1990
a 2010 nos países usados como objeto de estudo (Egito, Malásia e Qatar), e há expectativa
que cresça ainda mais até 2030 conforme pesquisa. Assim como aumentou os adeptos ao
Islã, aumentou o acesso do povo islâmico aos serviços financeiros. Pois, existe cerca de
31,7% de mais pessoas que acessam os caixas eletrônicos no período de 2004-2014, e no
que cerne a crédito, os indivíduos contraem mais empréstimos nesta região. Relembrando
21
Tal comportamento é oriundo da religião, e transpassa as áreas sociais e culturais, tornando-se um
hábito e uma obrigação dos mulçumanos.
22
Destaque-se que as Filipinas, não pertencem ao grupo dos países estudados, mas por ser um país
mulçumano, pode ser considerado um país representativo, do movimento que estamos estudando. Não
foram encontrados dados para os países selecionados (Malásia, Egito e Qatar)
23
Presidente Internacional do movimento Just World, e professor da Universidade da Malásia.
35
os dados o Egito e Malásia possuem um aumento do número de tomadores de
empréstimos de cerca de 162,5% e 91,22% respectivamente, e o Qatar apresentou uma
retração do número dos tomadores de crédito, conforme observado no capítulo 2.
Além disso, segundo Cesari apud. Mottahedeh (2004), existem um grande número
de mulçumanos espalhados na Europa Ociental e em grandes metrópoles como New York,
Londres, Berlim, Paris. E esses vivem em grande parte sobre a moral sociais que regem
essas metrópoles, que são influenciadas em primazia pela globalização. Logo, infere-se
que está havendo um início de separação entre a etnia, cultura, religião do considerado
“mundo islâmico”.
Outro ponto que deve ser analisado é que no cristianismo, segundo Fernandes
(2010) a atitude cristã de recusar o sistema financeiro e econômico é normalmente vista
como coisa do passado, e sinônimo de uma mentalidade medieval, completamente
incompatível com a sociedade que atua sob a economia moderna. Já no caso do Islã, o
julgamento sobre isso altera-se segundo estudiosos, levando a compreendê-lo de uma
forma mais simpática e como autenticidade cultural, a adaptação ou conversão de um
sistema sobremaneira capitalista ao Islã.
Outros questionamentos que podem-se apontar: é até onde vai a real necessidade
do indivíduo islâmico? E o que o indivíduo islâmico avalia como real necessidade? Pois
conforme falado, trata-se de um mercado emergente que encontrou abertura mediante a
globalização e que antes não existia.
24
Aumento daqueles que professam a fé islâmica no mundo todo.
36
O que Fernandes (2010) deixa claro é que o capitalismo está sendo capaz de
relativizar e propor um multiculturalismo. E o “mundo islâmico” ao invés de se criar um
confronto ideológico, seu funcionamento e suas instituições são moldados de forma
pragmática e calculista contra aquilo que os preceitos islâmicos recusam como: valores
liberais, auto interesse, democracia e egoísmo.
Desta forma, concentrando-se nos prejuízos, o banco pode ter prejuízos realmente
aumentados em relação ao um banco tradicional, visto que o prejuízo no sistema
tradicional pode ser o repagamento do crédito, entretanto na banca islâmica é o
repagamento e os prejuízos inerentes a operação comercial derivada deste.
37
Além da divisão dos prejuízos, outro risco envolvido é a assimetria de informação
contida no mecanismo da PLS. Segundo os autores Chong e Liu (2005), a assimetria de
informação vem da Instituição Financeira não deter informações verdadeiras sobre os
lucros oriundos da operação. Este problema, de forma sintética, é causado por uma
deslealdade e mudança de mentalidade do indivíduo islâmico, em não dividir as receitas
após a coparticipação da banca islâmica.
Contudo, mesmo com que haja prejuízos, observou-se por meio dos spreads que
o Islamic Banking está lucrando tão quanto o mercado financeiro tradicional, e
aumentando seu capital de forma gradativa e considerável.
Conforme visto no capítulo 2, os spreads dos países que atuam com Islamic
Banking, são bem similares ao dos países ocidentais, como por exemplo: no caso da
Malásia e Egito tiveram oscilações parecidas com o dos países ocidentais no período de
2004 a 201425. Além disso segundo Foster (2016), a taxa de juro sobre os depósitos do
sistema islâmico chega a ser competitiva com o mercado convencional.
Logo, viu-se que o povo islâmico vive sob uma ideologia que proíbe a cobrança
de juros e especulação, entretanto sugere-se que este lucra de forma bem similar ao
mercado tradicional por meio de análise dos spreads. Também pode-se propor que os
comportamentos das oscilações das taxas de juros acompanham as especulações do
mercado exterior.
25
Conforme dados na Tabela 4, pág. 17:
Países Ocidentais (Austrália e Canadá) em 2004 e 2014 respectivamente: 8,2% ; 5,5%
Países Islâmicos (Egito e Malásia) em 2004 e 2014 respectivamente: 8,7% ; 6,3%
∆ Spread Países Islâmicos (2004-2014): -27,59%
∆ Spread Países Ocidentais (2004-2014): -32,93%
38
análise simplificada busca igualar, ou proporcionar a divisão considerada justa dos lucros
inerentes de uma operação financeira.
Ou seja, se este princípio da riba está sendo respeitado ou não, a resposta não é
uma análise simples em virtude dos altos lucros ou spread, mas sim do ponto de vista do
indivíduo mulçumano demandante por crédito. E a partir disto, sugere-se uma análise
exaustiva, no qual desfecho predomina o ponto de vista do observador.
Ainda tratando sobre as tensões do Islamic Banking, segundo Foster (2016), ele
explicita em entrevista à BBC Londres, o quanto Islâmico é o Islamic Banking, e segundo
seu relato 85% dos títulos denominados Sukuk26, não são islâmicos. Além disso, em sua
análise, Foster (2016) trata o Islamic Banking como similar ao mercado convencional, se
não considerado o mesmo, pois há uma gama de produtos iguais ao do mercado
convencional.
Foster (2016) em sua dissertação trata que existem alguns problemas jamais
mensurados como: produtos reprovados pelo comitê da Sharia de algumas instituições
26
Títulos, Papéis lastreados a contratos aceitos pela Sharia.
39
financeiras islâmicas, que por meio de propina, para auditores, passam a ser aprovados
para a comercialização.
Todavia, quando há uma convergência para uma dualidade legal, nos países
islâmicos, o que está sendo proposto é uma neutralidade ou laicidade, que gradativamente
ganha força. Ou seja, o Estado na tentativa de assegurar e proporcionar o pluralismo
religioso, e o multiculturalismo, originados das relações internacionais, tenta manter-se
neutro28 e garantir a existência da dualidade legal para a população.
Por mais que seja proposto um novo estilo de mercado financeiro, “Banco é
Banco” segundo (FOSTER, 2016, p. 4), há interesses e lucros, seja pela nomenclatura de
aluguel29 ou lucros divididos (PLS), ou até mesmo juros. Em síntese, Foster (2016)
elucida que indústria do Islamic Banking, busca envolver o público, com produtos
diferenciados, visto que só tem 40 anos de idade e está competindo com um mercado
financeiro convencional de mais de 800 anos.
27
Por exemplo: como ocorrido na Primavera Árabe em 2011, que foram diversas manifestações que
ocorreram sob plano de fundo das redes sociais, que são mecanismos e instituições modernas de
comunicação dos países ocidentais, que adentraram nas vidas dos mulçumanos.
28
A tentativa de neutralidade e esquivar-se de conflitos, se dá por meio da obediência do princípio religioso
islâmico.
29
Remuneração do crédito, pela operação Ijara, conhecido como leasing no mercado financeiro
convencional.
40
Desta forma percebe-se que a globalização adentrou a sociedade islâmica, criando
um novo mercado, denominado Islamic Banking. Este se organiza segundo aos princípios
culturais e religiosos deste povo, mas o que se percebe é que a cultura islâmica foi
gradativamente influenciada pelo ocidente. Com isso o Islamic Banking passa a convergir
para um funcionamento próximo aos bancos convencionais, e constitui-se sob uma
dualidade legal para os Estados desta região.
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CONCLUSÃO
O objetivo desta monografia foi realizar um estudo, ainda que breve, sobre o
funcionamento de mercado financeiro islâmico, e suas tensões. Tomando como análise,
dados dos países ocidentais: Austrália, Canadá e Estados Unidos, comparados com países
islâmicos: Egito, Malásia e Qatar, no período de 2004 a 2014, afim de interpretar dados
financeiros e o comportamento de variáveis como: taxa de juros, spread, quantidade de
tomadores de empréstimos, quantidade de unidades bancárias, entre outros.
42
De qualquer forma, entende-se que esta monografia pode servir tanto como ponto
de partida para futuras pesquisas relacionadas ao tema, quanto como uma resenha que
aponta para um tema pouco abordado, e de grande relevância, para entender a influência
do capitalismo, globalização sobre uma religião e cultura, e os movimentos políticos
internacionais que o compõe.
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