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Introdução
Ainda assim, o livro serviu como base teórica para os estudos sincrônicos praticados
intensamente no século XX, em contraste com os estudos históricos anteriores. O projeto de
Saussure consistia de cortes nos estudos linguísticos para que se tratasse da uma ciência
autônoma exclusivamente da linguagem, esta considerada em si mesma e por si mesma.
Assim, algumas considerações foram necessárias:
1. Língua e Fala
Para Saussure, interessa a primeira dimensão: a idéia de que no jogo de xadrez são
possíveis certas jogadas, e outras não. Por exemplo, a torre pode atacar qualquer peça
adversária, mas tem que fazê-lo deslocando-se no sentido perpendicular aos lados do
tabuleiro. Aproximando a metáfora do jogo ao estudo da linguagem, valoriza-se o que não se
observa, ou seja, a “regra do jogo”, encarada como o que é possível de se realizar, ou uma
condição de comunicação. Por esse caminho metafórico, podemos chegar à distinção mais
fundamental de Saussure: a que se estabelece entre “língua” (langue) e “fala” (parole), ou seja,
entre o sistema e os possíveis usos do sistema linguístico.
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AULA2 Módulo: Teorias de Língua e de Segunda Língua
TÓPICO 1 Princípios saussurianos de linguística geral
O que podemos entender a partir disso é que Saussure opôs o sistema linguístico
(língua) aos episódios comunicativos historicamente realizados (fala) e elegeu o sistema
lingüístico (língua) como o legítimo objeto de estudos da pesquisa linguística. Ou seja,
Saussure define a Linguística como a ciência que estuda o sistema, as “regras do jogo”, em
oposição aos atos linguísticos, ou as mensagens as quais o sistema serve de suporte.
A língua não constitui, pois, uma função do falante: (i) é o produto que o indivíduo
registra passivamente; (ii) não supõe jamais premeditação, e a reflexão nela intervém
somente para a atividade de classificação, da qual trataremos (...) a fala é, ao
contrário, um ato individual de vontade e inteligência, no qual convém distinguir: (i) as
combinações pelas quais o falante realiza o código da língua no propósito de exprimir
seu pensamento pessoal; (ii) o mecanismo psico-físico que lhe permite exteriorizar
essas combinações. (Saussure, 1995, p. 21-22)
2. Forma e Substância
Retomando a metáfora do jogo de xadrez, podemos dizer que é possível substituir uma
das peças perdidas (uma torre perdida, por exemplo) por um objeto qualquer, como um botão
ou uma pedra, desde que fique estabelecido entre os jogadores que a peça improvisada
representa a que foi perdida. Isso significa que, além das regras do jogo, a matéria de que são
feitas as peças, assim como a sua aparência externa, importam menos do que o “valor” que
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lhe é atribuído pelos jogadores, e isso se da de maneira convencionada: convenciona-se,
tomando o mesmo exemplo, que uma pedra terá o “valor” da torre perdida, desde que não
haja outro elemento no jogo que seja igual a esta pedra e que mereça outro “valor”:
Devemos ressaltar que uma mesma diferença física pode não ser portadora de uma
distinção em uma dada língua, como o exemplo acima, mas pode ser distintiva em uma outra
língua. No inglês, os sons /s/ e /∫/ podem ser distintivos como em see, /si:/ e em she /∫i:/.
Neste último caso, a propriedade física tem função linguística. Isso é o que Saussure chama de
pertinência ou relevância: a distinção entre /s/ e /∫/ no caso do português não é pertinente ou
relevante como é no exemplo dado em inglês.
Este procedimento de análise proposto por Saussure é reconhecido como teste do par
mínimo, que consiste, em última análise, em apontar um contexto (ou um ambiente)
linguístico em que uma diferença de forma corresponde a uma diferença de função e, por isso,
considera-se somente o que é pertinente ou relevante.
3. Sincronia e Diacronia
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simultaneidades, sem a menor consideração de tempo; outro, do ponto de vista de seu lugar
sobre o eixo das sucessões.
Por outro lado, a principal crítica que temos é a de que a língua transforma-se sem
cessar e é inútil pretender fixar um estado de língua determinado e descrevê-lo sem levar em
conta as mudanças a que está sujeito. Em que momento se considera que um sistema antigo
cessa e um novo começa? Como julgar os testemunhos de um estado de língua antigo que
persiste em certos estilos, e como tratar, em geral, os diferentes níveis de língua (língua falada,
prosa correte, prosa culta etc.), além de vários sistemas co-ocorrentes, como a língua literária,
a religiosa e os falares populares.
O linguista romeno Eugenio Coriseu (apud Ilari, 2001, p. 81) dizia que a possibilidade
de delimitar a sincronia era uma ficção, pois a língua convive com mecanismos gramaticais e
recursos lexicais que são fruto de diferentes momentos da história. Isso quer dizer que na
língua o velho sempre convive com o novo, e sugere, dessa maneira, que o linguista esta o
tempo todo lidando com pancronias.
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4. Para refletir
Referências bibliográficas
BORBA, F. S. Introdução aos estudos linguísticos. São Paulo: Ed. Nacional, 1984.
CAMACHO, R.G. Algumas reflexões sobre as tendências atuais da linguística. In: Confluência.
Assis: UNESP, 1994.