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Introdução
A linguística estruturalista tem como pai reconhecido o linguista suíço Ferdinand
Saussure e seus estudos e reflexões teóricas propostas no famoso Cours de linguistique
générale, publicado em 1916. No entanto, esta é uma obra póstuma de Saussure. As
circunstâncias de sua publicação são singulares: o livro não foi escrito por Saussure, mas por
alguns de seus alunos da Universidade de Genebra, que usaram suas notas de aula durante os
anos de 1907 a 1911. Por isso, o livro é criticado por não expressar o “verdadeiro” pensamento
do mestre.
Ainda assim, o livro serviu como base teórica para os estudos sincrônicos praticados
intensamente no século XX, em contraste com os estudos históricos anteriores. O projeto de
Saussure consistia de cortes nos estudos linguísticos para que se tratasse da uma ciência
autônoma exclusivamente da linguagem, esta considerada em si mesma e por si mesma.
Assim, algumas considerações foram necessárias:
1. Língua e Fala
Para entendermos as propostas de Saussure, trilharemos seus caminhos metafóricos
sobre experiências de um jogo de xadrez como processo interativo das pessoas. Saussure
utiliza essa metáfora para contrapor duas dimensões: uma se relaciona aos inúmeros
desenvolvimentos que se podem prever a partir da “regra do jogo”; outra se relaciona a um
conjunto sempre limitado de jogadas que efetivamente se realizam quando o jogo de fato
acontece.
Para Saussure, interessa a primeira dimensão: a idéia de que no jogo de xadrez são
possíveis certas jogadas, e outras não. Por exemplo, a torre pode atacar qualquer peça
adversária, mas tem que fazê-lo deslocando-se no sentido perpendicular aos lados do
tabuleiro. Aproximando a metáfora do jogo ao estudo da linguagem, valoriza-se o que não se
observa, ou seja, a “regra do jogo”, encarada como o que é possível de se realizar, ou uma
condição de comunicação. Por esse caminho metafórico, podemos chegar à distinção mais
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fundamental de Saussure: a que se estabelece entre “língua” (langue) e “fala” (parole), ou seja,
entre o sistema e os possíveis usos do sistema linguístico.
O que podemos entender a partir disso é que Saussure opôs o sistema linguístico
(língua) aos episódios comunicativos historicamente realizados (fala) e elegeu o sistema
lingüístico (língua) como o legítimo objeto de estudos da pesquisa linguística. Ou seja,
Saussure define a Linguística como a ciência que estuda o sistema, as “regras do jogo”, em
oposição aos atos linguísticos, ou as mensagens as quais o sistema serve de suporte.
A língua não constitui, pois, uma função do falante: (i) é o produto que o indivíduo
registra passivamente; (ii) não supõe jamais premeditação, e a reflexão nela intervém
somente para a atividade de classificação, da qual trataremos (...) a fala é, ao
contrário, um ato individual de vontade e inteligência, no qual convém distinguir: (i) as
combinações pelas quais o falante realiza o código da língua no propósito de exprimir
seu pensamento pessoal; (ii) o mecanismo psico-físico que lhe permite exteriorizar
essas combinações. (Saussure, 1995, p. 21-22)
2. Forma e Substância
Retomando a metáfora do jogo de xadrez, podemos dizer que é possível substituir uma
das peças perdidas (uma torre perdida, por exemplo) por um objeto qualquer, como um botão
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ou uma pedra, desde que fique estabelecido entre os jogadores que a peça improvisada
representa a que foi perdida. Isso significa que, além das regras do jogo, a matéria de que são
feitas as peças, assim como a sua aparência externa, importam menos do que o “valor” que
lhe é atribuído pelos jogadores, e isso se da de maneira convencionada: convenciona-se,
tomando o mesmo exemplo, que uma pedra terá o “valor” da torre perdida, desde que não
haja outro elemento no jogo que seja igual a esta pedra e que mereça outro “valor”:
Devemos ressaltar que uma mesma diferença física pode não ser portadora de uma
distinção em uma dada língua, como o exemplo acima, mas pode ser distintiva em uma outra
língua. No inglês, os sons /s/ e /∫/ podem ser distintivos como em see, /si:/ e em she /∫i:/.
Neste último caso, a propriedade física tem função linguística. Isso é o que Saussure chama de
pertinência ou relevância: a distinção entre /s/ e /∫/ no caso do português não é pertinente ou
relevante como é no exemplo dado em inglês.
Este procedimento de análise proposto por Saussure é reconhecido como teste do par
mínimo, que consiste, em última análise, em apontar um contexto (ou um ambiente)
linguístico em que uma diferença de forma corresponde a uma diferença de função e, por isso,
considera-se somente o que é pertinente ou relevante.
3. Sincronia e Diacronia
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Outro princípio básico se relaciona à oposição entre sincronia (pesquisa descritiva) e
diacronia (pesquisa histórica). Segundo Saussure, em Linguística, como numa série de outras
ciências, é indispensável estudar os fenômenos de dois pontos de vista: um sobre o eixo das
simultaneidades, sem a menor consideração de tempo; outro, do ponto de vista de seu lugar
sobre o eixo das sucessões.
Por outro lado, a principal crítica que temos é a de que a língua transforma-se sem
cessar e é inútil pretender fixar um estado de língua determinado e descrevê-lo sem levar em
conta as mudanças a que está sujeito. Em que momento se considera que um sistema antigo
cessa e um novo começa? Como julgar os testemunhos de um estado de língua antigo que
persiste em certos estilos, e como tratar, em geral, os diferentes níveis de língua (língua falada,
prosa correte, prosa culta etc.), além de vários sistemas co-ocorrentes, como a língua literária,
a religiosa e os falares populares.
O linguista romeno Eugenio Coriseu (apud Ilari, 2001, p. 81) dizia que a possibilidade
de delimitar a sincronia era uma ficção, pois a língua convive com mecanismos gramaticais e
recursos lexicais que são fruto de diferentes momentos da história. Isso quer dizer que na
língua o velho sempre convive com o novo, e sugere, dessa maneira, que o linguista esta o
tempo todo lidando com pancronias.
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Hoje o linguista não precisa mais justificar seu espaço e as orientações
contemporâneas não são mais hegemônicas: temos a gerativista, a funcionalista e a Análise do
Discurso, as quais estudaremos mais adiante neste curso.
4. Para refletir
Referências bibliográficas
BORBA, F. S. Introdução aos estudos linguísticos. São Paulo: Ed. Nacional, 1984.
CAMACHO, R.G. Algumas reflexões sobre as tendências atuais da linguística. In: Confluência.
Assis: UNESP, 1994.