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Drenagem de escavações
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Jorge de Brito
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DRENAGEM DE ESCAVAÇÕES
Jorge de Brito
Setembro de 1999
ÍNDICE
1. Introdução 1
2. Classificação das técnicas de drenagem de escavações 3
3. Retenção de águas superficiais 7
4. Captação directa 8
5. Rebaixamento do nível freático 11
5.1. Poços de bombagem 11
5.2. Agulhas filtrantes 15
5.3. Sistemas de ejecção 17
5.4. Electro-osmose 18
5.5. Captação horizontal 19
6. Métodos de exclusão 21
6.1. Congelação do solo 23
6.2. Paredes de lamas bentoníticas 25
6.3. Estacas-pranchas 27
6.4. Paredes moldadas 28
6.5. Cortinas de estacas 28
6.6. Jet grouting 31
6.7. Injection grouting 33
6.8 Cortinas horizontais 33
7. Bibliografia 36
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Drenagem de escavações por Jorge de Brito
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DRENAGEM DE ESCAVAÇÕES
1. INTRODUÇÃO
A drenagem de escavações pode ser definida como o conjunto de trabalhos efectuados para
drenar a água existente no terreno ou que se infiltra neste junto a escavações com carácter
provisório ou definitivo. No caso dos métodos de exclusão, referidos no capítulo 6, a noção
pode ser estendida às situações em que se impede o acesso da água no solo ao interior da
escavação, através da criação de barreiras físicas a esse mesmo acesso.
A necessidade de efectuar este tipo de trabalho pode estar associada a várias aspectos:
Para que a drenagem atinja os seus objectivos, deve ser garantido o cumprimento de
determinadas exigências funcionais [1]:
a posição do nível freático deve ser continuamente controlada para evitar flutuações que
ponham em causa a estabilidade dos terrenos, não devendo baixar mais do que o
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Drenagem de escavações por Jorge de Brito
Este documento pretende servir de apoio aos alunos do Mestrado Avançado em Construção e
Reabilitação do Instituto Superior Técnico na Cadeira de Construção de Edifícios. Foca parte
do capítulo dessa mesma cadeira dedicado às drenagens e impermeabilizações que, tal como
toda a restante matéria, se restringe fundamentalmente aos edifícios correntes.
A elaboração deste documento não resultou de investigação específica sobre o tema efectuada
pelo seu Autor mas sim de alguma pesquisa bibliográfica e de monografias escritas realizadas
por alunos do Instituto Superior Técnico, na Licenciatura em Engenharia Civil. Assim, muita
da informação nele contida poderá também ser encontrada nos seguintes textos, que não serão
citados ao longo do texto:
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Antes de encerrar este capítulo, convém referir duas questões. A primeira é a de que estes
métodos não são exclusivos, ou seja, é possível, e por vezes desejável, a conjugação de mais
do que um método para se obter a solução mais adequada e económica caso a caso.
A segunda noção é a prática já estabelecida nas obras de pequena dimensão e com pequeno
caudal afluente de não drenar as águas das escavações, partindo-se do princípio de que o nível
freático não afectará o decurso da obra (a própria natureza, ao secar o solo por evaporação,
drena-o e consolida-o). Se se verifica a posteriori o contrário, recorre-se geralmente à
captação directa da água que se encontra dentro da escavação e procede-se à
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Poços de bombagem
Drenagem de
escavações
Agulhas filtrantes
Sistemas de ejecção
Rebaixamento do
nível freático
Electro-osmose
Captação horizontal
Galerias de drenagem
Congelação do solo
Cortinas de estacas-
pranchas metálicas
Métodos de exclusão
Paredes moldadas
Cortinas de estacas
Permanentes
Jet grouting
Injection grouting
Cortinas horizontais
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No caso das valetas (ou valas), preenchidas com tubagem e filtro de material granular,
proceder-se-á à condução da água por gravidade até aos pontos de recolha (poços - Fig. 2), de
onde será afastada para um local de descarga adequado (colector de esgoto, curso de água,
etc.), quer por gravidade quer através de bombagem.
Quanto aos muros e taludes, estes não necessitam de ter uma grande altura. Ter-se-á, no
entanto, de ter o cuidado de não deixar a água acumular na face destas estruturas, sendo
necessário o seu afastamento para um local de descarga.
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4. CAPTAÇÃO DIRECTA
Nestes métodos, provavelmente os mais utilizados no nosso país em obras correntes, a água
aflui por gravidade a poços de recolha (poços de chamada), sendo daí bombada para o
exterior da escavação.
No caso de solos permeáveis, a recolha da água que aflui à escavação é feita por trincheiras
colocadas a todo o perímetro interior da escavação. Estas trincheiras deverão ter uma
pendente elevada e ser preenchidas com uma camada de material filtrante com mais de 20 cm
de espessura, de modo a minimizar as hipóteses de entupimento e, consequentemente, a
necessidade de controlo do sistema. A água recolhida é depois conduzida até um ou mais
poços de chamada, de onde é bombeada para o exterior. Estes poços terão uma profundidade
de 0,5 a 1,0 m e um diâmetro de 0,6 a 1,2 m (Fig. 3) e serão colocados em locais da escavação
que não interfiram com os trabalhos no seu interior. No que concerne à implantação deste
sistema no terreno, esta inicia-se pelos pontos de maior profundidade, a que correspondem os
poços de chamada, sendo logo de seguida colocadas as bombas submersíveis. A partir desses
pontos procede-se, das cotas mais baixas para as mais altas, à construção das trincheiras.
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No caso de solos impermeáveis, em substituição das trincheiras, pode ser usado simplesmente
um sistema de caleiras feitas com metades de tubos. Estas estarão embebidas em seixo e terão
uma pequena pendente, suficiente para que o escoamento se possa fazer por gravidade, não
existindo um risco tão grande de entupimento como no caso anterior. Dever-se-á ter o cuidado
de executar este sistema de caleiras, sempre que possível, fora da área de implantação da
estrutura para que esta não fique, depois de pronta, em contacto com zonas mais fracas devido
à existência de água. Para obviar a este inconveniente, é aconselhável tapá-las, assim que
deixem de ser necessárias, com argamassa não retráctil.
Estes métodos, sem recurso a tecnologia de ponta, permitem, em relação aos sistemas de
captação vertical ou horizontal, minimizar o caudal a bombear (cerca de 1/5 a 1/3) necessário
para manter, numa determinada área de escavação, o nível de água a uma cota fixa. Ao deixar
a água afluir à escavação, este sistema potencia problemas de erosão interna (piping) e de
levantamento / rotura do solo (heaving), sobretudo quando há necessidade de recorrer a
cortinas de estanqueidade (Fig. 4). No entanto, a maior limitação deste método é o facto de a
sua utilização se confinar a casos em que o nível freático não está muito acima do fundo da
escavação, devido à baixa capacidade de rebaixamento destas bombas, e em que a área seja
relativamente pequena, em termos de economia e eficiência.
Fig. 4 - Percolação da água sob uma cortina de estanqueidade para um poço de chamada
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L1 L1
Q = 2.5 k s2 (1 + R ) 3600 (válido se s < 2 m e L < 3) (1)
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Em relação ao número de bombas a instalar, é preferível ter pelo menos duas prontas a
funcionar, não só para obviar qualquer avaria numa delas, mas também devido a uma questão
de economia. Isto porque a potência necessária no início da obra, para retirar a água que se
encontra dentro da escavação, é superior à potência para a posterior manutenção do nível
freático, podendo assim ser desactivadas algumas das bombas, que podem ser úteis noutras
obras.
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Nos métodos de rebaixamento do nível freático, a água retirada do solo, por gravidade ou por
diferença de pressão, é depois bombeada para um local que não afecte o decorrer da
escavação. Na maioria dos casos, esse local é directamente a superfície do terreno. A
excepção são as galerias de drenagem, estruturas provisórias bastante dispendiosas, usadas em
obras de grande porte como barragens, onde a água á acumulada antes de ser retirada do
terreno.
No caso de se usar uma bomba de sucção, a profundidade de escavação está limitada pela
própria capacidade de sucção da bomba, sendo raro atingirem-se profundidades superiores a 5
m a 8 m. Caso se pretenda um rebaixamento maior, terá de se conceber um sistema por
andares, do género do apresentado a seguir para os well-points. São uma solução interessante
para obras que tenham um tempo de execução relativamente longo. No entanto, se tiverem de
ser colocados furos muito próximos uns dos outros, o método pode não ser economicamente
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viável. No caso de sistemas por andares, há ainda uma limitação quanto à inclinação dos
taludes, sendo necessário criar patamares para a localização de cada nível de bombas. O
equipamento necessário à execução dos furos é também um condicionante, por necessitar de
uma razoável capacidade resistente do solo onde vai assentar.
Alguns destes inconvenientes podem ser obviados caso se considere a colocação de uma
bomba submersível no poço de bombagem (Fig. 5). Neste caso, conseguem-se atingir maiores
profundidades, oscilando entre os 15 e os 30 m, ao não se estar condicionado pela capacidade
de sucção da bomba. Suprime-se também o ruído produzido pela bomba, desde que haja ener-
gia eléctrica disponível (caso contrário, a alimentação terá de ser assegurada por um gerador).
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H2 - h2
Q = k ln R - ln r 3600 (2)
em que:
H - altura da coluna de água acima da camada impermeável (camada completa) (m);
h - altura da co1una da água na captação depois de conseguido o rebaixamento (m);
s - altura do rebaixamento na captação (m);
R - raio de influência do rebaixamento (m);
r - raio da captação = ½ do diâmetro da secção perfurada (m);
k - coeficiente de permeabilidade do solo (m/s).
R = 3000 s k (3)
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Nos casos em que existe um aquífero parcialmente cheio a uma cota inferior ao rebaixamento
pretendido, poderá não ser necessário recorrer à bombagem. Nesta situação, a construção de
poços de alívio (drenos verticais preenchidos com filtros granulares) pode ser suficiente para
fazer a transferência da água do solo para o aquífero, rebaixando assim o nível freático.
Nos casos de obras pequenas e/ou de curta duração, em que a solução dos poços de
bombagem se torna “pesada”, ou quando os solos são pouco permeáveis (areias finas, siltes e
argilas), em que o escoamento de água por gravidade é insuficiente, pode-se recorrer à
solução das agulhas filtrantes, também designada por well-points.
As agulhas filtrantes (Fig. 8) consistem em tubos de ferro ou PVC com diâmetro de 1.5 a 2
polegadas, com comprimentos de 3 a 7 metros, introduzidos no terreno com injecção de água
(Fig. 9) e, em seguida, ligados por mangueiras flexíveis a um tubo colector (header pipe),
sendo este, por seu turno, ligado a um conjunto de bombas de água e vácuo. A velocidade de
inserção é bastante elevada, uma vez que os jactos de água, ao saírem pela ponta da agulha,
afastam as partículas do solo, deixando o caminho livre para que o tubo desça.
Tal como para os poços de bombagem, poderá ser tida em consideração a criação de vácuo
para aumentar o caudal bombeado, especialmente no caso de solos mais finos. O vácuo pode
ainda ser usado em solos mais grossos (desde que não contenham grandes calhaus), para se
iniciar o rebaixamento e reduzir a sua duração, deixando de ser utilizado a partir do momento
em que se consegue uma estabilização do caudal bombeado (“ferragem” da canalização) e a
drenagem se passa a fazer apenas por gravidade. Refira-se ainda que o vácuo pode inclusive
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fornecer ao solo na vizinhança da instalação uma coesão artificial que possibilita que a
escavação se faça com uma maior inclinação do talude, por vezes sem entivação.
Fig. 8 - Esquema de um rebaixamento do nível freático numa vala através de agulha filtrante
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Fig. 9 - Colocação de uma agulha filtrante no 3º nível de uma escavação junto ao mar
Este sistema é limitado a uma altura de rebaixamento de 5 a 6 m, sendo possível aumentá-la
através da criação de vários níveis de colocação das agulhas (Foto da capa e Fig. 9). Esta
hipótese é normalmente usada na execução de escavações em que se vai fazendo um
rebaixamento progressivo, à medida que se atingem maiores profundidades. Tem no entanto o
inconveniente de exigir um espaço para taludes cada vez maior à medida que se progride na
escavação.
O número e afastamento de agulhas filtrantes a utilizar em cada caso depende dos mesmos
factores do método anterior e pode ser calculado através de expressões que indiquem o caudal
a bombear para o rebaixamento pretendido.
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Os ejectores podem ser compostos por um ou dois tubos, consoante o caudal de ejecção
circule no espaço anelar por fora do tubo de subida ou em tubo próprio (Fig. 10, à esquerda),
respectivamente. Em qualquer dos casos é necessário colocar um filtro de protecção a
envolver a tubagem, dentro do furo aberto.
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Fig. 10 - À esquerda, sistemas de [2] ejecção de um tubo (à esquerda) ou dois tubos (à direita)
e, à direita, esquema da electro-osmose
5.4. ELECTRO-OSMOSE
Em solos muito pouco permeáveis (certas argilas), o escoamento pode ser obtido pela instala-
ção de uma diferença de potencial entre dois pólos. São colocados cátodos (pólo positivo) -
tubos de ferro ou cobre em captações verticais do tipo agulha filtrante - espaçados entre si de
8 a 11 m, com um ânodo (pólo negativo) no espaço intermédio, ambos a cerca de 1,5 m do
nível do fundo da escavação (Fig. 10, à direita). Cria-se assim uma diferença de potencial que
provoca o deslocamento das partículas de água para os cátodos, que são depois bombeadas
para um local adequado.
Este método tem débitos bastante baixos, na casa dos 15 a 750 litros/dia. Daí que seja usado
principalmente como método de consolidação de solos argilosos (em Portugal, junto a linhas
férreas importantes), onde a sua rapidez, em comparação com outros métodos usados para o
mesmo fim, é determinante.
Repare-se que, se é verdade que, à medida que a permeabilidade dos solos vai diminuindo, se
vai tornando progressivamente mais difícil e oneroso drená-los, também se verifica que o
volume de água que aflui à escavação se torna muito menor, podendo mesmo chegar a
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acontecer que seja suficiente lançar uma camada de material filtrante no fundo da escavação
para se poder trabalhar praticamente a seco.
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execução da obra em parte de um dado troço, as agulhas que garantem o rebaixamento nessa
zona são retiradas e colocadas noutro local mais à frente da obra.
É necessário ainda referir que os métodos atrás mencionados não têm utilidade para solos
com um coeficiente de permeabilidade k < 10-8 cm/s, uma vez que não se consegue
estabelecer qualquer regime de escoamento por bombagem, nem sequer com recurso a vácuo.
Nestes casos, uma solução possível é a execução da escavação sem alterar o nível freático,
lançando posteriormente uma camada de material filtrante para o fundo do terreno para
mantê-lo seco.
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6. MÉTODOS DE EXCLUSÃO
Sob determinadas condições, o processo de bombagem de água pode resultar em efeitos even-
tualmente prejudiciais ao edifício em construção, às estruturas vizinhas ou ao meio ambiente.
Um destes problemas, o assentamento do solo, provoca danos cuja gravidade depende da
espessura e do estado de consolidação do depósito compressível, da profundidade e duração
da bombagem, das fundações das estruturas na zona afectada e do tipo de construções. Refira-
se também o atrito negativo nas estacas, com perda de capacidade resistente destas.
No caso de estacas de madeira não tratada (ou qualquer outro tipo de estrutura deste material
enterrada abaixo do nível freático), podem surgir danos se o processo de extracção de água as
expuser a oxigénio. Outro problema é a possibilidade de serem afectadas as reservas dos
aquíferos nas proximidades da obra, o que se reflecte numa redução temporária do
fornecimento e da qualidade da água nos poços da região, através por exemplo da intrusão de
água salgada ou expansão de contaminantes. Recomenda-se também um certo cuidado com as
descargas da água extraída (Fig. 12), podendo causar erosão.
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É neste contexto que surgem os chamados métodos de exclusão, ou seja, aqueles em que, não
havendo acesso da água à escavação, através da execução de barreiras estanques verticais (e
horizontais), não chega também a haver extracção da primeira.
A situação mais desejável será obter uma solução economicamente viável, na qual se
prolonga a estrutura de contenção até atingir um estrato impermeável, abaixo do fundo da
escavação, devendo a cortina penetrar até uma profundidade suficiente para garantir o
tamponamento horizontal da escavação (Fig. 13, à esquerda). Nestas circunstâncias, o fluxo
de água que passa por debaixo da cortina é normalmente pequeno e, desde que as aberturas que
nela possam existir (abaixo do fundo da escavação) não tenham dimensões relevantes, não
deverá haver o risco de ocorrer rotura ou levantamento do solo do fundo da escavação. O
volume de água a bombear será igualmente baixo, correspondendo ao caudal que atravessa
esta superfície.
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Por outro lado, torna-se evidente que todos estes sistemas se constituem também como
contenções periféricas, nomeadamente com funções de suporte de terras. Uma vez que, no
âmbito da cadeira de Processos de Construção, existe um capítulo explicitamente dedicado a
esse tipo de estruturas, apenas será dado relevo no documento actual aos sistemas que não
sejam tratados com um mínimo de profundidade nesse mesmo capítulo.
Este método, sem grande tradição em Portugal em virtude do nosso clima relativamente
quente, da alta tecnologia que exige e do seu custo elevado, resume-se à extracção do calor do
solo através de tubos de refrigeração até que a água intersticial congele, formando uma
cortina de solo congelado à volta da escavação que simultaneamente veda a passagem de água
e suporta o solo envolvente (Fig. 14). O solo não precisa de estar saturado em água.
O sistema de refrigeração consiste em fazer circular amónio ou água salgada (solução mais
habitual designada por salmoura) a baixas temperaturas pelo interior de tubos previamente
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O espaçamento entre tubos deverá estar entre 1.2 e 1.8 m de modo a se obter a espessura de
projecto dentro de um intervalo de tempo razoável. É fundamental o controlo de qualidade de
todo o processo, nomeadamente ao nível da verticalidade dos tubos (inclinómetros), evitando
fugas de líquido refrigerante e controlando a percolação da água no tardoz da cortina. Uma
consequência curiosa do método é um ligeiro empolamento do solo.
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É possível realizar este método com nitrogénio líquido como o líquido refrigerador ainda que
com custos por unidade de calor extraído ainda bastante mais elevados, pelo que só se torna
competitivo em pequenos empreendimentos de curta duração ou em que se exija uma
congelação rápida. Numa instalação de nitrogénio líquido, os diâmetros dos tubos de
congelação são mais pequenos e menos espaçados. O gás não é tóxico, mas devem ser
tomados cuidados especiais para prevenir a sua acumulação em espaços fechados.
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Este tipo de barreira é mais estreito que o anterior (variando a sua espessura entre 0,6 e 1 m),
é feita por painéis alternados e apresenta como principal característica o facto de endurecer
por si só, perdendo as suas propriedades tixotrópicas provenientes da parcela de bentonite.
Existe uma variante a este processo usando calda de cimento, que exerce a função dupla da
lama (conter as terras durante a escavação) e do betão plástico (endurecer e funcionar como
cortina).
Quanto ao equipamento utilizado neste processo, tem-se as ferramentas de corte do solo como
o balde da retro-escavadora, caso a profundidade vá até aos 10 m, enquanto que, para maiores
profundidades, já se recorre a equipamento convencional de execução de paredes moldadas
(balde de maxilas - Fig. 17) ou a uma combinação dos vários equipamentos referidos. É
também necessária uma estação de preparação da mistura solo-bentonite ou cimento-
bentonite.
Uma técnica semelhante às aqui descritas é a da parede delgada (espessura menor que 10 cm),
executada por introdução no terreno de um perfil metálico, em forma de H, e posterior
extracção com preenchimento simultâneo, através de um tubo solidário com o perfil, do vazio
criado com calda apropriada para impermeabilização (bentonite tratada ou argila e cimento).
A continuidade da parede é obtida pelo deslocamento do perfil, entre cada operação, de uma
distância calculada para que haja sobreposição com o painel anterior (Fig. 15). A introdução
do perfil pode fazer-se por cravação, vibração e com ou sem injecção lançage.
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As estacas-pranchas são painéis metálicos (também podem ser em madeira ou betão armado),
ancorados /escorados ou não, justapostos verticalmente por forma a formar uma cortina prati-
camente estanque. Para conferir maior rigidez à flexão às cortinas, os painéis não são planos,
mas têm sim uma forma composta (Fig. 16). A garantia da estanqueidade, que geralmente não
é total, é dada pelo engate das estacas umas nas outras, complementado com a selagem das
juntas. Quando utilizadas em local aquático (leito de rio ou mar), adoptam o nome de enseca-
deiras. Existe uma outra solução de contenção periférica semelhante, também susceptível de
ser considerada um método de exclusão temporário, que são os painéis pré-fabricados em
betão armado, também justapostos uns aos outros formando uma cortina mais ou menos
estanque.
CORTE A-A
A A
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O seu faseamento construtivo compreende as seguintes etapas: escavação da vala para os mu-
ros-guia; construção dos muros-guia; montagem do sistema de preparação, distribuição e
recuperação da lama bentonítica (Fig. 17); escavação dos painéis primários; colocação dos
tubos-junta (painéis primários); colocação das armaduras nos painéis primários; betonagem e
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recuperação da bentonite nos painéis primários; execução dos painéis secundários (quando
existem) com os mesmos passos dos painéis primários; saneamento da parte superior da
parede; execução da viga de coroamento; escavação do terreno; execução das ancoragens
(quando existem); desactivação das ancoragens (à medida que a estrutura dos pisos enterrados
vai subindo).
As estacas moldadas no solo, uma solução corrente de fundações profundas, podem ser
executadas de forma a se constituírem como uma cortina praticamente estanque à passagem
das águas, ao mesmo tempo que asseguram o suporte das terras no tardoz a título definitivo.
As estacas poderão ou não ser ancoradas / escoradas, consoante os cálculos de estabilidade
assim o determinarem. São utilizadas quando existem estruturas de médio a grande porte
situadas perto na nova construção enterrada mas não excessivamente sensíveis a deformações
e tornam-se uma solução particularmente eficaz em túneis em zonas urbanas. A Fig. 18 ilustra
as várias formas de execução destas cortinas.
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Fig. 17 - Execução de parede moldada convencional (vala ocupada por lama bentonítica) e
balde de maxilas
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Abóbadas de
Estacas moldadas betão armado
ancoradas
A
Fig. 18 - De cima para baixo, cortinas de estacas constituídas por estacas tangentes (de muito
difícil execução), secantes (com indicação do seu processo construtivo) e espaçadas
Tal como a anterior, esta é uma solução “pesada” cuja selecção não tem a ver com a resolução
do problemas da drenagem, mas sim com dificuldades de carácter macro-estrutural na
execução de pisos enterrados.
6.6. JET GROUTING
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Este método, também designado por jet-mix e que consiste essencialmente na construção de
barreiras estanques através de jactos de argamassa não retráctil, é extremamente abrangente,
quer quanto aos tipos de solos a tratar (sendo particularmente eficaz em areias e siltes sem
coesão), quer pela grande variedade de formas de aplicação, embora tenha elevados custos
associados. Deve ser considerado em termos de génese e principal utilização como um
sistema de melhoramento de solos.
No sistema de mistura local, um único jacto de argamassa, à pressão de 300 a 500 bar, gira
em torno do eixo do furo previamente escavado, à medida que se extrai a vara de escavação.
Esta deverá girar a uma velocidade entre as 10 e as 20 rpm e o ritmo de extracção terá que ser
suficientemente lento, cerca de 100 a 150 mm/min, por forma a garantir uma boa mistura da
argamassa com o solo. Para reduzir as perdas de argamassa o furo deverá ser estreito,
permitindo que o solo desprendido e excedentes de argamassa afluam facilmente à superfície.
Estes materiais são recolhidos e imediatamente reconduzidos para o interior do solo, após
serem devidamente misturados com nova argamassa. As colunas assim obtidas têm diâmetros
inferiores a 400 mm para solos coesivos, entre 400 e 800 mm para areias e superiores a 800
mm para areias grosseiras.
Quanto ao método de substituição de solo escavado por argamassa, é utilizada uma vara de
escavação de tubo triplo para a introdução da argamassa, que se insere no solo após a abertura
inicial do furo. O processo consiste em disparar um jacto de água a elevada pressão (400 a
500 bar) que literalmente destrói internamente o solo na periferia do furo, levando de seguida
este solo em direcção à superfície. Para melhorar a acção de corte do solo poderá ser usada
uma lâmina de ar comprimido (a uma pressão de 5 a 7 bar) de forma a envolver o jacto de
água, aumentando também a eficácia do transporte do solo até à superfície. A argamassa é
então introduzida através de um terceiro jacto com uma pressão de 5 a 7 bar, entrando por
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baixo do jacto de corte. O sistema, à medida que vai cortando o solo e injectando a
argamassa, é girado e deslocado simultaneamente na vertical à velocidade de 5 rpm e 50
mm/min, respectivamente.
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É de referir ainda que estes sistemas, para além de executarem colunas, também podem ser
utilizados para fazer painéis, deixando de rodar, para o efeito, a ferramenta de corte (Fig. 20).
A argamassa é injectada sob baixa pressão (entre 5 e 7 bar) à medida que é assimilada pelo
solo. No entanto, quando a permeabilidade deste é insuficiente, a argamassa penetra no solo
como um todo e não através da colmatação dos espaços entre os grãos deste. Este efeito
negativo é conhecido por claquagem ou hidrofractura do solo. A base do processo de
compactação é a extrusão plástica da argamassa.
Em escavações profundas, torna-se por vezes necessário reduzir o afluxo vertical de água a
partir de um estrato permeável situado abaixo do plano de formação. Esta situação ocorre em
geral quando é economicamente inviável prolongar as barreiras estanques até atingirem o
maciço rochoso ou um estrato impermeável. Assim, a solução alternativa ou complementar
será implementar uma cortina horizontal de argamassa ou betão de forma a selar a base da
escavação, obtendo uma caixa estanque. Existem três opções de materialização destas
cortinas, consistindo a primeira na técnica do betão imerso (Fig. 21), a segunda na construção
de uma cortina horizontal pouco profunda através de jactos de argamassa (ou betão,
eventualmente armado) complementada com elementos funcionando à tracção (Fig. 22, à
esquerda) e a terceira na construção de uma cortina mais profunda concretizada por injecção
de argamassa no solo (Fig. 22, à direita).
O primeiro caso consiste na escavação até ao nível das fundações sem extracção da água.
Betona-se então sob a água uma camada de betão de espessura h, tal h > H / (Fig. 21), em
que é o peso específico do betão. Para esta betonagem utiliza-se a técnica designada por
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por forma a reduzir a sua deformação e melhorar a resistência aos impulsos hidrostáticos
verticais. Um aspecto positivo na implementação destas colunas de argamassa reside numa
melhoria da capacidade de absorção da carga por parte do subsolo abaixo da cortina e num
aumento de resistência passiva deste, o que ajuda a suportar as paredes periféricas.
No que diz respeito ao terceiro caso indicado, tem-se uma cortina mais profunda, que só
poderá ser aplicada quando as paredes estanques forem também de profundidade superior. O
processo de execução desta cortina por injecção de argamassa é mais económico que o
método por jactos, só podendo, no entanto, ser usado, quando a permeabilidade do solo o
permitir. Estas cortinas, ao serem mais profundas (porque h’ > H / ’, peso específico do
terreno, e ’ < - ver Fig. 22, à direita), beneficiam do peso do solo acima para resistir à
pressão hidrostática vertical, evitando, provavelmente, ter que se recorrer a ancoragens.
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7. BIBLIOGRAFIA
[1] Puller, Malcolm “Deep Excavations - A Practical Manual”, Thomas Telford, London,
1996.
[2] Silva Pereira, “Escavações em Terrenos com o Nível Freático Instalado: Processos de
Bombagem. Água Subterrânea. Algumas Recomendações Práticas”, 1º Simpósio
Nacional de Materiais e Tecnologias na Construção de Edifícios - SIMATEC, Lisboa,
1985.
[3] Coelho, Silvério “Tecnologia de Fundações”, Edições E.P.G.E., Lisboa, 1996.
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