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Precisamos

falar com
os homens?
Uma jornada pela igualdade de gênero.

REPORT DE PESQUISA QUALITATIVA


Novembro de 2016

Um projeto: Pesquisa Quantitativa: Viabilizador:

1
A ONU Mulheres e o portal PapodeHomem, com viabilização do Grupo
Boticário, realizaram uma pesquisa nacional - desenvolvida pela Questto|Nó
Research em parceria com a Zomma e a consultoria de gênero de Gustavo
Venturi – cujo objetivo é entender como os homens podem participar do
diálogo pela igualdade de gênero.
Este trabalho faz parte da campanha mundial ElesPorElas, lançada pela ONU
Mulheres em 2014 por meio de um vídeo de grande popularidade protagonizado
pela atriz Emma Watson.
A ONU Mulheres é a nova liderança global em prol de mulheres e meninas. A
sua criação, em 2010, foi aplaudida no mundo todo e proporciona a oportunidade
histórica de um rápido progresso para as mulheres e as sociedades. Na visão
da ONU Mulheres, as mulheres e meninas de todos os países têm o direito a
uma vida livre de discriminação, violência e pobreza e a igualdade de gênero
é um requisito central para se alcançar o desenvolvimento.
A ElesPorElas é uma campanha para a igualdade de gênero e o empoderamento
das mulheres, cujo objetivo é engajar homens e meninos para novas relações
de gênero, sem atitudes e comportamentos machistas.

2
Este estudo tem o objetivo de criar um material que aproxime homens e
mulheres da discussão sobre equidade de gêneros.
Para tal, foi adotada uma linguagem mais acessível na forma de dissertação
sobre os principais conceitos do tema, conceitos que, em sua maioria, envolvem
um vocabulário acadêmico e intricado para o público geral.
Na etapa inicial, uma pesquisa bibliográfica foi realizada com o intuito de
alcançar uma visão holística e abrangente sobre o universo estudado, além
disso uma pesquisa qualitativa ouviu por meio de entrevistas em profundidade
estudiosos e a outros profissionais relacionados ao tema, bem como mais de
150 pessoas abordadas nas ruas de três capitais brasileiras (São Paulo, Rio de
Janeiro e Recife).
Em um segundo momento, foi realizada e​ ntre os meses de fevereiro e
abril de 2016 u
​ ma extensa pesquisa quantitativa online, com mais de 20.800
respondentes de todos os estados do país. Tal estudo contou com a participação
proporcional de mulheres e homens, considerando-se tanto o sexo biológico
como o gênero.
Ainda em relação à pesquisa quantitativa, aqueles e aquelas que
responderam ao questionário têm idade média de 28 anos (foram ouvidas
pessoas com idade entre 16 e 60 anos). Além disso, pouco mais da metade
é solteira, enquanto um em cada quatro é casado/casada ou mora com sua
parceira ou parceiro. Já a escolaridade mostrou-se acima da média nacional:
cerca de uma em cada duas pessoas possuem curso superior completo ou em
andamento, e quase três a cada dez, algum tipo de pós-graduação.
Ao longo do trabalho, a equipe de realização da pesquisa e do relatório
contou com a consultoria e o suporte de Gustavo Venturi, professor de
sociologia da Universidade de São Paulo, pesquisador da questão de gênero
e outros marcadores sociais da diferença, coordenador da pesquisa e
organizador do livro "Mulheres e Gênero nos Espaços Público e Privado" (Ed.
Sesc/FPA, 2013). Fica aqui um profundo agradecimento por sua dedicação e
ensinamentos.

3
Vivemos em uma cultura e sociedade com valores que seguem construindo
contextos de desigualdades, sejam elas econômicas, raciais e de gênero, entre
outras.
Este material parte dos argumentos de que a cultura brasileira
contemporânea é uma cultura machista. Nosso objetivo é mostrar como
o machismo surge, quais as suas consequências para homens e mulheres e
possíveis caminhos para a construção de outras narrativas sobre os papéis de
gênero em nossa sociedade.

4
ÍNDICE

1
Desigualdade de gênero. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . 15
O patriarcado e suas construções simbólicas.

2
Os estereótipos de gênero. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 06
Homem e mulher em suas piores faces:
a armadura do herói e o vestido de princesa

3
Desconstrução de papéis.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . 47
A caminhada das mulheres e a
desvalorização do capital viril

4
Caminhos de desconstrução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
Conscientização e outras narrativas
INTRODUÇÃO

1.Os estereótipos de gênero masculinos


e femininos
A experiência de masculinidade ou feminilidade varia para cada pessoa ao
longo de sua vida, no entanto existem crenças fundamentais do sobre o que
é ser homem e mulher que atingem a sociedade como um todo e formatam a
narrativa da nossa cultura.
Este conteúdo pretende abordar a construção e desconstrução dessas
crenças assumidas como verdade, sobretudo o masculino em sua rede de
dominação e privilégio em relação a outros homens e às mulheres.
Não está proposto aqui um aprofundamento referente às diferentes
orientações sexuais de homens e mulheres nem à questão da população
transgênera, suas lutas e desafios específicos na sociedade. O estudo se
concentra na premissa da percepção de que as características atribuídas ao
masculino são vistas como superiores àquelas associadas ao feminino e busca
apontar caminhos inspiradores para possíveis desconstruções.

6
2.Diferenças biológicas e o viés da
cultura
Homens e mulheres são diferentes. Têm hormônios, órgãos sexuais e
atributos biológicos distintos – as mulheres podem gestar filhos, os homens
não. Os homens produzem mais testosterona e, em geral, são fisicamente mais
fortes que as mulheres. 
A composição biológica é relevante. Contudo, a biologia é atravessada pela
cultura. A narrativa cultural vigente se utiliza, muitas vezes, de diferenças
biológicas para justificar expectativas de comportamentos e atribuir uma
aparente naturalidade a eles, visando estabelecer ou manter a ordem desejada.
Existem diversas visões quem apontam o que é instinto, o que é uma
construção histórica, onde termina um e começa o outro, mas os limites ainda
não estão estabelecidos nem constituem uma unanimidade. Este trabalho
reconhece tal questão e por isso busca se concentrar nos aspectos mais
contundentes da cultura em suas consequências para mulheres e homens.

7
capítulo 01
Desigualdade
de gênero
O patriarcado e suas
construções simbólicas

8
A sociedade vive sob um sistema de
regras de comportamento e valores.

Pode parecer natural, pois estamos


acostumados a ele, mas esse conjunto
de condutas é construído e reforçado
ao longo do tempo pelas diversas
instituições sociais - Estado,
religião, mídia, família, empresas,
entre outros.

9
O sistema vigente há aproximadamente cinco mil anos é o chamado:

PATRIARCADO

Homens desempenham os papéis de liderança, são a autoridade moral


e possuem uma série de privilégios sociais: todas as relações refletem o
poder e o domínio masculinos.

A origem do patriarcado remonta à época da passagem do nomadismo para


o sedentarismo, possível a partir do domínio da domesticação de animais
e da agricultura. Destas, surge a noção de propriedade da terra, primeiro,
coletiva, depois privada.
Com essas mudanças, começa a surgir uma geração excedente de recursos,
que geralmente fica de posse dos homens. Isso teria levado à passagem de
sociedades matrilineares – em que prevalecia o direito e a descendência
maternos – para sociedades em que passa a prevalecer a descendência paterna
e o direito dos pais sobre os filhos (patrilineares). Institui-se a família
patriarcal, centrada no homem mais velho, cujo poder lhe dá direito de vida
e morte sobre a esposa, filhos e escravos. E, da necessidade de assegurar a
paternidade dos filhos para a transmissão de herança, impõe-se a família
monogâmica, selando a dominação dos homens sobre as mulheres também no
campo da sexualidade.
Assim, os valores do patriarcado chegam a nossos dias, trazendo consigo
o machismo e a misoginia, que defendem a ideia da supremacia masculina
e heterossexual diante do feminino da homossexualidade, bem como
reproduzindo desigualdades e discriminações de gênero em todas as esferas
sociais.

10
PATRIARCADO

Homens buscando exercer Homens buscando exercer poder


poder sobre outros homens: sobre as mulheres: estabelecendo
competindo e controlando em o feminino como inferior.
um esforço por supremacia.

Esta é a estrutura cultural sobre a qual a sociedade contemporânea está


apoiada. Não é um destino inevitável, mas sim uma rede de acontecimentos e
escolhas que formou, estabeleceu e reproduz esse cenário. Uma história que
se tornou verdade e que pode ser resumida em uma palavra:

MACHISMO.
O machismo é a ideia de que existe um sistema hierárquico de gênero no
qual o que é masculino ocupa sempre uma posição superior ao que é feminino.
Ou seja, o machismo é a concepção errônea de que os homens são “superiores”
às mulheres.
O machismo está presente no nosso cotidiano, nas ruas, no trabalho, na mídia,
na publicidade e em casa. Basta observar o contexto social e os acontecimentos
para perceber suas manifestações, que acarretam desigualdades e atraso
no desenvolvimento sócioeconômico. No entanto, muitas vezes o machismo
não é identificado enquanto tal ou é classificado como exagero. Aprendemos
a conviver com ele, naturalizando-o, e dificilmente questionamos suas
expressões.

11
Sobre a percepção da existência do machismo:

“Existe machismo
no Brasil?” 81% 95%
homens mulheres

Concordam que “existe


muito machismo”.

Além de reconhecer que existe machismo, a grande maioria das pessoas


acredita que ele é ruim para homens e mulheres.

“Você diria que


o machismo é:”
87% 86%
homens mulheres

Acreditam que “o machismo é


ruim para os homens e para as
mulheres”.

Mesmo reconhecendo a existência do machismo e seu caráter negativo, na


prática, poucos homens se assumem machistas:

“Quão machista
você se considera,
3% 23%
consideram consideram
pensando em suas “bastante “nada
machistas” machistas”
atitudes do
dia a dia?”

Pesquisa Quantitativa ONU Mulheres, “Precisamos falar com os homens”, Eles Por Elas, Brasil. Realizada entre março e abril
de 2016. A pesquisa contemplou pessoas heterossexuais, bissexuais, homossexuais e transexuais.

12
E por que
isso acontece?
Falta repertório
Tem gente que não vê o machismo porque o naturaliza e não tem repertório
para reconhecê-lo. Para esses, machista, é aquele cara ultra violento e
extremamente conservador.

“Eu não sou. Machista é o tiozão


bêbado que bate na mulher.”

Falta reconhecimento
Tem gente que concorda com a teoria mas não enxerga suas atitudes, não aceita
quando comete um deslize. Dois pesos, duas medidas: machistas são os outros.

“Consigo reconhecer um cara


machista, mas eu não sou.”

Falta acolhimento
Tem gente que sabe que existe o machismo mas acredita que é assim mesmo,
“que essa onda do politicamente correto está deixando tudo muito chato…”.

“Machista, eu? Imagina… Foi só uma


piadinha, deixa de ser chata…”

13
“Há uma grande dificuldade de a pessoa se reconhecer como
machista. A primeira reação é: ‘Eu não sou machista, você está
falando com a pessoa errada’... As pessoas tem grande dificuldade
de reconhecer em si atitudes que elas recriminam. Quem é a
pessoa que vai se dizer racista? Homofóbico? Machista? Mas as
nossas instituições, a nossa cultura, se reproduzem a partir do
modelo machista, homofóbico, sexista e orientados por classes.
Portanto, não tem como você, de dentro do buraco, tentar sair.
Qual é o grande movimento? Passe a reconhecer, a ter
dúvidas, e comece a repensar suas práticas. Você vai perceber,
direta ou indiretamente, que em algum momento você assumiu
uma prática – até mesmo por defesa, por afirmação de si – que
estava baseada em um modelo que você não gostaria.”
“Desconfie sim de alguém que diz que tudo mudou, desconfie
sim de alguém que acha que os homens e as mulheres já estão
em posições de igualdade. (…) Essa ideia de diferenciação
do masculino e do feminino não nos ajuda de forma alguma.
Ela contribui para a manutenção de determinado modelo de
opressão e não garante felicidade a ninguém.”
Homem, especialista, Recife

“Uma das formas mais perversas


de impedir que a igualdade
realmente aconteça é dizer que
ela já existe.”
Daniela Lima, escritora, em artigo sobre a obra de Simone de Beauvoir

14
A maior expressão do machismo é a:

física

VIOLÊNCIA

emocional simbólica

Violência de homens contra mulheres, de homens contra outros homens.

A pesquisa quantitativa mostrou, que existe uma enorme discrepância


entre homens que afirmam ter cometido violência e mulheres que afirmam ter
sofrido violência. Ou seja, embora amplamente percebida pelas mulheres, a
violência é pouco reconhecida pelos homens.

Pergunta

“Insistir muito para que o sexo


aconteça, mesmo quando o parceiro não
está nada a fim.”
Gênero* Gênero
masculino feminino
Já sofri e cometi
11% 6,1%
esse ato
Nem sofri nem cometi
esse ato 63,3% 46,2%

Já cometi esse ato 15% 13,7%

Já sofri esse ato 10,7% 34%

*Gênero é um conceito social e se refere aos aspectos culturais e sociais associados ao fato de se pertencer ao sexo
masculino ou feminino. As características de gênero podem variar de acordo com a sociedade.

Pesquisa Quantitativa ONU Mulheres, “Precisamos falar com os homens”, Eles Por Elas, Brasil. Realizada entre março e abril
de 2016. A pesquisa contemplou pessoas heterossexuais, bissexuais, homossexuais e transexuais.

15
Às vezes não se nota a violência. É
difícil enxergá-la no cotidiano, mas
ela está presente nas mais diversas
modalidades de agressão: uma palavra,
um preconceito, uma piada, uma ameaça,
um apertão, um tapa.
O primeiro passo é reconhecer que o
machismo existe e que ele NATURALIZA
a violência e a desigualdade entre
homens e mulheres.

“O machismo é nocivo para os homens enquanto efeito,


porque as práticas do machismo são violências sobre o outro.
Então elas aparentemente resolvem o problema. Qualquer ação
machista está sustentada na ideia da ausência de diálogo.
Então, em um primeiro momento ela cria certa sensação de
vitória, de conquista, de poder, ma s ela é esvaziada porque ela
anula o outro.”
Homem, especialista, Recife.

16
capítulo 02
Os estereótipos
de gênero

Homem e mulher em suas piores


faces: a armadura do herói e o
vestido de princesa

17
A cultura patriarcal é constituída
de estereótipos de gênero que
determinam a forma como homens
e mulheres devem se comportar
na sociedade.

HOMENS PATRIARCADO MULHERES

A masculinidade hegemônica
Todo menino atravessa um período de aprendizagem sobre o que se espera
dele como representante do sexo masculino. A família, a comunidade, a escola,
a religião e a mídia ensinam a ele quais comportamentos são masculinos, e
ele percorre um longo caminho até tornar-se “homem”.
Os homens também são levados a seguir um modelo ocidental,
heteronormativo, branco. Neste sentido, homens negros, homossexuais e
índígenas são vistos como “de segunda categoria” na nossa sociedade.
A obtenção das atribuições consideradas masculinas costuma se
caracterizar por um processo violento (físico, emocional e simbólico), sendo
a violência uma das raízes que constituem a masculinidade.

18
HOMENS

A construção da identidade masculina


estereotípica pode ser expressa em 9
ensinamentos básicos.

1.
Cultura
do Herói
9. 2.
Provedor Expressão:
violência

8. 3.
Trabalho Heterossexualidade

7. 4.
Sexo Restrição
emocional
6. 5.
Pertencimento Capital
ao grupo Viril

19
1.Cultura do Herói
Por meio de histórias, vivências e ensinamentos , o menino aprende que o
mundo é violento, que existem o bem e o mal, heróis e vilões, ganhadores e
perdedores, e que é preciso saber lutar e ser valente para conquistar o que
se deseja.
A mídia e os meios de comunicação de massa têm um papel estrutural na
reprodução e reforço dessas concepções de ideal masculino. A imagem do
homem corajoso, forte e viril de um lado e da mulher sexy, delicada e doce,
de outro, é comunicada de forma constante e por meio dos estereótipos do
“Herói” e da “Princesa”.
A identificação com a figura do Herói acontece por dois motivos:
1) O homem vê no Herói a manifestação do ideal masculino: junto com a
“perfeição moral” que se deve atingir, o Herói também alcança a “perfeição
física”.
2) O herói dos filmes se apresenta como alguém real, que vive conflitos
existenciais similares aos que um homem comum pode enfrentar.

2.Expressão: violência
Meninos aprendem que homens são fortes e que mulheres são frágeis; que
homens não levam desaforo para casa; que não devem apanhar; que devem
saber se defender e reagir quando provocados ou ameaçados. A violência
masculina é um dever ensinado.
A violência pode ser entendida como uma expressão de insegurança
masculina ou como uma forma de manutenção e perpetuação do ideal
masculino hegemônico.

“Os meninos são ensinados. Eles não nascem violentos.


Os jogos infantis os colocam na rua, e as meninas ficam com
o ‘cuidar’. São formas institucionalizadas de conduta que se
reproduzem tanto que viram verdade. E, para você ser homem,
tem de ter um posto de poder e exercer violência.”
Homem, especialista, Recife

20
3.Heterossexualidade
Meninos são ensinados que devem sentir atração apenas pelo sexo oposto.
Desse modo, a heterossexualidade passa a ser um referencial “obrigatório”
para o homem. Qualquer indivíduo que fuja da regra heterossexual pode ser
tratado com descaso, desprezo, humilhação e até violência física. A violência
também pode se manifestar como um sentimento negativo contra si mesmo
em razão de sua orientação fora da “norma sexual”.

“É difícil ser um homem hetero que tem amigos gays e que


não se preocupa em ferir a sua masculinidade por isso...”
Homem, 26 anos, São Paulo

“Na escola tem isso. Se o cara sabe desenhar, as pessoas


falam: ‘Vai ser arquiteto, arquiteto é gay… Se fosse homem
mesmo, fazia engenharia’. Um bagulho escroto que vem do
professor, do mestre, como se fosse brincadeira. Quando tem a
ver com gênero, com raça, nunca é brincadeira.”
Homem, 26 anos, São Paulo

4.Restrição emocional
Expressões populares como “para de chorar e fala que nem homem, rapaz!”,
“medo é coisa de mulherzinha” e outras criam um temor nos homens de serem
percebidos como fracos e afeminados. Com isso, o menino aprende a desprezar
as emoções e a controlar sentimentos que o tornem vulnerável ou o associem
ao feminino.
A proibição social da expressão das emoções por parte dos meninos cria
uma inabilidade em compreender a si ao outro. Consequentemente, essa
falta de sustentação emocional e de empatia leva muitos homens a assumir
comportamentos violentos.

“Se um menino cai da bicicleta, você diz logo: ‘Menino,


levanta daí, aguenta o choro’. Se uma menina cai da bicicleta,
você faz carinho, vê se ela está bem, arruma o vestidinho,
porque ela é um ser frágil.”
Homem, especialista, Recife

21
5.Capital viril
Nossa sociedade incentiva os meninos a manifestarem a sua virilidade e
a provarem que são “machos”. Para se afirmarem, eles precisam competir,
vencer, derrotar, rebaixar e feminilizar outros meninos.
A imagem do homem viril se faz justamente em oposição aos valores
femininos: o homem macho, forte e inflexível é construído socialmente em
detrimento da mulher frágil, doce e flexível.
A aproximação a valores e comportamentos femininos representa um
afrontamento à condição de macho do homem viril. Qualquer homem que se
afaste desse ideal é atacado em algum momento com palavras de violência.

“O homem é criado para ser forte, dominante. O pai passa


para o filho que se ele apanhou, deve bater também. Eu escutava
muito do meu pai: ‘Se chegar em casa apanhado, apanha de novo’.”
Homem, 40 anos, Recife

22
6.Pertencimento ao grupo
A entrada em um grupo é um acontecimento inevitável na passagem da
infância para o mundo adulto e um referencial significativo na construção
da identidade do homem. Para se afirmar e ser aceito nesse coletivo o jovem
desempenha papéis sociais e passa por uma série de situações cotidianas nas
quais precisará testar a sua coragem, competência sexual e lealdade.
Os grupos formados por homens jovens costumam reforçar os
estereótipos masculinos nocivos que podem ser identificados, por exemplo,
em comportamentos agressivos na rua, no uso exacerbado de drogas/bebidas
alcoólicas e na direção imprudente. Ou seja, a necessidade de demonstrar
força para a afirmação da masculinidade dentro do grupo faz com que homens
jovens se exponham deliberadamente a situações de risco.
“Quando eu tinha meus 17 anos, a gente fazia muita loucura por
aí. Tinha uma turma, vários amigos de fé, e a gente brigava na
rua, roubava o carro do pai dava carona para as meninas, bebia
até cair e achava graça.”
Homem, 35 anos, São Paulo

7.Sexo
O desempenho sexual é apresentado como uma das principais referências e
preocupações para a construção da masculinidade. Ele passa a ser percebido
como uma espécie de “novo esporte” em que se disputa a dominação da mulher;
espera-se do homem um comportamento ativo, e da mulher, um comportamento
passivo, receptivo e de objeto de desejo.
Além de pressupor que o homem sente desejo sexual constantemente, esse
ideal sugere a subjugação da mulher a partir da violência: o homem entende
que a mulher deve estar a seu dispor e que ele pode controlar a sua sexualidade.
Em sua forma mais cruel, essa hostilidade sexual compreende, entre outros,
o estupro, o incesto e o assédio, violências que expressam a dominação de
gênero.

“Meu pai dizia que eu tinha de transar com todas as mulheres


até os 30 anos e depois escolher uma para casar. E para
conseguir isso, valia tudo: dar bebidinhas, passear de carro,
pagar jantares, comprar presentes...”
Homem, 28 anos, São Paulo

23
8.Trabalho
O trabalho é um fator fundamental na constituição da identidade tradicional
masculina, pois comporta valores morais que qualificam os homens que
trabalham como honestos, responsáveis e dignos, e os que não trabalham,
como vagabundos, desonestos e sem valor.
O desempenho profissional é uma das principais referências para o
ideal de comportamento masculino e, quando ele é pouco satisfatório, pode
desencadear o sentimento de fracasso no indivíduo enquanto “homem”.
Em alguns casos, essa sensação de frustração e baixa autoestima pode
levá-lo a fazer uso da violência como uma alternativa de defesa contra essa
condição.
Ao mesmo tempo, a representação social dos homens no mercado de
trabalho carrega benefícios significativos quando comparados às mulheres.
Eles são maioria nos cargos de direção, são culturalmente mais aceitos na
esfera pública e política e recebem maiores salários.
“Meu marido não está trabalhando nesse momento… Ele é músico
e hoje passa o dia em casa. O novo apelido dele é Zé Bostinha
(risos).”
Mulher, 41 anos, Recife

9.Provedor
A posse de determinados bens materiais e a aquisição de poder econômico
são alguns dos atributos do ideal masculino contemporâneo. Se ser homem
está atrelado a ter poder, não ser poderoso significa simbolicamente não ser
homem. Ou seja, para ser considerado um “homem de verdade” é necessário
trabalhar, acumular bens e sustentar a família.
Quando esse padrão não se concretiza, a violência se torna um meio de
comprovar para si mesmo e para os outros a sua condição viril e, portanto,
masculina.
“Eu falo para o meu filho que ser o provedor da casa faz parte
de ser homem… Acho que o homem tem esse dever bíblico… O
homem tem de ser o provedor, ser forte, proteger… O homem que
protege é um homem bom…”
Homem, 36 anos, Rio de Janeiro

24
Estereótipo masculino: o Herói Durão
Seguir essa receita significa preencher boa parte dos requisitos de uma
lista de expectativas de como os homens devem ser, agir, sentir e falar.
Ao longo do tempo, esses padrões de crenças e comportamentos são
absorvidos enquanto verdade e, como que instintivamente o homem atinge a
vida adulta vestindo uma armadura: a Armadura do Herói.

A Caixa do Homem
Heterossexual Sexualmente impositivo
Fisicamente apto Trabalhador
Corajoso Provedor
Forte Não comete erros
No controle Não desiste
Ativo Aguenta o tranco
Sexualmente experiente Competitivo
Prontidão sexual Bem-sucedido
Fala firme Bully
Não demonstra emoções Dominante em
Sabe se defender relação à mulher
Não chora

A chamada Caixa do Homem é uma linha traçada em torno das expectativas


de um ideal masculino, com formas e limites rígidos, que oferece privilégios
e ao mesmo tempo “aprisiona” os homens. Uma lista tão extensa que demanda
deles um heroísmo artificial e inatingível.
Muitos homens carregam desde a infância o estigma de fracassados ou
inferiores por apresentarem características físicas, psicológicas, sexuais ou
sociais que não correspondem às expectativas da masculinidade hegemônica.

Não alcançar esse modelo cultural significa ter a masculinidade


ameaçada, e a forma mais primária de reafirmá-la é por meio da violência.

25
A Caixa representa e reforça os parâmetros do que é socialmente esperado,
ao mesmo tempo que salienta e pune os comportamentos e atitudes indesejados.
Quando meninos e homens se portam de forma que remetem ao universo
feminino, frágil ou infantil, eles escapam para “fora da caixa” e chamam
atenção pela quebra do “código de conduta” . Logo serão empurrados de volta
por meio de expressões ofensivas, que funcionam como lembretes de que
não estão se comportando conforme o esperado, ou seja, como “homens de
verdade”.

Meni
ninh a
a B ic h

Maricas Filho da
mamãe

Bebezão Nerd

A Caixa do Homem Criado


Gay
pela vó

Covarde Frouxo

isito Frac
o
Esqu te

26
MULHERES
Assim como os homens, as mulheres são fruto de uma sequência de
aprendizados sobre como devem se comportar.
Há uma rigidez no conjunto de características associadas ao feminino
e, em geral, os atributos mais valorizados são aqueles adotados, direta ou
indiretamente, com o intuito de beneficiar e agradar os homens.
A expressão da feminilidade é marcada pela constante validação
masculina. E reflete uma submissão: aos seus desejos, seu julgamento, seu
domínio.

A construção da identidade feminina


Profundamente apoiado sobre as bases do amor romântico, o ideal cultural
do ser mulher é formado e reforçado visando um objetivo primordial: agradar
ao homem. Essa receita é avaliada pela capacidade da mulher de atrair o
“melhor partido”.
A identidade feminina se divide em 4 ensinamentos complementares:

1. 2.
PUREZA CUIDADO
Construção
da Identidade
Feminina

4. 3.
BELEZA FRAGILIDADE

27
1.Pureza
Desde criança, a menina é ensinada a desenvolver hábitos e comportamentos
que a associem à pureza e à castidade.
O recato sexual é uma aura construída junto a outros códigos de conduta,
como a suavidade em suas maneiras e o resguardo de seus hábitos (não beber,
não se exaltar, não usar roupas ou linguagem extravagantes).
É alimentada a concepção de que essa mulher sensível e casta é “para casar”
e naturalmente se comportará melhor diante das obrigações e vontades de
seu marido.

2.Cuidado
De geração para geração, a responsabilidade do cuidado com crianças e
idosos, além das tarefas domésticas, é atribuída à mulher. Esse ensinamento
é transmitido, como uma aptidão e recebido como um dom.
A mulher se mantém confinada ao ambiente doméstico e realiza tarefas
que não são valorizadas: todo o trabalho ordinário (invisível, sem destaque
social), em contraponto ao homem, detentor do trabalho extraordinário
(visível e com potencial de destaque social).
Tal restrição e orientação constante em direção ao outro exigem da mulher
uma postura ideal de respeito e devoção, limitando assim sua autoestima,
autonomia e independência.

28
3.Fragilidade
Ao mesmo tempo que cuida, a mulher, para reafirmar sua pureza, deve
precisar ser cuidada. A fragilidade se torna um componente da sua identidade
e se expressa na aproximação da mulher à imagem de uma criança, alguém
dependente de outro ser.
Tal dualidade – no ambiente doméstico ela é cuidadora, mas no espaço
público tem de ser frágil – é constituída por meio de comportamentos e
atitudes: a mulher deve ser calada, pouco expressiva, passiva e emotiva.

4.Beleza
O potencial de atração da mulher é condicionado à sua aparência física.
Os atestados de beleza são características que representam visualmente a
pureza, a fragilidade e a aura de alguém que sabe cuidar tanto dos outros
quanto de si.
O ideal de beleza feminino é muito restrito, evocando traços infantis e
específicos – corpo magro, pele perfeita, cabelos lisos, higiene excessiva,
feições angelicais. Forma-se um ciclo no qual as características físicas
representam e, ao mesmo tempo, produzem a fragilidade idealizada para a
figura feminina.

29
Estereótipo feminino:
O Vestido de Princesa
Adequar-se ao modelo de feminilidade da sociedade significa dedicar-
se à adaptação e lapidação constantes com o objetivo de ser atraente para
os desejos e julgamentos do homem. Para corresponder a esse conjunto de
expectativas, só há um caminho: trajar o Vestido de Princesa.
O homem está no centro da construção da identidade da mulher. Se ele
é o herói, ela é sua conquista. O feminino em sua plenitude é visto como a
mãe, uma mulher servil e polida, aquela que nutre e obedece ao homem. Sua
atuação é sempre circunscrita e limitada. Ela deve ser sexy, mas não tão
sexy. Inteligente, mas não tão inteligente. Qualquer desvio desse padrão ou
exacerbação de uma característica configuram inadequação e são punidos
com violência por parte da sociedade como um todo e, principalmente, do homem.

1. 2.
PUREZA CUIDADO
Construção
da Identidade
Feminina

4. 3.
BELEZA FRAGILIDADE

30
O machismo é o conjunto
de crenças que perpetua os
estereótipos de gêneros.

A cultura patriarcal
Estereótipo é constituída de Estereótipo
masculino: estereótipos de gênero feminino:
que determinam a forma
Armadura como homens e mulheres Vestido de
do Herói devem se portar na Princesa
sociedade.

Além de afirmar erroneamente uma suposta superioridade dos homens


sobre as mulheres, o machismo ajuda a perpetuar as expectativas de gênero da
cultura patriarcal. Ou seja, determina que certas atitudes e comportamentos
só podem pertencer a um dos dois gêneros.

O machismo tem três implicações claras


em nossa sociedade:

1. Privilégios masculinos

MACHISMO 2. Controle sobre quem


a mulher deve ser

3. Tensões do homem

31
1.Privilégios masculinos
Atitudes, potencialidades e liberdades muitas vezes vistas como
cotidianas, comuns ou naturais deixam claras a diferença e desigualdade
entre os gêneros.

“O masculino é menos
perceptível que o feminino na
medida em que o primeiro pode
mais facilmente disfarçar-se de
interesse geral: os conteúdos
culturais completamente
neutros em aparência mascaram
a essência masculina.”
Georg Simmel

1a. Desigualdade naturalizada

HOMENS:
• Estão na maioria das posições de poder no mundo;
• Ocupam o espaço público com segurança e sem medo;
• Não se preocupam com assédio sexual;
• Podem andar sozinhos pela rua sem serem considerados “objetos”;
• São os protagonistas da maioria dos filmes e livros da nossa cultura de
massa;
• Podem andar pela rua sem ter o corpo avaliado pelos outros;
• Podem ter uma vida sexual ativa e intensa sem serem julgados por isso;
• Têm mais liberdade para envelhecer, mantendo-se sexualmente desejáveis;
• Não precisam ter filhos para serem considerados completos.

32
“Eu não aprendi a arrumar a cama, a lavar a louça, a comprar
coisas para a casa. Eu usufruía da casa. Quando eu era criança,
quem fazia era minha mãe, minhas irmãs. Aí, quando a gente
fica mais velho, quem faz é a mulher ou alguém que a gente
contrata para isso, que é outra mulher.”
Homem, 55 anos, São Paulo

“Deus falou isso na bíblia, que a mulher tem de ser submissa


ao marido.”
Homem, 40 anos , Recife

“O nosso corpo não é pensado como um corpo a ser violado


do ponto de vista da sexualidade. É um corpo que violenta, não
que é violentado.”
Homem, especialista, São Paulo

“Nós, homens, sempre tivemos todos os espaços da sociedade.


O espaço público é nosso, o espaço da fala é nosso, o espaço de
se colocar é nosso.”
Homem, especialista, Recife

“Onde eu morava, as meninas eram criadas para ter muita


cautela por onde iam. Apesar de ser uma cidade pequena,
sempre se dizia: ‘Cuidado com tarado’. Pairava no imaginário
coletivo e na educação das meninas que, em determinadas horas
e locais da cidade, elas não podiam sair porque corriam o risco
de serem atacadas por um tarado.”
Mulher, 33 anos, Recife

“Essa ideia de ‘eu sou o homem’ tem benefícios. Muitas


vezes nós fazemos uso deles, e não é por mal, porque não é algo
consciente. Quando eu coloco meu corpo para defender o de uma
mulher no carnaval, eu estou usando um privilégio, porque eu
sou o corpo que protege, e ela, o que é protegido.”
Homem, especialista, Recife

33
2.Controle sobre quem a mulher deve
ser
Diferentes manifestações do machismo visam controlar o comportamento
da mulher. Essa forma violenta de domínio vai muito além do abuso físico e
do estupro. Trata-se de uma maneira de diminuir a liberdade e o campo de
ação da mulher dentro dos ambientes doméstico e público.

“Continuo acreditando que essa questão dos privilégios


precisa vir mais à tona. Uma mulher que sofre cantadas,
que nunca está tranquila ao andar na rua – ainda existe uma
confusão sobre isso, mas mesmo que questionem: ‘Sozinha?
A essa hora? Com essa roupa?’, os homens e as mulheres já
conseguem entender. No entanto existem aspectos mais
sutis. Por exemplo, meu companheiro sempre me interrompe,
atrapalha minha linha de raciocínio. Eu falo: ‘Ainda não acabei
de falar! Me deixa falar!’.”
Mulher, especialista, Rio de Janeiro

34
2a.Expectativas e sugestões de comportamento

Espera-se que a mulher cumpra com expectativas relacionadas à vaidade,


beleza e feminilidade por meio de ações como cuidar do corpo, depilar-se,
fazer as unhas, alisar os cabelos e usar salto alto.
Quando vestem roupas consideradas curtas ou justas, as mulheres são
julgadas como “sexualmente disponíveis” e correm o risco de sofrer abusos
verbais e físicos.
Espera-se que a mulher case para que alcance respeito e reconhecimento.
Depois de certa idade, estar solteira ganha o status de “encalhada” ou infeliz.
Nossa cultura sugere que as mulheres possuem “instinto materno” e
precisam exercer a maternidade para que se tornem “mulheres de verdade”.
O conjunto dessas crenças e padrões faz com que ser mãe seja praticamente
uma obrigação.
Entende-se que a mulher tem mais aptidão para o trabalho doméstico do
que o homem e, por isso, deve ser a responsável por essas tarefas. Caso não se
interesse ou não tenha habilidade, é julgada como inapta.
O corpo da mulher é visto como público, um objeto passível de desejo
do homem, algo aberto à avaliação nas ruas. Dessa forma, ensina-se que as
mulheres devem se proteger e evitar certos lugares e situações para que não
corram o risco de sofrer abusos verbais e físicos.
No caso da mulher negra, a hipersexualização é ainda mais presente (maior
objetificação sexual), bem como a expectativa da agressividade (estereótipo
de “barraqueira”).
O corpo e a liberdade sexual da mulher são controlados e reprimidos por
homens e mulheres em uma sociedade que ainda conserva a defesa de uma
honra puritana e julga aquelas que buscam viver plenamente a sua sexualidade.
Caso assumam um comportamento sexual avaliado como “livre”, são julgadas:
“piranhas”, “vagabundas”, “vadias”.

35
RESULTADOS DA PESQUISA QUANTITATIVA
Grau de concordância em relação às frases abaixo:

Discordo Discordo Não concordo Concordo Concordo


totalmente em parte nem discordo em parte totalmente

Mulher que anda com 87,38% 5,14% 3,83% 2,01% 1,65%


camisinha é safada.

Homens e mulheres
deveriam dividir 3,31% 4,53% 7,48% 12,14% 72,55%
por igual o trabalho
doméstico.

A responsabilidade
de evitar a gravidez 71,61% 14,22% 4,07% 7,69% 2,41%
é principalmente da
mulher.

Mulheres deveriam
decidir se a prioridade 55,44% 11,02% 9,53% 7,69% 16,32%
na vida delas é a
carreira ou os filhos.

Mulheres devem
tomar cuidado com
a roupa que vestem 58,26% 16,48% 6,49% 13,51% 5,27%
para não serem muito
provocativas.

A política seria melhor


se NÃO existissem mais
26,65% 27,28% 25,45% 10,9% 9,72%
mulheres em postos
importantes.

Pesquisa Quantitativa ONU Mulheres, “Precisamos falar com os homens”, Eles Por Elas, Brasil. Realizada entre março e abril
de 2016. A pesquisa contemplou pessoas heterossexuais, bissexuais, homossexuais e transexuais.

36
2b.Micromachismos*

1. Micromachismo coercitivo
Configura-se quando o homem usa sua força moral, psicológica ou econômica
para tentar subjugar a mulher e convencê-la de que ela não tem razão. Inclui
exemplos como:
Intimidação: dar a entender por meio de um comportamento assustador
(olhar, tom de voz) que, se a mulher não obedecer, algo negativo ocorrerá.
Insistência abusiva: obter o que se deseja por meio do esgotamento da
mulher, que acaba por ceder em troca da paz.
Tomada súbita de comando: cancelar ou ignorar as decisões da mulher, tomar
decisões sem consultá-la, dar opiniões sem ter sido solicitado, monopolizar as
conversas.
Gaslighting: distorcer fatos e omitir situações para deixar a mulher em
dúvida sobre sua memória e sanidade mental.
Bropriating: apropriar-se da ideia de uma mulher e levar o crédito por ela.

*Conceito popularizado pelo psicoterapeuta Luis Bonino em referência às “violências leves”, “pequenas tiranias”,
“violência cotidiana”. Fontes: Luis Bonino, Think Olga, Lugar de Mulher.
37
2. Micromachismo dissimulado
O homem esconde seu objetivo de domínio por meio de atos tão sutis que
muitas vezes passam despercebidos.
Inclui exemplos como:
Maternalização: induzir que a mulher dê prioridade ao cuidado de terceiros
(filhos, familiares), tornando-se incapaz de cuidar de si tanto pessoal quanto
profissionalmente.
Paternalismo: fazer com que a mulher se sinta como uma criança que
necessita de cuidados.
Mansplaining: explicar algo óbvio para uma mulher como se ela não tivesse
capacidade intelectual para entender.
Manterrupting: interromper a fala de uma mulher e impedi-la de concluir
sua frase.
Justificativas para o próprio comportamento prejudicial: esquivar-se da
responsabilidade por suas ações, negar ou não dar importância às reclamações
da mulher. “Eu não percebi”, “eu quero mudar, mas é difícil”, “eu não tenho tempo
para cuidar de crianças” são alguns exemplos.

“Homens que têm poder dentro do mercado de trabalho


falam de emocionalidade, que mulheres não têm cabeça
fria. ‘Mulheres brigam com mulheres’ é outro argumento
muito utilizado. Fala-se também sobre a maternidade, que o
comprometimento profissional da mulher será menor porque
ela terá de sair no meio do expediente para levar o filho ao
médico. Mas, claro, [isso se dá] porque os papéis sociais fazem
com que a obrigação de fazer isso seja da mãe.”
Homem, 30 anos, São Paulo

“Dependendo do contexto, é difícil para a mulher se colocar,


porque os homens têm mais domínio da fala pública.”
Homem, especialista, Recife

38
3. Micromachismo de crise
Configura-se quando o homem realiza atos para restabelecer o domínio da
relação, mantendo a desigualdade de poder. Inclui exemplos como:
Pseudoapoio nas tarefas: anunciar a participação nas tarefas realizadas
pela mulher, sem fazê-lo de fato. Evita-se um confronto direto, mas sem a
efetiva colaboração nas atividades domésticas.
Promessas superficiais: praticar atos como dar presentes, prometer e
ajudar nas tarefas, apenas com a intenção de produzir mudanças superficiais
que evitem questionamentos sobre as causas da crise (especialmente em
casos de ameaça de separação).

“Para mim não houve aprendizado sobre a condição


feminina. Eu resistia a fazer as tarefas de casa. Achava que elas
estavam muito abaixo de mim. (...) Mesmo em uma situação em
que estava tudo pronto para eu assumir esse lado doméstico,
era difícil. Eu fazia de maneira relutante, e isso era motivo de
conflito em casa.”
Homem, 26 anos, São Paulo

4. Micromachismo utilitário
Configura-se quando o homem não divide a responsabilidade dos afazeres
domésticos, deixando implícito que é a mulher quem deve cuidar da casa.

“[A aversão do homem aos trabalhos domésticos]


Manifesta-se claramente como preguiça. Em segundo lugar,
como direito à preguiça. Poxa, eu trabalhei o dia inteiro,
e você ainda quer que eu trabalhe em casa? A gente tem um
milhão de justificativas para não realizar essas tarefas. Por
quê? Isso é cultural. Eu nunca fiz na minha casa. Minha mãe
trabalhava fora e cozinhava; eu ficava em casa e não fazia
nada. Quando, poucas vezes, eu levantei para fazer, minha mãe
morreu de orgulho. Ela achava que estava me corrigindo. Não,
nem assim.”
Homem

39
2c. A Lei Maria da Penha define cinco formas de
violência doméstica e familiar contra as mulheres:

Violência emocional ou psicológica:


Xingar e humilhar a mulher; ameaçá-la, intimidá-la e amedrontá-la; criticá-
la continuamente, desvalorizar seus atos e desconsiderar sua opinião ou
decisão, debochar publicamente dela, diminuir sua autoestima; tirar sua
liberdade de ação, crença e decisão; tentar confundí-la ou fazê-la achar que
está ficando louca; atormentá-la, não deixá-la dormir ou fazê-la se sentir
culpada; controlar o que ela faz, quando sai, na companhia de quem e para
onde; impedir que ela trabalhe, estude, saia de casa, vá à igreja ou viaje;
procurar mensagens em seu celular ou e-mail; usar as/os filhas/os para
chantageá-la; isolá-la de amigos e parentes.

Violência sexual:
Forçar relações sexuais quando a mulher não quer, quando está dormindo
ou doente; forçar a prática de atos sexuais que causam desconforto ou
nojo; obrigá-la a olhar imagens pornográficas; obrigá-la a fazer sexo com
outra(s) pessoa(s); impedí-la de prevenir a gravidez, forçá-la a engravidar
ou forçar a realização do aborto.

Violência patrimonial:
Controlar, reter ou tirar dinheiro da mulher; causar danos propositais a
objetos que ela gosta; destruir ou reter objetos, instrumentos de trabalho,
documentos pessoais e outros bens e direitos.

Violência moral:
Fazer comentários ofensivos sobre a mulher diante de estranhos e/
ou conhecidos; humilhá-la publicamente; expor a vida íntima do casal,
inclusive nas redes sociais; acusá-la publicamente de cometer crimes;
inventar histórias e/ou criticá-la para terceiros com o intuito de
diminuí-la perante amigos e parentes;

Violência física:
Bater ou espancar a mulher, empurrá-la, atirar objetos contra ela,
sacudí-la, mordê-la ou puxar seus cabelos; estrangulá-la, chutá-la, torcer ou
apertar seus braços; queimá-la, cortá-la, furá-la, mutilá-la e torturá-la; usar
arma branca (faca, ferramentas de trabalho etc.) ou arma de fogo contra
ela.

40
3.Tensões do homem
O machismo é muito prejudicial às mulheres, mas também interfere
negativamente na vida dos homens. A necessidade de provar que são “homens
de verdade” ou a falta de identificação com esse modelo geram tensões
cotidianas que limitam a satisfação de desejos autênticos, restringindo a
maneira como os homens constroem a identidade e interagem socialmente.

“As vozes masculinas antigas estão dentro de você dizendo


como você deve ser, como você deve agir. E elas te limitam
muito, limitam quem você quer ser, limitam o desenvolvimento
pessoal do homem. Te limitam a um papel, um papel antigo, que
te deixa num lugar do passado.”
Homem, especialista, São Paulo

41
Tensão 1
Provar que é heterossexual
- Carinho com amigos

Gostaria de ser mais carinhoso


com meus amigos, mas não quero
ser chamado de gay ou imaturo.

“Quando um amigo me abraça forte fico sentindo aquela


sensação estranha e vergonha de que alguém que eu conheça
esteja vendo… Abraçar é bom, mas abraçar homem é meio
proibido.”
Homem, 22 anos, São Paulo

“Já abracei os meus amigos algumas vezes, mas isso só


acontece quando a gente já tá bêbado… Se abraçar em outros
momentos o cara vai ficar pensando coisa errada de você.”
Homem, 29 anos, Recife

Cerca de 45,5% dos homens gostariam de se expressar de modo menos rígido


ou agressivo, mas não sabem como.

20,5% 13,5% 11,5%


vivem vivem muito vivem
moderadamente essa situação totalmente
essa situação essa situação

Pesquisa Quantitativa ONU Mulheres, “Precisamos falar com os homens”, Eles Por Elas, Brasil. Realizada entre março e abril
de 2016. A pesquisa contemplou pessoas heterossexuais, bissexuais, homossexuais e transexuais.
42
Tensão 1
Provar que é heterossexual
- Vaidade

Quero cuidar melhor de mim,


ficar mais bonito, mas não
quero que meus amigos pensem
ou falem que eu sou gay.

“Só consegui radicalizar no corte de cabelo quando vim


morar em São Paulo… aqui ninguém conhece você… Ninguém vai
ficar zoando você, chamando de veado…”
Homem, 25 anos, São Paulo

“Não consigo me olhar no espelho e ficar ajeitando o cabelo


quando tem alguém olhando… Parece que é proibido pra homem
querer ficar bonito.”
Homem, 28 anos, São Paulo

43,5% dos homens gostariam de ter mais cuidado com a aparência sem se
sentirem julgados por isso.

18,5% 13% 12%


vivem vivem muito vivem
moderadamente essa situação totalmente
essa situação essa situação

77% dos homens se preocupam com a aparência, mas não falam sobre isso.

33% 26% 18%


vivem vivem muito vivem
moderadamente essa situação totalmente
essa situação essa situação

Pesquisa Quantitativa ONU Mulheres, “Precisamos falar com os homens”, Eles Por Elas, Brasil. Realizada entre março e abril
de 2016. A pesquisa contemplou pessoas heterossexuais, bissexuais, homossexuais e transexuais.
43
Tensão 2
Provar que é forte

Às vezes, me sinto ansioso,


estressado ou deprimido, mas
tenho dificuldade em falar
sobre isso com alguém e admitir
que não estou bem.

“Confesso que não consigo conversar com os meus amigos


sobre problemas mais íntimos…Das vezes que isso aconteceu
acabei falando com meus pais.
Homem, 26 anos, São Paulo

“Esses dias discuti feio com com a minha esposa e depois ela
veio perguntar o que tava acontecendo comigo…não falei nada…a
verdade é que tava nervoso porque achava que ia ser demitido…”
Homem, 45 anos, Recife

56,5% dos homens gostariam de ter uma relação mais próxima com amigos,
expressando mais afeto e podendo falar sobre sentimentos e dúvidas.

21% 19,5% 16%


vivem vivem muito vivem
moderadamente essa situação totalmente
essa situação essa situação

66,5% dos homens não falam com amigos sobre medos e sentimentos.

22,5% 23% 21%


vivem vivem muito vivem
moderadamente essa situação totalmente
essa situação essa situação

Pesquisa Quantitativa ONU Mulheres, “Precisamos falar com os homens”, Eles Por Elas, Brasil. Realizada entre março e abril
de 2016. A pesquisa contemplou pessoas heterossexuais, bissexuais, homossexuais e transexuais.
44
Tensão 3
Provar que é poderoso

Quero que meus amigos me


admirem por quem eu realmente
sou, mas muitas vezes invento
histórias para me sentir aceito
e respeitado.
“Muitos homens tentam enganar as mulheres querendo
mostrar que são mais ricos, inteligentes ou mais famosos do
que realmente são.”
Mulher, 29 anos, Recife

“Todo homem conta alguma história pra se promover rs, mas


o problema é quando isso passa dos limites e você fica vivendo
uma mentira pra mostrar para alguém algo que você não é.”
Homem, 35 anos, São Paulo

45
Tensão 4
Provar que é responsável

Quero aprender novas


atividades, ir em busca da
minha verdadeira vocação,
mas não quero que os outros
pensem que eu sou infantil,
irresponsável ou sem ambição.
“Ja tive vontade de jogar tudo pro alto várias vezes, mas
nunca consegui… minha família não ia me perdoar por correr
esse tipo de risco… precisam muito da segurança que eu consigo
dar pra eles”
Homem, 41 anos, Recife

“A coisa que eu mais gosto de fazer é escalar montanhas…


sou bom nisso e já viajei pra muitos lugares…sonho em fazer só
isso na vida, ajudar os outros a fazer… Minha família diz que
isso é coisa de adolescente e que levar isso a serio é bobagem”
Homem, 28 anos, São Paulo

54% dos homens gostariam de ter mais liberdade para explorar hobbies,
talentos ou opções de carreira pouco usuais, sem serem julgados como
frouxos ou pouco ambiciosos.

17,5% 17,5% 19%


vivem vivem muito vivem
moderadamente essa situação totalmente
essa situação essa situação

Pesquisa Quantitativa ONU Mulheres, “Precisamos falar com os homens”, Eles Por Elas, Brasil. Realizada entre março e abril
de 2016. A pesquisa contemplou pessoas heterossexuais, bissexuais, homossexuais e transexuais.
46
Tensão 5
Provar que é provedor

Mesmo quando trabalha e recebe


um salário justo, o homem se
sente diminuído quando sua
esposa ganha mais do que ele.
“Eu sinto que preciso ganhar um salário maior porque minha
esposa ganha mais do que eu… é como se eu estivesse falhando…”
Homem, 41 anos, São Paulo

“É difícil, como homem, ter uma mulher que ganha bem mais
que você…Prefiro que as pessoas não saibam.”
Homem, 34 anos, São Paulo

45% dos homens gostariam de não se sentir obrigatoriamente responsáveis


pelo sustento financeiro da casa.

22% 13% 10%


vivem vivem muito vivem
moderadamente essa situação totalmente
essa situação essa situação

44% dos homens sentem pressão por serem responsáveis pelo sustento da
casa, mas não falam sobre isso.

20% 10% 14%


vivem vivem muito vivem
moderadamente essa situação totalmente
essa situação essa situação

Pesquisa Quantitativa ONU Mulheres, “Precisamos falar com os homens”, Eles Por Elas, Brasil. Realizada entre março e abril
de 2016. A pesquisa contemplou pessoas heterossexuais, bissexuais, homossexuais e transexuais.
47
Essa masculinidade baseada no medo,
que precisa ser provada a todo momento,
estimula a violência, a homofobia, a
inabilidade emocional e a obsessão por
poder, dinheiro e sexo.

É uma masculinidade tóxica que acompanha e marca a vida de homens


heterossexuais, homossexuais, transexuais, negros, pardos e brancos.

48
Nossa sociedade ainda espera e exige a reprodução das identidades de
gênero tradicionais. E isso por si é uma forma de violência.
A partir das nossas características biológicas, somos condicionados a nos
identificar e nos comportar de acordo com um determinado estereótipo. Um
processo cultural que nos molda inconscientemente desde os primeiros anos
de vida.

Entender que os ideais de masculinidade e feminilidade são construções


sociais que afetam diretamente a maneira como nos relacionamos e
convivemos em sociedade é o primeiro passo para compreender as diversas
manifestações de violência e desigualdade.

Ter atitudes machistas não é um comportamento exclusivo do homem.


Todos e todas são ensinados a agir de modo machista, e pouco vai mudar se
continuarmos a reproduzir os discursos e ações que mantém o status quo.

“Eu vejo em muitos momentos minha mãe e minhas irmãs


estranhando um pouco esse meu papel tão efetivo de pai. Como
se dissessem: ‘ele está fazendo mais do que devia’. Eu noto que
ainda tem um incômodo nisso, não é bem resolvido para pessoas
que foram pais e mães antes. A mãe parece não ter o direito de
estar sentada se o pai está dando banho.”
Homem, 41 anos, Recife

“Não dá pra poder devolver mais uma vez para as mulheres


essa responsabilidade. A responsabilidade é de todos e de todas.
E poder fazer de forma diferente, poder discutir, transformar,
fazer essa crítica. A gente precisa colocar para a gente também
esse movimento de nos afetar sobre isso e fazer sobre isso. E
de não ficar alheio, isento, não ficar cúmplice desse silêncio.”
Homem, especialista, São Paulo

49
“A ideia de que o feminismo liberta os homens é muito
simples e muito bonita, muito iluminosa. Ao adotar uma
postura de igualdade, os homens podem ser mais felizes.”
Homem, 32 anos, São Paulo

As brincadeiras que fazemos, às vezes,


criam uma realidade.A linguagem que
usamos reforça a cultura.
É preciso, de um lado, incentivar os homens a ser mais conscientes de
suas limitações e de seus exercícios diários de poder e, de outro, ajudar as
mulheres a ampliar sua percepção sobre possibilidades de resistência diante
das prováveis tentativas de abuso.

Se não transformarmos a história que contamos para nós mesmos e a


maneira como ensinamos as crianças, pouco vai mudar. Nossa sociedade
continuará perpetuando um ciclo de violência e de desigualdade de gênero
que afeta a todos e todas desde a infância

“Eu tinha e tenho um sentimento pela minha mãe muito forte


e é um sentimento que eu queria que meus filhos tivessem por
mim também, um sentimento de carinho. Eu tinha com meu
pai também, mas minha mãe conseguiu, por uma relação mais
afetiva, provocar muito mais em mim. Eu queria que meus filhos
tivessem esse sentimento em relação a mim. Então terminou
que foi uma coisa que me instigou a querer ter essa presença. A
querer que esse sentimento de carinho.”
Homem, 28 anos, Recife

50
“A partir do momento em que o homem
se depara com a pluralidade de papeis
e que é plenamente possível ele se
reconhecer e se afirmar em um papel
que é mais associado ao feminino,
é possível a ressignificação. Os
homens também podem se identificar
com papeis muito maiores do que até
hoje foi colocado pra eles como o
melhor a ser seguido.”
Mulher, especialista, Recife

51
capítulo 03
Desconstrução
de papéis
A caminhada das mulheres
e a desvalorização do capital viril

52
Muito ainda se tem pela frente,
mas muito já se caminhou em direção
a uma sociedade igualitária.

Essa evolução se deve, em primeiro


lugar, à luta das mulheres, do
movimento negro e LGBT, oprimidos
pelo patriarcado hegemônico.

53
A luta das
mulheres
A emergência do movimento feminista promoveu críticas e questionamentos
ao sistema patriarcal, gerando transformações significativas no modelo
de organização tradicional familiar e no processo de emancipação sexual e
social das mulheres.
Em consequência, elas assumiram novas tarefas e responsabilidades,
repensando o lugar exclusivo do homem como provedor da família. Além disso, a
mulher deixou de ser um objeto de satisfação do marido para exigir a realização
de seus próprios desejos pessoais e profissionais.

Feminismo: outra palavra


para igualdade
O feminismo é a luta pelo fim da dominação do gênero masculino sobre
o feminino e pela consequente igualdade de gênero. Diante da comum falta
de entendimento, é essencial frisar que feminismo não é o contrário de
machismo.
Segundo a história, a luta feminista tem origem organizada no início
do século XX. Atualmente vive sua quarta onda, muito influenciada e
potencializada pela internet.

54
1900

1ª ONDA: IGUALITARISTA

‘homens e mulheres são iguais’


Focada na luta por poder político – especialmente o direito ao voto –
como instrumento para a conquista de outros direitos civis.

2ª ONDA: DIFERENCIALISTA

‘homens e mulheres são diferentes’


Crítica à opressão no espaço privado (busca de autonomia e denúncia
da violência de gênero) e ao universalismo abstrato – diferenças não
justificam desigualdades.

3ª ONDA: INTERSECCIONAL

‘as mulheres não são iguais entre si’


Ser mulher negra, lésbica ou trabalhadora não é o mesmo que ser mulher
branca ou heterossexual: a desigualdade de gênero se constrói em
conexão com outras formas de opressão (de classe, raça, etc.).

4ª ONDA: ANTIESSENCIALISTA

‘cada indivíduo é único’


Mesmo com avanços que possibilitam expressões identitárias interseccionais
(trabalhadora, negra, lésbica), concepções essencialistas de gênero ainda
são reproduzidas: homens e mulheres são como são por força de uma
natureza pré-cultural e imutável. A luta da quarta onda é desnaturalizar os
papéis de gênero.
2020

55
Qual das frases abaixo mais se aproxima do que você pensa ser feminismo?

*Gênero Gênero
masculino feminino

Necessário para
defesa por direitos e 45,8% 71,6%
oportunidades iguais

Justa por direitos iguais,


mas às vezes agressiva e 40,4% 22,3%
radical demais

Defende a superioridade
7,3% 2,9%
das mulheres em relação
aos homens

É o oposto 6,6% 3,1%


do machismo

Quão favorável ao feminismo você se considera?

Gênero Gênero
masculino feminino

Nada favorável 16% 5,7%

Um pouco favorável 16,3% 10,2%

Razoavelmente favorável 16,1% 12,2%

Bastante favorável 28,1% 27,8%

Extremamente favorável 23,5% 44,1%

*Gênero é um conceito social e se refere aos aspectos culturais e sociais associados ao fato de se pertencer ao sexo
masculino ou feminino. As características de gênero podem variar de acordo com a sociedade.

Pesquisa Quantitativa ONU Mulheres, “Precisamos falar com os homens”, Eles Por Elas, Brasil. Realizada entre março e abril
de 2016. A pesquisa contemplou pessoas heterossexuais, bissexuais, homossexuais e transexuais.
56
O ativismo LGBT
O movimento LGBT também contribui significativamente para a quebra de
estereótipos de gênero. Em sua luta por direitos, reconhecimento e respeito à
sua identidade de gênero e orientação sexual, o ativismo LGBT enfrenta o ideal da
heteronormatividade e coloca em xeque expectativas e papéis de gênero baseados
em uma lógica dualista de pensamento (o que é masculino e o que é feminino).

“A autoria dessa reflexão toda vem a partir do que as


mulheres propuseram, dos que os gays propuseram, do que as
lésbicas propuseram. E aí, pouco a pouco, sim, há espaço pra que
a gente chegue junto e faça espaços de transformação. Desde
que a gente queira de verdade transformar esses processos de
privilégios.”
Mulher, especialista, Recife

57
A partir desses movimentos críticos que questionam o modelo
de masculinidade hegemônica e sua universalidade, “ser homem”
passa por conflitos nunca antes vivenciados.

“Hoje eu só
vejo o quão
bonito é tudo
isso de ser
quem eu sou.”
Rico Dalasam, rapper, São Paulo

58
O masculino viril e provedor já não
tem lugar como dominante na sociedade.
A modernidade chega impactando os valores de um mundo que tinha o modelo
de masculinidade hegemônica como centro: força física, vigor, coragem e
aptidão para a guerra são valores que resistem com menos intensidade, e
a habilidade de sustentar a casa deixa de ser exclusividade masculina. Ao
mesmo tempo, a emancipação feminina e os movimentos pela não dualidade
de gênero transformam a sociedade e abalam as posições de poder do homem.

“Vejo meus amigos falando: não tem espaço pra quem eu


fui criado pra ser, mas eu também não me encaixo em nenhum
estereótipo de homem. E a gente não precisa encaixar também,
isso é uma coisa que perpassa o feminismo: você pode ser só
o que você quer ser, sem padrões pré estabelecidos. É uma
liberdade de trânsito mesmo.”
Homem, especialista, São Paulo

A Armadura do Herói está em decadência,


e o homem passa a ser prisioneiro do
ideal de virilidade.
Características que antes garantiam o poder do homem sobre o mundo e
sobre a mulher já não são suficientes para assegurar uma posição hegemônica. O
lugar de provedor passou a ser compartilhado com as mulheres. A emancipação
sexual feminina abre espaço para que elas busquem o próprio prazer. Os
dois principais pilares de expressão e sustentação da masculinidade foram
atingidos: os desempenhos profissional e sexual.

“Quando você não pensa na construção da masculinidade


como um problema, você tende a criar uma guerra entre homens
e mulheres e isso não é o foco. Você tem que desconstruir os
dois. E a desconstrução tem que ser ampla, pra você conseguir
lidar com avanço nisso.”
Homem, especialista, Rio de Janeiro

59
O homem ainda não sabe lidar
com essa mudança de posição na
hierarquia social.
Para não perder seu espaço,
precisa provar constantemente
a sua masculinidade e, quanto
mais inseguro ele se sente,
mais violento fica.

A dificuldade em lidar com tais inseguranças e frustrações levou e ainda


leva, muitos homens a resolver esses conflitos da forma como foram educados
quando criança: por meio da violência.

“Os homens precisam conversar entre si sobre o que é isso


do outro precisar comer um monte de mulher, sobre o outro
precisar dominar a relação, porque a gente vê muito isso: ‘ah
a mulher ta mandando’. E tudo em forma de piadinha para ferir
uma masculinidade que é tão frágil. Tão frágil que precisa de
creme especial pra homem, pra não dizer que eles estão usando
os nossos cremes.”
Mulher, especialista, São Paulo

60
A luta pela ressignificação do feminino
e pela desconstrução do estereótipo
do Vestido de Princesa se mostra mais
avançada e publicizada.
“Tem que assumir que é machista. Se não assumir, nunca vai
mudar. E não é assim “eu sou machista para sempre e ponto.”
Ok, eu sou machista, então como eu mudo? Quem eu escuto?
Quem eu leio? (...) O processo de se libertar do machismo é uma
desconstrução eterna, porque sempre nos empurram formas do
que você precisa fazer para ser a mulher mais desejada.”
Mulher, especialista, São Paulo

Tal ressignificação é inevitável.


Resta ao homem escolher entre
acompanhar essas mudanças culturais
ou ser atropelado por elas.

“Os homens e as mulheres são vítimas e produtores e


reprodutores do machismo. Se a gente quer mudar a situação
de violência dos homens, tem que perceber que eles são parte
do problema e parte da solução.”
Homem, especialista, Recife

61
capítulo 04
Caminhos de
desconstrução
Conscientização
e outras narrativas

62
Como a transformação dos homens
acontece? Gatilhos e caminhos
práticos de mudança

Ao longo desta pesquisa, procuramos entender também a transformação em


relação a atitudes e crenças sobre gênero.
Quais abordagens acessam os homens e conseguem sua escuta? Quais
os afastam? No caso dos homens que passaram por mudanças, como elas
aconteceram?
Com essas perguntas em mente e baseados nas entrevistas e questionários
aplicados, mapeamos grandes gatilhos do processo de transformação.
Se é farto o material disponível sobre o problema do machismo na nossa
sociedade e a gravidade de suas consequências, não é tão comum a produção
de mapeamentos dedicados a compreender de que maneira os homens podem
mudar seu comportamento.
Sabemos que uma mudança de comportamento e mentalidade não acontece da
noite para o dia. Não é razoável exigir que alguém ensinado e estimulado a agir
de determinada maneira durante décadas se transforme de forma imediata. Tal
percurso leva tempo e exige paciência. Além disso, é preciso considerar que
cada indivíduo possui um sistema próprio de crenças, valores e referências, e
cada pessoa se encontra em um estágio diferente em sua vida.
Ressaltarmos ainda que esses gatilhos não são os únicos possíveis e nenhum
deles se caracteriza como o mais eficaz. Trata-se de abordagens distintas que
podem e devem ser combinadas de acordo com o contexto.
Desejamos que esse esforço estimule mais indivíduos e organizações a
buscar caminhos para que a transformação aconteça.

1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.
Afeto Exposição ao Paternidade Espiritualidade Acesso a Exaustão e Choque:
sofrimento espaços infelicidade sofrimento
das mulheres seguros e de profissional profundo,
acolhimento rupturas e
para homens crises

63
1.
Afeto
Em uma perspectiva ampla, o ativismo compassivo e afetuoso foi observado
como uma maneira bastante eficaz de acelerar as mudanças.
É comum que homens jamais tenham tido espaço para discutir suas noções
de masculinidade e gênero. Considerando ainda o quanto são pressionados
para se mostrarem fortes e viris a todo momento, é compreensível sua
dificuldade em se abrirem e abaixar a guarda.
O afeto genuíno pode quebrar essa casca, como mostram os exemplos do
Instituto Papai, em Recife, e da organização não governamental Promundo, no
Rio de Janeiro. Cabe apontar que ter uma abordagem inicial acolhedora não
significa necessariamente apoiar as visões que o indivíduo possa ter.

1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.
Afeto Exposição ao Paternidade Espiritualidade Acesso a Exaustão e Choque:
sofrimento espaços infelicidade sofrimento
das mulheres seguros e de profissional profundo,
acolhimento rupturas e
para homens crises

64
2.
Exposição ao sofrimento das mulheres
Ao colocar o homem diante do sofrimento vivenciado por pessoas
prejudicadas pelo machismo, a mudança pode ser disparada.
Muitos homens são tocados por relatos de mulheres agredidas, estupradas,
mortas ou injustiçadas de algum modo por outros homens, apenas por
serem mulheres.
Isso se dá especialmente quando se trata de uma mulher próxima a eles.
Seria excelente se qualquer relato tivesse esse efeito de sensibilização,
mas, infelizmente, nem sempre é assim. De forma inconsciente, depoimentos
legítimos podem ser interpretados como mentira ou distorção da realidade.
Além disso, é importante lembrar que mesmo em tempos de hiperconexão
digital, há sempre pessoas silenciadas. A mudança pode acontecer mesmo
quando não a vemos.

1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.
Afeto Exposição ao Paternidade Espiritualidade Acesso a Exaustão e Choque:
sofrimento espaços infelicidade sofrimento
das mulheres seguros e de profissional profundo,
acolhimento rupturas e
para homens crises

65
3.
Paternidade
Torna-se pai, em especial de meninas, tende a fazer com que os homens
revejam as crenças e atitudes que vão transmitir a seus filhos e filhas.
Ao se verem na posição de educar e cuidar, naturalmente refletem mais
sobre o futuro de suas crianças e qual mundo vão oferecer a elas.
Homens que cuidam mais de seus filhos tendem a ser mais felizes. Esse é um
momento da vida excelente para rever antigas crenças e atitudes de gênero.

1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.
Afeto Exposição ao Paternidade Espiritualidade Acesso a Exaustão e Choque:
sofrimento espaços infelicidade sofrimento
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acolhimento rupturas e
para homens crises

66
4.
Espiritualidade
A bússola ética, altruísta e compassiva oferecida por alguns caminhos de
busca espiritual, sem entrar no mérito aqui de quais religiões se associam
a esses valores, também foi identificada como um possível gatilho de
transformações para os homens.
Ambientes masculinos tradicionais costumam passar longe de noções como
empatia e compaixão. Ao nos colocarmos no lugar do outro - exercício que
costuma ser estimulado pela espiritualidade - é natural nos tornarmos mais
sensíveis aos problemas enfrentados por outras pessoas e mais engajados em
contribuir para a mitigação de seu sofrimento.
Além disso, a compreensão ampliada sobre o próprio mundo emocional,
consequência comum da busca espiritual, também tende a facilitar processos
de mudança.

1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.
Afeto Exposição ao Paternidade Espiritualidade Acesso a Exaustão e Choque:
sofrimento espaços infelicidade sofrimento
das mulheres seguros e de profissional profundo,
acolhimento rupturas e
para homens crises

67
5.
Acesso a espaços seguros e
de acolhimento para homens
Tratamos aqui de qualquer espaço no qual o homem se sinta seguro para
expor seus pensamentos e sentimentos sem ser julgado por isso, recebendo
estímulos, ao mesmo tempo, para a busca de novas masculinidades, menos
tóxicas, inseguras e violentas, mais lúcidas, conscientes e seguras. Nesse
sentido, podemos pensar em círculos e comunidades formados por homens;
espaços e vivências em organizações, institutos e coletivos; consultórios de
psicologia; encontros construtivos entre amigos, entre outros.
Nesses locais, os homens se sentem confortáveis para expressar suas
maiores dúvidas, medos e anseios. Não podemos subestimar o valor de
transformação desse processo.
Diante de um contexto favorável para que essa abertura aconteça, os homens
relaxam e naturalmente exercitam a escuta e a confiança. É uma excelente
oportunidade para diálogos e vivências mais construtivos e benéficos. Além
disso, a rede de apoio constantemente abastece os homens com os exemplos e
referenciais de outros homens, encorajando e facilitando a mudança.

1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.
Afeto Exposição ao Paternidade Espiritualidade Acesso a Exaustão e Choque:
sofrimento espaços infelicidade sofrimento
das mulheres seguros e de profissional profundo,
acolhimento rupturas e
para homens crises

68
6.
Exaustão e infelicidade profissional
Uma vez que o desempenho profissional é um dos centros da identidade de muitos
homens, esse aspecto está ligado a boa parte de suas crenças, ações e escolhas.
Na exaustão com a carreira e nos tensos ambientes corporativos, muitas
vezes pautados por uma cultura de extrema inflexibilidade e pressão que
possui traços machistas, é comum observarmos homens que chegam ao limite
e decidem alterar radicalmente a maneira como vivem. Nesse momento de
ressignificação de suas escolhas e valores, há espaço para reflexões sobre
expectativas associadas à masculinidade e seu papel como homem.
Quando questionamos a necessidade de ser um homem "vencedor" na vida
profissional e quais parâmetros são usados para definir essa ideia de "sucesso",
estamos colocando em xeque todo um discurso sobre masculinidade, o que
pode levar a mudanças mais profundas nas crenças e atitudes relacionadas a
questões mais amplas de gênero.

Será que nunca posso falhar na cama? Será que devo ser o provedor do lar,
um sujeito sempre pronto para a luta? Se eu dividisse a pressão com minha
parceira, de que maneira nossas vidas seriam diferentes? O que será que ela
espera de mim como homem?

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Afeto Exposição ao Paternidade Espiritualidade Acesso a Exaustão e Choque:
sofrimento espaços infelicidade sofrimento
das mulheres seguros e de profissional profundo,
acolhimento rupturas e
para homens crises

69
7.
Choque: sofrimento profundo, rupturas
e crises
Momentos de ruptura e de sofrimento profundo - término de relacionamento,
casos de doença, falecimento de pessoa próxima, entre outros - tendem a
facilitar e estimular a abertura do indivíduo para mudanças significativas.
No caso de um homem que agride uma mulher, por exemplo, ele pode se ver
punido social, emocional e juridicamente, o que envia a mensagem de que essa
atitude não será aceita nem por sua parceira, nem por amigos(as), nem pela
sociedade. Ao longo desse caminho de ruptura, a mudança pode acontecer,
em especial quando auxiliada por medidas como os grupos reflexivos para
autores de violência (uma determinação da Lei Maria da Penha), a orientação
de psicólogos e o diálogo com pessoas próximas.

1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.
Afeto Exposição ao Paternidade Espiritualidade Acesso a Exaustão e Choque:
sofrimento espaços infelicidade sofrimento
das mulheres seguros e de profissional profundo,
acolhimento rupturas e
para homens crises

70
Quatro níveis de
desconstrução

Vivemos transformações significativas nos últimos anos, mas o modelo do


herói ainda prevalece em nossa sociedade.
Esse modelo, ao mesmo tempo que permite privilégios aos homens, limita
as suas relações íntimas e sociais.
O estereótipo da Armadura do Herói determina diferentes maneiras de
relacionamento do homem consigo e com o entorno.

Eu comigo Eu com Eu com a Eu com


o outro sociedade o mundo

Conscientizar-se sobre essas diversas formas de ser é o primeiro passo


para sua desconstrução.

71
1.RÍGIDO

Eu comigo Eu com Eu com a Eu com


o outro sociedade o mundo

A receita cultural do que significa ser homem é restrita e limitada. Meninos


crescem aprendendo a negar o feminino dentro de si e a transitar dentro dos
limites da caixa masculina. Essa doutrinação cria uma rigidez de identidade,
o que impede uma liberdade de expressão mais ampla da individualidade.
O homem precisa reconhecer que muito dos seus comportamentos e
valores estão pautados em um modelo antigo de crenças e atitudes. Ser forte
e sensível ao mesmo tempo, por exemplo, não é algo contraditório. É apenas
mais uma maneira de ser.
Ao entender que, por um lado, a pressão de outros é uma consequência
da prisão da masculinidade e que, por outro lado, atributos femininos e
masculinos estão presentes em todos nós, qualquer homem ganha permissão
para criar a própria receita do que é ser homem no mundo de hoje.

72
2.DOMINADOR

Eu comigo Eu com Eu com a Eu com


o outro sociedade o mundo

Provas de coragem, força e desempenho sexual, além do bullying com


outros para que estes se mantenham dentro da Caixa do Homem, são as
principais maneiras de o homem elevar sua estima identitária e demonstrar
dominicação sobre seus pares masculinos.
Já com a mulher, desde o princípio o homem adota uma postura de
dominador. Preso ao estereótipo da Armadura do Herói, ele precisa e exige
que a mulher cumpra com as expectativas representadas pelo Vestido de
Princesa - e essa é a raiz do machismo.
Assumir que suas relações íntimas e sociais sofrem pressão para que
se ajustem aos estereótipos de gênero é um passo significativo para que o
homem pare de julgar o outro de acordo com as lentes do machismo e passe a
construir interações sociais mais completas e duradouras.

73
3.COMPETITIVO

Eu comigo Eu com Eu com a Eu com


o outro sociedade o mundo

O homem aprende que encontrará sua dignidade masculina na rua e no


trabalho e que, para isso, deve ser melhor do que os outros, até atingir o
posto mais alto dentro de qualquer hierarquia que acredite estar inserido.
Cabe a ele questionar sua atuação em sua comunidade. Uma sociedade
que ainda precisa lutar por igualdade de gênero e raça carece de lideranças
e de representação. Como, em um contexto social tão rico e diverso, alguns
privilégios se mantêm e perpetuam um modelo hegemônico antiquado que
premia o mais competitivo?

74
4.VENCEDOR

Eu comigo Eu com Eu com a Eu com


o outro sociedade o mundo

Na relação com o mundo, o homem se vê como um conquistador que


comprova sua masculinidade por meio de posses e posições. Dentro dessa
lógica, a vitória é o único resultado possível. Essa crença individualista leva
a uma relação pouco equilibrada com a vida em sociedade.
Uma nova ordem está emergindo, na qual a hegemonia sobre os outros e
sobre a natureza não tem lugar. Devemos aspirar a uma sociedade não violenta,
com liberdades e relações mais justas entre todos e todas. Essa é a busca
que qualquer indivíduo motivado a ser um agente de mudança deve assumir
para si.
Não perpetuar uma narrativa cultural de desigualdades tem de ir além do
discurso. Se não tomarmos atitudes concretas que realmente rompam com o
status quo, nada mudará.

75
Reconhecer, assumir, questionar e não
perpetuar: o caminho de desconstrução
da Armadura do Herói.
As novas crenças sobre o que é ser homem serão construídas ao longo das
próximas décadas, em resposta aos desafios que o modelo de masculinidade
dominante enfrenta e seguirá enfrentando.
Outra narrativa deve nascer de forma orgânica, resultado das lutas por
liberdades individuais, igualdade de gênero e justiça social.
Conscientizar os indivíduos para a desconstrução dos estereótipos de
gênero nocivos começa por meio de questionamentos e atitudes que ajudem
todos e todas a se libertarem de um modelo opressor e obsoleto para as
necessidades da atualidade.

Na luta por um mundo de equilíbrio, desenvolvimento e igualdade para


todos e todas, é fundamental uma nova atitude masculina na relação
consigo e com os outros.

“Não tem que formatar o homem


de outra maneira. Tem que
aceitar a diminuição [das
regras] e transitar nela.”
Mulher, especialista, São Paulo

76
10 atitudes que os homens podem
assumir para se tornarem agentes
de mudança

1 Questione e confronte amigos que contam piadas preconceituosas


(sexistas, racistas, homofóbicas, etc.).

2
Não interrompa uma mulher enquanto ela fala e colabore para
que outras pessoas demonstrem o mesmo respeito. 

3 Nunca subestime ou desconfie da capacidade de uma mulher de


expressar suas ideias ou de compreender o que está sendo dito.

Reconheça que você é machista em algum nível e fique atento a

4 comportamentos automáticos que ajudam a perpetuar o machismo.


Reflita sobre eles e tente mudar suas atitudes. 

5
Nunca use termos agressivos para atacar ou confrontar mulheres
que fogem dos estereótipos de gênero femininos seja em seu
comportamento, seja em sua expressão de identidade. 

77
6
Nunca exponha, publique ou compartilhe fotos e vídeos íntimos
de uma mulher nas redes sociais.

7 Demonstre afeto a um amigo, por meio de palavras ou gestos de


carinho, sem precisar estar bêbado para isso.

8
Se conhece alguém que está sendo desrespeitoso ou violento com
a parceira ou com as mulheres em geral, converse com ele sobre
isso e ajude-o a procurar auxílio. Não finja que não é com você.

9 Converse com amigos sobre o tema da violência contra a


mulher. Ajude-os a entender que os homens praticam vários tipos
de violência - não só a violência física - e que esse é um problema
grave que precisa ser resolvido.

10 Nunca faça uso de força para ameaçar, coagir, intimidar,


assediar ou agredir uma mulher. Aprenda a ouvir "não".

78
Apêndice
Para o homem ser um agente de mudança, a sua atuação pode e deve
combinar os gatilhos identificados com diferentes mecanismos
a seguir.
Reforçamos que de modo algum essa lista é definitiva
e esperamos conhecer mais histórias inspiradoras que nos
ajudem a enriquecê-la.

79
10 mecanismos
para envolver
os homens no
processo de
transformação
1. Educação escolar
Não tratar de gênero é tratar de gênero. Ao escolher abolir esse tema
das salas de aula, estamos enfatizando que a visão correta é a do status quo.
Ou seja, significa deixar o mundo como está: machista, sexista, homofóbico
e transfóbico.

2. Propagação de outras narrativas


sobre gênero na mídia
Sabemos que as escolhas de um veículo de mídia são guiadas pelas visões
de mundo dos seus proprietários, editores e jornalistas.
Quando a imprensa passa a considerar a questão de gênero como um dos
pilares centrais do debate social, naturalmente isso se refletirá na escolha de
pautas, personagens e fontes, nas perguntas feitas nas entrevistas, nas fotos
usadas, nas aspas colocadas em destaque, nas campanhas de marcas veiculadas.
Os meios de comunicação podem atuar em prol da igualdade de gênero como
mostram o Think Olga e o PapodeHomem.

80
3. Advocacy em políticas públicas
A recente extensão da licença-paternidade no Brasil, de 5 para 15 dias, é
um exemplo de políticas públicas favoráveis a um mundo com mais igualdade
entre os gêneros. Afinal, se ao pai não é concedido tempo para ficar em
casa com o bebê, a mensagem é a de que cuidar dos filhos se trata de uma
responsabilidade exclusiva da mãe, e não dele.
Outro exemplo seria garantir o direito de que as escolas discutam gênero
na sala de aula.

4. Grupos reflexivos para autores


de agressão
A Lei Maria da Penha determina que os homens autores de agressão sejam
encaminhados a grupos reflexivos. Lá, ao longo de um série de encontros
os homens passam por vivências e conversas facilitadas por especialistas.
Pesquisas mostram que é significativa a diferença na taxa de reincidência de
agressões entre os homens que não passam pelos grupos e aqueles que passam:
75% no primeiro caso e até 5% no segundo.
É necessário garantir a continuidade desse trabalho e mitigar a falta de
mão de obra especializada para conduzir os grupos, mas os resultados são
bastante animadores.

5. Espaços de acolhimento para discutir


masculinidades
Trata-se de espaços em que os homens podem se ajudar a deixar de lado
comportamentos autodestrutivos que reproduzem uma masculinidade tóxica,
desenvolvendo possibilidades mais lúcidas e conscientes. Se o acesso a esses
locais é um gatilho para a mudança, conforme mostramos antes, é essencial
que mais espaços sejam criados e mantidos.

81
6. Educação pelos pares
Por meio de conversas, apoio e exemplos positivos, homens que já possuem
um olhar mais crítico devem se tornar parceiros de crescimento para
outros homens. Com base nos laços de confiança e afeto, eles podem sensibilizar
amigos que não seriam mobilizados de outra forma.

7. Ações educativas independentes


Ações independentes conduzidas por pessoas já inseridas na comunidade
podem ser meios bastante eficazes de mobilização e transformação.
As possibilidades incluem passeatas, protestos, debates e conferências,
entre outros.
Ao longo dessa pesquisa, nos deparamos com alguns exemplos concretos
dessas ações: um grupo de discussão sobre questões de saúde do homem, com
o apoio de médicos, na laje de um bar local; um torneio de futebol realizado
pela ONG Promundo no morro Dona Marta, no Rio de Janeiro, onde só podia
jogar quem participasse de palestras educativas; ou ainda os cinedebates
educativos e a distribuição de camisinhas em escolas, realizados por um dos
grupos Gaymado - grupo de queimada LGBT - em Recife com apoio e orientação
do Instituto Papai.

82
8. Ativismo compassivo
Como manter a própria paz, estabilidade emocional e conexão com outro
diante de tanta injustiça e opressão? Como não enxergar inimigos nas pessoas
que, em minha opinião, deveriam se transformar? Como não ser consumido
pela raiva, frustração e indignação?
A partir de perguntas como essas surgiu a perspectiva do ativismo
compassivo. Trata-se de uma abordagem mais empática e acolhedora, tanto
com quem deseja se transformar, quanto com a própria pessoa ativista, cujo
foco é a busca por uma sociedade mais justa e equitativa.
Para saber mais, recomendamos o site Compassionate Activism, um projeto
do Everyday Feminism, liderado pela ativista Sandra Kim.

9. Comunicação não violenta e didática


na discussão do tema
A Comunicação Não Violenta (CNV) é uma proposta criada pelo psicólogo
clínico Marshall Rosenberg, que aplicou o modelo de CNV em programas de
mediação de conflitos em Ruanda, Burundi, Nigéria, Malásia, Indonésia, Sri
Lanka, Sérvia, Croácia e Irlanda, entre outros.
As contribuições teóricas e práticas de Rosenberg são amplamente
utilizadas nas áreas de mediação e definição de conflitos e podem ser bastante
eficazes ao lidarmos com diálogos e debates sobre gênero. Assim, em vez
de incentivar polarizações, podemos aprender a dialogar com quem pensa
radicalmente diferente de nós e a construir pontes de lucidez.

83
10. Respaldo de lideranças
organizacionais para a mudança
O respaldo declarado dos líderes é mais importante do que parece. Em
ambienetes corporativos, por exemplo, é comum que funcionários sejam mal
vistos por deixarem o expediente mais cedo para levar o filho ao médico.
Ou seja, são silenciosamente punidos por serem percebidos como menos
motivados, menos ambiciosos ou até mesmo preguiçosos, ao não priorizar
o trabalho.
Dessa forma, para deixar claro que a mudança é esperada e estimulada,
é fundamental que as lideranças organizacionais declarem abertamente seu
apoio. Caso contrário, a mensagem implícita pode ser ambígua, desencorajando
as pessoas a assumir comportamentos que fogem à regra. Exemplos positivos
seriam uma chefe elogiar publicamente o funcionário que faz uso da licença-
paternidade estendida ou um líder político que, diante da opinião pública,
valoriza os posicionamentos dos quadros femininos de seu partido.

84
REFERÊNCIAS
Livros pesquisados:

ADICHIE, Chimamanda Ngozi. We Should All Be Feminists. Oxford/Nova York:


Berghahn Books, 2013.

BEAUVOIR, Simone De. O segundo Sexo: Fatos e mitos. Rio de Janeiro: Nova


Fronteira, 1949.

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BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999.

BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio


de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.

CORBIN, Alain; COURTINE, Jean-Jacques; VIGARELLO, Georges. História da


Virilidade. São Paulo: Vozes, 2014. 3. v.

CORNWALL, Andrea; EDSTROM, Jerker; GRIEG, Alan (eds.). Men in Development:


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KIVEL, Paul. Men's Work: How to Stop the Violence That Tears Our Lives Apart.
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MOORE, Robert; GILLETTE, Doug. King, Warrior, Magician, Lover: Rediscovering the
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MORIN, Edgar. Cultura de massas no século XX: neurose. Rio de Janeiro: Forense
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85
REFERÊNCIAS
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York: Oxford University Press, 1998.

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PRIORE, Mary Del; AMANTINO, Marcia. História dos homens no Brasil. São Paulo:
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Artigos pesquisados:

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BYINGTON, Carlos Amadeu Botelho. Psicopatologia simbólica junguiana.


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BYINGTON, Carlos Amadeu Botelho. A alma masculina e a função estruturante


da sensibilidade: um estudo da psicologia simbólica junguiana. Out. 2005.
Disponível em: <http://www.carlosbyington.com.br/site/wp-content/
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SACRAMENTO, Sandra Maria Pereira do; NEIVA, Luciano Santos. Feminismo e


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WELZER-LANG, Daniel. A construção do masculino: dominação das mulheres e


homofobia. Estudos Feministas, Florianópolis, v. 9, n. 2, 2001 . Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/ref/v9n2/8635.pdf>. Acesso em: 19 nov. 2015.

Documentários pesquisados:

"The Mask You Live In", Jennifer Siebel Newsom, 2015.


"Miss Representation", Jennifer Siebel Newsom e Kimberlee Acquaro, 2011.

Entrevistados:
Adriano Araújo Irene Loewenstein Maria Guimarães
Aida Carneiro Isabella Ferreira Mariana Azevedo
Alan Bronz Isis Ramos Mariana Donatelli
Aldo Ferreira Ivan Martins Mariana Moura
Aline Alegria Jakson Lira Mariane Barbosa Cabral
Aline Ramos Joaquim Pessoa Michel Alcoforado
Anna Borges Jorge Lyra Milena do Carmo
Arthur Braga José Carlos Arcoverde Nicola Sultanum
Astrid Ferreira José Osse Paula Barcellos
Benedito Medrado Karen Rego Pedro Fonseca
Carolina Muniz Leandro Tonetto Rafael Carlucci
Caroline Bertolino Leonardo Cavalcanti Rayssa Araujo
Dra. Nadine Gasman Linda Cerdeira Renata Andrade
Entheia Machado Luiz Henrique Ribeiro Renata Gamelo
Etienne Janiake Lula Queiroga Ricardo Crestani
Fabiana Morais Marcelo Santos Rico Dalasan
Fabio Pereira Marcelo Silva Ramos Rodrigo Bordigoni
Felipe Duarte Marcia Baja Rodrigo Trevisan
Fernanda Oliveira Marcia Tiburi Sirley Vieira
Fernando Andrade Márcio Chagas Talita Silva
Fred Kiling Márcio da Paz Tatiana Moura
Gabriel Goldmeier Márcio Santos Thais Fabris
Germana da Silva Nascimento Marco Aurélio Martins Thaisa Person
Glauber Santos Marcos Nascimento Vanessa Kiling
Guilherme Pessoa Mari Messias
Helio Lima Maria Giulia Pinheiro

87
TIME DO
PROJETO
QUESTTO|NÓ RESEARCH PAPODEHOMEM

Responsável pelo projeto gráfico Diretor de conteúdo e criação


de pesquisa qualitativa Guilherme N. Valadares
Andrea Kulpas
Diretor de negócios
Recrutadora e analista de pesquisa Felipe Silveira Ramos
Camila Hessel Guimarães
Diretor financeiro e de operações
Diretor de pesquisa qualitativa Eduardo Amuri
Gabriel Rosemberg
Gerente de projetos
Diretor de pesquisa qualitativa Rodrigo Cambiaghi
Gustavo Rosa Silva
Editores
Diretora de pesquisa qualitativa Jader Pires
Juliana Fava Luciano Ribeiro
Analista de pesquisa Negócios
Maria Giulia Pinheiro Phelipe Araújo
Rafael Oliveira Luiz Rica
Designer gráfico Estagiários
Maria Julio Brito Bruno Pinho
Breno França
Diretora financeira e de operações
Marcela Campos
Merilisa Dutra
Carol Rocha
Videomaker
CONSULTORIA DE Ana Higa
PESQUISA DE GÊNERO RH
Professor de Sociologia USP e Pesquisador Clint E. Cambiaghi
Gustavo Venturi

ONU MULHERES ZOOMA PESQUISA QUANTITATIVA

Gerência de conteúdo Diretor geral


Nadine Gasman Rodrigo Trevisan
Joana Chagas
Diretor em pesquisa quantitativa
Ana Carolina Querino
Leandro Tonetto
Coordenação-geral
Analista de pesquisa
Amanda Kamanchek Lemos
Tiago Moresco
Produção-executiva Henrique Renk
Adriana Carvalho Priscila Renk
Comunicação
Isabel Clavelin
Amanda Talamonte

88
TIME DO
PROJETO
GRUPO BOTICÁRIO

Analista de comunicação
Ana Flávia Medina e Marquez
Andressa de Ornelas Grilo
Coordenadora de comunicação
Fernanda Krieger Bacelar Pereira
Wallace Faria
Vice-presidente de desenvolvimento
humano e organizacional
Lia Azevedo
Analista de sustentabilidade
Luana Suzina
Gerente de sustentabilidade
Malu Nunes
Gerente de comunicação
Mariana Scalzo
Coordenador de sustentabilidade
Renato Amendola
Diretora de identidade organizacional
Vanessa Machado

89
Obrigada/o

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