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15/03/2018 A constituição de 1946 | CPDOC

Entre dois governos: 1945-1950 > A constituição de 1946

A constituição de 1946

A Assembléia Nacional Constituinte, nos regimes


liberais-representativos, é um órgão de natureza
especial. Trata-se de uma assembléia com poderes
extraordinários que tem a função precípua de
construir as bases jurídico-políticas do país. O
trabalho constituinte consiste em definir princípios
gerais e em torno deles estabelecer um conjunto
orgânico de regras e instituições. A regulamentação
desse conjunto legal, para a sua aplicação na vida cotidiana, fica em geral por conta
dos órgãos legislativos ordinários.

O trabalho constituinte, mesmo voltado para o futuro, está imerso nas circunstâncias
políticas do presente. É exatamente por isso que cada resolução aprovada, cada
detalhe colocado no texto constitucional, ainda que vago, genérico ou afirmativo,
expressa os diversos pactos que se estabelecem entre as forças políticas ali
representadas.

A Constituinte de 1946, eleita em 2 de dezembro de 1945, iniciou seus trabalhos em


2 de fevereiro seguinte sob o impacto da derrota do nazi-fascismo na Europa e do fim
do Estado Novo no Brasil. Não por acaso, durante os primeiros meses de discussão,
de fevereiro a maio, promoveu-se um duro julgamento do regime anterior. Produziu-
se, em suma, o que se denominou a "autópsia da ditadura".

Outra marca distintiva da Constituinte de 1946 em


comparação com as anteriores foi sua
heterogeneidade político-ideológica. Dela
participaram deputados e senadores eleitos na
legenda de nove partidos, ou seja, representativos de
todo o espectro político e donos de diferentes
trajetórias políticas até aquele momento. No mesmo
plenário estiveram presentes, incumbidos da
elaboração da nova Carta, o ex-presidente Artur Bernardes, do Partido Republicano
(PR), e Luís Carlos Prestes, do Partido Comunista do Brasil (PCB), que como líder
tenentista fora perseguido ferozmente por Bernardes na década de 1920; os
udenistas Otávio Mangabeira e Afonso Arinos, notórios opositores do Estado Novo,
mas também Gustavo Capanema e Agamenon Magalhães, importantes ministros do
antigo regime; o próprio Getúlio Vargas, que, apesar da notoriedade, teve uma
participação discreta e inconstante.

Unidas em torno de um projeto liberal-democrático, as forças predominantes na


Constituinte, a saber, o Partido Social Democrático (PSD) e a União Democrática
Nacional (UDN), que juntos ocupavam cerca de 80% das cadeiras, produziram um
texto preocupado fundamentalmente em delimitar o raio de ação dos poderes
Executivo, Legislativo e Judiciário, para evitar uma nova experiência política baseada
no poder discricionário do Executivo.

O mandato presidencial foi fixado em cinco anos, e


foi mantida a proibição da reeleição para cargos
executivos. As atribuições do Congresso foram
fortalecidas, principalmente as que diziam respeito à
inspeção das ações do Executivo. Todas as medidas
administrativas ou de política econômica do
governo, mesmo as de curto prazo, deveriam
receber a autorização do Congresso. Foi restaurado
o princípio federalista, estabelecendo-se a divisão de atribuições entre a União, os
estados e os municípios.

Esse controle congressual, no entanto, terminaria por ser evitado pelos presidentes da
República que se sucederam, os quais tiveram ampla liberdade para criar órgãos de
natureza técnica. Por sua vez, principalmente no segundo governo Vargas (1951-
1954) e no governo Juscelino Kubitschek (1956-1961), esses órgãos passaram a deter
enormes poderes para implementar a modernização da economia brasileira, o que
seria feito em grande parte à margem da estrutura partidária.

No que se refere ao voto, a nova Constituição extinguiu a bancada profissional,


presente na Carta de 1934, e ampliou a obrigatoriedade do voto feminino, antes
restrita às mulheres que exercessem cargo público remunerado. Quanto à composição
da Câmara dos Deputados, foi estabelecido um critério que beneficiou a

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representação dos estados de menor população em
detrimento dos estados mais populosos. Essa
medida, justificada pelo argumento da necessidade
de se manter o equilíbrio federativo, terminou por
fortalecer os grupos políticos mais conservadores,
amplamente majoritários nos estados menores, em
detrimento de agremiações que tinham maior
representação em estados mais populosos, como os
partidos à esquerda do espectro político.

No plano social, a Constituinte optou por uma postura conservadora. No tocante ao


direito de greve, aprovou um texto genérico que reconhecia o direito, mas deixava
para o Congresso uma futura regulamentação, que terminou por não vir. Além disso,
manteve dois fundamentos da estrutura corporativista advinda do regime anterior: o
imposto sindical, passaporte para o aparecimento e a manutenção dos sindicatos
controlados pelos "pelegos", e a possibilidade de o Estado intervir na vida sindical.
Como na ideologia estado-novista, o sindicato continuava a ser visto como órgão de
colaboração do Estado. Nesse caso, era clara a contradição com a ideologia liberal
apregoada pela quase totalidade dos constituintes. Uma vez mais, foram as
circunstâncias de natureza conjuntural, marcadas pela ampliação da luta sindical, que
definiram o texto constitucional: a estrutura sindical anterior mostrava-se adequada
para assegurar a ordem social e política.

No dia 18 de setembro de 1946, o novo texto constitucional foi aprovado e


Assembléia Nacional Constituinte se transformou em Congresso ordinário. Durante o
governo Dutra, a nova Constituição seria interpretada tanto para assegurar direitos
como para restringir o pluralismo político, como aconteceu quando da cassação do
registro do PCB, em maio de 1947.

Américo Freire

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