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CAMPINAS
2017
ANDRE EDUARDO MEI
CAMPINAS
2017
“O real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da
travessia”
[João Guimarães Rosa]
RESUMO
APRESENTAÇÂO.............................................................................................................1
APÊNDICES
APRESENTAÇÂO
(BRASIL, 2013a). Na mesma data, a Portaria 562 (BRASIL, 2013b) define valores de
incentivo financeiro mensais correspondentes ao Componente de Qualidade do Piso
de Atenção Básica Variável do Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da
Qualidade da Atenção Básica (PMAQ-AB), dentre os quais é previsto repasse às
modalidades NASF: O NASF 1 prevê repasse de R$ 5.000,00 por equipe; o NASF 2
prevê R$ 3.000,00 por equipe; o NASF 3 prevê R$ 2.000,00 por equipe.
No ano subsequente, outra publicação de teor técnico é lançada, o Caderno de
Atenção Básica 39, cujo título é “Núcleo de Apoio à Saúde da Família – volume 1:
Ferramentas para a gestão e para o trabalho cotidiano” (BRASIL, 2014).
O documento, além de reiterar a proposta do arranjo, retoma a trajetória do
mesmo desde sua criação e detalha, ilustrando com exemplos cotidianos, as
possibilidades de apoio matricial em suas dimensões técnico-pedagógica e
assistencial, em diversas linhas de cuidado, bem como norteadores de gestão para a
implantação do projeto, organização do processo de trabalho (que inclui pactuações
como rotinas, fluxos, formas de acesso aos profissionais do NASF, dentre outras) e
avaliação e monitoramento das ações do NASF.
Alguns destaques da publicação incluem a valorização da figura do apoiador
institucional na mediação da construção do processo de trabalho do NASF,
internamente e com as equipes apoiadas; a cautela no processo de implantação, no
qual preconiza-se a elaboração de um projeto prévio, norteado por roteiro que
contempla perfil e necessidades do território e das equipes, incluindo dados
demográficos, epidemiológicos, dos atendimentos e encaminhamentos realizados; a
provisão de infra estrutura mínima para o funcionamento do NASF, como espaço
físico, recursos terapêuticos e transporte oficial para os deslocamentos entre as
unidades; e ampliação da cultura informacional, visando qualificar a leitura de
necessidades e estabelecimento de prioridades.
Em Outubro de 2015, o Departamento de Atenção Básica do Ministério da
Saúde (DAB), divulgou no VI Fórum Nacional da Atenção Básica o lançamento do 1º
Boletim Informativo do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF). Entre os
destaques, o documento evidenciou que na época haviam credenciadas 5.067
equipes NASF no Ministério da Saúde, compostas por mais de 23.000 trabalhadores
(BRASIL, 2015).
Outrossim, o mesmo documento também mostrou, de acordo com relatos das
Secretarias Estaduais de Saúde, que a principal dificuldade percebida em relação à
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das equipes de saúde da família, ampliação do acesso dos usuários aos serviços de
saúde, organização e otimização do fluxo de encaminhamentos, inclusive diminuindo
o número de encaminhamentos desnecessários à especialistas, amplia possibilidades
de ações interdisciplinares e ajuda a construir relações interprofissionais mais
horizontais e dialógicas.
Os autores supracitados apontam como dificuldades encontradas pelo apoio
matricial no país, por sua vez, a própria superação de fragilidades organizacionais e
estruturais dos sistemas de saúde, como a infraestrutura inadequada dos serviços; o
baixo número de profissionais nos equipamentos de saúde, bem como a dificuldade
em fixar estes poucos profissionais; modelos de saúde excessivamente
hierarquizados, burocráticos e fundamentados em produção e metas exclusivamente
quantitativas. Não obstante, num plano mais local, apontam o desconhecimento ou
não entendimento do apoio matricial por parte dos trabalhadores envolvidos e
gestores locais.
O NASF, enquanto uma política nacional que se fundamenta na utilização do
apoio matricial, produz algumas percepções convergentes com as iniciativas de apoio
matricial como um todo. No âmbito das potencialidades, é relatado capacidade de
promover mudanças institucionais positivas nos trabalhadores e processos de
trabalho, por incentivo à colaboração e co-responsabilização pelo cuidado (incluindo
revisão na cultura dos encaminhamentos), bem como na integralidade e resolutividade
do cuidado, pela ampliação do olhar das equipes envolvidas, aumento no cardápio de
ações oferecidas e melhoria da qualidade de vida da população assistida (VOLPONI;
GARANHANI; CARVALHO, 2015).
Entre as fragilidades, Patrocínio (2012) se aproxima de algumas análises do
apoio matricial ao apontar que a implementação do NASF descortina questões ainda
mal equacionadas no âmbito da gestão pública da saúde e da Atenção Primária. O
autor coloca entre os principais desafios a dificuldade de integração entre as três
esferas de governo, a consolidação de redes intra e intersetoriais e as condições de
inserção e trabalho dos profissionais. Dessa forma, considera que o fortalecimento
efetivo da APS como eixo estruturante do sistema de saúde perpassa o enfrentamento
de todas estas questões.
Não obstante, a nova lógica implícita neste trabalho colaborativo resulta em
dificuldades encontradas na sua operação. Araújo e Galimbertti (2013) apresentam
experiência onde profissionais do NASF percebem sentir falta de um suporte para a
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realização deste trabalho, uma supervisão, visto ser uma iniciativa recente, além do
fato de se depararem com situações clínicas complexas, para as quais não se sentem
plenamente qualificados. Ainda, percebem que a mediação de conflitos intra-NASF
realizados pelo apoio institucional alcançou maior efetividade que a mediação
pretendida entre NASF e equipes de Saúde da Familia.
A divergência entre o processo de trabalho proposto pelo NASF e o processo
de trabalho encontrado no cotidiano das equipes é deveras significativa. Para Barros
et al (2015), esta afirmação pode encontrar explicação nas distintas exigências de
produtividade, estratégias de trabalho, prioridades de ação e divisão de tarefas no
cotidiano que ambas equipes vivenciam. Para estes autores, uma saída possível é
aproveitar a prática acumulada na estratégia do NASF até agora para revisar alguns
documentos norteadores das equipes de Saúde da Familia, e assim transformar as
organizações de trabalho previstas para criar maiores condições para o trabalho
compartilhado.
Outrossim, também é possível observar relatos que apontam a singularidade
do NASF enquanto apoio matricial, possivelmente pela característica da dedicação
integral do trabalhador envolvido com o apoio matricial, e não como uma das
atribuições deste mesmo profissional, bem como a difusão do NASF enquanto política
pública. Neste sentido, Volponi, Garanhani e Carvalho (2015) relatam que a
singularidade do NASF despertou a criação de uma singularidade na gestão deste
arranjo, que recorreu a um colegiado gestor formado por um representante de cada
categoria profissional contemplada no NASF do município estudado.
Shimizu e Frageli (2016), ao elencarem domínios de competências
profissionais para o trabalho no NASF, reconhecem a singularidade do trabalho
na/para a APS – que preconiza abordagem comunitária, coletiva e intersetorial - ao
apontarem como competências necessárias diagnosticar e planejar intervenções na
comunidade, desenvolvimento de ações intersetoriais e atuação com diferentes
coletividades.
Leite, Nascimento e Oliveira (2014), por sua vez, trazem percepções dos
trabalhadores NASF no que diz respeito à Qualidade de Vida no Trabalho (QVT).
Neste trabalho, os profissionais puderam referir perceberem como domínios de sua
QVT: a infraestrutura para o trabalho, que inclui elementos como estrutura físicas das
unidades, recursos materiais para atendimento, acesso a computadores, dentre
outros; sobrecarga e qualidade de vida no trabalho, que inclui o desentendimento da
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1. CS 31 de Março
2. CS Conceição
3. CS Boa Esperança
percepção acerca do contexto dos bairros atendidos e seus habitantes. Dessa forma,
a territorialização contou com a presença de membros das equipes de saúde da
família (EqSF) apoiadas, em especial com a presença dos Agentes Comunitários de
Saúde (ACS) e auxiliares de enfermagem.
As visitas eram realizadas com o transporte da Prefeitura Municipal de
Campinas (PMC), de modo que os trabalhadores das EqSF que acompanhavam a
equipe NASF-Leste ocasionalmente sugeriam uma parada para melhor contemplação
dos espaços, ou ainda para visitar algumas instituições presentes no território, caso
da ONG Resgatando Valores, situada no Jardim Líria, e do Centro de Referência em
Assistência Social (CRAS), situado no Jardim Flamboyant.
Outros serviços, instituições e equipes foram também visitadas pela equipe
NASF-Leste, em especial entre os meses de janeiro à março, para estreitar laços com
outros pontos das redes de cuidado e qualificar a assistência em seu âmbito
longitudinal. Foram realizadas visitas institucionais no Centro Especializado em
Atendimento à Mulher Operosa (CEAMO), no Centro de Referência Especializada em
Assistência Social (CREAS) – Região Leste, no Centro de Atenção Psicossocial
(CAPS) “Esperança”, no Centro de Atenção Psicossocial para usuários de álcool e
drogas (CAPS-ad) “Reviver”, e no Centro de Referência em Reabilitação “Jorge Rafful
Kanawaty” (CRR). Ainda, foram realizadas reuniões com participantes da ONG
Promotoras Legais Populares e supervisoras institucionais do Núcleo de Ação
Educativa Descentralizado (NAED) – Região Leste - responsáveis pelas escolas
municipais do território atendido.
Nestas visitas e reuniões, eram explorados a estrutura da instituição, quadro
de funcionários, principais diretrizes, objeto de intervenção, objetivos e fluxos
institucionais, bem como sua articulação com as redes de cuidados Freqüentemente,
os trabalhadores do NASF-Leste se pautaram em um breve roteiro para tais visitas e
reuniões (Apêndice 3).
A partir do mês de fevereiro, a equipe NASF-Leste iniciou oficial e diretamente
seu contato com as equipes apoiadas. Dessa forma, ainda neste mês a equipe NASF-
Leste participou da reunião geral do CS Conceição para planejamento estratégico,
assistindo à apresentação das equipes e se apresentando brevemente, bem como
das reuniões de ambas equipes do CS 31 de março, para se apresentar oficialmente
aos colegas e escutar suas expectativas e dúvidas em relação ao NASF.
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Quadro 2: Conjunto de normas que balizam o trabalho em saúde nos serviços públicos.
Normas ligadas aos Normas ligadas ao Normas ligadas ao Normas ligadas
saberes técnicos, planejamento e à trabalhador e aos aos usuários
científicos e culturais organização prescrita coletivos de trabalho
do trabalho
Diferentes concepções de Atribuições e rotinas Ideais e anseios dos Demandas da
saúde dos profissionais prescritas aos trabalhadores sociedade
profissionais e às
equipes
Códigos de ética Formas de alocação de Regras acordadas entra Exigências e
profissional e recursos e trabalhadores, baseadas expectativas dos
regulamentações do financiamento em valores usuários
exercício profissional compartilhados
Diretrizes, princípios e Formas de contratação Saberes desenvolvidos
modelos de atenção do e remuneração dos pelos trabalhadores
SUS trabalhadores
Conhecimentos técnicos Metas de produção e
e científicos dos indicadores de
profissionais qualidade
Tecnologias disponíveis
Protocolos de
segurança
Extraído e adaptado de: Brito et al (2011), p. 29.
elaborar o relatório, para que em seguida seja aprovado pelo Conselho Municipal de
Saúde e pela Comissão Intergestores Bipartite (CIB).
Já com relação ao conteúdo do relatório, alguns pontos da implantação já
questionados ao longo do processo se encontraram no relatório ausentes ou redigidos
sem o detalhamento desejado, entre eles: a explicitação do modelo assistencial
defendido pelo Departamento de Saúde e por cada Distrito de Saúde, a política de
contratação de novos profissionais para o NASF e os investimentos realizados nos
Centros de Saúde para acolher a estratégia, como por exemplo aumento da oferta de
transporte para o deslocamento dos profissionais entre as unidades.
Essa ausência de detalhamento afasta o processo de implantação da portaria
154/2008, que menciona que o relatório de implantação deve contemplar informações
como as principais atividades a serem desenvolvidas, o formato de integração no
sistema de saúde (o que inclui fluxos e mecanismos de referências e contra-
referências aos demais serviços da rede assistencial) e a descrição dos investimentos
necessários à adequação da Unidade de Saúde para o bom desempenho das ações
do NASF.
Ainda, é feita escolha pelo DSL em incluir as categorias profissionais de
Educador em Saúde e Educador Social no quadro de trabalhadores do NASF-Leste,
decisão que diverge da PNAB (BRASIL, 2011) por extrapolar as categorias previstas
pela política. Ainda que esta medida carregue a intencionalidade de promover a clínica
ampliada, a intersetorialidade e a promoção da saúde, elementos desejáveis para o
fortalecimento da APS, o fato da mesma não ser acompanhada de uma justificativa
no projeto de implantação do NASF pode arriscar o deferimento do credenciamento
deste junto ao Ministério da Saúde.
Além das divergências das orientações contidas nas portarias do NASF, outras
implicações emergem no processo de implantação do NASF. Entre tais implicações,
temos que o modelo assistencial em questão, que é considerado por Brito et al (2011)
como uma das principais balizas do trabalho em saúde, não foi apresentado em sua
plenitude. A lacuna, por não favorecer a discussão transparente das divergências e
convergências dos diversos atores - as diferentes instâncias da gestão, as equipes
que ofertam e as que recebem matriciamento - pode ter atuado como uma barreira
para a implantação do NASF, conforme já haviam apontado diversos autores (Oliveira
e Campos, 2015; Castro e Campos, 2016; Patrocínio, 2012; Leite, Nascimento e
Oliveira, 2014).
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formas, de acordo com o saber-fazer construído por cada profissional e dentro das
suas possibilidades.
Onocko Campos (2005) procura ampliar o debate atentando para uma
convergência entre o apoio matricial e a gestão, que é o suporte de EqSFs para a
mudança de modelo. Na visão da autora, há constante busca de um equilíbrio, de
transitar entre o suporte e o manejo, a escuta e a oferta. Assim sendo, o ajuste fino
do profissional do NASF para atingir esse equilíbrio pode passar por um processo
pessoal e empírico de acertos e erros com as equipes apoiadas.
Igualmente, as equipes compartilham valores, regras e criatividade para lidar
com a imprevisibilidade e proteger-se das adversidades e do despreparo perante uma
estratégia nova e pouco sistematizada como o NASF, e nesse movimento podem se
fechar diante de ideias e conceitos divergentes dos constructos há muito pactuados
(BRITO et al, 2011; CUNHA; SÁ, 2013).
Dessa forma, o que pode ser interpretado como falta de escuta do NASF-Leste,
pode representar fenômenos que vão desde divergências conceituais que necessitam
de mediação cotidiana até o processo empírico de ajustar-se àquele coletivo e seus
constructos cotidianos, para encontrar a melhor forma de realizar a atribuição do apoio
matricial.
À guisa de finalização da presente discussão, sem a pretensão de esgotar o
tema, é possível pontuar que a operação do NASF-Leste se constituiu em um
processo legitimamente complexo, com desafios significativos. Felizmente, existem
alguns direcionamentos possíveis para potencializar ainda mais essa estratégia,
inclusive no contexto do Distrito de Saúde Leste do município de Campinas (SP).
Gonçalves et al (2015) e Barros et al (2015) convergem para o fato de que a
prática acumulada desde a criação dos NASF pode favorecer uma revisão dos
documentos norteadores do NASF e da própria ESF, no intuito de criar maiores
condições de entrosamento e confluências, sobretudo no tocante à organização do
trabalho.
No âmbito municipal, fica a esperança que os atuais movimentos do
Departamento de Saúde e dos recém-criados Núcleos de Articulação da Assistência
possam compor de forma transparente e integrada ao NASF, aproximando as
instâncias centrais de gestão das instâncias distritais e locais.
Num âmbito local, alguns movimentos emergidos após a avaliação da proposta
carregam potencial de transformar os desafios em combustível para a construção de
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3. CONSIDERAÇÔES FINAIS
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
http://conselho.saude.gov.br/ultimas_noticias/2011/img/07_jan_portaria4279_301210
.pdf, acessado em 03/02/2017.
CASTRO, C.P.; CAMPOS, G.W.S. Apoio Matricial como articulador das relações
interprofissionais entre serviços especializados e atenção primária à saúde. Physis:
Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v.26, n.2, p.455-481, 2016.
MENDES, E.V. As redes de atenção à saúde. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de
Janeiro, v.15, n.5, p.2297-2305, 2010.
VISITA INSTITUCIONAL
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Endereço: ____________________________________________________________________
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