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RESISTIR E EXISTIR 1
1. Introdução
1
Texto elaborado como parte de obtenção de créditos em pesquisa de doutoramento. Bolsista Capes∕DS.
Dourados, 13 a 15 de Dezembro/Diciembre de 2017
ISSN: 2362-3365
distribuição e comercialização da produção agrícola camponesa ao agronegócio ou mesmo em
muitos casos a expulsão e desterriorialização de comunidades tradicionais indígenas inteiras das
suas áreas tradicionais.
A globalização da produção agrícola é uma expressão do desenvolvimento capitalista no
campo e não pode ser compreendida separadamente, sua principal característica, é que o
desenvolvimento da produção agrícola local se conecta com o global. A existência dos complexos
agroindustriais e empresas multinacionais da soja, cana, milho, trigo, laranja, café, eucalipto
(celulose), entre outras, é expressão da globalização neoliberal e financeira no campo,
responsável por em alguns casos subordinar a produção camponesa, em outros casos, expulsar
ou extinguir comunidades tradicionais indígenas inteiras. Como a produção agrícola globalizada
concentra-se em um pequeno conjunto de atividades agrícolas, requerendo grandes escalas de
produção, a pequena produção local encontra sérias dificuldades de competir com o agronegócio.
Diante disso e por condição das dificuldades de competir com as grandes produções globalizadas,
as comunidades tradicionais acabam reproduzindo-se subordinados ou expulsos de suas terras.
No entanto tomamos conhecimento de casos de resistência à desterritorialização, como os
indígenas da etnia Avá-Guarani no município de Guaíra/PR.
Com isso podem ser notados ao menos dois momentos distintos; primeiramente, a
expansão da globalização da produção agrícola ocorreu sobre áreas de comunidades indígenas
tradicionais, nesse sentido, foram desterritorializados. O segundo momento, o retorno de
comunidades indígenas sobre as áreas que antes eram de seus domínios, é uma tentativa de
reterritorializar, no entanto, este último processo, o “de volta”, se dá em áreas de atuação da
globalização da produção agrícola. Nos dois momentos distintos o que se coloca em questão é o
controle sobre o espaço, ou seja, o território e por esse sentido é que se trata na visão deste
trabalho de relações de poder.
Dessa forma o objetivo principal desse trabalho é discutir sobre as consequências dessa
relação de poder do retorno das comunidades indígenas tradicionais sobre suas terras de origem.
O movimento de retorno pode indicar situações de degradação humana diferentes de quando
foram expulsos de suas terras. No primeiro momento, a expulsão foi o esgarçamento do território,
pois o processo de globalização da produção não ocorreu preservando as áreas tradicionais
indígenas; a expansão da globalização da produção difundida pelo agronegócio defende que a
área foi “limpa” ou livre da atuação indígena. Com o retorno dessas comunidades, sobre as áreas
do agronegócio, a reterrritorialização só será possível concomitante às áreas de globalização
agrícola. Ou seja, a reterritorialização de comunidades indígenas não será por todo o território do
agronegócio, mas apenas em algumas parcelas desse território, assim o retorno representa o
aguçamento entre relações de poder nos espaços agrícolas, é a representação mais clara, real e
Após várias décadas de perdas das referências territoriais, a base material e local para a
reprodução dos seus modos de vida, uma parcela de antigos indígenas, novas gerações e
lideranças se reorganizaram e retornaram às terras tradicionais para reterritorializar-se. Tal fato
demonstra o quão importante são as terras tradicionais para a cultura dos povos indígenas, a
posse dessas áreas é como uma garantia de conexão dos seus antepassados para com as
gerações futuras, como frutos da terra; nascem, crescem e morrem na/para a terra, um solo
sagrado ao modo de vida e cultura indígena. A reterritorialização dessa área pela etnia indígena
Avá-Guarani é a única forma de ainda terem uma chance de lutar pela preservação dos seus
hábitos, costumes, cultura.
Segundo Haesbaert (2010) existem muitas concepções da definição de território, mas as
principais definições podem ser divididas, por exemplo, entre; a vertente política, cultural,
econômica e naturalista. Dentro dos objetivos propostos deste trabalho a principal vertente é a
cultural, segundo Haesbaert (2010, p. 40) esta vertente do território “é visto, sobretudo, como o
Antes do retorno a essas áreas, muitas pessoas do município de Guaíra nem ao menos se
davam conta de que aquelas terras já tinham sido povoadas por numerosas aldeias. A
Dourados, 13 a 15 de Dezembro/Diciembre de 2017
ISSN: 2362-3365
reorganização Avá-Guarani e o retorno às terras tradicionais é um exemplo de uma corajosa luta
para existirem enquanto povos indígenas, do contrário, talvez não se soubessem sobre a história
desses povos, tal como ocorreu com muitas etnias indígenas que foram massacradas e nunca
tomaremos conhecimento da sua existência.
Tanto a reorganização e mobilização das tribos e o retorno às terras tradicionais apontam
como uma das poucas alternativas para terem chances de se reterritorializarem, no entanto não
podem fazer isso sozinho, precisam que a FUNAI conclua e apresente os estudos antropológicos,
que o poder público garanta a segurança nas aldeias e a segurança dos técnicos da FUNAI, que a
justiça e sobretudo o Estado garanta o direito às terras tradicionais pelos povos indígenas. Como
manifesta Haesbaert (2010, p. 371), para que de fato, possamos:
Construir uma sociedade onde não só esteja muito mais democratizado o acesso
a mais ampla multiterritorialidade – e a convivência de múltiplas territorialidades,
mas onde estejam sempre abertas, também, as possibilidades para a reavaliação
de nossas escolhas e a consequente criação de outras, territorialidades ainda
igualitárias e respeitadoras da diferença humana.
5. Considerações finais
6. Bibliografia
COMISSÃO GUARANI YVYRUPA. Guaíra & Terra Roxa: relatório sobre violações de direitos
humanos contra os Avá Guarani do Oeste do Paraná. Disponível em:
<http://www.cimi.org.br/site/pt-br/?system=news&action=read&id=9438>. Acesso em: 18 de out.
de 2017.
SANTOS, Milton; SILVEIRA, María Laura. O Brasil: Território e sociedade no início do século XXI.
11. ed. Rio de Janeiro: Record, 2008.