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ANAIS

XVIII Encontro
contro de Geografia da UNIOESTE
(ENGEO)

XII Encontro de Geografia do Sudoeste do Paraná


(ENGESOP)

Organização Apoio:
:

RESUMOS EXPANDIDOS
XVIII Encontro de Geografia da Unioeste (ENGEO) e XII Encontro de Geografia do Sudoeste do Paraná (ENGESOP)
“Geografia: Ambiente e Sociedade”. Francisco Beltrão: 05-08 Ago 2014.

APRESENTAÇÃO

Entre os dias 05 e 08 de agosto de 2014, realizou-se na UNIOESTE (Universidade


Estadual do Oeste do Paraná), Campus de Francisco Beltrão, o XVIII Encontro de
Geografia da UNIOESTE (ENGEO) e o XII Encontro de Geografia do Sudoeste do
Paraná (ENGESOP), organizado pelos cursos de Licenciatura e Bacharelado em
Geografia em conjunto com o Programa de Pós-Graduação em Geografia (Mestrado) da
UNIOESTE.

Essa edição tem como tema: “Ambiente e Sociedade”, considerando a importante


contribuição que a ciência geográfica oferece tanto para a compreensão da sociedade e
suas relações a partir de temáticas ambientais, estudos urbanos e agrários, econômicos,
como também, uma série de conhecimentos voltados para a análise da realidade física –
estudos de solo, relevo, clima, qualidade das águas, entre outros. Tais estudos
possibilitam compreender as múltiplas formas de interface entre ambiente e sociedade.

O ENGEO já está em sua décima oitava edição e visa integrar e difundir o conhecimento
de geografia, aproximando grupos e áreas de pesquisas distintas e que possuem como
alvo de estudo em comum a sociedade, a natureza e a sua interação. O ENGESOP é um
evento que procura suprir uma lacuna existente na divulgação do conhecimento
produzido na geografia na região Sudoeste do Paraná, contribuindo intensamente na
formação acadêmica e na extensão das pesquisas efetuadas no Sudoeste Paranaense.

Assim, o ENGEO e ENGESOP/2014, pretendem atender um público bastante variado e


apresenta temáticas que, além de terem um significado específico para professores,
graduandos e pós-graduandos, são atuais e contemporâneas em relação à sociedade
brasileira e à comunidade local.

Comissão Organizadora
XVIII Encontro de Geografia da Unioeste (ENGEO) e XII Encontro de Geografia do Sudoeste do Paraná (ENGESOP)
“Geografia: Ambiente e Sociedade”. Francisco Beltrão: 05-08 Ago 2014.

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ


CAMPUS DE FRANCISCO BELTRÃO-PR
Paulo Sergio Wolff (Reitor)
Carlos Alberto Piacenti (Vice-Reitor)
Haroldo Augusto Moreira (Diretor Geral)
Suely Aparecida Martins
Diretora do Centro de Ciências Humanas
Elvis Rabuske Hendges
Coordenador do Curso de Bacharelado em Geografia
Luiz Carlos Flávio
Coordenadora do Curso de Licenciatura em Geografia
Marga Eliz Pontelli
Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Geografia
Comissão Organizadora
Roselí Alves dos Santos (Coordenadora)
Elvis Rabuske Hendges
Fabiano André Marion
Jacson Gosman Gomes de Lima
Leomar Valmorbida
Luiz Carlos Flávio
Angela Maria Kreuz
Eduarda Nicola
Gabriela Geron
João Luciano Bandeira
Josielle Samara Pereira
Jorgiane Pagnan
Lidiane Paz
Raquel Alves de Meira
Rogério Michael Musatto

Comissão Científica
Eduardo Donizeti Girotto
Elvis Rabuske Hendges
Fabiano André Marion
Jacson Gosman Gomes de Lima
Luciano Zanetti Pessôa Candiotto
Luiz Carlos Flávio
Mafalda Nesi Francischet
Marcos Aurelio Saquet
Marga Eliz Pontelli
Najla Mehanna Mormul
Sílvia Regina Pereira
XVIII Encontro de Geografia da Unioeste (ENGEO) e XII Encontro de Geografia do Sudoeste do Paraná (ENGESOP)
“Geografia: Ambiente e Sociedade”. Francisco Beltrão: 05-08 Ago 2014.

Diagramação
Fabiano André Marion

ISSN
2176-5529

A redação e a normatização dos textos publicados nos Anais são de inteira


responsabilidade dos autores.
Comissão Organizadora

Catalogação na Publicação (CIP)

Sistema de Bibliotecas - UNIOESTE – Campus Francisco Beltrão

Encontro de Geografia da UNIOESTE (18.: 2014 : Francisco


Beltrão - PR)
E56 Anais do Encontro de Geografia da UNIOESTE (ENGEO) e
XII Encontro de Geografia do Sudoeste do Paraná
(ENGESOP) / Organização de Roseli Alves dos Santos;
Fabiano André Marion et. al. -- Francisco Beltrão: Unioeste –
Campus Francisco Beltrão, 2014.
On-line.

ISSN – 2176-5529
Tema: Ambiente e Sociedade.

1. Geografia. 2. Sociedade. 4. Congressos. I. Santos,


Roseli Alves (org.), et al. III. Título.

CDD – 910.98162
XVIII Encontro de Geografia da Unioeste (ENGEO) e XII Encontro de Geografia do Sudoeste do Paraná (ENGESOP)
“Geografia: Ambiente e Sociedade”. Francisco Beltrão: 05-08 Ago 2014.

PROGRAMAÇÃO GERAL DO
XVIII ENCONTRO DE GEOGRAFIA DA UNIOESTE (ENGEO) E
XII ENCONTRO DE GEOGRAFIA DO SUDOESTE DO PARANÁ (ENGESOP)
“Geografia: Ambiente e Sociedade”

Períodos Tarde Noite


Dias (13h30-17h30) (19h-23h)
05/08 - Credenciamento - Credenciamento
- Mostra de Fotografias
- Mesa Redonda I. (Particularidades Ambientais
e Sociais brasileiras)
Palestrantes:
Prof. Dr. Edson Soares Fialho (UFV) e
Prof. Dr. Henique dos Santos Pereira (UFAM)
06/08 - Minicursos - Minicursos
- Amostra de Vídeo
07/08 - Trabalho de Campo - Apresentação de trabalhos
- Amostra de Vídeo
08/08 - Minicursos - Mesa Redonda II. (Um olhar sobre o Paraná)
- Amostra de Vídeo Palestrantes:
Prof. Dr. Edson Fortes (UEM)
Prof. Dr. Gilnei Machado (UEL)
Prof. Dr. Frederico M. Corrêa Vieira (UTFPR)
XVIII Encontro de Geografia da Unioeste (ENGEO) e XII Encontro de Geografia do Sudoeste do Paraná (ENGESOP)
“Geografia: Ambiente e Sociedade”. Francisco Beltrão: 05-08 Ago 2014.

SUMÁRIO

EIXOS TEMÁTICOS DO EVENTO


XVIII ENCONTRO DE GEOGRAFIA DA UNIOESTE (ENGEO) E
XII ENCONTRO DE GEOGRAFIA DO SUDOESTE DO PARANÁ (ENGESOP)
“Geografia: Ambiente e Sociedade”

Eixo 1: Desenvolvimento Econômico e Dinâmicas Territoriais....................................6


Eixo 2: Dinâmica, Utilização e Preservação do Meio Ambiente..................................70
Eixo 3: Educação e Ensino de Geografia....................................................................129
Eixo 1:
Desenvolvimento
Econômico e Dinâmicas
Territoriais
XVIII Encontro de Geografia da Unioeste (ENGEO) e XII Encontro de Geografia do Sudoeste do Paraná (ENGESOP)
“Geografia: Ambiente e Sociedade”. Francisco Beltrão: 05-08 Ago 2014.

REFLEXÃO SOBRE O “ESQUECIMENTO” DE POPULAÇÕES NOS


PROCESSOS TERRITORIAIS1

Luiz Carlos Flávio2


Universidade Estadual do Oeste do Paraná.
E-mail: lucaflavio@gmail.com

Na história há diversos tempos


e relatos acerca dos fatos
e dos espaços ocupados,
tomados, grilados,
apropriados pelos povos.
Uns, os tempos dominantes,
são muito lembrados,
contam contos
que dão honras e pontos
aos conquistadores.
Outros são tempos
de povos resilientes e dominados.
Geralmente estes são esquecidos, enterrados,
Mas, ainda assim,
os feitos e falas dos povos abafados
teimam em permanecer sob formas vivas:
afloram mediante os cotidianos resgates
de contações, relatos, narrativas pequenas
que, mesmo em forma de cacos,
insistem em não sumir das coletivas cenas.
Estes tempos, portanto,
comportam eventos de povos esquecidos
não lembrados ou mal contados.
Se os primeiros tempos,
os das gentes celebradas, vangloriadas
nos anais das memórias oficiais
são reiteradamente contemplados
nas vertentes de histórias oficiais,
os segundos, dos povos da história banidos
apenas são recobrados
(re)lembrados, (re)tomados, registrados
mediante relatos resistentes
colhidos de fragmentos banais,
furos de rádio, tv, jornais
e sobretudo de fatos
oriundos de cotidianos relatos orais,
já que os anais dos grupos hegemonizantes
insistem em dar como história
apenas as memórias dominantes
das classes sociais louvadas, celebradas
porque politicamente triunfantes.3

1
Este trabalho é parte das reflexões por nós efetivadas na pesquisa de doutorado: “Memória e território:
elementos para o entendimento da constituição da cidade de Francisco Beltrão-PR”, realizada entre
2007/2011, no Programa de Pós-Graduação em Geografia, na Universidade Estadual Paulista, campus de
Presidente Prudente (ver FLÁVIO, 2011).
2
Docente do curso de Geografia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, campus de Francisco Beltrão.
3
Poema inédito de Luiz Carlos Flávio.

Eixo 1: Desenvolvimento Econômico e Dinâmicas Territoriais Página 7


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Para Morin (2007), um dos problemas das ciências sociais repousa no fato desta se
apoiar em conceitos reducionistas que “deságuam” em uma visão linear da História, ao
tratar de realidades empíricas. Tal postura do pensamento dificulta capturar as contradições
que as permeiam, negligenciando aspectos importantes da História.
Nas leituras feitas acerca da constituição da cidade de Francisco Beltrão, tal
dificuldade se manifesta, dentre outras formas, no esquecimento da presença de segmentos
ou frações de populações, as quais, vencidas pelas forças colonizadoras, não são lembradas
ou registradas nos “anais” da História oficial.
Analisando os processos de dominação social entre grupos, Elias e Scotson (2000,
p. 32) sugerem que todos os segmentos de população que “não têm nenhuma função para
os ‘estabelecidos’ (grupos dominantes) e que simplesmente estão em seu caminho (...),
com muita freqüência são exterminados ou postos de lado até perecerem.”
Heller (2003) ressalta que os grupos hegemônicos buscam criar uma identidade
territorial. Esta por sua vez se impõe à base da exclusão de grupos exteriores à sua
identidade, aos quais Elias e Scotson (2000) denominariam “outsiders” (grupos
“marginalizados” pelos grupos hegemônicos).
Em toda disputa efetivada entre os grupos sociais, que se configuram como embate
entre “estabelecidos” e “outsiders”, os grupos dominantes podem “eliminar” os
“dominados”, seja nas relações materialmente erigidas sobre o território em disputa, seja
nas abordagens históricas empreendidas acerca de tais embates.
Assim, nas construções simbólicas que resultam de tais abordagens, é frequente que
os “outsiders” sejam “esquecidos” pela História oficial (dominante), construída, cultivada
e celebrada pelos grupos “vencedores”, que conquistaram o território, do qual/no qual os
“outsiders” vão sendo paulatinamente excluídos e, ao mesmo tempo, incluídos, de modo
precário, nas relações sociais de produção que sustentam a sociedade de que fazem parte.
Na análise de Langer (2007), uma das marcas mais relevantes do discurso
historiográfico que se refere à ocupação do território no Sudoeste do Paraná, diz da
cristalização de uma história de louvor ao conquistador, à valorização dos heróis e dos
grupos co-mandantes vinculados ao Estado.
Qual alertara Certeau (1982, p. 09-10), todo o processo de colonização da América
se constituíra utilizando um discurso do poder que tece uma escrita de conquista em que se
transforma “[...] o espaço do outro num campo de expansão para um sistema de produção”.
Em cidades sudoestinas, cujo exemplo privilegiado é Francisco Beltrão, a

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História da colonização euro-brasileira está onipresente nas escolas, nas praças,


nos nomes das ruas, nas comemorações que celebram a fundação dos municípios
e, além do mais, é objeto de pesquisa nas universidades. Já as sociedades
4
indígenas desapareceram da outrora Gleba Missões sem uma reflexão sobre os
impasses e rumos que os índios tomaram diante das políticas de colonização
intensiva que, em pouco tempo, asfixiaram territorialmente esses grupos
(LANGER, 2009).

A visão eurocêntrica suprime da história as populações indígenas, negras e


mestiças, como os denominados caboclos (ver capítulo 5 de Flávio, 2011). Tal visão
privilegia totalidades do pensamento que se querem de contornos plenamente coerentes.
Da mesma forma, pensa a realidade como possuidora de traços pressupostamente
homogêneos: eis porque reproduz apenas a história do vencedor.
Em seus cânones, as populações étnica e socialmente consideradas “impuras” ou
“inferiores” são banidas dos processos de composição dos conteúdos sociais.
No Sudoeste do Paraná, a presença indígena é negada, depreciada e minimizada
(LANGER, 2007), fato evidenciado nas abordagens da História do município de Francisco
Beltrão. Para Langer (2009), “a evocação intensa dos símbolos dos ‘pioneiros’ é
inversamente análoga ao silenciamento das etnias que os antecederam (índios e caboclos).”
O discurso que solapa a presença indígena no território, em tempo passado,
comparece em livros didáticos e, tácita ou expressamente, também em trabalhos e
pesquisas acadêmicas (monografias, dissertações, etc.) até mesmo de pensadores
respeitados, tais como Abramovay (1981) e Corrêa (1970).
Esses dois importantes autores, Abramovay (1981) e Corrêa (1970), são exemplos
de pessoas que publicaram estudos sobre a ocupação do sudoeste do Paraná. Todavia, nem
sequer mencionam a presença indígena neste território. Conforme Hobsbawn (1998, p. 43-
8), o papel dos historiadores e intelectuais dos mais diversos domínios científicos, seja de
modo consciente ou não, pode ratificar a ocultação de regimes e ações dos grupos
dominantes na história. Assim, a produção de abordagens amplas e críticas dos “escritos e
interpretações sobre a História” e seus processos, descobrindo os padrões e mecanismos da
mudança, é tarefa primordial para os cientistas sociais.
Como vemos, os dilemas pertinentes ao processo de alijamento das populações
nativas são soterrados, subsidiando a presença triunfal dos “pioneiros”, “desbravadores”,

4
A Gleba Missões era área alvo de grileiros de terras, desde fins do século XIX. Correspondia a praticamente
a metade do atual Sudoeste do Paraná, abrangendo parte de municípios como Santo Antonio do Sudoeste,
Salgado Filho, Manfrinópolis, Francisco Beltrão e a totalidade de municípios como Verê, Dois Vizinhos e
Cruzeiro do Iguaçu, numa linha que abarcava todos os demais municípios a oeste do atual sudoeste do
Paraná. O mapa em que consta a localização da Gleba Missões pode ser viso na figura 41, no capítulo 8.

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vistos nos elementos da memória socialmente cultivados como únicos edificadores da


sociedade local.
A ausência dos índios, assim como a dos caboclos, nos “anais da história”, por
exemplo, evoca a reflexão acerca das lembranças e registros, ainda que fragmentários, que
atestam sua presença no território em que se constituiria Francisco Beltrão, a partir dos
anos 1940-50.
Nosso trabalho (FLÁVIO, 2011) buscou evidenciar as marcas por eles deixadas
como testemunhas historicamente erigidas nos embates sociais, resgataremos alguns
elementos que demonstram os termos da desagregação de seu território e seu
“desaparecimento” face ao surgimento de núcleos urbanos, como Francisco Beltrão, o qual
seria um dos principais a sustentar os processos produtivos estabelecidos no Sudoeste
paranaense.
Buscamos em nossa pesquisa enfatizar que, embora esquecidos, alguns
elementos/vestígios de indígenas e caboclos continuam “vivos” entre nós, em rugosidades
por eles deixadas, em sua presença teimosa na paisagem urbana e/ou ainda nos aspectos
pertinentes à miscigenação, bem como em conhecimentos a eles ligados, os quais estão
ainda cristalizados em traços incorporados à população da cidade de Francisco Beltrão.

REFERÊNCIAS
ABRAMOVAY, Ricardo. Transformações na vida camponesa: o sudoeste do paranaense.
Tese de doutorado. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1981.
CERTEAU, Michel de. A Escrita da história. Rio de Janeiro: Forense Universitária,
1982.
CORRÊA, Roberto Lobato. O sudoeste paranaense antes da colonização.In: Revista
Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, n. 1, p. 87-98, jan/mar, 1970.
ELIAS, Norbert, SCOTSON, John. Os estabelecidos e os outsiders. Rio de janeiro: Zahar,
2000.
FLÁVIO, Luiz Carlos. Memória(s) e território: elementos para o entendimento da
constituição de Francisco Beltrão-PR. (tese de doutorado).Programa de Pós-Graduação em
Geografia. Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista, UNESP,
Presidente Prudente, SP. 2011.
HELLER, Agnes. Memoria cultural, identidad y sociedad civil. Indaga: Revista
Internacional de Ciencias Sociales y Humanas, Nº. 1, p. 5-18, 2003.
HOBSBAWM, Eric. Sobre história: ensaios. 5ª. reimpressão, São Paulo: Companhia das
Letras, 1998.
LANGER, Protásio Paulo. Conhecimento e encobrimento: o discurso historiográfico sobre
a colonização eurobrasileira e as alteridades étnicas no sudoeste do Paraná. Diálogos,
DHI/PPH/UEM, v. 11, n. 3, p. 71-93, 2007.
______ Toldos guarani na gleba missões: colonos e indígenas nas mesmas trilhas. Mimeo,
2009.
MORIN, Edgar. Introdução ao pensamento complexo. 3ª. ed. Porto Alegre: Sulina, 2007.

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O ALIJAMENTO INDÍGENA NA COLONIZAÇÃO DO SUDOESTE


PARANAENSE5

Luiz Carlos Flávio6


Universidade Estadual do Oeste do Paraná.
E-mail: lucaflavio@gmail.com

“Muita coisa fica fora (da história), né!?...”


(João Veloso dos Santos, 102 anos).

Na feliz expressão de Langer, “[...] a presença indígena é negada, depreciada e


minimizada” no contexto do Sudoeste paranaense. Todavia frisa o autor que, ao mesmo
tempo, ela se coloca como “[...] impossível de ser ocultada” (p. 75). Ou seja:
É como se colocássemos porta afora um ser indesejado que, ao invés de
desaparecer, insistisse em rondar sua ex-casa e marcar sua presença incômoda
nos alpendres e interstícios donde não o conseguimos desalojar. Com esta
metáfora se pretende assinalar que a história escrita pelo prisma do colonizador
não conseguirá se desvencilhar das alteridades que o antecederam, muito embora
queira escamoteá-las (LANGER, 2007, p. 73).

Há, assim, leituras que buscam problematizar a presença indígena na história do


Sudoeste do Paraná. Estas apontam que:
[...] até meados do Séc. XIX, era dos índios Kaigang a posse efetiva da terra do
Meio e Extremo Oeste de Santa Catarina e Sudoeste do Paraná (...), com a
presença também de alguns pequenos grupos guarani (REVISTA DO
JUBILEU...,s/d).

Tais leituras nos instigam a atentar para o resgate do processo de alijamento, sujeição
e mesmo extermínio dos índios aí existentes. Esse processo inicia-se nas primeiras décadas
do século XIX, prolongando-se até as primeiras décadas do século XX, sendo conhecido
como período das frentes de ocupação paranaense, as quais podem ser assim
caracterizadas: 1) A primeira frente de ocupação se estende até a segunda metade do século
XIX, chamada Frente Pastoril, que construiu o famoso “caminho das tropas”.7 Neste
momento, os índios eram cooptados ou eliminados; 2) No segundo momento, temos uma

5
Este trabalho é parte das reflexões por nós efetivadas na pesquisa de doutorado: “Memória e território:
elementos para o entendimento da constituição da cidade de Francisco Beltrão-PR”, realizada entre
2007/2011, no Programa de Pós-Graduação em Geografia, na Universidade Estadual Paulista, campus de
Presidente Prudente (ver FLÁVIO, 2011).
6
Docente do curso de Geografia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, campus de Francisco Beltrão.
7
Este caminho ligava regiões de fronteira do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná com Argentina e
Uruguai. A partir dele se estabelecia uma rede urbana que abastecia diversas cidades, como Cruz Alta,
Viamão, Vacaria (Rio Grande do Sul), Chapecó e Curitibanos (Santa Catarina), Palmas e Guarapuava
(Paraná), às famosas feiras de Sorocaba (São Paulo), as quais, por sua vez, faziam conexões com cidades
mineiras. Tal rede abastecia as cidades com mercadorias, como muares e outros animais para o trabalho,
charques etc. Em seu curso, surgiam e cresciam os povoamentos de cidades (PADIS, 2006).

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“frente extrativa”, que se instala na segunda metade do século XIX persistindo até as
primeiras décadas do XX, quando a extração da erva-mate e da madeira era a principal
atividade praticada. Neste período, os índios eram aliciados a trabalharem como
"tarefeiros". 3) Desde os limiares do século XX, principalmente no tempo referente ao
episódio do Contestado (1912 a 1916), temos a abertura de uma frente agrícola, formada
por colonos migrantes oriundos do Rio Grande do Sul e Santa Catarina (REVISTA DO
JUBILEU..., s/d).
Com efeito, desde quando D. João aportou no Brasil, em 1808, havia a preocupação
de ocupar territórios para não se arriscar a perdê-los para países vizinhos. Sob as insígnias
do Estado, mas também dos interesses das províncias e de empresas particulares,
incentivava-se o avanço das fronteiras.
Diversos relatórios de funcionários, prepostos do Estado, presidentes de províncias
e mapeadores trabalharam a serviço do Império (Estado) para informar e orientar sobre a
situação das fronteiras. Inserem-se nesse contexto as disputas e questões de limites entre
Brasil e Argentina, as demandas fronteiriças entre províncias (como a questão do
Contestado, entre Paraná e Santa Catarina) e também as que envolveram grupos
econômicos entre si e mesmo deles com o Estado, a exemplo da disputa por terras entre a
Cia de Estradas de Ferro São Paulo-Rio Grande e Estado do Paraná, o que detalhamos no
capítulo 8.
Vários grupos da região de Guarapuava, sobretudo composto de paulistas e
mineiros, que se lançaram em lutas pela conquista e controle dos campos de Guarapuava,
estenderam, posteriormente, tais movimentos ao território sudoestino, então conhecido
como região de Palmas. Esses grupos objetivavam se apoderar das riquezas existentes
naqueles campos: terras férteis, madeiras, ervas, etc (WACHOWICZ, 1985).
Assim, as terras ocupadas pelos índios seriam integradas ao projeto colonizador,
cuja racionalidade que o guiava era a de que “a natureza oferece recursos que devem ser
transformados em riquezas” (STOCKMANN, 2001, p. 124-5) para os grupos que delas
conseguirem se apropriar.
Destarte, instaurou-se, através das frentes de ocupação, um processo civilizador. As
atividades econômicas inicialmente baseadas em práticas primitivas (atividades criatória,
pastoril e de agricultura de subsistência) iam paulatinamente cedendo espaço a
empreendimentos mercantis, os quais, ao mesmo tempo, expandiam as áreas de fronteiras
do que constituira, no ano de 1853, a Província do Paraná.

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Todavia, para efetivar o controle dos campos mencionados, era preciso vencer os
obstáculos que se antepunham aos conquistadores, dentre os quais um dos principais era a
presença dos índios de diferentes etnias neles existentes.
O território era, muitas vezes, conquistado por meio da violência, já que algumas
tribos se punham a disputar as terras que consideravam suas. Desse modo, a solução
empregada era eliminá-los. Muitos grupos indígenas iam sendo empurrados para o Oeste e
o Sudoeste do Paraná, para fugir dos conquistadores.
Pombo, citado por Stockmann (2001, p. 125), assevera que
As tribos que habitavam os campos de Guarapuava foram quase todas (porque
poucas se submeteram) recalcadas para os sertões, eram as dos Camés, Xócrens,
Dorins (guaranis degradados, quase tapuias) etc. em quase todo o alto Tibagi
estanciavam umas hordas que se conheciam pelo nome de cainguangues. Para o
extremo sudoeste, pelo menos as tribos predominantes eram tapuias, não sendo
entretanto, para estranhar que mesmo por ali se encontrem Guaranis e até puros
Tupis dos que fugiram à conquista.

No que tange à questão indígena no Sudoeste do Paraná, Langer (2007) lembra


historiadores que afirmam a presença de bugreiros (imigrantes eurodescendentes,
geralmente alemães e italianos) que impetravam caça aos índios como forma de “limpar” o
território a ser por eles ocupado no estado de Santa Catarina, mais especificamente na parte
Oeste. Pela proximidade destas paragens com o Sudoeste paranaense, o autor sugere que os
“bugreiros” devem ter atuado também ali.
Conforme os colonizadores avançavam, os indígenas que não eram dizimados iam
se embrenhando para locais ermos, matas adentro, de difícil acesso aos brancos, com o fim
de refúgio e sobrevivência.
Na ocupação das terras paranaenses, no século XIX, a sociedade civil, identificada
com os colonizadores, era odiosa aos indígenas. Estes eram vistos como aqueles que
expulsavam das terras os nativos, que nelas haviam nascido e onde viveram por muito
tempo livremente até a chegada de tais conquistadores determinados a tomarem seus
territórios (STOCKMANN, 2001).
De todo modo, quando algumas tribos se faziam amigáveis eram cooptadas com
agrados, presentes, tais como roupas e ferramentas. Outro componente que integrava as
estratégias dos colonizadores era se empreender num esquema voltado a “domesticá-los”
(torná-los dóceis) por meio da catequização.
Uma vez “domesticados”, ou seja, dominados em uma relação de servidão
disfarçada, os índios ajudavam os “homens brancos” a empreender a ocupação territorial
de várias formas:

Eixo 1: Desenvolvimento Econômico e Dinâmicas Territoriais Página 13


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1) auxiliando em eliminar as não raras tribos hostis à ocupação;


2) oferecendo seus conhecimentos sobre terras e riquezas existentes; e
3) como o Império tinha interesse em ativar comércio entre regiões como São
Paulo, Paraná e Mato Grosso, ligando-as entre si e com regiões da Argentina e do Prata:
Inestimáveis foram ainda os serviços prestados por esses índios na abertura de
estradas na região, como a Estrada de Corrientes (1865), em direção à província
de Corrientes na Confederação Argentina; na picada para Nonohay; na
comunicação com Campo Erê, Guarapuava, e inclusive com Campo Mourão
(WACHOWICZ, 1985, p. 14).

Não haveríamos de esquecer, ainda, que a presença dos índios nos espaços de
fronteira brasileira foi aspecto fundamental para que o Brasil ganhasse a causa referente à
Questão de Palmas, em 1895.8 Apesar dos extermínios indígenas e de suas emigrações
forçadas, eles ainda representavam 40% da população (índios e/ou mestiços), contando
4.173 pessoas, das 9.601 que moravam entre os rios Uruguai, Peperi-Guaçu, Santo
Antônio, Iguaçu, Jangada e Chapecó, segundo recenseamento de 1890 (WACHOWICZ,
1985, p.26). Isso sem considerar os contingentes não oficialmente registrados, cuja prática
era comum entre as populações do “mundo caboclo”, os quais podem ter sido
representativos.9
Nesse processo, à medida que se forjavam modificações nos hábitos dos índios
sobreviventes e integrados à ordem de colonização, ao mesmo tempo eles eram
importantes na ocupação do território que garantia o avanço dos conquistadores pelas
terras do Sudoeste do Paraná, assim como em todo o território paranaense e brasileiro.
Tem sido frequente entre os agricultores do Sudoeste paranaense o achado de
objetos, como machadinhas feitas de rochas, usados para caça; materiais de cerâmica,
como tigelas, como também ornamentos pessoais, colares, utensílios domésticos e de
trabalho, vestígios de taipas rudimentares, tal qual mencionam Basso, Rupp, Palsikowski
(2005) acerca do caso de São Jorge D’Oeste, um dos municípios sudoestinos.

8
Esta se refere ao litígio, onde Brasil e Argentina disputaram, durante anos, as terras de fronteira que
envolveram partes do território paranaense, incluindo o Sudoeste e parte do Oeste do Estado de Santa
Catarina. Ver Wachowicz (1985) e Lazier (1998).
9
Carlos Mendes de Oliveira trabalhou como “faconeiro” da Cango, na abertura da estrada da Cango, de Pato
Branco a Francisco Beltrão. Narra que seu pai trabalhava lavrando certidões de nascimento nos lugarejos
então existentes no Sudoeste paranaense, pelos idos de 1915. Era comum que “[...] o povo não queria
registrar seus filhos. Eles achavam que se todo mundo sabia que os filhos eram deles, por que registrar, então.
O mesmo achavam das pessoas mortas” (LAZIER, 1998, p. 140). Assim, muitas pessoas que viviam nessa
realidade, principalmente os indígenas, podem ter sido suprimidos dos registros oficiais.

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Os objetos encontrados comprovam a presença dos índios no Sudoeste paranaense


que testemunham a existência de um outro tempo de relações e de vida, no qual os
intercâmbios entre eles e a natureza se davam mediante técnicas rudimentares.
Por outro lado, é flagrante percebermos a ausência e o desinteresse de se preservar
e expor, objetos indígenas achados, como patrimônio cultural, para o fim de conhecimento
e estudos dos grupos sociais que viveram no passado.
Como vimos sobre os monumentos de Francisco Beltrão, estes, via de regra,
buscam lembrar e preservar como objetos culturais apenas elementos que ratificam a
história dos colonizadores descendentes de europeus.
Lembra Coelho (2009) que os regimes vencedores amiúde tentam apagar as formas
e símbolos registrados antes de sua existência. Assim, tentam impedir uma memória social
capaz de lembrar daquilo que o antecedeu. É uma forma de dominarem o regime anterior,
pois o que deverá se perpetuar é apenas o que for socialmente lembrado.
Assevera Langer (2009) que a ocupação da terra representada pelos indígenas
(assim como pelos caboclos), que antecedeu a colonização eurobrasileira no Sudoeste do
Paraná, ainda é pouco conhecida e estudada na produção acadêmica, nas escolas e nos
espaços educativos em geral.
Se atinarmos para o histórico oficial que aborda a ocupação territorial do município
e da cidade de Francisco Beltrão, ao definir quem são os pioneiros que trabalharam para
seu surgimento, este documento público evidencia que dentre tais pioneiros “não contam”
os índios, já que “[...] devem ter passado por aqui sem deixar vestígios” (sic)
(PREFEITURA Municipal..., s/d, subscrito nosso).
Entretanto, a partir de fragmentos documentais e testemunhais, é possível
identificar a presença histórica dos indígenas em várias partes do Sudoeste paranaense e,
também, de forma muito evidente em Francisco Beltrão.
Ademais, mostraremos que sua presença não se resume a objetos achados
enterrados. Muitas são as “pegadas” que a evidenciam no território em questão, quando da
chegada dos migrantes gaúchos e catarinenses.
Muitas outras de suas marcas ainda continuam sob a forma de rugosidades
presentes em objetos e mesmo nas feições, fisionomias e traços culturais de populações
que conservam, de algum modo, as formas dos antepassados indígenas.

REFERÊNCIAS
BASSO, Fátima Catarina, RUPP, Marizete Debortoli, PALSIKOWSKI, Paula Estela
Carletto. São Jorge D’Oeste: terra, história, memória. Francisco Beltrão: Calgan, 2005.

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COELHO, Luciana. Mundo se apropria de celebaração em Berlim. Derrubada do muro


completa duas décadas hoje; na Alemanha, dor provocada pela divisão dificulta esforço
por memória. Folha de São Paulo, Mundo, p. A10, 09.11.2009.
FLÁVIO, Luiz Carlos. Memória(s) e território: elementos para o entendimento da
constituição de Francisco Beltrão-PR. (tese de doutorado).Programa de Pós-Graduação em
Geografia. Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista, UNESP,
Presidente Prudente, SP. 2011.
LANGER, Protásio Paulo. Conhecimento e encobrimento: o discurso historiográfico sobre
a colonização eurobrasileira e as alteridades étnicas no sudoeste do Paraná. Diálogos,
DHI/PPH/UEM, v. 11, n. 3, p. 71-93, 2007.
______ Toldos guarani na gleba missões: colonos e indígenas nas mesmas trilhas. Mimeo,
2009.
LAZIER, Hermógenes. Análise histórica da posse de terra no sudoeste paranaense. 3ª.
ed. Francisco Beltrão: Grafit, 1998.
PADIS, Pedro Calil. Formação de uma economia periférica: o caso paranaense. 2ª. ed.
Curitiba: IPARDES, 2006.
PREFEITURA Municipal de Francisco Beltrão. HISTÓRICO de Francisco Beltrão, s/d.
Disponível em: http://www.franciscobeltrao.pr.gov.br/omunicipio/historia/ .Acesso:
12.11.2009.
REVISTA DO JUBILEU da Diocese de Chapecó: contextualização da Região da
Grande Palmas, s/d. Disponível em: http://74.125.93.132/search?q=cache:
pjBiRzzD7jMJ:www.franciscanos.
org.br/v3/instituicao/especiais/2009/presencafranciscana/+%C3%ADndios+aldeia+Cond%
C3%A1+de+chapec%C3%B3&cd=4&hl=pt-
BR&ct=clnk&gl=br&lr=lang_ca|lang_es|lang_fr|lang_ellang_
n|lang_it|lang_pt&client=firefox-a. Acesso: 19.08.09.-
STOCKMANN, Jaime. Colonização e integração kaingang na sociedade paranaense. In:
Analecta, Guarapuava, v. 2, n. 1, p. 123-128, jan.-jun de 2001.
WACHOWICZ, Ruy Chistovam. Paraná, sudoeste: ocupação e colonização. Curitiba:
Lítero-técnica, 1985.

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ACESSIBILIDADE NOS ESPAÇOS PÚBLICOS DE LAZER NO MUNICÍPIO DE


PATO BRANCO - PARANÁ

Kamila Villwock Harnisch


UNIOESTE (Campus de Francisco Beltrão – PR)
arqkamila@gmail.com

Tamara Kenia Alff


Profissional Arquiteta e Urbanista
arq.alff@gmail.com

Introdução
O progressivo crescimento dos espaços construídos nas cidades tem ocupado as
áreas verdes em larga escala, gerando a necessidade do resgate de espaços livres e
públicoscomo meio de qualificação da paisagem e ampliação do convívio social.
Lynch (1997) reflete sobre a existência da intrínseca relação entre homem e meio, e
sobre como uma mesma paisagem pode conter variabilidade na recepção de suas
informações, significados, símbolos, de acordo com o indivíduo que a percebe. Sendo o
significado e a apropriação da paisagem variável de acordo com o seu usuário, deveria-se,
portanto, pensar, no ato da concepção de espaços abertos ou fechados: quem observa?
Quem participa deste espaço?
O planejamento urbano encontra o desafio de resolver espaços que permitam a
experiência acessível aos que dela participam, entretanto esse desafio é “negado” em
diversos projetos arquitetônicos, urbanísticos e/ou paisagísticos por não tratarem o espaço
como receptor de uma grande multiplicidade de usuários.
A precariedade de locais adequados para lazer, especialmente para pessoas com
alguma deficiência, levou ao estudo dos locais públicos destinados ao lazer no município
de Pato Branco. O estudo levantou informações a respeito da estrutura física de dois locais
de lazer e também como os sentidos humanos influenciam na apropriação desses espaços
pelos usuários.

Metodologia
A metodologia de pesquisa consolidou-se em duas etapas: a primeira etapa da
pesquisa consistiu na pesquisa bibliográfica e estudo de caso, através do método
exploratório, para a definição de conceitos, informações acerca da inclusão e necessidades
específicas e as relações dos sentidos humanos com os espaços vividos pelas pessoas, a
partir de livros, artigos acadêmicos e textos da internet. A segunda etapa foi a pesquisa de

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campo, para identificar os aspectos de infra-estrutura física e de como os elementos


construídos podem facilitar a acessibilidade e a identificação do usuário com o local.

Resultados/Discussões
Para iniciar os estudos de como se comportam os espaços públicos de lazer em
Pato Branco, buscaram-se conceitos sobre praças na bibliografia. A praça é uma das
formas mais comuns de espaços de lazer e elemento muito presente na formação do espaço
urbano. A origem etimológica da palavra praça é o vocábulo latino platea, ou rua larga. No
dicionário praça significa lugar público e espaçoso; largo. Segundo Alex (2008) “A praça:
Expressão Cultural Urbana, simultaneamente uma construção e um vazio, a praça não é
apenas um espaço físico aberto, mas também um centro social integrado ao tecido urbano”.
A praça está conectada a questão social formal e estética, nela ocorre toda a
interação de todos os indivíduos da sociedade, um lugar de manifestações dos costumes da
população. Gomes (2005) relata as praças brasileiras:
As praças brasileiras surgiram no entorno das igrejas, constituindo os primeiros
espaços livres públicos urbanos. Assim, atraíam as residências mais luxuosas, os
prédios públicos mais importantes e o principal comércio, além de servir como
local de convivência da comunidade e como elo entre esta e a paróquia
(GOMES, 2005, p.103).

É possível constatar que as praças possuem diversas funções, mas a principal


característica é o local de encontro e de interações entre os indivíduos. Em Pato Branco é
possível identificar essas características nos espaços de lazer disponíveis, por exemplo, a
praça central abriga as manifestações culturais e religiosas da população, e também
exercendo a função de um local de lazer e descanso. Já os parques e praças nas preriferias
atuam como espaços públicos de lazer, com poucas atividades culturais e religiosas.
Na pesquisa de campo verificaremos que em Pato Branco, a estrutura física dos
locais de lazer impossibilita o acesso de todos os indivíduos. A falta de acesso justifica-se
pela precária infraestrutura para atender pessoas com deficiência ou com mobilidade
reduzida temporariamente, como é o caso de grávidas, pessoas com carrinhos de bebê, etc.
. Além do acesso dificultado, esses espaços de lazer possuem poucos elementos de
acessibilidade que favoreçam permanência do indivíduo no local.
Os dois espaços de lazer estudados foram o Parque ambiental Cecília Cardozo,
localizado no Bairro São Vicente, na Zona Sul de Pato Branco e a Praça Getúlio Vargas no
centro de Pato Branco. Ambos locais são muito visitados nos finais de semanas e feriados,
as populações vizinhas desses locais dizem estar satisfeitas com a localização e

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infraestrutura, porém ao analizarmos os locais são perceptíveis as deficiências de acesso


nesses locais, sejam pela falta de acessibilidade normativa ou de equipamentos de lazer que
não atendem todas as pessoas.

Figura 01–Parque Cecília Cardoso

Fonte: Kamila Villwock Harnisch (2012)

Figura 02–Praça Getúlio Vargas

Fonte: Kamila Villwock Harnisch (2012)

De acordo com o Decreto N° 3.298, de 20 de Dezembro de 1999, Cap. I, Art.


2°10 Toda a pessoa portadora de deficiência11 tem o pleno exercício de seus direitos
básicos, inclusive dos direitos à educação, à saúde, ao trabalho, ao desporto, ao turismo, ao
lazer, à previdência social, à assistência social, ao transporte, à edificação pública, à
habitação, à cultura, ao amparo à infância e à maternidade, e de outros que, decorrentes da

10
Regulamenta a lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989, dispõe sobre a política nacional para integração da
pessoa portadora de deficiência, consolida as normas de proteção e dá outras providências.
11
O termo correto hoje é “Pessoa com deficiência” (FROTA; LANCHOTI, 2011, p.9).

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Constituição e das leis, propiciem seu bem-estar pessoal, social e econômico. Pela lei
vemos que além dos direitos básicos do cidadão, esse também tem o direito ao bem-estar
pessoal, social e econômico.
Após a regulamentação da Lei No 10.09812, muitos estabelecimentos públicos e
privados foram adaptados ou projetados de acordo com as Normas de Acessibilidade em
Pato Branco. Mesmo com esses locais acessíveis, a maior fragilidade está nas áreas de
lazer, que possuem poucos elementos de acessibilidade, a maioria somente para
locomoção, por exemplo piso tátil. A NBR 905013, que trata da Acessibilidade a
edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos, não aborda o lazer acessível,
nem a criança com deficiência.
Diante da fragilidade das normativas que apoiam a legislação, a apropriação dos
espaços públicos pela população fica comprometida com a ausência de equipamentos que
promovam lazer e inclusão. A pessoa com deficiência está privada de usufruir do
mobiliário urbano, playgrounds, paisagismo e do espaço público em si, com autonomia,
assim abrindo a maior possibilidade de estarem segregados da sociendade. Atender
normas, adaptar espaços e somente facilitar acesso não basta, a pessoa com deficiência
precisa interagir com o espaço em que está inserida e essa interação faz com que cada
indivíduo, que possue diferentes percepções a respeito de determinado local, sinta-se
pertencente à determinado local.
Um espaço urbano terá uso se for satisfatório para seus usuários, não tendo uso,
tende a ser um lugar de pouco significado. Ornstein (2010), defende que para melhorar a
qualidade de um espaço urbano, é necessário entender como as características destes
espaços afetam os seus usos através de seus distintos usuários. A percepção e análise dos
espaços devem ser reconhecidas como parte do planejamento urbano, para criação de
espaços de qualidade.
Aqui se destaca a necessidade dos profisisonais envolvidos com planejamento
urbano compreender como os estímulos gerados por influência do espaço construído
possibilitam observar formas de perceber e de construir sentidos de uso dos espaços
públicos pelo ser humano. Para Feiber (2008) o lugar é significativo tanto para quem o
observa como para quem o pratica.

12
Lei 10.098, de 19 de dezembro de 2000, que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção
da acessibilidade.
13
ABNT NBR 9050: 2004 (30.06.2004) - Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos
urbanos.

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Se o grande desafio dos projetistas é aliar em um bom projeto urbano


acessibilidade e inclusão dos indivíduos, é necessário ao profissional compreender que os
sentidos humanos podem muito influenciar em espaços e podem incluir todos os usuários.
Rheingantz (2001) ressalta a importância de o arquiteto pensar na percepção do usuário na
concepção de projetos:
Desconhecendo a contribuição das ciências cognitivas, os arquitetos preocupam-
se com as questões materiais, estéticas e com a geometria de seus espaços,
descuidando das questões relacionadas com as sensações, percepções, formações
mentais e a consciência do usuário. Em geral, não atentam para a influência das
formas visíveis, sons, odores, sabores, coisas tangíveis ou palpáveis sobre os
“objetos” da mente – pensamentos, idéias e concepções – nas reações das
pesssoas em sua interação com o ambiente ( RHEINGANTZ, 2004, p. 01).

O corpo humano é o centro das experiências sensoriais. O cotidiano faz com que
os corpos estejam em constante integração com o ambiente, essas experiências criam em
cada ser humano sua imagem do mundo, com isso o ambiente cria uma identidade pessoal
perceptiva.
Segundo Pallasmas (2011), a arquitetura é, em última análise, uma extensão da
natureza na esfera antropogênica, fornecendo as bases para a percepção e o horizonte da
experimentação e compreensão do mundo. Contudo os cinco sentidos não são apenas
receptores, mas mecanismos importantes para a compreensão de espaços.Portanto, as
relações estabelecidas entre o meio ambiente e os sujeitos parecem permeadas por questões
de indentidade e de valores que lhes garantam alguma inserção no contexto urbano. .
Constatando que a avaliação dos sentidos é um mecanismo para a compreensão de
espaços, além da avaliação da estrutura física dos espaços públicos, também foi avaliada a
percepção dos sentidos por parte dos usuários dos locais, os critérios de avaliação foram
atribuídos conforme cada sentido humano. Na visão foi avaliada a paisagem e áreas de
contemplação, na audição, os sons gerados pelo espaço, como folhas de árvores, canto dos
pássaros e água. No olfato, a vegetação, flores e etc. Os critérios de avaliação para o
paladar foi verificar a existência de árvores frutúferas, cafés e restaurantes e para o sentido
tato, o mobiliário e a vegetação. A paisagem e áreas de contemplação estão em segundo
plano nesses espaços, já que as áreas de recreação são mais utilizadas. Na avaliação
constatou que o usuário ao sentar-se para descansar indiretamente cria um local de
contemplação da vegetação e do canto dos pássaros. A vegetação existente no Parque
Cecília Cardoso por ter um acesso mais restrito e perigoso não possibilita a percepção do
sentido do olfato e outras sensções, já na Praça Getúlio Vargas a presença de árvores é

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muito restrita. Verificou-se que esses locais de Pato Branco, mesmo muito utilizados, não
possuem atrativos para receber todas as pessoas.

Considerações Finais
A relação com os sentidos tem uma linha muito próxima com as vivências diárias,
com isso estimulando todos os sentidos, é importante a experimentação de sentidos em
espaços públicos, não somente para pessoas com deficiência.
Com a pesquisa constatou-se fragilidade muito grande nos locais de lazer de Pato
Branco, que não possuem lazer acessível, nem atividades que desenvolvam os sentidos, por
isso a necessidade de adaptar os espaços existentes e a criação de novos espaços para a
apropriação dos usuários.
O planejamento urbano do município é fator fundamental para intervenções e
criações de espaços públicos inclusivos na sociedade. Espaços que possam garantir o bem-
estar a toda população e ainda cumprir a função principal desses espaços que é garatir a
interação entre os indivíduos.É necessária a reflexão por parte dos profissionais envolvidos
com o planejamente de espaços em se criar espaços inclusivos, interativos em que os
cidadãos possam sentir-se pertencidos aquele local.

Referencias
ALEX, Sun. Projeto da Praça: Convívio e exclusão no espaço público. 2º Ed. São Paulo:
Editora Senac São Paulo, 2008.
BRASIL. Decreto nº 3.2989,de 20 de dezembro de 1999. Política Nacional para a
Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, consolida as normas de proteção.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3298.htm<acesso em: 18
jun 2014.
BRASIL. Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 200. Estabelece normas gerais e critérios
básicos para a promoção de acessibilidade. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l10098.htm<acesso em : 18 jun 2014.
FROTA, Thais; LANCHOTI, José Antonio. Manual de Acessibilidade de Design
Inclusivo para Habitação. 1º Edição. Rio de Janeiro:Instituto Muito Especial, 2011.
GOMES, M. A. S. De Largo a Jardim: Praças Públicas no Brasil: Algumas
aproximações, 2005. Disponível em: <file:///C:/Users/User/Downloads/967-3935-1-
PB%20(1).pdf>. Acesso em: 10 jun 2014.
ORNSTEIN, Sheila Walbe; ALMEIDA PRADO, Adriana Romeiro de; LOPES, Maria
Elisabete. Desenho Universal: Caminhos da acessibilidade no Brasil. São Paulo:
Annablume, 2010.
PALLASMAA, Juhani. Os olhos da pele: a arquitetura e os sentidos. 1º Edição, 76p. Porto
Alegre: Bookman, 2011.
RHEINGANTZ, Paulo Afonso. Os sentidos humanos e a construção do lugar: Em busca
ao caminho do meio para o desenho universal. Publicado nos anais do Seminário
Acessibilidade no Cotidiano (CD-Rom). Rio de Janeiro, 2004.

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COLONIZAÇÃO E FORMAÇÃO DO SUDOESTE DO PARANÁ E DO


MUNICÍPIO DE MARMELEIRO

Alcione Kaefer14
UNIOESTE
alcionekaefer@hotmail.com

Leila Maria Panho15


UNIOESTE
leilapanho@hotmail.com

Introdução
Neste artigo propomos a uma reflexão acerca de alguns aspectos da apropriação e
produção territorial da mesorregião Sudoeste do Paraná, com destaque ao processo de
ocupação do município de Marmeleiro e da Comunidade de Manduri.

Ocupação do Paraná
A ocupação sistemática do Estado do Paraná iniciou-se na faixa leste, estendendo-
se ao planalto curitibano e seguindo em direção aos campos gerais. Somente com o fim da
Monarquia, no final do século XIX e início do século XX, a região do Norte velho
começou a ser ocupada gradativamente por fazendeiros mineiros e paulistas que inseriram
a prática cafeeira na região (WACHOWICZ, 1987).
Nos anos de 1920 e 1930, o povoamento das regiões Norte novo e novíssimo do
Estado passam a ter outras características, pois o governo promove à entrada de empresas
colonizadoras. Estas empresas exerciam a comercialização de lotes de terras aos migrantes
e direcionavam a organização da propriedade a partir da lógica capitalista (WACHOWICZ,
1987).
Os territórios do Oeste e Sudoeste do Paraná tiveram as últimas políticas de
povoamento, começando a ocupação sistemática de forma lenta, entre 1900 e 1920, e
acelerando-se a partir de 1940 com o recebimento de fluxo migratório dos Estados do RS e
SC. Estas duas regiões, até então, eram desconhecidas e pouco valorizadas, devido às
peculiaridades naturais e à falta de estradas que as ligassem ao resto do Estado
(WACHOWICZ, 1987).

A colonização do Sudoeste do Paraná


Até a década de 1940 a porção de terras do Sudoeste paranaense tinha uma
ocupação incipiente, realizada principalmente por caboclos que viviam da caça e do
extrativismo vegetal. Outro contingente populacional que a habitava eram os argentinos e
paraguaios, que eram atraídos para esta região pela facilidade da extração da madeira e da
erva mate. A vinda cada vez maior destas pessoas, forçou o governo a buscar tentativas

14
Acadêmico do 3º ano de Licenciatura em Geografia da UNIOESTE/ Campus de Francisco Beltrão.
Integrante como bolsista IC/CNPq do Grupo de Estudos Territoriais (GETERR).
15
Acadêmica do 3º ano de Licenciatura em Geografia da UNIOESTE/ Campus de Francisco Beltrão.
Integrante como bolsista IC/FA do Grupo de Estudos Territoriais (GETERR).

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para povoar efetivamente a área, concedendo terras a empresas colonizadoras


(LAZIER,1997).
Lazier (1997), destaca que o Sudoeste do Paraná foi colonizado efetivamente pela
frente migrante vinda do Rio Grande do Sul e Santa Catarina a partir de 1940; sendo os
migrantes, em sua maioria, descendentes de italianos, poloneses e alemães. Foi no governo
de Getúlio Vargas que o Paraná recebeu maiores incentivos para o povoamento da região,
criando a Colônia Agrícola Nacional General Osório (CANGO), no ano de 1943, no
chamado Território Nacional do Iguaçu. Os objetivos da CANGO eram abrir as matas para
produzir alimentos e tentar garantir que o território pertencesse ao Brasil, facilitando sua
inserção no mercado nacional.
Lazier (1997) ressalta que a CANGO teve um papel importante para a região, pois
disponibilizava apoio aos migrantes que chegavam, através do direcionamento deles às
terras demarcadas, liberação de recursos para o início da produção, auxílio na compra de
utensílios, sementes e na aquisição de madeiras para a construção das moradias.
Este processo de ocupação não foi harmônico, muitas empresas facilitaram a vinda
de migrantes para a região, pois a terra mais povoada tinha maior valor econômico. O
Estado proporcionava a criação de obras públicas, que serviam de mediação na
expropriação dos caboclos. Os mesmos, com técnicas de trabalho rudimentares, foram
substituídos pelos migrantes, que possuíam técnicas mais aprimoradas (LAZIER, 1997).
Contudo, Boneti (2005) comenta que não foram todas as famílias que adentraram a
região por meio da CANGO, muitos agricultores compraram seu sítio dos caboclos que já
estavam na região. Quando os fluxos migratórios aumentaram, em 1950, a CANGO não
conseguiu ter controle completo da população: em 1946 os cadastrados pela CANGO
correspondiam a 2529 pessoas, uma década depois, em 1956, já eram 12264 pessoas.
Nesta década de elevação populacional, as terras da região adquiriram grandes
valores econômicos, atraindo a instalação de empresas colonizadoras como a CITLA e a
Comercial Apucarana. Estas empresas forçavam os migrantes que estavam instalados a
pagar valores altíssimos pela terra que ocupavam, porém, os mesmos não aceitaram as
propostas e os conflitos iniciaram. Um número expressivo de jagunços foi direcionado para
o Sudoeste sob o comando destas empresas e, com o apoio da polícia praticavam barbáries,
matando pessoas, queimando casas e fazendo ameaças. Os migrantes não ficaram imóveis,
com o apoio dos comerciantes locais, se articularam na difusão das informações através da
rádio, contribuindo na organização dos movimentos de luta. O principal movimento foi o
de 10 de outubro de 1957, chamado Revolta dos Posseiros, na qual milhares de posseiros
tomam as cidades de Francisco Beltrão, Pato Branco e Santo Antonio na busca de seus
direitos, principalmente do título da terra (LAZIER, 1997).
Conforme Wachowicz (1987), ao término da luta, as mobilizações continuaram até
a transformação dos posseiros em proprietários das terras, fato que aconteceu no governo
de João Goulart, em 1962. O Grupo Executivo para as Terras do Sudoeste do Paraná
(GETSOP), criada em 1962, teve a finalidade de programar e executar os trabalhos de
legalização das terras.
Os produtos cultivados no início, pelos proprietários, eram: feijão, milho, trigo, e
mandioca que, primeiramente, sustentavam as famílias; com os excedentes, efetuavam a
troca por outros produtos nas lojas das cidades. Com os anos as relações mercantis

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aumentaram, devido à elevação da produção: na década de 1970 até 1980 a produção de


milho aumentou 61% devido ao aumento da área de lavouras, e a produção de feijão de
160 hectares, em 1970, passou para 269 hectares, em 1980; um dos fatores desse aumento
foi o início de práticas de mecanização e uso de insumos agrícolas (DALBOSCO, 2007).
Segundo o censo do IBGE 2010, a região Sudoeste apresenta uma população total
de aproximadamente 565.513 habitantes. O município de Marmeleiro não está entre os
mais populosos, tem cerca de 13.909 habitantes, com 8.835 residindo na área urbana e uma
parcela menor, de aproximadamente 5.076 habitantes na área rural.

A História de Marmeleiro
A ocupação sistemática do município começou somente a partir de 1912, porém
em um processo lento de povoamento. Os fluxos migratórios só aumentaram de forma
significativa nos anos de 1930 e 1940 (MARQUES, 1980).
A exemplo disso, em 1944, por necessidades locais, alguns sócios criam a serraria
Dambos e Piva, que era a única na redondeza que vendia madeira para as pessoas
construírem suas casas no município. Na madeireira Dambos e Piva, em 1949, inaugura-se
á hidrelétrica do município, que servia para iluminar as poucas casas existentes no povoado
(MARQUES, 1980).
Entre os anos de 1962 e 1964, várias indústrias se instalaram na cidade de
Marmeleiro, no ramo alimentício (panificação), mecânica, farmacêutica e posto de
combustível.
Parte dos habitantes de Marmeleiro é de origem brasileira, vindos de Palmas e
Clevelândia, no fluxo migratório dos anos de 1940. A partir desse ano, caracterizam-se a
chegada de migrantes dos Estados do RS e SC, todos de origem italiana e alemã. Os
gaúchos vinham das cidades de Guaporé, Erechim e Passo Fundo, já os catarinenses,
deixavam as cidades de Ibicaré e Joaçaba (MARQUES, 1980).
Sendo assim no município de Marmeleiro, “Até 1970, os habitantes de origem
brasileira representavam 40% da população; os de origem italiana, 35%; os de origem
alemã, 20% e as demais origens 5%” (MARQUES, 1980, p.103).
As edificações, entre 1915 e 1945, eram todas de madeiras e cobertas de costaneira.
No interior do município muitas casas eram altas para guardar as ferramentas de trabalho
em baixo da casa. A partir de 1960, começam a surgir as residências de alvenaria, pela
durabilidade e pelo aumento excessivo no custo da madeira (MARQUES, 1980).
A economia de Marmeleiro, em 1950, baseava-se na extração da madeira, atividade
que era cercada por muitas dificuldades, devido à falta de estradas em boas condições para
chegar até o porto de Paranaguá, onde o produto era exportado. As estradas do interior
eram péssimas, abertas na maioria das vezes pelos próprios moradores do lugar.

A comunidade de Manduri
Manduri é fundada aproximadamente no ano de 1950, e recebe este nome porque
no povoado existia muita abelha com essa denominação. Seus fundadores, na maioria
vindos dos estados do RS e SC, migraram para comprar terra e tentar melhorar as
condições de vida, porque muitos moravam de agregados nas propriedades de estranhos.

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Em Manduri havia aproximadamente umas 30 famílias entre 1950 e 1960, todas


retiravam o seu sustento da agricultura. O trabalho era bem rudimentar e os produtos
cultivados eram arroz, feijão, mandioca, batata-doce, abóbora, entre outros alimentos.
Em 1956, foi feita a sede comunitária de madeira, onde localizavam a escola e a
capela, e aconteciam as festas. No ano de 1966, foi construída outra capela em outro lugar,
pelo fato do distanciamento de algumas famílias para participar da comunidade. No mesmo
local, em 1984, foi construído o primeiro pavilhão, onde eram realizadas duas festas por
ano, visando arrecadar fundos para a comunidade.
Com a mecanização da agricultura o trabalho deixou de ser tão rudimentar, porém
este processo não atinge a todos. O pequeno agricultor, muitas vezes, não tem condições
financeiras para ter acesso às melhorias, como por exemplo, adubos, sementes, máquinas e
agrotóxicos. Desta maneira, o grande agricultor usufrui dos benefícios para plantar suas
lavouras, deixando o trabalho manual e partindo para a mecanização.
Atualmente, a comunidade conta com aproximadamente 55 famílias, um pavilhão
construído no ano de 2012, onde acontecem em média duas festas por ano. Além disso, os
moradores de Manduri possuem uma associação, que conta com um trator e equipamentos
agrícolas, para quem é sócio. Não há postos de saúde e escola na comunidade.
Quase todas as famílias são de pequenas propriedades rurais, em média 8 alqueires
de terra. As famílias tiram o seu sustento da produção de leite, fumo e das lavouras.

Considerações finais
Concluímos que, a formação dos territórios tanto da região Sudoeste do Paraná e do
município de Marmeleiro, percebe-se que neste processo possui determinantes políticos,
econômicos, culturais e religiosos que coexiste ao mesmo tempo e espaço, mas que atuam
em diferentes intensidades ao longo dos anos. Estas diferentes intensidades são
controladas pelas relações pessoais, podendo ser percebidas no intenso fluxo migratório a
região Sudoeste Paraná em 1940, porém nos anos anteriores de forma lenta e insuficiente.
Além disso, a construção territorial, na maioria das vezes, não apresenta uma relação
harmônica, mas sim conflituosa, devido às relações de poder de forma explicita.

Referências
BONETI, Lindomar. Formação e apropriação do espaço territorial do sudoeste do Paraná.
In: ALVES, Adilson; FLÁVIO, Luiz; SANTOS, Roseli(Org) . Espaço e território:
interpretações e perspectivas do desenvolvimento. Francisco Beltrão: Unioeste, 2005. 109-
124
DALBOSCO, Juliana. A colonização italiana na formação da Barra Grande no
município de Itapejara D Oeste, PR. 2007.TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) -
Graduação em Geografia,UNIOESTE/Campus de Francisco Beltrão-PR, 2007.
LAZIER, Hermógenes. Análise histórica de posse de terras no Sudoeste do paranaense.
2. Edição: Grafit, 1997.
WACHOWICZ, Ruy. Paraná, Sudoeste: Ocupações e Colonização. 2 Ed. Editora
Vicentina. Curitiba, 1987.
VAZ, Francisco Marques. Histórico de Marmeleiro até 1980. Prefeitura Municipal de
Marmeleiro Estado do Paraná, 1980.

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A EXPANSÃO DA AGRICULTURA E A VALORIZAÇÃO DAS TERRAS DO


SUDOESTE DO PARANÁ

Juvenir de Mello
Universidade Estadual do Oeste do Paraná-Unioeste
juvenirmello@hotmail.com

A extensão territorial do espaço rural brasileiro tem sofrido significativas


transformações nos últimos 50 anos. As expansões das fronteiras agrícolas e a inserção de
novas tecnologias na agricultura configuram uma nova dinâmica de ocupação das terras no
Brasil. Neste sentido compreende-se que transformações ocorridas na agricultura se
diferenciam regionalmente, ou seja, para entender os fatores que predominam em cada
região, é necessário analisar o contexto político-econômico a nível estadual, nacional e
global. Assim menciona Ignácio Rangel:
“A emergência de grandes mudanças estruturais por que passou a agricultura
brasileira e, em especial, o desenvolvimento do capital financeiro nesse processo,
transformam não apenas a realidade rural brasileira, mas ainda modificam
qualitativamente o entendimento teórico e politico dos problemas do
desenvolvimento econômico e da forma como ele se da na agricultura”. (Rangel,
1962 p. 216)

Como cita o autor as mudanças estruturais influenciaram a transformação na


agricultura brasileira e consecutivamente alteraram o meio rural de diversas regiões. Nesse
contexto, o Estado do Paraná também tem modificado rapidamente ao longo da história a
busca por novas áreas agrícolas e tem buscado a inserção de novas tecnologias no campo,
perpassando a história do nosso país e influenciando na configuração dos espaços,
redesenhando o perfil das regiões e estabelecendo assim novas composições econômicas.
A transformação que vem ocorrendo na agricultura reflete diretamente nas
transformações ocorrida no espaço rural da região Sudoeste do Paraná. Assim menciona
Alves (2011p. 116) “O processo de modernização tecnológica imposta à agropecuária tem
alterado a identidade deste território e configurado territorialidades que alteram não apenas
a apropriação das terras, mas a própria forma de realizar o trabalho e a vida cotidiana das
famílias”. Sendo assim, as transformações no meio rural e na agricultura perpassam por
diversos fatores que influenciam mudanças no campo. Consequentemente, proporcionam a
valorização e desvalorização das terras no decorrer dos anos nesta região.
Objetiva-se destacar aqui principalmente os fatores que influenciam a valorização
na área rural do município de Francisco Beltrão. Entre o período de 2000 a 2013, observa-
se que houve uma acentuada valorização das propriedades de terras no sudoeste do Paraná.
Nota-se que essa valorização influencia na economia do Município de Francisco Beltrão,

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pois o mesmo tem como base a agricultura e as atividades industriais concentradas no


abate de aves e no setor têxtil. Hoje a agricultura responde diretamente por apenas 22% de
toda a riqueza gerada na cidade.
Segundo informação dos dados geográficos SESC/PR (2014) a influência do modo
de produção não extensivo e diversificado, introduzido pelos imigrantes gaúchos e
catarinenses, é o traço marcante desta mesorregião. A economia rural sempre foi baseada em
minifúndios devido às características do relevo acidentado. Por essa razão, a região
constitui-se de pequenas propriedades com mão de obra familiar, sendo que atualmente o
Sudoeste apresenta um crescimento da concentração fundiária, com a introdução de novas
técnicas de cultivo a partir da expansão da soja.
A economia nesta região está atrelada ao agronegócio, aonde parte do relevo mais
suave vem sendo intensivamente aproveitado para a agricultura, principalmente para o
plantio de soja, milho e trigo. Outro destaque na região foi à introdução da avicultura e mais
recentemente a atividade leiteira que vem se destacando como fixadora de renda no campo.
Recentemente o incentivo financeiro de programas de desenvolvimento das esferas
governamentais a nível Municipal, Estadual e Federal, através de financiamentos a logo
prazo permitiu reestruturar o modelo de produção e consequentemente permite uma
valorizando das propriedades da região.
Segundo Flores (2009), a inserção de insumos, fertilizantes e novas técnicas de
plantio, é responsável pelo aumento da produtividade no meio rural consequentemente na
medida em que o campo necessita de novas técnicas e máquinas, a região começa a sofrer
um processo de transformação, pois proporciona o aumento de comercio e indústria ligado à
atividade agrícola que também favorece o crescimento da área urbana.
Outro fator que prepondera ao redor da cidade, no município de Francisco
Beltrão, é dado ao avanço da urbanização sobre o meio rural que vem impulsionando no
valor de venda e troca de terras, tema esse que requer estudos complexos, pois se
desenvolve uma nova modalidade nesta região ligada a urbanização do meio rural através
de lotes comodatos (divisão de uma propriedade em vários lotes rurais). Ignácio Rangel
menciona:
“o preço da terra não se move por si próprio. Ele apenas reflete as condições do
movimento do capital no campo, mas as possibilidades de mobilização do
capital-dinheiro via sistema financeiro que esta estrutura atribui ao monopólio da
terra resulta em reforço da tendência a crescimento da renda”. (RANGEL, 1962,
p.204)

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Analisando a reorganização da ocupação das terras do Sudoeste do Paraná,


voltando à historicidade da colonização, pois inicialmente a maioria dos imigrantes e
colonos detinha apenas a posse da terra e não a propriedade. Após projeto de regularização
das terras do Sudoeste com a chegada da CANGO (companhia agrícola general Osorio),
Grupo Executivo para as Terras do Sudoeste do Paraná (GETSOP), que foi incumbido de
medir, demarcar e dividir os lotes, respeitando a posse e a decisão dos ocupantes. E com os
programas de incentivos político-econômicos, observa-se uma nova composição no meio
rural. Destaca-se então a regularização da posse da terra e na demarcação das áreas de
ocupação com base no estabelecimento de pequenas unidades de produção e no trabalho
familiar.
“Povoamento e o desenvolvimento do Sudoeste do Paraná passaram por um
processo de evolução, ativados pelas frentes migratórias vindas do Rio Grande do
Sul, de Santa Catarina, e do próprio Paraná, ocupação da terra possui suas
particularidades, em 1960 “quase todos os primeiros moradores eram posseiros”
(LAZIER 2003, p.7).

O povoamento do sudoeste do Paraná desenvolveu suas características culturais,


políticas, sociais e econômicas oriundas do processo de migração. Assim podemos afirmar a
partir de Milton Santos (1978) sobre a apropriação do espaço, que a formação das
sociedades está ligada à relação de um conjunto de formas contendo cada qual frações da
sociedade em movimento. Desta maneira confirma que para explicar os processos
econômicos de uma região devemos entender o contexto histórico no qual a sociedade se
desenvolveu.
Entendendo o processo de ocupação da região sudoeste do Paraná, compreendemos
sob quais as influências esta região se insere e como o contexto histórico do
desenvolvimento brasileiro influenciou na economia do município de Francisco Beltrão.
A ocupação da terra tem sido um processo de lutas e interesses político e
econômico o qual criou suas particularidades e conflitos. Assim menciona Ignácio Rangel
(1986) “nas relações de produção na agricultura brasileira não se fez da noite para o dia,
nem se fez por igual em todas as regiões”. Ou seja, o desenvolvimento rural principalmente
no período após a década de 1970 influenciado por uma demanda de crescimento da
ocupação urbana e da indústria, modifica a exploração do campo modernizando a
agricultura.
O processo de ocupação e formação social da região sudoeste do Paraná é atribuído
pelas imigrações intensas de gaúchos e catarinenses, que promove a transformação dessa
região. Segundo Araújo Junior (2009) “A noção de Formação Econômica e Social (F. E. S.)

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está associada ao processo histórico. Cada fração de uma determinada sociedade forma um
todo.” As movimentações de imigrantes articuladas com as políticas do Estado e com a
expansão da indústria nacional influenciaram modificações no meio rural de diversas
regiões.
Consequentemente quando uma região se torna fortalecida por políticas de
incentivo ao desenvolvimento do meio rural, por outro lado, entram em cena os agentes
econômicos que podem bancar economicamente a demanda efetivada por terras nestas
regiões, ou seja, o mercado de terras é representado como a conjunção dos planos dos
compradores e vendedores de terras, imobiliários que tem a possibilidade de sustentar
economicamente a demanda aos diferentes preços. Preço ao qual deixa fora muitos
demandantes de terras que não tem condições econômicas para sustentar sua demanda a
esse preço.
Concluindo que diversos fatores fomentaram o crescimento e o fortalecimento das
atividades ligadas ao meio rural nesta região, sendo que as produções agrícolas se
constituíram como a principal atividade econômica do campo. Desta maneira a acelerada
demanda por produtos agrícolas com incentivo de novas tecnologias e financiamentos
ocasionam também a valorização das terras no Sudoeste do Paraná.

Referencial:
FLORES, Edson. Industrialização e desenvolvimento do Sudoeste do Paraná. Francisco
Beltrão, 2009.
Inventario cultural SESC/PR
http://www2.sescpr.com.br/inventario/regioes. Acesso 19/07/2014
LAZIER, Hermógenes. Estrutura Agrária no Sudoeste do Paraná. Curitiba 1983.
Universidade Federal do Paraná
MARTINS, Aloysio de Araújo Junior. O ensino de geografia econômica: dificuldades e
alternativas. ENPEG 10° Encontro Nacional de Prática de Ensino em Geografia. Agosto
2009. Disponível em http://www.agb.org.br/XENPEG/artigos/GT/GT4/tc4%20(73).pdf,
acesso 10/07/2014.
RANGEL, I. A questão Agrária Brasileira. Comissão de Desenvolvimento de Pernambuco.
Recife, 1962.
_____.Questão agrária e agricultura. Encontros com a Civilização Brasileira, Rio de
Janeiro, Civilização Brasileira, n. 7, 1979.
SANTOS, A. ROSELI, Território e modernização da agricultura no Sudoeste do Paraná
Revista Espanco Acadêmico-N.118, Marco de 2011.
SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo:
Hucitec, 1996.
SANTOS, Milton. Metamorfoses do espaço habitado. São Paulo: Hucitec, 1988.

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GEOGRAFIA E GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO -


BREVES CONSIDERAÇÕES

Najla Mehanna Mormul


UNIOESTE – Francisco Beltrão/PR
najlamehanna@gmail.com

As pesquisas sobre população estão presentes em muitas ciências, e a forma como


cada uma aborda essa temática, também, é diferenciada. A Geografia por sua vez,
apresenta um modo particular de discutir a população ora com maior ênfase na questão da
migração, ora na questão da distribuição e crescimento. É válido destacar que os estudos de
população na Geografia, podem ser melhor compreendidos se postos no contexto histórico
em que foram produzido, isto é entender as forças políticas, econômicas e culturais que
influenciaram o modo como as pessoas se organizam e vivem socialmente.
Pierre George introduziu a expressão Geografia da População na literatura
geográfica de sua época. A partir de então, os estudos realizados sob o título de Geografia
da População se proliferaram e se desenvolveram em várias áreas do mundo. P. George em
Geografia da População, obra clássica sobre o estudo da população, abordou
primorosamente a questão da distribuição espacial da população, fundando-se em aspectos
de densidade. É uma obra importante para os estudos de população. Trata-se de uma obra
que está organizada em duas partes, na qual a primeira se limita a demonstrar a distribuição
da população mundial e na segunda parte às perspectivas sobre os estudos de população, na
qual são apresentados os dados demográficos e abordado a questão das migrações. No
entanto, P. George é um pesquisador respeitável para a Geografia e devemos a ele a
difusão da Geografia da População. Nesse sentido, a obra é uma porta de entrada para os
interessados nos assuntos populacionais na Geografia, contudo, precisa ser analisada
cuidadosamente, para que não façamos interpretações apressadas.
O autor em Sociologia e Geografia faz um estudo sistematizado entre a Sociologia
e a Geografia, apresentando temas que se correlacionam. Portanto, há um capítulo
específico sobre o número que chama atenção pela forma como o autor trabalha com os
dados, fazendo crítica aos estudos quantitativos. Isso denota um amadurecimento por parte
do autor que ao relacionar as questões sociais com as demográficas, atribuiu mais
dinamismo as questões populacionais. Dessa forma, percebemos que a Sociologia é uma
grande parceira para análise e interpretação dos estudos populacionais, e por meio dela
podemos encontrar outros caminhos e percorrer diferentes espaços antes não detidamente
estudados pela Geografia. Nessa troca interdisciplinar está o enriquecimento de temas

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como a população. A professora Amélia Damiani relembra que em Sociologia e Geografia


P. George, avalia que é comum a possibilidade de uma concepção da importância das
comunicações e das informações enquanto elos de cada lugar com o mundo. Ainda que,
como são tecidas essas relações no espaço vivido é mais complicado de considerar.
(DAMIANI, 2008).
A geografia oferece uma imagem diferencial e explicativa da repartição do
número de homens na superfície do globo, baseando-se no conhecimento das
relações fundamentais entre os números de homens e os meios de existência das
coletividades que por outro lado já foram medidas pela estatística e pela
demografia: populações rurais e populações urbanas com diferentes sistemas de
exploração e com diferentes graus de desenvolvimento, populações industriais,
populações com atividades de serviço em tipos de cidades ou em frações de
cidades diferentes (GEORGE, 1974, p. 92).

Em Geografia Ativa o autor destaca que o papel do seu livro é salientar a


importância da Geografia para quem não a compreende ou desconhece a sua função. Ao
mesmo tempo, alerta o geógrafo de suas responsabilidades, ele preocupa-se em localizar as
raízes da Geografia, que estão diretamente ligadas à construção de mapas e a ideia de
descrição. Logo, o autor parte da ideia de descrição para definir duas correntes principais,
que podem ser consideradas como orientação de pesquisa. Assim, o autor aborda essas
duas correntes, sendo que a primeira abrange relações de causalidade e pode ir até o anseio
de formulação de leis da Geografia, e a segunda, conforme ele, é mais diretamente
utilitária. Para o autor é necessário que o geógrafo percorra e discuta com várias
disciplinas, mas sem se aprofundar muito, já que o papel do geógrafo é passar uma visão
ampla, mais superficial do que profunda, pertencente à reunião de olhares do que um olhar
especial.
Para P. George, a Geografia é uma ciência humana, logo, o estudo geográfico é
estudo sobre a sociedade, de uma forma mais completa, da relação da sociedade com o
meio. Assinala, ainda, que o grande problema da Geografia seja, por exemplo, estudar
dentro de um espaço definido todas as relações de causalidade dos fenômenos de consumo,
no sentido mais amplo do termo, o que teria como pressuposto, o estudo da produção, de
recursos, de grupos históricos entre outros, ou seja, novamente ele ratifica que as análises
amplas dificultam o entendimento dos processos humanos. Assim, o autor nos leva a crer
que a superficialidade e a enorme gama de responsabilidades, conteúdos e correlações da
Geografia são os grandes obstáculos dos estudos geográficos. E destaca a distância entre a
Geografia escolar e a pesquisa universitária, criticando o primeiro como responsável pela
abordagem de uma grande gama de conhecimentos formais que dão uma imagem

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distorcida da Geografia. A partir dessa rápida explanação acerca do pensamento de P.


George podemos notar que para ele a riqueza da Geografia consistia na possibilidade de
entendimentos dos fenômenos “menores”, já que a ânsia de dar conta de uma gama
complexa de informações tenderia a levar a Geografia às formulações generalizadoras.
Nos Estados Unidos a contribuição de Trewartha (1953) foi muito importante para
a Geografia da População, o professor Guidugli afirmou que o tema da população na
Geografia passou a ter influência comparável a de P. George, na França. Contudo,
Trewartha dizia que a Geografia da População tem sido, e continua sendo negligenciada,
em prejuízo da Geografia em geral. E um esforço sério e continuado deve ser feito para
desenvolver um conceito de trabalho sólido acerca da Geografia da População que pode ser
aplicado amplamente, tanto no ensino, quanto na pesquisa. O autor defende que a escrita
metodológica é o resultado de ampla experiência em fazer pesquisa sobre um fundamento
mais seguro do que aquele que é desenvolvido pelo raciocínio filosófico dedutivo. Para o
autor, a população é um aspecto menosprezado na Geografia, ao concluir que os geógrafos,
especialmente os americanos, não fizeram da população uma de suas principais
preocupações.
O professor Guidugli (1997) afirma que outras contribuições qualificadas de
Geografia da População se expandiram pelo mundo, como as produzidas na Rússia com os
trabalhos de Melezin (1963) e de Pokshishevskiy (1966), e na Índia com Chandna & Sidhu
(1980) que colaboraram para definir e difundir as diferentes trajetórias ou abordagens
teóricas e metodológicas nos estudos dessa disciplina. Ao buscarmos essas obras e
verificamos que o discurso sobre população produzidos nos mais variados lugares do
mundo, tinham em comum o desejo de consolidar uma Geografia da População, capaz de
dar vazão aos tratados populacionais antes abordados pela Demografia. Os estudos sobre
população ganharam espaço, inclusive, contribuindo para entendermos as características da
população, as relações familiares, bem como as questões afetas ao crescimento vegetativo
das várias localidades.
A Geografia da População pode ser definida com precisão como a ciência que
trata dos modos pelos quais o caráter geográfico dos lugares é formado por um
conjunto de fenômenos de população que varia no interior deles através do
tempo e do espaço, na medida em que seguem os outros e relacionando-se com
numerosos fenômenos não demográficos (ZELINSKY, 1969, p.2).

Então, a partir dos anos 1950 é que se começou a elaborar uma legítima disciplina
reconhecida como Geografia da População e cuja principal diferença, em relação às
contribuições abrolhadas de ciências diversas, estava na propagação de títulos direcionados

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totalmente à compreensão do tema população no cerne da ciência geográfica. Com ênfase,


sobretudo, para os estudos voltados para a distribuição espacial populacional. Nesse
sentido Guidugli (1997) afirma que a Geografia da População não só foi definindo sua
posição no contexto da sociedade geográfica como também, na prática, passou a contribuir
de forma mais substancial para a compreensão das realidades espacialmente observáveis.
Segundo Zelinsky (1969), o propósito essencial dessa matéria é bem mais amplo e
profundo que a tarefa elementar de estabelecer onde as pessoas vivem, seu número e tipo.
Para ele como em todos os demais campos da Geografia, o mero das coisas não pode ser
aceito como definição suficiente do campo e do objetivo da Geografia da População.
Assim, para ser analítica, a Geografia deve olhar para o caráter inter-relacionado das coisas
que variam através do espaço.
Para Guidugli (1997) o desenvolvimento tímido da Geografia da População em
períodos anteriores aos anos de 1950 pode ser explicado por algumas razões entre eles:
deficiências dos dados geográficos, principalmente, quanto à espacialização dos mesmos,
maior a ênfase nos estudos regionais onde a dimensão populacional não possuía posição
importante e ainda o desenvolvimento tardio da Demografia como impulsionadoras dos
estudos de população em Geografia. Superadas, mesmo que parcialmente, essas
dificuldades ocorreram uma disseminação dos conceitos da disciplina, ao passo que crescia
a importância das questões populacionais de forma quase genérica.
Para entendemos de forma mais categórica o desenvolvimento da população na
Geografia, acreditamos que devemos levar em conta os variados aspectos/fenômenos que
compõem esse tema. Fazendo uso de leituras transversais para dinamizar e potencializá-la
atribuindo história e materialidade aos elementos que a compõe.
O estudo de uma ciência, ou de uma disciplina acadêmica, pode ser desenvolvido
de múltiplas maneiras. Qualquer que seja a escolhida não será suficiente para
oferecer, aos interessados, uma visão abrangente de suas características e
problemas. Há os que procuram efetuar esta avaliação a partir de análises das
contribuições elaboradas. Outros efetuam reflexões sobre a temática considerada
avaliando seu nível de coerência, de permanência, de avanço e de eliminação.
Outros consideram relevante analisar a posição que determinado conhecimento
tem no currículo geral da academia, bem como no currículo específico de
determinada área (GUIDUGLI, 1997, p.64).

De acordo com a citação, e com o que foi apresentado até o momento, podemos
admitir que qualquer tentativa de análise de uma área, temática ou disciplina como a
Geografia da População por si só é complexa. Uma vez que entendemos que estudar
população remete-nos a analisar os fenômenos como eles são, não como aparentam ser.

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Assim, defendemos uma Geografia capaz de dar vazão as determinações históricas,


revelando as contradições ao mesmo tempo em que possibilita o diálogo para além da
fragmentação, por acreditarmos que os estudos de população carecem de interlocuções e
análises mais amplas, mas não generalistas.

Referências
CHANDNA, R.C. e SIDHU, M.S. Introduction to Population Geography. N. Delhi: Kalyani
Publishers, 1980.
GEORGE, P. Geografia da População. São Paulo: Difel, 1971.
______. Sociologia y Geografia. Barcelona: Península, 1974.
GEORGE, P. ; GUGLIELMO, R.& KAYSER, B. ; LACOSTE, Y. A Geografia Ativa. São Paulo:
Difel, 1966.
GUIDUGLI, O. S. Pesquisando e Ensinando a pesquisar na temática populacional. Texto
Apresentado ao Concurso de Livre-Docência na Disciplina Análise Populacional – IGCE – UNESP
– Rio Claro, 1997.
DAMIANI, A. L. População e Geografia. 9. ed. São Paulo: Contexto, 2008.
MELEZIN, A. Trends and Issues in the Soviet Geography population. Annals of the
Assoc. of American Geographers, 1963.
POKSHISHEVSKIY, V.V. Population Geography in the USSR. Moscow: Institute of Scientific
Information, 1966.
TREWARTHA, G.T. The case for population Geography. Ann. of. Assoc. of Am. Geographers,
1953, 43: 71-97.
ZELINSKY, W. Introdução à Geografia da População. Rio de Janeiro, Zahar, 1969.

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AS PERSPECTIVAS E LIMITES DAS JOVENS MULHRES QUE ESTUDAM NA


UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL, CAMPUS DE REALEZA-
PR16

Merce Paula Müller


UNIOESTE (Campus Francisco Beltrão)
merce.muller@hotmail.com

Roseli Alves dos Santos


UNIOESTE (Campus Francisco Beltrão)
roseliasantos@gmail.com

Objetivos e Metodologias
A presente pesquisa, em desenvolvimento, tem como objetivo identificar as
perspectivas e limites das mulheres jovens rurais, que estudam na Universidade Federal da
Fronteira Sul – no campus Realeza, em relação à permanência no espaço rural e/ou
migração para o espaço urbano.
Para aprofundar a base teórica, faremos levantamentos bibliográficos
principalmente sobre os seguintes conceitos: agricultura familiar, juventude rural,
migração, masculinização do campo, gênero, patriarcado, redes e espaço geográfico. Em
seguida, será realizada a coleta de dados, por meio da aplicação de um questionário com
questões abertas e fechadas, para as jovens mulheres (que sejam filhas de agricultores e
tenham idade entre 15 e 29 anos), que ingressaram nos cursos de graduação, nos anos de
2010 até 2013, na Universidade Federal da Fronteira Sul, no campus Realeza. Além da
pesquisa de campo, também será realizada coleta de dados secundários no IBGE e
entrevistas com as lideranças políticas do movimento pró-universidade. Com os
questionários aplicados e feita a tabulação dos dados, será definida a amostragem para
realização de entrevistas com as jovens mulheres.

A jovem mulher no espaço rural


Para compreendermos a situação da jovem mulher no espaço rural, iniciaremos pela
questão do acesso aos recursos para permanência no campo e a disposição dos jovens em
ter a agricultura como profissão, que nem sempre são as mesmas. Diante disso acontece
um impasse na reprodução social entre agricultores familiares e um predomínio maior de

16
Pesquisa de Mestrado (em desenvolvimento), vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia, da
Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Campus de Francisco Beltrão-PR.

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mulheres jovens migrando do campo para cidade, resultando na masculinização e o


envelhecimento do campo.
Considerando, que “[…] a demarcação desta etapa da vida é sempre imprecisa,
sendo referida ao fim dos estudos, ao início da vida profissional, à saída da casa paterna ou
à constituição de uma nova família ou, ainda, simplesmente a uma faixa etária”
(WANDERLEY, 2007, p. 22.). Dessa forma, os jovens e as jovens se encontram num
tempo de escolhas, entre a permanência na agricultura ou a opção por projetos
profissionais, fora do meio espaço rural.
Segundo Carneiro e Castro (2007, p. 60) uma das explicações para o fato das jovens
mulheres migrarem pode ser encontrada:

[…] na ausência de um espaço para realização profissional nas áreas rurais,


pois em geral a mulher não é reconhecida como trabalhadora agrícola ou não
deseja para si esse papel, um fato que ao mesmo tempo é resultado de uma
discriminação mas que acaba por impulsionar as jovens a níveis mais elevados
de educação e à migração para o meio urbano […].

Diante da condição que a mulher enfrenta no espaço rural, Brumer (2007, p. 42)
chama atenção “[…] para o avanço das pesquisas sobre a migração dos jovens, destaca-se
a importância de novos estudos sobre os fatores que atraem os jovens para atividade e para
a vida no meio rural”. Ainda segundo Brumer (2007, p. 42), “[…] é necessária uma
abordagem de gênero, que dê conta das condições de inserção e dos interesses e
motivações de rapazes e moças”.
A escolha das acadêmicas que frequentam a Universidade Federal da Fronteira Sul
para desenvolver a pesquisa se deu pela história e constituição da universidade, a partir das
lutas dos movimentos sociais populares da região. Entre os diversos movimentos que
somaram forças para conquistar uma universidade pública e popular para a região,
destacam-se a Via Campesina e Federação da Agricultura Familiar da Região Sul (Fetraf-
Sul) e Associação de Estudos, Orientação e Assistência Rural (ASSESOAR) que
assumiram a liderança do Movimento Pró-Universidade.
O papel secundário nas atividades rurais, seu trabalho cotidiano pouco valorizado,
sem contar com as dificuldades encontradas para ter acesso aos rendimentos obtidos nas
atividades agrícolas faz com que muitas jovens não encontrem um sentido para sua vida
profissional na unidade produtiva familiar. É preciso considerar também a própria
dinâmica interna das famílias, fortemente enraizada na tradição patriarcal, na qual as
perspectivas de continuidade na atividade agrícola são sempre mais favoráveis ao rapaz,

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deixando para a moça um papel subalterno, com pouca participação na organização do


trabalho e nas decisões.
O processo migratório do meio rural tem acompanhado o desenvolvimento da
sociedade brasileira nas últimas décadas e tem chamado atenção para o contingente maior
de mulheres jovens em relação aos jovens que migram. Por isso, consideramos que é
importante estudar as causas da migração e a permanência das mulheres, para que
possamos avaliar os fatores de atração para outros setores da economia.
Para Brumer (2004, p. 210) a seletividade da migração por sexo e idade pode ser
explicada:
[…] pela falta de oportunidades existentes no meio rural para a inserção dos
jovens, de forma independente da tutela dos pais, a forma como ocorre a divisão
do trabalho no interior dos estabelecimentos agropecuários e pela relativa
invisibilidade do trabalho executado por crianças, jovens e mulheres, pelas
tradições culturais que priorizam os homens às mulheres na execução dos
trabalhos agropecuários mais especializados, tecnificados e mecanizados, na
chefia do estabelecimento e na comercialização dos produtos, pelas
oportunidades de trabalho parcial ou de empregos fora da agricultura para a
população residente no meio rural e pela exclusão das mulheres na herança.

Os dados demográficos do IBGE têm sido utilizados para demonstrar a


transformação social que vem ocorrendo nas últimas décadas. Em 1950, a população
residente em zonas rurais correspondia a 63,8% da população total brasileira, em 2000 esta
proporção havia caído para 18,8% do total da população brasileira e em 2010 caiu ainda
mais para 15,6% da população. Conforme os dados pelo IBGE, referente ao censo de 2010,
há 34.336,04 jovens entre 15 a 24 anos de idade, sendo que apenas 18,4% deles residem no
meio rural. Na região Sul do Brasil, os jovens entre 15 a 24 anos chegam a representar
15,89% da população rural.
De acordo com Camarano e Abramovay (1998 apud FERRARI et al, 2004) há uma
“[…] crescente masculinização da população rural brasileira, fruto do predomínio feminino
no processo migratório rural-urbano”. Esses autores realizaram uma pesquisa e
identificaram:
[…] uma mudança no perfil do fluxo migratório rural: nos anos 1950 o ponto
máximo da migração ocorria no grupo etário de 30 a 39 anos; já nos anos 1990
predomina a saída de rapazes de 20 a 24 anos e de moças de 15 a 19 anos,
havendo uma tendência recente de acréscimo do fluxo de jovens com idade
inferior a 20 anos. O resultado é uma progressão da razão de sexos nos grupos de
idade de 15 a 29 anos, sobretudo naqueles entre 15 e 19 anos.

Os motivos para emigração, conforme Brumer (2007, p. 36) são “[…] de um lado,
os atrativos da vida urbana, principalmente em opções de trabalho remunerado (fatores de

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atração); e de outro lado, as dificuldades da vida no meio rural e da atividade agrícola


(fatores de expulsão)”. Ainda segundo Brumer (2007, p. 37) “[…] na decisão de migrar,
provavelmente os fatores de expulsão são anteriores aos de atração, na medida em que os
indivíduos fazem um balanço entre a situação vivida e a expectativa sobre a nova
situação”.
No entanto, a agricultura é uma atividade econômica em que as relações familiares
têm grande importância, sendo que não existe atividade como esta em que a família seja a
base para continuação do trabalho na propriedade. “O compromisso dos jovens com a
família é indispensável ao funcionamento e à reprodução da unidade produtiva e se
expressa, especialmente, na sua participação no sistema de atividade familiar”
(WANDERLEY, 2007, p. 24).
A nova dinâmica do desenvolvimento capitalista vem transformando as condições
de reprodução do capital e da força de trabalho da agricultura familiar, tornando o meio
rural um espaço social cada vez mais complexo.
No caso brasileiro de condições historicamente adversas às pequenas unidades
produtivas, as novas gerações de agricultores familiares veem reduzidas suas
possibilidades de permanência nesta atividade. Isto tem implicações sociais
relevantes, uma vez que, de um modo geral, a continuidade da profissão agrícola
depende da reprodução social com base familiar. Isso porque a sucessão na
agricultura familiar tende a ser endógena, com, pelo menos, um dos filhos
sucedendo o pai na unidade produtiva sendo pouco frequente a adesão a essa
atividade profissional por pessoas sem vivência familiar nesse ramo.
(WEISCHEIMER. 2006, p. 1)

Weischeimer (2006, p. 1) ainda destaca que:


Os jovens agricultores familiares têm como marca de sua condição juvenil a
inserção subordinada aos pais no processo de trabalho familiar. Este processo de
trabalho é marcado ainda por profundas desigualdades de gênero, o que faz com
que as jovens mulheres encontram-se em uma posição duplamente subalterna,
enquanto mulher e jovem.

Dessa forma, pode acontecer uma crise na reprodução social entre agricultores
familiares, pois os jovens por diferentes razões, principalmente as mulheres, passam cada
vez mais a procurar de projetos profissionais no meio urbano, não permanecendo na
agricultura. E essa migração predominantemente jovem e feminina tem levado
gradualmente ao predomínio masculino entre os jovens rurais e tem contribuído para o
envelhecimento da população que permanece no campo.
As oportunidades no mercado de trabalho urbano e a expansão do setor de
serviços, tanto em residências como no comércio e na indústria, oferecem às jovens

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perspectivas novas e diferentes do papel tradicional de mãe e esposa, condição corroborada


pelo seu melhor nível educacional.

Considerações finais
O estudo se encontra na fase inicial, mas, mesmo assim, é possível apontar breves
considerações sobre as relações da mulher no meio rural e suas relações na agricultura.
Nota-se que a mulher tem seu trabalho considerado como subalterno e desvalorizado, não
somente nas atividades agrícolas como em outros trabalhos, sendo as desigualdades de
gênero muito mais aparentes em relação à mulher.
Portanto, com a saída acentuada das mulheres jovens que não encontram no meio
rural ou na região, oportunidades produtivas que satisfaçam suas aspirações profissionais,
pode trazer implicações para essas comunidades, que não vão só perder habitantes, mas
também a capacidade de trabalho.

Referências
BRUMER, Anita. A problemática dos jovens rurais na pós modernidade. In: CARNEIRO,
M. J.; CASTRO, E. G. C. Juventude rural em perspectiva. Rio de Janeiro: Mauad X,
2007. p. 53-66.
______. Gênero e agricultura: a situação da mulher na agricultura do Rio Grande do Sul.
Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 12, n. 1, p. 205-227, 2004. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/ref/v12n1/21699.pdf >. Acesso em: 04 out. 2013.
CARNEIRO, M. J.; CASTRO, E. G. C. Juventude rural em perspectiva. Rio de Janeiro:
Mauad X, 2007.
FERRARI, Dilvan Luiz et al. Dilemas e estratégias dos jovens rurais: ficar ou partir?
Estudos Sociedade e Agricultura, Rio de Janeiro, v. 12 n. 2, p. 237-271, 2004. Disponível
em: <http://r1.ufrrj.br/esa/art/200410-237-271.pdf >. Acesso em: 09 out. 2013.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo 2010.
Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1>. Acesso em: 09 out.
2013.
WANDERLEY, Maria de Nazareth Baudel. Jovens rurais de pequenos municípios de
Pernambuco: que sonhos para o futuro. In: CARNEIRO, M. J.; CASTRO, E. G. C.
Juventude rural em perspectiva. Rio de Janeiro: Mauad X, 2007. p. 21-34.
WEISHEIMER, Nilson. Jovens agricultores: intersecções entre relações sociais de gênero
e projetos profissionais. In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL FAZENDO GENERO 7.,
2006, Florianópolis. Simpósios e pôsteres… Florianópolis: UFSC, 2006. Disponível em:
<http://www.fazendogenero.ufsc.br/7/artigos/N/Nilson_Weisheimer_01.pdf >. Acesso em:
02 out. 2013.

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A EXCLUSÃO E RESISTÊNCIA AO CAPITAL:


A FORMAÇÃO CONTINUADA DO AGRICULTOR

Merce Paula Müller


UNIOESTE (Campus de Francisco Beltrão – PR)
merce.muller@hotmail.com

Introdução
Essa pesquisa tem principal objetivo analisar se os agricultores da comunidade de
Linha Pessegueiro, município de Guarujá do Sul – SC estão excluídos e como resistem ao
capital. Além disso, o estudo tem como intuito constatar a verdadeira situação dos
agricultores, sobre as mudanças na agricultura, como estão se estruturando, se estão
adotando novas tecnologias nas propriedades demonstrando se os agricultores resistem ao
capital e a exigências de se aperfeiçoarem como trabalhadores da agricultura.

Metodologia
No primeiro momento procurou-se fazer um levantamento bibliográfico através de
leituras em autores sobre os avanços tecnológicos na agricultura, as consequências
causadas, os créditos agrícolas e a educação no campo. Posteriormente, para ter melhor
compreensão do estudo foi elaborado para a pesquisa de campo um questionário
qualitativo que será aplicado as famílias. O questionário com 15 perguntas abertas e
fechadas permitira descobrir e caracterizar as famílias inseridas na área de estudo. Para
aplicar o questionário foi adotada a comunidade de Linha Pessegueiro, município de
Guarujá do Sul, SC, na qual foi definido por amostra aleatória simples o número de
famílias para aplicação do questionário.
A localidade escolhida para ser pesquisada é a maior comunidade em número de
domicílios, a maioria das famílias tem como atividade principal a agricultura e o
município de Guarujá do Sul, SC a principal atividade econômica é a agricultura.

Resultados e discussões
A escolha da comunidade de Linha Pessegueiro no município de Guarujá do Sul
nos chamou atenção pela realidade social e econômica. Nas primeiras informações
coletadas verificou-se ser a maior comunidade do município com aproximadamente 130
famílias, sendo que 58 famílias tem como atividade principal renda a agricultura podendo
algum membro da família trabalhar em outra atividade não agrícola e as outras 72 famílias

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exercem outras atividades, sendo aposentados, trabalhadores assalariados e diaristas.


Das 58 famílias que tem como atividade principal a agricultura estabeleceu uma
amostra aleatória simples que se estabeleceu uma amostra em 30% sobre o número total de
famílias de agricultores que resultou em 17 famílias a serem pesquisadas.
Na distribuição de faixa etária dos 66 membros que integram as 17 famílias
pesquisadas percebeu-se que na faixa etária de 41 a 50 anos de idade concentra-se o maior
número de pessoas sendo 33,3% e em segundo concentram-se na faixa de 11 a 20 anos
com um total de 30,3% membros. A proporção de homens e mulheres é a mesma ambos
são 33 pessoas, mas o que difere é a faixa etária dos mesmos sendo que determinadas
faixas etárias um sobressai ao outro.
Outro indicador importante na caracterização das famílias de agricultores é o nível
de escolaridade. Na pesquisa de campo não foi encontrado nenhum membro que não tenha
frequentado a escola, a maioria dos agricultores tem poucos anos de escolaridade, logo os
filhos dos agricultores possuem maior escolaridade, sendo que o acesso à escola é mais
facilitado com escolas mais próximas e o transporte escolar.
Com relação à ocupação da força de trabalho das famílias de agricultores percebeu-
se que poucas são as famílias que se ocupam unicamente de atividades agrícolas. Os dados
da pesquisa indicam que 51,5% dos membros trabalham em atividades agrícolas, 19,6%
dos membros exercem serviço de auxílio na propriedade como ajudar no trabalho com
animais, fazer limpeza e outras atividades que auxiliam aos pais. Nas atividades não
agrícolas o percentual é de 15,1% que geralmente são jovens e chefes de família que
buscam complementar a renda familiar.
Nas famílias 57,5% das mulheres e 45,4% dos homens declararam que a atividade
agrícola era a principal ocupação. Portanto, percebeu-se que a quantidade de mulheres que
trabalha na agricultura é superior à de homens nessa mesma atividade.
A agricultura é uma atividade que se transforma rapidamente. Segundo Schneider
(2003, p.121-122) “[…] tornou-se uma atividade cada vez mais individualizada
dispensando gradualmente a necessidade de utilização a da mão de obra de todos os
membros da família rural […]”. E com isso, o uso de novas técnicas agrícolas determina
um menor uso de mão de obra, que traz como resultado a expulsão e o abandono dos filhos
de agricultores da propriedade agrícola, que buscam trabalho nos grandes centros,
causando o inchaço nas periferias das cidades.
As principais atividades agrícolas das famílias agricultoras pesquisadas percebeu-se
que 35,3% das famílias se ocupam unicamente com a bovinocultura de leite e as demais

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famílias têm mais que uma atividade na propriedade. Nas atividades desenvolvidas nas
propriedades as famílias declararam que trabalham com algum tipo de tecnologia. Na
atividade leiteira notou-se algumas propriedades utilizam várias tecnologias oferecidas no
mercado para aumentar a produção de leite e outras propriedades não possuem estrebaria
para ordenhar as vacas e os animais ficam amarrados em postes no galpão. No entanto, a
produção de leite é uma garantia de renda mensal para o agricultor e sua família.
Conforme Silva et al (2003) esse processo de modernização no campo trouxe
profundas transformações na base técnica e socioeconômica da agricultura, principalmente
nos meados da década de 60 até a década de 80. As mudanças do setor agrícola passou a
incorporar os chamados insumos modernos ao seu processo produtivo, utilizando
tecnologias, mecanizando a produção e integrando-se aos modernos circuitos de
comercialização.
Ainda segundo Silva et al (2003) as características da agricultura brasileira têm
particularidades de um modelo de desenvolvimento baseado no modelo norte-americano,
que se assentou nos princípios da “revolução verde”, se pautando na obtenção de ganhos
de produtividade, incorporando os novos fatores de produção com uso de sementes
melhoradas, adubos químicos, agrotóxicos e maquinaria agrícola.
Algumas famílias estão procurando se adaptar as novas tecnologias, notando a falta
de ter estudado mais, pois estão tendo dificuldades na administração da propriedade que
exige mais cuidado com a questão financeira da propriedade. Sendo que as novas
tecnologias demandam certo conhecimento e dedicação para programá-las e mesmo nos
bancos e cursos o agricultor necessita saber ler e escrever para poder compreender.
Em relação ao trabalho na agricultura 41,1% responderam que poderia melhorar,
pois os baixos preços, a falta de dinheiro, desestimulam muito o trabalho na agricultura. Já
29,4% das responderam que o trabalho é difícil pela mesma situação acima descrita. Como
fala a família 17 “não temos máquinas, dependemos da prefeitura e muitas vezes demora
para o serviço ser feito tornando o serviço mais difícil.” e já 11,7% responderam que está
bom seu trabalho.
Com relação ao estudo dos agricultores, 47% declararam que deveriam ter estudado
mais para continuar desenvolvendo seu trabalho na agricultura. Percebe-se que eles estão
encontrando dificuldade para realizar seus trabalhos, pois as novas tecnologias demandam
de mais conhecimento. No entanto 41,1% acreditam estar satisfeitos com sua escolaridade
e já 01 família ou 5,8%, declarou que os pais não precisariam estudar mais, mas sim os
filhos. Pois sempre conseguiram se mantiver na propriedade, mas isso não acontecera com

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os filhos que precisam estudar mais. Na família 17 teve a seguinte declaração “precisava
ter estudado mais, mas se tinha estudado não tava na roça” e ainda mencionou a
dificuldade de hoje um agricultor completar seus estudos, pois as classes de alfabetização
para adultos são à noite, na cidade e o trabalho na agricultura é pesado e cansativo
desestimulando a procura de mais instrução.
Para Silva (2003, p.143) os créditos agrícolas se tornaram agente fundamental da
modernização da agricultura destacando que:

[…] permitiu derrubar o velho esquema de subordinação ao capital comercial


dominava até então amplamente o processo de comercialização agrícola e criou
um mercado sólido e crescente para o subsetor industrial que fabricava insumos,
máquinas e equipamentos para o setor agrícola.

Assim, para o melhor desenvolvimento nas propriedades rurais os agricultores que


necessitavam de recursos financeiros para produzir foi implementado o crédito rural, que
seria utilizado para o custeio de atividades agrícolas, em investimentos na propriedade, na
comercialização e no suprimento das necessidades familiares dos agricultores.
Nas famílias investigadas 15 famílias obtém de financiamentos, sendo 07 famílias
no Banco do Brasil e 07 famílias no sistema cooperativo (SICOOB) e 01 família faz
financiamento tanto no banco como em cooperativa de crédito. Somente duas famílias
declararam não usar créditos agrícolas, sendo que uma não utiliza por ter os bens
hipotecados por dívidas e a outra família já fez uso de créditos agrícolas.
Com todas estas inúmeras medidas governamentais e do próprio sistema econômico
de incentivo forçam para uma constante e gradativa descapitalização de grande parte dos
agricultores das pequenas propriedades.
O espaço agrícola está se consolidando por desigualdades, uma incompatibilidade
de velocidade, alguns agricultores com tecnologia de ponta na propriedade, outros tentando
acompanhar e muitos agricultores com técnicas muito rudimentares. A agricultura passou
de orgânica e manual para uma agricultura moderna que utiliza insumos, agrotóxicos e
tecnologia de ponta. É seletiva, a maneira pela qual o capital interfere valorizando os que
têm melhores condições de produzir e marginalizando os agricultores que não possui
capital.

Considerações finais
A agricultura se tornou uma atividade muita dinâmica, mudanças ocorrem a cada
dia com novos equipamentos, sementes, insumos agrícolas, melhoramento genético

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dos animais, rações e suplementos transformando assim o cenário da paisagem rural. O


agricultor que tem sua base nas atividades agrícolas se encontra num jogo liderado pelo
capital que impõe regras que são postas a ele, se aceitar entra no jogo de competição e se
não aceitar as regras será gradativamente excluído do processo.
O agricultor que está inserido na agricultura comercial precisa buscar junto às
agências bancárias empréstimos agrícolas para investimentos nas suas atividades agrícolas,
buscar aperfeiçoamento, para estar em contínua capacitação, ter assistência técnica para
auxiliá-lo nas atividades. Sendo que é uma agricultura onde que o novo convive com o
velho, agricultores que utilizam tecnologias modernas nas atividades agrícolas e outros
agricultores com equipamentos rudimentares trabalhando.
O agricultor está em busca de mais produção e produtividade, com isso acaba se
integrando a sistemas de integração de agroindústrias para continuar inserido. Portanto, há
uma visível convivência do velho com o novo, em algumas famílias tem-se o uso técnicas
modernas nas atividades agrícolas desenvolvidas e outras famílias utilizam técnicas
simples e rudimentares.
A modernização do campo traz consigo muitos impactos como a exclusão do
campo, a descapitalização dos agricultores e também problemas ambientais, como o uso de
agrotóxicos que afetam o meio ambiente e qualidade de vida.

Referencias
SILVA, J. G. Tecnologia e agricultura familiar. Porto Alegre, RS: UFRGS, 2003.
SILVA, F.C.A.; HEIDEN. F.C.; AGUIAR, V.V.; PAULS, J.M. Migração rural e estrutura
agrária no oeste catarinense. Florianópolis. Instituto CEPA/SC, 2003.
SCHNEIDER, S. A pluriatividade na agricultura familiar. Porto Alegre. Editora da
UFRGS, 2003.

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AS INFLUÊNCIAS DA EMPRESA BRF (ANTIGA SADIA) NA


ESTRUTURAÇÃO DA CIDADE NORTE (FRANCISCO BELTRÃO-PR)17

Rogério Michael Musatto18


UNIOESTE/Francisco Beltrão
rogeriomussatto@hotmail.com

Apresentação da área analisada: Localização e aspectos históricos


Por meio desse resumo, apresentaremos uma breve análise sobre os loteamentos
que se constituíram nas proximidades da empresa Brasil Foods S.A (BRF) na denominada
Cidade Norte, em Francisco Beltrão. Consideramos a influência da empresa na
estruturação urbana daquela área e proximidades, bem como as implicações no cotidiano
dos moradores daquela localidade, no que diz respeito aos deslocamentos que eles realizam
por meio do transporte coletivo e as condições de vida dos mesmos, diante da
infraestrutura existente.
O surgimento e constituição da Cidade Norte de Francisco Beltrão pode ser
compreendido a partir da instalação de uma empresa frigorífica ou abatedouro de aves no
ano de 1982. De acordo com alguns trabalhos analisados, a partir desse marco houve uma
mobilidade populacional para a constituição do quadro de funcionários da empresa e dessa
forma foram sendo implantados alguns bairros no entorno da empresa. “Um marco
histórico para essa área é o ano de 1982. Neste ano o então prefeito João Arruda permite
que se instale neste local da cidade, a empresa Chapecó Avícola S/A, frigorífico de aves,
que passou a gerar 750 empregos diretos para a cidade” (LEAL, 2007, p.20).
Sobre os motivos que levaram à instalação da empresa no local, Leal (2007) faz os
seguintes destaques: “O fácil acesso da via para a circulação de caminhões, já que a mesma
fica na saída da estrada que liga essa cidade às cidades vizinhas [...] e a existência do Rio
Santa Rosa, que passa ao lado da empresa e que servia para a captação direta da água para
o frigorifico” (LEAL, 2007, p.20).
De acordo com a pesquisa realizada por Leal (2007), a construção de moradias para
os funcionários transferidos de outras unidades da empresa Chapecó Avícola S/A, foi uma
das primeiras formas de ocupação no local de estudo. “Foi necessário que a empresa

17
Levantamento de informações para a realização de Trabalho de Campo na Cidade Norte, vinculado às
atividades da disciplina Urbanização de Produção da Cidade, ofertada no 1º Semestre de 2014, no Programa
de Pós-Graduação em Geografia, Campus de Francisco Beltrão.
18
Mestrando em Geografia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), Campus de
Francisco Beltrão.

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Chapecó construísse casas para abrigar os gerentes que vieram transferidos de outras
unidades [...] Isto por que o bairro se encontrava afastado do centro da cidade e ainda não
tinha casas de aluguel próximas à empresa” (LEAL, 2007, p.20).
Já na pesquisa realizada por Machado (2013), fica evidente que a responsabilidade
não é somente da antiga Sadia (inicialmente Chapecó Avícola S/A) para a constituição dos
bairros que integram a denominada Cidade Norte. Segundo Machado (2013) o poder
público municipal teve papel fundamental nessa configuração:
Este abatedouro, juntamente com as políticas públicas de direcionamento do
crescimento foram os grandes responsáveis pelo crescimento horizontal e o
surgimento dos Bairros Pinheirinho, Pinheirão, Sadia, Jardim Virginia, Antônio
de Paiva Cantelmo, Jardim Floresta e Padre Ulrico. [...] Quase todos os bairros
da “Cidade Norte” são resultado de conjuntos habitacionais construídos por meio
da parceria da Prefeitura Municipal com a Caixa Econômica Federal e a
COHAPAR, exceto os Bairros Pinheirinho e o Pinheirão, que surgiram de
ocupações irregulares (MACHADO, 2013, p. 108).

Dessa forma temos uma diferenciação urbana em Francisco Beltrão, a partir das
especificidades de cada área e/ou bairro, no que diz respeito às funções, ou seja, temos
bairros com uma disponibilidade maior de comércio e outros com a função de abastecer
com mão-de-obra esses locais comerciais e industriais. Ou seja, isso vai contribuir em
nossa visão, para uma diferenciação, também, nos níveis de vida, através da renda
diferenciada nos diversos pontos da cidade.
A partir do que analisamos nos trabalhos, a denominada Cidade Norte formou-se
inicialmente para possibilitar o estabelecimento da população que servia de mão-de-obra
para as indústrias que se instalaram no local: “O grande atrativo para essa população, que
se dirigiu para a zona norte da cidade foram as indústrias instaladas ali. Inicialmente a
“Chapecó” e posteriormente a Sadia” (MACHADO, 2013, p. 108).
Nos dias atuais percebemos uma presença de uma população diversificada em
termos de ocupação, desde trabalhadores das indústrias locais e de outras áreas da cidade,
onde muitos são oriundos de outros municípios da região, como observamos na pesquisa
de campo, que será apresentada a seguir.
A partir da instalação da empresa (Chapecó Avícola S/A) e posteriormente com o
estabelecimento de alguns moradores, se desenvolve um Subcentro, formado por
estabelecimentos comerciais e de serviços (lojas, mercados, farmácias) nas imediações da
empresa, concentrados na Avenida Atílio Fontana, a principal via da Cidade Norte.
A distância em relação à área central contribuiu significativamente para a
diferenciação populacional, não somente em relação aos níveis de renda dos moradores,
mas também em relação à prestação de serviços, à oferta de estabelecimentos comerciais e

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ao auxílio do poder público, para suprir a área com infraestruturas básicas. Há uma grande
diferenciação entre essa área e outras da cidade, que são melhor equipadas e recebem uma
melhor atenção do poder público. Machado (2013, p. 108) ressalta que:
A paisagem urbana começava a ser organizada em duas partes significativamente
distintas: a área central, composta pelos bairros Centro, Presidente Kennedy,
Miniguaçu, Vila Nova, Industrial, Nossa Senhora Aparecida e Alvorada,
ocupada principalmente por pessoas das classes alta e média e a periferia [...]
mais os bairros Novo Mundo, São Miguel, Pinheirinho, Pinheirão e Padre Ulrico,
ocupados, em geral, por pessoas de classe baixa (pobres) (MACHADO, 2013, p.
108).

Além dessa breve análise histórica, realizamos o levantamento de alguns dados, por
meio de entrevistas realizadas com moradores daquela área, sobre as influências que a
empresa BRF exerce nas suas imediações, a atuação do poder público e as condições de
moradias da população, considerando a oferta de serviços básicos etc, que serão
apresentados a seguir.

Levantamento a campo de algumas características locais


Para uma melhor caracterização da área estudada, levantamos algumas informações
sobre aquela localidade, através da realização de 10 entrevistas19 com alguns moradores
residentes nas proximidades da BRF.
Com base nas respostas obtidas, destacamos que as principais interferências
negativas da empresa BRF, nas proximidades são: o cheiro, o barulho e o tráfego de
caminhões.
Alguns moradores relataram que um fator positivo em relação à empresa estar
instalada naquela localidade é a oportunidade de emprego. Grande parte dos entrevistados
mora nas proximidades pelo fato deles ou de familiares trabalharem nessa empresa.
Outra informação importante, segundo as informações obtidas por meio das
entrevistas, é que houve um aumento na procura por moradia naquela área, o que acabou
por interferir na alteração dos preços de imóveis, tanto para a venda, quanto para a locação.
Essa dinâmica se justifica pela constante vinda de pessoas de outras localidades para se
estabelecer nos loteamentos próximos à empresa, e trabalhar na mesma ou em outras
instaladas nas proximidades.

19
As entrevistas foram aplicadas no bairro Pinheirinho nas proximidades da empresa BRF. Por meio dos
questionamentos visávamos identificar as influências da empresa no local, os atrativos do estabelecimento e
moradia no bairro e as ações do poder público na oferta de infraestrutura, segurança etc.

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Quando questionados sobre a atuação do poder público naquela área, eles


ressaltaram a falta de segurança ou presença da polícia, já que segundo a maioria dos
entrevistados é grande o consumo de drogas no local. Dessa forma, há uma sensação de
insegurança, que poderia ser resolvida com um policiamento mais efetivo.
No que diz respeito à infraestrutura, segundo os moradores entrevistados, está
parcialmente completa, pois as ruas encontram-se sem asfalto, e com muitas
irregularidades e buracos.
Alguns moradores relatam a falta de tratamento de esgoto, evidenciando a
precariedade dos serviços públicos. Eles ressaltaram também a falta de áreas para o lazer
nas proximidades daqueles bairros. Assim a população jovem acaba se deslocando para as
áreas centrais, nos finais de semana em busca de lazer, enquanto os moradores das outras
faixas etárias ficam sem e alternativas nesse sentido.

Foto 1: Local de aplicação de questionários: Rua Amapá, Bairro Pinheirinho (ao fundo a
Unidade da empresa BRF).

FONTE: Pesquisa de campo, (Junho de 2014). Autor: MUSATTO (2014)

Sobre o transporte público, a maioria classifica as condições como boas, destacando


que há uma linha de ônibus no loteamento, que faz o trajeto de meia em meia hora, ligando
essa área ao centro da cidade. Porém, um aspecto negativo no que diz respeito ao
transporte público, de acordo com moradores, é o fato de na cidade não haver um sistema
de integração entre linhas, o que permitiria uma melhor conexão entre as diferentes áreas
da cidade, além do núcleo central.
Considerações
Ao elaborarmos um levantamento de informações sobre a estruturação urbana dos
loteamentos que constituem a denominada Cidade Norte de Francisco Beltrão e as
influências da BRF (antiga Sadia) no local, foi possível perceber alguns fatores
relacionados à atuação da empresa.

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O estabelecimento da empresa no início da década de 1980 estimulou a formação


de loteamentos no seu entorno, os quais constituíram a denominada Cidade Norte. Nos dias
atuais as influências diretas (e negativas) da empresa, de acordo com o relato de alguns
moradores, são evidenciadas por meio do cheiro característico dos dejetos industriais, do
barulho ao longo do dia e do trafego de caminhões e veículos pesados no local.
No que diz respeito às influências indiretas, de acordo com esses moradores que
nos concederam entrevistas, destaca-se o aumento na procura por moradias no local,
ocasionando um aumento no valor dos imóveis, tanto para a compra, quanto para a
locação.
Quanto à atuação do poder público na oferta de serviços básicos, como o transporte,
mesmo que não haja uma ligação mais ampliada dessa área com os diversos pontos da
cidade, ele é considerado como adequado.
Já em relação à pavimentação mais adequada das ruas e ao saneamento básico, de
acordo com os relatos dos entrevistados, não há um grande empenho por parte do poder
público para sanar esses problemas. A falta de opções de lazer também foi bem destacada,
o que pode estar vinculada ao aumento no consumo de drogas por parte dos jovens. Diante
disso, os entrevistados relataram que há alguns casos de violência e a sensação de
insegurança, as quais poderiam ser minimizados se houvesse um maior policiamento no
local.
Consideramos que esses loteamentos no entorno da empresa BRF, não recebem
tanta atenção do poder público de Francisco Beltrão, já que os mesmos foram constituídos
há um tempo razoável se comparado a outros bairros da cidade, nos quais diversos serviços
são ofertados para os seus moradores. Já a empresa frigorífica influenciou (no início de sua
instalação) no processo de constituição dos loteamentos e continua influenciando nos dias
atuais, tanto direta, quanto indiretamente, diante do aumento na procura por moradias,
resultado da chegada de trabalhadores para a empresa, provenientes de outras localidades e
municípios.

Referências
LEAL, Marines Willer. Indústria e expansão urbana: uma contribuição ao
entendimento da cidade Norte (Francisco Beltrão). Francisco Beltrão/PR, 2007.
Monografia (Bacharelado em Geografia)-Unioeste, Francisco Beltrão, 2007.
MACHADO, Gilnei. Implicações paisagísticas no processo de evolução urbana de
Francisco Beltrão. Revista Faz ciências. Volume 15 – Número 21– Jan/Jun 2013, p. 93-
121.

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ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA E VAZIOS URBANOS NOS BAIRROS NOSSA


SENHORA APARECIDA E SÃO FRANCISCO, DO MUNICÍPIO DE FRANCISCO
BELTRÃO - PR20

Ertal de Vasconcelos Oliveira Júnior21


Arquiteto e Urbanista
Email: ertal57@hotmail.com

Maurício Sérgio Bergamo22


UNIOESTE/Francisco Beltrão
Email: mauricio_bergamob@hotmail.com

Nesta trabalho, amparados pelo Plano Diretor e pelo Estatuto da cidade de


Francisco Beltrão, veremos o que estes documentos exibem à respeito do aproveitamento
do solo urbano e do IPTU progressivo no tempo, a fim, de deixar mais tênue aos leitores,
medidas a cerca da intervenção do poder público municipal, à especulação imobiliária e ao
planejamento urbano do município.
Não obstante, no Plano Diretor da Cidade - Lei nº 3300/2006 - Capítulo VI, há
referências ao aproveitamento adequado do Solo Urbano. O Plano Diretor da Cidade, nos
mostra neste capítulo, que os proprietários de espaços, como terrenos vagos não edificados,
subutilizados ou não utilzados, devem promover funções sociais adequadas nestes, sob
pena de:
I - parcelamento, edificação ou utilização compulsórios;II - Imposto sobre a
propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo;III - desapropriação
com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente
aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em
parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os
juros legais. (FRANCISCO BELTRÃO, 2006, p. 38).

Diante disso, o Plano Diretor da Cidade, no capítulo 1, da seção Título VI,


denominado por "Do Parcelamento, edificação ou utilização compulsórias", caracteriza
imóveis ou espaços subutilizados, pelos seguintes padrões:
a) situados em eixos estruturais e de adensamento, áreas com predominância de
ocupação residencial e áreas mistas que contenham edificação cuja área
construída represente um coeficiente de aproveitamento inferior a 5% (cinco por

20
Trabalho apresentado na primeira fase do curso de Pós-Graduação (Stricto Sensu) em Geografia da
Universidade Estadual do Oeste do Paraná - Campus de Francisco Beltrão, como requisito de avaliação para
a disciplina: Urbanização e Produção das Cidades, ministrada pelo Profa. Dra. Silvia Regina Pereira.
21
Aluno Especial da primeira fase do curso de Pós-Graduação (Stricto Sensu) em Geografia da Universidade
Estadual do Oeste do Paraná - Campus de Francisco Beltrão. Graduado em Arquitetura e Urbanismo pela
Faculdade Mater Dei – Campus de Pato Branco – (2013).
22
Acadêmico da primeira fase do curso de Pós-Graduação (Stricto Sensu) em Geografia da Universidade
Estadual do Oeste do Paraná - Campus de Francisco Beltrão. Graduado em Licenciatura em Geografia pela
Universidade Regional Integrada – Campus Erechim (2010).

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cento) do coeficiente de aproveitamento previsto na legislação de uso do solo; b)


situados em áreas com destinação especifica e que contenham edificação de uso
não residencial, cuja área destinada ao desenvolvimento da atividade seja 1/3
(um terço) da área do terreno, ai compreendida áreas edificadas e não edificadas
necessárias à complementação da atividade;c) imóveis com edificações
paralisadas ou em ruínas situadas em qualquer área. (FRANCISCO BELTRÃO,
2006, p. 33)

Complementando as informações do Plano Diretor da cidade, o Estatuto da Cidade


- Lei nº 10.257/2001 - nos exibe, que caso os proprietários dos locais que se encontram sob
as condições, a cima citadas pela Lei nº 3300/2006, não atribuindo funções sociais aos
espaços subutilizados, os mesmos, serão notificados pelo Poder Executivo Municipal,
tendo a obrigação de cumprir às obrigações previstas na lei, citamos:

§ 2o O proprietário será notificado pelo Poder Executivo municipal para o


cumprimento da obrigação, devendo a notificação ser averbada no cartório de
registro de imóveis. § 3o A notificação far-se-á: I - por funcionário do órgão
competente do Poder Público municipal, ao proprietário do imóvel ou, no caso
de este ser pessoa jurídica, a quem tenha poderes de gerência geral ou
administração. II - por edital quando frustrada, por três vezes, a tentativa de
notificação na forma prevista pelo inciso I (FRANCISCO BELTRÃO, 2001, p.
22)

Todavia, o que se refere ao IPTU Progressivo no tempo, no município de Francisco


Beltrão, está presente, na Seção III do Estatuto da Cidade. O IPTU progressivo no tempo,
será aplicado, segundo a Lei 10.257/2001, a partir do não cumprimento do proprietário, às
notificações do Poder Executivo Municipal. Não tendo efeito as notificações do Poder
Executivo Municipal, o valor da alíquota à ser cobrado pelo IPTU progressivo,

não excederá duas vezes o valor referente ao ano anterior, respeitada a alíquota
máxima de quinze por cento.§ 2o Caso a obrigação de parcelar, edificar ou
utilizar não esteja atendida em cinco anos, o Município manterá a cobrança pela
alíquota máxima, até que se cumpra a referida obrigação [...]. (FRANCISCO
BELTRÃO, 2001, p. 23)

Somente depois de cinco anos decorridos, sem que o proprietário não cumpra as
obrigações de parcelamento, o poder público municipal poderá desapropriar o imóvel, com
pagamento em títulos da vida pública23, citemos:

§ 2o O valor real da indenização: I - Refletirá o valor de base de cálculo do


IPTU, descontado o montante incorporado em função de obras realizadas pelo
Poder Público na área onde o mesmo se localiza após a notificação [...] II - não

23
"Os títulos da dívida pública terão prévia aprovação pelo Senado Federal e serão resgatados no prazo de até
dez anos, em prestações anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais
de seis por cento ao ano" (BELTRÃO, 2001, p. 23)

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computará expectativas de ganhos, lucros cessantes e juros compensatórios. § 3o


Os títulos de que trata este artigo não terão poder liberatório para pagamento de
tributos. § 4o O Município procederá ao adequado aproveitamento do imóvel no
prazo máximo de cinco anos, contado a partir da sua incorporação ao patrimônio
público. § 5o O aproveitamento do imóvel poderá ser efetivado diretamente pelo
Poder Público ou por meio de alienação ou concesão a terceiros, observando-se,
nesses casos, o devido procedimento licitatório (FRANCISCO BELTRÃO,
2001, p. 23 - 24)

Não obstante a importância dessas informações, em nosso estudo de caso, em


particular à nossa visita ao bairro São Francisco, podemos perceber empiricamente e diante
dos dados do Censo 2010 - que serão apresentados na próxima seçao deste trabalho - que
sua população é formada por família de baixa renda e, que muitas áreas ocupadas por
moradias, são irregulares.
Diante disso, o Plano Diretor do Município de Francisco Beltrão, classifica a
população de baixa renda, aquela "cuja renda está compreendida entre 0 e 0,5 salários
mínimos. (FRANCISCO BELTRÃO, 2006, p. 08). Todavia, nos deparamos, com
descompassos, entre o que está estabelecido na Lei 3300/2006 e a realidade dos moradores
do bairro São Francisco.
A razão pela qual se manifesta as diferenças, entre o que está escrito no Plano
Diretor e a real situação, precária, dos moradores do bairro São Francisco, se expressa,
pelos seguintes trechos da Lei, os quais, não coincidem, devido a ausência de programas
voltados, tanto ao melhoramente de condições de vida e acessibilidade, como de infra-
estruturas disponíveis a estes moradores, citamos:

[...] universalizar o acesso à produção e melhoramento de bens e atividades


culturais, especialmente na perspectiva da inclusão cultural da população de
baixa renda [...]otimizar o aproveitamento dos investimentos urbanos realizados
e gerar novos recursos, buscando reduzir progressivamente o déficit social
representado pela carência de infra-estrutura urbana, de serviços sociais e de
moradia para a população de mais baixa renda; [...] a produção de unidades
habitacionais para a população de baixa renda, com qualidade e conforto,
assegurando níveis que garantam a acessibilidade, de serviços de infra-estrutura
básica, equipamentos sociais, de educação, saúde, cultura, assistência social,
segurança, abastecimento e esportes, lazer e recreação; [...]aumentar a
acessibilidade e mobilidade dos portadores de deficiência e da população de
baixa renda; [...] Ordenar o sistema viário, através de mecanismos de engenharia
e sinalização, visando a eliminação de pontos críticos. (FRANCISCO
BELTRÃO, 2006, p. 14 - 22)

Podemos perceber assim, em nossa visita ao bairro São Francisco, que não há
correlatividade, entre o que está estabelecido na Lei 3300/2006 e a real situaçao do bairro.
Analisando o Mapa das principais instituições no bairro Nossa Senhora Aparecida -
Anexo B - temos que considerar, que neste mapa, deveria constar também, instituições

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públicas, voltadas ao interesse cultural e social, da população do bairro São Francisco.


Mas, visto que no bairro São Francisco, não há escolas, postos de saúde, estabelecimentos
culturais e construções, prédio ou qualquer estabelecimento, municipal ou estatal,
justificamos assim, o porque do mapa, em Anexo B, não ser denominado por "Mapa das
principais instituições nos bairros Nossa Senhora Aparecida e São Francisco".
Ao que se refere às áreas irregulares ocupadas no bairro São Francisco, também
podemos perceber, notórias diferenças entre o que está escrito no Plano Diretor do
município. Visto que, o que está estabelecido na Lei 3300/3006, não é cumprido, segundo
relatos de moradores do bairro, pelo Poder Executivo Municipal, citamos:

[...] realizar o diagnóstico das condições de moradia no Município


identificando seus diferentes aspectos, de forma a quantificar e qualificar no
mínimo os problemas relativos às moradias em situação de risco, loteamentos
irregulares, áreas de interesse para preservação ambiental ocupadas por
moradia em bairros com carência de infra-estrutura, serviços e equipamentos;
[...] investir no sistema de fiscalização integrado nas áreas de preservação e
proteção ambiental constantes deste plano, de forma a impedir o surgimento de
ocupações irregulares; [...] promover assistência técnica e jurídica para a
comunidade de baixa renda de ocupações irregulares, visando à regularização
da ocupação. (FRANCISCO BELTRÃO, 2006, p. 21 - 22)

Consoantemente as exposições, as informações elencadas a cima, justificam,


conforme informe as informações obtidas junto a prefeitura municipal, importante
diferenças que se referem a especulação imobiliária, aos valores, tanto dos terrenos
disponíveis nos bairros Nossa Senhora Aparecida e São Francisco, como os valores de
IPTU, cobrados em ambos os bairros. Diante disso, vejamos a seguinte tabela:

Tabela 1 - Valor do m² nos bairros Nossa Senhora Aparecida e São Francisco.


Bairro Rua Valor do m²
Antonina R$ 67,91
Sergie R$ 67,91
Nossa Senhora Aparecida. Ponta Grossa R$ 67,91
Tenente Camargo R$ 67,91
Terrenos R$ 550,00
Catigua R$ 6,79
Tabajara R$ 6,79
São Francisco. Francisco Cassiano R$ 6,79
R. Martins R$ 6,79
Terrenos R$ 176,00
Fonte: Arquivo Pessoal

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Consoantemente as informações da Tabela 1, temos que considerar, que para cada


terreno poderá estar variando o valor do IPTU, pois é feita uma análise pelaPrefeitura
Municipal levantando a situação do terreno e localização. Se existir edificação no lote será
analisado também o piso, forro, alvenaria, cobertura, esquadrias, quantidade de banheiros
etc.
Finalizando nossas intenções, a diferença de ambas situações, no contexto real, se
expressa por contrastes muito diferentes. A imagem que fica em nossa mente ao visitarmos
ambos os bairros, são bem distintas. Ao passo que o bairro Nossa Senhora Aparecida se
manifesta por imagens limpas, claras, asseadas e organizadas, o bairro São Francisco,
transmite à quem o vê, uma imagem abarrotada, suja, entulhada e desorganizada, como
sendo um lugar de violência de todos os tipos e de pessoas marginalizadas.

Referências
FRANCISCO BELTRÃO. Plano Diretor do Município de Francisco Beltrão. Lei
3.300/2006. Institui o Plano Diretor Municipal de Francisco Beltrão, nos termos que dispõe
o artigo 182, parágrafo primeiro, da Constituição Federal - Lei Federal nº 10.257/01 –
Estatuto da Cidade e da Lei Orgânica e dá outras providências, 06/11/2006.
_____________________. Estatuto da Cidade e Legislação Correlata. Lei 10.257/2001.
Dispositivos Constitucionais Lei n o 10.257, de 10 de julho de 2001 Lei n o 6.766, de 19
de dezembro de 1979 Índice temático, Brasilia, 2004.

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SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL EM CIDADES PEQUENAS24

Pollyana Poletto25
Unioeste – Francisco Beltrão
polly_poletto@hotmail.com

A segregação socioespacial é um processo que há décadas se expressa no espaço


urbano das grandes cidades. Ela é causada principalmente pela ação dos agentes
produtores do espaço urbano, os quais interferem na estruturação das cidades. A
consequência desse processo é a concentração de uma classe ou camada da sociedade em
uma determinada região ou conjunto de bairro, isolando-se do resto da cidade (VILLAÇA,
2001).
A segregação pode ocorrer de duas formas diferenciadas. Uma delas é a segregação
voluntária, quando “o indivíduo, por sua própria iniciativa, busca viver próximo de outras
pessoas que pertencem à sua classe social. A outra forma é a segregação involuntária, que
ocorre quando o indivíduo ou uma família se veem obrigados, pelas mais variadas forças, a
morar num setor, ou deixar de morar num setor ou bairro da cidade”. (GIST; FAVA, 1968
apud VILLAÇA, 2001, p.147)26.
Nosso objetivo é observar se essas segregações ocorrem em cidades pequenas,
verificando qual delas é mais recorrente, e como são praticadas. Selecionamos para a
pesquisa, a cidade de Pato Branco (localizada no Sudoeste do Paraná), a qual possui cerca
de 80 mil habitantes, sendo considerada uma cidade pequena, mas mesmo assim expressa
problemas relacionados à segregação voluntária e involuntária.
A segregação involuntária ou a autosegregação - onde grupos de pessoas com
maior poder aquisitivo acabam se isolando em condomínios fechados, ou áreas distantes
dos centros urbanos – é pouco praticada na cidade de Pato Branco. Porém, verificamos a
implantação de um loteamento fechado, chamado Eco Ville Bello Villagio, onde foram
disponibilizados 18 unidades de lotes que variam de tamanho e valor. O lote maior possui
dois mil m2, em meio a árvores nativas, pomares e fonte de água. A área comum do
loteamento é de vinte mil m2, com uma infraestrutura parecida com a de um clube,
com local de pesca, salões de festa, piscinas, academia, quadra poliesportiva, bosque e
trilha ecológica. Os preços dos lotes são altos, o que dificulta sua venda. Constata-se que

24
Reflexões vinculadas à pesquisa de Mestrado (em desenvolvimento), sob orientação da Professora Sílvia
Regina Pereira.
25
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná
(Campus de Francisco Beltrão). Integrante do Grupo de Estudos Territoriais (GETERR).
26
(GIST, Noel P. e FAVA, Sylvia F. La sociedade urbana. Barcelona, Ediciones Omega S.A. 1985).

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hoje após três anos de sua inauguração, restam vários lotes vagos. Isso demonstra que a
propaganda sobre a segurança e o destaque para o contato com a natureza, não convenceu
as pessoas pertencentes aos segmentos de maior poder aquisitivo os quais optam por
residir em bairros de alto padrão, mas sem a necessidade de serem fechados.
Talvez isso ocorra porque a cidade não enfrenta altos índices de violência a ponto
de estimular a autosegregação e também pelo fato de que por ser uma cidade pequena, o
contato com a natureza e com os clubes que oferecem o lazer, é facilitado, não justificando
a criação de loteamentos exclusivo.
O que preocupa realmente na cidade de Pato Branco, é a segregação involuntária, a
qual é direcionada para a população mais carente, que sem opção de moradia perto do
centro comercial, acaba direcionando-se para os bairros distantes, muitas vezes sem
infraestrutura como esgoto, escolas, postos de saúde, transporte público, lazer etc. Essa
situação pode ser observada no Bairro São João, onde a população sem condições de
residir perto do cento, ou em bairros com boa infraestrutura, acaba realizando a
“autoconstrução” em áreas com baixo custo de vida. Haesbaert (1995) chama essas
moradias de aglomerados de exclusão, onde a própria exclusão promove o espaço dos
miseráveis Isso dificulta a vida cotidiana dessas pessoas, pois tudo que precisam para
sobreviver está distante e inacessível. Como ressalta Villaça (2001, p. 255):
O longe para elas é reduzido por vários processos: pelas dificuldades de acesso,
inclusive econômico, a um sistema de transportes satisfatório; pelas crescentes
distâncias, em tempo e em quilômetros, a que são impedidas suas casas e,
finalmente, pelo deslocamento dos centros de emprego e subemprego terciários
para a direção oposta à de seus bairros residenciais.

Dentre os vários problemas existentes, no cotidiano da população de menor renda, o


maior deles é o relacionado ao transporte público ineficaz, o que dificulta os
deslocamentos pelas diversas áreas da cidade. Diante da falta da descentralização dos bens
públicos e privados, como mercados, agência bancárias escolas, postos de saúde, áreas de
lazer etc., a população não consegue satisfazer suas necessidades básicas, não se sentindo
pertencente à cidade em que vive. Para ter acesso a esses bens, a população precisa se
deslocar até os centros urbanos, sendo necessário tempo e dinheiro, que são geralmente
escassos na vida dessas pessoas de baixa renda.
Além do exposto, as duas formas de segregação são maléficas para a vida em
sociedade, pois dificulta o convívio entre os diferentes segmentos sociais, prejudicando
sempre os mais necessitados, que é levado para longe dos centros urbanos. A segregação é
ocasionada através do direcionamento de investimentos para determinadas áreas, deixando

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outras de lado. Isso ocorre através da ação dos agentes produtores do espaço urbano, sendo
um deles os “agentes imobiliários”, os quais são os principais culpados pela segregação
dirigida para as classes de baixa renda.
Os agentes imobiliários focam seus investimentos em áreas com altos custos de
aquisição, voltados para compradores em potencial, o que acarreta na valorização dessa
área, impossibilitando a compra por parte da população de baixa renda. Unidos com o
Estado -outro agente produtor do espaço urbano- os agentes imobiliários determinam as
áreas menos valorizadas, que acabam sendo direcionadas à população pobre. O Estado, ao
invés de interferir na localização das moradias e dar auxílio para a população de menor
renda, muitas vezes não cumpre com seu dever, no que diz respeito à:
[...] distribuição e gestão dos equipamentos de consumo coletivos necessários à
vida nas cidades. Entre os consumos coletivos mais importantes no atual
contexto histórico, destacam-se: abastecimento de água, luz, telefone, e a
instalação de redes correspondentes; sistemas viários e de transporte coletivo;
espaços coletivos de lazer e de esporte, equipamentos e serviços de saúde,
educação e habitação para as chamadas classes populares. (RODRIGUES, 1990,
p.20)

Em seus investimentos o Estado privilegia alguns lugares da cidade com


equipamentos de consumo coletivo, deixando de lado outros, que muitas vezes deveriam
ser priorizados.
Várias são as alternativas que o poder público poderia utilizar para amenizar os
problemas ocasionados pela segregação socioespacial. Uma das alternativas está
relacionada à diferenciação tarifária que poderia ser aplicada, de acordo com a localização
e a valorização dos lotes e construções urbanas. Para isso seria importante que o “IPTU
progressivo no tempo” fosse implementado, pois por meio dele seria possível aumentar
gradativamente as taxas para terrenos vazios, principalmente nas áreas centrais. Assim, os
donos dos terrenos vazios seriam incentivados a venderem ou a darem usos a essas áreas
ociosas, impedindo a especulação imobiliária. A especulação imobiliária é uma das causas
da segregação, pois quem possui lotes vazios espera sua valorização e quem não tem
condições de comprá-los se distancia das áreas centrais, como destaca Rodrigues (1990, p.
22):
Os proprietários que deixam a terra vazia, ociosa, sem nenhum uso, apropriam-se
de uma renda produzida socialmente [...] e os que mais precisam usufruir de uma
‘cidade com serviços e equipamentos públicos’ compram lotes/casas em áreas
distantes, onde o preço é mais baixo. Gastam um tempo elevado em
deslocamentos [...] além do custo do transporte, constroem suas casas, em geral,
nos fins-de-semana, organizam-se para obter serviços públicos necessários à
sobrevivência e assim, através do trabalho, conseguem obter ‘melhorias’ para

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estes bairros, aumentando ao mesmo tempo o preço da terra, que beneficiará os


proprietários de terras vazias. (RODRIGUES, 1990, p.22)

Se o poder público implantar medidas que dificultem a especulação imobiliária,


haveria uma diminuição dos vazios urbanos, baixando o valor dos terrenos, o que facilita a
compra por parte da população, que não precisa mais segregar-se em locais extremamente
longes da área central e sem infraestrutura.
Apesar de Pato Branco ser considerada uma cidade de pequeno porte e não possuir
índices elevados de violência, uma pequena parcela da população de alta renda, prefere de
certa forma autosegregar-se em bairros fechados, onde poderá residir próxima de pessoas
com o mesmo nível social. Porém, o que mais chama a atenção é a grande quantidade de
pessoas que sofre com a segregação involuntária, pois acabam residindo em áreas
precárias, sem investimentos por parte do poder público e diante da falta de conhecimento
não cobram seus direitos.
Para que esses problemas sejam minimizados deve haver incentivos para que a
população de menor renda possa se fixar no espaço urbano de forma adequada. O Estado
deve baixar custos para a aquisição e construção das moradias, melhorar a infraestrutura
nos bairros carentes, focando nos serviços públicos, tais como saúde, educação, transporte,
lazer etc., para que os moradores não precisem percorrer longas distâncias para suprir suas
necessidades básicas. Além disso, é preciso que o poder público controle e fiscalize as
ações dos agentes produtores do espaço urbano, no intuito de coibir a especulação
imobiliária e a destinação de áreas urbanas apenas para uma pequena parcela da população.
O poder público deve possibilitar que a cidade seja para todos e não para alguns segmentos
sociais.

Referências:
HAESBAERT, Rogério. Desterritorialização: entre as redes e os aglomerados de exclusão.
In: CASTRO, I. C.; GOMES, P. C. C.; CORRÊA, R. L. Geografia: conceitos e temas. Rio
de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995.
RODRIGUES, Arlete Moysés. Moradia nas cidades brasileiras. 3. ed. São Paulo:
Contexto, 1990.
VILLAÇA, Flávio. Espaço intra-urbano no Brasil. São Paulo: Nobel, 2001.

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RELATO DOS 50 ANOS DO SINDICATO DE TRABALHADORES RURAIS DE


FRANCISCO BELTRÃO CONSTRUÍDO A PARTIR DA MILITÂNCIA27

Cristieli Parizotto Steimbach28


Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Francisco Beltrão – PR
c_parizotto@hotmail.com

O Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Francisco Beltrão, que é a mais antiga


organização de Trabalhadores do Sudoeste do Paraná, foi fundado em 23 de março de
1964, sendo nesta perspectiva considerado a memória viva da trajetória da Agricultura
Familiar. Sua fundação ocorreu praticamente no mesmo instante da instalação do Regime
Militar no início da década de 1960.
Nos anos 1950 até o começo dos anos 1964 o Brasil começou a desenvolver as
indústrias, muita gente saiu do interior para as cidades. O Brasil precisou produzir mais
alimentos e ao mesmo tempo aumentar a exportação, consequentemente a terra valorizou e
com ela o processo de expropriação dos trabalhadores. Também aumentou quantidade dos
sem terra e com eles a luta por terra. Muita gente trabalhava de assalariado sem nenhum
direito, não tinha atendimento à saúde e nem aposentadoria, e as a terra era muito
disputada.
De acordo com informações do STR de Francisco Beltrão, os agricultores e
trabalhadores rurais se unem, se organizam e lutam por melhores condições de trabalho por
todo o Brasil, é assim que segundo o Memorial das Ligas Camponesas 92014), surgem as
Ligas Camponesas, são criados os primeiros Sindicatos de Lavradores e Trabalhadores
Agrícolas, e o povo organiza movimentos como A Revolta dos Colonos no Sudoeste do
Paraná, querendo: Direito a ter a sua terra, Reforma Agrária, Direitos Trabalhistas, Saúde e
Previdência Social.
No Sudoeste do PR, os colonos garantiram o direito à terra, vários assentamentos
foram criados, foi criado o Funrural (que ficou no papel) e, em 1963, o Governo
publicou o Estatuto do Trabalhador Rural - ficou reconhecida a categoria dos
trabalhadores rurais (agricultores de economia familiar e assalariados rurais) e o
direito de ter a sua organização sindical. (FETRAF – SUL, 2013, p.3).

Nessa época, foram criados muitos sindicatos de agricultores e trabalhadores rurais


no Norte, Oeste e Sudoeste do Paraná.
Mas, em 1964 os Militares implantaram a ditadura no Brasil, na qual era proibido
discordar do governo, se organizar e lutar por direitos. O governo proibiu a existência das
27
Texto produzido através de experiências teóricas e praticas a partir do exercício da direção no Sindicato
dos Trabalhadores Rurais.
28
Geografa e presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais.

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Ligas Camponesas. Os Sindicatos foram fechados e reabertos sob controle do governo, só


com de prestar assistência para a saúde aos trabalhadores rurais. Muitos que lutaram foram
presos.
Com isso, a ditadura militar busca desenvolver no Brasil, conforme o interesse
do governo dos Estados Unidos, queria modernizar da agricultura, apoiando os
grandes produtores, priorizando a produção para a exportação, favorecendo a
mecanização e a concentração da terra para mais gente trabalhar nas indústrias
das cidades, estimulando a compra de sementes, adubos e agrotóxicos
produzidos pelas empresas, forçando para que os alimentos produzidos ficassem
mais baratos. (FETRAF – SUL, 2013, p3).

Outros elementos a serem destacadas são os sindicatos que se transformaram em


consultórios médicos e dentários, enquanto os trabalhadores eram proibidos de se organizar
e lutar.
Nas cidades e também na agricultura, com o importante apoio de várias Igrejas, das
Pastorais e das Comunidades de Base, multiplicou-se a organização de oposições sindicais
que reconquistaram muitos sindicatos (porque como se dizia “O SINDICATO É
NOSSO”). Tiraram o atendimento médico-odontológico de dentro do sindicato,
começaram a discutir os problemas com reuniões nas comunidades, incentivaram os jovens
e as mulheres a se sindicalizar (antes a mulher era dependente do marido e não podia ser
associada). “Isso foi chamado de Novo Sindicalismo, do qual só podiam participar os
sindicatos considerados combativos e de luta”. (FETRAF – SUL, 2013).
E já em 1980 esse Novo Sindicalismo criou a primeira organização de sindicatos
combativos da região Sul, a Articulação Sindical Sul. E começaram as conquistas:
- Fim das Notas Promissórias Rurais que era uma forma de pagamento dos produtores de
suínos.
- Fim da matança indiscriminada de suínos, sob a alegação da peste suína.
- Luta e melhoria de preços agrícolas.
- Vários assentamentos da Reforma Agrária.
Em 1983, os sindicatos rurais combativos são os mais números no Congresso que
cria a CUT – juntando a organização e a luta dos trabalhadores do campo e da cidade. A
mesma CUT que é a maior Central do Brasil e da América e que, no ano de 2013,
comemorou 30 anos de existência.
Com essa união em crescimento, e com importante participação de outros movimentos,
como o MST, o MAB e os Movimentos de Mulheres e, depois de vários anos de muita luta
(abaixo assinados, mobilizações, caminhadas, caravanas a Brasília), vieram as conquistas
na Constituição de 1988.

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- Anistia da correção monetária dos financiamentos rurais.


- Aposentadoria da agricultora aos 55 anos e do agricultor aos 60 anos, com um
salário mínimo.
- A garantia de uma nova lei agrícola.
- O SUS com o direito à saúde a toda a população.
O crescimento do sindicalismo rural combativo, possibilita que os rurais seja uma
das primeiras categorias a ter uma organização especifica dos sindicatos dentro da CUT, os
Departamentos dos Trabalhadores Rurais, em cada estado e também no nível nacional. E,
na região Sul, criou-se o Fórum Sul dos Rurais da CUT.
Junto com os outros estados e movimentos, muitas vitórias foram alcançadas,
algumas já definidas na Constituição, mas com pouca vontade de governo de colocar em
prática. E é preciso não esquecer, todas essas conquistas aconteceram com muito sacrifício,
muita luta, muitas mobilizações e muita união e muita organização.
O Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Francisco Beltrão, vivenciou todas as
fases do desenvolvimento regional: A fase da colonização, do êxodo rural, a luta pela terra,
a mecanização, a urbanização. Foi protagonista de diversas lutas como dos suinocultores,
da Reforma Agrária, da previdência, do crédito, do associativismo e cooperativismo, da
agricultura orgânica e da organização das mulheres. Desempenhou também importante
trabalho na formação de lideranças da agricultura familiar que foram determinantes na
construção de instrumentos de organização e de políticas pública.
O Sindicato dos Trabalhadores Rurais passa basicamente por 3 momentos
históricos: o momento assistencialista aonde o Sindicato era atrelado ao governo e na sede
do Sindicato oferecia dentista, medico... Estando submetido às normas do governo. No
segundo momento foi o momento combativo aonde o agricultor tinham facilidade em se
mobilizar, mas não havia propostas concretas em favor dos agricultores e na terceira fase é
a fase do Sindicalismo propositivo aonde além dos agricultores se mobilizarem eles
proporem ações, políticas de fortalecimento da classe.
Conquista-se o PRONAF (programa nacional de fortalecimento da agricultura
familiar), luta histórica dos agricultores, com juros baixos e rebate no financiamento. Na
previdência social a conquista da aposentadoria para a mulher aos 55 anos e o homem com
60 anos, a conquista do salário maternidade e o auxilio doença; a conquista do seguro
agrícola, política para a habitação rural, a implantação do PAA (programa de aquisição de
alimentos). O Programa Fome Zero, o credito fundiário, programa de acesso a terra;
programas de formação alternativa como o Terra Solidária, Consorcio Social da Juventude

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Rural e Projeto Mulher. Juventude Semeando Terra Solidária. São agricultores (as)
familiares que estão discutindo questões relacionadas ao projeto de desenvolvimento
sustentável e solidário, gênero, juventude, organização sindical e políticas publicas.
A agricultura familiar encontra-se diante de um grande desafio. Se por um lado se
consolida como categoria produtiva, capaz de se articular, propor reivindicar, e negociar
avanços estruturais necessários por outro lado se vê diante de um novo quadro global, que
privilegia o novo quadro global que privilegia o livre comercio que impõe uma
concorrência injusta que achata o ganho dos que vivem em economia familiar e coloca em
xeque o modelo de produção. Com a revolução verde os agricultores (as) familiares foram
induzidos a acreditar em um novo modelo, centrado na produção de grãos com uso da alta
tecnologia poderia garantir renda e desenvolvimento. Os agricultores (as) empobreceram
tornaram-se dependentes de empresas multinacionais. A globalização da economia fora do
domínio da propriedade agravaram ainda mais a crise e muitos abandonaram a roca.
Entretanto muitos resistiram e estão construindo as bases de um modelo alternativo que
passa pela produção agroecológica, pela diversificação das atividades, pelo processamento
e industrialização da ateria prima na própria propriedade, reduzindo a dependência das
grandes empresas, construindo associações cooperativas e em conjunto enfrentando os
problemas mostram que pode haver um modelo diferente, mais solidário e sustentável que
garanta a vida digna as famílias e o equilíbrio do meio ambiente.
Para o Sindicato a participação feminina tem extrema importância, tanto na
organização do Coletivo de Mulher, como na composição da direção que é metade do
quadro da direção. A história do Sindicato traduz muito a luta das mulheres que
acamparam, que se mobilizaram em defesa da categoria e da classe.
Os projetos que de forma mais direta beneficiam os agricultores são: o Projeto
Água e Qualidade de Vida, que visa à proteção de fontes, o programa de habitação rural, o
programa Fome Zero, o PAA e o PRONAF.
O mutirão da agricultura familiar aonde o Sindicato vai ate as comunidades levar
as informações, fazendo um processo de formação, fazendo campanha de documentação e
sindicalização. O Projeto Terra Solidária de alfabetização de jovens e adultos, o Projeto
Mulher que resgata a participação da mulher nos movimentos sociais, o consorcio da
juventude que trabalha com a juventude sobre geração de renda e participação da
juventude, o Projeto Todas as Letras em parceria com a CUT. Acreditamos que só através
da organização construímos referencias e experiências de participação dos agricultores.

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Uma grande preocupação do movimento sindical e a falta de sucessão e a


masculinizarão da agricultura familiar, discutir a organização da juventude é fundamental,
o sindicato desenvolve atividades municipais com a juventude da mesma forma que atua
ativamente nas ações da juventude em nível de Região Sul pela FETRAF-SUL-\CUT,
como em um acampamento com mais de dois mil jovens para discutir formação e geração
de renda para a juventude.
Foi trabalhado no PVR (projeto vida na roça) o aspecto de cultura e lazer para as
comunidades, com mais intensidade para a juventude, por ter parado o projeto não foi mais
trabalhado, mais ainda algumas comunidades ainda estão trabalhando com teatro e dança.
A habitação rural trouxe avanços significativos na geração de renda do município,
tanto para os agricultores (as) familiares, como para as lojas de materiais de construção,
tanto para a construção civil. Com a criação da COOPERHAF – Cooperativa de Habitação
da Agricultura Familiar, a FETRAF viabilizou o maior programa rural de construção de
moradia digna.
E hoje através da organização de mulheres e uma pauta unificada para reivindicar e
debater: Luta pela implantação da Delegacia Regional de Mulher; Ampliação do Salario
Maternidade para 6 meses para todas as mulheres; Criação de Secretarias Municipais dos
Direitos da Mulher.
E ainda temos muito a conquistar e a trabalhar, por isso é bom lembrar fatos
históricos e importantes da atuação deste Sindicato na historia do Município de Francisco
Beltrão, que completa 50 anos de atuação, de lutas, mobilizações e conquistas para os
agricultores e agricultoras familiares.

Referências:
FETRAF-SUL, Congresso estadual da agricultura familiar: consolidando o
sindicalismo da agricultura familiar, 2013.
LUIZ PIRIN, 2014, entrevista.
PIRIN, LIZANDRA. Sindicalismo rural e agricultura familiar no município de
Francisco Beltrão-PR: 2006. 210 f. Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade
Estadual de Londrina/Campus de Londrina, Londrina, 2006.

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MALTHUS: UM OUTRO OLHAR

João Luciano Bandeira29


Universidade Estadual do Oeste do Paraná
Jl5bann@gmail.com

Introdução
O presente trabalho é uma reflexão inspirada no trabalho do Prof. Dr. Fabrício
Pedroso Bauab: “Ratzel: um outro olhar”30 no qual o eminente Professor de forma
didática e sucinta demonstra a simplificação em torno de Friedrich Ratzel na alcunha
estereotipada de “determinista”. Determinismo que conforme o referido texto expressou
uma face real acerca da relação sociedade-natureza, deixando de lado a face da busca da
compreensão da realidade e essência da totalidade que o geógrafo alemão procurava. Neste
trabalho tentamos uma breve reflexão acerca de um personagem não menos polêmico na
história da Ciência e da Ciência Geográfica: o economista e demógrafo britânico Thomas
Robert Malthus. O lado perverso do “pai da demografia” e de sua polêmica obra “Ensaio
Sobre a População” já foram competente e amplamente e criticados por muitos
acadêmicos. Numa perspectiva dialética traremos outras informações para um dos maiores
debates da ciência mundial, que envolve uma gama de áreas da Ciência e que parece que se
estenderá por um longo espaço de tempo.

O Pensamento Neomalthusiano
O termo “neomalthusiano” é amplamente utilizado na atualidade para se referir
àqueles que defendem o fim das pessoas com carência material ou meios para sobreviver.
Num sentido mais radical àqueles que defendem o fim dos mais fracos por sua
incapacidade nata em resistir frente aos mais fortes. Saindo do censo comum observa-se
que se trata de um preconceito de classe, onde a acusação é que aqueles que não acumulam
capital são menos eficientes, incompetentes etc. Assim ocupam o seu lugar de direito nos
estratos inferiores da sociedade. O preconceito ainda dá uma solução fácil para o fim da
miséria, acreditando que o extermínio e a nulidade da taxa de natalidade entre os pobres
daria o fim necessário aos “inferiores”. Em nenhum momento este preconceito classista
atinge o centro da verdade do capitalismo, onde comprovadamente a causa da desigualdade

29
Acadêmico do Programa de Mestrado em Geografia PPGG – Unioeste / Francisco Beltrão.
30
Texto trabalhado no ano de 2009 no primeiro ano do curso de Licenciatura em Geografia na unioeste –
campus de Francisco Beltrão. Devido a biografia recente do cientista, o presente trabalho adquire o caráter de
homenagem ao mesmo.

Eixo 1: Desenvolvimento Econômico e Dinâmicas Territoriais Página 65


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“Geografia: Ambiente e Sociedade”. Francisco Beltrão: 05-08 Ago 2014.

se dá pela má distribuição da riqueza e exploração do trabalho ou trabalho não pago (mais


valia).
A Teoria Populacional Neomalthusiana como conhecemos hoje é consequência do
forte crescimento populacional nos últimos séculos como exposto no gráfico 1. Onde na
negação do mecanismo de exploração do capitalismo mundial colocava na natalidade de
seres humanos pobres a culpa pelas desigualdades.
Conforme a FAO (2014), atualmente com a produção de alimentos seria possível
manter 14 bilhões de pessoas, sendo que conforme o gráfico 1 o número atual é de 7,8
bilhões, ou seja, pouco mais da metade. Isso é uma evidencia clara que o problema
atualmente não é produção, mas sim a distribuição. O capitalismo produz inexoravelmente
mais riquezas que os demais modos de produção, porém o mesmo tem o caráter de
concentração e acumulação, aprofundando desta forma as desigualdades. Estas
peculiaridades do modo de produção foram elucidadas por Marx, que foi um crítico voraz
de Malthus: “A teoria de Malthus (...) é importante em dois aspectos: 1. Porque outorgou
uma expressão brutal ao brutal modo de pensar do capital; 2. Porque afirmou a existência
da superpopulação em todas as formas de sociedade” (MARX apud VIANA).
As críticas a Malthus pelo caráter abstrato e a-histórico de sua obra, foram
oportunas para Marx desenvolver a sua teoria da população. A concepção
metafísica/religiosa de Malthus o impossibilitou de ver a transformação técnica do mundo
que se iniciava. Enquanto o gênio de Marx a caracterizou de forma plena31 sendo mais
aceitável. Onde a teoria do exército industrial de reserva teve sua gênese.

As Duas Faces das Contribuições Científicas de Malthus


A Segunda Revolução Industrial foi uma das responsáveis pela elevação na
produção material na humanidade e alimentos, sendo um marco para que os erros de
Malthus ficassem mais visíveis. O mesmo viveu entre 1766 e 1834, desta forma não viu
descobertas da segunda metade do século XIX como insumos para a agricultura oferecidos
pela indústria, com químicos para combate a pragas, sementes melhoradas, mecanização e
outros. E com os transportes com o barco a vapor, estradas de ferro e etc. Que acabaram
facilitando o deslocamento de alimentos e beneficiando regiões mais desenvolvidas,
inclusive a Europa. No período em que Malthus escreve suas obras, havia além das
mazelas do sistema capitalista - que era superior em produção ao antigo sistema feudal, por

31
MARX, K. O Capital. São Paulo. Nova Cultural, 1983.

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Sociedade” Francisco Beltrão: 05-08 Ago 2014.

gerar mais riqueza, porém que aprofundava as desigualdades pelo processo de acumulação
– existia a carência alimentar.
GRÁFICO 1: DEMOGRAFIA MUNDIAL (1800-2020).
(1800

Fonte: ONU. Fundo das Nações Unidas para a População. O estado


estado da população mundial 2014.
Elaborado pelo autor.

Não concluímos, como Malthus (1992), que, sem a limitação voluntária de


nascimentos, a população aumente muito mais de pressa que a produção. Na verdade,
quando o conjunto das condições necessárias ao desenvolvimento rápido de um novo
no
sistema mais produtivo encontra-se
encontra se reunido, a produção agrícola pode muito bem aumentar
mais rapidamente que a população (isto é, a produtividade do trabalho agrícola aumenta), e
então o excedente agrícola aparece, o que permite à população aumentar, além
al de ainda
melhorar sua alimentação e desenvolver as atividades não agrícolas e as
cidades/urbanização. Foi o que aconteceu durante os séculos XI e XII no noroeste da
Europa, com o desenvolvimento do cultivo com tração pesada. E o que aconteceu, nos
séculos
os XVIII e XIX, como apontam Mazoyer & Roudart (2009).
Estima-se
se que a população da Europa ocidental tenha se multiplicado por três ou
quatro na Idade Média central. Ninguém duvida que a melhoria do regime alimentar
contribuiu bastante para esse acréscimo demográfico rápido. As fomes mortíferas se
espaçaram e quase desapareceram, enquanto a penúria local, menos frequente, foi atenuada
devido ao desenvolvimento do comércio de grãos. (...) Mais bem alimentada, a população
ficou mais resistente às doenças. A mortalidade,
mortalidade, infantil principalmente, diminuiu. Práticas
malthusianas (celibato, casamentos tardios, abortos, infanticídios...), constatadas no

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período de superpovoamento precedente (século X), também recuaram (PERROY apud


MAZOYER & ROUDART, 2009 p. 333).
O quadro 1 mostra o contexto de penúria e fome em que Malthus escreveu sua
obra. Refere-se à França, mas hipoteticamente era a situação de toda a Europa Ocidental.
Mostrando o seu acerto na questão alimentar. Acertos que param por aí por falta de crítica
ao sistema e visão de protagonismo do ser humano em ser capaz de através de o trabalho
mudar a realidade material da humanidade e consequentemente a própria humanidade.
Marx a partir de suas críticas a Malthus mostrou de forma consagrada que com o aumento
da riqueza pode haver o aumento da pobreza. Assim não seria uma mera questão de
produção, mas sim distribuição.
Quadro 1: Evolução da População da França (em seus limites atuais) do Ano 1000 ao
ano 1750.
FOME,
CARESTICA,
PENÚRIA,

MILHÕES DE PERNÚRIA E
HABITANTES FOME

RECORRÊNCI
REVOLUÇÃO AS DA CRISE
AGRÍCOLA

RECONSTRUÇÃO

CRISE

Fonte: MAZOYER & ROUDART, 2009. Adaptado pelo autor.

Quem foi Thomaz Robert Malthus


Malthus era um religioso. Recebeu uma formação sacerdotal e como visto ao
analisar o passado tinha razão em caracterizar o crescimento populacional e o alimentar,
porém cometeu um equívoco grandioso em não considerar os efeitos da evolução técnica.
Muitos outros erraram na história da ciência, porém Malthus foi mais visado neste
processo por ter sido um intelectual influente em sua época. Fez parte da Political
Economy Club (1821), Royal Society of Literature (1824), Académie Française des

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Sciences Morales et Politiques (1833) Real Academia de Berlim (1833) e foi um dos
patronos e fundadores da Statical Society of London (1834).
Na obra de Malthus é visível e podemos perceber em raciocínios e citações a
influência de Jean-Jaques Rosseau, David Hume e Godwin. Em sua época tendo
influenciado outros intelectuais: David Ricardo, Jhon M. Keynes e Charles Darwin32.

Conclusão
Concluímos com um olhar materialista que Thomas Robert Malthus estava correto
no que se tratava de produção alimentar no período em que escrevera. Escreveu sobre o
passado e ao analisar o futuro não viu a dimensão da evolução técnica existente, assim
como o processo contemporâneo a ele: a Segunda Revolução Agrícola. Como lembrado
por Ernane Galvêas, Malthus não viu a evolução dos métodos anticoncepcionais ao longo
do século XX, assim acreditou em seu cálculo de evolução populacional em proporção
geométrica (2, 4, 6, 8, 10, 12,...). Também não viu a Segunda Revolução Agrícola em sua
plenitude, nem a Segunda Revolução Industrial. Não conheceu desta forma os grãos
híbridos, adubos químicos, técnicas mais adequadas para o manejo do solo, irrigação etc.
Assim acreditou que a produção de alimentos continuaria conforme as estatísticas do
período mostravam, acontecendo em uma proporção aritmética (1, 2, 3, 4, 5, 6, ...). Este foi
um erro universalmente conhecido do demógrafo-economista. De qualquer forma houve
uma grande contribuição da obra malthusiana para Darwin e Keynes desenvolverem seus
trabalhos33. Mostrando os dois lados de sua obra no ínterim deixando clara a não nulidade
da mesma.

Referências
BAUAB, F. Ratzel: um outro olhar. Francisco Beltrão, 2009.
KEYNES, J. M. Some economic consequences of a declining population, The Eugenics
Review XXIX: 13-17, London, 1937.
MALTHUS, T. R. Ensaio Sobre a População. São Paulo. Nova cultural, 1996.
MARX, K. O Capital. São Paulo. Nova Cultural, 1983.
ONU. Fundo das Nações Unidas para a População. O estado da população mundial 2014.
MAZOYER, M. ROUDART, L. História das Agriculturas no Mundo. São Paulo. Editora
Unesp, 2009.
VIANA, N. Teoria da população em Marx. In: Boletin Goiano de Geografia v.26 . n.2,
jul/dez. 2006.

32
As informações bibliográficas sobre Malthus foram retiradas do prefácio da edição brasileira do Ensaio
Sobre a População, da coleção Os Pensadores. O prefaciador da referida obra fora Ernane Galvêas.
33
Teoria da Demanda Efetiva formulada por Keynes foi embasada na obra malthusiana. Darwin também as
aplicou a plantas e animais para desenvolver sua obra clássica "A Origem das Espécies".

Eixo 1: Desenvolvimento Econômico e Dinâmicas Territoriais Página 69


Eixo 2:
Dinâmica, Utilização e
Preservação do Meio
Ambiente
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“Geografia: Ambiente e Sociedade”. Francisco Beltrão: 05-08 Ago 2014.

ANÁLISE DE PARÂMETROS FISIOGRÁFICOS EM BACIAS DE


CAPTAÇÃO DE AFLUENTES DO RIO MARRECAS E DO RIO MARMELEIRO1

Josielle Samara Pereira2


Unioeste/Fco. Beltrão
E-mail: josy.samara@hotmail.com

Elvis Rabuske Hendges3


Unioeste/Fco. Beltrão
E-mail: elvis_hendges@hotmail.com

Contextualização do Problema
Nas últimas décadas, a humanidade vem se defrontando com toda uma série de
problemas globais, sejam ambientais, econômicos, financeiros, de mercado e sociais. Neste
quadro, as preocupações com o ambiente, em geral, e com a água, em particular, adquirem
especial importância, pois as demandas estão se tornando cada vez maiores, sob o impacto
do crescimento acelerado da população e do maior uso da água, impostos pelos padrões de
conforto e bem-estar da vida moderna (MOTA, 1995).
É nesse contexto que as bacias hidrográficas assumem um papel importante no
planejamento e gestão ambientais, uma vez que representa a unidade de produção agro-
silvo-pastoril mais racional de se trabalhar, porque todos os fatores afetam a produção e o
equilíbrio ambiental refletem sobre suas características físicas bióticas e até mesmo
antrópicas (RESCK, 1992).
A bacia hidrográfica é uma área de captação natural da água oriunda das
precipitações que faz convergir o escoamento para um único ponto de saída. A bacia
hidrográfica compõe-se de um conjunto de superfícies vertentes e de uma rede de
drenagem formada por cursos de água que confluem até resultar em um leito único no seu
exutório (TUCCI, 1997).
Para entender a dinâmica de uma bacia hidrográfica, é preciso expressar em valores
quantitativos os importantes parâmetros fisiográficos (área, fator de forma, coeficiente de
capacidade, altitude média, densidade de drenagem, comprimento do escoamento
superficial, comprimento da bacia, sinuosidade do curso d’água, dentre outros). Porém,
deve-se ressaltar que esses parâmetros, nenhum deles, são capazes de facilitar o
entendimento da complexidade de uma bacia hidrográfica.

1
Trabalho desenvolvido na disciplina de Geoprocessamento do Curso de Geografia Bacharelado;
2
Acadêmica do curso de Geografia da Unioeste;
3
Professor do curso de Geografia da Unioeste.

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Devido à grande importância da Bacia do Iguaçu para a região sudoeste do Paraná,


no que diz respeito ao abastecimento humano, recreação, descarga de águas residuais e
outros, faz-se necessário avaliar de forma consistente e bastante criteriosa os afluentes e
subafluentes que formam e alimentam esta bacia. Sabe-se que muitos dos problemas
ambientais apresentados a jusante em uma bacia hidrográfica são resultados de uma ação
antrópica que muitas vezes degrada o meio ambiente. Porém deve-se levar também em
conta as condições físicas naturais de cada sistema de captação, assim sendo pode-se
considerar que algumas bacias hidrográficas são mais susceptíveis a degradação ambiental
do que outras áreas de captação.
Assim como principal objetivo a presente pesquisa visa definir e avaliar as
características fisiográficas de duas microbacias com o intuito de gerar um banco de dados
no que se refere ao comportamento hidrológico das bacias, para assim, fazer comparações
entre elas nos índices como o fator de forma, compacidade da bacia, a densidade de
drenagem, sinuosidade do rio principal e a extensão média de escoamento.

Metodologia
Considerando os problemas ambientais que surgem muitas vezes nas áreas das
nascentes dos rios principais resolveu-se estudar de forma comparativa duas microbacias
uma localizada na região das nascentes do rio Marrecas e a segunda localizada nas
nascentes do rio Marmeleiro. Para fins de reconhecimento a primeira microbacia foi
nominada de microbacia A e a segunda microbacia foi nominada de microbacia B.
As constantes inundações na área urbana de Francisco Beltrão, provocadas pela
cheia do rio Marrecas estima-se que a ação antrópica intensa causada por uma agricultura
tradicional nas áreas das nascentes desse deste rio pode estar auxiliando no soterramento
do rio pela erosão do solo nas lavouras, bem como acelerando o escoamento superficial das
águas das chuvas. Tal problema ambiental não é percebido com a mesma frequência no rio
Marmeleiro, que apresenta as mesmas características de ocupação em sua região de
nascentes.
O clima predominante de Francisco Beltrão e também em Marmeleiro, devido à sua
proximidades, na Classificação de Köppen é Cfa ou seja, um clima temperado, com
invernos amenos, cujas temperaturas são superiores a -3°C e inferiores 18°C e verões
quentes com temperaturas superiores a 22°C. Apresentam ainda índices pluviométricos
muitos altos, principalmente Beltrão, que é um dos maiores índices encontrados no Brasil,
chegando a mais de dois mil (2000) milímetros ao ano. (IBGE, 2010)

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Desta forma para a determinação dos índices fisiográficos naturais das bacias
hidrográficas A e B foi utilizada como base as Cartas Topográficas do Exército na escala
de 1:25.000. E para a extração das informações como a área de drenagem (A) e do
perímetro da área (P), utilizou-se papel transparente para fazer a delimitação das
microbacias para posteriormente as informações serem passadas para papel milimetrado,
onde foi possível calcular a área e o perímetro, através de cálculos feitos manualmente.
Também foram extraídas da cópia informações como o comprimento do rio principal,
comprimento total da rede de drenagem, comprimento do talvegue do rio principal.
O coeficiente de compacidade (Kc), o fator de forma(Kf), a densidade de drenagem
(Dd), extensão média do escoamento superficial (l) e a sinuosidade do curso de água (Sin)
são índices desenvolvidos e adaptados para o Brasil por CHRISTOFOLETTI (1974; 1980)
onde dados obtidos por meio de cálculos matemáticos que levam em conta a área da bacia,
o seu perímetro e a extensão dos rios e córregos definem se bacias hidrográficas através de
seus aspectos naturais de captação e escoamento são mais susceptíveis a inundação.

Resultados e analises
A microbacia A apresentou uma área de 8.375.000 m² com um perímetro de 13.000
m e a B apresentou uma área de 2.187.500 m² com perímetro de 6.750 m, ficando bem
claro a superioridade em grandeza da bacia A sobre a B. Para Tucci (2000), este parâmetro
é considerado fundamental para definir a potencialidade hídrica da bacia hidrográfica, por
que seu valor multiplicado pela lâmina da chuva precipitada define o volume de água
recebido pela bacia,desta forma podemos considerar a microbacia A com uma
potencialidade hídrica bem superior ao da microbacia B.
Em outro passo foi estabelecida a hierarquia fluvial dessas áreas que segundo
(CRISTOFOLETTI, 1980), onde a hierarquia fluvial consiste no processo de se estabelecer
a classificação de determinado curso de água (ou da área drenada que lhe pertence) no
conjunto total da bacia hidrográfica na qual se encontra. Como resultado de tal
classificação obteve-se a microbacia A como uma bacia de 4º ordem, e a microbacia B, de
3º ordem.
Fator Forma (Kf) que relaciona a forma da bacia com a de um retângulo,
correspondendo a razão entre a largura média e o comprimento axial da bacia, podendo
através do resultado ser interpretada a tendência da bacia apresentar enchentes, pois uma
bacia com Kf baixo apresenta menor propensão a enchentes que uma bacia com Kf mais
alto e de mesma área. A microbacia A apresentou um Kf de 0,3038 e a microbacia B um

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Kf de 0,4320. Desta forma mesmo tendo a microbacia A um potencial hídrico maior de


captação das águas da chuvas, a sua forma estabelece um risco menor as enchentes do que
a microbacia B.
O Coeficiente de compacidade (Kc) por sua vez que relaciona a forma da bacia com
um círculo. Constitui a relação entre o perímetro da bacia e a circunferência de um círculo
de área igual ao da bacia (CARDOSO et al., 2006), sendo que o coeficiente mínimo igual á
1 (um) corresponde uma bacia circular, portanto quanto maior o Kc menos propensa a
enchentes será a bacia. A bacia A apresentou um Kc de 1,26 e a B um Kc de 1,28. Porém
como o resultado está muito próximo pode-se considerar que ambas as microbacias
estudadas possuem uma circularidade bastante semelhante.
Já a densidade de drenagem (Dd), correlaciona o comprimento total dos canais de
escoamento com a área da bacia hidrográfica, assim a microbacia A apresentou uma Dd de
0,0019 e a microbacia B um Dd de 0,0026. Para Christofoletti (1980), à medida que
aumenta o valor numérico da densidade há diminuição quase proporcional do tamanho dos
componentes fluviais das bacias de drenagem, o que de acordo com Garcez & Alvarez
(1998), significa que se existir um número bastante grande de cursos de água numa bacia,
relativamente a sua área, o deflúvio atinge rapidamente os rios, e, assim sendo, haverá
provavelmente picos de enchentes altos e deflúvios de estiagem baixos. Desta forma a
microbacia B possuiu uma densidade maior, ou seja existem mais cursos d’água em sua
área de captação do que na microbacia A, o que aumenta o risco do nível dos mesmos se
elevar mais facilmente.
Sinuosidade do curso d’água (Sin), é a relação entre o comprimento do rio principal
e a medida em linha reta entre o ponto inicial e o final do curso d’água e mede o fator
controlador da velocidade do escoamento, assim a microbacia A apresentou um Sin de
1,0824 e a microbacia B um Sin de 1,0843, ou seja a sinuosidade de ambos os rios
principais é muito semelhante, fator este que pode ser explicado pela proximidade
geológica e geomorfológica das áreas de estudo.
Extensão média de escoamento (El) que indica a distancia média que a água da
chuva teria que escoar sobre os terrenos da bacia (em linha reta) do ponto onde ocorreu sua
queda até o curso d’água mais próximo, apresentou para a microbacia A um El de
398,8095 m e para microbacia B um El de 243,0555 m, ou seja, a distancia percorrida pela
água na microbacia B entre o ponto da chuva e o canal de escoamento mais próximo é
praticamente a metade da distancia que a mesma precisaria percorrer na microbacia A.

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Conclusão
Como principal análise dos resultados deve-se aqui concluir que apesar a
microbacia B localizada na região das nascentes do rio Marmeleiro apresenta um maior
potencial natural de escoamento instantâneo das águas das chuvas do que a microbacia A
localizada na região das nascentes do rio Marrecas.Tal maior potencial natural de
escoamento pode em áreas a jusante provocar uma maior risco de inundações gerado pelo
rápido acúmulo da água das chuvas no leito do rio principal.
É sabido porem que as inundações que ocorrem na cidade de Francisco Beltrão
(cortado pelo rio Marrecas) são mais frequentes que as inundações ocorridas na cidade de
Marmeleiro (cortada pelo rio Marmeleiro), assim se generalizarmos as condições naturais
dos aspectos fisiográficos estudados na microbacia A e da microbacia B pode-se perceber
que as condições de aspecto humano podem estar interferindo diretamente para a
ocorrência das inundações que afetam a cidade de Francisco Beltrão. Tais condições
podem ser pela agricultura intensiva que retira a vegetação natural ocasionando um maior
escomamento superficial e uma maior erosão e o subsequente assoreamento dos leitos dos
rios.

Bibliografia
CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia. São Paulo, Edgard Blucher, 2a ed., 1980
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. IBGE Cidades@. Censo IBGE,
2010. Disponível em <http://cidades.ibge.gov.br/>. Acessado em Out. 2013.
MOTA, S. Preservação e Conservação dos Recursos Hídricos. Rio de Janeiro, ABES,
1995.
RESCK, D. V. S. Manejo e Conservação do Solo em Microbacias Hidrográficas.
Planaltina, Embrapa, 1992.
TUCCI, C. E. M. Hidrologia: ciência e aplicação. 2a ed. Porto Alegre: Editora da
Universidade: ABRH, 1997.
TUCCI, C. E. M. Avaliação e Controle da Drenagem Urbana. Porto Alegre, Ed.
Universidade/UFRGS, 2000.

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A DINÂMICA DOS SISTEMAS ATMOSFÉRICOS NO MÊS DE MAIO DE 2009


NO MUNICÍPIO DE CAMPO MOURÃO/PR4

Dean Gomes de Oliveira5


Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Francisco Beltrão
E-mail: professordeanoliveira@gmail.com

Introdução
O município de Campo Mourão está localizado na mesorregião Centro Ocidental
Paranaense é um dos importantes centros regionais do Estado do Paraná, destacando-se na
produção agrícola brasileira. De acordo com Borsato e Mendonça (2013) o município está
localizado a -24º 02' 44'' de latitude e -52º 22' 59'' de longitude, mostrando que a cidade
está próxima do Trópico de Capricórnio, paralelo de referência climática. O Trópico
delimita as zonas climática da Terra: ao sul, tem-se o clima temperado; ao norte, o clima é
o tropical (NIMER, 1979).
Por se tratar de uma zona de transição climática, entre o clima tropical e o
subtropical, a pesquisa parte de uma proposta do estudo das participações dos sistemas
atmosféricos no outono do hemisfério Sul, mais precisamente do mês de maio de 2009 em
Campo Mourão, cuja dinâmica sofre interferências tanto do clima tropical, como do
subtropical.
Na classificação de Koppen, o clima da região é o mesotérmico sempre úmido com
verões quentes, e invernos brandos, representado pela sigla Cfa. Com relação à
climatologia dinâmica, o outono, estação intermediaria entre a quente (verão) e a mais fria
(inverno), as massas de ar a que prevalecem são as de alta pressão, representadas pela
massa de ar Polar atlântica (mPa), e as de baixas pressão, representadas pelo Sistema
Frontal (SF) e massa Tropical continental (mTc). (BORSATO; JUNIOR, 2009)
Em relação a metodologia, seguiu-se a concepção dinâmica de clima, proposta por
Sorre (1951). A dinâmica da Circulação foi investigada na escala sinótica e analisada
também para a escala local. Os sistemas atmosféricos foram quantificados a partir da
leitura e interpretação das cartas sinóticas da Marinha do Brasil, metodologia proposta por
Pédelaborde (1970), e das técnicas desenvolvidas por Borsato (2006). (BORSATO;
MENDONÇA, 2013).

4
As discussões apresentadas neste trabalho compuseram o trabalho final apresentado à disciplina de
“Climatologia Dinâmica” do curso de Licenciatura em Geografia da Universidade Estadual do Paraná –
UNESPAR, campus de Campo Mourão-PR.
5
Graduado em Geografia (Licenciatura) pela Universidade Estadual do Paraná – UNESPAR, campus de
Campo Mourão-PR. Mestrando do Programa de Pós-Graduação Strictu Sensu em Geografia, pela
Universidade Estadual do Oeste do Paraná, campus de Francisco Beltrão-PR.

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Em relação aos sistemas atmosféricos (Figura 01), foram utilizados os que atuam na
região Centro-Sul brasileira, ou seja: Sistema Frontal (SF), massa Tropical continental
(mTc), massa Tropical atlântica (mTa), massa Polar atlântica (mPa), massa Equatorial
continental (mEc). (VIANELLO; 2000).

Figura 1 - Posição média dos centros de ações dos sistemas atmosféricos que atuam no clima do
Brasil.

Fonte: BORSATO; MENDONÇA (2013)

Para o registro dos sistemas atmosféricos, foram elaboradas tabelas em planilha do


Excel®. Atribuiu-se valores numéricos (24) para o dia em que um único sistema atuou na
região e, às vezes, (12) para cada um, quando a região esteve sob a confluência de dois
sistemas, ou valores diferentes, a julgar pelo tempo de participação. (BORSATO;
MENDONÇA, 20013)
Já a pressão atmosférica analisada nas cartas sinóticas disponibilizadas pela
Marinha do Brasil foi considerada pressão baixa quando aquém de 1013hPa, e alta quando
acima desse valor.

Resultados e discussões

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Sociedade” Francisco Beltrão: 05-08 Ago 2014.

O mês de maio faz parte do outono, estação que é caracterizada pelas noites mais
longas que os dias. No decorrer do mês de maio várias massas de ar atuaram sobre a cidade
de Campo Mourão, principalmente a massa Polar atlântica (mPa), correspondendo a um
pouco mais de 45% do total, seguido da
da massa Tropical continental (mTc), massa Tropical
atlântica e por fim o Sistema Frontal (Gráfico 01).

Gráfico 01 - Atuação das massas de ar no município de Campo Mourão/PR no mês de Maio/2009.

MASSAS DE AR - MAIO/2009

22,58% 16,13%

16,13%
45,16%

SF mPa mTa mTc

Organizado por: OLIVEIRA, Dean Gomes de.

A pressão atmosférica
érica teve como média 1.016 hPa, graças a predominância da
massa Polar atlântica, que tem como característica a alta pressão. Deste modo, 55% dos
dias não houve precipitação, sendo nos outros 45% ocorreu uma precipitação total de 242,6
mm, com média de 17,44 mm/dia.
Já em relação a umidade, o mês de maio teve como média 90%, impulsionado pelos
dias chuvosos, chegando na casa de 98%, contra 82% nos dias sem chuva, dado a
predominância da mPa e mTc, que deixa o ar mais úmido.
As temperaturas do mês ficaram na
na casa dos 18,4 °C, temperaturas normais para o
outono no hemisfério Sul. A mínima no período chegou a 5,2°C e máxima 29,6°,
revelando uma amplitude térmica de 24,4°C.
A Figura 02 é o gráfico da análise
análise rítmica onde os a pressão atmosférica, a
temperatura máxima, mínima e a média compensada, a umidade relativa, a pluviosidade
diária, a direção do vento e os sistemas atmosféricos são apresentados em colunas diárias.
Dessa forma, é possível visualizar a interação entre os sistemas atmosféricos e os
elementos do tempo.

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Figura 02 - Representação concomitante em unidades diárias dos principais elementos do tempo e


dos sistemas atmosféricos, para o mês de Maio de 2009, para a Estação Climatológica de Campo
Mourão PR – INMET.

Organizado por: OLIVEIRA, Dean Gomes de

Considerações Finais
Com o presente estudo fica evidente que as técnicas empregadas, principalmente os
programas computacionais possibilitam interpretações mais precisas, além de ampliar as

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possibilidades de síntese e da espacialização dos fenômenos climáticos, mesmo em regiões


que não possuem centros especializados.
Os estudos mostraram que a mPa foi o sistema atmosférico mais importante, tanto
pelo tempo de atuação como pelas condições higrotérmica proporcionadas por ela. Assim,
Campo Mourão no mês de maio teve precipitação bem maior em relação aos outros anos,
umidade relativa do ar alta e temperaturas amenas, dado a presença quase constante da
massa Polar atlântica.

Referências
BORSATO, V. A. A participação dos sistemas atmosféricos atuantes na bacia do Auto
Rio Paraná no período de 1980 a 2003. 2006. Tese (Doutorado em Ciências Ambientais)
– Nupélia, UEM, Maringá
BORSATO, V. A; JUNIOR S. A. F. O índice de conforto térmico no outono de 2007 em
Campo Mourão Paraná e a participação dos sistemas atmosféricos. In: EPCT, IV,
2009, Campo Mourão. Anais ... Campo Mourão, NUPEM, 2009.
BORSATO, V. A; MENDONÇA F. A. A dinâmica dos sistemas atmosféricos no verão
2012-2013 no Paraná e em Campo Mourão. In: SEURB, II, 2013, Campo Mourão.
Anais ... Campo Mourão, SEURB, 2013.
BRASIL. Ministério da Marinha. Serviço Meteorológico da Marinha. Cartas sinóticas.
Disponível em: <http://www.mar.mil.br/dhn/chm/meteo/prev/cartas/cartas.htm>. Acesso
em 14 nov 2013.
NIMER, E. Climatologia do Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, Departamento de Recursos
Naturais e Estudos Ambientais n 4, 1979. 32 p.
PÉDELABORDE, P. Introduction a l’étude scientifique du climat. Paris: Sedes, 1970.
SORRE, M. Le Climat. In: SORRE, M. Les Fondements de la Géographie Humaine. Paris:
Armand Colin, 1951. Chap. 5, p.13-43.
VIANELLO, R. L., Meteorologia básica e aplicações. Universidade Federal de Viçosa.
Editora UFV 2000. P. 450

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DETERMINAÇÃO DA CAPACIDADE DE USO DO SOLO NO PERÍMETRO


URBANO DE SAUDADE DO IGUAÇU - PR

Luciana Müller
UTFPR (Campus Francisco Beltrão - PR)
lucyanna_muller@hotmail.com

Julio Caetano Tomazoni


UTFPR (Campus Francisco Beltrão - PR)
caetano@utfpr.edu.br

Fernando César Manosso


UTFPR (Campus Francisco Beltrão - PR)
fmanosso@utfpr.edu.br

Introdução
Assistimos nestes últimos 50 anos a um intenso processo de urbanização da
população brasileira. Segundo o IBGE (2010), o último censo populacional mostrou que
84% da população brasileira vivem em áreas urbanas.
Segundo Pfaltzgraff (2007) “a alta concentração da população nos grandes centros
urbanos não tem sido acompanhada de programas governamentais eficientes para o uso e
ocupação do solo”. Como consequência leva a população mais carente a ocupar áreas
naturalmente inadequadas, suscetíveis a riscos naturais.
A vulnerabilidade das unidades geomorfológicas pode gerar processos erosivos,
movimentos de massa, expansão e contração dos solos, colapsos de solo, que estão
relacionados ao uso inadequado da cobertura pedológica devido ao desconhecimento de
características físicas do terreno. A utilização de informações voltadas à caracterização do
meio físico, e o entendimento das relações entre ocupação desordenada do solo e os riscos
associados, são fundamentais para subsidiar ações de planejamento e administração
pública, pois dará suporte a adequabilidade dos terrenos para os diferentes fins,
minimizando os riscos de acidentes geológicos (MINEROPAR, 1998; 2010).
Neste contexto, estudos para buscar as melhores formas de se utilizar o solo são
indispensáveis. A utilização do Sensoriamento Remoto ganha destaque, pois permite a
aquisição de dados terrestres precisos. A partir desses dados, ferramentas do
Geoprocessamento serão aplicadas. O SIG (Sistema de Informação Geográfica) Spring
5.2.6 será utilizado neste trabalho, permitindo assim a coleta, armazenamento,
manipulação, análise e representação de informações segundo a sua aplicabilidade.

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Neste trabalho, estudou-se o perímetro urbano da cidade de Saudade do Iguaçu,


avaliando a capacidade de uso e ocupação do solo, para identificar as áreas aptas e inaptas
a ocupação urbana.

Metodologia
Através do Spring 5.2.6 a área foi dividida em classes de capacidade de uso do solo
conforme a divisão de Tomazoni (2009), o qual em seu trabalho, implementou um método
para determinação da capacidade de uso do solo urbano, através do qual classificou-se o
solo para da área de estudo.

Quadro 1. Classificação do solo para fins urbanos segundo Tomazoni (2009)


Possíveis Critérios para uso urbano
Declive
Solo Classe Aptidão problemas com
(%)
ocupação
Apto, com possibilidade Adotado critérios de
Ia 0–5 Erosão hídrica se
de ocupação em ≤ 90% proteção a erosão, são áreas
Latossolo usado de forma
Apto, com possibilidade de alto potencial para uso
Ib 5 – 10 indiscriminada.
de ocupação em ≤ 70% urbano.
Apto, com pequenas
Uma vez adotados critérios
II a 0 – 15 restrições, possibilidade Apresenta maior
adequados e mais
de ocupação em ≤ 60% suscetibilidade a
Nitossolo sofisticados que os
Apto, com restrições, erosão do que os
Latossolos, têm boa aptidão
II b 15 -20 possibilidade de ocupação Latossolos.
ao uso urbano.
em ≤ 50%
Apresenta maior
Apto, com restrições, suscetibilidade a
Requerem práticas de
III a 0 – 20 possibilidade de ocupação erosão do que os
médias a complexas para
em ≤ 50% Latossolos e Terra
proteção da erosão e
Roxa.
Chernossolo movimentos de massa,
Áreas sujeitas à
portanto, com necessidade
Apto, com restrições, erosão,
de regular a restrita
III b 20- 30 possibilidade de ocupação movimentos de
ocupação humana.
em ≤ 30% massa, rastejo e
quedas de blocos.
Solos rasos,
sujeitos a
movimentos de
Áreas de grandes restrições
massa, rastejo e
para uso urbano devendo
quedas de blocos.
Apto, com grandes ser adotado técnicas
A execução de
IV 30 – 70 restrições, possibilidade sofisticadas e complexas de
cortes em taludes
de ocupação em ≤ 10% contenção dos processos
os torna instáveis,
erosivos e para equilíbrio
podendo provocar
Neossolo de talude.
o escorregamento
e acelerar o
processo erosivo.
Solos rasos em
áreas
Essas áreas devem ser
extremamente
V > - 70 Inapto destinadas exclusivamente
íngremes, sem
a preservação ambiental.
aptidão para uso
urbano.
Áreas destinadas à Essas áreas devem ser
Preservação Todo Todos os solos são
V preservação destinadas exclusivamente
permanente declive Inaptos
ambiental. a preservação ambiental.

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Resultados
Na Tabela 1 estão descritas as classes de uso, a sua respectiva área e seu percentual
correspondente.

Tabela 1. Área correspondente a cada Classe de Capacidade de uso do solo.


Capacidade de Uso Área (ha) % da área total
Classe Ia 70,074065 12,55
Classe Ib 119,125908 21,34
Classe IIa 98,185647 17,59
Classe IIb 78,201563 14,01
Classe IIIa 96,368912 17,26
Classe IIIb 43,109894 7,72
Classe IV 0,000000 0,00
Classe V 57,070068 10,22
Total 558,3113 100

Os dados da tabela anterior demonstram que a Classe Ib é a classe que abrange um


maior percentual da área, de 21,34%, que segundo Tomazoni (2009), são áreas de alto
potencial para uso urbano, com possibilidade de ocupação em ≤ 70%, pois o Latossolos
são solos consolidados, e a declividade (5 – 10%) não oferece riscos a ocupação urbana.
Porém, se este solo for usado de forma indiscriminada poderá sofrer erosão hídrica, por
isso devem ser tomados alguns cuidados.
Em segundo lugar a classe de uso que mais ocorre é a Classe IIa, com 17,59% da
área, que segundo Tomazoni (2009), são solos aptos a ocupação urbana, que apresentam
pequenas restrições e possibilidade de ocupação em ≤ 60%. Uma vez adotados critérios
adequados e mais sofisticados, já que os Nitossolos são solos menos resistentes que os
Latossolos, são áreas que têm boa aptidão ao uso urbano.
Na sequência, em terceiro lugar aparece a classe de uso IIIa, com 17,26% da área
de estudo. Se tratam de Chernossolos com declividade de de 0 – 20%. Segundo Tomazoni
(2009), este solo é considerado apto, porém apresenta restrições de uso, e possibilidade de
ocupação em ≤ 50%. Estes solos requerem práticas de médias a complexas para proteção
da erosão e movimentos de massa, portanto, com necessidade de regular a restrita
ocupação humana.
Em quarto lugar, a classe de uso que ocorre em 14,01% da área é a Classe IIb.
Trata-se de Chernossolos com declividade entre 20 – 30%. É considerado apto, com
restrições, e possibilidade de ocupação em ≤ 30%. Assim como a classe IIIa, estes solos
requerem práticas de médias a complexas para proteção da erosão e movimentos de massa,
portanto, com necessidade de regular a restrita ocupação humana.

Eixo 2: Dinâmica, Utilização e Preservação do Meio Ambiente Página 83


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Na sequencia, em quinto lugar ocorre a Classe Ia, com 12,55% da área de estudo.
Que são Latossolos com declividade de 0 – 5%, considerados aptos a ocupação urbana,
com alto potencial para uso urbano, e possibilidade de ocupação em ≤ 90%. Porém, se este
solo for usado de forma indiscriminada poderá sofrer erosão hídrica, por isso devem ser
tomados alguns cuidados.
A Classe V ocupa uma área de 10,22% da área total. Nesta classe estão presentes os
Neossolos com mais de 70% de declividade, e as Áreas de Preservação Permanente, que
são solos considerados inaptos para a ocupação urbana. Os Neossolos são solos rasos, que
aliadas à alta declividade não tem aptidão para uso urbano, essas áreas devem ser
destinadas exclusivamente a preservação ambiental. Considerando-se as áreas de APP, na
elaboração do Mapa de Capacidade de Uso (Figura 1), desenhou-se uma faixa marginal
(em rosa) aos rios e córregos dentro da área urbana, as quais foram classificadas na Classe
V. Na Tabela 1, pode-se observar que estas áreas correspondem a 10,22% da área total.

Figura 1. Mapa de Capacidade de Uso do Solo na área urbana do município de Saudade do Iguaçu
– PR

Considerações Finais

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No transcorrer deste trabalho, foram abordados tópicos diferenciados, que


permitiram avaliar o potencial de uso da área urbana do município de Saudade do Iguaçu,
bem como caracterizar impactos ambientais que podem ocorrer ao longo do tempo, com a
expansão das áreas urbanas.
O presente estudo permitiu estruturar uma carta de capacidade de uso do solo
urbano, que deverá nortear o processo de expansão das áreas urbanas, e servir de base para
orientar a instalação de novos loteamentos, o parcelamento urbano, a execução de cortes
em taludes e índices de ocupação do solo.

Referências
IBGE. Censo 2010. Disponível em: <http://censo2010.ibge.gov.br/noticias-
censo?id=3&idnoticia=1766&t=censo-2010-populacao-brasil-190-732-694-
pessoas&view=noticia> Acesso em: 30 jan. 2014.
PFALTZGRAFF, P. A. S. Mapa de suscetibilidade a deslizamentos na região
metropolitana do Recife. 151 p. (Tese de Doutorado) - Universidade Federal de
Pernambuco, Recife-PB, 2007.
MINEROPAR. Guia de prevenção de acidentes geológicos urbanos. Curitiba:
MINEROPAR, 1998. 52 p.
MINEROPAR. Acidentes geológicos urbanos. Curitiba: MINEROPAR, 2010. 80 p.
Disponível em:
<http://www.mineropar.pr.gov.br/arquivos/File/publicacoes/Acidentes_Geologicos_Urban
os_2010.pdf> Acesso em: 30 jun. 2014.
TOMAZONI, J. C.; GUIMARRÃES, E.; DALEFE, E. C. Método Para Determinação da
Capacidade de Uso do Solo Urbano. Synergismus scyentifica UTFPR: Pato Branco,
2009. 3 p.

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DETERMINAÇÃO DA VULNERABILIDADE AMBIENTAL DO PERÍMETRO


URBANO DE SAUDADE DO IGUAÇU – PR DE ACORDO COM O TIPO DE
SOLO E O RELEVO

Luciana Müller
UTFPR (Campus Francisco Beltrão - PR)
lucyanna_muller@hotmail.com

Julio Caetano Tomazoni


UTFPR (Campus Francisco Beltrão - PR)
caetano@utfpr.edu.br

Fernando César Manosso


UTFPR (Campus Francisco Beltrão - PR)
fmanosso@utfpr.edu.br

Introdução
A vulnerabilidade das unidades geomorfológicas pode gerar processos erosivos,
movimentos de massa, expansão e contração dos solos, colapsos de solo, que estão
relacionados ao uso inadequado da cobertura pedológica devido ao desconhecimento de
características físicas do terreno. A utilização de informações voltadas à caracterização do
meio físico, e o entendimento das relações entre ocupação desordenada do solo e os riscos
associados, são fundamentais para subsidiar ações de planejamento e administração
pública, pois dará suporte a adequabilidade dos terrenos para os diferentes fins,
minimizando os riscos de acidentes geológicos (MINEROPAR, 1998; 2010).
Segundo Tominaga (2007), os movimentos de massa consistem em importante
processo natural que atua na dinâmica das vertentes, fazendo parte da evolução
geomorfológica em regiões serranas. Entretanto, o crescimento da ocupação urbana
indiscriminada em áreas desfavoráveis, sem o adequado planejamento do uso do solo e
sem a adoção de técnicas adequadas de estabilização, está disseminando a ocorrência de
acidentes associados a estes processos, que muitas vezes atingem dimensões de desastres.
Neste contexto, estudos para buscar as melhores formas de se utilizar o solo são
indispensáveis. A utilização do Sensoriamento Remoto ganha destaque, pois permite a
aquisição de dados terrestres precisos. A partir desses dados, ferramentas do
Geoprocessamento serão aplicadas. O SIG (Sistema de Informação Geográfica) Spring
5.2.6 será utilizado neste trabalho, permitindo assim a coleta, armazenamento,
manipulação, análise e representação de informações segundo a sua aplicabilidade.
Neste trabalho, estudou-se o perímetro urbano da cidade de Saudade do Iguaçu,
avaliando a vulnerabilidade ambiental de acordo com o tipo de solo e o relevo.

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Metodologia
A área de estudo foi separada em cinco classes de declividade, sendo que cada
classe corresponde a uma hierarquia de vulnerabilidade, e a cada uma foi atribuído um
peso (Tabela 1), conforme a metodologia de Ross (1994).

Tabela 1. Hierarquização da vulnerabilidade por declividade segundo Ross (1994)


Declividade Hierarquia da Vulnerabilidade Peso
Até 6% Muito Fraca 1
6 a 12% Fraca 2
12 a 20% Média 3
20 a 30% Forte 4
Acima de 30% Muito Forte 5

Uma matriz de tabulação cruzada, considerando o tipo de solo e a declividade de


solo do terreno (Tabela 2), foi construída para nortear a classificação das áreas em aptas e
inaptas para a ocupação urbana.

Tabela 2. Matriz entre os tipos de solos e as classes de declividade, para definir as classes de
vulnerabilidade
Classes de Tipos de solos
Declividade Latossolo Nitossolo Chernossolo Neossolo
<6% 11 12 13 14
6-12% 21 22 23 24
12-20% 31 32 33 34
20-30% 41 42 43 44
>30% 51 52 53 54
Vulnerabilidade I – 11, 21. Vulnerabilidade II – 12, 22, 32, 31. Vulnerabilidade III – 13, 23, 33, 43,
41, 42. Vulnerabilidade IV – 14, 24, 34, 44, 54, 53, 52, 51.

A matriz constitui-se da intersecção dos tipos de solo com as classes de declividade,


expressa em área ocupada pela combinação destes dois fatores. Por exemplo, o número 11
significa a área de Latossolo com até 6% de declividade.

Resultados
Em ambiente Spring 5.2.6, com a ferramenta do módulo temático “operações
métricas”, calculou-se a área em hectares (ha) correspondente a cada classe de declividade
(Tabela 3).

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Tabela 3. Área correspondente a cada classe de declividade


Declividade Área (ha) % da área total
0 - 6% 100,972214 18,10
6 - 12% 161,593790 28,94
12 - 20% 147,059911 26,34
20 - 30% 102,884567 18,43
> 30% 45,800843 8,20
Total 558,311326 100

Conforme demonstrado na Tabela 3 e Figura 1, a classe de declividade que mais


ocorre é a de 6 – 12% com 28,94% da área total, seguida da classe de 12 - 20% com
26,34% da área total, seguida da classe de 20 - 30% com 18,43% da área, 0 - 6% com
18,10% da área total, e por ultimo as declividades maiores de 30% com área de 8,20% da
área de estudo total. Embora poucas áreas compreendam as declividades maiores que 30%,
deve-se estar atento as consequências do uso e ocupação inadequado do solo.
As informações referentes ao tipo de solo subsidiaram a classificação da área em
classes de declividade, o que resultou no Mapa de Relevo da área urbana do município de
Saudade do Iguaçu (Figura 1).
A Lei no 6.766 de 14 de dezembro de 1979, que dispõe sobre o parcelamento do
solo urbano, descreve que não será permitido o parcelamento do solo em terrenos com
declividade igual ou superior a 30%, salvo se atendidas exigências específicas das
autoridades competentes. Conforme Schäffler (2011), uma das funções ambientais das
áreas de preservação permanente é preservar a instabilidade geológica nas encostas ou
partes destas, com declividade superior a 45°, equivalente a 100% na linha de maior
declive.
Em ambiente Spring 5.2.6, com a ferramenta do módulo temático “tabulação
cruzada”, obteve-se a os seguintes resultados (Tabela 4), com as suas respectivas áreas de
abrangência.

Tabela 4. Tabulação cruzada entre unidade de solo e a declividade


Tipos de Solo Área
Declividade
LV NV CX RR Total (ha)
0 - 6% 100,9722 0,0000 0,0000 0,0000 100,9722
6 - 12% 57,4662 104,1276 0,0000 0,0000 161,5938
12 - 20% 0,0000 114,7412 32,3188 0,0000 147,0600
20 - 30% 0,0000 0,0000 102,8846 0,0000 102,8846
> - 30% 0,0000 0,0000 0,0000 45,8008 45,8008
Área Total (ha) 158,4384 218,8687 135,2033 45,8008 558,3113

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Figura 1. Mapa de Relevo da área urbana do município de Saudade do Iguaçu

Na classe de vulnerabilidade I, estão as áreas de Latossolo com declividades de 0 a


12%, que somam no total área de 158,4384 ha (ou 28,38%), solos estes bem desenvolvidos
e de declividade baixa e, portanto, com total aptidão para ocupação urbana.
Na classe de vulnerabilidade II, estão as áreas de Nitossolo com declividades de 12
– 20%, que somam no total uma área de 218,8688 ha (ou 39,20%), solos estes menos
desenvolvidos que os Latossolos e com declive mais propício a sofrer processos erosivos,
porém aptos para a ocupação urbana.
Na classificação de vulnerabilidade III, estão as áreas de Chernossolo com
declividades de 20 – 30%, que somam no total uma área de 135,2034 ha (ou 24,22%), que
se trata de um solo menos desenvolvido que o Nitossolo. Cabe lembrar que segundo a
legislação, 30% é o declive máximo para que ocorra o parcelamento do solo urbano. Ainda
na classe III, estão os Latossolos e Nitossolos com declividades mais altas e por isso são
mais propícios a sofrer influencia dos processos erosivos. Portanto, a ocupação urbana
pode ocorrer desde que ocorra de forma planejada e cumpra os requisitos técnicos
necessários.
Por fim, na classe de vulnerabilidade IV, estão as áreas de Neossolo com
declividades maiores de 30%, que somam no total uma área de 45,8008 ha (ou 8,20%), que

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são solos rasos e que por isso apresentam vulnerabilidade máxima, e também os
Latossolos, Nitossolos e Chernossolos com declividade acima de 30% e que pela
legislação, não devem ser parcelados. Portanto, áreas onde não deve ocorrer a ocupação
urbana.

Considerações Finais
Este trabalho permitiu avaliar o potencial de uso da área urbana do município de Saudade
do Iguaçu. A geração das classes de vulnerabilidade a partir dos tipos de solo e das classes
de declividade permitiu visualizar quanto da área é apta ao desenvolvimento urbano. Cada
classe de vulnerabilidade exibiu uma aptidão ou restrição à ocupação urbana, e requisitos
para que a mesma possa ocorrer.
Os resultados obtidos neste trabalho poderão servir de base para orientar a
instalação de novos loteamentos, o parcelamento urbano, a execução de cortes em taludes e
índices de ocupação do solo.

Referências
BRASIL. Lei 6.766, de 19 de Dezembro de 1979. Dispõe sobre o parcelamento de solo
urbano. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6766.htm> Acesso
em: 21 jun. 2014.
MINEROPAR. Acidentes geológicos urbanos. Curitiba: MINEROPAR, 2010. 80 p.
Disponível em:
<http://www.mineropar.pr.gov.br/arquivos/File/publicacoes/Acidentes_Geologicos_Urban
os_2010.pdf> Acesso em: 30 jun. 2014.
MINEROPAR. Guia de prevenção de acidentes geológicos urbanos. Curitiba:
MINEROPAR, 1998. 52 p.
ROSS, J.L.S. Análise Empírica da Fragilidade dos Ambientes Naturais e
Antropizados. Revista do Departamento de Geografia, São Paulo, p. 63-74, 1993.
Disponível em: <http://citrus.uspnet.usp.br/rdg/ojs/index.php/rdg/article/view/225>.
Acesso em: 5 jan. 2013.
SCHÄFFLER, W. B. et al. Áreas de preservação Permanente e Unidades de
Conservação & Áreas de Risco. O que uma coisa tem haver com a outra? Relatório de
Inspeção da área atingida pela tragédia das chuvas na Região Serrana do Rio de Janeiro.
Brasília: MMA, 2011, 96 p. Disponível em:
<http://www.mma.gov.br/estruturas/202/_publicacao/202_publicacao01082011112029.pdf
> Acesso em: 21 jun. 2014.

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ANÁLISE DA VULNERABILIDADE NATURAL


DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS NO MUNICÍPIO DE REALEZA-PR

Fabiano André Marion


UNIOESTE (Campus de Francisco Beltrão)
fabiano.marion@unioeste.br

Cintia Deparis Dal Cortivo


UNIOESTE (Campus de Francisco Beltrão)
cintiiaa-@hotmail.com

Introdução
A água é um recurso natural finito e necessário para praticamente todas as
atividades humanas. Sua disponibilidade diminui gradativamente devido ao crescimento do
consumo indiscriminado da mesma, em função do crescimento populacional, da
necessidade de produzir alimentos e da ampliação da indústria. A construção de poços
tubulares para a captação da água subterrânea tornou-se uma prática muito comum na
atualidade, sobretudo, por ser de fácil utilização e ter custos reduzidos. Porém, não raro,
esses poços são construídos em locais indevidos, próximo a atividades potencialmente
contaminantes. Outro problema, diz respeito à falta de manutenção e cuidados com os
poços depois de perfurados, pois quando mal construídos, os mesmos podem tornar-se
pontos de contaminação, afetando a qualidade da água utilizada pela população.
As águas subterrâneas encontram-se protegidas por camadas de solo e/ou rochas,
funcionando como reservatórios, sendo por isso, menos expostas à contaminação do que as
águas superficiais. Por outro lado, quando contaminadas, sua descontaminação torna-se
difícil e onerosa. Assim, tem-se a importância de estudos que disciplinem e planejem a
exploração das águas subterrâneas, bem como a caracterização da vulnerabilidade natural
nessas áreas (MARION, 2011).
O município de Realeza localiza-se no Sudoeste do Estado do Paraná (PR) e possui
uma população de 16.932 e uma área de 355,2 km² (IBGE, 2013). Está assentado sobre
rochas vulcânicas efusivas da formação Serra Geral. O clima é subtropical úmido, com
verões quentes e invernos amenos. As chuvas concentram-se nos meses de verão e não há
estação seca definida. As temperaturas variam em torno de 22°C e 18°C, e a precipitação
pluviométrica média é de 2.300 mm/ano. Os solos predominantes no município são
latossolos, associação de solos litólicos, afloramentos de rocha alterada e colúvios e solos
aluviais (MINEROPAR, 2002). A população utiliza poços tubulares para prover o
abastecimento d’água, não sendo incomum encontrar situações de descaso com as águas

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subterrâneas. Dessa forma, o trabalho tem como objetivo, analisar e mapear a


vulnerabilidade natural à contaminação das águas subterrâneas no município de Realeza –
PR.

Procedimentos técnicos
Para a construção da base cartográfica, foram utilizadas as cartas topográficas do
exército elaboradas pela DSG (Diretoria do Serviço Geográfico) em convênio com a
COPEL (Companhia Paranaense de Energia), ITCG (Instituto de Terras, Cartografia e
Geociências) e SEMA (Secretaria Estadual do Meio Ambiente) na escala 1:50.000: MI –
2848/4 MI - 2848/2 MI - 2849/1 MI - 2849/3. O limite municipal foi baixado do site do
ITCG - Instituto de Terras, Cartografia e Geociências.
Os lineamentos geológicos foram extraídos do mapeamento geológico do Sudoeste
do Paraná na escala 1:200.000, realizado pelo convênio entre a CPRM e a MINEROPAR
(2006), disponibilizados através do site da CPRM. De acordo com a CPRM (2006), os
lineamentos constituem-se por feições lineares, topograficamente representadas por vales
alinhados ou cristas, geralmente indicando a presença de fraturas e/ou falhas geológicas.
Dessa forma, constituem-se em locais de fragilidade a infiltração de possíveis
contaminantes, aumentando a vulnerabilidade a contaminação das águas subterrâneas. No
software ArcGis 10, as informações foram integradas, utilizando como sistema de
referência o SAD 69 (South American Data 1969).
As informações pré-existentes referentes aos poços, foram coletadas do banco de
dados da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) via online no Sistema de
Informações de Águas Subterrâneas (SIAGAS). Após, realizou-se contato com a Prefeitura
Municipal de Realeza, onde efetuou-se um levantamento de dados pré-existentes com a
localidade onde os poços tubulares estão instalados. As atividades de campo foram
realizadas no dia 26 de julho de 2013, e o deslocamento foi possível através de um veículo
da prefeitura, bem como, da ajuda de um funcionário da mesma. Em campo, foram
extraídas informações referentes às coordenadas dos poços tubulares com o uso de um
aparelho receptor GPS (Global Positioning System) de navegação marca Garmim
fornecido pelo Laboratório de Geoprocessamento da Unioeste.
No dia 13 de outubro de 2013, foi realizada uma segunda ida a campo para a coleta
das coordenadas referentes às atividades potencialmente contaminantes. Foram visitados
treze locais, entre eles, postos de combustíveis, cemitérios, abatedouros, indústrias e o
aterro sanitário do município.

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Os pontos referentes aos poços e as atividades contaminantes coletadas com


receptor de GPS foram baixados no software Google Earth onde foram validados
visualmente e após, exportados em formato kml. Por meio da ferramenta Arctoolbox do
ArcGis 10, foi realizada a conversão dos mesmos para shape, formato nativo do ArcGIS.
A partir das informações coletadas, foi gerada uma planilha no software Microsoft
Excel 2010, contendo as seguintes informações: proprietário, localidade, coordenadas
UTM, natureza do poço, vazão, profundidade, situação, nível estático, nível dinâmico e
número de famílias que o poço abastece. Essa planilha foi integrada aos poços no mapa do
município, no software ArcGis 10.
Através da informação do nível estático dos poços, disponibilizado pela CPRM, foi
estimado o nível estático das águas subterrâneas para todo o município. Como método de
interpolação, foi utilizado o Inverso do Quadrado da Distância. O referido procedimento
permite, a partir de dados pontuais, estimar em quais locais a água subterrânea encontra-se
mais próxima à superfície, o que aumenta a sua vulnerabilidade à contaminação.

Resultados e discussões
O município de Realeza possui vinte e três poços cadastrados no SIAGAS/CPRM
sendo que entre esses, apenas onze possuem o nível estático aferido, que é fundamental
para a análise da vulnerabilidade a contaminação. Além desses, foram identificados vinte
poços tubulares, todos localizados na área rural do município. Esses poços foram
implantados pela prefeitura municipal de Realeza, visando atender a demanda de
abastecimento de água no perímetro rural, já que na área urbana o abastecimento de toda a
cidade é feito pela empresa Sanepar (Companhia de Saneamento do Paraná).
No perímetro urbano existem diversos poços tubulares construídos por particulares.
Entretanto, o que ocorre na maioria dos casos, é que esses não são devidamente
cadastrados, e isso dificulta para que haja fiscalização e que seja realizado um
acompanhamento da qualidade da sua água. Não foi possível aferir o nível estático dos
poços tubulares que não possuíam esse valor por não dispormos de um freatímetro
(aparelho utilizado para mensurar o nível d’água no poço).
Outro problema que se observa dos poços localizados, tanto no perímetro urbano
quanto no rural, diz respeito à proximidade de atividades potencialmente contaminantes.
Nessa pesquisa, foram demarcados com receptor de GPS, treze locais em que há possíveis
contaminantes dos recursos hídricos subterrâneos, sendo três postos de combustível, dois
abatedouros, três indústrias, quatro cemitérios e o aterro sanitário municipal. Alguns poços

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localizados encontram-se próximos a estes locais, e isso pode gerar contaminação do


lençol freático, conforme seus diferentes fins. Na presença de lineamentos, os mesmos
podem agravar ainda mais a situação, pois facilitam a infiltração de possíveis
contaminantes.
Todos os poços visitados e localizados na área rural do município, são de uso
comunitário, possuindo profundidade entre oitenta e duzentos metros. Dos vinte poços
visitados, apenas oito apresentam cerca de proteção. Esse é um numero pequeno,
considerando a importância de manter um isolamento ao redor de no mínimo dez metros.
A responsabilidade pela outorga dos recursos hídricos é de responsabilidade dos Estados.
No caso do Paraná, até o momento da realização do trabalho, ainda não possuía
regulamentação específica para este aspecto. Entretanto, Estados brasileiros que possuem
regulamentação, exigem um perímetro mínimo de proteção de 10 metros que deve ser
cercado e com base de concreto ao redor, evitando a presença de animais ou pessoas não
autorizadas próximas ao mesmo (PONTES et al, 2007).
De acordo com informações obtidas em campo, uma vez construídos os poços pela
Prefeitura, não ocorre posteriormente nenhum tipo de manutenção ou até mesmo
fiscalização para identificar se os mesmos estão em condições adequadas e protegidos.
Entre as comunidades visitadas, nas quais foi possível o contato com moradores, pode-se
notar que existe um desconhecimento sobre os riscos de contaminação que as práticas
inadequadas podem gerar. Isto é reflexo da falta de trabalhos de conscientização junto aos
moradores que utilizam esses poços. Este problema ocorre também nas áreas urbanas, onde
nem todos têm conhecimento de que certas atividades realizadas podem gerar
contaminantes e, consequentemente, afetar a qualidade das águas subterrâneas.
Com relação ao mapeamento do nível estático das águas subterrâneas, constatou-se
que próximo à área urbana do município, encontram-se as áreas que apresentam os maiores
valores de nível estático, ou seja, o teto do aquífero encontra-se mais distante da superfície,
diminuindo o risco de contaminação, o que significa que a área urbana do município, onde
concentram-se, na maioria dos casos, as atividades potencialmente contaminantes, está
locada adequadamente, numa área que oferece menor risco. Por outro lado, foi constatado,
tanto na área urbana quanto na área rural, atividades potencialmente contaminantes
próximas a poços tubulares, o que aumenta o risco potencial à contaminação.
Como forma de prevenção, recomenda-se evitar a instalação de atividades
potencialmente contaminantes próximas aos lineamentos e/ou nas áreas que apresentam o
nível estático inferior a 10 metros devido à proximidade do lençol freático. Caso ocorra a

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implantação, são necessários cuidados redobrados, com estudos mais aprofundados e um


minucioso plano de controle à contaminação.
Por tudo isso, os resultados desta pesquisa são importantes para o planejamento
municipal, pois diante da necessidade de se expandir as redes de abastecimento de água,
tanto no meio urbano quanto no rural e, na locação de atividades potencialmente
contaminantes, este trabalho poderá auxiliar a Prefeitura Municipal no licenciamento e
fiscalização ambiental, garantindo assim, a conservação dos recursos hídricos e a melhor
qualidade de vida da população.

Referências
CPRM. COMPANHIA DE PESQUISA E RECURSOS MINERAIS. Siagas. Disponível
em: <http://siagas.cprm.gov.br/wellshow/indice>. Acesso em 29 maio 2013.
CPRM - COMPANHIA DE PESQUISA E RECURSOS MINERAIS. MINEROPAR -
MINERAIS DO PARANÁ S/A. Mapa Geológico – Projeto Sudoeste do Paraná. Escala
1:200.000. Porto Alegre, 2006.
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Cidades@.
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CONSIDERAÇÕES MORFOLÓGICAS E INDICE DE INTEMPERISMO DE


LATOSSOLOS EM MARECHAL CÂNDIDO RONDON

Luciane Marcolin
Universidade Estadual do Oeste do Paraná - Campus Francisco Beltrão
lucianemarcolin@hotmail.com

Marcia Regina Calegari


Universidade Estadual do Oeste do Paraná - Campus Marechal Cândido Rondon

Introdução
O Solo como um elemento natural contribui e é essencial em estudos que visam à
compreensão e evolução da paisagem, pois é um elemento que guarda registros ambientais,
podendo-se então compreender, a partir de seus estudos, sua atual relação na paisagem,
inferindo sobre sua evolução ao longo do tempo.
Em paisagens tropicais e subtropicais, onde ocorrem climas mais quentes e úmidos,
tem-se acentuada ocorrência do intemperismo químico. O intemperismo químico promove
alterações na paisagem, o que permite a maior acentuação da pedogênese. No estudo de um
solo, neste caso, sobre o Latossolo, as análises químicas, físicas e mineralógicas são
cruciais para seu iniciar o seu entendimento, seja pra conhecer a sua gênese e evolução na
paisagem, seja para melhor poder usá-lo e ocupa-lo. No presente estudo procura-se
compreender grau de evolução de dois perfis de Latossolos localizados no extremo oeste
paranaense, considerando a hipótese de que as superfícies geomórficas em que eles se
encontram possam ser continuações das superfícies identificadas no sudoeste paranaense
por PAISANI et al (2008), que se estenderiam para o extremo oeste do Paraná.

Localização da área de estudo


Os perfis latossólicos estudados fazem parte do Terceiro Planalto paranaense e
estão localizados no extremo oeste do Paraná, onde ocorrem rochas básicas (basalto) da
Fm. Serra Geral. A região apresenta em geral um relevo suave ondulado, solos argilosos,
vermelhos (NITOSSOLOS, LATOSSOLOS, CAMBISSOLO, NEOSSOLOS
REGOLÍTCOS). Outrora a região era recoberta pela Floresta Estacional Semidecidual e o
clima é Subtropical úmido (Cfa), com verões quentes e úmidos e inverno ameno e seco.
O perfil 1, LATOSSOLO VERMELHO Eutroférrico típico foi descrito em um
local, geomorfologicamente pertencente a unidade morfoescultural do Planalto de Foz do
Iguaçu nas coordenadas: 24° 34’ 31,7” Lat. S; 54° 12’ 17.7” Long. W, com altitude de 274

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metros e o perfil 2, um LATOSSOLO VERMELHO Distrófico úmbrico, no Planalto de


Cascavel, situado nas coordenadas 24º33’01,88’’ Lat.S; 54º03’14, 93’’Long. W e a 427 metros
de altitude.

Materiais e método
A descrição e coleta de solos foram realizadas por horizontes conforme Santos et al
(2005).
Análises físicas (análise granulométrica, argila dispersa em água, densidade do
solo, densidade de partículas) Foram realizadas conforme Embrapa (1987) no Laboratório
de /física do solo da UNIOESTE –MCR. A partir desses resultados também foram
calculados a porosidade total; relação silte/argila, grau de floculação da argila. Análises
químicas: macro e micronutrientes, para fins de classificação foram realizada no Lab. De
Fertilidade do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e Análise de ataque sulfúrico,
para determinação dos óxidos de Ferro, Alumínio, Silício e Titânio e cálculo Das relações
moleculares Ki e Kr foram realizadas no Laboratório e Análise de Solo da a Escola
Superior de Agricultura Luiz de Queirozsendo apresentado apenas o ataque sulfúrico.

Resultados
O perfil de solo identificado como perfil 1 foi classificado, conforme EMBRAPA
(2013) como LATOSSOLO VERMELHO Eutroférrico típico. Apresenta relação
silte/argila 0,7 (Tabela 1) nos horizontes superficiais indicando grau de intemperismo
relativamente elevado (EMBRAPA, 2013).
A densidade do solo no Perfil 1 varia de 0,87gcm-3 no horizonte superficial Ap à
2,10gcm-3 no horizonte Bw1. Esse aumento em profundidade indica maior adensamento do
solo, devido à quantidade de material pedológico pressionado pelos horizontes subjacentes
(Tabela 1).

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Tabela 1: Atributos morfológicos e físicos dos perfis de Latossolo.


Argila
Grau de Ds Porosid
Hor Prof. Cor Areia Silte Argila dispersa Text Silte/
floculação (g cm -
ade
iz Cm úmida em água . Argila
³) Total
-------------------g.kg-1---------------- ----%---

Perfil 1- LATOSSOLO VERMELHO Eutroférrico típico


Ap 0-10 2,5YR 3/4 98,47 452,53 449 210 54 A 1,00 0,87 0,68

AB 10-25 2,5YR 3/4 63,37 423,63 513 310 39 A 0,82 1,31 0,47

BA 25-40 2,5YR 3/4 71,21 330,79 598 330 44 A 0,55 1,80 0,45

Bw1 40-80 2,5YR 3/4 71 292 637 0 100 MA 0,45 2,10 0,34

Bw2 80-150 2,5YR 3/4 71,56 293,44 635 0 100 MA 0,46 2.03 0,20

Bw3 150-210 2,5YR 3/4 87,06 194,94 718 0 100 MA 0,64 2,05 0,37

Bw4 210-290 2,5YR 3/4 79,52 239,48 681 0 100 MA 0,35 2,06 0,15

B/Cr 290-320 2,5YR 3/4 91,04 236,96 672 0 100 MA 0,35

Perfil 2: LATOSSOLO VERMELHO Distrófico úmbrico


A 0-20 10 R 3/3 52,45 132,55 815 490 40 MA 0,16 1,11 0,53
AB 20-38 10 R 3/3 44,08 23,92 932 190 79 MA 0,02 1,0 0,57
BA 38-65 2,5 YR 3/3 45,59 22,41 932 60 93 MA 0,02 1,07 0,55
Bw1 65-140 2,5 YR 3/3 45,65 14,35 940 60 94 MA 0,02 1,05 0,62
Bw2 140-200 2,5 YR 3/3 37,05 33,95 929 40 95 MA 0,03 1,05 0,58
*Textura: A= Argilosa; M A= Muito argilosa

As maiores porosidade nesse perfil foram encontrados no horizonte superficial Ap,


e diminuem em profundidade (0,20 no Bw2 e 0,15 no Bw4) à exceção do horizonte Bw3,
que apresentou 0,37 de porosidade total. A floculação das argilas em horizontes
subsuperficiais confirma a existência do horizonte B latossólico, pois de acordo com os
critérios diagnósticos descritos em Embrapa (2013) para identificação desse horizonte, os
valores do grau de floculação das argilas são altos em horizontes mais profundos,
indicando que o alto grau de floculação das argilas (100%) indica alto grau de estabilidade
dos agregados nos horizontes (Embrapa, 1984). A distribuição relativamente uniforme dos
teores de argila indica uma fraca mobilidade de argilas ao longo do perfil, corroborando a
estabilidade dos agregados.
O perfil 2 foi classificado como LATOSSOLO VERMELHO Distrófico úmbrico
(Embrapa 2013).A densidade do solo, em geral, é baixa, típica de solos solo floresta (1,05
gcm-3) não submetidos aos efeitos da maquinarias e uso. Esses valores servem de

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referencia para a interpretação do Perfil 1 que apresenta valores bem mais elevados,
reflexo do agricultura ao longo de décadas. Esses valores mais baixos de densidade se
explica pelo fato do perfil estar sob floresta e nunca ter sido usado para fins agrícola ou
submetido a mecanização. Assim, tem-se maior preservação da matéria orgânica no solo e
ainda preservar a estrutura natural do solo. A porosidade total do perfil 2 apresenta
aumento linear em profundidade, refletindo a estrutura microagregada dos horizontes
subsuperficiais. (Tabela 1).

Tabela 2: Análise de Ataque sulfúrico dos perfis de Latossolo.


Horiz. Prof. SiO2 Al2O3Fe2O3 TiO2 MnO Ki Kr
Cm %
Perfil 1-LATOSSOLO VERMELHO Eutroférrico típico
Ap 0-10 17,50 16,37 24,18 6,03 0,1059 1,82 0,93
AB 10-25 21,80 17,83 20,36 4,78 0,0765 2,08 1,20
Bw2 80-150 23,70 21,36 18,28 4,45 0,0491 1,89 1,22
B/Cr 290-320 20,80 21,81 21,32 5,15 0,0549 1,62 1,00

Perfil 2- LATOSSOLO VERMELHO Distrófico úmbrico


A 0-20 19,30 21,16 19,66 6,67 0,0604 1,55 0,97
AB 20-38 20,80 22,32 17,30 5,08 0,0426 1,58 1,06
Bw2 140-200 21,70 22,92 16,19 5,14 0,0255 1,61 1,11

Nesse perfil a relação silte/argila foi de 0,6g cm-³, e assim como no Perfil 1, esse
valor indicam solo evoluído do ponto de vista pedogenético e alto grau de intemperismo
(Embrapa, 1984).
O ataque sulfúricopermite avaliar o estágio de intemperização do solo,
determinando o teor dos óxidos de ferro, silício, alumínio, titânio e manganês. Esses
óxidos são utilizados para o cálculo de índices de intemperismos. Esse índice, representado
pelas relações moleculares sílica/alumínio (SiO2/Al2O3 = Ki), é utilizado para estabelecer
um limite entre solos muito intemperizados (Ki < 2,0) e pouco intemperizados (Ki > 2,0),
além de ser um referencial empregado na definição de horizonte B latossólico (Ki < 2,2).
Outra relação é o Kr, que representa a relação molecular entre um elemento de grande
mobilidade, o Silício, e o somatório de elementos de baixa mobilidade, o ferro e alumínio.
Por envolver os teores de Fe, Al e Si, é empregado para separar solos cauliníticos (Kr >
0,75) de solos oxídicos (Kr < 0,75) (Resende & Santana, 1998; IBGE, 2005).
Os valores de Ki (<2,2) e Kr (>0,75) em todos os horizontes em ambos os perfis
estudados (Tabela 3) comprovam o elevado grau de intemperismo desses solos, e a
mineralogia caulinítica dos mesmos.

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Os teores de óxidos de ferro determinado nos horizontes do perfil 1e 2indicam solos


férricos. De acordo com EMBRAPA (2013) solos com teores de óxidos de ferro entre 180
a 360 g/kg1 são considerados solos férricos, justificando assim a classificação desse solo.

Considerações finais
Os perfis de solo originados a partir da alteração do basalto apresentam textura
argilosa a muito argilosa, sendo muito profundos e bastante intemperizados, estando
situados em zona de acentuado intemperismo químico, devido a temperaturas mais
elevadas (22º e 18ºC) e altas precipitações alta (médias anuais entre 1700 a 1800 mm),
estando, os perfis latossólicos condizentes com a paisagem local.
O elevado grau de evolução desses solos classificados colo LATOSSOLO
VERMELHO FÉRRICO distrófico e eutrófico é comprovado pelos atributos morfológicos
e químicos, bem como pelos os índices Ki e Kr.

Referências
KER, João Carlos. Latossolos do Brasil: uma revisão. Geonomos, 5(1):17-40, 1997.
PAISANI, Julio Cesar; PONTELLI, Marga Eliz; ANDRES, Juliano. Superfícies aplainadas
em zona morfoclimática subtropical úmida no Planalto Basáltico da Bacia do Paraná (SW
Paraná/ Nw Santa Catarina): primeira aproximação. In: Geociências, São Paulo, UNESP,
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Conceitos e Aplicações das relações Pedologia-geomorfologia em regiões tropicais
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ANÁLISE FITOSSOCIOLÓGICA DE UMA PARCELA EM UM FRAGMENTO


FLORESTAL DA RPPN GRANJA PEROBAL NO MUNICÍPIO DE SÃO JORGE
D’ OESTE – PR

Anderson Gibathe
Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste
andersongibathe5@gmail.com

Introdução
A Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Granja Perobal está localizada
no município de São Jorge d’ Oeste, na mesorregião Sudoeste do Paraná e está inserida no
Bioma Mata Atlântica, em uma área de transição entre as subclassificações Floresta
Estacional Semidecidual e Floresta Ombrófila Mista (Mata com Araucárias).
O conhecimento das espécies de uma determinada área e da condição ecológica que
estas estão inseridas é fundamental para o entendimento, planejamento e manejo que visem
a conservação da biodiversidade. Nesse sentido, o conhecimento das espécies florestais
arbóreas e das características fitossociológicas é fundamental para manejar adequadamente
as áreas do ponto de vista ambiental e também para gerar informações sintéticas que
podem ser usadas em ações de educação ambiental visando despertar a consciência dos
indivíduos abordados para a importância da conservação das áreas verdes para a
biodiversidade.
Este resumo é parte de uma pesquisa de iniciação científica que pesquisa a área e
para tanto foi analisado um fragmento florestal com área de 1,75 ha com presença de
árvores centenárias de uma espécie rara, porém cercado por áreas antropizadas e degradado
do ponto de vista ambiental.

Objetivo
Esse trabalho visa o estudo da composição arbórea e a análise de parâmetros
fitossociológicos de um fragmento florestal da RPPN Granja Perobal, com a finalidade de
conhecimento das espécies existentes, gerando informações sobre as espécies florestais
arbóreas nativas que ocorrem na região, dados para subsídio de manejo da área e material
para uso em ações de educação ambiental. Até o final da pesquisa será analisado mais um
fragmento, porém este com tamanho bem maior e em decorrência disso, com amostragem
de três parcelas.

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Materiais e métodos
Caracterização da área estudada
A RPPN Granja Perobal foi instituída pela Portaria IAP 87, de 30 de março de
1998, como área de interesse público e em caráter de perpetuidade com 23,41 hectares de
área, localizada na Linha Perobal, na área rural de São Jorge d’ Oeste – PR (IAP 1998), na
mesorregião Sudoeste do Paraná, microrregião de Francisco Beltrão (IPARDES 2012). A
área situa-se próxima a Rodovia Estadual - PR 175, sendo composta de fragmentos
florestais do Bioma Mata Atlântica em uma área de transição entre a subclassificação
Floresta Ombrófila Mista (Mata com Araucárias) e Floresta Estacional Semidecidual,
tendo em seu entorno áreas visivelmente antropizadas com presença de lavouras
convencionais e uma área comunitária, com instalação de campo de futebol, centro
comunitário e templo religioso. A reserva foi instituída por possuir uma característica de
relevante interesse ecológico, a presença de exemplares centenários de Peroba Rosa
(Aspidosperma polyneuron), que apresentam porte superior em relação aos demais
indivíduos arbóreos da área.
Metodologia
Inicialmente foi realizada a revisão bibliográfica sobre o assunto, com consultas à
documentos oficiais, legislação, livros e sites sobre a temática trabalhada. Para a definição
de amostragens e parcelas utilizou-se a referência de Soares, Neto, Souza (2012) e Venturi
(2005). Para a identificação das espécies florestais foi utilizada a obra de Carvalho (2003)
e para a validação dos nomes científicos e famílias utilizou-se base “Catalog of Life”
(disponível em: www.catalogoflife.org).
Devido à grande quantidade de árvores na área trabalhada descartou-se a realização
de um inventário total das árvores existentes (censo) e optou-se pela amostragem (parcela)
com amostragem aleatória. Segundo Prodan et al. (1997, apud SOARES, et al. 2012, p.
149):
(...) um dos objetivos centrais da mensuração florestal é a obtenção do valor total
de algum atributo relacionado às árvores que compõem a floresta (...), como às
vezes é impossível realizar o censo ou inventário 100%, os inventários florestais
são feitos por amostragem, sendo as árvores selecionadas individualmente ou em
grupos denominados ‘unidades de amostra.

Quanto ao tamanho da unidade amostral (parcela), não existe na literatura um


tamanho ideal ou fixo, sendo que este varia de acordo com o objetivo do levantamento,
distribuição das árvores, tamanho e forma, declividade e demais características específicas
de cada área. De acordo com Schreuder et al. (1993 apud SOARES et al. 2012, p.151), “a

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unidade de amostra deve ter um tamanho tal qual seja suficiente para incluir um número
representativo de árvores, porém pequeno o suficiente para que a relação entre o tempo de
estabelecimento versus o tempo de trabalho (...) não seja alto em demasia”.
Para o levantamento em questão foi estabelecida uma parcela quadrada de 20 m X
20 m, com área de 400 (quatrocentos) m², respeitando 30 (trinta) metros de bordas de cada
lado, para evitar interferências externas ao fragmento. A área foi delimitada com fita
zebrada, as árvores com circunferência à altura do peito (CAP) acima de 10 (dez) cm
foram medidas e numeradas, sendo as informações anotadas em uma planilha de campo,
com os dados: número da árvore, nome popular, CAP e observações, sendo que para as
árvores não identificadas a campo foi coletada uma amostra para posterior identificação.
Depois de realizada a coleta de campo os dados foram organizados, sendo extraído
o DAP (diâmetro à altura do peito), através da fórmula CAP/ π (circunferência da árvore à
1,30 m do chão) dividido pela variável π, torando possível a obtenção dos valores dos
demais parâmetros ecológicos.

Discussões e resultados
Nota-se que a unidade de conservação trabalhada é composta por fragmentos
remanescentes de uma floresta de grande proporção que teve a maior parte desmatada
possivelmente após a colonização da região. Na área amostrada observou-se a presença de
um indivíduo arbóreo de porte superior aos demais, trata-se de uma Peroba Rosa
(Aspidosperma polyneuron) que apresentou maior CAP 377 (trezentos e setenta e sete) cm
e maior DAP 120 (cento e vinte) cm. No seu entorno foram identificadas poucas espécies,
se considerado o valor médio das amostragens nesse tipo de formação florestal. Foram
identificadas 13 (treze) espécies arbóreas pertencentes a 10 (dez) famílias botânicas.
Analisando os dados coletados na parcela trabalhada foram inseridos em
parâmetros para análise fitossociológica da área, tais como:
- Densidade Absoluta (DA) e Relativa (DR): a densidade absoluta refere-se ao
número de indivíduos de cada espécie na área amostrada, enquanto que a relativa refere-se
ao percentual de cada espécie em relação ao total de espécies da parcela. A espécie que
apresentou maior densidade absoluta e relativa foi o Cafezeiro do Mato (Casearia
sylvestris) com vinte e quatro indivíduos (48 %), em segundo lugar o Cipó de Estribo
(Dalbergia frutescens) com sete indivíduos (14%) e sete espécies apresentaram apenas um
indivíduo (2%), sendo: Sucará (Xylosma tweediana), Canjerana (Cabralea canjerana),

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Sapuva (Machaerium stipitatum), Peroba Rosa (Aspidosperma polyneuron), Pau Marfim


(Balfourodendron riedelianum), Caroba (Jacaranda sp), Alecrim (Holocalyx balansae).
- Dominância Absoluta (DoA): refere-se à área basal de cada espécie dividida por
unidade de área, sendo representada pela fórmula: DoA = g/ha, em que “g” representa a
área seccional de cada espécie e “ha” é a medida de área (hectare), nesse caso 1,75 ha. A
espécie que apresentou maior dominância absoluta foi o Cafezeiro do Mato (Casearia
sylvestris) com 149,64 m²/ha, enquanto que a espécie que apresentou menor dominância
absoluta foi o Pau Marfim (Balfourodendron riedelianum) com 1,81 m²/ha.
- Dominância Relativa (DoR): é a área basal total de cada espécie dividida “g”
pela área basal total das árvores de todas as espécies “G” pela unidade de área “ha”
multiplicado pelo coeficiente 100, representada pela fórmula: DoR= (área basal da
espécie/hectare) / (área da basal de todas as espécies/hectare) X 100, sendo o valor
expresso em porcentagem (%). Assim como no parâmetro dominância absoluta, a espécie
com maior dominância relativa foi o Cafezeiro do Mato (Casearia sylvestris) com 39,13%
e a menor foi o Pau Marfim (Balfourodendron riedelianum) com 0,47%.
- Índice de Valor de Cobertura (IVC): é calculado através da soma dos valores de
Densidade Relativa e Dominância Relativa para cada espécie do fragmento e expresso em
uma escala que vai de 0 a 200, sendo que o valor de 200 ocorre somente quando existe
apenas uma espécie na área analisada. Assim como nos demais parâmetros, a espécie que
apresentou maior valor foi a Casearia sylvestris, apresentando o valor de 87,13. Outra
espécie que merece destaque é a Aspidosperma polyneuron, que apesar de apresentar
somente um indivíduo, apresentou o quarto maior valor: 21,69 devendo ao fato de ser a
espécie que apresentou maior DAP (diâmetro à altura do peito) 120 cm, a maior árvore
identificada na parcela.
Por ser trabalhado em apenas uma parcela em um fragmento florestal pequeno, não
foram calculados os valores de frequência absoluta, frequência relativa e IVI (Índice de
Valor de Importância), parâmetros estes que são mais precisos quando aplicados em mais
de uma amostragem (parcela).
Através dos cálculos dos parâmetros expressos acima, observa-se que apesar de
pequena a área possui vegetação bem conservada, não apresentando grande variedade de
espécies se comparadas com o padrão das demais áreas do ecossistema, fato este que pode
estar ligado à presença de indivíduos de grande porte da espécie Aspidosperma
polyneuron, que compete com os demais indivíduos arbóreos.

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REFERÊNCIAS
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Embrapa Informação Tecnológica, 2003. 1039 p.
LORENZI, Harri. Árvores Brasileiras. Vol. I, 3ª Edição Nova Odessa: Instituto
Plantarum, 2000. 352 p.
PARANÁ. Portaria IAP Nº 87/98. Disponível na internet:
http://celepar7.pr.gov.br/sia/atosnormativos/form_cons_ato1.asp?Codigo=1852. Acesso
em 09 de Julho de 2014.
IPARDES. Relação dos Municípios do Estado ordenados segundo as Mesorregiões e
Microrregiões Geográficas do IBGE – Paraná – 2012. Acesso em 09 de Julho de 2014.
SOARES, Carlos P. B.; NETO, Francisco de P.; SOUZA, Agostinho L. Dendrometria e
Inventário Florestal. Viçosa: Editora UFV, 2012. 272 p.
ITIS. Catalogue of Life. Disponível em: <http://www.catalogueoflife.org/col/>. Acesso
em 09 de Julho de 2014.

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CARACTERIZAÇÃO DE ATRIBUTOS DE SOLO PARA ESTUDOS


PALEOAMBIENTAIS

Paula Louíse de Lima Felipe6


Unioeste – Francisco Beltrão
paulinha0508@hotmail.com

Marcia Regina Calegari7


Unioeste – Marechal Cândido Rondon
marciareg_calegari@hotmail.com

Introdução
O solo pode ser entendido um arquivo natural, capaz de armazenar informações das
condições paleoambientais de uma área. Datações, análises isotópicas e análises fitolíticas
podem ser realizadas a partir de amostras de solo e paleossolos, aportando dados sobre as
comunidades vegetacionais que recobriram esse solo e seu entorno ao longo do tempo
(cronologia), permitindo assim a inferir sobre condições paleoambientais.
A caracterização dos atributos de um solo é muito importante para se conhecer as
condições em que tais informações paleoambientais se desenvolveram e se preservaram,
assim como conhecer a composição de um solo pode explicar a permanência ou ausência
destes proxies que fornecem informações ambientais.
A presente caracterização de atributos de solo é a parte inicial de uma dissertação
de mestrado que visa a reconstrução de condições paleoambientais da área da ESEC8 Mata
Preta em Abelardo Luz (SC). Neste texto são apresentados os principais atributosque
caracterizam um perfil do solo está sendo estuda do estudado em detalhe, para fins de
identificação de mudanças ambientais na área.

Localização da área de estudo

A área de estudo localiza-se no município de Abelardo Luz-SC, no fragmento 3


da Estação Ecológica Mata Preta, inserido no Planalto Basáltico de Santa Catarina
(ALMEIDA et al, 2013). O perfil situa-se à 26o27’55.4 S e 52o12’49.9” W, em posição de
topo, a 1.007 m de altitude. A geologia da área é composta por rochas basálticas
Mesozoicas (SCHEIBE, 1986). O relevo da área apresenta-se suave ondulado à ondulado,

6
Aluna de Pós Graduação em Geografia – nível mestrado – da Universidade Estadual do Oeste do Paraná
campus Francisco Beltrão.
7
Profa. Dra. do PPG em Geografia - Nível Mestrado da UNIOESTE-FB e do Colegiado do Curso de
Geografia UNIOESTE- MCR.
8
Estação Ecológica da Mata Preta

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com declividade superior a 25%. A vegetação representa um remanescente de Floresta


Ombrófila Mista com Araucária - FOM (PROCHNOW, 2009). O clima da área é
classificado como Cfb – Clima Temperado, Mesotérmico Úmido com verão ameno
(SANTA CATARINA, 2001).

Material e métodos
A descrição morfológica e coleta de solo foram realizadas em uma trincheira de
1,5m x 1,5m x1m, seguindo Santos et al. (2005). Foram coletadas amostras por horizonte
para as análises químicas e físicas de rotina.
A análise de densidade do solo (Ds) foi realizada pelo método dos anéis
volumétricos de Kopecky (EMBRAPA 1997) e a análise granulométrica e a argila dispersa
em água foram realizadas pelo método da pipeta adaptado de Embrapa (1997) todas nos
Laboratórios de Física de Solo da UNIOESTE. A classificação da textura foi realizada
seguindo as classes apresentadas em Santos et al. (2013).
As análises químicas de rotina (Macro e Micronutrientes) foram realizadas no
Laboratório de Fertilidade do Instituto Agronômico de Campinas- IAC e de Ataque
Sulfúrico no Laboratório de Análise de Solos do Departamento de Solos da Escola
Superior de Agricultura Luiz de Queiroz – ESALQ/USP, em Piracicaba (SP). Estas
análises foram realizadas para fins de classificação do solo e para avaliar o grau de
desenvolvimento pedogenético dos horizontes.

Resultados
O perfil apresenta um solo mineral de 140 cm de espessura e sequência de
horizonte A, AB, BA, Bi e CR (Figura 1). O horizonte superficial satisfaz todos os critérios
de classificação como horizonte A húmico. O solo apresenta baixa saturação por bases
(V<50%) em grande parte dos primeiros 100 cm do horizonte B e contato lítico a 80 cm.

Figura 1: Perfil e a separação dos


horizontes

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Apresenta cor (úmida) bruno muito escuro (7.5YR 2.5/3) nos horizontes A e AB,
passando a bruno-avermelhado escuro (5YR 3/4) nos horizontes BA, Bi e CR. Em sua
maior parte, apresenta textura argilosa (entre 544 g.kg-1 e 439.5 g.kg-1) diferenciando-se
apenas no horizonte CR, que apresenta textura média-siltosa, cujo teor de silte é de 486.9
g.kg-1, devido à proximidade com a rocha.
A estrutura do horizonte A apresenta-se granular pequena e fraca. No restante do
perfil a estrutura, passa a ser em blocos subangulares, havendo variação de tamanho -
muito pequeno e pequeno no horizonte AB, pequeno a médio nos horizontes BA e
praticamente sem estrutura no Bi e no horizonte CR. O horizonte A possui consistência
ligeiramente dura, muito friável, ligeiramente pegajosa e ligeiramente plástico, havendo
pequenas variações quanto à plasticidade no horizonte BA - ligeiramente plástico a
plástico. Os horizontes Bi e CR apresentam consistência ligeiramente dura a dura e friável.
Praticamente não se observou variações quanto a pegajosidade e plasticidade ao longo do
perfil, o que reflete a textura argila do solo (Tabela 1).
O perfil, de modo geral, apresenta muitas raízes, sendo mais grossas, sobretudo nos
primeiros 30 cm de solo. A transição entre os horizontes é difusa e plana, à exceção da
transição entre o CR e a rocha, que se dá de forma abrupta e ondulada.
A densidade do solo é baixa em todo o perfil (Tabela 1). O menor valor foi
encontrado no horizonte A, efeito da matéria orgânica do solo que atua na formação da
estrutura grumosa. No horizonte Bi a estrutura pouco desenvolvida (maciça) atribui maior
densidade de solo.

Tabela 1: Atributos físicos do perfil.


Horizonte Profundidade Textura Relação Densidade(g.cm-3)
(cm) Silte/Argila
A 0-15 Argilosa 1.1 0,64
AB 15-30 Argilosa 0.9 1,0
BA 30-60 Argilosa 0.8 1,0
Bi 60-80 Argilosa 0.7 1,03
CR 80 + Média siltosa 1.4 -

A relação silte/argila para o horizonte Bi apresentou valor 0.7 (Tabela 1), que
indica que o solo, sob esse aspecto, não apresenta alto grau de intemperismo.
O perfil apresenta valores baixos de pH, situados entre 4,3 e 5,1 (Tabela 2),
indicando que o solo estudado está entre extremamente ácido a muito ácido.

Tabela 2: Atributos químicos do Perfil 1.

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Horizonte pH V% M.O. Carbono Valor S C.T.C


(CaCl2 (g/dm3) Orgânico (cmolc/dm3) (cmolc/dm3)
0,01M) (g/dm3)
A 4,3 33 91 52,9 7,44 22,44
BA 4 22 42 24,4 0,44 18,94
Bi 5,1 1 30 17,4 0,23 2,03

Os teores de Matéria Orgânica do solo apresentaram diminuição em profundidade,


sendo estabelecidos em 91 g/dm3 para o horizonte A, diminuindo para 42 g/dm3 no
horizonte BA, e 30 g/dm3 no horizonte Bi. Em relação aos teores de Carbono Orgânico, os
tores variaram de 52,9 g/dm3 no horizonte A, 24,4 g/dm3 no horizonte BA a 17,4 g/dm3 no
horizonte Bi.
A soma das bases trocáveis de um solo (Valor S) é de 7,44 cmolc/dm3 para o
horizonte A, 0,44 cmolc/dm3 para o horizonte BA e 0,23 cmolc/dm3 para o horizonte Bi. Os
valores CTC para esse solo variam de 22,44 cmolc/dm3 no horizonte A e 2,03 cmolc/dm3
no horizonte Bi. O valor máximo de Saturação por bases (V%) encontrado foi de 33% no
horizonte A, 2% no horizonte BA e 11% no horizonte Bi (Tabela 2), sendo este perfil
classificado como distrófico.
Os teores de Fe2O3 aumentaram de 105.3 g kg-1 para 127.6 g kg-1 (Tabela 3) entre
os horizontes A e Bi, e no horizonte CR o valor encontrado foi de 178.2 g kg-1. Este solo é,
portanto, um solo mesoférrico, ou seja, possui médio teor de óxidos de Ferro (SANTOS et
al., 2013).

Tabela 3: Ataque Sulfúrico do Perfil.


Horizonte SiO2 Al2O3 Fe2O3 TiO2 MnO Ki Kr
-1
g kg
A 99 160,2 105,3 54,3 0,313 1,05 0,74
AB 91 185,4 117,2 57,7 0,249 0,83 0,59
BA 126 198,5 122,1 59,5 0,216 1,08 0,77
Bi 138 206 127,6 64,2 0,210 1,14 0,82
CR 100 240,8 178,2 58,2 0,300 0,71 0,48

Os valores de Ki e Kr nos horizonte A e Bi (Tabela 3), indicam tratar-se de um solo


caulinítico-oxídico com Ki>0,75 e Kr<0,75) (EMBRAPA, 2013).O solo tem valores de Ki
<1,2, indicando ser um solo muito intemperizado. O Kr também é considerado um índice
de intemperização e os valores encontrados são baixos, corroborando se tratar de um solo
com elevado grau de evolução mineralógica.

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Com base nos resultados obtidos, o solo estudado foi classificado como
CAMBISSOLO HÚMICO Distrófico léptico.

Considerações
O perfil foi classificado como CAMBISSOLO HÚMICO distrófico léptico, que
apresenta textura argilosa na maior parte do perfil. Embora seja um perfil pouco profundo,
ele se encontra em posição de topo e se desenvolveu in situ.
Os atributos que indicam o grau desenvolvimento desse perfil são: a relação
silte/argila e os índices Ki e Kr. O primeiro indica grau moderado de desenvolvimento
pedogenético, mas em contrapartida, os baixos valores de Ki indicam ser um solo muito
intemperizado. A cronologia da matéria orgânica preservada nesse solo e possíveis
mudanças que podem ter ocorrido na área estão sendo investigada e aportarão maiores
informações sobre a evolução da ambiental da área.

Agradecimentos
Ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da Unioeste Campus de Francisco
Beltrão pelo suporte financeiro para desenvolvimento da pesquisa. À ESEC Mata preta
pelo apoio ao trabalho de campo e a CAPES pela concessão da bolsa de mestrado.

Referências bibliográficas
ALMEIDA Jaime A. et al. Guia de Excursão Pedológica. XXXIV Congresso Brasileiro
de Ciência do Solo - Excursão Técnica 1: Solos de altitude e do Litoral Sul de Santa
Catarina. 2013.
EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Manual de métodos e análise de
solo. Rio de Janeiro, 1997, 212 p.
PROCHNOW, Miriam (Org.). O Parque Nacional das Araucárias e a Estação
lEcológica da Mata Preta: Unidades de Conservação da Mata Atlântica. Rio do Sul:
APRAMEVI, 2009.
SANTA CATARINA. Secretaria de Estado da Agricultura e da Pesca. Tipos Climáticos.
Florianópolis-SC: Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural. 2001.
Disponível em
<http://www.ciram.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=708:atlas-
climatologico&catid=2> Acesso em 06/06/2014.
SANTOS, Humberto G. dos.,et al. Sistema Brasileiro de Classificação de Solos. Brasília-
DF: Embrapa, 3a edição, 2013, 353 p.
SANTOS, Raphael D. dos et al. Manual de Descrição e Coleta de Solo no Campo.
Viçosa-MG: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 5a edição, 2005, 91 p.
SCHEIBE, Luiz F. A geologia de Santa Catarina – Sinopse provisória. Geosul. No 1, 1o
semestre. 1986, p. 7-38.

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RAZÃO TI/ZR NA IDENTIFICAÇÃO DE DESCONTINUIDADES


ESTRATIGRÁFICAS EM DEPÓSITO DE COLÚVIO – PLANALTO DE
PALMAS/ÁGUA DOCE

Andressa Fachin
Mestre em Geografia – Unioeste (Campus de Francisco Beltrão-PR)
afgeog@hotmail.com

Julio Cesar Paisani


Decente - Unioeste (Campus de Francisco Beltrão)
juliopaisani@hotmail.com

Introdução
A área de estudo corresponde uma paleocabeceira de drenagem localizada no
Planalto de Palmas/Água Doce. Essa região vem sendo estudada por Paisani et al., 2008, e
atualmente por Paisani, 2010, Guerra, 2012, Lima 2013, Fachin, 2013, entre outros. A
partir do trabalho preliminar de Paisani et al., (2008), o grupo “Gênese e Evolução de
Superfícies Geomórficas e Formações Superficiais”, da UNIOESTE, vem levantando
informações acerca da evolução da paisagem dessa área (Paisani, et al., 2013). Essas
informações correspondem ao período Quaternário, que se caracteriza por mudanças
climáticas e alteração das taxas de pedogênese e morfogênese. Nesse sentido, os depósitos
quaternários encontrados no Planalto de Palmas/Água Doce permitem reconstruir
paleoambientes, as quais fornecem conhecimentos para a compreensão da dinâmica atual
das paisagens nesse planalto (Moura,1994).
Neste contexto, esse estudo buscar reconhecer os registros estratigráficos do
período Quaternário, e identificar as variações verticais em materiais coluviais através da
Razão Ti/Zr e responder questões relacionadas aos estudos paleoambientais e mudanças
paleohidrológicas/mudanças do nível de base que influenciam a evolução da paisagem no
Planalto de Palmas/Água Doce.

Metodologia
Para a identificação do registro estratigráfico foi realizados trabalhos de campo e
análises laboratoriais. Em campo, foi definido os pontos de amostragem (8 janelas) e
identificado a disposição das unidades estratigráficas, caracterizada por discordâncias
erosivas e paleovoçorocas. A princípio elas foram individualizadas em paleossolos e
sedimentos. As descrições seguiram a metodologia de Paisani & Geremia (2010).

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As análises laboratoriais consistiram em análise granulométrica e razão Ti/Zr. Na


análise granulométrica, buscou-se reconhecer as mudanças na distribuição vertical das
frações granulométricas como feito por Paisani (2004). Essa análise foi realizada no
laboratório de Análises e Formações Superficiais – Unioeste, sob o método de
peneiramento da fração grossa e pipetagem da fração fina (Suguio, 1973). Os resultados
foram organizados em gráficos de linhas conforme as frações granulométricas e
distribuídos segundo a profundidade. A razão Ti/Zr é utilizada nos estudos estratigráficos
para verificar o grau de intemperismo químico dos materiais e identificar descontinuidades
estratigráficas em materiais aparentemente homogêneos (CRUZ, 2006). Essa análise foi
realizada pelo laboratório de Florescência de Raio X e de Química do Instituto de
Geociências da USP – São Paulo por meio da Florescência de Raios-X (FRX). Ao todo,
foram realizadas em 24 amostras das principais unidades estratigráficas previamente
reconhecidas na análise granulométrica.

Resultados e discussões
Caracterização da seção estratigráfica
A seção estratigráfica HS14 apresenta aproximadamente 22 m de extensão por 3,50
m de altura (Figura 1). Foi identificada a presença de paleossolo com horizonte A húmico
enterrado e truncado pelas incisões erosivas (paleossolos). Foram reconhecidas 20
unidades estratigráficas, que podem ser classificadas como face aluvial (unidade 12),
facéis colúvio-aluvial de colmatação das paleovoçoroca (unidades 3 e 6a, 6b e 6c) e facéis
coluviais (unidades 1, 4, 5, 6, 7, 8, 9a, 9b, 10, 11, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19 e 20),
divididas em facéis de colmatação da paleovoçoroca (unidades 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 13 e
14) face coluvial pedogeneizado ( unidade 2) e facéis de rampa de colúvio (unidades 15,
16, 17, 18, 19 e 20), com sutis variações de cor e classe textural (Fachin, 2013).

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Figura 1: Seção HS14 com as unidades estartigráficas. 1) Saprolito do riolito; 2) cascalho lamoso
com matriz suportada; 3) paleossolo com horizonte A; 4) lentes de material organo-mineral; 5)
lentes de material mineral; 6) gramíneas e arbustos. J2, J5: Janelas de amostragens (adaptado de
Fachin, 2013 e Paisani et al., 2014).

Análise granulométrica e razão Ti/Zr


Inicialmente, a individualização das unidades estratigráficas foi com bases em na
análise granulométrica. As sutis variações nas frações granulométricas foram usadas para
identificar descontinuidades estratigráficas de sedimentos aparentemente homogêneos,
similarmente feito por Paisani (2004). Para aferir os dados obtidos com as diagrafias
granulométricas, buscou-se a determinação pela razão Ti/Zr.
Em síntese, as diagrafias granulométricas das janelas de descrição (J2 e J5que serão
apresentadas neste trabalho) revelaram material com predomínio de frações finas (argila e
silte) em todas as janelas de amostragem. As frações grossas (seixo, grânulo e areia) são
menos expressivas com até 10 %, mas permitiram reconhecer tendências de distribuição
granulométrica verticais e foi usada para distinguir descontinuidades estratigráficas nos
materiais coluviais.

Figura 2: Distribuição das frações granulométricas e razão Ti/Zr.

A razão Ti/Zr da J2 mostra descontinuidades nas unidades 15, 18, 19 e 20


sugerindo materiais de área fonte diferentes (Figura 2). As demais unidades não
apresentam descontinuidades, sendo de materiais de mesma área fonte. Quanto a J5 a razão
Ti/Zr indicou descontinuidades estratigráficas entre as unidades desta janela, sugerindo que

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tais unidades, aparentemente homogêneas, apresentam materiais de diferentes áreas fonte.


Já as unidades 19 e 20 apresentam materiais de mesma área fonte, pois não apresentam
variação na razão Ti/Zr. A razão Ti/Zr foi fundamental na identificação de
descontinuidades estratigráficas em materiais aparentemente homogêneos.

Conclusões
A partir dos dados apresentados é possível aferir que no Planalto de Palmas/Água
Doce, há importantes registros estratigráficos que contribuem para o entendimento da
evolução da paisagem. Na seção estratigráfica foram encontrados registros de uma
(paleo)voçoroca e paleossolo. Os depósitos que recobrem a (paleo)voçoroca foram
caracterizados como fáceis aluvial, colúvio-aluvial e coluviais, sendo caracterizados pela
razão Ti/Zr como materiais de diferentes áreas fonte o que permitiu individualizar
matérias aparentemente homogêneos vistos em campo.

Referências bibliográficas
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2006. Departamento de Geografia - IGC/ UFMG.
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Planalto das Araucárias (Superfície 2). 97p. Dissertação (Mestrado em Geografia) –
Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Francisco Beltrão.
GUERRA, S. Abrangência espacial e temporal da morfogênese e pedogênese no
Planalto De Palmas (PR) e Água Doce (SC): subsídio ao estudo da evolução da
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Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Francisco Beltrão.
LIMA, J. G. G. Mapeamento e caracterização de derrame alterado sob rocha sã no
Planalto de Palmas (PR)/Água Doce (SC). Dissertação (Mestrado em Geografia) 2013.
Francisco Beltrão, PR.
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PAISANI, J. C.; PONTELLI, M. E; ANDRES, J. Superfícies aplainadas em zona
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PAISANI, J.C; GEREMIA, F. Evolução de Encostas no Planalto Basáltico com base na
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PAISANI, J.C; PONTELLI, M. E. 10 anos de levantamento do meio físico e evolução da
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IMPACTOS DA URBANIZAÇÃO NO ASSOREAMENTO DO RIO


LONQUEADOR

Maico Chiarelotto
UTFPR - Francisco Beltrão
(maico.chiarelotto@gmail.com).

Marilete Chiarelotto
Unioeste - Marechal Cândido Rondon

Introdução
O assoreamento dos rios é um processo natural que vem se intensificando pela ação
antrópica nos últimos anos. Essas ações resultam no transporte de grandes quantidades de
sedimentos que chegam aos rios, num curto espaço de tempo, sendo que estas são maiores
que aquelas transportadas em centenas de anos em condições naturais.
São vários os fatores naturais e de influência antrópica que interferem na produção
e na deposição de sedimentos em uma bacia hidrográfica. Segundo Santos 2004, “os
principais fatores que interferem diretamente são: tipo de solo, topografia da bacia,
presença ou não de cobertura vegetal, formas de uso e ocupação do solo e intensidade de
precipitações na bacia hidrográfica”.
Esses fatores afetam diretamente o equilíbrio do ciclo hidrológico, que a partir do
crescimento do desenvolvimento urbano sofreu importantes alterações tendo como
consequência enchentes e deslizamentos por exemplo. “As superfícies naturais foram
substituídas por superfícies impermeáveis dificultando a infiltração da água no solo e
consequentemente aumentando o escoamento superficial” (TUCCI, 2007).
“Em bacias urbanas a alteração de uso do solo é definitiva, o solo, e até o
subsolo, ficam expostos para erosão no lapso de tempo entre o início do
loteamento e o fim da ocupação. Quando a bacia urbana está completamente
ocupada e o solo praticamente impermeabilizado, a produção de sedimentos
tende a decrescer” (TUCCI, 2007, pg 107)

Detectada a grande taxa de acúmulo de sedimentos no canal do rio Lonqueador,


onde no qual já foram executadas duas obras de desassoreamento nos últimos quatro anos,
este trabalho foi desenvolvido com o intuito de levantar as causas do assoreamento do rio
em questão, bem como encontrar soluções que amenizem este problema.

Materiais e métodos
O referido trabalho foi desenvolvido na bacia do rio Lonqueador no município de
Francisco Beltrão localizado na região Sudoeste do Paraná, “apresentando clima Cfa –

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subtropical úmido mesotérmico, destacando-se o tipo de solo latossolo distrófico roxo de


textura argilosa” (IAPAR, 2000). As chuvas no município de Francisco Beltrão são bem
distribuídas ao longo do ano. “A vegetação onde se insere a bacia do rio Lonqueador é
típica da floresta ombrófila mista” (IBGE, 2004).
Com o auxílio do software Spring detectou-se que a bacia do rio Lonqueador tem
área aproximada de 17,5 km², sendo este um afluente do Rio Marrecas. Sua principal
nascente está localizada no município de Marmeleiro-PR. Conforme analisado a bacia do
rio Lonqueador está inserida quase que em toda sua totalidade em área urbana. Os bairros
que o rio percorre são: Água Branca, São Cristóvão, Industrial, Vila Nova e Presidente
Kenedy.
O método utilizado para detectar os problemas causadores do assoreamento do
canal do rio Lonqueador envolveu um procedimento de visitas e registros fotográficos ao
longo da área urbana da bacia. Nessas visitas os principais pontos analisados foram a
forma de uso e ocupação do solo, presença de cobertura vegetal e presença de resíduos
descartados incorretamente. Esses parâmetros foram analisados em diferentes declividades
ao longo da bacia, como topos de morros, encostas e planícies. Outro ponto importante
analisado foi a presença ou não de lagoas de contenção em loteamentos situados em áreas
com grande declividade. Com essas informações, foi possível fazer uma análise das
condições da bacia do Rio Lonqueador, bem como encontrar as principais causas do
assoreamento do canal e as soluções para que este problema seja amenizado.

Resultados e discussão
A partir de visitas técnicas realizadas ao longo da bacia urbana do rio Lonqueador,
observou-se que quando o rio tem seu primeiro contato com a cidade através dos bairros
Água Branca, São Cristóvão e Industrial, suas margens e a área perpendicular ao canal não
possuem uma ocupação urbana severa, porém é possível observar que nos últimos anos
muitos loteamentos estão sendo construídos principalmente nessas áreas que não eram
muito ocupadas e gerando segundo Tucci 2007, “uma maior taxa de transporte de
sedimentos até o canal, pois o solo está totalmente desprotegido, sendo facilmente erodido”
e a maioria desses novos loteamentos não possuem medidas para prevenir esse tipo de
impacto.
Continuando seu trajeto o rio Lonqueador passa pelos bairros Vila Nova e
Presidente Kenedy, este último sendo o local de sua foz. Nessa região a ocupação urbana
ao longo do canal está quase que completa gerando baixa quantidade de transporte de

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sedimentos, porém como boa parte da superfície está impermeabilizada a taxa de


infiltração é muito baixa e consequentemente o escoamento superficial extremamente alto.
Esta região, sendo bem urbanizada, outros fatores que influenciam no assoreamento do
canal entram em questão, como a grande quantidade de resíduos descartados em certos
locais ao longo do canal.
Sucintamente pode-se observar que os materiais que causam o assoreamento do
canal do rio Lonqueador são basicamente sedimentos provenientes da erosão por águas
pluviais sobre solos desprotegidos principalmente em novos loteamentos, resíduos como
madeiras, vidros, pneus, móveis, papéis, e entulhos provenientes de obras de construção
civil.
Sabe-se que o processo de assoreamento é natural, porém quando ocorrem certas
ações antrópicas como as supracitadas, esse processo é intensificado. Dificilmente poderá
ser encontrada uma solução para acabar com o processo de assoreamento, porém existem
recursos que podem amenizar este problema.
A forma mais inteligente e econômica de se reduzir o assoreamento em toda a parte
urbana da bacia hidrográfica do rio Lonqueador está no combate preventivo às suas
principais causas: nos projetos de novos loteamentos na bacia devem-se exigir obras para
contensão e controle do escoamento superficial, e para controlar o descarte incorreto de
resíduos devem-se implantar campanhas educativas, bem como aumentar a fiscalização ao
longo do canal.

Considerações finais
A questão do meio ambiente está sempre em pauta no cenário nacional e regional,
porém poucas são as ações colocadas em práticas para combater problemas como o de
assoreamento abordado neste trabalho. É preciso maior dedicação tanto da parte dos
governantes quanto da população, visto que a falta de conscientização dos cidadãos em não
descartar resíduos ao longo do canal do rio Lonqueador, por exemplo, torna-se um fator
extremamente agravante neste caso. Por mais que sejam realizadas campanhas educativas,
se a população não tiver uma autoconscientização o problema não será amenizado.
A partir da conscientização da população e de uma maior fiscalização na liberação
de loteamentos a bacia do rio Lonqueador possui todas as condições de amenizar o
processo de assoreamento, minimizando gastos do poder público com o desassoreamento
do canal.

Eixo 2: Dinâmica, Utilização e Preservação do Meio Ambiente Página 118


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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Mapa de Vegetação do Brasil.
Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, 2004. Disponível em:
<ftp://geoftp.ibge.gov.br/mapas_tematicos/mapas_murais/vegetacao.pdf>. Acessado em 07
jun. 2014.
IAPAR – Instituto Agronômico Do Paraná. Cartas climáticas do Paraná. Londrina-PR,
2000. Disponível em:
<http://www.iapar.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=597>. Acessado em: 06
jun. 2014.
SANTOS, Rozely F. dos. Vulnerabilidade Ambiental. Brasília: MMA, 2007. 192p. ISBN
978-85-7738-080-0 Disponível em:
<http://www.inpe.br/crs/geodesastres/conteudo/livros/Vulnerabilidade_ambiental_desastre
s_naturais_ou_fenomenos_induzidos_MMA_2007.pdf>. Acessado em: 07 jun. 2014.
TUCCI, Carlos M. Inundações Urbanas. Porto Alegre: ADRH/RHAMA, 2007. 393p.
ISBN 978-85-88686-21-2.

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PROPRIEDADES FÍSICAS E IDENTIFICAÇÃO DE HORIZONTES DE SOLO –


SUPERFÍCIE GEOMORFOLÓGICA IV (SW PR).

Bruna Krampe de Almeida


Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE.
brunakrampe@hotmail.com

Wanessa Peloso
Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE.
wanessapeloso@gmail.com

Introdução:
Através de estudos realizados pelo grupo de pesquisa Gênese e Evolução de
Superfícies Geomórficas e Formações Superficiais, foi possível identificar que no Planalto
das Araucárias, setor do relevo que corresponde a Serra da Fartura ocorre variação do
relevo em forma de escadarias de leste (Planalto de Palmas) para oeste (margens do rio
Paraná). Isso levou Paisani et al.(2008) a proporem a existência de oito superfícies
geomorfológicas esculpidas tanto por processos morfogenéticos quanto por alteração
química. A superfície geomorfológica IV, correspondendo a altitudes de 1000 a 1100
metros, é uma dessas superfícies indicada como sendo elaborada a partir de processos
pedogenéticos e de alteração química. Resta saber qual a intensidade desses processos.
Assim o presente trabalho traz o detalhamento do levantamento macromorfológico
realizado em perfil representativo da superfície geomorfológica IV, localizado nos
arredores da Fazenda Pagliosa – PR.

Materiais e métodos:
As características macromorfológicas do perfil de solo foram obtidas através de
duas etapas, campo e laboratório. Em campo foram realizados os seguintes procedimentos
técnicos: estabelecimento de perfil representativo da superfície geomorfológica IV;
levantamento topográfico; descrição das propriedades físicas dos materiais de acordo com
procedimentos de Santos et al., 2005. Desta profundidade até 460 cm, limite do perfil com
a rocha sã, foi utilizado trado holandês. Após foram coletadas amostras deformadas para
determinação da granulometria.
Em laboratório foi realizada determinação granulométrica, a partir de procedimentos
seguidos pelo laboratório de Análises de Formações Superficiais – Unioeste – Campus de
Francisco Beltrão.

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Resultados e discussão:
O perfil de solo representante da superfície geomorfológica IV situa-se em corte de
estrada secundária, nas proximidades da Fazenda Pagliosa (PR). A janela correspondente
ao perfil mostrou 4 metros e 60 cm de extensão de material intemperizado, incluindo
solum e alterita. As propriedades físicas e granulométricas (Tabela 1) permitiram
individualizar os seguintes horizontes principais (A, B e C) com subdivisões (Figura 1),
bem como os horizontes transicionais (AB, BA, BC, CB).

Tabela 1: Propriedades físicas e característica textural dos materiais no perfil de solo


estudado;

Vol. Prof Cor Text Estrutura Consistência Porosi. D.A D.R


(cm) Seca Úmida Tipo Grau Seca Úm. Plast Pegaj Total
(%)

1 0-20 7.5 YR 3/4 5 YR 3/2 MA Sb.A Solta S S LPI LP 2,41


15,0 0,85
2 20-55 7.5YR 3/4 2.5YR 3/3 MA Sb.A Mod LD MF LPI LP 7,0 0,84 2,41
3 55-80 7.5YR 3/4 2.5YR 3/3 MA Sb.A Mod. LD MF LPI LP 5,0 0,84 2,32
4 80-130 7.5YR 3/4 2.5YR 3/3 MA Bl.P Mod. D MF LPI LP 3,0 0,90 2,46
5 130-180 5 YR 3/4 5YR 3/3 MA Sb.A Forte LD MF LPI LP 2,0 0,90 2,77
6 180-230 5YR 3/4 2.5YR 3/3 MA Sb.A Mod. D MF LPI LP 2,0 - -

7 5 YR 4/4 MA Sb.A M.F D MF LPI LP 1,0 - -


230-300 2.5YR 3/2

8 5YR 3/4 MA Sb.A - LD MF LPI LP - - -


300-320 2.5YR 3/2
- -
9 320-460 2.5 YR 3/6 2.5YR 3/3 S Sb.A - D MF LPI LP -

MA: muito argilosa; A: argilosa; Md: média; S: siltosa; Sb.A: blocos subangulares; Bl. P: blocos prismáticos;Mod: moderada; M: macia;
LD: ligeiramente dura; MD: muito dura; NPI: não plástica; LPI: ligeiramente plástica; NP: não pegajosa: S: solta; Fr: friável; MF: muito
firme; D.A: densidade aparente; D.R: densidade real;

Observando as características plotadas na tabela percebe-se claramente uma transição de


horizontes, cujo o horizonte A, representado até 20 cm de profundidade, apresenta intensa
presença de raízes e estrutura em blocos subangulares, de grau solto. De 20 a 55 cm
observa-se a variação nas propriedades do grau da estrutura, apresentando-se ainda em
blocos subangulares, porém de grau moderado, e a consistência passa de ligeiramente dura
quando seca, a muito firme quando úmida. Este volume caracteriza-se como horizonte
transicional AB (Figura 1). Na sequência, de 55 a 80 cm de profundidade, as propriedades
permanecem praticamente iguais às do horizonte AB, porém observa-se diminuições das
porosidade total para 5%, e da presença de raízes. Isso permite identificar horizonte BA
(Figura 1). De 80 a 180 cm (Figura 1) observa-se a diminuição gradativa da porosidade
total e das raízes. As demais características indicam material correspondente a horizonte B,
com subdivisões (Tabela 1; Figura 1). Entre 80 e 130 cm a principal mudança é da

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estrutura, passando a blocos prismáticos, e da consistência a seco que se apresenta dura.


Nesta profundidade observa-se
observa se a maior densidade aparente dos materiais no perfil (Tabela
1). De 130 a 180 cm ocorre variação da cor, tendendo a mais vermelho (5YR 3/4), e da
estrutura quee volta a se apresentar como blocos subangulares (Tabela 1). A partir de 180
cm observa-se
se leve aumento de silte e diminuição de argila (Figura 1), o que indica tratar-
tratar
se de transição entre o horizonte B e o C, ou seja, um horizonte BC. Em 230 cm,
praticamente observa-se
se percentual igual de silte (+ ou – 50%) o que mostra que temos um
horizonte CB (Figura 1). O restante do material apresenta características principalmente de
textura que define horizonte C, inicialmente como aloterita (C1) e, a partir de 320 cm de
profundidade, como isoalterita (C2) – (Figura 1).

Figura 1:: Distribuição dos materiais ao longo do perfil (A) 1) Areia; 2) Silte; 3) Argila; e a
Representação dos materiais encontrados na janela descrita (B) 1) Raízes; 2) Finos (Silte/argila);
(Silte 3)
clastos de derrame amigdaloidal.

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Considerações finais:
As propriedades físicas e a determinação granulométrica deste perfil foram
importantes porque permitiram identificar os horizontes de solo da superfície
geomorfológica estudada. Através do perfil e do gráfico granulométrico (Figura 1)
observa-se ao longo do perfil uma progressiva evolução de horizontes, com textura muito
argilosa até 230 cm de profundidade, apresentando acima de 70% de argila. A textura
passa a apresentar-se mais siltosa, quando os materiais correspondem a horizonte C, ou
seja, de rocha alterada com estrutura conservada.

Referências:
CURI, N.; LACRACH, J.O.I.; KAMPF, N.; MONIZ, A.C.; FONTES, L.E.F. –
Vocabulário de ciência do solo. Campinas: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 1993,
90p.
EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos – Manual de Métodos de Análise de
Solo. Rio de Janeiro: Embrapa-CNPS, 2ª Edição, 1997, 212p.
PAISANI, J.C.; PONTELLI, M.E.; ANDRES, J. Superfícies aplainadas em zona
morfoclimática subtropical úmida no Planalto Basáltico da Bacia do Paraná (SW Paraná e
NW Santa Catarina): Primeira aproximação. São Paulo, UNESP, Geociências, v. 27, p.
541-553. 2008.
SANTOS, R.D.; LEMOS, R.C.; SANTOS, H.G.; KER, J.C.; ANJOS, L.H.C. Manual de
descrição e coleta de solo no campo. Viçosa, Sociedade Brasileira de Ciência do
Solo/EMBRAPA Solos, 5ª Edição (Revisada e Ampliada), 2005. 92p.

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APRESENTAÇÃO DE SISTEMAS DE CAPTAÇÃO DAS ÁGUAS PLUVIAIS EM


REGIÕES URBANAS

Tamara Kenia Alff


Profissional arquiteta e urbanista
arq.alff@gmail.com

Kamila Villwock Harnisch


UNIOESTE (Campus de Francisco Beltrão PR)
arqkamila@gmail.com

Introdução
O crescimento populacional urbano e a falta de aplicações de sistemas e elementos
de captação da água da chuva nas edificações são dois fatores importantes no agravamento
de problemas controversos entre si, as enchentes e a seca.
Apesar de controversos ambos surgem do mesmo elemento, a água. Como um bem
finito, a água já vem sendo estudada como fonte principal para sistemas de
aproveitamento, onde por exemplo a água da chuva é utilizada em descargas de vasos
sanitários, lavagem de pisos e roupas e rega de plantas. Este tipo de reaproveitamento para
fins não potáveis e/ou potáveis é uma solução sustentável amplamente discutida, mas ainda
pouco aplicada em centros urbanos, principalmente no Brasil.
Alguns países com menor concentração de água doce apresentam maior
preocupação e aplicação de sistemas de aproveitamento e até renovação de águas já usadas
para serem reutilizadas.
Neste resumo se pretende mostrar algumas ideias práticas para implantação de
sistemas de captação da água da chuva em residências, edifícios privados e públicos.

Metodologia
Como este resumo expandido irá discutir sistemas de captação e aproveitamento da
água da chuva, a metodologia consiste na pesquisa de sistemas pouco convencionais de
captação das águas pluviais. O sistema utilizado mais amplamente em áreas urbanas da
região Sudoeste do Paraná, por exemplo, é a captação da água da chuva através das calhas
da cobertura das residências. Estas são direcionadas para uma cisterna que pode ser
subterrânea ou estar no mesmo nível da caixa d'água. Se subterrânea, a água será levada
para a edificação através de uma bomba de pressão.

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Deste modo, o resumo irá descrever soluções propostas em bibliografias


provenientes de outros países, mas que podem ser adequadas ao uso de diferentes regiões,
inclusive no Brasil.

Discussões
A grande questão é: Por que aproveitar a água da chuva? A resposta para uma
região que não está habituada com a escassez de água potável pode ser mais difícil de se
compreender.
Alguns dados podem ajudar na percepção da problemática da escassez de água
potável. Segundo Vasconcelos (2007), cerca de 3% da água disponível no planeta Terra, é
doce, e deste percentual somente 0,7 % encontra-se disponível no estado líquido. No
entanto, a falta de conscientização, de estímulos e de leis de fácil aplicação, faz com que
grande parte da população use água potável em atividades inadequadas, como por
exemplo, a lavagem de veículos e calçadas. Isso caracteriza o desperdício de um recurso
preparado para a utilização em atividades que necessitam do tratamento da água, como
produzir alimentos e beber.
Informações do site Planeta Sustentável da editora Abril, mostram que segundo
levantamento da OMS (Organização Mundial da Saúde), a média diária ideal de consumo
de água por seres humanos é de 50 litros. A média brasileira de consumo é de 187 litros
por dia, o que representa quase 4 vezes mais do que a média considerada ideal.
Por mais que o recurso seja abundante em várias regiões do Brasil, o uso racional
de água potável, ação que pode ser potencializada com o aproveitamento das águas
pluviais, representa economia financeira para o Estado, que investe recursos no tratamento;
e para o usuário final, que paga para ter a água tratada na torneira.
Trazendo a Declaração Universal dos Direitos da Água, proclamada em março de
1992, pode-se ler no primeiro artigo:

[...] "Art. 1º - A água faz parte do patrimônio do planeta.Cada continente, cada


povo, cada nação, cada região, cada cidade, cada cidadão é plenamente
responsável aos olhos de todos."[...]
(Biblioteca Virtual de Direitos Humanos)

Portanto, enaltecer a questão da economia e do emprego da sustentabilidade são as


duas respostas mais cabíveis.
Grande importância possui também o sétimo artigo, que descreve que a água não
deve ser desperdiçada, poluída ou envenenada. E que sua utilização deve ser feita com

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consciência para que não se chegue em situação de esgotamento ou deterioração da


qualidade das reservas atualmente disponíveis.

Ideias para o aproveitamento da água da chuva


A organização Group Raindrops, que editou e traduziu o livro "Aproveitamento da
Água da Chuva" mostra vários sistemas e edificações inteiras que foram pensadas para
aproveitar a água da chuva. O livro original foi lançado em 1994, traduzido para o inglês
em 1995 e para o português em 2002. A seguir, algumas das alternativas propostas pela
obra.

Aproveitamento da água da chuva com uso de barril de madeira e camadas para


purificação
Conforme a imagem 1, o sistema deve ser instalado logo abaixo de um coletor de
águas pluviais. Este pode ser o ponto final de um condutor de calhas metálicas, por
exemplo. No barril de madeira devem ser colocadas as camadas para purificação da água
da chuva. Ao passar pelas camadas do sistema, a água vai tornando-se própria para
consumo humano, sendo possível ao final do processo utilizá-la para ações como beber e
cozinhar, por exemplo.

Figura 1 - Sistema de Aproveitamento da água da chuva com uso de barril de madeira e camadas
para purificação

Fonte: Group Raindrops - Aproveitamento da Água da Chuva

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Técnica para tratar a água da chuva, reutilizá-la e destinar corretamente o excesso


Neste sistema de captação e reutilização, a água dos telhados é levada a uma
cisterna subterrânea onde há a filtragem de elementos poluentes de grande e médio porte
(galhos e folhas, por exemplo). Do mesmo modo que no sistema mais convencionalmente
utilizado na região, estando na cisterna a água pode ser clorada e levada através de uma
bomba de pressão até os vasos sanitários e torneiras externas. O complemento à esse
sistema é a tubulação que leva a água pluvial excedente a um tanque preparado com
sistema de drenagem. Assim, o ciclo do sistema é eficiente por aproveitar as águas pluviais
e ainda destinar corretamente a água excedente evitando possíveis enchentes.

Imagem 2 - Técnica para tratar a água da chuva, reutilizá-la e destinar corretamente o excesso

Fonte: Group Raindrops - Aproveitamento da Água da Chuva

Considerações Finais
Conforme apresentado na discussão deste resumo, a importância da preservação e
da reutilização das águas é tanto um dever como uma medida sustentável, que garante a
manutenção de um recurso essencial para a vida.
No Brasil, de modo geral, a escassez de água não é considerada um grave
problema, entretanto, isto não caracteriza um motivo suficiente para que cuidados sejam
negligenciados, visto que apesar de sua abundância, a água adequada para o consumo
humano é um bem finito.
Zelar pelas fontes de água potável, mesmo no contexto brasileiro, significa além de
preservá-las, ampliar o senso de preservação ambiental na comunidade e sobretudo a
economia de recursos financeiros.

Eixo 2: Dinâmica, Utilização e Preservação do Meio Ambiente Página 127


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Ao reduzir o consumo de água tratada para usos não adequados, como limpeza de
calçadas, por exemplo, o custo da habitação com água diminui, bem como diminuem os
custos do poder público com o tratamento. Recursos economizados representam uma
reserva que pode ser investida em outros fins, otimizando assim a dinâmica do Estado e da
economia doméstica.
Outro ponto que se permite concluir a partir deste resumo é que as soluções para o
assunto são diversas, de fácil aplicação, de médio e baixo custo, tornando-se assim viáveis
de aplicação em larga escala. A aplicação, porém, pode se configurar como o grande
desafio da questão.

Referências Bibliográficas
VASCONCELOS, F. de, Leonardo. Captação de Água de Chuva para Uso Domiciliar -
Estudo de Caso. Goiás. Universidade Católica de Goiás, 2007.
REDE DAS ÁGUAS. Disponível em: <http://www.rededasaguas.org.br/questao-
agua/ameacas-a-agua/>. Acesso em 16/10/2013.
PLANETA SUSTENTÁVEL ABRIL. Disponível em:
<http://planetasustentavel.abril.com.br/download/stand2-painel5-agua-por-
pessoa2.pdf>Acesso em 16/10/2013.
BIBLIOTECA VIRTUAL DE DIREITOS HUMANOS. Disponível em:
<http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Meio-Ambiente/declaracao-universal-dos-
direitos-da-agua.html> Acesso em 13/10/2013.
KOBIYAMA, Masato.; et al (orgs.), Aproveitamento da Água da Chuva Group
Raindrops, 2002.

Eixo 2: Dinâmica, Utilização e Preservação do Meio Ambiente Página 128


Eixo 3:
Educação e
Ensino de Geografia
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A CIDADE/URBANO NO ENSINO DE GEOGRAFIA:


ENTRE O IDEAL E O REAL

Najla Mehanna Mormul


UNIOESTE- Francisco Beltrão-PR
najlamehanna@gmail.com

Sílvia Regina Pereira


UNIOESTE- Francisco Beltrão-PR
silviarpereira@hotmail.com

O presente trabalho tem o objetivo de apresentar uma discussão sobre o tema


cidade/urbano no que tange sua abordagem no ensino de geografia nos anos finais do
Ensino Fundamental II (8º e 9º anos). Além disso, buscamos discutir mesmo que
sucintamente o papel social e político da geografia como disciplina escolar. Buscamos
elucubrar como os alunos compreendem as relações entre cotidiano e cidade/urbano,
traçando um paralelo com a proposta teórica e metodológica expressa nas Diretrizes
Curriculares Estaduais de Geografia que teve seu processo de construção iniciado em 2003
e implementado ao longo da gestão do então governador Roberto Requião (2003-2010).
Essas diretrizes orientam o trabalho docente e delineiam formas para que ocorra
transposição didática dos conteúdos geográficos visando transformações pedagógicas
qualitativas na prática escolar.
A nosso ver a temática cidade/urbano na educação básica requer uma revisão ainda
que sucinta do papel desse tema na geografia e da forma como o estudo da cidade tem sido
veiculado nas propostas curriculares. A releitura das obras tradicionais da literatura
geográfica, em especial daquelas de origem francesa e que maior influência tiveram sobre
a geografia no Brasil, denota a reduzida atenção que este tema mereceu.
A ênfase aos estudos de fenômenos da natureza geografia como ciência dos lugares
e não dos homens e aos estudos agrários, que mais claramente diferenciavam os gêneros de
vida, as possibilidades do meio e as determinações da cultura, numa perspectiva de história
local, relegaram a segundo plano o estudo da cidade. A dificuldade em explicar a cidade
como fenômeno determinado pela natureza, ou por um modo de vida, e a necessidade de
procurar explicações nas relações sociais talvez expliquem a fuga de geógrafos ao
tratamento desse tema.
São raras as exceções e, de modo geral, esse tema exerceu pouca influência sobre o
ensino. Na maioria dos livros didáticos os capítulos dedicados à cidade privilegiam alguns
itens, como a história da cidade, isto é, origem, primeiros povoadores, localização

Eixo 3: Educação e Ensino de Geografia Página 130


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geográfica, sítio urbano e o total da população residente, bem como algumas das atividades
complementares.
No Brasil, a partir do final dos anos 1970 acompanhando um movimento de
reflexão crítica que já se fazia sentir em outros países, surgiu uma nova perspectiva de
análise. Nesta, a cidade tem sido analisada a partir das relações sociais de produção que se
processavam no seio de uma sociedade movida por interesses complexos e por
contradições, e cujo movimento seria orientado por interesses de classes. Esses novos
textos abordam a relação campo-cidade, a produção do espaço urbano, enfatizando o papel
do Estado e do capital, a questão dos meios de uso coletivo, o uso do solo, o cotidiano da
vida na cidade capitalista moderna, acentuando a separação entre o viver e o trabalhar. São
nas cidades, mais claramente que se visualizam a contradições sociais e a degradação do
meio físico.
O estudo da cidade está também atrelado à posição de professor em relação à sua
disciplina, o que inclui seus conhecimentos e seus compromissos frente ao trabalho
docente. O estudo da cidade, não deve se basear na noção de sistema, mas de totalidade, de
espaço socialmente construído e, portanto, historicamente determinado. Nesse ínterim a
categoria mais importante para análise é o trabalho humano, implicado na forma como se
realiza o modo de produção capitalista.
Na perspectiva de totalidade e de movimento constante, de construção social do
espaço e de compreensão da realidade como instrumento de transformação social, a cidade
assume um papel de destaque no ensino de geografia em qualquer nível de escolaridade.
A relevância desse tema reside na compreensão de que o ensino da cidade/urbano
pode contribuir na formação de sujeitos críticos e ativos, para isso é importante indagarmos
como está temática está sendo trabalhada. Como os alunos associam as informações
obtidas ao se trabalhar esse conteúdo com sua prática cotidiana. A escolha pelas séries
finais do ensino fundamental II justifica-se porque que nessa faixa etária os alunos já
possuem alguns requisitos necessários, oriundos das séries iniciais, que possibilita ao
professor fomentar uma análise mais profícua do assunto.
Nosso olhar acerca desse tema remete-se à questão do urbano/cidade entendida
como um espaço dinâmico, mutável, fruto de uma sociedade dividida em classes, ou seja,
um espaço não só de consumo, mas também de produção humana. Assim, a cidade é
reflexo das contradições sociais das quais fazemos parte.
O ensino de Geografia, dentro da perspectiva cidade/urbano vem sendo trabalhado
por alguns autores da ciência geográfica como: CALLAI e CASTROGIOVANNI (1999);

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CARLOS (1992); CASTELLS (1983); CORRÊA (2002); LEFEBVRE (1965); ROLNIK


(1992); SANTOS (1979-1990-1993); SCHÄFFER (1999) SPOSITO (1991). Esses autores
colaboram fundamentalmente para o entendimento desse tema como conteúdo escolar. A
Geografia urbana passa a entender a cidade do ponto de vista social, e que o indivíduo, o
morador, o aluno é o agente de produção e transformação da mesma. Argumentamos ainda
que, as transformações econômicas, sociais, políticas e culturais mais recentes, em
conjunto com as novas concepções pedagógicas, vêm refletindo no ensino de maneira geral
e também em temas específicos como cotidiano e cidade.
Neste sentido, acreditamos que atualmente a formação integral do aluno está focada
não só no aspecto cognitivo, mas também nos aspectos comportamentais, exigindo que os
professores trabalhem com o tema cidade/urbano numa visão mais ampla e
contextualizada.
Dessa forma os alunos poderão refletir sobre a organização espacial da cidade, bem
como compreender as lógicas que permeiam o processo de planejamento urbano, que
muitas vezes fortalece a diferenciação entre as distintas áreas urbanas, bem como os
processos de segregação socioespacial, distanciando cada vez mais as pessoas de rendas
diferenciadas. Pressupostos como esses estão presentes nos documentos oficiais que
norteiam a prática do ensino de Geografia nas escolas públicas paranaenses.
O desafio de fazer o conteúdo escolar ultrapassar os muros das escolas e se tornar
um instrumento importante na formação de cidadão é algo que deve ser constantemente
perseguido. Nesse sentido entendemos que a ciência geográfica, com seu arcabouço
teórico-metodológico, seja enquanto ciência acadêmica ou disciplina escolar pode
colaborar com essa tarefa, inclusive por meio dos conteúdos referentes à cidade/urbano.
Neste sentido, a importância de abordar esse conteúdo na escola, repousa sobre as
possibilidades de compreensão de determinadas formas do pensamento humano, pois a
história não somente oportuniza para que determinadas concepções de pensamento sejam
dominantes, como possibilita que essas concepções ganhem adesão e repercussão nos mais
distintos estratos sociais e a escola nesse interim exerce papel de fundamental importância,
por isso a necessidade que o professor de Geografia seja um mediador crítico entre aquilo
que está expresso nos conteúdos escolares e o que está implícito neles, exercendo o papel
de professor reflexivo-crítico.
Diante disso, acreditamos que um dos caminhos para dar visibilidade e concretude
aos conteúdos vinculados à questão urbana é fazendo uso de análises históricas, já que
desvelar as diferentes abordagens e concepções existentes no ensino de geografia, no que

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se refere ao entendimento da cidade/urbano, bem como sua apropriação por parte dos
alunos é algo que precisa ser realizado.
Desse modo, para se trabalhar com conteúdos geográficos, sejam eles afetos ao
urbano ou não, torna-se imprescindível entender, mesmo que parcialmente, as matrizes
teóricas que subsidiaram o desenvolvimento da geografia enquanto disciplina escolar, e as
que permearam a construção das Diretrizes Curriculares Estaduais de Geografia, que hoje
orientam o trabalho docente paranaense, verificando a mediação quanto ao trato dos
conteúdos, e as relações de ensino-aprendizagem, buscando assim possíveis (re)
significações.

REFERÊNCIAS
CALLAI, H. C. O ensino de geografia: recortes espaciais para análise. In:
CASTROGIOVANNI, A. C. et al. (Orgs.). Geografia em sala de aula, práticas e
reflexões. Porto Alegre: associação dos Geógrafos Brasileiros, Seção Porto Alegre, 1999.
CARLOS, A. F. A cidade. São Paulo, Contexto, 1992.
CASTELLS, M. A questão urbana. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1983, p. 17-28.
CAVALCANTI, L. de S. Geografia, escola e construção de conhecimentos, SP.
Campinas: Papirus, 1998.
CORRÊA, R. L. O espaço urbano. 4. ed., São Paulo: Ática, 2002, p. 7-35. (série
princípios).
LEFEBVRE, H. O direito à cidade. São Paulo: Documentos, 1965.
PARANÁ. Secretaria do Estado da Educação. Superintendência de Educação.
Departamento de Ensino Fundamental. Diretrizes Curriculares da educação
fundamental da rede de educação básica do Estado do Paraná: Curitiba: 2009.
ROLNIK, R. O que é cidade. São Paulo: Brasiliense, 1992.
SANTOS, M. Metrópole corporativa fragmentada. São Paulo: Nobel, 1990, p. 17-35.
______. Pobreza Urbana. 2. ed. São Paulo: Hucitec, 1979.
______. A urbanização brasileira. São Paulo, Hucitec, 1993, p. 17-34, 49-56.
SASSEN, S. As cidades na economia mundial. São Paulo: Studio Nobel, 2000.
SCHÄFFER, N. O. A cidade nas aulas de geografia. In: CASTROGIOVANNI, A. C. et al.
(Org.). Geografia em sala de aula, práticas e reflexões. Porto Alegre: associação dos
Geógrafos Brasileiros, Seção Porto Alegre, 1999.
SPOSITO, M. E. Capitalismo e urbanização. São Paulo, Contexto, 1991, p. 11-29.

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PROFESSOR SUPERVISOR: UMA BREVE REFLEXÃO SOBRE SUBPROJETO


DO PIBID EM GEOGRAFIA REALIZADO NO COLÉGIO ESTADUAL V.
SUPLICY – EFM

Andréia Savoldi1
andreia.savoldi@bol.com.br

Fatima Marcello Guis2


famarcelo@hotmail.com

Sonia Mary Manfroi Nacke3


sonianacke@gmail.com

Este artigo tem como objetivo compartilhar a experiência do projeto PIBID (Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência), desenvolvido no Colégio Estadual
Eduardo Virmond Suplicy no período de 2011 a 2014. O subprojeto foi realizado pela
Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, tendo como participantes
docentes e acadêmicos do curso de Licenciatura em Geografia e professores de Geografia
da rede pública do Estado do Paraná. O projeto PIBID hoje desenvolvido por várias
Universidades Brasileiras tem como finalidade proporcionar aos discentes a oportunidade
de vivenciar o cotidiano escolar durante a sua trajetória acadêmica, possibilitando assim
uma formação completa, com experiências na área da educação, relacionando a teoria com
a prática.

O Projeto PIBID no curso de Licenciatura em Geografia (Campus de Francisco


Beltrão) sob o olhar do professor supervisor.
Na UNIOESTE – Universidade Estadual Oeste do Paraná, campus de Francisco
Beltrão há dois cursos de licenciatura, Geografia e Pedagogia. O subprojeto PIBID foi
implantado no curso de Geografia - Licenciatura em julho de 2011. O grupo de professores
da universidade acreditou e se envolveu no projeto oferecido pela CAPES, que tem como
intencionalidade proporcionar aos acadêmicos dos cursos de licenciatura uma nova forma
de pensar e realizar o estágio nas escolas, agora de longa duração – dois anos. Como
afirma LOREIRO (2011): “O Programa Institucional de bolsas de Iniciação à Docência
(PIBID) surgiu como uma nova proposta, que tem como um dos objetivos valorizar e
incentivar o magistério”.

1
Mestre em Geografia e professora da SEED
2
Professora de Geografia da SEED
3
Professora de Geografia da SEED

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Neste subprojeto foram envolvidos professores com um sentimento comum, tanto


na universidade como na escola, o desejo de transformar esta nova proposta de formação
de docentes num sucesso tornou-se extremamente necessário, o diálogo entre a
comunidade escolar e a universidade, o que acabou acontecendo normalmente no decorrer
das atividades. O diálogo ocorreu porque definimos como meta encontros mensais ao
longo do subprojeto, nos quais eram amplamente discutidas as estratégias de execução do
subprojeto. Embora tenhamos iniciado timidamente, no decorrer a integração e o trabalho
coletivo superaram as expectativas.
Formar professor não é tarefa fácil para nenhum curso de licenciatura, projetos
como o PIBID são de extrema importância e vem a somar para a formação de novos
professores.
“Há necessidade do redimensionamento da formação do educador, o qual
implica a negação de um tipo “ideal de educador”, uma vez que não tem sentido
a definição da sua competência técnica em função de um conjunto de atitudes e
habilidades estabelecidas a priori (PICONEZ, 1991, p.16).

Sabemos que o modelo de educação que o sistema oferece não é o mais adequado.
O número de alunos por turma, a carga horária à qual o professor é submetido, a falta de
espaço físico da escola e a falta de recursos didáticos ainda são fatores que contribuem
para uma desmotivação em seguir a carreira do magistério, é neste contexto escolar que o
PIBID faz a diferença.
Os benefícios em ter um projeto desta grandeza na universidade são inúmeros, pois
esses acadêmicos acabam tendo uma formação mais completa e se destacam nas atividades
curriculares durante o curso.

O Projeto PIBID no Colégio Estadual Dr. Eduardo Virmond Suplicy – EFM


O Colégio Estadual Dr. Eduardo Virmond Suplicy, atende hoje em torno de 900
alunos do Ensino Fundamental, séries finais e Ensino Médio - única escola do município
que recebe alunos surdos - sendo a equipe professores de Geografia formada por três
profissionais. O PIBID foi abraçado pelos educadores da Geografia e pela escola, num
momento em que a passamos pela ampliação da estrutura física, o que inicialmente
dificultou nossas atividades. Porém não impediu que a escola participasse efetivamente do
subprojeto, muito pelo contrário, trabalhamos com mais garra para receber nossos seis
Pibidianos, que chegavam cheios de sonhos transformadores da realidade.
Nós professores do colégio Eduardo V. Suplicy, entendemos a responsabilidade
com a formação acadêmica destes jovens Pibidianos, é enorme. Neste período mostramos a

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eles que a tarefa do educador não é fácil, enfrentamos muitas dificuldades na profissão,
mas que além de todos os problemas, existe uma carreira compensadora e extremamente
apaixonante, que precisa ser realizada com conhecimento, amor, dedicação e persistência.
“O conhecimento do cotidiano é, a nosso ver, fundamental para homem comum ou
profissional de base, pois a partir deste saber ele poderá planejar e atuar no cotidiano de
maneira a preparar mudanças no âmbito institucional” (PENIN, 1989).
Muitos pibidianos relataram a importância de estarem dentro da escola antes
mesmo de concluir a sua formação e vivenciar problemas corriqueiros como: mudança de
cronograma das atividades, alteração da abordagem do conteúdo, modificações nos planos
de aula, dificuldades de relacionamento com a comunidade escolar. As dificuldades e
sucessos permitiram aos pibidianos experimentarem os prazeres e desprazeres do cotidiano
escolar.
O grande aprendizado ocorreu no enfrentamento coletivo dos problemas, o trabalho
em equipe tem o poder de superação, repensar é fundamental para o sucesso de qualquer
atividade, não esquecendo como diz Pimenta (2010), “A essência da atividade (prática) do
professor é ensino-aprendizagem. Ou seja, é o conhecimento técnico prático de como
garantir que a aprendizagem se realize como consequência da atividade de ensinar”.

Os bolsistas do PIBID.
Os acadêmicos do curso de Graduação em Geografia/ licenciatura, foram
escolhidos para participar do PIBID através de um processo de seleção. Após foram
divididos em dois grupos de seis alunos cada, contemplando as duas escolas selecionadas.
O primeiro contato se deu na universidade com grupos já definidos e a partir de
então, foi definido um programa de estudos para os grupos. Contendo a leitura de
documentos como as DCE’s – Diretrizes Curriculares da Educação Básica de Geografia do
Estado do Paraná, o Projeto Político Pedagógico, O Proposta Curricular da Disciplina, o
Regimento Escolar e o Plano Docente dos professores de Geografia, para que os Pibidianos
se inteirassem sobre a proposta pedagógica do Colégio Suplicy.
Em seguida foram inseridos na semana de capacitação de julho de 2011 a fim de
conhecerem o grupo de educadores - entendemos todos os profissionais envolvidos na
escola - para tomarem conhecimento sobre as principais problemáticas que envolviam o
cotidiano daquele período e pudessem escolher possíveis pontos de enfrentamento para o
semestre.

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Escolhidos os pontos de enfrentamento iniciamos a elaborações dos projetos de


semestrais de implementação, que foram avaliados e reavaliados durante todo o período de
permanência da parceria da UNIOESTE x Suplicy.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presença dos graduandos de Geografia no universo da Escola através do PIBID
proporcionou a todos os envolvidos no processo uma interação que resultou em ganhos
para o educando da escola pública que teve oportunidade de aprender com metodologias
inovadoras; para os professores supervisores das escolas que tiveram a oportunidade de
reaproximar-se com a universidade, de ser colaborador no processo de formação de
docentes e de ter sua prática valorizada pela CAPES e aos professores coordenadores do
PIBID da UNIOESTE enriqueceram suas pesquisas aliando teoria a pratica; elemento
primordial e em falta nas licenciaturas até então.
Os Pibidianos demonstravam claramente, durante a execução/ ação do projeto a
mudança em relação à autoestima, puderam perceber que a profissão escolhida oferece
perspectivas de um mundo melhor. Esta experiência transformou o espaço escolar, num
laboratório vivo, capaz de aliar teoria x prática e de estimular ao exercício da docência.
Podemos dizer que o PIBID proporcionou uma troca de experiências e
conhecimentos entre todos os seus participantes, muitas foram às angústias e conquistas,
mas com certeza, como o título do nosso artigo nos diz: A Escola Ideal é a Escola Real,
não existe escola perfeita e nós educadores temos que ter um olhar amplo e otimista da
escola, vendo sempre as possibilidades que o sistema no qual estamos inseridos nos
oportuniza, precisamos ser agentes atuantes e acreditar que podemos contribuir para uma
sociedade melhor.

Referências:
CORRÊA, R L; ROSENDAHL, Z. (org.). Paisagem, tempo e cultura. Rio de Janeiro:
Eduerj, 2004.
FAZENDA, I.C.A.; Et al - A Prática de Ensino e o Estágio Supervisionado, 22ª ed. São
Paulo: Papirus, 2010.
PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares da Rede Pública
de Educação Básica do Estado do Paraná – Geografia. Curitiba, 2008.
PENIN, Sonia. Cotidiano e escola, a obra em construção. São Paulo: Cortez, 1999.
PICONEZ, S. C.B. A Prática de Ensino e o Estágio Supervisionado. Campinas: Papirus
Editora, 1992, p.16.
PIMENTA, S. G – O Estágio na Formação de Professores-Unidade Teoria e Prática? ,
9ª Ed. São Paulo: Cortez, 2010.

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A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA IMPLANTAÇÃO DO


PLANO DE CONTROLE DE CHEIAS E DRENAGEM URBANA E RURAL DE
FRANCISCO BELTRÃO - PR

Marcela Dozolina da Rosa


UNIOESTE - Campus de Francisco Beltrão.
E-mail: marcela_rosa27@hotmail.com

Rosana Cristina Biral Leme


UNIOESTE - Campus de Francisco Beltrão
E-mail: rosanabiral@hotmail.com

Este trabalho tem por finalidade abordar a necessidade da inserção da educação


ambiental para a execução do Plano Municipal de Controle de Cheias e Drenagem Urbana
e Rural de Francisco Beltrão, município integrante da Bacia do rio Marrecas. De igual
forma, verificar quais ações relacionadas à mobilização social estão nele dispostas, visando
o engajamento da população no que diz respeito à gestão dos recursos hídricos, e
participação no planejamento do uso e ocupação do solo do território de beltronense.
Em decorrência de sua expansão urbana, o município de Francisco Beltrão vem
sendo palco de enchentes sequenciadas, que trazem consigo prejuízos constantes à
população. Tais eventos, muitas vezes, são associados ao aumento do índice pluviométrico
em um curto período de tempo, somada a configuração física local que possui alto declive
em boa parte de seu território. No entanto, esta resposta simplista negligencia a real
motivação das intensificações dos alagamentos, que por sua vez, estão diretamente ligados
à forma de uso e ocupação do solo.
Oportuno torna-se dizer que, já na década de 1950 ocorreram as primeiras
inundações em decorrência da produção territorial que já abarcava ocupações em áreas
sujeitas a alagamentos (FLÁVIO, 2011). Fato este que, ao longo dos anos foi e continua
sendo intensificado pela expansão da malha urbana, adicionado à ocupação da zona rural
sem os devidos cuidados com práticas de conservação de solos, em especial, das áreas que
deveriam estar protegidas por lei.
A ocorrência dos eventos extremos somada à forma de ocupação do solo deveria
condicionar o poder público a criar e aplicar instrumentos legais que venham a amenizar
e/ou reverter esta problemática. Por tais razões, inúmeros instrumentos já previstos no
Estatuto das Cidades (2001), no Plano Diretor Municipal (2007) e no Código Florestal
(1965, 2012), demonstraram-se pouco eficientes devido à falta de fiscalização pelos órgãos
competentes, e consequente não cumprimento destas normativas.

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Tais fatos são evidenciados diante da ocupação irregular em áreas de preservação


permanente, em especial na constante expansão de loteamentos, agora urbanos, edificados
sem a devida atenção por parte do poder público.
Vale ressaltar que, o espaço urbano do município de Francisco Beltrão revela-se
desigual quanto a sua distribuição e ocupação, no qual se encontram inúmeras habitações
em torno dos rios. Na maioria dos casos, essas ocupações por parte da população de baixa
renda não ocorre por sua escolha, mas sim pela falta de condições financeiras para
aquisição de outras áreas, constantemente encarecidas pela especulação imobiliária, que
colabora significativamente para que essas pessoas permaneçam suscetíveis aos prejuízos
ocasionados pelas cheias.
No contexto brasileiro, Tucci (2003) apresenta algumas razões para o caráter
paliativo das ações adotadas pelo poder publico.
O gerenciamento atual não incentiva a prevenção destes problemas, já que à
medida que ocorre a inundação o município declara calamidade pública e recebe
recursos a fundo perdido e não necessita realizar concorrência publica para
gastar. Como a maioria das soluções sustentáveis passam por medidas não
estruturais que envolvem restrições a população, dificilmente um prefeito
buscará esse tipo de solução porque geralmente a população espera por uma
obra. Enquanto que, para implementar as medidas não estruturais, ele teria que
interferir em interesses de proprietários de áreas de risco, que politicamente é
complexo a nível local (TUCCI, 2003, p. 26).

Cumpre assinalar que para mudança deste cenário torna-se imprescindível que
sejam investidos recursos voltados para toda a bacia do rio Marrecas, inclusive para
educação da população com projetos integrados e não limitados como ocorrem na maioria
das ações pontuais e sem planejamento das áreas de risco.
Lembrando que, o município de Francisco Beltrão em parceria com o Governo do
Estado promoveu o trabalho de desassoreamento e rebaixamento da calha do rio Marrecas.
Esse investimento, até maio de 2013, somou o montante de R$ 3 milhões (SEMA, 2014).
No entanto, a prova cotidiana demonstra que esta ação é insuficiente diante dos eventos de
cheias ocorridos no ano de 2014, levando o município a decretar situação de emergência,
onde mais de 500 pessoas tiveram suas casas afetadas com as cheias em todo município.
Para buscar soluções para a problemática vivenciada no município de Francisco
Beltrão, foi contratada empresa Iguassu Consultoria Ambiental Ltda, que elaborou no ano
de 2012 o Plano Municipal de Controle de Cheias e Drenagem Urbana e Rural, que prevê
em seu escopo a elaboração de um arranjo de medidas estruturais e não estruturais para o
controle das enchentes. A educação ambiental, foco principal do presente artigo, insere-se
nas ações não estruturais, ou seja, “aquelas que não implicam em obras diretamente”

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(IGUASSU, 2012, p.63). Apesar da elaboração deste plano, as ações previstas ainda não
foram executadas pelo poder público municipal.
Além da educação ambiental, também estão previstas no Plano de Controle de
Cheias a adequação na legislação municipal para ações a serem adotadas, zoneamento das
áreas de risco, monitoramento de cheias, incentivos econômicos, fiscalização e a criação de
consórcio intermunicipal para a gestão dos programas propostos, dada a localização dos
corpos hídricos a montante com mananciais de abastecimento da bacia do Rio Marrecas
incluindo os municípios de Flor da Serra do Sul e Marmeleiro, fazendo assim a sua gestão
integrada.
Nesse contexto, dentre as alternativas que regem as novas formas de gerir os
recursos naturais, podemos elencar a educação ambiental como ponto de partida para que
os projetos a serem implementados tenham adesão e entendimento por parte da população
local, fazendo com que esta alcance representatividade na tomada de decisões quanto a
destinação de recursos na gestão integrada de políticas voltada para conservação e manejo
dos recursos naturais.
Nesse sentido, observa-se que,
A base empírica do conhecimento local da população sobre os corpos d’água de
uma bacia hidrográfica deve ser valorizada, pois possui um valor socioambiental
inigualável. Esquece-lo pode, muitas vezes, redundar em políticas de intervenção
de resultados desastrosos. (...) Além disso, os cursos d’água fazem parte da
história do indivíduo, da família, da comunidade que integram essa população,
ganhando sentidos simbólicos que ocupam uma parte importante de seu
patrimônio cultural (MACHADO, et al, 2004, p. 32).

Portanto, entender que o conhecimento da população local é peça fundamental na


construção de políticas de gestão voltadas para os recursos hídricos, em especial a bacia
hidrográfica, inicia-se um processo de comprometimento e engajamento dos sujeitos com o
cumprimento dos instrumentos legais estabelecidos. Da mesma forma que, será despertado
o sentimento de pertencimento destas pessoas com iniciativas que valorizem seu modo de
ver o local onde vivem, não sendo apenas levado em consideração um corpo técnico que
elabora projetos distantes da sua realidade.
O Plano Diretor de Controle de Cheias e Drenagem Urbana e Rural de Francisco
Beltrão, prevê ainda em suas diretrizes a promoção da participação da comunidade no
processo de gestão ambiental, bem como a efetivação de políticas públicas com a inserção
de projetos, “incluindo-se a implementação de instrumentos de controle, educativos,
econômicos e técnicos” (IGUASSU, 2009, p.85).
Esclarecendo o exposto, a empresa responsável ainda afirma que:

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No tocante às cheias urbanas, mesmo que as medidas estruturais tenham impacto


positivo e gerem certo conforto, é imprescindível uma mudança de
comportamento consciente por parte dos cidadãos. Uma vez a população
compreenda e incorpore novos comportamentos em relação aos recursos
hídricos, à ocupação do solo e na gestão dos resíduos, ações onerosas do poder
público são dispensáveis. Em ações relacionadas à cidadania e educação em
meio ambiente e saúde pública (além de outras áreas), não há estrutura ou
recursos públicos suficientes que resolvam de forma eficaz os problemas da
comunidade senão os próprios cidadãos (IGUASSU, 2009, p. 73).

Quando ressaltada a mudança nos comportamentos dos cidadãos, a impressão que


temos é de que todos possuem a mesma responsabilidade diante dos eventos vinculados as
cheias. Mas será que esta afirmação procede diante do cenário em que se desenvolve a
expansão urbana? É possível afirmar que as atividades impactantes que deflagram os
problemas ambientais advêm de irregularidades cometidas por qual parcela da população?
Ou ainda, qual o setor verdadeiramente responsável pelo agravamento das enchentes no
perímetro urbano do município?
Dessa forma, além das ações previstas no Plano de Contenção de Cheias como
elaboração de cartilhas e campanhas, que são essenciais para o processo de mobilização e
divulgação das ações estruturais, também devemos lançar um olhar crítico diante da
estruturação territorial do município, provocando a reflexão sobre os moldes
socioeconômicos estabelecidos ao longo dos anos.
Diante dessa perspectiva, Loureiro (2006), afirma que não existe a possibilidade de
almejarmos a educação ambiental sem antes entender as relações de poder e regras
institucionais existentes na sociedade:
(...) discutir a conservação sem considerar os processos sociais que levam ao
atual quadro de esgotamento e extinção; falar em mudanças de comportamento
sem pensar como cada indivíduo vive, seu contexto e suas possibilidades
concretas de fazer escolhas, defender uma forma de pensar a natureza, ignorando
como cada civilização, cada sociedade e cada comunidade interagiam nela e
definiam representações sobre ela; como produziam, geravam cultura e estilos de
vida e como isso se dá hoje (LOUREIRO, 2006, p. 70).

Devemos ressaltar que o processo educativo dentro do contexto da realidade de


comunidades, torna-se um dos mais nobres veículos de mudança social devido seu
potencial colaborador na reconstrução de caminhos na tomada de consciência individual e
coletiva das populações locais ou até mesmo de uma nação. Assim,
(...) a educação contém o potencial de estimular as sensibilidades, despertar
consciências e exercitar ações libertadoras, humanizadoras e cidadãs capazes de
promover a vida e as relações dos indivíduos consigo mesmos, com os
semelhantes em sociedade e com o meio envolvente (LIMA, 2004, p. 89).

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O mesmo autor salienta que essa compreensão estende-se para com as relações
entre sociedade, a educação e o meio ambiente, onde a educação ambiental constitui-se
como prática política por integrar o processo educativo juntamente com a questão
ambiental que, por sua vez, deverá ser pautada no diálogo a vista dos desafios impostos
para que seja alcançada a emancipação dos sujeitos, redesenhando os caminhos
metodológicos a serem seguidos para aliar a realidade social e cultural com as mudanças
necessárias para uma apropriada gerencia dos recursos naturais e da vida humana.
Cabe ressaltar que é esperado por parte do poder publico do município de Francisco
Beltrão não apenas a realização das atividades estruturais por meio de construção de obras,
mas também, das atividades formativas, pois serão elas que farão a população tome ciência
da importância da sua participação como sujeito político transformador.

Referências
FLÁVIO, L. C., Memória(s) e território: elementos para o entendimento da
constituição de Francisco Beltrão-PR. Dissertação (Doutorado), UNESP, Presidente
Prudente, 2011, p. 386.
IGUASSU, Consultoria Ambiental Ltda. Plano Municipal de Controle de Cheias e
Drenagem Urbana e Rural de Francisco Beltrão, PR. Pato Branco, 2012, p. 92.
LIMA, G. F. C. “Educação, Emancipação e Sustentabilidade: Em Defesa de uma
Pedagogia Libertadora para a Educação Ambiental”. In LAYRARGUES, P. P. (coord.).
Identidades da Educação Ambiental Brasileira. Basília: Edições MMA, 2004, p. 155.
LOUREIRO, C. F.B. “Educação Ambiental e Teorias Críticas”. In GUIMARÃES, Mauro
(organizador). Caminhos da Educação Ambiental: Da Forma à Ação. Campinas, SP:
papiros, 2006. 51 – p.86.
MACHADO, C. J. S. et al. “A Nova Aliança entre Estado e Sociedade na Administração
da Coisa Pública: Descentralização e Participação na Política Nacional dos Recursos
Hídricos”. In: MACHADO, C. J. S (org.). Gestão de Águas Doces. Rio de janeiro:
Interciência, 2004, 197 – p. 230.
SEMA – Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos. Projeto de Gestão
de Riscos e Desastres já apresenta resultados no Paraná. . Disponível em:
<http://www.aen.pr.gov.br/modules/noticias/article.php?storyid=75506&tit=Projeto-de-
Gestao-de-Riscos-e-Desastres-ja-apresenta-resultados-no-Parana> Publicado em: 10 de jul
de 2013 16h30min. Acesso em 20 de mai. de 2014.
TUCCI, Carlos. E. M. “Águas Urbanas”. In: TUCCI, Carlos E. M., BERTONI, Juan
Carlos (org.) Inundações Urbanas na América do Sul. Porto Alegre: Associação
Brasileira dos Recursos Hídricos, 2003, p. 471.

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A ATUAÇÃO DA COOPAFI NO PROGRAMA MUNICIPAL DE MERENDA


ESCOLAR4

Lidiane da Paz
Universidade Estadual do Oeste do Paraná
E-mail: prof.lidi.paz@gmail.com

O município de Francisco Beltrão está localizado no Sudoeste do Paraná possui


segundo o IBGE (2013), 84.437 habitantes dos quais 68.000 vivem na cidade e 16.437 no
campo, com relevância para a organização da agricultura familiar, que foi uma das
expressões do seu processo recente de colonização realizada especialmente por gaúchos e
catarinenses.
Segundo o Censo Agropecuário realizado pelo IBGE em 2000, existem 19.588
estabelecimentos da agricultura familiar no munícipio enquanto 2.612 estabelecimentos
não se encaixam nesse perfil, o que demostra que a maioria dos estabelecimentos rurais de
Francisco Beltrão possuem características familiares.
Dentre as características do espaço rural herdadas do período de colonização do
Sudoeste do Paraná, conforme destaca Santos (2011), permanece traços solidários de sua
ocupação como o trabalho com ajuda mútua, as trocas e parcerias, a vida em comunidade,
ao mesmo tempo em que se visualiza uma inserção no mercado seguindo a pauta de
produção nacional de commodities, o uso de tecnológicas modernas, o êxodo rural,
paralelo o uso de técnicas rudimentares e a produção de policulturas, embora em menor
expressão.
A COOPAFI iniciou suas atividades em Francisco Beltrão em 2006, com a
perspectiva de uma comercialização mais justa aos agricultores familiares, sendo
atualmente responsável pela comercialização de milho, feijão, trigo, açúcar mascavo,
frutas, doces de frutas, panificação, amendoim, doces de amendoim, mel, hortaliças e
legumes. Atualmente uma das ações mais significativas da Cooperativa é a mediação entre
os agricultores e os programas de compras dos governos municipais e federal, como por
exemplo, o PAA e PNAE.
Assim o foco central da pesquisa é compreender de que forma a COOPAFI
que busca incentivar o pequeno agricultor a permanecer na propriedade rural
potencializando as oportunidades de comercialização e produção, tornando a atividade

4
O presente texto é um resumo da pesquisa em andamento que objetiva analisar a organização da COOPAFI
em relação ao Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) no município de Francisco Beltrão.

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mais rentável as famílias. (COOPAFI, 2013), estabelece a relação entre o PNAE e os


agricultores familiares.
A lei nº 11.947/2009 determina que no mínimo 30% dos recursos do Fundo
Nacional da Educação (FNDE) sejam destinados para compra de alimentos da agricultura
familiar. O limite de venda para o PNAE é de 20 mil reais por DAP/ ano. Os agricultores
podem estar organizados associações ou cooperativas que possuam DAP física ou jurídica,
sendo que seus produtos se destinam aos alunos da rede pública de ensino. Para efetivar as
compras a Secretaria Estadual de Educação, prefeitura e escolas são responsáveis pela
execução do PNAE na utilização e complementação dos recursos financeiros. (MDS,
2013).
A partir de 2003 uma série de políticas públicas passaram a ser elaboradas em
diversos setores. No setor agrícola, referente à agricultura familiar, as mais significativas
para o contexto do nosso trabalho foram o PAA e com os resultados satisfatórios dele, a
reformulação do PNAE a partir de 2009.
Os propósitos para criação de subsídios para a alimentação escolar gratuita,
rementem ao ano de 1940, quando o Instituto de Nutrição do Brasil exigia que a
alimentação escolar fosse uma responsabilidade do Estado. Porém, alegando falta de
recursos, os projetos de alimentação escolar não se concretizavam efetivamente. Somente
em Março de 1955, Ministério da Educação institui a Campanha de Merenda Escolar
(CME). Nesse período o programa foi financiado por instituições internacionais como, por
exemplo: Alimentos para a paz, do United States Agency For International Development
(USAUID) ou pelo Programa Mundial de Alimentos, viabilizado pela Organização das
Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO/ONU).
Nos anos 1970, criou-se o Programa Nacional de Alimentação e Nutrição
(PRONAN) o objetivo era atender gestantes, nutrizes e crianças de até sete anos na
população de baixa renda e os escolares de sete a quatorze anos, ou seja, o programa
excluía a alimentação escolar para a educação infantil, ensino médio e Educação de Jovens
e Adultos (EJA). Foram necessários trinta e seis anos, desde a primeira tentativa de
implantação do Programa de Alimentação escolar, até que o Estado conseguisse financiar a
alimentação escolar com recursos públicos isso ocorre a partir de 1976, sob a mediação do
Ministério da Educação (MEC). Em 1979 o nome do programa é novamente modificado,
passando a chamar Programa Nacional de Alimentação Escolar o qual permanece até os
dias atuais.

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A centralização da aquisição dos alimentos na FAE ocasionou uma série de


problemas, dentre eles podemos citar os relacionados à logística, a armazenagem dos
produtos que por vezes estragavam e a cultura alimentar de cada região, que não era
considerada no momento da compra dos alimentos. De 1986 a 1988, a FAE, passou a
incentivar a descentralização do Programa, através da municipalização da gestão do
PNAE, por meio de convênios firmados com os municípios, assim eles eram os
responsáveis pelo gerenciamento e operacionalização do Programa, principalmente pela
aquisição dos produtos in natura.
A partir da lei nº 8.913 de julho de 1994 é oficializado o processo de
descentralização do PNAE. Segundo a lei, os municípios deveriam criar os conselhos de
alimentação escolar para que os recursos federais pudessem ser transferidos. A esses
conselhos municipais ficava a incumbência de fiscalizar o poder executivo, controlar e
aplicar os recursos financeiros e elaboração de cardápios.
Em 1998, foi criado o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) o
qual permanece atualmente, e o FAE foi extinto. O FNDE, passou por várias
reformulações, através de medidas provisórias, dentre elas a Nº 2.178-36 de 2001,
estabelece que 70% dos recursos transferidos da União para os municípios e estados sejam
destinados a compra de produtos básicos. Em 2003, o FNDE define uma lista com 72
produtos básicos, considerando pela primeira vez, os hábitos alimentares regionais, como o
açaí, queijo coalho, castanha do Pará dentre outros, e ainda produtos de consumo comum
em todas as regiões como o arroz e o feijão.
Uma grande evolução no PNAE acontece em 2009, o Programa passa a atender
todos os alunos, educação infantil, educação ensino fundamental e médio e Educação de
Jovens e Adultos (EJA), neste ano é criado o decreto que torna obrigatório que 30% dos
produtos adquiridos com os recursos do FNDE sejam da agricultura familiar. A partir desse
momento temos a articulação entre os Programas PAA e PNAE.
Os principais objetivos do PNAE, segundo a lei 11.547 de junho de 2009, é
contribuir para o desenvolvimento biopsicossocial, aprendizagem, o rendimento escolar e a
formação de hábitos alimentares saudáveis dos alunos, por meio de ações de educação
alimentar e nutricional e da oferta de refeições que cubram as necessidades nutricionais
durante o período letivo. (BRASIL, 2014) Além dos objetivos, existem as diretrizes que
servem como norteadoras no processo de articulação entre a agricultura familiar e a
alimentação escolar:

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1)Alimentação saudável e adequada. 2) Universalidade do atendimento e direito a


alimentação escolar. 3) Participação da sociedade no controle social. 4) Inclusão da
educação alimentar e nutricional no processo de ensino e aprendizagem. 5)
Desenvolvimento sustentável, aquisição de gêneros alimentícios diversificados e
produzidos localmente.
Execução do PNAE
Os recursos financeiros chegam aos estados e municípios através do FNDE. Esses
recursos são provenientes do Tesouro Nacional, onde estão devidamente assegurados no
orçamento da União. Os estados, Distrito Federal e Municípios são as entidades
executoras, responsáveis por gerir os recursos financeiros e garantir a oferta de
alimentação escolar aos alunos matriculados na educação básica da rede pública.
A transferência dos recursos é feita em dez parcelas mensais, sempre a partir do
mês de fevereiro, com o intuito de cobrir os 200 dias letivos. Cada parcela corresponde a
vinte dias de aula. O valor do repasse é calculado da seguinte forma:

Total de recursos (TR) = Nº de alunos X Nº de dias letivos X Valor Per Capita.

O valor Per Capita é variável conforme a tabela a seguir:


Modalidade Valor Per Capita
Creches R$ 1,00
Pré – Escola R$ 0,50
Escolas Indígenas e Quilombolas R$ 0,60
Ensino Fundamental e Médio e Educação de jovens e adultos R$ 0,30
Ensino Integral R$ 1,00
Alunos do Programa mais Educação R$ 0,90
Alunos que necessitam de Atendimento Educacional Especializado R$ 050
em período contra turno.
Fonte: FNDE 2014, Elaborada pela autora 2014.

O levantamento quanto ao número de alunos é feito com base no Censo escolar do


ano anterior. A movimentação dos recursos pode ser acompanhada pela sociedade através
dos Conselhos de Alimentação Escolar (CAE). Para o ano de 2014 estão previstos R$ 3,5
bilhões, que irão beneficiar 43 milhões de estudantes da educação básica e de jovens e

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adultos. Considerando a Lei nº 11.947, 30% desse valor – ou seja, R$ 1,05 bilhão – deve
ser investido na compra direta de produtos da agricultura familiar, medida que estimula o
desenvolvimento econômico e sustentável.
Em Francisco Beltrão atualmente mais de 9 mil alunos da rede Municipal são
atendidos, recebendo alimentos saudáveis diretamente da agricultura familiar, seguindo as
diretrizes propostas pelo programa a secretaria de educação, cultura e esporte é responsável
pela execução do PNAE, onde são elaborados cardápios pela nutricionista responsável e
posteriormente é realizada uma chamada pública, a COOPAFI é a principal fornecedora de
produtos por meio dessa chamada, ela organiza a produção dos agricultores familiares a
fim de suprir essa demanda, garantindo assim a alimentação escolar de qualidade e a
comercialização dos produtos.
O que se tem observado é que este programa tem sido fundamental para a
organização da cooperativa e ao mesmo tempo ele ganha o caráter de potencializador da
diversidade da produção familiar.

REFERÊNCIAS
AVILA. L.M, CALDAS. L. E, AVILA. R.S. Coordenação e efeitos sinérgicos em
Políticas Públicas no Brasil: O caso do Programa de Aquisição de Alimentos e do
Programa Nacional de Alimentação Escolar. PAA 10 Anos de Aquisição de Alimentos.
Brasília, 2013.
Cooperativa de Comercialização da Agricultura Familiar Integrada – COOPAFI. Maio,
2014.
Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação – FNDE. Disponível em:
<http://www.fnde.gov.br/programas/alimentacao-escolar/alimentacao-escolar-
apresentacao> Acesso em maio, 2014.
IBGE. Censo Agropecuário (2000). Disponível em <ftp://ftp.ibge.gov.br/Censos/Censo_
Agropecuario_2000/agri_familiar_2000/> Acesso em junho 2014.
INCRA/FAO. Perfil da agricultura familiar no Brasil: dossiê estatístico. Brasília,
1996.
INCRA/FAO. Novo Retrato da Agricultura Familiar: O Brasil Redescoberto. Brasília,
2000.
Ministério do Desenvolvimento Agrário. Programas Disponível em:
http://www.mda.gov.br/portalmda/publicacoes/pol%C3%ADticas-p%C3%BAblicas-para-
agricultura-familiar . Acesso em junho,2014.
Prefeitura Municipal de Francisco Beltrão. Secretária de Educação, Cultura e Esporte.
Maio, 2014.
UNICAFES. Estratégias de Acesso a mercados para Agricultura Familiar. Brasília,
2013.

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O NÚMERO DE ALUNOS EM SALA DE AULA E OS IMPACTOS NA


APRENDIZAGEM5

Lidiane da Paz
Universidade Estadual do Oeste do Paraná
E-mail: prof.lidi.paz@gmail.com

Existem muitas discussões sobre o número ideal de alunos em sala de aula. Para
alguns pesquisadores esse não é um fator determinante na aprendizagem, pois professores
experientes e bons profissionais estão aptos a alcançar resultados satisfatórios mesmo em
turmas numerosas. Para eles é a qualidade do professor o fator determinante na
aprendizagem. Analisando a situação dos professores, com ênfase nos servidores da rede
estadual do Paraná, percebemos que a diminuição no número de alunos em sala de aula é
uma reinvindicação antiga, sendo a 8ª reinvindicação da APP sindicato na manifestação
ocorrida no dia 19/03/2014.
8. Diminuição do número de alunos/as por turma
Essa reivindicação é uma das mais importantes para a melhoria do nosso
trabalho. Garantia de um número máximo de estudantes por turma e por
professor/a: na educação infantil: de 0-2 anos, seis e oito crianças por
professor/a; de 3 anos de oito a dez crianças por professor/a; de 4-5 anos, até 15
crianças por professor/a; no ensino fundamental: nos anos iniciais 20 estudantes
por professor/a; nos anos finais, 25 estudantes por professor/a; no ensino médio e
na educação superior, até 30 estudantes por professor/a.

Quando o assunto é o número de alunos em sala de aula, existem dois eixos de


discussões: um deles defende que o número de alunos não tem nenhuma relação ou
influência sobre a aprendizagem, conforme destacamos a seguir o conteúdo do informativo
CONFENEM, (2012) que afirma: os objetivos da luta de algumas associações ou
sindicatos de professores em delimitar um número máximo de alunos é claro: aumentar o
mercado de trabalho, pelo crescimento do número de turmas, justificar o aumento de
salários, explicar o aproveitamento ruim dos seus alunos. Seguindo, o texto faz uma
reflexão sobre as consequências da implantação de leis que delimitam o número de alunos
em sala. O número de alunos depende de muitas variáveis no tempo e no espaço, a
começar pela economia de municípios, estados, escolas, material pedagógico, disciplina
lecionada, equipamentos dentre outros.

5
O presente trabalho é um resumo sobre uma pesquisa realizada no Colégio Eduardo Virmond Suplicy, que
trata da relação número de alunos em sala de aula e a aprendizagem. Muitos professores, alunos e pais
discutem sobre o tema, reivindicam melhorias, mas como podemos perceber a seguir, embora existam leis
que delimitam o número máximo de alunos nas salas de aula, não temos a efetivação na realidade das
escolas.

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Por outro lado, como já citamos no decorrer do texto, temos os professores,


sindicalizados ou não, que cotidianamente relatam que dentre outros aspectos, o número de
alunos nas salas de aula é um fator que contribui para o desgaste físico emocional do
professor e algumas carências no que se refere à aprendizagem do aluno. Não significa que
o professor “não dá conta” de ensinar uma turma numerosa, mas que suas condições de
trabalho não serão aquelas desejáveis, nem para o professor e nem para o aluno.
Segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE),
no Brasil as turmas de ensino fundamental têm em média seis alunos a mais do que os
países desenvolvidos, ficando com 30 alunos. De acordo com o estudo, o número médio de
alunos por turma está diminuindo no Brasil. Entre 2000 e 2008, nas séries iniciais do
ensino fundamental, a redução foi de 1 aluno por classe e, nas finais, de 4 alunos por sala.
Ainda segundo o relatório existem turmas muito numerosas, chegando a mais de 30 alunos
nas séries iniciais. A perspectiva é que a queda na taxa de natalidade da população
brasileira e as correções de fluxo possam contribuir para reduzir o tamanho das classes.
(OCDE, 2010).
Na Lei de Diretrizes e Bases da educação (LDB) não encontramos concretamente
uma definição de qual seria o número de alunos em sala de aula. Existe apenas um
paragrafo (XI) que trata do assunto onde se institui como meta a obtenção de uma
adequada relação entre o número de alunos e professor, carga horária e condições materiais
do estabelecimento. No Plano Nacional de Educação (PNE) registramos essa mesma meta,
ou seja, existem muitas variáveis sobre o assunto perante a lei. (LDB, 1996) Sendo assim,
no que se refere ao número de alunos em sala de aula, cada Estado pode fixar suas próprias
leis.
No Estado do Paraná em agosto de 2011 a Assembleia legislativa aprovou o projeto
088/11 o qual dispõe sobre o número máximo de alunos nas escolas da rede pública do
Estado. Segundo o projeto 088/11 fica definido:

Artigo I – O número de alunos por sala de aula deve possibilitar a adequada


comunicação e aproveitamento no ensino na rede pública estadual obedecendo a
critérios pedagógicos e níveis de ensino.
Artigo II – O limite máximo de alunos por sala de aula nos estabelecimentos da
rede pública Estadual de ensino observará o espaço mínimo de 4,5 m² ao
professor e 1,2 m² para o aluno e será de:
I- Educação infantil: de 0 a 2 anos – 8 alunos por sala.
II- Educação infantil: de 3 a 5 anos – 15 alunos por sala.
III- 1º e 2º anos do ensino fundamental: 20 alunos.
IV- 3º 4º e 5º anos do ensino fundamental: 25 alunos
V- 6º, 7º, 8º e 9º do ensino fundamental: 30 alunos.
VI- Ensino Médio – 35 alunos.

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Este projeto vem sendo apresentado e reapresentado na Assembleia Legislativa do


Paraná desde o ano 2000, sendo vetado várias vezes por ser atribuído a ele uma quantidade
muito grande de recursos financeiros em estrutura física para sua efetiva implementação. O
projeto prevê a redução gradativa dos alunos justamente para que o impacto financeiro seja
possível de planejamento, ficando distribuído da seguinte forma: 1/3 deverá ser alcançado
em 2012, 2/3 em 2013 e ao final de 2014 todas as turmas deverão estar regularizadas
conforme a lei. Já em novembro de 2012 o governador do estado do Paraná anunciou no
portal da secretária de educação do Estado o processo de redução do número de alunos nas
salas de aula. Esse modelo embora não tenha sido plenamente instituído no Paraná esta
sendo estudado para que possa ser estabelecido nacionalmente. Algebaile (2009) contribui
para a nossa discussão evidenciando que nem sempre as resoluções previstas por lei são
colocadas efetivamente em prática.

No Brasil, a declaração textual da educação escolar como direito antecede em


muito o estabelecimento de marcos minimamente precisos sobre uma oferta
educacional capaz de garantir seu exercício pela maioria dos brasileiros. No
plano das leis, tem sido possível manter distantes, por tempo extraordinariamente
longo, a declaração dos direitos e o seu asseguramento (p.97).

Assim, no Estado do Paraná, permanece a normativa que permite até 45 alunos por
turma, desconsiderando a lei aprovada.
Uma pesquisa realizada pelo movimento Todos pela Educação e o Instituto Ayrton
Senna em 2011 concluiu que entre os principais fatores capazes de impactar positivamente
na aprendizagem, destacam-se a formação, a experiência, a remuneração e os processos de
seleção e certificação dos docentes, assim como o tamanho das turmas. Assim, segundo a
pesquisadora Elisangela Fernandes, diminuir em 30% o número de alunos em turmas
muito numerosas (com mais de 30 alunos no ensino fundamental) pode significar o
aumento de até 44% na aprendizagem. (Revista Nova Escola, 2011).
Embora o fator quantitativo não possa definir a aprendizagem, pode sim prejudicá-
la. Um número muito grande de alunos pode proporcionar maior dispersão e/ou distração
dos alunos, requer mais tempo por parte do professor que passa parte da aula pedindo por
atenção, sendo que, segundo a UNESCO, os alunos no Brasil estudam poucas horas diárias
em comparação com outros países.
Muitos pais diante das situações apresentadas preferem matricular seus filhos em
escolas particulares. Segundo o Sindicato dos Trabalhadores da Educação do Paraná (APP
Sindicato), a própria existência da escola particular é vista como um fracasso do

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atendimento público, da educação pública, que deveria garantir educação de qualidade a


todos os alunos da educação básica.
No colégio Suplicy prevalece à normativa que estipula que o número de alunos por
sala é de até 45, quando são matriculados mais alunos, é possível disponibilizar uma nova
turma.
Levando-se em consideração os aspectos da pesquisa realizada entre março e junho
de 2014 no Colégio Estadual Eduardo Virmond Suplicy, consideramos que o número de
alunos é um fator importante e que interfere na aprendizagem.
A partir da pesquisa compreendemos que, de forma geral, professores e alunos
possuem a mesma opinião quanto aos benefícios de leis que definissem o número máximo
de alunos, considerando a realidade da escola. Vimos que existem propostas de lei que
estão de acordo com as necessidades das escolas, porém a normativa a qual as escolas
Estaduais do Paraná seguem, não vai ao encontro dos anseios dos sujeitos entrevistados,
pois o número de quarenta e cinco alunos por sala de aula prioriza a quantidade e não a
qualidade do processo educativo.
Os instrumentos utilizados na pesquisa deixam claro que os alunos sentem-se
prejudicados pela dispersão dos colegas, que as conversas atrapalham e principalmente a
atenção que recebem dos professores é insuficiente para uma aprendizagem mais
significativa e que menos alunos resultariam em melhorias em todos esses aspectos. Para
os professores, significaria melhores condições de trabalho e em melhores resultados em
relação a aprendizagem, ainda segundo eles, o trabalho poderia ser mais individualizado, e
as aulas incrementadas com metodologias diferentes que poderiam chamar mais a atenção
dos alunos deixando-os menos dispersos.
Sabemos que a educação não está entre as prioridades dos agentes do Estado, mas
preocupados com números do que com a qualidade. Reflexo disso são os altos índices de
analfabetos funcionais e o baixo desempenho dos brasileiros em conhecimentos em
Matemática, um dos menores do mundo.
Para mudar esta realidade não somente os professores deveriam reivindicar para
que a lei que regulamenta o número de alunos em sala fosse aprovada e efetivamente
cumprida, mas toda a comunidade escolar, envolvendo principalmente os pais e os alunos.
Somente a luta política coletiva é capaz de contribuir no processo de construção de uma
educação de qualidade para todos.

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REFERÊNCIAS
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_______. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília: MEC, 1996
CASTELLAR, V,M, S . “Educação geográfica: a psicogenética e o conhecimento escolar”
IN: Caderno CEDES, Campinas, vol. 25, n. 66, p. 209-225, maio/ago. 2005
FERNANDES, ELISANGELA. Caminhos que levam a um aprendizado melhor. Revista
Nova Escola. Junho/julho 2011.
FREIRE, PAULO. Política e Educação. 5ª ed.São Paulo: Cortez., 2001 _______________.
Pedagogia da Indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo: Editora UNESP,
2000.
________________. Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa.
2ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
KAERCHER, N,A . A Geografia escolar na prática docente. Tese de Doutorado. FFLCH:
USP, São Paulo, 2004 – tese de doutorado.
________________. “A Geografia é nosso dia- a- dia” IN: Boletim Gaúcho de Geografia,
Porto Alegre, 21: 109-116, ago., 1996.
KENSKI, V. M. Educação e Tecnologias: O novo ritmo da informação/ Campinas, SP:
Papirus, 2007.
BOLETIM OCDE <<ultimosegundo.ig.com.b>> Acesso em 05 de outubro
IBGE – Censo 2010. Disponível em
<http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1> Acesso em Abril/2014
Secretária de Educação do Estado do Paraná. SEED. Disponível em
<<www.seed.pr.gov.br/fbeduardosuplicy>> Acesso em março/2014
Ministério da Educação – MEC. Detalhamento por Munícipio. Disponível em
http://simec.mec.gov.br/par/estado_municipio.php> Acesso em março/2014

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CONCEPÇÃO E METODOLOGIAS UTILIZADAS PELO PROFESSOR DE


GEOGRAFIA

Jorgiane Pagnan6
Universidade Estadual do Oeste do Paraná- Campus Francisco Beltrão-PR
jorgiane.pagnan@yahoo.com.br

Elaine Gonçalves7
Universidade Estadual do Oeste do Paraná- Campus Francisco Beltrão-PR
elaine8304@hotmail.com

Introdução
As questões relacionadas às concepções teórico-metodológicas e metodologias
atualmente são temas de diversas pesquisas que envolvem a relação entre universidade e
escola. O presente trabalho busca identificar a concepção e metodologias utilizadas pela
professora de geografia da cidade de Francisco Beltrão, PR.
Assim, diante do problema apresentado, o mesmo está estruturado da seguinte
forma: em um primeiro momento discutiremos as concepções apresentadas pelos autores e
as DCE´s PR, e de como estas acabam por influenciar diretamente nos rumos do processo
educativo, em uma determinada unidade escolar. Fundamentamos esta concepção a partir
das obras de alguns autores como GADOTTI, 1992; FREIRE, 1982 as quais buscamos
identificar as concepções apresentadas pelos mesmos.
Em um segundo momento, analisamos a concepção e metodologias utilizadas pela
professora de geografia, do município de Francisco Beltrão, PR. Por último, apresentamos
os resultados da análise feita, comparando as concepções de ensino de geografia presentes
nas obras dos autores e das DCE´s PR.

A Dialética e sua contribuição no processo de mudança social


Para compreensão da dialética como concepção e método, faz-se necessário um
levantamento de seu contexto histórico, para tanto, recorreu-se as obras de GADOTTI,
1992; posteriormente, para analisarmos de que forma esta concepção pode contribuir para
um processo de mudança social, recorreram-se as obras de FREIRE (1982).
A dialética teve origem na Grécia Antiga, esta segundo Gadotti, (1992)
representava um modo específico de argumentar e descobrir as contradições contidas no
raciocínio do adversário. Segundo Gadotti, (1992) é somente com Marx e Engels que a
dialética adquiri um status filosófico (materialismo dialético) e científico. Para Marx, “o

6
Discente do curso de Graduação em Geografia Licenciatura – Bolsista PIBIC /CNPQ.
7
Discente do curso de Graduação em Geografia Licenciatura .

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modo de produção da vida material condiciona o processo da vida social, política e


espiritual em geral, [...] o seu ser social é que determina a sua consciência” (GADOTTI,
1992, p. 19). No entanto, o pensamento de Engels se fechava no mundo do espírito. Como
apresenta o autor, a dialética em Marx, é vista como uma concepção do homem, da
sociedade, ou seja, relação homem-mundo. E Ressalta que é a partir do trabalho, que o
homem constrói sua história, e a mediação entre ele e o mundo é a atividade material.
Engels, também deixa sua contribuição, com a criação das três leis da dialética, sendo elas:
1) Lei da conversação da quantidade em qualidade e vice- versa; 2) Lei da interpenetração
dos opostos (lei da unidade e da luta dos contrários); 3) Lei da negação da negação.
Para compreender como a dialética pode contribuir para educação enquanto
processo de mudança social, Freire, (1982) diz que não é possível compreender a educação
sem refletir sobre o próprio homem, ou seja, a educação existe, pelo simples fato de o
homem não ser acabado, e estar em uma constante busca. Esta seria segundo o autor, a raiz
da educação. Dessa forma, pode-se inferir que o homem é um ser de relações, e como
sujeito deve compreender sua realidade e ser capaz de transformá-la. Porém, Freire, (1982)
apresenta as duas visões sobre as relações entre os homens.
Quanto mais dirigidos são os homens pela propaganda ideológica, política ou
comercial, tanto mais são objetos e massas. Quanto mais o homem é rebelde e
indócil, tanto é mais criador, apesar de em nossa sociedade se dizer que o rebelde
é um ser inacabado. (FREIRE, 1982, p. 33).

Sendo assim, Freire, (1982) afirma que todo homem tem seu ímpeto criador, é
necessário dar oportunidades aos educandos para que estes sejam eles mesmos. É dessa
maneira que os sujeitos irão construir suas histórias pela sua própria criação.

As DCE´s PR e algumas conceituações


Para compreender de que maneira a dialética se faz presente nas Diretrizes
Curriculares Estaduais de Geografia Estado do Paraná. Faz-se necessário, entender qual é o
verdadeiro papel da educação, escola e também qual a importância do papel do professor e
do aluno como sujeito, para este documento.
As Diretrizes Curriculares estão vinculadas a escola do pensamento geográfico da
Geografia Crítica. Esta acabou por ocasionar uma “... aproximação entre a Geografia, o
materialismo histórico, como teoria, e a dialética marxista como método para os estudos
geográficos e para a abordagem dos conteúdos de ensino da Geografia. (DCE´S PR, 2008,
p.45). Dessa maneira,

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Nestas Diretrizes Curriculares, o conceito adotado para o objeto de estudo da


Geografia é o espaço geográfico, entendido como o espaço produzido e
apropriado pela sociedade” (LEFEBVRE apud DCE´S, 2008), “composto pela
inter-relação entre sistemas de objetos-naturais, culturais e técnicos – e sistemas
de ações – relações sociais, culturais, politicas e econômicas (SANTOS apud
DCE´S, 2008).

Sendo assim, para as Diretrizes Curriculares a educação deve desempenhar um


papel de qualidade, ou seja, “a escola deve incentivar a prática pedagógica fundamentada
em diferentes metodologias, valorizando concepções de ensino aprendizagem para uma
[...] transformação emancipadora” (DCE´S, 2008, p.15), e que está, consiga envolver toda
a comunidade escolar, para compreensão da importância da educação. Sendo assim,
Estas Diretrizes Curriculares se apresentam como documento norteador para um
repensar da prática pedagógica dos professores de Geografia, a partir de questões
epistemológicas, teóricas e metodológicas que estimulam a reflexão sobre essa
disciplina e seu ensino (DCE´S, 2008, p.50).

Cabe a cada docente da disciplina de Geografia fazer uma reflexão sobre os


conteúdos a serem ministrados e perceber a importância dos mesmos, para que esses
conhecimentos contribuam para uma crítica as contradições sociais, e a valorização da
produção cientifica filosófica e artística. Dessa forma, o sujeito o qual se refere o
documento é aquele produto do seu tempo histórico, frutos das relações sociais, mas que,
principalmente, é um ser único, e percebe o mundo da forma que lhe é possível participar.
Conclui-se que, para a formação de um aluno crítico as DCE´s PR, acreditam que o
ensino de geografia, deve partir das abordagens críticas dessa disciplina, contribuindo com
uma análise dos conflitos e contradições sociais, econômicas, culturais e políticas de um
determinado espaço. Para as DCE´S (2008), é papel do professor fazer com que suas aulas
sejam dialogadas e que permitam ao aluno fazer questionamentos e que seja fundamental
sua participação constante, para que a aprendizagem crítica aconteça.

Entre as DCE`s-PR e as concepções e metodologias utilizadas pela Professora de


Geografia.
Após análise do contexto histórico da concepção dialética, e a reflexão de como a
mesma se reflete no ensino de geografia, e nas DCE´s PR. Nesse momento, buscamos
apresentar a concepção e as metodologias utilizadas pela professora de geografia foco de
nossa pesquisa.
Dessa maneira, num primeiro a professora apresenta que, “já trabalho há 25 anos,
mas já fiz unificação e PDE, então estarei me aposentando em 2016”. Nesta primeira
análise de nossa pesquisa, podemos perceber que a professora entrevistada, apresenta

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considerável tempo de experiência em sala de aula, bem como, aproximação com a


pesquisa. Posteriormente, a mesma relatou sobre sua concepção de educação e geografia.
A mesma relata que, “Primeiramente, é preciso que ocorra uma Revolução da educação, e
que esta instigue a valorização da educação de todos os sentidos (financeiro, qualidade de
vida, escola)”. A mesma acredita que, “os professores também aprendem muito com seus
alunos”. Ou seja, é necessário em sala de aula, a construção dos conhecimentos, e que os
mesmos tenham sentido na vida de ambos. Dessa maneira a concepção apresentada pela
professora é a concepção dialética, a mesma presente nas DCE`s-PR.
Em um segundo momento, a professora relatou sobre suas metodologias utilizadas
em sala de aula. A mesma nos conta que procura variar conforme a turma que trabalha, e
enfatiza que procura respeitar a faixa etária de idade, e a realidade local dos alunos. Esta
procura variar suas aulas, com uso de jogos, leituras de mapas, gráficos, imagens, busca
sempre utilizar o laboratório de informática para realizar pesquisas, e faz debates em sala
de aulas. Nesta análise, percebemos que assim como Carlos (2009), a professora acredita
que a sala de aula é um espaço que propicie a desenvolver o pensamento crítico nos
sujeitos, e um novo modo de ver a vida. Seguindo a análise de pensamento da professora, a
mesma acredita que as DCE´s-PR, foi um grande salto para o desenvolvimento da
educação. Pois, a mesma relata que participou da construção da mesma, e acredita que com
a elaboração da mesma, proporcionou, autonomia aos professores, e a mesma acredita na
formação dos sujeitos, aqueles capazes de saber dialogar, e agir enquanto cidadãos. Dessa
maneira, pode-se inferir que a professora entrevistada em nossa pesquisa, se vincula a
concepção da dialética, a mesma presente nas DCE´s PR, e suas metodologias tem por
objetivo a construção do conhecimento nos sujeitos. Por fim, é possível perceber que
apesar das complexidades que apresenta a carreira docente, é preciso que o professor de
geografia, tenha sua concepção e suas metodologias bem enraizadas, para que a verdadeira
pratica docente aconteça.

Considerações finais
Ao final deste trabalho, identificamos que a concepção e metodologias utilizadas
pela professora de geografia do município de Francisco Beltrão, PR. Apresentam
concordância com aquelas presentes nas obras dos autores, bem como com as concepções
de educação e geografia que embasam as DCE’s - PR. Tais obras, documento, e relato da
professora, se vinculam a corrente teórico-metodológica dialética marxista, e tem como

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objetivo, a formação do sujeito crítico, capaz de dialogar, criar e argumentar sobre suas
concepções.
De forma geral, as análises aqui feitas apontam para a complexidade das discussões
sobre as concepções teórico-metodológicas existentes no âmbito escolar. Neste sentido, é
preciso que o professor tenha autonomia em sala de aula para dialogar e permitir ao aluno
fazer questionamentos, para que a aprendizagem crítica aconteça.

REFERÊNCIAS
CARLOS, A. F. ANA. A Geografia na Sala de Aula. 8ª ed. São Paulo: Contexto,
2009. Vários autores.
FREIRE, P. Educação e Mudança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.
FREIRE, Paulo; SHOR, Ira. Medo e ousadia – o cotidiano do professor. 5ª ed. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1986.
GADOTTI, M. Concepção dialética da educação: um estudo introdutório. 8ª ed. - São
Paulo: Cortez : Autores associados, 1992.
VESENTINI, J. W. Geografia e ensino: Textos críticos. Campinas, São Paulo: Papirus,
1989.

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PROGRAMA DE ATIVIDADE COMPLEMENTAR CURRICULAR EM


CONTRATURNO: UMA FORMA DE VALORIZAÇÃO DO SUJEITO DO CAMPO

Eduarda Nicola
Universidade Estadual do Oeste do Paraná
dudah_252@hotmail.com

Marcelo Nicola
Professor de Geografia SEED-PR
dme_sas@hotmail.com

Introdução
Conforme as Diretrizes Curriculares da Educação do Campo (2006) os sujeitos do
campo têm direito a uma educação pensada, desde o seu lugar e a sua participação,
vinculada à sua cultura e as suas necessidades humanas e sociais. Para tanto é solicitado
aos professores o engajamento na continua reflexão sobre a prática educacional voltada aos
anseios dos povos do campo, considerando quel. são resultados de lutas e articulação dos
movimentos sociais.
Para Caldart (2008) a Educação do Campo se constitui a partir de uma contradição,
sendo está a própria contradição de classes existente na agricultura, tal se dá entre a
agricultura capitalista e a Educação do Campo, visto que a primeira se mantem através da
exclusão e extinção dos camponeses, que são os sujeitos fundamentais da segunda.
Segundo Oliveira (1997, p. 114), a escola é um espaço educativo que tem a função
de tornar o educando sujeito e autor de seu aprendizado, neste sentido, a Educação do
Campo não deve ser para os sujeitos do campo, mas sim dos sujeitos do campo
(CALDART, 2008). Desta forma, o Programa de Atividade Complementar Curricular em
Contraturno que tenha suas práticas voltadas para sustentabilidade e qualidade de vida no
campo é uma das alternativas que podem ser utilizadas para que o educando seja sujeito do
seu processo de aprendizagem.

Materiais e métodos
A realização do Projeto de Atividade Complementar Curricular em Contraturno
seguiu os seguinte cronograma: a) Realização de pesquisas bibliográficas em livros,
revistas, internet para construir um referencial teórico sobre as leis ambientais, produção
orgânica, mata ciliar, reserva legal, SISLEG, associativismo e cooperativismo e
desenvolvimento rural; b) Busca por parcerias com entidades ligadas a agricultura familiar
e órgãos públicos para a organização de palestras e estudos sobre práticas de proteção de

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nascentes, reposição de mata ciliar, realização de SISLEG, horta orgânica e produção


orgânica. c) Aulas práticas realizadas nas propriedades dos alunos e na horta orgânica da
escola; d) Realização de aulas de campo em propriedades rurais para conhecer realidades
distintas (exemplos positivos ou negativos) sobre as temáticas em estudo; e) Diagnóstico e
elaboração de propostas alternativas para dinamizar as atividades produtivas já
desenvolvidas nas propriedades familiares ou incrementar outras atividades; f) Elaboração
de material educativo para divulgar os conhecimentos adquiridos pelos alunos (as)
participantes, bem como a ampliação do debate com a comunidade pensando em uma ação
educativa maior.

Resultados e Discussão
A valorização do sujeito do campo, o resgate dos saberes da agroecologia, e a
sustentabilidade da família rural, foram alguns dos combustíveis que impulsionaram a
continuação do Programa de Atividade Complementar Curricular em Contraturno em
2013, que procurou abordar assuntos sobre a importância da preservação do meio ambiente
e desenvolvimento sustentável do campo.
A oferta das Atividades Complementares Curriculares em Contraturno foi
regulamentada na Resolução n. 1.690/2011 e na Instrução n. 007/2012- Seed/Sued. O
Programa de Atividade Complementar Curricular em Contraturno, que inicialmente se
chamava de Viva Escola, vem se desencadeando na Escola Estadual do Campo Marques
do Herval desde 2009, com alternância de alguns professores orientadores, porém o que se
pode ver foi que a cada ano novas preocupações e alternativas se apresentavam, e eram
posta em práticas, para buscar a valorização dos sujeitos do campo e tentar soluções
sustentáveis para o desenvolvimento da família rural.
Na Escola Estadual do Campo Marques do Herval o projeto iniciou com a busca
por parcerias com entidades ligadas ao desenvolvimento do campo, como é o caso da
Associação de Estudos, Orientação e Assistência Rural (ASSESOAR), Instituto
Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER), Sistema das
Cooperativas de Crédito Rural com Interação Solidária (CRESSOL), Sindicato dos
Trabalhadores Rurais de Santo Antônio do Sudoeste e Associação dos Pequenos
Agricultores Rurais de São Pedro do Florido. Posteriormente, os alunos participantes do
projeto, com auxílio do professor coordenador, desenvolveram um levantamento de dados
sobre a produção familiar de alimentos, para poder desenvolver um planejamento,
organizar e equilibrar a produção e o consumo em cada propriedade dos envolvidos.

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Analisando ao final as diferenças dos gastos mensais entre as famílias que produzem
constantemente seus alimentos e as outras que não produzem com tanta frequência os
alimentos consumidos na propriedade.
A horta orgânica também foi um espaço de experiências e testes, um laboratório a
céu aberto. Após aulas teóricas e definições de conceitos sobre a agroecologia e produção
orgânica, analisando seus benefícios em níveis econômicos e sociais, foi posto em prática
algumas técnicas antigas, sustentáveis, eficientes e de baixo custo, que a agricultura
moderna tem ignorado, como é o caso da produção de adubos e inseticidas orgânicos.
Além de adubos, foram também produzidos inseticidas orgânicos durante o Projeto
de 2013 para a utilização na horta e principalmente na propriedade da casa dos alunos e
professores participantes. O objetivo desse trabalho era resgatar algumas receitas e técnicas
caseiras que nossos antepassados utilizavam para prevenir e controlar alguns parasitas e
insetos que atacavam animais e plantações. A grande maioria dos materiais e ingredientes
utilizados para a fabricação desses inseticidas estavam disponíveis na propriedade das
famílias dos alunos, como é o caso do cinamomo, angico, timbó, cebola, alho e
samambaia. Podendo ser produzidos produtos para o controle de pragas com baixo custo,
grande eficiência e, principalmente, sem utilizar produtos químicos.
Sempre na busca da sustentabilidade e qualidade de vida no campo, o projeto
desempenha, além do já escrito, estudos sobre os índices de contaminação de alimentos em
natura e suas consequências para a saúde do homem. Também realizou trabalhos sobre a
importância de preservar de contaminações as fontes de água com a proteção de nascentes
mantendo a mata ciliar e tendo cuidados especiais com o lençol freático, identificando os
fatores responsáveis pela contaminação da mesma. Ainda foram feitas atividades para
conhecer e compreender como é importante ter um cuidado com a vida do solo, utilizando-
se de coberturas vegetal, adubações orgânicas evitando assim a erosão, a perda da umidade
e também a sua exposição constante ao sol.
Na horta escolar, além de estabelecer um cronograma para o plantio e organizar o
espaço destinado ao cultivo, foi construído um sistema de irrigação aérea, movida por uma
moto bomba submersa que utiliza água da cisterna, construída em parceria com a
ASSESOAR para irrigar as diversas plantas cultivadas nessa local.

Horta Escolar da Escola Estadual Do Campo Marques do Herval

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Figura 1: A: Horta Orgânica escolar. B: Espaço antes da construção da horta. C: Compostagem. D:


Exposição sobre inseticidas. E: Cisterna. F: Canteiros. G: Canteiros de cebolinha, H: Canteiros com
hortaliças. I: Alunos na colheita de alface.
Fonte: arquivo pessoal. Org: Nicola, E; Nicola, M. (2013).

Conclusões
Na atual fase que se encontra a agropecuária moderna, onde grande parte dos
conhecimentos adquiridos ao longo dos anos foram deixados de lado, o Programa de
Atividade Complementar Curricular em Contraturno voltado para a sustentabilidade da
agricultura familiar, para o resgates dos saberes e valorização do sujeito do campo, se faz
necessário. Cabendo aos professores que coordenam o projeto estabelecer ações e práticas
pedagógicas para que esses sujeitos se tornem conhecedores de sua identidade
socioeconômica e cultural, tendo dessa forma autonomia de propor mudanças na realidade
que estão inseridos, e diante disso, poderão ter a sensibilidade de não comprometer o meio
ambiente para as gerações futuras.

Referências
BRASIL. Senado Federal. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: nº 9394/96.
Brasília: 1996

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CALDART, R.S. Por Uma Educação do Campo: traços de uma identidade em


construção. In.: Por Uma Educação do Campo: Identidade e Políticas Públicas. Caderno 4.
Brasília: Articulação Nacional Por Uma Educação do Campo, 2002, p. 25-36.
OLIVEIRA, L. M. Qualidade em Educação. Um Debate Necessário. Universidade Educação
Básica. 1997.
PARANÁ, Projeto Político Pedagógico da Escola Estadual Do Campo Marques do
Herval. Santo Antônio do Sudoeste, 2010.
PARANÁ. Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná – Educação do Campo.
Curitiba: 2008.

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O USO DOS NOVOS RECURSOS DIGITAIS IMPLANTADO NO COLÉGIO


CASTELO BRANCO – ITAPEJARA D’ OESTE8

Jéssica Mara Mooz


Universidade Estadual do Oeste do Paraná
Email: jessica.mooz@coasul.com.br

Josielle Samara Pereira


Universidade Estadual do Oeste do Paraná
Email: josy.samara@hotmail.com

Introdução
O ritmo acerado da sociedade tecnológica é rico de possibilidades e a escola hoje
enquanto instituição social, que tem como principal função preparar cidadãos para o
trabalho e para a vida, não pode e não deve ficar de fora do contexto tecnológico da
sociedade (SAMPAIO E LEITE, 1999).
Nos dias de hoje diversos recursos digitais estão sendo implantados no ambiente
escolar, e ao longo do tempo a inserção destes recursos no ensino vem ganhando cada vez
mais força ao modo que se apresenta como um recurso didático no ensino e aprendizagem.
Sem dispensar a presença do professor elas oferecem recursos que potencializam o
aprendizado dos alunos e facilitam a atividade docente (SILVA, 2009).
O ensino na atualidade vem sendo cada vez mais dificultoso de propiciar aos alunos
o interesse pela escola, na medida em que as novas tecnologias vão se inserindo no
cotidiano, nota-se a necessidade de inseri-la no ambiente escolar, onde irá propiciar aos
alunos uma forma mais prazerosa de se aprender. No artigo de Banhara, diz-se o seguinte:
(...) o processo de evolução das novas mídias, representa um importante
aliado para uma expressão mais didática de temas e assuntos, é possível
perceber que o desempenho do aluno nas atividades de sala de aula é mais
participativo e propositivos. As novas mídias permitem inclusive que os
textos ou atividades que outrora se tornavam maçantes, sejam mais
dinâmicos na nova forma: digital.(...) (BANHARA,p.6)9.

Contudo, é de extrema importância que o professor esteja capacitado a manusear os


diversos instrumentos digitais que estão sendo implantados nos colégios. Conforme a
Secretaria de Educação a Distância (p.69) essas inovações tecnológicas resultam em
inúmeras experiências bem e mal-sucedidas, e ainda, uma das dificuldades é identificar a
essência do novo.

8
Pesquisa realizada na disciplina de Política Educacional e Teoria e Método em 2013.
9
O artigo não possui ano de publicação.

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A presença inegável da tecnologia em nossa sociedade constitui a primeira base


para que haja necessidade de definir e defender a utilização da alfabetização tecnológica na
formação de professores (SAMPAIO E LEITE, 1999). Onde através da alfabetização
tecnológica, o professor estará seguro e suficientemente capacitado em utilizar os diversos
recursos tecnológicos como suporte didático para as aulas.
É necessário preparar o professor para utilizar pedagogicamente as tecnologias na
formação de cidadãos que deverão produzir e interpretar as novas linguagens do mundo
atual e futuro. O professor precisa dominar estes recursos tecnológicos, domínio este que
pode ser entendido como exigência para a formação tecnológica deste profissional
(SAMPAIO E LEITE, 1999).
Neste contexto, o presente artigo trás consigo contribuições a cerca do tema “O uso
dos novos recursos digital implantado no Colégio Castelo Branco – Itapejara d’ Oeste”,
tendo como principal objetivo verificar o uso tanto da TV pendrive quanto dos Tablets
inseridos nesta respectiva escola localizada em Itapejara do Oeste - PR.
Para a concretização desta pesquisa primeiramente realizaram-se leituras a cerca do
tema, a seguir houve a construção dos instrumentos de pesquisa e posteriormente a ida a
campo para a coleta de dados. Foi elaborado questionários, para a direção, professora de
Geografia, equipe pedagógica e para 30 alunos do Ensino Médio, sendo aplicado 10
questionários para cada turma (1°, 2° e 3° ano). A seguir foi realizada a sistematização
destes dados, no qual serão apresentados a seguir.

Análise dos dados da pesquisa do estudo de caso


Segundo os alunos pesquisados, sobre suas concepções a respeito das novas
tecnologias utilizadas no Colégio, eles responderam que são de fundamental importância,
porém é necessário algumas mudanças, aos quais é possível se perceber nas respostas dos
alunos:

“São boas, nos ajudam em pesquisas e trabalhos, mas acho que poderia
haver melhorias”. Aluno 3 (3º ano).
“as novas tecnologias utilizadas pelo Colégio favorecem muito para a
aprendizagem e melhora a forma de trabalho dos professores.” Aluno 9
(3º ano).
“auxiliam os professore e alunos trazendo mais informações com rapidez
e facilidade porém algumas vezes a internet não funcionam, e a nossa TV
está estragada e não podemos utilizar”. Aluno 3 (2º ano).

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Com os alunos, ainda foi possível perceber que os televisores (TV Pendrive)
quando chegaram eram usadas com frequência pelos professores, porém dos 30 alunos
apenas 4 responderam que não era utilizada. Os restantes dos alunos afirmaram que sempre
eram utilizadas.
Ainda sobre o uso dos televisores, os alunos responderam que usam para as
apresentações de trabalhos, e os professores para a utilização de filmes e de imagens,
facilitando assim os alunos um melhor entendimento sobre o conteúdo.
Conforme respondido pelos alunos, a aceitação das tecnologias ocorreu de forma
adequada, porém ainda são necessárias algumas melhorias:

“Sim, as teves (sic) ajudaram para as aulas ficarem melhores, mas só


quando funcionam”. Aluno 6 (1º ano).
“Sim, foi uma boa implantação. Mas falta agora funcionar (algumas)”.
Aluno 4 (2º ano).
“Sim mas acho que o governo deveria mandar melhores tecnologias”.
aluno 3 (3º ano).

Já a implantação entre as TVs pendrive e os Tabletes, segundo o questionário,


ocorreram de forma semelhante/igualitária, segundo relato: “Foi demorado para que
viessem (sic) um especialista para ensina-lo as TVs, e com os tablets eles aprenderam
desde já, de imediato o governo mandou alguém para ensina-los.” (aluno 1 do 1º ano).
Os Tablets conforme a respostas dos alunos se diferenciam na questão da
utilização, como observado no gráfico a seguir:

Gráfico 01 – Utilização dos Tablets pelos professores

25%
Não utilizam
Utilizam
70%
Fonte: Pesquisa de campo, 2013.

Nota-se, que no gráfico 01 cerca de 70% dos alunos responderam que a professora
não utiliza o Tablet, alegando a necessidade da lousa digital, pois com ela propicia à toda
turma acesso aos conteúdos do Tablet; já 25% dos alunos afirmam que a professora utiliza
mas apenas para fazer a chamada e enviar notas e 5% dos alunos afirmam que usa para
fazer pesquisas online.

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Sobre as perspectivas dos alunos frente aos Tablets, um dos alunos elencou a
seguinte resposta “antes de ser implantado em um colégio deveria ser bem testado e
explicado aos professores, não adianta mandar novas tecnologias para apenas fazer a
chamada e andar por ai na bolsa, etc.”. Aluno 3 (3º ano).
Em uma das perguntas do questionário, foi perguntado aos alunos sobre de que
maneira os professores utilizam os Tablets, este terá seus resultados mostrado no Gráfico
02.

Gráfico 02 – Maneiras de utilização dos Tablets pelos professores

Elaboração de
planos de aula,
chamada e
45% pesquisas
55% Não utilizam

Fonte: Pesquisa de campo, 2013.

Conforme o gráfico 02, 45% dos alunos responderam que os professores utilizam o
Tablet para a elaboração de planos de aula, chamada e para a realização de pesquisas. Já 55
% dos alunos responderam que os professores não utilizam o Tablets, pois ainda existe a
falta de assistência e melhoria na internet.
No que diz respeito à concepção de equipe pedagógica e da direção, podemos
constatar que ambas vinculam as empecilhos/dificuldades ocorridas sobre as tecnologias
está inteiramente ligada à falta de noções básicas de informática por parte dos docentes.
Porém afirmam que se bem utilizadas pelos professores é um excelente auxiliador.
Para a diretora do colégio, “o Tablet é uma ferramenta para auxiliar o trabalho do
professor e não vai fazer milagre”. Acrescenta ainda que há uma grande resistência quanto
ao uso das tecnologias, e esta não utilização pode estar atrelada a falta de preparo/formação
dos professores.
Confirmando assim, com o direcionamento da equipe pedagógica, constatou um
número baixo de professores que realizaram o curso de capacitação oferecido pelo núcleo
de Pato Branco, pós a chegada dos Tablets educacionais no colégio. E conforme
mencionado pela diretora, com os televisores não se apresentou nenhum curso de
capacitação docência.

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Considerações finais
Mediante ao desenvolvimento desta pesquisa foi possível verificar que os recursos
tecnológicos que hoje vem sendo inseridos nos colégios servem como um importante
recurso didático, tanto para o melhor aprendizado e interesse por parte do aluno, quanto
para a facilidade da atividade docente.
Conclui-se que a utilização de novos recursos digitais na escola é uma inserção
onde os alunos, professores, diretores etc. acham de extrema importância, pois com a
utilização de tais recursos o professor foge da aula dita como “tradicional”, e os
professores mudando sua metodologia de ensino torna-se a aula mais prazerosa,
alcançando com sucesso o aprendizado do aluno.
No entanto, há a necessidade da alfabetização tecnológica por parte do professor,
ele deve estar preparado para o manuseio dos diversos recursos digitais que vão e vem
sendo implantados na escola. Antes da inserção de recursos tecnológicos no ambiente
escolar o professor necessita-se de uma preparação para manuseá-los, fora isso muitas
vezes deixam de lado esses recursos que perante a sociedade atual é visto como um
excelente recurso didático proporcionado aos alunos.

Referências
BANHARA, G. D. A utilização das novas tecnologias no ensino de geografia. Colégio
Estadual Lúcia Alves de Oliveira Schoffen – EFM, Altônia, PR. p. 17. Disponível em:
http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/2125-8.pdf< acesso em 12 de
março de 2013>
PARANÁ. Secretaria Estadual de Educação.
http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/modules/noticias/article.php?storyid=1782&tit=P
rofessores-recebem-tablets-para-uso-em-sala.< Acesso em 08 de junho de 2013 >.
SAMPAIO, M. N.; LEITE, L. S. Alfabetização Tecnológica do professor. Petrópolis,
RJ: Editora Vozes, 1999. P. 111.
SILVA. S. M. G. Utilização das tecnologias de informação e comunicação como recurso
educativo na formação profissional. III ENCONTRO NACIONAL SOBRE
HIPERTEXTO Belo Horizonte, MG – 29 a 31 de outubro de 2009. P. 12.

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PANORAMA DO TRABALHO DOCENTE DO ENSINO MÉDIO


NOS DIAS ATUAIS

Andresa Fachin
Unioeste (Campus de Francisco Beltrão-PR)
(afgeog@hotmail.com)

Iones Aparecida da Silva


Unioeste (Campus de Francisco Beltrão-PR)
(i.ones.silva@hotmail.com)

Luciano Duarte
Unioeste (Campus de Francisco Beltrão-PR)
luciano_duarte_@hotmail.com

Luís Barcelos
Unioeste (Campus de Francisco Beltrão-PR)
luizsbarcelos@hotmail.com

Solange Lima
Unioeste (Campus de Francisco Beltrão-PR)
solangeliima@hotmail.com

Introdução
Para compreender um pouco mais sobre a situação do ensino brasileiro e as
dificuldades encontradas por nossos professores na atualidade, vamos buscar nesse
trabalho fazer uma análise sobre o trabalho docente, partindo de uma entrevista com uma
professora, já com uma grande experiência profissional, buscando entender a situação e a
repercussão dos problemas educacionais para o com o profissional e seu trabalho. Esses
problemas ao afetarem o trabalho docente tornam o ensino precário e a culpa sempre é
atribuída ao professor, o que não é verdade, pois o ensino se dá a partir de um processo
histórico que envolve diferentes situações e órgãos governamentais, não cabendo apenas ao
professor esse fracasso.
Neste sentido, esse trabalho justifica-se no fato de ser a escola uma instituição
contextualizadora, isto é, sua realidade, seus valores, sua configuração variam conforme as
condições históricos-socias que a envolvem. Há toda uma confluência de fatores que
determinam seu perfil e suas manifestações. O professor com relação à escola é ao mesmo
tempo, determinante e determinado. Assim como seu modo de agir e de ser, recebem
influências do ambiente escolar, também influência este mesmo ambiente. A escola,
analisada de diferentes momentos históricos, certamente mostrará realidades também
diferenciadas. Se o professor refletir sobre si mesmo, sua trajetória profissional, seus
valores e crenças, suas práticas pedagógicas, encontrará manifestações não semelhantes, ao
longo do tempo. Esse jogo de relações entre a escola e a sociedade precisa ser cada vez

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XVIII Encontro de Geografia da Unioeste (ENGEO) e XII Encontro de Geografia do Sudoeste do Paraná (ENGESOP)
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mais, desvendado para que se possa compreender e interferir na prática pedagógica. Uma
visão simplista diria que a função de professor é ensinar e poderia reduzir este ato a uma
perspectiva mecânica, descontextualizada. É provável que muitos dos nossos cursos de
formação e professores limitem-se a esta perspectiva. Entretanto, sabe-se que o professor
não ensina no vazio, em situações hipoteticamente semelhantes. O ensino é sempre
situado, com alunos reais em situações definidas. E nesta definição interferem os fatores
internos da escola, assim como as questões sociais mais amplas que identificam uma
cultura e um momento histórico-politico (CUNHA, 1989).

Vida real de um professor


De acordo com a pesquisa realizada, a professora declara que a escolha dessa
profissão se deu por um desejo de criança e pela questão financeira dos pais não custearem
outro curso de custo mais elevado. Segundo ela haviam duas alternativas:

“ou me tornava professora, ou levaria uma vida igual de meus


pais, agricultores e com grandes dificuldades financeiras”.

Essa questão vem reafirmar as questões trabalhadas por nós em sala de aula aonde
vimos que as pessoas que se dedicam a essa profissão são provenientes das classes sociais
mais baixas. Tory Oliveira na reportagem Quem quer ser professor? Na Revista Carta na
Escola, também afirma:

o jovem que procura a carreira de professor hoje no Brasil é


oriundo das classes mais baixas e fez sua formação na escola
pública.

Segundo ela, o mais difícil para carreira foi convencer seu pai a deixá-la assumir a
profissão, pois na época não era requisitado concurso para séries iniciais de primeira a
quarta série do ensino fundamental, era apenas indicação de pessoas influentes. Em Tory
de Oliveira, Quem quer ser professor?, encontramos um relato de que a partir de 1930 e
1950 o professor passou a ser um pouco mais valorizado e quando o sistema de ensino
passou a ser de direito de todos, não só da elite, universalizando a educação, acabou-se por
aligeirar a formação dos professores, onde muitos leigos foram contratados, aumentando a
defasagem salarial.
Com relação à educação brasileira a entrevistada declara que é atrelada aos
interesses econômicos da classe dominante, reproduzindo o sistema e enraizada numa

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cultura de que ser professor é uma missão ou vocação e não uma profissão, o que torna o
professor desvalorizado pela elite. Exclama a professora:

“Pelo amor de Deus, se alguém afirmar a vocês que ser


professor é missão, não se calem, professor é um profissional,
como qualquer outro”.

Sobre o assunto Tory Oliveira também afirma que: “socialmente a representação


do professor não é a de um profissional. É de um cuidador, quase um sacerdote que faz
seu trabalho por amor.”.
Em sua fala a professora continua e diz que é o professor que pode fazer os
indivíduos saírem do senso comum a um senso critico ativo, o que não é interesse do
sistema. Para mudar a situação é necessário que todos os professores se unam. Dessa forma
vai se alcançar, também, um novo profissional com formação de qualidade.
Segunda a entrevistada, as condições de trabalho não são satisfatórias, pois o
sistema de ensino encontra-se muito defasado devido à infra-estrutura física (quadra de
esporte sem cobertura ou próximas das salas, muitas vezes dividindo espaços entre escolas
estaduais e municipais), humana (falta de profissionais no atendimento e manutenção da
escola, como laboratórios, bibliotecas etc.), financeira (poucos recursos do governo para
melhorar instalações), pedagógica e a indisciplina dos alunos, que ela atribui não ser uma
opção, mas o resultado das condições criadas pela sociedade.

“Ao olhar meus alunos e observar suas atitudes vejo o reflexo


do sistema social em que nos encontramos. Eles têm menos
culpa que nós nesse sistema. Eles nem entendem muito bem qual
é a causa de todos os problemas e acabam pensando que a
educação perdeu créditos por causa dos professores, onde surge
daí, muitas vezes, conflitos entre ambos.”

Conclusão
A escolha para a realização da entrevista, de uma professora com uma longa
trajetória no ensino, esteve atrelada ao interesse de nós, acadêmicos da licenciatura em
geografia, na iminência de concluir o curso, em ouvir de uma pessoa envolvida no
processo de ensino, como foi sua trajetória na escola, os elementos motivadores e
desmotivadores durante a carreira, anseios e opinião quanto ao futuro do ensino.
Durante o transcorrer da conversa, conseguimos sentir através da própria fala da
entrevistada o quanto a mesma está envolvida com a escola, e o quanto isso interfere na
sua vida pessoal, inclusive interferindo na decisão de constituir ou não uma família.

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Observa-se ainda que não esta apenas nas mãos dos professores a transformação
do sistema de ensino e consequentemente da sociedade, mas de todos os envolvidos no
sistema social e educacional. Porém, os professores podem ser os instigadores dessa
transformação, trabalhando com o intuito de formar cidadãos não apenas críticos, mas
conscientes que precisam agir para que as mudanças ocorram, e a sociedade consiga
oferecer a todos uma vida mais digna, onde todos possam exercer seus direitos sem
submeter-se ao sistema de opressão capitalista.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CUNHA, M. I; O bom professor e sua prática. São Paulo: Papirus, 1989.
PESSANHA, E.C; Ascensão e queda do professor. São Paulo: Cortez, 1994.
TARDIF, Maurice. Saberes docentes e Formação Profissional. 11º edição. RJ Ed. Vozes,
2010.
Sites
Quem quer ser professor? em http://www.cartanaescola.com.br, visitado em 23 de junho
as 14h10min.

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