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Danielle le Fay
1) - se há um Deus supremo, transcendente; por outro lado, há um Deus imanente, em cada ser
humano, que cumpre libertar e contatar, pela experiência direta do divino em nós;
2) - o caminho para isso é o da transformação da alma, cadinho onde as experiências místicas
ocorrem, e onde se cumpre (ou não) o casamento alquímico do Rei e da Rainha, do divino e do
humano, em nossos corações: é o Caminho da Individuação;
3) - a meta e o propósito da vida são, portanto, o atingimento desse estado de consciência, a
partir da inconsciência - da agnóia - anterior, sombra que sustenta o desabrochar da consciência
divina no Homem;
4) - o grande pecado da alma é a ignorância (avidya, em sânscrito) que a mantém nas trevas,
afastada de sua divina origem.
5) - a possibilidade de se realizar a transmutação da alma é sustentada pelos arquétipos,
elementos estruturantes da psique, padrões e formas dominantes que organizam o ego, complexo
do nível consciente, assim como as demais partes que se confrontam na arena psíquica: a sombra
- geralmente identificada pelos aspectos rejeitados, não assimilados que permanecem
subliminares na inconsciência; a persona - cuja base arquetípica permite a adaptação ao mundo
exterior, de relação, integrando a consciência coletiva no indivíduo etc.
6) - dos arquétipos - do pai, da mãe, do puer, da puella, do senex, do animus, da anima e outros -
o principal, é o SELF (Si-mesmo), o que coordena, estrutura e corrige compensatoriamente os
desvios das ações conscientes. Representa a imagem de Deus em nossa alma, o Deus interior, o
Cristo imanente, objeto constante da busca gnóstica pelo conhecimento e pela devoção.
7) - por último, a relação dual entre matéria e espírito, se é resolvida por alguns gnósticos pela
negação da primeira e até por sua tentativa de supressão, por outros, mantido embora o dualismo,
a matéria é considerada divina, por ser o Templo que abriga o espírito e, assim, é considerada e
respeitada. Alguns gnósticos chegaram ao extremo de supor que nada do que fosse
materialmente feito poderia afetar o espírito, razão pela qual permitiam-se até exageros e
licenciosidades, condenados pelos demais (Carpócrates).
8) - ABRAXAS é a energia psíquica, a vida criativa que confere significado a partir da ilha da
consciência que emerge do inconsciente. O mergulho neste, no entanto, exige o afastamento do
espetáculo feérico da vida ativa sustentada por ABRAXAS.
Os Sete sermões representam a descida pelo setenário do Pleroma à psique humana, a criadora
das imagens, sendo o homem o mediador entre as duas eternidades, e a sincronicidade o ponto de
encontro entre ambas. Trata-se do encontro entre a física subatômica e a psicologia analítica.
É o homem que dá significado através da consciência - reino das avaliações subjetivas -
contatando e ativando emocionalmente o inconsciente e, assim, trazendo as imagens arquetípicas
à luz da consciência. Sendo os arquétipos psicofísicos ou psicóides, eles se manifestam nos dois
planos, o que caracteriza sua transgressividade.
O homem, como alquimista e sacerdote dessa nova gnose, é um modelo unitário da realidade
com conexões causais e acausais, reconciliando espírito e matéria, na unidade do mundo, na
síntese do unus mundus.
mundus. Vida e espírito se reúnem: o espírito dá o significado, mas ele não é
nada sem a vida...
Sem dúvida, que a natureza dual da condição humana aconselha o convívio sábio com estas
forças instintivas, inconscientes, que deverão ser encaminhadas - pela GNOSE, pelo
reconhecimento - à luz da consciência, que delas retirará a necessária energia para a Grande
Obra, a saber a transmutação do chumbo em ouro, da matéria bruta em matéria sutil,
ultrapassando os sete corpos, os 32 caminhos e as 50 portas - estreitas que sejam - para se chegar
à flor de ouro, que jaz escondida no fundo de nossas almas. Achá-la é o desafio diuturno da vida
de cada um de nós!
No entanto, é preciso precaver-se contra o falso otimismo do poder positivo da mente: é preciso
estar sempre de olhos abertos, sabendo introvertê-los, para fugir da sedução de ABRAXAS,
encontrando o Deus interior que realiza a própria transformação, como realidade psíquica, que dá
significado à vida, engendrando o processo de individuação.
BIBLIOGRAFIA
* Livre-Docente e Doutora em Ciências pela UERJ. Pesquisadora da obra de Jung, com livros e
artigos publicados.