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A Teogonia de Jung

Danielle le Fay

A teogonia de Jung é a projeção no macrocosmo da psique humana e os mitos de criação


(cosmogônicos) descrevem o despertar da consciência a partir do inconsciente. Para ele, o
Demiurgo é o ego ou o pequeno Si-mesmo. Nossos relacionamentos projetam nossos fracassos e
inadequações interiores: é o reino da sombra, o vilão interior. Além disso, ele escolhe Sophia
como a mais elevada entre as figuras de anima: Barbelo, Eva, Helena e Maria. Estas são
representantes de fases anteriores do processo de autoconhecimento masculino, que é acionado
quando a anima, ativada, conduz a alma para dentro do interior psíquico e produz a totalidade
indispensável. Para ele, salvar o homem do mundo é um processo de desidentificação em relação
ao Outro externo e ao Outro interno.
Jung diz mais: mudança sem transformação é um desastre: os elementos naturais apenas mudam,
mas não se transformam, por isso é necessário realizar a opus contra naturam,
naturam, para que haja real
transformação e diminuam as projeções, preparando o homem para encarar sua própria luz
interior, quando o Self retorna a si-mesmo, dando a quintessência do que foi e do que será.
Sobre a questão do mal, Jung pronuncia-se contra a teoria platônica, retomada por Santo
Agostinho, de que o mal é a ignorância ou privação do Bem; para ele, o mal existe como pólo
antinômico do Bem, atributos que se anulam no Pleroma. Isso ele afirma em seu Primeiro
Sermão. Nessa questão, Jung coloca-se contra a teoria agostiniana da privatio boni,
boni, de origem
platônica.
Jung levanta a hipótese da inconsciência de Deus, a partir do caos da indiferenciação ao cosmos,
da lei, da ordem e da diferenciação. Para ele, não existem seres irreligiosos, apenas há os que não
reconhecem o nível importante do inconsciente, o poder da imaginação e a dialética de
compensação que efetiva, por meio dos símbolos, os conteúdos inconscientes. Mas acrescenta
ele: a necessidade não é de uma crença e sim de uma experiência religiosa que integra a alma
numa totalidade. Deus é para ser vivenciado, pois só o que experimenta está vivo, o que crê está
morto. Daí a importância do controle da consciência que enriquece e beneficia a alquimia e a
magia do inconsciente em suas projeções.
É assim que Jung dá grande importância à subida do nível de consciência, a partir do
inconsciente urobórico e indiferenciado. Disso dão conta os mitos luciferinos e prometeicos, bem
como os papéis de Lilith e Eva.
Na verdade, Jung acha que não somos nós que fazemos as imagens de Deus: “Elas é que se
fazem”, constituindo-se a imago Dei num complexo autônomo de grande força e intensidade,
arraigado na plenitude do Ser, na psique como um todo, cabendo apenas ao ego pessoal confiar
nesse poder transcendente, que é o Deus que está na alma, como uma realidade viva, dando-nos
o esplendor dos recursos suprapessoais, da criatividade e da auto-renúncia.
Tais idéias conduzem diretamente à relatividade da concepção de Deus, sendo a prece apenas o
prazer que se extrai da experiência divina, como doação de si-mesmo a seu Deus interior: a
gnosis kardia,
kardia, já mencionada. Por via de conseqüência, o mito da encarnação contínua de Deus
nos seres criados e a redenção mútua do homem e de Deus, idéias que Jung retomará na década
dos 50, com seu “Resposta a Jó”.
No campo da moral, Jung aceita o antinomianismo dos gnósticos (não reconhecimento das leis
ditadas pela moral convencional dos homens em sociedade) e propõe a ética da convicção
pessoal, ditada pelo núcleo arquetípico da sabedoria interior que cada homem possui. Para ele, a
meta da plenitude não deve ser confundida com os ideais da perfeição, pela via da imitação do
Cristo.
Hoeller acha mesmo que a individuação pode implicar em ir-se contra os critérios estabelecidos
pela sociedade, evidenciando um conflito entre a lei e a liberdade do indivíduo, único verdadeiro
portador de consciência. (Cf. 1993:155).
Como Deus é uma união de opostos no Pleroma, a plenitude do Ser só ocorre no inconsciente
coletivo: bem e mal, belo e feio, verdade e erro etc. Daí, a importância da integração da sombra,
para compor a totalidade do indivíduo, incluindo seu lado negativo ou rejeitado no processo de
individuação.
Acompanhando Hartmann e Schopenhauer, Jung concebe Deus como inconsciente, representado
pelo caos e sua indiferenciação, tanto no inconsciente, como no cosmos. Resulta, então que a
missão do homem é o resgate da diferenciação pela consciência, inclusive pela consciência do
mal.
A subida do nível de consciência, cujos mitos principais, já apontados, são os de Lúcifer e de
Prometeu, é a verdadeira missão do homem na terra e o papel do feminino no processo de
individuação (Lilith, Eva, Pandora) é reconhecido em diversos mitos de diferentes povos.
Jung segue ainda as idéias de um filósofo medieval - Joachim dei Fiori - que falava de uma Era
do Pai, uma Era do Filho e uma Era do Espírito Santo. Em seu livro “Resposta a Jó”, Jung
retoma essas idéias com seu mito de encarnação contínua de Deus e da redenção mútua do
homem e de Deus.
Do ponto de vista religioso, aceitam os gnósticos de Alexandria, nesses primeiros séculos da Era
de Peixes, a figura de Jesus - o homem perfeito - que encarna o CRISTO, o ungido, o Messias -
emanação do Deus perfeito - para a redenção do Homem e da Humanidade. Jung, no entanto,
criticará a unilateralidade da concepção cristã, com a ausência da sombra divina, o Leviatã. Ele
fala, também, da sombra de Deus e do Cristo, ainda que não aceita oficialmente pelos cânones da
Igreja. Ele se refere à figura do Anticristo, que surgiu no fim do primeiro milênio cristão, como
uma enantiodromia à perfeição imaculada do Cristo. Aconselha ele que devemos temer a Deus e
ensina que a idéia do anticristo é arquetípica, para completar o quatérnio: MAL X BEM;
ESPÍRITO X MATÉRIA..
Em suma, a salvação ou redenção do Homem não se faz pela fé, mas pelo conhecimento -
GNOSE (do grego = conhecimento). Mais precisamente, pelo autoconhecimento. Coincide assim
o esforço gnóstico com o processo de individuação junguiano, a partir dos seguintes
pressupostos:

1) - se há um Deus supremo, transcendente; por outro lado, há um Deus imanente, em cada ser
humano, que cumpre libertar e contatar, pela experiência direta do divino em nós;
2) - o caminho para isso é o da transformação da alma, cadinho onde as experiências místicas
ocorrem, e onde se cumpre (ou não) o casamento alquímico do Rei e da Rainha, do divino e do
humano, em nossos corações: é o Caminho da Individuação;
3) - a meta e o propósito da vida são, portanto, o atingimento desse estado de consciência, a
partir da inconsciência - da agnóia - anterior, sombra que sustenta o desabrochar da consciência
divina no Homem;
4) - o grande pecado da alma é a ignorância (avidya, em sânscrito) que a mantém nas trevas,
afastada de sua divina origem.
5) - a possibilidade de se realizar a transmutação da alma é sustentada pelos arquétipos,
elementos estruturantes da psique, padrões e formas dominantes que organizam o ego, complexo
do nível consciente, assim como as demais partes que se confrontam na arena psíquica: a sombra
- geralmente identificada pelos aspectos rejeitados, não assimilados que permanecem
subliminares na inconsciência; a persona - cuja base arquetípica permite a adaptação ao mundo
exterior, de relação, integrando a consciência coletiva no indivíduo etc.
6) - dos arquétipos - do pai, da mãe, do puer, da puella, do senex, do animus, da anima e outros -
o principal, é o SELF (Si-mesmo), o que coordena, estrutura e corrige compensatoriamente os
desvios das ações conscientes. Representa a imagem de Deus em nossa alma, o Deus interior, o
Cristo imanente, objeto constante da busca gnóstica pelo conhecimento e pela devoção.
7) - por último, a relação dual entre matéria e espírito, se é resolvida por alguns gnósticos pela
negação da primeira e até por sua tentativa de supressão, por outros, mantido embora o dualismo,
a matéria é considerada divina, por ser o Templo que abriga o espírito e, assim, é considerada e
respeitada. Alguns gnósticos chegaram ao extremo de supor que nada do que fosse
materialmente feito poderia afetar o espírito, razão pela qual permitiam-se até exageros e
licenciosidades, condenados pelos demais (Carpócrates).
8) - ABRAXAS é a energia psíquica, a vida criativa que confere significado a partir da ilha da
consciência que emerge do inconsciente. O mergulho neste, no entanto, exige o afastamento do
espetáculo feérico da vida ativa sustentada por ABRAXAS.

Os Sete sermões representam a descida pelo setenário do Pleroma à psique humana, a criadora
das imagens, sendo o homem o mediador entre as duas eternidades, e a sincronicidade o ponto de
encontro entre ambas. Trata-se do encontro entre a física subatômica e a psicologia analítica.
É o homem que dá significado através da consciência - reino das avaliações subjetivas -
contatando e ativando emocionalmente o inconsciente e, assim, trazendo as imagens arquetípicas
à luz da consciência. Sendo os arquétipos psicofísicos ou psicóides, eles se manifestam nos dois
planos, o que caracteriza sua transgressividade.
O homem, como alquimista e sacerdote dessa nova gnose, é um modelo unitário da realidade
com conexões causais e acausais, reconciliando espírito e matéria, na unidade do mundo, na
síntese do unus mundus.
mundus. Vida e espírito se reúnem: o espírito dá o significado, mas ele não é
nada sem a vida...
Sem dúvida, que a natureza dual da condição humana aconselha o convívio sábio com estas
forças instintivas, inconscientes, que deverão ser encaminhadas - pela GNOSE, pelo
reconhecimento - à luz da consciência, que delas retirará a necessária energia para a Grande
Obra, a saber a transmutação do chumbo em ouro, da matéria bruta em matéria sutil,
ultrapassando os sete corpos, os 32 caminhos e as 50 portas - estreitas que sejam - para se chegar
à flor de ouro, que jaz escondida no fundo de nossas almas. Achá-la é o desafio diuturno da vida
de cada um de nós!
No entanto, é preciso precaver-se contra o falso otimismo do poder positivo da mente: é preciso
estar sempre de olhos abertos, sabendo introvertê-los, para fugir da sedução de ABRAXAS,
encontrando o Deus interior que realiza a própria transformação, como realidade psíquica, que dá
significado à vida, engendrando o processo de individuação.

BIBLIOGRAFIA

1 - BAIGNET, M., LEIGH, R., e LINCOLN H. - O SANTO GRAAL E A LINHAGEM


SAGRADA. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993.
2 - DOURLEY, J.P. - A DOENÇA QUE SOMOS NÓS: a crítica de Jung ao cristianismo São
Paulo: Paulinas, 1987.
3 - FERRATER MORA, J. DICCIONARIO DE FILOSOFIA. Buenos Aires: Sudamericana,
1958.
4 - HOELLER, S.A. - A GNOSE DE JUNG E OS SETE SERMÕES AOS MORTOS. São Paulo:
Cultrix, 1990.
5 - - JUNG E OS EVANGELHOS PERDIDOS: uma apreciação junguiana sobre os Manuscritos
do Mar Morto e a Biblioteca de Nag Hammadi. São Paulo: Cultrix/Pensamento, 1993.
6 - JUNG, C.G. - SÍMBOLOS DA TRANSFORMAÇÃO
7 - LAPERROUSAZ, - OS MANUSCRITOS DO MAR MORTO. São Paulo: Círculo do Livro,
s/d.
8 - SCHUON, F. - GNOSIS, lenguaje del Si. Trad. do francês por José Manuel de Rivas. México:
Heliópolis, 1993.
9 - VOEGLIN, E. - CIENCIA, POLITICA Y GNOSTICISMO. Madrid: Rialp, 1977.

* Livre-Docente e Doutora em Ciências pela UERJ. Pesquisadora da obra de Jung, com livros e
artigos publicados.

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