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EDUCAÇÃO MATEMÁTICA
EM REVISTA – RS
CONSELHO CONSULTIVO
Dr. Airton Carrião Machado – Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Dra. Anemari Roesler Luersen Vieira Lopes – Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)
Dra. Arlete de Jesus Brito – UNESP – Rio Claro
Dr. Arthur B. Powel – Rutgers University – USA
Dra. Carmen Teresa Kaiber – Universidade Luterana do Brasil (ULBRA)
Dra. Cátia Maria Nehring – Universidade Regional do Noroeste do Estado do RS (UNIJUÍ)
Dra. Claudia Lisete Oliveira Groenwald – Universidade Luterana do Brasil (ULBRA)
Dra. Eleni Bisognin – Universidade Franciscana (UNIFRA)
Dra. Eliana Maria do Sacramento Soares – Universidade de Caxias do Sul (UCS)
Dr. Idemar Vizolli – Universidade Federal do Tocantins (UFT)
Dra. Irene Mauricio Cazorla – Universidade Federal da Bahia (UFBA)
Dra. Helena Noronha Cury – Universidade Franciscana (UNIFRA)
Dr. José Carlos Pinto Leivas – Universidade Luterana do Brasil (ULBRA)
Dra. Maria Cecília Bueno Fischer – Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS)
Dra. Maria Cristina da Cunha Santos Loureiro – Escola Superior de Educação de Lisboa – Portugal
Dra. Maria Cristina Kessler – Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS)
Dra. Maria Tereza Carneiro Soares – Universidade Federal do Paraná (UFPR)
Dra. Marilena Bittar – Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS)
Dr. Maurício Rosa – Universidade Luterana do Brasil (ULBRA)
Dra. Neiva Ignes Grando – Universidade de Passo Fundo (UPF)
Dra. Nilce Scheffer – Universidade Regional do Noroeste do Estado do RS (URI)
Dr. Pedro Borges – Universidade Regional do Noroeste do Estado do RS (UNIJUÍ)
Dr. Rômulo Marinho do Rêgo – Universidade Estadual de Campina Grande (UEPB)
Dra. Rute Elizabete de Souza Rosa Borba – Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
Dra. Silvia Dias Alcântara Machado – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP)
Dra. Tânia Cristina Baptista Cabral – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS)
Dra. Vanilde Bisognin – Universidade Franciscana (UNIFRA)
Anual
ISSN 1518-8221
CDU 372.851
EDUCAÇÃO MATEMÁTICA EM REVISTA – RS
INDEXADOR
Dezembro de 2009
EDUCAÇÃO MATEMÁTICA EM REVISTA – RS
SUMÁRIO
EDITORIAL........................................................................................................................................... 7
Claudia Lisete Oliveira Groenwald
A ESCRITA COMO ESTRATÉGIA PEDAGÓGICA NO ENSINO DE MATEMÁTICA E
ESTATÍSTICA COM FORMANDAS DO CURSO DE PEDAGOGIA: ANALISANDO A
PRODUÇÃO ESCRITA DE LAURA
The Writing as Pedagogical Strategy in the Mathematics Teaching and Statistic with the Last
Year Students of Pedagogy Course: Analysing Laura’s Writing Production...................................... 9
Willian Beline, Márcia Cristina de Costa Trindade Cyrino
A MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: ESTUDO DE CASO NA CIDADE DO RECIFE
Mathematics in Children Education: Case Study in Recife City..................................................... 19
Juceli Bengert Lima, Aldenize Ferreira de Lima
CONSTRUÇÃO DO CONCEITO DE FUNÇÃO NO ENSINO FUNDAMENTAL POR MEIO DA
METODOLOGIA DE RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS
Construction of the Concept of Function in Primary Education through the
Methodology of Resolution Problems................................................................................ 27
Alex Sandro Gomes Leão, Vanilde Bisognin
A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DO CONCEITO DE FUNÇÃO
The Historical Construction of the Function Concept...................................................... 37
Rafael Winicius da Silva Bueno, Lori Viali
O QUE PESQUISAS TÊM EVIDENCIADO SOBRE O USO DA CALCULADORA NA SALA DE
AULA DOS ANOS INICIAIS DE ESCOLARIZAÇÃO?
What Has Research Shown about the Use of the Calculator in Primary School Classrooms? . 49
Rute Elizabete de Souza Rosa Borba, Ana Coelho Vieira Selva
TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA: EXEMPLOS EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA
Didactic Transposition: Examples in Mathematics Education......................................... 65
José Carlos Pinto Leivas, Helena Noronha Cury
A GEOMETRIA QUE EXISTE ALÉM DO OLHAR: LEVANDO A GEOMETRIA DA NATUREZA
PARA DENTRO DA ESCOLA
Geometry beyond the View: Taking Nature Geometry into the School............................ 75
Karin Ritter Jelinek, Adriana Justin Cerveira Kampff
SESSÃO ESPECIAL
Carvalho brinda nossos leitores com o Trabalho resolução de problemas, voltado à metodologia
com projetos no ensino e na aprendizagem de de resolução de problema e que pode ser aplica-
estatística: benefícios, problemas, limitações..., do diretamente na escola básica, tão carente de
que faz uma análise de pesquisas de mestrado inovações curriculares no ensino e na Educação
sobre Educação Estatística, as quais mostram Matemática.
benefícios no tipo de trabalho para o desenvolvi-
mento profissional dos professores. No segundo, Desejo uma boa leitura a todos!
Lourdes de La Rosa Onuchic e Norma Suely Al-
levato presenteiam nossos leitores com o artigo Claudia Lisete Oliveira Groenwald
Trabalhando volume de cilindros através da Diretora da SBEM/RS
The Writing as Pedagogical Strategy in the Mathematics Teaching and Statistic with
the Last Year Students of Pedagogy Course: Analysing Laura’s Writing Production
Willian Beline
Márcia Cristina de Costa Trindade Cyrino
1
Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão. 2
State College of Science and Letters of Campo Mourão.
Paraná. Brasil. Site <http://www.fecilcam.br>. Paraná. Brazil. Site <http://www.fecilcam.br>.
Laura, made possible a search of understanding que as alunas sentiam das tarefas que envolviam
of the contents of the discipline on the student’s representação e pensamento matemático.
part, and the teacher’s instrumentalisation for Diante disso, preparamos um instrumento
the classes (re)planning, as Laura, little by little, que possibilitasse essa escrita discursiva inti-
presented changes in her way of writing, becoming tulado Bilhete de fim de aula (SANTOS, 2005,
more and more involved with the contents and
p.130). Todas as acadêmicas, durante o ano letivo
with the classes. Several were the moments that,
besides answering to what were requested in the de 2008, deveriam, em todas as aulas, responder
task, she went beyond, always questioning what às questões: (i) Qual o conceito mais importante
was presented in classroom, as well as her writing desta aula? Comente, justifique; (ii) Qual a minha
production. principal dúvida nesta aula? Por quê?
No final do ano letivo, solicitamos que as
Keywords: Mathematics education. Pre-service acadêmicas respondessem a algumas questões4
Mathematics teachers. Writing mathematics. relacionadas ao Bilhete de fim de aula, com o
Expressive and transactional writing. objetivo de desencadear nelas uma avaliação
reflexiva, bem como avaliar o instrumento uti-
Introdução lizado.
Neste texto, apresentamos uma análise da
Processos de escrita em aulas de Matemá- produção escrita da acadêmica de pseudônimo
tica têm sido o foco de interesse para diversos Laura. A escolha dessa estudante deve-se ao fato
pesquisadores, dada a importância desse tema no de ela ter revelado, no decorrer do ano, diversas
ensino, assim como na formação de professores dúvidas e dificuldades quanto ao conteúdo trata-
em Matemática. do em sala de aula. Isso nos motivou a investigar
Ao discutir a importância da escrita em aulas sua produção escrita e algumas implicações des-
de Matemática, Powell (2001) afirma que “além de se desenvolvimento para os processos de ensino
possibilitar a captação do pensar matemático”, ela e de aprendizagem. De partida, descrevemos os
também pode “servir como um veículo de aprendi- fundamentos teóricos que subsidiaram a inves-
zagem” (p.73, grifo nosso) em Matemática. tigação e o modo como essa tarefa de escrita foi
Para esse mesmo autor, quando nossos desenvolvida em sala de aula.
alunos colocam no papel seus sentimentos e
pensamentos sobre ideias matemáticas espe- A escrita em aulas de Matemática
cíficas, podemos captá-las na medida em que
esse processo constitui-se em “um veículo eficaz Não é raro, em diálogos entre professores
para que nós e eles possamos examinar, refletir que atuam na educação básica no Brasil, ouvir
profundamente e reagir ao seu pensamento ma- as seguintes afirmações:
temático” (p.73). Professor que ensina Matemática: “Meus
Interessados em investigar implicações da alunos não sabem ler e interpretar um problema
produção escrita na formação de professores, em em Matemática. Isso é culpa do professor de Por-
2008, enquanto o primeiro autor deste artigo mi- tuguês, que deveria ensiná-los a ler e interpretar
nistrava a disciplina “Matemática e Estatística”3 textos...”
para acadêmicas do 4º ano de Pedagogia diurno, Professor que ensina Língua Portuguesa:
da FECILCAM, decidimos introduzir a escrita “Como vou ensinar seus alunos a lerem em
discursiva como uma das atividades da dis-
ciplina. Nosso objetivo foi o de constituir um
espaço de comunicação que contribuísse para 4
Questões: (i) Já havia utilizado o recurso de escrita discursiva em
aulas de Matemática? O que pensou quando foi solicitada essa
compreensão e apropriação dos assuntos abor-
atividade?; (ii) Descreva como tem sido escrever nas aulas de
dados em sala de aula, e para minimizar o medo Matemática.; (iii) Comparando sua primeira narrativa no início
do ano com os textos mais recentes, você considera que o modo
de se expressar matematicamente por meio da escrita discursiva
3
Nessa disciplina, ministrada nas turmas de 4º ano de mudou?; (iv) A escrita em aulas de Matemática tem contribuído
Pedagogia na FECILCAM, devem ser tratados os seguintes para sua aprendizagem? Como? Cite um episódio que ilustre isso.
conteúdos: revisão de matemática elementar e introdução à (v) Você tem tido dificuldades em escrever nas aulas de Matemá-
estatística aplicada à Educação. É uma disciplina anual, com tica? Por quê?; (vi) De que modo essa atividade poderia contribuir
duas horas/aula/semana, totalizando 72h/a ao final. ainda mais para o seu aprendizado em matemática?
Matemática, se não tenho formação específica nos procedimentos e significados que permeiam
nessa área?”. o tema em questão” (p.131). Os estudantes
Embora essa discussão traga à tona uma te- investigados pela autora têm revelado que me-
mática importante, esse tipo de diálogo, que bus- lhoraram seu modo de “traduzir”, compreender
ca identificar culpados, pouco tem contribuído informações consideradas, a princípio, como
para um efetivo enfrentamento do problema. estritamente técnicas e inacessíveis.
Arthur Powell há muito tempo tem trabalha-
Em geral, nós, os professores que do com a escrita como veículo de aprendizagem da
ensinamos Matemática, dizemos “os Matemática. Powell e López (1995), ao relatarem a
alunos não sabem interpretar o que
o problema pede” e vislumbramos, utilização da escrita em aulas de Matemática, em
como alternativa para a solução da um curso de Cálculo, combatem um modelo de
dificuldade, pedir ao professor ou ensino de Matemática apelidado de “giz e fala”.
professora de Língua Portuguesa Segundo esses autores, nesse modelo de ensino
que realize e/ou reforce atividades de
interpretação de textos com nossos
[...] encontram-se poucas, se é que
alunos. A sugestão dos professores de
existem, situações em que se pede
Matemática aos colegas professores
explicitamente que os estudantes
de Língua Portuguesa, embora
reflitam sobre a matemática que
possa contribuir para a leitura de
estejam a “fazer”, sobre o que pensam
uma maneira geral, não ataca a
da Matemática ou mesmo sobre eles
questão fundamental da dificuldade
próprios em relação à disciplina. Pelo
específica com os problemas e
contrário, os resultados das reflexões
com outros textos matemáticos
de outras pessoas são narrados
(FONSECA; CARDOSO, 2005, p.64,
aos estudantes a quem se pede
grifos nossos).
simplesmente para memorizá-los.
(POWELL; LÓPEZ, 1995, p.9-10)
O trabalho com recurso da escrita discur-
siva em aulas de Matemática, na formação inicial A Matemática é apresentada de uma forma
de professores que irão ensinar Matemática, preconcebida, atomizada, com predomínio de
tem se apresentado como uma alternativa para regras, e a sua aprendizagem ocorre pela simples
instrumentalizar o futuro professor a lidar com transposição de uma “experiência” para outra,
compreensão de textos matemáticos. assumindo uma espécie de “cadeia sucessiva de
Santos (2005), ao relatar algumas experi- experiências” (POWEL; LÓPEZ, 1995).
ências com a escrita em suas aulas, afirma que a Esses mesmos autores defendem que a re-
linguagem escrita em aulas de Matemática “atua alidade objetiva dos processos de aprendizagem
como mediadora, integrando as experiências gera a necessidade de “um modelo mais complexo
individuais e coletivas na busca da construção e dinâmico e que tome em consideração as interli-
e apropriação dos conceitos abstratos estuda- gações entre a experiência e a reflexão” (p.10).
dos”, e A utilização da escrita nas aulas de Ma-
temática configura-se como uma alternativa
[...] cria oportunidades para o resgate
da autoestima para alunos, professores
pedagógica para o ensino de Matemática em sala
e para as interações de sala de aula. de aula, uma vez que podemos vislumbrar uma
Esse processo favorece a transparência maior participação dos estudantes, de modo
de emoções e afetividade, não só de que se tornem sujeitos ativos em seu processo
aspectos negativos, como o medo, a de aprendizagem de Matemática. “A escrita é
frustração e a tristeza, mas também
da coragem, do sucesso, da alegria um instrumento poderoso com o qual se reflete
e do humor. (SANTOS, 2005, p.129, sobre a experiência e, tal como a Matemática, é
grifos nossos) um importante instrumento para o pensamento”
(POWELL; LÓPEZ, 1995, p.11). A escrita deve ser
Segundo essa autora, os estudantes, “ao “usada principalmente como meio de aprendiza-
converterem para a escrita em prosa a simbologia gem da Matemática e de conhecimento da própria
usual em Matemática, tantas vezes permeada pessoa que escreve e não somente para medir a
de hieróglifos e abreviações, (...) aprofundam-se quantidade de informação adquirida” (p.13).
sua consciência, submetendo-se ao fluir de ideias e Estatística”. No início, elas foram informadas
e sentimentos” (apud POWELL; BAIRRAL, 2006, de nossas intenções com a tarefa de produção
p.51-2). Esse tipo de escrita proporciona pontos de escrita denominada “Bilhete de fim de aula”. Foi
partida para a aprendizagem dos indivíduos. combinado que, no decorrer do ano letivo, elas
deveriam responder, em seus caderninhos5, às
Por meio da escrita expressiva os seguintes questões:
aprendizes articulam suas crenças (i) Qual o conceito mais importante desta
sobre a natureza do conhecimento
matemático, bem como suas respostas aula? Comente, justifique;
afetivas a questões matemáticas em (ii) Qual a minha principal dúvida nesta
que estejam a debruçar-se. Constroem aula? Por quê?
e negociam significados, bem como No decorrer de cada aula, foram recolhidos de
monitoram sua aprendizagem e sua
afetividade e refletem sobre elas.
dois a quatro caderninhos de modo que o professor
(POWELL; BAIRRAL, 2006, p.52) pudesse ler os escritos das estudantes, referentes à
aula anterior. Em seguida, eram esclarecidos alguns
conceitos apresentados por elas de forma incorreta
A escrita transacional tem um caráter mais
ou incompleta, e trabalhadas as dúvidas suscitadas.
argumentativo de cunho crítico e reflexivo. Powell
Essas leituras colaboravam para o (re)planejar das
e Bairral (2006) afirmam que, ao contrário da es-
aulas, no decorrer de todo o ano letivo.
crita expressiva, na escrita transacional traços de
No final de cada bimestre, no dia da prova,
feedback e revisão são fundamentais, pois é por
todos os caderninhos eram recolhidos para que
meio de um processo contínuo de idas e vindas
pudéssemos fazer uma análise mais detalhada e
que os estudantes são capazes de refletir e produ-
registrar alguns comentários sobre a produção
zir significados para os objetos matemáticos.
escrita das estudantes.
Para que isto venha a acontecer, estes auto-
Apresentamos, a seguir, alguns comen-
res sugerem que ao lermos as escritas de nossos
tários sobre a estudante Laura, sua produção
alunos, coloquemos questões que os ajudem a
escrita registrada em seu caderninho, bem como
refletir sobre o que escreveram, assim como a
alguns de seus relatos quanto à utilização da
transitarem de uma escrita mais descritiva para
escrita discursiva nas aulas da disciplina “Ma-
outra mais argumentativa.
temática e Estatística”.
[...] a cognição matemática deve ser Laura foi uma estudante muito espontânea.
inserida num contexto de produção Falava de tudo em sala de aula. Quando tinha dúvi-
que vá além da expressividade, ou das, não perdia a oportunidade de nos questionar,
seja, que envolva reflexão crítica e quer seja pela fala ou por sua expressão facial. Não
preconize processos colaborativos
de diferentes dimensões e de tomada foram poucas as vezes que fora questionada: “Lau-
de consciência sobre as experiências ra, conheço esta cara... Qual é a sua dúvida?”.
individuais ou coletivas. (POWELL; Iniciou de maneira bem tímida suas pri-
BAIRRAL, 2006, p.53) meiras escritas em sala de aula. Durante o mês
de março de 2008, apresentou textos soltos, sem
Se, enquanto professores, conseguirmos sentido em alguns momentos, que mais pareciam
detectar/incentivar/proporcionar esse caminhar uma relação dos tópicos abordados em sala de
da escrita expressiva para escrita transacional, aula, naquele dia.
acreditamos que a escrita deverá se apresentar, No decorrer do trabalho com o tema Esta-
sim, como um veículo muito importante para a tística, altura em que foram tratados termos como
aprendizagem de Matemática. população, amostra, variável qualitativa e quan-
titativa, ela fez o seguinte relato ao apresentar o
Descrição e análise da produção escrita conceito mais importante da aula (Figura 1):
de Laura
Figura 1
Fonte: RE-L6, 31/03, p.3
Figura 3
Fonte: RE-L, 07/04, p.4
o tema proporcionalidade, Laura dá explicações, importante na aula, dando explicações sobre este
cita exemplos e, no início de seu texto, contex- conteúdo, ela passa, dentro de suas explicações,
tualiza o conteúdo (Figura 7). a elaborar questionamentos sobre o conteúdo.
Laura inicia seu relato revelando o que en-
tendeu por Gráfico em Setores (pizza), bem como
os cálculos necessários para se obter, em graus, a
abertura de cada raio no gráfico. Para isso, utiliza
como exemplo o número de mulheres casadas
(15) e solteiras (8) da sala de aula (Figura 9).
Figura 7
Fonte: RE-L, 09/06, p.14
Figura 10
Fonte: RE-L, 01/09, p.22
Referências
Willian Beline – Professor do Departamento de Matemática da Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão
(FECILCAM). Coordenador do Grupo de Educação Matemática e as Tecnologias de Informação e Comunicação (GEMTIC).
<http://www.gemtic.fecilcam.br>. Doutorando em Ensino de Ciências e Educação Matemática pela Universidade Estadual de
Londrina (UEL). E-mail: wbeline@gmail.com
Márcia Cristina de Costa Trindade Cyrino – Professora do Departamento de Matemática e do Programa de Pós-Graduação
em Ensino de Ciências e Educação Matemática da UEL. Coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisa sobre Formação de
Professores que Ensinam Matemática (GEPEFOPEM). E-mail: marciacyrino@uel.br
Resumo
do professor da educação infantil e como são
elaboradas as matrizes curriculares dos cursos de
Este estudo, realizado em Recife, propõe-se a
formação desse profissional.
verificar que condições de trabalho são oferecidas,
que material didático é disponibilizado e como é
Palavras-chave: Educação infantil. Educação
o suporte pedagógico proporcionado nas escolas
Matemática. Prática docente.
e creches para que os professores desenvolvam
seu trabalho e atinjam os objetivos apresentados
nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Abstract
Educação Infantil para o ensino-aprendizagem
de matemática. Além disso, pretende identificar This study conducted in Recife is supposed to
como é a prática docente e quais são as principais verify working conditions, which courseware
dificuldades encontradas pelos professores. Para is available and pedagogical support provided
tanto, foi escolhida uma amostra representativa in schools kindergartens and nurseries for
contemplando creches e escolas da rede municipal teachers to develop their work and achieve the
onde foram entrevistados os professores dos Centros goals presented in the National Curriculum
Municipais de Educação Infantil da rede pública. Guidelines for Early Childhood Education for
Percebemos que a matemática ainda é vista como the teaching and learning of mathematics. It
um conjunto de regras e procedimentos desligados, also aims to identify what the teaching practice
embora haja um esforço das professoras para obter is and what the main difficulties encountered
uma relação com o cotidiano. A linguagem foi are by the teachers. Therefore, we have chosen
apresentada como um processo, e a Matemática, a representative sample comprising public
como atividades isoladas. As professoras informaram nurseries and schools from the municipality
que sentem certa dificuldade em trabalhar com a where teachers from the public Municipal
matemática ou sua preferência em trabalhar com a Centres of Preschools were interviewed. We
linguagem. Percebemos que na área da linguagem o realize that mathematics is still seen as a set of
tempo destinado para as atividades era maior, assim unlinked rules and procedures, although there
como a utilização e disponibilidade de recursos is an effort of the teachers to connect this with
didáticos e materiais concretos, em relação à área everyday life. Language was presented as a
de matemática. Esses fatos nos levam a concluir process and mathematics as separate activities.
que, na maioria dos casos, houve um despreparo The teachers said they feel some difficulty
das professoras quanto à metodologia de ensino- in working with mathematics or they prefer
aprendizagem da matemática, e essa reflexão pode to work with language. We realize that in the
remeter-nos a outra instância, que é a formação language field the time allotted for the activities
1
Este artigo baseia-se numa comunicação oral originalmente apresentada no I Seminário de Grupos de Pesquisa sobre Crianças
e Infâncias (GRUPECI), na UFJF, em setembro de 2008.
cotidianas fora e/ou dentro da escola: nos deslo- anos. A professora com menor experiência tem
camentos, em coleções de objetos, na observação quatro anos de docência, e a professora com
do calendário, em jogos, na manipulação com o mais experiência havia completado 35 anos de
dinheiro, observações de gráficos e tabelas em prática. Especificamente na educação infantil,
materiais diversos, etc. Entretanto, ainda são ob- o tempo de docência variou de um ano até 33
servadas práticas docentes muito desvinculadas anos, sendo o grupo muito heterogêneo quanto
com a proposta de Educação Matemática que à experiência docente.
priorize contextos reais, as experiências e lingua- Em relação à formação no ensino médio,
gens da criança, valorize sua curiosidade. verificamos que 87,5% das entrevistadas cur-
saram o Magistério; 20% das entrevistadas cur-
Procedimentos metodológicos saram o Científico, sendo que 10% concluíram
simultaneamente o Científico e o Magistério.
O objetivo deste estudo foi investigar o Uma professora fez o curso técnico. Metade das
processo de ensino-aprendizagem da matemática professoras completou o ensino médio em esco-
nos Centros de Educação Infantil da Rede Muni- las públicas; 47,5% em escolas da rede privada
cipal do Recife. Com as questões levantadas nas e 2,6% parte na rede pública, parte na rede pri-
entrevistas, pretendeu-se: vada. A Tabela 1 ilustra esses resultados.
______. Matemática e língua materna: análise de SMOLE, Kátia S.; DINIZ, Maria I.; CÂNDIDO,
uma impregnação mútua. São Paulo: Cortez, 1990. Patrícia. Brincadeiras infantis nas aulas de
Matemática: matemática de 0 a 6. Porto Alegre:
RANGEL, Ana Cristina S. Educação Matemática e Artmed, 2006.
a construção do número pela criança: uma expe-
riência em diferentes contextos socioeconômicos. ZUNINO, Delia Lerner. A matemática na escola: aqui
Porto Alegre: Artes Médicas, 1992. e agora. 2.ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
Juceli Bengert Lima – Pesquisadora assistente da Fundação Joaquim Nabuco. Coordenação Geral de Estudos Educacionais.
Aldenize Ferreira de Lima – Estudante do curso de Pedagogia da UFPE e bolsista de Iniciação Científica CNPq/FUNDAJ.
do conceito de função, o qual, para alunos desse Tendo presente a questão de pesquisa;
nível de ensino, configura-se como um conteúdo o objetivo; o referencial teórico, com base nas
novo. ideias de Tall e Vinner (1981); e a resolução de
O conceito de função é de fundamental problemas como metodologia de ensino, tra-
importância entre os conceitos matemáticos balhamos a construção de diferentes imagens
devido a sua aplicabilidade em diferentes áreas conceituais sobre o conteúdo de funções cujos
de conhecimento, mas, segundo Tinoco (1996), resultados descrevemos a seguir.
no Brasil, seu ensino está restrito a alunos do
terceiro grau, ou seja, alunos do nível superior. 2 Imagem de conceito e definição de
Por outro lado, os Parâmetros Curriculares conceito
Nacionais (PCN), Brasil (1995), para o ensino
fundamental, estabelecem que se deve dar A teoria de imagem de conceito e definição
atenção especial ao desenvolvimento de compe- de conceito tem como precursores os pesquisado-
tências e habilidades nos alunos, entre as quais res David Tall e Shlomo Vinner (TALL; VINNER,
destacam-se: identificar e resolver um problema, 1981), os quais defendem que um determinado
compreender seu enunciado e formular questões; conceito não deve ser trabalhado a partir de sua
procurar, selecionar e interpretar informações re- definição formal, ou seja, aquela definição acei-
lativas ao problema; formular hipóteses e prever ta, em geral, pela comunidade matemática, em
resultados; relacionar estratégias de resolução um determinado momento histórico e contida
de problemas; interpretar e criticar resultados; nos livros didáticos. Para que um determinado
fazer conjecturas, discutir ideias e produzir ar- conceito seja entendido, os autores defendem a
gumentos. Assim, o conceito de função é funda- necessidade de o aluno ter uma familiaridade
mental para o desenvolvimento das habilidades anterior a sua formalização.
e competências estabelecidas nos Parâmetros De acordo com os autores, quando o sujeito
Curriculares Nacionais. Além disso, defendemos é estimulado a pensar sobre um determinado ob-
o uso da metodologia de resolução de problemas jeto, sua mente começa a trabalhar, e, assim, vão
como trabalho de sala de aula, para a introdução surgindo várias representações mentais, como:
do conceito de função, pois acreditamos que, por imagens de representações visuais, impressões,
meio de problemas relacionados com o cotidiano experiências e propriedades, as quais podem
dos alunos, é possível a construção de imagens ser elaboradas, pelos sujeitos, por intermédio de
conceituais que podem favorecer a aprendizagem processos de pensamentos sobre essas represen-
de novos conceitos, antes de sua formalização tações mentais, denominadas pelos autores como
em linguagem matemática. Conceito Imagem, o qual, segundo eles,
A pesquisa teve como questão central: de
que forma a metodologia de resolução de proble- (...) descreve toda estrutura cognitiva
mas contribui para a formação do conceito de que está associada ao conceito,
função em uma turma de oitava série do ensino inclui todas as imagens mentais e
propriedades a elas associadas e os
fundamental? Para obter respostas para a questão, processos. É desenvolvido ao longo
estabeleceu-se como objetivo a análise das possí- dos anos por meio de experiências
veis contribuições que a resolução de problemas de todos os tipos, mudando tanto
traz para a construção do conceito de função. quando o indivíduo encontra novos
Embasamos nosso trabalho na teoria estímulos, quanto quando amadurece
(TALL; VINNER, 1981, p.152).
de David Tall e Shlomo Vinner (1981) sobre a
construção de Imagem Conceitual e Definição
de Conceito. Segundo Meyer (2003, p.17), essa O conceito imagem está diretamente liga-
teoria mostra a diferença entre o processo pelo do à primeira visão ou impressão que o sujeito
qual um determinado conceito é concebido e tem de um objeto, e essa imagem pode sofrer
quando ele é formalmente definido, estabele- modificações de acordo com novas experiên-
cendo, assim, “uma distinção entre a matemática cias adquiridas pelo sujeito com o passar do
como atividade mental e a matemática como um tempo. Segundo os autores, a aprendizagem de
instrumento formal”. uma definição formal requer, antes de tudo, o
desenvolvimento de uma imagem conceitual do formado, ou pode ter sido esquecido pelo aluno.
objeto que seja de elaboração própria, incluindo Por outro lado, o conceito definição pode também
impressões, visualizações e propriedades. existir e ser inativo, e é esse o caso em que o
O Conceito Definição é formado a partir do aluno memoriza uma definição. Nesse fato, essa
Conceito Imagem e, de acordo com Tall e Vinner definição pode fazer parte de uma imagem con-
(1981), é toda forma de representar, através de ceitual muito pobre ou pode não ter existido.
palavras, o conceito imagem. O conceito defini- A definição de um conceito é pessoal e,
ção pode ser expresso como sendo: muitas vezes, pode não ser compatível com a
definição formal encontrada em muitos manuais
(...) uma reconstrução pessoal da escolares, mas pode ser rica por incluir diferentes
definição feita pelo estudante. É experiências, propriedades e impressões.
então o tipo de palavras que o
estudante usa para sua própria De acordo com Tall e Vinner (1981),
explanação de seu conceito imagem diferentes representações de um determinado
(evocado). Se os conceitos definição objeto permitem a criação de imagens concei-
lhes são dados ou construídos por tuais que podem contribuir para a formalização
si mesmo, pode variar de tempo
em tempo. Dessta maneira um
do conceito. Essas diferentes representações se
conceito definição pessoal pode ser aplicam ao ensino de funções, que tem sofrido
diferente de um conceito definição profundas mudanças, nos últimos tempos. Uma
formal, este último sendo um das tendências é relativa à utilização de diversos
conceito definição que é aceito pela modos de representação de funções com uma
comunidade matemática. (TALL;
VINNER, 1981, p.2) forte inclusão dos registros tabulares e gráficos
e uma diminuição dos registros algébricos. Neste
trabalho, utilizou-se uma multiplicidade de re-
Os autores defendem que um determinado
gistros, associada com problemas do cotidiano
conceito matemático não deve ser introduzido a
dos alunos, para a criação de imagens conceituais
partir de sua definição formal. Sugerem que, para
ricas que favoreçam o ensino e a aprendizagem
uma definição formal ser entendida pelo aluno,
do conceito e das propriedades de função.
é necessário que ele tenha tido oportunidade de
vivenciar diferentes experiências, envolvendo o
conceito em questão. As experiências que exer- 3 Metodologia de resolução de problemas
cem influência sobre a formação da imagem de
um determinado conceito podem ser não apenas Na literatura, encontramos que as primei-
de natureza matemática, mas também aquelas ras pesquisas sobre o ensino de matemática por
advindas do cotidiano dos alunos. meio da resolução de problemas iniciaram com
De acordo com Giraldo, George Polya. Em seu livro, o autor descreve a
matemática como A arte de resolver problemas
(...) A teoria de imagens de conceito (1979), cuja primeira edição surgiu em 1945,
sugere que o desenvolvimento tomada como um método para resolver proble-
cognitivo de um conceito mas, que consiste em: compreender o problema,
matemático se dá através do elaborar um plano, executar o plano, verificar e
enriquecimento de uma diversidade
de ideias associadas ao conceito, e analisar a solução do problema proposto.
que a compreensão da própria A partir das ideias de Polya (1979), a reso-
definição do conceito só é possível lução de problemas passou a ganhar espaço entre
quando a gama de ideias associadas os pesquisadores, preocupados com o ensino e a
é rica o suficiente. A aprendizagem
de matemática é favorecida pela
aprendizagem da matemática, e ampliaram-se as
multiplicidade de representações discussões sobre sua utilização nas práticas de
presente na abordagem pedagógica sala de aula.
[...] (GIRALDO, apud ANDRÉ, Sob diferentes olhares, o papel da
2008, p.7) resolução de problemas, no ensino de ma-
temática, de acordo com Schroeder e Lester
É possível que um conceito definição (1989), passou por várias concepções: ensinar
possa não existir e, para isso, ele pode não estar para a resolução de problemas; ensinar sobre
o incentivo do professor, fizeram a leitura do que essa relação é unívoca, ou seja, que a cada
problema com atenção e foram compreendendo valor da variável independente corresponde um
as diferentes estratégias elaboradas. A compre- único valor para a variável dependente.
ensão dos dados fornecidos pelo problema foi
uma construção muito lenta, porém proveitosa, Problema 4
pois gerou muitos questionamentos entre os
componentes dos grupos, os quais eram res- Com o problema a seguir, objetivou-se ler
pondidos pelos próprios colegas. A dinâmica e interpretar gráficos.
da sala de aula modificou-se totalmente, pois os Certo dia, Pedro convidou seu pai para vê-lo
alunos estavam empolgados com as discussões jogar. O pai e Pedro foram de carro até a escola. Ao
entre os elementos do grupo e entre os demais final do jogo, voltaram para casa, fazendo o mesmo
grupos. percurso de ida e no mesmo intervalo de tempo.
O contato com os grupos oportunizou Por fim, o pai de Pedro deixou o carro na garagem,
ao professor identificar as diferentes formas de exatamente onde estava antes de ir à escola.
interpretação, de planejamento e de aplicação Qual dos gráficos abaixo ilustra o trajeto
das estratégias propostas. A grande maioria dos percorrido por Pedro e seu pai, sendo que eles
grupos usou a regra de três para completar a ilustram a relação entre o tempo que durou a
tabela, porém, um grupo, identificado como E, saída dos dois e a distância que estiveram de
apresentou uma estratégia de resolução, que é casa?2
interessante descrevê-la, pois os alunos evoca-
ram o conceito definição de fração.
E1: Nós “pegamos” o 72, que é o número
de alunos que compareceram à aula de educa-
ção física, e dividimos por 3, resultando 24, que
corresponde a três partes de um inteiro.
A seguir, representaram, graficamente, a a) b)
situação do seguinte modo:
24 24 24
72
Concluíram, então, que para saber o nú-
mero total de alunos que participam da aula de
educação física bastava completar o inteiro que c)
resultou em 120 alunos. Gráfico 3: trajeto percorrido.
Pelas respostas fornecidas, pôde-se cons- Ao longo da aplicação dessa pesquisa, foi
tatar que os alunos, autores das tarefas acima possível verificar que o trabalho com resolução
apresentadas, realizaram bem a análise da de problemas favoreceu a comunicação entre os
atividade. Verificaram o enunciado e fizeram pares, estimulou a troca de informações, o conhe-
a análise gráfica percebendo que o percurso cimento, a construção de hipóteses e as explora-
de ida e o de vinda foi o mesmo. Além disso, ções mentais. De acordo com Allevato e Onuchic
levaram em consideração o tempo que o carro (2006), no trabalho em equipe, o aluno estimula
ficou parado. Esses alunos conseguiram evocar e sente-se estimulado a escrever suas conclusões,
as imagens conceituais gráficas, construídas a justificar suas hipóteses e a elaborar estratégias.
anteriormente. Dessa forma, essa metodologia mostrou-se eficaz e
proporcionou o desenvolvimento de habilidades
5 Considerações finais e competências demonstrando uma maneira de
como trabalhar de forma colaborativa, em grupo,
O conteúdo sobre funções é pouco explo- o raciocínio lógico, a expressão oral e escrita. O
rado no ensino fundamental, talvez pela dificul- momento da plenária revelou-se um passo muito
dade que ele oferece aos alunos nesse nível de especial, pois proporcionou aos alunos a compre-
ensino e também pela forma como o conceito ensão do que ainda não havia sido compreendido;
é introduzido pelos livros didáticos, centrado, permitiu-lhes questionar fatos, debater sobre os
quase sempre, na teoria de conjuntos, o que assuntos propostos, apresentar suas dúvidas e
requer habilidade de abstração. avaliar os resultados.
Na realização dessa pesquisa, nosso obje-
tivo central não foi o de definir uma função, do Referências
ponto de vista formal, mas construir diferentes
imagens conceituais de modo que os alunos ALLEVATO, N. S. G.; ONUCHIC, L. R. Ensino-
fossem familiarizando-se com o conceito. A aprendizagem – Avaliação de Matemática através
da resolução de problemas – Uma nova possibilida-
formalização do conceito, nesse nível de esco- de para o trabalho em sala de aula. In: REUNIÃO
laridade, é de difícil compreensão, pelos alunos, DE DIDÁTICA DA MATEMÁTICA DO CONE SUL,
pois exige muita habilidade de lidar com con- 7, 2006. Águas de Lindóia. Anais da VII Reunião
ceitos abstratos de matemática. De acordo com de Didática da Matemática do Cone Sul. ÁGUAS
DE LINDÓIA: PUCSP, 2006.1 CD-ROM.
Leal (1990, p.13), “a falta de uma preparação dos
alunos para a construção do conceito, ao longo ANDRÉ, S. L. C. Uma proposta para o ensino do con-
dos primeiros sete anos de escolaridade, é uma ceito de derivada no ensino médio. 2008. Dissertação
(Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Ensino
das principais responsáveis pelas dificuldades de Matemática. Rio de Janeiro: IM-UFRJ, 2008.
de aprendizagem desse tópico”.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental.
Nesse sentido, o trabalho de pesquisa cen- Parâmetros Curriculares Nacionais: Matemática.
trado na resolução de problemas, e tendo como Brasília: MEC-SEF, 1998.
referencial teórico a teoria de conceito imagem
LEAL, L. C. Funções no terceiro ciclo do ensino
e conceito definição, oportunizou aos alunos a básico – uma possível abordagem... Educação
construção de diferentes imagens conceituais, e Matemática, v.15, p.5-15, 1990.
assim eles compreenderam o conceito de função,
MEYER, C. Derivada/reta tangente: imagem con-
mesmo sem sua formalização matemática. ceitual e definição conceitual. 2003. Dissertação
Os resultados das avaliações realizadas (Mestrado em Educação Matemática) – Programa
mostraram que os alunos, de fato, conseguiram de Pós-Graduação em Educação Matemática. Cen-
trabalhar o conceito de função em diferentes tro de Educação. Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo. São Paulo: PUCSP, 2003.
situações-problema, principalmente naquelas
relacionadas com o seu cotidiano e também com ONUCHIC, L. de la R. Ensino-aprendizagem de
diferentes representações. Conclui-se, assim, que matemática através da resolução de problemas.
In: BICUDO, M. A. V. (org.). Pesquisa em Educa-
a metodologia de resolução de problemas, tendo ção Matemática: concepções e perspectivas. São
como base teórica a teoria de Tall e Vinner (1981), Paulo: Editora UNESP, 1999, p.199-218.
contribuiu de forma positiva para que os alunos ONUCHIC, L. R. Uma conversa sobre resolução de
compreendessem o conceito de função. problemas. In: IV ENCONTRO DE EDUCAÇÃO
MATEMÁTICA DE OURO. 2009. Ouro Preto. Anais SALOMÉ, H; SILVA, L. P. Matemática: funções po-
do IV Encontro de Educação Matemática de Ouro linomiais. Lisboa: Lisboa Editora, Portugal, 2007.
Preto. OURO PRETO: UFOP, 2009, 1 CD-ROM.
SCHROEDER, T. L.; LESTER JR, F. K. Developing
PALHARES, P. Elementos de matemática: para understanding in mathematics via problem sol-
professores do ensino básico. Lisboa: Lidel, 2004. ving. In: TRAFTON, P. R.; SHULTE, A. P. (eds.).
New Directions for Elementary School Mathe-
PALHARES, P. Histórias com problemas construí- matics. Reston: NCTM, 1989, p.3142-3153.
dos por futuros professores de Matemática. In: D.
FERNANDES, F. et al. Resolução de problemas na TALL, D; VINNER, S. Concept image and concept
formação inicial de professores de Matemática: definition in mathematics with particular referen-
múltiplos contextos e perspectivas. Aveiro: Grupo ce to limit and continuity. Educational studies in
de Investigação em Resolução de Problemas, 1997, mathematics. Dordrecht, v.12, 1981.
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TINOCO, L. A. A. (coord.). Razões e proporções.
POLYA, G. A arte de resolver problemas. Rio de Projeto Fundão, Instituto de Matemática. Rio de
Janeiro: Interciência, 1979. Janeiro: UFRJ, 1996.
Alex Sandro Gomes Leão – Mestre em Ensino de Matemática. Curso de Mestrado Profissionalizante em Ensino de Física e de
Matemática – Unifra. E-mail: profaleao@gmail.com
Vanilde Bisognin – Doutora em Matemática e professora do curso de Mestrado Profissionalizante em Ensino de Física e de
Matemática – Unifra. E-mail: vanilde@unifra.br
Resumo Introdução
Neste artigo, é feita uma investigação acerca da No estudo dos mais diversos campos da
construção histórica do conceito de função rumo Matemática, há a necessidade de se trabalhar com
a sua definição atual, identificando as principais variadas representações, com vistas a um melhor
etapas evolutivas desse processo. O objetivo do acesso ao objeto de estudo e, consequentemente, de
trabalho é identificar o papel desempenhado e
uma comunicação mais efetiva. Essa característica
a contribuição dada pelo desenvolvimento das
diferentes formas de representação semiótica na se faz presente, de maneira muito evidente, ao se
evolução desse conceito matemático para, assim, trabalhar com funções, uma vez que podemos re-
melhor utilizar as representações no processo presentar uma função algébrica ou graficamente,
de construção do conceito de função em sala bem como através de tabelas e diagramas.
de aula. Segundo Duval (2003), diferentemente
de outras áreas, na Matemática trabalha-se com
Pa l a v r a s - c h a v e : C o n c e i t o d e f u n ç ã o . objetos abstratos e não há alternativas para se
Desenvolvimento histórico. Representação acessar esses objetos a não ser através de repre-
semiótica.
sentações. Em outros campos de conhecimento,
como botânica, geologia, astronomia e física, as
Abstract representações são imagens ou descrições de
fenômenos do mundo real, aos quais se pode ter
In this paper is made an investigation about
acesso perceptual e instrumental. Já em Matemá-
the historical concept of function, where are
identified the main steps in the development tica, esse não é o caso.
of this basic mathematical content. The major De acordo com Elia e Spyrou (2006), ao
aim of this work was identify the contribution of se trabalhar com funções, a distinção entre estas
the different ways of the semiotic representation e as representações utilizadas para descrever
of the concept in its development. From this suas leis é uma das condições essenciais para
identification it is possibly to stress each a compreensão desse conceito. Os autores tam-
representation in an appropriate way improving bém afirmam que a compreensão do conceito de
as a consequence the teaching and learning of função não é uma tarefa fácil, dada a diversidade
the concept.
de representações utilizadas e as dificuldades
Keywords: Concept of function. Historic encontradas pelos estudantes em fazer conexões
development. Semiotic representation. entre elas, seja pela deficiência na utilização de
representações distintas, causada muitas vezes
pela concentração do trabalho docente na re- a sua grande eficiência, conduziu as funções a um
presentação algébrica, seja pela inabilidade de papel central na área das ciências exatas.” (p.39).
coordenação entre representações. Entretanto, segundo o autor, em meados do
Nesse sentido, fica evidente a importância séc. XVIII, a representação de função como uma
das representações na construção do conhecimento expressão analítica provou-se insuficiente. Uma
matemático e, mais especificamente, no processo nova definição de função, que, posteriormente,
de construção do conceito de função em sala de acabou tornando-se universalmente aceita em
aula. Cabe, então, o questionamento: a construção análise matemática, foi introduzida. Já na segunda
histórica do conceito de função é ligada diretamen- metade do séc. XIX, essa definição abriu possi-
te ao desenvolvimento das representações utiliza- bilidades para o desenvolvimento da teoria de
das atualmente para sua comunicação? funções, mas acabou, também, ocasionando difi-
Para a construção do conceito de função culdades lógicas, o que, durante o séc. XX, causou
com o qual se trabalha atualmente nas escolas e o movimento para que a essência desse conceito
universidades, foram necessárias contribuições de fosse revista, assim como outros conceitos impor-
vários matemáticos durante séculos de estudos. tantes da análise matemática, chegando-se, então,
Nesse período, surgiram conceitos que alicerça- a uma definição mais geral e abstrata do conceito
ram seus pensamentos rumo à construção da de- de função. Esses períodos serão discutidos após o
finição atual de função e suas implicações. Nesse período definido como Modernidade.
artigo, é feita uma pesquisa bibliográfica buscando
reconstruir o caminho percorrido para essa cons- A Antiguidade
trução, fundamentando-se, principalmente, nos
trabalhos de Monna (1972), Yuoschkevitch (1976), Por volta do ano 2.000 a.C., de acordo com
Ponte (1992), Boyer (1996) e Eves (2004). Eves (2004), a matemática babilônica já havia evo-
luído para uma álgebra bem desenvolvida. Tábulas
Principais períodos de evolução sexagesimais eram amplamente utilizadas para
calcular valores de quadrados e cubos dos números
2 3
De acordo com Yuoschkevitch (1976), em naturais de 1 a 30 e também de valores de n + n ,
seu estudo acerca da evolução da construção do relativos a esse intervalo, com o objetivo de estudar
conceito de função ocorrida até a metade do séc. o movimento dos planetas na esfera celeste. As
XIX, os principais estágios do desenvolvimento funções empiricamente tabuladas acabaram se tor-
dessa ferramenta são a Antiguidade, a Idade nando, posteriormente, o suporte para a sequência
Média e a Modernidade. do desenvolvimento de toda a astronomia.
Na Antiguidade, o pensamento matemático Novas contribuições para a construção
não criou uma noção geral da ideia de variável ou do conceito de função surgiram na Grécia, nos
de função. Apenas casos práticos e particulares, estudos matemáticos e nas ciências naturais.
principalmente no campo da Astronomia, foram Tentativas, atribuídas aos pitagóricos, de estabe-
estudados utilizando-se métodos quantitativos e a lecer leis acústicas indicam a busca por relações
construção de tabelas que representavam funções de interdependência entre quantidades.
entendidas como relações entre conjuntos discretos Também na Grécia, já como parte do Im-
de constantes dadas. Na Idade Média, mais especifi- pério Romano, as funções relativas a problemas
camente, na ciência europeia do séc. XIV, cada caso astronômicos e matemáticos eram objeto de estu-
particular de dependência entre duas quantidades dos similares aos da análise matemática atual. De
era definido através de uma descrição verbal ou acordo com os objetivos de estudo, funções eram
gráfica, em detrimento do uso de fórmulas. tabuladas por meio do uso de interpolação linear
Na Modernidade, no final do séc. XVI e, e, em alguns casos simples, até mesmo por meio
principalmente, durante o séc. XVII, expressões de limites de proporções de duas quantidades
analíticas de funções começam a surgir. A classe infinitamente pequenas. Problemas envolvendo
analítica de funções expressas por somas de séries valores extremos e tangentes, ou, ainda, o cálculo
infinitas torna-se a mais usual. Segundo Yuoschkevi- de áreas, volumes e comprimentos, eram resolvi-
tch (1976), “foi o método analítico de introdução das dos com a aplicação de métodos semelhantes aos
funções que revolucionou a Matemática e, devido utilizados no Cálculo Integral e Diferencial.
alcance dessa teoria e suas implicações, pode- A emergência do conceito de função como
se perceber, segundo Ponte (1992), que, apesar um objeto individualizado da Matemática co-
da grande evolução em termos de generalização meçou, segundo Ponte (1992), com o início do
e abstração e de alguns resultados particulares cálculo infinitesimal. Primeiramente, Descartes
alcançados, o estudo das funções em Matemática estabeleceu claramente que uma equação de
como um conceito e objeto individualizado ainda duas variáveis, representada geometricamente
não havia sido alcançado. por uma curva, indica a dependência entre as
variáveis. Através dos estudos de Descartes,
A Modernidade segundo Yuoschkevitch (1976),
De uma forma inicial, a ideia de que uma comunicou a Barrow o seu Método das fluxões6, que,
expressão infinita era uma função não era re- apesar de escrito em 1671, foi publicado somente
cente: progressões geométricas decrescentes e em 1736. Nesse trabalho, apenas as noções básicas
infinitas já eram conhecidas há bastante tempo. foram introduzidas através da cinemática.
Entretanto, apenas na segunda metade do séc. Por outro lado, Leibniz também chegou, a
XVII, as séries de potência acabaram sendo per- partir das curvas geométricas, às noções básicas
cebidas como instrumento importante para o es- de diferenciação e integração. Entre os anos de
tudo das funções. Devido às séries de potência, o 1673 e 1676, inventou o seu Cálculo e, em 1675,
conceito de função passou a ocupar papel central utilizou, pela primeira vez, o símbolo de inte-
no estudo da análise matemática e foi o cerne das gral, um S alongado, vindo da primeira letra da
teorias de Newton e de Leibniz no desenvolvi- palavra soma7. Pouco tempo depois, já utilizava
mento do cálculo diferencial e integral. as notações de diferenciais, derivadas e integrais
como se conhece atualmente.
Isaac Newton e Gottfried Leibniz A palavra função, de acordo com Yuoschke-
vitch (1976), surgiu em 1673, pela primeira vez,
em um manuscrito de Leibniz intitulado O método
inverso das tangentes, ou sobre funções. Entre 1692
e 1694, surgiu em seus artigos a definição de função,
que foi caracterizada como qualquer parte de uma li-
nha reta, ou seja, segmentos obtidos pela construção
de infinitas linhas retas correspondentes a um ponto
fixo e a pontos de uma determinada curva. A defini-
ção de função construída, porém, não corresponde,
em nenhum aspecto, ao contexto analítico.
Figura 1 - Leibniz A relação de Leibniz com Johann Ber-
noulli (1667–1748) e suas discussões matemáti-
De acordo com Yuoschkevitch (1976), cas, principalmente entre 1694 e 1698, levaram à
Newton4, sucessor de Isaac Barrow5 (1630–1677), necessidade de um termo geral que representasse
apresentou em Cambridge, nos anos de 1664 e quantidades arbitrárias dependendo de uma
1665, uma interpretação cinemática e geométrica variável à definição do termo função no sentido
clara das concepções básicas da análise matemá- de uma expressão analítica.
tica, descrevendo concepções de tempo e movi-
mento, escolhendo o tempo como um argumento
Johann Bernoulli e Leonhard Euler
universal e interpretando as variáveis dependen-
tes como uma quantidade continuamente fluente
que possui uma velocidade de variação.
Os dois problemas principais do cálculo
infinitesimal eram expressos em termos mecânicos:
dada a lei para a distância, determinar a velocidade
do movimento (diferenciação) e, dada a velocidade
de um movimento, determinar a distância percorrida
(integração). No entanto, as concepções de Newton
sobre o tema eram mais abstratas. Em 1669, Newton
Figura 2 - Johann Bernoulli
4
Segundo Leibniz, “tomando a matemática desde o início do Bernoulli8 utilizou pela primeira vez a
mundo até o tempo de Newton, o que ele fez é de longe a palavra função, segundo Yuoschkevitch (1976),
melhor metade” (apud BOYER, 1996, p.269).
5
De acordo com Eves (2004), Isaac Barrow foi um homem
de grande destaque acadêmico, alcançando projeção em 6
Methodus fluxionum.
Matemática, Física, Astronomia e Teologia. Ao renunciar à 7
Do latim summa.
sua cátedra lucasiana em Cambridge, em 1669, indicou para 8
Conforme Eves (2004), Johann Bernoulli foi um dos pri-
substituí-lo o nome de um jovem e talentoso colega, Isaac meiros matemáticos a perceber a importância do cálculo e a
Newton. aplicá-lo na resolução de problemas.
Cauchy (1789–1857), Jean Baptiste Joseph Fou- passível de ser representada por uma série de
rier (1768–1830) e Johann Peter Gustav Lejeune Fourier, provando, portanto, que nem toda fun-
Dirichlet (1805–1859). ção, mesmo que contínua em um dado intervalo
A ideia de Euler das funções mistas foi pode ser determinada por sua série trigonométri-
criticada e foi provado que funções introduzidas ca, pois essa pode divergir em infinitos pontos.
por diferentes expressões analíticas em diferen- Entretanto, as séries de Fourier envolvem uma
tes intervalos do seu domínio também podem ser relação mais geral entre variáveis do que as es-
representadas por apenas uma equação. Cauchy11 tudadas até então.
faz sua crítica à definição de continuidade pro- Com a intenção de construir uma defini-
posta por Euler e prova como são inadequadas ção de função que englobasse essa forma de re-
as definições de funções contínuas e descontí- lação, Dirichlet, conforme Eves (2004) apresenta
nuas de Euler a partir de um simples exemplo: a seguinte formulação:
f ( x) = x 2 . Uma variável é um símbolo que
Na concepção de Monna (1972), a questão representa qualquer um dos
notável é que Cauchy propôs, em seu Résume elementos de um conjunto de
des leçons à l’école polytechnique sur le calcul números; se duas variáveis x e y
infinitésimal, a definição de continuidade de uma estão relacionadas de maneira que,
sempre que se atribui um valor a
função no sentido atual: x, corresponde automaticamente,
por alguma lei ou regra um valor a
Quando uma função f(x) admite um y, então se diz que y é uma função
valor único e finito para todos os (unívoca) de x. A variável x, à qual
valores de x compreendidos entre se atribuem valores à vontade, é
dois limites dados, a diferença f(x + chamada de variável independente e a
i) – f(x) sendo sempre uma quantidade variável y, cujos valores dependem
infinitamente pequena, diz-se então dos valores de x, é chamada de
que f(x) é uma função contínua de variável dependente. Os valores
variável x entre os limites dados. possíveis que x pode assumir
(CAUCHY, 1823, apud MONNA, constituem o campo de definição da
1972, p.61) função e os valores assumidos por
y constituem o campo de valores da
função. (p.661. Grifos do autor)
Fourier também prestou importante con-
tribuição para a evolução do conceito de fun-
ção. Em seus estudos da teoria da propagação Uma função torna-se então uma corres-
do calor, considerou a temperatura como uma pondência entre duas variáveis: todo valor da
função de duas variáveis: o tempo e o espaço. variável independente é associado a um e apenas
Nesses trabalhos, de acordo com Eves (2004), um valor da variável dependente. De acordo com
refutou a afirmação de Euler de que não era Boyer (1996), essa definição está próxima, do
possível representar por uma série de termos ponto de vista moderno, de uma correspondência
contendo senos e cossenos de arcos múltiplos entre dois conjuntos de números. Entretanto, os
a figura inicial de uma corda definida por duas conceitos de conjunto e de número real ainda
equações em dois diferentes intervalos do seu não haviam sido estabelecidos. Trata-se de uma
domínio. Ascende, então, a teoria geral das definição ampla e que não restringe a relação que
séries trigonométricas. há entre x e y a uma forma qualquer de expressão
Dirichlet12 posteriormente formulou as analítica, acentuando a ideia de relação entre
restrições necessárias, conhecidas como con- dois conjuntos de números.
dições de Dirichlet, para que uma função seja De acordo com Ponte (1992), com o desen-
volvimento da teoria dos conjuntos, iniciada por
11
Segundo Boyer (1996), Cauchy foi a “estrela” matemática Georg Cantor (1845–1918), a noção de função
da década de 1820. continua sua evolução. No século XX, o conceito
12
Dirichlet, que tem seu cérebro preservado atualmente na de função é estendido de maneira a incluir todas
Universidade de Göttingen, foi, conforme Eves (2004), um
eminente matemático alemão e participou da fase inicial as correspondências arbitrárias, satisfazendo a
de deslocamento do centro das atividades matemáticas da condição da unicidade, entre conjuntos numé-
França para a Alemanha. ricos e não-numéricos.
Rafael Winicius da Silva Bueno – Mestre, chefe do departamento de ensino de Matemática e diretor do Instituto Padre Reus.
E-mail: rafbueno@terra.com.br. – Endereço para correspondência: Rua Ernesto Alves, 1087, 96810-912 – Santa Cruz do Sul/RS.
Fone: (51) 3711.4000.
Lori Viali – Doutor, professor titular da Faculdade de Matemática da PUCRS. Professor permanente do Programa de Pós-
Graduação em Educação em Ciências e Matemática da PUCRS. Professor Adjunto do Instituto de Matemática da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Endereço para correspondência: Av. Ipiranga, 6681, 90619-900, Porto Alegre, RS. Fone:
(51) 3353.7708. E-mail: viali@pucrs.br
What Has Research Shown about the Use of the Calculator in Primary
School Classrooms?
Resumo Abstract
Neste artigo, discutem-se resultados de uma This paper discusses findings of a survey that
sondagem realizada com professores de anos involved teachers of initial years of schooling
iniciais de escolarização e, a partir da necessidade and, based on the results obtained, suggestions
evidenciada nesse levantamento, apresentamos of activities in early schooling are presented with
sugestões de atividades com a calculadora que the use of the calculator. Twenty teachers of state
podem ser realizadas junto a estudantes nos anos supported schools and twenty of private schools
iniciais de escolarização básica. Vinte professores – of 9 and 10 year-old Primary School students
de escolas públicas e vinte da rede particular de – were surveyed concerning their conceptions
ensino do Recife – atuantes no 4º e 5º anos do ensino and their proposals of usage of the calculator
fundamental – foram sondados quanto às suas at school. In general, the teachers recognised
concepções e suas propostas de uso da calculadora the importance of the calculator as a teaching
na escola. De modo geral, os professores das duas device but admitted that rarely they used this
redes de ensino reconhecem a importância do resource because they did not know how to
trabalho com a calculadora, mas afirmam fazer do so in Primary School classrooms. Based on
pouco uso desse recurso por desconhecerem these findings, in the paper we discuss possible
formas adequadas para sua utilização nas aulas de usages of the calculator, such as exploration/
Matemática dos anos inicias do ensino fundamental. usage of the calculator’s keyboard and functions,
São apresentados, então, possíveis usos da diminishment of operation load, conferring/
calculadora em sala de aula, tais como exploração/ comparing/ confronting results obtained by
manuseio dos teclados e das funções da calculadora, means of other forms of calculation, conceptual
alívio da carga de operacionalização, conferência/ exploration and for fun purposes. In this sense, by
comparação/confronto de resultados obtidos por the presentation and the analysis of the activities
outros procedimentos de cálculo, exploração proposed, this paper aims to contribute in the
conceitual e diversão. Dessa forma, por meio das possibilities of classroom usage of the calculator
diversas atividades discutidas, espera-se, com este in Primary School as a means to promote and
trabalho, contribuir para o uso da calculadora em widen mathematical conceptual development
sala de aula de anos iniciais de escolarização como of the students.
um meio de promover e ampliar o desenvolvimento
conceitual matemático dos estudantes. Keywords: Calculator. Classroom usage. Teacher
formation. Mathematical development. Early
Palavras-chave: Calculadora. Formação de grades. Primary School.
professores. Desenvolvimento matemático. Anos
iniciais. Ensino fundamental.
de conceitos, habilidades e atitudes. Esperava-se da, mas, por outro lado, muitos consideram que
que a melhoria da qualidade das coleções produ- sua utilização pode inibir o raciocínio dos estu-
zidas tivesse uma forte influência nas propostas dantes e gerar “preguiça mental” (MEDEIROS,
dos livros didáticos quanto ao uso amplo da cal- 2000). Esse preconceito pode ser associado ao
culadora – nas diversas séries e relacionado aos desconhecimento de usos da calculadora em sala
diferentes conceitos matemáticos. Atualmente, de aula como representação simbólica alternati-
percebe-se um avanço no número de propostas va, como instrumento de exploração conceitual
de uso de recursos tecnológicos presentes nos e de resolução de problemas, e não apenas como
livros didáticos, mas, infelizmente, tem-se, ainda, mera executora de cálculos.
uma presença muito tímida de proposições de O uso em sala de aula de diferentes formas
uso da calculadora nas coleções recomendadas, de representação simbólica tem sido amplamente
bem como de orientações ao professor sobre as defendido na Educação Matemática. Vergnaud
possibilidades de uso desse recurso. (1987) aponta que representações distintas
Possivelmente, o principal responsá- podem ser salientes ou opacas para diferentes
vel pelo uso da calculadora em sala de aula é aspectos de um mesmo conceito, ou seja, uma
o(a) professor(a), pois mesmo que propostas forma de representação pode evidenciar certas
curriculares, amparadas em pesquisas dentro propriedades de um conceito, enquanto outra
da Educação Matemática, recomendem o seu forma pode salientar outras relações associadas
uso, cabe ao(à) professor(a) a decisão final de àquele conceito. O uso de formas variadas de
elaborar, selecionar, organizar e propor aos seus representação simbólica, portanto, é recomen-
estudantes atividades com recursos variados, em dado para possibilitar que os estudantes entrem
particular com a calculadora. em contato e reflitam sobre aspectos variados
Essa questão de uso, ou não, em sala de de um mesmo conceito. Entretanto, em geral,
aula de recursos tecnológicos da atualidade, pode nas escolas algumas formas de representação
ser, em parte, consequência da formação que o(a) têm sido enfatizadas, tais como a representação
professor(a) vivenciou em sua graduação ou da escrita formal ou o uso de material manipulativo,
qual participa continuadamente. Mesmo que em detrimento de outras, como as representações
não tenha sido tópico de discussão em cursos de simbólicas espontâneas das crianças (desenhos
formação inicial, o uso de recursos contemporâ- e rabiscos) e o uso de representações por meio
neos pode ser ponto de reflexão em programas de recursos tecnológicos, tais como o computa-
de formação continuada. Além disso, o fato de a dor e a calculadora. Dessa forma, um trabalho
tecnologia estar tão presente hoje nos mais diver- com múltiplas representações de um mesmo
sos espaços, torna urgente que a escola discuta conceito tem sido, ainda, menos enfatizado em
o seu uso e se aproprie de suas possibilidades sala de aula.
para a aprendizagem dos estudantes. Educadores matemáticos (RUTHVEN,
Este artigo objetiva, dessa forma, subsidiar 1999; BIGODE, 1997; BORBA; PENTEADO,
a discussão sobre o uso de novas tecnologias, em 2005; SELVA; BORBA, 2005, entre outros) têm
particular a calculadora, a partir da análise de defendido que o uso da calculadora possibilita
atividades propostas para o ensino de Matemáti- que os estudantes – libertos da parte enfadonha,
ca nos anos iniciais de escolarização. Espera-se, repetitiva e pouco criativa dos algoritmos de cál-
assim, auxiliar professores e seus formadores no culos – centrem sua atenção nas relações entre
entendimento do valor da utilização da calcula- as variáveis dos problemas que têm pela frente.
dora como recurso didático e no conhecimento A calculadora possibilita, ainda, que estudantes
de possíveis atividades a serem desenvolvidas realizem verificações, levantem e confirmem,
junto a estudantes do ensino fundamental. ou não, hipóteses, familiarizem-se com certos
padrões e fatos, e utilizem generalizações como
O uso da calculadora no ensino e na ponto de referência para o enfrentamento de
aprendizagem de Matemática novas situações (BIGODE, 1997).
Defesas para o uso da calculadora em sala
Por um lado, a importância da calculadora de aula são amparadas por experiências empíricas
como ferramenta de cálculo é bastante reconheci- bem-sucedidas. Groves (1994) relata uma inves-
Você vê alguma vantagem em usar a pelos livros didáticos a esse recurso no tratamento
calculadora em sala de aula? E quais do eixo números e operações. Algumas coleções,
seriam as desvantagens? inclusive, trazem como recurso auxiliar apenas o
Para você, que dificuldade(s) pode material dourado, não se preocupando em apre-
encontrar ao usar a calculadora em sala? sentar outros recursos aos estudantes.
E o que pode ser feito para superar tal(is) A calculadora foi citada espontaneamente
dificuldade(s)? por apenas três professores da rede particular,
Você acredita que os professores estão o que possibilita pensar-se que a maioria dos
preparados para usar a calculadora em professores não percebeu que ela também pode
sala de aula? ser um recurso de ensino para o aprendizado dos
significados e representações do número natural
A sistematização das respostas obtidas e racional, bem como da operacionalização den-
será apresentada a seguir. tro desses campos numéricos.
Recursos variados foram citados – tais
Os professores não indicam a como jogos, sucata e livro didático –, o que
denota um achado positivo, que é o reconheci-
calculadora como um recurso usual em
mento dos professores quanto à necessidade de
suas práticas utilização de recursos variados em sala de aula,
tanto para o ensino de números e operações
Ao citarem os recursos utilizados em suas quanto para o estudo da geometria (quando do
práticas de sala de aula, vários materiais foram uso de figuras geométricas e do tangrama) e das
elencados, como se pode observar na Tabela 1. grandezas e medidas (como na indicação de
réguas, fitas métricas e balanças).
Tabela 1: recursos utilizados por rede de ensino. Apenas três professores da rede particular
Recursos citados pelos professores Rede particular Rede pública
dos anos iniciais, entretanto, espontaneamente re-
Material dourado 11 14
Jogos 10 04
conheceram a calculadora como uma ferramenta
Sucata 04 09 de exploração dos diferentes eixos matemáticos:
Livro didático 04 07 números e operações, grandezas e medidas, ge-
Ábaco 05 06 ometria e tratamento da informação. Esse dado
Figuras geométricas/tangrama 08 -
indica que espontaneamente a calculadora ainda
Recortes de jornais/revistas 04 03
Régua/fita métrica 02 03
não é percebida por grande parte de professores
Calculadora 03 - como um recurso a ser utilizado nas aulas de
Quadro valor de lugar - 03 Matemática, principalmente na rede pública.
Filmes - 02 Quando diretamente questionados sobre a
Balança 01 01
utilização da calculadora em suas salas de aula, to-
Tabuada - 01
dos os professores da rede particular, com exceção
de um, indicou que faz uso desse recurso em suas
O recurso mais citado pelos professores
práticas. Quanto aos da rede pública, entretanto,
das duas redes de ensino foi o material dourado.
apenas cinco professores entrevistados afirmaram
Essa indicação sugere a ênfase que é dada ao eixo
terem utilizado a calculadora com os estudantes.
números e operações, uma vez que o Material
Esses professores relataram que utilizam tal re-
Dourado é um recurso que possibilita discutir
curso na sala de aula apenas quando é solicitado
o registro numérico no sistema de numeração
em atividades do livro didático.
decimal (SND), bem como trabalhar as operações
de adição, subtração, multiplicação e divisão –
tanto com números naturais quanto com números Os professores reconhecem a
racionais. O ábaco também foi citado com certa importância do uso da calculadora em
frequência, o que reforça a hipótese da importân- sala de aula
cia que se dá ao ensino de números e operações
na sala de aula dos anos iniciais de escolarização Apesar de não utilizarem frequentemente
básica. Essa grande incidência de citações ao ma- a calculadora em suas salas de aula, os pro-
terial dourado também reforça a priorização dada fessores reconheceram-na como importante e
com a calculadora, além das propostas pelo livro Os estudantes querem brincar com a 02 -
calculadora
didático. As atividades extras mais frequente- O(a) professor(a) não tem orientação - 01
mente listadas eram de compra e venda, em que pedagógica para o uso da calculadora em
sala de aula
se exploravam situações aditivas e multiplicati- Nenhuma dificuldade encontrada 02 -
vas. Pouca evidência há de que os professores
conhecem atividades específicas de uso da cal- De modo diferente, os professores da rede
culadora para o aprendizado matemático. particular apontaram a resistência dos pais e a
Acredita-se que o uso da calculadora em sala diversidade de máquinas de calcular, seus manu-
de aula será incrementado se os livros didáticos seios diversificados e o não trazer o instrumento
propuserem atividades diversificadas com esse re- quando solicitado, como os fatores que mais
curso e orientarem os professores sobre o propósito dificultam o uso da calculadora em sala de aula.
do uso da calculadora nessas atividades. Assim, os Nesse sentido, ações tornam-se necessárias para
manuais de professores que acompanham livros superar essas dificuldades, tais como reuniões
didáticos poderiam trazer uma discussão maior com pais para discutir usos pedagógicos das
sobre como a calculadora pode ser utilizada em máquinas de calcular, a solicitação de aquisição
sala de aula, apresentando sugestões de atividades – pelos pais ou pela escola – de modelos simila-
a serem desenvolvidas de forma complementar às res de calculadoras para facilitar a realização de
atividades propostas no livro didático. trabalhos em sala de aula e viabilizar a presença
número, o terceiro número. Nos dois casos, o o número resultante de adições e subtrações à
resultado obtido – se a calculadora estiver fun- memória.
cionando corretamente – é 333. Operações cujos Essa exploração inicial do teclado e das
resultados são conhecidos pelo aluno e pelo funções da calculadora se faz necessária também
professor também podem ser realizadas como para que outros possíveis usos da calculadora em
forma de verificar o correto funcionamento da sala de aula sejam viabilizados.
máquina.
A Figura 2 é um exemplo de como os O alívio de carga operacional por meio
estudantes podem explorar a realização das ope- do uso da calculadora
rações aritméticas por meio da calculadora.
Quando se deseja que a realização de
operações aritméticas não seja um empecilho
à compreensão de outros conteúdos matemáti-
cos, a calculadora mostra-se um recurso muito
útil. Assim, pode-se garantir que os estudantes
efetuem corretamente operações por meio da
calculadora e a discussão concentre-se nos re-
sultados obtidos.
Uma possibilidade de alívio de carga
operacional é o de exploração de tabelas e gráfi-
cos – conteúdo incluído no eixo tratamento da
informação. Na Tabela 8, por exemplo, pode-se
utilizar a máquina para calcular os crescimentos
em termos absolutos de cada um dos estados
do Nordeste brasileiro e comparar esses cres-
cimentos – absolutos ou relativos (em termos
percentuais) dos estados entre si.
Figura 2: exemplo de atividade de exploração de
teclado, extraído da Coleção Colibri, de autoria Tabela 8: população do Nordeste de 2001 a 2004,
de Áurea Darin. Editora IBEP, v.1, 2001, p.227. segundo as Unidades da Federação (Dados do
IBGE).
Unidades da 2001 2002 2003 2004
Os estudantes podem, em pequenos gru- Federação
pos, perceber que se uma mesma operação deve Maranhão 5.777.948 5.858.618 5.940.079 6.021.504
ser efetuada diversas vezes, basta apertar a tecla Piauí 2.889.071 2.918.280 2.947.776 2.977.259
mais duas vezes por 3 resulta em 54 (6 X 3 = 18 Bahia 13.275.193 13.409.108 13.544.336 13.682.074
e 18 X 3 = 54).
Em anos de escolarização mais avançados, O uso da calculadora, nesse caso, aliviará
os estudantes podem explorar o uso das teclas de a carga de operacionalização, ou seja, não se terá
percentual e de raiz quadrada, para verificar os preocupação com a realização das operações,
resultados obtidos por meio de seus usos. mas concentrar-se-á a discussão em função dos
As teclas de memória são bastante úteis e, resultados obtidos, garantindo que os estudantes
a partir da sua exploração, os estudantes podem poderão efetuar a leitura e interpretação correta
descobrir que a tecla M+ serve para adicionar dos dados mostrados na tabela.
números à memória da calculadora, com a te- Um outro exemplo de possibilidade de
cla M- subtraem-se números da memória, e a uso de calculadora para alívio de carga de opera-
partir do uso da tecla MRC é mostrado no visor cionalização é apresentado a seguir. A atividade
busca uma articulação entre os eixos números seus significados. Se a calculadora não for utilizada,
e operações, grandezas e medidas e tratamento os estudantes poderão gastar muito tempo na rea-
da informação. Os estudantes de duas turmas – lização das operações e perderão de vista os focos
denominadas A e B – ou uma turma única sub- centrais dessa atividade: levantamento e registro de
dividida em dois grupos – também denominados dados e cálculo da média aritmética de alturas.
de A e B – efetuarão o levantamento das alturas
das meninas e dos meninos que fazem parte da(s) A conferência/comparação/confronto
turma(s). Ao serem efetuadas as medições, os de resultados obtidos por outros
resultados serão registrados numa tabela, como
procedimentos de cálculo
a Tabela 9. Em seguida, serão efetuados os cál-
culos – com uso da máquina de calcular – das
Educadores matemáticos (por exemplo,
alturas médias das meninas e dos meninos – de
VERGNAUD, 1987; NUNES; BRYANT, 1997)
cada turma e dos gêneros como um todo.
têm defendido que o uso de formas variadas
de representação simbólica (oral, desenhos,
Tabela 9: exemplo de atividade de uso da calcu-
algoritmos, entre outras formas) pode auxiliar
ladora para alívio de carga de operacionalização
os estudantes em seus desenvolvimentos mate-
que articula números e operações, grandezas e
máticos, uma vez que as diferentes formas de
medidas e tratamento da informação.
representação evidenciam aspectos distintos
Alturas das meninas Alturas dos meninos
Turma A Turma B Turma A Turma B
dos conceitos. Dessa maneira, a calculadora
pode ser utilizada para que os estudantes rea-
lizem cálculos por meio de uma representação
simbólica e que confrontem os resultados por
eles obtidos com os resultados mostrados na
... ... ... ...
Altura média Altura média Altura média Altura média
calculadora, conferindo se os mesmos resulta-
das meninas da das meninas da dos meninos da dos meninos da dos foram obtidos e discutindo diferenças que
Turma A = Turma B = Turma A = Turma B =
Altura média das meninas = Altura média dos meninos =
possam vir a aparecer.
Um exemplo de atividade dessa natureza
A partir dos resultados alcançados, os estu- mostra-se na Figura 3, a seguir. Nela, solicita-
dantes poderão discutir os significados dos números se que os estudantes realizem as operações na
obtidos, ou seja, o que representa a altura média das calculadora, mas nós sugerimos uma adaptação
meninas e dos meninos da Turma A e da Turma à atividade, ou seja, que os estudantes façam
B, bem como a altura média de todas as meninas inicialmente uma estimativa dos valores que
e todos os meninos. Esse é mais um exemplo de serão obtidos em cada um dos itens da questão
atividade na qual o uso da calculadora garante a e que, após o registro dessas estimativas, rea-
obtenção correta de resultados e alivia a realização lizem as operações na calculadora e observem
de operações por parte dos estudantes para que estes o quanto suas estimativas se aproximaram dos
concentrem suas atenções nos resultados obtidos e valores exatos.
1003 + 1 1003 + 10 1003 + 100 1003 + 1000 Dessa forma, os estudantes podiam per-
2341 + 1 2341 + 10 2341 + 100 2341 + 1000 ceber como os resultados variavam em função
999 + 1 999 + 10 999 + 100 999 + 1000
de serem pares ou ímpares ou de se estar divi-
dindo por 2 ou por 4, observando como restos
A partir da observação dos padrões obti- de divisões poderiam ainda ser subdivididos,
dos nos resultados das operações realizadas na resultando em números decimais.
calculadora, os estudantes poderão refletir sobre Mais um exemplo de exploração concei-
o valor posicional dos números no nosso sistema tual no eixo números e operações, que pode ser
de numeração. A realização das operações na cal- realizada com o uso da calculadora, são os casos
culadora terá, nessa atividade, a função de garan- de ‘teclas quebradas’ nas quais se solicita que os
tir que os resultados obtidos são corretos (senão estudantes realizem operações sem usar algumas
fica impossibilitada a observação de padrões) e das teclas da máquina. Pode-se, por exemplo,
aliviará a carga da operacionalização, pois o que afirmar que os estudantes devem imaginar que a
se deseja focar são os resultados obtidos ao se adi- tecla ‘6’ da calculadora está quebrada e solicitar
cionar uma unidade, uma dezena, uma centena e que realizem as operações que seguem:
um milhar, e não, propriamente, nesse caso, se os
estudantes são capazes de realizar corretamente 36 X 298 = 5062 – 978 = 5387 + 2666 =
os procedimentos de cálculo.
Semelhantemente, a observação de pa- Diferentes formas de superar o não-uso de
drões das seguintes sequências de operações determinada tecla, nesse caso a tecla ‘6’, fazem
poderá auxiliar os estudantes na compreensão surgir diferentes procedimentos que eviden-
da extensão da regularidade do SND, quando ciam conhecimentos do sistema de numeração
se extrapola o campo dos números naturais e se decimal (quanto à composição e decomposição
trabalha com números racionais: de valores, entre outros) e das propriedades das
operações aritméticas.
35,25 + 10 35,25 + 1 35,25 + 0,1 35,25 + 0,01 Outras explorações conceituais podem
70,00 + 10 70,00 + 1 70,00 + 0,1 70,00 + 0,01 envolver outros eixos matemáticos, tais como a
observação do valor obtido a partir da adição dos
Essas explorações podem ser efetuadas valores dos ângulos internos de figuras geomé-
tanto utilizando-se números isolados, como tricas; a manutenção ou variação em valores de
descritos acima, quanto usando-se números in- perímetros e áreas de figuras; o cálculo de proba-
seridos em contextos de medidas de grandezas, bilidades em distintos espaços amostrais, etc.
como, por exemplo, 35,25 metros – nos quais se
pode explorar, junto aos estudantes, o significado
Diversão
de 0,25 metro, ou seja, um quarto de metro, ou,
ainda, 25 centímetros.
Como o ambiente escolar pode ser também
Outro exemplo de exploração conceitual
um local no qual as brincadeiras e jogos se fazem
pode ser o de atividades envolvendo a divisão
presentes, a calculadora pode ser um recurso a
com resto. Borba e Selva (2007) e Selva e Borba
partir do qual os estudantes se divertem e apren-
(2005) analisaram a compreensão de crianças de
dem por meio de atividades lúdicas.
3ª e 5ª séries, atuais 4º e 6º anos de escolariza-
Rute Elizabete de Souza Rosa Borba – Professora adjunta do Departamento de Métodos e Técnicas de Ensino e da Pós-Graduação
em Educação Matemática e Tecnológica, Centro de Educação, Universidade Federal de Pernambuco.
Ana Coelho Vieira Selva – Professora adjunta do Departamento de Psicologia e Orientação Educacional e da Pós-Graduação
em Educação Matemática e Tecnológica, Centro de Educação, Universidade Federal de Pernambuco.
universidades, seguidas por renovações no nível efetivamente, o significado das expressões por
médio em escolas técnicas. ele criadas.
Sendo a Matemática considerada uma área Neste texto, vamos explorar a noção de
“dura” do conhecimento, as tentativas de mudan- “transposição didática” e trazer alguns exemplos
ça no seu ensino esbarram, algumas vezes, em propostos por Chevallard, detalhando os passos
oponentes às propostas, como, por exemplo, o de transformação do saber matemático.
que ocorreu a partir da década de 50 nos Estados
Unidos com o grupo School Mathematics Study Transposição didática
Group (SMSG), empenhado, em particular, na
renovação do ensino de Geometria. Nessa épo- Para falar de conceitos oriundos da chama-
ca, foi editado um texto denominado Geometry, da Didática Francesa, é necessário, primeiramen-
escrito por Edwin E. Moise e Floyd L. Downs Jr, te, conceituar esse campo do saber. De maneira
utilizando recomendações de comissões sobre geral, a Didática tem sido entendida como a
Matemática e seu ensino, o que era um dos obje- ciência e a arte de ensinar. No entanto, alguns
tivos do grupo SMSG. Essa obra, de certa forma autores especificam esse conceito amplo, como,
resultado do movimento Matemática Moderna, por exemplo, Martins (1988), que considera ser
teve seus reflexos no Brasil, na década de 70 do a Didática “a direção da aprendizagem numa
século XX. perspectiva multidimensional onde se articu-
A partir dos resultados negativos oriundos lam harmoniosamente as dimensões humana,
do movimento da Matemática Moderna surgiram técnica e político-social.” (p.63). Diferencia-se
nos Estados Unidos alguns movimentos buscan- da Metodologia do Ensino, que é “o conjunto de
do um retorno ao ensino tradicional, e outros métodos e técnicas que são utilizados a fim de
buscando métodos de ensino e de conteúdos que o processo ensino-aprendizagem se realize
alternativos. Entre as publicações americanas com êxito.” (p.184).
que têm influenciado as mudanças curriculares Já D’Amore (2007) discute várias defini-
brasileiras, estão o Curriculum and Evaluation ções de Didática, para em seguida fixar-se na
Standards, lançado originalmente em 1989. Kil- Didática da Matemática, afirmando, inicialmen-
patrick, membro atuante do National Council of te, que essa é uma disciplina autônoma, “nem
Teachers of Mathematics americano (NCTM), em Didática geral, nem Matemática” (p.29). O autor
palestra realizada em um evento realizado em considera que hoje a Didática da Matemática
Portugal, em 2008, questiona se os Standards ou pode ser vista de duas maneiras: “como divul-
normas para a Matemática escolar nos Estados gação de ideias, fixando a atenção na fase do
Unidos constituíram uma reforma ou uma nova ensino”, que ele chama de Didática A, e “como
reforma, pois as pretendidas mudanças não pesquisa empírica, fixando a atenção na fase de
ocorreram naquele país ou, pelo menos, ocor- aprendizagem”, a Didática B. (Ibid., p.37).
reram de forma diferente do que previam seus Pais (2001) preocupa-se em distinguir
promotores. Ele justifica que apenas 10% dos entre as expressões “Educação Matemática” e
professores foram envolvidos em tais reformas “Didática da Matemática”. Segundo ele, no con-
e que sempre houve muitas reações a mudanças texto brasileiro, pode-se dizer que
em seu país.
Nos anos seguintes à introdução da Mate- A didática da matemática é uma
mática Moderna na França, alguns matemáticos, das tendências da grande área de
educação matemática, cujo objeto de
psicólogos e educadores matemáticos criaram
estudo é a elaboração de conceitos e
os Instituts de Recherche sur l´Enseignement teorias que sejam compatíveis com
des Mathématiques (IREM), ou seja, Institutos a especificidade do saber escolar
de Pesquisa sobre o Ensino de Matemática. En- matemático, procurando manter
tre os mais conceituados pesquisadores desses fortes vínculos com a formação
de conceitos matemáticos, tanto
institutos está Yves Chevallard, do IREM de em nível experimental da prática
Aix-Marseille, e muitas de suas ideias e con- pedagógica, como no território
ceituações são mencionadas em livros da área teórico da pesquisa acadêmica.
de Educação Matemática sem que saibamos, (p.11)
Entretanto, apresentando o objetivo que engloba esse sistema e do qual fazem parte
de seu livro, o autor afirma que vai analisar os pais, os matemáticos e os representantes das
a “linha francesa da didática da matemática, instâncias políticas e administrativas, debatendo
procurando destacar uma de suas características propostas. Assim, resumindo, diz o autor que
principais: a formalização conceitual de suas
constatações práticas e teóricas.” (PAIS, 2001, [...] estamos aqui na esfera onde
p.9). É nesse contexto que se situa o conceito de se pensa – segundo modalidades
talvez muito diferentes – o
“transposição didática” que vamos apresentar funcionamento didático. [...] Na
nesse texto. noosfera, pois, os representantes
Um dos problemas do ensino de conteú- do sistema de ensino, com ou sem
dos matemáticos é o distanciamento entre o con- mandato (desde o diretor até o
professor militante), se encontram,
teúdo abordado, a realidade do aluno e as origens direta ou indiretamente [...] com
do conhecimento em questão. A apresentação os representantes da sociedade.
axiomática parece simplificar o ensino, pois os (CHEVALLARD, 1985, p.23-24.
conteúdos são articulados em uma sequência Grifos do autor)
rígida, em que toda nova definição depende
das anteriores, todo teorema exige que já esteja Chevallard (1985) representa o conceito
aceito certo número de axiomas e demonstradas de noosfera por meio de um esquema, adaptado
as proposições das quais ele depende. na Figura 1, a seguir:
De certa forma, talvez por ser a axiomática
euclidiana o modelo para o ensino de Matemática
por tantos séculos, esse tipo de apresentação é
considerado pelo professor como o mais fácil,
pois lhe dá a sensação do “dever cumprido”,
tendo mostrado a construção de um determina-
do saber sábio. No entanto, muitas vezes esse
professor esquece que Euclides organizou os Figura 1: representação da noosfera1.
ensinamentos de sua época, cientificamente, e
que apresentações desse tipo sempre são feitas Para Chevallard (1985, p.39), “Todo projeto
a posteriori, depois que um determinado conhe- social de ensino e de aprendizagem se constitui
cimento já foi trabalhado sob vários enfoques e dialeticamente com a identificação e a desig-
transformou-se em um saber a ensinar. nação de conteúdos de saberes como conteúdos
Brousseau (1986) critica a apresentação a ensinar.” (Grifos do autor). E, em seguida, o
axiomática, comentando que “ela esconde com- autor acrescenta:
pletamente a história desses saberes, isto é, a
Os conteúdos de saberes
sucessão de dificuldades e questões que provoca- designados como aqueles a ensinar
ram a aparição dos conceitos fundamentais, seu (explicitamente: nos programas;
uso para colocar novos problemas, a usurpação implicitamente: pelo representante
de técnicas e de questões nascidas do progresso da tradição, evolutiva, da
interpretação dos programas), em
de outros setores.” (p.36). Esses procedimentos geral pré-existem ao movimento que
não são exclusivos da Matemática, pois, para os designa como tais. Entretanto,
qualquer saber a ser ensinado, há uma transfor- algumas vezes (e pelo menos
mação que procura adequá-lo à compreensão mais frequentemente do que se
poderia acreditar) são verdadeiras
daqueles aos quais vai ser apresentado. Esse
criações didáticas, suscitadas pela
processo tem sido denominado “transposição ‘necessidades de ensino’. (Assim
didática”, e Chevallard (1985) traz várias con- ocorreu, por exemplo, no ensino
ceituações para explicar suas ideias. secundário francês, com ´grande
Um dos principais conceitos apontados cosseno` e ´grande seno`).
(CHEVALLARD, 1985, p.39. Grifos
por Chevallard (1985) é o de “noosfera”, a que do autor)
ele chega a partir de considerações sobre o sis-
tema de ensino e sobre o ambiente mais amplo, 1
Adaptado de Chevallard (1985, p.23).
Esses preâmbulos permitem, então, que ais. Segundo o autor, a passagem de uma para
Chevallard (1985, p.39), construa sua definição outra notação era estabelecida formalmente
de “transposição didática”: da seguinte maneira: se t é um número real
que “mede” o ângulo θ , então cos t = Cos θ e
Um conteúdo do conhecimento, sent = Senθ . (CHEVALLARD, 2004).
tendo sido designado como saber Ora, evidentemente essa criação didática
a ensinar, sofre desde então um
conjunto de transformações mais atrapalha do que auxilia a aprendizagem!
adaptativas que vão torná-lo apto Consideramos que há, efetivamente, transposi-
a tomar o seu lugar entre os objetos ções didáticas que são necessárias e que têm sido
de ensino. O ‘trabalho’ que, de usadas ao longo dos anos, em qualquer nível de
um objeto de saber a ensinar faz
ensino. No entanto, é necessário entender de
um objeto de ensino, é chamado
transposição didática. (p.39. Grifos onde vem o saber a ensinar, qual o saber sábio
do autor) que lhe deu origem, para que os conteúdos não
fiquem “picoteados” e apenas fórmulas mágicas
Pensando especificamente no trabalho do sejam oferecidas aos estudantes.
professor, Perrenoud (1993) considera que: Chevallard (1985) discute em profundi-
dade se a transposição didática é boa ou má, se
Ensinar é, antes de mais, fabricar todo objeto de saber a ensinar pode ser um objeto
artesanalmente os saberes, tornando-os de ensino, se há ou não resistência aos conceitos
ensináveis, exercitáveis e passíveis apresentados em sua visão da Didática da Mate-
de avaliação no quadro de uma
turma, de um ano, de um horário,
mática. No entanto, parece-nos que há ainda um
de um sistema de comunicação e outro ponto a mencionar: ao empregar criações
trabalho. É o que Chevallard [...] didáticas que, supostamente, auxiliam o ensino
designa por transposição didáctica. de um determinado conteúdo, as dificuldades do
(p.25. Grifos do autor) professor são minimizadas. E as dos alunos?
Talvez por trás dessa questão esteja outra de
No entanto, ao sofrer tais adaptações, o caráter mais polêmico: por que os alunos (e também
saber sábio, aquele que é produzido originalmen- o professor!) se acomodam com aquele objeto de
te pelo cientista, é “exilado” de suas origens; a ensino? Por não saber que houve uma transposição?
história de sua produção é escamoteada para os Por não ter informações anteriores sobre o saber
estudantes, e ele se apresenta como um saber sábio? Essas são questões que poderiam ser melhor
neutro, sem ligação com quaisquer necessidades aprofundadas em pesquisas sobre o tema.
humanas ou jogos de poder. Pais (2001) comenta que os conteúdos
Chevallard (1985) menciona as criações escolares são, muitas vezes, escolhidos pelos pro-
didáticas, geradas pelas necessidades do ensino, fessores a partir dos programas ou dos livros didá-
exemplificando com as expressões “grande cos- ticos. Em alguns casos, esses conteúdos são meras
seno” e “grande seno”, que não têm paralelo no criações didáticas, adequadas aos propósitos do
ensino brasileiro. Mas o que são essas expressões, processo de ensino, mas, conforme o autor,
efetivamente?
No boletim Excursus, da Universidade [...] o problema surge quando
de Provence, campus de Aix-Marseille, sob sua utilização acontece de forma
desvinculada de sua finalidade
responsabilidade de Chevallard, respondendo a principal. É o caso dos produtos
perguntas de leitores (possivelmente alunos da notáveis que, quando ensinados
instituição) esse autor explica que foi em torno sem um contexto significativo,
de 1970 (no auge da influência da Matemática passam a figurar apenas como o
Moderna) que eram usadas as notações Cos e objeto de ensino em si mesmo.
(PAIS, 2001, p.20)
Sen (com letra maiúscula, de onde, então, as
expressões “grande cosseno” e “grande seno”),
para as funções trigonométricas de um ângulo, Não poderíamos pensar, talvez, em mos-
e as notações em letra minúscula, cos e sen, trar ao professor o saber em “estado bruto” e
para as funções trigonométricas de valores re- solicitar que ele faça a transposição de acordo
com as necessidades e possibilidades de seus
alunos? Em um primeiro momento, essa pro- que a torne inconfundível de outra.” (p.614).
posta pode parecer complicada, pois há saberes Bueno (1981) considera que uma definição é uma
sábios que, se não forem transpostos para uma distinção, uma enunciação de qualidades e de
linguagem mais acessível, ficam restritos a uma características do que se está a definir.
minoria de especialistas, em geral, professores Já “conceituar”, segundo Ferreira (1999),
universitários. No entanto, talvez possamos significa: “Formar conceito acerca de; julgar, ava-
fazer com que o professor se envolva também liar.” (p.518). Assim, aqui estamos, efetivamente,
no processo de transformar o saber científico tratando de definições, e a de cosseno é baseada
no saber a ser ensinado, ainda que o objeto de na propriedade geométrica da proporcionalidade
ensino, no fim das contas, apresente-se um tratada por Tales de Mileto (LEIVAS, 2006).
pouco diferente do que os autores dos livros- Por argumentações geométricas, Tales de-
texto apresentam. duziu, considerando-se triângulos como os repre-
sentados abaixo, que: ,
Exemplos de criações e transposições
ou seja, a relação é uma constante que independe
didáticas do triângulo considerado. Depende, isto sim, do
ângulo. A relação constante é denominada cosse-
Chevallard (1985) considera que
no do ângulo em questão.
Os conteúdos de saber designados
como estando a ensinar [...] em geral
pré-existem ao movimento que os
indica como tais. Algumas vezes,
entretanto [...] são verdadeiras
criações didáticas, suscitadas pelas
´necessidades de ensino`. (Foi
o caso, por exemplo, no ensino
secundário francês, do ´grande Figura 3: triângulos retângulos com lados pro-
cosseno` e do ´grande seno`). (p.39.
porcionais.
Grifos do autor)
Figura 4: radiano.
Figura 6: triângulo obtusângulo.
Em lugar de s e s’, na relação anterior,
usando, respectivamente, o comprimento da Para a Figura 6, tem-se:
a' b'
circunferência menor C e da maior C’, obtém-se: cos θ = < 0 e senθ = > 0
r r
C C' C C'
= ⇔ = = k , em que a constante k passa
r r' 2r 2r ' Na sequência elaborada, há de se discutir
a ser o número irracional π. a questão epistemológica envolvida, que é útil e
A discussão ou dificuldade didática de interessante ao professor e que, no entanto, deve
obtenção das funções trigonométricas para ân- ser analisada quanto a sua adequação para levá-la
gulos obtusos precisa ser enfrentada. Para tal, ao ambiente da escola dessa forma.
estendem-se as definições ao círculo trigono- Outra interessante relação pode ser estabele-
métrico, e uma maneira de fazer isso é utilizar cida, a partir de então, sobre cosseno de um ângulo
coordenadas cartesianas no plano, primeira- e cosseno de um número real. Nessa situação, é
mente reinterpretando-se o caso já conhecido e necessário tratar das funções trigonométricas cujas
posteriormente generalizando-se. imagens são esses números. Falar na função cosseno
Para a reinterpretação, constrói-se um tri- e na função seno só tem sentido se o valor corres-
ângulo retângulo da seguinte forma: um dos cate- pondente no domínio for um número real e não um
tos é colocado sobre o eixo horizontal, tendo uma valor dado em unidades ‘graus’. Não faz sentido,
extremidade na origem do sistema cartesiano, e nessa situação, utilizar cos1800, e sim cosπ.
correspondendo a um dos vértices associado a Observe-se ainda que, antes do advento
um dos ângulos agudos, e a outra extremidade das calculadoras e dos computadores, para o
correspondendo ao vértice associado ao ângulo cálculo de valores trigonométricos, que consti-
reto. O terceiro vértice corresponde a um ponto tuíam as tabelas trigonométricas, havia interesse
da circunferência trigonométrica determinado no desenvolvimento em séries das funções trigo-
pela extremidade do segundo cateto.
Considera-se a unidade no sistema como nométricas. Assim,
sendo o raio da circunferência construída. O x2 x4 x6
cos x = 1 − + − + ...
vértice, na circunferência, é associado ao par 2! 4! 6!
ordenado P=(a,b), e, usando a definição anterior, Por ser definida como f: R→R, tem-se x ∈
escreve-se, para a Figura 5: R, isto é, x é dado em radianos e não em graus.
Resumindo, define-se cosseno e seno de
ângulos agudos explorando o triângulo retân-
gulo, passa-se a outros ângulos obtusos e, pos-
teriormente, ao tratado com números reais. Os
matemáticos querem ir além, e por isso definem
também essas funções no campo dos números
complexos RXR = {(a,b) z=a+bi, em que
a,b∈ R e i= − 1 }. Note-se que, para b=0, tem-se
z=a ∈ R, isto é, um número real pode ser pensado
com um par (a,0).
Uma outra abordagem ou conexão que
Figura 5: triângulo acutângulo. pode ser estabelecida é a denominada fórmu-
propósitos no momento.
Referências
SCHUBRING, Gert. O primeiro movimento interna- pel da Alemanha: um estudo de caso na transmissão
cional de reforma curricular em matemática e o pa- de conceitos. Zetetiké, v.7, n.11, p.29-50, 1999.
José Carlos Pinto Leivas – Doutor em Educação (Matemática), professor titular aposentado da FURG e professor adjunto da
ULBRA. leivasjc@yahoo.com.br
Helena Noronha Cury – Doutora em Educação, professora do Mestrado Profissionalizante em Ensino de Física e de Matemática
da UNIFRA. curyhn@unifra.br
Geometry beyond the View: Taking Nature Geometry into the School
Segundo Fischer (2002, p.141), quando se ana- ainda hoje, perceber uma resistência por parte
lisam as influências das mídias na educação, é dos professores em trabalhar com esse assunto.
fundamental que os professores proporcionem Em contrapartida, existe uma tendência, por
momentos de reflexão com seus alunos: parte de educadores e de pesquisadores, como
por exemplo Smole (2003) e Serrazina (1999), em
[...] o mundo representado pela estabelecer uma cultura de valorização do ensino
família e pela escola, que da e da aprendizagem da Geometria, visto que estu-
mesma forma está mergulhado
nas imagens veiculadas pela mídia, dos a destacam como um campo conceitual de
mas que teria o difícil papel de fundamental importância a ser desenvolvido na
propor outros sentidos, de afirmar escola. Esse novo posicionamento também está
outras “verdades”, de convidar os presente nos Standards (1998, p.21), uma vez
jovens para outras interpretações da
chamada “realidade”.
que colocam que “além de um certo conjunto de
conceitos numéricos e operações, o currículo deve
incluir genuína exploração da geometria, medida,
O início do projeto, em 2006, contou com estatística, probabilidades, álgebra e funções”.
a participação de professores dos componentes É por meio da Geometria que se desen-
curriculares de Língua Portuguesa, Educação volvem algumas das habilidades básicas com o
Artística, Língua Inglesa, Educação para o Pen- educando. Entre elas, é possível destacar a capa-
sar, Educação Física e Educação Religiosa. No cidade de comunicação, de percepção espacial,
decorrer do próprio ano, outros componentes de análise e reflexão, bem como de abstração e
curriculares foram sendo integrandos ao projeto, generalização. Sobre isso, Fainguelernt (1995
trazendo suas contribuições. apud MURARI, 2004, p.200) coloca que:
Em 2007, o projeto teve sua arrancada com
a participação quase unânime dos professores A Geometria oferece um vasto
da sétima série, momento em que a Matemática campo de ideias e métodos de
entrou com a proposta de apresentar uma ma- muito valor quando se trata do
temática “além do olhar”. O objetivo, então, foi desenvolvimento intelectual do
aluno, do seu raciocínio lógico
apresentar um campo ainda pouco explorado no e da passagem da intuição e de
ensino fundamental, embora plenamente rico de dados concretos e experimentais
conceitos e de uma beleza contagiante: a Geome- para os processos de abstração e
tria Fractal. O presente artigo discute aspectos generalização.
importantes sobre o trabalho desenvolvido. A Geometria também ativa as
O projeto desenvolveu-se ao longo de todo o estruturas mentais possibilitando a
passagem do estágio das operações
ano letivo, e as atividades das diferentes disciplinas concretas para o das operações
foram acontecendo ora concomitantemente, ora de abstratas. É portanto tema
forma mais esparsa. O fechamento do projeto deu-se integrador entre as diversas áreas
com uma atividade de caráter prático-reflexivo, em da Matemática, bem como campo
fértil para o exercício de aprender
um ambiente de vivência, possibilitando aos alunos a fazer, e aprender a pensar.
a realização de atividades de autoconhecimento e
experimentações a partir dos cinco sentidos (visão,
audição, olfato, tato e paladar), buscando compre- A Geometria pode ser vista como uma
ender o mundo e as formas de vê-lo. habilidade básica, uma vez que ela tem impor-
tantes entrelaçamentos com outros campos da
Matemática. É um tema unificador para todo o
Considerações iniciais sobre o estudo da
currículo de Matemática e, como tal, é uma rica
Geometria fonte de visualização para conceitos aritméticos,
algébricos e estatísticos. (JELINEK, 2005).
A Geometria, área significativa da Mate- Tendo consciência da importância de uma
mática, esteve colocada em segundo plano nos sequência didática adequada para a construção do
currículos escolares, o que, de acordo com Pereira pensamento geométrico, buscamos estruturar e
(2001), foi uma consequência do movimento da reformular diferentes atividades que contemplem
Matemática Moderna no Brasil, sendo possível, esses aspectos. Acreditamos, como defende Dienes
(1970), que o estudo da Geometria precisa iniciar exemplo, quando as crianças estão
pela exploração dos objetos tridimensionais, uma trabalhando no computador, estão
criando alguma coisa numa tela e,
vez que são esses sólidos que estão presentes na na-
pelo fato de elas estarem fazendo
tureza e, consequentemente, com eles as crianças algo, mobiliza toda sua pessoa no
estão familiarizadas. Ressalta-se ainda, nessa fase sentido de realizar seus projetos.
inicial, a importância da Geometria na percepção
das crianças sobre os movimentos e no desen- Percebemos em nossas práticas que o
volvimento da capacidade de experimentação e uso de softwares educativos, por envolverem
estruturação de relações com objetos sólidos. os alunos na criação e na solução de desafios
Castelnuovo (1975 apud JELINEK, 2005, propostos, tem apresentado excelentes resulta-
p.29) esclarece a importância dessa Geometria in- dos no ensino e na aprendizagem da Geometria:
tuitiva e sua diferença da Geometria racional: os alunos levantam suas hipóteses, descrevem
suas soluções (por meio de comandos dados
[...] a geometria intuitiva dará as bases
para que o aluno possa construir a ao computador), executam seus programas (ou
geometria racional. Sendo os entes interagem com os objetos que criam na tela da
geométricos formados na mente máquina), podendo verificar se suas hipóteses
humana através de abstrações, a ou descrições estavam corretas, refazendo o
partir de observações de objetos reais processo sempre que necessário. Todo o processo
e de experiências sobre eles. Então,
antes de racionalizar, de formalizar, pode ser acompanhado pelo professor, que deve
é preciso fazer experiências, é preciso realizar intervenções junto aos alunos quanto
manipular os objetos, pois aí os axiomas estas forem necessárias.
encontrarão suas raízes naturais. Dessa forma, investimos na utilização de
softwares como o Imagine e o Cabri Geómètre II
Dando sequência a essa geometria intui- nas séries finais do ensino fundamental. Na 5ª
tiva que é explorada por nós nas séries iniciais, série, desenvolvemos um trabalho com o Imagine
procuramos estruturar um conjunto de ativida- buscando explorar alguns conceitos fundamentais
des que promovam uma passagem dos alunos da Geometria Plana, e na 6ª e 7ª séries utilizamos
do campo das operações concretas para o campo o Cabri Geómètre II em atividades que exploram as
das operações formais, atentando para que a propriedades dos polígonos e seus elementos.
abstração e o rigor se façam presentes num nível Cabe destacar que o foco deste trabalho
crescente de dificuldade. Buscamos, dessa forma, é a exploração de alguns aspectos da Geometria
focar o trabalho na construção dos conceitos e Fractal. Para os educandos envolvidos nesse
não na aplicação de fórmulas. projeto, foi fantástico descobrir que a matemática
Diante dessa realidade, o construcionismo também é bela! A partir de alguns estudos da
defendido por Papert vem ao encontro da nossa Geometria Fractal, podemos apresentar outros
compreensão de ensino da Geometria, pois sus- aspectos Matemática, ou seja, o da simetria es-
tenta que os indivíduos terão maior êxito desco- tética, da beleza singular dos objetos, os quais
brindo por si mesmos o conhecimento específico, até mesmo demonstram caráter e expressão. Tais
a partir da ideia de aprender fazendo. O autor estudos ainda são ricos por permitirem que se
também destaca a necessidade de um ambiente explorem conceitos diversos, como por exemplo:
realmente interessante para os educandos, que de simetria, proporcionalidade, congruência,
mobilize seus interesses e desperte o desejo de semelhança, padrão, rotação e generalização.
interagir, e, consequentemente, de aprender algo.
Refletindo sobre essas ideias de Papert, Fain- A Geometria Fractal
guelernt (1999, p.34) complementa destacando
a possibilidade do uso de computadores para o Os fractais atualmente se destacam como
estudo da Geometria: um promissor ramo da Geometria, pois suas
aplicações e beleza têm sido cada vez mais ex-
[...] a melhor maneira de construir ploradas. Inicialmente, nas décadas de 60 e 70,
o conhecimento é construir algo
palpável externamente; isso tem um quando Benoit Mandelbrot começou a explorar
significado pessoal muito forte. Por esse campo da Matemática, não encontrou
muitos entusiastas, assim como não houve uma aglomerações estrelares etc. eram
acolhida imediata dessas entidades geométricas, estudados buscando -se então
ligações entre diferentes tipos de
as quais chamaram de “monstros”.
irregularidades; e surpreendentes
O nome fractal deriva do latim, do adje- ordens no caos foram descobertas.
tivo fractus, cujo verbo frangere corresponde a
quebrar, fragmentar. E quando nos referimos à
A Geometria Fractal também passou a ser
Geometria Fractal, estamos falando do estudo dos
conhecida como Geometria da natureza, uma vez
fractais. Cabe destacar que essas formas possuem
que formas até então desconhecidas puderam ser
características especiais, sendo a principal delas
identificadas como um fractal. Cabe colocar que
a autossimilaridade, uma vez que constituem
a Geometria Euclidiana pode ser associada às
uma imagem de si próprias em cada uma das
construções realizadas pelo homem. Entretanto,
partes. Segundo Freitas e Santos (2005, p.2756),
as formas mais comuns na natureza nunca se
algumas outras características também são fun-
associaram com as formas até então definidas.
damentais:
Com a evolução do estudo da Geometria Fractal,
Um fractal é gerado a partir de é comum encontrarmos registros não apenas no
uma fórmula matemática, muitas campo matemático, mas também na Geografia,
vezes simples, mas que, aplicada de Geologia, Economia, Física, História e Linguísti-
forma iterativa, produz resultados ca (BARBOSA, 2005). Ressalta-se a contribuição
fascinantes e impressionantes, das novas tecnologias para o desenvolvimento
tendo como característica a
autossimilaridade, a simplicidade desse campo.
em sua lei de formação e a construção
por processos recorrentes. Imagine
possam perceber aquilo que não está evidente aos SOCIEDADE BRASILEIRA DE COMPUTAÇÃO,
25, 2005, São Leopoldo. Anais... São Leopoldo:
olhos, mas que precisa ser visto com os olhos do UNISINOS, 2005. p.2754-2762.
coração e da mente. Acreditamos que aliar os co-
nhecimentos historicamente construídos a uma JELINEK, Karin. et al. Um currículo de matemá-
tica em movimento. Porto Alegre: EDIPUCRS,
percepção de mundo elaborada pelo aluno, a 2005.
partir de experiências e situações proporcionadas
KAMPFF, Adriana Justin C., Machado, José Carlos
no âmbito escolar, pôde auxiliar esse educando a
de S., Cavedini, Patrícia. Educação Matemática e
perceber a necessidade que temos de qualificar novas tecnologias. Caderno Marista de Educação,
nossa visão sobre o mundo, sobre os outros e, v.3, n.3, p.5-26, 2004.
enfim, sobre nós mesmos. MURARI, Claudemir. Espelhos, caleidoscópios,
Por fim, cabe colocar que o projeto continua simetrias, jogos, softwares educacionais no ensi-
sendo desenvolvido na Escola, com o objetivo no e aprendizagem de geometria. In: BICUDO,
principal de promover no aluno a capacidade de Maria A., BORBA, Marcelo de C. Educação Ma-
conhecer um novo olhar do cotidiano e do mundo temática: pesquisa em movimento. São Paulo:
Cortez, 2004.
que o cerca, a partir da percepção, da sensibilida-
de, do autoconhecimento e da experiência. PAPERT, Seymour. Logo: computadores e educa-
ção. São Paulo: Brasiliense, 1985.
Referências PEREIRA, M. R. A geometria escolar: uma análise
dos estudos sobre o abandono de seu ensino. São
BARBOSA, Ruy Madsen. Descobrindo a Geome- Paulo: PUCSP, 2001. Dissertação (Mestrado em
tria Fractal para a sala de aula. Belo Horizonte: Educação Matemática), Pontifícia Universidade
Autêntica, 2005. Católica de São Paulo, 2001.
Karin Ritter Jelinek – Doutoranda em Educação – PPGEDU/UFRGS, professora da rede municipal de ensino de Porto Alegre e
do Colégio Marista Nossa Senhora do Rosário.
Adriana Justin Cerveira Kampff – Doutoranda em Informática na Educação – PGIE/UFRGS, professora da Universidade Luterana
do Brasil (ULBRA) e do Colégio Marista Nossa Senhora do Rosário.
SESSÃO ESPECIAL
Resumo Abstract
O artigo faz a análise de três pesquisas de This article has an analysis of three master
mestrado sobre Educação Estatística que dedicam degree studies on Statistics Education. Most of
a maior parte dos seus trabalhos de campo ao the time spent on field work in these studies was
desenvolvimento de projetos de ensino. Pudemos dedicated to developing teaching projects. We
perceber que há consenso, nas duas dissertações could notice that, in both defended dissertations,
defendidas, sobre os benefícios desse tipo de there is a consensus on the benefits of this kind
trabalho para o desenvolvimento profissional of work for the professional development of
dos professores que o assumem como prática the teachers who take it as a regular classroom
de sala de aula. As reflexões realizadas nos practice. Also, the reflections that were carried
levaram a concluir também que muitos dos out helped us conclude that many of the
problemas e das limitações levantados em cada problems and limitations perceived in each
uma das pesquisas foram sendo superados nas study were gradually overcome in the following
seguintes. Essa superação pode ser atribuída às studies. This overcoming may be due to each
reflexões de cada professor/mestrando sobre sua teacher/master student’s reflections on his/her
prática,considerando que foram feitas em diálogo own practice, considering that these reflections
com a bibliografia sobre Educação Matemática e happened in a relationship with the bibliography
Educação Estatística. Entretanto, temos presente on Mathematics and Statistics education. We are
que as táticas – no sentido de Certeau – que aware, however, that the tactics – in Certeau’s
buscaram o enfrentamento dos tempos escolares sense – that sought the facing of school times did
não se configuraram como possíveis estratégias, not come out to be possible strategies, as none
ou seja, cada uma não pôde dispor de base na of them could have a basis on which to estimate
qual capitalizasse seus proveitos, preparasse suas benefits, prepare for expansion and assure some
expansões e assegurasse uma independência em independence in face of the circumstances.
face das circunstâncias.
Keywords: Statistics education. Project work.
Palavras-chave: Educação Estatística. Trabalho Mathematics education. classroom research.
com Projetos. Educação Matemática. Pesquisa em
Sala de Aula.
1
Este artigo é baseado na intervenção na mesa-redonda “Educação Estatística na Sala de Aula”, ocorrida no ix Encontro Nacional
de Educação Matemática (ENEM), dia 19 de julho de 2007. O título dessa intervenção é importante, pois o artigo refere-se a três
projetos referentes ao ensino e à aprendizagem de Estatística.
Vale esclarecer também a forma como con- professor, presente com maior ou menor explici-
cebemos a relação da Estatística com a Matemáti- tação nas considerações de final de dissertação
ca, numa perspectiva de ensino e aprendizagem, das duas pesquisas tomadas como referência
trazendo uma sistematização de um texto ante- (MEGID, ibidem; BIAJONE, ibidem). Esse as-
rior produzido com um orientando de doutorado pecto será pouco abordado no presente artigo,
(PAMPLONA; CARVALHO, 2006, p.7): pois tanto Megid como Biajone concordam que
o trabalho de campo que desenvolveram em
Na Matemática são ocultados os seus mestrados foi fundamental para que eles
problemas primeiros, os propósitos, transformassem suas práticas docentes. Ou seja,
as escolhas, restando um modelo que
é reduzido e distante da realidade nesse aspecto, só apresentou vantagens; não há
ou distante das práticas sociais a problemas nem limitações.
partir do qual ele foi gerado ou
ressignificado. A Estatística, apesar Com a investigação foi possível
de utilizar-se de uma linguagem perceber que [...] [é] importante
matemática, não abandona o que sejam utilizados, juntamente
contexto a partir do qual foi criada. com os conhecimentos prévios
Desse modo, Matemática e Estatística dos alunos, os conhecimentos e
tornam-se saberes complementares, as experiências pedagógicas dos
auxiliando o educando a lidar com professores. Nesta perspectiva,
a abstração e a contextualizar os possibilita-se a interação dos
fenômenos originários das questões conhecimentos dos alunos com
em estudos. as experiências pedagógicas e os
conhecimentos dos professores.
(MEGID, ibidem, p.178)
Parece que essa característica da Estatísti-
[...] o trabalho proporcionou avanços
ca de não “abandonar” os problemas primeiros na constituição da professora e da
vai ao encontro do trabalho com projetos e na pesquisadora. (MEGID, ibidem,
perspectiva com a qual temos trabalhado, pois p.179)
tais problemas são definidos conjuntamente por Te r a d q u i r i d o e i g u a l m e n t e
alunos e professor. proporcionado a consciência deste
Os benefícios do trabalho com projetos fato [da importância da cultura
escolar estabelecida] aos seus
no âmbito da Educação Matemática têm sido próprios alunos da Pedagogia
destacados por diversos autores, desde Lou- foi, sem dúvida, o ganho mais
renço Filho (por exemplo, 1978), defendendo significativo que estas mesmas
a “Escola Nova”. Não vamos nos ater a todas decepções, percalços e quebras de
expectativas puderam contemplar.
as vantagens, vamos nos apoiar na síntese de (BIAJONE, ibidem, p.210)
Biajone (idem,) que destaca que trabalhar com
Esse crescimento profissional,
projetos: porém, não se reduz ao
conhecimento estatístico. [...]
1º) permite vivenciar um processo de [O professor] desenvolveu um
investigação que integra conteúdos, trabalho de projetos que assumiu
métodos e fins (p.46); uma perspectiva de protagonismo
2º) per mite tirar partido do por parte dos alunos. (BIAJONE,
envolvimento afetivo do aluno, ibidem, p.212)
bem como torná-lo sujeito de sua
aprendizagem (p.49);
Ainda não temos o registro escrito do
3º) possibilita ao aluno aprender
possível desenvolvimento profissional de Conti,
cooperativamente, lidar com
imprevistos e se tornar consciente pois seu trabalho de campo ainda está em an-
daquilo que o rodeia (p.51); damento, mas em nossas conversas informais
4º) propicia uma postura e práticas temos percebido benefícios ainda não siste-
docentes diferenciadas (p.53) matizados, no que se refere tanto a sua prática
docente como àquela dos dois licenciandos em
Podemos constatar que o quarto benefício Matemática, atuando com ela como estagiários
diz respeito ao desenvolvimento profissional do e auxiliares de pesquisa.
Além dessa unanimidade no que se refere pela questão que motivou tal produção. De “outra
ao crescimento profissional dos professores de forma, as ferramentas usadas para responder
Matemática quando desenvolvem um trabalho questões artificiais podem parecer artificiais
de projetos, poderíamos nos perguntar o que os também” (MEGID, ibidem, p.154). Além disso,
leva a optar por essa abordagem quando decidem
ensinar Estatística. Uma comparação das fases do não há como negar que o desejo
método estatístico com as de um projeto (Quadro de conhecer mais sobre a realidade
da inclusão das crianças com
1) ajuda-nos a compreender por que eles têm necessidades educacionais especiais
recorrido a essa dinâmica. [tema do projeto] tenha sido a
mola propulsora de todo o trabalho
Fases do método estatístico Fases de um projeto realizado e, por conseguinte, do
(TOLEDO; OVALLE, 1985) (PONTE, 1990) aprendizado que eles adquiriram com
1) Definição do problema 1) Definição do tema relação ao papel, as potencialidades
2) Planejamento 2) Planejamento das ações e as possibilidades da Estatística no
3) Coleta de dados âmbito do exercício de sua profissão.
4) Apuração e organização dos
3) Realização das ações
(BIAJONE, ibidem, p.178)
dados
5) Apresentação dos dados
4) Elaboração das análises e con- Norteados por essas hipótese e concepções,
clusões
6) Análise e interpretação dos dados planejamos conjuntamente com os mestrandos
5) Divulgação e comunicação dos
resultados seu trabalho de campo e temos acompanhado
Quadro 1. de perto o desenvolvimento de suas pesquisas,
Fonte: Biajone, ibidem; p.48.
tanto na elaboração de atividades das diversas
fases do projeto quanto na busca de subsídios
Essa comparação leva-nos a inferir que os teórico-metodológicos para a temática em si e
benefícios do método estatístico são garantidos para a análise das informações produzidas. Os
com o trabalho de projetos, o que, no mínimo, trabalhos de mestrado serão apresentados na se-
garante a produção de algum conhecimento que, quência cronológica, para explicitar nossa busca
de certa forma, acontece. Mesmo considerando de resolução dos problemas que foram apare-
o cientificismo, apontado por Fiorentini e Lo- cendo e de superação de algumas das limitações
renzato (2006), que norteia a sequência de fases impostas pela prática em cada caso.
tanto em uma como em outra coluna, é inegável
a importância desse conhecimento para alunos
Um é pouco...
de todos os níveis de ensino (LOPES, 2004).
Além disso, temos sido levados a defender que,
Nas sessões de orientação com Megid, foi-
se o problema a ser tratado estatisticamente ou
se evidenciando que desejávamos um trabalho de
o tema do projeto não forem realmente do alu-
sala de aula que promovesse a aprendizagem da
no, ele estará desenvolvendo uma tarefa cujo
Estatística, ou seja, que destacasse o aspecto da
sentido é exclusivamente escolar, sem relação
incerteza, do aleatório, do não-determinismo des-
com o desejável aguçamento de olhar que o es-
sa área de conhecimento humano... Não encon-
tatisticar6 pode proporcionar-lhe (PAMPLONA;
tramos, em manuais didáticos, propostas que nos
CARVALHO, 2006). Ou seja, de acordo com nossa
satisfizessem, pois nós nos fomos convencendo
concepção de ensino e de aprendizagem, o aluno
da necessidade de o estudo ser genuinamente do
deve participar do projeto desde a definição do
aluno, referir-se a uma temática que ele desejasse
problema e/ou do tema para que compreenda
investigar, que se lhe constituísse em um problema.
realmente o que é utilizar o método estatístico.
Desenvolver um projeto com a participação dos
Se construir tabelas e elaborar gráficos são habi-
alunos desde a primeira fase – definição do tema
lidades importantes, sua leitura é condicionada
– pareceu-nos uma alternativa que contemplaria
6
Tivemos contato com o termo “estatisticar” na palestra de
nossas inquietações e lançamo-nos a ela. E parece
Régnier (2006) no Simpósio Internacional de Pesquisa em que os alunos aderiram à nossa empreitada, pois
Educação Matemática (SIPEMAT) ocorrido em Recife, em o “fato de os alunos escolherem o tema da pes-
julho de 2006. Vamos desenvolver um pouco mais em que quisa foi um dos principais fatores motivadores
sentido nós o estamos utilizando neste artigo um pouco
mais adiante. do trabalho” (MEGID, ibidem, p.154).
por Megid (ibidem), na pesquisa de Biajone como defende o próprio Skovsmose (2001), ins-
resolvemos correr o risco novamente. Avaliamos pirado em Paulo Freire, que a adesão ao trabalho
que, se não fosse possível tratar adequadamente de projetos fosse uma alternativa para a consti-
todos os temas estatísticos previstos na discipli- tuição de um conhecimento matemático crítico,
na “Estatística Aplicada à Educação”, os alunos opondo-se à “ideologia da certeza em Matemáti-
compensariam esse fato com a constituição de ca”. Imaginamos que esse trabalho possibilitaria
um conhecimento mais significativo. Essa signi- aos futuros pedagogos aquela aprendizagem da
ficação maior, de certa forma, favoreceria a mobi- Estatística na qual está presente o aspecto da
lização de conhecimentos prévios escolares, ou incerteza, do aleatório, do não-determinismo.
não, tanto os matemáticos como os estatísticos. Quanto à atitude negativa com relação à
Supúnhamos também que, em se tratando do Estatística, originada na aversão à Matemática,
ensino superior, o envolvimento dos estudantes parece que houve um avanço importante, como
com as tarefas seria mais eficiente em relação ao menciona Biajone (ibidem, p.151), que destaca “o
sucesso destas. Além disso, por ser um curso de nível de (re)significação da postura dos alunos da
Pedagogia, fomos levados a supor que o trabalho Pedagogia em relação ao saber estatístico como
em grupo fosse mais familiar àqueles alunos. uma resultante do prazer e da necessidade de
Biajone era recém-licenciado quando ini- aprender Estatística que o trabalho de projetos
ciou o mestrado. Tinha pouca experiência como realizado possibilitou despertar nestes alunos”.
professor de Matemática; podemos considerá-lo Uma outra vantagem, a de aprender a traba-
um professor iniciante (HUBERMAN, 1997). Em lhar em grupos, que avaliamos não haveria naquele
suas reflexões, ao cursar a disciplina “Prática de curso, foi revelada nas entrevistas dos participan-
Ensino de Matemática e Estágio Supervisiona- tes. Os alunos perceberam a importância de seu
do”, havia expressado – por escrito, nas mono- protagonismo nas aulas de Estatística no que se
grafias e resenhas, e oralmente, nos seminários refere, tanto à produção de saberes quanto ao seu
apresentados8 – sua insatisfação com as aulas envolvimento com essa área de conhecimento.
ditas “tradicionais” e seu encantamento por di-
nâmicas alternativas. Nas reuniões de orientação, Um primeiro destes benefícios residiu
fomos percebendo que desejávamos abandonar no fato de que ao se trabalhar em grupo,
os alunos participantes são estimulados
o que Alrø e Skovsmose (2006, p.25) chamam de a discutirem diferentes soluções e
absolutismo burocrático, advindo do absolutismo estratégias para um problema, bem
filosófico e que “vem à tona [em sala de aula] como aprender a debater, ponderar e
quando os erros (dos alunos) são tratados como acatar opiniões e contribuições alheias.
Pelos relatos obtidos, percebe-se que
absolutos. [...] Os alunos não são apresentados a este benefício foi vivenciado com
uma argumentação, mas a uma autoridade apa- a realização do projeto estatístico
rentemente uniforme e consistente [o professor], (BIAJONE, ibidem, p.155)
muito embora os reais motivos para as correções
possam ser bem outros”. Alguns benefícios ocorridos no trabalho
Além disso, sua experiência, embora pe- de Megid (ibidem) foram usufruídos também pe-
quena, como professor de “Estatística Aplicada à los alunos de Biajone (ibidem), como: constituir
Educação”, em cursos de Pedagogia, indicava-lhe e ampliar concepções sobre a Estatística e sobre
que a atitude negativa dos alunos com relação os instrumentos de organização e tratamento
à Matemática, transferida para a Estatística, não de informações, destacando-se a produção e a
era revertida com a abordagem tradicional com leitura de tabelas e gráficos – nesse aspecto o
a qual vinha trabalhando. Desejávamos estabe- uso do computador foi também um aprendizado
lecer uma dinâmica de cooperação investigativa importante –, além do cálculo de porcentagens.
(ALRØ; SKOVSMOSE, ibidem)9. Esperávamos, Além disso, o “zero” foi (re)significado, pois
não era considerado como número e, tampouco,
8
Esses comentários estão registrados no caderno de anota- como frequência, pelos estudantes.
ções da autora deste texto, que era a professora responsável
pela disciplina.
9
Para aprofundamento desta ideia, vide Alrø e Skovsmose estabeleça uma dinâmica de cooperação investigativa em
(2006), que indicam as características do diálogo para que se aulas de Matemática.
Provavelmente devido à maior escola- se como o outro a que Certeau (idem) se refere.
rização, os alunos de Biajone (ibidem, p.182) Tanto alunos como professor concordavam que
perceberam quanto eles se aprofundaram no a avaliação baseada em provas não reflete a
tema que resolveram investigar10 previamente à aprendizagem ocorrida e nem o ensino minis-
saída a campo: “nota-se pelo posterior registro trado. Entretanto, as providências para prevenir
em seus cadernos que aquela importância havia o fracasso com relação a elas são conhecidas, já
sido, de fato, reconhecida por eles, o que impli- tinham se constituído em táticas:
cou, inclusive, a ampliação e consolidação do
entendimento que os grupos passaram a ter do - aos alunos cabe “mecanizar/decorar” os
tema do projeto”. procedimentos de resolução de exercícios; e
Um quinto benefício do qual os alunos - ao professor, elaborar provas com exercícios
tomaram consciência e registraram em suas avalia- bem semelhantes aos resolvidos em aula
ções do curso foi a produção de novas informações e considerar, na correção, qualquer traço
a partir da leitura e da interpretação dos dados. de resolução apresentado.
Especificamente na formação do pedagogo, temos
outras duas vantagens destacadas por Biajone A avaliação de um tipo de trabalho no qual
(ibidem): “ser capaz de formular boas questões” a presença e as reflexões de aula são insubstituí-
(p.182); e elaborar “um instrumento de levanta- veis e não há como “copiar” a matéria do colega,
mento de dados” (p.183). Cada grupo “teve a chan- parecia àqueles estudantes impossível de ser
ce de contribuir para a construção do questionário realizada sem “grandes injustiças”. As outras dis-
a partir das questões que formulou, percebendo, ciplinas que avaliavam através de provas foram
neste processo, as demandas que um instrumento ocupando os espaços da Estatística Aplicada à
de levantamento de dados estatísticos poderia Educação e as tarefas foram delegadas aos colegas
exigir antes de sair a campo” (p.183-184). de grupo presentes às aulas e/ou ao professor,
Mas... que precisava que o projeto terminasse e seus
Apesar de, realmente, o envolvimento dos resultados fossem divulgados e comunicados.
alunos ter garantido maior eficiência das tarefas A nota requerida pela secretaria da escola seria
relativas ao projeto, Biajone (ibidem) destaca o fatalmente “injusta”, pois não havia como orde-
problema do necessário enfrentamento do que nar as produções que vinham realizando. Biajone
denominamos a cultura escolar estabelecida, o teve que recorrer a um sistema de “atribuição de
que ocorreu sob dois aspectos: um deles foi o sis- pontos” que lhe custou o aderir a um aspecto
tema de avaliação da aprendizagem com o qual da cultura escolar estabelecida que esperava
os estudantes e o professor estavam acostumados combater.
e tinham táticas para enfrentar. Referimo-nos à Outra decorrência do enfrentamento da
tática, como concebido por Certeau (1994, p.46), cultura escolar estabelecida que se constituiu
ou seja, esta é: como uma limitação do trabalho com projetos
foi o desempenho dos grupos: somente quatro
um cálculo das relações de forças dos sete grupos terminaram o curso com algu-
que se torna possível a partir do ma coesão. Os componentes mais frequentes
momento em que um sujeito de
querer e poder é isolável de um
às aulas dos outros três grupos manifestaram,
“ambiente”. A tática só tem por seis meses depois do final do curso, seu des-
lugar o do outro. Ela se insinua, conforto em ter de assumir as tarefas sozinhos.
fragmentariamente, sem apreendê- Há dois pontos que, de certa forma, nos pare-
lo por inteiro, sem poder retê-lo à cem paradoxais: nenhum aluno participante
distância. Ela não dispõe de base
onde capitalizar os seus proveitos, da pesquisa manifestou discordância quanto
preparar suas expansões e assegurar à importância daquele tipo de trabalho em
uma independência em face das aulas de Estatística, e durante o desenvolvi-
circunstâncias. mento do projeto nenhum aluno manifestou
A cultura escolar estabelecida constitui- esse desconforto, mesmo tendo um caderno
no qual poderia fazer observações desse tipo.
Esse último ponto, provavelmente, deve-se a
10
Crianças com necessidades educacionais especiais.
Os alunos das duas 6as séries e os do curso contemplaria mais os instrumentos estatísticos, o
de Pedagogia haviam feito as inferências mais que realmente ocorreu. Um dos grupos, inclusive,
simples, mas tínhamos dúvidas sobre a consti- considerou que, por haver uma grande concentra-
tuição de um conhecimento estatístico que se ção de alunos na primeira faixa etária13, a tabela de
transformasse em instrumento de análise, que idades dos alunos informaria mais que o gráfico.
aguçasse o olhar dos alunos para a produção de Assim, colocaram-na em seu pôster.
informação possível a partir dessa aprendiza- Quanto ao trabalho em grupo, parece que
gem. Ou seja, parecia-nos fundamental superar a hipótese levantada em texto anterior (LIBE-
a limitação do trabalho com projetos referente RATO; CARVALHO, 2006, p.5) confirmou-se no
à aprendizagem da Estatística: tínhamos que desenvolvimento do projeto de Conti: “os alunos
estabelecer ideias que seriam abordadas de [de EJA] consideram que existe uma cooperação
forma a poder constar em um rol programático entre colegas de diferentes faixas etárias”. Sendo
de temas que os alunos tivessem consciência de assim, os grupos vêm trabalhando colaborativa-
ter estudado conosco. Sendo assim, incluímos, mente e apresentando até aqui uma produção
no apertado cronograma de Conti, a elaboração que pode ser considerada de boa qualidade para
de uma síntese das ideias estatísticas – registra- uma 7a série do ensino fundamental: as sínteses
da pelos alunos nos portfolios individuais que elaboradas foram anotadas nos portfolios indi-
produziram. viduais, e as conclusões de cada grupo estão
No que se refere à contagem das respostas presentes nos pôsteres.
dadas às questões dos questionários, não apa- Quanto ao enfrentamento da cultura
receram às questões que Megid (ibidem) relata. escolar estabelecida, a “autonomia” que os
Podemos supor que o ocorrido deva-se ao fato professores paulistas têm tido na avaliação da
de Conti ter elaborado instrumentos de confe- aprendizagem de seus alunos e a valorização
rência mais eficientes. Entretanto, levantamos do projeto pela direção da escola, permitindo a
outras duas hipóteses sobre esse sucesso dos divulgação à comunidade, têm mantido os alu-
alunos de EJA, confirmadas por passagens nos nos envolvidos, mesmo considerando não serem
diários de campo dos licenciandos e por remi- mais alunos de Conti14 e já estarem cursando
niscências da autora12. Uma primeira suposição a 8a série no semestre em que este artigo está
é que esses estudantes valorizam mais essa tarefa sendo escrito.
mecânica de contagem, pois têm mais consciên-
cia da importância das tabelas que estão sendo O tempo para a superação
construídas como instrumento de, pelo menos,
organização dos dados. Podemos supor, também, Durante o desenvolvimento dos projetos
que eles têm mais paciência com as limitações de ensino de Estatística, nossa sensação é de que
humanas em tarefas desse tipo, talvez com base estamos elaborando estratégias para enfrentar a
em experiências não-escolares. Resta-nos a ques- cultura escolar, mas temos receio que estejamos
tão: este trabalho necessitaria de alunos mais criando apenas táticas com relação ao tempo,
velhos? Perguntamo-nos também se os recursos pois, como postula Certeau (ibidem, p.47), como
de informática não resolveriam esse problema sujeitos de querer e poder, não somos isoláveis de
sem aprisionar os adolescentes. um ambiente a ponto de o nosso próprio tempo
Outro problema encontrado por Biajone vencer o “tempo escolar”; além disso, “pelo fato
(ibidem) que procuramos superar diz respeito à úl- do seu não-lugar, a tática depende do tempo,
tima fase do projeto: a divulgação e comunicação vigiando para ‘captar no voo’ possibilidades de
dos resultados. Desejávamos que ela fosse a sexta ganho”. Temos constantemente que jogar com os
fase do método estatístico: a análise e interpreta-
ção dos dados baseadas nas tabelas e nos gráficos 13
Os alunos que responderam aos questionários eram, em sua
construídos. Conti então avaliou que um pôster, maioria, de classes regulares, e não da EJA, daí a concentração
na faixa etária de 14 a 18 anos.
que privilegia mais os aspectos de ilustração, 14 Por determinação de seu contrato com a agência financia-
dora, Conti teve de se exonerar de seu cargo de professora
12
Durante nove anos de trabalho como professora de Mate- efetiva do Estado de São Paulo para receber a bolsa. A pessoa
mática de EJA, a autora teve oportunidade de desenvolver que a substituiu aceitou que ela continuasse a desenvolver seu
vários projetos com seus alunos. trabalho de campo na classe na qual já havia começado.
dando continuidade ao projeto de ensino de LIBERATO, Gilberto S.; CARVALHO, Dione L. de. A
Estatística. Quais avanços conseguiremos no relação entre adolescentes e adultos nas aulas de Ma-
trabalho de Conti e de Liberato? temática de EJA (Educação de Jovens e Adultos). In:
Anais... VIII EPEM – Encontro Paulista de Educação
Matemática, São Paulo, 24 a 26 ago. 2006, CD-ROM.
Referências LOPES, Celi Aparecida E. (org.). Matemática em
projetos: uma possibilidade! Campinas/SP: FE/
ALRØ, Helle; SKOVSMOSE, Ole. Diálogo e Unicamp; Cempem, 2003.
aprendizagem em Educação Matemática. Tra-
dução de Orlando Figueiredo. Belo Horizonte: LOPES, Celi Aparecida E. Literacia estatística e o
Autêntica, 2006. INAF 2002. In: FONSECA, Maria da Conceição F.
R. (org.). Letramento no Brasil: habilidades ma-
BIAJONE, Jefferson. Trabalhos de projetos: pos- temáticas: reflexões a partir do INAF 2002 – São
sibilidades e desafios na formação estatística do Paulo: Global: Ação Educativa Assessoria, Pesquisa
pedagogo. Campinas/SP. Dissertação de Mestrado e Informação. Instituto Paulo Montenegro, 2004,
em Educação, FE/Unicamp, 2006. p.187-197.
CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: MEGID, Maria Auxiliadora B. A. Professores e
1. Artes de fazer. Tradução de Ephraim F. Alves. alunos construindo saberes e significados em
Petrópolis/RJ: Vozes, 1994 (publicado em francês um projeto de Estatística para a 6a série: estudo
em 1990). de duas experiências em escolas pública e parti-
CONTI, Keli Cristina. Projetos colaborativos entre cular. Campinas/SP. Dissertação de Mestrado em
estagiários licenciandos em Matemática e profes- Educação, FE/Unicamp, 2002.
sores da escola básica: a Estatística na Educação de PAMPLONA, Admur Severino; CARVALHO,
Jovens e Adultos. Submetido à Fapesp (Fundação Dione L. de. Ensino de Estatística e práticas pe-
de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo) em dagógicas. In: Anais... SIPEMAT – Simpósio In-
2006, aprovado em 2007, processo nº 06/59154-3. ternacional de Pesquisa em Educação Matemática,
CORTESÃO, Luiza; LEITE, Carlinda; PACHECO Recife, 10 a 14 jul. 2006, CD-ROM.
José Augusto. Trabalhar com projetos em Edu- RÉGNIER, Jean-Claude. Formação do espírito
cação. Uma inovação interessante? Porto: Porto estatístico e cidadania: instrumentos matemáticos
Editora, 2002. para a leitura do mundo. In: Anais ... SIPEMAT,
HUBERMAN, M. O ciclo de vida profis- Recife, 10 a 14 jul. 2006, CD-ROM.
sional dos professores. In: NÓVOA, A. SKOVSMOSE, Ole. Educação Matemática crítica:
( o r g . ) . V i d a s d e p r o f e s s o r e s . Po r - a questão da democracia. Tradução de Abgail
t o : Po r t o E d i t o r a , C o l e ç ã o C i ê n c i a s d a Lins e Jussara de Loiola Araújo. Campinas/SP:
Educação, n.4, 1997. Papirus, 2001.
Artigo encomendado.
permitiu rever e construir novos conhecimentos Para Van de Walle (2001), a resolução de pro-
de Matemática com compreensão e significado. blemas deve ser vista como a principal estratégia de
ensino, e ele chama a atenção para que o trabalho
A resolução de problemas como de ensinar comece sempre onde estão os alunos, ao
metodologia de ensino contrário da forma usual em que o ensino começa
onde estão os professores, ignorando-se o que os
Para Van de Walle (2001), muitas vezes se alunos trazem consigo para a sala de aula. Diz ainda
fala em trabalhar com problemas para ensinar que o valor de se ensinar com problemas é muito
matemática sem se ter uma ideia clara do que é grande e que, apesar de ser difícil, há boas razões
um problema. Há muitas diferentes concepções de para empreender esse esforço.
problema. Para nós, é tudo aquilo que não sabe- O ensino-aprendizagem de um tópico
mos fazer, mas que estamos interessados em fazer. matemático deve sempre começar com uma
Para ele, um problema é definido como qualquer situação-problema que expressa aspectos-chave
tarefa ou atividade para a qual os estudantes não desse tópico, e técnicas matemáticas devem ser
têm métodos ou regras prescritas ou memorizadas desenvolvidas na busca de respostas razoáveis
e nem a percepção de que haja um método espe- à situação-problema dada. O aprendizado, des-
cífico para chegar à solução correta. se modo, pode ser visto como um movimento
Assim é importante reconhecer que a ma- do concreto (um problema do mundo real que
temática deve ser trabalhada através da resolução serve como exemplo do conceito ou da técnica
de problemas, ou seja, que tarefas envolvendo operatória) para o abstrato (uma representação
problemas ou atividades sejam um veículo pelo simbólica de uma classe de problemas e técnicas
qual um currículo pode ser desenvolvido. A para operar com esses símbolos).
aprendizagem será uma consequência do pro- Sem dúvida, ensinar matemática através
cesso de resolução de problemas. da resolução de problemas é uma abordagem
Vale relembrar que, em 1989, a publicação consistente com as recomendações do NCTM3
Curriculum and Evaluation Standards1 (NCTM, e dos PCN4 (BRASIL, 1997, 1998, 1999), pois
1989) dizia que a resolução de problemas deveria conceitos e habilidades matemáticos são apren-
ser o objetivo principal de todo o ensino de mate- didos no contexto da resolução de problemas. O
mática e uma parte integrante de toda a atividade desenvolvimento de processos de pensamento de
matemática, e que os alunos deveriam fazer uso alto nível deve ser promovido através de experi-
de abordagens em resolução de problemas para ências em resolução de problemas, e o trabalho
investigar e compreender os conteúdos matemá- de ensino de matemática deve acontecer num
ticos. Durante dez anos permaneceu evidente ambiente de investigação orientada em resolução
a ideia de que resolução de problemas era um de problemas.
veículo forte e eficiente para a aprendizagem ma- Em nossa visão, a compreensão de mate-
temática. Os Standards2 (NCTM, 2000) afirmam, mática, por parte dos alunos, envolve a ideia de
de uma maneira convincente, que resolução de que compreender é essencialmente relacionar.
problemas não é só um objetivo da aprendizagem Essa posição baseia-se na observação de que a
matemática, mas, também, um meio importante compreensão aumenta quando o aluno é capaz
para se fazer matemática. Essa visão, mesmo de: relacionar uma determinada ideia matemá-
hoje, está longe de ser alcançada. Entretanto, na tica a um grande número ou a uma variedade de
sala de aula, onde os professores têm adotado contextos, relacionar um dado problema às mui-
essa abordagem, o entusiasmo de professor e tas ideias matemáticas implícitas nele e construir
alunos é alto e ninguém quer voltar a trabalhar relações entre essas várias ideias matemáticas.
com a forma de ensino tradicional. Ressalte-se que as indicações de que um estudan-
te entende, interpreta mal ou não entende ideias
matemáticas específicas surgem, com frequência,
1
Curriculum and Evaluation Standards for School Mathema-
tics – Padrões Curriculares e de Avaliação para a Matemática
quando ele resolve um problema.
Escolar (EUA).
2
Standards 2000 – Principles and Standards for School Ma- 3
National Council of Teachers of Mathematics – Conselho
thematics – Princípios e Padrões para a Matemática Escolar Nacional de Professores de Matemática (EUA).
(EUA). 4
Parâmetros Curriculares Nacionais (Brasil).
régua, mas não é tão fácil medir o volume da Os 8 setores podem ser arranjados numa
mesma caixa. Usando uma fórmula, o volume figura “próxima de um paralelogramo”, assim:
pode ser determinado a partir das medidas dos
comprimentos.
Embora as fórmulas se apresentem como
caminhos eficientes para determinar medidas,
infelizmente elas podem mascarar o que está
sendo medido. Por exemplo: quando a fórmula
do volume refere-se às medidas dos lados de
um objeto tridimensional, os estudantes se con- Figura 2: Figura formada por 8 setores
fundem quanto à forma de unidades lineares
transformarem-se em unidades cúbicas. Se, ao invés de 8, construíssemos 24 seto-
Uma das descobertas mais interessantes res, essa figura ficaria “muito mais próxima de
que as crianças podem fazer é a de buscar a rela- um paralelogramo”:
ção entre o comprimento C da circunferência de
um círculo (a distância que circunda o círculo
ou o perímetro) e o comprimento D do diâmetro
(uma reta que passa pelo centro ligando dois
pontos da circunferência). O comprimento da
circunferência de um círculo é cerca de 3,14
vezes o comprimento do diâmetro. A razão exata
entre C e D é um número irracional próximo de Figura 3: Figura formada por 24 setores
3,14 e é representado pela letra grega π. Assim,
π = C/D, o comprimento da circunferência Como o número de setores pode se tornar
dividido pelo seu diâmetro. Ou, de uma forma bem maior, a figura então se tornará “mais e mais
diferente, C = πD. Como metade do diâmetro próxima de um retângulo”, que é um particular
é o raio r, então a mesma equação pode ser paralelogramo:
escrita C = 2πr.
A busca de uma fórmula para o cálculo
da área A de um círculo pode ser feita de várias
maneiras. Uma delas, utilizando um trabalho
manual com os alunos, poderia ser realizado
tomando-se um círculo e dividindo-o em 8 se-
tores, todos tendo a mesma área:
Figura 4: Área do retângulo
Uma pergunta que o professor deve fazer, Dado um certo tempo, cada participante
nessa situação, aos alunos seria: O que se entende começou a mostrar o seu cilindro, construído a
por perímetro? Como se mede o perímetro? Depois partir da folha recebida, medindo 20cmx30cm.
de chegar a essas definições, pode-se enfatizar Uns tinham por base um círculo menor (maior)
que as unidades usadas para medir o perímetro e uma altura maior (menor), assim:
são unidimensionais ou lineares, e que o perí-
metro é exatamente a medida do comprimento
da linha que circunda o objeto.
De modo análogo, deve-se perguntar: O
que se entende por área? Como se mede a área?
Aqui é preciso tornar explícito que as unidades
usadas para medir a área são bidimensionais e
que, portanto, cobrem a região.
As relações entre as fórmulas para medir o
volume são completamente análogas àquelas usa- Cilindro C1
das para a área. Note-se que há semelhanças entre
retângulos e prismas retos, entre paralelogramos
e prismas oblíquos e entre triângulos e pirâmides.
Não somente as fórmulas estão relacionadas, mas
também o processo para o desenvolvimento das
fórmulas é semelhante. As unidades usadas para
medir o volume são tridimensionais e preenchem
todo o espaço ocupado pelo sólido. Figura 5: Cilindros de dois tamanhos constru-
ídos com folhas com mesmas dimensões
Uma aplicação da metodologia a um (20cm x 30cm)
problema de geometria
Ao ouvir os alunos, pudemos sentir várias
Os fatos que serão relatados nesta seção ocor- respostas concordando com Jorge, outras com
reram durante um minicurso do qual participaram Ema e outras com Laura.
professores em formação inicial, alunos de licencia- Pedindo que as diferentes respostas fos-
tura em Matemática e professores em exercício nos sem justificadas, pudemos registrar algumas
níveis fundamental, médio e superior de ensino. delas: uns diziam que o volume V1 de C1 é maior
O problema5 a seguir foi proposto aos do que o volume V2 de C2, visto que a altura h1 é
participantes. bem maior que h2; outros, por sua vez, defendiam
que V2 é maior que V1, pois que o círculo da base
A professora Norma entregou a B2 de C2 era maior que B1; mas a que com mais
cada um de seus alunos uma fo- frequência se ouviu foi que V1 é igual a V2, já que
lha de papel, de 20 cm por 30 cm, os cilindros foram construídos a partir da mesma
e fita adesiva. Ela lhes pediu para folha de papel A.
enrolar o papel e fazer um cilindro. Os alunos seguiram as
instruções, mas seus cilindros se mostraram de dois tama- Haveria alguma forma concreta para
nhos diferentes. A professora pediu, então, que determinas- justificar isso?
sem qual desses dois cilindros tinha o maior volume.
Jorge disse: – No meu cabe mais, porque é mais alto. Chamamos alguns participantes à frente e,
Ema disse: – No meu cabe mais, porque é mais largo. numa mesa, pedimos que pusessem de pé o cilin-
Laura disse: – Eles devem conter a mesma quanti- dro mais alto dentro do cilindro mais largo:
dade, porque foram feitos a partir de folhas de papel de
mesmo tamanho.
Quem está certo? Como você sabe?
5
Adaptado de Krulik e Rudnick (2005).
V1 = π r12 h 1
A = 20 cm x 30 cm
r1 = 3,18 cm
h1 = 30 cm
B1 = π r12 =
= 3,14 . (3,18 cm)2 =
= 31,75 cm2
V1 = B1h 1 =
= 31,75 cm2 . 30 cm =
= 952,5 cm3
que, quando um aluno entende o que está fa- NATIONAL Council of Teachers of Mathematics.
zendo ao resolver um problema, ele se vê como Curriculum and Evaluation Standards for School
alguém capaz de raciocinar por si mesmo e de Mathematics. Reston, V. A.: National Council of
Teachers of Mathematics, 1989.
buscar descobrir caminhos para a sua resolução.
Entretanto, é necessário, para isso, que o pro- ______. Principles and Standards for School
Mathematics. Reston, V. A.: National Council of
fessor, como guia e orientador, esteja preparado Teachers of Mathematics, 2000.
para ser o veículo que conduz os alunos nesse
empreendimento. ONUCHIC, L. R. Ensino-aprendizagem de Ma-
temática através da resolução de problemas. In:
BICUDO, M. A. V. Pesquisa em Educação Mate-
Referências mática. São Paulo: Editora UNESP, 1999. cap.12,
p.199-220.
ALLEVATO, N. S. G.; ONUCHIC, L. R. O ensino ONUCHIC, L. R.; ALLEVATO, N. S. G. Novas
de números racionais e proporcionalidade atra- reflexões sobre o ensino-aprendizagem de ma-
vés da resolução de problemas. In: Conferência temática através da resolução de problemas. In:
Interamericana de Educação Matemática, 12., Bicudo, M. A. V.; Borba, M. C. (orgs). Educação
2007. Anais... Santiago de Querétaro: Benemérita Matemática – pesquisa em movimento. 2.ed. São
Escuela Normal de Querétaro, 2007. 1 CD-ROM. Paulo: Cortez, 2005. p.213-231.
p.1-12.
ONUCHIC, L. R.; ALLEVATO, N. S. G. Formação
BRASIL. MEC. Parâmetros Curriculares Nacio- de Professores – Mudanças urgentes na licencia-
nais: Matemática – 1o e 2o ciclos (1997). Brasília, tura em Matemática. In: FROTA, M. C. R.; NASSE,
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______. MEC. Parâmetros Curriculares Nacionais: perior: pesquisas e debates. Recife: SBEM, 2009.
Matemática – 3o e 4o ciclos (1998). Brasília, DF. p.169-187.
______. MEC. Parâmetros Curriculares Nacionais: Van de Walle, J. A. Elementary and Middle
Matemática – Ensino médio (1999). Brasília, DF. School Mathematics. New York: Longman, ed.4,
2001. 478p.
KRULIK, S.; Rudnick, J. A. Problem-Driven
Math: Applying the Mathematics Beyond Solu- Van de Walle, J. A.; LOVIN, H. L. Teaching
tions. Chicago, IL: Wright Group/McGrawHill, Student-Centered Mathematics. Grades 5–8. New
2005. York: Pearson, 2006.
Lourdes de la Rosa Onuchic – Professora aposentada pelo ICMC – USP – São Carlos/SP. Docente voluntária, orientadora e
pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática – UNESP – Rio Claro/SP.
Norma Suely Gomes Allevato – Doutora em Educação Matemática pela UNESP – Rio Claro/SP. Professora e pesquisadora do
Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática da Universidade Cruzeiro do Sul – São Paulo/SP.
Artigo encomendado.
MODALIDADES DE PUBLICAÇÃO
Trabalhos científicos na área de Educação Matemática e suas tendências, constituídos de pes-
quisas ou relatos de experiências em sala de aula.
O artigo deve ser escrito no editor Word, formato “doc”, com as seguintes especificações:
a) folha A4, com margens esquerda e superior de 3cm, direita e inferior de 2cm;
b) fonte Times New Roman, tamanho 12, parágrafo com recuo de 1,5cm da margem esquerda;
c) título centralizado, em caixa-alta, negrito, fonte 14;
d) um espaço abaixo, título em inglês, centralizado, negrito, fonte 12;
e) um espaço abaixo, nome do(s) autor(es), em fonte 10, alinhamento à direita, com nota ao final
do texto indicando sua(s) função(ões) e instituição a que pertence;
f) um espaço abaixo, escreva “Resumo”, em negrito, alinhado à esquerda;
g) um espaço abaixo, o texto do resumo (até 250 palavras);
h) um espaço abaixo, escreva “Palavras-chave:” e em seguida indique de três a cinco palavras-
chave, separadas por ponto;
i) um espaço abaixo, escreva “Abstract”, em negrito, alinhado à esquerda;
j) um espaço abaixo, o texto do abstract;
k) um espaço abaixo, escreva “Keywords:” e em seguida indique as mesmas palavras-chave, agora
em inglês;
l) um espaço abaixo, inicie o texto do artigo;
m) os subtítulos devem ser alinhados à esquerda, destacados em negrito, separados do texto que
os precede por um espaço;
n) a identificação das ilustrações (desenhos, esquemas, gráficos, quadros e outros) deve aparecer
na parte inferior das mesmas, precedida da palavra designativa, seguida de seu número de
ocorrência no texto, em algarismos arábicos, do respectivo título ou legenda explicativa. A
ilustração deve ser centralizada e inserida o mais próximo possível do trecho a que se refere;
o) as tabelas têm normas específicas: sua identificação deve aparecer na parte superior, precedida
da palavra designativa, seguida de seu número de ocorrência no texto, em algarismos arábicos,
do respectivo título ou legenda explicativa;
p) as notas de rodapé devem ser numeradas sequencialmente, em algarismos arábicos, fonte 10,
espaço simples;
q) as referências, ao final do trabalho, devem estar em espaço simples, fonte 12, separadas entre
si por dois espaços simples e seguindo a Norma 6023 da ABNT, disponível, por exemplo, em
http://biblioteca.fop.unicamp.br/ManualSimplificado1.pdf;
r) recomenda-se que o texto não ultrapasse 20 laudas.
PUBLICAÇÃO
Os trabalhos remetidos para publicação serão submetidos à apreciação de membros do Conselho
Consultivo, de acordo com as especificidades do tema, ou a consultor ad hoc, sendo o(s) autor(es)
comunicado(s), por meio de correspondência, da aceitação ou recusa dos artigos. O artigo pode ser
encaminhado por meio eletrônico acompanhado de uma declaração de que o texto terá exclusivida-
de para a revista. Havendo necessidade de alterações de conteúdo do texto, será sugerido ao autor
que as faça e devolva no prazo estabelecido. O conteúdo e a correção gramatical dos originais são de
inteira responsabilidade dos autores. O Conselho Consultivo não se responsabiliza pela devolução
dos originais remetidos.
SBEM – RS
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FICHA DE INSCRIÇÃO
NOME: .......................................................................................................................
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DATA DE NASCIMENTO: ...../ ...../ ..... DATA DE FILIAÇÃO: ...../ ...../ .....
* Prenchimento obrigatório
EVENTOS
III Jornada Nacional de Educação Matemática e XVI Jornada Regional de Educação Matemática
4 a 7 de maio de 2010
UPF – Passo Fundo – RS – Brasil – Home page: http://www.upf.br/jem
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