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Organização:
Aline Fonte
Rodrigo Fomel

1ª edição
Rio de Janeiro
2018

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Caixa Econômica Federal 08
Atlas Cultural 10
Sobre Wes Anderson 12
Sobre o projeto 16
Introdução Aline Fonte e Rodrigo Fomel 20
Apresentando o cinema de Wes Anderson Sérgio Alpendre 24
A trilha sonora na obra de Wes Anderson Arre Colares 36
As pequenas estranhezas na arte de Wes Anderson Felipe Muanis 42
Entre o Cinema e a Psicanálise com Wes Anderson Abílio Ribeiro 60
Filmes 66
Pura adrenalina Bottle Rocket 68
Três é demais Rushmore 72
Os excêntricos Tenenbaums The Royal Tenenbaums 76
A vida marinha com Steve Zissou The Life Aquatic with Steve Zissou 80
Hotel Chevalier Hotel Chevalier 84
Viagem a Darjeeling The Darjeeling Limited 88
O fantástico Sr. Raposo Fantastic Mr. Fox 92
SUMÁRIO Moonrise Kingdom Moonrise Kingdom 96
O Grande Hotel Budapeste The Grand Budapest Hotel 100
Sobre o evento 104
Ficha técnica 106

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A CAIXA é uma empresa pública brasileira que prima pelo respeito
à diversidade, e mantém comitês internos atuantes para promover
entre os seus empregados campanhas, programas e ações voltados
para disseminar ideias, conhecimentos e atitudes de respeito e
tolerância à diversidade de gênero, raça, orientação sexual e todas
as demais diferenças que caracterizam a sociedade.
A CAIXA também é uma das principais patrocinadoras da
cultura brasileira, e destina, anualmente, mais de R$ 80 milhões
de seu orçamento para patrocínio a projetos nas suas unidades
da CAIXA Cultural além de outros espaços, com ênfase para
exposições, peças de teatro, espetáculos de dança, shows,
cinema, festivais de teatro e dança e artesanato brasileiro. Os
projetos patrocinados são selecionados via edital público, uma
opção da CAIXA para tornar mais democrática e acessível a
participação de produtores e artistas de todo o país.
A mostra MUITO ALÉM DOS TENENBAUMS é uma retrospectiva
que exibirá pela primeira vez no Brasil filmografia completa do
premiado diretor e roteirista estadunidense Wes Anderson.
CAIXA ECONÔMICA FEDERAL Ao patrocinar mais esta mostra para o público carioca, a
CAIXA reafirma sua política cultural de estimular a discussão e a
disseminação de ideias, promover a pluralidade de pensamento,
mantendo viva sua vocação de democratizar o acesso à
produção artística contemporânea.

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ATLAS CULTURAL é uma produtora cultural carioca.
Realizamos ações que envolvam desenvolvimento humano
através de projetos de produção artística e difusão da cultura.
Enfatizamos o impacto positivo à sociedade, a responsabilidade
ambiental e o comprometimento educacional. Valorizamos os
processos nos quais o público contribui e colabora ativamente.
Acreditamos que através da arte, da cultura e da educação,
seremos uma população mais crítica e politizada, que discute e
dialoga reflexivamente suas próprias questões. Confiamos em
interações mais participativas entre público e obras, e em um
público com hábitos e demandas culturais próprios.
Acreditamos no desenvolvimento humano e na ciência de
si mesmo, de seus poderes, direitos e responsabilidades na
ATLAS CULTURAL sociedade.

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W es Anderson realiza curtas e longas-metragens para cinema
e televisão desde a década de 1990, quando começou de
forma independente. Seu curta-metragem Bottle Rocket foi aceito
no Sundance Film Festival e no Dallas-based USA Film Festival,
chamando a atenção do diretor Martin Scorsese, do crítico Matt
Zoller Seitz, entre outros. Com o sucesso das exibições, Wes
recebeu fundos para produzir um longa-metragem a partir do
curta.

O realizador está em plena atividade atualmente e, ao longo


da carreira, já recebeu muitas indicações e prêmios em diversas
categorias, nos mais importantes festivais de cinema pelo mundo,
como o Oscar e o BAFTA. Seu reconhecimento provém de
SOBRE WES ANDERSON
dois pilares fundamentais em sua obra: o apreço estético e as
abordagens temáticas polêmicas e ambivalentes.

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Suas obras mesclam experiências pessoais com conteúdos de
interesse do público. De maneira expressiva, fazem-se presentes
motivos como busca interior, vínculos afetivos, preconceitos,
sofrimento decorrente de questões existenciais e núcleos
familiares problemáticos. Soma-se a isso o notável cuidado
técnico com a arte e o figurino, por meio das cores e decupagem
impecável, detectável pela peculiar simetria que se torna uma
assinatura do diretor em seus filmes. Como resultado, o autor
oferece filmes com alta qualidade técnica para apresentar
polêmicas perspectivas de assuntos relevantes para a sociedade.

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M uito além dos Tenenbaums é uma mostra de cinema
em formato de retrospectiva. Nela, propomos a exibição
de todos os longas-metragens do realizador Wes Anderson,
lançados para cinema, pela primeira vez na cidade do Rio de
Janeiro. A força da proposta está em trazer o maior número de
filmes em formato digital de alta qualidade, dando oportunidade
ao público de acessar os filmes com grande qualidade técnica.
A realização da mostra na cidade do Rio de Janeiro, que abriga
em suas redondezas alguns dos cursos de cinema e audiovisual
mais relevantes e inclusivos do Brasil, torna-se oportuna pois
oferecerá a um público em formação um espaço de capacitação
que abrangerá processos de intercâmbio e atualização. As
palestras e o debate terão papel fundamental para esse público.
SOBRE O PROJETO Convidamos profissionais e acadêmicos capacitados no tema e
no recorte da mostra.

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Entendendo a relevância de Wes Anderson no cenário cultural Aline Fonte Rodrigo Fomel
internacional e a riqueza das trocas artísticas entre o Brasil e Produtora formada no curso de Produção Formado em Comunicação Social (Publicidade
os demais países, torna-se latente a necessidade de discutir Cultural da Universidade Federal Fluminense. e Propaganda) pela Universidade Federal
sua obra com o público brasileiro. O recorte escolhido para as Integrou equipe de produção de diversos Fluminense. Possui sete anos de atividade
atividades paralelas, dividido entre aspectos técnicos dos filmes projetos audiovisuais, como o programa de nas áreas de design gráfico, audiovisual,
e psicossociais dos temas, confirma sua relevância por selecionar TV “Cultura da Periferia”, do Canal Brasil e produção de conteúdo e produção cultural,
as duas áreas notáveis da obra do realizador – a forma e o o documentário “Augusto Boal e o Teatro do com experiência nos setores público e privado
conteúdo – permeados pelo impacto de seu estilo peculiar. Oprimido”. Foi produtora de “Forasteira”, em funções administrativas e de gerência de
premiado em festivais nacionais, e do ciclo de projetos. Entre outras atividades, trabalhou na
Outro aspecto imprescindível é a disponibilização de literatura em
oficinas “Cinema em Movimento” patrocinado comissão de eventos do “Jubileu de Ouro da
língua portuguesa sobre a obra de Wes Anderson, que incentivará
pelos Correios. Foi produtora da “Mostra de Universidade Federal Fluminense” (2010); na
a produção de textos inéditos de autores brasileiros sobre o
Cinema Juventude e Rebeldia”, na CAIXA “Mostra de Cinema Juventude e Rebeldia”,
assunto. O catálogo representará fonte significativa de pesquisa.
Cultural RJ em 2014. Seus trabalhos mais realizada na Caixa Cultural do Rio de Janeiro
recentes são o livro “Poemas sem Roteiro: O (2014); na websérie “MochilãoBR”, do
Trovador do Século 21” e a mediação da Ministério do Planejamento (2014); no “Festival
Aline Fonte e Rodrigo Fomel
exposição “Palavra Líquida: Questões de do Rio” (2013) e no longa-metragem “O Duelo”
Produtores da mostra Muito além dos Tenenbaums
Gênero”, no SESC. No início de 2016, abriu a (2014), realizados pela Total Entertainment.
produtora Atlas Cultural, da qual é diretora. Desde 2014 atua no mercado editorial,
em publicações como a revista “Religião &
Sociedade” e o livro “Poemas sem Roteiro: O
Trovador do Século 21”. No início de 2016,
abriu a produtora Atlas Cultural, da qual é diretor.

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Iniciar o ano de 2018 abrindo uma mostra que traz a
retrospectiva cinematográfica de Wes Anderson é como
realizar um objetivo muito estimado. Na cidade do Rio de
Janeiro, importante polo cultural brasileiro, reunir toda a obra
cinematográfica de longa-metragem do autor, junto com palestras
e debate e ainda a publicação de textos inéditos, produzidos
especialmente para o evento, é mais do que concretizar; é ir
além das metas imaginadas.
No ano em que o cineasta lançará seu 9º longa-metragem,
a animação Isle of Dogs (ainda sem título em português),
iniciaremos os dias de janeiro celebrando sua filmografia e
trazendo sua icônica obra para o centro das discussões.
Reconhecido pela academia e pela crítica, o realizador tem
construído uma carreira notável, colecionando indicações e
prêmios nos principais festivais do mundo, junto com sua equipe
INTRODUÇÃO técnica brilhante. Da imagem impecável ao som transcendental,
Wes Anderson constrói histórias que aproximam o público
de seus personagens imperfeitos e fantásticos, ainda que tão
familiares. Ele nos convida a compartilhar de seus ambientes

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milimetricamente construídos e nos empresta seu olhar preciso O catálogo da mostra representa nosso esforço de fazer nascer
e enigmático por meio de seus planos e movimentos de câmera e circular o pensamento gestado no Brasil sobre a obra do
minuciosamente planejados. autor. De entrar no circuito, colaborar com a produção de
conhecimento tão importante, aceitar suas influências.
Para além do sucesso no meio cinematográfico, Wes Anderson
vem também conquistando apaixonado público. Suas histórias e A mostra Muito além dos Tenenbaums tem intenção de
personagens tocam pelo afeto e pela identificação. É o torpor da trazer uma experiência de imersão durante duas semanas na
fantasia morna carregada de uma realidade brutal. obra de Wes Anderson e de alguns desses recortes possíveis.
As questões familiares complicadas, os conflitos dos jovens, a Por meio de palestra e debate, apresentamos pontos de vista
fragilidade das crianças e a aura de frustração e apatia que sobre os itens mais relevantes de sua obra. Imagem e som, o que
ronda os adultos em sua obra trazem recortes incomuns de torna sua obra um genuíno artigo audiovisual completo. Para
relações e personalidades. Em pouco tempo, tornou-se tão caro celebrar os ilustres personagens, as questões e relações postas
e necessário ao público rediscutir os temas comuns aos filmes de nos filmes, será colocado o recorte da análise psicanalítica.
Anderson, da maneira que ele as coloca. É um dos principais O público está convidado a participar desta programação de
autores vivos em plena atividade, no circuito hollywoodiano, forma ativa, interagindo com convidados e curadoria, seja com
cuja obra é composta de filmes com assinatura própria e mantém perguntas, respostas e compartilhamento de ideias.
público fiel e conhecedor.
Desejamos que o público carioca e visitante da cidade conheça
É interessante a diversidade de material que discute e celebra a mais do que os clichês, mais do que as cores, do que os títulos
obra de Wes Anderson: livros, edições de luxo, de colecionador, de sucesso. Mais do que os prêmios e bilheterias, queremos
extras, artigos… Parece que seus filmes têm por natureza o que o público conheça e recorde Wes Anderson muito além dos
poder de suscitar reflexões acerca dos mais variados temas. Não Tenenbaums.
basta assistir; é preciso extrapolar o filme. Sem dúvida, há muito
Aline Fonte e Rodrigo Fomel
conteúdo, tanto plástico quanto conceitual.
Curadores da mostra Muito além dos Tenenbaums

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O crítico e cineasta francês François Truffaut dizia que
todo o cinema de um diretor poderia estar contido em seu
primeiro longa, em forma de marcas que seriam melhoradas ou
diluídas nos filmes seguintes (é uma perspectiva exclusivamente
autoral, mas nos serve aqui). Isso se aplica a muitos diretores
e, certamente, aplica-se a Wes Anderson, diretor de poética
inconfundível, do tipo que gera adorações e rejeições em
grandes medidas.
Seu primeiro longa, Pura adrenalina (Bottle Rocket, 1996),
ampliando e amplificando alguns dos artifícios propostos no
curta Bottle Rocket (1994), faz deles um estilo pessoal que
será mais bem explorado nos longas seguintes. Mas revela um
diretor ainda inseguro, entre o desejo pelo plano-sequência e a
APRESENTANDO decupagem mais fragmentada, hesitando em câmeras baixas
O CINEMA DE WES ANDERSON esquisitas e momentos mal escolhidos para o uso da câmera
Sérgio Alpendre lenta. O que esse longa de estreia tem de bom é a química entre
os irmãos Wilson (revelados para um público maior justamente

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com este longa) e o nonsense que pontua emblemático do cinema indieamericano arriscado até então. De fato, em alguns um filme com esse ator precisa ser dirigido
a narrativa. (mas adotado por Hollywood) conseguiu momentos parece que vai desmoronar para por um incompetente para não ser no
concluir razoavelmente bem uma equação logo em seguida Anderson puxar alguns mínimo bom); seu fiel escudeiro indiano,
Três é demais (Rushmore, 1998), seu
que a maioria de seus continuadores fios e recolocá-lo nos eixos. Exemplo disso é o carismático Pagoda (Kumar Pallana); o
segundo longa, seria perfeito para a
não é capaz de solucionar: mesclar uma a investigação sobre o passado de Margot gentleman (Danny Glover), que cobiça a
demonstração do que é esse estilo. É
boa dose de influências (de cinema e Tenenbaum (Gwyneth Paltrow), à beira de senhora Tenenbaum (Anjelica Huston); o
paradigmático, a porta de entrada ideal
de cultura pop) num contexto em que os um moralismo infantil, mas seguida por escritor drogado (Owen Wilson), que não
para sua carreira e, até hoje, seu melhor
personagens se envolvem e evoluem em uma sequência de tentativa de suicídio sabe o que quer da vida. São arquétipos
filme (como seus admiradores se dividem
situações imprevisíveis, mas dentro de uma brilhantemente filmada e montada. da sociedade doente, trabalhados num
bastante a respeito disso, esta é uma
construção sólida e razoavelmente lógica. mosaico sobre os relacionamentos humanos
opinião longe de ser dominante). Aqui, Wes Temos aqui uma família disfuncional,
e familiares (de sangue ou de escolha).
Anderson consegue estabelecer seu estilo Os excêntricos Tenenbaums (2001), seu que percorre um caminho de erros até
espertinho sem cair na afetação. Os truques longa seguinte, serviu para a confirmação uma superação coletiva. As peças vão se Historicamente, Anderson pertence
existem por necessidade dramática, ou seja, dessa solução e para a consolidação de encaixando aos poucos, e os Tenenbaums à linhagem de cinema independente
estão de acordo com as “invencionices” seu estilo, e, também por isso, pode ser vão nos conquistando com suas falhas e americano que se inicia com John
do protagonista, célebre entre professores considerado igualmente paradigmático do manias. Vemos o maníaco por segurança Cassavetes (que não foi o primeiro
e alunos por suas peças teatrais e seus que é o cinema de Wes Anderson, de suas (Ben Stiller), que envolve os próprios independente, mas foi o primeiro de um
inúmeros projetos extracurriculares. É o obsessões e também de suas fragilidades filhos em suas neuroses; a filha adotiva novo ciclo de independentes), prossegue
contrário do que acontece com a maior (que cineasta não as tem?). De certo modo, (Gwyneth Paltrow), que se sente rejeitada com Peter Bogdanovich (sobretudo o de
parte dos diretores maneiristas deste é mesmo um filme que repete (por vezes e rejeita, por sua vez, seu próprio talento; They All Laughed, 1981) e chega ao final
século. Nos filmes deles, os truques aprofundando, por outras atenuando) o tenista fracassado, (Luke Wilson) que dos anos 1980, começo dos 1990, com o
parecem se impor às tramas, esvaziando as o estilo de Três é demais, ao mesmo não sabe lidar com o amor que sente surgimento de Hal Hartley e seu segundo
possibilidades dramáticas. Com Anderson, tempo em que procura ampliá-lo pela pela irmã adotiva; o patriarca malandro longa, Confiança (1990). Essa linhagem
isso geralmente não acontece. Esse diretor complexidade do enredo. É seu filme mais genial, composto por Gene Hackman (e bebe na fonte do cinema moderno europeu

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e tanto Hartley quanto Anderson sofreram a) Frontalidade da câmera: não raramente, diretor, Aki Kaurismaki). De fato, esse é b) Crianças muito inteligentes, que às vezes
tremenda influência do cinema sessentista (e a câmera capta os personagens de o tipo de humor buscado por Anderson, se comportam (ou tentam se comportar)
não tanto do oitentista) de Jean-Luc Godard. frente, muitas vezes rompendo a quarta num cruzamento improvável entre Buster como adultas. Isso é evidente tanto em
Mas, enquanto Hartley se apoiou no amor parede (os personagens olham para a Keaton e Godard (que amava Keaton, Três é demais, com o próprio Max Fisher
louco de Godard, assim como nos cortes câmera), para chegar diretamente às por sinal). Assim, sempre frontalmente, em (adolescente ora velho, ora criança)
secos, no existencialismo e numa certa nossas sensibilidades. Essa operação, Três é demais, o estudante de 15 anos, sendo um modelo para o mais jovem
inconsequência nas ações dos personagens, em Anderson, serve ao mesmo tempo Max Fisher (Jason Schwartzman, a quem Dirk Calloway, como em Os excêntricos
Anderson se baseou mais no aspecto visual para que nos aproximemos dos veremos crescer em seus filmes) apresenta Tenenbaums, com as personagens de
de filmes como Pierrot le Fou (1965) e personagens como para que tenhamos um suas credenciais de faz-tudo (menos tirar Gwyneth Paltrow, Ben Stiller e Luke Wilson
Made in USA (1966) para criar imagens distanciamento crítico. Não se trata de boas notas); apaixona-se por Miss Cross quando crianças demonstrando enorme
que encantam seus admiradores e fazem negar o naturalismo, mas de transformá-lo (Olivia Williams), uma das professoras de aptidão intelectual e, ao tornarem-se
os detratores reclamarem de um cinema em algo diferente. Nunca, de todo modo, sua adorada escola Rushmore; desenvolve adultos, sofrerem com o deslocamento
que seria dependente demais da direção um naturalismo óbvio, mas sempre uma amizade e rivalidade com o pai de provocado por suas mentes privilegiadas.
de arte. O que fica claro nessa linhagem é representação intensamente cinematográfica dois alunos bagunceiros, Mr. Blume (Bill Mas crianças prodígio estão espalhadas
que, a cada etapa, os diretores surgem com que se disfarça de frieza e rigor para Murray); esconde e depois se orgulha do em diversos outros filmes, notoriamente em
um estilo mais definido, para o bem e para falar direto ao coração. Graças a essa pai cabeleireiro Bert (Seymour Cassel, o Moonrise Kingdom.
o mal, arriscando-se no cipoal do cinema frontalidade, entre outras coisas (como as ator cassaveteano que esbanja carisma);
c) Presença constante de um grupo de
maneirista em suas mais incisivas derivações. reações atrasadas que seus personagens desentende-se com o diretor de Rushmore,
atores: Jason Schwartzman, Bill Murray,
parecem ter diante de algo inusitado que Dr. Guggenheim (Brian Cox); e esnoba uma
E quais seriam, então, as características de Seymour Cassel (conexão Cassavetes),
se apresenta), o crítico francês Jean-Baptiste adorável pretendente chamada Margaret
seu cinema? Podemos enumerá-las de modo Kumar Pallana e Luke Wilson se
Thoret observou muito bem que há, em seus Yang (Sara Tanaka), sempre contando com
a alcançar um didatismo maior: enquadram perfeitamente no estilo de
filmes, uma certa atualização do burlesco. a preciosa ajuda do fiel escudeiro Dirk
Anderson em Três é demais e permanecerão
Seria, então, um diretor do burlesco Calloway (Mason Gamble).
mais ou menos frequentes em outros
moderno (num extremo oposto ao de outro

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filmes. Outros atores surgirão ou voltarão por exemplo, sendo ainda muito vibrantes. Pagoda em Os excêntricos Tenenbaums, nariz, fruto de um desentendimento com um
nos filmes seguintes (Anjelica Huston e O ponto mais problemático, certamente, atingiria seu ponto máximo com o ator. Momentos marcantes em câmera lenta
Owen Wilson sobretudo, mas também está no visual de mata-borrão de Moonrise roadmovie Viagem a Darjeeling). estão espalhados por todos os seus filmes.
Gene Hackman, Ben Stiller, Adrien Brody, Kingdom (2012), longa que, contudo, tem
f) A simetria nas composições de quadro, h) Movimentos de câmera para realização
Willem Dafoe, Jeff Goldblum, Edward fãs entusiasmados entre os críticos.
o que, de certo modo, dribla o naturalismo de planos longos, eventualmente planos-
Norton, Danny Glover, Gwyneth Paltrow).
e) A profundidade de campo, para ficarmos dominante em Hollywood (ver item a) sequência. Também presentes em todos
Até mesmo um amigo de faculdade de
ainda na parceria com Yeoman. Muito e reintroduz a ideia de tableux vivants os filmes, geralmente com a câmera
Anderson aparece em seus filmes iniciais
eficaz para cenas cômicas, é usada por (quadros vivos), que Anderson pegou movendo-se em ângulos retos para manter
em pequenos papéis. Seu nome é a
Anderson como mais um elemento do de Godard. Está presente em todos os uma possível simetria. Normalmente, o
inspiração para um grande sucesso: Brian
burlesco moderno de que dizia Thoret. filmes, mas atinge o ponto máximo em Os plano longo valoriza o trabalho dos atores,
Tenenbaum.
Um belo exemplo disso está em Pura excêntricos Tenenbaums e, principalmente, com a câmera os perseguindo conforme
d) O visual colorido e vibrante, resultado adrenalina, quando vemos pela janela em O Grande Hotel Budapeste (2014), eles se movem. Em Anderson, a função
de sua parceria constante com o diretor Owen Wilson apanhar dentro do bar no qual temos a simetria em três janelas primordial é introduzir o espectador no
de fotografia Robert Yeoman (revelado no enquanto Luke Wilson conversa do lado de diferentes (1.33:1, 1.85:1 e 2.35:1), de centro da história de forma a envolvê-lo
essencial Viver e morrer em Los Angeles, fora, sem saber o que está acontecendo. acordo com as épocas em que a história o máximo possível. O risco é alto, pois
1985, de William Friedkin). O ponto Ou quando o empregado indiano Pagoda se desenrola. esses movimentos constantes da câmera
mais alto dessa parceria que se estende ouve, pela janela do lado de fora da podem passar uma irritante sensação de
g) O uso de câmera lenta como elemento
por toda a carreira de Anderson, nesse casa, que Etheline (Huston), a esposa de virtuosismo.
cool, muito claro em diversos momentos
exclusivo sentido da vibração das cores, Royal Tenenbaum, recebeu uma proposta
de Três é demais, mas especialmente i) Animações: reverberando e ampliando
provavelmente está no subestimado Viagem de casamento de seu velho amigo Henry
marcante no momento em que Max Fisher a característica d), Anderson avança
a Darjeeling (2007), no qual as cores são Sherman (Glover). (A obsessão oriental
é aplaudido por sua encenação escolar de progressivamente na direção de um visual
mais bem dosadas e equilibradas do que em já enunciada em Pura adrenalina e Três
Serpico e aparece para agradecer no palco de desenho animado na linha Hanna-
A vida marinha com Steve Zissou (2004), é demais, e explorada para valer com
com papéis para estancar o sangue do Barbera. Essa tendência começa a ficar

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mais evidente a partir de A vida marinha gritante pela música dos Kinks em Viagem ou institucionais em alguns personagens l) Lugares claustrofóbicos: Pagoda e
com Steve Zissou, que é quase expurgada a Darjeeling), Os excêntricos Tenenbaums – em Tenenbaums, mesmo quando Royal Royal Tenenbaum, mas também Royal
com a animação (de fato) O fantástico Sr. ensaia algo que Tarantino viria a realizar e Pagoda viram ascensoristas; no curta com seu filho Chas (Ben Stiller), fecham-
Raposo (2009) e volta na forma de ressaca três anos mais tarde, com Kill Bill Vol.1: um Hotel Chevalier (2007), preâmbulo de se num pequeno armário que serve de
em seu filme mais frágil, Moonrise Kingdom. filme pensado como uma sinfonia, com a Viagem a Darjeeling, as marcas no corpo depósito para jogos antigos. Margot
música crescendo em momentos específicos de Natalie Portman; os curativos que os Tenenbaum passa horas no banheiro
j) O respeito com a trilha sonora:
(o voo de um falcão, a introdução de um personagens apresentam em diversos (ou na banheira), isolada do mundo em
comumente, as músicas tocam inteiras em
novo capítulo, a decisão trágica durante filmes, com destaque para Owen Wilson seu pequeno cubículo. Em Viagem a
seus filmes. Quando não, em geral têm suas
o fazer a barba), e as vozes como em Viagem a Darjeeling; inúmeros cartoons Darjeeling, as cabines do trem servem
partes principais tocadas sem qualquer
instrumentos dentro de uma grande ópera ou filmes antigos sendo exibidos na TV para aproximar os três irmãos, mas
alteração. Numa belíssima cena de Os
pop. Anderson, como Tarantino, faz cinema em quartos ou salas e correspondendo ao também para mostrar que três podem ser
excêntricos Tenenbaums, Paltrow e Wilson
com sua coleção de discos do lado. Essa ponto da história ou a algum acontecimento muitos naquele espaço exíguo. Mas é em
ouvem o Between the Buttons, dos Rolling
é a maior semelhança entre os estilos passado ou futuro (algo que ele herdou da seu mais recente filme que essa atração
Stones, em vinil, dentro de uma barraca
geralmente singulares dos dois diretores. geração de diretores que se seguiu à Nova pela claustrofobia encontra o seu auge.
de acampamento, e Anderson, além de
Hollywood, sobretudo John Landis e Joe O curta Come Together (2016), com
deixar uma música tocar na íntegra como k) Presença de detalhes inusitados
Dante, mas que está presente em muitos dos Adrien Brody, em apenas quatro minutos
pano de fundo para a dupla declaração (humorísticos geralmente, mas não só)
diretores que se formaram a partir dos anos realizados para a rede de lojas H&M,
de amor, ainda espera o vinil passar para pouco usuais no cinema narrativo, que
1960). A atenção a alguns desses detalhes mostra pessoas aprisionadas dentro de
a faixa seguinte. Ouvimos o barulho da revelam algo dos personagens para
(existem vários mais discretos do que os um trem numa viagem por uma nevasca.
agulha nos sulcos e é muito difícil não se espectadores atentos. Alguns exemplos
citados aqui) pode ser produtiva apenas De início, a câmera está do lado de
emocionar com a nostalgia que escapa entre muitos: em Os excêntricos
numa revisão, sob o risco de ter a fruição fora e captura os personagens em sobre-
dos personagens para o outro lado da tela. Tenenbaums, os táxis detonados que
comprometida. enquadramentos marcantes –a câmera
Na verdade, mais do que qualquer outro aparecem com frequência; em vários filmes,
utiliza os enquadramentos das janelas
filme de Anderson (a despeito do interesse a preferência por fardamentos militares
dos vagões para reforçar a uma só vez a

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incomunicabilidade e a claustrofobia de de personagens que procuram se entender.
que são vítimas. Quando vai para dentro Mas a obsessão nesse filme é a mesma e se
do trem, a sensação é de que estamos encontra, por exemplo, na mensagem que a
presos com eles. Como é um trabalho de ave de rapina Mordecai leva para o mundo
encomenda, claro que a claustrofobia dará ao som de “Hey Jude”.
lugar a uma explosão de vida e felicidade
Existem características menos ou igualmente
dentro do trem. Mas essa explosão é tão Sérgio Alpendre é crítico de cinema, In-ternacional de Cinema da Bienal de Curitiba.
importantes que surgem por vezes em
mais forte quanto a sensação de clausura professor, pesquisador e jornalista. Escreve Foi redator do Roteiro Cinesesc, de janeiro a
seus filmes (mas não é o caso de ir até
poderá nos atingir. na Folha de S.Paulo desde 2008 (Ilustrada, março de 2015. Foi oficineiro do programa
o fim do alfabeto, sob o evidente risco
m) Obsessão pela comunicabilidade: de entediar o leitor desnecessariamente). Mais, Guia Folha e Guia livros, discos, filmes). Pontos MIS (de 2012 a 2015). Fundou e
essa obsessão, percebemos, muitas vezes Talvez as listadas aqui sejam as mais Doutorando em Comunica-ção/Cinema pela editou a Revista Paisà, publicação impressa de
resulta em incomunicabilidade e, com isso, marcantes para o entendimento de seu Universidade Anhembi-Morumbi, com bolsa cinema (de 2005 a 2008). Editou a 4ª edição
aproxima levemente o cinema de Anderson cinema, mas a riqueza visual de seus da CAPES. Mestre em Meios e Processos da Revista da Programadora Brasil (2010). Já
a um tema caro a cineastas como Bergman filmes podem nos surpreender em futuras Audiovisuais pela ECA – USP, com bolsa da escreveu para importantes veículos de imprensa
e Antonioni. Temos Viagem a Darjeeling revisões. Sabemos que o espectador que CAPES. Coordenador do Núcleo de História e como UOL, Contracampo, Cineclick, Foco,
como o auge dessa obsessão, pois mostra tiver prazer em descobrir ou rever os filmes Crítica da Escola Inspiratorium. Edita a Revista MOVIE, Taturana, Cinequanon, Revista E,
a necessidade de três irmãos se entenderem de Wes Anderson com certeza se sentirá Interlúdio (www.revistainterludio.com.br) e o blog Bravo e Filme Cultura. Foi curador das mostras
no decurso de uma viagem. Antes, em Hotel tentado a identificar outras características e de cinema sergioalpendre.com. Participou como Retrospectiva do Cinema Paulista e Tarkovski e
Chevalier, o casal Natalie Portman e Jason completar o quadro iniciado anteriormente. pa-lestrante dos Encontros Cinematográficos, seus Herdeiros, editando também os catálogos
Schwartzman tenta entender em que ponto Todas essas características fazem com na cidade de Fundão, em Portugal (Março de de tais mostras. Participa de seleções e júris em
está em um relacionamento e mesmo se que reconheçamos de imediato seu estilo 2015). Ministrou uma Master Class na UBI fes-tivais de cinema, além de ministrar cursos de
ainda há relacionamento. É o oposto de Os e confirmam Anderson como um autor, - Universidade da Beira Interior, em Covilhã, história do cinema e oficinas de crítica por todo
excêntricos Tenenbaums, com sua explosão gostemos ou não de seus filmes. Portugal (Março de 2015). Foi curador da o Brasil.
edição de 2014 do festival FICBIC – Festival

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W es Anderson é obsessivamente detalhista. Isso pode ser
considerado uma dádiva e/ou uma maldição, dependendo
do ângulo de observação. Como diretor de cinema, essa
característica deixaria o status de excentricidade para se tornar
uma marca registrada andersoniana a cada novo filme lançado.
Conforme avançamos cronologicamente em sua filmografia,
a meticulosidade obsessiva de Anderson se torna mais e mais
aparente. O resultado de toda essa atenção aos detalhes fica
evidente logo nos primeiros minutos de seus filmes, em que cada
um dos elementos da produção recebe um nível extraordinário
de cuidado e caracterização, fazendo com que o todo seja
mais do que a soma de suas partes: o uso excessivo de simetria,
os planos abertos, as paletas de cores quentes, o travelling de
câmera, os planos-sequência, os letterings em amarelo postos
A TRILHA SONORA
sobre a cena, o figurino excêntrico dos personagens e, é claro, a
NA OBRA DE WES ANDERSON
Arre Colares trilha sonora.

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Podemos comparar a meticulosidade com De Rushmore a O fantástico Sr. Raposo, trilha sonora que captura a linguagem de fazendo ali, da mesma forma que com a
que Wes Anderson trata os diferentes de Os excêntricos Tenenbaums a Moonrise instrumentos como a balalaika e mescla mansão da família Tenenbaum; com uma
aspectos envolvidos em uma cena com Kingdom, observamos uma estética musical com elementos mais tradicionais como criança excêntrica em cada janela.
a caracterização de um personagem: muito peculiar, única em cada filme, mas sinos, que conferem um ar infantil, de conto
A trilha sonora na obra de Wes Anderson
quanto mais informações aglutinadas ao mesmo tempo muito consistente, sendo de fadas; flautas executando frases rápidas
é tão característica que raramente toca
de forma harmoniosa por cima deste, uma das grandes responsáveis pela já e curtas, contribuindo ainda mais para
enquanto outros personagens falam e,
mais personalidade ele adquire e mais famosa linguagem cinematográfica de Wes o clima de suspensão e mágica que não
nessas ocasiões, atém-se a um murmúrio,
memorável se torna. Essa caracterização Anderson. está necessariamente presente na música
apenas assinalando a cena e aguardando
exagerada confere uma perspectiva única folclórica balcã, por exemplo. É nesse ponto
O Grande Hotel Budapeste fica localizado o momento certo para entrar. Ela é
à obra de Anderson, fazendo com que que a técnica de Anderson e Desplat se
no extremo leste do Leste Europeu, tão importante que ganha tempo para
seja imediatamente reconhecível, mas, encontram.
na fronteira com a União Soviética falar sozinha, para dialogar com os
para além disso, já no primeiro olhar,
dos anos 1930. Com essa descrição Sabemos que o diretor arma cada personagens, como se personagem fosse. E
torna-se possível inferir toda uma gama de
apenas, já é possível imaginar quais aspecto da sua produção com tantas é! A trilha ganha uma função muitas vezes
informações sobre o que se passa na tela.
sonoridades poderiam estar presentes características marcantes e interessantes que comparável à do coro do teatro grego
E, a cada novo olhar, novas informações
em sua trilha sonora. A música balcã, é possível absorver enormes quantidades clássico, comentando a ação dramática em
são descobertas quebrando ainda mais
por si só, já é extremamente peculiar e de informação sem que seja necessária questão e quase interferindo na trama.
a barreira da superficialidade. É como
característica quando isolada do contexto uma linha de narração sequer, desde os
se Wes Anderson tivesse gosto em contar De posse dessas informações, é possível
cinematográfico. No entanto, o compositor personagens, passando pelos cenários e, é
uma história por meio da caracterização analisar todos os filmes de Wes Anderson a
Alexandre Desplat conseguiu formatar claro, a trilha sonora. Essa caracterização
apenas; quase como se pudesse contar uma partir da perspectiva da trilha-personagem
uma série de linguagens típicas da música é tão forte, tão expressiva, que a música se
história sem palavras. E que maneira melhor e perceber novas informações a cada
folclórica do Leste Europeu, criando uma torna mais um dos personagens do filme,
de contar uma história sem palavras do que apreciação, não só nos trechos com trilha
paisagem musical única para o filme. O cheia de detalhes e nuances que nos fazem
pela música? sonora original mas também nas cenas
resultado não poderia ser diferente: uma imaginar de onde vieram e o que estariam
conhecidas como montage, em que diversas

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ações acontecem na tela simultaneamente e Arre Colares se formou em Música e
em rápida sucessão enquanto uma canção Tecnologia pelo Conservatório Brasileiro de
– geralmente música pop dos anos 1960 Música, no Rio de Janeiro; estudou produção
– comenta a narrativa emocional implícita musical, orquestração e composição para tv
por meio da letra. Mas por que se ater e cinema. Trabalhou como arte-educador em
apenas à trilha sonora? Por que não seguir música no setor educativo do CCBB do Rio
investigando a filmografia do diretor pelo de Janeiro e cur-sou a carreira de composição
prisma do cenário-personagem, figurino- Musical na Omid Academia de Áudio em São
personagem, fotografia-personagem, Paulo; onde tam-bém compôs para publicidade
câmera-personagem etc.? (Brastemp, Coca Cola, Vivo, Ariel), para o
seriado Drag-se (Canal Brasil; Youtube) e para os
A obra de Wes Anderson é um convite à
longas Homem Carro e Homem-Livre. Atualmente
obsessão por detalhes, mas o que seria essa
trabalha como compositor de trilhas sonoras e
obsessão senão um profundo mergulho de
sound designer para games, que são sua maior
autoconhecimento e aceitação da própria
paixão desde sempre, na Overlord Game Studio
excentricidade?
no Rio de Janeiro. Também pode ser encontrado
pelas ruas do centro da cidade tocando trompete
com o bloco Planta na Mente ou ainda em
Niterói com as bandas Gilber T & Os Latinos
Dançantes. Musicalmente gosta de tudo e
está sempre inclinado a considerar qualquer
manifestação musical como algo bom e de valor.
Também é mal-humorado, daltônico, neurótico,
magrelo e barbudo. Nessa ordem.

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A pesar da compreensão da figura do autor no cinema cada
vez mais gerar críticas e debates nos últimos tempos, este é um
conceito que se adequa confortavelmente ao cineasta texano
Wes Anderson, ao se analisar a perspectiva de sua obra
que não se limita a filmes, mas curtas spin-offs, animações,
comerciais e fashion films. A obra de Anderson se destaca por
meio de produtos com uma identidade muito particular, com
atributos que se repetem e permitem identificar um estilo que se
desdobra pela direção, pela fotografia, pelo som, pela direção
de arte e, especialmente, pela forma como estrutura a história
e desenvolve seus personagens. Nesse sentido, pensar a obra
de Anderson é instigante pela diversidade de elementos que
a compõem, que não se trata apenas de perceber como se
deu um filme específico, mas quais as escolhas que permitem
AS PEQUENAS ESTRANHEZAS
caracterizar seus produtos audiovisuais, definindo-os dentro de
NA ARTE DE WES ANDERSON
Felipe Muanis uma singularidade própria.

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Esse estilo pessoal e único demanda que os outros, família e amigos, em que a Ver, portanto, um filme de Wes Anderson outros planos fixos, igualmente simétricos.
a análise de qualquer departamento percepção do mundo é, na maioria das é entrar em uma terra paralela na qual a Há pouca ou nenhuma câmera na mão,
de filmagem não possa ser analisado vezes, muito particular e desconexa da vida obedece a lógicas distintas, pois essa bem como absorção do imprevisto em
isoladamente em seus filmes, mas em realidade. Essa maneira de lidar com coerência peculiar é evidenciada por uma suas imagens: seu plano é organizado em
diálogo com outras áreas que trabalham o mundo produz situações de comédia forma muito particular de filmar, de pensar composições detalhadas e milimetricamente
incorporadas não apenas em um conceito por meio de desdobramentos quase o quadro e compor os elementos na cena. elaboradas.
mas numa teia de relações entranhadas, surrealistas dos acontecimentos, nos quais
Na maioria de seus filmes, em uns mais Essa simetria contudo não aponta para
ganhando uma organicidade própria, assim os personagens lidam naturalmente com
do que outros, Anderson estabelece uma uma horizontalidade da imagem, mas,
como sua própria obra. É desse modo problemas complicados, fazendo escolhas
relação rigorosa e obsessiva entre a pelo contrário, intencionalmente cria
que se busca analisar as escolhas e usos por vezes despropositadas de modo
câmera e o que é filmado, o personagem zonas de profundidade também rigorosas,
da arte nos filmes de Wes Anderson, que banal. Se a construção dessa relação
e o cenário. Suas marcas registradas são muitas vezes trabalhando com um ponto
começam a tomar forma de modo mais entre os personagens e narrativa ganha
os planos frontais e picados, austeramente de fuga central. Em algumas situações, os
consistente, assim como seu próprio estilo consistência em Três é demais e se solidifica
simétricos. Esse equilíbrio em seu planos de Anderson lembram o mesmo
como cineasta, a partir especialmente de em Os excêntricos Tenenbaums (The Royal
enquadramento torna-se visível em inúmeros rigor simétrico encontrado nos filmes do
1998, em seu terceiro filme Três é demais Tenenbaums, 2001), ao longo de sua
planos gerais em que se prioriza o cenário, cineasta britânico Peter Greenaway, que,
(Rushmore, 1998). Os dois primeiros filmografia Anderson beira a fantasia, por
ou em planos médios em que o personagem por sua vez, também se assemelha aos
filmes, ambos chamados Pura adrenalina intermédio de filmes muitas vezes sem uma
aparece frontalmente, falando diretamente equilibrados enquadramentos de Saló
(Bottle Rocket, 1994, 1996), sendo um o temporalidade ou espaços definidos, quase
para uma câmera subjetiva que representa (1975), de Pier Paolo Pasolini. Entretanto,
desdobramento em longa-metragem do alegóricos, e flerta com o caricato. Esse
outro personagem. Se essa simetria o cinema de Anderson e Greenaway têm
curta anterior, contudo, já apresentam desprendimento da realidade, tanto em
demanda o plano fixo para se evidenciar, poucas semelhanças, além do rigor com
uma característica cara a Anderson com temporalidades quanto em espaços e ações,
isso não impede que Anderson não o faça o equilíbrio do plano e uma direção de
relação aos seus filmes: um certo niilismo faz dos seus filmes um universo próprio,
também em movimento, partindo de planos arte e composição de quadro meticulosas,
dos seus personagens que se embrenham com regras aparentemente específicas e que
fixos em travelling, ou em chicote, para tributárias do Quattrocento italiano. Como
em questões existenciais próprias e com se encontram distante da nossa realidade.

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cineasta e artista plástico, pelo rigor formal Jerônimo em seu estúdio (1475-6), do pintor e talvez a alguns ilustradores do último Na ilustração e na animação, Anderson
do enquadramento e da noção do plano, Antonello de Messina: século. Seus filmes são carregados de se inspirou em artistas como David
Greenaway pretende se aproximar da referências tanto de outros personagens Chaffin, ilustrador da primeira edição do
pintura por meio do cinema, inclusive com de outros filmes quanto de uma própria livro Fantastic Mr. Fox, e faz referências
inúmeras referências a pintores em seus Parece determinada exclusivamente pelas leis autorreferencialidade ao cinema. Então é constantes ao Peanuts, de Charles M.
filmes. Desse modo, em suas composições objetivas da arquitetura, por um equilíbrio possível ver o filme expondo suas próprias Schultz. Também não são poucos os
de plano, cria muitas vezes uma geométrico cujo centro de gravidade seria o estratégias em A vida marinha com Steve filmes que, pelo caráter atemporal e pela
profundidade que permite o deslocamento santo e que obriga o espectador a submeter Zissou (The Aquatic Life with Steve Zissou, sua elaboração na caracterização de
do olhar do espectador para o fundo do seu pensamento à disposição adotada pela 2004) ou de si próprio no comercial personagens e cenas, sugerem dialogar
quadro, que assume um protagonismo pintura, a se transportar mentalmente no espaço American Express: my life, my card (2006), com o universo da ilustração de Norman
ante o primeiro plano, tal qual faz o teatro harmonioso e rigoroso do quadro, a forçar em que mostra o seu processo de filmagem Rockwell. No caso de desenhos animados,
e como é visto na pintura A flagelação a barreira que constitui essa moldura dentro em um plano-sequência, saindo do espaço além de determinadas animações diegéticas
de Cristo (1455-1460), de Piero della da moldura, o cofre de pedra que delimita o diegético de uma hipotética cena de um utilizadas em O Grande Hotel Budapeste
Francesca, na qual há a inversão do espaço espaço. (BONITZER, 2007, p. 54). filme para os bastidores que o próprio Wes (The Grand Budapest Hotel, 2014) se
medieval na composição. Wes Anderson Anderson protagoniza. O que é comum assemelharem ao trabalho de Terry
raramente faz essa inversão e assume a nesse e em outros trabalhos como Moonrise Gilliam, há referências ao clássico A rena
força do protagonismo da ação no primeiro Se Wes Anderson assume o rigor Kingdom (2012) é a quebra da quarta do nariz vermelho (1964), que influencia
plano. Associando o cinema com a pintura, da perspectiva frontal em seus parede, sem esquecer, contudo, que muitas O fantástico Sr. Raposo (Fantastic Mr.
talvez fosse pertinente dialogar o ponto de enquadramentos, por outro lado não vezes essa quebra é apenas simulada Fox, 2009), e a Charlie Brown Christmas
vista proposto por Wes Anderson em seus aparenta se inspirar na tradição da pintura quando o personagem, ainda que diante de (1965), que influencia Três é demais. Na
planos com o que Pascal Bonitzer (2007), para suas composições e mesmo em uma câmera subjetiva que representa outro literatura, as influências são declaradas
a partir de Erwin Panofsky, entende como seus filmes. Ao contrário, os trabalhos de personagem em relação de contraplano, nos filmes, desde J. D. Salinger a Stefan
uma perspectiva frontal e a longa distância Anderson fazem referência especialmente olha para o espectador. Zweig. No entanto, é na literatura de Roald
no cinema, objetiva, analisando São ao próprio cinema, à literatura, ao rock Dahl, autor de histórias como O fantástico

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Sr. Raposo, Gremlins e A fantástica fábrica obra, bem como suas escolhas estéticas, – o cinema –, dialogando com outras paisagem não passa de um desenho fictício,
de chocolate que, aparentemente, surge transita por uma coerência em que o referências. A primeira forma de se criar um e não uma locação real, muitas vezes
a inspiração maior de Wes Anderson, excêntrico e o fantástico são sugeridos por ambiente particular é justamente fugir das animada em um estilo que lembra algumas
evidenciando sua conexão não apenas pequenas estranhezas proporcionadas por referências de tempo e espaço mais rígidas, ilustrações utilizadas por Terry Gillian,
com um mundo fantasioso, alegórico, mas, escolhas técnicas e estéticas nos diversos como acontece em muitos de seus filmes. conforme mencionado anteriormente. Essas
inclusive, com histórias que remetam, de setores de seus filmes. Esta é a base que A cidade de Os excêntricos Tenenbaums é indefinições assumidas, ou a necessidade
maneiras distintas, ao universo da criança. estrutura também suas escolhas estéticas uma Nova York não assumida, com nomes de em muitos filmes não se referenciar a um
da qual a direção de arte é tributária, de ruas falsos e a ocultação de pontos tempo e espaços reais, evidencia um caráter
Pensar na direção de arte dos filmes de
da construção de figurinos, cenários e a turísticos como a Estátua da Liberdade ou a muitas vezes alegórico de seus filmes.
Anderson passa necessariamente, portanto,
escolha da palheta de cores em seus filmes. criação de uma embaixada na qual nunca
por um entendimento do caráter fantasioso Outros dois fatores reforçam essas
aparece o nome do país e que utiliza uma
em seus diversos níveis, que vai desde a características alegóricas, atrelados ainda
bandeira fictícia. Concomitantemente,
excentricidade até a imaginação, ainda que aos cenários e aos figurinos. Assim como
As marcas estilísticas da Arte em objetos, indicações – como uma lápide
não necessariamente infantil, de seus filmes, o uso da lente de grande-angular em
Wes Anderson em que se inscreve o ano de 2001 – e,
de suas histórias e personagens. É a mesma movimento evidencia as deformações que
algumas vezes, o figurino do filme remetem
estranheza que se reflete na obsessão Enquanto personagens, diálogos, conduzem à percepção de uma imagem
a uma estética da década de 1960 a
com os planos frontais e simétricos já aqui enquadramentos e lentes criam uma irreal, o mesmo acontece com alguns
1980, tornando-o atemporal. Do mesmo
citados, na maior parte das vezes utilizando sensação de estranhamento e deslocamento cenários que também se modificam,
modo, O Grande Hotel Budapeste, em filme
uma lente grande-angular que distorce a da realidade nos filmes do diretor, a quebrando a diegese do filme para
do mesmo nome, situa-se na cidade fictícia
imagem. Wes Anderson não se intimida direção de arte em seus filmes surge como favorecer a câmera e a narrativa. Os
de Zubrovska, encravada em montanhas
sequer com a hipotética regra de não elemento definitivo para se distanciar de exemplos mais contundentes encontram-
em algum lugar entre os Alpes e o Leste
utilizar a grande-angular em um plano em estratégias tributárias de um realismo mais se em A vida marinha de Steve Zissou,
Europeu. Montanhas essas que aparecem
movimento para não evidenciar a distorção rigoroso, aproximando-os das fábulas em Moonrise Kingdom e em Viagem a
assumidamente como um trompe l’oeil,
e a lente, quebrando a diegese. Assim, sua mas agora construídas para outra mídia Darjeeling. Em ambos, Wes Anderson faz
deixando claro para o espectador que a

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uma espécie de corte lateral taxionômico viajam. Aqui, a arte constrói um vórtice que o normal, do que o que seria na a camisa de dentro; o Max Fischer de
no cenário para dar não apenas a espacial, em que lugares distintos ocupam realidade, sugerindo o crescimento da Três é demais sempre com seu blazer azul
dimensão espacial do cenário, seja o não apenas o mesmo espaço mas se personagem em comparação ao início do ou Monsieur Gustave e Zero que viajam
barco no primeiro, a casa no segundo ou inserem todas em cabines de um trem filme, potencializada ainda pelo uso da vestidos com o uniforme que utilizam no
o trem no terceiro, mas para evidenciar por onde se desdobra a narrativa dos grande-angular. Todas essas manipulações hotel em que trabalham. A demarcação
como os personagens operam, dividem- protagonistas. do cenário não são importantes apenas de um figurino específico principal para
se e ocupam esses espaços. A câmera por quebrarem os referenciais do real, caracterizar o personagem ao longo
Assim como esses exemplos mais óbvios
passeia, então, lateralmente pelos cômodos mas especialmente por serem assumidas do filme – e podemos perceber que o
da arte desconstruindo o real, ao mesmo
da casa, destacando seus personagens dentro do filme pelo diretor, de modo a ator Ralph Fiennes em O Grande Hotel
tempo pode-se perceber como o cenário
desprevenidos ou mostrando um plano não se mostrarem compromissadas com Budapeste tem apenas quatro figurinos –
é alterado e foge da realidade para
geral do barco cortado pela metade, os referenciais de realidade, mas com a evidencia que, assim como o cenário, o
intensificar uma sensação no filme. Ao fim
possibilitando ao espectador perceber a narrativa e as suas sensações, criando uma figurino também é assumido não como um
de Moonrise Kingdom, a personagem de
ação e movimentação dos personagens espécie de autonomia da direção de arte. instrumento de lastrear a narrativa ao real
Suzy (Kara Hayward), então com treze
como se o barco de Zissou fosse um mas, pelo contrário, de afastar-se dele.
anos de idade, depois de passar por toda Outro espaço da construção alegórica
aquário de formigas. Todavia, a construção A intencionalidade nessa concepção do
a aventura e pelo rito de passagem do se dá nos figurinos de quase todos os
mais contundente radicaliza o aspecto figurino por Anderson se evidencia em
encontro e da fuga com seu primeiro amor, seus filmes. Wes Anderson trabalha seus
fantástico e fabular ao mostrar, em distintas Os excêntricos Tenenbaums na cena em
aparece em sua casa em um tamanho personagens quase como os de uma fábula
cabines do trem, alguns personagens que que Royal Tenenbaum (Gene Hackman)
um pouco desproporcional, maior do ou de uma história em quadrinhos. Seus
se relacionaram aos três protagonistas em é despejado do hotel onde mora. Por
que o habitual, imprimindo a ideia de figurinos funcionam como uniformes, que
seus respectivos espaços na narrativa – uma um longo tempo do filme, o personagem
que ela cresceu e amadureceu depois se repetem em quase todas as situações,
cama em casa, um escritório, uma poltrona utiliza a mesma roupa, um alinhado terno
de tudo o que passou. A imagem sugere por mais improvável que possa parecer.
de avião. Mas todas surgem de maneira espinha de peixe, que se transforma em
que o cenário, nessa cena, foi construído São os Tenenbaums que se vestem sempre
surrealista, ocupando, cada uma, uma seu uniforme, e as únicas peças de roupa
proporcionalmente um pouco menor do com a mesma roupa mudando no máximo
cabine do trem em que os protagonistas que mudam são as camisas e gravatas que

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veste por baixo, sempre em tons pastel. Rockwell para o Saturday Evening Post, personagem que parece predominar frontais e equilibrados do diretor, Zissou
Na cena em questão, ele aparece com o especialmente entre as décadas de 1920 e em seus ambientes, da mesma forma aparece centralizado em quadro, com
mesmo terno, coberto por um sobretudo de 1960, retratando o cidadão comum dos que o figurino. Mas, com o objetivo de seu figurino azul e o gorro vermelho que
castanho de tweed, discutindo com o Estados Unidos, como fica bastante visível enriquecer a composição do quadro, o acompanham em quase todo o filme,
concierge do hotel. Atrás dele, toda a sua na representação dos personagens do filme Anderson sempre introduz um objeto em um plano de tom mais quente e com
mudança: várias malas, araras e, em uma Moonrise Kingdom em que, entre outros que cria a complementaridade oposta uma janela submarina ao fundo, de um
delas, que se encontra evidenciada ao exemplos, o chefe de escoteiros Ward à cor predominante, ou dividindo a cor forte azul, onde se observa uma orca
seu lado, apenas com algumas camisas (Edward Norton) aparece lendo uma revista complementar, quebrando a monocromia nadando. Em Os excêntricos Tenenbaums,
penduradas, uma em cada cabide, todas em seu pijama quadriculado, dentro de sua hegemônica do plano. Esse recurso a personagem de Margot Tenenbaum
em tons pastel e uma de cada cor. A cena barraca também quadriculada. pode ser visto de modo muito claro em (Gwyneth Paltrow) aparece tomando banho
brinca com o rigor de figurino do próprio inúmeras cenas de sua filmografia. Em O em um banheiro de tons pastel, cinza e
No entanto, a análise de arte e do
filme, tornando evidente seu caráter Grande Hotel Budapeste, essa relação creme, e dessaturados, em que duas toalhas
figurino na obra de Wes Anderson estaria
fantasioso. O figurino ajuda a construir e fica explícita na conversa entre Zero (F. verdes e azuis bem vivas aparecem em
incompleta sem atentar para o papel da
delimitar o personagem, a explicitar o que Murray Abraham) e o jovem autor (Jude um canto para fazer a oposição – nesse
cor em seus filmes. O diretor faz uso de
muitas vezes a ação e as palavras não Law) nos banhos do hotel. Em uma relação caso, menos pela complementaridade de
um subterfúgio muito pessoal, desde Os
dizem sobre o personagem. Trabalhar com de plano e contraplano, em que diversos cores e mais pela complementaridade de
excêntricos Tenenbaums, passando por
os figurinos nesse diapasão de repetição tons de azul predominam na cena, sempre um fundo dessaturado com os pontos de
diversos outros de seus filmes como uma
funciona na criação de um estereótipo, há, em ambos os planos, ao fundo, uma cores saturadas. Essas particularidades na
marca autoral, mas com grande destaque
tornando-o caricato. Esse recurso, somado pequena cortina velha, amarelada com composição do quadro e no trato da cor
para o curto Hotel Chevalier (2007),
a determinadas constituições cênicas, faz o tempo, que quebra e traz equilíbrio ao mostram o grau de minúcia e delicadeza
spin-off de 13 minutos do filme Darjeeling
com que seus personagens se aproximem, tom azulado do plano. Essa estratégia nas escolhas de arte de Wes Anderson e
Limited, como será discutido à frente. Em
guardadas as devidas proporções, de se repete em inúmeras cenas ao longo que aparecem nos detalhes de figurino ou
Tenenbaums, Anderson parece escolher
algumas representações de personagens de seus filmes. Em A vida marinha de nos objetos que dressam o cenário.
uma palheta mestra de cor para cada
nas ilustrações clássicas de Norman Steve Zissou, em um dos típicos planos

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É importante se dizer, entretanto, que a telefonema de sua namorada dizendo o roupão da namorada, um amarelo vivo, independência, ao menos de uma igual
cor amarela é recorrente e emblemática que o encontrará em seu quarto em 30 destaca-se como a cor complementar. A valorização com relação ao texto.
em sua obra, como uma cor muito minutos. No tom do filme, predomina o intensa beleza do plano reside em um único
presente nos mais diversos filmes, desde amarelo, tanto nas escolhas da arte nos movimento suave e sutil, trocar e inverter Todos esses artifícios demonstram a
em alguns sets de personagens, como objetos, como em colchas e travesseiros completamente a polaridade de cores da consistência e a importância da arte para
em Moonrise Kingdom, Os excêntricos da cama em amarelo e branco, quanto na cena em um mesmo plano, em câmera definir a identidade estética na obra de
Tenenbaums e Viagem a Darjeeling própria luz do filme. Caminhando para lenta, com uma música. O impacto é tão Wes Anderson; um conceito de arte que
entre outros, até filmes inteiros como O o final, em câmera lenta (outra marca forte que não há como não olhar para o não se limita ao realismo e à subserviência
fantástico Sr. Raposo, American Express: de Wes Anderson), Jack, vestido com um roupão amarelo. ao roteiro, mas algo vivo sem o qual seus
my life, my card e Hotel Chevalier. Para terno marinho chumbo, e, portanto, sendo filmes não teriam a mesma identidade.
Da mesma forma que nos outros exemplos Além disso, é digno de nota o trabalho de
este último, cabe uma análise que resume o ponto de complementaridade de cor no
citados com relação aos cenários, a escolha de locações, percebido em filmes
de maneira contundente o uso de cores plano em que predomina o tom amarelo,
mudança de cor quebra a diegese como Os excêntricos Tenenbaums, Moonrise
por Wes Anderson. O curta-metragem é dirige-se à namorada que está de pé, nua,
intencionalmente; a cena é construída Kingdom e, especialmente, em O Grande
um spin-off do filme Viagem a Darjeeling, ao lado de uma penteadeira, e a cobre
para que o espectador a perceba não Hotel Budapeste. Neste último, sob o
que conta um episódio do romance entre com um roupão amarelo – o mesmo que
necessariamente pela narrativa ou pela comando de Adam Stockhausen, apenas a
Jack Whitman (Jason Schwartzman) e ele usa em boa parte do longa-metragem
realidade, mas, sim, pela dança de cores equipe de arte, envolvendo direção de arte,
sua namorada (Natalie Portman) ainda seguinte –, e ambos se encaminham
no plano. Esta, talvez, seja a cena de sua figurino, maquiagem e locações, abiscoitou
quando eram namorados, antes, portanto, para a porta da varanda. Eles saem e a
filmografia que mais demonstra que o uso nada menos do que quarenta prêmios entre
da história do longa-metragem no qual câmera acompanha, por meio do mesmo
da cor em seus filmes também não está os anos de 2014 e 2015, incluindo os
ele já sofre com o término da relação. No corte taxionômico do cenário citado
necessariamente subordinado à narrativa, Oscar e o Bafta.
curta-metragem, Jack se encontra no Hotel anteriormente, até o lado de fora, onde
mas pode obedecer, prioritariamente,
Chevalier em Paris, com uma das malas se vê uma Paris ao entardecer, totalmente Finalizando, é ainda importante salientar
a um conceito da arte e da fotografia,
de seu pai, que será vista posteriormente azulada, e o terno de Jack passa a ser uma a produção de Anderson fora do cinema
que gozam, se não de uma certa
no longa-metragem, quando recebe um cor análoga à cor predominante no plano e de longa-metragem propriamente dito,

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como comerciais e fashion films. Seja em O plano possui um valor plástico, que comerciais, permitindo que seja facilmente e que confere a Wes Anderson, se não
trabalhos para a H&M, Prada, American aparentemente foi relegado nos anos 1960 e reconhecível seu estilo em qualquer produto a alcunha de autor no antigo sentido do
Express ou Stella Artois, Anderson faz 1970, época das imagens sujas, dos planos audiovisual que realize. É o plano plástico termo, a identidade de seu estilo a todo o
uso das mesmas estratégias estilísticas dissolvidos, e que na atualidade retorna dos clipes e da publicidade, dos fashion conjunto de sua obra, a de um pintor de
visuais de seus filmes, inserindo-se no com ostentosa violência através das imagens films e de todo o seu cinema que faz composições no audiovisual, em seu sentido
contexto de uma estética mundializada, impecáveis desenhadas, hiper-construídas, dos com que a composição de seus planos mais amplo.
com códigos e escolhas de fotografia e clipes, da publicidade e das “novas imagens”. A possam não se aproximar da pintura – que
arte, com referências híbridas, que são fabricação de planos seria aquilo que aproxima é uma ideia conservadora – mas reter,
compreendidas em diversas culturas. Como o cineasta do pintor, o cinema da pintura. em si, uma prática de constituição da Bibliografia:
são mais atreladas a escolhas estilísticas (BONITZER, 2007, p. 29-30) imagem e composição do plano análoga
BONITZER, Pascal. Desencuadres: cine y pintura.
que muitas vezes se opõem às marcas de à dos pintores e da pintura clássica na
Buenos Aires: Santiago Arcos Editor, 2007.
um audiovisual tributário de um realismo, contemporaneidade, por intermédio do
esses caminhos são confundidos por O cinema de Wes Anderson é formado cinema. Em tempos de uma preponderância MUANIS, Felipe. Audiovisual e mundialização:
muitos como uma estética publicitária ou exatamente desses planos com valor dos discursos do real, das imagens sujas televisão e cinema. São Paulo: Alameda, 2014.
de videoclipe quando, na verdade, essas plástico proposto por Bonitzer, da e dos planos dissolvidos, é importante
alternativas e possibilidades estéticas nada imagem impecavelmente simétrica e perceber que uma imagem impecavelmente
mais são do que um retorno não apenas ao com a delicadeza da cor complementar desenhada de uma estética mundializada
próprio cinema, mas à ilustração, à fábula, quebrando o predomínio da cor principal; não é menos importante ou desvalorizada,
à televisão e às diversas perspectivas nas da hiperconstrução dos cenários que que ela pode ser também responsável por
mais diversas mídias. Nesse sentido, talvez respondem a si próprios, mas que não têm uma nova relação entre um retorno a um
seja interessante retornar a Pascal Bonitzer medo de ostentar e assumir o irreal em equilíbrio entre imagem e texto; que pode
ao definir o plano. Para ele: um trompe l’oeil. Determinadas imagens ser o espaço da fábula, do fantástico,
de seus filmes parecem, de fato, com a do niilismo e da composição milimétrica,
estética e construção bem acabada de pensada, bem-acabada e amadurecida;

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Felipe Muanis é professor do Instituto de Artes
e Design no Curso de Cinema e Audiovisual e da
Pós-Graduação em Artes, Cultura e Linguagens
da Universidade Federal de Juiz de Fora, onde
coordena o ENTELAS, grupo de pesquisa em
conteúdos transmídia, convergência de culturas
e telas. Doutor em Comunicação Social pela
Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG,
com bolsa-sanduíche na Bauhaus Universität-
Weimar, Alemanha. Pós-doutorado na Ruhr-
Universität Bochum, Alemanha, com pesquisa em
quadrinhos documentais. Foi profes-sor visitante
na Universität Paderborn (2010) e no Institut für
Medienwissenschaft da Ruhr Universität Bochum
(2015-16), ministrando cursos para o IMACS -
International Master of Audiovisual and Cinema
Studies. Atuou como ilustrador e diretor de arte
em comerciais e cinema e é associado da SIB,
Sociedade dos Ilustradores do Brasil.

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É impossível olhar diretamente para o real. Necessitamos de
uma película ou lente de proteção. O real queima a retina tal
como o sol. Então, por que não evocarmos a figura do cineasta
ou do diretor e o seu olhar através da câmera? O cinema é
ficção, não é realidade diriam alguns. Não há realidade senão
enquanto ficção. O diretor cerne a sua realidade em torno
de um vazio que cava com o seu olhar. Ele torna presente o
seu imaginário, filma, enquadra e edita aquilo que quer fazer
passar. E, para isso, utiliza-se de diversos recursos: imagem,
movimento, narrativa, cor, trilha sonora, textos, falas etc. Porém,
não está só quando trabalha; ele conta com uma equipe. Mas
vamos tomá-lo como o pivô de “uma mentira a ser contada”.
Pensemos a partir da fantasia em Freud. O trauma não é
ENTRE O CINEMA um evento vivido ou experimentado necessariamente; ele é,
E A PSICANÁLISE COM geralmente, a fantasia neurótica sobre uma cena que reconstitui
WES ANDERSON o que teria sido o seu encontro precoce com o real do sexo e
Abílio Ribeiro da morte por meio dos pais. Desde muito cedo, a experiência

62 63
humana nos traz as figuras do real e os seus espectadores. (…) o devaneio da sala é filme Viagem a Darjeeling (2007). Trata-se manias, vícios e idiossincrasias? Digamos
enigmas: o desamparo, a morte, o sexo. prefigurado pelo devaneio crepuscular prévio à do caminho acidentado percorrido por três apenas que se trata da estética do autor.
hipnose. irmãos entre o “abandono” da mãe e a Wes Anderson brinca com a sua ironia,
O artista é aquele que nos oferece a
morte do pai. com a realidade fantástica, com as cores
sua própria fantasia para que possamos Barthes admite, no entanto, que o seu
que saltam da telona e realçam as suas
abordar o real. Freud nos esclarece que a maior prazer está em sair do cinema na Contando com a breve e luxuosa
cenas, com o cuidado estético, nostálgico e
fantasia alude à cena imaginada, jamais rua iluminada e vazia por onde caminha participação de Bill Murray e as excelentes
até exagerado nas montagens de cenários
capaz de se realizar a não ser como silenciosamente em busca de um bar. atuações de Jason Schwartzman, Owen
e figurinos, com o uso do centro da tela e
fantasia. O diretor usa a fantasia para Encontra-se entorpecido e sonolento, o Wilson e Adrien Brody, Anderson nos conta
a sua adorada simetria na imagem, cenas
nos fisgar, capturar. Sobre a sua fantasia seu corpo mole lembra o de um gato uma história que nos envolve. Ele tira de
longas e movimentos em sincronia.
projetamos a nossa própria cena íntima adormecido. Ele nos chama a atenção para sua cartola os truques que marcam o seu
e privada. O cinema alimenta a nossa o estado quase onírico em que deixamos estilo. E o que é um estilo? Em Viagem a Darjeeling, o diretor nos
fantasia. Ele nos ilude, realiza truques que uma sala de projeção. Será que podemos transporta para o ambiente místico por
“Se o estilo é o homem”, como afirmou
nos levam a cair no ilusionismo sugestivo aproximar um filme assistido aos sonhos? meio de um trem pela Índia. O motivo seria
Buffon, o estilo é a sua marca transmitida
do diretor. É preciso, no entanto, que uma jornada espiritual de autoconhecimento
“Se a vida é um sonho”, como propõe para além de sua intenção. Um estilo se
nos encontremos num estado de relativa promovida por um personagem que, depois
Freud, “despertamos para o real”, inventa. Digamos que o estilo de Wes
hipnose. Citamos um pequeno trecho de de quase se matar num acidente, atrai e
acrescenta Jacques Lacan. Para que Anderson é a sua marca impressa na obra,
Roland Barthes em seu ensaio “Saindo do fisga seus dois irmãos para a empreitada.
realidade despertamos quando saímos do e não a sua pessoa. O cineasta assina a
cinema” (1975): Francis, Peter e Jack não se encontravam há
cinema e depois de termos sido afetados sua obra com o traço que tanto serve ao
um ano, desde o enterro do pai.
Tudo se passa como se, antes mesmo de entrar pelos truques e ilusionismos do diretor? seu sintoma quanto a seu estilo.
na sala, as condições clássicas de hipnose Eles são apresentados inicialmente como
Nessa pequena argumentação para a Algumas características que marcam os
estivessem reunidas: vazio; ociosidade. Não se estivessem perturbados, confusos e até
Mostra Muito Além dos Tenenbaums, seus filmes podem ser notadas em Viagem
é frente ao filme que sonhamos; é, sem o transtornados no encaminhamento de suas
citamos da rica obra de Wes Anderson o a Darjeeling. Seriam as suas obsessões,
sabermos, antes mesmo de nos tornarmos vidas. Além de um luto não realizado pela

64 65
morte do pai, demonstram um sentimento próximos e vizinhos”. Aquele grupo familiar e à escolha que ela fez. Wes Anderson
de orfandade pelo desaparecimento da nos serve de referência sobre isso. nos sugere um caminho possível para a
mãe. Ela, inclusive, não esteve presente no orfandade e o desamparo que todos nós
Tudo parece caminhar para um desastroso
enterro daquele que era o pai de seus filhos. sentimos. Conversaremos mais sobre o
desfecho; entretanto, Anderson nos envolve
Esse primeiro enfoque sobre a trama já nos diretor e a sua obra durante a mostra.
na sua metafórica viagem espiritual pela
sugere uma questão: haveria tempo e espaço Até lá!
Índia. Depois de serem expulsos do trem,
nos dias de hoje para os nossos lutos?
vivem a cena crucial em que se encontram
A reunião dos três é a princípio conflituosa, representados por três crianças em
caótica e acidentada: usam e abusam de afogamento no rio. Sacada incrível do
medicamentos, exibem atitudes compulsivas diretor! Acontece que, das três, uma vai
e, gradativamente, tornam as suas a óbito. Eles estão, agora, consternados,
permanências no trem inviáveis. Nesse porém, aparentemente, menos confusos
tempo da trama, Wes Anderson aborda a ou caóticos. A morte do menino no rio os
questão dos laços sanguíneos em conflito trouxe algo de real, do limite, da privação
com as rivalidades fraternas. O tema é quando se encontravam impulsivos,
muito bem explorado pelo diretor que se compulsivos e em conflito com as suas
utiliza do irônico e quase patético sobre o vidas. Vivem uma pausa, um tempo de
narcisismo das pequenas diferenças. Os elaboração sobre algo que até ali não
laços fraternos estão carregados de paixões: podiam enfrentar. São convidados para o
amor, ódio, ciúme, inveja, competição, funeral e é possível que só a partir desse Abílio Luiz Canelha Ribeiro Alves:
desprezo, entre outras. Cogitamos, aí, o evento tenham sido atravessados pelo luto Graduação em Psicologia na PUC-RJ; Pós-
problema do convívio conflituoso entre que precisavam experimentar. Só a partir Graduação em Clínica Psicanalítica na PUC-RJ;
semelhantes: “o homem em guerra com os desse momento, puderam ter acesso à mãe Psicanalista membro da ELP-RJ; autor do romance
Siboney.

66 67
FILMES

68
Pura Adrenalina
Bottle Rocket

EUA, 1996 Os desajustados Anthony Primeiro longa-metragem


91 min (Luke Wilson), Dignan (Owen de Wes Anderson, foi
14 anos Wilson) e Bob (Robert Musgrave) desenvolvido a partir de
resolvem entrar para o mundo seu primeiro curta-metragem
do crime. Juntos, eles investem homônimo (Bottle Rocket). O
nas habilidades necessárias curta chamou atenção do
para iniciar esta nova e
público e da crítica quando
específica carreira, e começam
a cometer uma série de assaltos passou por festivais. Por este
atrapalhados pela vizinhança. motivo, muitas vezes o curta é
A aventura dos jovens sofre uma considerado uma espécie de
reviravolta quando eles precisam “piloto” do longa-metragem.
administrar o dinheiro roubado O curta é em preto e branco,
e cada um tem seus próprios enquanto o longa é em cores.
planos em mente.
O filme de estreia de Wes
Anderson teve três indicações a
prêmios e ganhou dois deles.

71
Direção Wes Anderson
Roteiro Owen C. Wilson
Wes Anderson
Produção Polly Platt
Cynthia Hargrave
Elenco Owen C. Wilson
Luke Wilson
Robert Musgrave
Andrew Wilson
Lumi Cavazos
Ficha técnica
James Caan
Fotografia Robert Yeoman
Arte David Wasco
Edição David Moritz
Figurino Karen Patch
Música Mark Mothersbaugh

72
Três é Demais
Rushmore

EUA, 1998 O jovem Max Fischer (Jason expulsão da instituição e o


93min Schwartzman) é aluno da suposto triângulo amoroso,
14 anos tradicional escola preparatória Max vê sua vida mudar.
Rushmore. Lá, como bolsista
da escola particular, ele se
envolve em diversas atividades
extraclasse mas não consegue Indicado a mais de 12
tirar boas notas. Quando ele prêmios, incluindo um Globo
e seu amigo Herman Blume de Ouro para Bill Murray.
(Bill Murray) se apaixonam
pela professora Rosemary Vencedor de 17 prêmios
Cross (Olivia Williams), Max o internacionais
rivaliza. Em meio à ameaça de

75
Direção Wes Anderson
Roteiro Wes Anderson
Owen Wilson
Produção Barry Mendel
Paul Schiff
Elenco Jason Schwartzman
Bill Murray
Olivia Williams
Seymour Cassel
Brian Cox
Ficha técnica
Mason Gamble
Sara Tanaka
Stephen McCole
Connie Nielsen
Luke Wilson
Fotografia Robert Yeoman
Arte David Wasco
Edição David Moritz
Figurino Karen Patch
Música Mark Mothersbaugh

76
Os Excêntricos Tenenbaums
The Royal Tenenbaums

EUA, 2001 Três irmãos, Chas (Ben Stiller), circulam pela casa e pela
110 min Margot (Gwyneth Paltrow) e vida dos Tenenbaums.
14 anos Richie (Luke Wilson), são con-
frontados pela súbita presença
do pai omisso, que está empe- O filme conta com dez
nhado em reunir sua família premiações em diversas
novamente. Os três foram áreas, como atuação (Gene
crianças-prodígio e hoje enfren- Hackman), figurino, música e
tam as dificuldades de terem se maquiagem e penteados.
transformado em adultos com
várias lacunas. O reencontro é O filme teve mais de quarenta
caótico pela interação entre os indicações a prêmios entre
membros da família e a inter- elenco, roteiro, edição e
ferência de outras pessoas que outras categorias.

79
Direção Wes Anderson
Roteiro Wes Anderson
Owen Wilson
Produção Wes Anderson
Barry Mendel
Scott Rudin
Elenco Gene Hackman
Anjelica Huston
Ben Stiller
Gwyneth Paltrow
Luke Wilson
Owen Wilson
Ficha técnica Bill Murray
Danny Glover
Seymour Cassel
Kumar Pallana
Alec Baldwin
Fotografia Robert Yeoman
Arte David Wasco
Edição Dylan Tichenor
Figurino Karen Patch
Música Mark Mothersbaugh

80
A Vida Marinha com Steve Zissou
The Life Aquatic with Steve Zissou

EUA, 2004 O famoso Steve Zissou (Bill Teve dez indicações em


118 min Murray) e sua equipe de festivais e premiações.
14 anos peculiares tripulantes partem Venceu 3 prêmios em festivais
em busca do tubarão-jaguar. A (atuação de Cate Blanchet e
criatura mítica que ele afirma figurino de Milena Canonero).
ter devorado seu amigo Esteban
se torna alvo de uma obstinada O filme conta com o artista
vingança. Acompanhados brasileiro Seu Jorge no elenco.
de passageiros inusitados, No filme, ele interpreta um
como uma jornalista e um dos membros da tripulação.
possível filho de Steve Zissou, Além disso, Seu Jorge compôs
a embarcação segue numa e interpretou versões em
aventura pelos mares, revelando
português de músicas famosas
paisagens e desenvolvendo
relações ao longo da viagem. de David Bowie para a trilha
sonora original do filme.

83
Direção Wes Anderson
Roteiro Wes Anderson
Noah Baumbach
Produção Wes Anderson
Barry Mendel
Scott Rudin
Elenco Bill Murray
Owen Wilson
Cate Blanchett
Anjelica Huston
Willem Dafoe
Jeff Goldblum
Michael Gambon
Ficha técnica Noah Taylor
Bud Cort
Seu Jorge
Robyn Cohen
Waris Ahluwalia
Niels Koizumi
Pawel Wdowczak
Fotografia Robert Yeoman
Arte Mark Friedberg
Edição David Moritz
Figurino Milena Canonero
Música Mark Mothersbaugh

84
Hotel Chevalier
Hotel Chevalier

EUA e França, Jack Whitman (Jason sua vida serão sacudidos


2007 Schwartzman) passa por um por uma inesperada visita.
13min momento difícil e decide se
12 anos isolar em um quarto de hotel
em Paris, após o término de um
relacionamento complicado.
Hotel Chevalier é um curta
Seu momento de reflexão é
que pertence ao mesmo
interrompido por uma ligação
perturbadora. Jack encontrará universo do longa-metragem
no Hotel Chevalier muito mais “Viagem a Darjeeling”. O
do que o sanduíche de queijo caso é mencionado no longa-
que havia pedido ao serviço do metragem em conversa entre
hotel. Sua viagem e o rumo de os irmãos Whitman.

87
Direção Wes Anderson
Roteiro Wes Anderson
Produção Patrice Haddad
Elenco Jason Schwartzman
Ficha técnica Natalie Portman
Fotografia Robert Yeoman
Arte Kris Moran
Edição Vincent Marchand
Música Randall Poster

88
Viagem a Darjeeling
The Darjeeling Limited

EUA, 2007 Quando completa um ano de encontro com um


91 min da morte do pai, os irmãos importante ente da família.
14 anos Whitman encontram-se a pedido
de Francis (Owen Wilson).
Relutantes, o impetuoso Peter Indicado a oito prêmios e
(Adrien Brody) e o evasivo vencedor de quatro deles.
Jack (Jason Schwartzman)
embarcam com seu irmão Relaciona-se com o
para uma conturbada viagem curta metragem “Hotel
pela Índia, na tentativa de Chevalier”, que trata de um
alcançar reconciliação e
autoconhecimento. No percurso, relacionamento amoroso
novas questões delicadas se conturbado de Jack, um dos
apresentam com a perspectiva irmãos Whitman.

91
Direção Wes Anderson
Roteiro Wes Anderson
Roman Coppola
Jason Schwartzman
Produção Wes Anderson
Scott Rudin
Roman Coppola
Lydia Dean Pilcher
Elenco Owen Wilson
Adrien Brody
Jason Schwartzman
Amara Karan
Wally Wolodarsky
Ficha técnica Waris Ahluwalia
Irrfan Khan
Barbet Schroeder
Camilla Rutherford
Bill Murray
Anjelica Huston
Fotografia Robert Yeoman
Arte Mark Friedberg
Edição Andrew Weisblum
Figurino Milena Canonero
Música Randall Poster

92
O Fantástico Sr. Raposo
Fantastic Mr. Fox

EUA, 2009 O Senhor Raposo (George envolvidos nos planos


87min Clooney) tenta abandonar seus e suas consequências
10 anos instintos selvagens e ser um catastróficas, pois os alvos
pai e marido responsável após dos criminosos são três
saber que sua esposa, Felicity terríveis fazendeiros da
(Meryl Streep), está grávida. região. Será que o esperto
A família passa a viver num Senhor Raposo conseguirá
novo lar, não recomendado consertar tudo no final?
pelo advogado da família.
Assim, a família recebe
Kristofferson (Eric Anderson)
em casa por um tempo e Ash O filme foi indicado a melhor
(Jason Schwartzman) rivaliza filme de animação em vários
o primo em tudo. Enquanto festivais, tendo perdido para
o Senhor Raposo se esforça a animação Up, da Pixar, em
para ser um trabalhador, uma alguns deles.
nova oportunidade surge
e ele planeja, junto com Alexandre Desplat ganhou
seus comparsas, os maiores prêmios pela trilha original e
roubos jamais imaginados. Wes Anderson foi premiado
Em alguma medida, toda a pela National Board of
família, amigos e colegas são Review.

95
Direção Wes Anderson
Roteiro Wes Anderson
Noah Baumbach
(Baseado em uma história
original de Roald Dahl)
Produção Allison Abbate
Wes Anderson
Jeremy Dawson
Scott Rudin
Elenco George Clooney
Meryl Streep
Jason Schwartzman
Bill Murray
Ficha técnica Wally Wolodarsky
Eric Anderson
Michael Gambon
Willem Dafoe
Owen Wilson
Fotografia Tristan Olive
Arte Nelson Lowry
Edição Ralph Foster
Stephen Perkins
Andrew Weisblum
Música Alexandre Desplat

96
Moonrise Kingdom
Moonrise Kingdom

EUA, 2012 Em uma ilha da Nova Inglaterra, social, os policiais e, de


94 min na década de 1960, um menino alguma maneira, o povo da
12 anos e uma menina se apaixonam. cidade, que sai em busca
Suzy (Kara Hayward), voraz deles.
leitora. Sam (Jared Gilman),
dedicado escoteiro. Ambos Mais de cem indicações
se correspondem por meio a prêmios em diversas
de cartas quando decidem categorias, em festivais e
fugir juntos. Arquitetando um votações.
minucioso plano, causam
Mais de trinta e cinco prêmios,
grande alvoroço ao serem bem-
sucedidos na fuga. A confusão por várias categorias, como
alcança grandes proporções roteiro, direção, elenco, arte e
envolvendo a família de Suzy, trilha musical, além de melhor
os escoteiros, a assistente filme.

99
Direção Wes Anderson
Roteiro Wes Anderson
Roman Coppola
Produção Wes Anderson
Jeremy Dawson
Steven Rales
Scott Rudin
Elenco Bruce Willis
Edward Norton
Bill Murray
Frances McDormand
Ficha técnica Tilda Swinton
Jared Gilman
Kara Hayward
Jason Schwartzman
Bob Balaban
Fotografia Robert Yeoman
Arte Adam Stockhausen
Edição Andrew Weisblum
Figurino Kasia Walicka Maimone
Música Alexandre Desplat

100
O Grande Hotel Budapeste
The Grand Budapest Hotel

EUA e No famoso Grande Hotel por isso, envolvendo-se em


Alemanha, Budapeste, no período aventuras cheias de altos e
2014
entre guerras, M. Gustave baixos.
99min
14 anos (Ralph Fiennes), um lendário
concierge, desenvolve uma
amizade incomum e intensa
Mais de duzentas indicações
com Zero Moustafa (Tony
a prêmios em festivais e
Revolori). Enquanto os dois
votações pelo mundo, em
tentam atender seus hóspedes
diversas categorias.
da melhor maneira possível,
Zero envolve-se em um lindo e Vencedor de aproximadamente
proibido romance com Agatha setenta prêmios em festivais
(Saoirse Ronan). Já Gustave, e votações em diversas
prefere manter vários romances categorias, incluindo quatro
questionáveis com as hóspedes estatuetas no Oscar, um Globo
do hotel europeu. Diante de de Ouro, cinco prêmios no
um acontecimento inesperado, BAFTA e um Urso de Prata no
Gustave se vê perseguido e Festival de Berlim. Destaque
suspeito de um crime e conta para as equipes de música,
com o leal Zero para passar arte e figurino.

103
Direção Wes Anderson
Roteiro Wes Anderson
Produção Wes Anderson
Jeremy Dawson
Steven Rales
Scott Rudin
Elenco Ralph Fiennes
F. Murray Abraham
Mathieu Amalric
Adrien Brody
Willem Dafoe
Jeff Goldblum
Harvey Keitel
Ficha técnica Jude Law
Bill Murray
Edward Norton
Saoirse Ronan
Jason Schwartzman
Léa Seydoux
Tilda Swinton
Fotografia Robert Yeoman
Arte Adam Stockhause
Edição Barney Pilling
Figurino Milena Canonero
Música Alexandre Desplat

104
TÍTULO: Muito Além dos Tenenbaums

TIPO DE EVENTO: mostra de cinema

LOCAL: Cinema 1, CAIXA Cultural Rio de Janeiro


Av. Almirante Barroso, 25, Centro, Rio de Janeiro/RJ

PERÍODO: de 06 a 18 de Janeiro de 2018

RESUMO:
A mostra exibe 9 filmes, sendo 8 longas e 1 curta, do premiado
diretor e roteirista Wes Anderson, no espaço Cinema 1 da Caixa
Cultural Rio de Janeiro, entre os dias 6 e 18 de janeiro de 2018.
Para além das sessões de filmes, a programação abarcará
SOBRE O EVENTO palestras, debates e o lançamento de um catálogo, com material
inédito em língua portuguesa sobre a obra do realizador,
produzido especialmente para o evento.

106 107
FICHA TÉCNICA

108 109
CRÉDITOS PROGRAMAÇÃO VISUAL PALESTRAS REGISTRO FOTOGRÁFICO
Estúdio Bacuri Abílio Ribeiro Nathália Atayde
Ana Bolshaw Felipe Muanis
Miguel Carvalho
REGISTRO VIDEOGRÁFICO
PRODUÇÃO ORGANIZAÇÃO EDITORIAL
Swahili Vidal
Atlas Cultural TRILHA SONORA ORIGINAL Aline Fonte
Arre Colares Rodrigo Fomel
ASSESSORIA DE IMPRENSA
CURADORIA
Nuage
Aline Fonte VINHETA DE ABERTURA TEXTOS CATÁLOGO
Maria Clara Machado
Rodrigo Fomel Nino Ottoni Abílio Ribeiro
Renata Rodrigues
Aline Fonte
Arre Colares
PRODUÇÃO EXECUTIVA LEGENDAGEM
Felipe Muanis CLIPPING E VALORAÇÃO DE MÍDIA
Rodrigo Fomel 4Estações
Rodrigo Fomel GBR Clipping
Sérgio Alpendre
COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO PROJEÇÃO
MOBILIÁRIO
Aline Fonte Projecine
REVISÃO DE TEXTOS Fascine Design
Marcia Glenadel Gnanni
ASSISTÊNCIA DE PRODUÇÃO DEBATE
Luiza Pion Arre Colares
Negra Maria Gomes Fernando Morais
AGRADECIMENTOS AGRADECIMENTOS ESPECIAIS

Paulo Baiano | Heloisa Fortes | Denise Nascimento A todos os convidados e autores,


Roberto Pereira | Alcides Mello | Clara Rodrigues Abílio Ribeiro, Arre Colares, Felipe Muanis, Fernando Morais e Sérgio Alpendre
Liliane de Freitas | Ana Carvalho | Silvana Soares pela disponibilidade, presteza e colaboração.
Samantha Chuva | José Henrique Fortes Mello
Cristiano Silveira | Irapoã Silveira
Rich Klubeck (US) A toda a equipe de apoio,
Sarah Brady (Film Bank Media UK) Luiza Pion, Negra Maria, Ana Bolshaw e Miguel Carvalho
Samuel, Karen, Abraão (MPLC Brasil) pela dedicação e entrega.
Marcelo Bueno (Cinemateca Brasileira – SP)
Zaíra e Sabrina | João e Charles (Projecine)
Mário Pragmácio e Eduardo Magrani
Bernard Porto (NBC Brasil) | Patrícia Luna (Fox Brasil)
Roberto Antolin (FBM LATAM) | Cláudio e Marina (Cinecolor)
Antônio (Vortex) | Álvaro (Zeitgeist) | Rick Norris (Roxie CA/US)
AGRADECIMENTOS MAIS QUE ESPECIAIS
Graham Fulton (Park Circus UK)
Thaís Legarra (Omelete) | Eloisa Winther (Sony Brasil)
Peter Langs, Michael Daruty e David Bristow (NBC US)
Luiz Giban †
Jason Sondhi (Short of the Week US) |
Swank (US) | FedEx (Brasil) Raquel Stern †
Eduardo Prugger | Bianca Martins | Ricardo Pessanha
114 115
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA.
VENDA PROIBIDA.

Formato
17 x 14cm

Tipologia
Futura Std Book (texto)
Futura Std Bold (títulos)

Papel
Couché Fosco 115g/m² (miolo)
Couché Fosco 300g/m² (capa)

Gráfica Printi
São Paulo/SP, Janeiro de 2018

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PRODUÇÃO APOIO PATROCÍNIO

Indo mais longe com você

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