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PROFISSIONAL
autor
ALFREDO RODRIGUES JUNIOR
1ª edição
SESES
rio de janeiro 2018
Conselho editorial roberto paes e gisele lima
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2018.
1. Advocacia brasileira 7
Origem 8
História 9
Inscrição de estagiário 23
Publicidade na advocacia 43
3. Honorários advocatícios; renúncia, revogação e
substabelecimento 47
Honorários convencionados 49
Pacto quota litis 51
Honorários de sucumbência 53
Prezados(as) alunos(as),
Bons estudos!
5
1
Advocacia brasileira
Advocacia brasileira
Da atividade advocatícia: origem, história, legislação, inscrição aos qua-
dros da OAB e características.
Neste capítulo o aluno vai se deparar com um resumo histórico da advocacia
no mundo e, notadamente, no Brasil. Perceberá a influência da advocacia na vida
civil e política do país e reconhecerá que o advogado é a única profissão liberal de
natureza privada que possui tratamento expresso na Constituição Federal.
Vai conhecer as principais normatizações que contemplam a atividade advo-
catícia e quais são os requisitos legais a serem cumpridos para se chegar ao status
de advogado.
Você também começará a enxergar que o fato de ser advogado por si só já car-
rega uma grande responsabilidade social, ainda que não tenha realizado nenhum
ato privativo da advocacia, imagina quando se realiza, então? São reflexões que já
sinalizam que além da necessidade de acúmulo de conhecimentos, para ser advo-
gado também tem de levar consigo um bom bocado de ética.
Irá conhecer as formas de acesso ao exercício da advocacia, entendendo que há
limites para um exercício legal e as responsabilidades que carrega o advogado, nas
mais simples e modestas causas que assim possam ser consideradas.
OBJETIVOS
• Aquilatar a importância da ética na atividade advocatícia;
• Conhecer as principais normas que regem o assunto;
• Diagnosticar os direitos e deveres do advogado.
Origem
capítulo 1 •8
(representantes das partes) e dos jurisconsultos (pessoas de opiniões jurídicas de
respeitada qualidade moral e científica).
No Brasil, naturalmente a influência de Portugal foi uma consequência lógi-
ca. Seus reflexos remetem às Ordenações Filipinas A exigência destas Ordenações
era a necessidade do período de oito anos de estudo cursados na Universidade de
Coimbra em Direito Canônico, Civil ou em ambos.
Portanto, durante o período colonial, aqui no Brasil observavam-se os traba-
lhos dos rábulas, pessoas que aprendiam e exerciam o ofício da advocacia, ainda
que não formados.
História
capítulo 1 •9
Brasileiros formando uma identidade político-social inaugurando um período
pós-independência.
Todo esse processo iniciado no século XIX expandiu-se para o século seguinte
consolidando com a criação da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que por
intermédio do Decreto 19.408, de 18/11/1938 expressamente em seu artigo 17
preconizava “criada a Ordem dos Advogados Brasileiros, órgão de disciplina e
seleção da classe dos advogados”, que no escólio de Geronimo Theml de Macedo
[2009, p.1] se regeria pelos estatutos que fossem votados pelo Instituto da Ordem
dos Advogados Brasileiros, com a colaboração dos Institutos dos Estados, e apro-
vados pelo Governo.
A época da criação da OAB (transição da República Velha para a Era Vargas) já
sinalizava uma atuação dos advogados e juristas na participação ativa das mudan-
ças políticas que nosso país sofreu. Com atribuições em todo território nacional
consagradas no Referido Decreto de 1938, a OAB tinha uma missão institucional
de zelar pelas Instituições, assim com pela Ordem Jurídica de nosso país.
A busca pela defesa das liberdades democráticas trouxe marcas positivas
à Instituição, como a luta contra o autoritarismo do Estado Novo, e contra o
Regime Militar de 1964, consolidando-se como uma das principais Instituições
da Sociedade Civil.
O movimento popular em defesa do Estado de Direito no início dos anos 80
teve na OAB um de seus maiores alicerces na busca das eleições diretas para os
nossos governantes, tanto que a Ordem foi alvo de muitos atentados perpetrados
por aqueles contrários à instauração de uma nova ordem democrática no país.
A luta pela abertura política espelhou sua atuação na Assembleia Nacional
Constituinte que após inúmeras discussões com representações de, praticamente,
todos os setores da sociedade brasileira, promulgou a Constituição Federal que
vige até hoje com as suas respectivas emendas.
De uma leitura atenta à Constituição Federal de 1988 não há dúvidas quan-
to à importância da Ordem dos Advogados do Brasil no cenário político-social
do país. Reconhecidamente autorizada como voz dos cidadãos brasileiros, o
Conselho Federal da OAB possui legitimidade universal para o ajuizamento de
Ações Diretas que visam o controle de constitucionalidade de nossa carta magna.
Associado à Magistratura e o Ministério Público, o advogado é a única profissão
com expressa referência constitucional
capítulo 1 • 10
Da legislação da OAB
O Estatuto é uma lei compacta, que procurou tratar apenas das matérias que se en-
cartassem na denominada reserva legal (criação, modificação ou extinção de direitos
e obrigações). Dessa forma todas as demais foram remetidas ao seu Regulamento
Geral, mediante delegação de competência legal ao Conselho Federal da OAB.
capítulo 1 • 11
Ainda que não delineada como norma pertencente à legislação específi-
ca da Ordem dos Advogados, fique atento para as Conferências Nacionais dos
Advogados como órgão consultivo, cujas conclusões são vertidas em recomenda-
ções aos respectivos Conselhos, que poderão adotá-las ou as rejeitar, no entanto
jamais as ignorar.
capítulo 1 • 12
advocacia e/ou não tenha concluído a graduação em direito. (a OAB admi-
te essas possibilidades que serão comentadas na ocasião da análise do respecti-
vo requisito).
Vamos à analise, pormenorizada, de cada requisito elencado no artigo oitavo
do Estatuto, chamando a atenção de que entendemos que as interpretações devem
ser restritivas pelo fato de se estar lidando com um princípio de natureza consti-
tucional que consiste na Liberdade do Exercício Profissional, que são os seguintes:
1. Capacidade civil: Salvo as hipóteses de incapacidade reguladas pela lei civil,
presume-se a capacidade civil plena da pessoa que completa 18 anos de idade, pois
se exige do bacharel em direito a plenitude dessa referida capacidade civil, confor-
me observa Rodrigo de Farias [2010, p. 10]: Comprovada graduação universitária
em curso jurídico, presume-se, também, na lei civil, sua capacidade civil ainda que
não conte com 18 anos completos.
2. Diploma ou certidão de graduação em direito: Por não existir mais a de-
nominada “inscrição provisória”, compreensível foi a alternatividade trazida pelo
Estatuto, quando a certidão de graduação (que só pode ser expedida após a cola-
ção de grau) substitui o diploma.
É notório que a confecção do diploma de graduação leva um tempo um tan-
to quanto considerável para sua efetivação, por essa razão, essa flexibilização de
aceitar a certidão de graduação veio facilitar em elevada proporção aqueles no-
vos formandos.
Todo rigor da OAB em analisar a autenticidade desses documentos se explica
não só com a exigência de que o curso de direito tem que ser reconhecido pelo
MEC como também da exigência do acompanhamento da cópia autenticada do
histórico escolar do requerente (Regulamento Geral, art. 23).
3. Regularidade eleitoral e militar: A exigência está enquanto compulsória, ou
seja, eleitoral para maiores de 18 anos (vimos que excepcionalmente é possível um
postulante à condição de advogado contar com menos de 18 anos) e militar, para
os homens [LOBO, 2009, p.88].
Veja que se trata de mais uma exigência do Congresso Nacional trazendo a
OAB como mais um Órgão de controle das obrigatoriedades cívicas e políticas.
4. Aprovação em exame de ordem: incontestavelmente o requisito com as dis-
cussões mais acaloradas no universo da advocacia. Essa etapa consiste numa aferi-
ção de conhecimentos práticos e jurídicos que o bacharel tem que passar.
Regulado por intermédio de Provimento editado pelo Conselho Federal,
conforme determinação do Estatuto, sendo competente cada Conselho Seccional
capítulo 1 • 13
designar banca examinadora para que as questões sejam formuladas. Apesar de
ser competência de cada Conselho Seccional, acatando sugestão emanada do en-
contro da XVI Conferência Nacional dos Advogados, houve a formulação de um
convênio entre todos eles, unificando nacionalmente o Exame.
Note que a competência continua a ser de cada Conselho, apenas, por inter-
médio desse convênio, é contratada uma banca examinadora que fica responsável
por toda logística de cada Exame, inclusive de recolher as questões formuladas de
cada Seccional. Para isso, o Conselho Federal institui uma comissão de conteúdo
e outra de revisão; essas comissões são compostas por membros dos respectivos
Conselhos Seccionais que repassam as questões para essa banca contratada.
Desse modo, regulado pelo Provimento de nº 144/2011, destacam-se as se-
guintes características:
Prestado no local do Conselho Seccional do Estado em que o interessado
concluiu o seu curso de Direito ou no local de seu domicílio eleitoral, o exame de
ordem é composto de duas etapas e com três edições em cada ano.
A regra é que somente os bacharéis em Direito possam prestar o exame, no
entanto, excepcionalmente se ficar comprovado por intermédio de certidão que se
encontre na condição de formando, valendo dizer, na iminência de colar grau, este
interessado poderá prestar o referido exame, cumprindo, logo após, a exigência
para o deferimento da inscrição ou requerendo a respectiva certidão de aprovação.
O aludido provimento trouxe dispensabilidades ao exame, portanto, de acor-
do com o seu respectivo artigo sexto, todos aqueles oriundos, ou seja, ex-integran-
tes da magistratura e do ministério público estão dispensados. Além desses, aque-
les bacharéis formados entre julho de 1994 até 1996 também estavam dispensados
por conta da regra de transição entre o atual e o anterior estatuto.
Não se discute mais sobre a inconstitucionalidade do exame, uma vez que essa
matéria já foi objeto de análise junto ao STF que, de forma unânime, reconheceu
a constitucionalidade dessa aferição como requisito à inscrição da OAB.
5. Ausência de incompatibilidade: requisito que se auto-explica por si só, pois
se há casos de incompatibilidade ao exercício da advocacia, certamente aqueles
que estão investidos em cargos ou funções que a lei traz essas incompatibilidades,
com toda razão não poderão ter deferida sua pretensão de inscrição aos quadros da
OAB. Os casos de incompatibilidade regulados pelo Estatuto estão no artigo 28 e
serão estudados em momento oportuno.
capítulo 1 • 14
6. Idoneidade moral: requisito de alta complexidade por conta do seu teor alta-
mente subjetivo. O que é uma pessoa inidônea? Nas lições de Paulo Lobo [2009,
p.94] “não são compatíveis com a idoneidade moral atitudes e comportamentos
imputáveis ao interessado, que contaminarão necessariamente sua atividade pro-
fissional em desprestígio à advocacia”.
Note que se qualquer tipo de atitude, realizada pelo interessado em sua vida
civil, pode ser caracterizada como ato inidôneo, com muito mais razão uma con-
duta criminosa também poderá sê-la. Para tanto, importante salientar que possí-
veis decisões na esfera penal, tais como extinção da punibilidade, não recebimento
da denúncia ou qualquer outra decisão em processo penal em curso não afasta a
possibilidade da eficácia da decisão em sede da inscrição da OAB, quanto à ido-
neidade, pela autonomia das esferas administrativa e criminal.
Não se pode esquecer de que o Estatuto trouxe uma condição de efetividade
para a decisão que julgar o interessado inidôneo, um verdadeiro ato vinculado e
motivado, nas palavras de Paulo Lobo [2009, p. 95]. Todo procedimento de ana-
lisar a inidoneidade deve obedecer a um rito estabelecido na lei que consiste na
instauração de um processo de natureza administrativa que garanta ao interessado
o seu direito de defesa e contraditório, uma vez que o Estatuto impõe que se ob-
servem os termos do processo disciplinar.
capítulo 1 • 15
Ainda que no âmbito desse processo administrativo haja uma decisão de ini-
doneidade, foi previsto um quórum mínimo de dois terços de todos os membros
do Conselho Seccional respectivo para que tenha efeito sua decisão.
Por fim, o parágrafo quarto do artigo oitavo trouxe uma presunção legal de
inidoneidade, uma hipótese taxativa que consiste na condenação por crime infa-
mante. Perceba que o dispositivo se refere à “condenação”, o que implica trânsito
em julgado da condenação. Não basta, nesse particular, a instauração de inquérito
policial, o recebimento da denúncia ou até mesmo uma condenação recorrível, a
lei se conforma somente com condenação criminal irrecorrível.
Nesse raciocínio, sustenta-se que não restando apurada qualquer condenação
antes da inscrição, ainda que haja processo criminal em curso, com amparo à pre-
sunção constitucional da não culpabilidade, o deferimento se impõe [JÚNIOR,
MARCO ANTÔNIO, 2009, p.52]
O grande desafio é diagnosticar o que é crime infamante, essa é uma das
razões pelas quais exige-se processo incidental, com muito acerto a lei trouxe um
conceito aberto, porque há a necessidade de ser averiguado a cada caso concreto.
Imagina se a lei assemelhasse crime infamante a crimes hediondos; haveria um
grande problema que seria a subordinação à tipicidade, ou seja, tudo que fosse he-
diondo seria infamante, no entanto o que não estivesse na condição de hediondez
não poderia ser considerado.
Observe que está longe de comparar o interessado a se tornar advogado em
pessoa “ficha limpa”, qualquer pessoa pode cometer um deslize criminal e ainda
assim com direito à ressocialização. Certamente os crimes culposos estão fora dessa
abrangência, no entanto delitos como os de falso e estelionato inevitavelmente se
enquadrarão à espécie de crimes infamantes.
Cumpre esclarecer que, por se tratar de seara penal, toda reabilitação judicial
apaga a vida pregressa do agente, razão pela qual, deferido este instituto em favor
do condenado, o Estatuto proíbe etiquetá-lo como condenado a crime infamante.
7. Prestar compromisso: ultimo requisito do artigo oitavo e também o último
requisito a ser cumprido pelo interessado. Trata-se de um ato solene que, após ser
analisado o cumprimento de todos os requisitos anteriores, é marcado e realizado
perante o Conselho Seccional, manifestado de viva voz o juramento do interes-
sado em exercer a advocacia com dignidade e responsabilidade, assim como do
compromisso de respeitar e observar a legislação aplicável e o código de ética
e disciplina.
capítulo 1 • 16
Comprometer-se com algo revela, inexoravelmente, um ato personalíssimo,
razão pela qual esse último requisito não comporta delegação e tampouco ao inte-
ressado é permitido estar representado por procurador.
Cancelamento
capítulo 1 • 17
Licenciamento
Inscrição principal
Inscrição suplementar
capítulo 1 • 18
manifestamente expresso no Estatuto o de advogar em qualquer parte do território
nacional, fato que decorre do exercício pleno da liberdade profissional em razão
do espaço.
No entanto, mesmo considerado um direito pleno em razão do espaço, este
pode sofrer algumas relativizações quanto ao seu exercício, basta observar que a
anuidade se sujeita a cada respectiva seccional, portanto, um advogado com ins-
crição principal no RJ não paga anuidade em SP.
Perceba, então, que se esse advogado pudesse advogar em SP irrestritamente
passaria a ter uma vantagem sobre o seu colega de São Paulo porque somente este
paga anuidade à seccional paulista, por estar vinculado a ela, enquanto o advogado
da seccional do RJ só tem a obrigação de pagamento com esta última.
Surge, então, uma forma de coibir essas espécies de exercício ilegal da profis-
são, que consiste na necessidade de uma inscrição suplementar quando o advoga-
do exercer sua profissão em território diverso do dele, em condições de habituali-
dade, fato que decorre do exercício condicionado da liberdade profissional.
Por essa razão, faz-se necessário compreender, para fins de inscrição suple-
mentar, o conceito de “habitualidade”, e o Estatuto o trouxe de maneira expressa,
assim se referindo: “considerando-se habitualidade a intervenção judicial que ex-
ceder de cinco causas por ano”.
Aparentemente um simples conceito, mas que dele decorrem algumas discus-
sões na doutrina que se procurará compreender. De início, e aqui não há diver-
gência, é a locução “intervenção judicial” sinalizando de maneira inquestionável
que, para fins de habitualidade, toda intervenção extrajudicial é plena, ou seja, só
se consideram intervenções judiciais para fins de análise da inscrição suplementar.
Na parte “exceder a cinco causas por ano” começam as indagações, tais como:
o que é causa? “Por ano” é ano calendário? “Por ano” é a mesma coisa que “ao ano”
ou “em um ano”? Então, vejamos:
No âmbito restrito da interpretação do referido dispositivo, novamente com
alicerce em Paulo Lobo [2009, p. 105], “causa deve ser entendida como pro-
cesso judicial efetivamente ajuizado, em que haja participação do advogado”.
Compreenda, então, que se trata da efetiva participação do advogado no processo,
seja essa participação original ou intercorrente.
O Conselho Federal já sanou algumas dessas dúvidas, quando decidiu que
causa é sempre a primeira, sendo irrelevante o acompanhamento nos subsequen-
tes. Com isso, é seguro afirmar que a referência é o ano-calendário em que no ano
capítulo 1 • 19
subsequente “zera tudo” e o advogado pode participar de mais cinco processos
novos sem precisar ser considerado habitual.
Portanto, a intervenção em mais de um processo judicial durante um ano
calendário traz a habitualidade daquele profissional, tornando obrigatória a inscri-
ção suplementar, com numeração distinta da principal, no respectivo território em
que ocorra, sem a necessidade, para isso, de uma nova prestação de compromisso
porque esta é única e personalíssima para o exercício da profissão.
Faz-se também necessário esclarecer que não são levadas em consideração as
ações ajuizadas nos tribunais superiores por duas razões básicas: a primeira é que
se chegou até lá por intermédio de procedimento recursal a causa pertence ao juízo
de origem e a segunda, ainda que seja competência originária, embora os tribunais
superiores tenham sede na capital federal as suas jurisdições contemplam todo
território nacional, não estando, portanto, o advogado, fora do seu território de
inscrição principal (liberdade do exercício profissional plena em razão da matéria).
capítulo 1 • 20
dessa pessoa ser brasileira ou estrangeira, é fato incontroverso que ela deverá preen-
cher todos os requisitos do artigo oitavo.
No entanto, o fato da sua graduação ter sido no exterior surge para esse pos-
tulante ao status de advogado o ônus de fazer prova do título de sua graduação,
assim como de revalidar o seu referido curso. Essa revalidação se manifesta por
intermédio de Instituições de Ensino Superior Público que realizará um estudo
de compatibilidade do conteúdo cursado no estrangeiro com o conteúdo básico
estipulado na lei de diretrizes básicas. Para revalidação se faz necessária uma com-
patibilidade com um percentual mínimo estipulado por lei, o que nem sempre se
apresenta como tarefa fácil.
Advogado estrangeiro
Advogado português
capítulo 1 • 21
pedido de inscrição na seccional respectiva ao território, no entanto, como dito,
dispensado do exame de ordem.
Para o êxito de sua pretensão o requerente vai ter que provar sua situação re-
gular com a ordem portuguesa, vai ter que fazer prova de residência ou domicílio
profissional, além de estar em vigência a reciprocidade entre os dois países.
Não se exclui a possibilidade de o advogado português querer ficar apenas na
qualidade de consultor, nos termos aqui já referidos, além de consignar que esse
tratamento se refere ao advogado pessoa física, portanto, não se aplica às socieda-
des de advogados.
Advocacia Pública
capítulo 1 • 22
ele é? Defensor Público é Defensor Público, assim como Promotor de Justiça é
Promotor de Justiça!
No entanto, não só os advogados públicos, como os defensores públicos
exerce a advocacia e, portanto, estão subordinados ao Estatuto da OAB (art.
3º§1º), além dos Estatutos específicos a que se subordinam
Inscrição de estagiário
Indispensabilidade
capítulo 1 • 23
Atividade jurisdicional: Observe que vamos trazer três parâmetros (um con-
ceito e dois dispositivos legais) e em cima desses parâmetros vamos fazer um ques-
tionamento. A discussão gira em torno da resposta a esse questionamento, então
vejamos os parâmetros:
1. Jus Postulandi (conceito): postulação é ato de pedir ou exigir a prestação
jurisdicional. Exige-se qualificação técnica;
2. C.F., art. 133: o advogado é indispensável à administração da justiça, sen-
do inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites
da lei;
3. Estatuto da OAB, art. 1º: São atividades privativas de advocacia: I: a pos-
tulação a qualquer órgão do Poder Judiciário e aos Juizados Especiais.
PERGUNTA
É possível uma postulação a um provimento judicial sem a presença de
um advogado?
Levando em consideração qualquer um dos três parâmetros a resposta inquestionavel-
mente seria sempre negativa, isso porque a capacidade postulatória é a aptidão, de maneira
eficaz, para realizar os atos do processo que em nosso sistema jurídico compete exclusiva-
mente ao advogado, razão pela qual a obrigatoriedade da representação da parte em juízo
por advogado habilitado.
Acontece que, apesar da obrigatoriedade da presença do advogado, perceba que a res-
posta ao referido questionamento nem sempre será negativa e por que isso?
A Associação Brasileira dos Magistrados (AMB) pretendeu que o art. 1º, I do Estatuto da
OAB fosse considerado inconstitucional, portanto ajuizou uma ação direta de inconstitucio-
nalidade (1127-8) junto ao STF.
Houve à época o deferimento de uma liminar que perdurou até a decisão final do julga-
mento que, por maioria, considerou o artigo analisado constitucional, no entanto imprimiu-lhe
uma interpretação restritiva considerando a palavra “qualquer” inconstitucional.
Com essa decisão da suprema corte, a interpretação é de que continua valendo a ideia
de que há necessidade da presença do advogado para postulação de provimento jurisdicio-
nal, no entanto, caso haja alguma previsão legal sobre a dispensabilidade do advogado, isso
não viola a constituição federal que em seu art. 133 preconiza que o advogado é indispen-
sável à administração da justiça.
capítulo 1 • 24
Portanto, veja que o nosso trabalho é pesquisar e analisar as leis que, porventura, pre-
vejam a dispensabilidade do advogado, confirmando que esse fato não viola a constituição
federal, essas são as hipóteses de dispensabilidade do advogado:
1. Juizados Especiais;
2. Justiça do Trabalho: CLT, art. 791 (sem alteração pela reforma trabalhista de 2017):
o dispositivo faz menção à expressão “até o final”, o que significa dizer em matéria da justiça
do trabalho até o TST. No entanto, o próprio TST tem um entendimento (súmula 425) de que
se interpreta o art. 791 da CLT limitando a postulação sem advogado até os tribunais regio-
nais do trabalho, ficando, assim, indispensável a intervenção de um advogado para jurisdição
do TST;
3. Habeas Corpus: não se discute tratar-se de provimento jurisdicional em que a garantia
da liberdade pessoal já seria suficiente para sinalizar sobre a dispensabilidade do advogado,
no entanto o Estatuto da OAB não deixa motivos para discussão sobre a referida dispensa-
bilidade porque confirma em seu art. 1º§1º que não é atividade privativa da advocacia;
capítulo 1 • 25
4. Revisão Criminal (CPP, art. 623): pacífico na jurisprudência do STF que a Constituição
Federal recepcionou o referido diploma legal, não existindo, assim, qualquer obstáculo de or-
dem jurídico-formal que impeça o próprio condenado de promover, ele próprio, independente
de assistência técnica prestada por advogado, a pertinente revisão criminal (HC 72.981-SP,
Rel.Min. MOREIRA ALVES - RHC 80.763-SP, Rel. Min. SYDNEY SANCHES;
5. Constituição Federal, art. 103: norma constitucional que traz os legitimados ativos a
promover o controle concentrado das leis e atos normativos federais, estaduais. O STF en-
tendeu que somente os partidos políticos e as confederações sindicais ou entidades de clas-
se de âmbito nacional deverão ajuizar a ação por advogado (art. 103, VIII e IX). Quanto
aos demais legitimados (art. 103, I-VII), a capacidade postulatória decorre da Constituição.
(ADI n. 127-MC-QO, Rel. Min. Celso de Mello, j. 20.11.1989, DJ 04.12.1992);
6. Lei de alimentos (5478/68): também está prevista a dispensabilidade do advogado,
no entanto suprida pela competência da Defensoria Pública, conforme decisão do STF.
O Estatuto da OAB também trouxe em seu art. 1º, II e §2º hipóteses de indis-
pensabilidade do advogado em atividades extrajudiciais, são elas:
As atividades de assessoria, consultoria e direção jurídicas, assim como os atos
constitutivos de pessoas jurídicas admitidos a registros que só podem ser conside-
rados válidos se visados por advogado.
Com relação a este último, a lei complementar 123/2006 relativizou trazendo
uma hipótese de dispensabilidade do advogado, quando se tratar de microempresa
ou empresa de pequeno porte.
Além disso, todo advogado que prestar serviço de assessoria a órgãos ou
entidades da Administração Pública direta ou indireta, da unidade federativa
a que se vincule a Junta Comercial, ou a quaisquer repartições administrativas
competentes está impedido de exercer o ato de advocacia, conforme dispõe o
Regulamento Geral.
Aqui também há a necessidade de se analisar casos que extrapolam o âmbito
do Estatuto, no que se refere às questões extrajudiciais, a saber:
1. Súmula Vinculante nº 5: Trouxe e manteve (decisão apertadíssima) o enten-
dimento da dispensabilidade do advogado em processo administrativo disciplinar;
capítulo 1 • 26
2. Lei 11441/04 (divórcio e inventário extrajudiciais): preconizou de maneira
oficial que o advogado é indispensável nesses atos;
3. Inquérito Policial / Comissão Parlamentar de Inquérito: é pacífico o enten-
dimento do STF no sentindo de que é um direito constitucional do investigado,
caso queira, ter a presença de um advogado no momento de seu depoimento, no
entanto a atuação do advogado nesses procedimentos é absolutamente dispensável.
Inviolabilidade
capítulo 1 • 27
imprudência) O advogado somente possui imunidade penal para os crimes de
Injúria e Difamação, isso porque o STF considerou o desacato inconstitucional.
capítulo 1 • 28
99 Comunicação da intenção de cometimento de infração penal. Trata-se
de ponderação de princípios constitucionais em que o interesse coletivo prevalece
(questão de ordem pública), deve-se ressaltar que se trata de crime na iminência
de ser realizado pelo cliente e não crime que já se consumou, porque nesta última
hipótese há violação do sigilo profissional, caso o advogado venha a externar esse
fato que a ele foi confidenciado por seu cliente.
capítulo 1 • 29
proporção, os princípios constitucionais a ele pertinentes, gerando o que se deno-
mina na doutrina de “mandados de busca e apreensão genéricos”.
Por outro lado, instituições como a associação dos magistrados brasileiros re-
futavam a expressão “acompanhada de representante da OAB”, sustentando que
a necessidade da presença de representante da OAB para o cumprimento judi-
cial de busca e apreensão violava a independência do Poder Judiciário, portanto,
inconstitucional.
O STF havia declarado a expressão “acompanhada de representante da OAB”
inconstitucional, portanto, a partir dessa decisão, não havia a obrigatorieda-
de da presença de um representante da OAB para o cumprimento dos referi-
dos mandados.
As discussões sobre mandado de busca e apreensão genérico continuavam,
ocasião em que, com a edição da Lei 11767/2008, houve uma alteração no dispo-
sitivo em discussão que retorna com a expressão “cumprindo na presença de um
representante da OAB”.
A referida Lei que alterou o Estatuto também trouxe inovações quanto à in-
violabilidade dos clientes, assim como o discutido “mandado de busca e apreen-
são genérico”, isso porque trouxe de maneira expressa a preservação do sigilo dos
dados da clientela dos advogados, salvo, evidentemente, se esta estiver também
sendo objeto de investigação.
Quanto a segunda parte, também de forma expressa consta no Estatuto da
necessidade de expedição de mandado de busca e apreensão “pormenorizado”,
sanando de vez a discussão aventada.
capítulo 1 • 30
Função social e independência
capítulo 1 • 31
O referido capítulo V do Estatuto, que regula a figura do advogado emprega-
do, não se aplica à administração pública direta da União, Estados e Municípios
por força da Lei 9527/97, razão pela qual as normas protetivas do advogado em-
pregado não são aplicadas ao advogado público, sendo estes regidos pela CLT,
quando empregados públicos, ou pelo respectivo Estatuto, quando ocupantes de
cargo público.
Demais prerrogativas
capítulo 1 • 32
ATIVIDADE
Maurício Vaz, advogado inscrito na OAB/RJ, já contando com cinco processos judiciais
no âmbito da seccional do Distrito Federal, todos nos meses de julho e agosto do presente
ano, foi contratado por Sérgio Oliveira, Juiz de Direito efetivo, para representar o referido ma-
gistrado junto ao procedimento instaurado em face deste, no âmbito do Conselho Nacional
de Justiça - CNJ, com Sede no próprio Distrito Federal. Pergunta-se: Necessitará o advoga-
do de inscrição suplementar junto à seccional do Distrito Federal?
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
JULIÃO, Rodrigo de Farias. Ética e Estatuto da Advocacia. São Paulo, Atlas, 2010.
JÚNIOR, Marco Antônio. Ética Profissional. São Paulo, Revista dos Tribunais, 2009.
LOBO, Paulo. Estatuto da Advocacia e da OAB. São Paulo, Saraiva, 2009.
MACEDO, Geronimo Theml. Deontologia. Rio de Janeiro, Lúmen Júris, 2009.
capítulo 1 • 33
capítulo 1 • 34
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Sociedade de
advogados; nulidade
dos atos da
advocacia praticados
ilegalmente,
publicidade na
advocacia
Sociedade de advogados; nulidade dos
atos da advocacia praticados ilegalmente,
publicidade na advocacia
Nesse segundo capítulo, você poderá observar que a atividade de advocacia é
possível de ser realizada em cumplicidade e divisão de tarefas entre os advogados,
quando se reúnem em sociedade específica para tal finalidade.
Veja que será mostrado que a lei controla todos os atos privativos da advoca-
cia, trazendo nulidade a todos aqueles que forem realizados por pessoas estranhas à
advocacia ou, mesmo ainda que seja advogado, haverá nulidade dos atos daqueles
que não obedeçam às limitações que porventura lhe forem impostas.
Finalmente vai ter oportunidade de se conscientizar que a advocacia, como
um encargo a serviço da sociedade, não pode assumir formas de mercantilização,
fato este que traz inúmeras limitações à sua publicidade.
OBJETIVOS
• Entender a estrutura, formação e diretrizes da sociedade de advogados;
• Conhecer as nulidades dos atos privativos da advocacia;
• Dimensionar o âmbito da publicidade da advocacia.
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Portanto, o que se vai ser estudado nesse ponto, em verdade, são todas essas
peculiaridades da sociedade de advogados que as fazem ser sui generis.
De início, destaca-se nesse tipo societário o tipo de sociedade simples em que
somente os advogados regularmente inscritos podem integrá-la, dessa forma ba-
charéis em direito, estagiários e leigos estão excluídos da possibilidade de se afigu-
rarem como sócios.
O advogado pode advogar para a sociedade que faça parte, como também
pode advogar no seu magistério privado. É possível uma dedicação exclusiva à
sociedade, desde que o acordo esteja previsto, dessa maneira, já decidiu o Plenário
do Conselho Federal que os Conselhos Seccionais podem fixar anuidades, tam-
bém, para as sociedades que não são consideradas cobranças repetidas de anuida-
des por se tratar de natureza distinta de serviços advocatícios.
Como qualquer pessoa jurídica, através de contrato social se perfaz o seu ato
constitutivo e, posteriormente, levado à publicação. Depois dessa etapa, objeti-
vando adquirir personalidade jurídica o ato publicado será levado a registro e nesse
particular difere a sociedade de advogados de todas as outras.
Por força expressa de lei, o ato constitutivo da sociedade de advogados somen-
te poderá ser registrado junto ao conselho seccional do território que está instalada
a sede da referida sociedade. É terminantemente proibido o registro da sociedade
de advogados estar subordinado ao direito registrário comum, vale dizer, cartório
de registro civil das pessoas jurídicas ou junta comercial.
Há pouquíssima resistência por parte da doutrina empresarial; é praticamente
unânime o reconhecimento dessa modalidade de registro da sociedade de advoga-
dos, mesmo com o advento do novo código civil, haja vista o estatuto da OAB se
afigurar como norma especial.
Decorre também da independência advocatícia o fato de que entre a magistra-
tura, o ministério público e a advocacia não há hierarquia e pelo fato dos órgãos de
direito registrário pertencerem ao Poder Judiciário, caso a sociedade de advogados
tivesse que ser registrada neles, à semelhança de todas as outras, estaria a advocacia
subordinada ao Poder Judiciário o que seria uma patente violação.
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Registro, atividade e denominação da sociedade de advogados
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nome coletivo, depois do aditivo identificador, deve-se colocar a sigla “Cia” (sem-
pre ao final, porque no início caracteriza S/A), espécie esta denominada de “ra-
zão social”.
Se por força legal o nome civil do advogado é quem tem que estar na nomen-
clatura da sociedade de advogados, o regulamento geral, por essa razão, trata o
nome da sociedade de advogados como “razão social”, em que o aditivo identi-
ficador se denomina “qualificação social inconfundível” e ao final, no lugar de
“Cia”, coloca-se “SS” simbolizando sociedade simples.
Perceba que se é o nome do advogado é a forma obrigatória de se estabele-
cer uma razão social de uma sociedade de advogados, ele pode vir das seguin-
tes maneiras:
99 Nome de um advogado sócio;
99 Nome de mais de um advogado sócio;
99 Nome de todos os advogados sócios.
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99 Incompatibilidade permanente: importará, necessariamente, a modifi-
cação da composição societária e eventualmente, a da razão social, pois é possível
que o nome deste advogado não esteja nela;
99 Falecido: importará, necessariamente, a modificação da composição so-
cietária, podendo o nome do advogado falecido permanecer na razão social da
sociedade, desde que tal fato esteja previsto no ato constitutivo societário.
capítulo 2 • 40
No entanto, essa referida admissibilidade está condicionada para fora dos li-
mites do respectivo território que compõe a sede da sociedade, ou seja, um advo-
gado que se afigura como sócio de uma sociedade de advogados com sede no Rio
de Janeiro não pode compor outra sociedade de advogados no mesmo território,
assim como essa referida sociedade só pode ter uma filial em um território dife-
rente do Rio de Janeiro.
É também de bom tom lembrar que se uma filial só pode ser instalada num
território diferente da sua sede, todos os advogados sócios, quando da instalação
da respectiva filial, estão obrigados à inscrição suplementar.
Lembrando a hipótese de que um advogado pode laborar para a sociedade de
que faça parte, assim como no seu ministério privado, deve-se ter em conta que
esse profissional está proibido de advogar em interesses opostos.
Sempre houve uma grande discussão na doutrina quanto à natureza da ad-
vocacia ser ou não consumerista. Hoje a tendência jurisprudencial é de afastar o
advogado da condição de fornecedor não se imputando, portanto, os princípios
da relação de consumo.
No entanto, ainda no âmbito dessa discussão, sempre foi pacífico na doutrina
a responsabilidade da sociedade de advogados, que, como preconizado pelo art. 17
do Estatuto, é subsidiária e ilimitada, nos seguintes termos:
capítulo 2 • 41
99 Não convalesce com o tempo;
99 Apagam, ao ser declarada, os efeitos produzidos ab initio;
99 Não pode ser suprida ou sanada.
Art 4º Parágrafo único. “São também nulos os atos praticados por advogado impedido
- no âmbito do impedimento - suspenso, licenciado ou que passar a exercer atividade
incompatível com a advocacia”.
capítulo 2 • 42
Perceba aqui o seguinte destaque: “praticados por advogado”. Então veja
que é perfeitamente possível um ato privativo da advocacia ser considerado nulo,
ainda que praticado por advogado, são as seguintes hipóteses:
99 No âmbito do impedimento: vamos ver adiante as questões de impedi-
mento e observar que o advogado pode advogar na condição de impedido; só não
pode advogar nos casos específicos que a lei indicar (âmbito do impedimento),
caso advogue nesses respectivos casos, os atos são nulos;
99 Suspensão: trata-se de uma sanção disciplinar que abrange todo território
nacional, evidentemente se estiver na condição de suspenso e nesta condição vier
a advogar, seus atos serão considerados nulos;
99 Licença: vimos que os casos de licenças estão subordinados à temporarie-
dade, aquele licenciado ainda está inscrito na OAB, no entanto, nessa condição,
caso advogue, seus atos também serão considerados nulos;
99 Incompatibilidade: a lei não menciona, no entanto é caso de incompati-
bilidade temporária, cuja necessidade é de licença. Perceba que o advogado precisa
se licenciar, mas não o fez. Não importa, ainda que não tenha se licenciado os
seus atos continuam a ser considerados nulos, uma vez que estão na condição
de incompatível.
Publicidade na advocacia
capítulo 2 • 43
99 O número da inscrição do advogado ou do registro da sociedade;
99 O endereço do escritório principal e das filiais, telefones, fax e endere-
ços eletrônicos;
99 As áreas ou matérias jurídicas de exercício preferencial;
99 O diploma de bacharel em direito, títulos acadêmicos e qualificações
profissionais obtidos em estabelecimentos reconhecidos, relativos à profissão
de advogado;
99 A indicação das associações culturais e científicas de que faça parte o ad-
vogado ou a sociedade de advogados;
99 Os nomes e os nomes sociais dos advogados integrados ao escritório;
99 O horário de atendimento ao público;
99 Os idiomas falados ou escritos.
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Observe, portanto, que as discussões ainda são muitas, muito embora tenha-
mos duas grandes normas dedicadas ao assunto, que são: o provimento 94/2000 e
o capítulo VIII do novo código de ética e disciplina da OAB.
Não vamos descrevê-las ipsis litteris aqui, no entanto perceba que essas normas
são de leitura obrigatória para entender a publicidade da advocacia.
ATIVIDADE
Tício, sócio de uma sociedade de advogados na Seccional do RJ, resolveu montar mais
duas filiais: uma na subseção de Cabo Frio/RJ e outra na Seccional de MG. Também deixou
consignado que em relação à Seccional de MG, só promoveria uma inscrição suplementar
caso suas intervenções judiciais nesta referida Seccional excedessem a cinco causas por
ano, uma vez que o Estatuto da Advocacia permite o livre exercício em todo território nacional
quando não for ultrapassado esse patamar.
Diante do caso exposto, analise as pretensões do advogado Tício.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COCCARO, Celso e Marco Antônio. Ética Profissional e Estatuto da Advocacia. São Paulo, Saraiva,
2009.
LOBO, Paulo. Estatuto da Advocacia e da OAB. São Paulo, Saraiva, 2009.
capítulo 2 • 45
capítulo 2 • 46
3
Honorários
advocatícios;
renúncia,
revogação e
substabelecimento
Honorários advocatícios; renúncia, revogação
e substabelecimento
OBJETIVOS
• Entender a estrutura do regime de honorários advocatícios;
• Analisar as modalidades de cobrança desses honorários;
• Conhecer a formalidade do contrato de mandato e do instrumento de procuração.
capítulo 3 • 48
Atualmente há de se fazer uma interpretação evolutiva na palavra “honorá-
rios” que se trata da remuneração daqueles que exercem uma profissão liberal,
como o caso dos médicos, advogados e etc. [JULIÃO, 2010, p.45]
Dessa maneira, confirma Paulo Lobo [p. 138] que “honorários”, continua a
ser a remuneração do advogado, que não decorra da relação de emprego, em ho-
menagem a uma longa tradição.
Analisando pontualmente o regime de honorários advocatícios, trazemos
na leitura do Estatuto da OAB, em seu artigo 22, os seguintes destaques, ver-
bis: “prestação de serviço profissional assegura aos inscritos na OAB o direito
aos honorários convencionados, aos fixados por arbitramento judicial e aos
de sucumbência”.
Portanto, muito mais do que um simples conceito, honorários, para o ad-
vogado, é um direito, vale dizer, caso haja necessidade da busca desse direito, o
grande fundamento legal que o profissional da advocacia possuir é o artigo 22 do
Estatuto da OAB.
Na verdade, é um direito dos “inscritos na OAB” e por que essa expressão? O
legislador quis deixar claro que todos os inscritos na OAB têm direito aos hono-
rários, sejam advogados no magistério privado, advogado empregado, advogado
público, defensor público ou advogado dativo. Observe que estagiário também é
inscrito na OAB, no entanto, não faz jus aos honorários tendo em vista tratar-se
de honorários profissionais e, estagiário não é profissão. A contraprestação para o
serviço de estagiário denomina-se bolsa auxílio.
Finalmente o último destaque realizado sinaliza que o advogado possui três
espécies de honorários: convencionados, fixados por arbitramento judicial e su-
cumbência, para os quais haverá uma análise pormenorizada.
Honorários convencionados
capítulo 3 • 49
A despeito da discussão sobre a atividade advocatícia ser ou não ser relação de con-
sumo, não se discute tratar-se de uma atividade de natureza privada e, como tal,
não pode haver ingerência do Estado.
Observe que não pode afirmar essa condição de não ingerência estatal quando
se tratar de honorários arbitrados judicialmente ou de sucumbência, haja vista
nessas modalidades já se encontrar presente o Estado.
Ainda que não haja interferência do Estado por se tratar de atividade de na-
tureza privada e por isso, afirmar-se que não há critérios definidos que possam
delimitar os honorários convencionados, no entanto não é relação de controle
ilimitado, há elementos ou parâmetros impostos pela ética do advogado e pela
razoabilidade que constituem elementos ou parâmetros que deverão ser seguidos.
Dentre os parâmetros expostos no código de ética, exige-se a moderação para
aplicá-los, destacando-se os seguintes elementos:
99 A relevância, o vulto, a complexidade e a dificuldade das questões versadas;
99 O trabalho e o tempo a ser empregados;
99 A possibilidade de ficar o advogado impedido de intervir em outros casos,
ou de se desavir com outros clientes ou terceiros;
99 O valor da causa, a condição econômica do cliente e o proveito para este
resultante do serviço profissional;
99 O caráter da intervenção, conforme se trate de serviço a cliente eventual,
frequente ou constante;
99 O lugar da prestação dos serviços, conforme se trate do domicílio do ad-
vogado ou de outro;
99 A competência do profissional;
99 A praxe do foro sobre trabalhos análogos.
Convém observar as modificações trazidas pelo novo código de ética, que pre-
coniza, agora, a não exigência de uma forma especial, necessitando, todavia, a cla-
reza e precisão em seu objeto no que se refere à forma de pagamento, à extensão do
patrocínio, além de hipóteses de término do contrato por questões supervenientes
de transação ou acordo.
Ainda assim, a preferência é pela forma escrita, isso porque reduz o potencial
de risco e desgaste com o cliente, alinhando-se à harmonia da boa fé objetiva dos
contratos por ser considerado título executivo extrajudicial.
Outra importante reflexão trazida pelo novo código de ética é que, embora
expressamente ainda preconize a proibição de cobrança por intermédio de títulos
capítulo 3 • 50
de créditos, haja vista não se tratar de atividade mercantil, esta foi relativizada
uma vez que as modalidades de cheque, nota promissória e cartão de crédito são
permitidas, depois de frustrada a tentativa de recebimento amigável, por serem
considerados títulos cambiariformes.
O contrato agora poderá dispor sobre antecipação de despesas que, de regra,
são dos clientes, porque agora expressamente são permitidas pelo código de ética,
como por exemplo, o pagamento de custas e emolumentos.
A tabela de honorários, que compete a cada conselho seccional a sua respectiva
expedição, ainda é um parâmetro que deverá ser obedecido sob pena de ser consi-
derado aviltamento de honorários.
capítulo 3 • 51
necessariamente condição de hipossuficiência, mas de liquidez, razão pela qual, no
lugar da pecúnia, entram os bens particulares).
Essa modalidade não é regra, mas exceção! Razão pela qual, só é cabível em
caráter excepcional e por escrito, para que num futuro próximo o cliente não re-
clamar que seu advogado havia locupletado os seus bens.
Quando se tratar de mandato oriundo de processo disciplinar, o advogado
que recebeu a outorga de seu colega não tem direito aos honorários decorrentes
de sua labuta nessa hipótese, o fundamento legal que previu essa relativização
dos direitos aos honorários é o artigo 22§5º do Estatuto da OAB e a justificativa,
também legal, para essa espécie de gratuidade na atividade advocatícia é que não
existiu o mandato tecnicamente, senão uma delegação da OAB para essa especial
defesa, uma vez que somente esta instituição possui a competência exclusiva para
defender seus inscritos, nos termos do artigo 44, II também do Estatuto da OAB.
Expressão latina que significa “para o bem do povo”, caracteriza-se como traba-
lho gratuito, voluntário e solidário. Perceba, portanto, que há um direcionamento
expresso àquelas pessoas que não conseguem patrocinar os custos da contratação
de um advogado; ainda que o órgão da Defensoria Pública tenha competência e
legitimidade para essas respectivas causas, não se pode negar a enorme dificuldade
de abarcar uma demanda que cada vez mais cresce no país.
Historicamente o interesse público também permeou a advocacia pro bono,
figuras como Sobral Pinto, Ruy Barbosa e Nelson Hungria exerceram esse tipo de
advocacia no interesse patriótico. Interesse público não pode ser confundido com
interesse político-partidário ou eleitoral, estes últimos são expressamente proibi-
dos juntamente como instrumento de publicidade ou captação de clientela.
O código de ética e disciplina regula a advocacia pro bono sob as seguin-
tes características:
99 Considera-se advocacia pro bono a prestação gratuita, eventual e voluntária
de serviços jurídicos em favor de instituições sociais sem fins econômicos e aos
seus assistidos, sempre que os beneficiários não dispuserem de recursos para a
contratação de profissional;
99 A advocacia pro bono pode ser exercida em favor de pessoas naturais que,
igualmente, não dispuserem de recursos para, sem prejuízo do próprio sustento,
contratar advogado.
capítulo 3 • 52
Honorários arbitrados judicialmente
Honorários de sucumbência
capítulo 3 • 53
sim, considerando a interpretação literal do dispositivo acima mencionado, no
entanto, vamos traçar as considerações de cada um.
99 Defensor Público: A Lei Complementar Geral da Defensoria Pública (LC
80/94) expressamente retira o direito dos defensores públicos em amealhar os
honorários de sucumbência, transferindo-os para o centro de estudo do referido
órgão, naturalmente efeito estendido aos advogados dativos;
99 Advocacia Pública: A Lei 9527/97 excluiu a aplicação das normas dos
artigos 18 a 21 do Estatuto, que dizem respeito aos advogados empregados, no
entanto não se manifestou sobre o artigo 23 deste mesmo Diploma Legal, que faz
expressa menção aos honorários de sucumbência. Por essa razão, decisões diver-
gentes pelo direito dos advogados públicos aos honorários de sucumbência estão
espalhadas por toda a jurisprudência brasileira. No entanto, vem prevalecendo o
entendimento do STF assim como o do Conselho Federal da OAB no sentindo de
que os honorários de sucumbência destinados à advocacia pública não constituem
patrimônio público e, portanto, possuem fontes e natureza jurídica completa-
mente distintas, finalizando o entendimento de que o vencimento é fixo, certo e
invariável, pago pelo ente público empregador como retribuição pecuniária pelo
exercício do cargo, enquanto que a sucumbência decorre da lei processual civil, é
eventual, incerta e variável, paga pela parte sucumbente no processo, logo não se
insere no conceito de remuneração, e sequer dele se aproxima. Por essa razão, basta
que haja previsão no Estatuto próprio a que se subordinam para que façam jus aos
respectivos honorários de sucumbência.
99 Advogado empregado: Pelo simples fato de ser inscrito na OAB, nos ter-
mos do artigo 22 do Estatuto da advocacia, corroborado pelo artigo 23 do mes-
mo diploma legal, já se pode afirmar que todo advogado empregado também faz
jus aos honorários de sucumbência. No entanto, considerando que o Estatuto da
OAB possui um capítulo próprio dedicado ao advogado empregado, o artigo 21,
pertencente a este capítulo, de maneira expressa, preconizou: “Nas causas em que
for parte o empregador, ou pessoa por este representado, os honorários de sucum-
bência são devidos aos advogados empregados”
Não bastasse isso, o legislador prevendo, sobretudo, a condição de hipossuficiente
do empregado nessa respectiva relação, consignou em seu parágrafo terceiro do artigo 24
que “é nula qualquer disposição, cláusula, regulamento ou convenção individual ou co-
letiva que retire do advogado o direito ao recebimento dos honorários de sucumbência”.
Considerando ainda a previsível possibilidade de uma sociedade de advoga-
dos empregar em seus quadros o profissional da advocacia, no que se refere aos
honorários de sucumbência, o Estatuto da OAB relativizou o direito do advogado
capítulo 3 • 54
empregado de uma sociedade de advogados trazendo em seu parágrafo único do
artigo 21 que “Os honorários de sucumbência, percebidos por advogado emprega-
do de sociedade de advogados são partilhados entre ele e a empregadora, na forma
estabelecida em acordo”.
Observe que sob o ponto de vista econômico houve mudanças que incomoda-
ram muita gente, notadamente aquelas que se afiguravam como parte em deman-
das judiciais, razão pela qual a Confederação Nacional da Indústria – CNI preten-
deu que esses dispositivos legais fossem considerados, pelo STF, inconstitucionais.
Tratou-se da Adin 1194-4, cuja decisão da suprema corte se deu da seguinte
forma, no que se refere aos artigos pertinentes do Estatuto da OAB quanto ao
regime de honorários de advogados:
1. Artigos 22 e 23: O STF não reconheceu a pertinente ação direta de incons-
titucionalidade por entender da falta de pertinência temática da confederação na-
cional da indústria quanto ao assunto.
2. Artigo 21 parágrafo único: O STF conheceu da ação, em parte, para dar
interpretação conforme ao dispositivo no sentido da preservação da liberdade con-
tratual quanto à destinação dos honorários de sucumbência fixados judicialmente,
vale dizer, não é o dispositivo em análise que garante o compartilhamento dos
honorários de sucumbência entre sociedade de advogados e advogado empregado,
mas um especial acordo para tal, que na sua ausência faz com que os honorários
de sucumbência se destinem aos advogados empregados.
3. Artigo 24, parágrafo terceiro: O STF declarou inconstitucional o referido
dispositivo, razão pela qual é plenamente possível um acordo entre advogado e
cliente sobre o destino dos honorários de sucumbência.
capítulo 3 • 55
Cobrança dos honorários advocatícios
capítulo 3 • 56
99 Da desistência ou transação: relacionado a questões intercorrentes no
processo judicial ou situações extrajudiciais;
99 Da renúncia ou revogação do mandato: também relacionada a questões
intercorrentes sejam situações judiciais ou extrajudiciais.
A lei 11902/2009 trouxe para o Estatuto da OAB o artigo 25-A que também
dispõe sobre regime de prescrição, com o mesmo prazo de cinco anos, no en-
tanto se trata de pretensão de ação de prestação de contas de quantias recebidas
pelo advogado.
Finalmente, a lei proíbe a cobrança de honorários advocatícios por advogado
substabelecido com reservas no processo sem a devida intervenção do colega que
conferiu o referido substabelecimento.
capítulo 3 • 57
É prevista também uma representação convencional, permitindo que o repre-
sentante adquira direitos e assuma obrigações na esfera do representado. Quanto
ao conteúdo é possível classificar o mandato em termos gerais, conferindo pode-
res de administração ordinária e com poderes especiais de alienação, hipoteca ou
transigência que são superiores aos poderes ordinários ou de mera administração.
O mandato ainda pode ser classificado com escrito (público ou privado) ou
tácito. O escrito privado tem como instrumento a procuração que possui como
requisitos essenciais a assinatura e os elementos de data, lugar, qualificação, ob-
jetivo e extensão dos poderes, nas lições de Paulo Lobo [2009, p. 38] consiste no
instrumento em que são explicitados os poderes de representação.
Quando o mandato possuir, como atores, advogado e cliente, ele é denomi-
nado de contrato de mandato ou mandato judicial, que tem que ser escrito,
assinado e com a anuência do cliente, que vale preponderantemente para prática
de atos judiciais e extrajudiciais, nos termos do artigo 5º do Estatuto da OAB.
Perceba, portanto, que não se pode confundir contrato de mandato com pro-
curação, esta é um instrumento daquele, nas palavras de Marco Araújo [2009,
p.28] “é a prova do mandato” e por se tratar de instrumento de procuração para
cumprimento de contato de mandato judicial, esta deve ocorrer, nas palavras de
Rodrigo Julião [2010, p. 39] “através da chamada procuração ad judicia, ou seja,
a procuração para fins judiciais.
A regra é que não se pode atuar judicialmente sem procuração, no entanto é
admitida uma exceção a essa regra quando o advogado firmar medidas urgentes,
fato que se presume de veracidade, ocasião em que o advogado dispõe do prazo de
15 dias para apresentar o referido instrumento do mandato.
Comumente o que se observa nos contratos de mandato é que em seu bojo
insere-se não só contrato de prestação de serviços profissionais, como também o
contrato de honorários, razão pela qual Paulo Lobo [2009, p. 38] preconiza tratar-
se de contrato misto típico fusionado.
Nenhum advogado é obrigado a ficar com seu cliente, assim como nenhum
cliente é obrigado a ficar com o seu advogado. A referida relação é regida pela
fidúcia, basta esta confiança acabar que termina o contrato de mandato com o
consequente término do instrumento de procuração.
Veja, portanto, que não há, de regra, prazo para a duração de uma procuração,
esta perdura enquanto existir a confiança recíproca entre as partes do manda-
to judicial.
capítulo 3 • 58
O advogado extingue o seu mandato por intermédio da renúncia, que não
precisa ser motivada, mas que deverá ser comunicada ao seu cliente de maneira
inequívoca, preferencialmente com carta de aviso registrada, ficando com obriga-
ção de vínculo à referida relação profissional por dez dias após o comunicado, nos
termos do artigo 5º§3º do Estatuto da OAB e artigo 6º do Regulamento Geral.
Naturalmente se o cliente constituir outro advogado antes desse prazo de dez dias,
o advogado renunciante já não mais possui obrigação profissional.
O cliente extingue o seu mandato por intermédio de revogação, e tem o dever
do pagamento dos honorários ajustados proporcionalmente aos serviços presta-
dos, assim como será proporcional o valor dos honorários de sucumbência, caso
estes existirem.
Admite-se a transferência dos poderes do mandatário para outra pessoa; trans-
ferir é passar e passar é substabelecer. Na necessidade de inclusão de outro advoga-
do ou estagiário aos poderes outorgados pelo cliente, ou ainda de transferir esses
poderes a outro advogado, o meio pelo qual se realiza essa operação se denomi-
na substabelecimento.
Perceba, portanto, tratar-se de um instrumento que altera a procuração recebi-
da inicialmente, seja estendo, seja transferindo os poderes outorgados pelo cliente.
A extensão dos poderes se dá mediante:
99 Substabelecimento com reserva de poderes: observe que o advogado se
reserva em alguns dos poderes a ele outorgado, transferindo, apenas, alguns ao seu
colega advogado. O mandatário continua praticando os atos conferidos pelo man-
dante e o advogado substabelecido também pratica atos conferidos ao seu colega
substabelecente, no entanto, aqueles poderes que ficaram reservadamente a este
último não poderão ser realizados pelo advogado substabelecido. A lei enumera
quais seriam esses poderes inerentes ao advogado mandatário.
capítulo 3 • 59
ATIVIDADE
Bráulio, advogado inscrito na OAB/RJ nº 000, patrocinava causa de sua cliente Anatér-
cia junto à 15ª vara criminal da Comarca da Capital do RJ. Convencionaram os honorários
advocatícios em R$ 3.600,00 a serem pagos nos moldes do art. 22§ 3º da Lei 8906/94. O
referido advogado fez com que esse seu cliente assinasse 03 (três) Notas Promissórias a fim
de garantir a quantia ajustada.
Ao final da demanda, observando o descumprimento de Anatércia quanto ao último ter-
ço dos honorários, o advogado Bráulio reteve os documentos pessoais de sua cliente que
carreavam os referidos autos, ameaçando-a de executar o título de crédito que constava em
seu poder, subordinando a entrega dos referidos documentos ao cumprimento do referi-
do inadimplemento.
Analise a conduta do advogado Bráulio segundo as regras deontológicas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COCCARO, Celso e Marco Antônio. Ética Profissional e Estatuto da Advocacia. São Paulo, Saraiva,
2009.
JULIÃO, Rodrigo de Farias. Ética e Estatuto da Advocacia. São Paulo, Atlas, 2010.
JÚNIOR, Marco Antônio. Ética Profissional. São Paulo, Revista dos Tribunais, 2009.
LOBO, Paulo. Estatuto da Advocacia e da OAB. São Paulo, Saraiva, 2009.
capítulo 3 • 60
4
Incompatibilidade
e impedimento,
infrações e sanções
ético-disciplinares,
sanções penais
próprias de advogados
e lide temerária
Incompatibilidade e impedimento, infrações e
sanções ético-disciplinares, sanções penais
próprias de advogados e lide temerária
Nesse capítulo, você vai conhecer os institutos da incompatibilidade e do im-
pedimento, vai poder distingui-los e observar a abrangência de cada um na liber-
dade do exercício profissional.
No que se refere à incompatibilidade terá a noção de que é necessário saber da
natureza do cargo ou função quanto à sua duração para avaliar se o próximo passo
do advogado que está nele investido é o da licença ou cancelamento.
Também terá a oportunidade de familiarizar com as infrações e sanções disci-
plinares; perceberá suas diferenças e espécies.
Finalmente, vai ter acesso a um processo mnemônico que ajudará a encontrar
qual o correto tipo de sanção para os fatos que chegarem ao seu conhecimento.
OBJETIVOS
• Entender a estrutura, das proibições ao exercício da advocacia;
• Avaliar o alcance dessas proibições;
• Conhecer as infrações e suas respectivas sanções disciplinares.
Considerações iniciais
capítulo 4 • 62
Bem observado por Paulo Lobo [2009, págs. 153 e 154] o Brasil não adotou,
diferentemente da França, a advocacia como atividade exclusiva, a realidade brasi-
leira é do advogado assalariado ou que faz da advocacia uma fonte complementar
de renda, razão pela qual se fazia necessário mencionar as situações de proibição
total e parcial do exercício da advocacia.
Perceba também que, como os casos de incompatibilidade são enumerados
por lei, trata-se de impossibilidade do exercício da advocacia por circunstâncias
alheias à vontade do advogado, razão pela qual há de se analisar se o referido im-
pedimento total possui natureza temporária ou permanente. Se for a primeira, o
advogado deverá licenciar-se, se for esta última, deverá cancelar sua inscrição dos
quadros da OAB.
Finalmente, não há de se cogitar inconstitucionalidade das referidas limita-
ções ao exercício profissional da advocacia, haja vista que a constituição federal,
em seu artigo 5º, XIII, quando estabelece que “é livre o exercício de qualquer
trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei
estabelecer” trouxe uma inquestionável norma constitucional de eficácia contida
e aplicabilidade imediata, vale dizer, a carta maior, ao caso aventado, permitiu que
o legislador infraconstitucional restringisse sua aplicabilidade, exatamente como o
Estatuto da OAB o fez.
Incompatibilidade
capítulo 4 • 63
incompatibilidade, vale dizer, o impedimento é norma subsidiária em relação à
norma de incompatibilidade.
No que se refere especificamente ao estudo da incompatibilidade, o artigo 28
possui oito hipóteses que serão dessecadas a partir de agora:
I. Titulares de Entes Políticos: “chefe do Poder Executivo e membros da Mesa
do Poder Legislativo e seus substitutos legais”;
Observe que há duas figuras no inciso I do artigo 28: a primeira são os chefes
do Poder Executivo (Presidente, Governador e Prefeito) e a segunda são os mem-
bros da Mesa do Poder Legislativo.
Importantíssimo salientar que os parlamentares não são incompatíveis, so-
mente aqueles pertencentes à mesa diretora que o são. O Regimento da Câmara
dos Deputados preconiza que são em número de sete os membros das mesas
diretoras do Poder Legislativo (um Presidente, dois Vice-Presidentes e quatro
Secretários). Portanto, esses respectivos cargos de Presidente, Vice-Presidente e
Secretário devem existir, que serão distribuídos de acordo com cada regimento da
casa legislativa.
Além dos titulares (chefes do Poder Executivo e membros da mesa do Poder
Legislativo), todos os respectivos substitutos legais destes são incompatíveis. Veja
que não há necessidade de substituir, o fato de ser substituto já o leva a condição
de incompatível com o exercício da advocacia. Paulo Lobo [2009, p.157] advo-
ga a tese de que, no caso dos parlamentares, até os suplentes estão envolvidos
nas incompatibilidades
II. Funções de Julgamento: “membros de órgãos do Poder Judiciário, do
Ministério Público, dos tribunais e conselhos de contas, dos juizados especiais,
da justiça de paz, juízes classistas, bem como de todos os que exerçam função
de julgamento em órgãos de deliberação coletiva da administração pública direta
e indireta”;
Este é o maior inciso do artigo 28; todas as figuras que nele se encontram são
funções de julgamento, que serão a seguir destacadas.
a) Membros do Órgão do Poder Judiciário: é a função de julgamento
por excelência, todos aqueles contemplados no artigo 92 da constituição fe-
deral, isso porque, “o parâmetro disjuntor é a inerência das garantias típicas
da vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade [LOBO, 2009, p.158];
b) Membros do Ministério Público: a atual constituição federal trouxe
novas e significativas atribuições ao órgão do ministério público na sua
função essencial da justiça, no entanto, deve-se chamar atenção pelo fato de
capítulo 4 • 64
que anteriormente a referida carta magna, o membro do ministério público
não era incompatível, situação esta que sobrevém a partir de 1988, razão
pela qual o Estatuto da OAB trouxe em seu artigo 83, a seguinte norma
de transição: “Não se aplica o disposto no art. 28, inciso II, desta lei,
aos membros do Ministério Público que, na data de promulgação da
Constituição, se incluam na previsão do art. 29, § 3º, do seu Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias”;
c) Tribunais e Conselhos de Contas: a constituição federal previu,
além do Tribunal de Contas da União (art. 73), o Tribunais de Contas dos
Estados, no entanto, à época de sua promulgação já havia dois Tribunais
de Contas Municipais, que são os de São Paulo e Rio de Janeiro, e que pu-
deram continuar operando. Portanto, ainda que sejam somente estes dois,
seus membros e conselheiros estão na condição de incompatíveis com o
exercício da advocacia;
d) Juizados Especiais: perceba que já estariam contemplados como mem-
bros do órgão do poder judiciário, no entanto, o legislador não deixou dú-
vidas quanto à incompatibilidade quando expressamente trouxe mais esta
previsão taxativa;
e) Justiça de Paz: inicialmente afastada a sua abrangência por força da li-
minar deferida pelo STF na ADin 1127-8, confirmou-se, em decisão final,
sua incompatibilidade ao exercício da advocacia. Trata-se, nos termos do
artigo 98, II da Constituição Federal de atividade remunerada composta de
cidadãos eleitos pelo voto direto, universal e secreto, com mandato de qua-
tro anos e competência para, na forma da lei, celebrar casamentos, verificar,
de ofício ou em face de impugnação apresentada, o processo de habilitação
e exercer atribuições conciliatórias, sem caráter jurisdicional, além de outras
previstas na legislação;
f ) Juízes Classistas: Existiam em primeira instância na Justiça do Trabalho
as denominadas JCJ (juntas de conciliação e julgamento) em que havia a
figura dos juízes classistas cuja extinção se por intermédio da emenda cons-
titucional nº 24 de 1999. No âmbito de suas existências, os juízes classistas
eram considerados incompatíveis com o exercício da advocacia;
g) Órgãos de deliberação coletiva da administração pública dire-
ta e indireta: tratam-se dos cargos de membros natos, chama-se a atenção
para a expressão “deliberação coletiva”, o que significa dizer que somente
os órgãos (fracionados ou não) de julgadores coletivos estão abarcados pela
capítulo 4 • 65
incompatibilidade, ou seja, órgão de decisão monocrática não está na condi-
ção de incompatível. São exemplos de órgãos de deliberação coletiva abrangi-
dos pela incompatibilidade o conselho de contribuintes e a junta comercial.
capítulo 4 • 66
harmonia ao princípio da especialidade, vale dizer, no que se refere ao juiz leigo,
a lei 9099/95 é mais especial do que o Estatuto da OAB, portanto, a função de
julgamento de juiz leigo é fato impeditivo do exercício da advocacia no âmbito de
qualquer juizado especial e não incompatível;
capítulo 4 • 67
IV. Auxiliares e serventuários da justiça: “ocupantes de cargos ou funções vin-
culados direta ou indiretamente a qualquer órgão do Poder Judiciário e os que
exercem serviços notariais e de registro”;
Esta hipótese de incompatibilidade envolver qualquer tipo de serventuário
da justiça, além de toda atividade regular vinculada ao órgão do poder judi-
ciário e aqui até os terceirizados estão incluídos. Importante salientar que a
regra é extensiva, também, àqueles servidores auxiliares cujos titulares não
considerados serventuários que são, especificamente, os dos serviços notariais
e de registro público, incluindo aqui todos os seus empregados privados nes-
ses cartórios.
V. Atividade policial: “ocupantes de cargos ou funções vinculados direta ou in-
diretamente a atividade policial de qualquer natureza”;
Importantíssimo perceber que não é apenas o policial que está na condição
de incompatível, mas muito mais do que isso, a incompatibilidade é da atividade
policial. Esta envolve atividade fim e atividade meio ou de apoio. A atividade fim
é aquela exercida diretamente por intermédio dos cargos policiais por excelência,
os cargos de carreira policial, cargos próprios da atividade de estado. No entanto
há aqueles cargos que, embora não sejam de carreira policial, exercem apoio direto
à atividade policial. Como se trata de incompatibilidade da atividade, significa
dizer que não somente os cargos fins, mas também os cargos meio ou de apoio
estão todos na condição de incompatíveis ao exercício da advocacia. Dessa forma,
guardas municipais, pessoas envolvidas com sistema penitenciário, policiais civis,
federais, ferroviários, rodoviários e etc., estão todos na condição de incompatíveis.
VI. Militares: “militares de qualquer natureza, na ativa”;
Importante também destacar que o legislador não quis dar azo a qualquer in-
terpretação em contrário e de forma expressa estabeleceu que estivessem alcança-
dos apenas os militares da ativa, portanto aqueles na condição da reserva ou refor-
mados não estão abrangidos por este inciso. Perceba, também, que no que se refere
aos policiais militares e ao corpo de bombeiro militar, de regra, não há necessidade
de maiores considerações haja vista pertencerem à condição de atividade policial.
Por essa razão, restam incluídos os integrantes da força arma (exército, mari-
nha e aeronáutica). Assim como a atividade policial, a atividade militar também
é dividida em atividade fim e atividade meio ou de apoio, no entanto, aqui só
está incluída a atividade fim, vale dizer, somente aquele que está investido em
um cargo de militar, não importando a sua atribuição, ainda que burocrática não
perde a condição de militar, portanto, continua na condição de incompatível com
a atividade da advocacia.
capítulo 4 • 68
VII. Atividades tributárias: “ocupantes de cargos ou funções que tenham
competência de lançamento, arrecadação ou fiscalização de tributos e contribui-
ções parafiscais”;
O legislador faz expressa menção a cargos ou funções cuja natureza é tribu-
tária, portanto relacionados com a receita pública. Note que qualquer servidor
lotado numa fazenda pública poderia estar vinculado à incompatibilidade da ad-
vocacia, no entanto, não basta o vínculo com a receita pública, mais do que isso,
há de ter competência para lançamento e arrecadação, o que remete diretamente
aos cargos de natureza fiscal e de poder de polícia para aplicação de atos sancio-
natórios, inerentes ao poder de coerção do Poder Público. Exemplos: Fiscais de
renda, fiscais de ordem pública, fiscais de limpeza pública, fiscais de postura e etc.
VIII. Instituições financeiras: “ocupantes de funções de direção e gerência em
instituições financeiras, inclusive privadas”;
No escólio de Paulo Lobo [2009, p. XX], são pessoas que desfrutam de um
enorme potencial de captação de clientela por conta do poder decisório que pode
influir profundamente na economia das pessoas.
Não se pode perder de vista que inclusive instituições financeiras privadas estão
abarcadas pela incompatibilidade, portanto seus gerentes ou diretores de bancos,
distribuidoras ou corretoras de valores estão alcançados pela incompatibilidade.
Impedimento
capítulo 4 • 69
compreensão do presente instituto, a seguir serão relacionadas, esquematicamen-
te, como os casos de impedimentos estão apresentados.
Impedimentos especiais
A ideia de taxar como “especiais” é pelo fato de que não são impedimentos
tratados no artigo 30 do Estatuto, mas em ocasião normativa distinta. Assim, os
casos de impedimentos dos juízes eleitorais oriundos da classe dos advogados, dos
juízes leigos e até dos conciliadores (estes que porventura se afigurarem com ad-
vogados também) são exemplos de impedimentos especiais por haver tratamento
especial em local diverso do artigo 30.
Quanto aos advogados de carreiras jurídicas públicas que desempenho ativi-
dade de advocacia restrita ao âmbito de suas atribuições institucionais [LOBO,
2009, p. 175] de regra, poder-se-iam tratar como impedimentos do artigo 30, I
capítulo 4 • 70
(servidores públicos), no entanto, como o próprio Estatuto da OAB, em seu artigo
3º §1º preconiza:
Por essa razão, também são hipóteses taxadas como impedimentos especiais
haja vista que para se saber sobre a restrição ou não desses profissionais, há de se
pesquisar em seus respectivos Estatutos.
Idêntica razão se encontra com os membros do Poder Judiciário que se des-
vinculam do respectivo órgão, aqui é a própria constituição federal que traz a hi-
pótese de impedimento especial, denominada de “quarentena”, nos termos do seu
artigo 95, parágrafo único, V, que os impede de exercer a advocacia no juízo ou
tribunal do qual se afastou, antes de decorridos três anos do afastamento do cargo
por aposentadoria ou exoneração. Cabe ressaltar que idêntica restrição também é
afetada aos membros do ministério público conforme decido pelo seu respectivo
Conselho Nacional.
Zona de trânsito
capítulo 4 • 71
Esses Órgãos de carreiras jurídicas são caracterizados como independentes
e, portanto, admissível sua capacidade judiciária. Portanto, observe que os seus
dirigentes máximos além de dirigirem os respectivos serviços jurídicos, prestar
assessoria e consultoria jurídica, podem representar judicialmente os seus respec-
tivos órgãos.
Trata-se de atividades privativas da advocacia, portanto, como esses dirigentes
podiam exercê-las se não estão na condição de impedidos especiais (eles não estão
na condição de advogados públicos, mas de chefe geral destes), mas sim na condi-
ção de incompatíveis? O atual Estatuto resolveu esse problema e agora a resposta a
esse questionamento se encontra no artigo 29 do Estatuto, ou seja, enquanto esti-
verem representando o seu respectivo órgão jurídico, estão legitimados a exercer a
advocacia vinculado à função e durante a respectiva investidura.
Em suma, o Estatuto agora não os considera, enquanto dirigentes máxi-
mos desses órgãos, nem incompatíveis e tampouco impedidos, mas numa zona
de trânsito.
Considerações iniciais
capítulo 4 • 72
3. Na mesma ideia do direito penal, não se pode trazer analogias ou interpreta-
ções extensivas às infrações disciplinares. Não se pode confundir com interpre-
tação analógica, nesta não há integração, mas há um exercício de se desvendar o
sentido do dispositivo, no entanto, por técnica legislativa, o legislador, que não
pode prever tudo, exemplifica e concede ao intérprete a possibilidade de trazer
outros casos à semelhança do exemplo legal. O estatuto da OAB traz um exemplo
de interpretação analógica em seu art. 34, XXV p. único;
4. As infrações disciplinares foram agrupadas em um único artigo do estatuto da
OAB (34) com 29 (vinte e nove) tipos;
5. As sanções disciplinares foram divididas em três partes:
1. Censura (eventualmente reduzida a simples advertência);
2. Suspensão e;
3. Exclusão.
Importantíssimo frisar que não foi dito que há três sanções disciplinares, mas
que elas foram divididas em três partes. Com relação à quantidade de sanções dis-
ciplinares, há quatro espécies. No entanto, por que foram divididas em três partes?
Isso porque a multa, embora seja uma das quatro espécies de sanções disci-
plinares, é um tipo de sanção acessória, ou seja, ela se acumula com outra sanção
quando houver circunstância agravante. Assim, a multa não pode ser aplicada de
maneira isolada, nem se refere especificamente a qualquer infração disciplinar.
Interessante registrar que pelo fato da sanção de exclusão, por excelência, reti-
rar o condenado dos quadros da OAB, portanto, fazendo com que não esteja mais
na condição de advogado, a multa é acumulada apenas com as sanções de censura
e suspensão, haja vista não ter efetividade na sanção de exclusão que, como dito, o
condenado não estará mais na condição de advogado.
Este, portanto, é o momento certo de consignar o fato de que advertência
não é uma espécie originária de sanção disciplinar. Nos casos de censura e somente
nestes casos, essa censura pode ser reduzida a uma simples advertência, quando ao
fato julgado houver circunstância de natureza atenuante.
6. Cometem infração disciplinar somente os inscritos na OAB. Diferentemente
dos honorários advocatícios em que os inscritos na OAB têm direito, mas estão
excluídos os estagiários, aqui nas infrações disciplinares há uma específica previsão
para os estagiários que, portanto, estão incluídos no regime de sanções disciplinares.
Buscando um modo mais didático possível, será apresentado, a seguir, um
quadro esquematizado de como as infrações disciplinares se distribuem nas suas
capítulo 4 • 73
respectivas sanções disciplinares e, quando necessário, serão traçadas as pertinen-
tes observações:
capítulo 4 • 74
se o advogado preterido fosse aquele que havia sido condenado por exclusão ou
suspensão não haveria uma “dupla condenação” haja vista que já não poderia ad-
vogar mesmo. No entanto, se o preterido fosse aquele que havia sido condenado
por censura teria sim uma “dupla condenação”, uma vez que advogado censurado
pode continuar exercendo a advocacia.
Por essas razões a sanção de censura não pode ser objeto de publicidade.
Reabilitação
Prescrição
Processo mnemônico
capítulo 4 • 75
absorção da topografia das sanções disciplinares, buscou-se criar um processo de
memorização que chegasse ao êxito desejado, dessa maneira, apresenta-se a esque-
matização, a saber:
Insertos no capítulo III do título IX do código penal, vamos tratar dos crimes
de patrocínio infiel, patrocínio simultâneo e tergiversação, respectivamente no
artigo 355 e seu parágrafo único.
Nas lições de Nelson Hungria [1958, p. 312], os crimes contra a adminis-
tração da justiça, diferentemente das legislações estrangeiras, não se consagraram
como título autônomo, considerando-os como mera subclasse dos crimes contra
a administração da justiça.
Dessa forma, os crimes que começam a ser analisados, são crimes próprios
em que o advogado se afigura como sujeito ativo. Pela ordem, vamos tratar, em
primeiro lugar, do patrocínio infiel (CP, art. 355) que consiste na forma genérica
acerca da traição do advogado no curso de causa judicial. É necessário que esteja
no exercício do mandato, seja este oneroso ou gratuito e o seu elemento essencial
é a superveniência de efetivo prejuízo, Hungria [1958, p. 520] oferta os seguintes
exemplos:
1. Deliberada provocação de decadência ou prescrição;
2. Maliciosa perda de prazo.
capítulo 4 • 76
O crime só é cometido a título de dolo e é indiferente o motivo do agente, se
não ocorrer o prejuízo não se consuma.
Os crimes de patrocínio simultâneo e tergiversação se encontram no parágrafo
único do mesmo artigo 355, o que sinaliza tratar-se de formas especiais de patro-
cínio infiel, vamos observar quais as especialidades destes para que se justifiquem
estar assentados em local diverso.
O primeiro se refere à conduta do advogado que fica desde o início servin-
do na mesma causa dois constituintes partes contrárias, ou seja, que se acham
em situação de mútuo contraste [HUNGRIA, 2009, p. 520], exigindo apenas o
dano potencial.
A tergiversação, também denominada de patrocínio sucessivo, denominação
que vem do latim tergum vertere (voltar as costas), nesse delito o agente é um
desertor que abandonando a causa de seu cliente ou depois de despedido por ele,
passa a defender a causa da parte contrária.
Necessário que ocorra na mesma causa, exige-se também o dolo e também é
indiferente o fim do agente; não basta ter recebido os mandatos, mas sim que os
exerçam, também se exige apenas o dano potencial, razão pela qual são crimes que
não estão no caput, mas sim no parágrafo único, porque o simples fato de passar
para um outro constituinte já se presume o poder de abusar, não necessitando,
portanto, de efetivo prejuízo.
Diferente é a figura da Lide temerária, esta não é crime e ocorre quando o ad-
vogado se coliga com o seu cliente para lesar parte contrária, sendo solidariamente
responsável pelos danos que causar. Não se presume e não pode ser decretada na
própria ação, exige-se sempre o dolo.
ATIVIDADE
Gismar, advogado inscrito na OAB/RJ, nº 000, candidatou-se a Mandato Eletivo de De-
putado Estadual vindo a ser eleito e tomando posse no dia 02 de janeiro de 2016.
No mês de julho/2016, o Deputado Gismar tornou-se Presidente da ALERJ, sem tomar
qualquer atitude junto à OAB/RJ, continuando a praticar todos os atos postulatórios da Ação
de Separação Litigiosa que tramitava junto à 3ª VF da Comarca da Capital, da qual era patro-
no de uma das partes envolvidas.
No dia 15 de Agosto de 2016, o advogado Maurício, patrono da outra parte do referido
processo, deduziu pretensão àquele Juízo requerendo a nulidade de todos os atos praticados
capítulo 4 • 77
pelo advogado Gismar a partir do mês de Janeiro/2016 (do indigitado processo), com base
no art. 4º, parágrafo único da Lei 8906/94, fundamentando seu pedido no fato do advogado
Gismar, em todo esse período, estar na condição de impedido de exercer a advocacia, por
força do art. 30, II do mesmo Diploma Legal e, por conseguinte, não podendo atuar no refe-
rido processo.
Considerando que o advogado Gismar praticou atos postulatórios no referido processo
em todos os meses de janeiro a agosto de 2016, pergunta-se:
Estão corretos o pedido e a fundamentação do advogado Maurício?
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
HUNGRIA, Comentários ao código penal. V. IX Rio de Janeiro, Forense, 1958.
LOBO, Paulo. Estatuto da Advocacia e da OAB. São Paulo, Saraiva, 2009.
capítulo 4 • 78
5
Processo
disciplinar; fins e
organização da OAB
Processo disciplinar; fins e organização
da OAB
OBJETIVOS
• Conhecer a liturgia do processo disciplinar da OAB;
• Entender a natureza jurídica da OAB;
• Compreender a estrutura organizacional da OAB.
Considerações iniciais
Bem lembrado por Celso Coccaro [2009, p.204], a OAB possui duas classes
de processos, a primeira é o objeto de estudo, ou seja, o processo disciplinar; e a
segunda, o processo administrativo comum, que trata de variadas matérias, como
inscrição, eleições, registros de sociedades de advogados e etc.
Acrescenta José Nalini [2006, p. 340] que os advogados têm facilitada a re-
gulação de sua conduta ética, pois contida, em sua essência, no código de ética
e disciplina da OAB, além das regras deontológicas como um todo, este regula,
também o processo disciplinar.
Em se tratando de processo disciplinar, que também tem regulamentação no
Estatuto da OAB, aplicam-se, subsidiariamente, as normas processuais penais com
capítulo 5 • 80
prazo comum de 15 dias a qualquer tipo de intervenção, a contar do dia útil
seguinte imediato ao recebimento, caso a notificação tenha sido realizada pessoal-
mente ou da publicação, podendo o prazo de defesa prévia ser prorrogado a juízo
da OAB.
Ao processo disciplinar segue a seguinte hierarquia:
• Primeira instância – Tribunal de ética e disciplina;
• Segunda instância – Conselho seccional;
• Instância superior – Conselho federal.
capítulo 5 • 81
Liturgia processual
• Segunda fase:
99 Encaminhamento do processo ao Tribunal de Ética e Disciplina (TED);
99 Presidente do TED designa relator para proferir voto;
99 Inserção do processo na pauta para julgamento;
99 Intimação do representado para defesa oral pelo prazo de 15 minutos
na sessão;
99 Produção da defesa oral;
99 Voto do relator;
99 Remessa dos autos ao relator designado ou membro que tiver pare-
cer vencedor;
99 Lavratura do acórdão com ementa;
99 Publicação no órgão do conselho seccional.
Grau recursal
Com juízo de admissibilidade do relator do órgão julgador para o qual foi in-
terposto o recurso, todas as decisões proferidas pelo tribunal de ética e disciplina,
unânimes ou não, são passíveis de recurso junto ao conselho seccional competente.
capítulo 5 • 82
As decisões definitivas dos conselhos seccionais que contrariem o estatuto,
decisão do conselho federal ou outro conselho seccional são passíveis de recurso
junto ao conselho federal.
As decisões definitivas dos conselhos seccionais, ainda que não contrariem os
órgãos acima descritos, caso não tenham sido unânimes também são passíveis de
recurso junto ao conselho federal
Todos os recursos têm efeito suspensivo, exceto em matéria eleitoral, suspen-
são preventiva e cancelamento da inscrição obtida com falsa prova.
Cabe ressaltar que cabe recurso ao conselho seccional de todas as decisões
proferidas por seu Presidente, pelo tribunal de ética e disciplina, pela caixa de
assistência dos advogados ou pelo presidente ou diretoria da subseção, mesmo que
esta possua seu próprio conselho, no entanto, como lembrado por Claudio Finat
2006, [2006, p.134], contra decisão do TED, o recurso será dirigido ao plenário
ou órgão especial equivalente do conselho secicional.
capítulo 5 • 83
obra enaltece as expressões empregadas aos procedimentos de processos disciplina-
res criadas pela Segunda Câmara do Conselho Federal, abaixo transcritas:
• Arquivamento liminar: extinção, sem qualquer instrução procedimental
ou apreciação de mérito, do processo ético-disciplinar despido dos pressupostos
legais de admissibilidade;
• Defensor dativo: advogado designado pelo Relator, que não poderá ser
conselheiro ou membro do TED, para patrocinar o representado rever;
• Indeferimento liminar: ato do presidente da seccional, pelo qual, sopesan-
do os termos e elementos da representação e da defesa prévia, põe fim ao processo,
por considerar, da contraposição das peças referidas, inexistente qualquer infração
disciplinar, extinguindo o processo com julgamento de mérito;
• Parecer liminar: opinião manifestada pelo Relator, após a defesa prévia, na
qual descreve os fatos passíveis de punição e oferece o respectivo enquadramen-
to legal;
• Parte: o representante, que pode ser pessoa física, jurídica ou autoridade e
o representado, o inscrito na OAB;
• Prazo: lapso de tempo para a prática de ato processual, que será contado a
partir da notificação da parte, ou da publicação do despacho ou decisão, salvo no
caso de defesa prévia, quando fluirá a partir da juntada do Aviso de Recebimento
(AR) da convocação à defesa;
• Prescrição: perecimento da pretensão punitiva, ou seja, perda do poder
punitivo da OAB;
• Procedimento ético-disciplinar: conjunto de atos formais sequenciados,
de desenvolvimento do processo;
• Processo ético-disciplinar: sistema formal e ordenado de providências e
etapas, conducentes à decisão da representação ético-disciplinar;
• Razões finais: alegações escritas, oferecidas pelas partes, após o encerra-
mento da fase probatória, nas quais sustentam suas respectivas posições;
• Relator: o membro do conselho seccional ou da subseção, designado pelo
presidente, para presidir a instrução do processo; ou membro do tribunal de ética
e disciplina encarregado de ali conduzir o processo;
• Representação: peça escrita, ou tomada a termo, na qual se apresenta de-
núncia ético-disciplinar contra inscrito na OAB;
• Testemunha: pessoa não impedida por lei, convocada ou convidada para
depor, imparcialmente, sobre os fatos do processo ético-disciplinar.
capítulo 5 • 84
Fins e organização da OAB
Note que há, como dito, os mais variados argumentos a sustentar o conceito
e natureza jurídica da OAB, dessa forma, analisando toda discussão a que se faz
referência, prevalece o seguinte entendimento:
A OAB tem o seguinte conceito, amparado no artigo. 44 do Estatuto:
“Entidade sui generis ou autarquia de regime especial que presta serviço públi-
co não estatal, dotada de personalidade jurídica e forma federativa, sem manter
com órgãos da Administração Pública qualquer vínculo funcional ou hierárquico”.
No que se refere à natureza jurídica, lembrando da controvérsia doutrinária
e jurisprudencial, segundo posição do STJ no informativo n° 219 de 2004: a
OAB não se confunde com as demais corporações incumbidas do exercício pro-
fissional, todavia seja denominada de autarquia profissional de regime especial ou
sui generis”.
capítulo 5 • 85
Finalidades da OAB
São três finalidades básicas, em que num processo mnemônico, atende pela
sigla DPP e são as seguintes:
99 Defender a Constituição e a ordem jurídica do Estado Democrático de
Direito; os direitos humanos;
99 Pugnar pela justiça social e pela boa aplicação das leis; pela rápida adminis-
tração da justiça e aperfeiçoamento da cultura e das instituições jurídicas;
99 Promover, com exclusividade, a Advocacia no Brasil.
Órgãos da OAB
capítulo 5 • 86
administração interna, devem ser publicados na imprensa oficial ou afixados no
fórum, na íntegra ou em resumo
Compete à OAB fixar e cobrar, de seus inscritos, contribuições, preços de
serviços e multas (Não tem natureza tributária). O pagamento da contribuição
anual à OAB isenta os inscritos nos seus quadros do pagamento obrigatório da
contribuição sindical.
Ademais, constitui título executivo extrajudicial a certidão emitida pela dire-
toria do Conselho competente, relativa à contribuição de seus inscritos.
Os Presidentes dos Conselhos e das Subseções da OAB têm legitimidade para
agir, judicial e extrajudicialmente, contra qualquer pessoa que infringir as dispo-
sições ou os fins da lei 8.906/94, além de possuírem legitimidade para intervir,
inclusive como assistentes, nos inquéritos e processos em que sejam indiciados,
acusados ou ofendidos os inscritos na OAB.
Para efeito de cumprimento do Estatuto da OAB, os Presidentes dos Conselhos
da OAB e das Subseções podem requisitar cópias de peças de autos e documentos
a qualquer tribunal, magistrado, cartório e órgão da Administração Pública direta,
indireta e fundacional, desde que o presente requerimento seja motivo, nos termos
da decisão do STF em sede de ADI 1127-8
1 A “Medalha Rui Barbosa” é conferida pelo Conselho Federal às grandes personalidades; concedida uma única
vez e entregue em sessão solene;
capítulo 5 • 87
cada membro da delegação terá direito a 1 (um) voto, vedado aos membros ho-
norários vitalícios.
Compete ao Presidente:
1. Representação nacional e internacional da OAB;
2. Convocar o conselho federal e presidi-lo;
3. Representá-lo ativa e passivamente, em juízo ou fora dele;
4. Promover-lhe a administração patrimonial e dar execução às suas decisões.
99 Conselho pleno;
99 Órgão especial do conselho pleno;
99 1ª, 2ª e 3ª câmaras;
99 Diretoria;
99 Presidente.
capítulo 5 • 88
• A segunda Câmara do Conselho Federal é presidida pelo Secretário-Geral
Adjunto e se divide em três turmas, possui competência para discutir matéria so-
bre ética e deveres dos Advogados, editar resoluções para o TED e julgar recursos
contra seu Presidente.
• A terceira Câmara do Conselho Federal é presidida é presidida pelo
Tesoureiro e possui competência para julgamento de recursos relativos aos órgãos
da OAB, sociedade de advogados, advogados associados e empregados; apreciar
relatórios sobre contas; modificar ou cancelar dispositivos do Regimento Interno
dos Conselhos Seccionais contrários ao Estatuto ou RG. Julgar recursos interpos-
tos contra o seu Presidente.
capítulo 5 • 89
99 Realizar o exame de ordem;
99 Decidir os pedidos de inscrição nos quadros de advogados e estagiários.
Competência da subseção
Criada pelo conselho seccional, que fixa sua área territorial e seus limites de
competência e autonomia, a sua rea territorial pode abranger um ou mais muni-
cípios, ou parte de município, inclusive da capital do Estado, contando com um
mínimo de quinze advogados, nela profissionalmente domiciliados.
Ela é administrada por uma diretoria, com atribuições e composição equiva-
lentes às da diretoria do conselho seccional e possui as seguintes competências:
• Dar cumprimento efetivo às finalidades da OAB;
• Receber inscrições;
• Velar pela dignidade, independência e valorização da advocacia, e fazer valer
as prerrogativas do advogado;
• Representar a OAB perante os poderes constituídos;
• Instaurar e instruir processos disciplinares.
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O conselho seccional, mediante voto de dois terços de seus membros, pode
intervir na caixa de assistência dos advogados, no caso de descumprimento de suas
finalidades, designando diretoria provisória, enquanto durar a intervenção.
Eleições na OAB
ATIVIDADES
01. O advogado Luiz Cláudio realizou determinada conduta tipificada como infração discipli-
nar pela Lei 8.906/94. Considerando que o referido fato se deu no município de Extremoz,
Estado do Rio Grande do Norte e que sua inscrição principal é no Rio de Janeiro, seria pos-
sível o referido advogado ser julgado pelo Tribunal de Ética da OAB/RJ?
02. Sob o ponto de vista disciplinar, o que difere legalmente à guisa de sanção, o advogado
que retém abusivamente documentação de seu cliente para o advogado que retém abusiva-
mente os autos do processo?
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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2009.
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Forense, 2006.
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JÚNIOR, Marco Antônio. Ética Profissional. São Paulo, Revista dos Tribunais, 2009.
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MACEDO, Geronimo Theml. Deontologia. Rio de Janeiro, Lúmen Júris, 2009.
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