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ÉTICA GERAL E

PROFISSIONAL

autor
ALFREDO RODRIGUES JUNIOR

1ª edição
SESES
rio de janeiro  2018
Conselho editorial  roberto paes e gisele lima

Autor do original  alfredo rodrigues junior

Projeto editorial  roberto paes

Coordenação de produção  gisele lima, paula r. de a. machado e aline karina


rabello

Projeto gráfico  paulo vitor bastos

Diagramação  bfs media

Revisão linguística  bfs media

Revisão de conteúdo  andrei brettas grunwald

Imagem de capa  victor grow | shutterstock.com

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2018.

Diretoria de Ensino — Fábrica de Conhecimento


Rua do Bispo, 83, bloco F, Campus João Uchôa
Rio Comprido — Rio de Janeiro — rj — cep 20261-063
Sumário
Prefácio 5

1. Advocacia brasileira 7
Origem 8
História 9

Inscrição aos quadros da OAB 12

Licença e cancelamento da inscrição 17


Cancelamento 17

Inscrição principal, suplementar e por transferência 18


Inscrição principal 18

Estrangeiro ou brasileiro com bacharelado no exterior, advogado


estrangeiro e advogado português 20
Estrangeiro ou brasileiro com bacharelado no exterior 20

Inscrição de estagiário 23

Características essenciais da advocacia: indispensabilidade, inviolabilidade.


Função social e independência 23
Indispensabilidade 23

2. Sociedade de advogados; nulidade dos atos


da advocacia praticados ilegalmente, publicidade
na advocacia 35
Constituição da sociedade de advogados 37
Registro, atividade e denominação da sociedade de advogados 38

Nulidade dos atos da advocacia praticados ilegalmente 41

Publicidade na advocacia 43
3. Honorários advocatícios; renúncia, revogação e
substabelecimento 47
Honorários convencionados 49
Pacto quota litis 51

Honorários arbitrados judicialmente 53

Honorários de sucumbência 53

Cobrança dos honorários advocatícios 56

Prescrição dos honorários advocatícios 56

Renúncia, revogação e substabelecimento 57

4. Incompatibilidade e impedimento, infrações e


sanções ético-disciplinares, sanções penais
próprias de advogados e lide temerária 61
Considerações iniciais 62
Incompatibilidade 63

Infrações e sanções ético-disciplinares 73


Considerações iniciais 73

Publicidade das sanções disciplinares 75


Reabilitação 76
Prescrição 76
Processo mnemônico 77

Sanções penais próprias de advogados e lide temerária 77

5. Processo disciplinar; fins e organização


da OAB 81
Considerações iniciais 82
Liturgia processual 84

Fins e organização da OAB 87


Conceito e natureza jurídica da OAB 87
Prefácio

Prezados(as) alunos(as),

Alinhado à necessidade de se conhecer a Entidade representativa da advo-


cacia, o aluno de Direito vai se deparar com uma leitura acessível e de escassa
formalidade. Essa linguagem dialógica permitiu um texto direto e bem objetivo
às principais nuances da disciplina de ética geral e profissional. Na medida em
que vai aprofundando a leitura o aluno observará que o conteúdo dessa matéria
não apresenta significativa quantidade de divergências doutrinárias, ao contrário
disso, um diálogo interpretativo direto, com os textos legais pertinentes, fato que
sensivelmente facilita seu entendimento. As divergências, quando foi necessário
enaltecê-las, foram trazidas com o referido linguajar dinâmico e atraente.
As temáticas, que foram divididas em cinco capítulos, seguem, em elevada
proporção, a ordem topográfica do Estatuto da OAB, facilitando mais ainda a
compreensão da matéria. Em alguns momentos, por exemplo, optou-se por um
processo mnemônico acompanhado de uma espécie de fluxograma da topografia
das infrações disciplinares para uma mais fácil depreensão.
O aluno terá a capacidade de ordenar informações da leitura deste livro que
lhe possa obter conhecimentos imprescindíveis ao exercício da advocacia, aos seus
deveres como profissional do Direito e, sobretudo, como se comportar perante
todos os segmentos da sociedade, para tanto, em seu estudo ele perpassará sobre
a história da advocacia, suas normas específicas para atividade, bem como seus
deveres e prerrogativas. Vai ter a oportunidade de conhecer seus direitos de amea-
lhar honorários, de poder se unir em sociedade de advogados, além de conhecer a
estrutura organizacional de sua Entidade.
A título exemplificativo, o leitor vai descobrir, em matéria de infrações dis-
ciplinares, que o fato de se tornar advogado(a) já traz um ônus significante à sua
conduta diária, uma vez que não há necessidade de se estar no exercício profissio-
nal para ser avaliado no seu dia a dia, em outras palavras, a qualidade de advoga-
do(a) já traz a reboque responsabilidades perante a sociedade.

Bons estudos!

5
1
Advocacia brasileira
Advocacia brasileira
Da atividade advocatícia: origem, história, legislação, inscrição aos qua-
dros da OAB e características.
Neste capítulo o aluno vai se deparar com um resumo histórico da advocacia
no mundo e, notadamente, no Brasil. Perceberá a influência da advocacia na vida
civil e política do país e reconhecerá que o advogado é a única profissão liberal de
natureza privada que possui tratamento expresso na Constituição Federal.
Vai conhecer as principais normatizações que contemplam a atividade advo-
catícia e quais são os requisitos legais a serem cumpridos para se chegar ao status
de advogado.
Você também começará a enxergar que o fato de ser advogado por si só já car-
rega uma grande responsabilidade social, ainda que não tenha realizado nenhum
ato privativo da advocacia, imagina quando se realiza, então? São reflexões que já
sinalizam que além da necessidade de acúmulo de conhecimentos, para ser advo-
gado também tem de levar consigo um bom bocado de ética.
Irá conhecer as formas de acesso ao exercício da advocacia, entendendo que há
limites para um exercício legal e as responsabilidades que carrega o advogado, nas
mais simples e modestas causas que assim possam ser consideradas.

OBJETIVOS
•  Aquilatar a importância da ética na atividade advocatícia;
•  Conhecer as principais normas que regem o assunto;
•  Diagnosticar os direitos e deveres do advogado.

Origem

Como defesa de interesses individuais e coletivos, a advocacia remonta à época


anterior ao calendário cristão, perpassando pelo Código de Manu e pelo Antigo
Testamento, há quem sustenta ser a Grécia antiga a sua origem.
No entanto, conforme preconiza Paulo Lobo [2009, pags. 3 e 4], os traços
evolutivos são encontrados no mundo romano, com as profissões de patronos

capítulo 1 •8
(representantes das partes) e dos jurisconsultos (pessoas de opiniões jurídicas de
respeitada qualidade moral e científica).
No Brasil, naturalmente a influência de Portugal foi uma consequência lógi-
ca. Seus reflexos remetem às Ordenações Filipinas A exigência destas Ordenações
era a necessidade do período de oito anos de estudo cursados na Universidade de
Coimbra em Direito Canônico, Civil ou em ambos.
Portanto, durante o período colonial, aqui no Brasil observavam-se os traba-
lhos dos rábulas, pessoas que aprendiam e exerciam o ofício da advocacia, ainda
que não formados.

História

Especificamente no Brasil, considerando a influência portuguesa, o período


imperial foi o início da construção da profissão de advogado. No século XIX dois
marcos históricos contribuíram de forma concreta para esse acontecimento: a cria-
ção e abertura das Faculdades de Direito de São Paulo e de Olinda (1827) e a
fundação do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB – 1843).
Quanto à criação dos cursos jurídicos, devemos identificar que foi um proces-
so lógico resultante da cultura brasileira nascida da independência de nosso país,
que influenciou diretamente nossa vida política e social. Num primeiro momento
debatido na Assembleia Constituinte de 1823, que foi dissolvida com a outorga da
Constituição de 1824, no entanto retomada em 1826 e culminando com a edição
da lei de 11 de agosto, criando, assim, os nossos dois primeiros cursos jurídicos.
Por essa razão perceba que o dia 11 de agosto é a data em que se comemora o
“dia do advogado”. Tradicionalmente no início do século XX, o dia do advogado
também era comemorado pelos estudantes de Direito, isso porque os comercian-
tes homenageavam esses acadêmicos deixando-os comer de graça, fenômeno que
ficou conhecido como “dia da pendura”.
Quanto ao outro marco histórico do século XIX, referido acima, basta fazer-
mos uma reflexão de que a existência de uma instituição que formaria advogados
está consequentemente ligada ao desejo da criação de outra instituição que desse
suporte a esses profissionais, seja acolhendo, seja orientando ou prestando qual-
quer serviço dessa envergadura.
Dessa forma, em pouco mais de dez anos da existência das Faculdades de
Direito, notadamente no ano de 1843, foi criado o Instituto dos Advogados

capítulo 1 •9
Brasileiros formando uma identidade político-social inaugurando um período
pós-independência.
Todo esse processo iniciado no século XIX expandiu-se para o século seguinte
consolidando com a criação da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que por
intermédio do Decreto 19.408, de 18/11/1938 expressamente em seu artigo 17
preconizava “criada a Ordem dos Advogados Brasileiros, órgão de disciplina e
seleção da classe dos advogados”, que no escólio de Geronimo Theml de Macedo
[2009, p.1] se regeria pelos estatutos que fossem votados pelo Instituto da Ordem
dos Advogados Brasileiros, com a colaboração dos Institutos dos Estados, e apro-
vados pelo Governo.
A época da criação da OAB (transição da República Velha para a Era Vargas) já
sinalizava uma atuação dos advogados e juristas na participação ativa das mudan-
ças políticas que nosso país sofreu. Com atribuições em todo território nacional
consagradas no Referido Decreto de 1938, a OAB tinha uma missão institucional
de zelar pelas Instituições, assim com pela Ordem Jurídica de nosso país.
A busca pela defesa das liberdades democráticas trouxe marcas positivas
à Instituição, como a luta contra o autoritarismo do Estado Novo, e contra o
Regime Militar de 1964, consolidando-se como uma das principais Instituições
da Sociedade Civil.
O movimento popular em defesa do Estado de Direito no início dos anos 80
teve na OAB um de seus maiores alicerces na busca das eleições diretas para os
nossos governantes, tanto que a Ordem foi alvo de muitos atentados perpetrados
por aqueles contrários à instauração de uma nova ordem democrática no país.
A luta pela abertura política espelhou sua atuação na Assembleia Nacional
Constituinte que após inúmeras discussões com representações de, praticamente,
todos os setores da sociedade brasileira, promulgou a Constituição Federal que
vige até hoje com as suas respectivas emendas.
De uma leitura atenta à Constituição Federal de 1988 não há dúvidas quan-
to à importância da Ordem dos Advogados do Brasil no cenário político-social
do país. Reconhecidamente autorizada como voz dos cidadãos brasileiros, o
Conselho Federal da OAB possui legitimidade universal para o ajuizamento de
Ações Diretas que visam o controle de constitucionalidade de nossa carta magna.
Associado à Magistratura e o Ministério Público, o advogado é a única profissão
com expressa referência constitucional

capítulo 1 • 10
Da legislação da OAB

Importante esclarecer que a legislação é voltada à Instituição OAB como um


todo e não somente ao advogado no seu magistério privado, isso porque não se
pode confundir o advogado com o bacharel em Direito. Este consiste naquele es-
tudante que conclui e que cola grau no curso superior de Direito, enquanto aquele
é o bacharel em direito devidamente inscrito nos quadros da OAB.
Evidentemente que existe uma listagem normativa de direitos e deveres que
estão direcionados ao advogado, no entanto, a legislação específica contempla
toda a disciplina que envolve a profissão, organização e tratamento com todos os
segmentos sejam de natureza pública, sejam de natureza privada, que se comuni-
cam com a advocacia.
Das diversas normas que envolvem a disciplina, uma é revestida de caráter
formal e de âmbito federal, as outras, embora de cumprimento obrigatório, não
são revestidas desse caráter formal, mas têm o sentido material do termo e são
as seguintes:
1. Lei 8906/94, denominada “Estatuto da Advocacia e da OAB”, de caráter
formal e âmbito federal;
2. Código de Ética e Disciplina de 2015: Editado pelo Conselho Federal, con-
siste numa norma apenas no sentido material, que preserva, do mesmo jeito, a sua
força cogente, [MACEDO, 2009, p.5], devendo ser respeitada e cumprida por
todos que exercem a atividade de advocacia;
3. Regulamento Geral do Estatuto da Advocacia e da OAB: também apenas
de sentido material e de competência do Conselho Federal da OAB, Paulo Lobo
[2009, p. 356] foi preciso em seus comentários:

O Estatuto é uma lei compacta, que procurou tratar apenas das matérias que se en-
cartassem na denominada reserva legal (criação, modificação ou extinção de direitos
e obrigações). Dessa forma todas as demais foram remetidas ao seu Regulamento
Geral, mediante delegação de competência legal ao Conselho Federal da OAB.

4. Provimentos: São prescrições emanadas do Conselho Federal com força nor-


mativa que regula assuntos ou matérias específicas previstas no Estatuto da OAB
não contemplados no Regulamento Geral.

capítulo 1 • 11
Ainda que não delineada como norma pertencente à legislação específi-
ca da Ordem dos Advogados, fique atento para as Conferências Nacionais dos
Advogados como órgão consultivo, cujas conclusões são vertidas em recomenda-
ções aos respectivos Conselhos, que poderão adotá-las ou as rejeitar, no entanto
jamais as ignorar.

Inscrição aos quadros da OAB

Observe que foi esclarecida a diferença entre advogado e bacharel em direito,


portanto fica fácil entender que a pretensão de se tornar advogado está direta-
mente ligada ao êxito de ter o pedido de inscrição deferido junto aos quadros da
Instituição.
Dessa maneira, toda pessoa que almeja exercer a profissão de advogado deverá
junto à Ordem dos Advogados deduzir a referida pretensão, que pode ser tradu-
zida da seguinte maneira: “requerer o deferimento do pedido de inscrição aos
quadros da OAB”.
A partir do momento em que esse pedido de inscrição seja deferido pela OAB,
esse requerente passa a gozar do status de “advogado” (bacharel em direito inscrito
na OAB). Note que como qualquer pedido, aquele que tem a competência de
apreciar, vai tomar sua decisão se respaldando em critérios pessoais e/ou legais,
cujos requisitos serão avaliados se foram ou não preenchidos. Com o pedido de
inscrição aos quadros da OAB não é diferente!
Os requisitos que são analisados pela OAB, quanto aos seus preenchimentos,
estão elencados no artigo oitavo do Estatuto (Lei 8906/94). Visando esclarecer
uma dúvida recorrente sobre o assunto, faça, inicialmente, uma reflexão sobre três,
dentre todos, requisitos do artigo oitavo, para depois dissecar todos eles.
Os requisitos destacados no momento são: bacharel com diploma ou certidão
de graduação em direito, aprovação no exame de ordem e não exercer atividade
incompatível com a advocacia.
O que o leitor tem que entender aqui é que a pretensão se dirige ao “deferi-
mento da inscrição”, portanto, não existe incompatibilidade ao exame de ordem
e tampouco exigência de ser bacharel em direito para realizar o exame de or-
dem, haja vista, conforme narrado, que todos são requisitos para inscrição e não
requisitos entre si.
Dessa reflexão, perceba que se tira a seguinte conclusão: É perfeitamente pos-
sível prestar exame de ordem ainda que seja incompatível com o exercício da

capítulo 1 • 12
advocacia e/ou não tenha concluído a graduação em direito. (a OAB admi-
te essas possibilidades que serão comentadas na ocasião da análise do respecti-
vo requisito).
Vamos à analise, pormenorizada, de cada requisito elencado no artigo oitavo
do Estatuto, chamando a atenção de que entendemos que as interpretações devem
ser restritivas pelo fato de se estar lidando com um princípio de natureza consti-
tucional que consiste na Liberdade do Exercício Profissional, que são os seguintes:
1. Capacidade civil: Salvo as hipóteses de incapacidade reguladas pela lei civil,
presume-se a capacidade civil plena da pessoa que completa 18 anos de idade, pois
se exige do bacharel em direito a plenitude dessa referida capacidade civil, confor-
me observa Rodrigo de Farias [2010, p. 10]: Comprovada graduação universitária
em curso jurídico, presume-se, também, na lei civil, sua capacidade civil ainda que
não conte com 18 anos completos.
2. Diploma ou certidão de graduação em direito: Por não existir mais a de-
nominada “inscrição provisória”, compreensível foi a alternatividade trazida pelo
Estatuto, quando a certidão de graduação (que só pode ser expedida após a cola-
ção de grau) substitui o diploma.
É notório que a confecção do diploma de graduação leva um tempo um tan-
to quanto considerável para sua efetivação, por essa razão, essa flexibilização de
aceitar a certidão de graduação veio facilitar em elevada proporção aqueles no-
vos formandos.
Todo rigor da OAB em analisar a autenticidade desses documentos se explica
não só com a exigência de que o curso de direito tem que ser reconhecido pelo
MEC como também da exigência do acompanhamento da cópia autenticada do
histórico escolar do requerente (Regulamento Geral, art. 23).
3. Regularidade eleitoral e militar: A exigência está enquanto compulsória, ou
seja, eleitoral para maiores de 18 anos (vimos que excepcionalmente é possível um
postulante à condição de advogado contar com menos de 18 anos) e militar, para
os homens [LOBO, 2009, p.88].
Veja que se trata de mais uma exigência do Congresso Nacional trazendo a
OAB como mais um Órgão de controle das obrigatoriedades cívicas e políticas.
4. Aprovação em exame de ordem: incontestavelmente o requisito com as dis-
cussões mais acaloradas no universo da advocacia. Essa etapa consiste numa aferi-
ção de conhecimentos práticos e jurídicos que o bacharel tem que passar.
Regulado por intermédio de Provimento editado pelo Conselho Federal,
conforme determinação do Estatuto, sendo competente cada Conselho Seccional

capítulo 1 • 13
designar banca examinadora para que as questões sejam formuladas. Apesar de
ser competência de cada Conselho Seccional, acatando sugestão emanada do en-
contro da XVI Conferência Nacional dos Advogados, houve a formulação de um
convênio entre todos eles, unificando nacionalmente o Exame.

Note que a competência continua a ser de cada Conselho, apenas, por inter-
médio desse convênio, é contratada uma banca examinadora que fica responsável
por toda logística de cada Exame, inclusive de recolher as questões formuladas de
cada Seccional. Para isso, o Conselho Federal institui uma comissão de conteúdo
e outra de revisão; essas comissões são compostas por membros dos respectivos
Conselhos Seccionais que repassam as questões para essa banca contratada.
Desse modo, regulado pelo Provimento de nº 144/2011, destacam-se as se-
guintes características:
Prestado no local do Conselho Seccional do Estado em que o interessado
concluiu o seu curso de Direito ou no local de seu domicílio eleitoral, o exame de
ordem é composto de duas etapas e com três edições em cada ano.
A regra é que somente os bacharéis em Direito possam prestar o exame, no
entanto, excepcionalmente se ficar comprovado por intermédio de certidão que se
encontre na condição de formando, valendo dizer, na iminência de colar grau, este
interessado poderá prestar o referido exame, cumprindo, logo após, a exigência
para o deferimento da inscrição ou requerendo a respectiva certidão de aprovação.
O aludido provimento trouxe dispensabilidades ao exame, portanto, de acor-
do com o seu respectivo artigo sexto, todos aqueles oriundos, ou seja, ex-integran-
tes da magistratura e do ministério público estão dispensados. Além desses, aque-
les bacharéis formados entre julho de 1994 até 1996 também estavam dispensados
por conta da regra de transição entre o atual e o anterior estatuto.
Não se discute mais sobre a inconstitucionalidade do exame, uma vez que essa
matéria já foi objeto de análise junto ao STF que, de forma unânime, reconheceu
a constitucionalidade dessa aferição como requisito à inscrição da OAB.
5. Ausência de incompatibilidade: requisito que se auto-explica por si só, pois
se há casos de incompatibilidade ao exercício da advocacia, certamente aqueles
que estão investidos em cargos ou funções que a lei traz essas incompatibilidades,
com toda razão não poderão ter deferida sua pretensão de inscrição aos quadros da
OAB. Os casos de incompatibilidade regulados pelo Estatuto estão no artigo 28 e
serão estudados em momento oportuno.

capítulo 1 • 14
6. Idoneidade moral: requisito de alta complexidade por conta do seu teor alta-
mente subjetivo. O que é uma pessoa inidônea? Nas lições de Paulo Lobo [2009,
p.94] “não são compatíveis com a idoneidade moral atitudes e comportamentos
imputáveis ao interessado, que contaminarão necessariamente sua atividade pro-
fissional em desprestígio à advocacia”.

Ainda que conceito de inidoneidade moral seja subjetivo, objetivamente ido-


neidade moral é um requisito a ser cumprido para o deferimento no pleito da
inscrição na OAB, valendo dizer, um interessado em ser advogado pode ter o seu
pedido indeferido por ser considerado inidôneo. Perceba que a legislação trouxe
algumas condições objetivas quanto à consideração de idoneidade ou inidoneida-
de, a saber:
1. A conduta incompatível com a advocacia, que consiste numa infra-
ção disciplinar do advogado, também é considerada inidônea para fins
de inscrição e impede a inscrição no quadro de advogados nos termos do
Regulamento Geral, art. 20§2º;
2. Aquele que for condenado por crime infamante será considera-
do inidôneo;
3. Aquele que, mesmo que condenado por crime infamante, caso tiver
obtido sua habilitação judicial não poderá ser considerado inidôneo.

Note que se qualquer tipo de atitude, realizada pelo interessado em sua vida
civil, pode ser caracterizada como ato inidôneo, com muito mais razão uma con-
duta criminosa também poderá sê-la. Para tanto, importante salientar que possí-
veis decisões na esfera penal, tais como extinção da punibilidade, não recebimento
da denúncia ou qualquer outra decisão em processo penal em curso não afasta a
possibilidade da eficácia da decisão em sede da inscrição da OAB, quanto à ido-
neidade, pela autonomia das esferas administrativa e criminal.
Não se pode esquecer de que o Estatuto trouxe uma condição de efetividade
para a decisão que julgar o interessado inidôneo, um verdadeiro ato vinculado e
motivado, nas palavras de Paulo Lobo [2009, p. 95]. Todo procedimento de ana-
lisar a inidoneidade deve obedecer a um rito estabelecido na lei que consiste na
instauração de um processo de natureza administrativa que garanta ao interessado
o seu direito de defesa e contraditório, uma vez que o Estatuto impõe que se ob-
servem os termos do processo disciplinar.

capítulo 1 • 15
Ainda que no âmbito desse processo administrativo haja uma decisão de ini-
doneidade, foi previsto um quórum mínimo de dois terços de todos os membros
do Conselho Seccional respectivo para que tenha efeito sua decisão.
Por fim, o parágrafo quarto do artigo oitavo trouxe uma presunção legal de
inidoneidade, uma hipótese taxativa que consiste na condenação por crime infa-
mante. Perceba que o dispositivo se refere à “condenação”, o que implica trânsito
em julgado da condenação. Não basta, nesse particular, a instauração de inquérito
policial, o recebimento da denúncia ou até mesmo uma condenação recorrível, a
lei se conforma somente com condenação criminal irrecorrível.
Nesse raciocínio, sustenta-se que não restando apurada qualquer condenação
antes da inscrição, ainda que haja processo criminal em curso, com amparo à pre-
sunção constitucional da não culpabilidade, o deferimento se impõe [JÚNIOR,
MARCO ANTÔNIO, 2009, p.52]
O grande desafio é diagnosticar o que é crime infamante, essa é uma das
razões pelas quais exige-se processo incidental, com muito acerto a lei trouxe um
conceito aberto, porque há a necessidade de ser averiguado a cada caso concreto.
Imagina se a lei assemelhasse crime infamante a crimes hediondos; haveria um
grande problema que seria a subordinação à tipicidade, ou seja, tudo que fosse he-
diondo seria infamante, no entanto o que não estivesse na condição de hediondez
não poderia ser considerado.
Observe que está longe de comparar o interessado a se tornar advogado em
pessoa “ficha limpa”, qualquer pessoa pode cometer um deslize criminal e ainda
assim com direito à ressocialização. Certamente os crimes culposos estão fora dessa
abrangência, no entanto delitos como os de falso e estelionato inevitavelmente se
enquadrarão à espécie de crimes infamantes.
Cumpre esclarecer que, por se tratar de seara penal, toda reabilitação judicial
apaga a vida pregressa do agente, razão pela qual, deferido este instituto em favor
do condenado, o Estatuto proíbe etiquetá-lo como condenado a crime infamante.
7. Prestar compromisso: ultimo requisito do artigo oitavo e também o último
requisito a ser cumprido pelo interessado. Trata-se de um ato solene que, após ser
analisado o cumprimento de todos os requisitos anteriores, é marcado e realizado
perante o Conselho Seccional, manifestado de viva voz o juramento do interes-
sado em exercer a advocacia com dignidade e responsabilidade, assim como do
compromisso de respeitar e observar a legislação aplicável e o código de ética
e disciplina.

capítulo 1 • 16
Comprometer-se com algo revela, inexoravelmente, um ato personalíssimo,
razão pela qual esse último requisito não comporta delegação e tampouco ao inte-
ressado é permitido estar representado por procurador.

Licença e cancelamento da inscrição

Relembre que advogado é todo bacharel em Direito inscrito na OAB, portan-


to aquele que tem sua inscrição cancelada não possui mais o status de advogado.
Por outro lado, licenciar-se de algo é promover um afastamento temporário com
retorno certo (embora possa não ser preciso), portanto aquele que está licenciado
de sua inscrição ainda possui o status de advogado.
Assim, perceba que os casos que ensejam cancelamento estão subordinados à
natureza permanente, enquanto os que ensejam licenciamento estão subordinados
à natureza temporária.
Deve-se ter em mente que os atos que ensejam tanto o cancelamento quanto o
licenciamento podem vir por vontade própria do advogado ou por circunstâncias
alheias à vontade deste.

Cancelamento

Como ato que afeta diretamente a existência da inscrição, o Estatuto trouxe


a hipótese no seu artigo onze, de maneira taxativa. Importante salienta que o nú-
mero que fica em vacância por conta do cancelamento não pode ser reaproveitado
por expressa proibição legal.
Quanto à proibição de não restauração do número anterior, o caso chegou ao
STJ, em recurso especial (Resp 475.616), cuja decisão foi de amparo ao direito
adquirido, isso porque o Estatuto que antecedeu o atual previa a mantença do nú-
mero de inscrição para aqueles que, por alguma razão, tivessem o cancelamento de
sua inscrição e um futuro retorno. Dessa forma, todos que tiveram sua inscrição
anterior a 1994 cancelada, podem restaurar seus números anteriores com o pedido
de uma nova inscrição.

capítulo 1 • 17
Licenciamento

A maior prova de que o licenciado ainda continua com o status de advogado é


o parágrafo único do artigo quarto do Estatuto que preconiza que serão nulos os
atos praticados por advogado licenciado.
Conforme já salientado, como se trata de instituto que reclama requisito
de temporariedade, o advogado está obrigado a justificar o seu pedido de licen-
ciamento que será apreciado pelo Conselho Seccional que mantém sua inscri-
ção principal.
Como não pode advogar na condição de licenciado, o profissional fica deso-
brigado do pagamento das anuidades referentes a esse tempo de afastamento.

Inscrição principal, suplementar e por transferência

A partir do momento em que todos os requisitos do artigo oitavo do Estatuto


estão, pelo interessado, aptos a ser cumpridos, surge para este a possibilidade de
escolher o local que deseja eleger como domicílio profissional.
Note que a escolha é do interessado, porque é este que escolhe a sede principal
de sua atividade advocatícia; na dúvida a lei estabelece que a sede principal seja a
do seu domicílio civil.

Inscrição principal

Escolhido o domicílio profissional, este será considerado o território da inscri-


ção do futuro advogado. O território está abrangido pelo território do respectivo
Estado-membro (ou Distrito Federal) e o Conselho Seccional respectivo será o
responsável pela análise do pedido de inscrição.
De acordo com o respectivo Conselho Seccional que foi o responsável, à ins-
crição principal será acrescida na expressão “OAB” a sigla do respectivo Estado-
membro ex. OAB/RJ, OAB/SP, OAB/MG, OAB/RN, OAB/RS e etc.

Inscrição suplementar

É importantíssimo ficar claro que o fato de estar obrigado a escolher um do-


micílio profissional e vincular-se a uma respectiva seccional não significa dizer
que não possa advogar em outro território nacional. É um direito do advogado

capítulo 1 • 18
manifestamente expresso no Estatuto o de advogar em qualquer parte do território
nacional, fato que decorre do exercício pleno da liberdade profissional em razão
do espaço.
No entanto, mesmo considerado um direito pleno em razão do espaço, este
pode sofrer algumas relativizações quanto ao seu exercício, basta observar que a
anuidade se sujeita a cada respectiva seccional, portanto, um advogado com ins-
crição principal no RJ não paga anuidade em SP.
Perceba, então, que se esse advogado pudesse advogar em SP irrestritamente
passaria a ter uma vantagem sobre o seu colega de São Paulo porque somente este
paga anuidade à seccional paulista, por estar vinculado a ela, enquanto o advogado
da seccional do RJ só tem a obrigação de pagamento com esta última.
Surge, então, uma forma de coibir essas espécies de exercício ilegal da profis-
são, que consiste na necessidade de uma inscrição suplementar quando o advoga-
do exercer sua profissão em território diverso do dele, em condições de habituali-
dade, fato que decorre do exercício condicionado da liberdade profissional.
Por essa razão, faz-se necessário compreender, para fins de inscrição suple-
mentar, o conceito de “habitualidade”, e o Estatuto o trouxe de maneira expressa,
assim se referindo: “considerando-se habitualidade a intervenção judicial que ex-
ceder de cinco causas por ano”.
Aparentemente um simples conceito, mas que dele decorrem algumas discus-
sões na doutrina que se procurará compreender. De início, e aqui não há diver-
gência, é a locução “intervenção judicial” sinalizando de maneira inquestionável
que, para fins de habitualidade, toda intervenção extrajudicial é plena, ou seja, só
se consideram intervenções judiciais para fins de análise da inscrição suplementar.
Na parte “exceder a cinco causas por ano” começam as indagações, tais como:
o que é causa? “Por ano” é ano calendário? “Por ano” é a mesma coisa que “ao ano”
ou “em um ano”? Então, vejamos:
No âmbito restrito da interpretação do referido dispositivo, novamente com
alicerce em Paulo Lobo [2009, p. 105], “causa deve ser entendida como pro-
cesso judicial efetivamente ajuizado, em que haja participação do advogado”.
Compreenda, então, que se trata da efetiva participação do advogado no processo,
seja essa participação original ou intercorrente.
O Conselho Federal já sanou algumas dessas dúvidas, quando decidiu que
causa é sempre a primeira, sendo irrelevante o acompanhamento nos subsequen-
tes. Com isso, é seguro afirmar que a referência é o ano-calendário em que no ano

capítulo 1 • 19
subsequente “zera tudo” e o advogado pode participar de mais cinco processos
novos sem precisar ser considerado habitual.
Portanto, a intervenção em mais de um processo judicial durante um ano
calendário traz a habitualidade daquele profissional, tornando obrigatória a inscri-
ção suplementar, com numeração distinta da principal, no respectivo território em
que ocorra, sem a necessidade, para isso, de uma nova prestação de compromisso
porque esta é única e personalíssima para o exercício da profissão.
Faz-se também necessário esclarecer que não são levadas em consideração as
ações ajuizadas nos tribunais superiores por duas razões básicas: a primeira é que
se chegou até lá por intermédio de procedimento recursal a causa pertence ao juízo
de origem e a segunda, ainda que seja competência originária, embora os tribunais
superiores tenham sede na capital federal as suas jurisdições contemplam todo
território nacional, não estando, portanto, o advogado, fora do seu território de
inscrição principal (liberdade do exercício profissional plena em razão da matéria).

Inscrição por transferência

Agora o ponto de referência é a mudança de domicílio profissional do ad-


vogado. Trata-se de território onde o profissional não possui inscrição ou possui
inscrição suplementar que por sua pretensão passará a ser a nova sede principal
da advocacia.
Comenta-se que não importa o quantitativo de causas assumidas na nova lo-
calidade, pois o fato que determina a necessidade desta nova inscrição é a efetiva
mudança do domicílio profissional. [MACEDO, 2009, P.61]
Nesse sentido, regula-se a transferência da inscrição do território atual para o
do futuro domicílio profissional, cuja seccional não poderá deixar de aceitar pelo
Princípio da Unicidade ou Igualdade federativa de todos os Conselhos.

Estrangeiro ou brasileiro com bacharelado no exterior, advogado


estrangeiro e advogado português

Estrangeiro ou brasileiro com bacharelado no exterior

Absolutamente admissível que uma pessoa possa ter se formado em Direito no


exterior e queira exercer a profissão de advogado no Brasil. Independentemente

capítulo 1 • 20
dessa pessoa ser brasileira ou estrangeira, é fato incontroverso que ela deverá preen-
cher todos os requisitos do artigo oitavo.
No entanto, o fato da sua graduação ter sido no exterior surge para esse pos-
tulante ao status de advogado o ônus de fazer prova do título de sua graduação,
assim como de revalidar o seu referido curso. Essa revalidação se manifesta por
intermédio de Instituições de Ensino Superior Público que realizará um estudo
de compatibilidade do conteúdo cursado no estrangeiro com o conteúdo básico
estipulado na lei de diretrizes básicas. Para revalidação se faz necessária uma com-
patibilidade com um percentual mínimo estipulado por lei, o que nem sempre se
apresenta como tarefa fácil.

Advogado estrangeiro

Outra figura absolutamente diferente do que vimos anteriormente é a figura


do advogado estrangeiro. Este se formou no exterior, inscreveu-se nos quadros de
advogados no exterior, advoga habitualmente no exterior e pretendente, excepcio-
nalmente advogar no Brasil. Isso é possível?
Situação regulada pelo Provimento nº 91/2000 que admite a advocacia sob as
seguintes condições:
1. Advocacia somente a título precário, autorizado pela OAB, para realizar
consultoria em direito estrangeiro no Brasil;
2. Vedados procuratório judicial, consultoria e assessoria em direi-
to brasileiro;
3. São também requisitos para o deferimento: ser portador de visto, ter capaci-
dade civil, ter ausência de incompatibilidade, idoneidade moral, prestar compro-
misso e o Estado estrangeiro tem que ter reciprocidade com os brasileiros para o
mesmo tratamento.

Advogado português

Figura também regulada por Provimento (nº129/2008) que formaliza o tra-


tamento diplomático entre Portugal (e não países de língua portuguesa) e Brasil.
Nesse particular reconhece o direito de um advogado português exercer a advoca-
cia no Brasil em caráter irrestrito e sem a necessidade de aprovação no exame de
ordem. Evidente que vai ter que escolher um domicílio profissional e deduzir seu

capítulo 1 • 21
pedido de inscrição na seccional respectiva ao território, no entanto, como dito,
dispensado do exame de ordem.
Para o êxito de sua pretensão o requerente vai ter que provar sua situação re-
gular com a ordem portuguesa, vai ter que fazer prova de residência ou domicílio
profissional, além de estar em vigência a reciprocidade entre os dois países.
Não se exclui a possibilidade de o advogado português querer ficar apenas na
qualidade de consultor, nos termos aqui já referidos, além de consignar que esse
tratamento se refere ao advogado pessoa física, portanto, não se aplica às socieda-
des de advogados.

Advocacia Pública

Depois de alterado por algumas emendas constitucionais, atualmente o ca-


pítulo IV da Constituição Federal vem trazendo as “funções essenciais à justiça”
divido em quatro seções em que a primeira se destina ao ministério público, a
segunda à advocacia pública, a terceira à advocacia e, finalmente a quarta e mais
nova seção que se destina à defensoria pública.
Atualmente, por uma questão eminentemente topográfica na Constituição
Federal podemos dividir os responsáveis pela postulação em juízo nas seguin-
tes instituições:
99 Advocacia pública;
99 Advocacia;
99 Defensoria pública.

Lembrando que o membro do ministério público também postula em juízo,


mas, de regra, na condição de parte na demanda e não parte no processo, com
relação às três seções específicas a que estão sendo referidas, repare que se pode
trazer a seguinte relação sem titubear: advogado público é todo aquele descrito no
artigo 131 da Constituição Federal, que inaugura a seção II do seu capítulo IV e
se desdobra em: Advocacia Geral da União (que é a advocacia estatal da União e
das suas Autarquias e Fundações) e Advocacia Estatal dos Estados Membros, do
Distrito Federal e dos Municípios.
E quanto ao Defensor Público? Também é considerado advogado público?
Hoje, principalmente pela alteração dada pela emenda constitucional nº 80/2014,
podemos responder que Defensor Público não é advogado público. Então o que

capítulo 1 • 22
ele é? Defensor Público é Defensor Público, assim como Promotor de Justiça é
Promotor de Justiça!
No entanto, não só os advogados públicos, como os defensores públicos
exerce a advocacia e, portanto, estão subordinados ao Estatuto da OAB (art.
3º§1º), além dos Estatutos específicos a que se subordinam

Inscrição de estagiário

Estagiário de Direito é estudante do curso jurídico regularmente inscrito na


OAB sob essa condição. Aprendizado desenvolvido sob orientação de um advo-
gado cujo ato privativo da advocacia só pode ser realizado em conjunto com este.
Com duração de dois anos improrrogáveis (o que pode prorrogar é o prazo
da carteira de estagiário) a inscrição será feita na seccional cujo território seja o
mesmo de sua Instituição de Ensino.
Importante consignar a diferença de estágio profissional para estágio de prá-
tica jurídica. Este último é parte integrante da grade curricular do acadêmico em
direito e está distribuído nos quatro últimos períodos do Curso jurídico quando o
discente chega aos 3/5 das disciplinas cursadas com aprovação.
O estágio profissional é o aprendizado reconhecido sob orientação de um pro-
fissional da advocacia e com as respectivas atividades conveniadas com a OAB.
Portanto, um estágio de prática jurídica quando realizado em núcleos universitá-
rios conveniados com a OAB (escritórios modelos) também serão reconhecidos
como estágios profissionalizantes.
Diploma de graduação e aprovação no exame de ordem são os requisitos, por
óbvio, dispensáveis ao pretendente à inscrição como estagiário.

Características essenciais da advocacia: indispensabilidade,


inviolabilidade. Função social e independência

Indispensabilidade

Característica de natureza constitucional, diretamente ligada ao direito de


postular (jus postulandi) essência da atividade advocatícia, que deve ser estudada
em dois momentos: atividade jurisdicional (procuratório judicial) e atividade ex-
trajudicial (procuratório administrativo).

capítulo 1 • 23
Atividade jurisdicional: Observe que vamos trazer três parâmetros (um con-
ceito e dois dispositivos legais) e em cima desses parâmetros vamos fazer um ques-
tionamento. A discussão gira em torno da resposta a esse questionamento, então
vejamos os parâmetros:
1. Jus Postulandi (conceito): postulação é ato de pedir ou exigir a prestação
jurisdicional. Exige-se qualificação técnica;
2. C.F., art. 133: o advogado é indispensável à administração da justiça, sen-
do inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites
da lei;
3. Estatuto da OAB, art. 1º: São atividades privativas de advocacia: I: a pos-
tulação a qualquer órgão do Poder Judiciário e aos Juizados Especiais.

PERGUNTA
É possível uma postulação a um provimento judicial sem a presença de
um advogado?
Levando em consideração qualquer um dos três parâmetros a resposta inquestionavel-
mente seria sempre negativa, isso porque a capacidade postulatória é a aptidão, de maneira
eficaz, para realizar os atos do processo que em nosso sistema jurídico compete exclusiva-
mente ao advogado, razão pela qual a obrigatoriedade da representação da parte em juízo
por advogado habilitado.
Acontece que, apesar da obrigatoriedade da presença do advogado, perceba que a res-
posta ao referido questionamento nem sempre será negativa e por que isso?
A Associação Brasileira dos Magistrados (AMB) pretendeu que o art. 1º, I do Estatuto da
OAB fosse considerado inconstitucional, portanto ajuizou uma ação direta de inconstitucio-
nalidade (1127-8) junto ao STF.
Houve à época o deferimento de uma liminar que perdurou até a decisão final do julga-
mento que, por maioria, considerou o artigo analisado constitucional, no entanto imprimiu-lhe
uma interpretação restritiva considerando a palavra “qualquer” inconstitucional.
Com essa decisão da suprema corte, a interpretação é de que continua valendo a ideia
de que há necessidade da presença do advogado para postulação de provimento jurisdicio-
nal, no entanto, caso haja alguma previsão legal sobre a dispensabilidade do advogado, isso
não viola a constituição federal que em seu art. 133 preconiza que o advogado é indispen-
sável à administração da justiça.

capítulo 1 • 24
Portanto, veja que o nosso trabalho é pesquisar e analisar as leis que, porventura, pre-
vejam a dispensabilidade do advogado, confirmando que esse fato não viola a constituição
federal, essas são as hipóteses de dispensabilidade do advogado:
1. Juizados Especiais;

1ª Instância (até 1ª Instância (+ de Recursos – art.


Lei 9099/95
20 SM) – art. 9º 20 SM) 41§2º

ESTADUAL DISPENSÁVEL INDISPENSÁVEL INDISPENSÁVEL

1ª Instância (até 60 SM) Recursos – art. 1º da


Lei 10259/01
– art. 10 L.9099/95

FEDERAL DISPENSÁVEL INDISPENSÁVEL

Juizados Especiais Criminais Lei. 9099/95, art. 68 e Adin 3168/06

ESTADUAL / FEDERAL INDISPENSÁVEL

Juizados Especiais da Fazenda Pública Lei 12153/2009, art. 27

Aplicam-se subsidiariamente as Leis


ESTADUAL / FEDERAL
9099/95 e 10259/01

2. Justiça do Trabalho: CLT, art. 791 (sem alteração pela reforma trabalhista de 2017):
o dispositivo faz menção à expressão “até o final”, o que significa dizer em matéria da justiça
do trabalho até o TST. No entanto, o próprio TST tem um entendimento (súmula 425) de que
se interpreta o art. 791 da CLT limitando a postulação sem advogado até os tribunais regio-
nais do trabalho, ficando, assim, indispensável a intervenção de um advogado para jurisdição
do TST;
3. Habeas Corpus: não se discute tratar-se de provimento jurisdicional em que a garantia
da liberdade pessoal já seria suficiente para sinalizar sobre a dispensabilidade do advogado,
no entanto o Estatuto da OAB não deixa motivos para discussão sobre a referida dispensa-
bilidade porque confirma em seu art. 1º§1º que não é atividade privativa da advocacia;

capítulo 1 • 25
4. Revisão Criminal (CPP, art. 623): pacífico na jurisprudência do STF que a Constituição
Federal recepcionou o referido diploma legal, não existindo, assim, qualquer obstáculo de or-
dem jurídico-formal que impeça o próprio condenado de promover, ele próprio, independente
de assistência técnica prestada por advogado, a pertinente revisão criminal (HC 72.981-SP,
Rel.Min. MOREIRA ALVES - RHC 80.763-SP, Rel. Min. SYDNEY SANCHES;
5. Constituição Federal, art. 103: norma constitucional que traz os legitimados ativos a
promover o controle concentrado das leis e atos normativos federais, estaduais. O STF en-
tendeu que somente os partidos políticos e as confederações sindicais ou entidades de clas-
se de âmbito nacional deverão ajuizar a ação por advogado (art. 103, VIII e IX). Quanto
aos demais legitimados (art. 103, I-VII), a capacidade postulatória decorre da Constituição.
(ADI n. 127-MC-QO, Rel. Min. Celso de Mello, j. 20.11.1989, DJ 04.12.1992);
6. Lei de alimentos (5478/68): também está prevista a dispensabilidade do advogado,
no entanto suprida pela competência da Defensoria Pública, conforme decisão do STF.

Atividade extra-jurisdicional (procuratório administrativo)

O Estatuto da OAB também trouxe em seu art. 1º, II e §2º hipóteses de indis-
pensabilidade do advogado em atividades extrajudiciais, são elas:
As atividades de assessoria, consultoria e direção jurídicas, assim como os atos
constitutivos de pessoas jurídicas admitidos a registros que só podem ser conside-
rados válidos se visados por advogado.
Com relação a este último, a lei complementar 123/2006 relativizou trazendo
uma hipótese de dispensabilidade do advogado, quando se tratar de microempresa
ou empresa de pequeno porte.
Além disso, todo advogado que prestar serviço de assessoria a órgãos ou
entidades da Administração Pública direta ou indireta, da unidade federativa
a que se vincule a Junta Comercial, ou a quaisquer repartições administrativas
competentes está impedido de exercer o ato de advocacia, conforme dispõe o
Regulamento Geral.
Aqui também há a necessidade de se analisar casos que extrapolam o âmbito
do Estatuto, no que se refere às questões extrajudiciais, a saber:
1. Súmula Vinculante nº 5: Trouxe e manteve (decisão apertadíssima) o enten-
dimento da dispensabilidade do advogado em processo administrativo disciplinar;

capítulo 1 • 26
2. Lei 11441/04 (divórcio e inventário extrajudiciais): preconizou de maneira
oficial que o advogado é indispensável nesses atos;
3. Inquérito Policial / Comissão Parlamentar de Inquérito: é pacífico o enten-
dimento do STF no sentindo de que é um direito constitucional do investigado,
caso queira, ter a presença de um advogado no momento de seu depoimento, no
entanto a atuação do advogado nesses procedimentos é absolutamente dispensável.

Inviolabilidade

Segunda característica da advocacia, também de natureza constitucional, dire-


tamente ligada às prerrogativas do advogado. O Estatuto da OAB traz em seu art.
7º um verdadeiro repositório de direitos do advogado, além disso, inovou trazen-
do recentemente (Lei 13363/2016) o art. 7º-A que elenca os direitos da advogada.
No entanto, não são somente nesses dispositivos que se localizam os direitos
dos advogados, essas prerrogativas também são encontradas em outros dispositivos
da legislação específica.
Dividida em duas dimensões (positiva e negativa), assim são distribuídas:
•  Dimensão positiva: Imunidade profissional por manifestações
e palavras;
A imunidade pode ser penal, administrativa e civil, portanto observe que o
primeiro dispositivo a ser averiguado nesse contexto é o art. 7º§2º do Estatuto da
OAB que preconiza:

O advogado tem imunidade profissional, não constituindo injúria, difamação ou de-


sacato puníveis qualquer manifestação de sua parte, no exercício de sua atividade, em
juízo ou fora dele, sem prejuízo das sanções disciplinares perante a OAB, pelos
excessos que cometer. (grifamos)

Ainda no Estatuto da OAB, agora observe o segundo dispositivo a ser ave-


riguado, que consiste no art. 32: “O advogado é responsável pelos atos que, no
exercício profissional, praticar com dolo ou culpa”.
Perceba que fazendo a interpretação conjunta dos dois dispositivos do Estatuto
da OAB (arts 7º§2º e 32), chega-se à seguinte conclusão: O advogado não possui
imunidade disciplinar e também não possui imunidade civil (conforme o art. 32
do Estatuto, o advogado responde no âmbito da denominada culpa lato sensu,
que é o dolo + a culpa strito senso, aquela aferida por negligência, imperícia ou

capítulo 1 • 27
imprudência) O advogado somente possui imunidade penal para os crimes de
Injúria e Difamação, isso porque o STF considerou o desacato inconstitucional.

•  Dimensão positiva: proteção ao sigilo profissional;


O sigilo profissional integra internacionalmente os direitos fundamentais do
cidadão, revelando para o advogado um direito e ao mesmo tempo, dever. Direito
ao silêncio e o dever de se calar.
Numa perspectiva infraconstitucional toda a legislação civil e penal de direito
material e processual protege o sigilo processual. Quando se faz referência a esse
tipo de normatização, inevitavelmente o diagnóstico é de que se trata de uma
proteção geral, valendo dizer, uma proteção de sigilo para toda e qualquer tipo de
profissão, inclusive a advocacia. Aliás, a proteção não somente chega às profissões
gerais com como também às artes e ofícios, como os padres, pastores e etc.
Seria de desejar que tudo que tivesse nessas normas dissesse respeito somente
à matéria de direito, no entanto, como dito, a proteção é geral.
Acontece que há uma proteção específica ao sigilo do advogado e ela é en-
contrada, por óbvio, no Estatuto da Advocacia e da OAB. Quando se faz a com-
paração da proteção especial do advogado no estatuto da OAB com a proteção
geral nos outros diplomas legais, percebe-se, de maneira, cristalina que, para o
profissional da advocacia, há um tratamento especial quanto ao sigilo profissional.
Dessa análise, extraem-se as seguintes características do sigilo profissional do
advogado, a saber: trata-se de um direito e dever perpétuo, que nunca se libera,
mesmo quando autorizado pelo cliente. A razão da perpetuidade está no fato de
ser um pressuposto indispensável ao direito de defesa, que constituiu uma garantia
constitucional indispensável.
Veja que o direito ao sigilo profissional do advogado consiste num encargo em
benefício da coletividade, portanto não resulta de um contrato específico, nasce da
simples relação estabelecida entre advogado e cliente.
Como na maioria dos casos, toda regra pode ser relativizada excepcionando
determinados direitos e, neste ponto não é diferente. Há exceções ao dever de sigi-
lo profissional do advogado, ou seja, possibilidades justificando que a sua conduta
não consista numa violação ao sigilo profissional e são as seguintes:
99 Estado de necessidade;
99 Direito de defesa. Note que há possibilidade da defesa do advogado, do
cliente ou de terceiros; a exceção diz respeito à defesa do próprio advogado;

capítulo 1 • 28
99 Comunicação da intenção de cometimento de infração penal. Trata-se
de ponderação de princípios constitucionais em que o interesse coletivo prevalece
(questão de ordem pública), deve-se ressaltar que se trata de crime na iminência
de ser realizado pelo cliente e não crime que já se consumou, porque nesta última
hipótese há violação do sigilo profissional, caso o advogado venha a externar esse
fato que a ele foi confidenciado por seu cliente.

É de bom tom ressaltar que a notoriedade é um elemento positivo do sigilo,


de maneira que há situações que podem se afigurar como não sigilosas e, por essa
razão, da mesma forma não se pode considerar violação por algo que não exista.
Assim, falta objeto quando se tratar do teor de documentos autênticos ou au-
tenticados (passados em serviços notariais ou de registro público) haja vista estar
amparado pelo princípio da publicidade.
No mesmo raciocínio não se consideram sigilosos fatos provados em juízos e
nem aqueles notórios ou de conhecimento público.

•  Dimensão positiva: Proteção aos meios de trabalho;


Diretamente ligada às instalações dos advogados e aos documentos e dados
dos seus clientes essa é uma prerrogativa que já passou por diversas interpretações
do Poder Judiciário e modificações do Poder Legislativo durante todo esse tempo
de vigência do Estatuto da OAB.
Decorre dessa característica essencial da advocacia a inviolabilidade do escri-
tório profissional do advogado; note que a reboque essa é uma garantia que se
estende aos seus clientes. Mais uma vez se chama a atenção para o fato de que
não há direitos absolutos, portanto é perfeitamente possível e previsível que haja
uma incursão coercitiva a escritórios de advocacia sem que esta ação seja conside-
rada violação.
A previsão inicial sinalizava que o maior exemplo de que a inviolabilidade do
escritório de advocacia era considerada relativa residia no fato de que a expedição
de mandado de busca e apreensão justificava a atuação das autoridades competen-
tes quanto a investigações sobre advogados.
Esse primeiro dispositivo do Estatuto da OAB gerou infindáveis discussões
quanto à sua interpretação que culminou na necessidade da manifestação do STF.
Por parte OAB, a grande reclamação era de que as decisões que deferiam
a expedição dos mandados de busca e apreensão não respeitavam, em elevada

capítulo 1 • 29
proporção, os princípios constitucionais a ele pertinentes, gerando o que se deno-
mina na doutrina de “mandados de busca e apreensão genéricos”.
Por outro lado, instituições como a associação dos magistrados brasileiros re-
futavam a expressão “acompanhada de representante da OAB”, sustentando que
a necessidade da presença de representante da OAB para o cumprimento judi-
cial de busca e apreensão violava a independência do Poder Judiciário, portanto,
inconstitucional.
O STF havia declarado a expressão “acompanhada de representante da OAB”
inconstitucional, portanto, a partir dessa decisão, não havia a obrigatorieda-
de da presença de um representante da OAB para o cumprimento dos referi-
dos mandados.
As discussões sobre mandado de busca e apreensão genérico continuavam,
ocasião em que, com a edição da Lei 11767/2008, houve uma alteração no dispo-
sitivo em discussão que retorna com a expressão “cumprindo na presença de um
representante da OAB”.
A referida Lei que alterou o Estatuto também trouxe inovações quanto à in-
violabilidade dos clientes, assim como o discutido “mandado de busca e apreen-
são genérico”, isso porque trouxe de maneira expressa a preservação do sigilo dos
dados da clientela dos advogados, salvo, evidentemente, se esta estiver também
sendo objeto de investigação.
Quanto a segunda parte, também de forma expressa consta no Estatuto da
necessidade de expedição de mandado de busca e apreensão “pormenorizado”,
sanando de vez a discussão aventada.

•  Dimensão negativa: poder exclusivo da OAB de punição disciplinar;


Também se afigurando como um corolário da característica da inviolabilida-
de, com expressa previsão no art. 44 do Estatuto, somente a OAB possui compe-
tência para representar, julgar e punir seus inscritos, logo, qualquer ato no exercí-
cio das funções do advogado que sinalizar como eticamente reprovável, o juiz ou
qualquer outra autoridade, que tomar conhecimento, deve oficiar a OAB tendo
em vista ser o único órgão que possui exclusividade e competência para o deslinde
de tal situação.

capítulo 1 • 30
Função social e independência

De natureza infraconstitucional por estarem previstas no Estatuto da OAB


e no Código de Ética e Disciplina, essas duas últimas características fecham esse
referido conjunto.
Função social sinaliza que a administração da justiça é espécie do gêne-
ro atividade pública, que é regida pelo direito público, ainda que o advogado
não seja titular de uma função pública, sua atividade consiste num exercício de
múnus público.
Independência, por sua vez, esclarece que subordinação é algo manifesta-
mente incompatível com a atividade da advocacia, razão pela qual o advogado
é independente para escolha dos meios jurídicos que julgar mais conveniente a
condução do seu trabalho, sendo, assim, imune a tentativa da tutela direta ou
indireta do cliente.
Ainda que se trate de advogado empregado, a característica da independência,
estampada no art. 18 do Estatuto da OAB, enaltece que a relação de emprego, na
qualidade de advogado, não retira a isenção técnica nem reduz a independência
profissional inerentes à advocacia.
O Estatuto dedica um capítulo especialmente ao advogado empregado, um
fenômeno que tomou conta com mais proporção a partir dos anos oitenta, pro-
duto de uma migração do advogado liberal, ramo específico da advocacia que está
em ascensão, o que há tempos aconteceu com a sociedade de advogados, agora
acontece quando se observa uma forma crescente do número de advogados em-
pregados [JULIÃO, RODRIGO, 2010, p.29]
Se há uma lei especialmente tratando do tema, que é o Estatuto da OAB, além
da CLT que rege o direito trabalhista comum, repare que a harmonia ao Princípio
da Especialidade deve prevalecer sobre o assunto e a característica da independên-
cia relativizando a subordinação do advogado empregado é a maior prova disso,
quando reconhece a sua isenção técnica.
Em respeito ao mandamento constitucional que proíbe a utilização do salário
mínimo como referência, o salário mínimo da categoria será fixado em sentença
normativa se não houver fixação sem convenção coletiva específica.
Hora extra não inferior a cem por cento sobre o valor da hora é um direito do
advogado empregado estabelecido no Estatuto da OAB, devidamente acrescidas
de vinte e cinco por cento, caso estejam no período noturno (20h – 5h).

capítulo 1 • 31
O referido capítulo V do Estatuto, que regula a figura do advogado emprega-
do, não se aplica à administração pública direta da União, Estados e Municípios
por força da Lei 9527/97, razão pela qual as normas protetivas do advogado em-
pregado não são aplicadas ao advogado público, sendo estes regidos pela CLT,
quando empregados públicos, ou pelo respectivo Estatuto, quando ocupantes de
cargo público.

Demais prerrogativas

Como já salientado, os direitos do advogado não se exaurem no art. 7º, há


nesse dispositivo um repositório significativo, razão pela qual, também é de bom
tom que se faça uma análise em alguns desses, além dos que já foram aqui elenca-
dos, a saber:
99 Comunicação com cliente: Mesmo sem procuração o advogado tem o
direito de comunicar-se com seu cliente em qualquer circunstância, de forma re-
servada. Não pode ser restringida tal comunicação sob pretexto de incomunicabi-
lidade do preso;
99 Prisão flagrante no exercício profissão: Só poderá o advogado ser preso
em flagrante no exercício profissional quando se tratar de crime inafiançável e ob-
servada a exigência de prisão especial, isto é, acompanhada por representante da
OAB. O Plenário do STF julgou constitucional o inciso IV do artigo 7º - EOAB,
mantendo a necessidade de representante da OAB para a prisão em flagrante de
advogado por motivo relacionado ao exercício da advocacia, cuja prisão, antes do
trânsito em julgado, há de ser cumprida em sala de Estado-Maior (sala especial), e
na sua falta, em prisão domiciliar;
99 Exame de autos: O advogado pode examinar, mesmo sem procuração,
autos de processos findos ou em andamento, quer em órgãos do Poder Judiciário,
Legislativo, Executivo e em repartições policiais (súmula vinculante nº 14) com
relação a autos de inquérito com exceção àqueles que estiverem em segredo de
justiça, de difícil reparação e os que o advogado não devolveu injustificadamente
no prazo legal.
99 Desagravo público: Deverá ser desagravado, em ato personalíssimo que
ocorrerá em sessão pública e solene perante o Conselho Seccional, quando for
ofendido no exercício da profissão ou em atuação em cargo ou função da OAB.

capítulo 1 • 32
ATIVIDADE
Maurício Vaz, advogado inscrito na OAB/RJ, já contando com cinco processos judiciais
no âmbito da seccional do Distrito Federal, todos nos meses de julho e agosto do presente
ano, foi contratado por Sérgio Oliveira, Juiz de Direito efetivo, para representar o referido ma-
gistrado junto ao procedimento instaurado em face deste, no âmbito do Conselho Nacional
de Justiça - CNJ, com Sede no próprio Distrito Federal. Pergunta-se: Necessitará o advoga-
do de inscrição suplementar junto à seccional do Distrito Federal?

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
JULIÃO, Rodrigo de Farias. Ética e Estatuto da Advocacia. São Paulo, Atlas, 2010.
JÚNIOR, Marco Antônio. Ética Profissional. São Paulo, Revista dos Tribunais, 2009.
LOBO, Paulo. Estatuto da Advocacia e da OAB. São Paulo, Saraiva, 2009.
MACEDO, Geronimo Theml. Deontologia. Rio de Janeiro, Lúmen Júris, 2009.

capítulo 1 • 33
capítulo 1 • 34
2
Sociedade de
advogados; nulidade
dos atos da
advocacia praticados
ilegalmente,
publicidade na
advocacia
Sociedade de advogados; nulidade dos
atos da advocacia praticados ilegalmente,
publicidade na advocacia
Nesse segundo capítulo, você poderá observar que a atividade de advocacia é
possível de ser realizada em cumplicidade e divisão de tarefas entre os advogados,
quando se reúnem em sociedade específica para tal finalidade.
Veja que será mostrado que a lei controla todos os atos privativos da advoca-
cia, trazendo nulidade a todos aqueles que forem realizados por pessoas estranhas à
advocacia ou, mesmo ainda que seja advogado, haverá nulidade dos atos daqueles
que não obedeçam às limitações que porventura lhe forem impostas.
Finalmente vai ter oportunidade de se conscientizar que a advocacia, como
um encargo a serviço da sociedade, não pode assumir formas de mercantilização,
fato este que traz inúmeras limitações à sua publicidade.

OBJETIVOS
•  Entender a estrutura, formação e diretrizes da sociedade de advogados;
•  Conhecer as nulidades dos atos privativos da advocacia;
•  Dimensionar o âmbito da publicidade da advocacia.

Perfeitamente admissível que advogados se reúnam em sociedade, numa cola-


boração profissional recíproca, com o objeto de prestação de serviços de advocacia.
Dessa forma nasce mais uma organização societária dentre todas aquelas que
já são previstas no direito empresarial, no entanto, por se tratar especificamente de
sociedade empresarial no ramo da advocacia, tendo em vista a expressa proibição
de mercantilização na atividade advocatícia, consiste numa forma societária com
inúmeras peculiaridades, razão pela qual tem, pela doutrina, a natureza sui generis
Conforme as lições de Paulo Lobo [2009, p. 114] o capital essencial das so-
ciedades de advogado é a produção intelectual dos profissionais que a integram e
não as coisas.

capítulo 2 • 36
Portanto, o que se vai ser estudado nesse ponto, em verdade, são todas essas
peculiaridades da sociedade de advogados que as fazem ser sui generis.
De início, destaca-se nesse tipo societário o tipo de sociedade simples em que
somente os advogados regularmente inscritos podem integrá-la, dessa forma ba-
charéis em direito, estagiários e leigos estão excluídos da possibilidade de se afigu-
rarem como sócios.
O advogado pode advogar para a sociedade que faça parte, como também
pode advogar no seu magistério privado. É possível uma dedicação exclusiva à
sociedade, desde que o acordo esteja previsto, dessa maneira, já decidiu o Plenário
do Conselho Federal que os Conselhos Seccionais podem fixar anuidades, tam-
bém, para as sociedades que não são consideradas cobranças repetidas de anuida-
des por se tratar de natureza distinta de serviços advocatícios.

Constituição da sociedade de advogados

Como qualquer pessoa jurídica, através de contrato social se perfaz o seu ato
constitutivo e, posteriormente, levado à publicação. Depois dessa etapa, objeti-
vando adquirir personalidade jurídica o ato publicado será levado a registro e nesse
particular difere a sociedade de advogados de todas as outras.
Por força expressa de lei, o ato constitutivo da sociedade de advogados somen-
te poderá ser registrado junto ao conselho seccional do território que está instalada
a sede da referida sociedade. É terminantemente proibido o registro da sociedade
de advogados estar subordinado ao direito registrário comum, vale dizer, cartório
de registro civil das pessoas jurídicas ou junta comercial.
Há pouquíssima resistência por parte da doutrina empresarial; é praticamente
unânime o reconhecimento dessa modalidade de registro da sociedade de advoga-
dos, mesmo com o advento do novo código civil, haja vista o estatuto da OAB se
afigurar como norma especial.
Decorre também da independência advocatícia o fato de que entre a magistra-
tura, o ministério público e a advocacia não há hierarquia e pelo fato dos órgãos de
direito registrário pertencerem ao Poder Judiciário, caso a sociedade de advogados
tivesse que ser registrada neles, à semelhança de todas as outras, estaria a advocacia
subordinada ao Poder Judiciário o que seria uma patente violação.

capítulo 2 • 37
Registro, atividade e denominação da sociedade de advogados

Toda e qualquer sociedade, diferente da sociedade de advogados, segue a regra


de ser registrada, de acordo com sua finalidade, junto aos órgãos registrais.
Dessa maneira, não existe, por parte da OAB, qualquer ingerência fora de suas
atribuições, no entanto, o estatuto da OAB dá um recado de clareza meridiana a
esses órgãos, proibindo que se realize o deferimento de qualquer registro de socie-
dade que, porventura tenha em suas finalidades a atividade de advocacia.
Essa premissa decorre do fato de que a atividade de advocacia é manifestamen-
te exclusiva da sociedade de advogados, ficando quaisquer outras espécies societá-
rias proibidas de usar tal finalidade.
Como um sistema orgânico o Direito ensina que a única atividade permitida
na sociedade de advogados é a advocacia pelo fato de ser absolutamente incompa-
tível com esta referida atividade a de natureza mercantil.
Por ser eminentemente proibida qualquer atividade mercantil, desta proibição
decorrem mais duas:
99 Proibição de se usar nome fantasia na razão social da sociedade de advogados;
99 Proibição do uso das siglas “S/A” ou “Ltda.” por serem afetas às socieda-
des mercantis.

A sigla “&” é permitida pelo Regulamento Geral de ser usada.


O nome da sociedade de advogados, portanto, também está subordinado a
cumprimentos de requisitos elencados de acordo com o estatuto e o regulamento
geral da OAB.
Não há liberdade para composição do nome cuja finalidade deve ser expres-
sa de forma aclarada, não sendo admitidos além do nome fantasia, símbolos ou
acréscimos comuns. O estatuto exige que a denominação tenha obrigatoriamente
e ao menos, o nome de um advogado sócio responsável pela sociedade.
Portanto, de acordo com esses requisitos, o registro é único no conselho sec-
cional, em livro próprio e de numeração sucessiva.

Nome dos advogados da sociedade de advogados

No direito empresarial a espécie do nome empresarial que envolve uma fan-


tasia é a “denominação” e a que envolve o nome civil mais um aditivo identi-
ficador é “firma”, que pode ser individual ou coletiva (nome coletivo). À firma

capítulo 2 • 38
nome coletivo, depois do aditivo identificador, deve-se colocar a sigla “Cia” (sem-
pre ao final, porque no início caracteriza S/A), espécie esta denominada de “ra-
zão social”.
Se por força legal o nome civil do advogado é quem tem que estar na nomen-
clatura da sociedade de advogados, o regulamento geral, por essa razão, trata o
nome da sociedade de advogados como “razão social”, em que o aditivo identi-
ficador se denomina “qualificação social inconfundível” e ao final, no lugar de
“Cia”, coloca-se “SS” simbolizando sociedade simples.
Perceba que se é o nome do advogado é a forma obrigatória de se estabele-
cer uma razão social de uma sociedade de advogados, ele pode vir das seguin-
tes maneiras:
99 Nome de um advogado sócio;
99 Nome de mais de um advogado sócio;
99 Nome de todos os advogados sócios.

Permitem-se colocar o nome, o pré-nome e até abreviaturas, no entanto não


são permito siglas, como por exemplo, “ARJ”. Isto não é nome e tampouco abre-
viatura. Após a escolha do nome, deve-se colocar a “qualificação social incon-
fundível”, o equivalente ao aditivo identificador (que pode vir antes ou depois
do nome) isso para quando se fizer a leitura não haja dúvida tratar-se de uma
sociedade de advocacia e, ao final, a expressão “SS”. Locuções como “escritório de
advocacia”, “advogados associados” e “sociedade de advogados” entre outras, são
as mais comuns como aditivos identificadores.
Mais adiante você estudará incompatibilidade e impedimento e irá perceber
que o caso de incompatibilidade temporária não obriga o advogado a se desligar
dos quadros da OAB, somente a incompatibilidade permanente é que enseja o
cancelamento da inscrição.
Considerando essa situação, há necessidade de serem analisadas as intercor-
rentes modificações dos advogados sócios incompatíveis temporários, permanen-
tes e até falecidos, a saber:
99 Incompatibilidade temporária: não alteram a razão social e não a com-
posição societária, bastando anotação da presente situação junto ao registro da
sociedade, conforme Marco Antonio Silva [2009, p. 43], o licenciamento do sócio
para exercer atividade incompatível com a advocacia em caráter temporário dever
ser averbado no registro da sociedade e não é preciso alterar os atos constitutivos
(contrato social);

capítulo 2 • 39
99 Incompatibilidade permanente: importará, necessariamente, a modifi-
cação da composição societária e eventualmente, a da razão social, pois é possível
que o nome deste advogado não esteja nela;
99 Falecido: importará, necessariamente, a modificação da composição so-
cietária, podendo o nome do advogado falecido permanecer na razão social da
sociedade, desde que tal fato esteja previsto no ato constitutivo societário.

Espécies de advogados, unipessoalidade, procurações, filial e responsabili-


dade

Existe a possibilidade de três espécies de advogados numa sociedade de advo-


gados, são elas: advogado sócio, advogado empregado e um tipo intermediário,
que se denomina advogado associado. Para este último não há vínculo emprega-
tício de subordinação, no entanto não pode se afigurar de forma precária e possui
os mesmos impedimentos dos advogados sócios, além de que os seus contratos
têm que ser averbados na seccional respectiva da sede da sociedade que faz parte.
Interessante ressaltar que havia previsão de se permitir unipessoalidade so-
mente por 180 dias à semelhança do direito empresarial, o que significava que
durante esse tempo, caso esse único advogado sócio não conseguisse, pelo menos,
mais um sócio, a referida sociedade teria que ser destituída.
A partir da edição da Lei 13247/2016 está admitida a constituição de so-
ciedade unipessoal de advocacia com todos os direitos e deveres da sociedade de
advogados tradicional.
As sociedades de advogados não poderão ter objetivos estranhos aos limites
da atividade profissional, suas finalidades são restritas à cooperação profissional
entre seus sócios, destinando-se à disciplina e partilha dos resultados patrimoniais
auferidos na prestação de serviços de advocacia, por isso, o cliente passa procura-
ção para a sociedade de advogados, no entanto são seus sócios ou empregados os
outorgados ao exercício da advocacia, por essência. Por essa razão, as procurações
dos sócios devem ser outorgadas individualmente aos advogados, indicando a so-
ciedade a que fazem parte.
Perfeitamente admitido que um advogado possa integrar mais de uma socie-
dade de advogados, assim como é cabível uma sociedade de advogados possuir
uma filial, que não tem personalidade jurídica própria e, portanto, não pode ter
razão social e composição societária distintas.

capítulo 2 • 40
No entanto, essa referida admissibilidade está condicionada para fora dos li-
mites do respectivo território que compõe a sede da sociedade, ou seja, um advo-
gado que se afigura como sócio de uma sociedade de advogados com sede no Rio
de Janeiro não pode compor outra sociedade de advogados no mesmo território,
assim como essa referida sociedade só pode ter uma filial em um território dife-
rente do Rio de Janeiro.
É também de bom tom lembrar que se uma filial só pode ser instalada num
território diferente da sua sede, todos os advogados sócios, quando da instalação
da respectiva filial, estão obrigados à inscrição suplementar.
Lembrando a hipótese de que um advogado pode laborar para a sociedade de
que faça parte, assim como no seu ministério privado, deve-se ter em conta que
esse profissional está proibido de advogar em interesses opostos.
Sempre houve uma grande discussão na doutrina quanto à natureza da ad-
vocacia ser ou não consumerista. Hoje a tendência jurisprudencial é de afastar o
advogado da condição de fornecedor não se imputando, portanto, os princípios
da relação de consumo.
No entanto, ainda no âmbito dessa discussão, sempre foi pacífico na doutrina
a responsabilidade da sociedade de advogados, que, como preconizado pelo art. 17
do Estatuto, é subsidiária e ilimitada, nos seguintes termos:

Art. 17 Além da sociedade, o sócio e o titular da sociedade individual de advocacia


respondem subsidiária e ilimitadamente pelos danos causados aos clientes por ação
ou omissão no exercício da advocacia, sem prejuízo da responsabilidade disciplinar em
que possam incorrer.

Nulidade dos atos da advocacia praticados ilegalmente

O Estatuto da OAB, em seu art. 4º e parágrafo único, atribui, como conse-


quência, a nulidade dos atos privativos da advocacia praticados de forma ilegal.
Diretamente ligada à teoria das nulidades absolutas ou nulidade em sentido estri-
to, traz para seus executores, a reboque, consequências que são extraídas não só do
próprio Estatuto (quando se tratar de advogado), como também de leis extrava-
gantes (quando se tratar de pessoa não escrita na OAB).
Descreve Paulo Lobo [2009, p. 37] as suas principais características:
99 Pode ser declarada de ofício;
99 Pode ser provocada por qualquer interessado ou pelo órgão do MP;

capítulo 2 • 41
99 Não convalesce com o tempo;
99 Apagam, ao ser declarada, os efeitos produzidos ab initio;
99 Não pode ser suprida ou sanada.

Novamente chamando a atenção para o fato de que o Direito não é uma


ciência absoluta, ainda que seja praticado por pessoa não inscrita na OAB, ato
privativo da advocacia de natureza penal é re-ratificado e, portanto, tendo a sua
convalidação pelo Poder Judiciário, desde que não tenha havido prejuízo para o
réu, nos termos da súmula 523 do STF, verbis “No processo penal, a falta da defesa
constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de
prejuízo para o réu”.
Trata-se da adoção do princípio pas de nullité sans grief (não há nulidade sem
prejuízo) que há tempos é adotado pelos tribunais superiores, mesmo quando se
tratar de nulidade absoluta, porque é considerado um princípio norteador em
processo penal.
Portanto, as nulidades dos atos privativos de advogado possuem a seguinte
estrutura no Estatuto da OAB:
99 Art. 4º caput: São nulos os atos privativos de advogado praticados por pes-
soa não inscrita na OAB, sem prejuízo das sanções civis, penais e administrativas.

Perceba os seguintes destaques: ”pessoa não inscrita na OAB” e “sem pre-


juízo das sanções civis, penais e administrativas”. O primeiro só vem a con-
firmar que os atos da advocacia são privativos de advogados (públicos, privados
ou defensores), com exceção aos casos previstos em lei como dispensabilidade
dos advogados.
O segundo, por sua vez, confirma que as nulidades têm o tratamento de inva-
lidade em seu mais alto grau, pois não só atinge o ato em si, como também quem o
praticou de maneira indevida, pois gera danos aos interessados que se afiguravam
no processo judicial como partes.

Art 4º Parágrafo único. “São também nulos os atos praticados por advogado impedido
- no âmbito do impedimento - suspenso, licenciado ou que passar a exercer atividade
incompatível com a advocacia”.

capítulo 2 • 42
Perceba aqui o seguinte destaque: “praticados por advogado”. Então veja
que é perfeitamente possível um ato privativo da advocacia ser considerado nulo,
ainda que praticado por advogado, são as seguintes hipóteses:
99 No âmbito do impedimento: vamos ver adiante as questões de impedi-
mento e observar que o advogado pode advogar na condição de impedido; só não
pode advogar nos casos específicos que a lei indicar (âmbito do impedimento),
caso advogue nesses respectivos casos, os atos são nulos;
99 Suspensão: trata-se de uma sanção disciplinar que abrange todo território
nacional, evidentemente se estiver na condição de suspenso e nesta condição vier
a advogar, seus atos serão considerados nulos;
99 Licença: vimos que os casos de licenças estão subordinados à temporarie-
dade, aquele licenciado ainda está inscrito na OAB, no entanto, nessa condição,
caso advogue, seus atos também serão considerados nulos;
99 Incompatibilidade: a lei não menciona, no entanto é caso de incompati-
bilidade temporária, cuja necessidade é de licença. Perceba que o advogado precisa
se licenciar, mas não o fez. Não importa, ainda que não tenha se licenciado os
seus atos continuam a ser considerados nulos, uma vez que estão na condição
de incompatível.

Publicidade na advocacia

Atualmente, com duas regulamentações próprias, a publicidade na advocacia,


algo plenamente previsível, obedece imperiosamente a uma finalidade informativa
totalmente divorciada de conotação mercantil, portanto, perceba que há limites
para esse tipo de veiculação.
Quando se interpreta conjuntamente o Provimento 94/200 e o art. 39 do
novo código de ética veja que se confirma o que sustentado no parágrafo anterior,
o que se veda é a propaganda e não a publicidade, que são institutos completa-
mente diferentes.
Nesse caminho, é absolutamente proibida a publicidade por intermédio de
veiculações por rádio, televisão, cinema, anúncios de rua tais como cartas circula-
res, panfletos e oferta de serviços mediante intermediários.
Ainda que considerada publicidade, esta tem que ter o caráter eminentemente
informativo, presumindo-se este como:
99 A identificação pessoal e curricular do advogado ou da sociedade de
advogados;

capítulo 2 • 43
99 O número da inscrição do advogado ou do registro da sociedade;
99 O endereço do escritório principal e das filiais, telefones, fax e endere-
ços eletrônicos;
99 As áreas ou matérias jurídicas de exercício preferencial;
99 O diploma de bacharel em direito, títulos acadêmicos e qualificações
profissionais obtidos em estabelecimentos reconhecidos, relativos à profissão
de advogado;
99 A indicação das associações culturais e científicas de que faça parte o ad-
vogado ou a sociedade de advogados;
99 Os nomes e os nomes sociais dos advogados integrados ao escritório;
99 O horário de atendimento ao público;
99 Os idiomas falados ou escritos.

A participação do advogado em consultas jurídicas de rádios, televisão ou


qualquer outro tipo de veiculação em massa é uma verdadeira “tentação”. [LOBO,
2009, p.194].
Em primeiro lugar a manifestação sobre determinado tema jurídico que faça
parte de causas sob seu patrocínio deve ser cuidadosamente observado o sigilo pro-
fissional, em segundo, ainda que seja participação totalmente zelosa com os precei-
tos éticos, não pode ser rotineira, por ser passível de ser considerada promocional.
Questão interessante e, ao mesmo tempo controvertida, diz respeito aos cor-
reios eletrônicos e à internet. O art. 5º do provimento 94/2000 admite esses veí-
culos de maneira expressa e cristalina, no entanto o código de ética atual proíbe
o fornecimento de dados de contatos, como endereço e telefone em colunas ou
artigos literários, culturais, acadêmicos ou jurídicos, publicados na imprensa, bem
assim quando de eventual participação em programas de rádio ou televisão, ou em
veiculação de matérias pela internet, sendo permitida a referência a e-mail.
Perceba que não pode ofertar endereço e nem telefone, mas é permitido ende-
reço eletrônico e a norma é silente sobre sites.
Um domínio eletrônico de um advogado colocado num site costumeiramente
é o mesmo colocado num email, portanto, quando o advogado divulga seu email,
e isso é permitido, em elevada proporção também pode estar divulgando o seu site,
que é fato não analisado na normatização. Isso não seria uma publicidade bem
maior do que fornecer telefone ou endereço?

capítulo 2 • 44
Observe, portanto, que as discussões ainda são muitas, muito embora tenha-
mos duas grandes normas dedicadas ao assunto, que são: o provimento 94/2000 e
o capítulo VIII do novo código de ética e disciplina da OAB.
Não vamos descrevê-las ipsis litteris aqui, no entanto perceba que essas normas
são de leitura obrigatória para entender a publicidade da advocacia.

ATIVIDADE
Tício, sócio de uma sociedade de advogados na Seccional do RJ, resolveu montar mais
duas filiais: uma na subseção de Cabo Frio/RJ e outra na Seccional de MG. Também deixou
consignado que em relação à Seccional de MG, só promoveria uma inscrição suplementar
caso suas intervenções judiciais nesta referida Seccional excedessem a cinco causas por
ano, uma vez que o Estatuto da Advocacia permite o livre exercício em todo território nacional
quando não for ultrapassado esse patamar.
Diante do caso exposto, analise as pretensões do advogado Tício.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COCCARO, Celso e Marco Antônio. Ética Profissional e Estatuto da Advocacia. São Paulo, Saraiva,
2009.
LOBO, Paulo. Estatuto da Advocacia e da OAB. São Paulo, Saraiva, 2009.

capítulo 2 • 45
capítulo 2 • 46
3
Honorários
advocatícios;
renúncia,
revogação e
substabelecimento
Honorários advocatícios; renúncia, revogação
e substabelecimento

Nesse terceiro capítulo, você observará as Espécies de honorários advocatícios,


sobretudo, a significativa reforma que o atual Estatuto da OAB empreendeu a
esse regime.
Observará também que há critérios éticos de cobrança dos honorários e que
finalmente foi oficializado o trabalho advocatício gratuito e voluntário, realizado
com fins sociais e sem conotação político-partidária.
O leitor vai ter a oportunidade de se familiarizar com os princípios que regem
as relações profissionais entre advogados e clientes, formalizadas estritamente por
intermédio de um contrato especial denominado contrato de mandato.
Poderá distinguir as formas de extinção do referido contrato de mandato, seja
extinção natural por término do exercício laboral, seja por extinção intercorrente
ao contrato de mandato por intermédio de renúncia ou revogação.

OBJETIVOS
•  Entender a estrutura do regime de honorários advocatícios;
•  Analisar as modalidades de cobrança desses honorários;
•  Conhecer a formalidade do contrato de mandato e do instrumento de procuração.

Etimologicamente palavra que vem de honorarium (honorários; salário das


profissões liberais; presente; dádiva) ou honorarius (dado a título de honra, hono-
rífico, honroso, glorioso, não retribuído, dado ou conferido gratuitamente), con-
forme descreve Francisco Torrinha [1942, p. 383], perceba tratar-se da remunera-
ção dos serviços prestados pelos advogados que, à primeira vista, não se coaduna
com a relação de ser conferido gratuitamente ou a título de honra.
No entanto, remonta ao Direito Romano a rejeição do caráter mercantil da
atividade de advocacia, lembra Celso Coccaro [2009, p. 125], razão pela qual o
advogado era recompensado por sua atuação meritória e sem caráter obrigató-
rio, porque atuava em nome da justiça e não em função aos interesses pessoais
da causa.

capítulo 3 • 48
Atualmente há de se fazer uma interpretação evolutiva na palavra “honorá-
rios” que se trata da remuneração daqueles que exercem uma profissão liberal,
como o caso dos médicos, advogados e etc. [JULIÃO, 2010, p.45]
Dessa maneira, confirma Paulo Lobo [p. 138] que “honorários”, continua a
ser a remuneração do advogado, que não decorra da relação de emprego, em ho-
menagem a uma longa tradição.
Analisando pontualmente o regime de honorários advocatícios, trazemos
na leitura do Estatuto da OAB, em seu artigo 22, os seguintes destaques, ver-
bis: “prestação de serviço profissional assegura aos inscritos na OAB o direito
aos honorários convencionados, aos fixados por arbitramento judicial e aos
de sucumbência”.
Portanto, muito mais do que um simples conceito, honorários, para o ad-
vogado, é um direito, vale dizer, caso haja necessidade da busca desse direito, o
grande fundamento legal que o profissional da advocacia possuir é o artigo 22 do
Estatuto da OAB.
Na verdade, é um direito dos “inscritos na OAB” e por que essa expressão? O
legislador quis deixar claro que todos os inscritos na OAB têm direito aos hono-
rários, sejam advogados no magistério privado, advogado empregado, advogado
público, defensor público ou advogado dativo. Observe que estagiário também é
inscrito na OAB, no entanto, não faz jus aos honorários tendo em vista tratar-se
de honorários profissionais e, estagiário não é profissão. A contraprestação para o
serviço de estagiário denomina-se bolsa auxílio.
Finalmente o último destaque realizado sinaliza que o advogado possui três
espécies de honorários: convencionados, fixados por arbitramento judicial e su-
cumbência, para os quais haverá uma análise pormenorizada.

Honorários convencionados

Trata-se da remuneração do advogado observadas as diretrizes que a OAB


determina e que não decorra da relação de emprego (razão pelas quais honorários
convencionados não estão subordinados a advogados empregados, estes conven-
cionam sua remuneração com seus patrões, que podem ter critérios definidos por
lei, mas que não há relação advogado-cliente.
Atualmente, o posicionamento majoritário da doutrina e jurisprudência está
no sentido de que o advogado não assume posição de fornecedor, portanto, a ad-
vocacia no magistério privado não consiste numa atividade de relação de consumo.

capítulo 3 • 49
A despeito da discussão sobre a atividade advocatícia ser ou não ser relação de con-
sumo, não se discute tratar-se de uma atividade de natureza privada e, como tal,
não pode haver ingerência do Estado.
Observe que não pode afirmar essa condição de não ingerência estatal quando
se tratar de honorários arbitrados judicialmente ou de sucumbência, haja vista
nessas modalidades já se encontrar presente o Estado.
Ainda que não haja interferência do Estado por se tratar de atividade de na-
tureza privada e por isso, afirmar-se que não há critérios definidos que possam
delimitar os honorários convencionados, no entanto não é relação de controle
ilimitado, há elementos ou parâmetros impostos pela ética do advogado e pela
razoabilidade que constituem elementos ou parâmetros que deverão ser seguidos.
Dentre os parâmetros expostos no código de ética, exige-se a moderação para
aplicá-los, destacando-se os seguintes elementos:
99 A relevância, o vulto, a complexidade e a dificuldade das questões versadas;
99 O trabalho e o tempo a ser empregados;
99 A possibilidade de ficar o advogado impedido de intervir em outros casos,
ou de se desavir com outros clientes ou terceiros;
99 O valor da causa, a condição econômica do cliente e o proveito para este
resultante do serviço profissional;
99 O caráter da intervenção, conforme se trate de serviço a cliente eventual,
frequente ou constante;
99 O lugar da prestação dos serviços, conforme se trate do domicílio do ad-
vogado ou de outro;
99 A competência do profissional;
99 A praxe do foro sobre trabalhos análogos.

Convém observar as modificações trazidas pelo novo código de ética, que pre-
coniza, agora, a não exigência de uma forma especial, necessitando, todavia, a cla-
reza e precisão em seu objeto no que se refere à forma de pagamento, à extensão do
patrocínio, além de hipóteses de término do contrato por questões supervenientes
de transação ou acordo.
Ainda assim, a preferência é pela forma escrita, isso porque reduz o potencial
de risco e desgaste com o cliente, alinhando-se à harmonia da boa fé objetiva dos
contratos por ser considerado título executivo extrajudicial.
Outra importante reflexão trazida pelo novo código de ética é que, embora
expressamente ainda preconize a proibição de cobrança por intermédio de títulos

capítulo 3 • 50
de créditos, haja vista não se tratar de atividade mercantil, esta foi relativizada
uma vez que as modalidades de cheque, nota promissória e cartão de crédito são
permitidas, depois de frustrada a tentativa de recebimento amigável, por serem
considerados títulos cambiariformes.
O contrato agora poderá dispor sobre antecipação de despesas que, de regra,
são dos clientes, porque agora expressamente são permitidas pelo código de ética,
como por exemplo, o pagamento de custas e emolumentos.
A tabela de honorários, que compete a cada conselho seccional a sua respectiva
expedição, ainda é um parâmetro que deverá ser obedecido sob pena de ser consi-
derado aviltamento de honorários.

Pacto quota litis

Também não deixa de ser um tipo de honorário contratado, no entanto, com


as suas especiais peculiaridades o pacto quota litis não é nada mais do que, numa
primeira tradução do termo, a possibilidade que tem o advogado, em matéria de
honorários, de pactuar com o seu cliente uma parte do bem litigado.
Não muito bem recebido por Paulo Lobo [2009, p.141], inexistindo previsão
legal no Estatuto da OAB, no entanto desde o antigo e com a recepção do atual
código de ética e disciplina há previsão de tal instituto admitindo nas condições
de ser necessariamente representados por pecúnia, isto é, nada de participação em
bens do cliente e, caso seja conjuntamente atrelado a um possível honorário de
sucumbência, o resultado final não pode ser superior às vantagens advindas a favor
do cliente. Esse impedimento final se justifica porque advogado tem cliente e não
sócio nesse particular e, em razão disso, foi criada a cultura dos 30% (trinta por
cento) no resultado da demanda.
Dessa forma, pacto quota litis não é outra coisa senão os denominados contra-
tos de êxito ou contratos de risco, que consiste na participação proporcional do
advogado no resultado ou ganho obtido na demanda.
Perceba que a participação em bens particulares do cliente não se coaduna,
como dito, com o pacto quota litis, uma vez que este há de ser necessariamente
representado por pecúnia, no entanto, há uma hipótese de gratuidade no exercício
da advocacia.
Acontece que é possível a participação de bens particulares do cliente; evi-
dentemente quando este não tiver liquidez do seu patrimônio (veja que não é

capítulo 3 • 51
necessariamente condição de hipossuficiência, mas de liquidez, razão pela qual, no
lugar da pecúnia, entram os bens particulares).
Essa modalidade não é regra, mas exceção! Razão pela qual, só é cabível em
caráter excepcional e por escrito, para que num futuro próximo o cliente não re-
clamar que seu advogado havia locupletado os seus bens.
Quando se tratar de mandato oriundo de processo disciplinar, o advogado
que recebeu a outorga de seu colega não tem direito aos honorários decorrentes
de sua labuta nessa hipótese, o fundamento legal que previu essa relativização
dos direitos aos honorários é o artigo 22§5º do Estatuto da OAB e a justificativa,
também legal, para essa espécie de gratuidade na atividade advocatícia é que não
existiu o mandato tecnicamente, senão uma delegação da OAB para essa especial
defesa, uma vez que somente esta instituição possui a competência exclusiva para
defender seus inscritos, nos termos do artigo 44, II também do Estatuto da OAB.

Advocacia pro bono

Expressão latina que significa “para o bem do povo”, caracteriza-se como traba-
lho gratuito, voluntário e solidário. Perceba, portanto, que há um direcionamento
expresso àquelas pessoas que não conseguem patrocinar os custos da contratação
de um advogado; ainda que o órgão da Defensoria Pública tenha competência e
legitimidade para essas respectivas causas, não se pode negar a enorme dificuldade
de abarcar uma demanda que cada vez mais cresce no país.
Historicamente o interesse público também permeou a advocacia pro bono,
figuras como Sobral Pinto, Ruy Barbosa e Nelson Hungria exerceram esse tipo de
advocacia no interesse patriótico. Interesse público não pode ser confundido com
interesse político-partidário ou eleitoral, estes últimos são expressamente proibi-
dos juntamente como instrumento de publicidade ou captação de clientela.
O código de ética e disciplina regula a advocacia pro bono sob as seguin-
tes características:
99 Considera-se advocacia pro bono a prestação gratuita, eventual e voluntária
de serviços jurídicos em favor de instituições sociais sem fins econômicos e aos
seus assistidos, sempre que os beneficiários não dispuserem de recursos para a
contratação de profissional;
99 A advocacia pro bono pode ser exercida em favor de pessoas naturais que,
igualmente, não dispuserem de recursos para, sem prejuízo do próprio sustento,
contratar advogado.

capítulo 3 • 52
Honorários arbitrados judicialmente

Basicamente duas situações ensejam os honorários arbitrados judicialmente:


a primeira consiste na figura do advogado dativo, aquele advogado que, indicado
pela OAB, escolhido pela parte (Lei 1060/50) ou pelo juízo, vai fazer as vezes da
Defensoria Pública por impossibilidade deste Órgão seja de forma contínua ou
eventual. Em qualquer hipótese haverá o pagamento de honorários pagos pelo
Estado e segunda a tabela aplicada pela OAB, nos termos do artigo 22§1º do
Estatuto da OAB.
A segunda possibilidade está diretamente ligada à discordância de valores en-
tre advogado e cliente, razão pela qual é recomendável que se firme contrato de
honorários sempre de forma escrita. A inexistência de um acordo sobre essa referi-
da discussão vai, inevitavelmente, refletir na esfera judicial, em que o Estado-Juiz,
instado a se manifestar, usará de parâmetros e equidades para fixar os respectivos
honorários que não puderam ser convencionados previamente, todavia, sempre
respeitando os valores da tabela de honorários daquela seccional em que se reali-
zou a atividade da advocacia, nos termos do artigo 22§2º do Estatuto da OAB.

Honorários de sucumbência

Inquestionavelmente é a espécie de honorários que possui mais detalhes e que


a partir de agora serão esmiuçados de forma didática. A primeira referência era de
que os honorários de sucumbência tinham natureza indenizatória, portanto, o seu
destinatário era sempre a parte vencedora do processo.
Com o advento do atual Estatuto da OAB, portanto a partir de 1984 houve,
nas palavras de Paulo Lobo [1999, p.144] uma inversão radical na titularidade
para o advogado da parte vencedora. A partir de então, a natureza jurídica tam-
bém se modificou e com a anuência da jurisprudência amplamente majoritária,
honorários de sucumbência agora têm natureza alimentícia.
Observe que se o artigo 22 do Estatuto, como foi visto, estabeleceu tratar-se
de um direito de todos os inscritos na OAB, conclui-se que os honorários de su-
cumbência são devidos a quaisquer espécies de advogados, bastando que tenham
feito parte da demanda, pela inteligência do artigo 3º§1º do Estatuto da OAB.
Então se pode dizer que defensor público, advogado dativo, advogado público
e advogado empregado têm direito a honorários de sucumbência? À primeira vista

capítulo 3 • 53
sim, considerando a interpretação literal do dispositivo acima mencionado, no
entanto, vamos traçar as considerações de cada um.
99 Defensor Público: A Lei Complementar Geral da Defensoria Pública (LC
80/94) expressamente retira o direito dos defensores públicos em amealhar os
honorários de sucumbência, transferindo-os para o centro de estudo do referido
órgão, naturalmente efeito estendido aos advogados dativos;
99 Advocacia Pública: A Lei 9527/97 excluiu a aplicação das normas dos
artigos 18 a 21 do Estatuto, que dizem respeito aos advogados empregados, no
entanto não se manifestou sobre o artigo 23 deste mesmo Diploma Legal, que faz
expressa menção aos honorários de sucumbência. Por essa razão, decisões diver-
gentes pelo direito dos advogados públicos aos honorários de sucumbência estão
espalhadas por toda a jurisprudência brasileira. No entanto, vem prevalecendo o
entendimento do STF assim como o do Conselho Federal da OAB no sentindo de
que os honorários de sucumbência destinados à advocacia pública não constituem
patrimônio público e, portanto, possuem fontes e natureza jurídica completa-
mente distintas, finalizando o entendimento de que o vencimento é fixo, certo e
invariável, pago pelo ente público empregador como retribuição pecuniária pelo
exercício do cargo, enquanto que a sucumbência decorre da lei processual civil, é
eventual, incerta e variável, paga pela parte sucumbente no processo, logo não se
insere no conceito de remuneração, e sequer dele se aproxima. Por essa razão, basta
que haja previsão no Estatuto próprio a que se subordinam para que façam jus aos
respectivos honorários de sucumbência.
99 Advogado empregado: Pelo simples fato de ser inscrito na OAB, nos ter-
mos do artigo 22 do Estatuto da advocacia, corroborado pelo artigo 23 do mes-
mo diploma legal, já se pode afirmar que todo advogado empregado também faz
jus aos honorários de sucumbência. No entanto, considerando que o Estatuto da
OAB possui um capítulo próprio dedicado ao advogado empregado, o artigo 21,
pertencente a este capítulo, de maneira expressa, preconizou: “Nas causas em que
for parte o empregador, ou pessoa por este representado, os honorários de sucum-
bência são devidos aos advogados empregados”
Não bastasse isso, o legislador prevendo, sobretudo, a condição de hipossuficiente
do empregado nessa respectiva relação, consignou em seu parágrafo terceiro do artigo 24
que “é nula qualquer disposição, cláusula, regulamento ou convenção individual ou co-
letiva que retire do advogado o direito ao recebimento dos honorários de sucumbência”.
Considerando ainda a previsível possibilidade de uma sociedade de advoga-
dos empregar em seus quadros o profissional da advocacia, no que se refere aos
honorários de sucumbência, o Estatuto da OAB relativizou o direito do advogado

capítulo 3 • 54
empregado de uma sociedade de advogados trazendo em seu parágrafo único do
artigo 21 que “Os honorários de sucumbência, percebidos por advogado emprega-
do de sociedade de advogados são partilhados entre ele e a empregadora, na forma
estabelecida em acordo”.

Perceba, portanto, as significativas mudanças que foram trazidas pelo atual


Estatuto da OAB ao regime de honorários de sucumbência:
99 Inversão da titularidade da parte vencedora para o advogado da par-
te vencedora;
99 Nulidade de qualquer cláusula normativa que venha tirar do advogado o
seu direito aos honorários de sucumbência;
99 Confirmação expressa do direito do advogado empregado aos honorários
de sucumbência;
99 Relativização do direito aos honorários de sucumbência do advogado em-
pregado quando a sociedade de advogados for empregadora.

Observe que sob o ponto de vista econômico houve mudanças que incomoda-
ram muita gente, notadamente aquelas que se afiguravam como parte em deman-
das judiciais, razão pela qual a Confederação Nacional da Indústria – CNI preten-
deu que esses dispositivos legais fossem considerados, pelo STF, inconstitucionais.
Tratou-se da Adin 1194-4, cuja decisão da suprema corte se deu da seguinte
forma, no que se refere aos artigos pertinentes do Estatuto da OAB quanto ao
regime de honorários de advogados:
1. Artigos 22 e 23: O STF não reconheceu a pertinente ação direta de incons-
titucionalidade por entender da falta de pertinência temática da confederação na-
cional da indústria quanto ao assunto.
2. Artigo 21 parágrafo único: O STF conheceu da ação, em parte, para dar
interpretação conforme ao dispositivo no sentido da preservação da liberdade con-
tratual quanto à destinação dos honorários de sucumbência fixados judicialmente,
vale dizer, não é o dispositivo em análise que garante o compartilhamento dos
honorários de sucumbência entre sociedade de advogados e advogado empregado,
mas um especial acordo para tal, que na sua ausência faz com que os honorários
de sucumbência se destinem aos advogados empregados.
3. Artigo 24, parágrafo terceiro: O STF declarou inconstitucional o referido
dispositivo, razão pela qual é plenamente possível um acordo entre advogado e
cliente sobre o destino dos honorários de sucumbência.

capítulo 3 • 55
Cobrança dos honorários advocatícios

O modo de pagamento dos honorários advocatícios é livremente pactuado en-


tre advogado e cliente, confirma Paulo Lobo [2009, p.147] que não há um critério
rígido fixado em lei, no entanto na falta de convenção será observada a norma
supletiva do Estatuto da OAB, que em seu artigo 22, parágrafo terceiro estabelece
que 1/3 dos honorários é devido no início do serviço, outro terço até a decisão de
primeira instância e o restante no final.
Caso haja um inadimplemento por parte do cliente, surge para o advogado o
direito de cobrar seus honorários via judicial sobre cuja modalidade de demanda
vai estar subordinada a existência ou não de título executivo, por essa razão, são
essas as hipóteses, a seguir, de cobrança dos honorários advocatícios:
1. Honorários convencionados por escrito: título executivo extrajudicial
(Estatuto da OAB, artigo 24) – processo de execução;
2. Honorários arbitrados judicialmente: título executivo judicial (Estatuto da
OAB, artigo 24) – cumprimento de sentença;
3. Honorários de sucumbência: título executivo judicial (Estatuto da OAB, art.
24) – cumprimento de sentença;
4. Honorários convencionados verbalmente: não há título executivo, necessi-
dade de ação cognitiva, consistente numa ação de cobrança, cujo valor estiver no
patamar de competência dos juizados especiais, possível ainda eleger este procedi-
mento, nos termos do novo código de processo civil, artigo 1063.

Prescrição dos honorários advocatícios

O Estatuto da OAB, em seu artigo 25 fixou o prazo prescricional da cobrança


dos honorários profissionais em cinco anos, estabelecendo seu termo inicial, con-
siderando o dia útil seguinte às hipóteses a seguir.
99 Do vencimento do contrato, se houver: serve tanto para situações judi-
ciais como para extrajudiciais;
99 Do trânsito em julgado da decisão que os fixar: perceba que não é qual-
quer trânsito em julgado, apenas para honorários arbitrados judicialmente ou
de sucumbência;
99 Da ultimação do serviço extrajudicial: somente para situações
extrajudiciais;

capítulo 3 • 56
99 Da desistência ou transação: relacionado a questões intercorrentes no
processo judicial ou situações extrajudiciais;
99 Da renúncia ou revogação do mandato: também relacionada a questões
intercorrentes sejam situações judiciais ou extrajudiciais.

A lei 11902/2009 trouxe para o Estatuto da OAB o artigo 25-A que também
dispõe sobre regime de prescrição, com o mesmo prazo de cinco anos, no en-
tanto se trata de pretensão de ação de prestação de contas de quantias recebidas
pelo advogado.
Finalmente, a lei proíbe a cobrança de honorários advocatícios por advogado
substabelecido com reservas no processo sem a devida intervenção do colega que
conferiu o referido substabelecimento.

Renúncia, revogação e substabelecimento

Este ponto em comento está diretamente ligado às relações entre cliente e


advogado e nesse particular, o Código de Ética e Disciplina regula essa indigitada
relação por intermédio de Princípios em que se destacam os seguintes:
99 Principio da informação CED, art. 9º;
99 Princípio da lealdade CED, art. 10;
99 Princípio da transparência (dever de prestação de contas) CED, art. 12;
99 Princípio da cautela CED, art. 14;
99 Principio da fidelidade e diligência CED, art. 15;
99 Princípio da conduta ilibada CED, art. 21.

Essa relação se estabelece por intermédio de mandato que, nos termos do


código civil, em seu artigo 653, esclarece seu conceito como um contrato pelo
qual uma pessoa (Mandatário) recebe poderes de outra (Mandante), para, em seu
nome, praticar atos jurídicos, ou administrar interesses.
Os atores dessa relação são designados como representante (a pessoa que ou-
torga os poderes, o mandante) e representado (a pessoa que recebe os poderes, o
mandatário). O instituto da representação possui espécies e modalidades também
previstas no código civil.
A representação pode decorrer da lei, por essa razão denominada de legal,
como no exemplo dos pais em relação aos seus filhos, dos tutores em relação aos
seus pupilos ou dos inventariantes em relação aos seus respectivos espólios.

capítulo 3 • 57
É prevista também uma representação convencional, permitindo que o repre-
sentante adquira direitos e assuma obrigações na esfera do representado. Quanto
ao conteúdo é possível classificar o mandato em termos gerais, conferindo pode-
res de administração ordinária e com poderes especiais de alienação, hipoteca ou
transigência que são superiores aos poderes ordinários ou de mera administração.
O mandato ainda pode ser classificado com escrito (público ou privado) ou
tácito. O escrito privado tem como instrumento a procuração que possui como
requisitos essenciais a assinatura e os elementos de data, lugar, qualificação, ob-
jetivo e extensão dos poderes, nas lições de Paulo Lobo [2009, p. 38] consiste no
instrumento em que são explicitados os poderes de representação.
Quando o mandato possuir, como atores, advogado e cliente, ele é denomi-
nado de contrato de mandato ou mandato judicial, que tem que ser escrito,
assinado e com a anuência do cliente, que vale preponderantemente para prática
de atos judiciais e extrajudiciais, nos termos do artigo 5º do Estatuto da OAB.
Perceba, portanto, que não se pode confundir contrato de mandato com pro-
curação, esta é um instrumento daquele, nas palavras de Marco Araújo [2009,
p.28] “é a prova do mandato” e por se tratar de instrumento de procuração para
cumprimento de contato de mandato judicial, esta deve ocorrer, nas palavras de
Rodrigo Julião [2010, p. 39] “através da chamada procuração ad judicia, ou seja,
a procuração para fins judiciais.
A regra é que não se pode atuar judicialmente sem procuração, no entanto é
admitida uma exceção a essa regra quando o advogado firmar medidas urgentes,
fato que se presume de veracidade, ocasião em que o advogado dispõe do prazo de
15 dias para apresentar o referido instrumento do mandato.
Comumente o que se observa nos contratos de mandato é que em seu bojo
insere-se não só contrato de prestação de serviços profissionais, como também o
contrato de honorários, razão pela qual Paulo Lobo [2009, p. 38] preconiza tratar-
se de contrato misto típico fusionado.
Nenhum advogado é obrigado a ficar com seu cliente, assim como nenhum
cliente é obrigado a ficar com o seu advogado. A referida relação é regida pela
fidúcia, basta esta confiança acabar que termina o contrato de mandato com o
consequente término do instrumento de procuração.
Veja, portanto, que não há, de regra, prazo para a duração de uma procuração,
esta perdura enquanto existir a confiança recíproca entre as partes do manda-
to judicial.

capítulo 3 • 58
O advogado extingue o seu mandato por intermédio da renúncia, que não
precisa ser motivada, mas que deverá ser comunicada ao seu cliente de maneira
inequívoca, preferencialmente com carta de aviso registrada, ficando com obriga-
ção de vínculo à referida relação profissional por dez dias após o comunicado, nos
termos do artigo 5º§3º do Estatuto da OAB e artigo 6º do Regulamento Geral.
Naturalmente se o cliente constituir outro advogado antes desse prazo de dez dias,
o advogado renunciante já não mais possui obrigação profissional.
O cliente extingue o seu mandato por intermédio de revogação, e tem o dever
do pagamento dos honorários ajustados proporcionalmente aos serviços presta-
dos, assim como será proporcional o valor dos honorários de sucumbência, caso
estes existirem.
Admite-se a transferência dos poderes do mandatário para outra pessoa; trans-
ferir é passar e passar é substabelecer. Na necessidade de inclusão de outro advoga-
do ou estagiário aos poderes outorgados pelo cliente, ou ainda de transferir esses
poderes a outro advogado, o meio pelo qual se realiza essa operação se denomi-
na substabelecimento.
Perceba, portanto, tratar-se de um instrumento que altera a procuração recebi-
da inicialmente, seja estendo, seja transferindo os poderes outorgados pelo cliente.
A extensão dos poderes se dá mediante:
99 Substabelecimento com reserva de poderes: observe que o advogado se
reserva em alguns dos poderes a ele outorgado, transferindo, apenas, alguns ao seu
colega advogado. O mandatário continua praticando os atos conferidos pelo man-
dante e o advogado substabelecido também pratica atos conferidos ao seu colega
substabelecente, no entanto, aqueles poderes que ficaram reservadamente a este
último não poderão ser realizados pelo advogado substabelecido. A lei enumera
quais seriam esses poderes inerentes ao advogado mandatário.

A transferência dos poderes se dá mediante:


99 Substabelecimento sem reserva de poderes: nessa modalidade apenas o
advogado substabelecido poderá exercer os poderes outorgados pelo cliente, haja
vista que o advogado mandatário transferiu todos os poderes a ele outorgados para
o seu colega advogado substabelecido, ficando o referido contrato de mandato
extinto para o advogado mandatário.

capítulo 3 • 59
ATIVIDADE
Bráulio, advogado inscrito na OAB/RJ nº 000, patrocinava causa de sua cliente Anatér-
cia junto à 15ª vara criminal da Comarca da Capital do RJ. Convencionaram os honorários
advocatícios em R$ 3.600,00 a serem pagos nos moldes do art. 22§ 3º da Lei 8906/94. O
referido advogado fez com que esse seu cliente assinasse 03 (três) Notas Promissórias a fim
de garantir a quantia ajustada.
Ao final da demanda, observando o descumprimento de Anatércia quanto ao último ter-
ço dos honorários, o advogado Bráulio reteve os documentos pessoais de sua cliente que
carreavam os referidos autos, ameaçando-a de executar o título de crédito que constava em
seu poder, subordinando a entrega dos referidos documentos ao cumprimento do referi-
do inadimplemento.
Analise a conduta do advogado Bráulio segundo as regras deontológicas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COCCARO, Celso e Marco Antônio. Ética Profissional e Estatuto da Advocacia. São Paulo, Saraiva,
2009.
JULIÃO, Rodrigo de Farias. Ética e Estatuto da Advocacia. São Paulo, Atlas, 2010.
JÚNIOR, Marco Antônio. Ética Profissional. São Paulo, Revista dos Tribunais, 2009.
LOBO, Paulo. Estatuto da Advocacia e da OAB. São Paulo, Saraiva, 2009.

capítulo 3 • 60
4
Incompatibilidade
e impedimento,
infrações e sanções
ético-disciplinares,
sanções penais
próprias de advogados
e lide temerária
Incompatibilidade e impedimento, infrações e
sanções ético-disciplinares, sanções penais
próprias de advogados e lide temerária
Nesse capítulo, você vai conhecer os institutos da incompatibilidade e do im-
pedimento, vai poder distingui-los e observar a abrangência de cada um na liber-
dade do exercício profissional.
No que se refere à incompatibilidade terá a noção de que é necessário saber da
natureza do cargo ou função quanto à sua duração para avaliar se o próximo passo
do advogado que está nele investido é o da licença ou cancelamento.
Também terá a oportunidade de familiarizar com as infrações e sanções disci-
plinares; perceberá suas diferenças e espécies.
Finalmente, vai ter acesso a um processo mnemônico que ajudará a encontrar
qual o correto tipo de sanção para os fatos que chegarem ao seu conhecimento.

OBJETIVOS
•  Entender a estrutura, das proibições ao exercício da advocacia;
•  Avaliar o alcance dessas proibições;
•  Conhecer as infrações e suas respectivas sanções disciplinares.

Considerações iniciais

O advogado que estiver na condição de incompatível não pode advogar em


nenhuma hipótese, ainda que em causa própria; caso advogue nesta condição os
seus atos serão considerados nulos.
Diferentemente da incompatibilidade, o advogado que estiver na condição de
impedido, pode advogar! Só não vai poder advogar nas causas específicas em que a lei
determinar, fora dessas situações, é plenamente permitido o exercício da advocacia.
Note que há uma diferença substancial entre os dois institutos, quanto à na-
tureza e ao alcance, que serão objeto de estudo. Essa diferença é percebida da
leitura do artigo 27 do Estatuto da OAB, quando preconiza: “A incompatibilidade
determina a proibição total, e o impedimento, a proibição parcial do exercício
da advocacia”.

capítulo 4 • 62
Bem observado por Paulo Lobo [2009, págs. 153 e 154] o Brasil não adotou,
diferentemente da França, a advocacia como atividade exclusiva, a realidade brasi-
leira é do advogado assalariado ou que faz da advocacia uma fonte complementar
de renda, razão pela qual se fazia necessário mencionar as situações de proibição
total e parcial do exercício da advocacia.
Perceba também que, como os casos de incompatibilidade são enumerados
por lei, trata-se de impossibilidade do exercício da advocacia por circunstâncias
alheias à vontade do advogado, razão pela qual há de se analisar se o referido im-
pedimento total possui natureza temporária ou permanente. Se for a primeira, o
advogado deverá licenciar-se, se for esta última, deverá cancelar sua inscrição dos
quadros da OAB.
Finalmente, não há de se cogitar inconstitucionalidade das referidas limita-
ções ao exercício profissional da advocacia, haja vista que a constituição federal,
em seu artigo 5º, XIII, quando estabelece que “é livre o exercício de qualquer
trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei
estabelecer” trouxe uma inquestionável norma constitucional de eficácia contida
e aplicabilidade imediata, vale dizer, a carta maior, ao caso aventado, permitiu que
o legislador infraconstitucional restringisse sua aplicabilidade, exatamente como o
Estatuto da OAB o fez.

Incompatibilidade

Especialmente inseridos no artigo 28 do Estatuto da OAB, como se tratam


de cerceamento de direitos, os referidos casos se apresentam como hipóteses taxa-
tivas. Estão diretamente subordinados ao respectivo cargo previsto como incom-
patível, significa dizer que enquanto houver a investidura no cargo incompatível,
haverá incompatibilidade daquela pessoa investida, dessa forma, persistirá ainda
que em desvio de função ou em disponibilidade. Só inexistirá a incompatibilidade
em caso de vacância do referido cargo.
A regra é que se trata de cargo ou função de natureza pública por essência, no
entanto, perceberá que há possibilidade de exceção.
Na oportunidade de estudo dos impedimentos, que será o próximo pon-
to depois deste, haverá a percepção clara de que também é possível a existên-
cia de cargos públicos nesta condição, razão pela qual é previsível a coincidên-
cia de que a um determinado cargo encaixam-se as hipóteses de impedimento
e incompatibilidade. Quando este fenômeno ocorrer, prevalece a condição de

capítulo 4 • 63
incompatibilidade, vale dizer, o impedimento é norma subsidiária em relação à
norma de incompatibilidade.
No que se refere especificamente ao estudo da incompatibilidade, o artigo 28
possui oito hipóteses que serão dessecadas a partir de agora:
I. Titulares de Entes Políticos: “chefe do Poder Executivo e membros da Mesa
do Poder Legislativo e seus substitutos legais”;
Observe que há duas figuras no inciso I do artigo 28: a primeira são os chefes
do Poder Executivo (Presidente, Governador e Prefeito) e a segunda são os mem-
bros da Mesa do Poder Legislativo.
Importantíssimo salientar que os parlamentares não são incompatíveis, so-
mente aqueles pertencentes à mesa diretora que o são. O Regimento da Câmara
dos Deputados preconiza que são em número de sete os membros das mesas
diretoras do Poder Legislativo (um Presidente, dois Vice-Presidentes e quatro
Secretários). Portanto, esses respectivos cargos de Presidente, Vice-Presidente e
Secretário devem existir, que serão distribuídos de acordo com cada regimento da
casa legislativa.
Além dos titulares (chefes do Poder Executivo e membros da mesa do Poder
Legislativo), todos os respectivos substitutos legais destes são incompatíveis. Veja
que não há necessidade de substituir, o fato de ser substituto já o leva a condição
de incompatível com o exercício da advocacia. Paulo Lobo [2009, p.157] advo-
ga a tese de que, no caso dos parlamentares, até os suplentes estão envolvidos
nas incompatibilidades
II. Funções de Julgamento: “membros de órgãos do Poder Judiciário, do
Ministério Público, dos tribunais e conselhos de contas, dos juizados especiais,
da justiça de paz, juízes classistas, bem como de todos os que exerçam função
de julgamento em órgãos de deliberação coletiva da administração pública direta
e indireta”;
Este é o maior inciso do artigo 28; todas as figuras que nele se encontram são
funções de julgamento, que serão a seguir destacadas.
a) Membros do Órgão do Poder Judiciário: é a função de julgamento
por excelência, todos aqueles contemplados no artigo 92 da constituição fe-
deral, isso porque, “o parâmetro disjuntor é a inerência das garantias típicas
da vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade [LOBO, 2009, p.158];
b) Membros do Ministério Público: a atual constituição federal trouxe
novas e significativas atribuições ao órgão do ministério público na sua
função essencial da justiça, no entanto, deve-se chamar atenção pelo fato de

capítulo 4 • 64
que anteriormente a referida carta magna, o membro do ministério público
não era incompatível, situação esta que sobrevém a partir de 1988, razão
pela qual o Estatuto da OAB trouxe em seu artigo 83, a seguinte norma
de transição: “Não se aplica o disposto no art. 28, inciso II, desta lei,
aos membros do Ministério Público que, na data de promulgação da
Constituição, se incluam na previsão do art. 29, § 3º, do seu Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias”;
c) Tribunais e Conselhos de Contas: a constituição federal previu,
além do Tribunal de Contas da União (art. 73), o Tribunais de Contas dos
Estados, no entanto, à época de sua promulgação já havia dois Tribunais
de Contas Municipais, que são os de São Paulo e Rio de Janeiro, e que pu-
deram continuar operando. Portanto, ainda que sejam somente estes dois,
seus membros e conselheiros estão na condição de incompatíveis com o
exercício da advocacia;
d) Juizados Especiais: perceba que já estariam contemplados como mem-
bros do órgão do poder judiciário, no entanto, o legislador não deixou dú-
vidas quanto à incompatibilidade quando expressamente trouxe mais esta
previsão taxativa;
e) Justiça de Paz: inicialmente afastada a sua abrangência por força da li-
minar deferida pelo STF na ADin 1127-8, confirmou-se, em decisão final,
sua incompatibilidade ao exercício da advocacia. Trata-se, nos termos do
artigo 98, II da Constituição Federal de atividade remunerada composta de
cidadãos eleitos pelo voto direto, universal e secreto, com mandato de qua-
tro anos e competência para, na forma da lei, celebrar casamentos, verificar,
de ofício ou em face de impugnação apresentada, o processo de habilitação
e exercer atribuições conciliatórias, sem caráter jurisdicional, além de outras
previstas na legislação;
f ) Juízes Classistas: Existiam em primeira instância na Justiça do Trabalho
as denominadas JCJ (juntas de conciliação e julgamento) em que havia a
figura dos juízes classistas cuja extinção se por intermédio da emenda cons-
titucional nº 24 de 1999. No âmbito de suas existências, os juízes classistas
eram considerados incompatíveis com o exercício da advocacia;
g) Órgãos de deliberação coletiva da administração pública dire-
ta e indireta: tratam-se dos cargos de membros natos, chama-se a atenção
para a expressão “deliberação coletiva”, o que significa dizer que somente
os órgãos (fracionados ou não) de julgadores coletivos estão abarcados pela

capítulo 4 • 65
incompatibilidade, ou seja, órgão de decisão monocrática não está na condi-
ção de incompatível. São exemplos de órgãos de deliberação coletiva abrangi-
dos pela incompatibilidade o conselho de contribuintes e a junta comercial.

Exceções: Há três hipóteses que consistem funções de julgamento, insertas


neste inciso, no entanto não são consideradas incompatíveis, são elas:
1. ADIN 1127-8: O STF exclui da abrangência do artigo 28, II os juízes eleito-
rais e seus suplentes. Veja que, embora estejam na condição de membros do órgão
do poder judiciário, não serão considerados incompatíveis. A justiça eleitoral
possui uma composição híbrida, composta por membros do poder judiciário esta-
dual, federal e membros da OAB. Dessa maneira, o advogado que estiver ocupan-
do um cargo de juiz eleitoral em qualquer instância da justiça eleitoral, ainda que
esteja na condição de suplente, poderá advogar desde que não seja, por óbvio, em
questões eleitorais. Dessa maneira, perceba que os destinatários da exceção advin-
da da interpretação dada pelo STF são os juízes eleitorais e seus suplentes oriundos
da classe dos advogados;
2. Regulamento Geral, art. 8º: Com total acerto previu o regulamento geral da
OAB que os órgãos referidos neste inciso podem dispor de vagas a serem preen-
chidas pelos representantes da OAB, como é o exemplo acima da justiça eleitoral,
e por essa razão, seria absolutamente incoerente que estes profissionais fossem
atingidos pela incompatibilidade, uma vez que estão, exatamente, preenchendo
uma cadeira destinada a advogados na qualidade de representantes da sua entida-
de máxima;
Os advogados que se encontram nessa condição ficam impedidos, apenas, de
exercer a advocacia perante os órgãos em que atuam, durante a respectiva investi-
dura, fora isto, todos aqueles que participam desses referidos órgãos do inciso II,
seja na qualidade de titulares ou suplentes, representando os advogados, não estão
na condição de incompatíveis.
3. Juizados Especiais: A Lei 9099/97 previu em seu artigo 7º, parágrafo único
que a exigência de advogado com, pelo menos, cinco anos de prática se faz ne-
cessária para pleitear um cargo de auxiliar da justiça denominado de juiz leigo.
No entanto, o referido Diploma Legal trouxe a esta hipótese a condição de impe-
dimento e não incompatibilidade. A partir da edição da referida lei houve um
aparente conflito de normas em que o Estatuto da OAB preconiza que a função de
julgamento dos juizados especiais é incompatível com a referida Lei dos Juizados
que diz que é impedido. Qual das duas normas deve prevalecer? É pacífica a

capítulo 4 • 66
harmonia ao princípio da especialidade, vale dizer, no que se refere ao juiz leigo,
a lei 9099/95 é mais especial do que o Estatuto da OAB, portanto, a função de
julgamento de juiz leigo é fato impeditivo do exercício da advocacia no âmbito de
qualquer juizado especial e não incompatível;

Quanto aos conciliadores, de regra, não há considerações a serem realizadas


pelo fato de que não há exigência de ser advogado, no entanto, na hipótese de um
conciliador também estiver na condição de advogado, o entendimento é de que
está impedido de advogar dentro dos juizados em que estiver lotado.

III. Funções de Direção: “ocupantes de cargos ou funções de direção em Órgãos


da Administração Pública direta ou indireta, em suas fundações e em suas empre-
sas controladas ou concessionárias de serviço público”;
Ocupou-se o legislador de cuidar dos casos de incompatibilidade das fun-
ções ou cargos de direção da administração pública em geral. Perceba que estas
hipóteses são as mais variadas possíveis, o que a reboque implicaria um número
exacerbado de incompatibilidades ao exercício da advocacia. No entanto o próprio
Estatuto limitou!
Não é qualquer cargo ou função de direção que está na condição de incompa-
tível, somente aqueles que detenham poder de decisão relevante sobre interesses
de terceiros. Veja que ainda se estiver diante de um conceito aberto, ou seja, o que
seria um poder de decisão relevante sobre interesse de terceiros? Aqueles em que
seus agentes possam se afigurar como autoridade coatora, em que seus atos possam
ser passíveis de mandado de segurança, ainda que exerçam atividades delegadas.
Nesse sentido, inquestionavelmente que os cargos de ministérios e secretarias
de qualquer dos entes federativos estão contemplados dentre aqueles que a lei trata
como incompatível.
Importante salientar que, diferentemente das funções de julgamento dos ór-
gãos da administração pública, colocadas no inciso anterior, neste inciso não há a
expressão “deliberação coletiva”, o que significa dizer que não há necessidade de se
estar diante de órgão de última instância (colegiado).
Lembre-se de que se ocupante do cargo incompatível deixá-lo de exercer tem-
porariamente não se eximiu dessa condição de incompatível.
Exceção: aqui também há uma exceção, que corresponde às funções afetas à
administração acadêmica diretamente ligada ao magistério público, desde que seja
apenas ligada ao curso jurídico, vale dizer, afetas aos coordenadores de direito das
universidades públicas.

capítulo 4 • 67
IV. Auxiliares e serventuários da justiça: “ocupantes de cargos ou funções vin-
culados direta ou indiretamente a qualquer órgão do Poder Judiciário e os que
exercem serviços notariais e de registro”;
Esta hipótese de incompatibilidade envolver qualquer tipo de serventuário
da justiça, além de toda atividade regular vinculada ao órgão do poder judi-
ciário e aqui até os terceirizados estão incluídos. Importante salientar que a
regra é extensiva, também, àqueles servidores auxiliares cujos titulares não
considerados serventuários que são, especificamente, os dos serviços notariais
e de registro público, incluindo aqui todos os seus empregados privados nes-
ses cartórios.
V. Atividade policial: “ocupantes de cargos ou funções vinculados direta ou in-
diretamente a atividade policial de qualquer natureza”;
Importantíssimo perceber que não é apenas o policial que está na condição
de incompatível, mas muito mais do que isso, a incompatibilidade é da atividade
policial. Esta envolve atividade fim e atividade meio ou de apoio. A atividade fim
é aquela exercida diretamente por intermédio dos cargos policiais por excelência,
os cargos de carreira policial, cargos próprios da atividade de estado. No entanto
há aqueles cargos que, embora não sejam de carreira policial, exercem apoio direto
à atividade policial. Como se trata de incompatibilidade da atividade, significa
dizer que não somente os cargos fins, mas também os cargos meio ou de apoio
estão todos na condição de incompatíveis ao exercício da advocacia. Dessa forma,
guardas municipais, pessoas envolvidas com sistema penitenciário, policiais civis,
federais, ferroviários, rodoviários e etc., estão todos na condição de incompatíveis.
VI. Militares: “militares de qualquer natureza, na ativa”;
Importante também destacar que o legislador não quis dar azo a qualquer in-
terpretação em contrário e de forma expressa estabeleceu que estivessem alcança-
dos apenas os militares da ativa, portanto aqueles na condição da reserva ou refor-
mados não estão abrangidos por este inciso. Perceba, também, que no que se refere
aos policiais militares e ao corpo de bombeiro militar, de regra, não há necessidade
de maiores considerações haja vista pertencerem à condição de atividade policial.
Por essa razão, restam incluídos os integrantes da força arma (exército, mari-
nha e aeronáutica). Assim como a atividade policial, a atividade militar também
é dividida em atividade fim e atividade meio ou de apoio, no entanto, aqui só
está incluída a atividade fim, vale dizer, somente aquele que está investido em
um cargo de militar, não importando a sua atribuição, ainda que burocrática não
perde a condição de militar, portanto, continua na condição de incompatível com
a atividade da advocacia.

capítulo 4 • 68
VII. Atividades tributárias: “ocupantes de cargos ou funções que tenham
competência de lançamento, arrecadação ou fiscalização de tributos e contribui-
ções parafiscais”;
O legislador faz expressa menção a cargos ou funções cuja natureza é tribu-
tária, portanto relacionados com a receita pública. Note que qualquer servidor
lotado numa fazenda pública poderia estar vinculado à incompatibilidade da ad-
vocacia, no entanto, não basta o vínculo com a receita pública, mais do que isso,
há de ter competência para lançamento e arrecadação, o que remete diretamente
aos cargos de natureza fiscal e de poder de polícia para aplicação de atos sancio-
natórios, inerentes ao poder de coerção do Poder Público. Exemplos: Fiscais de
renda, fiscais de ordem pública, fiscais de limpeza pública, fiscais de postura e etc.
VIII. Instituições financeiras: “ocupantes de funções de direção e gerência em
instituições financeiras, inclusive privadas”;
No escólio de Paulo Lobo [2009, p. XX], são pessoas que desfrutam de um
enorme potencial de captação de clientela por conta do poder decisório que pode
influir profundamente na economia das pessoas.
Não se pode perder de vista que inclusive instituições financeiras privadas estão
abarcadas pela incompatibilidade, portanto seus gerentes ou diretores de bancos,
distribuidoras ou corretoras de valores estão alcançados pela incompatibilidade.

Impedimento

Hipóteses de proibição parcial ao exercício da advocacia, portanto, nesses ca-


sos o advogado ainda pode advogar. Diferentemente dos casos de incompatibili-
dade, cuja proibição é total, aqui há uma restrição relativizando o exercício num
determinado âmbito criado pela lei. O impedimento restringe-se a este determina-
do âmbito, vale dizer, fora dessa circunscrição o advogado pode advogar.
Importante salientar que o impedimento não se refere a qualquer tipo de in-
teresse patrocinado, mas aquele que, preleciona Paulo Lobo [2009, p.172] “for
contrário ao interesse da Fazenda do ente políticio, ou seja, que possa haver con-
sequência condenatória de caráter financeiro”. Dessa maneira, conclui o insigne
doutrinador, não são atingidas as questões não contenciosas ou em que haja inte-
resse público genérico, como no exemplo de processos criminais.
Previstos no artigo 30 do Estatuto da OAB, os casos de impedimento estão
elencados em dois incisos, portanto, há dois grupos de impedimentos com os seus
respectivos âmbitos de proibição. Visando uma metodologia bem didática para

capítulo 4 • 69
compreensão do presente instituto, a seguir serão relacionadas, esquematicamen-
te, como os casos de impedimentos estão apresentados.

FIGURAS ÂMBITO DO IMPEDIMENTO


I - os servidores* da administração dire-
Contra a Fazenda Pública que os remu-
ta, indireta e fundacional. *não possuem
nere ou a qual seja vinculada a entidade
poder de decisão sobre interesse de
empregadora;
terceiros.

Contra ou a favor das pessoas jurídicas


de direito público, empresas públicas, so-
II - os membros do Poder Legislativo, em ciedades de economia mista, fundações
seus diferentes níveis. públicas, entidades paraestatais ou em-
presas concessionárias ou permissioná-
rias de serviço público.

Veja que o inciso II apresenta um âmbito bem mais considerável do que o do


inciso I, isso se justifica, evidentemente, pelo poder de influência que as figuras
daquele inciso II que é manifestamente maior do que as do inciso I.
Observe também que os membros do Poder Legislativo não são incompatí-
veis, mas sim impedidos. Só haverá incompatibilidade para os parlamentares no
caso do pertencimento da mesa diretora.
Há apenas uma única exceção, e ela se refere às hipóteses das figuras do inciso I
(servidores). De acordo com o parágrafo único do artigo 30, os docentes dos cur-
sos jurídicos estão fora da abrangência do referido inciso I.

Impedimentos especiais

A ideia de taxar como “especiais” é pelo fato de que não são impedimentos
tratados no artigo 30 do Estatuto, mas em ocasião normativa distinta. Assim, os
casos de impedimentos dos juízes eleitorais oriundos da classe dos advogados, dos
juízes leigos e até dos conciliadores (estes que porventura se afigurarem com ad-
vogados também) são exemplos de impedimentos especiais por haver tratamento
especial em local diverso do artigo 30.
Quanto aos advogados de carreiras jurídicas públicas que desempenho ativi-
dade de advocacia restrita ao âmbito de suas atribuições institucionais [LOBO,
2009, p. 175] de regra, poder-se-iam tratar como impedimentos do artigo 30, I

capítulo 4 • 70
(servidores públicos), no entanto, como o próprio Estatuto da OAB, em seu artigo
3º §1º preconiza:

Exercem atividade de advocacia, sujeitando-se ao regime desta lei, além do regime


próprio a que se subordinem, os integrantes da Advocacia-Geral da União, da Procura-
doria da Fazenda Nacional, da Defensoria Pública e das Procuradorias e Consultorias
Jurídicas dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e das respectivas entidades
de administração indireta e fundacional.

Por essa razão, também são hipóteses taxadas como impedimentos especiais
haja vista que para se saber sobre a restrição ou não desses profissionais, há de se
pesquisar em seus respectivos Estatutos.
Idêntica razão se encontra com os membros do Poder Judiciário que se des-
vinculam do respectivo órgão, aqui é a própria constituição federal que traz a hi-
pótese de impedimento especial, denominada de “quarentena”, nos termos do seu
artigo 95, parágrafo único, V, que os impede de exercer a advocacia no juízo ou
tribunal do qual se afastou, antes de decorridos três anos do afastamento do cargo
por aposentadoria ou exoneração. Cabe ressaltar que idêntica restrição também é
afetada aos membros do ministério público conforme decido pelo seu respectivo
Conselho Nacional.

Zona de trânsito

Diretamente endereçada aos procuradores gerais e dirigentes máximos dos ór-


gãos jurídicos da administração pública direta ou indireta de todos os entes da fe-
deração, trata-se de uma hipótese especial de impedimento trazida pelo Estatuto,
que em seu artigo 29 buscou extirpar de vez uma anomalia que existia até a vi-
gência do Estatuto revogado. Trata-se, portanto, de impedimento diferente das
hipóteses do artigo 30, I.
Perceba que os cargos a que se faz referência nesse artigo são daqueles de posi-
ção máxima no órgão, portanto, função de direção com poder de relevância sobre
interesse de terceiros, e a isso se interpreta como incompatibilidade.
Note, por outro lado, que se não estiver como chefe máximo da sua entidade,
o profissional estará na condição de advogado público e, como tal, restrito nas
suas atribuições do seu órgão, além da possibilidade de advogar no magistério
privado caso seu estatuto autorize, o que sinaliza a hipótese, como já visto, de
impedimento especial.

capítulo 4 • 71
Esses Órgãos de carreiras jurídicas são caracterizados como independentes
e, portanto, admissível sua capacidade judiciária. Portanto, observe que os seus
dirigentes máximos além de dirigirem os respectivos serviços jurídicos, prestar
assessoria e consultoria jurídica, podem representar judicialmente os seus respec-
tivos órgãos.
Trata-se de atividades privativas da advocacia, portanto, como esses dirigentes
podiam exercê-las se não estão na condição de impedidos especiais (eles não estão
na condição de advogados públicos, mas de chefe geral destes), mas sim na condi-
ção de incompatíveis? O atual Estatuto resolveu esse problema e agora a resposta a
esse questionamento se encontra no artigo 29 do Estatuto, ou seja, enquanto esti-
verem representando o seu respectivo órgão jurídico, estão legitimados a exercer a
advocacia vinculado à função e durante a respectiva investidura.
Em suma, o Estatuto agora não os considera, enquanto dirigentes máxi-
mos desses órgãos, nem incompatíveis e tampouco impedidos, mas numa zona
de trânsito.

Infrações e sanções ético-disciplinares

Considerações iniciais

Inseridas totalmente em um único artigo do Estatuto, as infrações discipli-


nares caracterizam-se preponderantemente através de mandados proibitivos por
descreverem, como violação à ética advocatícia, comportamentos indesejáveis que
devem ser insistentemente reprimidos.
Como forma retributiva desses comportamentos tipificados como eticamente
relevantes, surgem as sanções disciplinares, que consistem na resposta como forma
de coerção à norma infringida.
É de bom tom salientar que não é somente infração disciplinar que gera san-
ção disciplinar, qualquer violação a preceito do código de ética e disciplina ou a
preceito do estatuto da OAB também gera sanção disciplinar.
Em supedâneo aos ensinamentos de Paulo Lobo [2009, p. 201 e 202], extraí-
mos das sanções/infrações disciplinares as seguintes características:
1. As infrações disciplinares são de natureza taxativa (numerus clausus) por cons-
tituírem restrições de direito;
2. As infrações disciplinares só podem ser indicadas em lei e não podem ser
remetidas ao código de ética, vale dizer, não existem infrações disciplinares no
código de ética e disciplina, somente no estatuto da OAB;

capítulo 4 • 72
3. Na mesma ideia do direito penal, não se pode trazer analogias ou interpreta-
ções extensivas às infrações disciplinares. Não se pode confundir com interpre-
tação analógica, nesta não há integração, mas há um exercício de se desvendar o
sentido do dispositivo, no entanto, por técnica legislativa, o legislador, que não
pode prever tudo, exemplifica e concede ao intérprete a possibilidade de trazer
outros casos à semelhança do exemplo legal. O estatuto da OAB traz um exemplo
de interpretação analógica em seu art. 34, XXV p. único;
4. As infrações disciplinares foram agrupadas em um único artigo do estatuto da
OAB (34) com 29 (vinte e nove) tipos;
5. As sanções disciplinares foram divididas em três partes:
1. Censura (eventualmente reduzida a simples advertência);
2. Suspensão e;
3. Exclusão.

Importantíssimo frisar que não foi dito que há três sanções disciplinares, mas
que elas foram divididas em três partes. Com relação à quantidade de sanções dis-
ciplinares, há quatro espécies. No entanto, por que foram divididas em três partes?
Isso porque a multa, embora seja uma das quatro espécies de sanções disci-
plinares, é um tipo de sanção acessória, ou seja, ela se acumula com outra sanção
quando houver circunstância agravante. Assim, a multa não pode ser aplicada de
maneira isolada, nem se refere especificamente a qualquer infração disciplinar.
Interessante registrar que pelo fato da sanção de exclusão, por excelência, reti-
rar o condenado dos quadros da OAB, portanto, fazendo com que não esteja mais
na condição de advogado, a multa é acumulada apenas com as sanções de censura
e suspensão, haja vista não ter efetividade na sanção de exclusão que, como dito, o
condenado não estará mais na condição de advogado.
Este, portanto, é o momento certo de consignar o fato de que advertência
não é uma espécie originária de sanção disciplinar. Nos casos de censura e somente
nestes casos, essa censura pode ser reduzida a uma simples advertência, quando ao
fato julgado houver circunstância de natureza atenuante.
6. Cometem infração disciplinar somente os inscritos na OAB. Diferentemente
dos honorários advocatícios em que os inscritos na OAB têm direito, mas estão
excluídos os estagiários, aqui nas infrações disciplinares há uma específica previsão
para os estagiários que, portanto, estão incluídos no regime de sanções disciplinares.
Buscando um modo mais didático possível, será apresentado, a seguir, um
quadro esquematizado de como as infrações disciplinares se distribuem nas suas

capítulo 4 • 73
respectivas sanções disciplinares e, quando necessário, serão traçadas as pertinen-
tes observações:

Topografia das sanções disciplinares

CENSURA SUSPENSÃO EXCLUSÃO (ART. 38)


(ART. 36) (ART. 37) HIPÓTESES
HIPÓTESES HIPÓTESES
1. Artigo 34, I 1. Artigo 34, XVII até XXV; 1. Aplicada por três vezes
até XVI e XXIX; 2. Reincidência em infra- a suspensão;
2. Violação a ção disciplinar; 2. Artigo 34, XXVI, XXVII
preceito do Observações: e XXVIII;
código de ética, a) A suspensão acarreta ao infrator Observações:
salvo sanção a interdição do exercício profissional a) O advogado que tiver sido
mais grave; em todo território nacional; condenado por exclusão terá
3. Violação ao b) A suspensão possui um prazo em sua inscrição nos quadros da
estatuto da abstrato de, no mínimo, trinta dias e, OAB cancelada;
OAB (normas no máximo, doze meses; b) É condição de efetividade
cogentes). c) Nas infrações de deixar de para a sanção da exclusão
prestar contas como cliente, de ficar a sua confirmação por 2/3
em inadimplemento com a OAB e dos membros do conse-
de incidir em erros reiterados que lho seccional;
evidencie inépcia profissional; a c) O advogado que for ex-
suspensão perdura enquanto não cluído dos quadros da OAB,
prestar as devidas contas ou en- poderá deduzir novo pedido
quanto não adimplir com a OAB ou que deverá ser acompanhado
enquanto não prestar novas provas das respectivas provas de
de habilitação, ou seja, podem pas- reabilitação.
sar de doze meses.

Publicidade das sanções disciplinares

Preconiza o parágrafo único do artigo 35 do Estatuto da OAB que “as sanções


devem constar dos assentamentos do inscrito, após o trânsito em julgado da de-
cisão, não podendo ser objeto de publicidade a de censura”. Por que a sanção de
censura não pode ser objeto de publicidade?
Isso justifica para que não haja a possibilidade de dupla punição sobre o mes-
mo fato (bis in idem). Caso houvesse a oportunidade antecipada de se ter a ciência
sobre a condenação disciplinar de um advogado fica manifestamente evidente que
este profissional seria preterido por outro que não possuísse condenação. Assim,

capítulo 4 • 74
se o advogado preterido fosse aquele que havia sido condenado por exclusão ou
suspensão não haveria uma “dupla condenação” haja vista que já não poderia ad-
vogar mesmo. No entanto, se o preterido fosse aquele que havia sido condenado
por censura teria sim uma “dupla condenação”, uma vez que advogado censurado
pode continuar exercendo a advocacia.
Por essas razões a sanção de censura não pode ser objeto de publicidade.

Reabilitação

Considerando a proibição de sanções punitivas de caráter perpétuo, o Estatuto


da OAB permite àquele condenado por sanção disciplinar, deduzir o seu pedido
de reabilitação para que em seu currículo profissional retorne o seu status quo ante.
O requisito para o referido pedido é temporal, ou seja, após um ano do cum-
primento da referida sanção disciplinar.
De caráter personalíssimo, percebe que se a infração disciplinar também tiver
sido uma infração penal e nesta esfera também tiver tido condenação com trân-
sito em julgado, além do requisito temporal de um ano após o cumprimento da
sanção disciplinar, o advogado requerente vai ter que anexar a específica reabilita-
ção criminal.

Prescrição

Previu o Estatuto da OAB, a prescrição da pretensão punitiva para os casos


de sanções disciplinares num prazo de cinco anos a contar da data da constatação
oficial do fato.
Há também a previsão de uma hipótese de prescrição intercorrente que se
opera no momento em que todo pertinente processo disciplinar passou mais de
três anos paralisado dependendo de despacho ou julgamento
Toda instauração de processo disciplinar ou notificação válida feita diretamen-
te ao representado, assim como toda decisão condenatória recorrível de qualquer
órgão julgador da OAB são fatos que interrompem o período prescricional.

Processo mnemônico

De ordem eminentemente pragmática, considerando o enorme quadro que se


apresenta com a fusão das três partes das sanções disciplinares com as vinte e nove
hipóteses de infrações disciplinares, buscando uma facilitação de compreensão e

capítulo 4 • 75
absorção da topografia das sanções disciplinares, buscou-se criar um processo de
memorização que chegasse ao êxito desejado, dessa maneira, apresenta-se a esque-
matização, a saber:

VALOR ($) Observações:


+ 1. Com exceção a: condenação por cri-
Fraude ou ato contrário a lei me infamante; tornar-se moralmen-
Retenção ou extravio de autos te inidôneo ou fazer falsa prova de
Reincidência em infração disciplinar qualquer dos requisitos para inscri-
Inépcia profissional ção da OAB, que são as três hipóteses
Conduta incompatível com a advocacia de exclusão, tudo que está no quadro ao
lado será suspensão, caso não esteja
será censura.
2. Toda infração que corresponde ao va-
lor sai da relação advogado – cliente
3. As outras cinco (FRRIC) não são para
se fazer valorações, ou seja, são exata-
mente os nomes das referidas infrações
disciplinares

Sanções penais próprias de advogados e lide temerária

Insertos no capítulo III do título IX do código penal, vamos tratar dos crimes
de patrocínio infiel, patrocínio simultâneo e tergiversação, respectivamente no
artigo 355 e seu parágrafo único.
Nas lições de Nelson Hungria [1958, p. 312], os crimes contra a adminis-
tração da justiça, diferentemente das legislações estrangeiras, não se consagraram
como título autônomo, considerando-os como mera subclasse dos crimes contra
a administração da justiça.
Dessa forma, os crimes que começam a ser analisados, são crimes próprios
em que o advogado se afigura como sujeito ativo. Pela ordem, vamos tratar, em
primeiro lugar, do patrocínio infiel (CP, art. 355) que consiste na forma genérica
acerca da traição do advogado no curso de causa judicial. É necessário que esteja
no exercício do mandato, seja este oneroso ou gratuito e o seu elemento essencial
é a superveniência de efetivo prejuízo, Hungria [1958, p. 520] oferta os seguintes
exemplos:
1. Deliberada provocação de decadência ou prescrição;
2. Maliciosa perda de prazo.

capítulo 4 • 76
O crime só é cometido a título de dolo e é indiferente o motivo do agente, se
não ocorrer o prejuízo não se consuma.
Os crimes de patrocínio simultâneo e tergiversação se encontram no parágrafo
único do mesmo artigo 355, o que sinaliza tratar-se de formas especiais de patro-
cínio infiel, vamos observar quais as especialidades destes para que se justifiquem
estar assentados em local diverso.
O primeiro se refere à conduta do advogado que fica desde o início servin-
do na mesma causa dois constituintes partes contrárias, ou seja, que se acham
em situação de mútuo contraste [HUNGRIA, 2009, p. 520], exigindo apenas o
dano potencial.
A tergiversação, também denominada de patrocínio sucessivo, denominação
que vem do latim tergum vertere (voltar as costas), nesse delito o agente é um
desertor que abandonando a causa de seu cliente ou depois de despedido por ele,
passa a defender a causa da parte contrária.
Necessário que ocorra na mesma causa, exige-se também o dolo e também é
indiferente o fim do agente; não basta ter recebido os mandatos, mas sim que os
exerçam, também se exige apenas o dano potencial, razão pela qual são crimes que
não estão no caput, mas sim no parágrafo único, porque o simples fato de passar
para um outro constituinte já se presume o poder de abusar, não necessitando,
portanto, de efetivo prejuízo.
Diferente é a figura da Lide temerária, esta não é crime e ocorre quando o ad-
vogado se coliga com o seu cliente para lesar parte contrária, sendo solidariamente
responsável pelos danos que causar. Não se presume e não pode ser decretada na
própria ação, exige-se sempre o dolo.

ATIVIDADE
Gismar, advogado inscrito na OAB/RJ, nº 000, candidatou-se a Mandato Eletivo de De-
putado Estadual vindo a ser eleito e tomando posse no dia 02 de janeiro de 2016.
No mês de julho/2016, o Deputado Gismar tornou-se Presidente da ALERJ, sem tomar
qualquer atitude junto à OAB/RJ, continuando a praticar todos os atos postulatórios da Ação
de Separação Litigiosa que tramitava junto à 3ª VF da Comarca da Capital, da qual era patro-
no de uma das partes envolvidas.
No dia 15 de Agosto de 2016, o advogado Maurício, patrono da outra parte do referido
processo, deduziu pretensão àquele Juízo requerendo a nulidade de todos os atos praticados

capítulo 4 • 77
pelo advogado Gismar a partir do mês de Janeiro/2016 (do indigitado processo), com base
no art. 4º, parágrafo único da Lei 8906/94, fundamentando seu pedido no fato do advogado
Gismar, em todo esse período, estar na condição de impedido de exercer a advocacia, por
força do art. 30, II do mesmo Diploma Legal e, por conseguinte, não podendo atuar no refe-
rido processo.
Considerando que o advogado Gismar praticou atos postulatórios no referido processo
em todos os meses de janeiro a agosto de 2016, pergunta-se:
Estão corretos o pedido e a fundamentação do advogado Maurício?

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
HUNGRIA, Comentários ao código penal. V. IX Rio de Janeiro, Forense, 1958.
LOBO, Paulo. Estatuto da Advocacia e da OAB. São Paulo, Saraiva, 2009.

capítulo 4 • 78
5
Processo
disciplinar; fins e
organização da OAB
Processo disciplinar; fins e organização
da OAB

Nesse quinto capítulo, você vai conhecer a estrutura do Processo Disciplinar e


da Ordem dos Advogados do Brasil.
Vai observar que o Processo Disciplinar, como essência, obedece a uma neces-
sária liturgia processual, fruto dos mandamentos constitucionais do contraditório,
ampla defesa e devido processo legal.
Dessa maneira, conhecerá os limites do direito de punir da OAB e as relativi-
zações da liberdade do exercício profissional sob o ponto de vista processual.
Compreenderá a estrutura organizacional da OAB e a divisão de suas atribui-
ções por competência; conhecerá seus órgãos internos e o processo eleitoral de
seus membros.

OBJETIVOS
•  Conhecer a liturgia do processo disciplinar da OAB;
•  Entender a natureza jurídica da OAB;
•  Compreender a estrutura organizacional da OAB.

Considerações iniciais

Bem lembrado por Celso Coccaro [2009, p.204], a OAB possui duas classes
de processos, a primeira é o objeto de estudo, ou seja, o processo disciplinar; e a
segunda, o processo administrativo comum, que trata de variadas matérias, como
inscrição, eleições, registros de sociedades de advogados e etc.
Acrescenta José Nalini [2006, p. 340] que os advogados têm facilitada a re-
gulação de sua conduta ética, pois contida, em sua essência, no código de ética
e disciplina da OAB, além das regras deontológicas como um todo, este regula,
também o processo disciplinar.
Em se tratando de processo disciplinar, que também tem regulamentação no
Estatuto da OAB, aplicam-se, subsidiariamente, as normas processuais penais com

capítulo 5 • 80
prazo comum de 15 dias a qualquer tipo de intervenção, a contar do dia útil
seguinte imediato ao recebimento, caso a notificação tenha sido realizada pessoal-
mente ou da publicação, podendo o prazo de defesa prévia ser prorrogado a juízo
da OAB.
Ao processo disciplinar segue a seguinte hierarquia:
•  Primeira instância – Tribunal de ética e disciplina;
•  Segunda instância – Conselho seccional;
•  Instância superior – Conselho federal.

A regra de competência obedece ao princípio da territorialidade, ou seja,


compete ao conselho seccional cujo território ocorreu a infração disciplinar, pro-
cessar e julgar o inscrito na OAB. Há duas exceções a essa regra: a primeira é se a
competência for do conselho federal e a segunda é se houver suspensão preventiva,
porque somente o conselho seccional de onde o advogado possui inscrição princi-
pal é que pode suspendê-lo preventivamente.
Conforme preleciona Marco Araújo [2009, p.161], a suspensão preventiva
tem natureza de pena cautela, devendo ser considerada para aplicação quando pre-
sente os requisitos do fumus commissi infratione (probabilidade de que a infração
disciplinar foi cometida) e o periculum libertatis (o perigo na liberdade do advo-
gado de reincidir em infração disciplinar, se estiver autorizado a advogar). Deve-
se entender como probabilidade de cometimento de infração disciplinar aqueles
indícios, ainda que podem, em alguns casos, ser considerados simples, no entanto,
como esclarece Geronimo Macedo [2009, p.137], causam grande repercussão que
seja prejudicial à dignidade da advocacia.
Por intermédio de representação de qualquer pessoa interessada, que não pode
ser por intermédio de denúncia anônima, representação de qualquer autoridade
ou de ofício o processo disciplinar é instaurado.
Muito bem advertido por Paulo Lobo [2009, p.340], em qualquer das fases
do procedimento disciplinar, prevalece o princípio da presunção de inocência do
advogado representado, razão pela qual o processo disciplinar corre totalmente em
sigilo até o término de seu julgamento, podendo ter acesso a ele somente as partes
e seus representantes ou autoridade judicial competente que tenha que julgar de-
mandas em que o próprio processo disciplinar se afigure como objeto.

capítulo 5 • 81
Liturgia processual

A representação, cujos legitimados foram acima discriminados, será formula-


da ao Presidente da seccional ou da subseção ou do tribunal de ética, este último
caso o regimento respectivo atribuir competência, que depois de recebida será
designado um relator para presidir a referia instrução processual.
O relator, atendendo aos critérios de admissibilidade, emitirá parecer propondo a
instauração do referido processo disciplinar ou o arquivamento liminar da representação.
Instaurado processo disciplinar, o relator obedecerá às seguintes fases:
•  Primeira fase:
99 Notificação dos interessados e do representando para defesa prévia;
99 Proferir despacho saneador;
99 Realização de audiência para oitiva do interessado, representado
e testemunhas;
99 Realização de diligências e conclusão da instrução;
99 Razões finais pelo interessado e representado, pelo prazo sucessivo de 15 dias;
99 Proferir parecer preliminar.

•  Segunda fase:
99 Encaminhamento do processo ao Tribunal de Ética e Disciplina (TED);
99 Presidente do TED designa relator para proferir voto;
99 Inserção do processo na pauta para julgamento;
99 Intimação do representado para defesa oral pelo prazo de 15 minutos
na sessão;
99 Produção da defesa oral;
99 Voto do relator;
99 Remessa dos autos ao relator designado ou membro que tiver pare-
cer vencedor;
99 Lavratura do acórdão com ementa;
99 Publicação no órgão do conselho seccional.

Grau recursal

Com juízo de admissibilidade do relator do órgão julgador para o qual foi in-
terposto o recurso, todas as decisões proferidas pelo tribunal de ética e disciplina,
unânimes ou não, são passíveis de recurso junto ao conselho seccional competente.

capítulo 5 • 82
As decisões definitivas dos conselhos seccionais que contrariem o estatuto,
decisão do conselho federal ou outro conselho seccional são passíveis de recurso
junto ao conselho federal.
As decisões definitivas dos conselhos seccionais, ainda que não contrariem os
órgãos acima descritos, caso não tenham sido unânimes também são passíveis de
recurso junto ao conselho federal
Todos os recursos têm efeito suspensivo, exceto em matéria eleitoral, suspen-
são preventiva e cancelamento da inscrição obtida com falsa prova.
Cabe ressaltar que cabe recurso ao conselho seccional de todas as decisões
proferidas por seu Presidente, pelo tribunal de ética e disciplina, pela caixa de
assistência dos advogados ou pelo presidente ou diretoria da subseção, mesmo que
esta possua seu próprio conselho, no entanto, como lembrado por Claudio Finat
2006, [2006, p.134], contra decisão do TED, o recurso será dirigido ao plenário
ou órgão especial equivalente do conselho secicional.

Observações do regulamento geral

99 Prazo para recurso: 15 dias;


99 Recurso poderá ser interposto via fac-símile ou similar, o original entre-
gue em até 10 dias;
99 Intempestividade: indeferimento liminar;
99 Contra decisão da diretoria da subseção: recurso ao conselho seccional;
99 Contra decisão do TED: recurso ao plenário ou órgão especial do
Conselho Seccional;
99 As notificações para defesa prévia ou manifestações: correspondência com
aviso de recebimento;
99 Salvo os embargos de declaração, os recursos são interpostos perante a au-
toridade que proferiu a decisão, mas dirigidos ao órgão superior;
99 O juízo de admissibilidade é do relator do órgão julgador;
99 Não cabe recurso em face do indeferimento liminar dos embargos de de-
claração (intempestividade, protelatórios).

Dando continuidade ao viés esquemático aqui estudado sobre processo dis-


ciplinar, considerando, principalmente, a ênfase didática proposta, vem a talho
importante lembrança de Rodrigo Julião [2010, págs. 122 e 123] em que na sua

capítulo 5 • 83
obra enaltece as expressões empregadas aos procedimentos de processos disciplina-
res criadas pela Segunda Câmara do Conselho Federal, abaixo transcritas:
•  Arquivamento liminar: extinção, sem qualquer instrução procedimental
ou apreciação de mérito, do processo ético-disciplinar despido dos pressupostos
legais de admissibilidade;
•  Defensor dativo: advogado designado pelo Relator, que não poderá ser
conselheiro ou membro do TED, para patrocinar o representado rever;
•  Indeferimento liminar: ato do presidente da seccional, pelo qual, sopesan-
do os termos e elementos da representação e da defesa prévia, põe fim ao processo,
por considerar, da contraposição das peças referidas, inexistente qualquer infração
disciplinar, extinguindo o processo com julgamento de mérito;
•  Parecer liminar: opinião manifestada pelo Relator, após a defesa prévia, na
qual descreve os fatos passíveis de punição e oferece o respectivo enquadramen-
to legal;
•  Parte: o representante, que pode ser pessoa física, jurídica ou autoridade e
o representado, o inscrito na OAB;
•  Prazo: lapso de tempo para a prática de ato processual, que será contado a
partir da notificação da parte, ou da publicação do despacho ou decisão, salvo no
caso de defesa prévia, quando fluirá a partir da juntada do Aviso de Recebimento
(AR) da convocação à defesa;
•  Prescrição: perecimento da pretensão punitiva, ou seja, perda do poder
punitivo da OAB;
•  Procedimento ético-disciplinar: conjunto de atos formais sequenciados,
de desenvolvimento do processo;
•  Processo ético-disciplinar: sistema formal e ordenado de providências e
etapas, conducentes à decisão da representação ético-disciplinar;
•  Razões finais: alegações escritas, oferecidas pelas partes, após o encerra-
mento da fase probatória, nas quais sustentam suas respectivas posições;
•  Relator: o membro do conselho seccional ou da subseção, designado pelo
presidente, para presidir a instrução do processo; ou membro do tribunal de ética
e disciplina encarregado de ali conduzir o processo;
•  Representação: peça escrita, ou tomada a termo, na qual se apresenta de-
núncia ético-disciplinar contra inscrito na OAB;
•  Testemunha: pessoa não impedida por lei, convocada ou convidada para
depor, imparcialmente, sobre os fatos do processo ético-disciplinar.

capítulo 5 • 84
Fins e organização da OAB

Conceito e natureza jurídica da OAB

Inquestionavelmente um dos pontos mais nevrálgicos no que se refere às


divergências doutrinárias e jurisprudenciais. Autores renomados como Diogo
Figueiredo, José dos Santos Carvalho Filho e Miguel Reale divergem em ideias
sobre a natureza jurídica da OAB, principalmente.
Os fundamentos são os mais variados, perceba, a seguir, algumas das linhas
argumentativas que foram sendo construídas durante esse tempo objetivando sus-
tentar essas variadas teses, a saber:
99 Para ser considerada autarquia o referido presidente deveria ser nomeado
pelo Chefe do Poder Executivo e não eleito pelos seus pares;
99 A OAB dispõe de isenção fiscal sobre rendas, bens e serviços;
99 Todos os atos conclusivos da OAB são publicados em diário oficial;
99 A OAB não recebe subsídios do Poder Público;
99 Autarquia é uma longa manus do Estado, portanto não poderia perseguir
interesses opostos por este;
99 A OAB é pessoa jurídica de direito privado;
99 Execução de serviços públicos também é realizada por entidades privadas
ex. concessões e permissões;
99 Informativo 219/2004 do STJ: OAB não se confunde com as demais cor-
porações incumbidas do exercício profissional.

Note que há, como dito, os mais variados argumentos a sustentar o conceito
e natureza jurídica da OAB, dessa forma, analisando toda discussão a que se faz
referência, prevalece o seguinte entendimento:
A OAB tem o seguinte conceito, amparado no artigo. 44 do Estatuto:
“Entidade sui generis ou autarquia de regime especial que presta serviço públi-
co não estatal, dotada de personalidade jurídica e forma federativa, sem manter
com órgãos da Administração Pública qualquer vínculo funcional ou hierárquico”.
No que se refere à natureza jurídica, lembrando da controvérsia doutrinária
e jurisprudencial, segundo posição do STJ no informativo n° 219 de 2004: a
OAB não se confunde com as demais corporações incumbidas do exercício pro-
fissional, todavia seja denominada de autarquia profissional de regime especial ou
sui generis”.

capítulo 5 • 85
Finalidades da OAB

São três finalidades básicas, em que num processo mnemônico, atende pela
sigla DPP e são as seguintes:
99 Defender a Constituição e a ordem jurídica do Estado Democrático de
Direito; os direitos humanos;
99 Pugnar pela justiça social e pela boa aplicação das leis; pela rápida adminis-
tração da justiça e aperfeiçoamento da cultura e das instituições jurídicas;
99 Promover, com exclusividade, a Advocacia no Brasil.

Órgãos da OAB

Existem apenas quatro órgãos da OAB, e são eles:


I. O Conselho Federal;
II. Os Conselhos Seccionais;
III. As Subseções;
IV. As Caixas de Assistência dos Advogados.

Cumpre advertir que o tribunal de ética e disciplina é um órgão criado pelo


conselho seccional, portanto não de previsão legal originária. Como se viu, é um
órgão encarregado de julgamento deontológico além de outras atribuições.
É de oportuno também esclarecer que a Conferência Nacional dos Advogados
consiste num órgão consultivo máximo do Conselho Federal, uma atividade que
ocorre trienalmente, no segundo ano do mandato com o objetivo de congraça-
mento e finalidades da OAB, dirigida por Comissão Organizadora designada pelo
Presidente do Conselho Federal.
Dentre os quatro órgãos acima, somente três deles são dotados de personali-
dade jurídica própria, a saber:
99 O Conselho Federal: Órgão supremo da OAB;
99 Os Conselhos Seccionais: Estados – membros;
99 A Caixa de Assistência dos Advogados (1.500 advogados).

A OAB, por constituir serviço público, goza de imunidade tributária total


em relação a seus bens, rendas e serviços; (artigo 9º, IV, “a” do CTN e artigo 150,
VI, “a” da CRFB/88) e os seus atos conclusivos, salvo quando reservados ou de

capítulo 5 • 86
administração interna, devem ser publicados na imprensa oficial ou afixados no
fórum, na íntegra ou em resumo
Compete à OAB fixar e cobrar, de seus inscritos, contribuições, preços de
serviços e multas (Não tem natureza tributária). O pagamento da contribuição
anual à OAB isenta os inscritos nos seus quadros do pagamento obrigatório da
contribuição sindical.
Ademais, constitui título executivo extrajudicial a certidão emitida pela dire-
toria do Conselho competente, relativa à contribuição de seus inscritos.
Os Presidentes dos Conselhos e das Subseções da OAB têm legitimidade para
agir, judicial e extrajudicialmente, contra qualquer pessoa que infringir as dispo-
sições ou os fins da lei 8.906/94, além de possuírem legitimidade para intervir,
inclusive como assistentes, nos inquéritos e processos em que sejam indiciados,
acusados ou ofendidos os inscritos na OAB.
Para efeito de cumprimento do Estatuto da OAB, os Presidentes dos Conselhos
da OAB e das Subseções podem requisitar cópias de peças de autos e documentos
a qualquer tribunal, magistrado, cartório e órgão da Administração Pública direta,
indireta e fundacional, desde que o presente requerimento seja motivo, nos termos
da decisão do STF em sede de ADI 1127-8

Composição do conselho federal

99 Conselheiros federais - delegações de cada unidade federativa. Cada dele-


gação é formada por três conselheiros federais;
99 Ex-presidentes (membros honorários vitalícios) - com direito a voz;
99 Os agraciados com a “Medalha Rui Barbosa”1 podem participar das ses-
sões do Conselho Pleno, com direito a voz;
99 Os presidentes dos conselhos seccionais - junto à delegação respectiva e
com direito a voz.

Composição da diretoria do conselho federal

•  Diretoria: Presidente, Vice-Presidente, Secretário-Geral, Secretário-Geral


Adjunto e Tesoureiro. Para a eleição da escolha da diretoria do conselho federal

1  A “Medalha Rui Barbosa” é conferida pelo Conselho Federal às grandes personalidades; concedida uma única
vez e entregue em sessão solene;

capítulo 5 • 87
cada membro da delegação terá direito a 1 (um) voto, vedado aos membros ho-
norários vitalícios.

Compete ao Presidente:
1. Representação nacional e internacional da OAB;
2. Convocar o conselho federal e presidi-lo;
3. Representá-lo ativa e passivamente, em juízo ou fora dele;
4. Promover-lhe a administração patrimonial e dar execução às suas decisões.

Nas deliberações o Presidente possui o voto de qualidade “voto Minerva”, no


entanto como o voto é por delegação, o voto minerva do Presidente não poderá ser
exercido caso se tratar de matéria de interesse da unidade que represente.

Órgãos do conselho federal

99 Conselho pleno;
99 Órgão especial do conselho pleno;
99 1ª, 2ª e 3ª câmaras;
99 Diretoria;
99 Presidente.

•  O Conselho pleno é constituído por todos os Conselheiros Federais e


ex-presidentes, presidido pelo Presidente Nacional da OAB e secretariado pelo
Secretário Geral e tem por competência discutir matérias sobre finalidades institu-
cionais e atribuições do Conselho Federal da OAB.
•  O órgão especial do conselho pleno é constituído por 01 (um) Conselheiro
Federal de cada delegação e pelos ex-presidentes, presidido pelo Vice-Presidente
Nacional da OAB e secretariado pelo Secretário Geral- Adjunto e tem por com-
petência discutir matérias sobre deliberação de recursos, conflitos de divergência,
consultas em tese. As suas decisões são irrecorríveis e constitui orientação domi-
nante da OAB.
•  A primeira câmara do conselho federal é presidida pelo Secretário-Geral e
tem por competência discutir matéria sobre atividade advocatícia, direitos e prer-
rogativas, inscrição na OAB, incompatibilidade e impedimentos e julgar recurso
contra as decisões de seu Presidente.

capítulo 5 • 88
•  A segunda Câmara do Conselho Federal é presidida pelo Secretário-Geral
Adjunto e se divide em três turmas, possui competência para discutir matéria so-
bre ética e deveres dos Advogados, editar resoluções para o TED e julgar recursos
contra seu Presidente.
•  A terceira Câmara do Conselho Federal é presidida é presidida pelo
Tesoureiro e possui competência para julgamento de recursos relativos aos órgãos
da OAB, sociedade de advogados, advogados associados e empregados; apreciar
relatórios sobre contas; modificar ou cancelar dispositivos do Regimento Interno
dos Conselhos Seccionais contrários ao Estatuto ou RG. Julgar recursos interpos-
tos contra o seu Presidente.

Competência do conselho federal

•  Assegurar o funcionamento das Seccionais;


•  Intervir nas Seccionais – quórum 2/3;
•  Cassar ato contrário à legislação da OAB;
•  Julgar recursos contra decisões dos Conselhos Seccionais;
•  Dispor sobre inscrição, símbolos privativos, sobre balanços e contas
do CFOAB;
•  Elaborar listas sêxtuplas;
•  Ajuizar ADI, ACP, MS Coletivo e Mandado de Injunção.

Competência do conselho seccional

Cabe ao conselho seccional fixar, em seu orçamento, dotações específicas des-


tinadas à manutenção das Subseções. Mediante o voto de dois terços de seus mem-
bros, pode intervir nas Subseções, onde constatar grave violação da Lei 8.906/94
ou do regimento interno. Ele também define a composição do tribunal de ética e
disciplina, possuindo as seguintes competências:
99 Criar as subseções e a caixa de assistência dos advogados;
99 Julgar, em grau de recurso, as questões decididas por seu Presidente, por
sua diretoria, pelo Tribunal de Ética e Disciplina, pelas diretorias das Subseções e
da Caixa de Assistência dos Advogados;
99 Fixar a tabela de honorários, válida para todo o território estadual;

capítulo 5 • 89
99 Realizar o exame de ordem;
99 Decidir os pedidos de inscrição nos quadros de advogados e estagiários.

Competência da subseção

Criada pelo conselho seccional, que fixa sua área territorial e seus limites de
competência e autonomia, a sua rea territorial pode abranger um ou mais muni-
cípios, ou parte de município, inclusive da capital do Estado, contando com um
mínimo de quinze advogados, nela profissionalmente domiciliados.
Ela é administrada por uma diretoria, com atribuições e composição equiva-
lentes às da diretoria do conselho seccional e possui as seguintes competências:
•  Dar cumprimento efetivo às finalidades da OAB;
•  Receber inscrições;
•  Velar pela dignidade, independência e valorização da advocacia, e fazer valer
as prerrogativas do advogado;
•  Representar a OAB perante os poderes constituídos;
•  Instaurar e instruir processos disciplinares.

Competência da caixa de assistência dos advogados

Órgão de personalidade jurídica própria que se destina a prestar assistência aos


inscritos no conselho seccional a que se vincule. Adquire personalidade jurídica
com a aprovação e registro de seu estatuto pelo respectivo conselho seccional da
OAB, na forma do regulamento geral. Pode, em benefício dos advogados, promo-
ver a seguridade complementar.
Cabe à CAARJ/IAB 10% sobre todos os atos decorrentes do efetivo exercício
da advocacia; A sua diretoria é composta de cinco membros, com atribuições de-
finidas no seu regimento interno.
Cabe também à CAARJ a metade da receita das anuidades recebidas pelo
conselho seccional, considerado o valor resultante após as deduções regulamenta-
res obrigatórias e, em caso de extinção ou desativação da caixa, seu patrimônio se
incorpora ao do conselho seccional respectivo.

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O conselho seccional, mediante voto de dois terços de seus membros, pode
intervir na caixa de assistência dos advogados, no caso de descumprimento de suas
finalidades, designando diretoria provisória, enquanto durar a intervenção.

Eleições na OAB

A eleição na OAB se realiza na segunda quinzena do mês de novembro com vo-


tação direta dos advogados inscritos, de comparecimento obrigatório, significando
dizer que ausência injustificável implica multa de 20% do valor da anuidade.
Serão considerados eleitos os candidatos integrantes da chapa que obtiver a
maioria dos votos válidos, para um mandato uniforme de três anos, iniciando-se em
primeiro de janeiro para o conselho seccional e fevereiro para o Conselho Federal.
A chapa deve se apresentar completa e em 31 de janeiro o conselho federal
elege sua Diretoria. Com exceção do candidato à Presidente do conselho federal,
os demais diretores devem ser do corpo de conselheiros federais.
São requisitos de elegibilidade:
99 Comprovado exercício ininterrupto da profissão por mais de cinco anos,
excluído o período de estágio;
99 Ausência de condenação disciplinar, salvo reabilitação;
99 Não ocupação de cargo exonerável ad nutum.

ATIVIDADES
01. O advogado Luiz Cláudio realizou determinada conduta tipificada como infração discipli-
nar pela Lei 8.906/94. Considerando que o referido fato se deu no município de Extremoz,
Estado do Rio Grande do Norte e que sua inscrição principal é no Rio de Janeiro, seria pos-
sível o referido advogado ser julgado pelo Tribunal de Ética da OAB/RJ?

02. Sob o ponto de vista disciplinar, o que difere legalmente à guisa de sanção, o advogado
que retém abusivamente documentação de seu cliente para o advogado que retém abusiva-
mente os autos do processo?

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COCCARO, Celso e Marco Antônio. Ética Profissional e Estatuto da Advocacia. São Paulo, Saraiva,
2009.
FINATI, Cláudio Roberto. O estatuto da OAB e o código de ética e disciplina. Rio de Janeiro,
Forense, 2006.
JULIÃO, Rodrigo de Farias. Ética e Estatuto da Advocacia. São Paulo, Atlas, 2010.
JÚNIOR, Marco Antônio. Ética Profissional. São Paulo, Revista dos Tribunais, 2009.
LOBO, Paulo. Estatuto da Advocacia e da OAB. São Paulo, Saraiva, 2009.
NALINI, José Renato. Ética Geral e Profissional. São Paulo, Revista dos Tribunais, 2006.
MACEDO, Geronimo Theml. Deontologia. Rio de Janeiro, Lúmen Júris, 2009.

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