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JANEIRO
CENTRO DE LETRAS E ARTES
FACULDADE DE ARQUITECTURA E
URBANISMO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
URBANISMO
A CIDADE PELAS
BORDAS: Margem e
Reconfiguração Urbana
Tese de Doutorado em Urbanismo Tese de
1ƧR1OƧO1ƧR1OƧO1ƧR1OƧO1ƧR1OƧO1ƧR1O
ib
Ficha catalográfica
CDD 711.13
ii
Folha de Aprovação
A CIDADE PELAS BORDAS: Margem e Reconfiguração Urbana.
Mauricio Javier Sierra Morales.
Tese de doutoramento apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Urbanismo / PROURB
da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo / FAU da Universidade Federal do Rio de Janeiro /
UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção de Grau de Doutor em Urbanismo.
Defendida e aprovada em 30 de Março de 2012 por:
Orientadora:
Dedicatória
[…] dedico este trabalho a meus filhos Juan Camilo, Alejandro e Rodrigo.
iv
AGRADECIMENTOS
Agradeço muito a vocês que, em sua pressa por me corrigir, me fortaleceram. Por
inúteis que resultem seus esforços, aqueles que foram comovidos por experiências
extraordinárias semelhantes a ser/estar desde/na/à borda se veem forçados, como
eu, a procurar descrevê-las em uma linguagem espaçotemporal. Assim, aqueles
que conseguirem viver esta experiência comigo podem dizer que sentiram “algo”
que era elevado ou profundo, como uma borda ou abismo, um país estranho, uma
fronteira, uma terra de ninguém. Para quem se mantiver nesta vibração, o tempo
pode parecer que avança mais rápido ou mais devagar, suas ideias e suas
descobertas serão percebidas como lembranças simultaneamente estranhas e
familiares. Para aqueles e aquelas, advirto-lhes que sua perspectiva da vida pode
mudar subitamente, e, ainda que seja por um momento, vão sentir que superaram
antigas contradições e toda a confusão terminará.
Epígrafe
«Vaidade das vaidades, tudo é vaidade»
Livro do Pregador, Testamento, (o Velho).
RESUMO
i
Ver: 4.7._Anotações finais, p. 358.
ii
A porosidade em Arquitetura se refere ao termo pervasividade (pervasiveness), que significa
permeabilidade, penetração e invasividade como qualidades das interfaces nas bordas.
iii
Ver: 4.8._Conclusão Capítulo IV, p. 364.
vii
SUMMARY
iv
Pore Architecture: The term porosity of the architecture to refer pervasidade (pervasiveness), which
means permeability, penetration and invasiveness as qualities of the interfaces at the edges.
viii
PREFÁCIO
a força da razão (o que deveria ser o devir urbano nas bordas) e a força da
realidade (o que verdadeiramente acontece). Neste sentido, é suficiente a leitura
deste texto.
Áquele que tenha uma visão mais “política” do assunto das bordas, pode lhe
interessar mais um debate em torno do conflito de interesses que necessariamente
surge a favor ou contra a maneira (gestão) e a forma (física) como os fenômenos
estão sendo representados, associados a políticas segregacionistas e à
fragmentação urbana na cidade latino-americana contemporânea.
Vou pedir a este leitor, humildemente, que deixe indicações no final do anexo
da tese, incluindo possibilidades reais de contato, para além das referências
bibliográficas, como ator dos processos mencionados, também buscando validar a
experiência de ser/estar desde/em/à borda.
Portanto, o tema da presente pesquisa não é o poder, nem a cidade, mas o sujeito,
neste caso, o sujeito de borda/à borda. Se nos parece que estamos envolvidos
demasiadamente nestes temas (poder, urbanismo, bordas) é porque, como sujeitos,
nós mantemos relações de todo tipo no âmbito de tais categorias conceptuais.
xii
APRESENTAÇÃO
Temos ainda um quarto nível (4): onde finalmente nos obrigamos a fazer uma
síntese dos conceitos do conceito: do conceito da borda, do nosso próprio percurso
(ou do seu), a cuja realização você precisa ficar atento. Você mesmo é o sujeito de
estudo, aquele que precisa do poder (mesmo que já o tenha). Poder em si mesmo,
dirigido para si mesmo.
xiv
SUMÁRIO
EPÍLOGO 366
POSFÁCIO: Vou me tornar o que eu quero. 371
REFERÊNCIAS
Literatura citada. 372
Referências adicionais. 382
Experiências e processos. 394
ÍNDICE DE AUTORES 395
ÍNDICE ALTERNATIVO 402
ANEXO ÚNICO 403
xvi
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE QUADROS
INTRODUÇÃO GERAL
Quer dizer, as bordas não vão deixar de existir como tais, mas não
vamos mais precisar delas e a verdadeira importância desta tradução vai
além de atingir o nosso objetivo. Está na tradução mesma.
Para tanto, não basta seguir um caminho intelectual que nos libere da
razão ocidental (dominante a nível mundial). Faz-se necessário percorrer
outro caminho, mais «ideológico», que vise uma emancipação política das
ideias próprias que sustentam qualquer hipótese, e também um terceiro
caminho, no âmbito do emocional, que desperte um desejo de
inconformidade, uma rebeldia acadêmica capaz de influenciar o urbanista
atual.
O arquiteto Steven Holl (n. Bremerton, 1947), que tem uma definição
para o entendimento da borda bastante adequada para a década dos anos
90, descreve a borda da cidade como uma «região filosófica» rural-urbana
sem sentido nem expectativas, mas que é um convite ao desenvolvimento
de projetos e visões que definam uma nova fronteira entre o natural e o
artificial.
1
O desenvolvimento na escala regional: categoria de análise dos processos acontecidos
num campo de relações na escala regional.
10
Sem dúvida, sempre vão existir aqueles que pensam o contrário, que
a América Latina se rende ante o fantasma desse pós-socialismo, que se
estende pelo continente como uma mancha ameaçadora. “O barro da
22
2
Em uma carta escrita por Nietzsche, em 21 de junho de 1871 da Basileia, dirigida ao seu
amigo o Barão Carl Von Gersdorff, o adverte sobre o advento da «Hidra Internacional»,
referindo-se a uma ameaça social que renasce cada vez que se a crê dominada, muito
difìcil, portanto, de extirpar. (Friedrich Nietzsche, “Epistolário”, Biblioteca Nova, Madrid,
1999).
3
Hegemonia: do grego [eghesthai], que significa «conduzir», «ser guia», «ser chefe»; ou do
verbo eghemoneno, que significa «guiar», «preceder», «conduzir», e do qual deriva «estar
à frente», «comandar», «governar». Por eghemonia o antigo grego entendia a direção
suprema do exército. Trata-se pois de um termo militar. Egemone era o condutor, o guia e
também o comandante do exército. No tempo da guerra do Peloponeso, se falava da
cidade hegemônica a propósito da cidade que dirigia a aliança das cidades gregas em luta
entre si.
4
Gamonalismo: é um estado de espírito dos parasitas do poder: pequenos frente a Deus,
diante do povo humilhado gigantes. É um idiota no poder. (Enviado por: Mauricio Sierra em
2012/08/05 12h53min: 47) Disponível em: http://www.significadode.org/gamonalismo.htm
23
relações de produção. Esta nova ideia de borda como totalidade não tem
nada a ver com a interpretação radical da teoria da ação política de
Gramsci.
Bordas da
Nível três: Seja inteligente com a
Cidade - Problemática de Estudo / Poder Alternativo
Cidade de Borda Tecido da Borda. orientado pelo Método.
Borda a Borda.
Abordagem
multidisciplinar e
Borda Abordagem
transdisciplinar e
Nível dois: Seja razoável com o Método de Borda
Estudo / Poder Interativo orientado pela Teoria.
Abordagem
Voltar a marcar o interdisciplinar e
início inacabado da Borda
Categorização
racionalidade
dos espaços
estética e
expressiva da Urbanos
modernidade. Interfaciais e
dos espaços
Arquitetônicos
A reconfiguração do
Intersticiais em
fenômeno urbano a
partir das termos de
interfa(c)es – interfa(s)es Projeto.
e interstícios.
Advertência: Tem mais um nível Quatro: Fique atento, Você é o Sujeito de estudo /
Poder de Si-Mesmo orientado para Si-Mesmo.
25
[…] Não deixaremos de explorar […] e ao final de nossa exploração […] será
chegar ao ponto de partida [...] e conhecer o lugar pela primeira vez [...].
Mas sempre foi assim; ou pelo menos assim o registra a história. O que
muda agora é que existe, também, a possibilidade de habitar o limite,
gerando tanto uma nova superfície, como uma sobreposição de superfícies
e volumes, conteúdos e continentes, condições e situações... Até criar um
lugar-nenhum, um espaço-nenhum, uma fronteira “viva”, um limiar, uma
possibilidade de transformação, uma interfaz, um interstício.
[...] O mundo existe? O que é o espírito? O que é a matéria? Tais questões sequer
fazem sentido? O fato é que se as formula há séculos, senão milênios, e que a
nova física chega a formulá-las de novo, só que de uma maneira radicalmente
diferente, quase matemática [...] (ORTOLI & PHARABOD, 1984, p. 75).
[...] cidadãos que [não] o são apenas em virtude de um título acidental, como os
que se declaram como tal através de um decreto [...] Não depende somente do
domicílio o ser cidadão, porque aquele pertence também aos estrangeiros
domiciliados e aos escravos [...] seriam cidadãos se gozavam dos direitos
enunciados em nossa definição [Domicílio, direitos, não ter sido declarados infames
e/ou desterrados, etc.]; é principalmente o cidadão da democracia [...] porque ter
nascido de um pai cidadão e de uma mãe cidadã é uma condição que não pode ser
5
Sistema de dominação mundial de: Energia, alimentação, educação, saúde, finanças.
33
6
_Disponível_em:
<http://www.laeditorialvirtual.com.ar/pages/Aristoteles_LaPolitica/Aristoteles_LaPolitica_003
.htm#C1> (Acesso em: 12/01/2009).
7
Falso problema significa: Diante da impossibilidade de exercer abertamente o poder, cria-
se um falso problema (1) que é “comunicado” às massas pela mídia; depois o público,
controlado pelo “medo”, pede aos que detêm o poder que atuem e criem alguma solução
(2); diante disso, são oferecidas as “soluções” pré-fabricadas pelos “gurus” do poder (3).
34
8
A ideia da realidade é multidimensional. Quer dizer que, apesar de existir uma realidade
total, existe igualmente uma diversidade de ideias de realidade (p. ex. a realidade urbana),
dependendo da nossa postura quanto à relação objeto-sujeto-omnijeto. Nesse sentido
existe diferença entre a ideia de realidade e a ideia de verdade, dependendo da escala
(representação física espaço-temporal) e da abordagem (analítico e multidimensional) do
Eu. A realidade do Eu contemporâneo é a complexidade do cotidiano, a interfaz, a criação
de situações em oposição dos eventos e fatos que acreditamos como «a realidade dos
limites e os limites da realidade». A verdadeira realidade é optativa (liberdade).
35
9
O direito romano é aquele manifestado desde 450 a.C. até ser reconhecido pelas
autoridades bizantinas que o chamaram de Corpus Juris Civili (O corpo do direito civil),
para diferenciá-lo do Corpus Juris Canoici (O corpo do direito canônico).
36
12
Dasein: A realidade primária na qual o ser se capta com seu sentido original
transcendente e imanente - sou eu mesmo; o ponto no qual o homem e o ser se entendem
como interfaz (como borda/à borda).
41
de ser. Sem dúvida, o Dasein está não só onticamente perto – não só o mais
perto– senão que inclusive o somos em cada caso nós mesmos. Não obstante, ou
precisamente por isto, o Dasein é ontologicamente o mais longe. Certamente, em
seu modo mais próprio de ser lhe é inerente ter uma compreensão deste ser e
mover-se em todo momento num certo estágio interpretativo [...] a respeito de seu
ser (Heidegger, 1927, p. 39).
Toda a classificação implica uma ordem hierárquica da qual nem o mundo sensível
nem nossa consciência oferecem o modelo. Deve-se, pois, perguntar onde fomos
procurá-lo (DURKHEIM e MAUSS, [1903] 1995, p.403).
[...] O método que adotamos consiste nas seguintes operações: [...] definir o
fenômeno estudado como uma relação entre dois ou mais termos, reais ou
supostos; [...] construir uma tabela de possíveis permutações entre esses termos;
[...] tomar essa tabela como um objeto geral de análise que, somente nesse nível,
pode produzir conexões necessárias, sendo os fenômenos empíricos considerados,
inicialmente, apenas uma combinação possível entre muitas outras, e cujo sistema
completo deverá ser reconstruído antes (LÉVI-STRAUSS, 1963a, p. 16).
14
Manifestação de Taita Lorenzo Muelas na plenária da quinta comissão (Desenvolvimento
e Meio Ambiente) da Assembleia Nacional Constituinte da Colômbia, em 1991.
44
A dominação de uma contradição sobre as outras não pode ser, de fato, para o
marxismo, o resultado de uma distribuição contingente de contradições diferentes
em um conjunto considerado como objeto. Não se “encontra”, em todo esse
complexo “que implica uma série de contradições”, uma contradição que domina as
outras, como na tribuna de um estádio o espectador que ultrapassa os outros por
uma cabeça. A dominação não é um simples fato indiferente, é um fato essencial à
complexidade mesma (ALTHUSSER, 1965, pp. 166,167).
É claro, que para estas cidades o poder simbólico já era uma forma
transformada, quer dizer, irreconhecível, transfigurada e legitimada de todas
as outras formas de poder e que se manifestava no espaço público
conseguindo traduzir essa verdadeira “vocação do lugar”.
15
Poder/Borda/Poder: Se refere a um processo da consciência individual que se transforma
em consciência coletiva, que se transforma em consciência cósmica, que se transforma em
consciência quântica; e é, também, a potencialidade de (poder) ser-estar-dentro-fora-
51
O trabalho de tradução é o procedimento que nos resta para dar sentido ao mundo
depois dele haver perdido, tanto o sentido como o direcionamento “automáticos”
que a modernidade pretendeu conferir-lhes ao planejar a história, a sociedade e a
natureza (BOAVENTURA de Sousa, 2008, p. 134).
Uma primeira aproximação política à noção das bordas nos diz que
elas são formas tipicamente urbanas, próprias do fenômeno histórico
urbano ligado ao exercício do poder, entendido sob a lógica da dominação
entre os seres humanos, que vão desde a segregação residencial até
aglomerações urbanas metropolitanas de determinados fenômenos, e,
geralmente, estão associadas à concentração espacial de oportunidades
que só as cidades contemporâneas podem oferecer.
55
16
O termo anglo-saxão Ghetto (entendido como bairro de imigrantes pobres) evoluiu, desde
o século XVII – XIX, do conceito em espanhol Gueto (entendido como segregação
espacial), e apareceu em 1984 no Dicionário da Língua Espanhola da Real Academia,
embora entendido como Gueto Judeu Romano e, somente a partir de 1992, foi
acrescentada a noção moderna do mesmo. Por outro lado, o primeiro Guetto conhecido na
história surgiu na Veneza do século XV, com os judeus que eram proibidos de adquirir
terras, e ainda que pudessem trabalhar de dia, à noite deviam regressar e não podiam sair.
56
A ideia de participação que nos interessa para efeitos desta tese é aquela
que tem duas bases que se complementam: uma base sensorial afetiva e
outra estratégica. O primeiro fundamento da verdadeira participação
consiste em querer participar pelo prazer de fazer as coisas com as
pessoas. O segundo fundamento consiste em participar porque é
conveniente fazê-lo, para alcançar o que não podemos ou não queremos
fazer sós.
17
Entrevista de Santos Boaventura de Sousa na Universidade Nacional da Colômbia, em
março de 2003.
59
quais vive o homem], e não porque a um filósofo lhe ocorre uma filosofia “maior”
[...] e é claro, que trabalhando de maneira prática por fazer história, se faz também
filosofia [...] Entre a abstração remota e a história da filosofia, concebida como uma
só filosofia, e que levará à identificação (ainda quando especulativa) entre história e
filosofia, do fazer e do pensar, até o proletariado alemão como um único herdeiro
da filosofia clássica alemã (GRAMSCI, OP: 1971 pp. 243, 251).
Edward William Soja (n. 1940, Bronx NYC), se refere a elas como as
primeiras cidades (cidades-Estado); produtos da segunda Revolução
Urbana na história da humanidade, onde o exercício de poder, que estrutura
o território integrando-o, mescla elementos de controle da sociedade civil
aos primitivos elementos simbólicos.
Havia ao menos uma praça pública que pode ter servido como mercado, e uma
grande quantidade de pequenos pátios, que provavelmente eram usados como
fossas de lixo. Havia também muitos santuários, aproximadamente um em cada
quatro casas, mas não havia sinais da existência de um centro ou templo religioso
dominante. [...] A natureza não existe somente fora da cidade de Catal Hüyük, mas
também está incorporada em sua cultura territorial e em sua zona simbólica como
um elemento fundamental da economia e da sociedade locais, indicando o início da
produção social de uma “segunda natureza” intricadamente implicada no processo
de urbanização (SOJA, 2008, pp.73-90).
18
A prolepse é uma das características da razão ocidental que faz com que nós
acreditemos que os acontecimentos da realidade vão sempre para diante e que as coisas
do passado (no tempo visto como linear) são sempre atrasadas com respeito ao atual, que
deve ser então o “moderno”.
64
Nada de novo sob o sol, mas, infelizmente, para nós urbanistas, algo
ainda desconectado de nossa compreensão da realidade contemporânea. A
fragmentação urbana já havia sido estudada amplamente, desde finais do
século XIX até meados do século XX, por Fogelson (1967). Mas ela não foi
percebida até que entendêssemos o que Mandelbrot (1977) queria dizer
sobre o antigo princípio de autossemelhança – que havia morrido com a
modernidade e o reducionismo filosófico e que renasce, séculos depois, em
virtude do entendimento das escalas de complexidade da realidade.
1.4._Aqueles da Borda.
O escritor Alfons Cervera (n. Valencia, 1947) nos ensina que há outras
formas de mudar o mundo, se deixarmos de lutar “contra o amor e outras
formas de poder” (Cervera, 2002) e passarmos a tentar “mudar o mundo
sem tomar o poder”, de acordo com Holloway (2002). Ambos concordam,
em arenas de luta distintas, que o poder não é algo que se pode “tomar”,
pois não pertence a alguém ou a uma instituição.
Como diz o jurista Hugo Nigro Mazzilli (n. São Paulo, 1950), a
comunicação configura esta interfaz funcional entre os interesses públicos e
privados, que ele chama “difusos”, dentre os quais surgem os interesses
transindividuais como um terceiro nível de entendimento do “Eu” gerado
pela identidade como poder alternativo (Mazzilli, 2006).
Morava na Rua Cupertino Durão (no Leblon), que era a saída da Praia do Pinto,
uma favela eminentemente negra. A rua dava acesso à praia e ao bonde
(transporte coletivo). As pessoas que moravam ali prestavam serviços nas casas e
no comércio do bairro [...] Esta população tinha consciência de que morava em um
lugar proibido e que poderia ser removida a qualquer momento [...] considerados
delinquentes [...] uma herança escravista, em que a postura da polícia era
essencialmente repressiva. Era proibida, por Lei, a entrada de materiais de
construção porque as remoções já estavam previstas (PETERSEN, 2003, pp. 9,
10).
19
Destino aqui se confunde com a ideia de projeto de vida. Observa-se na
contemporaneidade o renascer da antiga ideia grega do destino como uma força acima do
poder dos deuses, portanto inalcançável para os humanos mortais.
76
20
Segundo o jornalista Montezuma Cruz, a Brasnorte nasceu de um projeto da velha
Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), em 1967, beneficiando as
Casas Anglo Brasileiras, de São Paulo. Disponível em:
<http://pib.socioambiental.org/pt/noticias?id=63585&id_pov=172> (Aceso em: 11/11/2011).
77
por estar vivendo em terras que interessam aos grandes senhores que
financiam grupos de extermínio e, finalmente, por simplesmente estar no
meio de um conflito armado entre guerrilha, exército, paramilitares e outros
grupos não claramente identificados, mas, com certeza, ligados ao
narcotráfico.
Ao mesmo tempo em que essa nova ideia de olhar com outros olhos
a adversidade vem se afirmando, nós continuamos amontoando e
marginalizando pessoas em lugares invisíveis aos olhos do cidadão (que
também nunca os frequenta); os “lugares-nenhum latino-americanos”, os
resíduos ocultos que são produtos de obras de infraestrutura obsoletas ou
mal projetadas que geram sobreposições espaciais, os chamados
“interstìcios” entre edificações e estruturas de diferentes épocas; espaços
nunca solucionados, muitos deles considerados “vazios” urbanos
contemporâneos.
80
21
O conceito foi retomado por Borja, em Medelin (Colômbia) , ao se
21
Memórias
do foro: O
direito
à
cidade
de
hoje, Jordi
Borja, Conselho
de
Medelin,
outubro de 2009.
22
Lembrando o poema “JOSÉ” de Carlos Drummond de Andrade, (1942). Veja também:
(ousa) a cantiga do Ladrão de Marabaixo “Aonde tu vai rapaz”.
82
Se “a cidade sou eu”, de acordo com a tese defendida por Araujo em 2007,
então, também não podem existir “vazios urbanos” como problemática.
Quer dizer, as manifestações problemáticas deste fenômeno seriam
eventos modificáveis e, assim, a pergunta imediata seria: quais as
possibilidades para a sua reconfiguração?
23
A mente humana, tal como a mente urbana são estruturas fractais de pensamento que
imitam a natureza na maneira como pretendem modificar os eventos conflitivos. Isto pode
ser constatado quando, sob condições e em situações similares (mas diferentes), repetimos
as mesmas estratégias. Isto se deve a que a mente humana emula inconscientemente,
mediante sua “subjetividade”, a “objetividade” da natureza.
84
1.6._Borda à Borda.
90
No momento em que alcancei meu objetivo atingi aos limites mais extremos para
mim do cientificamente projetado, ao transcendente, à essência do arquétipo em
si, para além do qual já não é possível expressar mais nada no aspecto científico
[...]
Si-Mesmo como Eu de nosso ser total, que fazia parte (ainda que sem
sabê-lo) do Eu.
Talvez o nosso propósito não seja estudar a borda como algo “fora” de nós, mas
estudar a nós mesmos como borda. Os conceitos necessários, nós precisamos
vivê-los nós mesmos. No entanto, essa aprendizagem não vamos ser “nós
mesmos”, mas apenas uma explicação “dos outros” em “nós” (SIERRA-MORALES,
1933, p.36).
Por outro lado, a ipseidade é também o núcleo que funciona como interfase
entre ambos os polos (em si e para si), como a unidade de uma vida na
história.
Como atestar isto sem tê-lo vivido? Podemos fazê-lo através dos
sentimentos que nos sustentam em uma vivência mais parecida à verdade
do que o aparentemente “real”. Em momentos especiais de elevação
sensorial afetiva, quer dizer, em situações extraordinárias à borda, aflora
uma iluminação, um instante de consciência, como uma ilha; uma
compreensão inesperada que quebra a situação média da existência
inconsciente, um verdadeiro “insight” ou esclarecimento.
Nesta tese, acreditamos, assim como Jung, que existe uma unidade
da realidade psicológica e física, só que em diferentes manifestações. Daí o
interesse em relacionar – ao final – as ideias de borda com as teorias
junguianas dos arquétipos na categorização dos projetos de borda.
Adler (1948), por seu lado, afirma que o foco do crescimento, que se
concentra nas primeiras etapas da vida de uma pessoa na dimensão
interpessoal, se desloca no sentido de estabelecer uma relação consciente
com os elementos coletivos do meio intrapsíquico. Os problemas que
demandam atenção passam, então, a ser culturais e espirituais. Quando
ocorre um processo contrário a este, o modelo da psicologia adleriana
concebe como doença mental toda a expressão extrema de egocentrismo
do sujeito contra os interesses da ação social cooperativa.
Dado que o que fazemos afeta (positiva ou negativamente) outras pessoas, e que o
maior poder da tecnologia afeta muito mais pessoas que antes, o significado ético
de nossas ações alcança uma dimensão sem precedentes. No entanto, as
ferramentas morais com que contamos para absorvê-la (a tecnologia) e controlá-la
continuam as mesmas [...] (BAUMAM, 1993, p. 248).
25
Impunidade: Em um sentido positivo, o termo impune se refere ao que escapa da norma
urbanística e arquitetônica estabelecida como paradigma de uma sociedade hierárquica,
considerada falsamente como moderna, mas realmente enferma.
106
26
Disponível em: <http://www.justitia.com.br/links/artigos2.php> (Acesso em: 01/01/2012).
109
1.7._Tecido de Borda.
(redes). Tal ideia nos permite entender, através da topologia do limite (borda
/ à borda), que dado qualquer mapa geográfico com regiões contínuas
podemos identificá-lo de modo que todas as regiões sejam adjacentes,
compartilhando não só um ponto, senão todo um segmento de borda em
comum em todas as regiões possíveis. A grande contribuição de Baran
(1961), considerado por alguns como o verdadeiro precursor da internet,
consistiu em imaginar uma rede plural sem uma instância central que
controle tudo.
Mais à frente, no capítulo que trata desta questão (sem a qual não
poderíamos exercer nosso papel de urbanistas e até de planejadores),
vamos falar sobre as redes sociais e tecnológicas como elementos de
reconfiguração dos espaços de poder em meio à fragmentação e
segregação contemporâneas.
O universo é [...] uno, infinito e imóvel [...] Não se move com um movimento local
porque não há nada fora dele aonde ir, já que ele é tudo. Não gera a si mesmo,
posto que não há nenhuma outra coisa que possa desejar ou buscar, já que ele
contém todos os seres. Não é corruptível, posto que não existe nada fora dele no
que possa transformar-se, já que ele é todas as coisas (BRUNO [1584], citado por
PRIGOGINE e STENGERS, 1988, p.41).
[...] tratando o inconsciente como um sistema acentrado, quer dizer, como uma
rede maquínica de autômatos finitos (rizomas), [...] a possibilidade de uma
“organização acentrada de uma sociedade de palavras”. [...] o fundamental não é
reduzir o inconsciente nem interpretá-lo ou fazê-lo significar segundo uma árvore. O
fundamental é produzir inconsciente e, com ele, novos enunciados, outros desejos:
o rizoma é precisamente essa produção de inconsciente (DELEUZE e GUATTARI,
1980, pp. 22,23).
Por outra parte, poiese [ποιέω] é uma palavra grega, segundo Platão
(380 a.C) 27, que significa criação ou produção. Então, autopoiese quer dizer
autocriação ou autoprodução, muito semelhante à autonomia que apregoa o
filósofo Cornelius Castoriadis (Istambul, 1922- Paris, 1997). A palavra surgiu
pela primeira vez na literatura internacional, em 1974, em um artigo
publicado por Francisco Varela e Humberto Maturana, entre outros, para
definir os seres vivos como sistemas que se produzem continuamente a si
mesmos.
Embora seja verdade que “a cidade não é uma árvore”, pelo menos
ela se comporta como uma estrutura rizomática, como uma floresta de
bambus que se autoproduz por meio de estruturas, algumas visíveis, outras
ocultas, subterrâneas; sujeita a condições de probabilidade emergente
(crescimento, evolução, adaptação, economias de escala e competitividade)
e que precisa ser concebida em termos contemporâneos como uma urbe
em um orbe e vice-versa, simultaneamente.
27
O que torna tudo o que nós consideramos não-ser como ser, segundo Platão em:
“Sympósion” [Συμπόσιον], [380 a.C]. (Trad. Mario Meunier), Le banquet: ou, de l'amour,
nouvelle éd. Payot, Paris, 1920.
122
sistema maior e mais complexo. Em linhas mais gerais, essas duas são
denominações para estruturas de conjuntos (ALEXANDER, 1965, p. 1-b).
28
Porfírio, filósofo neoplatônico (Tiro, 234 – Roma, c. 305), delineou e descreveu em seu
estudo sobre as categorias de Plotino (primeiro comentário neoplatônico à obra de
Aristóteles) um método para definir as coisas, que consiste em dividir cada ideia em
questão em duas ideias subordinadas ou inferiores e a cada uma destas em outras duas e
assim sucessivamente.
123
[...] lugares reais, lugares efetivos, lugares que estão inscritos na instituição mesma
da sociedade, que são espécies de contra-espaços; espécies de utopias
efetivamente realizadas em outros lugares. [São] todos os outros espaços reais que
podem ser encontrados no interior da cultura que são ao mesmo tempo
representados, contestados e invertidos, [...] espécies de lugares que estão fora de
todos os lugares, ainda que sejam lugares efetivamente localizáveis (FOUCAULT,
1984, p. 3).
[...] A revolução, desde que adotou o caráter socialista, deixou de ser sanguinária e
cruel. O povo não é de todo cruel, as classes privilegiadas é que o são. Às vezes,
se levanta furioso por todos os enganos, todas as humilhações, todas as opressões
e torturas de que é vítima. Então, se lança como um touro enraivecido, não vendo
nada diante de si e carregando tudo na sua passagem. Mas são momentos muito
raros e muito curtos. Normalmente, o povo é bom e humano. Sofre demasiado ele
mesmo para não se apiedar dos sofrimentos alheios. [...] Não é, pois, no povo, mas
nos instintos, nas paixões e nas instituições políticas e religiosas das classes
privilegiadas, na Igreja e no Estado, em suas leis e na crueldade e iniquidade das
mesmas, que se deve buscar a crueldade e o furor frio, concentrado e
sistematicamente organizado (BAKUNIN, 1873, p. 345).
29
Segundo Kropotkin, a diferença entre “anarquistas” e “anarcossindicalistas” é que os
primeiros podem ser antissindicalistas, individualistas, terroristas, etc. enquanto que os
segundos, sem ser forçosamente anarquistas, defendem um sindicalismo de luta de classe
e anticapitalista, capaz de administrar toda a sociedade, sobre uma base federalista.
127
Somos ricos, muito mais ricos do que pensamos. Somos pelo que já temos; e ainda
mais pelo que podemos conseguir com os instrumentos atuais; somos infinitamente
mais ricos pelo que potencialmente podemos obter de nosso solo, e pelo que nossa
ciência e nossas técnicas nos poderiam dar, se estivessem voltadas ao bem-estar
de todos. [...] Por que, então, esta miséria que nos rodeia? Por que esse trabalho
penoso e embrutecedor das massas? Por que essa insegurança frente ao amanhã
até para o trabalhador mais bem remunerado, diante das riquezas herdadas do
passado e apesar dos poderosos meios de produção que poderiam dar a todos o
bem-estar em troca de algumas horas de trabalho diário? (KROPOTKIN, 1892, pp.
22, 23).
Se a cidade sou “eu” e “eu” sou quem sou, então, “eu posso” porque
“quero” produzir a mim enquanto ser autopoiético (cidadão neguentrópico).
Isto em função das “fronteiras vivas” que me integram e que são resultados
de minha própria organização autopoiética (cidade neguentrópica). Haveria,
então, uma inseparabilidade entre sistemas em virtude de suas bordas,
reconhecendo o tecido de borda como constitutivo da realidade.
30
Disponível em:
<http://aizquier.uniandes.edu.co/Documentos/Ciudad_probabilidad_emergente.pdf>
(Acesso em: 12/01/2008).
131
[...] os seres humanos viveremos entre árvores de 500 anos e jardins bem
cuidados, embora próximos de alguma zona urbana de incrível avanço tecnológico.
Os meios de sobrevivência, alimentos, roupas e transporte serão totalmente
automáticos e se acharão à disposição de todos. Nossas necessidades estarão
totalmente satisfeitas: não circulará nenhum tipo de moeda, sem que isso implique
preguiça ou indulgência excessiva. [...] cada pessoa guiada por suas intuições,
saberá com precisão o que fazer e quando, e isto se completará de forma
harmônica com as ações dos demais. Ninguém consumirá muito, porque teremos
nos liberado da necessidade de possuir e controlar para ter segurança (REDFIELD,
1993, p. 247).
Se existisse tal maravilha, deveria ser antes de tudo uma cidade libertadora
e, nesse sentido, deveria nos permitir compreender que não se trata de
aprender a repetir modelos cidadãos, mas de exercer a cidadania; que a
cidade deveria ser palco do processo revolucionário como uma ação cultural
dialogada conjuntamente com o acesso ao poder em um esforço sério e
profundo de conscientização; e que a ciência e a tecnologia, em uma
sociedade revolucionária contemporânea, devem estar a serviço da
humanização do homem.
31
Advento: [Lat. Adventus]. Chegada, início e vinda simultâneos daquilo que «emergir».
32
Áudiolivro da conferência realizada em 1989 intitulada: Uma análise de nossos conceitos
sobre a natureza da realidade, resultado por sua vez da meditação do texto: “Corpos sem
idade, mentes sem tempo”; também intitulado “Corpo eterno; Mente intemporal”.
33
Pesquisando Albert Einstein: Ocorrência # 18 encontrada de 4846 frases. Disponível em:
<http://www.ponteiro.com.br/vf.php?p4=6060>
137
34
AMARAL, Luiz Otavio de Oliveira. “Teoria Geral do Direito”, Ed. Saraiva, São Paulo,
2010.
140
[...] Constatemos antes de tudo que os chamados direitos do homem, “les droits de
l‟ homme”, ao contrário dos direitos do cidadão, nada mais são do que os direitos
do membro da sociedade burguesa, quer dizer, do homem egoísta, do homem
separado do homem e da comunidade. [...] O direito humano à propriedade privada
é, pois, o direito a desfrutar de seu patrimônio e a dispor dele arbitrariamente (a seu
gosto) sem levar em consideração outros homens, independente da sociedade, o
direito do interesse próprio. Aquela liberdade individual, assim como a aplicação da
mesma, constituem o fundamento da sociedade burguesa, que faz com que todo
homem encontre em outros homens não a realização, senão que a limitação de sua
liberdade. [...] A emancipação política é a redução do homem, de um lado, a
membro da sociedade burguesa, a indivíduo egoísta independente e, de outro, a
cidadão do Estado, pessoa moral (BAUER e MARX, 1844, pp. 147, 148, 155).
1.8._Conclusão Capítulo I.
É possível entender que talvez não devamos dar tanta importância à cidade
e aos fenômenos urbanos em si mesmos. Quer dizer, assim como
poderíamos concordar com qualquer filósofo existencialista que não somos
tão especiais como acreditamos e que tanto nosso mundo como nossas
circunstâncias são apenas o invólucro que nos contêm e nos molda; da
mesma maneira, cidade e urbanismo são constituídos por suas bordas,
falsamente delimitadas, e sua análise vai depender da nossa consciência e
capacidade em reconhecer e superar tais limites.
35
Cabotagem: saber navegar “à borda”, vivendo nas áreas de transição paradigmática.
144
36
Mauricio Sierra-Morales, “Reconfigurar a cidade contemporânea a partir da
borda/interfaz”, Projeto de investigação FAA – UNIPILOTO, 2009. Ver também a proposta
de pesquisa “Novas categorias projetuais na ambitetura e no ecourbanismo
contemporâneos”, FAU-UGG, 2011.
145
37
Os cantos tehuelches foram gravados em Chubut e Santa Cruz, Patagônia, Argentina,
entre 1964 e 1979, frutos de pesquisa sobre a região (áudio), de Raúl Mario Silva.
Posteriormente, foram compilados por Oscar Giménez (2000) e transformados em conto
infantil por Ana María Pavez e Constança Recart.
147
38
Limiares: vistos como o estímulo mínimo necessário para propiciar situações construídas
pelos habitantes da borda à borda, a fim de incrementar a capacidade (a nossa e a deles)
de apaixonamento por esses “outros lugares” de onde “anormalmente” nos deslocamos e
que agora, juntos (eles e nós), habitaríamos conscientemente.
149
39
UNHABITAT (Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos),
Secretariado do Fórum Urbano Mundial, "O Direito à Cidade: Unindo o Urbano Dividido", A
Quinta Sessão do Fórum Urbano Mundial (Documento de Fundo), Rio de Janeiro, 2010.
150
40
Impunidade: No sentido negativo, o impune, ligado à ideia de corrupção, é especialmente
comum em condicões e situações que carecem do domínio da lei, nas quais predomina a
politicagem e onde há sistemas de clientelismo político arraigados. Contribui para a
impunidade a presença de um poder judicial débil ou de forças de segurança protegidas por
jurisdições especiais ou imunidades.
152
41
Entrevista UNDESA, New York. Disponível em:
<http://habitat.aq.upm.es/boletin/rbib_12.html> (Acesso em: 26/03/2010).
153
Mais tarde, quando não houver mais a divisão humana, essas redes
de cidades poderão se articular com os governos centrais e, juntamente
com eles, trabalhar para alcançar um arranjo diferente e poderoso dos
vários níveis de governo, podendo inclusive extinguir a divisão urbana.
42
Atribui-se a Marx os “Manuscritos econômico-filosóficos” de 1844, também chamados
“Os escritos de Paris”, publicados postumamente, em 1932.
155
[...] a análise desenvolvida [...] envolve uma dupla escavação arqueológica: escavar
no lixo cultural produzido pelo cânone da modernidade ocidental para descobrir as
tradições e alternativas que dele foram expulsas; escavar no colonialismo e no
neocolonialismo para descobrir nos escombros das relações dominantes entre a
cultura ocidental e as outras culturas outras relações possíveis mais recíprocas e
igualitárias. [...] identificar nesses resíduos e nessas ruínas fragmentos
epistemológicos, culturais, sociais e políticos que nos ajudem a reinventar a
emancipação social (BOAVENTURA de Sousa, 2001, p. 16).
43
Os Cadernos do cárcere são um conjunto de 29 cadernos de tipo escolar escritos
por Antonio Gramsci no período em que esteve prisioneiro na Itália, entre 1926 e 1937. Na
verdade, os Cadernos começaram a ser redigidos em fevereiro de 1929, no cárcere de
Turi, nas imediações de Bari, pouco depois de Gramsci ter obtido autorização para estudar
e escrever.
157
44
Paradoxalmente, os intelectuais da época antiburguesa de Marx foram os primeiros
representantes de um grupo que possui muitas das características culturais e políticas de
uma classe de elite, no sentido de pessoas envolvidas profissionalmente na produção,
distribuição, interpretação, crítica e inculcação de valores culturais. A intelligentsia se
tornou, no nosso tempo, uma intelectualidade de massa responsável, por exemplo, pelo
voto de opinião nas metrópoles contemporâneas.
159
45
Apreciação pessoal do que disse Harvey em “O enigma do capital e as crises do
capitalismo”, conferência pronunciada em 28 de fevereiro de 2012, no Laboratório de
Habitação e Assentamentos Humanos da FAU (LabHab), Pós-Graduação FAU/USP, Rio de
Janeiro.
162
46
Sinecismo (do grego synoikismós), coabitação. Fusão, por motivos defensivos, de
pequenas comunidades numa maior que totalmente as substitui; processo que
na Grécia antiga levou à formação da pólis. Definição disponível em:
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Sinecismo>
164
Na verdade, Heidegger [para Sloterdijk] está revelando [...] o humanismo (em sua
forma antiga, cristã ou iluminista) [...] como agente de um não- pensar bimilenar
[por] ter impedido – com suas apressadas interpretações, aparentemente óbvias e
irrefutáveis da essência humana – que viesse à luz a verdadeira questão da
essência do homem (SLOTERDIJK, 1999, p. 42).
47
Notas sobre o discurso do professor Francisco Sierra no curso de doutorado em
Urbanismo FAU/UVC – “Filosofia das Ciências”, em CINDU/UNAL Bogotá, 2007b.
48
O Círculo de Viena (Wiener Kreis), criado pelo dr. Johan Craidoff e pelo filósofo Moritz
Schlick (Berlim, 1882 – Viena, 1936), em 1922, dissolveu-se em 1936 devido à ameaça do
nazismo. Em seu manifesto programático, um opúsculo intitulado “A visão cientìfica do
mundo” (1929), descreveram sua busca por uma linguagem comum a todas as ciências.
165
Para romper com essa relação emocional com a cidade que estuda,
o urbanista supõe que, ao ignorar deliberadamente a familiaridade dos
lugares, o seu etnocentrismo correspondente desaparece. Nada mais longe
da realidade, infelizmente. O simbolismo multiculturalista se traduz em uma
busca da representação do objeto de estudo e seu consequente
“espetáculo” sacrifica a possibilidade de recriar (sob certas condições) as
situações que dão sentido a sua existência.
174
49
É por isto que urbanistas e “situacionistas” nunca olham a cidade
da mesma margem. Por que se envolver afetivamente com o objeto de
estudo, se podemos apreciar melhor a cidade desde as suas bordas?
49
Situacionismo: doutrina inexistente (MIBI) de interpretação dos fatos existentes criados a
partir de situações. Um situacionista jamais aceitaria a existência do situacionismo, nem
que o chamassem “situacionista”.
175
Uma ação transeunte (que passa para o outro lado), como a ação
externa (lat.: actio) por meio da qual o indivíduo age sobre os demais seres
(humanos ou não) procurando a satisfação de seus desejos e
necessidades.
Outra ação imanente (que está dentro); a ação interior (lat.: operatio)
através da qual o indivíduo se autodetermina e autorreferencia desdobrando
179
50
O individualismo significa enfatizar e conferir importância, deliberadamente, a uma
suposta singularidade mais que a considerações e obrigações coletivas. A individuação se
refere a um processo de desenvolvimento psicológico que realiza as qualidades individuais
dadas e desenvolve a capacidade de escolha entre os seres humanos.
180
51
Tanto a objetividade alienante do sujeito absoluto , representada,
neste caso, no realismo crítico de Boaventura de Sousa, quanto no
52 53
exercício de valoração antropocêntrica dos sujeitos relativo e reflexivo ,
presentes no estruturalismo crítico de Pesci, exigem então um terceiro
processo subjetivizante para poder configurar os mapas da transição
paradigmática.
51
O sujeito absoluto se considera a si mesmo como arquétipo independente de sua relação
com o objeto.
52
O sujeito relativo se vê afetado pelo objeto, na sua relação com este.
53
O sujeito reflexivo afeta ao objeto através de seu conhecimento e organização da
realidade.
184
54
Este primeiro grau da ação de conhecimento se limita à descrição fragmentária do
percebido na realidade socialmente construída. Estes fragmentos são chamados dados
porque são obtidos pelos sujeitos que conhecem. São dados no sentido de que esta
obtenção tem certo caráter de recepção, de se deixar impressionar pela experiência, não
no sentido de algo dado, fixo, disponível, neutro que qualquer observador poderá obter de
um modo invariável. Socialmente construída, a realidade é percebida a partir das
representações sociais que nos habitam diferentemente, conforme a maior ou menor
distância crítica entre as representações sociais e nosso modo de pensar.
185
56 57
racional e responsável , que operam numa sequência (mas não numa
ordem cronologicamente estabelecida tipo antes, agora, depois) já que,
ontem como hoje, grande parte da humanidade manifesta uma forma de
consciência não diferenciada que permite a coexistência entre camadas da
população, evitando assim a proliferação do racismo.
55
O sujeito constrói conceitos novos sobre o que experimentou, a partir dos conhecimentos
disponíveis no seu entorno. Estes lhe permitem uma primeira organização compreensível
dos elementos percebidos no primeiro nível de consciência.
56
O sujeito que entendeu, agora formula juízos sobre a verdade ou falsidade, certeza ou
incerteza, bondade ou maldade, conveniência ou inconveniência da realidade
compreendida através dos conceitos formulados. Esta atividade valorativa se refere a
marcos de avaliação que também são anteriores e que fazem parte do repertório social
disponível.
57
Este é o grau de maior implicação que o sujeito pode alcançar com a realidade. Ele se
posiciona ante o que experimentou, entendeu e avaliou e revê a sua maneira de ajuizar e
atuar.
186
58
Internacional Situacionista (1957-1972): movimento político e artístico cuja colocação
central é a criação de situações. No situacionismo convergiram proposições do marxismo e
187
59
Só há uma coisa pior para a humanidade do que um pensamento único que não
reconhece a diversidade do pensamento alternativo, é o contrapensamento único que se
esquece de que além dos modos de rebelião, (tantos quanto existem pessoas no planeta),
também não temos que desobedecer obrigatoriamente ou porque está na "moda".
190
Aqui mais uma vez deve-se entender: assim como a inteligência do tempo [...] se
complica mais pela superabundância de acontecimentos do presente [...] do
mesmo modo, a inteligência do espaço é subvertida menos pelos transtornos em
curso [...] do que a complica a superabundância espacial do presente. [...] Esta
concepção do espaço se expressa [...] nos câmbios de escala, na multiplicação das
referências imaginadas e imaginárias e na espetacular aceleração dos meios de
transporte [o qual] leva concretamente a modificações físicas consideráveis:
concentrações urbanas, movimentos de populações e multiplicação do que
chamarìamos os “não lugares”, por oposição ao conceito sociológico de lugar,
associado por Mauss [e por Durkheim, 1903], e toda uma tradição etnológica à
cultura localizada no tempo e no espaço (AUGÉ, 1997, pp. 40,41).
Embora seja verdade que o tempo não para, a cada dia sua manifestação é
mais débil por causa da contração que ocorre como resultado da
substituição do mundo considerado “razoável” em relação ao mundo real.
Isto cria a sensação de que o tempo se detém e o espaço se contrai,
192
Como até esta parte da leitura, o leitor ainda não deve estar (para
dizê-lo de forma sutil) razoavelmente acostumado a estes enunciados,
prefiro continuar a reflexão sobre os resultados do pensamento global
dominante nas bordas, mais adiante, no capítulo sobre A problemática da
borda, que propõe uma reconfiguração dos espaços de poder desde/ e nas
bordas.
Mais adiante e para efeitos desta tese de borda, vamos nos referir
melhor à ideia de sustentabilidade já que sua natureza vem da relação
fundamental natureza/sociedade e contém ou subsume o termo
sustentação, cuja natureza provém da relação adicional capital/sociedade.
A evidência indica que estamos longe (para não dizer muito longe)
desta realidade, assim como a sociedade considerada hoje “subalterna” se
encontra muito longe de transformar o mundo sem tomar o poder.
Exatamente porque a natureza do poder subordinado já não funciona neste
mundo glocalizado, no qual as bordas são cada vez mais difusas e a
consciência de classe praticamente ficou sem base cultural.
Toda sociedade humana engendra a sua noosfera, esfera das coisas da mente,
dos saberes, crenças, mitos, lendas, ideias, em que os seres nascidos da mente,
gênios, deuses, ideias-força, ganharam vida a partir da crença e da fé. [...], meio
condutor e mensageiro da mente humana, nos comunica com o mundo ao mesmo
tempo em que forma uma tela entre nós e o mundo. Abre a cultura ao mundo, ao
mesmo tempo em que a encerra em sua grande nuvem. Extremamente diversa de
uma sociedade para outra, envolve todas as sociedades. [...] é um desdobramento
transformador e transfigurador do real que se sobrepõe ao real, parece confundir-
se com ele. [...] envolve os humanos, enquanto faz parte deles. Sem ela não
poderia realizar-se nada do que é humano. Embora dependa das mentes humanas
e de uma cultura, surge de forma autônoma, em e por esta dependência (MORIN,
2003, p. 50).
198
energias vitais. A ânsia por esse poder vital leva os fracos e inseguros a
querer roubar a energia alheia para se sentir “bem”.
61
“Os espaços do capitalismo global”, conferência do geógrafo David Harvey na Faculdade
de Filosofia e Letras da Universidade de Buenos Aires, em 20 de dezembro de 2006. Veja-
se também: “O enigma do capital e as crises do capitalismo”, conferência de Harvey em 28
de fevereiro de 2012 no Laboratório de Habitação e Assentamentos Humanos da FAU
(LabHab), pós-graduação, FAU/USP, Rio de Janeiro.
205
Sabemos hoje que um mesmo sistema pode, à medida que cresce a sua distância
do equilíbrio, atravessar múltiplas zonas de instabilidade [...] onde seu
comportamento se transformará qualitativamente [assim como] alcançará um
regime caótico no qual sua atividade pode se definir como o contrário da desordem
indiferente que reina no equilíbrio. [Nessa condição-situação] todos os “possìveis”
se atualizam, coexistem e interferem [e] o sistema é “ao mesmo tempo” tudo o que
pode ser (PRIGOGINE & STENGERS, 1988, p. 69).
Não como uma nova totalidade, mas como uma proposta de tecer e
consolidar redes sociais aproveitando, por um lado, os recursos da
tecnologia contemporânea e, por outro, a propensão dos sistemas
estruturados estáveis de manifestar descontinuidade e, assim, favorecer a
reconfiguração urbana desde e nas bordas.
As redes sociais não são uma invenção “nova” nem sequer uma
invenção “moderna” em termos contemporâneos. Não estamos nos
referindo nesta tese às redes digitais de um clube seleto de pessoas.
Tampouco são estruturas que duram para sempre ou que podem crescer
indefinidamente. Elas são apenas um instrumento de mudança que só
funciona quando elas existem, sempre a partir de outra rede social.
Um platô está sempre no meio, nem início nem fim. Um rizoma é feito de platôs.
Gregory Bateson serve-se da palavra “platô” para designar algo muito especial:
uma região contínua de intensidades, vibrando sobre ela mesma, e que se
desenvolve evitando toda orientação sobre um ponto culminante ou em direção a
uma finalidade exterior. [...] Chamamos “platô” toda multiplicidade conectável com
outras hastes subterrâneas superficiais de maneira a formar e estender um rizoma.
(DELEUZE e GUATTARI, 1980, p. 44)
Isto quer dizer que, sob as mesmas leis do capitalismo, ou melhor, apesar
do capitalismo ser um sistema de produção submetido a um sistema de
dominação que tende à globalização e capaz de reduzir tudo (incluindo os
humanos) a uma simples transação do mercado de capitais, sempre
encontra maneiras alternativas que parecem às vezes contratendências ao
próprio sistema.
Nesse sentido, cabe esclarecer que não há riscos globais nem locais,
senão que o risco é glocalizado. Existem, sim, ameaças e oportunidades
globais que, junto com as vulnerabilidades e capacidades locais configuram
o cenário de risco. No entanto, por não entender isto, as agências oficiais
responsáveis pelo assunto insistem numa gestão equivocada, orientando as
estratégias para o global ou o local de uma maneira desarticulada.
62
O Fórum Econômico Mundial (World Economic Forum, WEF) é uma fundação
supostamente sem fins lucrativos, com sede em Genebra, conhecida por sua reunião anual
em Davos, Suíça. Participam do fórum os personagens mais poderosos e ricos do mundo,
quem influenciam de maneira decisiva as políticas públicas em nível mundial em matéria
financeira e de cooperação internacional.
218
Esta afirmação de Aivanhov não tem nada a ver com disfarçar o mal em
bem. A natureza não desperdiça nada, utiliza tudo para recriar a vida. Esse
é o verdadeiro poder.
Existem redes que combatem em defesa de seu estilo de vida hedonista e existem
movimentos sociais que combatem em prol da sua sobrevivência […] Uma rede
corrupta é formada por uma constelação de individualidades corruptas dispersas
por todo o planeta. Mas, muitas vezes, essa rede funciona de tal maneira que, […]
as maiorias enganadas acabam por fortalecê-las e expandi-las ainda mais
(ALLEGRITTI, 2010, p. 314).
63
Ensaio STA: “Conceitos e Ideologias no Pensamento Urbanístico do Século XX”,
professor: Roberto Segre, PROURB – UFRJ, Rio de Janeiro, 2008.
225
64
A Nova Economia é um termo utilizado para descrever o resultado da transição de uma
economia industrial para uma economia baseada em serviços. Este uso particular do termo
se tornou popular durante a bolha das pontocom da década de 1990. O elevado
crescimento, a inflação baixa e o emprego alto deste período levaram a previsões
excessivamente otimistas e a muitos planos de negócios falhos.
227
Se agora tivesse que reescrever este livro, ofereceria uma terceira alternativa ao
Selvagem. Entre as duas pontas de seu dilema, a utópica e a primitiva, estaria a
possibilidade de alcançar a sanidade de espírito, possibilidade já realizada, até
certo ponto, numa comunidade de exilados ou refugiados do “admirável mundo
novo”, estabelecidos dentro dos limites da Reserva. Nesta comunidade, a
economia seria descentralizada e ao estilo de Henry George, e a política
kropotkiniana e cooperativista. A ciência e a tecnologia seriam usadas como se, a
exemplo do Sabbath, tivessem sido criadas para o homem, e não (como na
atualidade), onde o homem deve se adaptar e escravizar a elas. A religião seria a
busca consciente e inteligente do Fim Último do homem, o conhecimento unitivo do
Tao ou Logos imanente, a transcendente Divindade de Brahma. E a filosofia de
vida prevalecente seria uma espécie de Utilitarismo Superior, no qual o princípio da
“maior felicidade” estaria sujeito ao princìpio do “fim último”, de modo que a
primeira pergunta a formular e responder em toda contingência da vida seria: até
que ponto este pensamento ou esta ação contribui ou interfere com a realização,
da minha parte e da parte do maior número de outros indivíduos, do fim último do
homem? (HUXLEY, 1958, p.5) 65.
65
Baseado na novela de Aldous HUXLEY, “Brave New World”, [1932]. Disponível em:
<http://w3.ufsm.br/grpesqla/revista/dossie04/art_15.php>.
228
mal-estar que, até este momento, se mantivera oculto diante da crise dos
títulos financeiros das empresas tecnológicas.
pequena corrupção e até a evasão fiscal são atividades que geram seu
próprio espaço e seus próprios fluxos espaciais, com a consequente
transformação de nossas cidades, as quais geram cada vez mais rápido
áreas que demandam maior segurança, menos violência e maior coesão
social entre as pessoas que, supostamente, são “boas” ou ao menos
“iguais”.
principal – mais adequado – tanto para os fins da natureza como para uma
legitimação legal da violência de Estado.
66
No final de novembro de 1910 um pacto levou à criação da Reserva Federal em reunião
que aconteceu em um clube em Jekyll Island para discutir a política monetária do sistema
bancário mundial atual.
Mais informação disponível em: < http://www.thrivemovement.com/home>.
233
Existe uma classe digital que, após a crise financeira global atual, se
deu conta que possui um corpo social e carnal que pôde e poderá ser
submetido novamente à exploração do modelo de produção de símbolos e
bens semióticos e que também pode sofrer as consequências de viver em
um mundo dividido, ser submetido à exploração e ao estresse, sofrer
privação afetiva, pânico e até ser violentado e morto. Apesar da escravidão
desses escravos tecnológicos contemporâneos, seriam necessários muitos
homens-bomba para que a humanidade em seu conjunto passasse do
pânico a uma condição/ situação transconsciente, simultaneamente
individual, coletiva, cósmica e quântica.
67
da noite para o dia. É mesmo possível que esse pacto já tenha se dado
por baixo da mesa e que o mundo do dinheiro físico esteja com os seus dias
contados, o que ocorreria gradativamente, mas nem por isto de forma
menos violenta.
67
O mesmo pacto que criou a reserva federal estadounidense, criou a maneira de relançar
a acumulação capitalista uma vez esgotada tal reserva. Falsos movimentos sociais como
Occupy Wall Street (OWS) se basiam no sistema H.A.N.D.S (How About a Non Dollar
System), que utiliza uma moeda local em lugar do dólar tradicional.
235
Aquelas estruturas “ocultas” que Allegritti denuncia que existem por trás do
poder político dos estados-nação seriam as mesmas que permitiram a
militância de Sebastián Francisco de Miranda Rodríguez (Caracas 1750 –
68
Cádiz, 1816) nos círculos dos illuminati e suas ideias independentistas
68
«Illuminati» significa «os Iluminados» (L.: «illuminare»: iluminar, conhecer, saber). Elite
dentro da elite. Organização secreta fundada no século XVII. Seu projeto original era
transformar radicalmente o mundo e recuperar a dignidade e os direitos que o ser humano,
242
Que este olhar ou esta cidade seja ou não ambíguo e até transitório é algo
que, dependendo do enfoque, poderia ser mais positivo do que negativo: há
tantas cidades latino-americanas como olhares disciplinares e estes se
complementam na complexidade da realidade.
69
Recentemente vem se configurando as “bolsas verdes” como base
para a operação dos mercados financeiros e como uma oportunidade para a
gestão dos recursos naturais na Colômbia e em muitos outros países latino-
americanos e do mundo. Resulta da comercialização de créditos de carbono
e da reposição florestal que as empresas são obrigadas a fazer pelos
abusos ambientais. Mas este e outros mecanismos em vias de formação
também se referem ao intercâmbio de serviços ambientais entre
comunidades que causam desconforto e benefícios e que configuram, junto
a estes agentes de ação do capitalismo nacional e transnacional, uma
plataforma de negociação de bens existentes e possivelmente existentes
(caso da biodiversidade tão falada), como a energia renovável, a biomassa
e o tratamento de resíduos.
69
A Bolsa Verde é um mecanismo financeiro de reconhecimento do valor dos serviços
ambientais. Foi proposto inicialmente no âmbito da primeira oficina nacional de serviços
ambientais em Cartagena das Índias, (14 – 16 de fevereiro de 2007).
249
SIERRA-MORALES, Mauricio. “A
reconfiguração dos espaços urbanos a
partir das periferias do poder”, projeto de
tese de doutorado, PROURB-UFRJ, Rio de
Janeiro, 2008.
70
Ensaio STA: “Modelos de Urbanismo e Segregação Espacial”, professora: Sônia
Azevedo Le Cocq d'Oliveira, PROURB – UFRJ, R.J. 2008.
250
Para reportar aos habitantes desse lugar, neste “limen” urbano que
claramente descreve pessoas que estão em uma espécie de limiar (entre
realidades distintas), não basta considerar o óbvio do ponto de vista físico:
aqueles que habitam o limiar podem ser vistos como uma espécie de
iniciados; já não somos o que éramos para nos converter em outra “coisa”
que ainda não somos.
71
LE COCQ, Sonia, + turma do estúdio de doutorado em 2008, “Percurso pela Travessa
Petúnia na área de transição Bairro Catetê – Favela Santo Amaro”, (Anotações de aula),
PROURB-UFRJ, Rio de Janeiro, Fevereiro de 2008.
252
poder, o qual é exercido até onde há uma dominância relativa de uma força
sobre uma família, um espaço de produção, um mercado de trabalho, uma
comunidade, uma cidade, um mundo.
Do rigor na ciência: [...] Naquele Império, a Arte da Cartografia atingiu tal Perfeição
que o Mapa de uma só Província ocupava toda uma Cidade e o Mapa do Império
toda uma Província. Com o tempo, estes Mapas Desmesurados não satisfizeram e
os Colégios de Cartógrafos levantaram um Mapa do Império, que tinha o Tamanho
do Império e coincidia pontualmente com ele. Menos Dedicadas ao Estudo da
Cartografia, as Gerações seguintes não sem Impiedade o entregaram às
Inclemências do Sol e dos Invernos. Nos desertos do Oeste perduram
despedaçadas Ruínas do Mapa, habitadas por animais e por Mendigos; em todo o
País não há outra relíquia das Disciplinas Geográficas (BORGES, 1935) 72.
72
Ficção: Suárez Miranda, Viagens de Homens Prudentes. Livro quarto, cap. XIV; Lérida:
[1658] parágrafo literário publicado sob o pseudônimo de B. Lynch Davis como “Do rigor da
ciência” em 1935.
259
73
Referência ao palácio construído pelo imperador de Portugal no Brasil com o nome do
último cacique indígena da localidade: Catetê.
261
74
Anotações de aula do percurso pela Travessa Petúnia na área de transição Bairro Catetê
– Favela Santo Amaro, realizado em fevereiro de 2008 na disciplina da professora Sonia Le
Cocq, pela turma do estúdio de doutorado em Urbanismo, (PROURB-UFRJ, Rio de Janeiro,
2008).
263
Quanto mais a vida social se torna mediada pelo mercado global de estilos, lugares
e imagens, pelas viagens internacionais, pelas imagens da mídia e pelos sistemas
de comunicação globalmente interligados, mais as identidades se tornam
desvinculadas – deslocalizadas – de tempos, lugares, histórias e tradições
especìficas e parecem “flutuar livremente”. [...] No discurso do consumismo global,
as diferenças e as distinções culturais, que até então definiam a identidade, ficam
reduzidas a uma espécie de língua franca internacional ou moeda global, em
termos das quais todas as tradições específicas e todas as diferentes identidades
podem ser traduzidas. Este fenômeno é conhecido como “homogeneização
cultural” (HALL, 2005, pp. 75, 76).
Talvez, o que vai restar de mais valioso de tudo isto (da teoria e da
prática), seja a vivência e os amigos. O caráter imediato das relações
sociais. A vertigem da a-historicidade e da superficialidade das raízes torna
preciosos os laços que podemos estabelecer na borda (por sua raridade,
fragilidade e utilidade vital).
75
Ensaio STA: “Violência, forma e projeto urbano”, professor: Pablo César Benetti,
PROURB-UFRJ, R.J. 2008.
266
[...] um grande número de nossas lembranças têm guarida [...] Voltamos a elas a
vida inteira em nossos sonhos. Portanto, um psicanalista deveria prestar atenção a
essa localização das recordações. [...] A topoanálise seria, pois, o estudo
psicológico sistemático dos sìtios de nossa vida “ìntima” [...] Todos os espaços de
intimidade se designam por atração [...] Nestas condições a topoanálise tem a
marca de uma topofilia (BACHELARD, 1957, pp. 40, 45).
76
Experiências como “A cartografia da vida cotidiana” , dos arquitetos
e urbanistas Bemd Kniess (n. Colônia, 1961) e Leonhard Lagos Kalhoff (n.
Hamburgo, 1978), mostram, em cidades tão distantes como Berlim, que é
possível com a cartografia social examinar os movimentos dos migrantes,
das crianças ou adolescentes no distrito de Ruhr, em uma tentativa de
76
Disponível em: <http://www.projektmigration.de/english/content/kuenstlerliste/kniess.html>
(Acesso em: 01/01/2010).
273
77
Disponível em: <http://talkingcities.org/talkingcities/pages/143_en.html>
274
Sobre a quebra deste ciclo assombrado pelas formas míticas do direito, sobre a
dissolução do direito e da violência que subordina e ao mesmo tempo é
subordinada e, em última instância encarnada na violência de Estado, se
fundamenta uma nova era histórica [...] A violência divina, insígnia e selo, jamais
meio de execução sagrada, poderia se chamar reinante (BENJAMIN, 1972, pp. 44,
45).
78
REDE ON/BOGOTÁ. Rede Observatório Nômade (Bogotá), março 2005. Sociedade
psicogeográfica de Bogotá. Alvaro Moreno Hoffmann. Disponível em:
<http://www.observatorionomade.net/bogota/> (Acesso em: 29/06/2008).
276
Numa guerra tática pela ocupação do território, o projeto urbano em favelas tem
uma contribuição muito importante a dar. Ele pode ser o início da reincorporação
das favelas à cidade, dotando-as de idênticos serviços, incorporando-as ao sistema
de planejamento da cidade e oferecendo a os moradores locais acesso igual à
79
educação, saúde e lazer (BENETTI, 2004) .
79
Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/04.048/580>
(Acesso em: 01/01/2011).
277
A ação coletiva, por sua vez, se manifesta a partir de uma lógica que,
segundo o economista Marcur Oslon (Califórnia, 1932- 1988), está
ancorada na teoria dos grupos e das organizações, segundo a qual, além
de uma ação comunitária, é preciso uma regulação de interesses
racionalmente motivada por uma luta (conflito) de classes (Olson, 1965).
totalmente sem “qualificação”, obrigados a ganhar sua vida por seu trabalho em
ocupações temporárias (DUEK & INDA, 2006, p. 13).
É sobre tentar sentir o que a outra pessoa está sentindo. Há uma parede de vidro
entre as pessoas e eu quero quebrá-la.
80
XIV Encontro Nacional da ANPUR, (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa
em Planejamento Urbano e Regional), com o título “Quem planeja o território? Atores,
arenas e estratégias”, realizado no Rio de Janeiro no período de 23 a 27 de maio de 2011.
288
viver, ser feliz e progredir é preciso trabalhar e sempre estar insatisfeito com
o que se tem, isto é, é preciso trabalhar mais e mais.
Isto nos permite argumentar que o que acontece é que não somos
capazes de perceber a diferença ocorrida porque confundimos ser-no-
mundo como uma condição/situação que retorna ao mesmo ponto, quando
realmente, na contemporaneidade, somos/estamos em/à borda dos
acontecimentos em um novo ponto de partida de uma condição/situação
qualitativamente distinta, em um novo nível de consciência, não
exclusivamente racional.
Viver [na borda/ à borda] significa ter que inventar tudo, inclusive o
proprio ato de inventar. O navegante paradigmático transforma os velhos
modos de vida em outros «novos velhos» modos de vida.
O poder que cada um exerce [nas bordas] deve ser para abrir
caminhos mais do que para estabelecer limites. Tudo deve ser feito de
determinada maneira (com jeito).
81
Ferdinand de Saussure (1971) identifica o eixo sintagmático (baseado em palavras ou
diretamente em significantes) como um dos eixos que dá sentido à linguagem.
300
82
Declaração de Veneza. Comunicado final do colóquio “A ciência ante os confins do
conhecimento: prólogo de nosso passado cultural”. Março, 1986.
302
83
Giulio Carlo Argan (Turim, 1909-Roma, 1992), historiador e crítico de arte.
305
4.2._Categoria e Projeto.
84
Interfase temporal ou Interfase diacrônica. É a ideia de borda como conceito geral de
sincronicidade, no sentido especial de uma coincidência temporal de dois ou mais
acontecimentos relacionados entre si de uma maneira não causal, cujo conteúdo
significativo seja igual ou similar. É diferente do termo sincronismo, que constitui a mera
simultaneidade de dois eventos. Se também entendemos o tempo como uma maneira de
perceber o espaço, toda interfase é também uma interface espacial de borda e, portanto,
sincronicidade e sincronismo seriam a mesma coisa, só que percebida por nosso ser
dividido pelo pensamento racional dominante.
310
O termo projeto urbano, […], vem da tradução literal de projet urbain, cunhado na
França, na década de 1970, num contexto de revisão de paradigmas para atuação
na cidade contemporânea, tendo em vista suas problemáticas e demandas. [...] Na
origem, estão as críticas à produção modernista e ao urbanismo funcionalista,
elaboradas a partir dos anos 1950, sobretudo nos anos 1960 e 1970, não apenas
no campo da arquitetura e do urbanismo, mas também em outras áreas do
conhecimento (BARANDIER, 2006, p. 146).
85
A investigação de Pinheiro, em curso , portanto lança as primeiras
luzes no sentido de tentar descrever essas operações urbanas e
arquitetônicas mediante projetos contemporâneos. Até aqui parece uma
tarefa fácil, porém, é saudável considerar que a visão oficial do assunto não
85
Bolsa de Produtividade de Pesquisa em curso. Título da proposta: Projetos Urbanos e
cidade: desafios da metrópole contemporânea. Período da pesquisa: 01/03/2010 a
28/02/2014. PQ-CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).
312
A reconfiguração urbana.
86
Decoração de interiores: (ou interiorismo), mobiliário e decoração de interiores
domésticos e de trabalho, normalmente de uma perspectiva prática e estética.
87
Desenho de cenários: como espaços, o desenho de cenários não está comprometido
apenas com a forma e o comportamento, a arquitetura e a psicologia, senão que
igualmente trata da adequada inter-relação do interior e exterior das edificações.
Concentra-se no desenho do efêmero e da imagem.
318
88
Estes valores, que são classificados pelo ICOMOS como culturais
ou emocionais, físicos e intangíveis, históricos ou técnicos, devem sua
natureza não ao edifício, não ao conjunto de edifícios, não ao monumento,
senão ao interstícios que restam entre estes e a cidade contemporânea.
88
International Council on Monuments and Sites: Organismo da ONU-UNESCO, fundado
em 1965, como resultado da Carta de Veneza de 1964. O ICOMOS é responsável por
propor os bens que recebem o título de Patrimônio Cultural da Humanidade. Seu principal
objetivo é promover a teoria, a metodologia e a tecnologia aplicada à conservação,
proteção e valorização de monumentos e sítios de interesse cultural.
320
89
A primeira edição do Princípio de Indeterminação foram as 14 páginas da carta, escrita
por Heisenberg a Wolfgang Ernst Pauli, em fevereiro de 1927.
321
Nesse aspecto, é fácil concordar com Sloterdijk (1999), quando afirma que é
preciso abandonar a palavra “humanismo” para recuperar a tarefa do
pensar e daí, por certo: a verdadeira tarefa de pensar a arquitetura e o
urbanismo contemporâneos.
Investigação e borda.
As Interfaces Urbanas:
Não funcionam por reforma nem através da crítica; se materializam pela utilização
de técnicas contemporâneas, em contextos cuja realidade física é diferente da
tradicional. Procuram isolar, no sistema de regulação social dominante hoje
(produtor do novo sujeito e de suas práticas), novos espaços políticos extraídos da
hibridação entre cultura, produção e ócio (ÁBALOS e HERREROS, 1997, pp. 186-
253) 90.
Os interstícios arquitetônicos.
São aqueles espaços (e tempos) que não chegaram (nem chegarão talvez)
a se constituir como parte funcional da cidade contemporânea, mesmo que
aparentemente façam parte de projetos (na definição convencional) de
obras já construídas ou em processo.
90
Segundo Ábalos e Herreros, foram analisadas as áreas de impunidade e espaços
vetoriais: Majadahonda, Guadalhorce, Abandoibarra, Doñana.
330
Uma vez que tais espaços, por sua natureza incerta não são claramente
identificáveis, eles são considerados inexistentes, anônimos e inéditos e,
nesse sentido, podem ser vistos como lugares-nenhum: espaços da
92
maismodernidade , entendidos como vetores resultantes dos fluxos –
entre e o interior dos espaços. Trata-se, pois, da negação do espaço
antropológico porque não é habitado e apenas temos consciência deste
espaço vetorial, quando o abandonamos.
91
Esta palestra é fruto do projeto Globalização e Entropia Urbana: para uma nova leitura e
interpretação do interstício – Bolsa de Iniciação, SCT- UNLP. Bolsista: arquiteto Fernando
Fariña. Diretora: arquiteta. Viviana Schaposnik. Período abril 2004 – abril 2006.
92
A ideia da maismodernidade como a possibilidade de configurar coletivamente diversos
estados de consciência que coexistem de maneira conflituosa, mas criativa em diversos
espaços-tempo, está baseada em outra ideia que possibilita entender como ultrapassar as
distintas escalas de fractalidade da realidade: a ideia de complexidade como propriedade
inerente aos sistemas não lineares de realimentação múltipla; chamem-se organismos
vivos, cidades, etc.
331
93
Refiro-me ao problema criado com o fim de dominar a humanidade através do medo. Em
troca, proponho investigar as potencialidades humanas e, a partir delas, transformar a
realidade.
333
94
O caráter “polimórfico” da consciência, segundo Sierra (2007b) ,
94
Curso de Filosofia da (s) ciência (s) orientado pelo professor Francisco Sierra, filósofo,
Ph.D, em dezembro de 2007 no doutorado de Urbanismo, convênio entre a Universidade
Central da Venezuela e a Universidade Nacional da Colômbia.
334
95
A imagem ideologizante se transforma em uma prática consciente que pretende
ideologiz-arte.
338
96
“A Diferença”, versão on line da conferência pronunciada por Jacques Derrida na
Sociedade Francesa de Filosofia, em janeiro de 1968. Disponível em:
<http://www.jacquesderrida.com.ar/textos/la_differance.htm> (Acesso em: 01/12/2010)
340
Mas não era essa ovelha do mundo real que Platão habilmente
indicava como a realidade. A “ovelhidade” da ovelha só pode ser vista pelos
olhos do espírito e a verdadeira cognitividade do conhecido somente pode
ser conhecida através da consciência desse conhecimento.
97
O pensamento ocidental “complexo”, por assim dizer, aos poucos, vai chegando a
compreender o que antigas culturas de pensamento não linear já sabiam: que a realidade é
o resultado complexo da interação de múltiplos elementos inter-relacionados que, ao formar
um todo dinâmico, mutante, polimórfico, apresenta características distintas e muito
superiores à soma (aritmética) das partes.
342
98
Refrescar o pensamento: Consiste em uma prática indígena ancestral, indispensável para
reiniciar o sistema de pensamento de maneira integral e integrada: individual, coletiva,
cósmica e quântica. A este respeito, recomendo ver as experiências do povo Nasa.
Disponível em: <http://tierradentro.co/> (Acesso em: 29/06/2011).
344
99
Passado distinto de presente. O passado que já passou ficou diante de nós esperando-
nos no futuro. Num espaço-tempo em espiral, passado, presente e futuro ficam num
mesmo eixo existencial.
347
Houve uma mudança radical na vida cultural, assim como nas práticas político-
econômicas desde 1972 [...] Esta mudança radical está relacionada ao
aparecimento de novas formas dominantes, através das quais experimentamos o
espaço e o tempo [...] Enquanto que o câmbio simultâneo de dimensões de tempo
e espaço não significa necessariamente uma conexão causa-efeito, forte e a priori,
que possa ser invocada para supor que existe algum tipo de relação necessária
entre o surgimento de formas de cultura pós-moderna, o surgimento de modos
mais flexíveis de acumulação de capital, e uma nova maneira de “compressão
espaço-temporal” na organização do capitalismo. Mas essas mudanças, se revistas
sob as regras básicas do modo de produção capitalista, aparecem mais como
aparentes na superfície, que como signos da aparição de alguma sociedade pós-
capitalista ou pós-industrial totalmente nova [...] (HARVEY, 1992, p. 299).
Imagine que você está diante de um antigo rádio, girando o dial para conectar uma
de suas emissoras favoritas. Gira à esquerda e/ou à direita, até que a encontra, em
meio a um ruído de fundo. Se a mente humana não processasse a informação do
mesmo modo que a natureza, possivelmente apenas detectaria ruído. Ao longo da
evolução, aprendemos a viver na natureza evitando a nossa extinção. Esta
[natureza] guarda formas ótimas para solucionar certos problemas. Se nós
trabalhássemos em outras “frequências” usarìamos outros procedimentos, mas não
353
Basta pensar o objeto de estudo a partir de outra lógica, algo que não
altere a substância nem a forma, mas que a qualifique e dignifique um
pouco e, sobretudo, que possa “humanizá-la”. Refiro-me a pensar a cidade
e sua arquitetura a partir da categoria do desejo.
101
A hipótese do dial, publicado por Juan José Ibáñez, em 1º de agosto de 2007.
Disponível em http://www.madrimasd.org/blogs/universo/2007/08/01/71004> (Acesso em:
11/11/2007).
354
Sabemos, como quem sabe alguma coisa que lhe ensinam na escola
primária, que dois mais dois são quatro, que o tempo está indissoluvelmente
ligado ao espaço, mas, esta realidade não nos preocupa mais do que uma
curiosidade teórica, nós que supostamente manipulamos a substância
desde o ponto de vista físico.
102
A intencionalidade política traz consigo uma nova concepção do desenvolvimento e uma
nova proposta de sociedade. Da mesma maneira, o comportamento emergente traz
consigo um pensamento distribuído, o qual gera um poder distribuído para uma cultura
emergente.
356
103
Segundo o Brockhaus Universal Lexikon: Niilismo (do latim nihil, “nada”). Remete à
forma de pensar que nega devidamente todo o conhecimento, obra ou ato humano. O
niilismo filosófico se refere a toda gama possível de negação de conhecimento ontológico,
metafísico ou ético.
357
“Deus morreu e sua morte foi a vida do mundo” [...] (MAINLÄNDER, 1876,
p. 108).
Que sentido tem, então, perguntarmos por tudo isto? A reflexão que
Prigogine e Stengers fazem quanto ao que realmente significa compreender
o mundo vai nos levar, finalmente, a direcionar a resposta a nós mesmos.
358
4.7._Anotações Finais.
Primeiro era o mar. Tudo estava escuro. Não havia sol, nem lua, nem gente, nem
animais, nem plantas. Apenas o mar em toda parte. O mar era a mãe.
104
Zaha Hadid, Opera House, Dubai, em projeto. Disponível em: http://www.magazine-
rem.es/pdf/REM_47/arquitectura_zaha_hadid.pdf> (Acesso em: 04/12/2011).
360
jovens) para uma outra natureza solidaria (própria das espécies mais
maduras).
EPÍLOGO
105
Não antropocêntrica porque supera (inclui em seu interior) a epistemologia e, portanto, a
metodologia e a lógica, tanto da objetividade alienante das chamadas equivocadamente
ciências naturais, como a subjetividade antropocêntrica das igualmente mal denominadas
ciências sociais.
370
๑
Tomar a cidade pelas bordas significa a articulação da totalidade do todo
emergente como cuidado necessário para chegar à reconfiguração orbana
para a borda, na borda, da borda, à borda.
371
Por outra parte, e ainda que esta tese tente sempre escapar do
reducionismo filosófico, considero que a incomensurabilidade e a
intraduzibilidade radical de qualquer fenômeno (númeno) são noções
incoerentes devido à impossibilidade, sequer, de ser nomeadas, (o que é
necessário para ser capaz de identificar um padrão de pensamento, de
cultura, do fenômeno urbano, etc.) nos sistemas de significação complexos
dos conceitos, das palavras, dos rituais e dos símbolos que têm sentido
para nós, os humanos. <Mauricio Sierra- Morales> (Para: 29/02/2012).
106
Y.H.V.H.
372
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393
Experiências e processos.
ÍNDICE DE AUTORES
Aristóteles 13, 16, 32, 33, 61, 122, 306, 371, 373, 382
Augé 84, 191, 259, 347, 373
Bachelard 266, 373
Bakunin 126, 373
Barabási 117, 120, 382
Baran 93, 94, 95, 111, 112, 382
Barandier 310, 373
Bauer e Marx-Pressburg 42, 140, 373
Bauman 105, 287, 288, 373
Bazant 243, 245, 374
Beck 203, 382
Benedict 14, 123, 374
Benetti 265, 275, 276, 374
Benjamin 40, 59, 138, 274, 374
Bentham 139, 285, 382
Berardi 227, 228, 382
Berman 88, 93, 126, 292, 374
396
ÍNDICE ALTERNATIVO
Os conceitos do problema. 25
De uma situação aborrecida: Isto não é real e o mundo real está em 145
outro lugar.
Borda da cidade. 81
Cidade da Borda. 81
Borda à borda. 89
Os problemas do conceito. 146
Em uma situação aborrecida para outra situação interessante: o 201
que é real não importa, o que importa é como vivemos nossas vidas.
Novo ponto de partida: ressignificando o (inacabado) princípio, da 281
racionalidade estética - expressiva da modernidade (sem
colonialidade).
A reconfiguração das interfa(s)es do tempo. 310
A reconfiguração das interfaces de espaço. 310
A reconfiguração dos interstícios da Arquitetura. 316
Categorização da interface urbana. 327
Categorização do interstício arquitetônico. 317
Projecto emergente contemporâneo. 320
Os problemas do problema. 202
De uma situação interessante: vou me tornar o que eu quero. 303
Abordagem multidisciplinar para o problema falso da borda. 173
Abordagem interdisciplinar para o problema falso da borda. 176
Abordagem transdisciplinar para o problema falso da borda. 178
Os conceitos do conceito. 304
Borda (desde-para). 90
Borda (Em). 90
Borda (À). 90
Borda (À). 91
A Borda à borda. 91
403