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1. PROBLEMÁTICA
A pesquisa será construída no contexto das greves de fome dos presos políticos,
ocorridas nos anos de 1975, 1977, 1978 e 1979. Nesse sentido, faz-se necessária uma
apresentação do percurso histórico sobre a conjuntura política relacionada ao funcionamento
da imprensa, naqueles anos do Regime Militar.
A Ditadura foi instaurada pelo golpe de Estado de 31 de março de 1964. Um período
duramente marcado pelo autoritarismo, supressão dos direitos constitucionais, perseguição
policial e militar, prisão e tortura dos opositores e pela censura prévia aos meios de
comunicação.
Para tanto, foram criados inúmeros órgãos de segurança e informações. O principal era
o DOI-CODI (Departamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa
Interna), órgão que executava ações repressivas armadas julgadas necessárias pelos órgãos de
informações. No campo civil, também existia o Serviço Nacional de Informação (SNI) que
atuava por meio da Agência Central, em Brasília, e nos demais estados através da Assessoria
de Segurança e Informações (MARCONI,1980, p. 28-30).
A prática jornalística foi diretamente atingida por esse aparato repressivo. Primeiro,
pela Lei de Imprensa, instituída em 1967, que impedia qualquer jornal ou revista de ter
propaganda de guerra, promover incitamento à subversão da ordem pública e social e ofender
a moral pública e os bons costumes (MARCONI, 1980, p.33).
Com a implementação do Ato Institucional nº 5 (AI-5) acentuou-se ainda mais o
caráter ditatorial do governo militar. Com ele, o Congresso Nacional e as Assembléias
Legislativas estaduais foram colocados em recesso, e o presidente passou a ter plenos poderes
para cassar mandatos eletivos, suspender direitos políticos, demitir ou aposentar juízes e
outros funcionários públicos, suspender o habeas corpus em crimes contra a segurança
nacional, legislar por decreto, julgar crimes políticos em tribunais militares, dentre outras
medidas autoritárias. Paralelamente, nos porões do regime, generalizava-se o uso da tortura,
do assassinato e de outros desmandos. Tudo em nome da ideologia de segurança nacional.
O principal meio de repressão ao exercício democrático da comunicação foi a censura
prévia. Toda a produção do jornalista tinha que ser submetida a uma análise prévia do
governo que modificava o conteúdo da matéria, retirava trechos dela ou até mesmo impedia
sua publicação. Nas redações dos jornais, era comum a presença dos censores. Além disso,
alguns assuntos eram explicitamente proibidos de serem abordados ou divulgados pelos
órgãos de comunicação do país (SMITH, 2000, p. 95).
5
Segundo Anne-Marie Smith (2000, p. 78) havia, também, amplas oportunidades para
interferência do Estado nas finanças da imprensa: suspender a publicidade, negar empréstimos
pelos bancos oficiais, recusar licenças de importações de equipamentos ou papel de imprensa
ou confisco de tiragens. Essa estratégia foi adotada a fim de ocultar as intenções do regime e
encobrir seus pontos fracos no que dizia respeito à legitimidade – tão cuidadosamente
“defendida” no discurso da Ditadura, mas não na prática.
No Recife, mesmo antes do Estado Novo e do Regime Militar os profissionais da
imprensa já sofriam censura que, em alguns governos, se configurava como uma atividade de
rotina. O assassinato, em 1913, a pauladas, do jornalista do Pernambuco 1 Trajano Chacon,
em frente ao teatro Helvécio, foi um exemplo. Ele foi morto possivelmente pelas divergências
que o fizeram renunciar a um cargo no governo de Dantas Barreto, assim como por questionar
sua administração em artigos opinativos (Grego, 2005, p.2).
O aparato policial, observa Grego (2005, p.2), originalmente destinado à segurança da
população, era - mesmo em períodos de não exceção -, muitas vezes, usado como segurança
particular dos governantes e repressores da atividade jornalística.
Os tradicionais jornais pernambucanos não tinham o histórico de oposição, a exemplo
do Jornal do Commercio e do Diário de Pernambuco. No entanto, também viveram sob
censura. Diferentemente de outros períodos de perseguição aos jornais, durante a Ditadura
Militar, todos os jornais, opositores ou não, sofriam violentas interdições (Grego, 2005, p.9).
Em 15 de março de 1974, o General Ernesto Geisel assumiu a presidência. Esse
governo foi marcado, desde o seu início, pelo processo denominado pelo próprio presidente
como o de distensão lenta, gradual e segura, com vistas à reimplantação do sistema
democrático no país. O binômio desenvolvimento e segurança, formulado pela Escola
Superior de Guerra (ESG), foi mantido durante o seu governo, caracterizado pela convivência
entre uma política de tendência liberalizante e a atuação dos órgãos de segurança implantados
após o golpe militar de 1964.
Nas eleições de 1974, o crescimento das oposições mostrou-se patente. Um exemplo
foi o surgimento do chamado grupo autêntico, uma ala de oposição do MDB (hoje, PMDB).
Os Autênticos foram os responsáveis pelas críticas mais duras aos militares feitas na Câmara
Federal e, muitas vezes, em ações que desagradavam o próprio MDB. O partido tinha 78
parlamentares e apenas 23 integravam o grupo. Eles denunciaram torturas e prisões,
questionaram a política econômica e foram os primeiros a falar sobre constituinte. Esse grupo
atuava sob o risco de ser cassado a qualquer momento, e, de fato, muitos perderam o mandato.
1
Jornal fundado em 1908 e extinto em dezembro de 1914.
6
[...] O laudo médico constatou envenenamento. Antes que a perícia técnica chegasse, a barraca
onde se encontrava Capivara foi destroçada e queimada por membros da administração da
Penitenciario. Paralelamente, aproveitando-se o clima de maior repressão e terror montou-se
uma ardilosa campanha publicitária que acusava os presos políticos da autoria do crime.
Ficavam assim acobertados os verdadeiros assassinos, mandantes e executores. Na
impossibilidade de fazer constar um único preso político no réu dos indiciados, a solução
encontrada foi o engavetamento do processo (MELO, s/d).
Em abril de 1976, os presos políticos repudiaram, por meio de uma carta 3 ao auditor da
1ª Circunscrição Judiciária Militar, as sessões de tortura acometidas aos presos políticos
Cláudio de Souza Ribeiro, José Calistrato Cardoso, José Emilson Ribeiro e José Adeildo
Ramos (MELO, 1976).
2
Ex preso político que participou das greves de fome, na Penitenciaria Professor Barreto Campelo (Itamaracá -
PE), nos anos de 1975, 1977 e 1978.
3
Carta escrita, na Penitenciária Professor Barreto Campelo (Itamaracá-PE), em 1976.
7
As leis brasileiras não estão alinhadas com os estatutos básicos internacionais. Aqui se viola
legalmente a declaração dos direitos do homem, de 1948, e a convenção internacional de
direitos políticos e civis, de 1466. Uma das armas básicas contra a ditadura é o hábeas corpus,
que nem mesmo existe para os brasileiros (HAMMABERG citado em SITUAÇÃO DE
PRESOS MELHORA, 1977).
projeto governamental de Anistia Parcial e de apoio às lutas pela Anistia Ampla, Geral e
Irrestrita (FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO, 1999).
Quando Figueiredo assumiu, em 1979, o país começou a acelerar o processo de
redemocratização. Foi decretada a Lei da Anistia que concedia o direito de retorno ao Brasil
para os políticos, artistas e demais brasileiros exilados e condenados por crimes políticos.
Aqui no Recife, jornais alternativos, como O Povão e o Folhetim Humorial, fundados nos
anos 80, entre tantos outros, foram perseguidos e censurados mesmo depois da anistia e da
suspensão oficial da censura.
Ao final da Ditadura, com a abertura política em 1985, havia apenas três jornais de
grande circulação em Recife: o Diário de Pernambuco, Jornal do Commercio e o Diário da
Manhã. Esse último entrou em declínio em meados dos anos 40, mas ressurgiu com nova
direção na década de 1960, apoiando a Ditadura Militar (Grego, 2005, p.8).
É importante destacar que o nosso objeto de estudo, as greves de fome, nesse contexto
em que foi implantada, mostra que essa forma de resistência à Ditadura resguardava uma
relação estreita com a mídia. Para que surtisse algum efeito junto à opinião pública e ao
governo era preciso uma projeção midiática do fato, principalmente pela condição de
isolamento social dos presos.
Além disso, a escolha pela análise das greves de fome se deve ao fato de terem
acontecido em diferentes momentos políticos da Ditadura Militar. Em 1975, quando ocorreu a
primeira greve, o Brasil saia de um período de barbárie e censura ferrenha aos meios de
comunicação (Governo Médice) para um governo que propunha uma abertura política e
econômica (Governo Geisel) que, no entanto, não foi suficiente para garantir autonomia total
aos meios de comunicação. Já a última greve, em 1979, culminou com a implantação da Lei
da Anistia, o que possibilitou uma cobertura jornalística que evidenciava o abrandamento da
censura.
O problema que se coloca, portanto, é como o discurso da mídia impressa em relação
às greves de fome realizada pelos presos políticos foi se modificando à medida que a censura
se abrandava.
2. OBJETIVOS
Investigar como o discurso das notícias, sobre as greves de fome dos presos políticos,
dadas pelo Jornal do Commercio e pelo Diário de Pernambuco, foi se modificando à medida
que a censura se abrandava.
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
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É o próprio discurso do acontecimento que emerge como notável, a partir do momento em que
se torna dispositivo de visibilidade universal, assegurando assim a identificação e a notoriedade
do mundo (RODRIGUES, 1990, p.101).
Sendo assim, o autor afirma que o discurso não é uma mera representação das coisas, e
que, como tal, é passível de ser apreciado apenas em termos de adequação ou de não
adequação às coisas referenciadas. (RODRIGUES, 1990, p.103)
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A palavra informativa (do repórter) esteve tão intimamente ligada ao acontecimento, à própria
opacidade do ser presente (basta recordar algumas noites de barricadas), em que tudo aquilo
que estiver privado de sentido não pode ser percepcionado, a palavra era o próprio
acontecimento (RODRIGUES, 1990, p. 178).
entre os diversos campos sociais (RODRIGUES, 2002, p.219). Desse modo, com análise e
comparação da produção noticiosa no período da ditadura militar, este projeto visa
compreender o modo como eram usadas as diferentes estratégias discursivas na produção do
sentido e sua relação com os discursos de outras instituições sociais.
De acordo com Stuart Hall, existem três aspectos de produção social das notícias. O
primeiro é a organização burocrática das notícias por parte dos veículos onde as mesmas são
divididas ou selecionadas por setores que estruturam os jornais, como notícias políticas,
internacionais, nacionais, locais e etc.
O segundo aspecto é a estrutura de valores de notícia, que ordena a seleção e a posição
de determinadas notícias dentro destas categorias. Sendo assim, acontecimentos inesperados,
dramáticos ou trágicos, a vida de pessoas famosas, e fatos que evidenciam as características
humanas de humor (raiva, sentimentalismo), como um assassinato, estão dentro dos critérios
de noticiabilidade (HALL, 1999, p. 225). Além disto, o jornalista é quem decide o que é
notícia e o que interessa aos leitores. “A ideologia profissional do que constitui boas notícias
– o sentido de valor-notícia do jornalista – começa a estruturar o processo” (HALL, 1999,
p.224-225).
O terceiro aspecto da produção social das notícias é a construção da própria notícia, na
qual os jornalistas avaliam o que pode ser compreensível ao seu público. A identificação e a
contextualização são um dos processos mais importantes, pois a partir delas os
acontecimentos são tornados significativos pelos jornalistas. Mesmo com estes três aspectos
pode-se constatar que todos os acontecimentos são potencialmente noticiáveis.
E através deles que os produtores de notícia pressupõem a garantia da reconciliação
das diferenças culturais entre os vários grupos de uma comunidade. Assim, quando os fatos
são definidos pelos jornalistas, eles são postos em enquadramentos de significado e
interpretação que implicam no entendimento consensual por parte dos receptores. Esses
enquadramentos de imagens e discursos fazem com que o público suponha pensar e saber da
sociedade, acreditar e defender a realidade simbólica.
Nas mais rotineiras estruturas de produção de notícias, os media reproduzem as
definições dos poderosos, sem estarem ao serviço deles (HALL, 1999, p. 228). Isso acontece
devido aos definidores primários, isto é, as fontes oficiais que fornecem a notícia, como as
assessorias de comunicação das instituições (com os press-releases). Esses definidores
primários ajudam os jornalistas na criação de notícias. “Sabe-se que produzem regularmente
acontecimentos importantes. Os tribunais, os campos desportivos e o parlamento fabricam
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mecanicamente notícias que são... assimiladas pela imprensa” (ROCK, citado por HALL.
1999, p.229).
Existem dois aspectos de produção jornalística que tem a ver com isso: as pressões
internas das práticas de trabalho constantes contra o relógio e as exigências profissionais de
imparcialidade e objetividade. As constantes pressões do deadline, os problemas de
distribuição de recursos e a calendarização de trabalho nos jornais são aliviados com as
sugestões de pauta que as assessorias enviam. Já as noções de imparcialidade e objetividade
ajudam os jornalistas a terem um exagerado acesso a posições privilegiadas dentro das
instituições.
Dessa forma, os jornalistas tendem a reproduzir simbolicamente a estrutura de poder
existente na ordem institucional da sociedade. “O resultado desta preferência estruturada dada
pelos media às opiniões dos poderosos é que estes porta-vozes se transformam no que se
apelida de definidores primários de tópicos.” (HALL, 1999, p. 229)
Os media, então, não se limitam a criar as notícias; nem se limitam a transmitir a ideologia da
classe dirigente num figurino conspiratório. Na verdade, sugerimos que, num senso crítico, os
media não são freqüentemente os primary definers de acontecimentos noticiosos; mas a sua
relação estruturada com o poder tem o efeito de os fazer representar não um papel crucial mas
secundário, ao reproduzir as definições daqueles que têm acesso privilegiado, como de direito,
aos media como fontes acreditadas. Nesta perspectiva, no momento de produção jornalística,
os media colocam-se numa posição de subordinação estruturada aos primary definers (HALL.
1999, p. 230).
4. HIPÓTESES
5. METODOLOGIA
Delineamento da pesquisa
Coleta de dados
Definição da amostra
A definição de entrevistas com presos políticos e com jornalistas foi feita com
base no argumento de que estas pessoas viveram o conturbado momento social e político
abordado nesta pesquisa. Os jornalistas vivenciaram as dificuldades encontradas para a
realização de seu trabalho. Conhecem os obstáculos da produção noticiosa num contexto
de repressão e censura política. Do outro lado, os presos políticos são testemunhas diretas
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6. CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO
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7. ORÇAMENTO
8. BIBLIOGRAFIA
GREGO, Aline. A Imprensa recifense e a luta contra os regimes de exceção no século XX.
2005. Disponível em: < http://64.233.169.104/search?
q=cache:c7oqGWVtolUJ:www.redealcar.jornalismo.ufsc.br/cd4/impressa/a_lins.doc+
%22folha+do+povo%22+%2B+%22a+hora%22+%2B+ditadura+militar&hl=pt-
BR&ct=clnk&cd=1&gl=br&client=firefox-a> Acesso em: 29 de maio, 2008.
HALL, Stuart. A produção social das notícias: O mugging nos media. In: TRAQUINA,
Nelson. Jornalismo: Questões, Teorias e Estórias. Lisboa; Vega, 1999. 224-248.
MARCONI, Paolo. A Censura política na imprensa brasileira: 1968 - 1978. São Paulo:
Global, 1980. 312 p.
MELO, Marcelo Mário de. Breve esboço das dificuldades vivenciadas pelos presos
políticos de Itamaracá. Anotações pessoais. s/d.
Ex-Presos Políticos
Jornalistas
PROJETO DE PESQUISA
Recife
2008
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PROJETO DE PESQUISA
Professora:
Paula Reis
Recife
2008
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SUMÁRIO
1 PROBLEMÁTICA.......................................................................................................04
2 OBJETIVOS.................................................................................................................09
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA...............................................................................10
4 HIPÓTESES.................................................................................................................15
5 METODOLOGIA.........................................................................................................16
6 CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO............................................................................19
7 ORÇAMENTO.............................................................................................................20
8 BIBLIOGRAFIA..........................................................................................................21
9 APENDICE A – Roteiro para Entrevista.....................................................................23
10 APENDICE B............................................................................................................24
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