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O paradoxo das partículas redondas: transubstanciação e inteligência ''per ritus et preces''.

Artigo de
Andrea Grillo

“O rito da Eucaristia prevê uma sequência em que a fração de pão produz as partículas para a comunhão da
assembleia. Ainda hoje, é disseminada a práxis de ‘nutrir a assembleia’ com as partículas já consagradas e de
utilizar, também sobre o altar, ‘partículas’ já fracionadas. A ‘transubstanciação’ e a ‘centralidade do
tabernáculo’ – junto com a práxis da assembleia comungar depois do fim da celebração – influenciaram
largamente essa distorção.”
A análise é do teólogo italiano Andrea Grillo, professor do Pontifício Ateneu Santo Anselmo, em Roma,
do Instituto Teológico Marchigiano, em Ancona, e do Instituto de Liturgia Pastoral da Abadia de Santa Giustina,
em Pádua. O artigo foi publicado por Come Se Non, 02-11-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Como se sabe, o Concílio Vaticano II, na sua constituição litúrgica, entre as sete indicações que dá para a
Reforma da celebração eucarística, indica a retomada da “participação mais perfeita” na Eucaristia, mediante a
“comunhão sob as duas espécies” (SC 55). Muitas vezes, lê-se essa afirmação de modo menor, como se se
tratasse de uma simples “recomendação pastoral”.
Na realidade, a “virada pastoral” que o Vaticano II exige, requer que se entenda essa indicação à luz da
“inteligência per ritus et preces” que o número 48 da Sacrosanctum concilium estabelece como critério
fundamental de interpretação da “participação ativa”.
Esse horizonte de compreensão – que elabora uma nova noção de “ação simbólico-ritual” e uma nova práxis
participativa – introduz não só práticas, mas também teorias necessariamente novas no corpo eclesial, cujo
impacto iniciamos apenas hoje a apreciar também no âmbito da teologia eucarística.
Neste breve texto, gostaria de me deter sobre as consequências que esse novo modo de pensar introduz na
clássica doutrina eucarística da “transubstanciação”. A presença do Senhor ressuscitado no meio dos seus é
pensada de um modo muito mais amplo e complexo do que a grande mas limitada teoria da “presença
substancial sob as espécies do pão e do vinho”.

a) A doutrina e o rito

Um esclarecimento de fundo deve ser oferecido acima de tudo sobre a relação que se instaura entre uma
práxis ritual e a sua interpretação teórica. Devemos reconhecer, de fato, que as inúmeras “controvérsias
eucarísticas” – que marcaram a reflexão eclesial – produziram efeitos sobre a práxis não lineares. De fato,
com o objetivo de evitar erros doutrinais, frequentemente introduziram indiferenças ou unilateralismos rituais.
Identificamos apenas alguns deles:
- a concentração sobre a “presença substancial sob as espécies” distraiu profundamente das outras formas de
presença do Senhor, na Palavra, na oração, na assembleia (cf. SC 7);
- a “presença substancial sob as espécies” reduziu o peso da “presença eclesial” do corpo de Cristo, que
continua sendo sempre o principal efeito da celebração eucarística;
- a atenção à “substância” levou a uma prática dos acidentes que oscila entre indiferença e ritualismo,
correndo o risco de perder a lógica simbólica das sequências rituais;
- a própria celebração da Eucaristia sofreu com a invasão de uma leitura intelectualista da presença, que
reduziu a relevância de gestos, sequências e coerências internas à ação ritual;
- por fim, mas talvez in primis, a separação entre “sacrifício” e “comunhão” – fruto do conflito com a tradição
protestante – não beneficiou uma compreensão unitária do rito eucarístico e das continuidades entre sacrifício
e banquete.
Podemos considerar especialmente este último ponto para tentar ilustrá-lo melhor com alguns exemplos.
b) Os ritos de comunhão e a transubstanciação

O modo como tentamos sair desses embaraços, há pelo menos 50 anos, ainda é hesitante e balbuciante. Este é
um fato inevitável: a própria linguagem com que propomos as “novas aberturas” é afetada por um léxico muitas
vezes velho e inadequado. Se, de fato, examinarmos os “ritos de comunhão” das nossas celebrações
eucarísticas, poderemos identificar claramente pelo menos três limiares problemáticos:

- A irrelevância da “fração do pão”


O rito da Eucaristia prevê uma sequência em que a fração de pão produz as partículas para a comunhão da
assembleia. Ainda hoje, é disseminada a práxis de “nutrir a assembleia” com as partículas já consagradas e de
utilizar, também sobre o altar, “partículas” já fracionadas. A “transubstanciação” e a “centralidade do
tabernáculo” – junto com a práxis da assembleia comungar depois do fim da celebração – influenciaram
largamente essa distorção.

- A “forma” da comunhão sub utraque


A recuperação de uma práxis de “comunhão sob as duas espécies” também ocorreu, principalmente, com uma
baixa consciência da “qualidade” da relação com pão e vinho. As duas “matérias” não são simplesmente
“espécies” de uma substância que está contida, embora integralmente, “sob cada uma das duas”! Ter acesso a
pão e vinho como corpo e sangue de Cristo não significa receber “uma espécie imersa na outra”, mas ter
acesso ao único pão partido e ao único cálice compartilhado, como mediação do Corpo e Sangue do Senhor .
Esse ato comum, com toda a sua ressonância íntima e familiar, reestrutura a filialidade e a fraternidade
eclesial, com um poder imediato irredutível a outros gestos. A interferência da “transubstanciação” nessa
recuperação é muito pesada e não por culpa da noção em si mesma, mas por culpa de uma recepção
intelectualista e ritualista da tradição, que encontrou nessa formalização teórica um formidável aliado.

- A procissão de comunhão
A forma mais espiritual de comunhão deveria ser uma alegre procissão ao altar de toda a assembleia.
Movimento, canto, ritmo são as condições dessa experiência espiritual: uma compreensão da Eucaristia que se
concentra apenas na “substância” corre o risco de considerar tudo isso ou como indiferente ou até mesmo
como distração do essencial. Essencial parece ser apenas “redobrar” a ação de graças individual, quase na
indiferença em relação à ação comunitária.

c) Paradoxos doutrinais e rituais

A transubstanciação, portanto, opera uma inevitável redução da mediação ritual da presença do Senhor,
concentrando o coração do rito apenas na “fórmula de consagração sobre a matéria”. As sinetas que ainda hoje
tocam nesse limiar são o testemunho do efeito de distorção que a grande teoria operou sobre a tradição.
Compreender que o rito eucarístico experimenta a “presença” na sequência ritual inteira – na reunião, nos
ritos de entrada, na liturgia da palavra, na profissão de fé, na oração por todos, na apresentação dos dons, na
solene anáfora eucarística, nos ritos de comunhão e nos ritos de despedida – exige uma abordagem mais rica e
articulada com respeito à relação formal entre substância e acidentes.
O centro da Eucaristia não é uma “consagração do pão e do vinho”, mas sim a escuta da palavra e a oração
anafórica que deságuam no rito de comunhão. Essa compreensão ampla da Eucaristia precisa de uma “teoria da
presença” mais ampla. Ou, melhor, poderíamos dizer que a “transubstanciação” só pode “ver” a consagração e
é, em certo sentido, o produto teórico desse ângulo visual. Enquanto uma perspectiva mais ampla de
experiência da presença do Senhor deve saber produzir uma teoria mais articulada, mais rica e mais dinâmica.
d) O uso de “partículas redondas”: o desvio individualista da transubstanciação

Um exemplo final pode ajudar a compreender o que está em jogo nestas reflexões. Todos temos experiência da
práxis eclesial católica, que celebra os ritos de comunhão utilizando “partículas” já partidas ou, melhor,
confeccionadas antecipadamente à fração do pão e, muitas vezes, já consagradas e simplesmente distribuídas a
partir do tabernáculo, no momento do rito de comunhão.
Sem entrar em todas as questões que essa práxis propõe, gostaria de levantar uma reserva sobre a “forma
redonda” da partícula. De fato, considero que, enquanto é totalmente natural que o pão eucarístico seja redondo
– e, com efeito, a hostia magna é sempre redonda – não se compreende por que se considera que a partícula
também deve ser redonda. Talvez por imitação “em miniatura” do pão inteiro.
Mas é preciso reconhecer que a forma redonda da partícula corre o risco de apagar uma experiência
elementar da relação entre o Senhor e a sua Igreja. Ele a encontra como aquela “plenitude” que é dada a cada
um por mediação da comunidade. Cada um recebe o corpo de Cristo não simplesmente de modo “direto”, mas
“através da Igreja”. Por isso, o único pão, partido, é oferecido “como fragmento” a cada pessoa, que pode
reconhecer o Corpo de Cristo no Senhor e na Igreja.
Essa verdade é hoje mediada pelas mentes, mas não pelos corpos. A partícula deve ser um fragmento, não um
inteiro em miniatura. O fragmento pode ter qualquer forma, mas não a redonda, que é forma do inteiro. Em vez
disso, os corpos, com base em uma utilização unilateral também da noção de transubstanciação, consideram
que têm contato “inteiro” com o Senhor e que também devem “dar graças” sozinhos, sem levar em conta que
toda a Eucaristia é, justamente, ação de graças comunitário.
Para remediar essa distorção, no entanto, não é suficiente “confeccionar partículas não mais redondas”! Em
vez disso, é preciso produzir uma “teoria da presença” que não se imunize à ação, às linguagens simbólicas e
aos processos rituais. Para chegar a produzir os fragmentos/partículas mediante a fração de pão – ou seja,
para recuperar o sentido primário de uma elementar sequência ritual, que sequer sabemos ver – não
precisamos apenas de rubricas mais adequadas, mas de teorias teológicas mais fiéis à riqueza da tradição,
com a multidão das suas linguagens corpóreas e com a fineza das suas sequências rituais.

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