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INSTITUTO FEDERAL DE
EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA
PARAÍBA
1 OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
2 Começando a história
Caro estudante.
Antes mesmo de iniciarmos nossa aula propriamente dita, ouçamos com atenção
a canção de Chico Buarque:
Meu guri
Quando, seu moço, nasceu meu Me trouxe uma bolsa já com tudo dentro
rebento Chave, caderneta, terço e patuá
Não era o momento dele rebentar Um lenço e uma penca de documentos
Já foi nascendo com cara de fome Pra finalmente eu me identificar, olha aí
E eu não tinha nem nome pra lhe dar Olha aí, ai o meu guri, olha aí
Como fui levando, não sei lhe explicar
Olha aí, é o meu guri
Fui assim levando ele a me levar
E na sua meninice ele um dia me disse E ele chega
Que chegava lá
Olha aí Chega no morro com o carregamento
Olha aí Pulseira, cimento, relógio, pneu, gravador
Olha aí, ai o meu guri, olha aí Rezo até ele chegar cá no alto
Olha aí, é o meu guri Essa onda de assaltos tá um horror
E ele chega Eu consolo ele, ele me consola
Boto ele no colo pra ele me ninar
Chega suado e veloz do batente De repente acordo, olho pro lado
E traz sempre um presente pra me E o danado já foi trabalhar, olha aí
encabular Olha aí, ai o meu guri, olha aí
Tanta corrente de ouro, seu moço Olha aí, é o meu guri
Que haja pescoço pra enfiar E ele chega
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Ensino de narrativa: conto, crônica, novela e romance
Esse texto trata de uma canção e não exatamente de um poema, porque foi
criado como canção, ou seja, como um texto que é parte indissociável de uma
música, uma melodia. Mas não podemos, obviamente, desconsiderar o seu teor
poético, a partir, por exemplo, de elementos formais como as rimas, a estrofação,
a versificação. E, para além de todas essas questões, é, também, um texto que
conta uma história, a história de um guri, de um menino, e apresenta, também, os
elementos formais da narrativa: personagens (o guri, o “seu moço”, interlocutor
do narrador – eu-lírico – e o próprio narrador); narrador de primeira pessoa;
tempo narrativo (a vida do guri); espaço narrativo (morro; mato); e enredo (a
história de um guri que leva uma vida difícil).
Procure na internet alguma canção que conte uma história, conforme o seu
gosto musical, e poste suas impressões no fórum. Esse exercício poderá lhe
servir como inspiração para elaboração de uma proposta a ser trabalhada com
os alunos e/ou futuros alunos.
3 Tecendo conhecimento
Apesar das críticas recebidas nos últimos anos, diga-se de passagem, muito bem
fundamentadas e bem-vindas, os livros didáticos ainda são um instrumento de
ensino interessante, inclusive funcionando como parâmetro, por exemplo, para a
seleção de textos a serem lidos na sala de aula, afinal não podemos desconhecer
que se trata de materiais elaborados por profissionais especialistas no assunto.
Um dos grandes problemas do livro didático está na restrição que ele faz, até
mesmo por uma limitação espacial, afinal não cabe tudo o que existe na literatura
num livro de poucas páginas a ser “consumido” durante um ano apenas. Então,
nesse sentido, nossa tarefa é ampliar. De que maneira?
Importante lembrar que a seleção por tema tem sido, inclusive, sugestão apontada
nos Referenciais curriculares para o Ensino Médio da Paraíba (2006, p. 87):
Como na poesia, pode-se também trabalhar com antologias
temáticas. Qualquer que seja a opção metodológica a ser
seguida, deverá articular a discussão de situações concretas
apresentadas no texto e a observação dos elementos
estruturais da narrativa. Por exemplo, a partir da análise
das personagens – suas ações, atitudes, gestos, silêncios,
etc.; é possível apontar elementos de teoria literária que
ajudem a compreender melhor a narrativa. (grifos nossos).
Lembremos que não é a extensão do texto que determina a sua forma, ou seja,
uma crônica ou um conto não é assim denominado apenas por serem narrativas
curtas. Há outros fatores. Mas, no geral, as crônicas, por exemplo, são textos
curtíssimos, inclusive porque são escritas, a princípio, para serem publicadas
em jornais.
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Por essa pequena demonstração, percebe-se que o aluno compreendeu, com uma
certa profundidade, o que caracteriza um texto como crônica e não como outra
forma, afinal os adjetivos que ele usa para definir são muito próprios à crônica:
gênero impreciso e muitas vezes estigmatizado como impulsivo e irresponsável.
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Ensino de narrativa: conto, crônica, novela e romance
Mas quando não, enfrentamos desafios, desafios esses que colocam em xeque,
inclusive, o nosso repertório de leitura de romances.
àà
Ensino de narrativa: conto, crônica, novela e romance
O quadro ilustra um período que vai de 1500 a 1800 e serve, aqui, apenas como
um demonstrativo (bem como uma lembrança) de como a maioria de nós
estudou literatura. A partir desse quadro, questionamos: o que nos dizem de
fato as características das escolas literárias apresentadas no quadro quando
não conhecemos a obra (ou obras)? Por exemplo, detenhamo-nos ao quadro
Figura 3 relativo ao romantismo, o que é exatamente
“Simplicidade da linguagem”? Seria uma
característica muito importante do romantismo e
só do romantismo? José de Alencar, por exemplo, é
um escritor representativo desse estilo de época.
Sua linguagem é simples? Como pode ser simples
se uma das reclamações dos alunos que não gostam
de Alencar é justamente pela razão de o escritor
apresentar uma linguagem difícil?
Limitar-se aos quadros desse tipo é, entre outras coisas, restringir demais o
ensino de literatura e, sobretudo, criar no aluno uma verdadeira aversão pela
leitura. O que fazer, então?
Primeiramente, ler, ler e ler. Esta é a nossa primeira grande tarefa como professores
de literatura. Em segundo lugar, sugerir para os alunos apenas os livros que já
tenhamos lido ou, no máximo, que temos consciência de que teremos tempo e
condições de ler para poder estabelecer o diálogo com os alunos. Em seguida,
conversar, conversar, e conversar sobre o livro lido, despertando nos alunos a
revelação das impressões que tiveram, do prazer e também do desprazer, e
contribuindo, acima de tudo, para a sua formação de leitor crítico e não apenas
de leitor que simplesmente passou a vista pelo livro e entendeu o enredo,
ou seja, preocupar-se não apenas com o que está sendo contado, mas com
a maneira como está contado. Aqui entram, certamente, os conhecimentos
teóricos que adquirimos no curso de Letras, que, nas palavras de Todorov (2009),
são “ferramenta invisível” que constitui, em linhas gerais, conhecimentos sobre
estruturas e elementos narrativos; sobre a posição do narrador e foco narrativo;
sobre o tempo e o espaço narrativos; sobre a construção dos personagens etc.
A partir desses conhecimentos, a interação em sala de aula, na discussão com
os alunos sobre os livros lidos, pode partir de perguntas do tipo: por que neste
livro, em especial, o narrador é de primeira e não de terceira pessoa?; o que os
personagens desse livro desejam representar com o fato de não terem nomes?
o que há de tão significativo em determinado personagem que nos chama tanta
a atenção? o que pretendia José de Alencar excluindo de “O Guarani” a figura
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Exercitando
Pelo link
àà http://www.posle-ufcg.com.br/dissertacoes/2011/Adalberto%20Teixeira%20Rodrigues.pdf,
5 Trocando em miúdos
Primeiramente vimos que certas formas narrativas, as mais curtas, por exemplo,
prestam-se melhor ao ensino fundamental, o que não significa dizer que não
devemos já nesse nível de ensino introduzir nossos estudantes na leitura
de romances. As narrativas mais curtas (crônicas e contos) proporcionam a
possibilidade de se trabalhar com a leitura na própria sala de aula e de forma
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6 Autoavaliando
Pensemos juntos: como foi a nossa formação escolar no que tange o ensino
de literatura, principalmente de narrativas?; fomos estimulados a ler narrativas?;
quais os romances lidos na escola que mais adoramos?; quais os que detestamos?;
lemos romances na escola?; conseguimos diferenciar, em linhas gerais, as formas
narrativas mais cultivadas nos dias atuais?; o que é um romance?; queremos (e
precisamos) tentar minimizar os problemas que tivemos na escola e não
repeti-los.
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Referências
CANDIDO, Antonio. Vários escritos. 5. ed. Rio de Janeiro: Ouro sobre azul, 2011.