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Vigas de secção heterogénea

1 Introdução
Estes apontamentos abordam o comportamento de vigas de secção heterogénea submetidas à
flexão. Para além de generalizar conceitos já estudados anteriormente, este texto pode também
ser encarado como um recapitular da análise de secções submetidas à flexão.
Restringe-se o estudo ao caso de vigas de secção simétrica, carregadas de tal modo que o
plano de solicitação contenha o eixo de simetria da secção. Deste modo, considera-se apenas o
caso da flexão recta, simples ou composta. Embora muitos dos conceitos pudessem ser facilmente
generalizados a secções não simétricas e ao caso da flexão desviada, a solução prática desse tipo
de problemas torna-se consideravelmente mais complexa pelo que se prefere limitar o âmbito
do estudo. Apenas na definição do centro de rigidez se opta por incluir algumas notas de rodapé
contemplando o caso de secções não simétricas.

2 O problema da tracção e o centro de rigidez


Considere-se uma barra prismática constituída por um conjunto de n materiais elásticos lineares
cuja aderência se admite perfeita. A secção transversal é simétrica no sentido em que os diversos
materiais se dispõem simetricamente em torno do eixo x2 – ver figura 1.
A barra encontra-se traccionada sem flectir de modo a que extensão longitudinal ε33 seja
constante em toda a secção transversal, independentemente do material i em que é observada

ε33 i = ε i = 1, ..., n

Para cada um dos n materiais que compõem a secção, caracterizado por um módulo de elastici-
dade Ei tem-se então um estado de tensão uniaxial caracterizado por

σ33 i = Ei ε i = 1, ..., n

Figura 1: Secção transversal heterogénea simétrica

1
O esforço normal corresponde à resultante das tensões σ33 em toda a secção transversal,
n Z n Z
Z " n # " n #
X X X Z X
N= σ33 dA = σ33 i dA = Ei ε dA = Ei dA ε = E i Ai ε
A i=1 Ai i=1 Ai i=1 Ai i=1

onde se tirou partido do facto de o módulo de elasticidade ser constante em cada uma das n
áreas Ai que compõem a secção transversal.
Assim, conhecido o valor do esforço normal N a que a secção está submetida, o valor da
extensão longitudinal pode ser calculado através de
N
ε= n (1)
P
Ei Ai
i=1

Ao somatório ni=1 Ei Ai dá-se o nome de rigidez axial da secção. Lembre-se que numa secção
P
homogénea a rigidez axial é dada pelo produto EA. Por outro lado, a tensão em cada material
e a respectiva resultante são dadas por
Z
Ei E i Ai
σ33 i = n N Ni = σ33 i dA = n N
A
P P
E j Aj Ej Aj
j=1 j=1

Dito de outro modo, cada material absorve uma parte do esforço normal total, na proporção da
sua contribuição para a rigidez axial total.
Embora se tenha admitido que não existe flexão transversal, ou seja a barra permanece recta
sem qualquer curvatura, não há garantia que o momento flector M1 seja nulo (em contrapartida,
o momento flector M2 em torno do eixo de simetria é obviamente nulo). Calcule-se então o valor
de M1 a partir das tensões já conhecidas
n
P R n
P
Z n Z Ei Ai x2 dA Ei S1 i
X Ei i=1 i=1
M1 = σ33 i x2 dA = n N x2 dA = n N= n N = x̄2 N
A Ai
P P P
i=1 E j Aj E j Aj E j Aj
j=1 j=1 j=1

Nesta expressão,
Z
S1 i = x2 dA
Ai

é o momento estático da área Ai em relação ao eixo x1 . Quanto a x̄2 é uma coordenada cujo
cálculo é análogo ao utilizado para determinar uma coordenada do centro de gravidade de
uma figura plana, mas onde as diversas áreas Ai que constituem a secção vêm ponderadas pelo
respectivo módulo de elasticidade. De facto se x̄2 i for a coordenada do centro de gravidade da
área Ai , tem-se
n
P n
P
Ei S1 i Ei Ai x̄2 i
i=1 i=1
x̄2 = n = n (2)
P P
E j Aj E j Aj
j=1 j=1

Pode concluir-se que, para a barra traccionada sem qualquer curvatura, M1 só será nulo se
o eixo x1 tiver sido escolhido de forma a que x̄2 seja também nulo. Isto significa que a origem
do referencial não deverá ser arbitrária, devendo estar sempre localizada num ponto, também

2
Figura 2: Determinação do centro de rigidez de uma secção heterogénea

situado sobre o eixo de simetria, designado por centro de rigidez1 . Note-se que, no caso particular
de a secção ser homogénea, o centro de rigidez coincide com o centro de gravidade, pelo que
pode ser encarado como uma generalização desse conceito.
Em termos práticos, a determinação do centro de rigidez é feita começando por se considerar
um referencial yi auxiliar arbitrariamente localizado – ver figura 2, a qual contempla a situação
mais geral de a secção não ser simétrica, e a que se faz alusão nas notas de rodapé. Em relação
a esse referencial, as coordenadas do centro de rigidez são dadas por uma equação análoga à
equação (2)
n
P
Ei Ai ȳ2 i
i=1
ȳ2 = n
P
E j Aj
j=1

O referencial xi que nos interessa considerar estará então centrado no centro de rigidez e eixos
paralelos ao referencial yi de modo a que se tem x2 = y2 − ȳ2 e, consequentemente,2
n
P n
P n
P n
P
Ei Ai x̄2 i Ei Ai ( ȳ2 i − ȳ2 ) Ei Ai ȳ2 i E i Ai
i=1 i=1 i=1 i=1
x̄2 = n = n = n − n ȳ2 = ȳ2 − ȳ2 = 0
P P P P
E j Aj Ej Aj E j Aj E j Aj
j=1 j=1 j=1 j=1

como se pretendia.

3 O problema da flexão simples ou composta


Se a viga estiver submetida à flexão, a extensão longitudinal já não será constante, devendo
antes apresentar uma distribuição linear, de acordo com a hipótese de Bernoulli que se admite
1
No caso de secções não simétricas, considerações análogas levariam a escrever
n
P n
P
Z Ei S2 i Ei Ai x̄1 i
i=1 i=1
M2 = − σ33 i x1 dA = −x̄1 N x̄1 = P
n = n
A
P
Ej Aj Ej Aj
j=1 j=1

2
Mais uma vez, para secções não simétricas, ter-se-á
n
P
Ei Ai ȳ1 i
i=1
ȳ1 = Pn x1 = y1 − ȳ1 x̄1 = 0
Ej Aj
j=1

3
Figura 3: Distribuição de deformações e tensões numa secção heterogénea

continuar a ser válida. No caso de secções com um eixo de simetria a flexão será recta (só
existem deslocamentos no plano x2 -x3 ), mas poderá ser simples ou composta.
Nestas circunstâncias pode escrever-se
x2
ε33 i = ε33 = ε + i = 1, ..., n (3)
R
expressão que depende de duas deformações definidas ao nível da secção – a extensão longitu-
dinal ε medida ao nível do centro de rigidez e a curvatura R1 (o inverso do raio de curvatura
da barra no plano x2 -x3 ) – e ainda da coordenada x2 , mas que é independente do material
em causa. De facto, o valor de ε33 é totalmente determinado por hipóteses de tipo cinemático
(perfeita aderência entre materiais, secções mantendo-se planas), pelo que não é afectado pela
heterogeneidade da secção.
Quanto ao valor da tensão, ele será naturalmente também função do módulo de elasticidade
E do material em causa, sendo dada por
 x2 
σ33 i = Ei ε33 = Ei ε + i = 1, ..., n (4)
R
A figura 3 ilustra o tipo de distribuições ε33 e σ33 que se encontram tipicamente numa secção
heterogénea submetida à flexão composta.
O esforço normal que corresponde a estas tensões é
n Z
Z " n # " n #
X  x2  X X 1
N= σ33 dA = Ei ε + dA = Ei Ai ε + Ei Si
A Ai R R
i=1 i=1 i=1

enquanto que o momento flector em torno de x1 é


n Z
Z " n # " n #
X  x2  X X 1
M= σ33 x2 dA = Ei ε+ x2 dA = Ei Si ε + Ei Ii
A Ai R R
i=1 i=1 i=1

onde
Z Z
Si = x2 dA Ii = x22 dA
Ai Ai

são, respectivamente, os momentos estático e de inércia da área Ai em relação ao eixo x1 (como


de aqui para a frente só se aborda o problema da flexão recta, omitem-se os índices 1 de forma
a aliviar a notação).

4
Pn
Como por hipótese o referencial está centrado no centro de rigidez, o somatório i=1 Ei Si
deverá ser nulo (recordar expressão (2)), pelo que se pode concluir que
N 1 M
ε= n = n (5)
P R P
E i Ai Ei Ii
i=1 i=1

Pode observar-se que a extensão longitudinal ε só depende do esforço normal N e que a curva-
tura R1 só depende do momento flector M . Dito por outras palavras, existe um desacoplamento
entre o problema da tracção e da flexão. Deve porém chamar-se a atenção para o facto de este
desacoplamento só se verificar se (i) o referencial estiver centrado no centro de rigidez e (ii) todos
os materiais tiverem um comportamento elástico linear.
De resto, a primeira das igualdades (5), é a repetição de (1). Já a segunda, permite-nos
calcular o valor da curvatura dividindo P o valor do momento flector pela rigidez de flexão da
secção, a qual é dada pelo somatório ni=1 Ei Ii . Mais uma vez, é útil recordar que em secções
homogéneas a rigidez de flexão é dada pelo produto EI.
Inserindo os valores de ε e de R1 , dados por (5) nas equações (3) e (4) chega-se a

N M Ej N Ei M
ε33 = n + n x2 σ33 i = Ei ε33 = n + n x2 (6)
P P P P
Ej Aj Ej Ij E j Aj Ej Ij
j=1 j=1 j=1 j=1

equações que estabelecem o valor das deformações, definidas ao nível da secção, em função dos
esforços que nela actuam.
Como é óbvio, estas expressões podem ser particularizadas para apenas um material. Nesse
caso, recuperam-se as conhecidas expressões relativas ao comportamento de secções homogé-
neas, nomeadamente
N M N M
ε33 = + x2 σ33 = + x2 (7)
EA EI A I

4 A técnica da homogeneização
Uma técnica que pode ser utilizada para a determinação das deformações ε e R1 é a chamada
técnica de homogeneização que a seguir se descreve.
Por uma questão de simplicidade de exposição, admita-se que só existem dois materiais, a e
b, embora seja relativamente trivial a consideração de mais materiais. A posição do centro de
rigidez, relativa a um referencial auxiliar é então
Ea Aa ȳ2 a + Eb Ab ȳ2 b nAa ȳ2 a + Ab ȳ2 b
ȳ2 = = (8)
E a Aa + E b Ab nAa + Ab
onde, na última passagem, se dividiu ambos os termos da fracção por Eb e se recorreu ao
coeficiente de homogeneização (no material b) dado por

Ea
n=
Eb
A expressão final patente em (8) é em tudo semelhante à usada calcular o centro de gravidade
de uma secção homogénea. Na verdade, tudo se passa como se a secção fosse homogénea (no
material b) e o material a tivesse sido «transformado» no material b por aplicação do coeficiente
n. Este conceito está ilustrado na figura, onde se admite que o módulo de elasticidade do
material a é superior ao do material b.

5
Figura 4: Homogeneização de uma secção heterogénea e recuperação da distribuição de tensões

De resto, operações do mesmo tipo podem ser aplicadas às equações (5), obtendo-se
N N 1 M M
ε= = = = (9)
E a Aa + E b Ab Eb (nAa + Ab ) R Ea Ia + Eb Ib Eb (nIa + Ib )

É importante observar que a «transformação» do material a no material b deverá afectar tanto


a área como a inércia através do mesmo coeficiente n, ao mesmo tempo que não afecta a coor-
denada ȳ2 a . Visualmente, isto é conseguindo modificando apenas a «largura» de cada material
mantendo a «altura», de resto como exemplificado na figura 4.3
Estas igualdades podem ser escritas de uma forma mais compacta e sugestiva, bastando para
isso definir-se a área e a inércia da secção homogeneizada (no material b) através de

Ahb = nAa + Ab Ihb = nIa + Ib

Não se deve esquecer que qualquer das inércias consideradas é sempre em relação ao eixo x1
que passa no centro de rigidez (o centro de gravidade da secção homogeneizada).
As equações (9) ficam então idênticas às equações que se obteriam para uma secção homo-
génea de área Ahb e inércia Ihb
N 1 M
ε= =
Eb Ahb R Eb Ihb
O valor de ε33 fica totalmente definido inserindo estes valores na equação (3), nomeada-
mente
x2 N M
ε33 = ε + = + x2
R Eb Ahb Eb Ihb
Já quanto à distribuição de tensões há que ter em atenção, qual o módulo de elasticidade
que diz respeito ao material em causa, podendo escrever-se
Ea N Ea M nN nM
σ33 a = Ea ε33 = + x2 = + x2 = n σ33 hb
Eb Ahb Eb Ihb Ahb Ihb
Eb N Eb M N M
σ33 b = Eb ε33 = + x2 = + x2 = σ33 hb
Eb Ahb Eb Ihb Ahb Ihb
3
A propósito, esta técnica de homogeneização não é facilmente generalizável ao caso da flexão desviada. De
facto, fora do contexto das secções simétricas submetidas a flexão recta. Por exemplo, é necessário calcular duas
coordenadas do centro de rigidez, mas a homogeneização da secção para o cálculo de uma das coordenadas não
pode ser empregue para o cálculo da outra – basta observar que a «largura» numa das direcções é a «altura» na
direcção que lhe é perpendicular.

6
Figura 5: Variação de temperatura e sua decomposição na parcela uniforme e linear

Observe-se que a expressão para as tensões σ33 b – no material no qual a secção foi homoge-
neizada – é em tudo semelhante à relativa à distribuição de tensões numa secção homogénea –
basta comparar com a equação (7). Porém, há que ter cuidado, já que para recuperar as verda-
deiras tensões σ33 a é necessário multiplicar a distribuição de tensões na secção homegeneizada
pelo coeficiente de homogeneização.

5 Variações de temperatura
Considere-se agora que a secção está submetida a variações de temperatura. Admita-se que a
variação de temperatura é conhecida e que tem uma distribuição linear na espessura, isto é na
direcção x2 . Este tipo de distribuição é geralmente suficiente para a maioria das situações com
interesse já que permite contemplar tanto a variação de temperatura do meio ambiente como
variações de temperatura diferenciais, tais como as decorrentes da exposição da face superior
do tabuleiro de uma ponte à incidência dos raios solares.4
Seja então a variação de temperatura dada por (ver figura 5)

∆TL
∆T = ∆TU + x2 (10)
h
onde ∆TU é a variação de temperatura uniforme, registada no centro de rigidez, ∆TL é a variação
de temperatura diferencial, isto é, a diferença entre a variação de temperatura registada na face
inferior e aquela que é registada na face superior, sendo h a altura da secção (a distância entre
as faces superior e inferior).5
A deformação em cada material é dada pela soma das deformações elásticas com as defor-
mações devidas à (livre) variação de temperatura
σ33 i
ε33 i = + αi ∆T
Ei
onde αi é o coeficiente de dilatação térmica do material em causa. Esta equação pode ser resolvida
em ordem à tensão, obtendo-se

σ33 i = Ei ( ε33 i − αi ∆T ) (11)


4
No âmbito do estudo do comportamento de secções heterogéneas faria algum sentido considerar distribuições
de temperatura distintas para os vários materiais que compõem a secção. No entanto, prefere-se não sobrecarregar
demasiado a exposição, já que a generalização é relativamente trivial – bastará considerar diversos termos ∆TU i e
∆TLi , deixando-os sempre dentro dos somatórios respectivos.
5
Na verdade, não é necessário que existam faces superior e inferior. Em rigor, o que está em causa é a diferença
de temperatura entre os pontos para os quais é maior a diferença entre a coordenada x2 no interior da secção.

7
Independentemente da existência de variações de temperatura, as deformações totais ε33 i
continuam a respeitar a hipótese de Bernoulli (secções planas) pelo que a equação (3) mantém
a validade. A substituição do valor de ε33 i , dado por (3), e do valor de ∆T , dado por (10), na
equação (11) permite escrever
 
x2 ∆TL
σ33 i = Ei ε + − αi ∆TU − αi x2 (12)
R h

É agora possível, voltar a recalcular os esforços normal


Z n Z  
X x2 ∆TL
N= σ33 dA = Ei ε + − αi ∆TU − αi x2 dA
A R h
i=1 Ai
" n # " n # " n # " n #
X X 1 X X ∆TL
= E i Ai ε + Ei Si − Ei Ai αi ∆TU − Ei Si αi
R h
i=1 i=1 i=1 i=1

e o momento flector
Z n Z  
X x2 ∆TL
M= σ33 x2 dA = Ei ε + − αi ∆TU − αi x2 x2 dA
A R h
i=1 Ai
" n # " n # " n # " n #
X X 1 X X ∆TL
= Ei Si ε + Ei Ii − Ei Si αi ∆TU − Ei Ii αi
R h
i=1 i=1 i=1 i=1

Desde já se observa que atendendo a que o eixo x1 passa no centro de rigidez, tem-se, como
anteriormente, que o momento estático ponderado total é nulo, isto é
n
X
Ei Si = 0 (13)
i=1

Mas mesmo com a anulação dessas parcelas as expressões anteriores ainda se mostram algo
complexas, pelo que é útil a consideração de hipóteses adicionais que permitam alcançar ex-
pressões mais simples.
Assim, admita-se que (i) a secção é bissimétrica ou que (ii) o coeficiente de dilatação térmica
é o mesmo para todos os materiais6 , isto é, αi = α. Em qualquer uma destas situações tem-se
n
X
Ei Si αi = 0
i=1

no primeiro caso por um argumento simples de simetria, no segundo caso porque é possível por
α em evidência e o anulamento deste somatório é uma consequência de (13).
Então, para secções bissimétricas ou secções onde caracterizadas por α constante, verifica-se
que os problemas da tracção e da flexão ficam novamente desacoplados,
" n # " n # " n # " n #
X X X 1 X ∆TL
N= E i Ai ε − Ei Ai αi ∆TU M= Ei Ii − Ei Ii αi
R h
i=1 i=1 i=1 i=1

Resolvendo estas equações em ordem às deformações da secção, tem-se


P P
N i Ei Ai αi 1 M Ei Ii αi ∆TL
ε= P + P ∆TU =P + Pi
i E i Ai i E i Ai R i Ei Ii i Ei Ii h
6
Recorde-se que isso é o que acontece no caso de secções de betão armado, onde se tem uma quase coincidência
entre os coeficientes de dilatação térmica do aço e do betão.

8
Conhecidos estes valores, pode facilmente calcular-se a distribuição das deformações totais,
através de (3), ou das tensões σ33 i , bastando para isso recorrer à equação (12), obtendo-se
" P ! P ! #
N j Ej Aj αj M j Ej Ij αj ∆TL
σ33 i = Ei P + P − αi ∆TU + P x2 + P − αi x2
j E j Aj j E j Aj j Ej Ij j Ej Ij h

Observa-se que, mesmo quando não existem esforços actuando na secção (N = M = 0), existem
tensões tensões internas devidas às variações de temperatura. Estas tensões estarão obrigatori-
amente auto-equilibradas na secção (uma vez que correspondem a esforços nulos).
No caso particular de α ser constante, estas expressões simplificam-se consideravelmente
para
N 1 M ∆TL
ε= P + α∆TU =P +α
i E i Ai R i Ei Ii h

e também
" #
N M
σ33 i = Ei P +P x2
E A
j j j j Ej Ij

Nesta situação, constata-se que não há tensões devidas à acção directa das variações de tem-
peratura, uma vez a dilatação livre de todos os materiais não é incompatível com a condição
de as secções transversais se manterem planas. De facto, se os esforços forem nulos, a varia-
ção de temperatura uniforme provoca um alongamento da barra, enquanto que a variação de
temperatura diferencial provoca uma curvatura constante na barra. Mais concretamente, tem-se
simplesmente

1 ∆TL
ε∆T = α∆TU =α
R ∆T
h

É claro que estas deformações livres pressupõem (para além da hipótese já referida de α ser
constante) que a barra esteja inserida numa estrutura isostática. Caso contrário, a livre dila-
tação associada a qualquer um destes termos (ε ou R1 ) estará impedida, com o consequente
aparecimento de reacções e de esforços.

6 Flexão não linear


Pretende-se agora analisar o comportamento de uma secção heterogénea constituída por diver-
sos materiais cuja lei constitutiva é não linear. Na verdade, basta que um material seja não linear
para que o comportamento da secção seja não linear.
Continuando a admitir a aderência perfeita, mantém-se a hipótese de Bernoulli e a corres-
pondente distribuição linear de deformações,
x2
ε33 i = ε33 = ε + i = 1, ..., n
R
A estas deformações corresponde uma distribuição de tensões não lineares. Em termos genéri-
cos, para cada material, podemos escrever

σ33 i = σ33 i (ε33 ) i = 1, ..., n

9
Figura 6: Lei constitutiva para um material elastico-perfeitamente plástico e para um material
não resistente à tracção

Para materiais que apresentem uma lei constitutiva «elástica-perfeitamente plástica», tem-
se7
 + +
+ σced i
 se Ei ε33 > σced i
− +
σ33 i = Ei ε33 se − σced i
< E i ε33 < σced i i = 1, ..., n (14)
− −

− σced se Ei ε33 < − σced

i i
+ −
onde σced i
= σced i
= σced i é a tensão de cedência do material i. Em geral, um material elasto-
plástico apresenta tensões de cedência à tracção e à compressão de valor igual. A vantagem de
+ −
ter considerado em (14) dois valores distintos σced i
e σced i
, respectivamente para a cedência de
tracção e de compressão, prende-se com o facto de esta lei mais geral também descrever materi-
+ −
ais não resistentes à tracção, bastando para isso tomar σced i
= 0 e σced i
= ∞ (este último valor
se quisermos que o material seja indefinidamente elástico à compressão). Ver figura 6 para uma
ilustração destes dois tipos de lei constitutiva.
O modo de atacar estes problemas é idêntico ao utilizado anteriormente. Há que introdu-
zir as diversas leis constitutivas e a distribuição linear de deformações na definição geral dos
esforços
Z Z
N= σ33 dA M= σ33 x2 dA
A A

Deste modo, estabelecem-se duas equações onde, para além dos dados geométricos da secção
e das propriedades mecânicas dos materiais, intervêm duas variáveis cinemáticas (a extensão
longitudinal ao nível do centro de rigidez ε e a curvatura R1 ) e duas grandezas estáticas (o esforço
normal N e o momento flector M ).
Um dos problemas que se põe frequentemente é a determinação dos esforços máximos que
uma dada secção, composta por materiais elastoplásticos, é capaz de suportar. A resolução deste
tipo de problemas é muito facilitada pelo facto de, na situação limite, a distribuição de tensões
ser quase conhecida, já que todos os pontos da secção se encontram plastificados.8
Admita-se que é conhecido o valor do esforço normal NP0 .9 O momento de plastificação MP0
correspondente será atingido assimptoticamente quando R1 → ∞. Nessa situação limite pode-
mos admitir que todos os pontos da secção se encontram plastificados à tracção ou à compressão
consoante estejam de um lado ou do outro da linha neutra.
7
Em rigor, isto só é verdade se excluirmos à partida os casos de carga plástica seguida de descarga elástica. No
que se segue, essa hipótese é sempre admitida.
8
A discussão que se segue só se aplica se nenhum dos materiais for indefinidamente elástico.
9
Estamos a admitir o caso mais geral de o colapso da secção se poder dar em flexão composta. À semelhança do
que é feito na análise de secções homogéneas, designamos os esforços máximos por esforço normal de plastificação
reduzido NP0 e momento flector de plastificação reduzido MP0 .

10
Figura 7: Flexão plástica de uma secção heterogénea

Ora, a posição da linha neutra pode ser determinada a partir da equação N = NP0 . De facto,
para uma determinada posição desta linha pode escrever-se
n n
"Z Z #
X X

0 + 0
Ai σced i − A− −
  + + 
NP = σced i dA + − σced i dA ⇒ NP = i σced i (15)
i=1 A+
i A−
i i=1


onde A+ i e Ai são as áreas do material i, respectivamente, abaixo e acima da linha neutra
(admite-se aqui que o momento actuante é positivo – e consequentemente também a curvatura
1
R ). Observe-se que no caso muito frequente em que a secção é composta por «camadas» de

vários materiais, apenas para um dos materiais as duas áreas A+ i e Ai são ambas não nulas
(o material que é intersectado pela linha neutra). De um ponto de vista prático é necessário

escrever as diversas A+i e Ai em função da distância d da linha neutra a uma linha de referência,
substituir na equação acima e obter o valor de d como solução da equação (a qual é uma equação
linear sempre que as diversas Ai que compõe a secção forem de forma rectangular). Ver figura
7 para uma ilustração do conceito.
Conhecida a posição da linha neutra, e portanto também a distribuição de tensões, a deter-
minação do valor do momento MP é
n n
"Z Z #
X X

0 + 0
Si σced i − Si− σced

  + + 
MP = σced i x2 dA + − σced i x2 dA ⇒ MP = i
i=1 A+
i A−
i i=1
(16)

onde
Z Z
Si+ = x2 dA Si− = x2 dA
A+
i A−
i


são os momentos estáticos da áreas A+i e Ai , respectivamente.
É crucial reconhecer que o valor do momento MP0 (ou dos momentos estáticos) deve ser
calculado em relação ao eixo x1 que passa no centro de rigidez. Apenas no caso da flexão
simples, onde N = 0, se pode calcular o valor do momento em relação a qualquer eixo (já que
a distribuição de tensões é um sistema equivalente a binário, o qual é independente do ponto
onde é calculado). Assim, no caso da flexão simples, é habitualmente mais simples calcular o
valor de momento MP0 (ou de Si+ e Si− ) em relação à linha neutra plástica.
A propósito, observe-se que (no caso do momento ser positivo) os momentos estáticos Si−
são habitualmente negativos, pelo que as várias parcelas no cálculo de MP0 , ver equação (16),

11
Figura 8: Determinação do fluxo de corte numa secção heterogénea

têm habitualmente todas sinal positivo. Mas, dada a eventual distância entre o centro de rigidez
e a linha neutra plástica, pode haver uma parte da distribuição de tensões cuja contribuição
para o valor do momento é de sinal contrário ao valor de MP0 . No exemplo ilustrado na figura 7,
as tensões (negativas) que ocorrem entre a linha neutra plástica e o centro de rigidez têm uma
contribuição negativa paro o momento plástico positivo MP0 .
É interessante agora considerar alguns casos particulares. Em primeiro lugar, se o esforço
normal conhecido for nulo, obtém-se, como é óbvio, o momento de plastificação MP em flexão
simples.
Menos óbvia é a determinação do esforço normal de plastificação NP quando M = 0. Numa
secção homogénea, a um esforço normal corresponde uma distribuição de tensões uniforme e
o valor de NP é simplesmente dado
P por Aσced . Se a secção for heterogénea mas bissimétrica,
obtém-se, naturalmente, NP = ni=1 Ai σced i , o que corresponde a todos os materiais a traba-
lhar à respectiva tensão de cedência, sendo a curvatura no colapso nula.
No entanto, em secções heterogéneas não bissimétricas, este tipo de distribuição (todos os
pontos plastificados à tracção) não garante à partida que o momento em relação ao centro de
rigidez seja nulo (recorde-se que o centro de rigidez é determinado exclusivamente com base
nas propriedades elásticas, não dependendo das valores das tensões de cedência). Conclui-se
assim que, nestes casos, a um momento nulo não corresponde uma curvatura nula e vice-versa.

7 Fluxo de corte (flexão elástica)


O estudo do comportamento de uma secção heterogénea submetida à flexão apresentado ante-
riormente pressupõe que exista um comportamento monolítico, isto é, que os diversos materiais
funcionem em conjunto. De facto, só faz sentido admitir a hipótese de Bernoulli e uma distribui-
ção linear de ε33 desde que se possa garantir uma aderência perfeita entre os diversos materiais
que compõem a secção.
Para avaliar se existe uma boa aderência entre os diversos materiais, torna-se então funda-
mental quantificar o esforço rasante a que as ligações entre os diversos materiais são submetidas.
É esse o objectivo desta secção, a qual contempla apenas o comportamento elástico.
A figura 8 recapitula a dedução da fórmula fundamental do esforço rasante, aplicada agora
ao caso de uma secção heterogénea. Um troço de uma barra prismática heterogénea de compri-
mento dx3 está submetido a um momento flector variável, o que se traduz em valores diferentes
das tensões normais que actuam nas faces esquerda e direita.
Considere-se um corte horizontal longitudinal, o qual permite isolar um volume prismático
de área transversal A0 . Note-se que esta área A0 pode conter mais do que um material – no caso

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da figura abarca a camada inferior e parte da camada média. Seja N0 a resultante das tensões
σ33 nessa área
Z Xn Z
N0 = σ33 dA = σ33 i dA (17)
A0 i=1 A0i

onde A0i é a área do material i que está inserida na área A0 .


Por equilíbrio de forças horizontais no volume de secção transversal A0 e de comprimento
dx3 , conclui-se que

−N0 + dR + N0 + dN0 = 0 ⇒ dR = − dN0 (18)

Nesta expressão dR é o esforço rasante que é exercido sobre a parte inferior pela parte restante
da secção. Observe-se que como se admite que existe esforço transverso, o momento flector é
variável, pelo que a resultante N0 não será constante segundo x3 – daí a consideração do termo
dN0 .
O fluxo de corte é o esforço rasante por unidade de comprimento (terá, portanto, unidades
de força por unidade de comprimento) e corresponde ao integral das tensões tangenciais que se
instalam ao longo da linha que divide a área A0 da restante parte da secção. Inserindo (17) em
(18) e dividindo por dx3 , conclui-se que o fluxo de corte é dado por
" n Z # n Z
dR dN0 d X X
f= =− =− σ33 i dA = − σ33,3 i dA
dx3 dx3 dx3 A0i A0i
i=1 i=1

onde se teve em conta que, como o corte é prismático, a derivada do integral é igual à derivada
da função integranda.
Derivando a equação (6), que nos dá a distribuição de tensões normais numa viga heterogé-
nea, podemos concluir que 10
!
d Ei M Ei M,3 Ei V
σ33,3 i = P x2 = P x2 = P x2
dx3 j Ej Ij j Ej Ij j Ej Ij

onde se teve em conta que nem os módulos de elasticidade Ej nem as inércias Ij dependem
de x3 e que a derivada de M1 é o esforço transverso V2 (por economia de notação, aqui apenas
referidos por M e V ). Então, o fluxo vem dado por
n Z n  Z 
X Ei V V X
f =− P x2 dA = − P Ei x2 dA
A0i
i=1 j Ej Ij j Ej Ij A0i i=1

ou, simplesmente,
n
P
V Ei Si
i=1
f =− n (19)
P
Ej Ij
j=1

onde Si é o momento estático da área A0i em relação à linha neutra (mais rigorosamente, em
relação ao eixo x1 que passa no centro de rigidez),
Z
Si = x2 dA
A0i
10
Nesta passagem, admitiu-se o caso de flexão simples, onde N = 0. Mas note-se que a presença de um esforço
normal constante não afecta a presente discussão. De facto, basta que N,3 seja nulo para que σ33,3 i só dependa do
esforço transverso V2 .

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Figura 9: Fluxo de corte numa secção mista aço-betão

A equação (19) generaliza a equação f = − VIS , relativa ao comportamento de secções


homogéneas, a qual pode ser recuperada tornando todos os módulos de elasticidade iguais.
Como acontece em outras situações relativas ao estudo do comportamento elástico de secções
heterogéneas, verifica-se que a generalização envolve basicamente a ponderação das diversas
grandezas geométricas (áreas, momentos estáticos, momentos de inércia) por meio dos módulos
de elasticidade. Por esta razão, continua a ser possível recorrer à técnica de homogeneização
descrita anteriormente.
É ainda possível dividir o fluxo de corte pelo comprimento da linha que separa A0 do resto
da secção transversal e desse modo obter uma tensão tangencial média.
No entanto, muitas das vezes, interessa fundamentalmente conhecer o fluxo de corte na
ligação entre os dois materiais que compõem uma secção mista, já que é o conhecimento desse
fluxo que é relevante para avaliar o funcionamento da ligação.
Considere-se, por exemplo, o caso de uma secção mista aço-betão, constituída por uma viga
metálica de módulo de elasticidade Ea e por uma lâmina de compressão de betão de módulo de
elasticidade Eb , ver figura 9. Além disso, sejam Sa , Sb , Ia e Ib os momentos estáticos e de inércia
de cada um dos materiais, todos referidos ao centro de rigidez. Então tem-se, simplesmente
V E a Sa V E b Sb
fa = − ou fb = −
Ea Ia + Eb Ib Ea Ia + Eb Ib
A primeira destas expressões dá o fluxo de corte exercido sobre o aço pelo betão, ao passo que
a segunda das expressões dá o fluxo de corte exercido sobre o betão pelo aço. A menos de um
sinal, as duas expressões dão o mesmo valor, uma vez que, por definição do centro de rigidez,
se tem forçosamente Ea Sa + Eb Sb = 0.

Manuel Ritto Corrêa


4-Outubro-2007

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