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Ética, Moral, Princípios, Valores e Virtudes

Os valores éticos podem se transformar, assim como a sociedade se transforma, considerando que na sociedade
desempenhamos papéis diferenciados e adequados a cada espaço de convivência. Nosso desempenho está associado ao
que é preciso fazer na representação de cada papel. O que devemos ser é indicado pelas regras do coletivo de que fazemos
parte. Cada sociedade se compõe de um conjunto de "ethos", ou seja, jeitos de ser, que conferem um caráter àquela
organização. Para tanto, consideramos importante rever alguns conceitos:

Ética e moral

Latim: costumes, conduta.


Grego: costumes, conduta, caráter. Etimologicamente as palavras possuem o mesmo significado; porém, conceitualmente
diferem:
Moral: conjunto de regras indicadoras do bem a ser feito e do mal a ser evitado, para que a sociedade viva em harmonia e o
indivíduo encontre a felicidade.
Ética: é a discussão, o debate, sobre as regras; a análise dos princípios que regem a moral. É a filosofia da moral.

Para Terezinha Rios a ética se apresenta como uma reflexão crítica sobre a moralidade, sobre a dimensão moral do
comportamento do homem. Cabe a ela, enquanto investigação que se dá no interior da filosofia, procurar ver de forma clara,
profunda e ampla os valores, problematizá-los, buscando sua consistência. No plano da ética estamos numa perspectiva de
um juízo crítico, que quer compreender, quer buscar o sentido da ação. A moral indica o comportamento que deve ser
considerado bom ou mal. A ética procura o fundamento do valor que norteia o comportamento. Na reflexão científica, ética
seria:

Normas de comportamento - Ciência normativa

As grandes teorizações éticas gregas também traziam a marca do tipo de organização social daquela sociedade. E no
decorrer da história os grandes pensadores buscaram formulações que explicassem:

Princípios mais universais

Igualdade do gênero humano e suas próprias variações

Uma boa teoria ética deveria ser capaz de explicar as variações de comportamento, características das diferentes formações
culturais e históricas. Enfocando a ética grega e lembrando de Platão (427-347 a. C.): a " virtude também é uma purificação";
no Diálogo da Leis afirma: " Deus é a medida de todas as coisas". As principais virtudes da ética platônica é a idéia do sumo
bem: - justiça (dike) - virtude geral que ordena e harmoniza.

 prudência ou sabedoria - é a virtude própria da alma racional


 fortaleza ou valor - é a que faz com que as paixões mais nobres predominem, e que o prazer se subordine ao dever
 temperança - é a virtude da serenidade, equivalente ao autodomínio, à harmonia individual.

Aristóteles (384 -322 a.C.) valorizava a vontade humana; a deliberação e o esforço em busca de bons hábitos. O homem
precisa converter suas melhores disposições naturais em hábitos, de acordo com a razão (virtudes intelectuais). Mas essa
autoeducação supõe um esforço voluntário, de modo que a virtude provém mesmo da liberdade, que delibera e elege
inteligentemente. A virtude é uma espécie de segunda natureza, adquirida pela razão livre. Para Sócrates (470-399 a.C.)
filosofo grego que aparece nos " Diálogos de Platão"(427-347 a.C.), usava o método da maiêutica que consistia em interrogar
o interlocutor até que este chegasse por si mesmo à verdade, sendo assim uma espécie de " parteiro das ideias"). Sócrates
foi chamado "O fundador da moral",

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acentuando o aspecto de interiorização das normas, baseava-se principalmente na convicção pessoal.

Aristóteles distinguiu dois tipos de virtude: as intelectuais e as morais. Estas consistem no controle das paixões e são
características dos movimentos espontâneos do caráter humano. Ao contrário do que muitos imaginam a virtude não é uma
atividade, mas sim uma maneira habitual de ser. A virtude não pode ser adquirida da noite para o dia, porque depende de ser
praticada. Com atos repetitivos, o homem acaba por transformá-los numa segunda natureza, numa disposição para agir
sempre da mesma forma. O processo é sempre o mesmo, sejam os atos bons ou maus. Quando bons, temos a virtude.
Quando maus, o vício.

A atividade daquele que age de acordo com os bons hábitos é o que chamamos de felicidade. Também é a felicidade mais
autossuficiente, porque não precisa de bens materiais para se efetivar. Dessa forma, como a condição fundamental para a
conquista da felicidade é a virtude, e esta só pode ser adquirida mediante exercício e esforço, o homem tem que desenvolver
mecanismos de ação que garantam a sua aquisição. Tais mecanismos são, em especial, os valores (educação) e as leis. Os
valores desenvolvem no homem os hábitos virtuosos; as leis organizam e protegem o exercício da virtude pelos membros da
sociedade.

Sócrates estabelece uma diferença entre o que eu digo e o que quero dizer (entre a formulação e o sentido das proposições),
considera uma distância entre o exterior e o interior). Para Rousseau (1712 -1778) ética significava um agir de forma mais
primitiva. " O homem é bom por natureza e seu espírito pode sofrer aprimoramento quase ilimitada." Posteriormente Kant
(1724 - 1804) final do século XVIII, alemão prussiano, baseava-se na ética de validade universal que se apoia na igualdade
fundamental entre os homens. Para Kant a natureza humana é uma natureza racional, o que equivale a dizer que a natureza
nos fez livres, mas não nos disse concretamente o que fazer. Portanto, o homem como um ser natural, destinado pela
natureza à liberdade, deve desenvolver está liberdade através da mediação de sua capacidade racional.

Resumindo para ele "ética é obrigação de agir segundo regras universais, comum a todos os seres humanos por ser derivada
da razão." Descartes, propôs uma moral provisória para cuidar primeiro das questões teóricas, resolvendo as questões
práticas do jeito que der. Hegel (1770 -1831) divide a ética em subjetiva ou pessoal e objetiva ou social. Karl Marx (1818 -
1883) interpretou a história da humanidade como a história de uma luta constante com a natureza. A ação humana se define
então como trabalho, como técnica. Para Bertrand Russel (1872 - 1970) a ética é subjetiva não contém afirmações
verdadeiras ou falsas. Para Habermas (1929) a ética discursiva é baseada em diálogo, por sujeitos capazes de se
posicionarem criticamente diante de normas.

O homem vive em sociedade, convive com outros homens e, portanto, cabe-lhe pensar e responder à seguinte pergunta:
"Como devo agir perante os outros?". Trata-se de uma pergunta fácil de ser formulada, mas difícil de ser respondida. Ora, esta
é a questão central da Moral e da Ética.

Moral e ética, às vezes, são palavras empregadas como sinônimos: conjunto de princípios ou padrões de conduta. Ética pode
também significar Filosofia da Moral, portanto, um pensamento reflexivo sobre os valores e as normas que regem as
condutas humanas. Em outro sentido, ética pode referir-se a um conjunto de princípios e normas que um grupo estabelece
para seu exercício profissional (por exemplo, os códigos de ética dos médicos, dos advogados, dos psicólogos, etc.).

Em outro sentido, ainda, pode referir-se a uma distinção entre princípios que dão rumo ao pensar sem, de antemão, prescrever
formas precisas de conduta (ética) e regras precisas e fechadas (moral).

Finalmente, deve-se chamar a atenção para o fato de a palavra "moral" ter, para muitos, adquirido sentido pejorativo,
associado a "moralismo". Assim, muitos preferem associar à palavra ética os valores e regras que prezam, querendo assim
marcar diferenças com os "moralistas".

Parte-se do pressuposto que é preciso possuir critérios, valores, e, mais ainda, estabelecer relações e hierarquias entre esses
valores para nortear as ações em sociedade. Situações dilemáticas da vida colocam claramente essa necessidade.

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Por exemplo, é ou não ético roubar um remédio, cujo preço é inacessível, para salvar alguém que, sem ele, morreria?
Colocado de outra forma: deve-se privilegiar o valor "vida" (salvar alguém da morte) ou o valor "propriedade privada" (no
sentido de não roubar)?

Seria um erro pensar que, desde sempre, os homens têm as mesmas respostas para questões desse tipo. Com o passar do
tempo, as sociedades mudam e também mudam os homens que as compõem. Na Grécia antiga, por exemplo, a existência
de escravos era perfeitamente legítima: as pessoas não eram consideradas iguais entre si, e o fato de umas não terem
liberdade era considerado normal. Outro exemplo: até pouco tempo atrás, as mulheres eram consideradas seres inferiores aos
homens, e, portanto, não merecedoras de direitos iguais (deviam obedecer a seus maridos).

Outro exemplo ainda: na Idade Média, a tortura era considerada prática legítima, seja para a extorsão de confissões, seja
como castigo. Hoje, tal prática indigna a maioria das pessoas e é considerada imoral.

Portanto, a moralidade humana deve ser enfocada no contexto histórico e social. Por consequência, um currículo escolar
sobre a ética pede uma reflexão sobre a sociedade contemporânea na qual está inserida a escola; no caso, o Brasil do século
XX.

Tal reflexão poderia ser feita de maneira antropológica e sociológica: conhecer a diversidade de valores presentes na
sociedade brasileira. A Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 1988, traz elementos que identificam
questões morais.

Por exemplo, o art. 1º traz, entre outros, como fundamentos da República Federativa do Brasil a dignidade da pessoa
humana e o pluralismo político. A idéia segundo a qual todo ser humano, sem distinção, merece tratamento digno corresponde
a um valor moral. Segundo esse valor, a pergunta de como agir perante os outros recebe uma resposta precisa: agir sempre
de modo a respeitar a dignidade, sem humilhações ou discriminações em relação a sexo ou etnia. O pluralismo político,
embora refira-se a um nível específico (a política), também pressupõe um valor moral: os homens têm direito de ter suas
opiniões, de expressá-las, de organizar-se em torno delas. Não se deve, portanto, obrigá-los a silenciar ou a esconder seus
pontos de vista; vale dizer, são livres. E, naturalmente, esses dois fundamentos (e os outros) devem ser pensados em
conjunto. No art. 5º, vê-se que é um princípio constitucional o repúdio ao racismo, repúdio esse coerente com o valor
dignidade humana, que limita ações e discursos, que limita a liberdade às suas expressões e, justamente, garante a referida
dignidade.

No art. 3º, lê-se que constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil (entre outros):

I) construir uma sociedade livre, justa e solidária;

III) erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;

IV) promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
discriminação. Não é difícil identificar valores morais em tais objetivos, que falam em justiça, igualdade, solidariedade, e sua
coerência com os outros fundamentos apontados.

No título II, art. 5º, mais itens esclarecem as bases morais escolhidas pela sociedade brasileira:

I) homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações; (...)

III) ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante; (...)

VI) é inviolável a liberdade de consciência e de crença (...);

X) são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas (...).

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Porém, aqui, três pontos devem ser devidamente enfatizados.
O primeiro refere-se ao que se poderia chamar de "núcleo" moral de uma sociedade, ou seja, valores eleitos como necessários
ao convívio entre os membros dessa sociedade. A partir deles, nega-se qualquer perspectiva de "relativismo moral",
entendido como "cada um é livre para eleger todos os valores que quer". Por exemplo, na sociedade brasileira não é
permitido agir de forma preconceituosa, presumindo a inferioridade de alguns (em razão de etnia, raça, sexo ou cor), sustentar e
promover a desigualdade, humilhar, etc. Trata-se de um consenso mínimo, de um conjunto central de valores, indispensável à
sociedade democrática: sem esse conjunto central, cai-se na anomia, entendida seja como ausência de regras, seja como
total relativização delas (cada um tem as suas, e faz o que bem entender); ou seja, sem ele, destrói-se a democracia, ou, no
caso do Brasil, impede-se a construção e
o fortalecimento do país.

O segundo ponto diz respeito justamente ao caráter democrático da sociedade brasileira. A democracia é um regime político
e também um modo de sociabilidade que permite a expressão das diferenças, a expressão de conflitos, em uma palavra, a
pluralidade. Portanto, para além do que se chama de conjunto central de valores, deve valer a liberdade, a tolerância, a
sabedoria de conviver com o diferente, com a diversidade (seja do ponto de vista de valores, como de costumes, crenças
religiosas, expressões artísticas, etc.). Tal valorização da liberdade não está em contradição com a presença de um conjunto
central de valores. Pelo contrário, o conjunto garante, justamente, a possibilidade da liberdade humana, coloca-lhe fronteiras
precisas para que todos possam usufruir dela, para que todos possam preservá-la.

O terceiro ponto refere-se ao caráter abstrato dos valores abordados. Ética trata de princípios e não de mandamentos. Supõe
que o homem deva ser justo. Porém, como ser justo? Ou como agir de forma a garantir o bem de todos? Não há resposta
predefinida. É preciso, portanto, ter claro que não existem normas acabadas, regras definitivamente consagradas. A ética é
um eterno pensar, refletir, construir.

LEGITIMAÇÃO DOS VALORES E REGRAS MORAIS

Diz-se que uma pessoa possui um valor e legitima as normas decorrentes quando, sem controle externo, pauta sua conduta
por elas. Por exemplo, alguém que não rouba por medo de ser preso não legitima a norma "não roubar": apenas a segue por
medo do castigo e, na certeza da impunidade, não a seguirá. Em compensação, diz- se que uma pessoa legitima a regra em
questão ao segui-la independentemente de ser surpreendida, ou seja, se estiver intimamente convicta de que essa regra
representa um bem moral.

Mas o que leva alguém a pautar suas condutas segundo certas regras?

Como alguns valores tornam-se traduções de um ideal de “Bem”, gerando deveres?

Seria mentir por omissão não dizer que falta consenso entre os especialistas a respeito de como um indivíduo chega a
legitimar determinadas regras e conduzir-se coerentemente com elas.

Para uns, trata-se de simples costume: o hábito de certas condutas, validam-nas.

Para outros, a equação deveria ser invertida: determinadas condutas são consideradas boas, portanto, devem ser praticadas;
neste caso, o juízo seria o carro-chefe da legitimação das regras. Para outros ainda, processos inconscientes (portanto,
ignorados do próprio sujeito, e, em geral, constituídos durante a infância) seriam os determinantes da conduta moral. E há
outras teorias mais.

Afetividade

Toda regra moral legitimada aparece sob a forma de uma obrigação, de um imperativo: deve-se fazer tal coisa, não se deve
fazer tal outra. Como essa obrigatoriedade pode se instalar na consciência? Ora, é preciso que os conteúdos desses
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imperativos toquem, em alguma medida, a sensibilidade da pessoa; vale dizer, que apareçam como desejáveis. Portanto,
para que um indivíduo se incline a legitimar um determinado conjunto de regras, é necessário que o veja como traduzindo
algo de bom para si, como dizendo respeito a seu bem-estar psicológico, ao que se poderia chamar de seu "projeto de
felicidade". Se vir nas regras aspectos contraditórios ou estranhos ao seu bem-estar psicológico pessoal e ao seu projeto de
felicidade, esse indivíduo simplesmente não legitimará ,os valores subjacentes a elas e, por conseguinte, não legitimará as
próprias regras.

Poderá, às vezes, comportar-se como se as legitimasse, mas será apenas por medo do castigo. Na certeza de não ser
castigado, seja porque ninguém tomará conhecimento de sua conduta, seja porque não haverá algum poder que possa puni-
lo, se comportará segundo seus próprios desejos. Em resumo, as regras morais devem apontar para uma possibilidade de
realização de uma "vida boa"; do contrário, serão ignoradas.

Porém, fica uma pergunta: sendo que os projetos de felicidade são variados, que dependem inclusive dos diferentes traços
de personalidade, e sendo também que as regras morais devem valer para todos (se cada um tiver a sua, a própria moral
desaparece), como despertar o sentimento de desejabilidade para determinadas regras e valores, de forma que não se
traduza em mero individualismo?

De fato, as condições de bem-estar e os projetos de felicidade são variados. Para alguns, por exemplo, o verdadeiro bem-
estar nunca será usufruído na terra, mas sim alhures, após a morte. Tais pessoas legitimam determinadas regras de conduta,
inspiradas por certas religiões, como as de origem cristã, porque, justamente, correspondem a um projeto de felicidade: ficar
ao lado de Deus para a eternidade. Aqui na terra, podem até aceitar viver distantes dos prazeres materiais, pois seu bem-estar
psicológico está em se preparar para uma "vida" melhor, após a morte física do corpo.

Outros, pelo contrário, pensam que a felicidade deve acontecer durante a vida terrena, e consequentemente não aceitam a
ideia de que devam privar-se. E assim por diante. Verifica-se, portanto, que as formas de desejabilidade, derivadas de seus
conteúdos, são variadas. No entanto, há um desejo que parece valer para todos e estar presente nos diversos projetos de
felicidade: o autorrespeito.

A ideia básica é bastante simples. Cada pessoa tem consciência da própria existência, tem consciência de si. Tal consciência
traduz-se, entre outras coisas, por uma imagem de si, ou melhor, imagens de si - no plural, uma vez que cada um tem várias
facetas e não se resume a uma só dimensão. Ora, as imagens que cada um tem de si estão intimamente associadas a
valores. Raramente são meras constatações neutras do que se é ou não se é. Na grande maioria das vezes, as imagens são
vistas como positivas ou negativas. Vale dizer que é inevitável cada um pensar em si mesmo como um valor. E,
evidentemente, cada um procura ter imagens boas de si, ou seja, ver- se como valor positivo. Sintetizando, cada qual procura
se respeitar como pessoa que merece apreciação.

É por essa razão que o autorrespeito, por ser um bem essencial, está presente nos projetos de bem-estar psicológico, nos
projetos de felicidade, como parte integrante. Ninguém se sente feliz se não merecer mínima admiração, mínimo respeito aos
próprios olhos.

O êxito na busca e construção do autorrespeito é fenômeno complexo. Quatro aspectos complementares são essenciais.

O primeiro diz respeito ao êxito dos projetos de vida que cada pessoa determina para si. Os projetos variam muito de pessoa
para pessoa, vão dos mais modestos empreendimentos até os mais ousados. Mas, seja qual for o projeto escolhido, o
mínimo êxito na sua execução é essencial ao autorrespeito. Raramente se está "de bem consigo mesmo" quando há
fracassos repetidos. A vergonha decorrente assim como a frustração, podem levar à depressão ou à cólera.

O segundo aspecto refere-se à esfera moral. Cada um tem inclinação a legitimar os valores e normas morais que permitam,
justamente, o êxito dos projetos de vida e o decorrente autorrespeito.

E, naturalmente, tenderá a não legitimar aqueles que representarem um obstáculo; aqueles que forem contraditórios com a
busca e manutenção do autorrespeito. Assim, é sensato pensar que as regras que organizem a convivência social de forma
justa, respeitosa e solidária têm grandes chances de serem seguidas. De fato, a justiça permite que as oportunidades sejam
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iguais para todos, sem privilégios que, de partida ou no meio do caminho, favoreçam alguns em detrimento de outros. Se as
regras forem vistas como injustas, dificilmente serão legitimadas.

O terceiro aspecto refere-se ao papel do juízo alheio na imagem que cada um tem de si.

Pode-se afirmar o seguinte: a imagem e o respeito que uma pessoa tem de si mesma estão, naturalmente, referenciados em
parte nos juízos que os outros fazem dela. Algumas podem ser extremamente dependentes dos juízos alheios para julgar a si
próprias; outras menos. Porém, ninguém é totalmente indiferente a esses juízos. São de extrema importância, pois alguém que
nunca ouça a crítica alheia - positiva ou negativa - corre o risco de enganar-se sobre si mesmo. Então, a crítica é necessária.

Todavia, há uma dimensão moral nesses juízos: é o reconhecimento do valor de qualquer pessoa humana, que não pode ser
humilhada, violentada, espoliada, etc. Portanto, o respeito próprio depende também do fato de ser respeitado pelos outros. A
humilhação - forma não rara de relação humana - frequentemente leva a vítima a não legitimar qualquer outra pessoa como
juiz e a agir sem consideração pelas pessoas em geral. As crianças conhecem esse mecanismo psicológico.

Uma delas, perguntada a respeito dos efeitos da humilhação, afirmou que um aluno assim castigado teria mais chances de
reincidir no erro, pois pensaria: "Já estou danado mesmo, posso fazer o que eu quiser". Em resumo, serão legitimadas as
regras morais que garantirem que cada um desenvolva o respeito próprio, e este está vinculado a ser respeitado pelos
outros.

O quarto e último aspecto refere-se à realização dos projetos de vida de forma puramente egoísta. A valorização do sucesso
profissional, coroado com gordos benefícios financeiros, o status social elevado, a beleza física, a atenção da mídia, etc., são
valores puramente individuais (em geral relacionados à glória), que, para uma minoria, podem ser concretizados pela
obtenção de privilégios (por exemplo, conhecer as pessoas certas que fornecem emprego ou acesso a instituições
importantes), pela manipulação de outras pessoas (por exemplo, mentir e trapacear para passar na frente dos outros), e pela
completa indiferença pelos outros membros da sociedade. Diz- se que se trata de uma minoria, pois é mero sonho pensar que
todos podem ter carro importado, sua imagem na televisão, acesso aos corredores do poder político, etc. Mas o fato é que a
valorização desse tipo de sucesso é traço marcante da sociedade atual (não só no Brasil, mas no Ocidente todo) e tende a
fazer com que as pessoas o procurem mesmo que o preço a ser pago seja o de passar por cima dos outros, das formas mais
desonestas e até mesmo violentas.

Resultado prático: a pessoa perderá o respeito próprio se não for bem-sucedida nos seus planos pessoais, mas não se, por
exemplo, mentir, roubar, desprezar o vizinho, etc.

Ora, para que as regras morais sejam efetivamente legitimadas, é preciso que sejam partes integrantes do respeito próprio, ou
seja, que o autorrespeito dependa, além dos diversos êxitos na realização dos projetos de vida, do respeito pelos valores e
regras morais. Assim, a pessoa que integrar o respeito pelas regras morais à sua identidade pessoal, à imagem positiva de si,
com grande probabilidade agirá conforme tais regras.

Em resumo, a dimensão afetiva da legitimação dos valores e regras morais passa, de um lado, por identificá-los como
coerentes com a realização de diversos projetos de vida e, de outro, pela absorção desses valores e regras como valor
pessoal que se procura resguardar para permanecer respeitando a si próprio.

Assim, o autorrespeito articula, no âmago de cada um, a busca da realização dos projetos de vida pessoais e o respeito pelas
regras coerentes com tal realização.

Racionalidade

Se é verdade que não há legitimação das regras morais sem um investimento afetivo, é também verdade que tal legitimação
não existe sem a racionalidade, sem o juízo e a reflexão sobre valores e regras. E isso por três razões, pelo menos.

A primeira: a moral pressupõe a responsabilidade, e esta pressupõe a liberdade e o juízo.


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Somente há responsabilidade por atos se houver a liberdade de realizá-los ou não. Cabem, portanto, o pensamento, a
reflexão, o julgamento para, então, a ação. Em resumo, agir segundo critérios e regras morais implica fazer uma escolha. E
como escolher implica, por sua vez, adotar critérios, a racionalidade é condição necessária à vida moral.

A segunda: a racionalidade e o juízo também comparecem no processo de legitimação das regras, pois dificilmente tais
valores ou regras serão legítimos se parecerem contraditórios entre si ou ilógicos, se não sensibilizarem a inteligência. É por
essa razão que a moral pode ser discutida, debatida, que argumentos podem ser empregados para justificar ou descartar
certos valores. E, muitas vezes, é por falta dessa apreensão racional dos valores que alguns agem de forma impensada.
Se tivessem refletido um pouco, teriam mudado de ideia e agido diferentemente. Após melhor juízo, arrependem- se do que
fizeram. É preciso também sublinhar o fato de que pensar sobre a moralidade não é tarefa simples: são necessárias muita
abstração, muita generalização e muita dedução.

Tomando-se o exemplo da mentira, verifica-se que poucas pessoas pensaram de fato sobre o que é a mentira. A maioria
limita-se a dizer que ela corresponde a não dizer, intencionalmente, a verdade. Na realidade, mentir, no sentido ético,
significa não dar uma informação a alguém que tenha o direito de obtê-la. Com essa definição, pode- se concluir que mentir por
omissão não significa trair a verdade, mas não revelá-la a quem tem direito de sabê-la.

Portanto, pensar, apropriar-se dos valores morais com o máximo de racionalidade é condição necessária, tanto à legitimação
das regras e ao emprego justo e ponderado delas, como à construção de novas regras.

Finalmente, há uma terceira razão para se valorizar a presença da racionalidade na esfera moral: ter a capacidade de dialogar,
essencial à convivência democrática. De fato, viver em democracia significa explicitar e, se possível, resolver conflitos por
meio da palavra, da comunicação, do diálogo. Significa, trocar argumentos, negociar. Ora, para que o diálogo seja profícuo,
para que possa gerar resultados, a racionalidade é condição necessária. Os interlocutores precisam expressar-se com
clareza - o que pressupõe a clareza de suas próprias convicções - e serem capazes de entender os diferentes pontos de
vista. Essas capacidades são essencialmente racionais, dependem do pleno exercício da inteligência.

Respeito mútuo

O tema respeito é central na moralidade. E também é complexo, pois remete a várias dimensões de relações entre os homens,
todas "respeitosas", mas em sentidos muito diferentes. Pode-se associar respeito à ideia de submissão. É o caso quando se
fala que alguma pessoa obedece incondicionalmente a outra. Tal submissão pode vir do medo: respeita-se o mais forte, não
porque mereça algum reconhecimento de ordem moral, mas simplesmente porque detém o poder. Porém, também pode vir
da admiração, da veneração (porque é mais velho ou sábio, por exemplo), ou da importância atribuída a quem se obedece ou
escuta (diz-se "respeito muito as opiniões de fulano"). Nesses exemplos, o respeito é compreendido de forma unilateral:
consideração, obediência, veneração de um pelo outro, sem que a recíproca seja verdadeira ou necessária. Um intelectual
observou bem a presença desse respeito unilateral na sociedade brasileira, por meio de uma expressão popularmente
frequente: "Sabe com quem está falando?".

Essa expressão traduz uma exigência de respeito unilateral: "Eu sou mais que você, portanto, respeite-me". É a frase que
muitas "autoridades" gostam de empregar quando se sentem, de alguma forma, desacatadas no exercício de seu poder.

Porém, outra expressão popular também conhecida apresenta uma dimensão diferente do respeito:

"Quem você pensa que é?". Tal pergunta traduz a destituição de um lugar imaginariamente superior que o interlocutor pensa
ocupar. Essa expressão é a afirmação de um ideal de igualdade, ou melhor, de reciprocidade: se devo respeitá-lo, você
também deve me respeitar; não é a falta de respeito, mas sim a negação de sua associação com submissão. Trata-se de
respeito mútuo. E o predicado mútuo faz toda a diferença.

Ora, é claro que tanto a dignidade do ser humano quanto o ideal democrático de convívio social pressupõem o respeito
mútuo, e não o respeito unilateral.

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Com a socialização, a aprendizagem e o desenvolvimento psicológico decorrente, essa assimetria tende a ser substituída
pela relação de reciprocidade: respeitar e ser respeitado: ao dever de respeitar o outro, articula-se o direito (e a exigência) de
ser respeitado. Considerar o respeito mútuo como dever e direito é de suma importância, pois ao permanecer apenas um dos
termos, volta-se ao respeito unilateral: "Devo respeitar, mas não tenho o direito de exigir o mesmo" ou "Tenho o direito de ser
respeitado, mas não o dever de respeitar os outros".

O respeito mútuo expressa-se de várias formas complementares. Uma delas é o dever do respeito pela diferença e a
exigência de ser respeitado na sua singularidade.

Tal reciprocidade também deve valer entre pessoas que pertençam a um mesmo grupo. Deve valer quando se fazem
contratos que serão honrados, cada um respeitando a palavra empenhada e exigindo a recíproca. O respeito pelos lugares
públicos, como ruas e praças, também deriva do respeito mútuo. Como tais espaços pertencem a todos, preservá-los, não
sujá-los ou depredá-los é dever de cada um, porque também é direito de cada um poder desfrutá-los.

O respeito mútuo também deve valer na dimensão política. Embora política não se confunda com ética, a primeira não deve
ser contraditória com a segunda. Logo, as diversas leis que regem o país devem ser avaliadas também em função de sua
justeza ética: elas devem garantir o respeito mútuo, pois o regime político democrático pressupõe indivíduos livres que, por
intermédio de seus representantes eleitos, estabelecem contratos de convivência que devem ser honrados por todos;
portanto, o exercício da cidadania pressupõe íntima relação entre respeitar e ser respeitado.

Justiça

O tema da justiça sempre atraiu todos aqueles que pensaram sobre a moralidade, desde os filósofos gregos. Belíssimas
páginas foram escritas, ideias fortes foram defendidas. O tema da justiça encanta e inquieta todos aqueles que se
preocupam com a pergunta "Como devo agir perante os outros?". A rigor, ela poderia ser assim formulada: "Como ser justo
com os outros?", ou seja, "Como respeitar seus direitos? Quais são esses direitos? E os meus?".

O conceito de justiça pode remeter à obediência às leis. Por exemplo, se a lei prevê que os filhos são os herdeiros legais dos
pais, deserdá-los será considerado injusto. Um juiz justo será aquele que se atém à lei, sem feri-la. Será considerado injusto se,
por algum motivo, resolver ignorá-la.

Porém, o conceito de justiça vai muito além da dimensão legalista. De fato, uma lei pode ser justa ou não. A própria lei pode ser,
ela mesma, julgada com base em critérios éticos. Por exemplo, no Brasil, existiu uma lei que proibia os analfabetos de
votarem. Cada um, intimamente ligado à sua consciência, pode se perguntar se essa lei era justa ou não; se os analfabetos
não têm o direito de participar da vida pública como qualquer cidadão; ou se o fato de não saberem ler e escrever os torna
desiguais em relação aos outros. Portanto, a ética pode julgar as leis como justas ou injustas.

As duas dimensões da definição de justiça são importantes. A dimensão legal da justiça deve ser contemplada pelos
cidadãos. Muitos, por não conhecerem certas leis, não percebem que são alvo de injustiças. Não conhecem seus direitos; se
os conhecessem, teriam melhores condições de lutar para que fossem respeitados.

Porém, a dimensão ética é insubstituível, precisamente para avaliar de forma crítica certas leis, para perceber como, por
exemplo, privilegiam alguns em detrimento de outros. E os critérios essenciais para se pensar eticamente sobre a justiça são
igualdade e equidade.

A igualdade reza que todas as pessoas têm os mesmos direitos. Não há razão para alguns serem "mais iguais que os outros".
Eis um bolo a ser dividido: cada um deve receber parte igual.

Porém, o conceito de igualdade deve ser sofisticado pelo de equidade. De fato, na grande maioria das vezes, as pessoas
não se encontram em posição de igualdade.

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Nascem com diferentes talentos, em diferentes condições sociais, econômicas, físicas, etc. Seria injusto não levar em conta
essas diferenças e, por exemplo, destinar a crianças e adultos os mesmos trabalhos braçais pesados (infelizmente, no Brasil,
tal injustiça acontece). As pessoas também não são iguais no que diz respeito a seus feitos, e, da mesma forma, seria
considerado injusto dar igual recompensa ou sanção a todas as ações (por exemplo, punir todo crime, da menor infração ao
assassinato, com pena de prisão). Portanto, fazer justiça deve, em vários casos, derivar de cálculo de proporcionalidade (por
exemplo, pena proporcional ao crime). Nesses casos, o critério é o da equidade que restabelece a igualdade respeitando as
diferenças: o símbolo da justiça é, precisamente, uma balança.

A importância do valor justiça para a formação do cidadão é evidente. Em primeiro lugar, para o convívio social, sobretudo
quando se detém algum nível de poder que traz a responsabilidade de decisões que afetam a vida de outras pessoas. Um
pai ou uma mãe, que têm poder sobre os filhos e responsabilidade por eles, a todo momento devem se perguntar se suas
decisões são justas ou não. Numa escola, o professor também deve se fazer essa pergunta para julgar a atitude de seus
alunos.

Em segundo lugar, para a vida política: julgar as leis segundo critérios de justiça, julgar a distribuição de renda de um país
segundo o mesmo critério, avaliar se há igualdade de oportunidades oferecidas a todos, se há impunidade para alguns, se o
poder político age segundo o objetivo da equidade, se os direitos dos cidadãos são respeitados, etc. A formação para o
exercício da cidadania passa necessariamente pela elaboração do conceito de justiça e seu constante aprimoramento.

Uma sociedade democrática tem como principal objetivo ser justa, inspirada nos ideais de igualdade e equidade. Tarefa difícil
que pede de todos, governantes e governados, muito discernimento e muita sensibilidade. Se um regime democrático não
conseguir aproximar a sociedade do ideal de justiça, se perdurarem as tiranias (nas quais o desejo de alguns são leis e os
privilégios são normas), se os direitos de cada um (baseados na equidade) não forem respeitados, a democracia terá vida
curta. Por essa razão, apresentam-se nos conteúdos itens referentes ao exercício político da cidadania: embora ética e
política sejam domínios diferentes, com suas respectivas autonomias, o tema da justiça os une na procura da igualdade e da
equidade.

ÉTICA E CIDADANIA: EXERCÍCIO DA DEMOCRACIA

Por definição, democracia é uma forma de organizar pessoas, cuja característica principal é que as decisões são tomadas
por todos, direta ou indiretamente. Estritamente falando, democracia é uma forma de governo onde as decisões coletivas são
tomadas pelo povo.

A democracia é direta quando as decisões são tomadas diretamente pelos membros do grupo.

A democracia é indireta ou representativa quando as decisões coletivas são tomadas por pessoas reconhecidas como
representantes pelos membros do grupo. E a democracia é participativa quando os membros do grupo têm formas de
intervenção direta na tomada de decisões, entretanto têm representantes, caso se reservem ao direito de não escolher.

A origem da palavra vem do grego “Demos”, que significa povo e, “Kratos” que significa poder (de escolha, de decisão), logo,
democracia é definida como “o que dirige o povo”. Não há como falar em democracia sem lembrar ética. No dicionário, esta
palavra está definida como: [1] ciência do comportamento moral dos homens em sociedade; [2] conjunto de normas de
comportamento e formas de vida através do qual o homem tende a realizar o valor do bem.

Como ciência, ética tem um alvo de estudos, no caso, a moral. Desta forma ética está para a moral assim como a musicologia
está para a música. A moral é um dos aspectos do comportamento humano, assim como jurídico, social, alimentício. A moral
é definida como um conjunto de normas e regras que regem o comportamento humano próprios de uma determinada cultura.

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Num mundo como o de hoje, onde quase todos os países se dizem democráticos é levantada a questão quanto à legitimidade
desta forma de organização social. Em muitos lugares esta forma de governo funciona quase que perfeitamente, entretanto,
em países como o Brasil, onde a corrupção é fato presente nos noticiários quase diariamente, esta organização se mostra
falha. A democracia é uma das formas de governo, que se podem afirmar, mais justas.

Sua deficiência está na boa índole dos representantes do povo e de seu poder. A ética, para a maioria, está em não roubar,
não fazer o mau. Mas ela vai além disso. A ética se divide em duas: passiva (não faz ao outro o que não quer que faça
contigo) e proativa (faz ao outro o que quer que faça a ti). Se levada em consideração a ética, a administração do poder do
povo, se tornará uma responsabilidade assumida por membros do grupo que se distinguem dos demais por sua capacidade
de persuasão e administração.

A avaliação quanto à conduta ética tem fundamento na assertiva de que as ações refletem os valores de quem as pratica.
Devemos dissociar a ética social caracterizada pela unilateralidade de suas normas da ética legal, cuja bilateralidade
expressa-se pela imposição de deveres e concessão de direitos.

A este trabalho interessa a ética na gestão dos negócios do Estado, assim entendida como o conjunto de regras de conduta
estabelecidas para a atuação da Administração Pública. No caso brasileiro a Constituição Federal define, expressamente, os
princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência como norteadores da conduta administrativa. A
moralidade como princípio explícito conduz ao entendimento de que o ato administrativo, além da conformação à lei, deve
obediência à moral pública, aos bons costumes e ao senso comum de honestidade. A conduta do agente público deve ser
dirigida para a consecução do bem comum, e sob esta perspectiva encontra sua interface com a cidadania, cujo conceito tem
sido objeto de muitos estudos que indicam o surgimento de um novo conceito de cidadania. Fundamentalmente, a acepção
que se tem de cidadania abrange duas dimensões.

A primeira está intrinsecamente ligada e deriva até da experiência dos movimentos sociais. Dessa experiência, boa parte é
aquilo que entendemos como luta por direitos que, aliás, encampa o conceito clássico de cidadania, que é a titularidade de
direitos. A essa experiência dos movimentos sociais, tem-se agregado uma ênfase mais ampla na consolidação da
democracia. O exercício da cidadania relaciona-se, intimamente, com a consolidação de uma conduta democrática.

Uma segunda dimensão, além da titularidade de direitos, é aquela que deriva do republicanismo clássico, enfatizando a
preocupação com a coisa pública, com a res-pública. Constata-se, na realidade, um certo desconhecimento da população em
relação a titularidade de direitos. Em uma pesquisa realizada na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, pedia-se que o
entrevistado citasse 3 (três) direitos constitucionais. As respostas não podiam ter sido mais preocupantes. Não menos do que
56,7% dos entrevistados não conseguiram relacionar um único direito constitucional. Dentre aqueles direitos citados, os
direitos sociais ligados à saúde, à educação, à previdência aparecem com 25,8% dos entrevistados. No segundo lugar, já bem
distante, aparecem os direitos civis com 11,7% e os direitos políticos, notadamente votar e ser votado, com 1,6% de
referência pelos entrevistados. Uma das conclusões da pesquisa é de que a baixa percepção dessa titularidade de direitos
políticos se deve até pelo fato de que no Brasil o voto, por ser obrigatório, muito mais é entendido como um dever do que
como um direito. Parece que dentro dessa perspectiva da baixa percepção da população em relação à titularidade desses
direitos, não restam dúvidas de que estamos vivenciando um processo, que ainda é de descoberta, de conhecimento para o
exercício da cidadania.

Kant, teórico clássico do pensamento político, já no final do século XVIII, enumerava algumas características comuns do que
ele entende ser um cidadão. A primeira dessas características é a autonomia. Os cidadãos têm de ter capacidade de conduzir-
se segundo o seu próprio arbítrio. A segunda é a igualdade perante a lei. E a terceira é a independência, ou seja, a
capacidade de sustentar-se a si próprio. A simples observação dessas três características citadas por Kant, dificilmente
permitiria identificarmos um número expressivo de cidadãos que as atendesse.

John Stuart Mill, no século XIX, também um clássico do pensamento político, dividia o cidadão em duas categorias: os ativos e
os passivos. Ele diz que os governantes, em muitos casos, preferem os cidadãos passivos, embora a
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democracia necessite dos cidadãos ativos, sobretudo na democracia que tem a regra da maioria como uma de suas regras
fundamentais. Seu pressuposto é a participação ativa. Não havendo participação ativa, será desvirtuada a regra da maioria.
Nesse caso, uma minoria passa a tomar as decisões. A abstenção não é condizente com regime democrático consolidado e
cidadania efetiva.

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