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JOAQUIM CARDOZO

Joaquim Moreira Cardozo é caso singular de intelectual destacado na literatura, na


poesia, no teatro, na engenharia, na arquitetura, no magistério e no cálculo de
estruturas arquitetônicas. Nascido em Recife em 1897, se vivo fosse teria completado 100
anos em 26 de agosto de 1997, quando ocorreram na cidade cerimônias e eventos
comemorativos ao seu centenário.
Sua face de poeta tem sido mais valorizada, inclusive com as recentes publicações de
ensaios, teses acadêmicas e reedições de sua obra literária. Mas a importância de
Joaquim Cardozo para a arquitetura e a engenharia, no Brasil, também o impõe como
pioneiro do movimento moderno, pois integrou, de 1934 a 1937, a equipe da Diretoria de
Arquitetura e Urbanismo, chefiada pelo arquiteto Luiz Nunes, introdutor dos princípios da
arquitetura moderna em Pernambuco. Mais tarde, com Oscar Niemeyer, calculou as obras
do Conjunto da Pampulha e as estruturas monumentais de Brasília

GERALDO SANTANA

Joaquim Cardozo revela-se, desde muito jovem, interessado em literatura, poesia,


matemática e desenho, figurando em 1913 entre os redatores do jornal "O Arrabalde" e,
no ano seguinte, como caricaturista nas primeiras charges políticas do "Diário de
Pernambuco" enquanto concluía o secundário e ingressava na Escola Livre de Engenharia.
Teve que interromper o curso várias vezes após a morte do pai, um modesto guarda-
livros. Seu primeiro emprego formal foi como topógrafo da Comissão Geodésica de
Pernambuco. Entre 1920 e 1923, realiza levantamentos, desenhos topográficos e
demarcações de terras nos subúrbios do Recife e no litoral da Paraíba. Por uns meses,
reside no Rio de Janeiro, onde pretendia continuar o curso de Engenharia, mas logo
retorna, reassumindo seu emprego no Recife.
No final de 1923, com a Semana de Arte Moderna já divulgada no Recife pela "Revista do
Norte", Cardozo faz várias amizades no meio jornalístico e intelectual, integrando o
grupo que liderou o movimento modernista em Pernambuco. O grupo se reunia, à noite,
no Café Continental, no centro da cidade, o "Cenáculo da Lafaiete", como chamou Souza
Barros. (2) Nos dois anos seguintes, ele dirige com José Maria de Albuquerque a "Revista
do Norte", na qual se desenvolve como artista gráfico e crítico. Como ilustrador, criou
vinhetas e um alfabeto de capitulares, com temas da flora regional. A revista publicou
seu poe-ma mais famoso e de maior impacto na época, "Recife morto", elaborado em
1924:
Recife, / Ao clamor desta hora noturna e mágica, Vejo-te morto, mutilado, grande,
Pregado à cruz das novas avenidas.
E as mãos longas e verdes / Da madrugada
Te acariciam. (3)

Nele, o poeta amplia a tensão entre o "velho e o novo", "elaborando no inte-rior da


linguagem poética a fascinação lírica de duas realidades contrárias: o Recife da tradição
e o Recife da manhã vindoura". Com essa perspectiva de confrontação e transformação,
Cardozo ingressa na "expres-sivi-dade lírica contemporânea". (4)
Morando sozinho em casas e sobrados do centro da cidade, fazendo refeições em
restaurantes, cafés e bares e freqüentando o meio intelectual, o "Cenáculo da Lafaiete" e
a "gráfica" da "Revista do Norte" (a casa da família de José Maria), Cardozo reinicia, em
1927, o seu curso de Engenharia, diplomando-se como engenheiro civil em 1930 e
trabalhando nesse período na elaboração de projetos de irrigação com o engenheiro
alemão Von Tilling, e em projetos rodoviários. Após 1934, integra a equipe do arquiteto
Luiz Nunes, iniciando a sua atividade como calculista de estruturas.
0 CALCULISTA DA ARQUITETURA MODERNA
A partir daí, a sua presença na Arquitetura Moderna Brasileira viria a ser identificada com
três momentos marcantes e decisivos - episódios-símbolos da sua relação com a
arquitetura - ocorridos em tempos e lugares distintos: "O Movimento Pioneiro do Recife",
"O Conjunto da Pampulha-BH", e "O Período de Brasília". Em "Dois Episódios da História da
Arquitetura Moderna Brasileira", o próprio Joaquim Cardozo chamou
a atenção para "dois movimentos que, pela sua singularidade e expressividade, têm o
mérito de caracterizar e fixar, de modo definitivo e iniludível, uma formação histórica,
uma constante no tempo da nossa existência e evolução artística". E analisa o que
ocorreu entre 1934 e 1945 (5).

O MOVIMENTO DO RECIFE
Ocorreu entre 1934 e 1937, sob a coordenação do arquiteto Luiz Nunes, inicialmente na
Diretoria de Architectura e Urbanismo-DAU (1934/35), primeira instituição
governamental criada no Brasil com essa finalidade. Além de Luiz Nunes e Cardozo, a
DAU contou com a colaboração de Roberto Burle Marx, que realizaria então os seus
primeiros jardins públicos, dos arquitetos João Correia Lima e Fernando Saturnino de
Brito, e de alguns alunos de Cardozo. A experiência foi interrompida pelo golpe de Estado
de 37; o grupo desfeito, a DAU ficou praticamente extinta e Cardozo foi participar, como
calculista, de grande parte dos edifícios.
Numa aula de abertura dos cursos da Escola de Belas Artes, em 39, exercendo a cátedra
de Teoria e Filosofia da Arquitetura, Cardozo inicia a transmissão da experiência
vivenciada na equipe da DAU: "Tive a oportunidade de colaborar com arquitetos que
chegaram a aliar instintivamente a consciência perfeita do meio físico ao espírito
tradicional, conseguindo, ao mesmo tempo, os melhores efeitos plásticos do concreto
armado. ...Foram utilizados todos os elementos arquitetônicos novos, a coberta-terrasse,
o pilotis, as janelas de grandes vãos, a cor como elemento modificador do espaço e da
iluminação, a estrutura independente etc., assim como o emprego de estruturas
especiais para a realização de formas puras, que somente com o concreto se pode
realizar e que são soluções mais livres e perfeitas... E se procurou integrar os edifícios na
paisagem..." "Os volumes e superfícies vazados, que antigamente eram resolvidos com as
venezianas, foram criados agora com o emprego justo e adequado de um material
pernambucano por excelência: o combogó... Estas superfícies de combogó, atuando nas
fachadas muito insoladas, como verdadeiro 'brise-soleil', produzem desenhos caprichosos
de sombra e luz, de bom efeito decorativo." (6)
Em 1935, a DAU se fez representar na Exposição do Centenário da Revolução Farroupilha,
em Porto Alegre, tendo Luiz Nunes projetado o "Pavilhão de Pernambuco". Foram
exibidas todas as obras e projetos e um grande número de maquetes. Segundo ele, essa
mostra representa a primeira exposição de arquitetura moderna no Brasil. Cardozo
participou de todas as fases da exposição.
No curto período de funcionamento dessa Diretoria de Arquitetura, foi surpreendente a
variedade, a qualidade, a coerência e a evidente significação social do conjunto da obra
realizada. Calculadas por Joaquim Cardozo, estão a Escola para Anormais (Tamarineira),
o Hospital da Brigada Militar, a Caixa d'Água de Olinda, a Escola Rural Alberto Torres, o
Leprosário da Miroeira e o Pavilhão de Verificação de Óbitos ("Anatomia Patológica",
atual Pavilhão Luiz Nunes - sede do IAB/PE).
Como catedrático dos cursos de Engenharia e Arquitetura, Cardozo ministra as disciplinas
de Cálculo Infinitesimal, Geometria Analítica, Materiais de Construção, Eco--nomia e
Finanças e Teoria e Filosofia da Arquitetura. Viaja em 1938 por alguns meses pela
Espanha, França e Portugal. No final de 1939, ao paraninfar a turma de Engenharia, faz
algumas críticas à orientação do governo estadual em relação a obras públicas.
Imediatamente foi atingido por medidas repressivas do chamado Estado Novo, que
determinaram a sua demissão. Muda-se para o Rio de Janeiro, passando a trabalhar
diretamente com Rodrigo de Mello Franco, no Serviço do Patrimônio Histórico, fazendo
amizade com Oscar Niemeyer.

EPISÓDIO DA PAMPULHA
O segundo movimento é realizado por Oscar Niemeyer na Pampulha, em Belo Horizonte
entre 1941 e 1945, do qual Cardozo também participa, convidado por Niemeyer para os
projetos estruturais e como companheiro de inúmeras viagens entr
e o Rio e Belo Horizonte.
"Nesse conjunto da Pampulha o arquiteto Oscar Niemeyer começa a manifestar a sua
ilimitada força de invenção, toda ela dirigida para o problema da estrutura; estrutura no
seu aspecto formal e nos seus princípios de equilíbrio. Procura purificar a forma,
retirando das estranhas posições de equilíbrio um conteúdo emocional que é, segundo o
critério de muitos, o principal atributo da 'beleza nova'."
"O uso freqüente das linhas curvas, no Cassino, na Igreja e na Casa do Baile, que se
manifesta definitivamente na 'forma aerodinâmica'... numa intenção de leveza, de
desligamento do solo e das condições materiais, e mais ainda numa sugestão de efeito
dinâmico. Compreendendo, já nessa época, que as imposições orgânicas a que está
sujeita a boa arquitetura não definem categoricamente a sua forma; antes, deixam-na
ainda indeterminada, ele alcança, partindo daquelas premissas indispensáveis, uma
expressão mais pura, mais simples, mais fácil de ver, provocando também um movimento
de admiração e surpresa." (Cardozo, Dois episódios).
O Conjunto da Pampulha representa um momento de grande importância na formação da
Arquitetura Moderna Brasileira. Niemeyer soube explorar, com o seu talento, os
princípios básicos do modernismo, interpretando-os e ajustando-os às condições
ambientais e culturais brasileiras. A ele, Cardozo se integrou magistralmente,
acompanhando-o à altura, no arrojo estrutural e refinamento formal, enriquecendo os
riscos originais com detalhes construtivos indispensáveis para a nova arquitetura que
surgia; uma arquitetura moldada em concreto, de formas ricas e livres, que rompiam com
as dogmas do funcionalismo ortodoxo.
Analisando essa arquitetura em artigo para o primeiro número da revista "Módulo",
Cardozo assinala que os novos efeitos alcançados no projeto da igreja da Pampulha,
embora suscitem uma associação evidente com outras obras mais antigas - como arcos-
parede de Mailart, abóbadas de Freyssinet e conjuntos de planos de Mendelsohn -
"estabelecem um sistema de proporções harmônicas que lhes proporcionam um caráter
estilístico contínuo e permanente". E compara as formas criadas pelos 'panos de concreto'
-"verdadeiras superfícies de formas e orientações variadas, participando de um espaço
movimentado e quase mágico"- à expressão espacial do estilo barroco. Mas distinguindo
deste, "que é irreal, composto de elementos postiços sobrepostos ou pendurados sobre
uma estrutura de equilíbrio eminentemente simples", enquanto na nova arquitetura "a
realidade do equilíbrio é perfeitamente sensível, compreensível pelo menos, impondo-se
sem qualquer efeito ilusório ou misterioso a relação entre carga e suporte".(7)
O conjunto das obras destes dois episódios, somando-se aos outros exemplares também
pioneiros do modernismo brasileiro, sobretudo o edifício do Ministério da Educação e
Saúde, citado por Cardozo como "o marco de partida da grande renovação", definiu a
nova imagem do Brasil no cenário internacional. A Arquitetura brasileira foi divulgada no
exterior, inicialmente, na exposição "Brazil Builds", no Museu de Arte Moderna de Nova
York, em 1943, organizada pelos arquitetos Philip Goodwin e G. E. Kidder Smith, com
fotografias deste último, tomadas entre maio e novembro de 1942, na viagem que a
dupla fez pelo Brasil. As obras do Rio de Janeiro e São Paulo, os edifícios de Luiz Nunes,
no Recife e de Oscar Niemeyer, na Pampulha - calculados por Cardozo - integravam esse
cenário pioneiro.
No contexto do Rio de Janeiro dos anos 40, Cardozo estreita suas amizades com o "Grupo
do Patrimônio", freqüentando semanalmente a casa de Rodrigo, ligando-se sobretudo a
Oscar Niemeyer. Aproxima-se também do grupo de escritores pernambucanos residentes
no Rio, em especial João Cabral de Melo, que todos os dias ia ao seu escritório, Manoel
Bandeira, Eustáquio Duarte e Evaldo Coutinho. Foi esse grupo que promoveu a edição do
seu primeiro livro, "Poemas", com prefácio "admirável" de Carlos Drummond de And
rade, em comemoração ao seu cinqüentenário, em 1947. No Recife, a "Revista do Norte"
também lhe dedicaria uma edição especial com alguns dos seus poemas e um ensaio de
crítica sobre a pintura de Teles Júnior.
Em seu escritório particular, no Rio de Janeiro, integrando a equipe do Iphan, Cardozo,
realiza estudos, emite pareceres e elabora projetos estruturais em várias cidades, tanto
para obras novas como para recuperação e restauro de edifícios históricos. Participa,
com a equipe do Iphan, de um estudo sobre "Um tipo de casa rural", das fazendas de café
do Estado do Rio de Janeiro, publicado como ensaio na "Revista do Patrimônio", no 7 , de
1943.
PERÍODO DE BRASÍLIA
Na sua relação com a Arquitetura Moderna Brasileira, Joaquim Cardozo ainda se
identifica com um terceiro episódio, correspondente ao período da construção de
Brasília, entre 1956 e 1964, da qual também participara desde o início, integrando a
equipe de Niemeyer na Novacap como responsável pelos projetos estruturais de todos os
edifícios monumentais.
A partir de 1955, retomando as pesquisas estruturais iniciadas em Pampulha, numa
atitude mais amadurecida, Niemeyer elabora a sua "nova arquitetura". Um verdadeiro
redirecionamento na maneira de conceber e de desenvolver o projeto, decorrente de
avaliações sobre suas próprias obras do início da década e de reflexões sobre a longa
viagem de Lisboa a Moscou, e em resposta à opinião da crítica internacional, após a II
Bienal de São Paulo. Fatos que teriam influído bastante no processo de mudança e
amadurecimento do grupo.
Integrado por Niemeyer, Rodrigo de Melo Franco, Joaquim Cardozo, Marcos Jaimovich,
Carlos Leão, Hélio Uchoa e outros, o grupo funda a revista "Módulo", em 1955. Cardozo e
Niemeyer também colaboram com o "Paratodos", um quinzenário de cultura de curta
existência (de 1956 a 1958) dirigido pelos irmãos Jorge e James Amado.
A partir de 1956, dirigindo a Seção de Cálculo Estrutural do Departamento de Arquitetura
e Urbanismo da Novacap, uma equipe de cinco calculistas e doze desenhistas, a sua
presença se intensificaria, seja pela integração física e total envolvimento, seja pela
mudança metodológica do arquiteto e pelo ritmo exigido pelo empreendimento. Os
estudos de viabilidade construtiva e macroconcepção estrutural, o refinamento formal, a
definição geométrica e o dimensionamento de cada forma e de cada peça estavam
exigindo investigação imediata e, em certos casos antecipada, em que os casos mais
complexos de concepção estrutural foram a cúpula da Câmara do Palácio do Congresso e
a Catedral.
Em alguns textos, Cardozo refere-se às dificuldades enfrentadas para resolver essas
estruturas. Para a cúpula da Câmara, onde se deparou com o desafio de fazer um volume
daquela grandeza parecer flutuar, apoiando-o numa laje, como se estivesse, apenas,
tocando-a; pesquisou durante alguns meses os mais diferentes tipos de casca. Dominando
inglês, alemão, russo e francês, teve acesso às mais recentes experiências e casos
analisados e resolvidos por diversos autores, físicos e matemáticos, entre eles, o
finlandês Olavi Hellman e o russo I. Vorovich. Duas cascas dessa estrutura, o elipsóide de
revolução, da parte de baixo, que se apóia na laje da esplanada, e a calota esférica que
suporta as lajes planas da cobertura e do forro, são extremamente rebaixados, com uma
relação flecha/corda de apenas 1/14, o que exigiu muito esforço, muito tempo e muita
audácia do calculista e sua equipe. Foram calculadas pela fórmula de Gravina, para esse
tipo de casca. Cardozo pretendia realizar testes em modelos reduzidos para as mais
complexas, tendo iniciado entendimentos com o Laboratório de Engenharia Civil de
Lisboa, o que não chegou a ser viabilizado devido aos prazos das obras. Nas outras, os
desafios eram a esbeltez dos perfis e reduzidas seções dos pontos de apoio das colunas
dos palácios de pórticos e da catedral. E o sentido de leveza a ser atingido pelas
reduzidas espessuras dos bordos "em fita" das gran
des lajes planas das coberturas.
Nesse terceiro episódio, Cardozo exerce também importante papel como crítico e como
teórico da arquitetura, influindo, num nível mais geral, no meio universitário. Fez
conferências para arquitetos, engenheiros e estudantes, e publicou vários artigos. Uma
produção teórica que não teve melhor aproveitamento de interpretação e mesmo de uso
e está ainda a exigir uma edição especial. No final da década de 50, suas viagens para o
Recife, geralmente de férias, sempre se revestiam de caráter acadêmico, como um
professor visitante da então recém-emancipada Faculdade de Arquitetura, onde
lecionavam alguns dos seus ex-alunos. Aulas-passeio, palestras, rodas de conversa "para
ouvir Cardozo", quase todas promovidas pelo amigo o professor José Maria Albuquerque,
que tudo inventava para atraí-lo e colocá-lo como centro. De 1956 até 1973, Cardozo
viria ao Recife algumas vezes como paraninfo, inclusive para uma cerimônia dos
formandos de arquitetura, realizada no Seminário de Olinda em 1962. Em discurso nessa
solenidade, o poeta-engenheiro dialoga com "o meu amigo, o Atlântico mar", que lhe
explica e lamenta pelas ressacas que destruíam, na época, trechos das praias de Olinda:
"Joaquim, eu não tenho culpa!"
Não seria essa a única oportunidade em que o poeta dialogaria com os elementos da
natureza. Sua obra literária esta cheia dessas situações. "Senhor dos ventos e das
chuvas", assim chamado e admirado por Jorge Amado. E por Drummond, ao se encantar
com a "Nuvem Carolina". No "Congresso dos Ventos", na várzea do Capibaribe, o poeta
simplesmente dá a palavra aos "mais ilustres ventos da terra". Com essa força anímica
por ele criada também no "Capataz de Salema", Luíza é a terra e o Capataz é o mar.
Joaquim Cardozo levou uma vida solitária e de poucos amigos. Não casou nem teve
filhos. Sua convivência com as mulheres, e com as mulheres que certamente amou,
Marias, Luízas e Marianas... quase que se restringem ao que seus poemas revelam. E ao
que é revelado em poemas de alguns dos seus amigos, como João Cabral: "É em Campos
que Maria Luíza e ele ouvem a chuva sem camisa".

O PAVILHÃO DA GAMELEIRA
Joaquim Cardozo aposentou-se como servidor público em 67, ao completar 70 anos.
Permaneceu em atividade no seu escritório até 1972, realizando vários trabalhos de
cálculo estrutural, inclusive para alguns edifícios de grande porte no Recife, convidado
pelo arquiteto Acácio Borsoi. Trabalhava lúcido e tranqüilo até fevereiro de 1971, quando
ocorreu a grande tragédia do desabamento do Pavilhão da Gameleira, causando a morte
de 68 operários, em Belo Horizonte. Uma obra do governo estadual, projetada por
Niemeyer e calculada no seu escritório. Com a vida transtornada, encerrou sua atividade
como calculista. Não encontrava mais condições psicológicas para o trabalho. A tragédia
o deixara profundamente abalado.
No decorrer do inquérito e do processo judiciário, manipulados por incon-fessáveis e
gigantescos interesses econômicos e políticos, e utilizadas as mais sórdidas acusações
com o deliberado objetivo de imputar-lhe a culpa pelo acidente, seu estado de saúde
viria a se agravar, levando-o à irreversível depressão. Foi inicialmente condenado, em
março de 1974, a dois anos e dez meses de prisão; seu advogado Evandro Lins e Silva
encaminhou recurso de apelação; ele foi posteriormente absolvido pelo Tribunal da
Alçada de Minas Gerais.
Em 1973 foi morar junto dos familiares, no Recife. Recebeu grandes homenagens e
manifestações de solidariedade de instituições e entidades culturais e estudantis. Entre
essas, certamente as mais gratas foram as dos formandos de Arquitetura e Engenharia de
muitos Estados, que o escolheram como paraninfo. E as dos arquitetos: foi eleito Sócio
Benemérito do IAB e recebeu o Prêmio August Perret 3/4 Menção Honrosa da UIA. Ao
completar 80 anos, em 1977, doou sua biblioteca particular à Universidade Federal de
Pernambuco. Foi ainda o patrono de uma turma de Engenharia e concedeu alguma
s entrevistas à imprensa. Passou alguns meses ao lado do seu amigo Oscar Niemeyer, que
o hospedou em hotel de Copacabana, retornando ao Recife no final de dezembro.
Faleceu em 4 de novembro de 1978.

Joaquim Cardozo foi um dos nossos valores mais genuínos, um grande mestre de
múltiplos saberes; na verdade, um dos nossos maiores "mestres-de-obras". Usando suas
palavras, podemos defini-lo como arkitekton - o principal operário - na sua significação
originária.
"Ao partir, após ter vivido a vida como bem poucos, deixa-nos imensa e preciosa herança.
De agora em diante sua obra - a do poeta e a do engenheiro, do calculista de materiais -
vai crescer a cada instante, liberta de qualquer contingência; o perfil do criador sem
medo e sem limites se desvendará inteiro." Jorge Amado
GERALDO SANTANA
é arquiteto, formado em 62 pela Faculdade de Arquitetura do Recife, e professor da
Universidade Federal de Pernambuco, desde 1966. Joaquim Cardozo foi paraninfo da sua
turma e um dos examinadores na conclusão de seu mestrado na Universidade de Brasília
(65

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