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INTRODUÇÃO
Obra escrita no final do século XVII, “O Segundo Tratado sobre o Governo
Civil”, do John Locke, expressa o pensamento liberal adotado por Locke e sua posição
contra o governo absolutista (contexto da época), com argumentos que mostram que o
governo emana da comunidade e que, junto com a lei, deve ser usado para o bem
comum. Os pensamentos de Locke influenciaram eventos importantes na história,
principalmente na Europa e na América. Por muitos é chamado de teórico da Revolução
Inglesa (1688) e foi a principal fonte de ideias para a Revolução Norte-Americana
(1776), tendo influenciado na Declaração de Independência e nas constituições
estaduais.
Biografia
Nascido em 29 de agosto de 1632 (mesmo ano do nascimento de Baruch Spinoza)
na cidade de Wrington, nas proximidades de Bristol no sudoeste da Inglaterra, e filho de
burgueses comerciantes, Locke vivenciou um momento bastante conturbado dentro da
organização político – econômica de seu país, marcada pela revolução gloriosa, ocorrida,
entre 1688 e 1689 na Grã-Bretanha, na qual foi deposto o rei Jaime II, em favor de sua
filha Maria II e seu marido Guilherme III, príncipe de Orange, responsável pela
transformação da monarquia absoluta dos Stuart numa monarquia constitucional e
parlamentar, o que foi fator imprescindível na formação da sua doutrina, haja visto a
indispensável participação e influencias de Locke no desenrolar da mesma.
Formação Acadêmica:
-Estudou em Westminister School, transferindo-se em 1652 para Christ Church College
de Oxford, instituição à qual esteve ligado até fins de 1684, como associado, e formou-
se “ M a s t e r o f A r t s ” em 1658, após bacharelar-se em artes no ano de 1656.
Principais influências recebidas:
-John Owen (161 6-1683) – importância da tolerância religiosa.
-René Descartes (1596 – 1650) - Racionalismo e antropocentrismo. Partiu para o ramo
da medicina, o qual foi muitíssimo importante para tecer de sua teia de relações políticas.
Tornou-se médico particular de Antony Ashley Cooper (1621 – 1683), influente
Lorde articulador inglês, o que o levou a se ingressar na convivência com os grandes
círculos intelectuais e políticos de sua época, além de despertar por vez seus dotes
políticos, e filosóficos, por ter-se aliado junto ao lorde (pouco depois conde de
Shaftesbury), em defesa de interesses do parlamento, fortalecido pela ascensão burguesa,
e contrário ao absolutismo reinante através do Rei Carlos II, sucedido pelo irmão Jaime.
Foi politicamente perseguido, e tendo que se exilar na Holanda, (1682) onde havia
liberdade de expressão, Locke pôde trabalhar bastante, questões referentes ao seu viés
liberal, através da publicação de artigos em jornais e periódicos, retornando à Inglaterra
sé em 1689 com a ascensão de Guilherme de Orange ao trono, graças à outorga do poder
dada a este pela câmara dos comuns. Após esta data que Locke teve divulgadas e
publicadas suas principais obras, passando a ter o devido reconhecimento:
>Primeiro e segundo tratados sobre o governo civil (1690): Combate a tese do
cientista político sir. Robert Filmer, proposta na obra “O Patriarca” (1680 – publicada
após a sua morte), na qual defende de forma convicta o absolutismo, que segundo ele,
remontava suas origens e poder em Adão e Eva. Locke em contrapartida, afirmou a
origem popular e consensual dos governos: “Adão não tinha, seja por direito natural de
paternidade ou por doação positiva de Deus, autoridade de qualquer natureza ou domínio
sobre o mundo, […] se os tivesse, nenhum direito a eles, contudo, teriam seus herdeiros.”
(LOCKE, 1978, p. 33). Em seu segundo tratado, expõe sua teoria do Pacto Social e
defende o liberalismo, buscando derrubar de forma definitivo o inatismo absolutista de
Filmer.
>Ensaio acerca do Entendimento humano (1690): Na mencionada obra, Locke leva à
tona sua teoria da razão empírica (adquirida através das experiências), em contrapartida
ao racionalismo de Descartes e Cudworth que pregavam a existência de ideias inatas (que
nascem conosco). Segundo Locke, nosso conhecimento é formado por ideias simples
(sensação e reflexão), e complexas, que ocorrem de acordo com o desenvolvimento de
nossa “percepção”. “Aos poucos vamos ‘amarrando’ muitas impressões sensoriais e
formando conceitos”(GAARDER, 1998, P. 283).
>Carta acerca da tolerância (1689): Prega a liberdade religiosa e a ruptura
Estado/religião para a boa gestão estatal: “Não cabe ao magistrado civil o cuidado com
as almas (…) isso não lhe foi outorgado por Deus.” (Locke, 1978, p.5).
>Pensamentos sobre a Educação (1693): Nesta, Locke aplica sua teoria empírica do
conhecimento aos problemas do ensino, sustentando que as crianças são totalmente
maleáveis: “pode-se levar, facilmente, as almas das crianças numa ou noutra direção, como
a própria água.”
Até a morte em outubro de 1.704, Locke exerceu cargos de comissão de recursos e
de Câmara de comércio, abandonando-os já por volta de 1.700, quando resolveu por se
“aposentar” dedicando-se a vida filosófica e contemplativa.
Contexto histórico
O livro “Segundo Tratado Sobre o Governo Civil” de John Locke foi escrito
durante o período da Revolução Gloriosa, uma época marcante para aqueles que
presenciaram essa revolução e tiveram que superá-la. A Revolução Gloriosa foi uma
revolução em grande parte não violenta, e que também era chamada de “Revolução sem
sangue”, pela forma pacifica com que ocorreu. Aconteceu na Inglaterra, entre 1688 e
1689, no qual o rei Jaime II (católico), pertencente à dinastia Stuart, foi destituído do
seu trono da Inglaterra, Escócia e País de Gales, sendo substituído por sua filha, Maria
II, e por seu genro, Guilherme, o Príncipe de Orange (ambos protestantes).
Durante seu reinado de três anos, o rei Jaime II tornou-se vítima da batalha
política entre o catolicismo e o protestantismo, bem como entre os direitos da coroa e
os poderes políticos do parlamento, e por não ser protestante, suas tentativas de reforma
eram vistas como suspeitas.
A questão teve seu ápice quando, em 1688, Jaime II teve um filho, James Francis
Edward Stuart. Até então, o trono teria passado para sua filha, Maria. Porém a
possibilidade de continuar uma dinastia católica havia surgido. Dessa forma, lançou-se
uma conspiração para depor Jaime II, e substituí-lo por sua filha e seu marido. Esse, já
liderava uma guerra entre alguns países, e viu a hipótese de adicionar a Inglaterra à sua
aliança.
Em 1689, Jaime fugiu, e o parlamento declarou sua fuga como abdicação. Assim,
o trono foi oferecido a Guilherme e Maria, como governadores conjuntos. Foi criado
pelo parlamento o “Bill of Rights”, que era um conjunto de leis que previa uma série de
mudanças de característica liberal. A partir de então, todos os cidadãos que fossem
acusados de alguma infração, teriam direito a um julgamento com a presença de um
júri. A principal mudança imposta pelo Bill of Rights foi sobre a relação entre rei e
parlamento, de forma que nenhuma lei parlamentar poderia ser vetada pelo rei, e após
a morte deste, seria o parlamento quem indicaria o sucessor do trono inglês.
O movimento está mais associado a um golpe do estado, do que propriamente a
uma revolução. Além do mais, foram poucas batalhas e conflitos deflagrados pela
deposição do rei. A Revolução Gloriosa foi um dos eventos mais importantes para o
Parlamento, pois direcionou o poder em sua direção, afastando a Inglaterra do
absolutismo, tornou impossível a volta de um monarca católico ao poder e abriu espaço
para a introdução de uma ordem liberal burguesa. Foi um marco na supremacia do
parlamento sobre a coroa
CAPÍTULO I
Locke volta a refutar no primeiro capítulo de seu tratado, as teses do filósofo Sir
Robert Filmer (1588 – 1653), defensor assíduo do Absolutismo, alicerçado em bases
divinas. Como havia exposto no primeiro tratado, Adão não tinha em qualquer hipótese
ou por direito, ou por doação divina, a autoridade sobre seus filhos e sobre o mundo, e
se o teve, isso é impossível de se estender e determinar até a atualidade, o que leva Locke
à busca de reiterado entendimento da legitimidade do domínio e poder de determinados
indivíduos sobre outros.
Assim, Locke define um de seus conceitos-chave, que é o de poder político, que
seria o “direito de fazer leis com pena de morte e, consequentemente, todas as
penalidades menores para regular e preservar a propriedade, e de empregar a força da
comunidade na execução de tais leis e na defesa da comunidade de dano exterior; e tudo
isso tão-só em prol do bem público”. (Locke, 1978, p. 34)
CAP. IV DA ESCRAVIDÃO
Para Locke, “a liberdade natural do homem consiste em estar livre de qualquer
poder superior na Terra, e não sob a vontade ou autoridade legislativa do homem, tendo
somente a lei da natureza como regra”. (LOCKE, 1978, p.43) Assim, podemos dizer que
também no estado social, o homem deve se subordinar somente àquele poder cujo
consensualmente anuiu, estando livre para fazer tudo o que não é defeso por tal poder,
princípio de nosso Direito Constitucional “Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de
fazer alguma coisa senão em virtude de lei” (CR, art. 5º II)
Em relação à escravidão, é mais do que clara a repulsa de Locke a tal modo de
domínio, gerador de infinitos conflitos e ninharias. Para ele, só existe uma possibilidade
do mencionado m o d u s v i v e n d i : os casos em que a pessoa perde o seu direito à
vida. Podemos ter o exemplo de um cidadão que cometeu alguma falta gravíssima
passível de pena de morte, casos em que Locke, reconhece a possibilidade de
escravização: “aquele a quem a entregou [a vida] pode, quando o tem entre as mãos,
demorar em tomá-la, empregando-o em seu próprio serviço...” (LOCKE, 1978, p.43)
CAP. V DA PROPRIEDADE
Locke considera em seguimento ao Gênesis, que Deus deu a Terra aos homens
em comum, para que estes se utilizassem desta para a subsistência e conveniência.
“Embora a terra e todas as criaturas inferiores sejam comuns a todos os homens, cada
homem tem uma propriedade em sua própria pessoa; a esta ninguém tem qualquer
direito senão ele mesmo.” (LOCKE, 1978, p.45) Note-se que Maquiavel anteriormente
a Locke nos deixou ensinamentos neste sentido, ao dizer no cap. XIX de sua obra “O
Príncipe” que para que não seja odiado por seus súditos, o Príncipe jamais deve usurpar
os bens e patrimônio destes: “quando os súditos têm seu patrimônio e honra respeitados,
vivem geralmente satisfeitos”. (MAQUIAVE L, 2004, p. 110)
Em continuidade, Locke nos diz que aquele espaço ao qual o indivíduo
incorporou para si através do trabalho é de sua propriedade exclusiva e não lhe pode
ser contestada (salvo problemas de escassez), pois se necessitássemos do
consentimento de todos para apropriarmo-nos de uma macieira, por exemplo,
morreríamos de fome “É a tomada de qualquer parte do que é comum com a remoção
para fora do estado em que a natureza o deixou que dá início à propriedade.” (LOCKE,
1978, p.46). Assim o é também com a terra: “a extensão de terra que um homem lavra,
planta, melhora, cultiva, cujos produtos usa, constitui sua propriedade.” (LOCKE,
1978, p.47)
Locke ressalta a importância do trabalho nesse sentido, ou seja, de incorporação
de maior propriedade, algo que foi demasiado crucial no âmbito do protestantismo, que
incorpora tal conduta à preceitualização divina: “aquele que em obediência a esta ordem
de Deus, dominou, lavrou e semeou parte da terra, anexou-lhe por este meio algo que lhe
pertença...” ( I d e m ) . Note-se que Max Weber (1864-1920), em sua obra “A Ética
protestante e o espírito do Capitalismo” fez uma abordagem muito importante nesse
sentido, ao afirmar que a mencionada conduta (do trabalho como importante para a
dignificação do homem), foi muito importante no âmbito do desenvolvimento do
Capitalismo, à medida em que concorreu para o desenvolvimento econômico-social por
ter o trabalho como base importante em sua doutrina. (WEBER, 2004)
Quanto aos problemas relativos à escassez das terras, Locke considera impossível
tal contestação, pois o espaço dado por Deus a cada um dos homens para usufruto é mais
do que suficiente para sua satisfação, e no caso de desacordo com qualquer outro homem,
é passível de modificação, podendo aquele que teve sua propriedade disposta a terceiro,
trocá-la por outra tão quão produtiva quanto a anterior.
Retornando à questão do trabalho, Locke nos chama a atenção não só para o
acúmulo de propriedade, mas também para a sua valorização: “...considere qualquer um
a diferença que existe entre um acre de terra plantado […] e um acre da mesma terra em
comum sem qualquer cultura e verificará que o melhoramento devido ao trabalho
constitui a maior parte do valor respectivo.” ( I d e m , p.50) “A grande arte do governo
consiste no aumento de terras e no uso acertado delas”(I d e m , p.51)
Ao longo do tempo, com o crescimento populacional, a escassez passou a ser
iminente, o que culminou em pactos e leis fixando os limites dos respectivos territórios,
dando ênfase à legitimidade de sua posse.
Em seguida Locke nos explica o surgimento do dinheiro, advindo da necessidade
de se acumular bens sem o problema da fungibilidade, ou seja, sem o perecimento de
seus bens com o tempo. (Note-se que o processo se iniciou com a permuta ou troca, que
aos poucos foi sendo substituída pela moeda – “as moedas fabricadas com uma liga de
ouro e prata apareceram pela primeira vez no século VI a.C. Tanto os monarcas como os
aristocratas, as cidades e as instituições começaram a cunhar moedas com seu sinete de
identificação para garantir a autenticidade do valor metálico da moeda.” (ENCARTA
2001)
José Afonso da Silva em seu “Curso de Direito Constitucional Positivo”, considera
a propriedade como direito individual indispensável (p.180), ao lado da vida, igualdade,
liberdade e segurança, todos elencados no art. 5º de nossa Carta Magna, relativo aos
direitos e deveres individuais e coletivos, que assim define em seu Inciso XXIII: “a
propriedade atenderá a sua função social”, e em seu inciso XI que “a casa é asilo
inviolável.”
Tais desígnios são pertinentes da primeira leva de direitos a serem assegurados aos
indivíduos ainda na idade Moderna (os quais J. J. Canotilho define como “Direitos de
Defasa do cidadão perante o Estado,” considerando Locke o pai do individualismo
possessivo, p.384; Moraes chama-os de “Direitos da primeira Geração ou negativos”,
sucedidos pelos sociais, econômicos e culturais (2ª), e pelos de solidariedade ou
fraternidade (3ª) p.27;) com a declaração dos direitos do homem e cidadão pouco após o
término da Revolução Francesa, com a declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão,
que deveriam ser dispostas em quaisquer constituições que viessem a existir, sendo
substituída a p o s t e r i o r i , pela “Declaração Universal dos Direitos Humanos” em
1948 pela assembleia das Nações Unidas.