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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
Disciplina EDU 018: Teorias do Estado e Políticas Públicas Para a Educação

29/3 – Liberalismo e Estado Burguês: Locke [José]


LOCKE, John. Segundo tratado sobre o governo civil: ensaio sobre a origem, os limites
e os fins verdadeiros do governo civil. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994 – (Coleção Clássicos
do Pensamento Político). (Ler 35 a 103)

INTRODUÇÃO
Obra escrita no final do século XVII, “O Segundo Tratado sobre o Governo
Civil”, do John Locke, expressa o pensamento liberal adotado por Locke e sua posição
contra o governo absolutista (contexto da época), com argumentos que mostram que o
governo emana da comunidade e que, junto com a lei, deve ser usado para o bem
comum. Os pensamentos de Locke influenciaram eventos importantes na história,
principalmente na Europa e na América. Por muitos é chamado de teórico da Revolução
Inglesa (1688) e foi a principal fonte de ideias para a Revolução Norte-Americana
(1776), tendo influenciado na Declaração de Independência e nas constituições
estaduais.
Biografia
Nascido em 29 de agosto de 1632 (mesmo ano do nascimento de Baruch Spinoza)
na cidade de Wrington, nas proximidades de Bristol no sudoeste da Inglaterra, e filho de
burgueses comerciantes, Locke vivenciou um momento bastante conturbado dentro da
organização político – econômica de seu país, marcada pela revolução gloriosa, ocorrida,
entre 1688 e 1689 na Grã-Bretanha, na qual foi deposto o rei Jaime II, em favor de sua
filha Maria II e seu marido Guilherme III, príncipe de Orange, responsável pela
transformação da monarquia absoluta dos Stuart numa monarquia constitucional e
parlamentar, o que foi fator imprescindível na formação da sua doutrina, haja visto a
indispensável participação e influencias de Locke no desenrolar da mesma.
Formação Acadêmica:
-Estudou em Westminister School, transferindo-se em 1652 para Christ Church College
de Oxford, instituição à qual esteve ligado até fins de 1684, como associado, e formou-
se “ M a s t e r o f A r t s ” em 1658, após bacharelar-se em artes no ano de 1656.
Principais influências recebidas:
-John Owen (161 6-1683) – importância da tolerância religiosa.
-René Descartes (1596 – 1650) - Racionalismo e antropocentrismo. Partiu para o ramo
da medicina, o qual foi muitíssimo importante para tecer de sua teia de relações políticas.
Tornou-se médico particular de Antony Ashley Cooper (1621 – 1683), influente
Lorde articulador inglês, o que o levou a se ingressar na convivência com os grandes
círculos intelectuais e políticos de sua época, além de despertar por vez seus dotes
políticos, e filosóficos, por ter-se aliado junto ao lorde (pouco depois conde de
Shaftesbury), em defesa de interesses do parlamento, fortalecido pela ascensão burguesa,
e contrário ao absolutismo reinante através do Rei Carlos II, sucedido pelo irmão Jaime.
Foi politicamente perseguido, e tendo que se exilar na Holanda, (1682) onde havia
liberdade de expressão, Locke pôde trabalhar bastante, questões referentes ao seu viés
liberal, através da publicação de artigos em jornais e periódicos, retornando à Inglaterra
sé em 1689 com a ascensão de Guilherme de Orange ao trono, graças à outorga do poder
dada a este pela câmara dos comuns. Após esta data que Locke teve divulgadas e
publicadas suas principais obras, passando a ter o devido reconhecimento:
>Primeiro e segundo tratados sobre o governo civil (1690): Combate a tese do
cientista político sir. Robert Filmer, proposta na obra “O Patriarca” (1680 – publicada
após a sua morte), na qual defende de forma convicta o absolutismo, que segundo ele,
remontava suas origens e poder em Adão e Eva. Locke em contrapartida, afirmou a
origem popular e consensual dos governos: “Adão não tinha, seja por direito natural de
paternidade ou por doação positiva de Deus, autoridade de qualquer natureza ou domínio
sobre o mundo, […] se os tivesse, nenhum direito a eles, contudo, teriam seus herdeiros.”
(LOCKE, 1978, p. 33). Em seu segundo tratado, expõe sua teoria do Pacto Social e
defende o liberalismo, buscando derrubar de forma definitivo o inatismo absolutista de
Filmer.
>Ensaio acerca do Entendimento humano (1690): Na mencionada obra, Locke leva à
tona sua teoria da razão empírica (adquirida através das experiências), em contrapartida
ao racionalismo de Descartes e Cudworth que pregavam a existência de ideias inatas (que
nascem conosco). Segundo Locke, nosso conhecimento é formado por ideias simples
(sensação e reflexão), e complexas, que ocorrem de acordo com o desenvolvimento de
nossa “percepção”. “Aos poucos vamos ‘amarrando’ muitas impressões sensoriais e
formando conceitos”(GAARDER, 1998, P. 283).
>Carta acerca da tolerância (1689): Prega a liberdade religiosa e a ruptura
Estado/religião para a boa gestão estatal: “Não cabe ao magistrado civil o cuidado com
as almas (…) isso não lhe foi outorgado por Deus.” (Locke, 1978, p.5).
>Pensamentos sobre a Educação (1693): Nesta, Locke aplica sua teoria empírica do
conhecimento aos problemas do ensino, sustentando que as crianças são totalmente
maleáveis: “pode-se levar, facilmente, as almas das crianças numa ou noutra direção, como
a própria água.”
Até a morte em outubro de 1.704, Locke exerceu cargos de comissão de recursos e
de Câmara de comércio, abandonando-os já por volta de 1.700, quando resolveu por se
“aposentar” dedicando-se a vida filosófica e contemplativa.

Contexto histórico
O livro “Segundo Tratado Sobre o Governo Civil” de John Locke foi escrito
durante o período da Revolução Gloriosa, uma época marcante para aqueles que
presenciaram essa revolução e tiveram que superá-la. A Revolução Gloriosa foi uma
revolução em grande parte não violenta, e que também era chamada de “Revolução sem
sangue”, pela forma pacifica com que ocorreu. Aconteceu na Inglaterra, entre 1688 e
1689, no qual o rei Jaime II (católico), pertencente à dinastia Stuart, foi destituído do
seu trono da Inglaterra, Escócia e País de Gales, sendo substituído por sua filha, Maria
II, e por seu genro, Guilherme, o Príncipe de Orange (ambos protestantes).
Durante seu reinado de três anos, o rei Jaime II tornou-se vítima da batalha
política entre o catolicismo e o protestantismo, bem como entre os direitos da coroa e
os poderes políticos do parlamento, e por não ser protestante, suas tentativas de reforma
eram vistas como suspeitas.
A questão teve seu ápice quando, em 1688, Jaime II teve um filho, James Francis
Edward Stuart. Até então, o trono teria passado para sua filha, Maria. Porém a
possibilidade de continuar uma dinastia católica havia surgido. Dessa forma, lançou-se
uma conspiração para depor Jaime II, e substituí-lo por sua filha e seu marido. Esse, já
liderava uma guerra entre alguns países, e viu a hipótese de adicionar a Inglaterra à sua
aliança.
Em 1689, Jaime fugiu, e o parlamento declarou sua fuga como abdicação. Assim,
o trono foi oferecido a Guilherme e Maria, como governadores conjuntos. Foi criado
pelo parlamento o “Bill of Rights”, que era um conjunto de leis que previa uma série de
mudanças de característica liberal. A partir de então, todos os cidadãos que fossem
acusados de alguma infração, teriam direito a um julgamento com a presença de um
júri. A principal mudança imposta pelo Bill of Rights foi sobre a relação entre rei e
parlamento, de forma que nenhuma lei parlamentar poderia ser vetada pelo rei, e após
a morte deste, seria o parlamento quem indicaria o sucessor do trono inglês.
O movimento está mais associado a um golpe do estado, do que propriamente a
uma revolução. Além do mais, foram poucas batalhas e conflitos deflagrados pela
deposição do rei. A Revolução Gloriosa foi um dos eventos mais importantes para o
Parlamento, pois direcionou o poder em sua direção, afastando a Inglaterra do
absolutismo, tornou impossível a volta de um monarca católico ao poder e abriu espaço
para a introdução de uma ordem liberal burguesa. Foi um marco na supremacia do
parlamento sobre a coroa

CAPÍTULO I
Locke volta a refutar no primeiro capítulo de seu tratado, as teses do filósofo Sir
Robert Filmer (1588 – 1653), defensor assíduo do Absolutismo, alicerçado em bases
divinas. Como havia exposto no primeiro tratado, Adão não tinha em qualquer hipótese
ou por direito, ou por doação divina, a autoridade sobre seus filhos e sobre o mundo, e
se o teve, isso é impossível de se estender e determinar até a atualidade, o que leva Locke
à busca de reiterado entendimento da legitimidade do domínio e poder de determinados
indivíduos sobre outros.
Assim, Locke define um de seus conceitos-chave, que é o de poder político, que
seria o “direito de fazer leis com pena de morte e, consequentemente, todas as
penalidades menores para regular e preservar a propriedade, e de empregar a força da
comunidade na execução de tais leis e na defesa da comunidade de dano exterior; e tudo
isso tão-só em prol do bem público”. (Locke, 1978, p. 34)

CAP. II DO ESTADO DE NATUREZA


Para se entender o poder político e suas origens, Locke nos diz que devemos
saber como convivem os homens em seu estado de natureza, ou seja, do modo em que
se achariam naturalmente sem nenhum tipo de subordinação estatal, estado no qual
ninguém se obriga para com outro ou se subordina, havendo apenas uma mutualidade de
inter-relações, como nos explica ao citar Richard Hooker, teólogo inglês defensor da
igualdade natural dos homens: “Oferecer-lhe [ao próximo] algo que lhe repugne ao
desejo deve necessariamente afligi-lo em todos os sentidos tanto quanto a mim; de sorte
que, se pratico o mal, devo esperar por sofrimento…”(LOCKE, 1978, p.35)
Pelas premissas de Hooker, Locke nos afirma novamente a assertiva de que no
estado de natureza todos são iguais e providos das mesmas faculdades, subordinados
apenas a Deus:“...nenhum deles [homens] deve prejudicar a outrem na vida, na saúde,
na liberdade ou nas posses, […] [todos] são propriedade d’Aquele que os fez, destinados
a durar enquanto a ele aprouver e não uns aos outros, e sendo todos providos de
faculdades iguais […] não há a possibilidade de supor-se qualquer subordinação entre
os homens. ( I d e m , p.36)
Dentro da perspectiva do estado de natureza, Locke reconhece o direito
de qualquer um castigar a transgressão e perturbação de sua tranquilidade por outrem, no
intuito de cessar a violação de sua paz na medida em que esta foi infringida, o que é
direito coletivo, haja vista a inexistência de superioridade ou jurisdição de uns sobre
os outros.
Percebe-se a ligação da mencionada faculdade à lei de Talião, ou da “infricção
a uma pessoa do mesmo dano que haja causado a outrem.” (HOUSSAIS, 2001), e
temos a confirmação dessa similaridade na referência de Locke ao talionato, quando
diz que “todos têm direito de castigar o ofensor, tornando-se executores da lei da
natureza.” (LOCKE,1978, p.37)
Deixando-nos alguns princípios assimilados posteriormente no direito Penal
e Civil, Locke nos ensina que além do castigo à transgressão cometida, o sujeito
passivo (vítima) tem também o direito particular de buscar a reparação dos danos
sofridos por parte de quem os causou (CC art. 402- material / 953- moral / CP- art. 91,I
), apropriando-se de seus bens (art. 942 CC) no fim de ser ressarcido e impedir que o
infrator repita o delito. Notam-se algumas das bases sobre as quais o italiano Cesare
Beccaria se sustentou em sua obra “Dos Delitos e das Penas” (1764), na qual faz
menção às faculdades acima mencionadas por Locke, ao sustentar que a pena deve
também focar-se nesse ressarcimento do dano causado, na punição e conscientização
da ilicitude do ato por parte do transgressor. (BECCARIA, 2004)
Por fim Locke critica o Absolutismo ao sustentar ser melhor viver em estado
de natureza, no qual o homem se subordina somente a si, a viver sobre o domínio de
um monarca com o poder centralizado em si e que manda nos outros da maneira que
melhor lhe aprouver, o que não concretiza um pacto no qual lhe é outorgado o poder,
pois como diz Locke: “todos os homens estão naturalmente naquele estado [de
natureza] e nele permanecem, até que, pelo próprio consentimento, se tornem membros
de alguma sociedade política.”( LOCKE, 1978, p.39.)

CAP. III DO ESTADO DE GUERRA


Este é um estado de inimizade e destruição advindo de desentendimento de
indivíduos no estado de natureza que declaram guerra entre si, podendo contar com o
auxílio de terceiros que queiram vir se juntar à causa. Locke reconhece essa possibilidade
ao afirmar que temos o direito de declarar guerra àquele que me a declara, como o
permite a lei natural, por não se restringir a qualquer tipo de convenção.
Desta forma Locke afirma que a tentativa de dominação ou escravização é algo
que dá ensejo ao estado de guerra, uma vez que no estado de natureza todos são livres:
“aquele que tenta colocar a outrem sob poder absoluto põe-se em estado de guerra com
ele...” (LOCKE, 1978, p.40)
Em seguida Locke faz a diferenciação entre estado de natureza e estado de guerra
(algo inexistente na concepção hobbesiana, na qual os dois são praticamente os mesmos).
O primeiro ocorre quando os homens vivem entre si em gozo de suas liberdades sem
maiores problemas: “quando os homens vivem juntos conforme a razão, sem um superior
na Terra que possua autoridade para julgar entre eles, verifica-se propriamente o estado
de natureza.” (LOCKE, 1978, p.41)
Logo, o ato de se infringir as mencionadas prerrogativas quando em vivência no
estado natural, àquele que teve seu patrimônio dilapidado, cabe o direito de declarar
guerra a seu agressor, devido à inexistência de quaisquer órgãos reguladores das
atipicidades cometidas, o que não ocorre quando da existência de um pacto social que
garanta a resolução do conflito de modo equânime, e isso que deve ser buscado pelos
indivíduos para que o estado de guerra pereça de forma definitiva.

CAP. IV DA ESCRAVIDÃO
Para Locke, “a liberdade natural do homem consiste em estar livre de qualquer
poder superior na Terra, e não sob a vontade ou autoridade legislativa do homem, tendo
somente a lei da natureza como regra”. (LOCKE, 1978, p.43) Assim, podemos dizer que
também no estado social, o homem deve se subordinar somente àquele poder cujo
consensualmente anuiu, estando livre para fazer tudo o que não é defeso por tal poder,
princípio de nosso Direito Constitucional “Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de
fazer alguma coisa senão em virtude de lei” (CR, art. 5º II)
Em relação à escravidão, é mais do que clara a repulsa de Locke a tal modo de
domínio, gerador de infinitos conflitos e ninharias. Para ele, só existe uma possibilidade
do mencionado m o d u s v i v e n d i : os casos em que a pessoa perde o seu direito à
vida. Podemos ter o exemplo de um cidadão que cometeu alguma falta gravíssima
passível de pena de morte, casos em que Locke, reconhece a possibilidade de
escravização: “aquele a quem a entregou [a vida] pode, quando o tem entre as mãos,
demorar em tomá-la, empregando-o em seu próprio serviço...” (LOCKE, 1978, p.43)

CAP. V DA PROPRIEDADE
Locke considera em seguimento ao Gênesis, que Deus deu a Terra aos homens
em comum, para que estes se utilizassem desta para a subsistência e conveniência.
“Embora a terra e todas as criaturas inferiores sejam comuns a todos os homens, cada
homem tem uma propriedade em sua própria pessoa; a esta ninguém tem qualquer
direito senão ele mesmo.” (LOCKE, 1978, p.45) Note-se que Maquiavel anteriormente
a Locke nos deixou ensinamentos neste sentido, ao dizer no cap. XIX de sua obra “O
Príncipe” que para que não seja odiado por seus súditos, o Príncipe jamais deve usurpar
os bens e patrimônio destes: “quando os súditos têm seu patrimônio e honra respeitados,
vivem geralmente satisfeitos”. (MAQUIAVE L, 2004, p. 110)
Em continuidade, Locke nos diz que aquele espaço ao qual o indivíduo
incorporou para si através do trabalho é de sua propriedade exclusiva e não lhe pode
ser contestada (salvo problemas de escassez), pois se necessitássemos do
consentimento de todos para apropriarmo-nos de uma macieira, por exemplo,
morreríamos de fome “É a tomada de qualquer parte do que é comum com a remoção
para fora do estado em que a natureza o deixou que dá início à propriedade.” (LOCKE,
1978, p.46). Assim o é também com a terra: “a extensão de terra que um homem lavra,
planta, melhora, cultiva, cujos produtos usa, constitui sua propriedade.” (LOCKE,
1978, p.47)
Locke ressalta a importância do trabalho nesse sentido, ou seja, de incorporação
de maior propriedade, algo que foi demasiado crucial no âmbito do protestantismo, que
incorpora tal conduta à preceitualização divina: “aquele que em obediência a esta ordem
de Deus, dominou, lavrou e semeou parte da terra, anexou-lhe por este meio algo que lhe
pertença...” ( I d e m ) . Note-se que Max Weber (1864-1920), em sua obra “A Ética
protestante e o espírito do Capitalismo” fez uma abordagem muito importante nesse
sentido, ao afirmar que a mencionada conduta (do trabalho como importante para a
dignificação do homem), foi muito importante no âmbito do desenvolvimento do
Capitalismo, à medida em que concorreu para o desenvolvimento econômico-social por
ter o trabalho como base importante em sua doutrina. (WEBER, 2004)
Quanto aos problemas relativos à escassez das terras, Locke considera impossível
tal contestação, pois o espaço dado por Deus a cada um dos homens para usufruto é mais
do que suficiente para sua satisfação, e no caso de desacordo com qualquer outro homem,
é passível de modificação, podendo aquele que teve sua propriedade disposta a terceiro,
trocá-la por outra tão quão produtiva quanto a anterior.
Retornando à questão do trabalho, Locke nos chama a atenção não só para o
acúmulo de propriedade, mas também para a sua valorização: “...considere qualquer um
a diferença que existe entre um acre de terra plantado […] e um acre da mesma terra em
comum sem qualquer cultura e verificará que o melhoramento devido ao trabalho
constitui a maior parte do valor respectivo.” ( I d e m , p.50) “A grande arte do governo
consiste no aumento de terras e no uso acertado delas”(I d e m , p.51)
Ao longo do tempo, com o crescimento populacional, a escassez passou a ser
iminente, o que culminou em pactos e leis fixando os limites dos respectivos territórios,
dando ênfase à legitimidade de sua posse.
Em seguida Locke nos explica o surgimento do dinheiro, advindo da necessidade
de se acumular bens sem o problema da fungibilidade, ou seja, sem o perecimento de
seus bens com o tempo. (Note-se que o processo se iniciou com a permuta ou troca, que
aos poucos foi sendo substituída pela moeda – “as moedas fabricadas com uma liga de
ouro e prata apareceram pela primeira vez no século VI a.C. Tanto os monarcas como os
aristocratas, as cidades e as instituições começaram a cunhar moedas com seu sinete de
identificação para garantir a autenticidade do valor metálico da moeda.” (ENCARTA
2001)
José Afonso da Silva em seu “Curso de Direito Constitucional Positivo”, considera
a propriedade como direito individual indispensável (p.180), ao lado da vida, igualdade,
liberdade e segurança, todos elencados no art. 5º de nossa Carta Magna, relativo aos
direitos e deveres individuais e coletivos, que assim define em seu Inciso XXIII: “a
propriedade atenderá a sua função social”, e em seu inciso XI que “a casa é asilo
inviolável.”
Tais desígnios são pertinentes da primeira leva de direitos a serem assegurados aos
indivíduos ainda na idade Moderna (os quais J. J. Canotilho define como “Direitos de
Defasa do cidadão perante o Estado,” considerando Locke o pai do individualismo
possessivo, p.384; Moraes chama-os de “Direitos da primeira Geração ou negativos”,
sucedidos pelos sociais, econômicos e culturais (2ª), e pelos de solidariedade ou
fraternidade (3ª) p.27;) com a declaração dos direitos do homem e cidadão pouco após o
término da Revolução Francesa, com a declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão,
que deveriam ser dispostas em quaisquer constituições que viessem a existir, sendo
substituída a p o s t e r i o r i , pela “Declaração Universal dos Direitos Humanos” em
1948 pela assembleia das Nações Unidas.

CAP.VI DO PODER PATERNO


Locke critica a mencionada expressão, nos dizendo que pode nos conduzir ao erro,
pois parece atribuir totalmente ao pai o poder sobre os filhos, quando na verdade
sabemos o quão é imprescindível o poder exercido pelas mães: “seria preferível chamar
esse direito de ‘poder dos pais’, para qualquer obrigação que a natureza e o direito de
geração impõem aos filhos, subordinando-os com toda certeza por igual a ambas causas
nela concorrentes.” (LOCKE,1978, p.55)
Em continuidade, Locke nos fala de algo que faz algum diferencial mesmo
quando em estado de natureza: a experiência, que segundo ele, através da idade ou a
virtude ( v i r t ú em Maquiavel – Príncipe cap. XXV), pode atribuir ao homem maior
domínio sobre os demais, e isso é de nossa natureza (inclusive da dos animais).
Os únicos passíveis de jurisdição, porém temporária, são os filhos, que até
atingirem a maturidade, são dependentes dos pais, assim como foram Caim e Abel de
Adão e Eva, sucessivamente: “. . .o poder que os pais têm sobre os filhos resulta do dever
que lhes incumbe – cuidar da progênie durante o estado imperfeito da infância.”
(LOCKE, 1978, p.56)
É só na maturidade (hoje a “maioridade” ocorre para nós aos 18 anos conforme
o art. 5º de nosso CC: “A menoridade civil cessa aos dezoito anos completos, quando a
pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil.” Porém quando a
maturidade chega, é uma incógnita…), um estado no qual o jovem já dispõe do devido
discernimento, que ele pode passar a gozar de todas suas liberdades (Locke considerava
ser nos aproximados 21 anos), e não depende mais de seus pais ou tutores.
Em seguida Locke faz menção aos loucos e defeituosos que não atingem o grau
de razão em que teriam o necessário discernimento, ensinando que estes jamais se
libertam do governo dos pais, regra levada a cabo por nosso Código Civil, que assim
define em seu art. 3º II: “são absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos
da vida civil, os que por enfermidade ou doença mental, não tiveram o necessário
discernimento para a prática desses atos.”
Após a maioridade, quando perde a jurisdição dos pais, o filho deve manter
sempre a honra e o respeito por ambos: “não há estado ou liberdade que possa dispensá-
los desta obrigação.” (LOCKE, 1978, p.59) Porém há de se lembrar que jamais os pais
poderão continuar a exigir de sua prole eterna obediência e absoluta submissão.
Temos assim duas vertentes distintas: a primeira, a obediência, diz respeito ao
dever dos filhos de respeitarem seus pais quando ainda incapazes, e reciprocamente, o
dever dos pais de contribuírem para a formação do filho até o ápice de sua maturidade.
A segunda vertente abordada por Locke, a veneração, é referente ao respeito e atenção
dos filhos para com os pais após o escopo de sua maturidade, haja vista a importância
destes em sua formação anterior, apesar de não exercerem mais a total jurisdição sobre
eles.
Em abordagem a outra forma de exercício do poder, Locke nos fala da faculdade
de se doar a herança: os pais tendo em vista o temperamento e veneração dos filhos
após a maioridade, doa a herança da maneira que melhor lhes aprouver, o que de certo
modo deixa os filhos coobrigados a obedecer-lhes mesmo após a maioridade, visando
sempre o recebimento da herança, o que faz com que o pai ainda tenha sobre eles um
certo “reinado”, o que leva Locke a compara-los com monarcas políticos, que
estabelecem sua sucessão após a morte.

CAP. VII DA SOCIEDADE POLÍTICA OU CIVIL


Como ensina o Gênesis, Deus fez o homem no intuito de que este convivesse
em sociedade, dando-o a razão e o discernimento necessários para seu relacionamento
com os demais, o que inicia-se pela sociedade conjugal, que tem como fim a procriação
e o cuidado para com a prole até sua maturidade, sendo essa a principal razão da
continuidade dos laços entre homem e mulher, e um dos motivadores do
desenvolvimento do trabalho, de acordo com Locke.
Considerando diferentes a sociedade conjugal e a política, o autor resolve por
focar-se na segunda, após breve explanação sobre a primeira. Ela nasce a partir do
momento em que os indivíduos resolvem por abrir mão de seu direito natural (Estado
de natureza – cap II), passando-o às mãos da comunidade, da forma que a lei
estabelecer: “. . .excluindo-se todo julgamento privado de qualquer cidadão particular,
a comunidade torna-se árbitro em virtude das regras fixas estabelecidas…” (Locke,
1978, p. 67)
Assim, aqueles que unem-se nesse intuito de estabelecer entre si um m o d u s
v i v e n d i , com órgãos responsáveis pela resolução de controvérsias e punição dos
infratores, encontram-se numa sociedade política ou civil: “…por essa maneira a
comunidade consegue, por meio de um poder julgador estabelecer que castigo cabe às
várias transgressões, (…) bem como possui o poder de castigar qualquer dano praticado
contra qualquer dos membros, (…) e tudo isso para a preservação da propriedade de
todos os membros dessa sociedade… “ ( I d e m ) . Note-se a partir da citação, a criação
dos poderes Legislativo e executivo, aos quais Locke delega o a faculdade da criação e
execução das leis, sistema posteriormente aprimorado pelo francês Montesquieu (1689
-1755) em sua obra “O espírito das Leis”, na qual traz à tona o sistema de pesos e
contrapesos ( c h e c k s a n d b a l a n c e s ) .
Logo, só da forma retro-mencionada que se torna possível a existência de uma
sociedade civil, coexistindo nos demais casos o estado de natureza; assim Locke
considera a monarquia, que não é constituída através de uma outorga consensual entre
seus membros: “. . .onde quer que existam pessoas que não tenham semelhante autoridade
a que recorrerem, (…) estarão tais pessoas no estado de natureza; e assim se encontra
qualquer príncipe absoluto em relação aos que estão sob seu domínio.” (Locke, 1978,
p.68).
Para que haja a modificação desses estados monárquicos, há a necessidade de um
juiz imparcial, que decide de forma justa e sem inclinações (o que não aconteceu nas
monarquias) os conflitos existentes. Locke nos diz ainda que a monarquia é pior do que
o estado de natureza ordinário, porque há alguém com um poder superior ao meu que se
acha senhor de tudo.
Ninguém em seu estado de natureza pode ser expulso de sua propriedade ou ser
submetido ao poder político de outrem sem dar consentimento, pois como já explicitado
por Locke, todos são livres, iguais e independentes, e só através de um pacto civil visando
maior tutela destas liberdades que ocorre o fim do tão estudado Estado, e a formação de
um corpo político que representa a maioria (LOCKE x ROUSSEAU). “Todo homem,
concordando com outros em formar um corpo político sendo um governo, assume a
obrigação para com todos os membros dessa sociedade de submeter-se à redução da
maioria conforme a assuntar...” (Locke, 1978, p. 71)
Locke logo após se depara com duas objeções: Quando ocorreu de homens se
reunirem e formarem um pacto da forma mencionada? Como pode ter ocorrido se todos
nós nascemos sob um governo qualquer? Em resposta, Locke nos explica que o governo
precede à história, e só após sua formação é que se iniciam relatos a seu respeito.
Como o modo de se justificar, Locke se utiliza das palavras do jesuíta Espanhol
José de Acosta (1539 – 1600), que em quando da exploração da América relatou a
inexistência de quaisquer governos. “[No Peru] não tiveram, durante muito tempo, reis
nem comunidades, vivendo em bandos, como o fazem até hoje na Flórida os
Cheriquanas, os do Brasil e de muitas outras nações que não tem reis certos, mas
quando se oferece a ocasião, na paz ou na guerra, escolhem os chefes conforme lhes
convém...” (ACOSTA CITADO EM LOCKE, 1978, p. 73). Como explicita Locke, tais
sociedades iniciaram-se com a união voluntária e acordo mútuo entre os homens que
agiam livremente.
Explicando o porquê do surgimento das monarquias, Locke baseia-se na figura
do Pai, que como até a atualidade costuma ser consenso, é o responsável pelo sustento
e gerencia dos filhos, e o seu castigo quando da transgressão das leis entre si impostas,
o que foi se transferindo de tempos em tempos, culminando nas monarquias, mas ele
considera que tal poder exercido pelos pais era legitimo, pois o era feito de forma
natural: “...não pode haver dúvida que faziam o uso da liberdadenatural para instalar
aquele que julgavam o mais apropriado a bem governar.” (Locke, 1978, p. 74); porém
comete-se um enorme engano ao se considerar que o governo monárquico surgiu por
natureza, vez que surgiu como ensinou Locke, pelo consentimento tácito, pois já
acostumados com a autoridade paterna, os indivíduos verificaram-na como a melhor e
mais segura.
O surgimento das monarquias de forma mais concisa como o era na época de
Locke, se deu segundo ele, pela superioridade de determinados indivíduos na chefia de
guerras e conflitos, nos quais destacaram-se por sua maior capacidade e agilidade a
frente do povo, o que trouxe confiança dos demais por ele, algo que passou a vigorar
em primeiro plano sem malícia, dando origem às cruéis monarquias, sustentadas por
argumentos esdrúxulos como os de Sir. Robert Filmer.
Em resposta à questão de nosso atrelamento a formas de governo precedentes
ao nosso nascimento, Locke volta a mencionar que somos livres, e por isso podemos
criar nossa própria forma de governo, desde que longe daquela, pois se não houvesse
tal possibilidade, o mundo continuaria gerido por uma única monarquia: ”. . .quem quer
que nasça sobre o domínio de outrem pode ser igualmente livre e pode tornar-se
governante ou súdito de governo separado ou distinto (...) todos teriam de ser uma
única monarquia universal se os homens não tivessem tido a liberdade de se separarem
das famílias e dos governos (...) indo formar comunidades distintas e outros
governos...” (Locke, 1978 p. 78)
Finalizando a questão relativa às formas de governo e sua aceitação, Locke nos
fala que nos casos de esta ser expressa, o indivíduo coobriga-se como membro de tal
governo, porém o problema centra-se no consentimento tácito, que para Locke dá-se
quando o indivíduo não manifesta sua vontade e interesse para com a manutenção da
jurisdição, o que o vincula até que não queria mais manter-se sobre determinado poder,
tendo a faculdade de retirar-se da comunidade, o que não ocorre com aquele que a
aceitam de forma expressa.

CAP. VIII DO INÍCIO DAS SOCIEDADES POLÍTICAS


“A única maneira p ela qual alguém se despoja de sua liberdade natural e
se coloca dentro das limitações da sociedade civil é através de acordo com outros
homens para se associarem e se unirem em uma comunidade para uma vida confortável,
segura e pacífica uns com os outros [...] Quando qualquer número de homens decide
constituir uma comunidade ou um governo, isto os associa e eles formam um corpo
político em que a maioria tem o direito de agir e decidir pelo restante.”(pág. 139)
Nesta comunidade formada por um consenso entre os homens, deve-se segundo
a vontade da maioria. “Pois o que move uma comunidade é sempre o consentimento dos
indivíduos que a compõem. [...] por isso cada um é obrigado a se submeter às decisões
da maioria.” (Págs. 139 140) “Pois quando a maioria não pode decidir pelo resto, as
pessoas não podem agir como um único corpo e este imediatamente entra em dissolução.
(Pág. 141)
Origem das sociedades políticas: “Assim, o ponto de partida e a verdadeira
constituição de qualquer sociedade política não é nada mais que o consentimento de um
número qualquer de homens livres, cuja maioria é capaz de se unir e se incorporar em
uma tal sociedade. Esta é a única origem possível de todos os governos legais do mundo.”
(Pág. 141) Possíveis objeções:
“Primeira: A história não conhece exemplos de um grupo de homens
independentes e iguais entre si, que tenham se reunido e desta forma fundado e instituído
um governo.” Tendo como resposta: “As inconveniências dessa condição, e o amor e a
necessidade da sociedade, aproximaram, em um número qualquer, todos aqueles que
desejavam ficar juntos, mas eles necessariamente teriam de se unir e se associar se
desejavam continuar juntos.” (pág. 141)
“Segunda: Juridicamente, é impossível aos homens tê-lo feito, porque todos os
homens nasceram sob um governo, e por isso devem a ele submeter -se e não têm a
liberdade de fundar um novo.” (pág. 141) Argumento que Locke utiliza para refutar
essa objeção: “Se este argumento é válido, eu pergunto como tantas monarquias legítimas
se formaram no mundo? Partindo-se desta hipótese, se alguém puder me mostrar um
único homem, em qualquer época da história do mundo, livre para iniciar uma monarquia
legítima, eu me junto a ele para mostrar, na mesma época, dez outros homens livres para
se unirem e iniciarem um novo governo, sob a forma real ou sob qualquer outra. [...]
Assim, segundo seu próprio princípio, todos os homens são livres, não importa sua
condição de nascimento, ou só existiria no mundo um único príncipe legítimo, um
único governo legítimo.[...] Os homens jamais admitiram nem reconheceram que
uma submissão natural deste gênero, que os obrigasse a este ou aquele, desde o
nascimento, fosse suscetível de se perpetuar sem o seu consentimento, como uma
submissão a eles e a seus herdeiros.”(págs. 150, 151) Apresenta vários exemplos na
história de povos que viviam livres no estado de natureza, e que se reuniram, se
associaram e iniciaram uma comunidade civil.
“Para concluir, temos a razão do nosso lado quando afirmamos que os homens são
naturalmente livres, e os exemplos da história mostram que todos os governos do mundo
que tiveram uma origem pacífica foram edificados sobre esta base e devem sua existência
ao consentimento do povo. Assim, há pouco espaço para a dúvida, seja sobre qual o lado
certo ou sobre a opinião ou a prática da humanidade na fundação inicial dos governos.”
(Pág. 143)
“Há uma distinção comum entre consentimento expresso e consentimento tácito.
[...] A isto eu respondo que qualquer homem que tenha qualquer posse ou desfrute de
qualquer parte dos domínios de qualquer governo, manifesta assim seu consentimento
tácito e, enquanto permanecer nesta situação, é obrigado a obedecer as leis daquele
governo como todos os outros que lhe estão submetidos;” (pág. 153)

CAP. IX DOS FINS DA SOCIEDADE POLÍTICA E DO GOVERNO


Locke nos fala que apesar dos homens terem total liberdade sobre suas posses,
e não terem qualquer obrigação com qualquer outro no estado de natureza, estão expostos
a inúmeros perigos que podem culminar na perda de sua propriedade e tranquilidade
para terceiros, pois são vulneráveis: “...a punição da propriedade que possui nesse
estado é muito insegura, muito arriscada.” (Locke, 1978, p.82).
Mais do que óbvio, o surgimento das sociedades civis tem como escopo, a
preservação da propriedade, o que não se demonstra tão firme no estado de natureza:
“O objetivo grande e principal, (...) é a preservação da propriedade. Para este objetivo,
muitas condições faltam no estado de natureza” (Idem). Locke enumera várias
condições inexistentes no estado de natureza:
1 – Uma lei firmada e reconhecida por todos, pela qual devem se pautar.
2 – Um juiz imparcial para a resolução de conflitos de acordo com a lei.
3 – Algo que assegure a devida execução da sentença imposta.
Um grande motivador da saída dos indivíduos de seu estado de natureza,
levando a se associarem aos demais, é a incerteza sobre o resultado de suas ações
quando em estado de natureza: “Os inconvenientes a que estão expostos pelo exercício
irregular e incerto do poder que todo homem tem de castigar as transgressões dos outros
obrigam-nos a se refugiarem sob as leis estabelecidas de governo e nele procurarem a
preservação da propriedade. (Idem, p.83)
Tendo em vista uma maior proteção à sua propriedade e bens, apesar de perder
alguns de seus direitos exclusivos do estado de natureza (principalmente a autotutela),
o homem tem lucros ao resolver por ligar-se a uma sociedade política, pois ao contrário,
fica a mercê da vulnerabilidade. A concepção de Locke é bastante diferente da
hobbesiana, que vê o Estado como um “mal necessário”. (HOBBES, 2004)
CAP. X DAS FORMAS DA COMUNIDADE CIVIL
Locke aborda as diversas formas de governo que se tornam possíveis quando há
a criação das sociedades civis.
Se há a nomeação de pessoas de tempos em tempos para a elaboração das leis,
deparamo-nos com uma democracia, segundo ele. Nos casos de dar-se tal faculdade nas
mãos de alguns homens escolhidos, e a seus herdeiros e sucessores, deparamo-nos com
uma oligarquia, podendo haver também as monarquias, que podem ser hereditárias
(Locke já nos falou do problema que pode causar a hereditariedade), ou eletivas.
Por fim Locke nos dá a definição de Comunidade, que deve ser interpretada
segundo ele com o significado de “ c i v i t a s ” , correspondente à forma de associação
por ele mencionada, na qual vários indivíduos unem-se em torno de um mesmo objetivo,
visando o bem comum.

CAP. XI DA EXTENSÃO DO PODER LEGISLATIVO


Locke nos diz que a primeira e fundamental lei positiva que for instruída dentro
de uma nova sociedade, deve estabelecer junto a si o poder legislativo, poder supremo e
sagrado dentro de uma comunidade, sem o qual jamais poderá haver a possibilidade de
se legislar sem o consentimento dos seus representantes: “[não] pode qualquer edito de
quem quer que seja, (...) ter a força e a obrigação da lei se não tiver a sanção do legislativo
escolhido e nomeado pelo público...” (Locke, 1978, p.86).
Fazendo algumas ressalvas ao poder legislativo, que pode ser exercido por um
ou mais cidadãos, Locke nos diz que:
1- Ele não pode ser mais do que aquilo que as pessoas lhe outorgaram: “… não poderá
ser mais do que essas pessoas tinham no estado de natureza antes de entrarem em
sociedade e o cederam à comunidade, porque ninguém pode transferir a outrem mais
poder do que possui.” (Locke, 1978 p. 87)
Seu objetivo é a preservação dos direitos dos súditos, e nada mais.
2 – Ele jamais pode chamar a si o poder de governar por meio de decretos
extemporâneos e arbitrários, (AI 5…) somente deve o fazer por leis a partir das quais
os magistrados o efetivarão, para que não caia na autoridade, o que é um dos motivos
que levam o indivíduo a celebrar o pacto, visando seu fim: “o poder que tem o mando
deve governar mediante leis declaradas e recebidas, e não por prescrições extra
temporais e resoluções indeterminadas”. (Locke, 1978, p. 88)
3 – Tal poder não pode jamais retirar dos indivíduos a sua propriedade (o que é um dos
principais motivos de sua criação), ou lançar impostos sobre esta sem
seu consentimento. É errôneo pensar que o poder legislativo pode fazer o que quiser,
mas isso pode ser possível naquelas comunidades em que o legislativo esta alicerçado
só sob um único individuo permanentemente, pois nos casos de assembleias variáveis,
os legisladores não o fazem por saber que voltarão estar submissos como os demais.
4 – o poder legislativo não pode transferir seu poder de elaboração de leis a terceiros,
pois só o povo que tem legitimidade para o fazer.

CAP. XII DOS PODERES LEGISLATIVO, EXECUTIVO E FEDERATIVO DA


COMUNIDADE CIVIL
Coma já mencionado por Locke, o poder legislativo é aquele que Tem o direito
de saber como se deverá utilizar a força da comunidade no sentido da preservação dela
própria e dos seus membros, mas apesar desta tarefa, ele não trabalha
permanentemente, e seus membros devem voltar à normalidade para que também
sujeitem-se às leis que fizeram, e aproximem-se mais do bem geral, o que
contrariamente os poderia levar a agir de forma arbitrária, ou visando interesses
exclusivos.
Na fiscalização do cumprimento das leis, ficará o poder executivo, responsável
por acompanhar sua execução e eficácia, que ficará bastante separado do legislativo, por
este se reunir poucas vezes.
Por último Locke menciona o poder federativo, responsável pela segurança e
defesa dos interesses da comunidade fora dela, o qual deve ser também regido pelo
executor, pois segundo ele: “...é quase impraticável colocar-se a força do público
ficaria sob comandos diferentes, o que poderia ocasionar, em qualquer ocasião,
desordem e ruína.” (Locke, 1978 p. 92)

CAP. XIII DA HIERARQUIA DOS PODERES DA COMUNIDADE CIVIL


Locke nos ensina que como o poder legislativo age de acordo com os interesses
da comunidade visando sua preservação e salvaguarda, jamais pode ir contra esta, casos
nos quais a mesma pode alterá-lo, outorgando-lhe a outros indivíduos, pois é sempre o
poder supremo nos casos de falhas ou corrupção no poder legislativo, o que não ocorre
nos casos de boa gestão, em que o legislativo goze de tal prerrogativa: “...enquanto
subsiste o governo, o legislativo é o poder supremo; o que deve dar leis a outrem deve
necessariamente ser-lhe superior...” (Locke, 1978, p.93)
Nos casos de vacância temporal do legislativo (cap XII) momento em que não
está atuante, a referida guarda e supremacia advém do executivo que apesar de
irresponsável pela continua fiscalização das leis; esta pessoa única também pode
chamar-se suprema, em sentido mais tolerável, “não que tenha em si todo o poder
supremo, que é o de fazer leis, mas porque possui em si a suprema execução…” (idem)
Retomando o poder legislativo, Locke nos fala sobre o modo e frequência de
suas reuniões, nos ensinando que podem ser reguladas constitucionalmente, com a
precisão de reuniões durante intervalos de tempo, ou quando as exigências ou ocasiões
trouxerem tal necessidade, devendo em ambos casos o executivo agir no sentido de
possibilitar de forma precisa as mencionadas reuniões.
Se o executivo não concorre para a possibilitação das reuniões, e utiliza-se da
força para impedi-las, Locke nos diz que o povo tem o direito de utilizar-se da força,
pois seu emprego sem o consentimento do povo por parte do executivo, coloca-o num
estado de guerra para com a sociedade. Seu poder de convocar o legislativo, não o traz
ou dá supremacia, é apenas um encargo, uma obrigação em prol do bem público e da
continua manutenção das leis.
Locke nos fala neste presente capitulo dos casos em que o poder legislativo
nada deliberou sobre determinado assunto, ou simplesmente não o regular de forma
amplamente necessária, momentos em que cabe ao executivo buscar utilizar-se do meio
mais eguaz possível, visando o bem da comunidade: o executor das leis, tendo o poder
nas mãos, possui o direito de (…) fazer o uso dele para o bem da sociedade, em muitos
casos em que a lei municipal não estabeleceu qualquer direção, até que o
legislativo,(…) pondere a respeito.” ( I d e m , p.96) Na atualidade, claro que pouco
adversamente, nosso poder executivo tem através de nossa Magna Carta prerrogativa
similar, possível devido às medidas provisórias, (reguladas no art. 62) que dão a
faculdade ao chefe do executivo, de editar medidas provisórias nos casos de relevância
e extrema necessidade, suprindo a vacância do poder legislativo, que pouco após é
chamado a deliberar no intuito de aprovar ou não a medida, possível de ser convertida
em lei.
Quando age em favor do bem público em casos em que não há previsão legal
ou que há a necessidade de vir contra esta, o executivo utiliza-se do instituto chamado
prerrogativa, devendo ir sempre a favor do povo. Exemplo simples desta utilização, é
o caso em que há a necessidade de demolição de uma casa próxima de outra que está
pegando logo, para que este não mais se alastre. Como é bastante visível, há a
necessidade do mencionado ato, que se tido em momento posterior, culminara na
destruição de propriedade; porém, visando o interesse coletivo, o executivo jamais
poderá deixar de se utilizar desta hermenêutica nestes casos mais extremos.
Locke nos diz que as primeiras sociedades tinham a prerrogativa como principal
base de seus governos, pois poucos eram as leis positivas, que foram paulatinamente
germinando das necessidades modernas, e substituindo a arbitrariedade dos reis,
trazendo cada vez mais de forma concreta, segurança para a sociedade, o que jamais
pode ser considerado uma “usurpação do poder”, como Locke nos ensinou: “sendo o
objetivo do governo o bem da comunidade, quaisquer alterações que se introduzam
nele visando a um objetivo não podem representar usurpação contra quem quer que
seja (...) a prerrogativa só pode ser a permissão do povo aos governantes para praticar
alguns atos de livre escolha onde a lei silencie, e por vezes, vá também, diretamente
contra a letra da lei, a favor do bem público...”(Locke, 1978, p. 99)
Por fim, Locke nos pergunta o que pode-se fazer se esta prerrogativa se tornar
arbitrária por parte do poder executivo, e referindo-se a divindade nos diz que a única
coisa que se pode ser feita, é apelar para esta: “… quando o corpo do povo (...) está
submetido a um poder sem direito, contra o qual não exista apelação na terra, ficam então
na liberdade de apelar para o céu...” (Id e m , p.101)

CAP. XIV DA PREROGATIVA


Quando os poderes legislativo e executivo se encontram em mãos distintas
[...] o bem da sociedade exige que várias coisas fiquem a cargo do discernimento
daquele que detêm o poder executivo.[...] Há muitas coisas em que a lei não tem
meios de desempenhar um papel útil; é preciso então necessariamente deixá-las a
cargo do bom-senso daquele que detêm nas mãos o poder executivo, para que ele as
regulamente segundo o exigirem o bem público e suas vantagens.”(pág. 182) Definição:
“Este poder de agir discricionariamente em vista do bem público na ausência de um
dispositivo legal, e às vezes mesmo contra ele, é o que se chama de prerrogativa.” (pág.
184)
Quando a discricionariedade do poder executivo é exercido buscando o
interesse da comunidade , t rata-se de uma prerrogativa e não é questionado: “É
muito raro, se é que chega a ocorrer, que e o pó voo manifeste escrúpulos ou rigor
sobre este ponto, ou chegue a questionar a prerrogativa quando ela é empregada de uma
maneira mais ou menos aceitável em vista do fim a que é destinada, ou seja, o
bem comum, e não vise manifestamente prejudicá-lo.” (pág. 184)
“Como o objetivo do governo é o bem da comunidade, as modificações feitas
visando este objetivo não podem ser um atentado aos direitos de ninguém; em um
governo, ninguém pode invocar um direito que se incline a um outro fim.” (Pág. 185)
“Mas desde que não s e pode imaginar que um a criatura livre se submeta a outra
para ser prejudicada [...] a prerrogativa pode significar apenas a permissão que o povo
concede a seus governantes para fazer várias coisas de sua própria livre escolha, nas
situações em que a lei for omissa.” (pág. 185)
Quem decidirá se o poder está sendo utilizado de modo legítimo? “Entre um poder
executivo constituído, detentor desta prerrogativa, e um legislativo que depende da
vontade daquele para se reunir, não pode haver juiz na terra. [...] assim como em todos
os outros casos em que não houver juiz na terra, o povo não teria outro remédio senão
apelar para o céu.” (pág. 187)
Quando se utilizar da prerrogativa: “Ninguém deve pensar que isso vai servir
como base perpétua para a desordem, pois só entra em ação quando a situação estiver tão
ruim que a maioria a perceba. [...] e é preciso que todos evitem isso ao máximo, pois
não existe nada no mundo mais perigoso.” (pág. 188)

CAP. XV DO PODER PATERNO, POLÍTICO E DESPÓTICO CONSIDERADOS


EM CONJUNTO
O poder paterno ou parental, é aquele que os pais tem sobre os filhos até que eles
atinjam um estado de discernimento para compreender as regras que regem a sociedade.
“Mas, aconteça o que acontecer, como eu já provei, nada autoriza a crer que ele conceda
aos pais um direito de vida e de morte sobre seu filho, ou sobre quem quer que seja, nem
que ele mantenha o filho[...]” (pág. 189)
“O poder político é aquele poder que todo home m detém no estado de natureza
e abre mão em favor da sociedade, e ali aos governantes que a sociedade colocou à sua
frente, impondo-lhes o encargo, expresso ou tácito, de exercer est e poder para seu bem e
para a preservação de sua propriedade.” (Pág. 190) Em terceiro lugar, o poder despótico
“é um pode r absoluto e arbitrário que um homem tem sobre outro de lhe tirar a vida
quando bem entender.” (pág. 188)

CAP. XVI DA CONQUISTA


Locke nos diz que tal forma de poder é algo muito comum em guerras, e que não
é uma forma legitima de manifestação do poder político, pois “sem o consentimento do
povo, não é possível nunca fundar-se nova sociedade”. (Locke, 1978, p. 104). Ele
compara a mencionada conquista através de guerras, à conquista que um ladrão tem de
meu patrimônio: sob ameaça de uma arma, seria legitima a entrega de minha propriedade
a outrem? Jamais aquele que conquista em guerra injusta pode ter qualquer direito à
submissão e obediência por parte do conquistado.
Para Locke, o poder que o conquistador pode ter do conquistado é puramente
despótico, sendo aceitável somente sobre a vida dos que participaram desta e perderam
seus direitos (cap. IV- escravidão), o que não abrange aqueles que não tomaram parte na
batalha, salvo o expresso consentimento dos mesmos: “quem tem direito sobre a pessoa
de um indivíduo para destruí-lo conforme quiser, nem por isso tem direito sobre o que
lhe pertence para possuí-lo e desfrutá-lo. “...o direito de conquista se estende somente
à vida dos que tomaram parte na guerra e não às suas propriedades”… (Locke, 1978, p.
107). Como parte da propriedade dos indivíduos temos a família, e Locke reconhece que
esta jamais deve responder por nada nos casos de escravização do patriarca: “Salvos
prejuízos e danos obtidos com a guerra, não podemos prejudicar a família.”
(Id e m ) Quanto aos filhos, a recíproca se repete, pois como já explicitado, estes são
livres de sujeição a qualquer governo (se sujeitam somente ao poder dos pais até a
maioridade cap.VI), e são os legitimados à herança dos pais.
Locke diferencia ao início a conquista (chamada por ele de usurpação
estrangeira) da usurpação, que para ele é uma conquista interna, na qual tal
conquistador jamais pode ter o direito a seu favor, por estar este direito na posse de um
terceiro legitimado.
Como visto no capítulo anterior, o conquistador passa a ter o direito sobre
aqueles com quem guerreou e venceu, algo não reconhecido nas formas e regras de
governo por parte do usurpador, vez que esta jamais será legitima, pois “…quem quer
que adquira o exercício de qualquer parte do poder por meios diferentes do que as leis
da comunidade prescreveram, não tem direito a ser obedecido…” (Locke, 1978, p.
112). Assim, só a sociedade, e de forma que a lei estabelecer, é a legitimidade para a
escolha de seus dirigentes, não tornando-se jamais submissa a qualquer forma de poder
arbitrário como a advinda da usurpação.

CAP. XVII DA USURPAÇÃO


Assim como a conquista pode ser chamada de usurpação do estrangeiro, a
usurpação também é uma espécie de conquista a doméstica, com a diferença de que jamais
um usurpador pode ter o direito do seu lado, só havendo usurpação quando alguém toma
posse daquilo que pertence por direito a outra pessoa.” (Pág. 206) “Em todos os governos
legítimos, a designação das pessoas que devem comandar é um elemento tão natural e
necessário quanto a forma do governo em si[...]” (pág. 206) Assim, só a sociedade, e de
forma que a lei estabelecer, é a legitimidade para a escolha de seus diria gentes, não se
tornando jamais submissa a qualquer foi rima de poder arbitrário como a advinda da
usurpação.

CAP. XVIII DA TIRANIA


Se a usurpação é o exercício do poder ao qual outrem tem o direito, a tirania
é segundo Locke, o exercício do poder além do direito que lhe fora outorgado, algo
que não pode caber a ninguém. Ela consiste em fazer o uso do poder tido em mãos,
não para a vontade daqueles ao qual estão sujeitos, mas em vantagem própria e privada,
algo já combatido anteriormente pelo rei Jaime Stuart, que rezava que: “...o rei justo e
virtuoso, (...) reconhece ter sido criado para promover a riqueza e a propriedade de seu
povo”. (Locke,1978, p. 113)
Segundo Locke, não só as monarquias podem ser sujeitas a tal arbitrariedade,
pois em quaisquer formas de governo nos quais o poder de um legitimado se aplicar
para fins serão os de interesse de seu povo, tal governo encontrar-se-á em uma tirania.
Para Locke, o ato de se possuir mais poder ou posses do que os demais, não me dá o
direito de exorbitar as faculdades a mim atribuídas: “. . .possuir com pleno direito
grande poder e riquezas, (...) está tão longe de valer como desculpa e muito menor como
razão, para a rapinagem e opinião...” (Locke, 1978, p. 115).
Nos explicando o porquê de não se poder opor às ordens de um príncipe quando
estas são legítimas, (o que pode gerar baderna) Locke enumera quatro fatores que dão
ensejo à condição de quem o faz:
1 – O príncipe não responde por quaisquer atos não considerados ilegais em seu
governo, o que o livra de qualquer tipo de censura ou condenação judicial.
2 – Tal faculdade não impede o questionamento de sua regularidade, mas se o
príncipe ou rei o for, a arbitrariedade dos responsáveis pelo constrangimento e
desrespeito às leis deve ser julgada.
3 – Nos casos de não haver a faculdade acima mencionada, deve haver a existência
de mecanismos satisfatórios para a resolução dos conflitos e desentendimentos existentes
quando do exercício do poder pelo legitimado, capazes de garantir boa relação e o
destrinchar de quaisquer conflitos.
4 – Mesmo com a eminência de atos ilegais por parte do governo, e com a
obstrução das formas legais de se proceder, os indivíduos têm o direito de resistir a tal
manifesto, buscando de melhor maneira o modo de resolução do problema de forma
pacífica.

CAP. XIX DA DISSOLUÇÃO DO GOVERNO


Locke busca ao início a distinção de dois termos: a dissolução da sociedade, e a
dissolução do governo. A da sociedade pode ocorrer pela invasão de força estranha, o
que culmina não só na dissolução do governo, mas também na dissolução da sociedade,
vez que esta perde a capacidade de autogestão: “...não sendo capaz de manter-se e
sustentar-se como corpo inteiro e independente, a união que lhe cabia e a formava tem
necessariamente de cessar...” (LOCKE, 1978, p. 118) Há também segundo Locke, a
possibilidade de dissolução dos governos por motivos internos:
Quando se altera o poder legislativo sem o prévio consentimento da sociedade, o
que ocorre “se um homem ou mais de um chamarem a si a elaboração leis sem autoridade,
a que o povo, em consequência, não está obrigado a obedecer”. (idem, p. 119)
Nestes casos o mesmo tem a liberdade de escolher novos legisladores, e conforme
a conveniência, nova forma de governo.
Quando o legislativo ou o príncipe agem contrariamente ao encargo que
receberam, ou seja, a preservação da propriedade fator responsável por sua criação. Ao
agir desta forma, apoderando-se ou entregando a terceiros a propriedade alheia, o
legislativo perde o poder que lhe fora outorgado pelo povo, que passa a ter o direito de
retomar sua liberdade originária, ou eleger novos governantes ou modos de governo.
Em seguida Locke nos diz que fora dos casos supracitados, o povo, apesar de
alguns problemas decorrentes das contínuas modificações ocorridas nas sociedades de
menor repercussão, consegue conviver em paz … “até que o malefício se torne geral e
os maus desígnios dos governantes visíveis, ou que a maior parte perceba as tentativas
que fazem, o povo, (…) não será capaz de mexer-se”. (idem, p. 124).
Lembrando-nos de preceitos já estudados nos capítulos anteriores ( cf. cap.II e III),
Locke lembra que nos casos de exorbitância das faculdades outorgados por parte do
legislador, o povo em decorrência da lesão sofrida, pode em determinados casos retornar
ao estado de guerra: “ Quem quer que use força sem direito, como o faz toda aquele que
deixa de lado a lei, coloca-se em estado de guerra com aqueles contra os quais assim a
emprega”.. (idem, p. 125). E Locke considera justa uma penalização mais severa ao
legislador, nos casos em que vai em desrespeito à lei imposta (algo que deveria ser levado
à cabo em nosso país): “[a ofensa deles é maior] não só por serem ingratos pela maior
pela maior parte que tem pela lei, mas também por desrespeitarem o encargo em que
seus irmãos lhes colocaram nas mãos”. (idem).
Desta forma Locke refuta as palavras do jurista Willian Bar Clay que não aceita
de forma alguma penas mais severas ao monarca, pois vê que “o inferior não pode castigar
o superior” (idem, p. 126), pode apenas “suportar” sua tirania, o que Locke revida, ao
sustentar que nestes casos os indivíduos retornam ao estado de guerra, sem exceção, tendo
direito de se opor a quem quer que seja. Como toda regra tem sua exceção, o grandioso
jurista crê que nos casos em que o rei procura derrubar o governo e coloca o povo em
guerra, ou quando se forma dependente de outro reino e perde sua autonomia, o povo
encontra-se livre e entregue à própria vontade, o que não foge do foco de pensamento
Lockeano.
Ao fim Locke volta a afirmar que o grande legitimado para julgar tanto o príncipe
quanto o legislativo quando estes agem contrariamente as leis, é sempre o povo: “...quem
poderá julgar se o depositário ou o deputado age bem e de acordo com o encargo a ele
confiado serão aquele que o nomeiam, devendo por tê-lo nomeado, ter ainda poder para
afastá-lo quando não agir conforme seu dever” (Id e m , p. 130).

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