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Páscoa? O que é isso?

Weverton Duarte Araújo


Teólogo, Psicanalista, Escritor.
Membro da ABDL

A quem possa causar algum estranhamento as afirmações que faço aqui, aconselho ler a
Bíblia Sagrada com olhar crítico e desprendido. Foi lá que encontrei a narrativa dos fatos que aqui
pintei com minhas cores. Me nego a informar livro, capítulo e versículo para cada afirmação que fizer.
Isso não é uma pregação. É uma crônica. Ou acreditem em mim, ou leiam a Bíblia e estudem a
tradição judaica e cristã.

Então, vamos ao assunto do momento. Então, vamos falar de Páscoa. Mas, vamos falar
de que? De coelhinho, de chocolate, de ovos, de Jesus, ou de memorial de libertação?
Ao logar no Facebook no domingo pela manhã, já pude observar as românticas
manifestações de desejo de paz, prosperidade, luz, energia, brilho, estrelinhas, purpurina, etc. Já
vou avisando aos incautos: Isso é lindo, mas fica melhor no Natal. Agora é hora de chocolate, de
omelete, coelho ao molho madeira, sei lá.... Mas, voltemos ao que interessa: A Páscoa.

Aposto meus dois braços, que se fizermos uma pesquisa nas ruas hoje, perguntando às
pessoas apenas o que significa a Páscoa, teremos uma surpresa desagradável. Afirmo isso,
porque já fiz a tal pesquisa. Não coloquei uniforme do IBOPE, nem fui abordar os transeuntes na
Praça da matriz, é claro, mas, busquei no meus círculos de relacionamento, incluindo família,
amigos, colegas diversos... Foi triste. Ninguém sabe como essa coisa de ovos de coelho
começou.
Afora o desconhecimento geral da origem das coisas, que para a sociedade brasileira não
é coisa assim tão assustadora, me incomoda um outro tanto, a mistura de informações que
descaracteriza completamente a intenção do evento.

Segundo o relato bíblico, ou a tradição judaico-cristã, a Páscoa foi uma data estabelecida
como um memorial para o povo que saiu do Egito, guiado por um líder carismático insurgente
contra o politeísmo local. Esse líder, Moisés, convertido a um monoteísmo até então desconhecido
da maioria de seus seguidores (já que toda aquela geração se formara no Egito e ali assimilara a
religião nos moldes egípcios, obviamente), criou, para manter seu rebanho de fugitivos unido, uma
série de leis civis e preceitos religiosos muito bem elaborados, capazes de responder suas
pequenas demandas filosóficas cotidianas.

Num sistema religioso marcado por uma rígida ritualística, as comemorações de


momentos como o início do Êxodo, tinham uma importância fundamental na manutenção da união
do povo e da consequente persecução do principal objetivo que os guiava, ou seja, a tomada das
ricas terras de Canaã e o estabelecimento de uma Nação, que depois se chamaria e até hoje se
chama Israel.
Passam os tempos e surge um grande reformador, herdeiro que se confessava, da
tradição judaica, mas influenciado por um politeísmo trinitário banhado na filosofia grega. Paulo de
Tarso tratou de adaptar ao seu discurso as mais importantes frações míticas do sistema religioso
ao qual se opunha, minando-o pela imposição de uma modernização das práticas rituais, até que
se estabeleceu o pseudo-monoteísmo paulino, que evoluiu para o decrépito e insustentável
sistema que atualmente é chamado cristianismo. Mas muitas comemorações continuaram a ser
lembradas por séculos, inclusive a Páscoa, agora com o intuito de perpetuar o mito da
ressurreição de Jesus de Nazareth estendida por osmose aos que o aceitem como deus.

Reformas e mais reformas se sobrepuseram. Hoje o mundo é regido mais que nunca,
pelas leis do comércio, pelo capitalismo consumista. Não importa mais a manutenção de um mito
para manter a estrutura da coletividade, mas, a mera exposição de status, a fim de sustentar o
indivíduo, focado em si mesmo contra tudo e contra todos. Você precisa provar que tem o poder
de comprar coisas, para ser aceito na sociedade que compra e vende.

Então, os responsáveis pela divulgação dos ritos repetem ano após ano a mesma fórmula
de sempre, apoiando-se na estrutura decadente do sistema religioso que ainda aproxima o
discurso de grande parte das massas consumidoras, usando seus antigos ícones mitológicos,
sem deixar de dar um toque de modernidade, sem o qual não seriam eles atrativos.

Eis, portanto, em que se resume o significado da Páscoa, assim como das demais
comemorações de datas religiosas nos tempos da pós-modernidade: no mascaramento da mera
exposição (ou imposição?) de mercadorias a preços exorbitantes, sob o manto carismático e até
mesmo hipnótico do eufêmico discurso religioso, que ultimamente nem se faz mais necessário.

Basta que uma data seja coincidente com o que um dia aludiu a um momento importante,
que os mais jovens nem se preocupam em saber de que se tratava.
Importa comemorar, abraçar e desejar coisas boas, comprar, manter-se na moda. Ninguém tem
tempo pra questionar sobre a relação de coelho com ovos, chocolate, Jesus, libertação, Grécia
antiga... Isso cansa.

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