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Possibilidades de interpretações do fenômeno Jair Bolsonaro

sob a óptica de Bernard Manin

Igor Amaral

Desde 2013, com as chamadas Jornadas de Junho, o Brasil vive uma era de
rupturas. Nas relações sociais e políticas, experimenta-se uma divisão e
digladiação na construção dos significados dos fenômenos e fatos sociais. Esta
convulsão tem seu epicentro no impeachment da presidenta Dilma Rousseff e é
precedida pelos protestos contrários ao aumento das passagens, as
investigações, vazamentos e condenações da operação Lava-Jato, escândalos
de corrupção e as refundações de partidos políticos, que trocaram de nomes e
símbolos. Junto desses movimentos, soma-se ao enfraquecimento da esquerda,
em especial na América Latina, que pós-ditaduras subiram ao poder. Em grande
parte, estes projetos esquerdistas, por uma série de equívocos sociais e políticos
- como exemplos: a dificuldade no combate à violência e não renovação dos
quadros e pautas políticas - arrefeceram-se. A reboque destas situações,
observa Boaventura Souza Santos (2015) que o pensamento conversador se
alastra nas mais diversas arenas de agenda política do país. É nesse contexto
que o Brasil se prepara para uma de suas mais imprevisíveis eleições
majoritárias. A pouco mais de seis meses do pleito, as pesquisas eleitorais ainda
são voláteis, já que em amplo espectro os nomes dos presidenciáveis ainda são
indefinidos. No entanto, não é possível furtar-se de observar os candidatos já no
páreo e chegar ao nome de Jair Bolsonaro. Polêmico e afeito às pautas do
conservadorismo, o deputado fluminense figura entre o segundo e terceiro lugar
nas intenções de votos. Neste ensaio, propõe-se uma reflexão do político
baseada nos textos de Bernard Manin As Metamorfoses do Governo
Representativo (1995) e a Democracia de Público Reconsiderada (2012).

Para entender o fenômeno Jair Messias Bolsonaro em sua instância


representativa é preciso resgatar os escritos de Bernard Manin. O francês
visualiza que ocorrem três formatos de governo que cumprem a função
representativa: Parlamentar; Democracia de Partido; Democracia de Público.
Cada uma destas formas contextualiza as fases da sociedade.
O primeiro formato é o “Governo Representativo de tipo Parlamentar”, onde as
eleições selecionam os notáveis, ou seja, uma elite se coloca no poder sendo
esta tirada entre os melhores. Os eleitos eram escolhidos pois inspiravam
confiança nos eleitores, em função de uma rede de relações de proximidades,
de notoriedade pública ou deferência. O autor afirma que esta relação de
confiança tem caráter essencialmente personalista na Democracia de Público:

“O candidato inspira confiança por sua personalidade, não por suas relações
com outros representantes ou com organizações políticas. O representante
mantém uma relação direta com os eleitores: ele é eleito por pessoas com quem
tem contato frequente. As eleições parecem ser um reflexo e uma expressão da
interação não-política. A confiança decorre do fato de que o representante
pertence à mesma comunidade de seus eleitores, e essa comunidade se define
em termos puramente geográficos ou em função dos grandes interesses do
reino” (MANIN, 1995).

A segunda forma descrita por Manin é a “Democracia de Partido”, nela a atenção


está voltada ao partido, não mais na pessoa em que se vota. Desta forma, se
promove uma ampla relação identitária e de proximidade com determinados
grupos de eleitores que elegem os representados que se identificam com dadas
ideologias. Os partidos nascem a partir da preocupação pela reeleição e para
mobilizar o maior número de eleitores, na forma de comitês. Duverger (1980)
afirma que estes comitês estão ligados à ampliação do sufrágio popular. Autor
ainda relata que a ampliação do número de votantes dificulta a relação dos
representantes com os representados, desta forma, o canal de comunicação
entre Estado e população ocorre através dos partidos e suas organizações
filiadas. O eleitor expressa seu voto naqueles partidos que mais se aproximam
de suas formas de vida, já que “na democracia de partido as clivagens eleitorais
refletem divisões de classe” (MANIN, 1995).

A “Democracia de Público”, a última forma descrita por Manin, é onde as pessoas


variam sua forma de votar de um pleito a outro, seguindo a variação da
personalidade dos candidatos. A transição entre a Democracia de Partidos e a
de Público se dá, entre outras coisas, pelo enfraquecimento dos partidos
políticos em sua função representativa (MANIN, 1995). Nesta fase de
democracia, o partido do representante pode não ser o mesmo que foi votado na
eleição anterior, mas o caráter personalista do candidato, sim. Duas são as
causas para a constituição deste tipo de representatividade: os meios de
comunicação, que colocam os candidatos em contato direto com o público em
caráter pessoal; e a ênfase dada aos políticos em detrimento das plataformas
políticas, estas mais ligadas à coletividade (MANIN, 1995). Sendo assim, os
melhores comunicadores, no sentido literal da palavra, são os que apresentam
melhores chances de vencer uma eleição, pois têm como estratégia de
aproximação dos eleitores constituída a partir da similaridade, canalizada pelos
meios de comunicação.

No contexto que nos propomos a analisar, a efervescência da popularidade de


Jair Bolsonaro, já se pode fazer uma leitura com base nos escritos por Manin. O
deputado é visto como uma figura alheia aos partidos. Se você perguntar às
pessoas que seguem o deputado a qual partido ele é filiado, boa parte não
saberá responder. Além desse fato empírico, soma-se o histórico de mudança
de siglas do parlamentar. Desde 1989, ano em que entrou na política, Bolsonaro
já passou por nove partidos, a saber: PDC, PP, PPR, PPB, PTB, PFL, PP, PSC
e PSL, este último pelo qual disputará a presidência. Pode-se concluir que seus
eleitores o votam pelo caráter personalista, não pelo partido. A este fato, Manin
explica que cada vez mais os eleitores tendem a votar em uma pessoa, e não
em um partido e este “fenômeno assinala um afastamento do que se considerava
como comportamento normal dos eleitores em uma democracia representativa,
sugerindo uma crise de representação política” (MANIN,1995). Logo, até agora,
podemos concluir que a popularidade do deputado é fenômeno explicado
intimamente na Democracia de Público, pois: 1) como bom comunicador, o
candidato tem, há anos, espaços garantidos nos jornalísticos nacionais e grande
sucesso nas redes sociais; 2) se distância dos partidos, sendo ele próprio a sua
legenda, o garante o caráter personalistas convergente com este tipo de
democracia.

Mas a relação entre Jair Bolsonaro e os estudos de Manin não se restringe aos
rasos dois itens citados. Na abertura do texto, há uma ampla contextualização
do crescimento da ruptura do Brasil como nação. Aqui, podemos conceituar
nação como um povo que comunga do pertencimento social e caminha rumo aos
mesmos ideais, na explicação de Darcy Azambuja (2008). Não à toa se dedica
tais linhas ao fato na abertura, pois, de forma incipiente, podemos afirmar que
atualmente o país não demostra ter similaridade aos preceitos de nação. Manin
(1995) escreve que nas sociedades divididas, de forma notória, os políticos
notam os tópicos que devem explorar e isso lhes garante a demarcação do
“divisor de águas que irão propor durante a campanha” (MANIN, 1995). O autor
usa a expressão “linhas de demarcação social e cultural” para explicar que, nas
Democracias de Público, o candidato tende a estabelecer seu nicho de trabalho
dentro de um destes círculos divididos. E vai além, para o francês a proposição
das propostas por candidatos imprime a dimensão do caráter reativo do voto:

“Quando os termos da escolha (das propostas) decorrem principalmente


de ações relativamente independentes dos políticos, o voto ainda é uma
expressão do eleitorado, mas sua dimensão reativa se torna mais
importante e mais visível. Isso explica por que o eleitorado se apresenta,
antes de tudo, como um público que reage aos termos propostos no
palco da política. Por essa razão, denominamos essa forma de governo
representativo de "democracia do público” (MANIN, 1995).

Trazendo à luz da nossa discussão, temos uma explicação para as propostas


mais radicais do deputado. Empenhado em armar o cidadão e combater a
violência com mais violência, Bolsonaro traz ao debate público pautas
conservadoras e extremas. As propostas encontram guarida em muitos círculos
sociais. Manin nos faz refletir: a adesão destas ideias é fruto da consciência
coletiva particular ou uma reação às propostas do candidato. Ou seja, se o
cidadão defende salários menores para as mulheres, pois elas têm filhos e
precisam sair de licença maternidade – palavras do deputado - ele sempre
acreditou nisso ou foi induzido à construção deste significado a partir falas de
Bolsonaro? Manin (1995) interpreta que a guarida à esta ideia pode se dar como
uma reação aos termos propostos.

Quase vinte anos depois de escrever As Metamorfoses do Governo


Representativo, Manin volta ao tema em a Democracia de Público
Reconsiderada. Nele, o autor afirma que, embora enfraquecidos, os partidos
políticos não se tornaram obsoletos. Eles ainda têm a força de arregimento de
militância e concentram os meios para vencer eleições. Na segunda parte do
texto, o autor traz uma reflexão que se encaixa em nosso tópico. No capítulo
intitulado O aumento da participação política não institucionalizada, Manin
argumenta uma das modificações no contexto da representatividade é o
surgimento de cidadãos não engajados com partidos políticos, mas sim com
pautas aleatórias. Estes indivíduos exercem sua participação democrática
através de assinaturas petições, participação em manifestações, adesão à
boicote de produtos e a greves não oficiais e a ocupação de prédios ou fábricas
(MANIN, 2012). Essa massa de pessoas que rejeitam a forma partidária de fazer
política tem grande identificação com o candidato. Mesmo exercendo por quase
três décadas a função de deputado federal, Jair Bolsonaro é visto como o novo,
como o messias da nova política e nele se represa uma parcela dessa não
institucionalizada forma de fazer política, ainda que, obviamente, mascarada.
Aquele cidadão que antes não tinha engajamento político, que ora se via
representado por determinado partido ora por outro, agora encontra respostas
às suas demandas no deputado. Tido como “diferente de todos” ele acolhe as
pautas mais diversificadas e alheatórias que antes não tinham tal visibilidade no
amplo debate e assim acolhe aqueles que outrora não militavam de forma não
institucionalizada. E que, mesmo sendo afetuoso e parte integrante do processo
representativo partidário, não se percebem nesse ambiente. Ou seja, com a
excentricidade de suas propostas e da forma como se apresenta, sendo o
diferente, Bolsonaro arregimenta descrentes da política tradicional que, ao
embarcarem no seu discurso, participam dela, mas não se observam como tal.

A forma como o tema foi discorrido até aqui é rasa e tem caráter apenas
relacional. Por questões de objetividade, tempo e espaço, opta-se por dar
apenas um insight tendo como base uma releitura dos tópicos expostos nas
primeiras duas aulas. O assunto, creio, é passível de uma mais densa e ampliada
análise.

Referências
AZAMBUJA, Darcy. Introdução à Ciência Política. 2ªed. São Paulo: O Globo,
2008. Pg:57

DUVERGER, Maurice. Os Partidos Políticos. Rio de Janeiro: Zahar/UnB,


1980.
MANIN, Bernard. As Metamorfoses do governo representativo. 1995.
________. A democracia de público reconsiderada. 2012.
SANTOS, Boaventura de Souza (2015). Classe média é ingrata e não será
leal a outros governos, diz sociólogo. Disponível em:
<www1.folha.uol.com.br%2F+poder%2F2015%2F08%2F+1675611-classe-
media-e-ingrata-e-nao-sera-leal-a-outros-governos-diz-sociologo.shtml>.
Acesso em: 24 mar. 2018.

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