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Igor Amaral
Desde 2013, com as chamadas Jornadas de Junho, o Brasil vive uma era de
rupturas. Nas relações sociais e políticas, experimenta-se uma divisão e
digladiação na construção dos significados dos fenômenos e fatos sociais. Esta
convulsão tem seu epicentro no impeachment da presidenta Dilma Rousseff e é
precedida pelos protestos contrários ao aumento das passagens, as
investigações, vazamentos e condenações da operação Lava-Jato, escândalos
de corrupção e as refundações de partidos políticos, que trocaram de nomes e
símbolos. Junto desses movimentos, soma-se ao enfraquecimento da esquerda,
em especial na América Latina, que pós-ditaduras subiram ao poder. Em grande
parte, estes projetos esquerdistas, por uma série de equívocos sociais e políticos
- como exemplos: a dificuldade no combate à violência e não renovação dos
quadros e pautas políticas - arrefeceram-se. A reboque destas situações,
observa Boaventura Souza Santos (2015) que o pensamento conversador se
alastra nas mais diversas arenas de agenda política do país. É nesse contexto
que o Brasil se prepara para uma de suas mais imprevisíveis eleições
majoritárias. A pouco mais de seis meses do pleito, as pesquisas eleitorais ainda
são voláteis, já que em amplo espectro os nomes dos presidenciáveis ainda são
indefinidos. No entanto, não é possível furtar-se de observar os candidatos já no
páreo e chegar ao nome de Jair Bolsonaro. Polêmico e afeito às pautas do
conservadorismo, o deputado fluminense figura entre o segundo e terceiro lugar
nas intenções de votos. Neste ensaio, propõe-se uma reflexão do político
baseada nos textos de Bernard Manin As Metamorfoses do Governo
Representativo (1995) e a Democracia de Público Reconsiderada (2012).
“O candidato inspira confiança por sua personalidade, não por suas relações
com outros representantes ou com organizações políticas. O representante
mantém uma relação direta com os eleitores: ele é eleito por pessoas com quem
tem contato frequente. As eleições parecem ser um reflexo e uma expressão da
interação não-política. A confiança decorre do fato de que o representante
pertence à mesma comunidade de seus eleitores, e essa comunidade se define
em termos puramente geográficos ou em função dos grandes interesses do
reino” (MANIN, 1995).
Mas a relação entre Jair Bolsonaro e os estudos de Manin não se restringe aos
rasos dois itens citados. Na abertura do texto, há uma ampla contextualização
do crescimento da ruptura do Brasil como nação. Aqui, podemos conceituar
nação como um povo que comunga do pertencimento social e caminha rumo aos
mesmos ideais, na explicação de Darcy Azambuja (2008). Não à toa se dedica
tais linhas ao fato na abertura, pois, de forma incipiente, podemos afirmar que
atualmente o país não demostra ter similaridade aos preceitos de nação. Manin
(1995) escreve que nas sociedades divididas, de forma notória, os políticos
notam os tópicos que devem explorar e isso lhes garante a demarcação do
“divisor de águas que irão propor durante a campanha” (MANIN, 1995). O autor
usa a expressão “linhas de demarcação social e cultural” para explicar que, nas
Democracias de Público, o candidato tende a estabelecer seu nicho de trabalho
dentro de um destes círculos divididos. E vai além, para o francês a proposição
das propostas por candidatos imprime a dimensão do caráter reativo do voto:
A forma como o tema foi discorrido até aqui é rasa e tem caráter apenas
relacional. Por questões de objetividade, tempo e espaço, opta-se por dar
apenas um insight tendo como base uma releitura dos tópicos expostos nas
primeiras duas aulas. O assunto, creio, é passível de uma mais densa e ampliada
análise.
Referências
AZAMBUJA, Darcy. Introdução à Ciência Política. 2ªed. São Paulo: O Globo,
2008. Pg:57