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Ponto de Vista

Normas anormais

Ivanildo Hespanhol*

DOI: http://dx.doi.org/10.4322/dae.2014.001

1. Introdução tos políticos, impondo a falsa promessa de que os


Recentemente um importante jornal paulistano nossos órgãos controladores efetuam, com esmero
publicou a seguinte notícia “Estado de São Paulo é e extrema rigidez, a proteção dos grupos de risco
o 1º do mundo a ter padrão mais rígido de quali- expostos à poluição ambiental.
dade do ar”. (O OESP, 2011). Embora possa ter sido Há que considerar, ainda, que a qualidade do ar
alvissareira para leigos, esta notícia trouxe dúvidas sofrerá, no Brasil, uma significativa deterioração
a muitos ambientalistas. Seria a norma mais restrita nos próximos anos, em face da eminente implan-
do mundo adequada para avaliar um perfil de po- tação de grande número de usinas termoelétricas
luição atmosférica, que, certamente, não é o melhor a carvão, em função do Plano Decenal de Expan-
do mundo? A resposta veio através de outra notí- são de Energia. Devido à forte pressão de ambien-
cia publicada no mesmo jornal (OESP, 2011a): “Ar talistas, proibindo a formação de reservatórios de
foi ruim 3 vezes em 2 anos; na nova regra seriam acumulação para regularização de vazões anuais,
1.855”. Diversas outras notícias foram publicadas ocorrerá uma significativa redução de geração da
em sequência, estre as quais: “Poluição por ozônio energia a ser produzida por usinas hidroelétricas
é a pior da década – em 98 dias do ano passado, a que vêm sendo construídas no Brasil. A operação
taxa de poluentes na Grande São Paulo ficou acima a fio d’agua, exigido para as usinas hidroelétricas
do aceitável” (OESP,2013); “Após 23 anos Estado licenciadas (Jirau, Belo Monte e Teles Pires) além
de SP adota padrão mais rígido de qualidade do ar” de ser absolutamente antieconômica em termos de
(OESP, 2013a). Neste artigo é salientado que “no potência gerada, não permitirá o atendimento da
ano passado, 98 dias tiveram qualidade do ar ina- demanda nacional prevista para a próxima década,
dequada por ozônio na capital” . Em parte do texto daí a necessidade de complementar o sistema hi-
uma afirmação bombástica mostra a irrealidade da droelétrico com usinas térmicas a carvão.
norma proposta : “o padrão é mais rígido do que o
previsto para ser adotado pela União Europeia até 2. Diretrizes e normas
2015” . Uma das diversas funções da OMS no atendi-
Serão esses meros valores numéricos atribuídos mento de seus objetivos é a de ... “propor ... regula-
a padrões de qualidade do ar, os mais restritivos do mentos e efetuar recomendações relativas a temas
mundo, capazes de proteger a nossa população de internacionais de saúde... (WHO, 1990).
problemas respiratórios, episódios de inversão tér- Como parte importante dessas funções a OMS es-
mica e redução da visibilidade e muitos outros pro- tabelece, através de dois estágios distintos, diretri-
vocados pelo nível atual de poluição atmosférica? zes para a qualidade da água potável, para reúso de
O objetivo de normas é o de atribuir valores nu- esgotos, para controle da poluição atmosférica, etc.
méricos realísticos a variáveis localmente signifi- O primeiro estágio, designado como “Avaliação de
cativas, com a finalidade de dar suporte a sistemas Riscos”, inclui: i) a identificação, em nível mundial,
operacionais de comando e controle, associados à de contaminantes potencialmente perigosos (micro-
realidade e características de cada região ou país biológicos, químicos e radiológicos); (ii) avaliação
onde o controle é exercido. Normas não podem ser quantitativa da relação doses-efeitos sobre seres
confundidas com propostas ufanistas, com a falsa humanos, e; (iii) avaliação dos níveis potenciais de
pretensão de sermos os mais rígidos do mundo em exposição que podem ocorrer sobre seres huma-
termos de proteção ambiental. Não podem, tam- nos. Esta primeira fase atribui valores diretrizes aos
bém, ser promulgadas na condição de instrumen- contaminantes considerados relevantes e é dirigida

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fundamentalmente à proteção da saúde pública. Es- ao desenvolvimento de padrões nacionais que dife-
sas diretrizes têm características unicamente “reco- rem substancialmente das variáveis e valores numé-
mendatórias” e são baseadas na filosofia de risco/ ricos contidos nessas diretrizes”.
benefício. As diretrizes assim formuladas proporcio- Por outro lado, a evolução de diretrizes e normas
nam aos países membros da OMS, elementos para o relativas a temas de saúde pública não é controlada
estabelecimento de padrões nacionais de temas que unicamente por estudos e pesquisas toxicológicas
envolvem a saúde pública dos respectivos grupos e epidemiológicas. Características sócio-culturais,
de risco. A adoção indiscriminada e direta das dire- práticas de higiene, percepção e sensibilidade pú-
trizes da OMS não é, portanto, a maneira adequada blicas, desenvolvimento tecnológico e condições
de estabelecer padrões de qualidade em qualquer econômico - financeiras são tão importantes quanto
país. evidências científicas no estabelecimento de nor-
A segunda etapa, denominada “Gestão do Risco”, mas para a proteção da saúde pública de usuários
é desenvolvida em nível nacional e com eventual de sistemas por elas controlados. (Hespanhol &
suporte técnico da OMS, por países interessados Prost, 1994). O objetivo básico de produzir regula-
em desenvolver seus padrões e códigos de prática. mentos é o de estabelecer limites relativos a práti-
Consiste na interpretação das diretrizes, levando em cas específicas (tais como abastecimento ou reúso
conta as condições e características técnicas econô- de água) que minimizem os efeitos detrimentais
micas e de sensibilidade das sociedades locais. Esta sem afetar os benefícios correspondentes. Esses li-
etapa formula padrões REALISTAS, compatíveis mites não possuem valor absoluto nem podem ser
com os interesses e as tendências nacionais. A con- considerados como permanentes. Variam em fun-
sideração sobre “gestão de riscos”, implica o fato de ção do desenvolvimento científico e tecnológico e
que diretrizes não são produzidas com o objetivo de de condições econômicas, assim como em função
serem aplicadas de maneira direta e absoluta, em de tendências de aceitação ou rejeição de práticas
todos os países. Elas visam estabelecer um deter- e posturas que afetam os valores culturais de uma
minado nível de saúde pública, associada a riscos sociedade.
preestabelecidos, fornecendo assim uma referên-
cia comum para o estabelecimento de padrões na- 3. As normas para aplicação de biossólidos
cionais ou regionais. Possuem uma característica Existem dois critérios para estabelecer normas
consultiva baseada no estado-da-arte da pesquisa para disposição de biossólidos ou esgotos no solo.
científica e de estudos epidemiológicos, e não de- Um deles é “prevenir a acumulação de poluen-
vem ser confundidas com padrões legais. tes nos solos”, através de variáveis significativas e
Padrões, por outro lado, são instrumentos legais, respectivos valores numéricos impostos a biossóli-
promulgados em cada país, através da adaptação dos ou a esgotos a serem depositados. Este crité-
de diretrizes às prioridades nacionais e com base rio assume que a introdução de poluentes no solo
em suas condições ambientais, econômicas, cultu- é compensada por uma remoção correspondente,
rais, sociais, tecnológicas e em seus condicionantes através de escoamento superficial, lixiviação, eva-
políticos e institucionais. Padrões devem ser esta- poração e absorção pelas plantas. Este critério tem
belecidos, promulgados e aplicados por autoridades a vantagem de não necessitar de dados relativos a
nacionais competentes, através da adoção de um transporte e degradação de poluentes, cenários de
critério de risco/ benefício. A qualquer época po- exposição e relações doses-respostas. Os valores
dem ser substituídos ou alterados, sempre que no- numéricos a serem estabelecidos para os parâme-
vas evidências científicas ou inovações tecnológicas tros regulamentados podem ser calculados através
se tornem disponíveis, ou em obediência à evolução de simples balanços de massas, podendo ser aplica-
de interesses e tendências nacionais. dos universalmente. Por outro lado, leva a valores
A diretriz da Organização Mundial da Saúde para numéricos extremamente restritivos, que exigem
água potável (WHO,1990a), por exemplo, especi- sistemas avançados de tratamento, ou a taxas de
fica, claramente, que “No desenvolvimento de pa- aplicação muito restritas.
drões nacionais para água potável, baseado nessas O segundo critério é o que visa “maximizar a ca-
diretrizes, é necessário levar em conta uma multi- pacidade do solo em assimilar e atenuar o efeito de
plicidade de fatores e aspectos geográficos, socio- poluentes”. É necessário, entretanto, que a aplicação
econômicos, dietários e industriais que reflitam as seja adequadamente controlada, evitando que a
condições locais. Essas considerações podem levar acumulação de poluentes atinja níveis que afetem

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a saúde pública dos consumidores dos produtos ou país, utilizando dados toxicológicos e epidemio-
agrícolas produzidos. Nesse sentido, as concentra- lógicos; (ii) definição da Dose-Resposta, determi-
ções de poluentes no solo não poderão ultrapassar nando as Doses Diárias Aceitáveis – DDA, expressas
os níveis máximos toleráveis a serem estabelecidos em miligramas por dia por kg de peso corporal
para cada um deles (Chang, Page, Asano, 1998 e (mg/dia/kgPC) associadas a todos os poluentes
Hespanhol,2002;) tóxicos considerados relevantes para regulamenta-
Na aplicação de esgotos ou de biossólidos a solos ção. (iii) Análise de Exposição, estabelecendo as ro-
agrícolas, são identificadas diversas rotas de expo- tas de exposição mais prováveis, através das quais
sição, através das quais os poluentes podem atin- os grupos de risco possam vir a se expor à ação dos
gir seres humanos. Conhecendo esses cenários de poluentes potenciais, advindos de biossólidos ou
exposição, as taxas de transferência de poluentes e efluentes aplicados em áreas agrícolas. Em seguida,
as quantidades de poluentes transferidos em cada são determinados os coeficientes de transferência
fase da cadeia de transmissão são determinadas as de poluentes (solo/planta) em cada interface, das
concentrações máximas permitidas no solo. Torna- rotas de transmissão, consideradas mais relevan-
-se necessário, entretanto, que todos os poluentes tes. Entre as 14 rotas de exposição, cada uma com
importantes, contidos nos efluentes ou biossólidos cenários completos e bem definidos, é considerada
aplicados, sejam analisados através dessas rotas como a mais significativa a que contém os seguin-
de exposição e adequadamente regulamentados. tes integrantes da cadeia de transporte: biossólido
Esse critério leva a valores diretrizes aceitáveis, não (ou esgoto)-solo-planta-humano, assumindo que a
apenas do ponto de vista ambiental e de saúde pú- ingestão de poluentes, através do consumo de ali-
blica, mas também no que concerne aos custos de mentos irrigados com esgotos ou fertilizados com
tratamento envolvidos, permitindo a sua aplicação biossólidos, se constitui na rota ambiental mais crí-
em países que não disponham de recursos finan- tica em termos de efeitos sobre consumidores de
ceiros para implementar sistemas avançados de culturas irrigadas com esgotos ou fertilizadas com
tratamento. Dentro desse critério deverão ser esta- biossólidos ou efluentes.
belecidos os limites máximos de concentrações de Considerando-se esta rota de transmissão como
poluentes no solo agrícola (em mg/kg ou µg/kg de a mais crítica, deve ser estabelecido um cenário de
solo seco). Uma vez atingido esse limiar a aplicação exposição com base em um padrão de consumo
de esgotos ou lodos no solo não será mais permi- alimentar, para determinar, em associação com as
tida, tomando-se como referência a variável que se DDAs correspondentes aos poluentes a serem regu-
apresenta em concentração limite. lamentados, as concentrações máximas permitidas
Esse segundo critério é, portanto, mais adequado desses poluentes nos solos irrigados ou fertilizados
do que estabelecer valores numéricos de poluentes com efluentes ou biossólidos.
significativos no esgoto ou no biossólido. A determi- O padrão de consumo alimentar baseia-se nos
nação de valores numéricos máximos de poluentes dados de consumo médio de alimentos relaciona-
contidos em solos agrícolas é efetuada de acordo dos pelo FAO Food Balances Sheet (Galal-Gorchev,
com as seguintes fases: (i) identificação de poluentes 1991) que estabelece que 76% do consumo diário
tóxicos potenciais de ocorrência significativa para corresponde a grãos e cereais, vegetais, raízes e tu-
serem regulamentados em uma determinada região bérculos e frutas, conforme resumido no Quadro 1.

Quadro 1- Dieta Global Estabelecida pela United Nations Food and Agriculture
Organization-FAO (Galal-Gorchev, 1991)

ALIMENTO Ca-CONSUMO (kg bruto / dia) SB (kg seco / kg bruto)


Grãos e Cereais 0,405 0,90
Vegetais 0,212 0,05
Raízes e Tubérculos 0,288 0,20
Frutas 0,225 0,05

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O potencial de transferência de poluentes através i = Índice, representando grãos e cereais, ve-


de outros grupos alimentares, tais como laticínios e getais, raízes e tubérculos, e frutas,
produtos animais, óleos e gorduras, açúcares, mel, Obtém-se CS, que é a Concentração máxima de po-
etc. é relativamente muito pequeno, não sendo, por- luentes permitida no solo (mg de poluente / kg de
tanto, considerados no padrão de consumo alimen- solo seco) através da equação1.
tar. Assumindo valores numéricos representativos às
Para determinar os níveis máximos de contami- variáveis acima relacionadas e os valores de CA e SB
nação que um solo pode suportar, deve-se partir do indicados no Quadro 1, os valores de DDA corres-
nível máximo aceitável pelos consumidores huma- pondentes a cada variável a ser regulamentada e
nos (DDA) e percorrer, retroativamente, através da os correspondentes valores de KS estabelecidos em
adoção de coeficientes adequados, a rota de trans- países em desenvolvimento (Chang, Page, Asano,
missão escolhida. 1995 e Kabata-Pendias et al.1984), obtêm-se os va-
Estabelecendo os valores: lores numéricos das concentrações máximas de po-
DDA= Dose Diária Aceitável de cada poluente a luentes prioritários, permitidos em solos agrícolas,
ser considerado importante para ser regulamen- em mg por quilograma de solo seco, CS, mostrados
tado (mg/dia/kg de peso corporal). no Quadro 2.
PC = Peso corporal de um adulto, estimado em Esta metodologia pode ser vista em seus detalhes
60 kg, em Chang, Page, Asano, 1995, Chang, Page, Asano
PE = Fração da DDA que é assimilada através e Hespanhol, 1998 e em Hespanhol, 2002.
dos alimentos considerados na dieta global. Essa avaliação é muito mais objetiva e represen-
CA = Consumo de alimentos (kg/dia) conforme tativa do que apenas controlar as concentrações em
indicado no Quadro 1. efluentes ou biossólidos. O importante é verificar
FA = Fração da dieta global (Quadro 1) que é que quando essas concentrações forem atingidas,
oriunda de campos irrigados ou fertilizados com es- o solo em consideração não mais poderá receber
gotos ou lodos. efluentes ou biossólidos.
KS = Fator de transferência de poluentes do Evidentemente, tanto as variáveis relacionadas
solo para plantas (alimentos) expresso em mg de acima assim como seus respectivos valores numéri-
poluente/kg de alimento por mg de poluente/kg cos não poderão ser adotadas indiscriminadamente
de solo. Esse fator estabelece as concentrações dos em normas brasileiras. É necessário verificar: (i) se
diversos poluentes que podem ser encontrados em essas variáveis ocorrem no Brasil ou se outras não
plantas (em mg/kg) em função das concentrações listadas devem ser consideradas; (ii) se a Dieta da
correspondentes que ocorrem no solo onde se de- FAO representa as condições alimentares brasilei-
senvolvem (também em mg/kg). ras; (iii) se os fatores de transferência de poluentes
Os fatores de transferência de compostos do solo para plantas (alimentos), expresso em mg
inorgânicos são obtidos de estudos geoquímicos de poluente/kg de alimento em relação a mg de po-
efetuados em nível global (Kabata-Pendias e Pen- luente/kg de solos, são representativos de nossos
dias, 1984). Os associados a grãos e cereais, raízes solos agrícolas, etc.
e tubérculos e frutas são derivados de valores mé- Entretanto, no Brasil, a tendência é de, indiscrimi-
dios de dados tabulados de fontes diversas em nível nadamente, adotar, para temas associados à saúde
mundial (USEPA, 1992). pública de grupos de riscos, variáveis e respectivos
SB = Relação Alimento Peso Seco/Alimento Peso valores numéricos de normas alienígenas ou, sem
Bruto (kg/kg), conforme indicado no Quadro 1, adaptação, das diretrizes da OMS.

Equação 1

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Quadro 2- Valores Numéricos das Concentrações Máximas de Poluentes Permitidos em Solos Agrícolas
Irrigados com Esgotos ou Fertilizados com Biossólidos, CS em mg de poluente/kg
de solo seco (Chang, Page e Asano,1995)

POLUENTE CS (mg/kg solo seco) POLUENTE CS (mg/kg solo seco)


INORGÂNICOS: ORGÂNICOS:
Arsênico 9 Aldrin 0,2
Bário 2900 Benzeno 0.03
Berílio 20 Benzo(a)pireno 3
Cádmio 7 Clordano 0,3
Cromo 3200 Clorobenzeno ND
Flúor 2600 Clorofórmio 2
Chumbo 150 Diclorofenóis ND
Mercúrio 5 2,4-D 10
Níquel 850 DDT ND
Selênio 140 Dieldrin 0,03
Prata 3 Heptacloro 1
Hexaclorobenzeno 40
Hexacloroetano 2
Pireno 480
Lindano 0,6
Metoxicloro 20
Pentaclorofenol 320
Bifenilas Poli-
30
cloradas
Tetracloroetano 4
Tetracloroetileno 250
Tolueno 50
Toxafeno 9
2,4,5-T ND
2,3,7,8 TCDD 30

ND = Valores numéricos não detectados devido à insuficiência de dados para computação

As normas disponíveis para regulamentar a dis- problemas de saúde pública através de ingestão de
posição de biossólidos em solos agrícolas adotadas alimentos produzidos em áreas agrícolas fertiliza-
no Brasil são apresentadas no Quadro 3, incluindo dos por biossólidos. Nota-se que a cópia é efetuada
as da EPA 40 Part 503, as do CONAMA 375/2006 sem a menor consideração das condições vigentes
e as da CETESB P4230/1999. no Brasil. Ovos viáveis de helmintos, por exemplo,
O Quadro 3 mostra que as variáveis e respectivos não são regulamentados porque não há ocorrência
valores numéricos adotados na P4230/1999 cons- deste tipo de patogênico nos Estados Unidos. Como
tituem-se em uma simples e direta cópia daquelas a cópia é efetuada sem qualquer análise ou adapta-
estabelecidas na EPA 40 Part 503, sem considerar ção, ovos de helmintos não foram, também, consi-
se essas variáveis são representativas das condi- derados como relevantes no Brasil. Por outro lado,
ções brasileiras e sem analisar, como mostrado no o CONAMA 375/2006 é tão restritivo que não seria
item acima, se esses valores numéricos implicariam necessária a preocupação em estabelecer variáveis

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Quadro 3- Variáveis e concentrações máximas permitidas em biossólidos para


aplicação agrícola (EPA, CONAMA e CETESB)

Concentração máxima permitida no biossólido


Variável EPA 40 Part 503 CONAMA 375/2006 CETESB P4230/1999
Substâncias Inorgânicas (mg/kg BS)
Arsênio 75 41 75
Bário - 1300 -
Cádmio 85 39 85
Cromo 3000 1000 -
Cobre 4300 1500 4300
Chumbo 840 300 840
Mercúrio 57 17 57
Molibdênio 75 50 75
Níquel 420 420 420
Selênio 100 100 100
Zinco 7500 2800 7500
Indicadores Bacteriológicos e agentes patogênicos (Classe A)
Coliformes Termotolerantes < 1000 NMP/gMS < 1000 NMP/gST < 1000 NMP/gST
Ovos viáveis Helmintos - < 0,25 ovos/gST -
Salmonella < 3 NMP/4 gMS ausência em 10 gST < 3 NMP/4 gMS
Vírus < 1 UFP ou UFF/4 gST < 0,25 UFP ou UFF/ gST -

e valores numéricos, pois bastaria especificar que veis são, também, os mesmos propostos pela OMS.
“fica expressamente proibida a aplicação de efluen- Como exemplo, poderão ser citados : Arsênio (0,01
tes ou biossólidos em solos agrícolas brasileiros”, o mg/L), Bário (0,7 mg/L), Chumbo (0,01 mg/L),
que seria uma grande perda econômica e ambien- Fluoreto (1,5 mg/L), Níquel (0,07 mg/L), Nitrato e
tal, pois anularia por completo a possibilidade de Nitrito ( os valores diretrizes da OMS foram arre-
utilizar um recurso extremamente importante como dondados, de 11 mg/L e 0,9 mg/L respectivamente,
condicionador do solo. para 10 mg/L e 1 mg/L respectivamente), Urânio
(0,03 mg/L), Acrilamida (0,5 μg/L), Benzo[a]pireno
4. As normas para água potável (0,7 μg/L), 1,2 dicloroeteno (50 μg/L), Diclorome-
As considerações efetuadas no item 2. Diretrizes tano (20 μg/L), Estireno (20 μg/L), Pentaclorofe-
e Normas, isto é, a adoção dos dois procedimentos nol (9 μg/L), Tetracloreto de carbono (4 μg/L),
distintos, ou seja, a “Avaliação de Riscos” e a “Gestão Tetracloroeteno (40 μg/L), Alaclor (20 μg/L), Al
dos Riscos” é também válida para estabelecer dire- dicarbe+Aldicarbesulfona+Aldicarbesulfóxido (10
trizes e normas para água potável. μg/L), Aldrin + Dieldrin (0,03 μg/L), Carbofurano
A recém revisada Portaria MS 2.914 de (7 μg/L), Clordano (0,2 μg/L), DDT+DDD+DDE (1
12.12.2011, (que “dispõe sobre os procedimentos μg/L), Lindano (2 μg/L), Bromato (0,01 mg/L),
do controle e da vigilância da qualidade da água Sulfato (250 mg/L), Microcistinas (1,0 μg/L).
para consumo humano e seu padrão de potabili- Valores numéricos de algumas outras variáveis
dade”) e suas edições anteriores (56 BSB/1977, GM parecem ter sido adotados ou adaptados da legis-
36/1979, GM 519/2004) não elaborou a fase de lação americana (EPA, 2011). Alguns exemplos
Gestão de Riscos uma vez que adotou, sem a neces- dessas são: Benzeno (5 μg/L), enquanto o valor
sária adaptação, praticamente todas as variáveis diretriz proposto pela OMS é de 10 μg/L, Cloreto
propostas pelas diretrizes da OMS (WHO, 2011). de Vinila (2 μg/L), Antimônio (0,006 mg/l da EPA
Os valores numéricos adotados para essas variá- arredondado para 0,005 mg/L na Portaria 2914).

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As normas promulgadas no Brasil são geralmente Estudos-piloto efetuados em filtração direta as-
baseadas ou copiadas de normas estrangeiras, ou cendente em areia, na Universidade de Brasília
adotadas sem a devida adaptação das diretrizes cor- (Nascimento, 2009), concluiu, com base em análise
respondentes estabelecidas pela OMS, podendo vir estatística, que não houve correlação significativa
a ser, de um lado, extremamente restritivas e, por- entre oocistos de Criptosporidium parvum e as vari-
tanto, não dar condições para a sua devida aplica- áveis turbidez, coliformes totais, E. coli e contagem
ção, ou podendo, por outro, não exercer a proteção de partículas na água filtrada.
que delas se espera, uma vez que não são represen- A adoção de turbidez ou de número de partículas
tativas de nossas condições de saúde pública. presentes em uma amostra de água como variável
Esta prática leva a questões fundamentais, entre sub-rogada para avaliar a presença de oocistos de
as quais: serão as variáveis regulamentadas dessa Criptosporidium não é tecnicamente suportada.
maneira e seus respectivos valores numéricos re- Com efeito, a concentração de oocistos é extrema-
presentativos das condições ambientais e de saúde mente baixa em relação ao número de partículas (ou
pública vigentes no Brasil? Com o critério de adotar de partículas coloidais se a referência for turbidez),
variáveis diretamente de diretrizes internacionais o que leva a uma correlação pouco significativa. Por
ou de normas alienígenas não ocorre a possibilidade exemplo, uma concentração de Criptosporídium de
de que estejamos regulamentando variáveis que 10 oocistos por 100 litros equivale a 10-4 oocistos
não sejam significativas dentro de nossas condições por mL. Uma contagem de partículas com dimen-
e, por outro lado, não é possível que estejamos dei- sões de 2μm ou maiores em águas com concen-
xando de regulamentar variáveis que, por não ser trações de 1.000 a 10.000 partículas por 100 mL
consideradas importantes, não são regulamentadas leva a uma relação de 1 oocisto de Criptosporídium
nos países de origem das normas, mas que impli- para 107 a 108 partículas. (Edzwald & Kelley, 1998).
cariam problemas de saúde pública se não fossem Mesmo uma água filtrada com 100 partículas por
regulamentadas no Brasil? E quanto aos valores nu- 100 mL leva a uma relação de 1 oocisto para 1
méricos adotados para essas variáveis? Quando se milhão de partículas, mostrando a precariedade
considera as normas de qualidade de água potável, da relação pretendida. Note-se que na epidemia de
serão as respectivas doses–respostas e seus efeitos Milwaukee, onde 400.000 pessoas adquiriram crip-
sobre os grupos de risco os mesmos para as nossas tosporídíase causando 69 óbitos, ambas as estações
condições médias de saúde pública, quando compa- de tratamento de água da cidade operavam com
radas com as adotadas nas diretrizes internacionais turbidez inferior a 0,45 UJT. (Mc Kenzie et al, 1994)
e com as dos países que originaram as normas nas A grande variedade de produtos químicos que são
quais nos inspiramos? continuamente lançados no mercado e a presença
Além dessas questões básicas, a norma apresenta constante de poluentes emergentes em nossos re-
alguns aspectos críticos, entre os quais os seguintes: cursos hídricos, a deficiência flagrante dos sistemas
O § 1º do Art. 31 associa a concentração de Es- convencionais de tratamento de água e o fraco po-
cherichia coli com cistos de Giardia e com oocistos der regulatório de nossas normas leva à principal
de Criptosporidium e o § 2º do mesmo artigo re- dúvida levantada em relação à proteção da saúde
laciona turbidez com oocistos de Criptosporidium. pública, proporcionada atualmente aos usuários
Essas associações não têm suporte técnico e expe- de sistemas públicos de abastecimento de água: O
rimental, devendo, portanto, ser reavaliadas. Com atendimento completo da atual Portaria MS 2.914
efeito, os estudos desenvolvidos em São Paulo de 12.12.2011 garante a distribuição de uma água
(ETA-A e ETA-B) (Muller, 1999), deu suporte às segura? Seria essa garantia assegurada por uma
seguintes conclusões: (i) a ocorrência de oocistos portaria que regulamenta pouco menos de 100
nas amostras de água bruta não apresentou cor- variáveis, incluindo as microbiológicas, turbidez,
relação com as variáveis físico-químicas avaliadas, temperatura, substâncias químicas, cianotoxinas,
mostrando que variáveis como pH, turbidez, cor e radioatividade e organolépticas, enquanto o mer-
alcalinidade não são indicadores adequados da pre- cado manipula milhões de poluentes, químicos e
sença de oocistos de Criptosporidium na água, e ; biológicos, que adentram nossos mananciais de
não houve, também, correlação significativa entre água potável? É técnica e financeiramente aceitável
oocistos de Criptosporidium com pH, alcalinidade continuar com extensivos programas de vigilân-
e concentração de cloro em amostras analisadas de cia da qualidade da água, com base nessa norma,
água tratada. quando temos a absoluta certeza que os sistemas

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convencionais de tratamento de água não são capa- nanciais desprotegidos hoje existentes em prati-
zes de eliminar compostos e substâncias solúveis, camente todo o Brasil. (Hespanhol, 2012)
que estão, atualmente, presentes em nossos manan- Por outro lado, é necessário dirigir os esfor-
ciais, em concentrações de nanogramos por litro? ços para a produção de uma norma realista para
Não se dispõe, atualmente, de normas e mesmo exercer a vigilância sanitária da água potável.
diretrizes associadas a poluentes emergentes Um critério mais adequado, que exigirá grande
químicos (disruptores endócrinos, fármacos, cos- esforço e uma considerável introdução de recur-
méticos, etc.). Não há, portanto, possibilidade de sos humanos e financeiros, mas que produziria
exercer uma vigilância sanitária da água potável uma norma realística, seria efetuar uma avalia-
que seja, pelo menos, parcialmente confiável. ção nacional, similar à que a OMS efetua quando
Todas as metodologias e propostas associadas prepara as suas diretrizes para água potável. Esta
à segurança da qualidade da água potável per- avaliação pode, resumidamente, ser operaciona-
manecerão totalmente inócuas enquanto não se lizada em três fases. A primeira seria escolher
adotarem sistemas de tratamento avançados, em quais variáveis deveriam ser regulamentadas em
substituição aos sistemas convencionais de trata- função da sua conspicuidade ambiental e dos ní-
mento atualmente praticados, que são projetados veis de riscos correspondentes. Conforme mos-
para remover apenas sólidos suspensos. Siste- trado na Figura 1, as variáveis a serem escolhidas
mas avançados de tratamento, hoje disponíveis estariam incluídas no triângulo superior, ou seja,
a custos competitivos e extremamente eficientes as que ocorrem com maior frequência e as que
na remoção de substâncias orgânicas e inorgâni- possuem maior risco intrínseco. Deveriam ser,
cas, mesmo as com baixos pesos moleculares de também, avaliadas as que apresentam risco mé-
corte e em diminutas concentrações, permitem a dio e ocorrência elevada.
produção de água segura, mesmo a partir de ma- Esta primeira fase não exigiria grandes inves-
FREQUÊNCIA E NÍVEL DE OCORRÊNCIA

ALTA

PRIORIDADE ALTA
MÉDIA

PRIORIDADE MÉDIA
BAIXA

PRIORIDADE BAIXA

ALTO MÉDIO BAIXO

RISCO

Figura 1- Critério básico para avaliação de variaveis a serem regulamentadas

janeiro-abril 2014 nº194 Revista DAE 13


Ponto de Vista

timentos e poderia ser executada em período re- estudo.


lativamente curto de um ou dois anos, efetuando Evidentemente esses estudos demandarão
uma avaliação estatística de dados disponíveis no longos períodos de dedicação e, devido à sua
Ministério da Saúde (Departamento de Epidemio- complexidade, deverão ser programados e desen-
logia e Agência Nacional de Vigilância Sanitária volvidos por equipes de toxicologistas e epide-
– ANVISA), nas companhias estaduais de con- miologistas altamente qualificadas, trabalhando
trole e gestão ambiental e de dados estatísticos sobre a égide do Ministério da Saúde.
de registros de incidência de doenças crônicas Nesta etapa deverão, também, ser incluídos os
e transmissíveis, eventualmente disponíveis em poluentes emergentes que forem considerados
outras fontes, tais como o Instituto Brasileiro de relevantes para regulamentação. Como se dispõe
Geografia e Estatísticas-IBGE e outras entidades de poucos dados oficiais relativos a esses com-
associadas a controle de endemias. postos seria desejável efetuar um levantamento
A segunda etapa, mais complexa do que a an- nacional sobre a sua ocorrência. A literatura na-
terior, seria avaliar as respectivas doses-respos- cional evidencia uma ampla ocorrência desses
tas para as variáveis definidas na primeira fase, poluentes (Bila & Dezotti, 2003, Cantusio Neto
como mostrado na Figura 2. 2004, Daniele & Dezotti 2003, Ghiselli, 2006,
Esta segunda fase poderia vir a ser extrema- Mierzwa, 2009, Ternes et al. 1999), podendo,
mente complexa e exigiria a elaboração de exten- também, ser utilizada a literatura internacional
sivos estudos toxicológicos. Entretanto, estudos como referência para uma primeira avaliação
internacionais efetuados, principalmente pelos (Baronti et al, 2000, Karanis et al., 1998, Kolpin
centros colaboradores da OMS, dispõe de dados et al, 2002, Loos et al., 2010, Mac Kenzie et al.
de dose-resposta para todas as variáveis regula- 1994). Nesse aspecto, é conveniente considerar
mentadas pela OMS. Aquelas variáveis que fos- a metodologia adequada de avaliação para que
sem identificadas no Brasil e para as quais não não ocorram falsos resultados, particularmente
se dispusesse de dados são as que deveriam ser em relação aos elementos traços. Há uma ampla
avaliadas por nossos cientistas. A etapa final, que informação sobre as metodologias adequadas
constaria da avaliação dos níveis potenciais de na literatura (Desbrow et al, 1998, Barrek et al
exposição que podem ocorrer sobre seres huma- 2009), Durán-Alvarez, 2009, Gibson et al, 2010,
nos, deveria ser desenvolvida através de estudos Gomes, 2003, Petrovic, et al., 2010). Enquanto
epidemiológicos, nos quais populações expostas métodos como o ELISA (ensaio imuno-absorvente
aos riscos das variáveis selecionadas seriam com- associado a enzimas) não têm apresentado resul-
paradas com grupos de controle, para avaliar os tados confiáveis devido ao seu baixo limite de de-
excessos de risco potenciais correspondentes às tecção (20 a 40 ng/L), os que permitem grande
doses-respostas, obtidas na segunda etapa desse confiabilidade são os GC-MS/MS (cromatografia
FUNÇÃO

ZONA DE
DEFICIÊNCIA DEFICIÊNCIA EXPOSIÇÃO TOXICIDADE TOXICIDADE
SEVERA MARGINAL SEGURA MARGINAL SEVERA

EXPOSIÇÃO

Figura 2- Curva dose - resposta

14 Revista DAE nº194 janeiro-abril 2014


Ponto de Vista

a gás, espectrômetro de massa/espectrômetro A proposta apresentada pelas Secretarias


de massa e SPME-HPLC (microextração em fase foi intensamente criticada por especialistas
sólida e cromatografia líquida de alto desempe- ambientais e principalmente por usuários de
nho), com limites de detecção de 0,05 a 2,4 ng/L sistemas de reúso urbano, que demonstraram
e 0,064 a 2,4 ng/L (Chang et al., 2009) não ter condições de atender às grandes e in-
justificadas restrições impostas, as quais con-
5. A portaria das Secretarias para re- tribuiriam apenas para inibir a prática do reúso
úso urbano. urbano. Esta regulamentação deverá, portanto,
As propostas incluídas na Consulta Pública ser totalmente revisada, tanto em termos de
04/2013 relativa à “Minuta de Resolução Con- variáveis regulamentadas e respectivos valo-
junta SS/SMA/SRHS: Proposta de disciplina- res numéricos, quanto em termos de sistemas
mento do Reúso Direto não Potável de Água de tratamento adequados, aspectos econômi-
Proveniente de Estações de Tratamento de Es- cos e regionais, para permitir uma efetiva im-
goto Sanitário para Fins Urbanos”, seguem a plementação da prática de reúso de água no
mesma filosofia de adotar, sem análises com- Estado de São Paulo. Deve ser considerado,
parativas ou adaptação às condições locais, ainda, que as normas e códigos de prática pro-
normas de países altamente industrializados mulgados no Estado de São Paulo sejam ex-
e/ou diretrizes da OMS. Além disso, tendem a tremamente visíveis e considerados em muitas
restringir práticas usuais que em vez de serem partes do Brasil, onde as condições de imple-
excluídas deveriam ser adequadamente regu- mentação são ainda mais críticas. Apresentam,
lamentas. O termo “norma” vem do vocábulo portanto, um efeito negativo potencial ainda
“normal”, isto é, deve ser associado e incluir mais pronunciado em termos de restrição à
práticas tradicionais existentes em uma deter- prática de reúso, uma vez que uma parte sig-
minada sociedade. Estas deverão ser consolida- nificativa dos demais estados brasileiros não
das e regulamentadas e não impedidas de ser possui condições técnicas e econômicas para
praticadas. Outros critérios devem ainda ser atender a padrões e especificações tão restriti-
considerados para efeitos de regulamentação. vas e dissociadas da realidade brasileira.
Embora a saúde pública dos grupos de risco Por outro lado, regulamentações que envol-
seja de extrema importância, não devem ser vem aspectos de saúde pública não podem ser
relegados os importantes aspectos econômi- elaboradas exclusivamente em “nível de ga-
cos do reúso, assim como aqueles associados binete” no qual profissionais se reúnem para
à mitigação de condições de estresse hídrico, definir, aleatoriamente, variáveis a serem re-
como o que assola a Região Metropolitana de gulamentadas e respectivos valores numéri-
São Paulo. cos. O Brasil já tem condições de ultrapassar
Há que considerar que os sistemas tradicio- esta fase imediatista, elaborando normas e có-
nais de tratamento de esgotos utilizados no digos de prática baseados em levantamentos
Brasil (lodos ativados convencionais ou com das condições reinantes no país, e em estudos
aeração prolongada) não são capazes de pro- epidemiológicos e toxicológicos semelhantes
duzir efluentes com qualidade para atender aos relacionados acima sobre a regulamenta-
aos padrões estabelecidos na proposta. Mesmo ção para água potável.
com um tratamento físico-químico comple-
mentar (coagulação, floculação, sedimentação, 5.1 Ovos de Helmintos (Nematodos Intestinais)
filtração e desinfecção com cloro) não seriam Na reunião de especialista da OMS sobre
atendidas algumas das variáveis listadas, tais reúso de esgotos e excreta na agricultura e
como DBO, Cor, Ovos de Helmintos, Protozoá- aquicultura realizada em 1985 na cidade de
rios e Metais. Os sistemas de lagoas de estabi- Engelberg, Suíça, (IRCWD, 1985), foi esta-
lização, também bastante utilizados no Brasil, belecida a diretriz para irrigação restrita e
poderiam, se constituídos com pelo menos três irrestrita de ≤ 1 ovo viáveis de nematodos in-
compartimentos em série e unidades de matu- testinais por litro (média aritmética durante o
ração, atingir os padrões estabelecidos para as período de irrigação).
variáveis Ovos de Helmintos e Coliformes Fe- O grupo de especialistas da OMS que se reu-
cais, mas não atenderiam às demais variáveis. niu em Genebra, Suíça, em 1989, estabeleceu

janeiro-abril 2014 nº194 Revista DAE 15


Ponto de Vista

novas diretrizes para o uso de águas residu- tes para atingir ≤ 0,1 ovo/L e utilizar equipa-
árias na agricultura e na aquicultura (WHO, mentos protetores, tais como luvas, botas ou
1989). Nesta reunião, da qual este autor par- aplicação de tratamento quimioterápico”. Ve-
ticipou como organizador do evento e como rifica-se portanto que essa especificação com-
membro do corpo científico da OMS, foi man- plementar, além de ser desenvolvida em bases
tida, com base em uma grande quantidade de muito preliminares, refere-se a uma área onde
estudos epidemiológicos (Shuval et al, 1986) ocorre alta infestação por ovos de Helmintos
a diretriz de ≤ 1 ovo de nematodos intestinais e, ainda, em associação a áreas de extensa ir-
por litro, mas eliminou, por decisão unânime rigação agrícola onde há demanda de equipa-
dos participantes, o termo viável que havia mentos especiais para proteção dos grupos de
sido proposto na reunião de Engelberg. Esta risco, e não para irrigação de quadras esporti-
decisão foi baseada na consideração de que a vas, parques e jardins.
eliminação da caracterização de viabilidade A tendência de adotar, indiscriminadamente,
viria a favor da segurança, permitindo, ainda, valores numéricos sempre os mais restritivos
a redução dos custos das análises correspon- encontrados na literatura, mesmo sem consi-
dentes. derar que as condições nas quais esses valores
Na reunião subsequente sobre o tema, rea- foram obtidos são completamente diferentes
lizada na sede da OMS em Genebra, em 2006 daquelas para as quais foram formulados.
(WHO, 2006) foi efetuada a revisão das dire- Neste caso, os argumentos que especificam
trizes estabelecidas em 1989. Nesta reunião 0,1 ovo/L não são característicos das nossas
foi proposto, por alguns membros de países al- condições as mais críticas possíveis, mesmo
tamente desenvolvidos, particularmente a pro- quando a irrigação com esgotos tratados é
fessora Ursula Blumenthal, da London School efetuada em gramados utilizados para “play
of Hygiene and Tropical Medicine, e o profes- grounds”. Além de ser valores obtidos sem
sor Duncan Mara, da Leeds University, a redu- um suporte epidemiológico adequado, repre-
ção da diretriz de ovos de Helmintos em uma sentam características de áreas onde ocorre
ordem de magnitude, isto é, de ≤ 1 ovo/L para grande infestação e, associados, especifica-
≤ 0,1 ovo/L. Esta proposta foi baseada em um mente à irrigação de culturas, onde há uma in-
estudo epidemiológico preliminar (Blumen- tensiva aplicação de efluentes brutos durante
thal, U, 2000) realizado no Vale do Mesquital, uma grande parte do ano.
no México, uma área onde, devido à irrigação Há que se considerar ainda que, além de exi-
de culturas com esgotos brutos, ocorre grande gir um nível de tratamento mais avançado para
incidência de doenças parasitárias provoca- atender à condição de ≤ 0,1 ovo/L, haveria um
das, principalmente, por áscaris lumbricoides. aumento dos custos das análises (avaliado em
O estudo aborda a infestação de crianças me- 10 a 15% ) e a necessidade de grandes volu-
nores do que 15 anos que brincam, descalças, mes de amostras para validar, com segurança,
em campos agrícolas irrigados com esgotos a presença de ovos de Helmintos.
brutos. Esta proposta foi imediatamente repu- Em face das considerações acima seria ade-
diada por todos os participantes de países em quado manter o valor numérico de ≤ 1 ovo/L
desenvolvimento, inclusive por este autor, que e não de ≤ 0,1 ovo viável/L de nematodos in-
participou da reunião na condição de consul- testinais.
tor da OMS. Em face dessa reação foi mantido
o valor de diretriz de ≤ 1 ovo/L, tanto para irri- 5.2 Protozoários
gação restrita como irrestrita. Entretanto, de- Uma grande parte das críticas efetuadas à
vido à grande pressão exercida por membros proposta das Secretarias são as relativas à in-
de países industrializados, onde, ironicamente, clusão de cistos de Giardia e oocistos de Crip-
não há ocorrência de doenças parasitárias, foi tosporídeo. Esta proposta não tem sustentação
introduzida uma observação na relação das científica e operacional, uma vez que a única
diretrizes, especificando que “quando crian- rota de transmissão associada a esses proto-
ças menores de 15 anos de idade são expos- zoários é por via oral, cuja ocorrência é pouco
tas, medidas adicionais de proteção devem ser provável nos usos permitidos. Avaliações epi-
adotadas, como por exemplo tratar os efluen- demiológicas devem ser efetuadas nas condi-

16 Revista DAE nº194 janeiro-abril 2014


Ponto de Vista

ções brasileiras, mas estudos elaborados no cultura (FAO, 1992). As únicas exceções são
exterior com Criptosporídeos, por exemplo, in- para o Boro (em que a FAO recomenda ≤ 0,7
dicam que a ingestão involuntária de pequenas mg/L (para irrigar sem restrições para essa va-
doses levam a um risco superior a um AVAD de riável) e para o Chumbo que é recomendado
10-4 pppa (Ryu et al., 2007), isto é, a um caso 5,0 mg/L pela FAO e na tabela para Classe A
adicional de infecção por Criptosporídeos para é indicado 0,50 mg/L. Aparentemente, esta di-
um grupo de risco de 10.000 pessoas. Entre- ferença de uma ordem de magnitude para o
tanto, a proposta deste autor para irrigação Chumbo teria sido causada por erro de trans-
irrestrita (condição muito mais crítica do que crição. Certamente não foi considerado que
a irrigação de parques e jardins) de um AVAD as variáveis regulamentadas pela FAO e seus
de 10-4 pppa é considerada como aceitável respectivos valores numéricos foram elabo-
nas condições brasileiras (Hespanhol,2009). rados para quando é efetuada irrigação para
A ingestão de pequenas doses não leva à conta- produção de alimentos. A Tabela 10, na página
minação por oocistos de criptosporídeos. Estu- 17, de onde foram copiadas as variáveis, es-
dos efetuados com voluntários com boa saúde pecifica claramente “Threshold levels of trace
(Dupont et al, 1995) indicaram que a dose in- elements for crop production” e não “para irri-
fectiva de Criptosporidium parvum é de 132 gação paisagística... de caráter esporádico ou
oocistos (DL 50). Nessas condições, assumindo sazonal”, como especificado na proposta das
o valor normativo proposto de 0,25 oocistos/L, Secretarias. É necessário, inclusive, verificar se
seria necessário ingerir, de uma vez, 538 litros metais pesados devem ser regulamentados em
do efluente tratado. Mesmo que a concentração face de aplicações de efluentes tratados ape-
fosse de 10 oocistos/L seria necessário inge- nas periódica ou sazonalmente. Se, após uma
rir, de uma vez, 13,2 litros de efluente tratado avaliação consistente, esta necessidade for
para causar a infecção em 50% dos componen- comprovada, as variáveis e respectivos valores
tes do grupo de risco correspondente. Outros numéricos deverão ser adotados com proce-
autores (Okhuysen et al, 1999 e Ochiai, Y et dimentos similares aos apresentados no item
al, 2005) avaliaram que a DL 50 obtida em es- sobre aplicação de biossólidos, mas, desta vez,
tudos efetuados, também com voluntários de em associação apenas a efeitos sobre o solo e
boa saúde, varia entre 10 e 1.000 oocistos, de- sobre eventuais aquíferos freáticos existentes
pendendo da cepa de c. parvum considerada. no local de aplicação.
Pelo fato de que nossa população seja, em A variável sódio deverá, também, ser rea-
sua maioria, constituída por indivíduos com valiada, pois mesmo com sistemas de mem-
sistemas imunológicos não necessariamente branas de ultrafiltração é difícil atingir a
adequados seria extremamente importante a concentração de 69mg/L, tratando esgotos
realização de estudos epidemiológicos antes domésticos. Considere-se, ainda, que a Porta-
de adotar um valor padrão, tanto para Criptos- ria MS 2914/2011 especifica um valor numé-
porídeos como para as demais variáveis inclu- rico para a variável Sódio igual a 200mg/L, o
ídas na proposta das Secretarias. A necessária que tornaria ilegal a aplicação de água potável
segurança adicional viria através da emissão para irrigação paisagística. Entretanto, em se
de um correspondente código de prática, que tratando de irrigação, mesmo para fins paisa-
deveria acompanhar a proposta. Esta modali- gísticos o cloro é pouco significativo se for tra-
dade de reúso deveria, por exemplo, exigir a tado independentemente de outras variáveis,
colocação de avisos, indicando que a água não ou seja, Cálcio e Magnésio, que atenuam seus
é potável e especificar a utilização de torneiras efeitos negativos sobre o solo. Nesse sentido,
de acionamento com chave para evitar que a é lamentável que a proposta normativa tenha
água de reúso seja utilizada como potável. considerado apenas o Sódio, deixando de con-
siderar a importante variável composta Razão
5.3 Metais e Sódio de Adsorção de Sódio, (SAR em me/L) que em
As variáveis e respectivos valores numéricos valores elevados provoca a floculação do solo,
de metais relacionados para Classe A foram evitando que água e ar atinjam os níveis das
copiados diretamente da publicação da FAO raízes, eliminando, portanto, os efeitos bené-
sobre tratamento de esgotos para uso na Agri- ficos da irrigação. Para plantas que não apre-

janeiro-abril 2014 nº194 Revista DAE 17


Ponto de Vista

sentam grandes restrições ao uso de Sódio, o 5.5 Reúso em edificações e Reserva de incêndio
SAR pode permanecer em valores inferiores a A prática de reúso em edificações para des-
3 me/L. Este valor deve, entretanto, ser verifi- carga em bacias sanitárias, lavagem de pisos e
cado para solos e vegetações típicas das exis- irrigação vem sendo utilizada em larga escala
tentes no Estado de São Paulo. no Brasil, tanto em edifícios públicos como em
edifícios corporativos. Quando utilizada ape-
5.4 Lavagem de veículos nas para descarga sanitária permite uma re-
A utilização de água de reúso para lavagem dução do consumo de água em torno de 30%.
de veículos é uma atividade de grande impor- Se, além disso, o reservatório de água de reúso
tância para a conservação de recursos hídricos, abastece as demandas para lavagem de pisos
particularmente em áreas de estresse hídrico externos, garagens e irrigação de áreas verdes,
como a RMSP. Por exemplo, apenas duas das a economia no consumo de água pode chegar
maiores empresas de transporte urbano de a 80%. A função da legislação é regulamentar
São Paulo lavam cerca de mil ônibus por dia, práticas consolidadas e não de impedir a sua
utilizando aproximadamente 400 litros de implementação. Essa prática deverá ser regu-
água por ônibus. Uma grande empresa nacio- lamentada, permitindo o emprego de águas de
nal, que opera na distribuição de combustí- reúso de Classe B, uma vez que a concentração
veis, coordena a operação de 6.000 postos de de coliformes fecais eventualmente contidos
serviço (urbanos, de rodovia e de clientes con- em aerossóis produzidos durante a fase de des-
sumidores que compram gasolina e óleo die- carga teria, como proposto, uma concentração
sel a granel), dos quais aproximadamente 700 máxima de 200/100 mL, abaixo portanto do
são designados como Postos Ecoeficientes. padrão de balneabilidade conforme discutido
Nesses postos estão sendo instalados sistemas no item 5.4.
de tratamento avançado para aproveitamento A utilização de água de reúso para reserva
de águas pluviais e reúso de efluentes para a de incêndio não foi, também, considerada na
lavagem de quaisquer tipos de veículos, sem proposta de resolução das Secretarias. O ar-
restrição. gumento básico para negar a prática é evitar
A restrição à lavagem de veículos comuns a contaminação de eventuais moradores pre-
eliminará, certamente a alternativa que os sentes durante o apagamento de incêndios. A
postos de serviço teriam de avaliar economi- experiência mostra que, durante esses tipos
camente a utilização de água de reúso oriunda de sinistros, é pouco provável que as águas
das estações de tratamento, em relação aos utilizadas atinjam vítimas diretamente e que
sistemas de tratamento e reúso instalados in- os maiores volumes de água sejam utiliza-
ternamente. Teme-se, ainda, que a restrição dos para operações de rescaldo. Entretanto,
de lavagem de veículos comuns, imposta ao mesmo assumindo que haja contato humano,
reúso de efluentes oriundos de estações de a reserva de incêndio com água de reúso po-
tratamentos de esgotos seja, também, esten- deria ser empregada com águas da Classe B,
dida ao reúso após tratamento efetuado nos que apresentam uma concentração máxima de
próprios postos de serviço. Por outro lado, a coliformes fecais de 200/100 mL, valor muito
proibição da prática de lavagem interna de abaixo do tolerado para imersão total em sis-
veículos é irracionalmente restritiva. As águas temas aquáticos.
da Classe B destinadas a esta modalidade de
reúso restringem a variável E. Coli a um valor 5.6 Recarga gerenciada de aquíferos
igual ou inferior a 200 /100mL, enquanto que A regulamentação de recarga gerenciada de
a Resolução CONAMA 274/2000 considera aquíferos, não incluída na presente proposta,
como excelente o valor máximo para balnea- seria de extrema importância para o Brasil,
bilidade (que inclui a prática de esportes de por se constituir em um instrumento adicional
contato primário, com imersão total) de 250 E. para dar suporte à gestão de recursos hídricos,
Coli/100 mL, como muito boa com a concen- particularmente em áreas de estresse hídrico e
tração de 500 E.Coli/100 mL, e como aceitável onde ocorrem conflitos pelo uso da água.
a concentração de 1.000 UFC/100 mL. A recarga gerenciada de aquíferos, vista
como uma modalidade de reúso, pode atender

18 Revista DAE nº194 janeiro-abril 2014


Ponto de Vista

a uma gama significativa de objetivos, entre Especulava-se que, com a reforma orto-
os quais proporcionar tratamento adicional de gráfica, o acento teria desaparecido, mas na
efluentes, aumentar a disponibilidade de água verdade só desapareceu em palavras que pos-
em aquíferos potáveis ou não potáveis, propor- suem “i” ou “u” como parte de um hiato, se for
cionar reservatórios de água em substituição precedido de um ditongo (ou seja, precisa-se
a reservatórios superficiais, servir como um de 3 vogais juntas), como, por exemplo, em
eventual sistema de distribuição, permitindo “feiura” (fei-u-ra) que pela regra nova não pos-
eliminar a construção de adutoras, evitar ou sui mais acento no “u”. A palavra “reúso” não
controlar subsidência de solos e prevenir a in- tem hífen mas tem o acento gráfico para mar-
trusão de cunha salina em aquíferos costeiros. car a sílaba tônica no U. Sem o acento o EU
(Hespanhol, 2009a e Hespanhol, 2012a) seria pronunciado como ditongo /reu/, e não
Os sistemas de recarga gerenciada relacio- como hiato, em que o U é pronunciado sozinho
nados em seguida são apenas alguns exem- numa sílaba: /re-ú-so/. Se fosse grafado como
plos das centenas de sistemas em operação *reuso, poderia ser lido como /reuso/ como se
contínua, produzindo água para diversos usos lê deusa ou Neusa.
benéficos: Região do Dan, em Israel, irriga-
ção irrestrita e água potável; Atlantis, África 6. Conclusões e recomendações
do Sul, água potável; Berlin, Alemanha, água O objetivo básico de normas e códigos de
potável; Tucson e Phoenix, Arizona, Estados prática, particularmente as relativas a aspec-
Unidos, controle de subsidência de solos, irri- tos de saúde pública é estabelecer instrumen-
gação de parques, jardins e campos de golfe; tos de gestão, atribuindo valores numéricos
Orange County, Califórnia, Estados Unidos, realísticos a variáveis localmente significati-
proteção contra intrusão salina e água potá- vas, com a finalidade de dar suporte a sistemas
vel; Torreles, Bélgica, água potável; Sabadell, operacionais de comando e controle, asso-
Espanha, irrigação de parques; Hals Head, ciados à realidade e características de cada
Austrália, irrigação urbana; Windhoek, Namí- região ou país onde o controle é exercido. De-
bia, água potável; Nova Dehli, Índia, irrigação; vem, também, ser dirigidas à regulamentação
Nardó, Silento, Itália, água potável e não potá- de práticas existentes sem ter, absolutamente,
vel; e Gaobeidian, Beijing, China, potável. o direito de impedir a implementação daquelas
Estudos de recarga gerenciada efetuados em já consolidadas, tais como a aplicação de bios-
todo o mundo mostram a grande eficiência sólidos como condicionantes de solos, reúso
com que camadas insaturadas existentes nas para fins não potáveis em edificações, lavagem
partes superiores de aquíferos promovem a re- de veículos comuns e reserva de incêndio.
moção de poluentes tradicionais, assim como Há que se considerar, ainda, que regula-
de fármacos e disruptores endócrinos. (Kreu- mentações que envolvem aspectos de saúde
singer et al., 2010 e Arnold, 2009) pública não podem ser elaboradas exclusiva-
Um pequeno programa de visitas por parte mente em “nível de gabinete” onde profissio-
de profissionais de agências reguladoras do nais se reúnem para definir, aleatoriamente,
saneamento a alguns desses sistemas eviden- variáveis a serem regulamentadas e seus res-
ciaria os grandes benefícios que proporcio- pectivos valores numéricos. O Brasil já tem
nam, assim como a extrema segurança com condições de ultrapassar esta fase imediatista
que operam, em termos de proteção dos aquí- e passar a elaborar normas e códigos de prá-
feros submetidos aos processos de recarga ge- tica baseados em levantamentos das condições
renciada. reinantes no país, e em estudos epidemiológi-
cos e toxicológicos.
5.7 A palavra “reúso” No estabelecimento de diretrizes associadas
A palavra “reúso” não constava, até 1998, na a aspectos de saúde pública, a Organização
língua portuguesa e até então era traduzida li- Mundial da Saúde identifica como “provi-
teralmente do inglês e escrita de duas formas sionais” os valores numéricos estabelecidos
re-uso ou reuso. A grafia certa é “reúso”, do para variáveis sobre as quais não dispõe de
verbo “reusar” devendo ser acentuada por ser estudos específicos nem de dados suficientes
um hiato. produzidos por estudos epidemiológicos ou to-

janeiro-abril 2014 nº194 Revista DAE 19


Ponto de Vista

xicológicos. Como esta é, também, a realidade condições de produzir efluentes com valores
brasileira, seria adequado que as normas aqui numéricos de diversas variáveis contidas na
desenvolvidas fossem, igualmente, designadas proposta das Secretarias (como, por exemplo,
como provisionais até que se definam valores ovos de Helmintos, cistos de Giardia e oocis-
mais significativos de nossas condições am- tos de Criptosporídeos) podem ser facilmente
bientais e de saúde pública, baseada em uma adaptados para operar como MBRs, através
metodologia cientificamente defensável que da substituição dos decantadores secundários
permita montar uma legislação realista para por unidades de membranas de ultrafiltração,
água potável, biossólidos e água de reúso. instalados nas próprias câmaras de aeração.
Paralelamente, para efetivamente proteger a
saúde pública dos grupos de risco, deveria ser 7. Referências bibliográficas
exigido o emprego, para a produção de água Arnold, R., (2009), Residuals Organics and Am-
potável e de água de reúso, das melhores tec- monia Nitrogen During SAT of Conventionaly
nologias disponíveis, já consagradas interna- Treated Municipal Wastewaters, Workshop
cionalmente e no Brasil. Uso e Reúso de Águas Residuárias, Sabesp, São
Estudos desenvolvidos no CIRRA (Mierzwa, Paulo, 13 de maio.
2009) mostraram a eficiência da remoção de
disruptores endócrinos e de microcistina uti- Baronti, C., Curine, R., D’Ascenzo, G., Di Corcia,
lizando sistemas de membranas de ultrafiltra- A., Gentili, A., Samperi, R., (2000), Monitoring
ção. A sugestão básica é que sejam estudados, Natural and Synthetic Estrogens at Activated
para ser aplicados dentro de nossas condições Sludge Sewage Treatment Plants and in a Re-
esses tipos de sistemas, complementados com ceiving River Water, Environmental Science
sistemas empregando processos oxidativos and Technology, vol.34, nº 24, p. 5059-5065.
avançados. A literatura internacional mostra
Barrek, S., Cren-Olivé, C., Wiest, L., Baudot,
que processos oxidativos avançados, utili-
R., Arnaudguilhem, C., Grenier-Loustalot,
zando peróxido de hidrogênio e radiação ul-
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travioleta (Rosenfeldt, et al., 2004, Huber et
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from the European Water Framework Direc-
de traços de fármacos e disruptores endócri-
tive by GC-MS and LC-FLD-MS/MS in sur-
nos eventualmente remanescentes de sistemas
face waters, Talanta 79, p.712-722, Journal
de membranas de ultrafiltração utilizados para
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produção de água potável.
Da mesma maneira, algumas de nossas com- Bila, D.M., Dezotti, M., (2003) Fármacos no
panhias de saneamento, exatamente aquelas Meio Ambiente, Quim. Nova, vol.26, nº 4,
capacitadas para fornecer águas de reúso p.523-530.
para fins não potáveis, já implantaram ou es-
tão considerando a implantação de sistemas Blumenthal, U, (2000) Guidelines for wastewa-
avançados de tratamento de esgotos domés- ter reuse in agriculture and aquaculture: re-
ticos, utilizando sistemas de biomembranas commended revisions based on new research
(MBRs) equipados com membranas de ultra- evidence, Water and Environmental Health at
filtração (poros com dimensões entre 0,001 London and Loughborough and London School
µm e 0,1µm). Esses sistemas permitem a pro- of Hygiene and Tropical Medicine (WELL
dução de efluentes com qualidades superiores Study Task no. 68, Part 1.
aos das Classe A e B relacionadas na proposta
das Secretarias. Com exceção de Sódio, e de Cantusio Neto, R., (2004), Ocorrência de oocis-
alguns outros elementos e compostos de baixa tos de Cryptosporidium spp. e cistos de Giar-
massa molecular de corte, permitem obter, dia spp. em diferentes pontos do processo de
consistentemente, efluentes com baixa carga tratamento de água em Campinas-SP, p. 82,
orgânica e livres de protozoários, coliformes Tese para obtenção do título de Mestre em Pa-
e vírus, sem a necessidade de posterior desin- rasitologia, Instituto de Biologia, Universidade
fecção. Os sistemas convencionais de lodos Estadual de Campinas, Campinas, SP.
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