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FACULDADE DE DIREITO MILTON CAMPOS
NOVA LIMA-MG
2009
CLARA GAZZINELLI DE ALMEIDA CRUZ
NOVA LIMA-MG
2009
000 f. enc.
Bibliografia: f. 000-000
Prof. Dr.
Prof. Dr.
Nova Lima, 30 outubro de 2009.
Alameda da Serra, 61 – Bairro Vila da Serra – Nova Lima – Cep 34000-000 – Minas Gerais – Brasil. Tel/fax (31) 3289-1900
3
AGRADECIMENTOS
RESUMO
ABSTRACT
The Investment Funds consist in an extremely important financing vehicle for the
entrepreneur activity. The possibility of mitigating risks due to the diversification of
the portfolio allied to the professional assets management promoted, and still
promotes, the expansion of these funds not only in terms of numbers of investors and
investments, but also in terms of importance for the Brazilian economy. This study
intent to bring new elements to the debate around the legal nature of the Investment
Funds in the Brazilian law. For this purpose, this study seeks to establish the features
that define the Investment Funds, drawing a comparison between the legal and
doctrinaire conceptions developed for both the condominium and the legal entity
institutes.
SUMÁRIO
RESUMO..................................................................................................................... 6
ABSTRACT ................................................................................................................. 7
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 9
3 O CONDOMÍNIO........................................................................................... 45
3.1 A Natureza Jurídica do Condomínio ............................................................. 47
3.1.1 Teorias da Temporariedade .......................................................................... 48
3.1.2 Teoria da Unidade do Direito de Propriedade ............................................... 49
3.1.2.2 Teoria da Propriedade da Coletividade ......................................................... 51
3.1.2.3 Teoria do Condomínio como Pessoa Jurídica............................................... 52
3.1.3 Teoria da Divisão .......................................................................................... 53
3.1.4 Teoria da Propriedade Plúrima Total ............................................................ 55
3.1.4 Regime Legal do Condomínio ....................................................................... 59
6 CONCLUSÃO ............................................................................................... 89
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 92
9
1 INTRODUÇÃO
1
A crise econômica começou ainda em 2008, no mercado imobiliário americano, e rapidamente se
espalhou para outros setores da economia, atingindo boa parte dos países do mundo (alguns
como uma onda, outros como uma “marolinha”). Para maiores explicações sobre a crise, ver:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u450226.shtml, acessado em 23 de julho de 2009.
10
5
Que engloba apenas a Lei nº. 8.668/93, que trata sobre os Fundos de Investimento Imobiliário
(FII), e a Lei nº. 11.478/2007, que dispõe sobre os Fundos de Investimento de Participação em
Infra Estrutura (FIP IE).
12
2 OS FUNDOS DE INVESTIMENTO
Societé Generale des Pays Bas constituída na Bélgica como precursora dessas
estruturas de investimento, outros indicam ser a Escócia o seu berço. Certo é,
entretanto, que os investiment trust se desenvolvem na Inglaterra do século XIX e se
transferem para os Estados Unidos no começo do século XX, adotando a
nomenclatura de investment companies, tomando um fôlego maior após o crash de
1929. Dos Estados Unidos os investments companies se espalharam pelo mundo
(BARRETO, 1956, p. 86-7).
É pelo impulso conferido aos investment companies em solo americano, pela
consequente importância alcançada por esta figura na economia ianque e pela sua
influência no Direito brasileiro que este estudo se inicia pela investigação de como é
estruturada uma investment companies nos Estados Unidos. Conforme relata
Levinson (2003, p. 9):
8
No original:
“the fastest-growing institucional investors are investment companies, which combine the
investments of a number of individuals with the aim of achieving particular financial goals in a
efficient way. Mutual funds and unit trusts are investment companies that typically accept an
unlimited number of individual investments. The fund declares the strategy it will pursue, and, as
additional money is invested the fund managers purchase financial instruments appropriate to that
strategy. Investment trusts, some of which are known in the United States as close-end funds,
issue a limited number of shares to investors at the time they are established and use the proceeds
to purchase financial instruments in accordance with their strategy”
9
SECURITIES AND EXCHANGE COMMISSION. Investment Companies. Disponível em
<http://www.sec.gov/answers/mfinvco.htm>. Acesso em: 23 de outubro de 2009.
14
Uma vez entendida a relação jurídica tripartida do trust, vale destacar o relato
de Ashton (1963, p. 171) que explica o funcionamento do UIT:
12
Em comparação com os mutual funds e close-end funds Fabozzi e Modigliano:
“A unit trust is similar to a close-end fund in that the number of unit certificates is fixed. Unit trusts
typically invest in bonds. They differ in several ways from both mutual funds and closed-end funds
that specialize in bonds. First, no active trading of the bonds takes place in the portfolio of the unit
trust. Once the unit trust is assembled by the sponsor (usually a brokerage firm or bond
underwriter) and turned over to a trustee, the trustee holds all the bonds until redeemed by the
issuer. Typically, the only time the trustee can sell an issue in the portfolio is when a dramatic
decline occurs in the issuer’s credit quality. As a result, the cost of operating the trust will be
considerably less than costs incurred by either a mutual fund or a closed-end fund. Second, unit
trusts seta fixed termination date, while mutual funds set a fixed termination date, while mutual
funds or a closed-end funds or not. Third, unlike the mutual fund and closed-end fund investor, the
unit trust investor knows that the portfolio consists of a specific portfolio of bonds and has no
concern that the trustee will alter the portfolio”. (2002, p. 67)
13
A figura não é reconhecida no Brasil pela sua incompatibilidade com o caráter exclusivo da
propriedade. Conforme leciona WALD (1995, p. 111):
“No Direito Brasileiro, em virtude da exclusividade da propriedade, se alguém transfere um bem a
outrem, ainda que com cláusula de retransmissão a um terceiro, ou de reversão a ele mesmo, o
direito daí decorrente é pessoal, e não real, e, portanto, resolve-se em perdas e danos, embora
reconheça a nossa legislação a propriedade resolúvel (art. 525 do Código Civil)”.
16
14
Que se equipara à sociedade anônima brasileira, mas a quem sempre foi possibilitada a emissão
de títulos resgatáveis e a constituição de um capital autorizado.
15
A Limited Partnership é uma business entity (pessoa jurídica) classificada como partneship
(entidade em que os sócios dividem lucros e perdas) em que alguns dos partners (sócios) têm
responsabilidade ilimitada por dívidas assumidas e não quitadas pela sociedade (General
Partners. O General Partner tem a plena administração dos negócios da sociedade e a representa
perante terceiros, enquanto os Limited Partners são sócios que somente se responsabilizam pelo
capital subscrito e, conseqüentemente, não têm poder de gestão. As regras de convivência entre
os sócios são tratadas em um documento denominado Partnership Agreement. As Limited
Partnerships se assemelham muito às sociedades em comandita simples do Código Civil
brasileiro, reguladas nos artigos 1.045 a 1.051, em que os sócios comanditados têm
responsabilidade ilimitada e gestão e os sócios comanditários têm responsabilidade limitada.
16
Nas Limited Partnership Companies todos os partners (sócios) detêm responsabilidade limitada,
embora nem todos possam participar da gestão. São semelhantes às sociedades limitadas
previstas no artigo 1.052 e seguintes do Código Civil brasileiro Diferem das sociedades anônimas
(Corporations) por razões tributárias.
17
2.2.1 Histórico
títulos emitidos por terceira companhia por outros por ela emitidos e adquiridos pelos
investidores19. O Decreto-Lei nº. 7.583/45, assim, não criou um instituto novo, mas
tão somente reconheceu a possibilidade de uma sociedade por ações20 ser utilizada
como veículo para arregimentação de recursos destinados ao fim específico de
aplicação em títulos de outras companhias.
A expressa autorização legal para a constituição das sociedades de
investimento não ocasionou, entretanto, a expansão da sua utilização, nem mesmo
fomentou o desenvolvimento do ainda incipiente mercado de capitais brasileiro.
James Wright Ladd e Richmond Miles Wright (1961) elencam empecilhos culturais,
jurídicos e econômicos que tornavam o investimento por meio das sociedades de
investimento caro e moroso e, portanto, extremamente desvantajoso ao investidor.
Entre os obstáculos jurídicos citados por Ladd e Wrigth (1961) sobressai a
dificuldade de emissão de novas ações pelas sociedades de investimento, em razão
da inexistência do instituto do capital autorizado21 e da necessidade de respeitar o
direito de preferência dos acionistas quando da emissão de novas ações previstas
no Decreto-Lei nº. 2.627, de 29 de setembro de 1940:
19
“Sociedade de colocação de capitais, ou de investimentos, é a que tem por objeto a aplicação dos
fundos sociais na compra de valores mobiliários, selecionados de acordo com os critérios de
limitação do risco financeiro, para dividir entre os sócios os rendimentos e os lucros decorrentes
de sua gestão” (BARRETO FILHO, 1963, p. 56).
20
Apesar de sempre ter sido recomendada, a adoção pelas sociedades de investimento da forma de
sociedades por ações somente se tornou obrigatória com a edição da Lei nº. 4.595 de 31 de
dezembro de 1964.
21
Na vigência do antigo Decreto-Lei nº. 2.627, de 26 de setembro de 1940 a deliberação sobre o
aumento de capital era competência exclusiva da Assembleia Geral de Acionistas. A Lei nº. 6.404,
de 15 de dezembro de 1976, em seu art. 168, prevê a possibilidade de aumento de capital até o
limite autorizado pelo Estatuto por decisão de um dos seus órgãos, inclusive por deliberação do
Conselho de Administração, o que é chamado de regime de capital autorizado (ULHÔA, 2008, p.
199)
22
Esta dificuldade também é apontada por Barreto Filho (1963, p. 114) em seu
estudo sobre as sociedades de investimento, acrescentando às incompatibilidades
entre a forma de sociedade anônima por elas adotadas e o objetivo para o qual se
constituem (especialmente naquelas sociedades em que há a pretensão de entrada
e saída constante de recursos – open ended) a impossibilidade de resgate e
reembolso dos portadores dos seus títulos, operação que se configurava comum nas
estruturas de investimento coletivo anglo-americanas.
Também Ashton cita tais obstáculos como causadores da inaplicabilidade da
estrutura de sociedade anônima às companhias (fundos) de investimento de
administração do tipo capital aberto:
22
Já em 1963, Ashton se perguntava como “registrar os títulos em nome do fundo”, se o mesmo não
tem personalidade jurídica? (ASHTON, 1963, p. 96)
23
Não obstante seus vícios de origem, conforme noticia Pontes (1982, p. 29)
24
Editada pelo Ministério da Fazenda, esta Portaria foi abertamente criticada por usurpar a
competência constitucionalmente conferida ao Congresso Nacional (FREITAS, 2006, p.80).
25
Esta permissão, inclusive, foi extremamente criticada por Asthon (1963, p. 93-4):
24
“alterando características essenciais de uma forma societária, tal como se fez no Brasil com as
companhias de investimentos, deixa de existir a forma societária, como evoluiu lentamente, na
Inglaterra, Estados Unidos e na Europa, não podendo mais servir ao fim a que inicialmente foi
destinada. As companhias de investimentos de organização alterada, como existem no Brasil, não
são companhias de investimento e podem, nas mãos de inescrupulosos, prejudicar imensamente
os pequenos e médios economizadores e também a economia nacional se, após atingirem grande
vulto vierem a entrar em colapso. Por outro lado, não distinguir entre companhias de
financiamento e crédito e companhias de investimento, é permitir a confusão e anarquia”.
26
“em nosso direito, a doutrina geralmente seguida é a de que, não havendo patrimônio social, as
contribuições dos sócios passam à propriedade do sócio gerente. Este responsabiliza todos os
fundos sociais, ainda mesmo que seja por obrigações pessoais, se o terceiro com quem tratou
ignorava a existência das sociedades (BARRETO FILHO, p. 181-182)”.
25
27
Conforme conclui Ashton (1963, p. 94):
“A conclusão a que se é forçado a chegar, é de que em vista de uma separação tão profunda
entre administrador e fundo – acrescido do elemento perturbador que as companhias com
objetivos completamente diversos, como as de financiamento e crédito, podem organizar seus
próprios fundos de investimentos, não existe no Brasil uma companhia de investimentos típica, do
tipo evoluído nos Estados Unidos e Inglaterra, nem é ela favorecida pela legislação brasileira”.
26
28
Conforme ensina Pontes: “Dentre as inovações introduzidas na legislação sobre as sociedades
anônimas, pela Lei nº. 4.728, numa tentativa de transposição dos institutos do direito anglo-
americano, no pressuposto de sua necessidade para ensejar e implantar o desenvolvimento do
mercado de capitais, figura a do sistema dói capital autorizado, ou seja, um capital subscrito
inferior ao declarado nos estatutos sociais, em lugar do sistema de capital fixo, tradicional no
direito dos países da Europa continental, em quase todos da América Latina e no Brasil”.
(PONTES, 1982, p. 51-52)
29
Nos termos expostos por Freitas (2006, p. 520), “tão importante pareceu ao governo criar
mecanismo que permitisse que os negócios passassem a se orientar sob a forma de sociedade de
capital autorizado, que atropelou raciocínio jurídico elementar: o de que operação de
transformação não é procedimento legal apto a converter condomínio em uma sociedade”
27
32
Nos termos da Resolução nº. 145, de 14 de abril de 1970:
“Art. 4º A administração dos FUNDOS MÚTUOS DE INVESTIMENTO será exercida por Bancos
de Investimento, Sociedades de Crédito, Financiamento e Investimento e Sociedades Corretoras,
ressalvado o disposto no artigo seguinte.
Art. 5º A partir desta data fica vedada a constituição de FUNDOS MÚTUOS DE INVESTIMENTO
por Sociedades de Crédito, Financiamento e Investimento e Sociedades Corretoras cujo capital
integralizado seja inferior a uma vez e meia (1,5) o capital mínimo a que estejam obrigadas pelas
normas em vigor, capital aquele que, em nenhuma hipótese, será inferior a NCr$500.000,00
(quinhentos mil cruzeiros novos)”.
30
Não é fácil indicar com precisão os motivos que levaram a esta escolha. São
de ordem tributária, de ordem econômica e até mesmo cultural. Fato é que, se
surgiram como remédio aos empecilhos vislumbrados nos primórdios do Mercado de
Capitais brasileiro, hoje têm existência predominante no cenário econômico do país,
figurando como grandes protagonistas na arrecadação da poupança popular e no
financiamento da atividade empresarial.
Contextualizada a origem dos fundos de investimento atuais, passa-se à
análise de sua estrutura e conformação jurídica, objeto específico deste estudo.
condomínio, que tem legitimidade para aprovar, dentre outras matérias, mudanças
no Regulamento dos fundos de investimentos ou a alteração da sua administração
(art. 10º).
Atendo-se à classificação dos fundos de investimentos como condomínio de
recursos, a Resolução nº. 145/70 determina, ainda, que “as quotas de FUNDO
MÚTUO DE INVESTIMENTO correspondem a frações ideais do mesmo FUNDO”
(art. 16). Todavia, já nesta Resolução percebe-se o intuito do legislador de conceder
ao Fundo certa capacidade, conferindo-lhe uma contabilidade própria e,
principalmente, a propriedade dos recursos dos investidores e dos ativos com eles
adquiridos (art. 29).
Após a edição desta norma, o Brasil conheceu rápido crescimento econômico
e quase duas décadas se passaram sem que, aparentemente, a doutrina se
ocupasse com as incorreções teóricas encontradas na estrutura dos fundos de
investimento, a despeito de todas as críticas a ele direcionadas nas décadas de
1950 e 1960. A inexistência de discussão doutrinária a esse respeito não significa a
resolução dos problemas encontrados. Muito antes, aparenta uma espécie de
situação cômoda, já que apesar destas incorreções, os fundos de investimentos
parecem ter operado perfeitamente em termos econômicos e financeiros durante
este período33.
A constituição de fundos de investimento que possuíam em sua carteira bens
imóveis trouxe à tona as imperfeições do modelo fundos em condomínio. A prática
comum em que o Fundo adquiria, em nome próprio, os ativos, em sua maioria títulos
e valores mobiliários, que compunham a sua carteira não parecia perturbar a
doutrina. Não há registros, após 1970, de questionamentos mais contundentes dos
estudiosos do Direito acerca do fato deste ente despersonalizado possuir patrimônio
em nome próprio. Mas a partir do momento que tais ativos passam a ser constituídos
por bens imóveis, obrigando-se o seu registro perante o Registro Civil de Bens
Imóveis, o legislador, bem como os estudiosos do Direito, deparam-se com um
dilema.
O registro dos bens imóveis de “propriedade” do condomínio não podia ser
realizado em seu nome, já que ente sem personalidade jurídica. Também não o
poderiam ser em nome da administradora, pois não eram de sua propriedade.
33
Conforme noticia Freitas (2006, p. 255): “Em 1999, tivemos a oportunidade de referir que
praticamente não existiam, no Brasil, disputas judiciais envolvendo fundos de investimento”.
33
Sob outra perspectiva, mais ainda em razão da Lei nº. 8.668/93, Arnoldo Wald
(1990, p.22), em artigo publicado antes mesmo da edição do aludido diploma legal,
tenta explicar a possibilidade de existência de um patrimônio de “propriedade” do
fundo de investimento, pois
35
Isto posto, e sem prejuízo do acima demonstrado, concluímos ser o fundo de investimento,
perante o direito brasileiro, uma forma de “condomínio” de natureza especial, com regras próprias
e específicas, distintas das descritas no Código Civil (GAGGINI, 2001, p. 53).
36
Pergunta-se, ao invés de definir o fundo como “condomínio fechado” não teria sido mais próprio
defini-lo como uma sociedade aberta, não personificada, com organização igual a das
companhias.[...] Embora o fundo constitua patrimônio separado, a ele já se impõem algumas das
regras próprias das sociedades anônimas. Terá sido criada uma sociedade atípica, com limitação
de responsabilidade patrimonial dos sócios em sociedade não personificada, mas cuja
administração, diversamente do que prevêem as normas legais para tais tipos, se faz de acordo
com as regras do hetero-organicismo (SZTAJN, 1990, p. 93).
37
Nesse sentido, FREITAS (2006, p. 218), após destacar a diferenciação teórica entre sociedade e
condomínio, reconhece nos “fundos de investimento que o sentido jurídico de sua representação
37
global subsume-se perfeitamente ao conceito abstrato de sociedade, tal qual estatuído no artigo
981 do Código Civil, não hesitaremos, então, em concluir que estamos diante de uma sociedade”.
38
A natureza do Fundo “X” é a de uma sociedade não personificada. O Fundo “X” é regido pelos
arts. 49 e 50 da Lei nº. 4.728/1965 e pela Instrução CVM-302/1999, sendo subsidiariamente a ele
aplicáveis as normas do Código Civil relativas ao direito societário, particularmente as normas
sobre sociedade em comum e sobre a sociedade simples, e, analogicamente, as disposições da
Lei das S/A. No caso de conflito, prevalece, naturalmente, a Lex specialis (Lei nº. 4.728/1965 e
Instrução CVM-302/1999). (FRANÇA, 2009, p.212)
39
Apesar da recuperação das bolsas, ainda existem indícios que a “marola” ainda não acabou.
38
40
Sobre a competência da CVM para regular os fundos de investimentos vale conferir: Cantidiano,
2005; Delgado, 1998; Grau, 2005; Moreira, Egon Bockmann, 1999; Moreira, Ricardo Guimarães,
2003; Rocha, 1986.
41
As demais Instruções Normativas editadas pela CVM acerca dos fundos de investimento também
os classifica como comunhão de recursos, valendo lembrar que, no caso, para fins de
regulamentação, os fundos são divididos, pela CVM, de acordo com os ativos mantidos em sua
carteira. Confira-se as mais relevantes:
Instrução Normativa nº. 141, de 16 de abril de 1991 (ICVM 141), que trata sobre Fundo de
Privatização - Certificados de Privatização (CP) constituído[s] sob a forma de condomínio fechado,
que terão seu patrimônio integralizado com certificados de privatização, destinados a adquirir
valores mobiliários emitidos por empresas que vierem a ser desestatizadas na forma da Lei nº
8.031, de 12 de abril de 1990. (art. 1º);
Instrução Normativa nº. 153, de 24 de julho de 1991 (ICVM 153), que trata dos Fundos Mútuos de
Ações Incentivadas, constituído[s] sob a forma de condomínio fechado, são uma comunhão de
recursos destinados à aplicação em carteira diversificada de títulos e valores mobiliários (art. 1º);
Instrução Normativa nº. 186, de 17 de março de 1992 (ICVM 186), que trata dos Fundos de
Investimento Cultural e Artístico, constituído[s] sob a forma aberta - quando admitir o resgate de
quotas -, ou fechada - quando não admitir o resgate de quotas - são uma comunhão de recursos
destinados à aplicação em projetos culturais e artísticos(art. 1º);
Instrução Normativa nº. 209, de 25 de março de 1994 (ICVM 209), que trata dos Fundos Mútuos
de Investimento em Empresas Emergentes – FMIEE, constituído[s] sob a forma de condomínio
fechado, é uma comunhão de recursos destinados à aplicação em carteira diversificada de valores
mobiliários de emissão de empresas emergentes (art. 1º);
Instrução Normativa nº. 278, de 08 de maio de 1998 (ICVM 278), que trata dos Fundos de
Investimento em Empresas Emergentes – Capital Estrangeiro – FIEE Capital Estrangeiro,
constituído[s] sob a forma de condomínio fechado, isto é, sem resgate de cotas, de que participem
exclusivamente pessoas físicas ou jurídicas, residentes, domiciliadas ou com sede no exterior,
fundos ou outras entidades estrangeiras de investimento coletivo, é uma comunhão de recursos
destinada à aplicação em carteira diversificada de valores mobiliários de emissão de empresas
emergentes (art. 1º);
39
agosto de 200742 (ICVM 409): “Art. 2º. O fundo de investimento é uma comunhão de
recursos, constituída sob a forma de condomínio, destinado à aplicação em ativos
financeiros, observadas as disposições desta Instrução.”
Instrução Normativa nº. 279, de 14 de maio de 1998 (ICVM 279), que trata dos (i) Fundos Mútuos
de Privatização – FGTS; e (ii) dos Fundos Mútuos de Privatização – FGTS Carteira Livre,
constituído[s] sob a forma de condomínio aberto, é uma comunhão de recursos destinados à
aquisição de valores mobiliários no âmbito do Programa Nacional de Desestatização, instituído
pela Lei nº 8.031, de 12 de abril de 1990, e de Programas Estaduais de Desestatização, mediante
aprovação prévia, em ambos os casos, do Conselho Nacional de Desestatização – CND (art. 1º);
Instrução Normativa nº. 356, de 17 de dezembro de 2001 (ICVM 356), que trata dos (i) Fundos de
Investimento em Direitos Creditórios – FIDC, comunhão de recursos que destina parcela
preponderante do respectivo patrimônio líqüido para a aplicação em direitos creditórios; e (ii)
Fundos de Investimento em Cotas dos Fundos de Investimento em Direitos Creditórios – FIDC,
comunhão de recursos que destina no mínimo 95% (noventa e cinco por cento) do respectivo
patrimônio líquido para a aplicação em cotas de FIDC (art. 1º);
Instrução Normativa nº. 359, de 22 de fevereiro de 2002 (ICVM 359), que trata dos Fundos de
Investimento em Índice de Mercado – Fundos de Índice, que, conforme esclarece a ICVM 359, são
uma comunhão de recursos destinado à aplicação em carteira de títulos e valores mobiliários que
vise refletir as variações e rentabilidade de um índice de referência, por prazo indeterminado (art.
2º);
Instrução Normativa nº. 391, de 16 de julho de 2003 (ICVM 391), que trata dos (i) Fundos de
Investimento em Participação – FIP; e (ii) Fundos de Investimento em Cotas de Fundos de
Investimento em Participação – FIP, constituído[s] sob a forma de condomínio fechado, é uma
comunhão de recursos destinados à aquisição de ações, debêntures, bônus de subscrição, ou
outros títulos e valores mobiliários conversíveis ou permutáveis em ações de emissão de
companhias, abertas ou fechadas, participando do processo decisório da companhia investida,
com efetiva influência na definição de sua política estratégica e na sua gestão, notadamente
através da indicação de membros do Conselho de Administração;
Instrução Normativa nº. 398, de 28 de outubro de 2003 (ICVM 398), que trata dos Fundos de
Investimento de Financiamento da Indústria Cinematográfica Nacional – FUNCINE, comunhão de
recursos, constituído sob a forma de condomínio fechado, sem personalidade jurídica, destinado à
aplicação em projetos aprovados pela Agência Nacional de Cinema – ANCINE (art. 3º);
42
Apesar de versar acerca de fundos de investimento específicos, quais sejam, os (i) Fundos de
Curto Prazo, que deverão aplicar seus recursos exclusivamente em títulos públicos federais ou
privados pré-fixados ou indexados à taxa SELIC ou a outra taxa de juros, ou títulos indexados a
índices de preços, com prazo máximo a decorrer de 375 (trezentos e setenta e cinco) dias, e prazo
médio da carteira do fundo inferior a 60 (sessenta) dias, sendo permitida a utilização de derivativos
somente para proteção da carteira e a realização de operações compromissadas lastreadas em
títulos públicos federais; (ii) Fundos Referenciados, que deverão identificar em sua denominação o
seu indicador de desempenho, em função da estrutura dos ativos financeiros integrantes das
respectivas carteiras detalhadas no art. 94 da ICVM 409; (iii) Fundos de Renda Fixa, deverão ter
como principal fator de risco de sua carteira a variação da taxa de juros doméstica ou de índice de
preços, ou ambos; (iv) Fundos Cambiais, deverão ter como principal fator de risco de sua carteira
a variação de preços de moeda estrangeira, ou a variação do cupom cambial; (v) Fundos de
Ações, deverão ter como principal fator de risco a variação de preços de ações admitidas à
negociação no mercado à vista de bolsa de valores ou entidade do mercado de balcão
organizado, respeitando o disposto no art. 95-B da ICVM 409; e (vi) Fundos de Dívida Externa,
que deverão aplicar, no mínimo, 80% (oitenta por cento) de seu patrimônio líquido em títulos
representativos da dívida externa de responsabilidade da União, sendo permitida a aplicação de
até 20% (vinte por cento) do patrimônio líquido em outros títulos de crédito transacionados no
mercado internacional; (vii) Fundos Multimercados que devem possuir políticas de investimento
que envolvam vários fatores de risco, sem o compromisso de concentração em nenhum fator em
especial ou em fatores diferentes das demais classes previstas no art. 92, as disposições gerais
da ICVM 409 aplicam-se, também aos demais fundos naquilo que não contrariar às normas
específicas, nos termos do art. 119-A:
Art. 119-A. Esta Instrução aplica-se a todo e qualquer fundo de investimento registrado junto à
CVM, no que não contrariar as disposições das normas específicas aplicáveis a estes fundos.
40
44
Art. 57. A contratação de terceiros devidamente habilitados ou autorizados para a prestação dos
serviços de administração, conforme mencionado no art. 56, é faculdade do fundo, sendo
obrigatória a contratação dos serviços de auditoria independente (art. 84) e, quando não estiver o
administrador devidamente autorizado ou credenciado para a sua prestação, os serviços previstos
nos incisos III, IV, V e VI.
§1º Compete ao administrador, na qualidade de representante do fundo, efetuar as
contratações dos prestadores de serviços, mediante prévia e criteriosa análise e seleção do
contratado, devendo, ainda, figurar no contrato como interveniente anuente”. (grifou-se)
Art. 58. O administrador, observadas as limitações legais e as previstas nesta Instrução, tem
poderes para praticar todos os atos necessários ao funcionamento do fundo de investimento,
sendo responsável pela constituição do fundo e pela prestação de informações à CVM, na forma
desta Instrução e quando solicitada.
42
45
Na lição de Ascarelli (1947. p. 163):
“Los administradores tienem um doble carácter: los mismos ponen a disposición de la sociedad la
propia capacidad administrativa, y representan a la sociedad; esto es, dicho con otras palabras,
manifiestan a los terceros la voluntad social expresada em los acuerdos de las asambleas y
forman y manjifiestan la voluntad de la sociedad em el ámbito discrecional de administración
ordinária y extraordinaria dejado a ellos por el estatuto, dado el objeto social, y por los acuerdos de
la asemblea”.
43
recursos sem personalidade jurídica; (ii) no entanto, esta mesma legislação confere
aos fundos de investimento a titularidade de diversos direitos, incluindo o direito de
propriedade sobre o patrimônio constituído a partir dos recursos aportados pelos
quotistas; (iii) no regime exposto, aos quotistas apenas é conferido o direito sobre a
quota, valor mobiliário emitido pelo fundo de investimento que possui determinado
valor pecuniário; e, por fim, que (iv) apesar de proprietário do patrimônio, ao fundo é
vedada a sua administração direta, devendo ela ser realizada por terceira pessoa,
mediante um contrato de prestação de serviços.
45
3 O CONDOMÍNIO
Considerando-se que este estudo busca perquirir a real natureza jurídica dos
fundos de investimento, e sendo eles conceituados na legislação brasileira como
condomínios de recursos, faz-se necessária a análise deste instituto jurídico.
Se “situação jurídica de concorrência de direitos iguais na mesma coisa tem o
nome genérico de comunhão” (GOMES, 1969, p. 263), a concorrência de direitos de
propriedade, espécie de comunhão, dá-se o nome de condomínio ou copropriedade.
Assim, a relação existente entre comunhão e condomínio é de gênero e espécie, já
que enquanto a primeira conceitua a situação ampla em que o sujeito de direito é
constituído por várias pessoas, o condomínio se caracteriza quando a comunhão
tem por objeto o exclusivo direito de propriedade (TATAY, p. 15).
Clóvis Bevilaqua (1941, p. 127) define juridicamente a propriedade “como o
poder assegurado pelo grupo social à utilização dos bens da vida physica e moral”.
Além do poder conferido ao seu titular sobre determinada coisa, proprietas, o direito
de propriedade também configura uma relação de sujeição desta coisa ao seu titular,
dominium. Segundo José Tavares (1922, p. 605), “o verdadeiro conceito do direito
de propriedade é o resultante dos três elementos: a) o poder de dispor duma cousa;
b) a pertença da cousa ao titular do poder, isto é, a exclusão dos poderes de
terceiro; c) o fim jurídico ou lícito do exercício do poder”.
O Código Civil Brasileiro não conceitua abstratamente o direito de
propriedade, mas opta pelo critério concreto mais ou menos descritivo de seu
conteúdo. Assim, esclarece que o direito de propriedade garante ao seu titular “a
faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem
quer que injustamente a possua ou detenha” (art. 1.228), em termos imortalizados
da doutrina romanista clássica ius utendi, ius fruendi e ius disponendi (TAVARES,
1922, p. 606).
Ao declarar os direitos garantidos ao proprietário, o Código Civil destaca o
poder exclusivo conferido ao sujeito sobre a coisa que lhe pertence (ESPÍNOLA,
1956, p. 127)47. Segundo Gomes (1969, p. 108), “o aspecto pessoal do direto de
propriedade revela-se no jus prohibendi, que consiste no poder de proibir que
47
Apesar de reconhecer a sua existência, não se pretende aqui trazer à baila a discussão acerca
das limitações ao direito de propriedade, em especial a sua função social, já que a limitação à
exclusividade do domínio trazida pelo condomínio não perpassa este debate.
46
48
Bessone (1988, p. 46-49) classifica a propriedade como um direito (i) geral, pois o proprietário
pode tudo sobre a coisa; (ii) coletivo, pois abrange uma série enorme de direitos sobre a coisa; (iii)
unitário, pois estes vários direitos se fundem no direito de propriedade plena; (iv) perpétuo, já que
não se extingue pelo não-uso; (v) absoluto, pois oponível a todos e; (v) exclusivo, conforme
conceituado acima.
49
Nas palavras de Barassi (1951, p. 44):
Dunque niente sdoppiamento, ma solo limitazione; non è possibile che due persone com diverse
facoltà (ordinariamente spettanti ad un solo proprietario ) siano tutte e due proprietari sulla
medesinma cosa. In fondo, questo è vero anche per i pochi casi cosidetto domínio eminente o
direto, e domínio utile sopravvissuti nel códice austriaco.
50
Sobre o conceito de coisa indivisa Pontes de Miranda (1955, p.48 ) copiando o art. 52 do Código
Civil de 1916 esclarece que “coisas indivisas são as que se podem partir em porções reais e
distintas, formando todo perfeito”.
51
Em lição sobre o direito português, mas que também é válida para o caso tupiniquim, ASCENSÃO
saliente que “toda a estrutura fundamental do nosso sistema do direito das coisas é herança
romana. O sistema germânico, muito mais complexo, só tem entre nós escassas recepções
pontuais. Nomeadamente, a clareza que ao sistema é dado por uma noção central muito clara de
propriedade continua a ser – mesmo que sujeita a crítica e rejeitada nalgumas das suas
implicações – um dos méritos do sistema (1993, 135)”
52
Nesse sentido, esclarece Bonfante, citado por Tatay (1933, p.35), que “es problabe que la
propiedad plúrima integral nos represente la construción originária del condomínio en una época,
si no prehistórica, ciertamente anterior a la jurispridencia clássica”.
53
No original:
“la institución mas trabajada de toda la teoria de los derechos reales, tanto em su régimen positivo
como en su concepto”.
47
54
Conforme relata Tatay (1933, p. 33), o termo communio que aparece em diversos textos tem
significado genérico e indicada comunhão de quaisquer direitos, inclusive o de propriedade. A
terminologia usada para determinar a quota e o sujeito de direito do condomínio também são
imprecisos. A quota ora é chamada de pars rei, pars dominii e, mais precisamente, pars pro
indiviso e os titulares do direito de propriedade são chamados de domini e socii, casos tinham a
intenção de expressar a relação sobre a coisa indivisa ou entre os condôminos entre si.
55
Tatay (1933), por exemplo, adota a seguinte divisão das Teorias acerca do condomínio: (a) Direito
Romano, em que estão englobadas (i) a Teoria da Propriedade Plúrima Integral; (ii) a Teoria da
Propriedade Plúrima Parcial; (iii) e a Teoria Negativa da Propriedade; e (b) as Teorias do Direito
Moderno, que se subdivide nas opiniões de (i) Bonelli; (ii)Luzzatto; (iii) Carneluuti; e (iv) Ferrara.
48
56
No original: “ la propiedad, durante el tiempo de la comunidad, deja de existir, presentándose em
uma situación interina que dura hasta que se produce el momento de la división”
57
No original: “sua propias palabras, comunidad acéfala, la propiedad de las cosas está em
suspenso”
49
o direito de propriedade não pode ser dividido nem de modo que todo
co-proprietário tenha a propriedade só em uma parte nem de modo
que as faculdades singulares da propriedade estejam divididas entre
cada um dos titulares, porque, então, nem todos juntos, nem cada
59
um deles teria a propriedade (TATAY, 1933, p. 46).
58
No original: “hipotéticamente, podría concebirse esta opinión em algún ordenamiento jurídico
especial, que admitiese la possibilidad de una cosa gravada com derechos especiales y
desprovista totalmente de propiedad”
59
No original: “este derecho de propriedad no puede ser dividido ni en modo que todo copropietario
tenga la propriedad solo para uma parte, ni en modo que las facultades singulares de la
propriedad están divididas entre cada uno de los titulares, porque entonces ni todos juntos ni cada
uno de ellos tendría la propiedad”
50
Além disso, Heredia Y Castaño (1954, p. 145) também combate este Teoria,
porque acredita que a necessidade de consenso entre os condôminos para que a
propriedade adquira um caráter dinâmico, verificando-se o exercício das faculdades
conferidas a seus titulares, é pouco prática e não aplicável à regulamentação do
60
No original: E lo stesso WINDSCHEID osservava nelle sue Pandette: che cosa è il valore? È
valore l’utilizzabilità della cosa o il giudizio circa la sua utilizabilità? Anche se si intende per valore
l’utilizzabilità della cosa, il diritto però attribuisce al titolare non già uma quota dell’utilizzabilità della
cosa, ma piuttosto cio Che in virtù della sua utilità puo essere perceptio delle cose.
51
61
Por condomínio germânico ou comunhão em mão comum, entende-se a situação na qual a coisa
pertence à uma coletividade e não a pessoas individualizadas. Enquanto os condôminos no
regime romano são reconhecidamente proprietários, ainda que seu direito de propriedade seja
limitado quantitativamente, os condôminos no regime germânico nada possuem, pois a coisa é da
coletividade, cabendo a ela os direitos de usar, gozar e dispor da coisa tida em condomínio
(BESSONE, 1988, p. 51)
52
62
No original:
“tutto l’esposto autorizza il principio che nella comproprietà la proprietà della cosa spetta alla
colletività dei partecipanti”.
53
64
No original: “en el primer caso, cada condómino ténia la propiedad integral de la cosa; en el
segundo, cada condómino tiene um derecho sobre toda la cosa (totius rei); pero estos derechos se
consideran como partes, como fracciones de um derecho único”
55
o contêm todas as faculdades que lhe são próprias, ou não é direito” (BESSONE,
1988, p. 53).
Nem a divisão ideal da coisa nem a do direito foi capaz de explicar
satisfatoriamente a existência do condomínio. Não se tem, conforme visto, um direito
de propriedade sobre parte ideal da coisa, nem mesmo uma parte ideal de um direito
de propriedade.
65
“Esta coexistencia se hace posible em la copropiedad, em virtud de la característica que ésta
presenta, como una relación de “igualdades que recíprocamente se limitan”, o, como décia
SCIALOJA, “uma relación de equilibrio” que possibilita aquella coexistencia de los vários derechos
cualitativamente iguales. De aqui, la importancia del concepto de cuota, que, incluso, dá nombre a
este tipo de comunidad. Y no es, por tanto, suscetiple de ser objeto de propiedad. La cuota es,
simplesmente, la proporción, medida o razón, em virtude de la cual se limitan y armonizan
recíprocamente, los distintos derechos de propiedad [...]”.
66
Aqui citados Ascensão, Pontes De Miranda, Clóvis Bevilaqua, Heredia Y Castaño, Ruggiero e
Barassi, além de Cáio Mário.
67
Apesar de reconhecer vários direitos de propriedade, esta formulação teórica tem estreito
relacionamento com a Teoria da Propriedade Única Integral, da qual se originou (HEREDIA Y
CASTAÑO, p. 143).
68
Hoje em dia, esta limitação tem sido ainda mais debatida haja vista o reconhecimento da função
social da propriedade, que também a limita.
57
e regular uma situação contraditória com o regime do direito de propriedade por ele
mesmo implantado. Ao tratar desta mesma contradição, Bessone (1988, p. 49)
afirma que a exclusividade da propriedade, compreendida sob o aspecto de que um
domínio sobre a coisa exclui qualquer outro domínio, somente poderia ser
contestada pela existência do condomínio.
Em tentativa de solucionar esta contradição, Barassi (1951, p.44) justifica a
existência do condomínio:
Também o faz Heredia Y Castaño (1954, p. 172) que defende que a Teoria
Plúrima Integral poderia conciliar este contrassenso, pois,
O problema existe quando, nas relações concretas do dia a dia, cada vez mais se
tem condomínios consolidados como situações permanentes no tempo
o condomínio cesse o mais cedo possível. Por isso é que se proíbe o pacto de indivisão ilimitado
no tempo e se declara imprescritível o direito à divisão” (BESSONE,1988, p. 55).
Para Beliváqua (1941, p. 255), “em regra, o condomínio é estado anormal da propriedade”.
“Em essência, o condomínio é transitório, tanto em razão de sua própria natureza oposta à
qualidade exclusiva como porque milenarmente tem sido fonte permanente de constantes litígios,
que o legislador quer reprimir e cercear, instituindo a regra da sua cessação por iniciativa de
qualquer consorte, a qualquer tempo” (PEREIRA, 1999, p. 76)
74
“Art. 1.314. Cada condômino pode usar da coisa conforme sua destinação, sobre ela exercer
todos os direitos compatíveis com a indivisão, reivindicá-la de terceiro, defender a sua posse e
alhear a respectiva parte ideal, ou gravá-la.
Parágrafo único. Nenhum dos condôminos pode alterar a destinação da coisa comum, nem dar
posse, uso ou gozo dela a estranhos, sem o consenso dos outros”.
60
Presente o condomínio por quotas, deve ele, portanto, reger-se pelo disposto
no Código Civil, que privilegia a divisão da coisa em detrimento do estado de
comunhão e estabelece regras gerais de convívio durante a existência do
condomínio.
61
4 A PESSOA JURÍDICA
75
Na lição de Eberle (2006, p. 28), “concebido o sujeito de direito como o ‘portador de direitos e
deveres em uma relação jurídica’; ‘um centro de decisão e de ação’, tem-se necessariamente um
conceito vazio, um invólucro sem conteúdo, que pode ser preenchido por qualquer ente que, a
convite do legislador, venha a ocupar a posição de destinatário das normas jurídica.
Basta, portanto, que o legislador aponte determinado ente como foco de uma relação jurídica
outorgando-lhe um direito que seja, para que ele possa galgar ao posto de sujeito de direito ou
mesmo deixando o limiar da mais completa irrelevância jurídica”.
76
Nas palavras de Monteiro (1989, p. 95) “já se disse algures tratar-se-ia [a pessoa jurídica] de tema
tormentoso, fascinante e sempre novo devido às suas múltiplas, variadas e modernas aplicações.
Cada dia que passa, novos e imprevistos horizontes se descortinam nesse proteiforme instituto
jurídico”.
62
Foi Savigny quem primeiro propôs uma solução para o dilema acerca do
conceito da pessoa jurídica. Conhecida como a Teoria da Ficção, defendeu que os
entes titulares de direitos deveriam ser denominados “pessoas jurídicas”, pois este é
o termo que melhor os qualifica porque “manifesta que esta não existe senão para
fins jurídicos das relações jurídicas78” (CASTRO Y BRAVO, 1964, p. 170). Para
Savigny, as pessoas jurídicas de direito privado tem uma condição artificial e
contingente, cuja vida depende da vontade de um ou muitos indivíduos,
necessitando de aprovação estatal para existirem, pois descansa sobre um interesse
público e permanente, sua existência se limita ao Direito. “Seria, a pessoa jurídica,
mero artifício criado pela vontade soberana da lei para possibilitar que certos grupos
seja titulares de direitos subjetivos” (ALVES, 1998, p. 33). É, assim, criação artificial
da lei, “pessoa puramente pensada, mas não realmente existente” (MONTEIRO,
1989, p. 98).
Ao tratar da teoria formulada por Savigny, Caio Mário (1999, p. 302)
esclarece:
77
Conforme explica De Castro Y Bravo (1984, p. 143), “las masas de bienes independientes y los
grupos de hombres considerados de modo unitario eran denominados com los calificativos
especiales de universitas y corpus. Se utilizan em muchos pasaje, y con estos dos calificativos las
fuentes se refieren a las figuras que después se consideran personas jurídicas. De las universitas
se dice que tiene SUS proprias deudas, de las que ella responde y no los miembros individuales.
La condición de corpus habere ténia por consecuencia, se indica, caracterpisticas semejantes a
las de la misma República, tener cosas comunes, un arca común y la facultad de actuar por su
próprio representante”.
78
No original: “porque manifesta que ésta no existe sino para fines jurídicos y que así aparece al
lado del hombre como sujeito de las relaciones jurídicas”.
64
larva de sujeito79”. “Se o fictício é o nada, como poderia o Direito fazer efetivamente
nascer um sujeito aí onde, de fato, inexiste qualquer sujeito?” (ALVES, 1998, p.33).
Por vislumbrar apenas no ser humano a aptidão para ser titular de direitos e,
consequentemente, não reconhecer a existência de um centro de imputações de
direitos e deveres, esta solução antropomórfica não é mais aceita modernamente80.
79
No original: “la sua insuficienza riposa non solo nella falsità della premesa, ma nella vuotezza di
contenuto, perchè la finzione non spiega niente ed um soggetto finto è uma larva di soggetto”.
80
Conforme relata Monteiro,(1989, p. 98) a Teoria da Ficção constitui a Teoria tradicional, mas “hoje,
encontra-se em franco descrédito”.
81
No original: “su alma está em la voluntad común, su cuerpo em el organismo asociativo”
82
Questa dottrina Che há avuto um sucesso clamoroso, appoggiantesi su metafore brillanti di
sociologi e nebulosità astratte di filosofi non è che il fruto d’una immaginazione fantastica. Il
concetto d’organismo sociale come d’un super-organismo composto de brani di personalità umane,
che há una propria vita corporea spirituale non regge ad una seria critica: è uma concezione
mistica e transcendentale”. (FERRARA, 1985, p. 603).
66
83
Assim leciona Brunetti (1960, p. 334):“Pero el concepto de órgano está ligado al de personalidad.
Um ente creado por la ley no puede actuar si no es por medio de personas físicas; de ahí el
problema de si estas personas son representantes o la misma persona agente.
La Idea de la representación em sentido técnico se há tenido que dejar aparte oir la consideración
de que aquí falta la relación entre dos sujetos: el representante e el representado. Entre el sujeito
y el órgano hay uma relación funcional que se concreta em el cargo, es decir, em el campo de
actividad que proporciona la esfera de sus naturales atribuiciones.
[...]
La teoria orgánica encuentra em la sociedad por acciones el más fértil campo de aplicación. El
órgano es complejo, componiendose de distintos pero interdependientes grupos de personas
físicas, cada umo com competencia circunscrita, por cuanto ni la asamblea de accionistas, ni el
Consejo de Administración, ni el Colegio de los síndicos, separadamente considerados, son la
sociedad, cuando em su conjunto concurren a formarla, por el caráter complementario de sus
repectivas funciones”.
84
Também defendem a Teoria da Realidade Técnica Michoud, Geny e Saleilles, confome enumera
Gomes (2000, p. 187).
67
85
Ressalte-se a explicação de Gomes (2000, p. 188):
“Dúvida não pode haver de que o agrupamento dos seres humanos para a realização de um fim
comum, reunindo esforços e capitais, é imperativo da própria organização social [...].
Consequentemente, esse fato, que a sociedade gera, não é uma abstração, mas, sim, evidente
realidade. O Direito apercebe-se de sua existência, e, por processo técnico, possibilita a atividade
social dos que se agrupam para exercê-la. Esse processo técnico é a personificação. Consiste,
precisamente, em atribuir personalidade [que, ressalta-se, é a aptidão para adquirir direitos e
contrair obrigações] ao grupo, para que possa exercer a atividade jurídica como uma unidade, tal
como se fosse uma pessoa natural”.
86
Note-se que a personalidade não é criação do Direito em si, já que “o Direito cria deveres e
direitos que têm por conteúdo a conduta humana, mas não cria pessoas. Assim como não é lícito
reconhecer à ciência jurídica uma função própria do direito, assim também se não pode
reconhecer ao Direito função própria da ciência jurídica” (KELSEN, 1995, p. 211-2).
68
87
Note-se que Kelsen não partilha a Teoria da Realidade Técnica, mas sua concepção acerca da
pessoa jurídica inspirou esta Teoria. Sobre a opinião de Kelsen, Ascensão (2000, p. 230)
esclarece que “Na prossecução desta via encontramos as teorias normativistas. Toda pessoa
seria apenas um centro de imputação de regras jurídicas, diz KELSEN. Mas isto é tautológico. Não
está em causa que haja normas que refiram pessoas, quase toda as referem; mas omite-se
qualquer esclarecimento da realidade pessoa. Além disso, reduz-se a pessoa a norma, quando a
pessoa é ente valorado, não é norma, ela própria”
88
No original:
Le persone giuridiche risultano da due elementi, uno materiale, l’altro formale, cioè l’esistenza di
um substrato e la concessione di personalità. La contituzione si svolge quindi in due fasi distinte, in
un proceso di formazione dell’ente sociale, sia associativo od istituzionale, ed in um secondo
stadio che sugella giuridicamente l’ente formato e lo accoglie nel campo del diritto. La persona
giuridica anzi a rigore non nasce che nella seconda fase, com l’intervento del diritto obbiettivo, ma
poiché questo non cadê nel vuoto, presupone già la formazione d’un substrato.
89
Aqui, vale transcrever advertência realizada por Caio Mário (1999, p. 310):
“Atentamos, entretanto, em que, encarando a natureza jurídica da pessoa jurídica como realidade
técnica, aceitamo-la e à sua personalidade sem qualquer artifício. E nem se poderá objetar que
esta personalidade e capacidade são fictícias em razão de provirem da lei, porque ainda neste
passo é de salientar-se que a própria personalidade jurídica do homem é uma criação do direito e
não da natureza, reconhecida quando a ordem legal a concede, e negada quando (escravos) o
ordenamento legal o recusa”
69
90
Derzi (1998, p. 639), esclarece que “LARENZ até a segunda edição de sua obra, Methodenlehre
der Rechtswissenschaft, da qual há tradução para o português, admitia os tipos fechados. A partir
da terceira edição, refez o seu ponto de vista, aliás mantido na quarta, de 1979, afirmando que os
tipos, por definição , são sempre abertos. No entanto, como nova metodologia jurídica, em sentido
próprio, os tipos são abertos, necessariamente abertos, com as características que apontamos.
Quando o Direito "fecha " o tipo, o que se dá é a sua cristalização em um conceito de classe.
Neste contexto, a expressão "tipo fechado" será uma contradição e uma impropriedade”.
72
De fato, se assim não for analisado o tema, estar-se-ia afirmando que o “ser
pessoa” não passa de uma questão terminológica, decorrente da simples indicação,
pelo legislador, de que determinado ser particular seria pessoa jurídica. Não é esta,
entretanto, a posição adotada pela Teoria da Realidade Técnica. Conforme
demonstrado acima, ao Estado cabe apenas o reconhecimento da personalidade de
determinadas situações concretas. A indicação de determinado ente como pessoa
jurídica é precedida pela verificação de um centro de imputações jurídicas, de um
mínimo de organização que caracteriza a sua relevância jurídica. Conforme elucida
Eberle (2006, p. 52-53): “A realidade jurídica da pessoa é vislumbrável muito mais
pela atuação de determinados seres no mundo jurídico, como autênticos
destinatários e, quiçá, também criadores das normas jurídicas de Direito, do que por
uma certa legenda”.
O Princípio da Tipicidade a ser aplicado para concessão da personalidade
pelo sistema jurídico não implica, portanto, na exposição taxativa das pessoas
jurídicas. Assim, é possível entender que não só aos entes numerados nos artigos
2º, 41 e 44 do Código Civil é conferida a personalidade jurídica (EBERLE, 2006, p.
87), ou seja, o reconhecimento do atributo personalidade não se restringe a um
sistema numerus clasus, sendo possível reconhecê-lo em outros entes senão os
enumerados nos já citados artigos do Código Civil.
Se não é por meio de um rol taxativo, como se dá o reconhecimento, pela lei,
de determinada pessoa jurídica? Para se responder a esta pergunta, é necessário
recordar que a cada direito subjetivo vincula-se um sujeito de direito, cuja posição
somente pode ser ocupada por uma pessoa (PINTO, 2005, p. 193). Em outras
palavras, apenas a pessoa, física ou jurídica, é convidada a assumir a posição de
sujeito de direito na relação jurídica. Nesse sentido, a atribuição pelo legislador de
titularidade de direitos a determinado ente indicaria o seu pré-reconhecimento como
pessoa jurídica. Estaria aí conferida a personalidade jurídica.
Assim, para que reste clara a atribuição de personalidade jurídica a um
determinado ente é necessário perquirir se a “a situação jurídica lhes confere o
73
status de pessoa” (EBERLE, 2006, p. 53). Ascensão (2000, p. 232) também conclui
nesta maneira:
91
Em outras palavras:
“Fala-se, pois, de personalidade para exprimir a qualidade ou condição jurídica do ente em causa
– ente que pode ter ou não ter personalidade (‘tertium non datur’). Fala-se de capacidade jurídica
para exprimir a aptidão para ser titular de um círculo, com mais ou menos restrições, de relações
jurídicas – pode por isso ter-se uma medida maior ou menor de capacidade, segundo certas
condições ou situações, sendo-se sempre pessoa, seja qual for a medida da capacidade” (PINTO,
2000, p. 194)
Ou ainda:
“Afastado, pois, esse elemento intruso do conceito, a personalidade revele-se em sua
genuinidade, de forma singela e concisa, como ‘a potencialidade de adquirir direitos ou de contrair
obrigações’. A capacidade, a seu turno, gozando assim, de autonomia conceitual, passa a
consubstanciar meramente a ‘medida da personalidade em concreto” (EBERLE, 2006, p. 50).
92
Conforme prevê o art. 52 do Código Civil Brasileiro.
75
93
Tatay (1933, p. 83) acredita não ser mais sustentável a figura do condomínio romano por quotas
na atualidade. Entende que todo condomínio é organizado o suficiente para aproximar-se da figura
da sociedade, que, em última análise, não passaria de uma comunhão personalidade. Em
conclusão:
“porque, a decir verdad, cuando se habla de que existen muchas clases de sociedade, sería más
exacto decir que existen muchas clases de comunidades; que es infinitamente mayor la diferencia
que existe entre uma sociedad anónima y uma sociedad civil de la entre esta última y la más
rudimentar comunidad de bienes. La comunidad simple es la célula, si se quiere, de toda
sociedad; toda sociedad no és más que una comunidad más compleja o sencillamente organizada,
más o menos desarollada; pero donde hay organización hay unidad jurídica de fin, y pues que el
Derecho moderno va dotando de organización a la comunidad simple, forzoso es reconecer su
personalidade”.
Vale destacar que a conclusão de Tatay não se afasta completamente daquela que se verá neste
estudo. A nosso ver, todavia, apenas os condomínios com grande organização, a quem a própria
lei confere status de sujeito de direito, merecem o reconhecimento de sua personalidade. Os
demais, portanto, permanecem como condomínio por quotas.
94
Nesse sentido, concorda-se com a conclusão de Gomes (1999, p. 263) de que “não há indivisão
quando o titular de um patrimônio é uma pessoa jurídica. As coisas que o integram são
propriedade de um sujeito singular, por isso que a pessoa jurídica, embora constituída por
diversas pessoas naturais, têm personalidade jurídica distinta.”
77
95
Conforme adverte J. Lamartine Corrêa (1979, p. 216):
“Grande parte da discussão sobre a hipotética personalidade jurídica do condomínio por unidades
autônomas foi prejudicada por deficiente colocação do problema colocado em termos de
titularidade do direito de propriedade, sob forma de teoria da personalidade do condomínio como
titular verdadeiro dos direitos reais supostamente pertencentes aos condôminos. Nesse sentido, a
refutação de Serpa Lopes, que salienta que ‘essa personalidade jurídica teria como conseqüência
o desparecimento do direito de propriedade de cada condômino”
96
Conforme dispõe os artigos 58, I e II, bem como o art. 63 da Lei 4.591, de 16 de dezembro de
1964
78
97
Nesse sentido, seguem algumas decisões:
MEDIDA CAUTELAR. RECURSO ESPECIAL. PLAUSIBILIDADE DO DIREITO ALEGADO.
URGÊNCIA. VIABILIDADE DO APELO. JUÍZO DE COGNIÇÃO SUMÁRIA. LIMINAR DEFERIDA
1. Em situações excepcionais, o Superior Tribunal de Justiça admite a concessão de efeito
suspensivo a recurso especial, desde que efetivamente demonstradas: (a) a plausibilidade do
direito alegado; (b) a urgência da prestação jurisdicional; e (c) a viabilidade do apelo nesta Corte.
2. Considera-se plausível o direito alegado quando as Turmas que integram a eg. Primeira Seção
do STJ já se pronunciaram no mesmo sentido, no caso, da qualificação do condomínio edilício
como pessoa jurídica para fins de pagamento de contribuição previdenciária.
3. Reputa-se urgente a prestação jurisdicional quando demonstrada a proximidade da data
aprazada para se realizar o leilão de bem penhorado nos autos de execução fiscal. 4. Medida
liminar deferida. (STJ, MC 15.422/SC, Rel. Ministro Castro Meira, Segunda Turma, julgado em
14/04/2009, DJe 04/05/2009).
subjetividade. Não havendo uma figura de transição entre objeto e sujeito de direito
(como no caso Alemão) este regime adota uma posição minimalista para reconhecer
a personalidade, não adotando o rigor ontológico acima indicado (CORRÊA, 1979, p.
201). Tem-se, portanto, a coexistência de dois tipos de pessoas jurídicas: as
perfeitas, assim entendidas aquelas em que a sua existência é hermeticamente
separada da de seus criadores100 e as imperfeitas, em que a existência de seus
criadores se mistura à sua própria, por meio, por exemplo, da inexistência de
limitação de responsabilidade entre eles (DE CASTRO Y BRAVO, 1984).
Nos sistemas como o brasileiro, em que a existência de titularidade de direitos
é suficiente para indicar determinado ente coletivo como pessoa jurídica, a indicação
de uma sociedade, que pressupõe determinado nível organizacional, sem
personalidade jurídica, é contraditória. Lecionando sobre a situação italiana, que
também é a brasileira, Ferrara (apud BRUNETTI, 1960, p. 7) já apontava a
inexistência de argumentação jurídica para distanciar as sociedades com e sem
personalidade jurídica:
100
“La figura de la persona jurídica perfecta, se construye tomándola como pareja de la persona
humana. Se le ha concebido teniendo propia y separada existência, y com próprio y separado
patrimonio; uma y outro desligadas de modo tajante y total de la vida de sus miembros y órganos.
Estabeleciendo una completa incomunicación entre los patrimonios de cada uno de éstos y el
patrimonio de la persona jurídica. [...] esta construcción dogmática de la persona jurídica, acuñada
por la doctrina alemana, es la que más conviene a la nueva sociedad industrial [...]” (DE CASTRO
Y BRAVO, 1991, p. 268)
101
No original: “Incluso las asociaciones no reconecidas presentan la misma estructura que las
corporaciones: son colectividades de individuos mutables que se mantienen las mismas no
obstante el cambio de sus componentes; surgen por um acto colectivo voluntario y se dan sus
propios estatutos; hay uma organización que distribuye las funciones de la atividad social; uma
dirección, um consejo de administración, la asamblea geral e los asociados, vigência del principio
de las decisiones por mayoría, existência potestad de la asociación sobre cada uno de los
miembros, que lhega incluso hasta la forma disciplinaria; em suma, em la estructura íntima (aun
cuando pueda ser diversa la estimación jurídica) no se observa diferencia entre la constitución de
una asociación reconocida o con reconocimento”
83
102
Entendemos que a sociedade em conta de participação não se vincula a este estudo, pois é
reconhecido pela doutrina o seu caráter de contrato e não de sociedade em sua essência.
103
A título de exemplo vale destacar o disposto no art. 990 do Código Civil, que faz menção às
obrigações sociais, o que permite concluir que a sociedade poderá contrair obrigações em nome
próprio.
84
104
Conforme classificação de J. Lamartine Corrêa (1979, p. 201), o regime jurídico da pessoa jurídica
no Brasil é monista, haja vista a “ausência de figura análoga à Gesamthand no elenco de
institutos: há pessoas jurídicas e o que não é pessoa fica atirado no limbo da não subjetividade” e
minimalista, pois “as sociedades de pessoas são pessoas jurídicas, havendo portanto, limiar
mínimo de requisitos ontológicos para que se possa falar em pessoa jurídica.
87
6 CONCLUSÃO
Essa estrutura sofreu pequenas mudanças após a sua primeira aparição, mas
ainda hoje tem características semelhantes. Forma-se um fundo, a quem a lei
conceitua como condomínio de recursos despersonalizado e, no entanto, reconhece
a ele a titularidade do patrimônio constituído pelos recursos aportados pelos
investidores. A estes últimos é conferido apenas um direito sobre a quota ideal
representativa do patrimônio do Fundo que, por sua vez, é administrado por terceiro
com quem é firmado um contrato atípico de prestação de serviços de administração
e gestão.
Estabelecidos os conceitos básicos acerca dos fundos de investimento,
passou-se ao estudo da figura jurídica do condomínio, cuja existência é em si uma
contradição no caráter de exclusividade do direito de propriedade. Restou
estabelecido que o condomínio tem caráter transitório e se configura pela
concorrência de direitos de propriedade qualitativamente iguais, mas
quantitativamente diferentes, sobre a mesma coisa indivisa.
Ainda em busca dos conceitos importantes para a conclusão desta
monografia, procurou-se esclarecer a natureza jurídica da pessoa jurídica.
Demonstrou-se como a personalidade reproduz uma técnica jurídica e é concedida
àqueles entes merecedores da aptidão para contrair direitos e obrigações. Além das
pessoas naturais, a lei também reconhece personalidade a determinados entes a
quem são atribuídas posições jurídicas subjetivas. Por caber à lei apenas o
reconhecimento da personalidade destes entes, concluiu-se ser impossível
considerar que o rol previsto no art. 44 do Código Civil fosse um enunciado taxativo
acerca dos entes que poderiam ser personalizados.
Assim, restou claro que a lei adotou o Princípio da Tipicidade para
personificar todos os entes que, de alguma forma, tomam a posição subjetiva na
relação jurídica. Assim é com a pessoa humana, com as pessoas jurídicas arroladas
no art. 44 do Código Civil, mas também com relação à outros entes cuja situação
jurídica se encontra no limbo entre a objetividade e a subjetividade, como no caso do
condomínio edilício e da sociedade irregular.
Reconhecido o substrato jurídico da personalidade, passou-se a diferenciação
entre as diversas pessoas. Apesar de serem idênticas as personalidades
reconhecidas na lei, foi possível perceber do estudo realizado que as pessoas se
distinguem pela quantidade de direitos que a elas é permitido o exercício. A
capacidade, assim, mede a personalidade e a diferencia. Considerando-se como
91
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