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O FEMININO: UM CONSTITUIR-SE PELA FALTA

Ana Maria Cardoso CASTRO

“É no erro que melhor se confessa o verdadeiro.” Serge André

Essa monografia foi escrita para o final do 1º ano do Curso de Psicanálise para
Psicoterapeutas do GEP Campinas, no qual estudamos os principais conceitos da obra
de Freud. Gostaria de salientar a dificuldade relativa a essa primeira aproximação do
pensamento freudiano. Pra mim, se trata de algo que se sabe sem saber, algo entre o
familiar e o estrangeiro, como o próprio conceito de inconsciente. Freud nos coloca no
desconfortável lugar das incertezas, nos afirmando que não há afirmações possíveis na
esfera do inconsciente. E que esse mesmo inconsciente nos conduz e determina nossas
ações.
Para ampliar essa questão, gostaria de reproduzir uma afirmação de Lacan: o
sujeito da psicanálise é histérico na medida em que a análise leva o sujeito a se
questionar em relação a sua identidade e seu desejo colocando as seguintes perguntas
em pauta: ‘quem sou eu?’ e ‘o que desejo?‘(André, 1999).
Meu interesse por esse universo me levou a querer pesquisar o tema
feminilidade. Este remete a minha condição feminina, e me faz olhar para minha clínica
de modo a contemplar as diferenças que vão além dos gêneros. Acredito que o conceito
de feminilidade abarca algo que vai além do feminino; a questão da castração
representando a impotência e a morte, o não simbolizado. A castração seria o modo
como o ser humano tenta dizer a falta.
A feminilidade é um conceito que traz consigo a marca da castração, fazendo da
mulher a figura maior desse vazio. Talvez isso explique as razões pelas quais o corpo
feminino é por vezes é cultuado como fetiche e por outro lado, temido, sinônimo de
perigo e pecado. Vemos essas manifestações acontecerem de diversas formas na cultura.
A aproximação com a psicanálise nos faz desacreditar numa verdade absoluta, e
nos aproximar do saber afetado por uma falha central. Lacan nos diz que essa falha não
é da ordem da imperfeição, mas a chave para a estrutura do saber. (André, 2003)
As descobertas de Freud no campo da feminilidade são fundamentais e servem
de referência para outros autores. No entanto, Freud sempre hesitou em face do
problema da feminilidade, salientando assim o caráter inacabado das suas explorações
sobre tema. Em “Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade”, de 1905, Freud escreveu
que a vida sexual dos homens :

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“...somente, se tornou acessível à pesquisa. A das mulheres, ainda se encontra
mergulhada em impenetrável obscuridade” (Freud 1905).

Mais tarde, num texto sobre a análise leiga, Freud (1923-25, p. 212) afirma que a
vida sexual das mulheres constitui um “continente obscuro” e que não deu por
encerrada a questão sobre a sexualidade feminina. Na Conferência XXXIII sobre
feminilidade, ressalta que:

“...através da história, as pessoas têm quebrado a cabeça com o enigma da natureza da


feminilidade” (Freud, 1933).

É apresentado para esse autor um problema: como este ser bissexual que é
menina se torna uma mulher?
Os autores atuais também se debruçaram sobre o tema e sem chegar conclusões
fechadas, lançaram questões interessantes. Cito-as:
“Ela (a mulher) é um tornar-se, um vir a ser, algo que tem que ser construído sobre
uma realidade anatômica incontornável, que é da ordem de uma ausência”... (d) a essência do
feminino, (que) passa inevitavelmente por algo abissal, tangenciando a morte. ”(Magdaleno,
2002)

Lacan, talvez tenha sido o autor que fez a afirmação mais polêmica sobre o
tema: “a mulher não existe.” Nessa frase está implícita a questão de que a mulher, como
generalização não existe. Não existe uma “fixidez de desejo” imposta a todas as
mulheres. O que existem são mulheres, cada uma com uma individualidade. Por isso
Serge André modifica a pergunta de Freud, “o que quer a mulher?”, artigo indefinido
que se refere a todas as mulheres para “o que quer uma mulher?”

Conceito de feminilidade da obra freudiana

“Não se nasce mulher, torna-se.” Simone de Beauvoir

Em “Três Ensaios Sobre a Sexualidade”, Freud lançou a primeira teoria sexual.


O monismo, como pode ser chamado, é a teoria que afirma que a criança de ambos os
sexos reconhece apenas um único órgão sexual, o órgão masculino. Nos meninos, o
pênis e seu correspondente na menina, o clitóris. Apontou ainda, nesse artigo, a
existência do complexo de castração nos dois sexos e da inveja do pênis pela menina.
Freud,(1908)

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As críticas a essa tese merecem nossa atenção. A teoria freudiana da sexualidade
fundou-se, sob o postulado de uma masculinidade originária — a sexualidade feminina
e masculina sendo constituída pelo operador fálico —, inserindo-se desse modo uma
hierarquia natural dos sexos. Os homens são aqueles que têm o falo, as mulheres as que
não têm. (Birman, 2001)
Se a mulher se constitui, nesse primeiro momento da obra, como alguém a quem
falta algo, qual seria as conseqüências para ela?
Lacan fala de uma falta de significante do sexo feminino, referindo-se à
“ignorância da vagina” citada por Freud. Vai mais além e formula que a vagina é
ignorada enquanto sexo feminino, mas enquanto falo escondido é bastante conhecido. O
que limita os buracos, ou furos, são as bordas das zonas erógenas. São estas áreas é que
são investidas libidinalmente.
Em “Organização genital infantil da libido”, 1923, Freud fez um adendo a teoria
exposta nos “Três Ensaios” e equiparou a masculinidade a sujeito, atividade e pênis e a
feminilidade objeto e passividade.

“A tese de 1908 dizia que só há um sexo, o pênis, sempre presente, mas não
necessariamente ‘saliente’ desenvolvido no menino e ‘em vias de desenvolvimento’ na menina.
Em 1923, a tese do sexo único é então modificada. Enquanto em 1908 o menino não constatava
absolutamente a falta, como se a percepção não funcionasse, em 1923 ele a constata (pois que a
nega e sente uma contradição), mas vai encobri-la, fazendo da falta um modo de existência do
falo. (...) O que significa que a falta do pênis, se reconhecida, é enquanto falo (a menos) e não
como sexo feminino. ”(André, 1982)
“A castração faz da ausência um resto de presença, ela é um embelezamento... A vagina
é conhecida como órgão, mas não é reconhecido no nível do significante como sexo feminino.”
(André, 1982)

A vagina é a presença de uma ausência. Ela precisa ser amenizada para que não
se veja ali o horror da castração que essa visão suscita.
Já no artigo, “A dissolução do complexo de Édipo” de 1924, Freud se propôs a
estudar as modalidades do complexo de Édipo nos dois sexos, mostrando o percurso
diferente do desenvolvimento da sexualidade por meninos e meninas.
Para o menino, a resolução do complexo de Édipo se realizará sob a ameaça da
castração. Na menina, o complexo de castração a faz se voltar para o pai para tentar
substituir a falta do pênis: o desejo de ter um filho do pai, como substituto do pênis é,
portanto, o que promove o Édipo feminino.

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“A mulher quer ter um pênis, e somente aceitando a impossibilidade desse anseio pode
deslizar para o desejo de ter um filho, que preencha substitutivamente o lugar do pênis, para
sempre perdido.” (Magdaleno, 2001)

Para Freud, o superego feminino seria menos truculento que o masculino porque
ela não viveria a ameaça da castração. Enquanto no menino o superego se forma pela
introjeção da autoridade paterna, na menina são fatores externos que o determinam,
como a educação, a intimidação e o temor de perder o amor dos pais.
Escreve em 1925 “Algumas conseqüências psíquicas da diferença anatômica
entre os sexos”. Neste artigo, Freud disse que a decepção gerada pela ausência do pênis
na menina, leva a afastar-se de sua mãe. Sente-se diminuída e humilhada e por isso
interrompe a masturbação. Na obra freudiana, a atividade masturbatória é ligada à
virilidade. Freud concluiu que o reconhecimento da diferença sexual obriga a menina a
renunciar à masculinidade e a dirigir-se à feminilidade.
Em 1933, Freud escreveu o artigo “Feminilidade”, dentro de suas Conferências
Introdutórias. Neste texto, Freud discorreu sobre as diferenças anatômicas do homem e
da mulher, atentando para o fato de que partes do aparelho sexual masculino aparecem
também na mulher de modo atrofiado e vice versa.
Freud esclareceu que a psicanálise não está em busca de descrever o que é a
mulher, mas sim descobrir como a mulher se forma e como se desenvolve desde
criança. Descreveu a menina como sendo menos agressiva, auto-suficiente e desafiadora
que os meninos, mostrando-se mais dependente pelo fato de sentir mais necessidade de
obter carinho.
Freud destacou que as meninas devem passar por duas tarefas que envolvem
grande energia psíquica. Fazer a mudança de zona erógena, do clitóris para a vagina; e
fazer a troca de objeto de amor sendo que este amor é transferido da mãe para o pai.
Com a descoberta de que é castrada e a partir das duas tarefas executadas pela
menina, surgirão três possibilidades. O primeiro seria a inibição sexual ou neurose –
baseado no recalcamento da sexualidade. Outro seria a modificação do caráter;
complexo de masculinidade, base da homossexualidade e finalmente a feminilidade –
alcançada no momento em que a mulher tem um filho homem. Desejo da menina de ter
um filho do pai, este filho será como um substituto do pênis que a mulher não possui.
No artigo “Sexualidade feminina”, Freud enfatizou a intensa e longa duração da
ligação pré-edipiana da menina com a mãe. Considerou que essa relação continha
elemento ativo.

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“O elemento ativo da relação da menina com a mãe, e a importância disso na
estruturação da feminilidade, supera em muito a explicação inicial de Freud, que se ancorava de
modo, poderíamos dizer, muito rígido ao rochedo incontornável da inveja do pênis.”
(Magdaleno, 2000)

Para Serge André, o tornar-se mulher é uma tarefa que não é dada pela situação
biológica. Ora, se não há sexo feminino, a feminilidade não pode ser concebida como
um ser, mas como um se tornar. No pensamento freudiano, a feminilidade parece pouco
natural. É na medida em que ela quer ter aquilo que falta a sua mãe que se torna mulher.
O tornar-se mulher aparece como um impasse, e Freud se resigna a fazer da inveja do
pênis o termo insuperável da análise de uma mulher. O destino da feminilidade em
Freud é problemático.
A questão que se coloca é saber se é possível esse ser faltoso, que é o ser
feminino pode fazer emergir a verdade de ser.
Fica claro que a mulher se constitui a partir de uma série de faltas, as quais ela
tem que lidar. A mais evidente ao observador é a falta do pênis. Depois percebemos
como apontou Lacan, a falta do significante do sexo feminino e por último a falta de
opção em relação à resolução do complexo de Édipo que exemplifico a seguir:

“O menino ao desviar a hostilidade para o pai, que efetivamente pode castrá-lo, tem
assim à sua disposição uma saída que a menina não dispõe. (...) Ela permanece enredada e
aprisionada em seus fantasmas em decorrência da falta do pênis enquanto articulador das
angústias, o que prolonga sua fase pré-edipiana por um período muito mais longo que aquele do
menino.” (Magdaleno)

Releituras a partir do sonho da injeção de Irma

“O novo não é necessariamente aquilo que não existe, mas o que nunca foi
pensado”. Giovannetti

Procurei contextualizar alguns conceitos sobre a feminidade a partir das


interpretações de Didieu Anzieu e Serge Andre sobre o sonho de injeção de Irma. Este
sonho está relatado na Interpretação dos Sonhos, publicado em 1899, com a data de
1900 na estação de Bellevue, estação de veraneio em Viena, onde costumava passar as
férias. Irma era uma condensação de duas pacientes: Emma Eckstein e Anna Lichtein.
Em uma carta endereçada a Fliess, datada de 12 de junho de 1900, identifica esse sonho
como responsável pela inauguração da Psicanálise. Sua análise foi considerada

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satisfatória, porém incompleta, dando, assim, abertura para que outros teóricos
expandissem seu significado. Para Freud esse evento marcou a descoberta do segredo
dos sonhos. Parece que algo foi revelado a Freud, e a partir daí, e novo momento foi
inaugurado.
Transcrevo o sonho conforme relatado por Freud:

“Um grande vestíbulo – numerosos convidados que recebemos – dentre eles, Irma, a
quem eu tomo logo à parte, como se fosse para responder a sua carta e censura-lhe por ela não
ter aceito ‘minha solução’. Eu digo a ela: ‘Se sente ainda dores, não é de fato senão por minha
culpa.’ Ela responde: ‘Se soubesses o que sinto de dores na garganta, estômago, abdome,
sinto-me amarrada.’ Assusto-me e a olho. Ela parece pálida e edemaciada. Penso ter omitido
algo, finalmente, de orgânico. Levo-a até a janela e examino sua garganta. Ela se mostra
recalcitrante como as mulheres que usam dentadura. Digo-me: ela não necessita de uma. Então
ela abre bem a boca e acho à direita uma grande mancha e, além disso, vejo formações
notáveis, crespas, que lembram visivelmente os cornetos do nariz e que apresentam grandes
escaras branco-acinzentadas. Chamo rapidamente o Dr. M., que repete o exame e o confirma…
Dr. M. parecia bem diferente de habitualmente, muito pálido e claudicando, e não tem barba no
queixo… Meu amigo Otto está presente, também, ao lado de Irma e meu amigo Leopold a
percute por cima do espartilho e diz: ‘Ela apresenta uma macicez embaixo, à esquerda’,
indicando uma porção de pele que está infiltrada, no ombro esquerdo (o que percebo como ele,
apesar da roupa). Dr. M. diz: ‘Não há dúvida, é uma infecção, mas isto não é nada; juntar-se á
uma disenteria, ainda e o veneno será eliminado’… Imediatamente, ficamos sabendo também
de onde vem a infecção. Meu amigo Otto tinha lhe aplicado, há pouco tempo, quando ela se
sentiu mal, uma injeção com uma preparação de Propyl, Propylen...ácido propiônico…
trimetilamina (da qual vejo a fórmula impressa em caracteres grossos diante de mim). Não se
aplicam tais injeções descuidadamente “… É provável, igualmente, que a seringa não estivesse
esterilizada” (Freud, 1900, p115)

Serge André e a primeira abertura

Serge André toma esse sonho como o primeiro contato de Freud com o tema
feminilidade.

“...pois ao olhar para a carne crua no fundo de sua garganta aberta, constitui o ponto de
partida para uma via de acesso para a feminilidade.” (André, 1987 pg. 46)

Ao olhar para a abertura da boca de Irma, simbolicamente Freud teria


vislumbrado a castração. A abertura a nível anatômico revela a imagem do inominável,
ilustrando o encontro enigmático com a sexualidade para a qual nenhuma representação
é adequada.
Onde Fliess só viu infecção, Freud viu uma condensação de significantes
referentes à natureza da mulher: a realidade do órgão genital feminino, a imagem da
mulher como figura da morte, e finalmente o contato com o não reconhecível, o não
representável, da feminilidade enquanto falta ou furo. Importante lembrar que esse
“furo” tem um grande poder de atração, porque ao preenchê-lo, tem-se a ilusão da

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completude. Portanto a mulher ficaria no lugar paradoxal do tudo e do nada. Lacan
compreende que nesse momento, ao olhar a garganta de Irma, ocorre uma terrível
descoberta, a da carne que nunca se vê o fundo das coisas, o avesso da face, do rosto, os
secretados, o abismo do órgão feminino de onde sai toda vida e também a imagem da
morte onde tudo vem terminar. “(André, 1987, pg. 60) É nesse sentido que Lacan lança
o aforisma que diz que “a mulher não existe”.
Não há outra solução para este problema, que não a palavra. Freud encontra-se
diante do impossível de saber e se dirige então à busca da palavra que mediaria essa
falta do significante. A proposta freudiana na época era a de que o sintoma neurótico
manifestava a presença de representações simbólicas recalcadas e que o caminho para a
cura seria o da verbalização, acreditando-se que assim o sintoma poderia ser eliminado.
A inauguração do inconsciente se dá no encontro com a sexualidade para a qual não há
uma representação suficiente. Inicialmente, o encontro do sujeito com a sexualidade, no
caso, a sexualidade feminina, é marcado apenas por uma ausência de representação.
No entanto, outra possibilidade seria a representando a própria vagina, que pode
ter não só a ideia de falta, furo, abismo; mas ao contrário pode significar uma abertura
para o infinito. (Magdaleno, 2001)
Na obra do Freud existem duas vertentes para responder a questão do feminino:
a do real, que é a do não reconhecível, do mutismo e da morte e o vertente da castração,
primado do falo. Esses dois vértices sempre existiram, mas o primeiro foi sendo
encoberto pelo segundo permanecendo mais conhecido na psicanálise. Com isso se
perdeu muito em aprofundar a significação do feminino, que vai muito além da
problemática fálica. Simplificou-se a questão da mulher a uma realidade anatômica.
(André, 1982)
Anzieu e a concepção da psicanálise

Didier Anzieu em seu livro "A Autoanálise de Freud e a Descoberta da


Psicanálise", chama atenção para o fato inusitado de que o sonho da injeção de Irma
ocorrer no dia 24 de junho de 1895, exatos 40 anos após a concepção de Freud. Anzieu
cogita que o pai da psicanálise atribuiria a esse sonho a criação de sua maior obra. Além
disso, superposto a esse registro, narcisicamente se coloca como regente do ato
inaugural de sua própria existência. Ele comanda a própria cena originária.
Os comentários de Freud em relação a isso são reveladores no sonho:

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“A unidade do sonho está na descrição e explicação da sexualidade. O ’hall’ com os
convidados, a ’garganta’ de Irma representam o órgão genital feminino. A boca ’abre-se bem’
permitindo a ’recepção’ ou ’concepção’, imagem de coito genital. Irma ’atada’, ’pálida’ e
‘edemaciada’ com suas ’dores no abdome’ que tem ’finalmente algo orgânico’ lembra,
manifestamente, um diagnóstico de gravidez.’’(Anzieu, 1989, p.45)

Irma, na realidade uma condensação de duas pacientes, Emma e Anna, se torna


o corpo feminino, a função materna, aquela que oferece a fertililidade se dispõe a ser
mãe. Objeto primeiro de identificação, Geia fecunda, nesse caso também o próprio
Freud. Não satisfeito com a inoculação do sêmen, ele próprio o recebe , concebendo
assim a psicanálise, como a si mesmo, tornando-se um ser que atinge o status de
divindade.
Ainda segundo Anzieu descreve o corpo humano e suas funções:

“Realiza uma espécie de inventário do corpo no qual configuram como tela de fundo os
cinco sentidos externos e a sensibilidade interna, como também referências à maioria das
grandes funções: respiração, circulação, excreção, reprodução, fonação, sistema nervoso e,
menos claramente, nutrição e onde se destacam os pontos de sensibilidade erógena ou dolorosa:
enunciados funções, pontos que pertencem tanto ao próprio corpo do sonhador como o corpo
que é objeto de seu desejo. Sigmund Freud torna-se, por este sonho, o fundador de uma
linhagem, o pai de todos os psicanalistas e o filho de suas obras. “Anzieu, 1989, p.54)

Cria o corpo da teoria, viva e funcionando. Seu desejo fica simbolicamente


satisfeito, de fato cria a psicanálise. Mais tarde ainda concebe uma mulher, Anna, que se
torna a única psicanalista de sua prole. Freud assim dá corpo a sua teoria, e faz com que
sua produção onírica ofereça ao mundo, por meio de seu conteúdo, a dimensão de
criação.
Palavras finais
Tentei nesse trabalho, retomar o percurso do pensamento de Freud relativo à
feminilidade, que foi sendo desenvolvido juntamente com a própria psicanálise, num
momento profícuo. Seu mérito foi colocar em primeiro plano o que estava obscuro, e
romper com a lógica da ciência da época.
Na história da psicanálise, a questão freudiana da primazia do falo na
estruturação da sexualidade suscitou controvérsias. Procurei reescrever essa questão sob
o ponto de vista de autores franceses, com ajuda da teoria lacaniana que olhou a mulher
não como um sujeito a quem falta o pênis, mas através da lógica da castração como
limite maior, beirando a impotência, a morte e o não simbolizado. Procurei ainda
mostrar uma visão onírica, e desejando que essa leitura possa render bons frutos.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ANZIEU, D. A auto-análise de Freud e a descoberta da Psicanálise . Porto


Alegre: Artes Médicas, 1989.

BIRMAN, J. Gramáticas do erotismo - Rio de Janeiro: Record, 2001.

FREUD, S. A interpretação dos sonhos [1900]. In:___. Edição standard


brasileira das obras psicológicas completas . Trad. de Jayme Salomão. Rio de Janeiro:
Imago, 1972. v. IV-V.

FREUD, S. Três ensaios sobre a sexualidade [1905]. In: ___. Edição standard
brasileira das obras psicológicas completas.Tradução de Jayme Salomão. Rio de
Janeiro: Imago, 1972. v. VII.

FREUD, S. Cinco lições de psicanálise [1910]. In:___. Edição standard


brasileira das obras psicológicas completas. Trad. de Jayme Salomão. Rio de Janeiro:
Imago, 1972. v. XI.

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brasileira das obras psicológicas completas. Trad. de Jayme Salomão. Rio de Janeiro:
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FREUD, S. A organização genital infantil: uma interpolação na teoria da


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Trad. de Jayme Salomão. Rio de Janeiro. Imago, 1972. v. XIX.

FREUD, S. A Dissolução do Complexo de Édipo [1924]. In:___. Edição


standard brasileira das obras psicológicas completas. Trad. de Jayme Salomão. Rio de
Janeiro: Imago, 1972. v. XIX.

FREUD, S. Algumas conseqüências psíquicas da diferença anatômica entre os


sexos [1925- 1931]. In: ___. Edição standard brasileira das obras psicológicas
completas.Trad. de Jayme Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 1972. v. XIX.

FREUD, S. Sexualidade feminina [1931]. In:___. Edição standard brasileira das


obras psicológicas completas. Trad. de Jayme Salomão. Rio de Janeiro. Imago, 1972. v.
XXI.

FREUD, S. Novas conferências introdutórias sobre Psicanálise 1932-1933. In:


______. Edição standard brasileira das obras psicológicas

MAGDALENO, R. - A construção do feminino: um mais além do falo. Jornal


de Psicanálise, São Paulo, 42(77): 89-106, dez 2009.

MANNONI, M. – Elas não sabem o que dizem. Virginia Woolf, as mulheres e a


psicanálise. São Paulo,Zahar Editores,1999.

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