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Introdução
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Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais no Instituto de Filosofia de Ciências
Humanas (IFCH) na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Campinas, São Paulo, Brasil. Bolsista
CNPQ. Integrante do Projeto Temático FAPESP “Contradições do trabalho no Brasil atual: formalização,
precariedade, terceirização e regulação.” n°2012/20408-1. E-mail: beatrizisolacoutinho@gmail.com
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dos mais diversos movimentos sociais. Para além dos estudos do trabalho, esse deslocamento
foi caro a outras áreas e campos do conhecimento, entre os quais, os estudos sobre a migração
internacional. Incorporava-se a dimensão subjetiva na análise do processo migratório,
notadamente por meio: a) rompimento do imigrante como um sujeito genérico e inerte diante
do funcionamento dos mercados, assim como do fenômeno migratório circunscrito
unicamente às leis econômicas; b) incorporação das experiências de gênero, classe,
raça/etnia, sexualidade, geração, entre outras, as quais compõem a totalidade da experiência
migratória e; c) articulação e análise da dimensão macroestrutural em conjunto com as
microestruturas que estão em atividade no fenômeno migratório.
Temos por objeto de estudo as atuais confecções de vestuário paulistanas nas quais
os trabalhadores e os proprietários são imigrantes de primeira geração, de igual ou diferentes
nacionalidades e gêneros. Nessas pequenas unidades produtoras, doravante oficinas de
costura, nas quais o espaço de moradia se confunde com o espaço de trabalho e onde quase
tudo é improvisado e insalubre, as relações entre empregadores e empregados estão não raro
submersas em contextos familiares e de compatrício e, em todos os casos, a exploração
extrema do trabalhador se confunde com a trajetória de vida semelhante daquele que o
emprega, o caminho partilhado de quem deixou sua pátria-mãe, definitivamente ou
provisoriamente, em busca de melhores condições de vida.
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estruturais e os subjetivos, cujas motivações e efeitos se estendem pelos pontos de partidas
e pelos pontos de chegada dos deslocamentos. Trata-se de uma classe de trabalhadores que
partilha de experiências comuns construídas no deslocamento e no cotidiano como imigrante
na maior metrópole do país, o que enseja explicações da realidade vivida, inclusive laboral,
de maneira bastante própria. Ou seja, pretendemos um olhar para além das condições
materiais de vida e que nos possibilite compreender as representações, os interesses e os
valores que informam às ações dos sujeitos estudados. Como nos lembra Leite (1994) “[...]
o aspecto subjetivo deve ser considerado também como parte integrante das condições
objetivas de trabalho.” (p.34).
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ponta final e elo mais frágil da ampla cadeia produtiva têxtil-confecção2. Trata-se de uma
cadeia que apresenta níveis muito variados de uso tecnológico e de investimentos em P&D,
recursos desigualmente distribuídos entre os países e os setores envolvidos e que variam de
acordo com o porte das empresas. A indústria de confecção é aquela com um maior uso de
trabalho manual e um menor uso das novas tecnologias, sobretudo em sua etapa final, a
costura3.
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Contempla desde a indústria química (fibras sintéticas e tingimentos), a agropecuária fornecedora das fibras
naturais (origem animal e vegetal), até a indústria de maquinários e de novas tecnologias microeletrônicas, com
o desenvolvimento de maquinário e softwares. Parte central da cadeia é ocupada pela indústria têxtil e pela
indústria de confecção, essa última dividindo-se em linha lar (cama, mesa e banho), produtos técnicos (sacarias,
hospitalares, automotivos) e vestuário (roupas e acessórios).
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As grandes etapas produtivas da indústria de confecção são: desenho, confecção dos moldes, gradeamento,
encaixe, corte e costura. Temos ao menos 15 tipos de máquinas de costura industriais disponíveis no mercado
brasileiro sem componentes microeletrônicos e com funções específicas. Para as mesmas funções, no entanto,
existem as máquinas com sistema CAD/CAM que apesar de exigirem ainda um costureiro/operador por
máquina, agilizam o tempo e garantem a precisão na costura e nos acabamentos. O alto custo desse
equipamento impede o seu acesso para a grande maioria dos produtores de pequeno porte e para os autônomos.
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O parcelamento das etapas produtivas no setor encontra sua origem na produção em massa de artigos de
vestuário inaugurada pelas sociedades urbanas e industriais do período fordista, resultando na passagem da alta
costura - onde o trabalho imaterial antecedia o material e o ofício costureiro/a não era esvaziado da esfera
conceptual – para o ready-to-wear ou prêt-a-porter, um evento que não fora universal mas tivera grande
concretude para a produção e o trabalho nas metrópoles ocidentais.
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c) terceirizações e um grande aumento do número de micro e pequenas empresas5, além de
oficinas de costura e trabalho a domicílio e; d) crescimento do trabalho precarizado,
autônomo e informal6 (ARAÚJO e AMORIM, 2002; LEITE, 2004).
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No Brasil, de acordo com o IBGE, na indústria micro empresas correspondem até 19 empregados, pequenas
empresas de 20 a 99 empregados, médias empresas de 100 a 499 empregados e grandes empresas de 500 acima.
Em 2010, 83.30% da produção nacional de confeccionados era realizada em micro empresas, 14.40% em
pequenas empresas, 2.10% em médias empresas e 0.20% em grandes empresas (IEMI/MTE apud CNI/ABIT,
2012).
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Essa mudança da produção realizada em médias e grandes indústrias de vestuário para micro e pequenas
unidades produtoras e para o trabalho a domicílio e informal pode ser observada na queda do número de
trabalhadores/as sindicalizados/as na capital. Conforme Maria Assis, do Sindicato das Costureiras de São Paulo
e Osasco, hoje a base do sindicato que representa a categoria em São Paulo e Osasco é composta por 80 mil
trabalhadores/as formais, enquanto a quinze anos atrás eram 180 mil. Segundo ela existem no mínimo 80 mil
trabalhadores/as informais no setor, dentre os quais estão os estrangeiros, majoritariamente os bolivianos.
(Entrevista realizada no dia 18 de dezembro de 2012 no Sindicato das Costureiras de São Paulo e Osasco, São
Paulo/SP). O desemprego e a informalidade atingiram vigorosamente as mulheres.
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Com o termo indústria da moda abarcamos a produção, a distribuição e a comercialização dos artigos de
vestuário, tanto em seus aspectos materiais quanto em seus aspectos simbólicos, tão bem explorados por
Simmel (1957) ainda na primeira metade do século XX e já no último quartel do mesmo século por Lipovetsky
(1989). A capital paulista continua a ser a maior produtora, distribuidora e consumidora de artigos de vestuário
no Brasil. Possui as maiores concentrações do varejo de luxo, com lojas nacionais e internacionais, de
confecções e lojas atacadistas, além de sediar importantes eventos do setor como o São Paulo Fashion Week e
concentrar 42 cursos superiores de moda/têxtil (COSTA e ROCHA, 2009).
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extrema, de curtíssimo prazo e de grande competitividade, um conjunto de pressões que
recaem diretamente sobre as oficinas de costura e os/as costureiras em domicílio.
A cidade de São Paulo, local em que a produção têxtil destacava-se desde o início do
século passado puxando a produção de confeccionados (STEIN, 1979), é bastante ilustrativa
de como os efeitos acima descritos. Além da transferência da indústria de confecção para
outros estados do país, houve uma forte dispersão da produção de vestuário dos bairros da
região central, notadamente do Brás e do Bom Retiro8, para bairros da zona norte e da zona
leste e para cidades da região metropolitana (GARCIA e CRUZ-MOREIRA, 2004). Essa
dispersão acompanhou o movimento de terceirização das etapas produtivas, principalmente
da costura, para cooperativas de trabalhadores, oficinas e trabalhadores/as em domicílio que
em muitos casos, eram ex-funcionários/as de indústrias que passaram a subcontratá-las
(FREIRE, 2008).
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Brás, Bom Retiro e Mooca ainda são os bairros de maior concentração das empresas formais (38,7%)
(PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO, 2013).
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com CNPJ e ainda por intermediários de mão de obra e pequenos distribuidores. A produção
principal é a de artigos de vestuário com tamanho e modelos padronizados, notadamente
roupas e em menor parte bolsas e outros acessórios têxteis que se destinam: a) a
comercialização pelas inúmeras lojas da capital, principal varejista do país; b) por grandes
redes e lojas varejistas multimarcas com ou sem marca própria, entre as quais estão os
hipermercados; c) por importantes grifes nacionais e internacionais que possuem lojas na
capital e; d) diretamente pelos próprios imigrantes, no comércio formal e/ou informal e de
rua.
Observa-se que as oficinas podem escoar sua produção por dois ou mais canais,
inclusive de maneira concomitante, assim como os artigos podem destinar-se ao comércio
popular e ao comércio de luxo, o que todavia não interfere no valor final pago pelas peças
produzidas. Aqui, de igual maneira ao que ocorre com as costureiras brasileiras, conseguir
trabalho requer que se utilizem as redes sociais de pertencimento a um grupo profissional
e/ou étnico-nacional pelas quais circulam as encomendas. Trata-se do regime de trabalho
que vigora nas oficinas e no trabalho a domicílio, costurar um determinado número de peças
em um tempo bastante reduzido pela sazonalidade da moda, assumindo os riscos com a
produção e o rendimento atrelado unicamente a cada peça costurada. Se estabelece um
circuito no qual os responsáveis em produzir determinada encomenda não raro repassam
parte dessa produção para outras oficinas e trabalhadoras em domicílio, mobilizando
familiares, vizinhos e conterrâneos para o trabalho (FREIRE, 2008).
O valor recebido pelos trabalhadores imigrantes pode variar bastante, de acordo com
o tipo de costura e o maquinário utilizado, porém raramente ultrapassam a casa do um real
por peça costurada. Em períodos de pico da produção, as jornadas podem se estender por
mais de 16 horas diárias e ocupar todos os dias da semana, embora os/as trabalhadores/as
com os quais conversamos destaquem a importância do descanso dominical. Ou seja, quanto
mais peças costuradas, mais dinheiro se recebe pela encomenda e quanto mais encomendas,
maior é o rendimento mensal. Segundo os próprios imigrantes, há que se aproveitar quando
a oficina tem encomendas a realizar, pois em épocas de baixa temporada a solução é
comercializar vestuário em locais estratégicos como a Feirinha da Madrugada, no Brás, ou
ainda de “porta em porta” como o faziam os sul-coreanos com o “bendê” e os sírios e
libaneses com a mascateação, décadas passadas (CHOI, 1991; TRUZZI, 2008).
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Vender diretamente a produção requer, no entanto, um investimento em insumos
produtivos e o domínio de mais etapas produtivas da indústria de confecção, o que nem
sempre é possível. Para complementar a renda ou compô-la em períodos de escassez de
costura, os imigrantes dedicam-se a outras atividades que costumam envolver aspectos e
locais típicos da cultura e da sociabilidade de sua origem étnica-nacional na capital, como
podemos observar em relação aos bolivianos na Feira da Kantuta, por exemplo. No entanto,
vender sua própria produção ao consumidor final, assim como assumir a responsabilidade
por todas as etapas de produção – imateriais e materiais – é uma prática comum entre os
trabalhadores imigrantes no setor, sobretudo aqueles que estão inseridos a mais tempo, o que
torna ainda mais complexo o desenho das posições ocupadas pelos estrangeiros e suas
oficinas nesse mercado que abriga inúmeras possibilidades de trajetórias ocupacionais.
Diante do acima exposto, vemos que embora não seja um evento universal, o trabalho
com a costura na indústria da moda encontra-se “esvaziado” e que a ocupação costureiro
fora reduzida, por meio do parcelamento das tarefas, a operação de máquinas de costura. Por
se tratar de um trabalho com tais características, mesmo aqueles trabalhadores imigrantes
que chegam a São Paulo com pouco ou nenhum conhecimento prévio da atividade não
encontram grandes dificuldades em trabalharem como costureiros nas oficinas. Quando o
status jurisdicional do imigrante é de ilegalidade, as oficinas clandestinas são fundamentais
para a entrada do trabalhador no setor e no mercado de trabalho nacional, além de
funcionarem como espaço de moradia. Também tornar-se dono da própria oficina de costura,
ou trabalhar por conta própria no setor, não é algo de difícil alcance. Uma vez que o
imigrante adquire o conhecimento sobre o funcionamento desse mercado na capital e
consegue fazer uso dos capitais econômico, social e simbólico que adquiriu com a imigração,
alugar uma casa, comprar as máquinas necessárias e recrutar outros trabalhadores imigrantes
torna-se possível, reproduzindo assim o processo.
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capital e mobilizadas pelos sujeitos do fenômeno explicam esse crescimento e nos
possibilitam compreender os sentidos que a mobilidade social assume para os mesmos.
Um caso bastante ilustrativo é o dos imigrantes sul coreanos, que aqui chegaram após
a assinatura de um acordo de cooperação entre estados não comunistas, assinado entre Brasil
e Coréia do Sul, em 1963 (CHOI, 1991). Até 1966, o Brasil recebeu cinco levas de imigrantes
da Coréia do Sul, ano em que a emigração oficial daquele país para cá foi finalizada. A partir
daí, os influxos eram mantidos pelos anteriormente estabelecidos, dando início ao fenômeno
da imigração ilegal da Coréia do Sul para o Brasil, algo que fora significativo até 1974,
sobretudo na cidade de São Paulo (YANG, 2011). Os bairros de maior presença da
nacionalidade na virada dos anos de 1960 para 1970 eram o Brás, o Bom Retiro, a Liberdade
e a Mooca. Nos dois primeiros, destaca-se a atividade no ramo do vestuário, tanto com a
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comercialização quanto com a produção das roupas. Igualmente a outros imigrantes que
fizeram parte do setor têxtil-vestuário na capital, o comércio foi porta de entrada, pois com
pouco conhecimento do idioma e baixo investimento de capital econômico podia-se
acumular dinheiro com certa facilidade. Vendiam produtos trazidos da Coréia, com
qualidade superior e preços inferiores aos nacionais.
Alguns fatores explicativos da boa ventura desse grupo no setor foram os baixos
custos com o trabalho, uma vez que se apoiavam na mão-de-obra familiar e compatriota; a
grande procura por seus produtos que apesar de comercializados a baixos preços, eram de
qualidade superior aos populares nacionais e atendiam as demandas de curto prazo, como
afirmou Kontic (2007); o conhecimento prévio do ramo trazido pelos imigrantes de regiões
industrializadas da Coréia do Sul, como Seul, foi apontado por Yang (2011) e, por fim,
Garcia e Cruz-Moreira (2004) atribuem aos coreanos uma capacidade especial para captar e
reproduzir as demandas da moda para o gosto e poder aquisitivo do consumidor de baixa
renda.
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Esse processo que teve início ainda nos anos de 1980 se intensificou nos anos
seguintes para firmar bolivianos e paraguaios como os principais imigrantes que atualmente
estão envolvidos com a produção de vestuário. Quanto a ligação desses novos movimentos
migratórios intrarregionais para São Paulo e para o setor, autores como Silva (1997; 2003) e
Freitas (2009) argumentaram sobre a existência de um circuito migratório entre Brasil e
Bolívia que se relaciona diretamente a oferta de trabalho na indústria de confecção
paulistana, em um processo que guarda muitas semelhanças ao que ocorre entre Brasil e
Paraguai (FREIRE e CÔRTES, 2014).
São muitas as formas de entrada no Brasil, na cidade de São Paulo e nas oficinas de
costura e em todas essas, as trajetórias migratórias estão diretamente relacionadas as
trajetórias laborais. Existem aqueles que partem de seu país de origem já “empregados” nas
oficinas de costura da capital, recrutados por empreiteiras de mão de obra - algo muito
comum na Bolívia, como mostrou Silva (2005) em sua pesquisa nas cidades de La Paz, Santa
Cruz de La Sierra e Cochabamba - onde se vinculam propagandas enganosas nas rádios e
jornais locais. Sem dúvidas, esse tipo de trajetória migratória e laboral é quase sempre a mais
incerta e arriscada para o imigrante e costuma ser o pano de fundo para os casos de servidão
por dívida9. Os imigrantes que chegam na capital sob essas condições costumam ser do sexo
masculino, jovens que não possuem contatos pré-estabelecidos em São Paulo e que deixaram
suas comunidades rurais indígenas em um processo anterior de migração interna. No caso
das mulheres, é comum que membros da família que já estejam estabelecidos em uma
oficina, principalmente homens, atuem como os responsáveis pela viagem e pela estadia, em
um processo migratório “tutelado”. O Gênero atua como um marcador determinante das
trajetórias migratórias e laborais, sobretudo, em novos circuitos migratórios e naqueles em
que comunidades tradicionais são a sociedade de origem.
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A servidão por dívida caracteriza-se pelo impedimento da vítima em deixar o seu local trabalho até que sua
dívida seja quitada. Ou seja, trabalhadores/as são privados de sua liberdade em razão de dívidas contraídas nos
locais de origem com adiantamentos por agentes de recrutamento e transporte, muitas vezes empreiteiros de
mão-de-obra para proprietários de terra ou para outros setores (ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO
TRABALHO – OIT, apud CACCIAMALI e AZEVEDO, 2006, p.4).
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própria oficina significa a chance de trazer para São Paulo parentes e amigos. Por meio dos
deslocamentos e das trocas geográficas, materiais e simbólicas, se consolidam as redes
transnacionais constantemente mobilizadas pelos sujeitos do processo, mesmo quando as
condições originais de recrutamento de trabalhadores não mais existem. A migração
internacional é entendida pelos estudiosos do campo como um mecanismo de construção e
ativação de redes transnacionais, realizada por aqueles que permaneceram e por aqueles que
partiram, interligando regiões de origem e de destino, os circuitos migratórios.
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O relatório da ONU considera migrantes internacionais aqueles que residem fora de seus países de
nascimento ou cidadania, por motivos laborais, de refúgio, reunificação familiar, entre outros.
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mobilidade geográfica possível para determinadas pessoas e grupos, engendrando os “novos
tipos de imaginário” que fazem da emigração uma opção.
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é que os trabalhadores e as trabalhadoras imigrantes quase sempre enfrentavam em seus
países de origem o desemprego e ocupações variadas todas essas imersas na informalidade.
De fato, esses trabalhadores vivenciam a precarização do trabalho na indústria de confecção
paulistana, porém, não realizaram atividades laborais anteriores que não marcadas pela
precariedade.
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alimentação, internet) são mensalmente descontados dos rendimentos de cada trabalhador.
No entanto, esse quadro se altera de acordo com o grau e a forma em que se dá a relação
entre empregadores e costureiros, assim como se essa relação antecede ao deslocamento
desde o país de origem ou aqui foi construída. Trazer a família e/ou dividir a mesma casa
com os parentes é melhorar as condições de vida na capital, algo possível para quem trabalha
por conta própria ou possui uma oficina.
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Não nos cabe aqui aprofundarmos sobre o funcionamento e as contradições do “Estatuto do Estrangeiro” e
o conjunto de resoluções normativas posteriores ao mesmo que amparam legalmente a entrada e a permanência
de estrangeiros no Brasil. Apenas para ilustrar aquilo que até o presente momento nos é necessário aclarar e
em matéria de movimento laboral, as autorizações de trabalho concedidas podem ser temporárias ou
permanentes, para trabalhadores e empresários. Quanto a entrada ou a estadia irregular no país, ilegal é aquele
que cruzou legalmente a fronteira mas aqui permaneceu após o vencimento do visto (de turista, de estudante,
de trabalho, etc.). Clandestino é aquele que entrou no país sem a autorização dos órgãos competentes, alheio
as fiscalizações de fronteira. Todavia, o MERCOSUL e outros acordos bilaterais a exemplo dos existentes
entre Brasil-Bolívia e Brasil-Haiti ampliam as possibilidades de circulação e estadia para os cidadãos dos países
membros.
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los da regra e colocar em discussão como se constroem os discursos que reforçam estigmas
sociais de exclusão. No caso da população boliviana, isso se traduz pelo binômio
escravizador/escravizado e quase sempre quando por nós questionados a respeito da questão,
os/as imigrantes abordam outros aspectos de suas experiências cotidianas de indígenas e
estrangeiros na capital, como o racismo e a xenofobia.
Considerações Finais
Sabemos que não é possível discutir a mobilidade social dos imigrantes descolando-
a do contexto estrutural e social em que a mesma se encaixa (globalização, política externa
brasileira, cambio e remessas, ilegalidade jurisdicional, flexibilização do capitalismo,
desigualdade de gênero e de raça e etnia). Todavia, também não é possível compreender o
(re)florescimento dessas oficinas de costura sem pensar nos significados que a mobilidade
social assume para esses imigrantes, já que as motivações migratórias são múltiplas e
atrelam-se a diferentes projetos e expectativas, calculadas com relação a origem e ao destino
daqueles/as que se deslocaram.
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