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https://www.youtube.com/watch?v=NKD7uYnCubg
O que Skinner tratará nesta exposição é a ideia de personalidade do Estado, que foi
completamente perdida no discurso contempoprâneo corrente.
Segundo Nietzsche (GM), alguns conceitos têm uma história, e se a têm é porque não há
consenso acerca de sua definição.
História neoliberal do Estado: Estado / ruim; mercado / bom: hoje, falar do Estado é falar
do aparato de governo, e falar de um conjunto de aparatos que caminham para o seu ocaso.
O que Skinner tratará nesta exposição é a ideia de personalidade do Estado, que foi
completamente perdida no discurso contempoprâneo corrente.
Para Hobbes, (1) todos os soberanos legais, incluindo os monarcas absolutos, jamapis
podem ser pensados como tendo qualquer status mais elevado que o de representantes
autorizados. Ele não fala de soberanos, mas de soberanos representantes.
Para Hobbes, (2) os detentores do poder têm diversos deveres específicos inerentes ao seu
ofício, que têm a obrigação de cumprir, como produzir a paz e a segurança do povo,
conduzindo o governo de maneira consoante ao bem comum.
Soberanos são, pois, para Hobbes, apenas representantes. Mas quem eles representam?
Uma multidão que se tornou um, unida por um acordo comum, por uma vontade única
comum determinante, que é a nossa vontade porque nós, atores, possuímos as ações do
representante que autorizamos a efetivamente agir. Suas ações contam como as ações de
todos nós.
Pelo ato de autorizar a representação, nós nos transformamos em uma pessoa. Duas
pessoas, que não existem no estado de absoluta liberdade, vêm à vida com o pacto: o
soberano e a pessoa fictícia, que nós trazemos à existência quando adquirimos uma só
vontade e uma só voz, por efeito de termos autorizado alguém a nós representar. O nome
dessa segunda pessoa, segundo Hobbes, é o Estado ou Commonwealth.
O nome de nós, enquanto uma pessoa, é Estado, ou Leviatã.
Uma advém das artes da pintura e escultura, e pensa a representação — o verbo latino é
representare — como a apresentação de algo ausente como se estivesse presente (cf
Plinio, o Grande, livros 34 e 35 do tratado História Natural): o mundo é enviado a se nos
apresentar, e na pintura e na escultura nós tentamos representá-lo. A essência da
representação nessa análise é prover o melhor possível a semelhança (likeness). Isso
foi aplicado no início do período moderno, e no período subsequente, à ideia de
representação política — a representação do corpo do povo — que permeava o
entendimento dos diversos escritores radicais ingleses a quem Hobbes respondia.
Hobbes replica insistindo que tal metáfora de representação está errada, e produz uma
metáfora diferente para a representação, fundada não na arte da pintura mas no teatro,
no sentido, de Cícero, de desempenhar o papel de outro, do ato de falar em nome de
um client.
Para Hobbes, a representação política não é nada mais que autorizar alguém a
desempenhar o seu papel, a falar e agir em seu nome. O representante não se assemelha
a quem representa, não é parecido com ele, a representação não tem nada a ver com a
produção de semelhança.
Carl Schmitt declarou que Pufferndorf foi quem fez Hobbes vitorioso, relativamente à
teoria hobbesiana do Estado.
Duas teorias rivais do Estado emergem no século XVII: uma é a teoria da pura
ficcionalidade, e a outra é que o Estado não é uma persona ficta, mas uma pessoa moral.
Foi esta última a que teve maior influência — em Tomasius, Wolff, Hegel, Vattel, etc.
Para Vattel, o Estado deriva de uma vontade mas também de um entendimento, portanto
o Estado é uma pessoa moral, que tem um entendimento, tanto quanto uma vontade,
peculiar. É isso, segundo Vattel, o que explica as relações entre os Estados: são relações
entre pessoas morais.
Para Puffendorf, o estado não é o nome de uma persona ficta, mas de uma persona
moralis.
William Blackstone, por seu turno, tinha ideias alinhadas ao pensamento de Hobbes.
1) Por que isso aconteceu? Uma das principais razões foi a forte influência do utilitarismo
de Jeremy Bentham, como filosofia política e moral, a partir do final do século XVIII,
que atacava as ideias de hobbesianas de Blackstone: “The season of fictions is over. The
time has come to ground (grand, grant?) legal arguments on facts about real individual,
and specially on the capacity of individuals for experiencing, in relation to political
power, of restraint and pleasure of liberty.” (The fragment of governmen, 1776). A lei
deve livrar-se das ficções, e deve tratar de prazer e dor: tal visão tornou-se fortemente
influente, e o Estado tornou-se sinônimo daquilo que é encarregado dos aparatos de
governo, ideia que ressona nos trabalhos de John Austin (The Povince of Jurisprudence
Determined, 1832): “My onwn understanding of the state is that the term simply denotes
the individual person, or the body of individual persons, who are given the supreme power
in any independent political society.”
2) Algo importante foi perdido com isso? Carl Schmitt apontava que essa foi a mais grave
perda na filosofia política moderna (The state person in Hobbes Leviathan). Para Schmitt,
é preciso haver uma união sob alguma vontade que não apenas aja como um poder
soberano, mas que tenha o poder de determinar a exceção, de determinar a emergência, é
há que se reconhever que esse é o poder do Estado, e que deve ser obedecido, à medida
que tal o protege.
Skinner afirma que o intento de Hobbes não era esse: a questão do débito do estado, para
Puffendorf, só ocorre se se considera uma pessoa com uma eternidade artificial, não um
governo.
Para Vattel verdadeiros tratados internacionais são relações entre pessoas morais,
projetados para durar tanto quanto essas pessoas. Os signatários não podem ser, assim,
governos.
Apensa quando é feita a distinção categórica entre Estados e governos é possível usar a
ideia de Estado para produzir o que realmente se deseja quando se pensa a teoria dos
limites da obrigação política: salus popoli, supreme lex.
Dizer que o nome do Estado é o nome de uma pessoa distinta é um modo de referir a nós
— um corpo de cidadãos que autorizou sua representação — os interesses do Estado, que
passam a ser entendidos como interesse público.