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TRATAMENTO DE ESGOTO SANITÁRIO

MSc Jackson Conceição de Matos


Email: Jackson.matos@uol.com.br
TEL: (92) 91811636
2

Manaus, 2010

TRATAMENTO DE ESGOTO SANITÁRIO

1 Características dos esgotos, necessidades de tratamento e concepção


das estações

1.1 Características dos Esgotos

Os esgotos sanitários variam no espaço, em função de diversas variáveis desde


o clima até hábitos culturais. Por outro lado, variam também ao longo do tempo,
o que torna complexa sua caracterização. Metcalf & Eddy (1991) classificam os
esgotos em forte, médio e fraco, conforme as características apresentadas na
Tabela 1:

Tabela 1: Características físico-químicas dos esgotos. Metcalf & Eddy (1991)


Característica Forte Médio Fraco
DBO5,20 (mg/L) 400 220 110
DQO (mg/L) 1.000 500 250
Carbono Org. Total (mg/L) 290 160 80
Nitrogênio total – NTK (mg/L) 85 40 20
Nitrogênio Orgânico (mg/L) 35 15 08
Nitrogênio Amoniacal (mg/L) 50 25 12
Fósforo Total (mg/L) 15 08 04
Fósforo Orgânico (mg/L) 05 03 01
Fósforo Inorgânico (mg/L) 10 05 03
Cloreto (mg/L) 100 50 30
Sulfato (mg/L) 50 30 20
Óleos e Graxas (mg/L) 150 100 50
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No Brasil, mesmo que não se tenha informação segura com base local,
costuma-se adotar contribuições “per capita” de 54 e 100 g/habitante.dia para a
DBO de cinco dias e para a DQO, respectivamente.
Em termos de vazão, pode-se afirmar que os esgotos estão sujeitos às mesmas
variações relativas ao consumo de água, variando de região para região,
dependendo principalmente do poder aquisitivo da população. Apenas a título de
referência, pode-se considerar a contribuição típica de 160 L/habitante.dia,
referente ao consumo “per capita” de água de 200 L/habitante.dia e um
coeficiente de retorno água/esgoto igual a 0,8. Para a determinação das vazões
máximas de esgotos, costuma-se introduzir os coeficientes k1 = 1,2 (relativo ao
dia de maior produção) e k2 = 1,5 (relativo à hora de maior produção de
esgotos). Consequentemente, a vazão de esgotos do dia e hora de maior
produção é 1,8 vezes, ou praticamente o dobro da vazão média diária. Deve ser
lembrado que as características dos esgotos são afetadas também pela
infiltração de água subterrânea na rede coletora e pela possível presença de
contribuições específicas, como indústrias com efluentes líquidos ligados à rede
pública de coleta de esgotos.
Os esgotos sanitários possuem excesso de nitrogênio e fósforo. Isto faz com
que, ao ser submetido a tratamento biológico, haverá incorporação desses
macronutrientes nas células que tomam parte do sistema, mas o excesso deverá
ser ainda grande. Esta é uma importante preocupação em termos de tratamento
de esgotos, exigindo tratamento avançado quando se tem lançamento em
situações mais restritivas, sobretudo em represas utilizadas para o
abastecimento público de água potável, onde o problema da eutrofização poderá
ter consequências drásticas. Na Tabela 2 são apresentados concentrações
típicas das diversas frações de sólidos em esgotos:

Tabela 2: Concentrações de sólidos em esgotos. Fonte: Metcalf & Eddy (1991)


Característica Forte Médio Fraco
Sólidos Totais (mg/L) 1.200 720 350
Sólidos Dissolvidos (mg/L) 850 500 250
Sólidos Dissolvidos Fixos (mg/L) 850 500 250
Sólidos Dissolvidos Voláteis (mg/L) 525 300 145
Sólidos em Suspensão Totais (mg/L) 350 220 100
4

Sólidos em Suspensão Fixos (mg/L) 75 55 20


Sólidos em Suspensão Voláteis (mg/L) 275 165 80
Sólidos Sedimentáveis (mL/L) 20 10 05
Na Tabela 3 são apresentadas algumas características biológicas dos esgotos,
importantes para referenciar as necessidades de desinfecção. Embora a
legislação seja restrita aos índices de coliformes, aplicações dos esgotos como,
por exemplo, na agricultura, podem exigir o controle de outros indicadores.

Tabela 3: Concentrações de organismos em esgotos. Metcalf & Eddy (1991)


Característica Valor Médio
Bactérias Totais (/100 mL) 109 - 1010
Coliformes Totais (NMP/100 mL) 107 - 108
Coliformes Fecais (NMP/100 mL) 106 - 107
Estreptococus Fecais (NMP/100 mL) 105 - 106
Salmonella Typhosa (/100 mL) 101 - 104
Cistos de Protozoários (/100 mL) 102 - 105
Vírus (/100 mL) 103 - 104
Ovos de Helmintos (/100 mL) 101 - 103

1.1 Aspectos Legais


Apresentam-se, em seguida, alguns padrões de emissão de esgotos em águas
naturais constantes na legislação do Estado de São Paulo, o Decreto 8468 que
regulamenta a lei 997 de 1976, como na legislação federal, a Resolução
357/2005 do CONAMA (Conselho Nacional de Meio Ambiente).

Padrões de emissão de esgotos – Decreto Nº 8468


 pH: entre 5 e 9
 Temperatura: inferior a 40oC
 Sólidos Sedimentáveis: inferior a 1 mL/L
 DBO5,20: inferior a 60 mg/L ou 80% de redução

Padrões de emissão de esgotos – Resoluçã0 357 do CONAMA


 pH: entre 5 e 9
5

 Temperatura: inferior a 40oC


 Sólidos Sedimentáveis: inferior a 1 mL/L
 Amônia total: inferior a 20 mg/L
Pode ser observado que o padrão de emissão de 20 mg/L para amônia não
pode ser atendido mediante a grande maioria dos processos de tratamento
biológicos, exceto os aeróbios com idade do lodo elevada.
Apresentam-se a seguir, a título de ilustração, alguns padrões de qualidade
estabelecidos nas legislações para uma água natural classe 2, que pode ser
utilizada para abastecimento público, após tratamento:

Padrões de qualidade – Águas Classe 2 – Decreto Estadual N° 8468

 Oxigênio Dissolvido: não inferior a 5 mg/L


 DBO5,20: inferior a 5 mg/L
 Coliformes Totais: não superior a 5.000 / 100 mL
 Coliformes Fecais: não superior a 1.000 / 100 mL

Padrões de qualidade – Águas Doces Classe 1 Resolução CONAMA 357/2005

 pH: entre 6 e 9
 Oxigênio Dissolvido: não inferior a 5 mg/L
 DBO5,20: inferior a 5 mg/L
 Coliformes Totais: não superior a 5.000 / 100 mL
 Coliformes Fecais: não superior a 1.000 / 100 mL

 Amônia total:

 3,7 mg-N/L para pH ≤ 7,5


 2,0 mg-N/L para 7,5 < pH ≤ 8,0
 1,0 mg-N/L para 8,0 < pH ≤ 8,5
 0,5 para pH > 8,5
6

Os limites de amônia são estabelecidos em função do pH em vista que quanto


mais elevado, maior é a parcela de amônia gasosa, NH3, que é mais tóxica. O
íon amônio, NH4+, menos tóxico, predomina em faixas mais baixas de pH.

 Fósforo Total:

 0,02 mgP/L para ambientes lênticos,


 0,025 mgP/L para ambientes intermediários, com tempo de residência
entre 2 e 40 dias e tributários diretos de ambiente lêntico e
 0,1 mgP/L para ambiente lótico e tributários de ambientes intermediários.

Uma dificuldade frequente no atendimento à legislação federal, refere-se ao


padrão para fósforo, bastante restritivo. Pode ser observado também que
dificilmente se terá uma condição de diluição dos esgotos tratados no corpo
receptor que dispense a desinfecção final dos esgotos antes do lançamento. É
possível que mesmo empregando-se tratamento físico-químico à base de
coagulante após o tratamento biológico, não se alcance condições para o
enquadramento.

1.3 Concepção das estações de tratamento de esgoto

O tratamento de esgoto é desenvolvido, essencialmente, por processos


biológicos, associados à operações físicas de concentração e separação de
sólidos. Processos físico-químicos, como os a base de coagulação e floculação,
normalmente não são empregados por resultarem em maiores custos
operacionais e menor eficiência na remoção de matéria orgânica biodegradável.
Porém, em algumas situações, notadamente quando se tem condições bastante
restritivas para as descargas de fósforo, o tratamento físico-químico pode ser
aplicado isoladamente ou, principalmente, associado aos processos biológicos.
O tratamento biológico pode ser subdividido em dois grandes grupos, processos
aeróbios e anaeróbios. Observou-se uma tendência histórica em se comparar
tais modalidades, enfatizando-se vantagens e desvantagens de cada grupo, hoje
é consenso o interesse em associá-los, obtendo-se com isso importantes
vantagens técnicas e econômicas.
7

Os processos biológicos podem ser classificados também em função do tipo de


reator, que pode ser de crescimento em suspensão na massa líquida ou de
biomassa aderida. Nos reatores de crescimento em suspensão, não há suporte
inerte para a aderência dos microrganismos, que crescem geralmente floculados
e em suspensão na massa líquida. No caso dos reatores aeróbios, o próprio
sistema de aeração acumula essa função complementar de manter os sólidos
biológicos em suspensão. Nos reatores de biomassa aderida, há introdução de
material de enchimento como areia, pedras ou plástico, dentre outros, que
podem se manter fixos ou móveis no reator, garantindo a aderência da biomassa
que cresce sob a forma de biofilme aderido ao meio inerte.

Os processos biológicos podem ser classificados ainda em função da retenção


ou não de biomassa, entendendo-se por biomassa os microrganismos
responsáveis pela degradação de matéria orgânica dos esgotos. Nos processos
em que não se pratica retenção de biomassa, o tempo de detenção hidráulica,
que é o tempo de passagem do esgoto pelo sistema, é equivalente ao tempo
médio de residência celular, também conhecido por idade do lodo, que
representa o tempo de permanência dos microrganismos no sistema. Assim, se
é desejado que os microrganismos permaneçam durante determinado período
no reator, os esgotos deverão ser retidos pelo mesmo período, o que torna as
dimensões do sistema relativamente elevadas. É o caso, por exemplo, das
lagoas aeradas mecanicamente de mistura completa. Nos sistemas com
retenção de biomassa, este mecanismo deverá ser produzido de alguma forma.
Quando se empregam reatores de crescimento em suspensão na massa líquida,
como são os tanques de aeração dos processos de lodos ativados, a retenção
de biomassa é feita recirculando-se o lodo sedimentado nos decantadores
posicionados à jusante do reator biológico. Já nos reatores de biomassa aderida,
sejam de leito fixo ou móvel, a retenção de biomassa é garantida pela própria
aderência dos microrganismos ao meio suporte formando os biofilmes. Os
reatores com retenção de biomassa compõem os chamados sistemas de
tratamento compactos que, por permitirem maior concentração de
microrganismos ativos, possuem maior capacidade de recebimento de carga de
esgotos quando se compara com mesmo volume de reator onde não se procede
a retenção do lodo.
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O processo de lodos ativados convencional é composto das seguintes etapas


(Figura 1):

 Tratamento preliminar: gradeamento e desarenação


 Decantadores primários
 Tanques de aeração
 Decantadores secundários
 Adensadores de lodo
 Digestores de lodo
 Sistema de desidrat

PROCESSO DE LODOS ATIVADOS


CONVENCIONAL
Decantador Tanque de Decantador
Grade Caixa de areia Secundário
Primário Aeração

Rio
Água
retirada Adensamento
do
lodo
Digestão

Secagem Lodo “Seco”

Figura 1: Processo de lodo ativado convencional

Os decantadores primários providenciam uma redução da carga orgânica


afluente ao tratamento biológico. O lodo separado nos decantadores
secundários retorna para o tanque de aeração, mas há a necessidade de
descarte do lodo excedente para o controle do processo biológico. Ambos os
lodos, produzidos nos decantadores primários e secundários, podem ser
encaminhados para uma digestão biológica conjunta.
9

Na variante do processo de lodos ativados conhecida por aeração prolongada,


não se empregam decantadores primários e o tratamento biológico é
dimensionado de forma a produzir um excesso de lodo mais mineralizado, de
forma a se dispensar a necessidade de qualquer tipo de digestão complementar
de lodo. Dispensando os decantadores primários e digestores de lodo, as
principais etapas do sistema de lodos ativados com aeração prolongada são
(Figura 2):

 Tratamento preliminar: gradeamento e desarenação


 Tanques de aeração
 Decantadores secundários
 Adensadores de lodo
 Sistema de desidratação de lodo

PROCESSO DE LODOS ATIVADOS


COM AERAÇÃO PROLONGADA
Tanque de Decantador
Grade Caixa de areia Secundário
Aeração

Rio
Água
Adensamento
retirada
do
lodo

Secagem Lodo “Seco”

Figura 2: Processo de lodo ativado com aeração prolongada

Em situações onde ocorrem grandes flutuações de população e,


consequentemente, de carga orgânica, a variante com aeração prolongada pode
operar sob o regime de bateladas sequenciais. Não se empregam também os
decantadores secundários, sendo a função de separar o lodo do efluente final
também atribuída aos tanques de aeração. Estes, são alimentados na forma de
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rodízio e a operação de sedimentação poderá ocorrer em tanques que não


estejam sendo alimentados por esgotos em períodos pré-estabelecidos de forma
sincronizada. Assim, um sistema de lodos ativados com aeração prolonga
operando em bateladas, fica reduzido a (Figura 3):

 Tratamento preliminar: gradeamento e desarenação


 Tanques de aeração e decantação
 Adensadores de lodo
 Sistema de desidratação de lodo

PROCESSO DE LODOS ATIVADOS


COM AERAÇÃO PROLONGADA
EM BATELADA

Tanque deAeração
Grade Caixa de areia Decantador Secundário

Água
Adensamento Rio
retirada
do
lodo

Secagem Lodo “Seco”

Figura 3: Processo de lodo ativado com aeração prolongada em bateladas

Note-se que não estão sendo incluídas as unidades correspondentes às outras


necessidades de tratamento, como a desinfecção final ou a remoção de
nutrientes por processos físico-químicos, dentre outras.

Um sistema de lagoas aeradas mecanicamente pode ser entendido como um


processo de lodos ativados sem recirculação de lodo. As principais unidades
que o compõem, são (Figura 4):

 Tratamento preliminar: gradeamento e desarenação


11

 Lagoas aeradas mecanicamente


 Lagoas de decantação

SISTEMAS DE LAGOAS AERADAS


MECANICAMENTE SEGUIDAS DE
LAGOAS DE DECANTAÇÃO

Lagoas de
Grade Caixa de areia Lagoas aeradas decantação

Rio

Figura 4: Sistema de lagoas aeradas mecanicamente.

Não foram incluídas aqui as necessidades de remoção e tratamento do lodo


separado das lagoas de decantação.

As lagoas aeradas mecanicamente foram concebidas para resolver problemas


de sobrecargas em sistemas de lagoas de estabilização. Nestes as unidades
centrais são as lagoas facultativas, desprovidas de aeradores mecânicos, sendo
a aeração obtida da ventilação superficial e da fotossíntese de algas. São
chamadas de facultativas por que ocorre sedimentação de partículas no fundo
que entram em decomposição anaeróbia. As lagoas facultativas podem ou não
ser precedidas de lagoas anaeróbias, que provocam um alívio de carga, e
sucedidas de lagoas de maturação, cujo principal objetivo é aumentar o grau de
desinfecção dos esgotos. O chamado sistema australiano de lagoas de
estabilização é composto de (Figura 5):

 Tratamento preliminar: gradeamento e desarenação


 Lagoas anaeróbias
 Lagoas facultativas fotossintéticas
 Lagoas de maturação
12

SISTEMAS DE LAGOAS
DE ESTABILIZAÇÃO
•Sistema australiano
Lagoa Lagoa de
Grade Caixa de areia Lagoa anaeróbia facultativa maturação

Lodo Lodo Rio

•Lagoa facultativa primária

Lagoa de
Grade Caixa de areia Lagoa facultativa maturação

Lodo Lodo Rio

Figura 5: Sistemas de lagoas de estabilização

Voltando à concepção do processo de lodos ativados convencional, podemos


entender um sistema de tratamento por filtros biológicos aeróbios, simplesmente
substituindo-se as unidades principais do sistema, os tanques de aeração, pelos
filtros biológicos. Porém, neste caso, normalmente não há necessidade de
retorno de lodo. Assim, um sistema de tratamento de esgotos por filtros
biológicos aeróbios é composto das seguintes unidades principais (Figura 6):

 Tratamento preliminar: gradeamento e desarenação


 Decantadores primários
 Filtros biológicos aeróbios
 Decantadores secundários
 Adensadores de lodo
 Digestores de lodo
 Sistema de desidratação de lodo
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SISTEMAS DE FILTROS
BIOLÓGICOS AERÓBIOS

Decantador Filtros Decantador


Grade Caixa de areia Biológicos Secundário
Primário

Água Rio
retirada
Adensamento
do
lodo

Digestão

Secagem Lodo “Seco”

Figura 6: Sistemas de filtros biológicos aeróbios

Uma das principais tendências atuais do tratamento de esgotos sanitários reside


na inclusão de uma etapa inicial de tratamento anaeróbio. O reator anaeróbio
que mais tem se consolidado em nosso meio é o reator conhecido por UASB
(upflow anaerobic sludge blanket). Estes sistemas mistos são constituídos de
tratamento preliminar e dos reatores UASB, que podem ter os seus efluentes
complementarmente tratados por um dos seguintes processos alternativos:

 Lodos ativados
 Lagoas aeradas mecanicamente
 Lagoas de estabilização
 Filtros biológicos aeróbios
 Tratamento físico-químico

Na Figura 7 observa-se o arranjo de um sistema constituído de reator UASB


seguido de lodo ativado. Dentre as vantagens dessa associação podem ser
destacados: o reator UASB promove uma redução de carga de DBO bem
superior à do decantador primário (65% contra 30%); o lodo ativado pode
trabalhar na faixa convencional com digestão complementar do excesso de lodo
no próprio reator UASB, eliminando-se a necessidade de um digestor específico
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de lodo; o UASB promove o adensamento do lodo, eliminando também a


necessidade desta etapa. Como desvantagens, podem ser relacionados:
necessidade de controle de odores ofensivos emanados do processo anaeróbio
e falta de carbono orgânico para a desnitrificação do esgoto, quando esta é
necessária e posicionada (câmaras anóxicas de pré-desnitrificação) entre o
reator UASB e o processo de lodo ativado, recebendo o lodo nitrificado
retornado deste último. Neste caso é necessário desviar parcela da vazão de
esgotos do reator UASB, enviando-a diretamente para a a entrada da câmara de
pré-desnitrificação. Essa parcela pode chegar a 50% da vazão de esgoto,
reduzindo bastante o aproveitamento dos reatores UASB.

As principais vantagens da inclusão de um reator anaeróbio antes de um aeróbio


concentram-se na operação do sistema, permitindo a redução substancial no
consumo de energia elétrica e na produção de lodo pelo sistema de tratamento.

Sistema UASB + Lodos Ativados

Tratamento Reator Tanque de Decantador


Preliminar UASB Aeração Secundário

Retorno de Lodo
Excesso de Lodos Ativados
Filtrado

Desidrata
ção final
Lodo
“Seco”

Figura 7: Sistema com reator UASB seguido de lodo ativado

Na Figura 8, apresenta-se o fluxograma de um sistema constituído de reator


UASB seguido de filtro biológico aeróbio. A avaliação das vantagens e
desvantagens desta concepção é bem parecida com a anteriormente feita para o
arranjo com reator UASB seguido de lodo ativado.
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SISTEMAS DE FILTROS
BIOLÓGICOS AERÓBIOS

Reator Filtros Decantador


Grade Caixa de areia UASB Biológicos Secundário

Retorno de Lodo

Rio
Lodo

Secagem

Lodo “Seco”
PHD-2411 Saneamento I 18

Figura 8: Sistema com reator UASB e filtro biológico aeróbio

Os filtros biológicos aeróbios podem operar como leitos percoladores, sem


afogamento com os esgotos e sob ventilação natural, ou como aerados de leitos
submersos, afogados e com aeração forçada. Neste último caso, pode-se
proceder o retorno de lodo do decantador para o tanque de aeração e obter-se a
nitrificação do esgoto.

1.4 Custos de implantação e de operação dos sistemas

Em um importante estudo desenvolvido pelo PROSAB, Programa de Pesquisa


em Saneamento Básico (Chernicharo, 2000), foram identificadas as seguintes
características dos esgotos tratados pelos diversos processos e composição de
custos de implantação e operacionais:

 Processo de Lodos Ativados Convencional. A operação sob alta taxa ocorre


com idade do lodo (c) inferior a três dias, sem que seja esperada a
nitrificação dos esgotos. Os esgotos tratados apresentam DBO5 e SS (sólidos
em suspensão) inferiores a 30 mg/L e concentração de nitrogênio amoniacal
(Namon) superior a 15 mg/L. O excesso de lodo produzido é da ordem de 35
a 40 g SSS / Hab.dia, sendo estabilizado. O custo de implantação é estimado
entre R$ 100,00 e R$ 130,00 por habitante, para populações entre 200 e 600
16

mil habitantes. O consumo de energia para aeração é estimado em 12


kwh/hab.ano. A operação sob taxa convencional ocorre com idade do lodo
(c) entre 4 e 7 dias, ocorrendo a nitrificação dos esgotos. Os esgotos
tratados apresentam DBO5 e SS (sólidos em suspensão) inferiores a 20 mg/L
e concentração de nitrogênio amoniacal (Namon) inferior à 5 mg/L. O
excesso de lodo produzido é da ordem de 30 a 35 g SS / Hab.dia, sendo
estabilizado. O custo de implantação é estimado entre R$ 120,00 e R$
160,00 por habitante, para populações entre 200 e 600 mil habitantes. O
consumo de energia para aeração é estimado em 20 kwh/hab.ano.

 Processo de Filtros Biológicos Aeróbios de Alta Taxa. Os esgotos tratados


apresentam DBO5 e SS (sólidos em suspensão) inferiores a 30 mg/L e
concentração de nitrogênio amoniacal (Namon) superiores à 15 mg/L. O
excesso de lodo produzido é da ordem de 35 a 40 g SS / Hab.dia, sendo
estabilizado. O custo de implantação é estimado entre R$ 100,00 e R$
130,00 por habitante.

 Processo de Lodos Ativados com Aeração Prolongada. A operação sob alta


taxa ocorre com idade do lodo (c) na faixa de 20 a 30 dias, com nitrificação
dos esgotos. Os esgotos tratados apresentam DBO 5 inferior a 20 mg/L, SS
(sólidos em suspensão) inferior a 40 mg/L e concentração de nitrogênio
amoniacal (Namon) inferior à 5 mg/L. O excesso de lodo produzido é da
ordem de 40 a 45 g SS / Hab.dia, sendo estabilizado aerobiamente, mais
difícil de desidratar. O custo de implantação é estimado entre R$ 60,00 e R$
80,00 por habitante, para populações entre 50 e 150 mil habitantes. O
consumo de energia para aeração é estimado em 35 kwh/hab.ano.

 Processo com Reator UASB seguido de Lodos Ativados. A operação da


etapa de lodos ativados sob alta taxa ocorre com idade do lodo (c) inferior a
três dias, sem que seja esperada a nitrificação dos esgotos. Os esgotos
tratados apresentam DBO5 inferior a 20 mg/L e SS (sólidos em suspensão)
inferior a 30 mg/L e concentração de nitrogênio amoniacal (Namon) superior
a 20 mg/L. O excesso de lodo produzido é inferior à 20 g SSS / Hab.dia,
sendo estabilizado. O custo de implantação é estimado entre R$ 50,00 e R$
17

80,00 por habitante, para populações entre 50 e 500 mil habitantes. O


consumo de energia para aeração é estimado em 6 kwh/hab.ano. A
operação sob taxa convencional ocorre com idade do lodo (c) entre 4 e 7
dias, esperando-se a nitrificação dos esgotos. Os esgotos tratados
apresentam DBO5 inferior à 20 mg/Le SS (sólidos em suspensão) inferior a
30 mg/L e concentração de nitrogênio amoniacal (Namon) inferior à 5 mg/L.
O excesso de lodo produzido é da ordem de 22 a 27 g SS / Hab.dia, sendo
estabilizado. O custo de implantação é estimado entre R$ 70,00 e R$ 100,00
por habitante, para populações entre 50 e 500 mil habitantes. O consumo de
energia para aeração é estimado em 15 kwh/hab.ano.

 Processo com reator UASB seguido de Filtro Biológico de Alta Taxa. Os


esgotos tratados apresentam DBO5 e SS (sólidos em suspensão) inferiores a
30 mg/L e concentração de nitrogênio amoniacal (Namon) superiores à 20
mg/L. O excesso de lodo produzido é da ordem de 25 a 30 g SS / Hab.dia,
sendo estabilizado. O custo de implantação é estimado entre R$ 50,00 e R$
80,00 por habitante, para populações entre 20 e 200 mil habitantes.

 Processo com reator UASB seguido de Filtro Biológico Aerado Submerso. Os


esgotos tratados apresentam DBO5 inferior a 20 mg/L e SS (sólidos em
suspensão) inferior a 30 mg/L e concentração de nitrogênio amoniacal
(Namon) superior à 20 mg/L. O excesso de lodo produzido é da ordem de 25
a 30 g SS / Hab.dia, sendo estabilizado. O custo de implantação é estimado
entre R$ 80,00 e R$ 100,00 por habitante, para populações entre 20 e 200
mil habitantes. Energia para aeração: 6 kwh/hab.ano.

 Processo de Lagoas Aeradas Aeróbias seguidas de Lagoas de Decantação.


Os esgotos tratados apresentam DBO5 inferior a 30 mg/L e SS (sólidos em
suspensão) inferior a 40 mg/L e concentração de nitrogênio amoniacal
(Namon) superior à 25 mg/L. O excesso de lodo produzido é da ordem de 15
a 25 g SS / Hab.dia, sendo estabilizado e removido a cada 4 a 5 anos. O
custo de implantação é estimado entre R$ 50,00 e R$ 70,00 por habitante,
para populações entre 30 e 200 mil habitantes. Energia para aeração: 22
kwh/hab.ano.
2 Tratamento Preliminar de Esgotos

2.1 Considerações Iniciais

O tratamento preliminar de esgotos visa, basicamente, a remoção de sólidos


grosseiros. Não há praticamente remoção de DBO, consiste em uma preparação
dos esgotos para o tratamento posterior, evitando obstruções e danificações em
equipamentos eletro-mecânicos.

O tratamento preliminar é constituído de gradeamento e desarenação. O


gradeamento objetiva a remoção de sólidos bastante grosseiros como materiais
plásticos e de papelões constituintes de embalagens e a desarenação a
remoção de sólidos com características de sedimentação semelhantes à da
areia, que se introduz nos esgotos principalmente devido `a infiltração de água
subterrânea na rede coletora de esgotos.

2.2 Gradeamento

Os dispositivos de remoção de sólidos grosseiros (grades) são constituídos de


barras de ferro ou aço paralelas, posicionadas transversalmente no canal de
chegada dos esgotos na estação de tratamento, perpendiculares ou inclinadas,
dependendo do dispositivo de remoção do material retido. As grades devem
permitir o escoamento dos esgotos sem produzir grandes perdas de carga.

As grades podem ser classificadas de acordo com o espaçamento entre as


barras, conforme a tabela 4:

Tabela 4: Classificação das grades. Fonte: Jordão e Pessoa (1995)

tipo espaçamento (cm)


grade grosseira 4 - 10
grade média 2- 4
grade fina 1- 2
2

É conveniente quando se tem a necessidade de recalque dos esgotos para a


estação de tratamento, que o tratamento preliminar seja posicionado à montante
da estação elevatória, visando a proteção dos rotores das bombas de corrosão
por abrasão. No entanto é prática mais usual apenas a instalação de uma grade
grosseira à entrada da elevatória, posicionando-se uma grade média ou fina já
no canal de entrada da ETE, normalmente de 1,5; 1,9 ou 2,5 cm de
espaçamento entre barras.

Dimensões das Barras e Inclinações das Grades

As barras das grades são construídas pelos fabricantes segundo dimensões


padronizadas, sendo que a menor dimensão da secção, que é posicionada
frontalmente ao escoamento, varia em média de 5 a 10 mm e a dimensão maior,
paralela ao escoamento, varia entre 3,5 e 6,5 cm, aproximadamente.
As grades com dispositivo de remoção mecanizada de material retido são
implantadas com inclinações que variam de 70 a 90o, enquanto que as de
remoção manual possuem inclinações variando geralmente na faixa de 45 a 60o
(ângulo formado pela grade e o fundo do canal a jusante. A Norma Brasileira NB
– 12.209/90 da ANBT impõe que para vazões de dimensionamento superiores a
250 L/s as grades deverão possuir dispositivo de remoção mecanizada do
material retido.

Dispositivos de Remoção

Nas estações de grande porte, as grades devem possuir dispositivo mecanizado


de remoção do material retido, que é constituído de um rastelo mecânico tipo
pente cujos dentes se entrepõem nos espaços entre barras da grade. O rastelo
é acionado por um sistema de correntes sendo que a remoção se dá no sentido
ascendente e na parte superior o material é depositado sobre esteira rolante que
o descarrega em caçamba.

Nas grades manuais, o operador remove o material retido através de ancinho,


quando a secção obstruída atinge cerca de 50% do total. O material removido é
depositado em tambores ou caçambas possuindo orifícios no fundo para o
escoamento da água.
3

A quantidade de material retido nas grades chega a atingir na prática cerca de


0,04 litros por m3 de esgoto. Na tabela 5 relaciona-se a quantidade de material
retido com o espaçamento entre barras das grades:

Tabela 5: Quantidade de material retido nas grades. Jordão e Pessoa (1995)

Espaçamento (cm) 2,0 2,5 3,0 4,0


Quantidade (L/m3) 0,038 0,023 0,012 0,009

Para a grade de 2,5 cm de abertura, bastante utilizada, a quantidade média


encontrada é de 0,02 L / m3 e a máxima é de 0,036 L / m3.

O material retido pode sofrer processo de lavagem, secagem e adição de


substâncias químicas antes do envio a aterros sanitários ou incineradores.

Dimensionamento das Grades

As grades são projetadas para que ocorra uma velocidade de passagem entre
0,6 e 1,0 m/s, tomando-se por referência a velocidade máxima horária de
esgotos sanitários. A obstrução máxima admitida é de 50% da área da grade,
devendo-se adotar como perdas de cargas mínimas os valores de 0,15 m para
grades de limpeza manual e 0,10 m para grades de limpeza mecanizada.
Para o cálculo da perda de carga nas grades, pode-se utilizar a fórmula de
Metcalf & Eddy:

H = 1,43 . (v2 - vo2) /2g , onde v é a velocidade de passagem pela grade e vo


é a velocidade de aproximação.
A relação entre a área da secção transversal do canal e a área útil da grade é
dada por:

S = Au . (a + t) /a , onde:

S = área da secção transversal do canal, até o nível de água.


4

Au = área útil da grade.


a = espaçamento entre as barras.
t = espessura das barras.

A relação a / (a + t) é chamada de eficiência (E) da grade e representa a fração


de espaços vazios em relação à área total.

Fixando-se a velocidade de passagem, pode-se determinar a área útil da grade


através da equação da continuidade, Au = Qmáx / v. Obtendo-se a área útil, pode-
se calcular a área da secção transversal do canal (S). Escolhendo-se a
espessura e o espaçamento entre barras determina-se a eficiência E e S = Au/E.

Obtendo-se a área da secção transversal, a largura do canal da grade pode ser


determinada através do conhecimento da lâmina líquida decorrente do
posicionamento da calha Parshall a jusante., conforme será mostrado.

Além das grades anteriormente descritas, as grades de barras curvas, as


peneiras estáticas e as peneiras rotativas podem também serem usadas para a
remoção de sólidos grosseiros dos esgotos sanitários. As peneiras estáticas são
bastante utilizadas no pré-condicionamento de esgotos antes do lançamento em
emissários submarinos e também no tratamento de efluentes de matadouros e
frigoríficos, dentre outras aplicações. As peneiras rotativas também são bastante
utilizadas no tratamento de efluentes líquidos industriais. Quando se empregam
o tratamento por reatores anaeróbios do tipo UASB, as peneiras são preferíveis,
reduzindo substancialmente o acúmulo de escuma na superfície destes reatores.

Para a observação de detalhes a respeito do projeto e construção dos sistemas


de gradeamento, recomenda-se consultar a NB - 569 e a NB – 12.209/90 da
ABNT.

Na Figura 9 mostra-se uma fotografia de um sistema de tratamento preliminar


com a grade em primeiro plano e dois canais desarenadores com velocidade
controlada por calha Parshall à jusante (que não aparece na foto).
5

Figura 9: Grade de limpeza manual e caixa de areia de velocidade constante

Na Figura 10 mostra-se uma fotografia de grade mecanizada instalada na ETE


Piçarrão (SANASA – Campinas/SP)

Figura 10: Grade mecanizada


6

2.3 Desarenação (caixas de retenção de areia)

Características do Material Removido

A "areia" que infiltra no sistema de esgotos sanitários e que danifica


equipamentos eletromecânicos é constituída de partículas com diâmetro de 0,2
a 0,4 mm e massa específica  = 2,54 ton/m3. Estas partículas sedimentam-se
individualmente nas caixas com velocidade média de 2 cm/s.

Dispositivos de Remoção de Areia

De acordo com a NB - 12.209/90, as caixas de areia de sistemas com remoção


manual, devem-se ser projetados dois canais desarenadores paralelos,
utilizando-se um deles enquanto que o outro sofre remoção de areia. Na
remoção mecanizada utilizam-se bandejas de aço removidas por talha e
carretilha, raspadores, sistemas de air lift, parafusos sem fim, bombas, etc. A
"areia" retida deve ser encaminhada para aterro ou ser lavada para outras
finalidades. Para redes de esgotos novas e não imersas no lençol freático a
quantidade de areia retida é estimada em 30 litros por 1000 m3 de esgotos. Para
situações desfavoráveis recomenda-se adotar 40L/1000m3.

Características Operacionais

As caixas de areia são projetadas para uma velocidade média dos esgotos de
0,30 m/s. Esta velocidade é mantida aproximadamente constante apesar das
variações de vazão, através da instalação de uma calha Parshall a jusante.
Velocidades baixas, notadamente as inferiores a 0,15 m/s provocam depósito de
matéria orgânica na caixa, indicado pelo aumento da relação SSV/SST do
material retido e que provoca exalação de maus odores devido à decomposição.
Velocidades superiores a 0,40 m/s provocam arraste de areia e redução da
quantidade retida.

Na Figura 11 mostra-se a operação de dois canais desarenadores pela manobra


de comportas.
7

Figura 11: Caixa de areia da ETE de São Lourenço da Serra/SP (SABESP)

Dimensionamento

O comprimento (L) da caixa de areia é determinado considerando-se a


velocidade dos esgotos de 0,30 m/s e a velocidade de sedimentação da areia de
2 cm/s.

Para que a partícula que passe sobre a caixa na linha de corrente mais alta
atinja a câmara de estocagem de areia, é preciso que percorra H na vertical
enquanto percorre L na horizontal:

v1 t1

v2, t2

L
8

L H
v1  x v2 
t1 t2

L H
t1  t    v1 . H  v2 . L
v1 v2

Para v1 = 0,3 m/s e v2 = 0,02 m/s, tem-se L = 15.H

Costuma-se introduzir um coeficiente de segurança de 1,5 devido ao efeito de


turbulência e considerar-se L = 22,5.H ou L = 25 x H.

A NB – 12.209/90 recomenda que a taxa de escoamento superficial com base


na vazão máxima resulte na faixa de (700 a 1300) m3/m2.d.

Controle da velocidade através de calha Parshall

HJ Y H
HM

Para se manter a mesma velocidade na caixa de areia tipo canal com velocidade
constante controlada por calha Parshall, para Qmín e Qmáx, tem-se:

Qmín H ' mín .  Z



Qmáx . H máx .  Z
Fórmula da calha Parshall:
Q = K.HN, em que:
Q = vazão (m3/s)
H = altura de água (m)
9

Valores de K e N

Largura N K Capacidade (L/s)


Nominal

Mín. Máx..
3" 1,547 0,176 0,85 53,8
6" 1,580 0,381 1,52 110,4
9" 1,530 0,535 2,55 251,9
1' 1,522 0,690 3,11 455,6
1 1/2' 1,538 1,054 4,25 696,2
2' 1,550 1,426 11,89 936,7

Exemplo do Dimensionamento

Dados:

Ano População Qmín (L/s) Qméd (L/s) Qmáx (L/s)


Atendida (hab)
2007 45.000 41,67 83,33 150,00
2017 54.200 50,19 100,38 180,00
2027 68.350 63,29 126,58 227,83

a) Escolha da Calha Parshall:

Para atender vazões de 41,67 L/s a 227,83 L/s a C. Parshall recomendada é a


de LN = 9".

Fórmula da Calha Parshall com LN = 9":

Q = 0,535.H1,53

Para Qmín = 41,67 L/s  Hmín = 0,189m

Para Qmáx = 227,83 L/s  Hmáx = 0,572 m


10

b) Cálculo do rebaixo Z à entrada da Calha Parshall:


Qmín . Hmín .  Z

Qmáx . Hmáx .  Z

41 , 67 0 ,189  Z
  Z  0 ,1033 m
227 ,83 0 ,572  Z

c) Cálculo da grade
. barras de ferro

 dados adotados . espessura (t )  5mm
. espaçamento (a )  15mm

c.1. Eficiência (E)

a 15
E   0,75
a  t 15  5

c.2. Área útil (Au)

Adotando-se a velocidade de passagem v = 0,8m/s, tem-se:

Qmáx 0,22783 m3 / s
Au    0,285 m 2
v 0,8 m / s

c.3. Área da Secção do Canal (S)

Au 0,285
S   0,38 m 2
E 0,75

c.4. Largura do canal da grade (b)

S 0,38
b   0,81 m
H máx  Z 0,572  0,1033

c.5. Verificações para vazões intermediárias:


11

Q H (H-Z) S=b(H-Z) Au=S.E V=Qmáx V0=Qmáx


(l/s) (m) (m) (m2) (m2) Au S
(m/s) (m/s)
227,83 0,572 0,469 0,380 0,285 0,800 0,600
180,67 0,492 0,389 0,315 0,236 0,766 0,574
150,00 0,436 0,333 0,270 0,203 0,739 0,555
63,29 0,248 0,145 0,117 0,088 0,719 0,541
50,19 0,213 0,110 0,089 0,067 0,749 0,564
41,67 0,189 0,086 0,070 0,053 0,786 0,595

Observa-se que para vazões intermediárias as velocidades não se alteram


significativamente.

c.6. Perda de Carga na Grade

2
v 2  v0
H  1,43
2g

(0,8) 2  (0,6) 2
 Grade limpa : H  1,43  0,02m
2 x 9,81

(2 x 0,8) 2  (0,6) 2
 Grade 50% obstruída : H  1,43 .  0,16 m
2 x 9,81

d) Cálculo da caixa de areia

d.1) Cálculo da área da secção transversal (A)

Adotando-se a velocidade sobre a caixa, v = 0,3 m/s, tem-se:

Qmáx 0,22783
A   0,7594 m 2
v 0,3
12

d.2.) Cálculo da largura (B):

A 0,7594
B   B  1,62 m
H máx  Z 0,572  0,1033

d.3) Verificação:

Para Qmín  41,67 l / s  H mín  0,189 m


H mín  Z  0,189  0,1033  0,0857 m
A  0,0857 x 1,62  0,1388 m 2
0,04167
v   0,3 m / s
0,1388

d.4) Cálculo do comprimento (L)


L  22,5 x ( H máx  Z )  22,5 x 0,572  0,1033  L  10,55m

d.5) Taxa de escoamento superficial resultante:

Q 227,83 x 86,4
  1152 m3 / m 2 .dia
AS 10,55 x 1,62

d.6) Cálculo do rebaixo da caixa de areia

Para a taxa de 30L/1000m3 e para vazão média de final de plano, Q = 126,58 Ls,
tem-se o seguinte volume diário de areia retida na caixa:

V = 0,03 L/m3 x 126,58 l/s x 86,4 = 328 L

0,328
 altura diária de areia acumulada na caixa h   0,02 m
10,55 x 1,62

Portanto, para um rebaixo de 20cm tem-se um intervalo de limpeza da caixa de


aproximadamente 10 dias.

Na Figura 12 mostra-se uma situação típica de implantação do tratamento


preliminar elevado, permitindo a continuidade do caminhamento do esgoto por
13

gravidade para a continuidade do tratamento e facilitando a remoção da areia


retida na caixa.

Figura 12: Caixa de areia com fundo tronco-piramidal (Campo Grade/MS)

Outros tipos de caixas de areia

Nas ETEs de maior porte, notadamente acima de 250 L/s, é recomendável o uso
de caixas de areia de seção quadrada em planta com removedor mecanizado da
areia retida, transportador e lavador. Também neste caso, a taxa de escoamento
superficial deverá ser mantida na faixa entre 600 e 1.300 m3/m2.dia, com base
na vazão máxima horária de esgoto, devendo-se definir corretamente o número
de caixas para que esta condição seja atendida em todo o período de
funcionamento da ETE.

Nas ETEs de porte ainda maior são utilizadas as caixas de areia aeradas, em
que os bocais de aeração são posicionados de forma a induzir um movimento
helicoidal no escoamento ao longo da caixa, de forma a acelerar a deposição
das partículas por força centrífuga. Com este dispositivo, o comprimento
necessário da caixa de areia torna-se menor.
14

Na Figura 13 mostra-se uma caixa de areia de seção quadrada em planta, com


dispositivo de remoção mecanizada da areia retida.

Figura 13: caixa de areia de seção quadrada e remoção mecanizada, vazia.

Na Figura 14, mostra-se a caixa de areia mecanizada em operação.

Figura 14: Caixa de areia mecanizada em operação


15

3 Decantadores de esgoto

3.1 Considerações iniciais

No tratamento de esgoto, o que ocorre como concentração de fase sólida,


removida na forma de lodo. Remover-se sólidos grosseiros no sistema de
gradeamento e sólidos facilmente sedimentáveis nas caixas de areia. Nos
decantadores primários, sob as condições de escoamento normalmente
adotadas em seus projetos, ocorre remoção de 40 a 60% de sólidos em
suspensão dos esgotos sanitários, correspondendo a cerca de 30 a 40% da
DBO. Até mesmo no tratamento biológico onde se conta com a mineralização
dos compostos orgânicos, o efeito preponderante é a floculação da matéria em
estado coloidal tornando possível sua remoção por sedimentação nos
decantadores secundários. É típico para o processo de lodos ativados tratando
esgotos sanitários em coeficiente de produção celular da ordem de 0,6. Isto
indica que de cada 100 kg de DBO removida no processo biológico acarretará
uma produção de 60 kg de SSV, ou seja, apenas 40% da matéria orgânica dos
esgotos foi de fato mineralizada e a maior parte apenas convertida em flocos.
Desta forma, justifica-se plenamente o emprego de unidades de separação de
sólidos, geralmente a base de sedimentação. Quando não são usados
decantadores formais de concreto armado, são utilizadas lagoas de decantação
ou a sedimentação ocorre no próprio reator biológico. Mais recentemente tem-se
estudado o emprego da flotação com ar dissolvido em algumas aplicações,
especialmente associada ao tratamento físico-químico.

No campo do tratamento de esgotos sanitários, a aplicação mais consolidada da


flotação com ar dissolvido está no adensamento de excesso de lodos ativados,
onde o lodo bem floculado é bastante propício para o aprisionamento de bolhas
de ar e são produzidos graus mais elevados de adensamento do lodo do que por
gravidade, mesmo sob taxas de aplicação bem mais elevadas.

3.2 Sedimentação no tratamento de esgoto

O processo de sedimentação é governado principalmente pela concentração das


partículas em suspensão. Quanto mais concentrado for o meio, maior é a
16

resistência à sedimentação. Em suspensões bastante diluídas prevalece a


sedimentação do tipo I (individual ou discreta). Neste caso as partículas
sedimentam-se individualmente sem ocorrer interrelações, segundo uma
velocidade constante ao longo da profundidade do tanque. É o tipo de
sedimentação predominante nas caixas de areia. Neste caso, a velocidade de
sedimentação pode ser calculada através do equilíbrio de forças atuantes sobre
a partícula na direção vertical (força gravitacional, para baixo, e empuxo mais
força de atrito, para cima), do qual resulta a lei de Stokes.

Aumentando-se a concentração de sólidos em suspensão, passa a prevalecer a


sedimentação do tipo II, também chamada de sedimentação floculante. Neste
caso, a maior concentração de partículas permite a formação de emaranhados
ou flocos de maior velocidade de sedimentação ao longo de suas trajetórias,
fazendo com que a velocidade de sedimentação aumente com a profundidade. É
o que tipicamente ocorre nos decantadores das ETAs, também nos
decantadores primários de esgotos onde a relativa e elevada concentração de
sólidos em suspensão permite tais interações. A partir deste caso, não é mais
válida a lei de Stokes, devendo-se proceder ensaios em colunas de
sedimentação para a obtenção de parâmetros para o projeto das unidades.

Aumentando-se ainda mais a concentração da suspensão, passa a prevalecer a


sedimentação do tipo III (também chamada de sedimentação por zona,
retardada ou impedida). Neste caso, a concentração de sólidos é muito elevada
e passa a ocorrer dificuldade de saída de água em contra-corrente para
possibilitar a sedimentação dos sólidos. Assim, a velocidade de sedimentação
diminui ao longo da profundidade do decantador, sendo bastante baixa no fundo
onde a concentração de sólidos é muito elevada. Este tipo de sedimentação
predomina em decantadores secundários de processo de lodos ativados, que é
alimentado pelo lodo concentrado do tanque de aeração. Neste caso é nítida a
ocorrência de interface lodo/líquido sobrenadante. Quando o lodo é colocado em
proveta, o deslocamento desta interface pode ser cronometrado ao longo do
tempo e através de interpretação gráfica pode-se calcular a velocidade de
sedimentação por zona (VSZ) importante para a interpretação da condição
operacional de um processo de lodos ativados. O resultado final, após 30
minutos de sedimentação, é utilizado para o cálculo do IVL.
17

A sedimentação do tipo IV, também chamada de sedimentação por compressão,


ocorre no fundo dos decantadores secundários e nos adensadores de lodo.
Neste caso, a suspensão é tão concentrada que a "sedimentação" dá-se pelo
peso de uma partícula sobre a outra, provocando a liberação de água intersticial.

3.2 Tipos de decantadores

Existem, basicamente, dois tipos de decantadores de esgotos: os de secção


retangular em planta e de escoamento longitudinal, e os de secção circular, que
mais comumente são alimentados pelo centro e a coleta do esgoto decantado é
feita nas bordas dos decantadores, ao longo da linha da circunferência. Existem
também os decantadores circulares de alimentação periférica.

Alguns autores preconizam que como decantadores primários devem ser


utilizados preferivelmente os de secção retangular, melhores para a assimilação
das variações de vazão de esgotos e, como decantadores secundários podem
ser utilizados os de secção circular, pois nesta situação a variação de vazão de
alimentação é menor e os decantadores circulares são de implantação mais
barata. Por isso, pode-se também empregar decantadores circulares como
primários, atribuindo-lhe menor eficiência na remoção de DBO. Deverá ser feita
análise econômica para subsidiar a escolha do tipo de decantador a ser
empregado em uma ETE. Os removedores mecanizados de lodo e a estrutura
em concreto armado são os principais componentes de custo. Os raspadores
mecanizados são equipamentos de custo elevado, tanto os rotativos dos
decantadores circulares como especialmente os que são movidos por pontes
rolantes que tansladam ao longo do comprimento do decantador. Os
decantadores de secção circular são também favorecidos com relação aos
custos da estrutura em concreto armado.

Os decantadores retangulares possuem o fundo ligeiramente inclinado para que


o lodo raspado seja direcionado ao poço de lodo, posicionado no início do
decantador, de onde é removido através de bombeamento ou pressão
hidrostática. No trecho final do decantador estão posicionadas, à superfície, as
canaletas de coleta do esgoto decantado cujas funções são as de reduzir a
velocidade dos esgotos na região de saída evitando-se a ressuspensão de lodo.
18

Nestes decantadores pode ser observada também uma tubulação transversal de


coleta de escuma superficial identificada por Skimmer. As comportas de
distribuição dos esgotos no canal de entrada do decantador, têm a função de
evitar escoamentos preferenciais.

Para o tratamento de alguns efluentes industriais são necessários removedores


de lodo através de aspiração. Este processo mais sofisticado se justifica quando
os sólidos sedimentados são tão leves que podem ser ressuspensos pela ação
dos raspadores.

Nas estações de pequeno porte pode-se optar pelo emprego de decantadores


sem raspador mecânico de lodo, derivados dos chamados decantadores
Dortmund.

O decantador Dortmund é de secção circular em planta mas com o fundo em


tronco de cone invertido com paredes bem inclinadas, permitindo que todo o
lodo convirja para um único "poço de lodo" de onde o lodo sedimentado pode
ser removido por pressão hidrostática.

São posicionados anteparos na região de entrada dos esgotos para direcionar o


fluxo de sólidos para baixo e na região de saída para a retenção de escuma.
Uma tubulação com derivação horizontal é posicionada para a remoção do lodo
sedimentado por pressão hidrostática.

Podem também ser utilizados os decantadores desprovidos de remoção


mecanizada de lodo de secção quadrada em planta, de fundo com o formato de
tronco de pirâmide invertida. Destes, derivaram os de seção retangular em
planta com fundos múltiplos tronco-piramidais.

Estes decantadores são baratos para serem implantados por não possuírem os
removedores mecanizados de lodo, o que também dispensa a manutenção de
equipamento eletro-mecânica. Consomem mais concreto armado para a
construção dos fundos múltiplos e são mais profundos, o que aumenta os
problemas de escavação. Este fato tem restringido o emprego deste tipo de
19

decantador em apenas pequenos sistemas, inclusive com dimensões limitadas


pela NB-12.209/90.

Na Figura 15 mostra-se a fotografia de um decantador primário de seção


retangular. Observa-se o dispositivo de remoção e o poço de lodo

Figura 15: Decantador primário da ETE Barueri/SP (SABESP)

Na Figura 16 mostra-se um decantador primário em operação

Figura 16: Decantador primário em operação


20

3.4 Dimensionamento de decantadores primários de esgoto

De acordo com a NB-12.209/90, os decantadores primários devem ser


dimensionados com base na vazão máxima horária de esgotos sanitários e para
vazões de dimensionamento superiores a 250 L/s deve-se empregar mais de um
decantador.

Para a determinação da área de decantação deve-se utilizar como parâmetro a


taxa de escoamento superficial. Na literatura internacional são recomendadas
taxas na faixa de 30 a 60 m3/m2.dia

A NB-570 impõe três condições para a adoção da taxa de escoamento


superficial para decantadores primários de esgotos:

a) até 60 m3/m2.dia, só tratamento primário


b) até 80 m3/m2.dia, seguido de filtros biológicos
c) até 120 m3/m2.dia, seguido de lodos ativados

Costuma-se adotar taxa da ordem de 60m3/m2.dia para decantadores primários


de sistemas de filtros biológicos e de até 90m3/m2.dia em sistemas de lodos
ativados.

O tempo de detenção hidráulico situa-se entre 1,5 e 3,0 horas, de acordo com a
literatura internacional sobre decantadores primários.

A NB-570 recomenda tempo de detenção superior a 1,0 hora, com base na


vazão máxima de esgotos e inferior a 6,0 horas, com base na vazão média.

Determina-se a área de decantação através da taxa de escoamento superficial e


o volume do decantador através do tempo de detenção. Obtendo-se área e
volume, pode-se obter a profundidade útil dos decantadores.
Para decantadores retangulares a relação comprimento largura deve ser
superior a 2:1, sendo típicos valores na faixa de 3:1 a 4:1, ou mais.
21

As profundidades dos decantadores variam de 2,0 a 4,5 m, sendo mais comuns


na faixa de 3,0 a 4,0 m. A NB – 12.209/90 impõe que os decantadores devem
possuir profundidade superior a 2,0 m.

Um parâmetro importante a ser observado no dimensionamento de


decantadores é a taxa de escoamento nos vertedores de saída. A NB-570
recomenda valores inferiores a 720m3/m2.dia, mas na prática são usados valores
bem inferiores, principalmente quando são usados decantadores de seção
circular.

No caso de decantadores retangulares, deve-se manter o comprimento de


canaletas vertedoras compatível com a taxa de escoamento, sem que as
mesmas avancem além de 1/4 do comprimento do decantador.

3.5 Exemplo de dimensionamento - decantador primário

a) Dados para o Dimensionamento


Ano População (hab.) Qméd(L/s) Qmáx (L/s)
2007 45.000 83,33 150,00
2017 54.200 100,37 180,67
2027 68.350 126,57 227,83

b) Taxa de escoamento superficial adotada inicialmente:

qA, máx  60m3 / m2.dia

c) Área superficial necessária de decantadores primários (2020):

Qmáx (227,83 x 86,4) m3 / d 2


qAmáx   AS   328m
AS 60m3 / m2.d
22

Serão utilizados 04 decantadores primários de secção circular em planta.

328 D2 4A 4 x 82
A DEC   82 m 2 A   D    10 , 2 m
4 4  

Os decantadores deverão portar removedores mecanizados de lodo.

d) Profundidade útil dos decantadores:

Volume útil mínimo necessário:

td , Q máx  1 . 0 h td  V / Q  V  Q .td
3
V  227 , 83 x 3 , 6 x 1 . 0  820 , 2 m
820 , 2
Hu   2 ,5 m
328

3
Para Hu  3 , 0 m  V  3 , 0 x 328  984 m
984
td Q   1 , 2 horas
máx
227 , 83 x 3 , 6
984
td Q   2 ,16 horas
méd
126 , 57 x 3 , 6

Implantação: 3 dec - 2007 (p/ atender até 2017)


1 dec - 2017 (p/ atender até 2027)

e) Taxa de escoamento nos vertedores de saída:

( 227 , 83 x 86 , 4 ) / 4 3
Q máx / L   154 m / m .d
 x 10 , 2

f) Verificação para três decantadores em 2017:


23

180 , 67 x 86 , 4 3 2
q A , máx   63 , 5 m / m .d
3 x 82

g) Alternativa: 2 decantadores

328
4x
D 2  14,5 m

h) Alternativa: Decantadores retangulares com fundos tronco-piramidais sem


removedor mecanizado de lodo

Deverão ser usados quatro decantadores de (3,7 x 22,2)m, com relação


comprimento/largura = 6/1

Profundidade do trecho prismático:

820 , 2
Hu   2 ,5 m
4 x 3 , 7 x 22 , 2

Cálculo da Produção de Lodo

Valores adotados:
Produção per capita de lodo primário: 60gSS/hab.dia
Eficiência do decantador primário na remoção de sólidos em suspensão: 60%

Produção de lodo: PL = 0,06 x 0,6 x 68.350 = 2.461 kgSST/dia (ano 2027)


Teor de sólidos no lodo descarregado: 1%
Massa específica do lodo: 1,020 kg/m3

Vazão de lodo: QL = 2.461 / (0,01 x 1.020) = 241 m3/dia


24

4 Processo de lodo ativado

4.1 Considerações Iniciais

O processo de lodo ativado pode ser enquadrado como tratamento aeróbio, de


crescimento em suspensão na massa líquida e com retenção de biomassa. A
introdução de oxigênio pode ser feita através de diferentes formas, como por
meio de aeradores superficiais, sistemas com difusores, até mesmo oxigênio
puro pode ser introduzido diretamente nos tanques. Os sólidos biológicos
crescem na forma de flocos e são mantidos em suspensão pelo equipamento de
aeração, não há meio suporte de biomassa, como os materiais inertes (pedras,
plástico, etc.) introduzidos nos sistemas de filtros biológicos. A retenção de
biomassa é feita através de recirculação do lodo separado nos decantadores
acoplados aos reatores biológicos.

O resultado da interação entre microrganismos e matéria orgânica nos tanques


de aeração é a formação de flocos. Polímeros extracelulares produzidos pelos
microrganismos são os principais agentes. Para a ocorrência de flocos densos é
necessário que as principais condições ambientais dentro dos reatores estejam
controladas. Uma das condições desejáveis é meio neutro em termos de pH, o
que é característico do esgoto doméstico. Fora da faixa neutra, o número de
grupos de microrganismos que se desenvolvem é menor, dando maior
oportunidade para desequilíbrios e predominância de microrganismos maus
formadores de flocos. A presença dos principais nutrientes, sobretudo
compostos de nitrogênio e fósforo, deve ser bem administrada. Para esgoto
doméstico, sabe-se que há nitrogênio e fósforo em excesso, não havendo
necessidade de adição artificial de nutrientes. O problema, na verdade, é como
melhor removê-los. O efeito da deficiência do meio nos principais nutrientes é
também no sentido de proporcionar a prevalência indesejável de certos grupos
de microrganismos. O oxigênio deve ser adicionado em quantidade suficiente
para garantir o processo metabólico dos microrganismos que se desenvolvem
no tanque reator e manter um pequeno saldo, segurança contra a ocorrência de
anaerobiose. Estes podem também ser influenciados negativamente pela
presença de substâncias tóxicas ou potencialmente inibidoras, que podem ser
descarregadas pelos efluentes industriais. Problemas em tratamentos biológicos
25

foram responsabilizados pela presença em quantidade excessiva de compostos


fenólicos ou de óleos e graxas, por exemplo.

Se os fatores ambientais externos estiverem sob controle, há que se planejar e


manter adequadamente condições de funcionamento tais como a relação
alimento/microrganismos e o tempo médio de residência celular.

Uma boa floculação é necessária para que se tenha recuperação de sólidos


elevada no decantador secundário e um efluente final com baixa concentração
de sólidos em suspensão. A perda de sólidos em suspensão juntos com o
esgoto tratado é inevitável, o ajuste operacional do processo de lodos ativados
consiste essencialmente em procurar encontrar as condições ambientais que
levem à melhor floculação possível, reduzindo-se a perda de sólidos com o
efluente final e obtendo-se maior eficiência na remoção de matéria orgânica
biodegradável.

O excesso de lodo biológico descartado continuamente do sistema deverá ou


não sofrer digestão bioquímica complementar, dependendo das condições
operacionais. Quando se mantêm maiores tempos de residência celular, o
excesso de lodo resultante é melhor digerido. Estas característica é uma das
principais que difere a variante com aeração prolongada dos processos
convencionais, conforme será discutido.

Figura 17: Aspecto do lodo ativado


26

4.2 Aspectos de microbiologia

Um verdadeiro ecossistema é formado no tanque de aeração de um sistema de


lodos ativados. As bactérias são os principais decompositores de matéria
orgânica dos esgotos por assumirem grandes massas em intervalos de tempo
mais reduzidos do que os outros microrganismos heterotróficos. Quando as
condições ambientais são adequadas, surgem as zoogleas, flavobactérias,
aerobacter, pseudomonas e alcalígenes, responsáveis por boa biofloculação.
Quando não, podem predominar excessivamente bactérias filamentosas como
Sphaerotillus natans, nocárdia e outras bactérias responsáveis pelo
intumescimento filamentoso do lodo, que leva à sua flutuação nos decantadores.
Além das bactérias, protozoários são importantes organismos em sistemas de
lodos ativados, pois, além de também consumirem matéria orgânica, consomem
bactérias mal floculadas, dando polimento ao efluente tratado. Aparecem mais
rapidamente protozoários fixos e, sucessivamente os ciliados cuja presença
indica boas condições do lodo biológico. De fato, a presença de protozoários é
determinante para o bom andamento do processo, que evolui em direção ao
aparecimento de micrometazoários como os rotíferos, cuja presença excessiva
pode indicar lodo com idade demasiadamente elevada.

4.3 Tempo Médio de Residência Celular (Idade do Lodo)

O tempo médio de residência celular, também conhecido por idade do lodo, é a


relação entre a massa de células no reator e a massa de células descarregadas
por dia, ou seja:

massa de células (KgSSV) no tanque de aeração


c = 
massa de células (KgSSV) descarregadas por dia

Descarregando-se mais lodo do sistema por dia o tempo de residência celular


será menor e vice-versa. Esta é a principal manobra operacional visando a
obtenção do equilíbrio do processo.
27

V. X
c = 
Qd . Xr + (Q - Qd) . Xe

Desprezando-se as perdas com o efluente final:

V. X
c = 
Qd . Xr

Considerando-se a retirada de lodo diretamente do tanque de aeração:

V. X V
c =   c = 
Qd . X Qd

Observa-se que, retirando-se o lodo diretamente do tanque de aeração, apesar


de se ter maior volume de lodo a ser descartado em virtude da sua menor
concentração em relação ao lodo sedimentado no decantador, não é preciso
análise de SSV em nenhum ponto do sistema.

4.4 Balanços de massa de substrato e de microrganismos em sistemas de


lodos ativados: equações que governam o processo

Considere-se o esquema do processo de lodos ativados, incluindo-se o tanque


de aeração, o decantador secundário e o sistema de retorno e descarte de lodo.
Pode-se definir como limites do sistema apenas o tanque de aeração, apenas o
decantador secundário ou o conjunto tanque de aeração/decantador secundário
e desenvolver-se balanços de massa de substrato ou de microrganismos. Para
cada expressão imposta para a taxa de crescimento celular ou para a taxa de
utilização do substrato, obtém-se uma relação que governa o processo,
podendo-se associar principalmente tempos de detenção hidráulico e de
28

residência celular, com a concentração de microrganismos no tanque de


aeração e de substrato solúvel no efluente tratado. Serão desenvolvidos, a título
de exemplo, dois balanços de massa que resultam em importantes equações
que representam o processo de lodos ativados.

Decantador
Secundário

Tanque de
Q, So, Xo (Q+Qr) Aeração

V, X, Se
(Q+Qr) Q-Qd
Xe, Se
X, Se
(Q+Qr), Xr
Qr, Xr, Se

Retorno de Lodo
Qd, Xr, Se

Balanço de massa de substrato em torno do tanque de aeração:

Será considerado regime estabilizado, em que não há acúmulo de massa do


sistema e assim pode-se escrever:

Q . So + Qr . Se - (Q + Qr) . Se - V . S/t = 0

Definindo-se a taxa específica de utilização do substrato, U:

massa de substrato (KgDBO) consumido por dia


U =  
massa de células (KgSSV) no reator

S/t
U =   S/t = U . X
X
29

 Q . So + Qr . Se - Q . Se + Qr . Se - V . U . X = 0 

Q . (So - Se)
U =  
V.X

A taxa específica de utilização do substrato, U, representa a massa de substrato


removida por unidade de tempo e por unidade de massa de microrganismos,
constituindo fator de dimensionamento do processo, visando a obtenção dos
volumes dos tanques de aeração. Relaciona-se com o parâmetro empírico,
relação alimento/microrganismos, definida por:

Q . So
(A/M) =  
V.X

So
(A/M) = 
td . X

Observe-se que a taxa específica de utilização do substrato envolve a carga de


substrato removida, enquanto que a relação alimento/microrganismos considera
a carga aplicada. Portanto, é a eficiência do tratamento na remoção do substrato
que associa os valores destas variáveis entre si.

( So - Se )
E =  . 100
So

(A/M) . E
 U = 
100
30

A relação alimento/microrganismos pode também ser usada como fator de


dimensionamento do tanque de aeração. Um terceiro fator também costuma ser
usado, chamado “fator de carga” (f), cuja única diferença da relação
alimento/microrganismos é que esta é determinada com base na concentração
de sólidos em suspensão voláteis no tanque de aeração (Xv), enquanto que na
composição do fator de carga de usa a concentração de sólidos em suspensão
totais (Xt).

Q . So
(A/M) = 
V . Xv

Q . So
f = 
V . Xt

Uma forma de interpretação do processo de lodos ativados pode ser


estabelecida imaginando-se um experimento em que se varia a relação
alimento/microrganismos aplicada ao sistema e se observa o efeito sobre a
floculação biológica através de outro parâmetro empírico, o índice volumétrico
de lodo (IVL). O IVL representa o volume ocupado por determinada massa de
lodo, sendo obtido através de:

Sólidos Sedimentáveis aos 30 minutos (mL/L)


IVL =  x 1.000
Sólidos em Suspensão Totais (mg/L)

Pode-se deduzir que, quando o lodo encontra-se bem formado, os valores do


IVL são baixos e vice-versa.

Pode ser observado que existe uma faixa de relação alimento/microrganismos


que conduz a uma melhor floculação biológica e a valores mais baixos de IVL
Corresponde à faixa de operação dos sistemas de lodos ativados convencionais.
Pode se observado também que, reduzindo-se a relação
31

alimento/microrganismos há prejuízo para a floculação biológica pela maior


incidência de fase endógena e os valores de IVL são mais elevados. Ë a faixa
operacional dos sistemas com aeração prolongada, em que ocorrem maior
perda de sólidos com o efluente final. Apesar disso, os sistemas com aeração
prolongada resultam em maior eficiência na remoção de matéria orgânica
biodegradável dos esgotos, uma vez que os sólidos perdidos são mais digeridos.
Na tabela comparam-se as eficiências na remoção de DBO e sólidos em
suspensão dos sistemas convencionais com os sistemas com aeração
prolongada.

Tabela 6: Eficiências típicas do processo de lodos ativados. Hespanhol (l986).

Processo/Parâmetro DBO DBO Sólidos em


Carbonácea (%) Nitrogenada (%) Suspensão (%)
Lodos Ativados 90 40 87
Convencionais
Lodos Ativados com 95 85 94
Aeração Prolongada

Observa-se que os sistemas com aeração prolongada promovem maior grau de


nitrificação dos esgotos, podendo ocorrer oxidação total de amônia quando se
introduz no tanque de aeração cerca de 3,0 kgO2/kgDBO. É um dos raros
processos biológicos capazes de atender ao rigoroso padrão de emissão de 20
mg/L para nitrogênio amoniacal, imposto na Resolução N° 357 do CONAMA.
Nos sistemas convencionais o grau de nitrificação dos esgotos é menor,
reduzindo-se com o decréscimo da idade do lodo. Já a remoção de sólidos em
suspensão é menor nos sistemas com aeração prolongada.

Balanço de massa de microrganismos no sistema de lodo ativado

Fazendo-se o balanço de massa de microrganismos (SSV) no sistema de lodo


ativado como um todo (tanque de aeração e decantador secundário, mais o
sistema de retorno/descarte de lodo), tem-se, no regime estabilizado:
32

Q . Xo – [ Qd . Xr + (Q - Qd) . Xe ] + V . X/t = 0

Onde X/t representa o crescimento global de microrganismos.


Define-se  , taxa específica de crescimento biológico, através de:

massa de células (KgSSV) produzidas por dia


 = 
massa de células (KgSSV) no reator

Porém, em um sistema de lodos ativados, nem todas as células se encontram


em fase de crescimento, devendo-se descontar o decaimento via metabolismo
endógeno, cuja taxa específica é representada por kd:

massa de células (KgSSV) destruídas por dia


kd =  
massa de células (KgSSV) no reator

A taxa de crescimento microbiano líquida, , é dada por:  =  - kd .A


taxa global de crescimento é obtida multiplicando-se a taxa específica pela
concentração celular, X:

X / t = (  - kd ) . X

E, portanto, desprezando-se a concentração de microrganismos presentes no


próprio esgoto, Xo, por ser bem inferior a X, tem-se:

– [ Qd . Xr + (Q - Qd) . Xe ] + V . X . (  - kd ) = 0

[ Qd . Xr + (Q - Qd) . Xe ]
 - kd =   1 / c =  - kd
V.X

A taxa específica de crescimento, , relaciona-se com a utilização de substrato,


U, pelo coeficiente de síntese celular, ou seja:
33

 = Y.U  1 / c = Y . U - kd

Mas, conforme obtido ainteriormente,

So - S e
U =  
td . X

So - S e
1 / c = Y .  - kd
td . X

Esta equação permite a determinação dos coeficientes Y e kd. Operando-se um


sistema de lodos ativados sob diversas idade do lodo, tem-se para cada uma um
valor estabilizado de Se e X, de forma que cada condição representa um ponto
da reta em que Y é o coeficiente angular e kd o parâmetro linear.

4.5 Modelo de Monod

Monod adaptou as relações de Michaelis-Menten da microbiologia com culturas


puras para o tratamento de esgotos. Verificou experimentalmente que em
sistemas de lodos ativados a taxa específica de crescimento celular, , não é
constante e sim variável com a concentração de substrato até certo ponto em
que o alimento e o crescimento tornam-se ilimitados. Depende de um valor
máximo, máx, que é a taxa de crescimento quando não há limitação de
substrato, da concentração de substrato, Se, e do coeficiente de velocidade ou
constante de saturação, Ks, que é o valor da concentração de substrato para a
qual a taxa de crescimento dos microrganismos é igual à metade da máxima.

máx. . Se
 = 
Ks + Se

Mas,  = Y . U e, por tanto, tem-se:


34

máx. . Se
Y . U = 
Ks + Se

máx. . Se
U = 
Y . ( Ks + Se )

Chamando-se de k a relação entre coeficientes cinéticos máx/Y, k representará


a taxa máxima de utilização de substrato por unidade de microrganismos.
k . Se
U = 
( Ks + Se )

E, conforme já definido:

So - S e
U = 
td . X

Tem-se que:

So - Se k . Se
 = 
td . X ( Ks + S )

td . X Ks 1 1
 =  .  + 
So - Se k Se k

Esta equação permite a determinação dos coeficientes cinéticos k e Ks e, como


máx= Y.k, podem assim ser obtidos os cincos coeficientes cinéticos que
governam o processo de lodos ativados, Y, kd, máx, Ks e k. Na Tabela 7 são
apresentados valores típicos dos coeficientes cinéticos.
35

Tabela 7 : Valores típicos dos coeficientes cinéticos para o processo de lodos


ativados aplicado ao tratamento de esgoto sanitário. Metcalf & Eddy (1991 )

Coeficiente Unidade Faixa Valor Típico


k d-1 2 - 10 5
Y mgSSV/mgDBO5 0,4 – 0,8 0,6
ks mgDBO5 25 - 100 60
mgDQO 15 - 70 40
kd d-1 0,025 – 0,075 0,06

Exercício de aplicação: Operou-se 5 sistemas de lodos ativados em escala de


laboratório, em paralelo, tendo-se obtido os seguintes resultados após a
estabilização:

Idade do lodo 2 4 6 8 10
c (dias)
SSVTA 1.380 1.922 2.215 2.344 2.456
X (mg/L)
DBO5,20 (filtrada) 60 32 16 11 09
Se (mg/L)

Todos os reatores foram alimentados com o mesmo esgoto com DBO5,20 = 300
mg/L e tempo de detenção hidráulico de 04 horas. Variou-se a idade do lodo de
um sistema para o outro, através do descarte de diferentes quantidades médias
de lodo por dia. Determinar os valores dos coeficientes cinéticos Y, kd, Ks, k e
máx e analisar os resultados obtidos.

4.6 Variantes do processo de lodo ativado

Existem diversas variantes do processo de lodos ativados. Cabe inicialmente


caracterizar e estabelecer as diferenças entre os sistemas convencionais e os
com aeração prolongada. A idéia fundamental é a de que nos sistemas
36

convencionais, as condições no tanque de aeração são planejadas para que


ocorra a floculação biológica sob maior fator de carga e menor idade do lodo.

Com isso, os volumes necessários de tanques reatores são menores porém, o


grau de digestão do excesso de lodo descartado é baixo e é necessária uma
estabilização bioquímica complementar antes da secagem, ou seja, a digestão
do lodo. Nos sistemas com aeração prolongada, contrariamente, permite-se
maior incidência de metabolismo endógeno mantendo-se no tanque baixa
relação alimento/microrganismos e idade do lodo alta.

Desta forma, o volume necessário de tanque de aeração é maior, mas o lodo


descartado apresenta grau de mineralização (SSV/SST) mais elevado,
dispensando-se a digestão complementar. Em geral, nos sistemas com aeração
prolongada não se utiliza decantador primário, evitando-se completamente a
necessidade de digestão de lodos em troca da exigência de um volume de
tanque de aeração cerca de 30% maior.

A substituição dos decantadores primários por reatores anaeróbios como o


UASB, tem demonstrado as vantagens de maior alívio de carga orgânica
afluente ao tratamento aeróbio, bem como proporcionar um digestor de lodo na
própria linha de tratamento dos esgotos. Com isso, pode-se operar o processo
de lodos ativados na faixa dos sistemas convencionais, enviando o excesso de
lodo desta etapa de volta aos reatores UASB para aumentar a mineralização. Os
volumes de tanques de aeração são substancialmente menores nesses arranjos.

Na Tabela 8 apresentam-se faixas típicas de parâmetros para os sistemas


convencionais e com aeração prolongada.
37

Tabela 8: Faixas típicas de parâmetros para sistemas de lodos ativados


convencionais e com aeração prolongada (Fonte: adaptado de Metcalf & Eddy –
1991e NBR – 12.209/90)
Parâmetro / Variante Sistemas Convencionais Aeração Prolongada
Fluxo de pistão Mistura completa

Faixa típica NBR - 570 Faixa típica NB – 12.209


Tempo de detenção 4a8 >1 18 a 36
hidráulico (horas)
Idade do lodo (dias) 3 a 10 20 a 30
Concentração SSVTA 1.500 a 3.000 a
(mg/L) 3.000 6.000
Relação (A/M) 0,2 a 0,5 0,05 a 0,15
(kgDBO5/kgSSV.dia)
Fator de carga (f) 0,16 a 0,4 0,05 – 0,10
(kgDBO5/kgSS.dia)
Fator de recirculação de 0,5 a 0,75 0,75 a 1,5
lodo
(Qr / Q)
Necessidade de oxigênio > 1,5 > 1,5
(kgO2/kgDBOaplicada)
Densidade de potência no >10 >10
Tanque de Aeração (w /
m3)

O processo de lodo ativado em bateladas

O processo em bateladas constitui uma moderna modalidade operacional dos


sistemas de lodos ativados. Introduzido no Brasil pela Nestlé, tem sido
intensamente utilizado para o tratamento de esgotos sanitários, especialmente
quando há grande variação de carga como em cidades litorâneas. Neste
processo, o tanque de aeração acumula a função de decantação, suprimindo-se
o decantador secundário e o sistema de retorno de lodo. Normalmente, utiliza-se
38

mais de um tanque de aeração, que são alimentados sob o regime de bateladas


sequenciais, isto é, enquanto os esgotos são descarregados em um dos tanques
de aeração, nos outros ocorrem, de forma sincronizada, outras operações
necessárias como aeração, decantação e descarga do esgoto tratado. É
necessário um grau elevado de automação do sistema para o controle destas
operações. METCALF & EDDY (1991) recomendam as seguintes distribuições
percentuais das atividades dentro de cada ciclo.

 Alimentação com aeração:


 Aeração sem alimentação (reação):
 Sedimentação:
 Descarga do tratado:

Um exemplo de esquema operacional com ciclo de duração total de 6 horas,


utilizando-se quatro tanques-reatores é o seguinte:

 Alimentação com aeração: 1hora + 30 minutos


 Aeração sem alimentação (reação): 2 horas + 30 minutos
 Sedimentação: 40 minutos
 Descarga do tratado: 1 hora + 20 minutos

Caso sejam usados apenas três tanques, o esquema operacional do ciclo de


seis horas de duração total pode ser alterado para:

 Alimentação com aeração: 2 horas


 Aeração sem alimentação (reação): 2 horas
 Sedimentação: 40 minutos
 Descarga do tratado: 1 hora + 20 minutos

Pode ser observado que em ambos os esquemas ocorre perfeito sincronismo,


terminando-se a descarga do esgoto tratado exatamente quando deverá ocorrer
o início da alimentação de um dado tanque, controlando-se o sistema pelo
tempo reservado para cada etapa, independentemente do volume recebido
naquele ciclo.
39

Além das operações descritas, há também a necessidade de remoção do


excesso de lodo, controlada pelo tempo de residência celular desejado.

Na maioria dos sistemas implantados, opera-se na faixa com aeração


prolongada utilizando-se aeradores superficiais ou, preferivelmente, ar difuso.
Considera-se que o processo é bem adequado para as situações em que
ocorrem grandes variações de carga, pois é possível variar os ciclos
operacionais e o número de tanques na alta e na baixa estações. O resultado do
tratamento é um efluente bastante clarificado, apto a receber desinfecção final,
caso seja necessária. Estudos têm sido conduzidos no sentido de se modificar a
operação destes sistemas, objetivando maximização na remoção de nutrientes,
como é o caso do estudo com enchimento anóxico (sem aeração).

Na Figura 18 mostra-se um tanque de aeração de um sistema de lodo ativado


em bateladas implantado no município de Juquitiba/SP (SABESP)

Figura 18: Tanque de aeração com aerador flutuante.

Outras Variantes do Processo

Existem várias outras modificações dos sistemas de lodos ativados, visando


benefícios específicos. Nos sistemas com alimentação escalonada, o esgoto
40

afluente é distribuído ao longo de um reator que tenha tendência a fluxo de


pistão, de forma a manter-se uma relação alimento/microrganismos mais
constante ao longo do tanque de aeração. Nos sistemas com aeração
proporcional, a quantidade de ar é introduzida de forma decrescente ao longo do
tanque de aeração, procurando-se acompanhar a curva de remoção de DBO e
com isso racionalizar o uso de energia. Nos sistemas de estabilização por
contato, o tanque de aeração é dividido em dois; o primeiro tanque é
dimensionado de forma bastante forçada ocorrendo apenas a floculação. No
segundo, ocorre a aeração apenas do excesso de lodo, para aumentar seu grau
de mineralização. Com isso, ocorre ganho substancial no volume necessário de
tanques de aeração. No processo Krauss, recirculam-se sobrenadantes de
digestores anaeróbios de lodo para o tanque de aeração, objetivando a
recuperação de nutrientes, especialmente para efluentes industriais deficientes
em nitrogênio ou fósforo.

Sistemas com Poços Profundos ( “Deep-Shaft”)

Nestes sistemas constroem-se tanques de aeração tubulares de profundidades


elevadas, 120 m, por exemplo, recorrendo-se à pressão que ocorre em altas
colunas de líquido para o favorecimento da dissolução das bolhas de ar. O
sistema é bastante compacto e eficiente na remoção de DBO.

4.7 Sistemas de aeração

Os sistemas de aeração mais comuns em sistemas de lodos ativados são os


que recorrem aos aeradores superficiais e os sistemas com ar difuso. Em ambos
os casos, a transferência de oxigênio é dificultada pela presença de sólidos e
pela salinidade dos esgotos, além de que, nas condições críticas de campo, as
temperaturas acima de 20oC e altitudes acima do nível médio do mar fazem com
que, no conjunto, sejam obtidas reduções da ordem de 40% nos valores
resultantes de testes de transferência de oxigênio em água limpa.

Na Figura 19 mostra-se um tanque de aeração por ar difuso, vazio, da ETE


Parque Novo mundo da SABESP.
41

Figura 19; Tanque de aeração com sistema de ar difuso.

Na Figura 20 mostra-se o tanque de aeração com ar difuso em aeração.

Figura 20: Tanque de aeração por ar difuso em operação


42

Na Figura 21 mostra-se um tanque de aeração dotado de aeradores superficiais


de baixa rotação, implantado na ETE Suzano da SABESP.

Figura 21: Tanque de aeração com aeradores superficiais de baixa rotação

Na Figura 22 mostra-se os detalhes de um aerador superficial.

Figura 22: Aerador superficial


43

4.8 Câmaras anóxicas

Recentemente, têm-se incorporado ao sistemas de lodo ativado as chamadas


câmaras anóxicas onde, em um compartimento misturado porém não aerado,
introduz-se o esgoto e o lodo de retorno, a montante do trecho aerado. O
objetivo é a desnitrificação do efluente final, sendo que o volume da câmara
anóxica representa em um acréscimo em torno de 30% de volume do tanque de
aeração. Resulta também em combate ao crescimento excessivo de organismos
filamentosos.

4.9 Decantadores secundários

Os decantadores secundários de processos de lodos ativados têm a função de


separar o lodo do efluente fina da forma mais adensada quanto possível. Para
isso, além de obedecer a o limite imposto para a taxa de escoamento superficial,
há que respeitar também aos limites para a taxa de aplicação de sólidos.

Os limites impostos pela NB -12.209/90 são definidos em função da


concentração de sólidos em suspensão definida para o tanque de aeração:

Taxa de escoamento superficial (qA):

a) qA < 36 m3/m2.dia se XT< 3,0 kgSST/m3


b) qA< 24 m3/m2.dia se 3,0 lgSST/m3 < XT < 4,5 kgSST/m3
c) qA < 16 m3/m2.dia, se XT > 4,5 kgSST/m3

qA = Q / AS em que:

Q: Vazão média de esgoto, sem incluir a vazão de retorno de lodo


AS: Área superficial do decantador secundário

Taxa de aplicação de sólidos (GA):

GA = [(Q + Qr) . X ] /AS em que:


44

Q:Vazão média de esgoto


Qr: Vazão de retorno de lodo
AS: Área superficial do decantador secundário

De acordo com a NBR 12.209/90 a taxa de aplicação de sólidos no decantador


secundário de processo de lodo ativado não deverá exceder a 144 kgSST/m2.dia
(6,0 kgSST/m2.h). É usual o emprego de valores na faixa de 4,0 a 5,0
lgSST/m2.hora.

Na Figura 23 mostra-se a implantação de um decantador secundário em


implantação.

Figura 23: Implantação de decantador secundário de seção circular

Na Figura 24 apresenta-se uma fotografia de um decantador secundário em


operação.
45

Figura 24: Decantador secundário de sistema de lodo ativado

4.10 Exercício de dimensionamento – processo de lodo ativado


Convencional

1) Dados de população, vazão e carga de DBO:

População Vazão média de Carga de DBO


Atendida (hab.) esgotos (kg/dia)
m3/d L/s
1ª ETAPA 224.933 53.482 619 14.752
ª
2 ETAPA 233.877 57.000 660 17.017

2) Volume necessário de tanques de aeração:

Considerando-se a instalação de decantadores primários com eficiência


estimada em 30% na remoção de DBO, a carga afluente aos tanques de
aeração será (2ª etapa):
46

Carga DBO = 0,7 x 17.017 = 11.912 kg/d

Nota: Não serão considerados neste excercício, acréscimos de vazões e cargas


decorrentes das recirculações provenientes da linha de tratamento de lodo.

Considerando-se o fator de carga f = 0,22 kgDBO/kgSS.dia, correspondente à


relação (A/M) = 0,28 kgDBO / kgSSV.d e a concentração de 3,2 kg SS / m3 no
tanque de aeração, correspondente à concentração de SSV de 2,56 kg/m3, tem-
se o seguinte volume necessário de tanques de aeração:

VTA = 11.912 / (3,2 x 0,22) = 16.920 m3

Será considerado o emprego de quatro tanques de aeração, objetivando-se a


modulação da implantação do sistema. Cada tanque possuirá 16.920 / 4 = 4.230
m3.

3) Sistema de aeração:

 Necessidade de oxigênio

Considerando-se a necessidade de oxigênio igual a 2,0 kgO2 / kgDBOapl., a


necessidade de oxigênio será:

NECO2 = (2,0 x 11.912) / 24 = 993 kgO2/hora

 Emprego de aeradores superficiais de baixa rotação:

Será considerada a capacidade de transferência de oxigênio de 0,9


kgO2/Cvxhora, nas condições de campo.

Potência necessária:

PNEC = 993 / 0,9 = 1.103 CV ou 1.103 /4 = 276 CV por tanque


47

Dimensões dos tanques de aeração:

Será considerado o emprego de 06 (seis) aeradores de 50 CV por tanque de


aeração, dispostos em série. Dimensões dos tanques:

Comprimento: 81,0 m
Largura: 13,5 m
Profundidade útil: 4,0 m
Profundidade total: 5,0 m

Volume útil resultante:

Vu = 4,0 x 13,5 x 81,0 = 4.374 m3 por tanque ou 4.274 x 4 = 17.496 m3 (total)

Fator de carga resultante:

f = 11.912 / (17.496 x 3,2) = 0,21 kgDBO/kgSSxdia

Densidade de potência resultante:

dp = (300 x 735) / 4.374 = 50 w / m3

Tempo de detenção hidráulico resultante:

td = 17.496 / (57.000 /24) = 7,4 horas

Alternativa para o sistema de aeração

Caso se utilize sistema de aeração por ar difuso, considerando-se a massa


específica do ar igual a 1,2 kg/m3, a porcentagem de O2 no ar de 23,2 % e o
rendimento do soprador de 8%, a vazão necessária de ar será:

QAR = 993 / (1,2 x 0,232 x 0,08 x 60) = 743 m3 ar / minuto


48

O soprador deverá possuir pressão suficiente para vencer a carga


correspondente à profundidade útil do tanque mais cerca de 0,5 m de perda de
carga na linha de ar.

4) Verificação das condições de funcionamento com apenas três tanques na


primeira etapa:

 f = (0,7 x 14.752) / (3,2 x 3,0 x 4.374) = 0,25 kgSS/kgDBO.d,


correspondente à A/M = 0,31 kgDBO/kg SSV.d

 Nec O2 = (2,0 x 10.326) / 24 = 860 kg O2 / hora

 PNEC = 860 / 0,9 = 956 CV

 td = (3 x 4.237) / (53.482 /24) = 5,9 horas

5) Vazão de retorno de lodo

A vazão de retorno de lodo será estimada considerando-se que o lodo estará


sedimentado no fundo do decantador secundário a uma concentração de 8,0
kg/m3 (dado típico). Fazendo-se um balanço de massa de sólidos em suspensão
no decantador secundário, desprezando-se a perda com o efluente final, tem-se:

( Q + Qr ) . X = Qr . Xr

Dividindo-se por Q e fazendo-se r = Qr / Q, tem-se:

( 1 + r ) . X = r . Xr

Para X = 3,2 kg/m3 e Xr = 8,0 kg/m3, tem-se r = 0,67e Qr = 0,67x 660 = 440
L/s ou 110 L/s por módulo, na segunda etapa.

6) Produção de excesso de lodo biológico:


49

X = 0,65 kg SS / Kg DBO

X = 0,65 x 11.912 = 7.743 kg SS / dia

Para lodo com 8,0 kgSS/m3 e massa específica 1010 kg/m3, a vazão de excesso
de lodo será:

7.743
Qlodo =  = 968 m3/d
8
Idade do lodo resultante:

c = V.X / X = (17.496 x 3,2) / 7.743 = 7,2 dias

7) Decantadores secundários:

 Área superficial de decantadores secundários

Adotando-se a taxa de aplicação de sólidos GA = 4,0 kg SS / m2 . h, tem-se a


seguinte área superficial necessária de decantadores secundários:

( Q + Qr ) . X
GA = 
As

( Q + Qr ) . X
As = 
GA

1, 67x57000x3,2
As =  = 3.173 m2 ou 3.173 / 4 = 793 m2 por decantador.
4,0 x 24
50

Utilizando-se quatro decantadores secundários com 32 m de diâmetro, tem-se a


área superficial de 804,25 m2 por decantador e área total de 3.217 m2.

A taxa de aplicação de sólidos resultantes será:

1, 67x57000x3,2
GA =  = 3,95 kg SS / m2 x hora
3.217 x 24

A taxa de escoamento superficial resultante será:

Q
qA =  = 57.000 / 3.217 = 17,7 m3/m2.d
As

 Volume útil dos decantadores secundários:

Para a profundidade útil Hu = 3,5 m, tem-se:

Vu = 3,5 x 804,25 = 2.815 m3 por decantador (volume total de 11.260 m3)

Tempo de detenção hidráulico resultante:

td = (11.260 x 24) / 57.000 = 4,7 horas

 Taxa de escoamento nos vertedores de saída:

qL = 57.000 / (4 x  x 32) = 142 m3/m2/d

 Verificação das condições de funcionamento com apenas três decantadores


na primeira etapa:

Taxa de aplicação de sólidos:


51

1, 67x53482x3,2
GA =  = 4,9 kg SS / m2 x hora
3 x 804,25 x 24
Taxa de escoamento superficial:
Q
qA =  = 53482 / 3 x 804,25 = 22,2 m3/m2.d
As

Tempo de detenção hidráulico:

td = (3 x 2815 x 24) / 53482 = 3,8 horas

Exercício de dimensionamento – processo de lodo ativado com aeração


prolongada de fluxo contínuo

Dados:

População atendida: 68352 habitantes


Vazão média de esgotos: 126,6 L/s
Carga de DBO: 3691 kg/d

1) Volume necessário de tanques de aeração:

Carga DBO = 3691 kg/d

Considerando-se o fator de carga f = 0, 08 kgDBO / kgSS.d e a concentração de


4,0 kg SS / m3 TA, tem-se o seguinte volume necessário de tanques de aeração:
3.691
VTA =  = 11.534 m3
0,08 x 4,0

2) Necessidade de oxigênio
52

Considerando-se a necessidade de oxigênio igual a 2,5 kgO2 / kgDBOapl., a


necessidade de oxigênio será:

NEC O2 = 2,5 x 3.691 = 9.228 kg O2

Considerando-se que o sistema de aeração deverá funcionar 24 horas por dia,


tem-se:

NEC. O2 = 9.228 /24 = 385 kgO2/h

Considerando-se o emprego de aeradores superficiais de baixa rotação, com


capacidade de transferência de oxigênio de 0,9 kg O2 / CV x hora, já nas
condições de campo, tem-se a seguinte potência total a ser instalada nos
tanques:

PNEC = 385 / 0,9 = 427 CV ou 427 / 4 = 107 CV por tanque (foram


considerados quatro tanques de aeração)

Dimensões dos tanques de aeração:

Será considerado o emprego de 04 (quatro) aeradores de 30 CV por tanque de


aeração, dispostos em série. Dimensões dos tanques:

Comprimento: 54,0 m
Largura: 13,5 m
Profundidade útil: 4,0 m
Profundidade total: 5,0 m

Volume útil resultante:

Vu = 4,0 x 13,5 x 54,0 = 2.916 m3 por tanque ou 2.916 x 4 = 11.664 m3 (total)

Fator de carga resultante:

f = 3.691 / (11.664 x 4,0) = 0,079 kgDBO/kgSSxdia


53

Densidade de potência resultante:

dp = (120x 735) / 2.916 = 30 w / m3

Tempo de detenção hidráulico resultante:

td = 11.664 / (126,6 x 3,6) = 25,6 horas

3) Vazão de retorno de lodo

A vazão de retorno de lodo será estimada considerando-se que o lodo estará


sedimentado no fundo do decantador secundário a uma concentração de 8,0
kg/m3 (dado típico). Fazendo-se um balanço de massa de sólidos em suspensão
no decantador secundário, desprezando-se a perda com o efluente final, tem-se:

( Q + Qr ) . X = Qr . Xr

Dividindo-se por Q e fazendo-se r = Qr / Q, tem-se:

( 1 + r ) . X = r . Xr

Para X = 4,0 kg/m3 e Xr = 8,0 kg/m3, tem-se r = 1 e Qr = 126,6 L/s


(31,65 L/s por módulo)

5) Decantadores secundários

 Área superficial:

Adotando-se a taxa de aplicação de sólidos GA = 4,0 kg SS / m2 . h, tem-se a


seguinte área superficial necessária de decantadores secundários:

( Q + Qr ) . X
GA = 
As
54

( Q + Qr ) . X
As = 
GA

2x126,6x3,6x4,0
As =  = 911,5 m2
4,0

Deverão ser usados 04 (quatro) decantadores com 17 m de diâmetro.


A taxa de escoamento superficial resultante será:
Q
qA =  = 126,6 x 3,6 / 911,5 = 12 m3/m2.d
As

 Volume útil dos decantadores:

Adotando-se a profundidade útil, Hu = 3,5 m tem-se:

Vu = 911,5 x 3,5 = 3.189 m3

Tempo de detenção hidráulico resultante:

td = 3.189 / (126,6 x 3,6) = 7,0 horas

6) Produção de excesso de lodo biológico:


Admitindo o coeficiente de produção de lodo X = 0,6 kgSS / Kg DBO, tem-se:

X = 0,6 x 3.691 = 2215 kg SS / dia

Para lodo com 8,0 kgSS/m3 e massa específica 1010 kg/m3, a vazão de excesso
de lodo será:
2.215
Qlodo =  = 277 m3/d
8
55

Idade do lodo resultante:

c = V.X / X = (11.664 x 4,0) / 2.215 = 21dias

Exercício de dimensionamento – processo de lodo ativado com aeração


prolongada em bateladas sequenciais

Dados:

População atendida: 68352 habitantes


Vazão média de esgotos: 126,6 L/s
Carga de DBO: 3691 kg/d

Será considerado o emprego de 04 (quatro) tanques de aeração/decantação.

1) Volume necessário de tanques de aeração/decantação:

O volume necessário de tanques de aeração pode ser calculado pela soma do


volume ocupado pelo lodo sedimentado com o volume necessário para receber
e tratar os esgotos.

 Volume ocupado pelo lodo:

Carga de DBO = 3.691 kg/dia

Considerando-se o fator de carga f = 0, 08 kgDBO / kgSS.d, tem-se a seguinte


quantidade (massa) de lodo necessária nos reatores (V.X):

3.691
V. X =  = 46.138 kg SSTA
0,08

Considerando-se que o lodo estará sedimentado a uma concentração de 8,0


kg/m3, o volume ocupado pelo lodo sedimentado será:
56

VLodo = 46.138 / 8,0 = 5767 m3 ou 5.767 / 4 = 1.442 m3 por tanque

 Volume destinado a receber e tratar os esgotos

Será considerado um ciclo com 06 (seis) horas de duração total, obedecendo ao


seguinte esquema operacional:

- Alimentação com aeração: uma hora e trinta minutos


- Aeração sem alimentação (reação): duas horas e trinta minutos
- Sedimentação: quarenta minutos
- Descarga do esgoto tratado: uma hora e vinte minutos

A situação mais desfavorável corresponde à alimentação de um tanque durante


uma hora e trinta minutos com a vazão máxima horária e , portanto:

VEsg = 1,5 x (1,8 x 126,6) x 3,6 = 1.230 m3

Conclui-se que cada tanque de aeração deverá possuir volume útil de 1.442 +
1.230 = 2.672 m3. Além disso, costuma-se reservar uma altura adicional de 0,60
m para que a retirada do esgoto decantado não ocorra até a superfície do lodo
sedimentado.

 Profundidade útil dos tanques de aeração/decantação : 4,0 m


 Área dos tanques: (1.442 + 1.230) / 3,4 = 786 m2
 Relação comprimento/ largura 4/1  (14 m x 56 m) = 784 m2
 Volume útil: 784 x 4 = 3.136 m3
 Concentração SSTA (X): X = V.X / V = 46.138 / (3.136 /4) = 3,7 kg / m3

2) Necessidade de oxigênio

Considerando-se a necessidade de oxigênio igual a 2,5 kgO2 / kgDBOapl., a


necessidade de oxigênio será:
57

NEC. O2 = 2,5 x 3.691 = 9.228 kg/dia

Considerando-se que o sistema de aeração deverá funcionar 16 horas por dia,


tem-se:

NEC. O2 = 9.228 / 16 = 577 kgO2/h

Considerando-se o emprego de aeradores superficiais de baixa rotação, com


capacidade de transferência de oxigênio de 0,9 kg O2 / CV x hora, já nas
condições de campo, tem-se a seguinte potência total a ser instalada nos
tanques:

PNEC = 577 / 0,9 = 641 CV ou 641 / 4 = 160 CV por tanque (foram


considerados quatro tanques de aeração)

6) Produção de excesso de lodo biológico:

Admitindo-se o coeficiente de produção de lodo X = 0,6 kgSS / Kg DBO, tem-


se:

X = 0,6 x 3.691 = 2215 kg SS / dia

Para lodo com 8,0 kgSS/m3 e massa específica 1010 kg/m3, a vazão de excesso
de lodo será:

2.215
Qlodo =  = 277 m3/d
8

Idade do lodo resultante:

c = V.X / X = 46.138 / 2.215 = 21dias


58

5 Sistemas de lagoas aeradas mecanicamente seguidas de lagoas de


decantação

5.1 Considerações iniciais

As lagoas aeradas mecanicamente podem ser classificadas como reatores de


crescimento em suspensão na massa líquida, sem retenção de biomassa. Da
mesma forma que no processo de lodos ativados, ocorre a floculação biológica
como resultado da interação entre microrganismos e matéria orgânica, sendo os
flocos mantidos em suspensão pela aeração mecânica, que tem por objetivo
principal o suprimento de oxigênio para as reações bioquímicas de
decomposição de matéria orgânica. Porém, no sistema de lagoas aeradas não
há recirculação de biomassa e, desta forma, não há necessidade de
decantadores de concreto armado com removedores mecânicos de lodo.
Empregam-se como unidades separadoras de sólidos as lagoas de decantação,
meras escavações taludadas que têm também por objetivo o armazenamento e
a digestão do lodo durante o período entre limpezas, o que ocorre geralmente a
cada dois anos ou mais. As próprias lagoas aeradas são também escavações
que podem ser revestidas com concreto magro para impedir processos erosivos
dos taludes e do solo sob os aeradores. O sistema de aeração pode ser
constituído de aeradores superficiais de alta rotação flutuantes ou de ar soprado
e difuso distribuído ao longo do fundo das unidades. Deve ser notado que, não
havendo reciclagem de células, a concentração de sólidos em suspensão é bem
menor do que a dos processos de lodos ativados, o que faz com que as lagoas
aeradas sejam proporcionalmente bem maiores que os tanques de aeração dos
sistemas de lodos ativados, uma vez que a idade do lodo é praticamente igual
ao tempo de detenção hidráulico.

O sistema é composto pelo tratamento preliminar, gradeamento e desarenação,


seguido das lagoas aeradas mecanicamente e das lagoas de decantação. É
necessária a previsão de dispositivos de remoção e secagem do lodo
acumulado nas lagoas de decantação. Obedecendo à tendência atual do
tratamento de esgotos, é possível a aplicação de tratamento anaeróbio antes
das lagoas aeradas, reduzindo-se os custos de energia elétrica para a aeração.
Na literatura são descritas duas modalidades de lagoas aeradas
59

mecanicamente: as de mistura completa e as facultativas. Para a ocorrência de


mistura completa do conteúdo da lagoa, é necessária a disponibilização de uma
densidade de potência de pelo menos 4 w/m3. Empregando-se densidades
menores parte do lodo se sedimenta na própria lagoa aerada, entrando em
decomposição anaeróbia e tornando-a facultativa. Esta última alternativa não
será abordada mais detalhadamente, por apresentar condições operacionais
mais desfavoráveis.

Os sistemas de lagoas aeradas mecanicamente seguidas de lagoas de


decantação demonstram-se viáveis para a aplicação em uma faixa ampla de
tamanho de municípios, de pequeno a médio portes. Seus custos de
implantação são mais baixos e a operação é mais simples que a dos sistemas
de lodos ativados. Por outro lado, ocupam menor área que os sistemas que
envolvem lagoas fotossintéticas. É um tratamento bastante objetivo, removendo
eficientemente DBO carbonácea, podendo-se obter 90% após a separação de
sólidos nas lagoas de decantação. A nitrificação dos esgotos não ocorre, bem
como a eficiência na remoção de coliformes fecais dos esgotos é baixa.

Na Figura 25 apresenta-se uma fotografia da lagora aerada de Jarinu/SP.

Figura 25: Vista de lagoa aerada implantada pela SABESP.


60

Os custos do tratamento podem ser reduzidos pela introdução de reator


anaeróbio antes da lagoa aerada. Também é possível a interrupção do sistema
de aeração durante três horas por dia, que deverá coincidir com o período de
ponta de consumo de energia. Neste caso a potência ser instalada deverá ser
acrescida do fator 24/21 e recomenda-se, por precaução, que neste período não
haja descarga da lagoa aerada, devendo-se prever a elevação de alguns
centímetros da lâmina líquida (Said, 1998).

Na Tabela 9 são apresentadas as principais características dos sistemas de


lagoas aeradas mecanicamente seguidas de lagoas de decantação.

Tabela 9: características dos sistemas de lagoas aeradas. Fonte: (Alem


Sobrinho, 1998).
Características Lagoa aerada aeróbia Lagoa aerada facultativa
Controle de sólidos Todos os sólidos sem com Não se tem controle.
o efluente. Necessária Parte sedimenta e parte
separação posterior. sai com o efluente final.
Concentração de SST na 100 - 360 50 – 150
lagoa
Relação SSV / SST 0,70 a 0,80 (0,75) 0,60 a 0,80
Tempo de detenção < 5 dias 5 a 12 dias
hidráulica
Idade do lodo < 5 dias Alta, devido à
sedimentação de parte do
lodo.
Eficiência na remoção de 50 a 60% só lagoa 70 a 80 %
DBO aerada. 90% com pós-
separação de sólidos.
Nitrificação Praticamente nula Praticamente nula
Remoção de coliformes Muito pobre Pobre
Profundidade da lagoa 2,5 a 5,0 m 2,5 a 5,0 m
Densidade de potência > 3 watts/m3 para impedir > 0,75 watts/m3 para
mínima a sedimentação garantir difusão uniforme
de O2
61

5.2. Cinética do processo

As lagoas aeradas mecanicamente podem ser classificadas como reatores de


mistura completa sem recirculação de biomassa. Fazendo-se um balanço de
massa de substrato ao longo da lagoa, considerando-se regime estabilizado,
tem-se:

Q.So + Q.Se - V.S / t = 0 ou:

S / t = (So - Se).Q/V

Mas S / t = K.X.Se / (Ks + Se) (Modelo de Monod), onde K representa a


máxima taxa de utilização de substrato por unidade de massa de
microrganismos e de tempo ( em tempo-1) e Ks é a constante de saturação, isto
é, a concentração de substrato para a qual a taxa de utilização de substrato por
unidade de massa de microrganismos é a metade de K (massa/volume).

E portanto, (So - Se).Q/V = K.X.Se / (Ks + Se)

Sendo Q/V o tempo de detenção hidráulica, td, tem-se:

So - Se K.Se
 = 
td . X Ks + Se

Considerando-se Ks >>> Se, tem-se:

So - Se K.Se
 = 
td . X Ks

Fazendo-se K/Ks = k, onde k representa o coeficiente da taxa específica de


remoção de substrato (expresso em L/mg.dia), tem-se:
62

So - Se
 = k.Se ou:
td . X

So - Se
 = k.X.Se
td

Fazendo-se k = k.X (k é o coeficiente da taxa global de remoção de substrato


(em tempo –1), tem-se:

So - Se
 = k.Se
td

Fazendo-se um balanço de massa de microrganismos (SSV) em torno da lagoa


aerada, considerando-se regime estabilizado (X/t = 0), tem-se:

V.X/t = Y.Q.(So - Se) - kd.X.V - Q.X

Nesta equação, Y representa o coeficiente de síntese celular e kd o coeficiente


de respiração endógena.

0 = Y.Q.(So - Se) - kd.X.V - Q.X

Q.X = Y.Q.(So - Se) - kd.X.V

Y.(So - Se)
 X = 
1 + kd.t

Combinando-se esta equação com a anteriormente obtida através do balanço de


massa de substrato,
63

So - Se
 = k.Se , tem-se:
td . X

1 + kd.t
Se =  ou
Y.k.t
1
t = 
Y.k.Se - kd

Na Tabela 10 são apresentados valores de parâmetros determinados para


lagoas aeradas tratando esgotos sanitários:

Tabela 10: Valores típicos dos coeficientes cinéticos para lagoas aeradas
tratando esgoto doméstico a 20oC (Alem Sobrinho, 1998).

Autor k k = k.Xv Y kd
(L/mg.dia) (dia-1) (kgSSV/kgDBOremov.) (dia-1)

METCALF & 2 - 10 0,4 – 0,8 0,025 – 0,1


EDDY 0,025 –
0,04
McKINNEY 0,08 0,5 0,2
VALÊNCIA 0,49 – 0,64 0,005
YÁNEZ 0,35 – 0,65 0,08 – 0,14
CRWR (*) 0,21 8,0 0,65 0,075
BALASHA 0,031 6,7 0,60 0,06
ARCEIVALA 0,017 - 0,5 – 0,7 0,075 –
0,038 0,0125
ALEM & 0,052 0,7 0,08
MUNÕZ
(*) Center for Research in Water Resource – Austin – Texas
64

Necessidade de oxigênio

A necessidade de oxigênio para a oxidação do substrato e para satisfazer o


metabolismo endógeno, pode ser expressa globalmente por:

NecO2 = a.Q.(So - Se), onde a é o coeficiente global de utilização de oxigênio,


variando entre 1,0 e 1,3 kgO2/kgDBO
Estimativa da temperatura da lagoa aerada

A temperatura do líquido da lagoa aerada pode ser estimada em função das


suas dimensões, da temperatura dos esgotos e da temperatura do ar, através
de:

A.f.Ta + Q.T
TL =  , em que:
A.f + Q

t: tempo de detenção (dias)


h: profundidade da lagoa (m)
A: área superficial da lagoa (m2)
Q: Vazão de esgotos (m3/dia)
T: temperatura do esgoto afluente (oC)
Ta: temperatura média mensal do ar (oC)
TL: temperatura da lagoa (oC)
f: coeficiente de troca de calor (m/dia). Para lagoas aeradas, o valor de f utilizado
é 0,49 m/dia.

As estimativas devem ser feitas para o mês mais frio do ano em que, no Estado
de São Paulo, a temperatura dos esgotos é da ordem de 20oC.

5.3 Exemplo de dimensionamento: Sistema com lagoa aerada aeróbia


seguida de lagoa de decantação

População atendida: 68.350 habitantes


Carga de DBO: 3.691 kg/dia
65

Vazão média de esgotos: 126,6 L/s

A-) Lagoas Aeradas Aeróbias

Adotando-se o tempo de detenção hidráulico de 3,0 dias, o volume útil


necessário de lagoas aeradas é:

VL.AER =3,0 x 126,6 x 86,4 = 32.815 m3

Serão considerados dois módulos em paralelo de lagoas aeradas seguidas de


lagoas de decantação. O volume útil necessário de lagoa aerada por módulo
será:

VL.AER = 32.815 / 2 = 16.408 m3

Sistema de Aeração

A necessidade de oxigênio é estimada em 1,3 kg O2 / kg DBO. Considerando-se


o funcionamento dos aeradores durante 24 horas por dia, tem-se:

NECO2 = 1,3 x 3.691 / 24 = 200 kg O2 / hora

Será considerado o emprego de aeradores flutuantes de alta rotação, com


capacidade de transferência de oxigênio, em condições de campo, estimada em
0,65 kg O2 / CV x hora.

Potência Necessária:

PNEC = 200 / 0,65 = 308 CV (total) ou 154 CV por lagoa

Profundidade útil adotada: Hu = 4,0 m

Área à meia profundidade de cada lagoa: A1/2Prof = 16.804 / 4,0 = 4.102 m2


66

Cada lagoa deverá portar 06 (seis) aeradores de 25 CV de potência do motor


cada, perfazendo uma potência instalada de 150 CV por lagoa e potência total
de 300 CV.

Considerando-se duas fileiras com três aeradores em cada lagoa, a relação


comprimento/largura das lagoas aeradas será de 1,5 / 1,0.

Dimensões à meia profundidade:


Comprimento: 78,50 m
Largura: 52,30 m
Borda livre: 0,60 m
Inclinação dos taludes: 1(V) / 2(H)

Principais dimensões das lagoas aeradas aeróbias:

Dimensão Comprimento (m) Largura (m)


Terreno 88,90 62,70
Espelho de água 86,50 60,30
Meia profundidade 78,50 52,30
Fundo 70,50 44,30

B-) Lagoas de Decantação

Adotando-se o tempo de detenção hidráulico de dois dias tem-se:

VL.DEC = 2,0 x 126,6 x 86,4 = 21.876 m3

Considerando-se o emprego de duas lagoas de decantação:

VL.DEC = 21.876 / 2 = 10.938 m3 (cada lagoa)

Profundidade útil adotada: Hu = 3,50 m


67

Área de cada lagoa de decantação: A1/2Prof = 10.938 / 3,50 = 3.125 m2

Dimensões à meia profundidade:

Comprimento: 79,00 m

Largura: 39,50 m

Borda livre: 0,60 m

Inclinação dos taludes: 1(V) / 2(H)

Principais dimensões das lagoas de decantação

Dimensão Comprimento (m) Largura (m)


Terreno 88,40 48,90
Espelho de água 86,00 46,50
Meia profundidade 79,00 39,50
Fundo 72,00 32,50

6 Sistemas de lagoas de estabilização

6.1 Considerações iniciais

As lagoas de estabilização são tanques construídos em terra de forma a receber


os esgotos continuamente, garantindo elevados tempos de retenção destes e
propiciando mecanismos naturais para a degradação de matéria orgânica e para
a redução da concentração de microrganismos. Não há introdução artificial de
oxigênio ou aeração eletro-mecânica.

As lagoas de estabilização podem ser classificadas em anaeróbias, facultativas


e de maturação. As lagoas anaeróbias são escavações mais profundas, com
altura útil variando na faixa de 3 a 5 metros, retendo os esgotos durante 4 a 6
68

dias. Nestas condições, garante-se a anaerobiose, uma vez que a penetração


de luz e a sobrevivência de algas só é possível e de forma bastante limitada
apenas em estreita camada superficial. Por outro lado, a taxa de aplicação de
matéria orgânica é forçada, provocando o rápido esgotamento do oxigênio que
por ventura esteja presente nos esgotos afluentes. Para as nossas condições de
temperatura e para as demais anteriormente citadas, obtêm-se eficiências na
remoção da DBO5 dos esgotos da ordem de 40 a 60 %.

As lagoas facultativas são escavações mais rasas, com profundidades típicas na


faixa de 1,5 a 2,0 m e áreas de espelho de água relativamente maiores do que
as das anaeróbias. Os sólidos sedimentáveis presentes nos esgotos depositam-
se no fundo das lagoas facultativas, entrando em decomposição anaeróbia. A
matéria orgânica solúvel mantém-se na massa líquida, sofrendo decomposição
aeróbia pela ação de microrganismos heterotróficos, que aproveitam o oxigênio
liberado pela fotossíntese de algas bem como decorrente da ventilação
superficial. O gás carbônico resultante da decomposição da matéria orgânica é
utilizado como matéria prima para o processo fotossintético, fechando o ciclo da
simbiose que caracteriza o processo. Estas lagoas, em condições normais de
operação, são capazes de propiciar eficiências na remoção de DBO 5 superiores
a 80 %.

As lagoas de estabilização começaram a ser usadas nos Estados Unidos no


início do século XX. No Brasil, o primeiro sistema construído data de 1965, em
São José dos Campos/SP.

Como vantagens do emprego de sistemas de lagoas de estabilização podem ser


listados: O baixo custo de implantação do sistema, exceto se a área for muito
valorizada ou se houver necessidade de substituição de solo; a operação é
bastante simples, sendo bastante adequados para pequenas populações onde
as companhias possuem menores recursos; o projeto é bastante simples e o
terreno reaproveitável. Como principais desvantagens podem ser listadas a
exigência de áreas relativamente grandes, a presença de elevadas
concentrações de algas no efluente final e a exalação de maus odores pelas
lagoas anaeróbias.
69

Dois principais arranjos podem ser utilizados. O denominado sistema australiano


é constituído do tratamento preliminar, seguido de lagoas anaeróbias,
facultativas e de maturação. No sistema com lagoa facultativa primária, não se
inclui lagoas anaeróbias. Com isso o sistema ocupa maior área, mas evita-se as
possibilidades de exalação de maus odores das lagoas anaeróbias.

Sistema Australiano

Tratamento Lagoa Lagoa Lagoa de


Preliminar Anaeróbia Facultativa Maturação

Sólidos Lodo Lodo Lodo

Sistema com Lagoa facultativa Primária

Tratamento Lagoa Lagoa de


Preliminar Facultativa Maturação

Sólidos Lodo Lodo

Figura 26: Fluxogramas dos sistemas de lagoas de estabilização

Sem dúvida, o tratamento de esgoto sanitário por lagoas de estabilização é uma


alternativa viável, sobretudo para municípios de pequeno porte, principalmente
os de clima quente. Resultam em menores custos de implantação, relativamente
aos demais processos, associados ao custo do terreno e à obra civil,
praticamente apenas movimento de terra e interligações hidráulicas. O controle
operacional do sistema é bastante simples, não exigindo manutenção de
equipamentos eletro-mecânicos ou controle laboratorial rigoroso.

O processo é totalmente natural e a eficiência na remoção de patógenos é


superior às obtidas em tratamentos biológicos mecanizados. Ocorrem nas
lagoas a remoção praticamente completa de ovos viáveis de helmintos e a
70

eliminação bastante eficiente de cistos de protozoários, Cryptosporidium e


Giárdia. O decaimento das bactérias Coliformes Termotolerantes também é
maior do que nos processos mecanizados, sendo que, quando são implantadas
lagoas de maturação, a eficiência é ainda maior, podendo-se atender aos
padrões de qualidade do corpo receptor sem contar com a diluição sofrida pelo
esgoto tratado.

A remoção de matéria orgânica, nitrogênio e fósforo é inferior à que ocorre nos


processos de tratamento biológicos mecanizados, o que tem motivado o estudo
da possibilidade de aplicação agrícola do efluente tratado. A remoção de DBO
situa-se em torno de 80%, com DBO do efluente final na faixa de 60 mg/L,
havendo dificuldade no atendimento aos padrões de emissão estabelecidos pelo
Decreto Estadual 8468/1976, quando o sistema não inclui lagoas de maturação.
A remoção de nitrogênio amoniacal é baixa, sendo imprescindível a implantação
de lagoas de maturação para que seja atendido o limite de 20 mgN/L
estabelecido pela Resolução 357/2005 do CONAMA. A remoção de fósforo é
bastante baixa, havendo grande dificuldade no atendimento aos padrões de
classificação de águas naturais, quando o grau de diluição é baixo. Porém, isso
ocorre também com os demais processos de tratamento e, para o efetivo
enquadramento às exigências legais, é necessária a implantação de tratamento
físico-químico com sulfato de alumínio ou cloreto férrico.

A principal dificuldade na implantação do sistema de lagoas é a disponibilidade


de área relativamente grande, não muito valorizada, com solo de boas
características geotécnicas e sem que o esgoto tenha que vencer grandes
distâncias ou cotas. Na operação, a principal dificuldade pode ser associada à
proliferação de maus odores emanados pelas lagoas anaeróbias, que
normalmente precedem as facultativas fotossintéticas. Nos casos de grande
vulnerabilidade a esse respeito, as lagoas anaeróbias podem ser suprimidas,
mas a área total de lagoas facultativas será maior. O efluente final contém
grandes densidades de algas.

Conclusivamente, apesar de os sistemas de lagoas de estabilização poderem


apresentar dificuldades em relação aos padrões de lançamento e de
classificação dos corpos d’água naturais receptores de esgotos, constituem
71

alternativa de tratamento compatível com a realidade atual das empresas de


saneamento que, em geral, possuem baixa capacidade operacional. Como
outros processos mais sofisticados também podem apresentar tais problemas,
acredita-se que haja necessidade de maior adequação da legislação vigente, em
vista que, por exemplo, em inúmeras situações, não se consegue o
enquadramento da concentração de fósforo aos limites impostos pelo CONAMA
nem com tratamento físico-químico complementar.

A utilização agrícola do efluente tratado está sendo regulamentada no Brasil e


poderá constituir, em um futuro próximo, alternativa interessante para a disposição do
efluente final de sistemas de lagoas de estabilização.

6.2 Lagoas anaeróbias

São escavações com profundidade útil na faixa de 3 a 5 metros, recebendo


carga contínua de esgoto de modo a manter condições de anaerobiose. A
matéria orgânica é convertida primeiramente por bactérias facultativas a ácidos
voláteis, como o ácido acético, e depois é definitivamente oxidada a metano e
gás carbônico por bactérias anaeróbias estritas.
e

Ausência
de O2
H 2S

Esgoto
CHONPS Ácidos voláteis CH4 + CO 2 + H 2O

N Orgânico N Amoniacal Zona


anaeróbia
NO 

3
NO 2

N 2
Sólidos
sedimentáveis SO 2

4
S (H S )
2

Lodo Ácidos orgânicos CO 2, NH 3, H 2S, CH 4

Figura 27: Transformações bioquímicas em lagoas anaeróbias


72

O nitrogênio orgânico é oxidado a nitrogênio amoniacal e o nitrato pode ser


reduzido a nitrogênio molecular, N2 gasoso. Os fosfatos orgânicos são oxidados
a ortofosfatos. A geração de maus odores ocorre com a redução de sulfato a
sulfeto, promovendo a liberação do gás sulfídrico, H2S.

No dimensionamento das lagoas anaeróbias, recomendam-se tempos de


detenção hidráulicos na faixa de 3 a 6 dias, dependendo da temperatura local. A
taxa de aplicação volumétrica de DBO deverá situar-se entre 0,1 e 0,4 kg DBO
/m3 x dia e a taxa de aplicação superficial de DBO deverá ser superior a 1000 kg
DBO / ha x dia, para que se garanta anaerobiose. Nestas condições, eficiências
na remoção de DBO na faixa de 40 a 60 % podem ser esperadas.

Nos projetos, deve-se garantir a distribuição das entradas e das saídas dos
esgotos, dificultando-se a ocorrência de caminhos preferenciais. O rebaixo
adicional do fundo da lagoa até cerca de ¼ de seu comprimento resulta em um
ganho de volume para acúmulo de lodo. A inclinação dos taludes a ser
estabelecida depende dos estudos geotécnicos a serem feitos preliminarmente.

6.3 Lagoas facultativas fotossintéticas

As lagoas facultativas são escavações com profundidades úteis na faixa de 1,5 a


2,0 metros, permitindo a penetração de luz e a produção de oxigênio via
fotossíntese em quase toda sua extensão, utilizado pelos microrganismos
heterotróficos na decomposição de matéria orgânica.

Parte dos sólidos dos esgotos se sedimenta e entra em decomposição


anaeróbia no fundo da lagoa, o que a torna facultativa. A ação de ventos sobre a
superfície das lagoas também é importante para a oxigenação, o que torna
desejável a manutenção de uma área livre em torno das lagoas. Na figura 3
representam-se os principais mecanismos que ocorrem nas lagoas facultativas
fotossintéticas.
73

Produção
durante o dia
Vento Ausência
O2 CO 2
O2 de O 2
M istura e Reaeração H 2S

Novas células Algas NH 3, PO 4, etc


Esgoto Zona
Aeróbia
O2 CO 2 H 2S + 2O2  H 2SO 4

Bactérias Novas células


NH 3, PO 4, etc Zona
Sólidos
Facultativa
Sedimentáveis
Células mortas
Zona
Lodo Ácidos Orgânicos CO 2, NH 3, H 2S, CH 4 Anaeróbia

Figura 28: Transformações bioquímicas em lagoas facultativas

Dimensionamento das lagoas facultativas

Muitas formulações são propostas na literatura para o dimensionamento de


lagoas. Porém muitas são experimentais e provenientes de regiões diferentes
como Estados Unidos, Austrália e África do Sul. Tais fórmulas remetem a
resultados diferentes, sendo preferível o uso de critérios com base local. No
Brasil, a CETESB desenvolveu uma adaptação da fórmula de Mc Garry &
Pescod, a partir de levantamentos em sistemas de lagoas existentes no Estado
de São Paulo, chegando a relações específicas para lagoas facultativas
primárias ou secundárias.

Dimensionamento de lagoas facultativas primárias

Taxa de aplicação superficial limite de DBO (L):

L = 20 x T - 60

onde T representa a temperatura média do ar do mês mais frio do ano.


74

A profundidade típica das lagoas facultativas primárias é de 1,80 m, podendo-se


acrescentar um rebaixo de 0,5 m no quarto inicial do comprimento para acúmulo
de lodo, uma vez que neste arranjo não se incluem lagoas anaeróbias `a
montante. A relação comprimento/largura varia normalmente na faixa de 3/1 a
5/1, embora esses limites possam ser ultrapassados.

Dimensionamento de lagoas facultativas secundárias

Taxa de aplicação superficial limite de DBO (L):

L = 14 x T - 40

A profundidade típica das lagoas facultativas secundárias é de 1,50 m.

Eficiência dos Sistemas de Lagoas de Estabilização

Até as lagoas facultativas, os sistemas apresentam eficiências na remoção de


DBO5 ligeiramente superiores a 80%, com DBO5 dos efluentes inferiores a 60
mg/L. A eficiência típica na remoção de coliformes fecais é de 99%, com
efluentes com concentrações da ordem de 105 CF/100 mL. A concentração de
nitrogênio amoniacal pode ser superior à 10 a 15 mg/L e a de fósforo total
superior a 3 mgP/L Devido aos tempos de retenção elevados, o processo é
bioquimicamente estável. Porém, os efluentes das lagoas facultativas sofrem
variações de qualidade devido às mudanças na direção dos ventos e
consequências sobre o acúmulo de algas na região da saída da lagoa.

Na Figura 29 apresenta-se uma fotografia aérea do sistema constituído de três


módulos em paralelo de lagoas anaeróbias seguidas de lagoas facultativas
fotossintéticas, implantado pela SABESP no município de Lins/SP para o
atendimento de cerca de 65.000 habitantes.
75

Figura 29: Sistema de lagoas de estabilização de Lins/SP. Fonte: SABESP

Na Figura 30 mostra-se uma vista do sistema de São Lourenço da Serra/SP da


SABESP, com o tratamento preliminar e a lagoa anaeróbia em primeiro plano e
a lagoa facultativa ao fundo.

Figura 30: Sistema de lagoas de estabilização de São Lourenço da Serra/SP


76

6.4 Lagoas de maturação

São escavações com profundidades inferiores a 1,0 m, permitindo elevados


tempos de detenção dos esgotos e o decaimento dos coliformes devido à
incidência da radiação ultravioleta da luz solar. Os efluentes das lagoas
facultativas são mais clarificados e assim ocorre boa penetração de luz. A baixa
concentração de matéria orgânica biodegradável contribui para o decaimento
por metabolismo endógeno. Promove boa nitrificação dos esgotos e pequeno
aumento na remoção de DBO5. Obtém-se normalmente eficiências na remoção
de coliformes fecais superiores a 99,99%, com efluentes com concentrações de
coliformes fecais inferiores a 103CF/100 mL.

Em áreas densamente habitadas pode ser difícil a existência de área suficiente


para a implantação de lagoas de maturação. Um tempo de detenção típico é de
7 dias para a obtenção das eficiências mencionadas, devendo-se recorrer aos
modelos de decaimento de coliformes e aos padrões do corpo receptor para a
definição do tempo de detenção hidráulico necessário.

Modelos de decaimento de coliformes

O modelo mais simples para as estimativas de redução dos índices de


coliformes é o de mistura completa. Considerando-se a reação de inativação de
primeira ordem, tem-se:

N = No / ( 1 + kb x t ), onde:

N : Concentração de coliformes nos efluentes da lagoa;


No: Concentração de coliformes nos esgotos afluentes à lagoa;
t: Tempo de detenção hidráulico;
kb: Constante da velocidade da reação

Um valor típico de kb a 20oC é 2,61 d-1. Para outras temperaturas tem-se:

kbToC = kb20oC x 1,07(T – 20)


77

Avaliação da eficiência de lagoas de estabilização pelo modelo de reator com


carga parcialmente dispersa

4 . a . e1/2d
N / No =  , em que:
( 1 + a )2 . ea/2d - ( 1 - a )2 . e-a/2d

a = ( 1 + 4.k.t.d )1/2 , onde:

k: constante da velocidade da reação, em d-1


t: tempo de detenção hidráulico, em dias
d: fator de dispersão, adimensional

Uma das proposições para o cálculo do fator de dispersão foi feita por Yánez
(1993):

(L/B)
d =  , em que:
- 0,261 + 0,254 .(L/B) + 1,014.(L/B)2

L: comprimento da lagoa
B: largura da lagoa

Para a remoção de DBO em lagoas facultativas têm-se proposto k variando


entre 0,13 e 0,17 d-1 a 20oC, propondo-se para a correção de k em função da
temperatura:

kToC = k20oC . 1,035(T – 20)

Para a remoção de coliformes, recomenda-se k variando entre 0,2 e 0,4 d-1 para
lagoas facultativas e entre 0,3 e 0,8 d-1 para lagoas de maturação. Para outras
temperaturas, corrigir o valor de k através de:
78

kToC = k20oC . 1,07(T – 20)

6.5 Exemplo de dimensionamento: sistemas de lagoas de estabilização

Dados:

População atendida: 68.350 habitantes


Carga de DBO: 3.691 kg/dia
Vazão média de esgotos: 126,6 L/s

A-) Sistema Australiano

A-1) Lagoas Anaeróbias:

Adotando-se o tempo de detenção hidráulico, com base na vazão média de


esgotos, igual a 4 dias, tem-se o seguinte volume útil necessário de lagoas
anaeróbias:

Qméd = 126,6 L/s

td = 4 dias  VL.AN. = 4,0 x 126,6 x 86,4 = 43.753 m3 (total de lagoas)

Considerando-se três módulos de lagoas operando em paralelo, em função da


disposição do terreno e da etapalização da implantação do sistema de
tratamento, tem-se:

VL. AN = 43.753 / 3 = 14.584 m3 (cada lagoa)

Profundidade útil adotada: 4,0 m


Área à meia profundidade: A1/2Prof = 14.584 / 4 = 3.646 m2
Relação comprimento/largura adotado: L/B = 2/1
Dimensões à meia profundidade: (85,4 x 42,7) m
Inclinação dos taludes: 1(V) / 2(H) (adotado em função das características do
terreno)
Borda livre adotada: 0,60 m
79

Principais dimensões das lagoas anaeróbias:

Dimensão Comprimento (m) Largura (m)


Terreno 95,8 53,1
Espelho de água 93,4 50,7
Meia profundidade 85,4 42,7
Fundo 77,4 34,7

Taxa de aplicação volumétrica de DBO resultante:

V = 3.691 / 43.753 = 0.085 kg DBO/m3.dia

Taxa de aplicação superficial de DBO resultante:

S = 3.691 x 104 / 3,0 x 93,4 x 50,7 = 2.598 kg DBO / ha.dia

Eficiência na remoção de DBO: 50%


Carga de DBO residual para as lagoas facultativas:
Carga DBO = 0,5 x 3.691 = 1.846 kg/dia

A-2) Lagoas Facultativas Fotossintéticas:

Taxa de aplicação superficial limite de DBO:

L = 14 . T - 40

Considerando-se T = 15oC  L = 170 kgDBO/haxdia


Área mínima necessária de lagoas facultativas:

AL.FAC = 1.846 / 170 = 10,86 ha

Número de lagoas facultativas: 03 (em paralelo)

Área do espelho de água por lagoa:


80

AL.FAC = 3,62 ha (por lagoa)

Relação comprimento/largura adotada em função das características da área:


L/B = 3/1

Comprimento do espelho de água: 330 m


Largura do espelho de água: 110 m

Borda livre: 0,6 m


Inclinação dos taludes: 1 (V) / 2 (H)

Principais dimensões das lagoas facultativas secundárias:

Dimensão Comprimento (m) Largura (m)


Terreno 332,40 112,40
Espelho de água 330,00 110,0
Meia profundidade 327,00 107,00
Fundo 324,00 104,00

A-3) Lagoas de maturação

Adotando-se o tempo de detenção hidráulico de 7,0 dias, tem-se o seguinte


volume útil necessário de lagoas de maturação:

Vu = 7,0 x 126,6 x 86,4 =76.568 m3 (três lagoas de 25.523 m3 cada)

Adotando-se a profundidade útil de 1,0 m, á área à meia profundidade será:

A1/2Prof = 25.523 m2

Considerando-se relação comprimento/largura de 5/1, tem-se as seguintes


dimensões das lagoas facultativas à meia profundidade:

Comprimento: 357,5 m
81

Largura: 71,5 m
Borda livre: 0,60 m
Inclinação dos taludes: 1(V) / 2(H)

Principais dimensões das lagoas de maturação:

Dimensão Comprimento (m) Largura (m)


Terreno 361,90 75,90
Espelho de água 359,50 73,50
Meia profundidade 357,50 71,50
Fundo 355,50 69,50

B) Lagoas facultativas primárias

Carga de DBO: 3.691 kg/dia


Taxa de aplicação superficial limite de DBO:

L = 20.T – 60
Para T = 15oC  L = 240 kg DBO/ha.dia
Área superficial mínima necessária:

As = 3.691 / 240 = 15,4 ha ou As = 15,4 / 3 = 5,1 ha (cada lagoa)

Relação comprimento/largura adotada: L/B = 3/1

Dimensões do espelho de água:


Comprimento: 392,20 m
Largura: 130,70 m

Borda livre: 0,60 m


Inclinação dos taludes: 1(V) / 2(H)

Principais dimensões das lagoas facultativas fotossintéticas primárias:


82

Dimensão Comprimento (m) Largura (m)


Terreno 394,60 132,900
Espelho de água 392,20 130,70
Meia profundidade 388,60 127,10
Fundo 385,00 123,50

6.6 Outras características dos sistemas de lagoas de estabilização

Na Tabela 11 apresenta-se uma síntese dos principais parâmetros utilizados


para o projeto dos sistemas de lagoas de estabilização, válidos para as
condições climáticas brasileiras. Esta tabela serve como síntese dos parâmetros
apresentados individualmente para cada tipo de lagoa, para a complementação
e para servir como referência, por terem sido extraídos de outra fonte
bibliográfica.

Tabela 1: Principais Parâmetros de Projeto de Lagoas de Estabilização. FONTE:


Adaptada de VON SPERLING (2003)

Tipo de Lagoas
Parâmetro de Projeto
Anaeróbias Facultativas Facultativas
Primárias Secundárias
Tempo de detenção (d) 3-6 15 - 45 10 - 30
Taxa de aplicação
superficial (kgDBO5/ha.d) - 100 - 350 100 - 350
Taxa de aplicação
volumétrica 0,10 – 0,35 - -
(kgDBO/m3.d)
Profundidade (m) 3,0 – 5,0 1,5 – 2,0 1,5 – 2,0
Área “per capita”
requerida 0,1 – 0,2 2,0 – 4,0 1,5 – 3,0
(m2/hab.)
83

Os sistemas de lagoas de estabilização têm sido amplamente utilizados na


prática de tratamento de esgoto sanitário em todo o Brasil, tendo-se observado
resultados satisfatórios em termos da qualidade do efluente, sempre quando o
projeto é tecnicamente adequado e existe um mínimo de operação e
manutenção.

Com relação aos constituintes físico-químicos dos esgotos, na Tabela 3.7


sintetizam-se as faixas de eficiências de remoção que podem ser esperadas nas
condições climáticas brasileiras, quando são aplicados os parâmetros de projeto
anteriormente descritos.

Tabela 12: Faixas de Eficiências de Remoção de Constituintes Físico-Químicos


em Lagoas de Estabilização. FONTE: Adaptada de VON SPERLING (2003)

Eficiência Típica de Remoção (%)


Lagoa Lagoa Lagoa Lagoa
Parâmetro Facultativa Anaeróbia + Facultativa + Anaeróbia +
Facultativa Maturação Facultativa +
Maturação
DBO 75 - 85 75 - 85 80 - 85 80 - 85
DQO 65 - 80 65 - 80 70 - 83 70 - 83
SST 70 - 80 70 - 80 70 -80 70 -80
Amônia < 50 < 50 40 - 80 40 - 80
Nitrogênio < 60 < 60 40 – 65 40 – 70
Fósforo < 35 < 35 > 40 > 40

Apenas até as lagoas facultativas, isto é, quando não são implantadas as lagoas
de maturação, os sistemas apresentam eficiências na remoção de DBO5
ligeiramente superiores a 80%, com DBO5 dos efluentes inferiores a 60 mg/L. A
eficiência típica na remoção de coliformes fecais é de 99%, com efluentes com
concentrações da ordem de 105 CF/100 mL. A concentração de nitrogênio
amoniacal pode ser superior a 15 mgN/L e a de fósforo total superior a 3 mgP/L
Devido aos tempos de retenção elevados, o processo é bioquimicamente
estável. Porém, os efluentes das lagoas facultativas sofrem variações de
qualidade devido às mudanças na direção dos ventos e consequências sobre o
acúmulo de algas na região da saída da lagoa. Destaca-se a baixa eficiência dos
sistemas de lagoas de estabilização na remoção de nutrientes, nitrogênio e
84

fósforo, o que é interessante sob o ponto de vista agronômico, mas que resulta
na necessidade de tratamento complementar para lançamento em águas
naturais.

Com relação aos constituintes biológicos dos esgotos, na Tabela 3.8 são
apresentadas as faixas esperadas de eficiências de remoção.

Tabela 13: Faixas de Eficiências de Remoção de Organismos Patogênicos e


Indicadores em Lagoas de Estabilização. FONTE: Adaptada de VON SPERLING
(2003)

Eficiência Típica de Remoção (% ou unidades log removidas)*


Lagoa Lagoa Lagoa Lagoa
Parâmetro Facultativa Anaeróbia + Facultativa + Anaeróbia +
Facultativa Maturação Facultativa +
Maturação
Coliformes 1 – 2 log 1 – 2 log 3 – 6 log 3 – 6 log
Bactérias 1 – 2 log 1 – 2 log 3 – 6 log 3 – 6 log
Patogênicas
Vírus ≤ 1 log 1 log 2 – 4 log 2 – 4 log
Cistos de 100% 100% 100% 100%
Protozoários
Ovos de 100 % 100 % 100 % 100 %
Helmintos

* 1 log = 90%; 2 log = 99%; 3 log = 99,9%; 6 log = 99,9999%.

Destaca-se a singular capacidade dos sistemas de lagoas de estabilização na


remoção de contaminantes como os cistos de protozoários e ovos de helmintos,
que normalmente se apresentam na forma de partículas que atingem a faixa
coloidal. O mecanismo de remoção predominante é a sedimentação.

Se, por um lado, os sistemas de lagoas de estabilização são eficientes na


remoção de sólidos em suspensão dos esgotos e operacionalmente simples,
tendo em vista que o lodo formado se acumula e digere no fundo das lagoas,
prescindindo da atividade cotidiana de tratamento de lodo, por outro, quando
ocorrem as necessidades periódicas de remoção de lodo, tem-se um problema
de grande porte. Esta atividade deverá ser adequadamente gerenciada, para
que não seja admitido o acúmulo excessivo de lodo e a conseqüente queda na
eficiência do processo de tratamento, bem como para que as alternativas de
85

disposição final sejam convenientemente planejadas. Com o objetivo de


subsidiar esta ação, na Tabela 3.9 são apresentadas as características
quantitativas e qualitativas dos lodos acumulados em lagoas de estabilização.

Tabela 14: Taxas de Acúmulo e Características dos Lodos de Lagoas de


Estabilização. FONTE: Adaptado de VON SPERLING (2003).

Tipo de Lagoas
Parâmetro de
Projeto Anaeróbias Facultativas Facultativas Maturação
Primárias Secundárias

Taxa de acúmulo de 0,02 – 0,10 0,03 – 0,09 0,03 – 0,05 -


lodo (m3/hab.ano)
Intervalo de remoção <7 > 15 > 20 > 20
(anos)
Concentração de
sólidos totais no lodo > 10 % > 10 % > 10 % > 10 %
(% ST)*
Relação SV / ST < 50 % < 50 % < 50 % < 50 %
Concentração de
coliformes no lodo 102 - 104 102 - 104 102 - 104 102 - 104
(CF/gST)
Concentração de
ovos de helmintos no 101 - 103 101 - 103 101 - 103 101 - 103
lodo (ovos/gST)

Deve ser lembrado que é essencial a presença de sistema bem operado de


desarenação do esgoto. Deve ser lembrado também que, ao ser removido por
dragagem hidráulica (bombeamento), a concentração de sólidos no lodo pode-
se reduzir a 5% a 7%.

Deve-se salientar que, de acordo com levantamento na literatura nacional e


internacional realizado por ITO, apud ALEM SOBRINHO in: TSUTIYA (2001), as
86

taxas de acúmulo de lodo em lagoas determinadas em diversos estudos são


extremamente discrepantes.

Um outro aspecto de grande importância relativo ao sistema de lagoas de


estabilização, com capital influência no caso de lançamento em corpos d’água
naturais e relativa importância na aplicação agrícola e que ainda não foi
satisfatoriamente resolvido, refere-se à presença de algas no efluente final.

A presença de algas no efluente final é indesejável por fatores estéticos e por


razões de saúde, pois algumas algas apresentam toxicidade em determinadas
circunstâncias. Além disso, concorre para a elevação substancial da
concentração de sólidos em suspensão, promovendo estrutura para a formação
de agregados contendo microrganismos e constituindo barreira contra processos
de desinfecção. Sendo assim, para melhorar a qualidade do efluente, é
necessária uma etapa adicional de tratamento, visando a remoção de algas,
antes da descarga ou utilização agrícola.

As algas presentes nos sistemas de lagoas de estabilização têm como função a


remoção de nutrientes, sendo o nitrogênio amoniacal o principal deles por ser
empregado na síntese celular. De acordo com DINGES apud FABRETI (2005), o
número de gêneros de algas de lagoas de estabilização é limitado. No geral,
pertencem aos gêneros Phyla Cyanobacteria (algas verde azuladas, atualmente
consideradas como bactérias: cianobactérias), Chlorophyta (algas verdes),
Euglenophyta (os flagelados pigmentados) e Bacillariophyta (diatomáceas)

A presença de algas pode ser determinada indiretamente através da


quantificação de clorofila a. Segundo MARA et al. apud VON SPERLING (2002),
as concentrações de clorofila a em lagoas de estabilização dependem da carga
aplicada e da temperatura, situando-se normalmente na faixa de 500 a 2000
µg/L.

A Resolução No 357 do CONAMA estabelece os seguintes limites para clorofila a


em águas naturais:
87

 10 g/L para águas doces de classe 1;


 30 g/L para águas doces de classe 2;
 60 g/L para águas doces de classe 3.

Fica mais uma vez confirmada a necessidade de um pós-tratamento do efluente


de lagoas de estabilização, em vista dos elevados graus de diluição necessários
para o enquadramento deste parâmetro.

De acordo com MONTEGGIA E TESSELE (2001), a separação das algas


apresenta algumas dificuldades associadas:

 Ao tamanho reduzido das algas (1 a 20 m);


 À baixa massa específica das células, reduzidas adicionalmente pela
adesão de microbolhas de oxigênio produzido na respiração;
 À concentração relativamente diluída das suspensões contendo algas.

Alguns tipos de tratamento como: filtros de pedra, filtros intermitentes de areia,


lagoas com macrófitas flutuantes, processos físico-químicos à base de
coagulação-floculação química com separação de sólidos por sedimentação ou
flotação, entre outros encontrados na literatura, são os mais recomendados para
a remoção das algas em efluentes de lagoas de estabilização.
88

7 Filtros biológicos aeróbios

7.1 Considerações iniciais

Os filtros biológicos aeróbios podem ser classificados como reatores de leito fixo
e com retenção de biomassa. São preenchidos com um meio inerte, geralmente
pedra ou material plástico, sobre a superfície dos quais a biomassa responsável
pela depuração do esgoto cresce aderida. Desta forma, garante-se a
diferenciação entre o tempo de retenção hidráulica, que é de apenas algumas
horas, do tempo de residência celular, mantido na ordem de dias.

O esgoto é recalcado para a superfície dos filtros, onde se posiciona o


distribuidor rotativo, cuja função é garantir o umedecimento uniforme de toda a
área do filtro. Em seguida, percola sobre o material de enchimento, sem
provocar afogamento. Utiliza-se brita No 4 ou material plástico, que pode ser na
forma de blocos estruturados ou de anéis lançados aleatoriamente nos filtros. A
matéria orgânica dos esgotos pode penetrar na película biológica (ou biofilme)
que se forma em torno do enchimento, conjuntamente com o ar que circula em
contra-corrente a partir de janelas para a ventilação posicionadas na parte
inferior do filtro.

O material de enchimento apóia-se sobre um fundo falso, constituído de lajotas


perfuradas, que garante a drenagem do esgoto tratado. Há a necessidade de
separação de sólidos que se desprendem do biofilme, mediante a passagem dos
efluentes do filtro por decantadores secundários. Não há necessidade de retorno
de lodo e sim de efluente tratado para a entrada dos filtros, evitando a
proliferação de moscas (Psychoda Alternata) e que o biofilme perca
excessivamente a umidade nos períodos noturnos de baixa vazão.

Na Figura 31 apresenta-se um desenho esquemático de um filtro biológico


percolador ( Fonte: Alem Sobrinho, 2003).
89

Figura 31: Corte esquemático de um filtro biológico percolador

A concepção tradicional envolvendo o emprego de filtros biológicos aeróbios é


semelhante à do processo de lodos ativados convencional. O sistema é
constituído do tratamento preliminar, grade e caixa de areia, decantadores
primários, filtros biológicos substituindo os tanques de aeração, decantadores
secundários e a linha de tratamento de lodo, adensamento digestão e secagem.

Após o advento dos reatores anaeróbios de fluxo ascendente e manto de lodo


(reatores UASB), estas unidades passaram a constituir-se em opção importante
em substituição aos decantadores primários, podendo também receber o
excesso de lodo dos filtros biológicos para complementar a mineralização,
dispensando os digestores de lodo.

Na Figura 32 apresenta-se uma fotografia do filtro biológico biológico percolador


implantado pela SANEPAR no município de Cambé/PR.
90

Figura 32: Filtro biológico percolador com leito de brita

Recentemente foram desenvolvidas novas modalidades de filtros, os chamados


biofiltros aerados de leito submerso. Estes filtros diferem dos tradicionais
principalmente pela manutenção do leito afogado e pela inclusão de sistema de
aeração por meio de soprador e difusores de bolha grossa ou tubos perfurados.
Além de eficiência elevada na remoção da matéria orgânica carbonácea dos
esgotos, as unidades podem ser dimensionadas de forma a garantir bons níveis
de nitrificação dos esgotos.

Complementando o tratamento de efluentes de reatores UASB, os biofiltros


aerados podem representar alternativa com boas possibilidades de ser
viabilizada para o atendimento à comunidades de diferentes portes. Os esgotos
tratados são bem clarificados e esta condição garante eficiência na desinfecção
final através de cloração ou de aplicação de radiação ultravioleta, dentre outras
técnicas.

7.2 Bioquímica e microbiologia


91

À medida que o esgoto percola pelo filtro, ocorre a penetração do substrato e do


oxigênio no biofilme, onde ocorrem as reações de decomposição de matéria
orgânica, sendo os subprodutos lançados em contra-corrente. Em função do
alimento consumido, dá-se o crescimento celular e o da espessura da película
biológica, o que faz com que os microrganismos mais internos sofram limitações
no suprimento de alimento ou de oxigênio, entrando em fase endógena ou
anaerobiose. Assim, perdem a capacidade de aderência ao meio suporte, de
forma a provocar o desprendimento de pedaços de biofilme, gerando o excesso
de lodo biológico e mantendo o equilíbrio da película.

O processo é essencialmente aeróbio e a reação de decomposição da matéria


orgânica pode ser simplificadamente expressa por::

(CH2O)X + O2  CO2 + H2O + (CH2O)Y

Onde (CH2O)X representa a matéria orgânica biodegradável dos esgotos e


(CH2O)Y o crescimento celular resultante. Assim como no processo de lodos
ativados convencional, a produção de lodo nos sistemas de filtros biológicos é
da ordem de 0,75 kg SS / kg DBO aplicada. Na parte interna do biofilme ocorre
anaerobiose, representada simplificadamente por:

(CH2O)X  CH4 + CO2 + H2O + (CH2O)Y + H2 + H3C-COOH + 

Os grupos de microrganismos que participam do processo de filtros biológicos


são semelhantes aos dos sistemas de lodos ativados. Na parte externa do
biofilme predominam bactérias boas formadoras de flocos como aerobacter,
flavobacter, pseudomonas e alcalígenes. Na parte interna do biofilme,
predominam microrganismos que, em sistemas de lodos ativados, seriam
causadores de má floculação como sphaerotilus natans, nocárdia e beggiatoa.
As bactérias nitrificadoras, Nitrossomonas e Nitrobacter podem aparecer na
parte baixa dos filtros descendentes, onde se verificam baixa DBO carbonácea e
elevada concentração de oxigênio dissolvido (uma vez que a ventilação dá-se
em contra-corrente), requisitos essenciais para a nitrificação. Fungos como o
92

Mucor, Penicillium e Fusarium também tomam parte do processo.


Complementam o ecossistema de filtros biológicos protozoários como os ciliados
Opercularia, Epystilis e Vorticella, além de micrometazoários como os rotíferos.
Algas podem aparecer na parte superior do filtro, aberta e exposta à luz solar.
Alí também se hospedam verrnes, caramujos e larvas de insetos.

7.3 Equações que governam o processo

Nos filtros biológicos aeróbios convencionais, a DBO dos esgotos decresce


exponencialmente ao longo da profundidade, dependendo principalmente da
taxa de aplicação e das características do material de enchimento. As
formulações que representam esta transformação têm por concepção geral:

Sh / So = 10-k.h.(A/Q)^n

Onde:

Sh e So : Concentração de substrato (DBO) à profundidade h e à entrada do


filtro, mg/L
k : Constante da velocidade de remoção de substrato, d-1
h : Profundidade do leito, m
A : Área do filtro,m2
Q : Vazão afluente aos filtros, m3/d
n : Característica do material de enchimento, n = 0,44 para pedras e 0,67 para
anéis plásticos.

A constante da velocidade de remoção de substrato (k) varia entre 0,12 e 0,2 d -1


para esgoto sanitário a 20oC. Para outras temperaturas corrige-se k através de:

kToC = k20oC * 1,08(T – 20)

Para a obtenção da constante da velocidade de degradação de determinado


substrato poder-se-ia conduzir experimento em unidade de fluxo contínuo,
determinando-se o valor médio da DBO em diferentes pontos ao longo da
profundidade do filtro. Escrevendo-se a equação anterior de forma invertida:
93

So / Sh = 10k.h.(A/Q)^n

Extraindo-se o logarítmo de ambos os membros da equação acima, tem-se:

log (So / Sh) = k.h.(A/Q)n

Portanto, lançando-se em gráfico log (So / Sh) contra h.(A/Q)n tem-se uma reta
cujo coeficiente angular corresponde ao valor de k.

Eckenfelder propôs a inclusão da influência da área superficial específica do


material de enchimento, através de:

Sh / So = 10-K.h.(Sa^m).(A/Q)^n

Onde:

K: Constante da velocidade da reação, m/d


h: profundidade do leito, m
Q: Vazão, m3/d
A: Área superficial do filtro, m2
Sa : Área superficial específica do material de enchimento, m2/m3
m e n : Características do material de enchimento. Metcalf & Eddy recomendam
usar m = n = 1, caso não se tenham dados mais específicos.

Existem fórmulas que se revestem de importância apenas histórica, como a do


NRC – National Research Council, desenvolvida a partir dos resultados
operacionais de filtros biológicos usados pelo exército americano, válida para
esgoto doméstico preenchido com pedras, a 20oC:

a) Sem recirculação de esgoto tratado à entrada do filtro:

EDBO (%) = 100 / [1 + 0,433 * (W/V)1/2]


94

Em que:

EDBO (%) = Eficiência na remoção de DBO, em porcentagem

W = Carga de DBO aplicada ao filtro, em kg/dia

V = Volume do filtro, em m3

b) Com recirculação:

EDBO (%) = 100 / [1 + 0,433 * (W / V*F)1/2]

Onde:

F = ( 1 + r ) / ( 1 + 0,1*r2 ) onde r = Qr / Q

EDBO (%) = Eficiência na remoção de DBO, em porcentagem

W = Carga de DBO aplicada ao filtro, em kg/dia

V = Volume do filtro, em m3

7.4 Classificação dos filtros biológicos aeróbios

Os filtros biológicos aeróbios são classificados de acordo com as taxas de


aplicação orgânica ou hidráulica. Na Tabela 1 são apresentadas as principais
características de cada uma das categorias de sistema de filtros biológicos:
95

Tabela 1: Classificação dos filtros biológicos aeróbios. (Alem Sobrinho,


1986).

Característica Baixa Taxa Alta Taxa Torre Biológica


Taxa Intermediária (taxa superalta)
Taxa de Aplic. 1-4 4 - 10 10 - 40 40 – 200
Hidráulica
(m3/m2/dia)
Taxa de Aplic. 0,08 – 0,32 0,24 – 0,48 0,32 – 1,00 0,8 – 6,0
Vol. de DBO
(kgDBO/m3/dia)
Profundidade do 1,5 – 3,0 1,25 – 2,25 1,0 – 3,0 4,5 – 12,0
Leito (m)
Material de pedra pedra pedra/plástico plástico
Enchimento
Fator de Reciclo 0 0-1 1-3 1-4
( r = Qr / Q)
Consumo de 2–4 2-8 6 - 10 10 - 20
Energia (W/m3)
Problemas com grande pequeno raro nenhum
Moscas

Os filtros de alta taxa são os que apresentam maior oportunidade de uso, sendo
competitivos com os sistemas de lodos ativados. Quando preenchidos com
pedras, tem-se procurado manter taxas de aplicação volumétrica da ordem de
0,8 kgDBO/m3/dia e taxas de aplicação hidráulica da ordem de 20 m3/m2/dia,
com base na vazão média de esgotos.

Quando preenchidos com material plástico, costuma-se admitir até 1,2 a 1,3
kgDBO/m3/dia e até cerca de 30 m3/m2/dia. Isto significa que os filtros
preenchidos com material plástico são proporcionalmente menores do que os
prenchidos com pedras, além de poderem ser construídos com estruturas mais
leves, o que certamente deverá ser levado em consideração nos estudos de
alternativas. Isto se deve às melhores características do enchimento plástico,
96

como maior área superficial específica, maior porosidade e menor massa


específica, conforme relatado por Metcalf & Eddy (1991):

Tabela 11: Características do material de enchimento. (Metcalf & Eddy,1991)

Característica/ Área superficial Massa específica Porosidade


Material específica (m2/m3) (kg/m3)
Pedras 50 - 70 800 - 1450 40 - 60
Plástico 100 - 200 30 - 100 94 - 97

A área superficial específica do material de enchimento é uma característica


muito importante para o estabelecimento das cargas admissíveis e para a
definição das respectivas eficiências que podem ser esperadas. A forma
conceitualmente mais correta de previsão das cargas afluentes aos filtros é a
partir da sua relação com a área total disponível para a formação de biofilme.
Para a manutenção de eficiências elevadas na remoção de matéria orgânica,
admite-se a aplicação de 15 a 18 gDBO/m2/dia.

7.5 Recirculação de esgoto tratado para a entrada dos filtros biológicos

Visando a uniformização da carga hidráulica afluentes aos filtros biológicos de


alta taxa, deve-se proceder a recirculação de parte da vazão de esgoto tratado
para a entrada dos filtros. Em estudos realizados pela CETESB, concluiu-se que
o fator de recirculação a ser utilizado é aquele que conduza a uma DBO de
entrada nos filtros da ordem de 100 mg/L.

Balanço de massa na entrada do filtro:

Q * So + Qr * Se = ( Q + Qr ) * Si

Onde:

So = DBO do esgoto afluente ao filtro biológico, antes da mistura com o reciclo


Se = DBO do efluente final, após o decantador secundário
Si = DBO do esgoto afluente ao filtro biológico, depois da mistura com o reciclo
97

Q = Vazão média de esgoto sanitário


Qr = Vazão de recirculação de esgoto tratado

Dividindo-se pela vazão média de esgotos (Q):

So + r * S e = Si * ( 1 + r )

Si = ( So + r * Se ) / ( 1 + r )

Para esgotos com DBO em torno de 300 mg/L, após o decantador primário a
DBO será um pouco superior a 200 mg/L e, para que seja diluído a 100 mg/L
com o efluente final que possui DBO na faixa de 20 a 30 mg/L, o fator de
recirculação será da ordem de 1, ou seja, a vazão de recirculação é
aproximadamente igual à vazão média de esgotos.

Deve ser observado que, quando os filtros biológicos são precedidos de


tratamento anaeróbio como, por exemplo, por reator UASB, a DBO dos esgotos
à entrada dos filtros biológicos já é da ordem de 100 mg/L e, segundo este
critério, deve-se dispensar a vazão de recirculação de efluente final.

7.6 Decantadores secundários

Os decantadores de sistemas de filtros biológicos percoladores deverá possuir


taxa de escoamento superficial inferior a 36 m3/m2.dia, segundo a NB 12.209/90.

7.7 Exercício de dimensionamento – Filtro Biológico Aeróbio de Alta Taxa

Dados:

 População atendida: 38.900 hab


 Carga de DBO dos esgotos: 2100 kg/dia
 Vazão média de esgotos: 101,7 L/s = 366m3/h = 8789 m3/dia

a) Determinação da vazão de recirculação


98

Admitindo-se a DBO dos esgotos à entrada dos filtros, após a mistura com o
fluxo de recirculação, Si = 100 mg/L e a DBO dos efluentes finais, Se = 20 mg/L,
tem-se:

Si = ( So + r * Se ) / ( 1 + r )

100 = ( So + r * 20 ) / ( 1 + r )

DBO dos esgotos: 2.100 / 8789 = 0,239 kg/m3 = 239 mg/L


Eficiência dos decantadores primários na remoção de DBO: 30%
DBO dos esgotos à entrada dos filtros: So = 0,7 x 239 = 167 mg/L
Portanto,
r = 0,84  Qr = 85,2L/s = 307 m 3/h = 7.361 m3/dia

b) Determinação da carga de DBO afluente aos filtros:


Carga DBO = ( Q + Qr ) * Si = ( 8789 + 7361 ) * 0,1 kg/m3 = 1617 kg/dia

c) Determinação do volume útil

Considerando-se enchimento de plástico, será usada a taxa de aplicação


volumétrica de DBO de 1,2 kg/m3/d. O volume útil de filtros necessário será:

VF.B. = 1617 / 1,2 = 1348 m3

Considerando-se a profundidade do útil de 2,70 m, a área necessária será:

AF.B. = 1348 / 2,70 = 500 m2

Deverão ser utilizados dois filtros de 18 m de diâmetro, perfazendo a área de


254,5 m2 e volume de 687 m3 por filtro.

d) Verificação da taxa de escoamento superficial, com base na vazão média de


esgotos:

Qméd. / As = (8789 + 7361) / 509 = 31,8 m3/m2/d


99

e) Área necessária de aberturas para ventilação:

Aabert = 0,01 * AF.B. = 0,01 * 254,5 = 2,55 m2

f) Área de drenagem dos esgotos à saída do filtro:

Adren = 0,15 * AF.B. = 0,15 * 254,5 = 38,2m2


100

8. Tratamento anaeróbio de esgoto

8.1 Considerações iniciais

O tratamento anaeróbio de esgoto vem sendo utilizado há muito tempo na forma


de fossas sépticas ou de lagoas. Além disso, registra-se o emprego de
digestores anaeróbios de lodo, principalmente tratando excesso de lodos
ativados. Todos esses reatores são desprovidos de mecanismo de retenção de
biomassa, o que significa que são necessários grandes volumes para que se
consiga eficiência razoável no tratamento de grandes vazões de esgotos. Para
tornar o sistema competitivo com os aeróbios no tratamento de esgotos e não
apenas excesso de lodo, havia que se desenvolver tal mecanismo, o que
começou a ocorrer mais intensamente a partir dos anos 70. Uma idéia foi
implantar o sistema de “lodos ativados anaeróbio”, acoplando-se o decantador
ao reator anaeróbio que recebe lodo retornado a partir do fundo do decantador.
O sistema, conhecido por processo anaeróbio de estabilização por contato,
funciona razoavelmente bem, conforme resultados obtidos no tratamento de
efluentes de indústrias alimentícias nos Estados Unidos, com eficiências na
remoção de DBO superiores à 80%. A flutuação de lodo nos decantadores,
devido ao aprisionamento das bolhas de gases resultantes da digestão
anaeróbia, originou a necessidade de instalação de desgaseificador entre o
reator anaeróbio e o decantador. Cedo se percebeu, porém, que o caminho do
tratamento anaeróbio de águas residuárias deveria rumar para os reatores de
leito fixo, tendo surgido o filtro anaeróbio de fluxo ascendente. Este reator
preenchido com brita, hoje encontra-se consolidado no tratamento de efluentes
de fossas sépticas, permitindo remoções de DBO superiores à 80%. Outra
descoberta, quase acidental, foi o fenômeno da granulação do lodo em reatores
anaeróbios de fluxo ascendente sem enchimento para suporte de
microrganismos na forma de biofilme. Sob certas condições de distribuição dos
esgotos à entrada (fundo) do reator e de velocidade ascensional, observou-se a
formação de grânulos, às vezes apenas flocos, que ao entrar em contato com a
matéria orgânica proporcionava sua degradação devido à expressiva atividade
biológica encerrada nas partículas do manto. O chamado reator anaeróbio de
fluxo ascendente e manto de lodo (UASB – Upflow Anaerobic Sludge Blanket),
101

previa adicionalmente apenas a separação, coleta e queima da gás produzido,


além de uma etapa de recuperação de grânulos na parte superior, externa e
acima do coletor de gás, uma zona de sedimentação que permite maior
clarificação dos efluentes do reator. Hoje, reconhece-se aqui no Brasil que este
reator é capaz de promover redução de DBO de cerca de 65%, com tempos de
detenção dos esgotos de apenas oito horas. Este reator tem se consolidado em
nosso mercado e de muitos outros países, como pré-tratamento e digestor de
lodo de outros processos biológicos e até físico-químicos. Os reatores de leito
fluidizado e de leito expandido representaram certo arrojo tecnológico à época
de suas invenções, preenchidos com areia “fluidizada” ou “expandida” pelo
próprio escoamento dos esgotos e, devido às diminutas dimensões dos grãos, a
grande área total para desenvolvimento de biofilme permitia a aplicação de
elevadas taxas e a obtenção de bons resultados. A dificuldade de se manter a
expansão adequada do leito, mesmo com as variações de vazão dos esgotos,
foi superada introduzindo-se a recirculação de esgoto tratado. Em seguida
muitos outros modelos de reatores foram desenvolvidos, os filtros anaeróbios
descendentes e horizontais, os reatores compartimentados ou de chicanas,
dentre outros.

8.2. Tratamento Aeróbio Versus Tratamento Anaeróbio

Os reatores anaeróbios para o tratamento de esgotos possuem boa


possibilidade de uso em nosso País, que apresenta temperatura elevada em
grande parte de seu território e em praticamente o ano todo. Mesmo na região
sul, mais fria, a Companhia de Saneamento do Estado do Paraná, a SANEPAR,
foi quem mais investiu nesta modalidade de tratamento, tanto na capital quanto
no interior. Em Curitiba encontra-se uma das maiores estações de tratamento de
esgotos do mundo envolvendo emprego de reatores anaeróbios. Foram
previstos 24 reatores UASB de 2.000 m3 cada um para o final de plano.

Mesmo nessa região, os reatores operam à temperatura ambiente. Reconhece-


se que às temperaturas mais elevadas as reações de decomposição de matéria
orgânica ocorrem mais rapidamente, mas a situação é diferente dos países do
hemisfério norte que possuem temperaturas muito baixas em boa parte do ano,
necessitando de reatores aquecidos. O aquecimento, mesmo recorrendo-se ao
102

próprio metano resultante da digestão anaeróbia não é simples de se viabilizar,


pela necessidade de implantação de uma usina para a purificação do metano.

Os custos de implantação dos reatores anaeróbios podem ser considerados


baixos, mas é na operação que reside a principal vantagem devido a não
necessidade de aeração. A produção de lodo é mais baixa do que as que
decorrem de processos aeróbios como lodos ativados ou filtros biológicos. A
produção de gás pode ser considerada um benefício, pela possibilidade de
purificação e emprego do metano como fonte de energia, mas isto não se
viabiliza facilmente. Ao contrário, o gás resultante do processo anaeróbio
constitui uma das principais limitações operacionais, devido à produção de
pequenas quantidades de gás sulfídrico, H2S, suficientes para produzir grandes
incômodos às populações circunvizinhas pela proliferação de mau odor. Além
disso, o gás sulfídrico provoca corrosão e consequentes prejuízos à
conservação das instalações. Muito se investe hoje em dia em termos de
pesquisa visando o controle do H2S, mas é difícil ainda hoje a garantia de odor
zero o tempo todo na área em torno da ETE.

A eficiência na remoção da DBO dos esgotos é mais baixa do que a dos


processos aeróbios, demandando tratamento complementar, e a nitrificação é
nula. As associações com processos aeróbios de polimento são recomendáveis,
podendo-se empregar lagoas fotossintéticas, lagoas aeradas mecanicamente,
lodos ativados, filtros biológicos ou mesmo processos físico-químicos como os à
base de coagulação e floculação com separação posterior de sólidos por
sedimentação ou flotação.

Essas associações são vantajosas técnica e economicamente, ganhando-se na


produção de lodo e na eficiência de remoção de nitrogênio e fósforo,
principalmente.

8.3. Microbiologia e Bioquímica

Com o desenvolvimento dos novos modelos de reatores para o tratamento de


esgotos, a microbiologia e a bioquímica dos processo anaeróbios evoluiram
103

muito. As bactérias anaeróbias estritas, metanogênicas, difíceis de serem


isoladas em meios de cultura, passaram a ser identificadas como as do gênero
Methanotrix sp e Methanosarcina sp. Além disso, houve maior conhecimento
dos metabolismos de bactérias facultativas formadoras de ácidos orgânicos e
das redutoras de sulfato. Teses de que o envolvimento entre bactérias do tipo
cocus com as do tipo bastonete eram responsáveis pela formação dos grânulos
em reatores UASB.

O caminho bioquímico tradicional pelo qual bactérias facultativas transformam os


compostos orgânicos dos esgotos em compostos intermediários conhecidos
como ácidos orgânicos voláteis, para subsequente conversão destes em metano
e gás carbônico pelas bactérias metanogênicas, foi alterada, incorporando-se
principalmente uma fase inicial de hidrólise de baixa velocidade e o
conhecimento de que o metano é produzido em boa parte a partir de CO2 e H2 e
não com grande predominância da fonte a partir da quebra direta do ácido
acético, o mais importante dos ácidos voláteis.

8.4. Condições Ambientais e Controle dos Reatores

Uma condição ambiental de grande importância no tratamento anaeróbio de


esgotos é a temperatura. Aquí aproxima-se bem a idéia da regra empírica de
Vant Hoff de que um aumento de dez graus na temperatura praticamente dobra
a velocidade da reação. Existem duas faixas de temperatura em que o processo
anaeróbio pode se apresentar com vantagem. A faixa termofílica, com centro em
torno de 35oC, é a melhor faixa para a ocorrência da digestão anaeróbia,
devendo ser procurada quando se deseja aquecer o reator, principalmente
digestores de lodo. A faixa termofílica, em torno de 60oC, também é interessante
porém, ocorre maior decaimento endógena e deve ser utilizada principalmente
nos casos de efluentes industriais produzidos a quente. Além da faixa de
temperatura em que ocorre o processo anaeróbio, também as variações bruscas
de temperatura afetam o processo, negativamente, devido a alta sensibilidade
das bactérias metanogênicas.

O pH no interior do reator é uma condição ambiental de extrema relevância. A


faixa ótima de pH para o processo anaeróbio, segundo diversos autores, situa-
104

se entre 6,6 e 7,6; idealmente entre 7,0 e 7,2. Isto não significa que não seja
possível o tratamento anaeróbio de efluentes industriais fora da faixa neutra.
Mas deve-se conduzir estudos em escala piloto que garantam tal aplicação; é
bastante provável que, no mínimo, o tratamento seja menos estável pela menor
diversificação de grupos de microrganismos que se adaptam a tal condição
desfavorável.

Muitos autores reconhecem que ocorre produção de alcalinidade nos reatores


anaeróbios estáveis, pela formação de sais de ácidos voláteis e, desta forma, o
pH dos esgotos à saída do reator é superior ao de entrada.

A condição de pH, além de influir decisivamente no funcionamento do processo,


representa importante indicador do desequilíbrio. É o conceito mais tradicional
da digestão anaeróbia, o de que quando um reator se desequilibra, ocorre maior
prejuízo da metanogênese com relação à acidificação, já que as
metanobactérias são mais sensíveis às perturbações ambientais. Com isso,
ocorre acúmulo de ácidos voláteis no reator e o pH cai. Deve-se, em tais
situações corrigir imediatamente o pH antes que se reduza drasticamente e
provoque o colapso do sistema. A barrilha é preferível por conferir efeito tampão,
isto é, maior resistência às futuras quedas, caso o reator continue
desequilibrado. Deve ser enfatizado que, se o fator de desequilíbrio prolongar-
se, somente a correção de pH não permitirá a operação estável do reator
indefinidamente, é necessária a correção do fator de desequilíbrio.

Embora a determinação de pH seja fácil e rápida, os parâmetros acidez e


alcalinidade determinados por meio de reação de neutralização ácido-base
providenciam uma informação quantitativa mais segura. Pode ser demonstrado,
em função da curva típica de variação de pH com a alcalinidade que, enquanto o
valor de pH cai de 7,2 a 6,8, por exemplo, não causando maior preocupação, o
consumo de alcalinidade correspondente pode ser superior a 1.000 mgCaCO3/L,
ampliando a dimensão do problema.

Um reator estável apresenta concentração baixa de ácidos voláteis, pois os


mesmos são imediatamente consumidos à medida que são produzidos. Quando
o reator se desequilibra, ocorre consumo de alcalinidade para a neutralização
105

dos ácidos voláteis acumulados. Assim, a relação alcalinidade de


bicarbonatos/ácidos voláteis constitui conceitualmente, a principal forma de
avaliação da estabilidade do processo anaeróbio. Um reator estável, chega a
apresentar concentração de ácidos voláteis tão baixa quanto 100 mgCaCO3/L e
uma alcalinidade de bicarbonatos superior a 1.000 mgCaCO3/L, ou seja, relação
superior a 10/1. Quando este valor tende a diminuir, a correção artificial é
necessária, pois se reduzir-se excessivamente, chegando próximo a 1/1, o
reator tenderá ao colapso e a nova partida poderá ser complicada.

A presença dos principais nutrientes nos despejos deve ser garantida para o
equilíbrio do processo anaeróbio. Costuma-se indicar a relação mínima
DQO/N/P de 350/7/1, embora esse valor possa ser alterado em função das
características dos despejos que influenciam na configuração do sistema
biológico. Os autores consideram que o enxofre é necessário em quantidades
tão grandes quanto o fósforo. Por outro lado, se na forma de sulfato, este reduz-
se a sulfeto no meio anaeróbio, que é tóxico às metanobactérias. Este fato
demonstra a importância do controle desse elemento em sistemas anaeróbios.

Além dos macronutrientes, elementos exigidos em menores quantidades pelas


células podem limitar o tratamento anaeróbio, conforme indicado na literatura. O
ferro é excelente estruturador de flocos, grânulos ou biofilmes; as necessidades
de níquel e de cobalto também são reconhecidas. Metais alcalinos e alcalino-
terrosos também são necessários, embora em concentrações excessivas inibam
o processo.

Dentre os elementos tóxicos ao processo, destacam-se os metais pesados que,


presentes em frações de mg/L podem inibir o processo. Apesar disso, a
ausência completa destes pode também representar insuficiência nutricional no
meio. O íon sulfeto é inibidor da metanogênese, sendo necessárias
concentrações de pelo menos dezenas de mg/L de sulfato nos efluentes para
que esse efeito ocorra significativamente. Além da ação tóxica, as bactérias
redutoras de sulfato competem com as metanogênicas pelo substrato, os ácidos
voláteis. Metais pesados e sulfeto são contaminantes antagônicos, uma vez que
se precipitam mutuamente.
106

A ausência de oxigênio é necessária para a metanogênese, o que faz com que


os reatores anaeróbios sejam fechados ou que se force a carga orgânica para
que ocorra rápido esgotamento do oxigênio presente nos efluentes.

A amônia também traz inibição ao processo, mas são necessárias


concentrações bastante elevadas. Diversos compostos orgânicos são listados
como tóxicos, principalmente os de estrutura molecular mais complexa.

8.5 Reatores UASB – critérios e parâmetros para o dimensionamento

Pesquisas desenvolvidas na CETESB na década de 80 com reator UASB


tratando esgoto sanitário, levaram ao estabelecimento de critérios e parâmetros
muito úteis para o seu dimensionamento bem como para avaliação de condições
operacionais.

Vazão de esgotos de projeto

Os reatores UASB são empregados à jusante apenas do tratamento preliminar,


o que o torna desprotegido das variações de vazão de esgotos, uma vez que os
tempos de detenção utilizados são relativamente pequenos. Desta forma,
107

costuma recomendar-se que o reator apresente condições de atender à situação


mais desfavorável, isto é, vazão máxima horária de esgotos.

Tempo de detenção dos esgotos no reator

De acordo com os estudos da CETESB, tempos de detenção hidráulicos da


ordem de apenas 6 horas, com base na vazão máxima horária de esgotos, são
suficientes para garantir uma eficiência média na remoção de DBO dos esgotos
em torno de 65%. Alguns autores sugerem a adoção de tempo de detenção
hidráulico de 8 horas, com base na vazão média de esgotos sanitários.

Taxa de aplicação de substrato

Como os esgotos sanitários são relativamente diluídos, os reatores UASB têm o


seu limite de capacidade definido pela taxa de aplicação hidráulica, que resulta
em determinada velocidade que poderá ou não ser suficiente para provocar o
arraste de parte do manto de lodo, descontrolando o processo. No tratamento de
efluentes industriais mais concentrados, os reatores UASB são limitados pela
aplicação de matéria orgânica, em geral na faixa de 5 a 10 kg DQO/m3.dia,
embora tenham sido registradas taxas de até 20 kg/m3.dia com bons resultados
no tratamento.

Velocidade ascencional na zona de manto de lodo

A manutenção de determinada faixa de velocidade ascensional dos esgotos ao


longo do corpo do reator é importante para garantir grau adequado de expansão
da manta de lodo, sem que haja arraste excessivo para a zona de decantação.
Recomenda-se a faixa de 0,7 a 1,0 m/h para reatores UASB tratando esgoto
sanitário.

Velocidade de passagem da zona de manto de lodo para a zona de decantação

Lodos bem granulados resistem ao arraste com velocidades de passagem de


até 10 m/h. Mas como ocorrem situações em que o lodo não granula, apenas
108

flocula e mesmo assim o reator mantém boa eficiência na remoção de DQO,


recomenda-se limitar a velocidade ascensional à 4 m/h.

Taxa de escoamento superficial na zona de decantação

A parte superior do reator UASB, externa ao “chapéu” coletor de gás, funciona


como decantador, permitindo a recuperação de grânulos escapados da zona de
manto de lodo. Recomendam-se taxas de escoamento superficial inferiores à
1,25 m3/m2.dia para a garantia do retorno de parte significativa do lodo para a
zona de manto. A inclinação das abas do chapéu (ângulo com a horizontal),
deverá ser superior a 55º.

Distribuição dos esgotos à entrada (fundo) do reator

A distribuição dos esgotos à entrada do reator é fundamental para garantir um


funcionamento integral da zona de manto de lodo, sem escoamentos
preferenciais ou curtos-circuitos que podem reduzir o tempo de detenção e o
contato dos esgotos com o lodo ativo. Recomenda-se pelo menos duas a três
entradas por m3 de fundo de reator. As extremidades dos tubos de alimentação
deverão distar cerca de 30 cm do fundo do reator.

Produção de lodo nos reatores UASB

De acordo com os resultados dos estudos da CETESB anteriormente


mencionados, pode ser esperada uma produção de lodo de 0,2 kg SS / kg DQO
aplicada.

Produção de gás

Ainda de acordo com os estudos da CETESB, deve ser esperada uma produção
de 0,12 Nm3 gás / kg DQO aplicada. O gás deverá possuir cerca de 65 a 75% de
metano.

8.6. Critérios para a partida e operação dos reatores UASB vazão de esgotos de
projeto
109

Lodo de inóculo

Havendo possibilidade de obtenção de lodo de inóculo, a partida do reator


poderá ocorrer mais rapidamente. É preferível lodo granulado proveniente de
outro reator UASB utilizado no tratamento de efluente semelhante. Quanto maior
a quantidade de inóculo, maior será a vazão de partida, chegando-se mais
rapidamente à vazão de projeto. Porém, há que se considerar os custos com o
transporte de lodo. O lodo introduzido no reator deverá ser caracterizado em
termos de volume e concentração de sólidos em suspensão voláteis, para que
se possa obter a massa de SSV introduzida.

Caracterização dos efluentes

Os efluentes deverão ser caracterizados, principalmente em termos de vazão e


concentrações de DQO, Nitrogênio Total Kjeldhal, Fósforo Total, pH e
Temperatura Estas características deverão ser corrigidas, caso seja necessário.
A presença de substâncias potencialmente inibidoras do tratamento deverá ser
previamente investigada.

Vazão de alimentação de partida e evolução da carga

O reator deverá ser alimentado com os efluentes segundo uma vazão que
resulte na aplicação de 0,1 kg DQO / kg SSV . dia. Essa vazão deverá ser
aumentada quando ocorrer estabilização da eficiência na remoção de DQO e
demais características operacionais do processo. Eventuais desequilíbrios
poderão ser enfrentados mediante a introdução de barrilha no reator, sempre
que o pH em seu interior tenda a cair abaixo de 6,5.

Controle analítico do reator

Deverá ser empreendido um controle analítico sobre os esgotos à entrada e à


saída do reator e do lodo em pontos de amostragem em diferentes
profundidades. As principais variáveis de controle dos esgotos são a DQO (e a
DBO, por tratar-se de parâmetro da legislação), pH, temperatura, concentração
110

de ácidos voláteis e alcalinidade de bicarbonatos. Controle de pH e temperatura


deve ser feito pelo menos uma vez por dia, enquanto que as demais
características devem ser analisadas pelo menos uma a duas vezes por
semana. Do lodo, é importante o controle da concentração de sólidos em
suspensão voláteis ao longo da profundidade da zona de manto.

Na Figura 33 observam-se reatores UASB instalados pela SABESP em Ribeirão


Pires/SP, um dos primeiros do estado de São Paulo. Podem ser observadas a
zona de decantação, entrecortada pelas partes superiores dos coletores de gás.

Figura 33: Reatores UASB de Ribeirão Pires/SP

Na Figura 34 observa-se um estágio da construção de reator UASB na ETE


Melchior, Distrito Federal. As paredes laterais do reator são inclinadas, o que
facilita a construção e faz com que a velocidade se reduza a medida que o
esgoto atravessa o reator no sentido ascendente, devido ao aumento
progressivo da área da seção horizontal da zona de manto de lodo. Observa-se
a construção das campânulas para a coleta do gás produzido no processo.
111

Figura 34: Construção de reato UASB na ETE Melchior/DF

Na Figura 35 observa-se uma coroa de distribuição da alimentação com o


esgoto de um reator RALF. O reator RALF (reator anaeróbio de lodo fluidizado),
uma variante simplificada do reator UASB, desenvolvido pela SANEPAR/PR. O
esgoto sobe e verte pelo anel central em direção aos diversos compartimentos
de onde partem tubulações até o fundo do reator, distribuindo a alimentação.

Figura 35: Exemplo de distribuição da alimentação em reator UASB


112

8.6 Exemplo de dimensionamento – reator UASB

Dados:

 População atendida: 25.815 habitantes


 Vazão média de esgoto: 27.815 x 0,16 m3/hab.dia = 4450,4 m3/dia
 Vazão máxima horária de esgotos: 1,2 x 1,5 x 4.450,4 / 86,4 = 92,72 L/s
 Carga de DBO: 0,054 x 27.815 = 1.502 kg/dia

- Tempo de detenção dos esgotos no reator: 6,0 horas (p/ Qmáx.)


- Volume útil dos reatores: 92,72 x 6,0 x 3,6 = 2.003 m3

Deverão ser utilizados 04 (quatro) reatores UASB de 525,7 m3 cada, com 14,80
m de comprimento, 7,40 m de largura e 4,80 m de profundidade útil total (zona
de manto + zona de decantação).

- Volume dos 4 reatores: 4 x 525,7 = 2.102,8 m3


- Tempo de detenção hidráulico resultante:

td = 2.102,8 / (92,72 x 3,6) = 6,3 h (p/ Qmáx.)

- Velocidade ascensional na zona de manto de lodo:

Vasc. = (92,72 x 3,6) / (7,4 x 14,8 x 4 ) = 0,76 m/h

- Velocidade de passagem para a zona de decantação:

Vp = (92,72 x 3,6) / ( 4 x 0,4 x 4 x 14,8) = 3,5 m/h


(obs: consideradas quatro aberturas de 0,40 x 14,80 por reator)

- Velocidade de escoamento à superfície da zona de decantação:

qA = (92,72 x 3,6) / (4 x 14,8 x 5,2) = 1,08 m3 / m2.h


113

(obs: A largura efetiva de cada reator na zona de decantação reduziu-se de 7,4


m para 5,2 m, devido aos espaços ocupados pelo chapéu.)

- Sistema de alimentação

Considerando-se uma entrada a cada 3 m2 de fundo de reator, o número de


tubos alimentadores será: (7,4 x 14,8 ) / 3 = 37 tubos por reator.

- Produção de lodo

Considerando-se a produção de lodo igual a 0,2 kg SS / kg DQO aplicada, tem-


se:

- Carga DQO = 1,85 Carga DBO  Carga DQO = 1,85 x 1502 = 2.779 kg
DQO/dia

- Produção de lodo: 0,2 x 2.779 = 556 kg SS / dia

- Produção de gás:

Considerando-se a produção de 0,12 Nm3 gás / kg DQO Aplicada, tem-se:

Prod. Gás = 0,12 x 2.779 = 333,5 Nm3 / dia (gás com 75% CH4)

- Eficiência do reator:

65% em DBO.

- Carga de DBO Residual:

0,35 x 1502 = 525,7 kg DBO / dia


114

7,40 m

Caixa de
0,6 m 0,6 m
alimentação
1,55 m 3,10 m 1,55 m

gás

0,8 m

0,25 m

0,4 m 2,12 m
1,62

1,35 m 2,68 m
0,3 m L = 14,8 m

7,4 m
115

9 Tratamento de Lodo

9.1 Considerações iniciais

O tratamento de esgotos, em última instância, culmina com concentração da


fase sólida. Lodos são separados principalmente em decantadores primários ou
secundários. Até mesmo no tratamento biológico, onde efetivamente ocorre
degradação biológica de matéria orgânica, conta-se com a separação do
excesso de lodo concentrado no fundo dos decantadores secundários de
sistemas de lodos ativados ou filtros biológicos. Aliás, a produção de lodo
constitui importante diferencial na escolha do sistema de tratamento. Enquanto
que sistemas exclusivamente aeróbios como lodos ativados ou filtros biológicos
de alta taxa podem produzir de 0,6 a 0,8 kg SS / kg DBO aplicada, a produção
de lodo em um reator UASB é de apenas cerca de 0,2 kg SS/ kg DQO aplicada.
Mesmo o sistema misto anaeróbio/aeróbio leva a uma menor produção de lodo
que um sistema exclusivamente aeróbio. Essa vantagem é muito importante nos
dias de hoje, uma vez que além de reduzir as necessidades de tratamento,
principalmente as dificuldades com a disposição final do lodo costumam ser
muito grandes.

9.2 Etapas do tratamento de lodo

O tratamento de lodo pode ser subdivido em três etapas principais, embora


dependendo do sistema de tratamento de esgotos adotado, algumas delas
podem ser suprimidas. É o caso, por exemplo, do sistema de lodos ativados com
aeração prolongada, onde o processo opera em uma faixa em que a digestão do
excesso de lodo pode ser dispensada. Os lodos descartados de reatores UASB
também dispensam adensamento e digestão complementar. O adensamento de
lodo pode não ser obrigatório em sistemas de lodos ativados ou filtros biológicos
aeróbios mas, exceto em sistemas de pequeno porte, sua inclusão se viabiliza
pelos benefícios trazidos às unidades posteriores de tratamento de lodo.
Quando o tratamento de esgotos é feito por processos de lagoas, aí o sistema
opera de forma que os lodos adensam e digerem nos próprios fundos das
lagoas de estabilização ou de decantação, no caso dos sistemas de lagoas
aeradas mecanicamente. O problema passa a ser como produzir mecanismos
116

de remoção de lodo e para a desidratação final antes de ser enviado para


disposição.

Dependendo do uso a ser feito do lodo a ser retirado da estação de tratamento


de esgotos, outras etapas de tratamento podem ser necessárias, como a sua
desinfecção para aplicação em solo agrícola.

O objetivo do adensamento de lodo é reduzir o seu teor de umidade, remover


água e assim reduzir volume e aumentar o teor de sólidos. Os lodos descartados
de decantadores “secundários” de sistemas de lodos ativados com aeração
prolongada possuem teor de sólidos inferior a 1% e quando um adensador o
eleva para 2%, tem-se uma redução de volume de lodo de 100% a ser
desidratado. Em um sistema de lodos ativados convencional ou de filtros
biológicos aeróbios, o lodo é misto, primário e secundário, é gerado com teor de
sólidos entre 1,0 e 1,5% e sua elevação para cerca de 4% permite uma redução
de volume ainda maior, podendo-se comprovar a vantagem de incorporá-lo ao
sistema, em vista do volume necessário bem menor de digestores anaeróbios de
lodo.

O objetivo da digestão de lodo é complementar a sua estabilização bioquímica,


isto é aumentar o grau de mineralização. Os lodos gerados em sistemas de
lodos ativados convencional e de filtros biológicos aeróbios apresentam relação
SSV/SST elevadas (0,8, por exemplo) e assim não permitem boas condições de
desidratação natural ou mecânica.

Como o que prevalece em uma etapa de digestão de lodo é metabolismo


endógeno com destruição de SSV, essa relação se reduz (a 0,4, por exemplo) e
o lodo mais mineralizado possui melhores condições para a desidratação final.
O objetivo da desidratação final é a remoção de água de forma a atingir-se
teores de sólidos superiores a 20%, reduzindo-se assim drasticamente o volume
de lodo a ser transportado e compatibilizando-o com aplicações tais como
disposição em aterros ou na agricultura.
117

9.3 Adensamento de lodo

O adensamento de lodo pode ser feito por três processos principais alternativos.
O adensamento por gravidade, é aplicável tanto para lodos de decantadores
primários como para lodos de decantadores secundários, ou seja, excesso de
lodos biológicos, bem como para lodos mistos primários e secundários. O
adensamento por flotação com ar dissolvido pode ser uma alternativa
interessante para o adensamento de excesso de lodos biológicos. Resultam em
teores de sólidos superiores aos dos lodos adensados por gravidade e podem
ser aplicadas maiores cargas de lodo por área superficial de adensadores,
resultando na necessidade de menores áreas de adensadores. A estrutura, no
entanto, é bem mais complexa. Parte do efluente final da ETE, isto é, do esgoto
tratado, alimenta o tanque de pressurização onde o ar é injetado e, à pressão da
ordem de 4,0 kgf/cm2, dissolve-se no líquido na forma de micro-bolhas. Em
seguida, é misturado com o lodo à entrada pelo fundo da câmara de flotação,
com remoção por raspagem do lodo adensado na parte superior e do líquido
subnadante para retornar à entrada da ETE. Recentemente, têm-se
desenvolvido máquinas para o adensamento mecânico de lodos. São máquinas
projetadas para providenciar apenas uma desidratação parcial do lodo, em torno
de 4 a 5 %, para posterior desidratação final que também poderá ser
mecanizada. Pesquisas recentes têm demonstrado a possibilidade de se obter
vantagens interessantes mediante o condicionamento químico de lodos
previamente ao seu adensamento. Neste texto, será dada maior ênfase ao
adensamento por gravidade.

Adensamento por gravidade

Os adensadores por gravidade são unidades semelhantes aos decantadores de


seção circular em planta, sendo alimentados com o lodo pelo centro e na parte
superior, no interior de um anteparo que o direciona para o fundo, de onde é
removido após sofrer adensamento. Enquanto isso, o líquido sobrenadante
escoa pelos vertedores perimetrais posicionados à superfície do adensador,
podendo ser recirculados à entrada da ETE. NA Figura 36 tem-se uma fotografia
de um adensador por gravidade vazio
118

Figura 36: Adensador por gravidade da ETE Barueri/SP


Dimensionamento dos adensadores por gravidade

O principal fator de dimensionamento dos adensadores por gravidade é a taxa


de aplicação de sólidos, que é o fluxo de massa de sólidos aplicados por
unidade de área superficial dos adensadores. Depende do tipo de lodo a ser
adensado, sendo propostas as seguintes faixas de valores:

Tabela 12: Taxa de aplicação de sólidos em função do tipo de lodo. Fonte:


Hespanhol (1986)
Tipo de Lodo Taxa de Aplicação de Teor de Sólidos no
Sólidos Lodo Adensado
2
(kgSS/m .dia) (%)
Primário 100 – 150 6 – 12
Filtro Biológico 40 – 50 4 – 10
Lodos Ativados 20 – 40 1,5 – 4,0
Primário + Filtro Biológico 60 – 100 4 – 10
Primário + Lodos 40 - 80 3 - 10
Ativados
119

A taxa de aplicação de sólidos deverá ser o fator mais restritivo na determinação


da área superficial dos adensadores porém, a taxa de escoamento superficial,
vazão de lodo aplicada por unidade de área superficial dos adensadores, deverá
ser mantida dentro de certos, ou seja, qA = Q / As < 16 m3/m2.dia.

A NB – 12.209/90 da ABNT faz recomendações adicionais, tais como


profundidade útil mínima dos adensadores igual a 3,0 m , tempo de detenção
hidráulico máximo de 24 horas e obrigatoriedade de remoção mecanizada de
lodo quando se utilizam diâmetros superiores a 3,0 m. O limite máximo de tempo
de detenção do lodo no adensador deve-se à possibilidade de entrar em
decomposição anaeróbia e exalar maus odores. Quando resulta do
dimensionamento tempos de detenção superiores a 24 horas, pode-se recircular
uma parcela do esgoto tratado, o efluente final da ETE, com vazão calculada
para garantir o atendimento ao valor limite.

Exemplo de dimensionamento

Dados:
 Tipo de lodo: Primário + Lodos Ativados
 Produção de lodo: X = 2254 kg SS / dia
 Massa específica do lodo: 1020 kg/m3
 Teor de sólidos do lodo: 1%
 Vazão de lodo: Q = 2254 / (0,01 x 1020) = 221 m3/dia

Taxa de aplicação de sólidos: 60 kg SS / m2 .dia (adotada)


Área necessária do adensador:

AAD = 2254 / 60 = 37,6 m2 (diâmetro D = 6,9 m)

Adotando-se o diâmetro D = 7 m, a área do adensador será de 38,5 m2 e a taxa


de aplicação de sólidos resultante será 2254 / 38,5 = 58,5 kg SS / m2.dia

Profundidade útil adotada: Hu = 4 m


120

Volume útil resultante: Vu = 4 x 38,5 = 154 m3

Tempo de detenção hidráulico: td = V / Q = 154 / 221 = 0,7 d = 16,7 h

Taxa de escoamento superficial: qA = Q / As = 221 / 38,5 = 5,7 m3/m2.dia

Teor de sólidos no lodo adensado: 4% (estimado)

Vazão de lodo adensado, para massa específica de 1030 kg / m3:

QL.AD = 2254 / (0,04 x 1030) = 54, 7 m3/dia

Vazão de Recirculação: 221 – 54,7 = 166,3 m3/dia

O adensador deverá possuir removedor mecanizado de lodo.

9.4 Digestão de lodo

Dependo do tipo de tratamento de esgotos e de suas condições operacionais, o


lodo proveniente das unidades de separação de sólidos podem necessitar de
estabilização bioquímica complementar. Para isso podem ser empregados
digestores aeróbios ou anaeróbios, sendo que em ambos os casos deseja-se a
redução do teor de voláteis do lodo via metabolismo endógeno. Os digestores
aeróbios são tanques providos de sistema de aeração tais quais os usados nos
reatores de lodos ativados. Tendo em vista o crescimento mais rápido destes
microrganismos em relação aos anaeróbios, pode-se entender que os volumes
de reatores são relativamente menores, podendo levar a custos de implantação
mais reduzidos do que o daqueles, mesmo necessitando-se dos equipamentos
de aeração. Porém, para a aeração de lodos concentrados, o consumo de
energia elétrica é bastante elevado e a diferença entre os custos operacionais
tem levado ao uso bastante difundido de digestores anaeróbios em sistemas de
lodos ativados e de filtros biológicos aeróbios. Por esse motivo, será dada aqui
maior ênfase para a digestão anaeróbia de lodos.

Digestores Anaeróbios de Lodo


121

De acordo com a NB – 12.209/90, os digestores anaeróbios podem ser


classificados em baixa taxa, quando não possuem nem sistema de
homogeneização nem de aquecimento do lodo, convencionais, quando possuem
sistema de homogeneização mas não possuem sistema de aquecimento e alta
taxa, quando possuem tanto sistema de homogeneização quanto de
aquecimento.

De acordo com a NB – 12.209/90 da ABNT, o volume útil dos digestores


anaeróbios deve ser determinado com base na taxa de aplicação de sólidos em
suspensão voláteis e no tempo de detenção hidráulico, devendo-se obedecer
certos limites, estabelecidos em função do tipo de digestor, conforme
apresentado na Tabela 12:

Tabela 12: Taxas de aplicação de SSV e tempos de detenção hidráulicos em


função do tipo de digestor anaeróbio. Fonte: NB – 12.209/90
Taxa de Aplicação de SSV Tempo de Detenção
(kg SSV / m3 . dia) Hidráulico
(dias)
Baixa Taxa < 0,5 > 45
Convencional < 1,2 > 30
Alta Taxa < 6,0 > 15

Podem ser usados digestores de segundo estágio, para armazenamento do lodo


e remoção de sobrenadante. O volume do digestor de segundo estágio é de
cerca de 1/3 do volume de primeiro estágio, determinado pelos critérios
apresentados.

Na Figura 37 apresenta-se uma fotografia do conjunto de digestores anaeróbios


da ETE Suzano/SP (SABESP).
122

Figura 36: Digestores anaeróbios da ETE Suzano/SP

Exemplo de dimensionamento de um digestor anaeróbio de baixa taxa

Dados:

 Produção de lodo: X = 2254 kg SS / dia


 Fração Volátil: Xv = 1757 kg SSV / dia
 Teor de sólidos do lodo: 4%
 Vazão de lodo: Q = 54,7 m3/dia

Taxa de Aplicação de SSV : 0,5 kg SSV / m3 . dia (adotada)

Volume necessário de digestores anaeróbios:

VDIG.AN = 1757 / 0,5 = 3.514 m3

Para atender o tempo de detenção mínimo de 45 horas, tem-se:

VDIG.AN = 45 X 54,7 = 2.461,5 m3


123

Deverão ser adotados três digestores de 1.200 m3 cada, perfazendo um volume


útil total de 3.600 m3.

9.5 Desidratação de lodo

O objetivo da desidratação de lodo é elevar o teor de sólidos geralmente acima


de 20%, de modo a reduzir o volume a ser transportado e a permitir a sua
disposição final em aterros, agricultura, etc.. Pode ser feita via natural ou
mecanizada. A secagem natural pode ser feita em leitos de secagem ou lagoas
de lodo. As lagoas de lodo não devem ser consideradas soluções definitivas
muito adequadas. Os leitos de secagem de lodos devem ser empregados de
forma mais vantajosa em pequenos sistemas de tratamento. A área de leitos
necessária é relativamente grande, da ordem de 0,1 m2 por habitante. O custo
de sua estrutura, as dificuldades operacionais com a remoção do lodo
desidratado e a presença excessiva de águas de chuva podem inviabilizar o seu
uso, principalmente em grandes sistemas de tratamento. As máquinas
desaguadoras têm o seu emprego crescido nos últimos anos, principalmente
filtros-prensa de placas ou de esteira, bem como os decanters centrífugos.
Apesar do custo relativamente alto dessas máquinas, a facilidade operacional
tem viabilizado a sua adoção. Para aplicação nas máquinas, necessita-se do
condicionamento prévio do lodo. No Brasil é prática corrente o condicionamento
químico com cloreto férrico e cal, em progressiva prática de substituição pelo
uso de polieletrólitos.

Leitos de secagem de lodo

Os leitos de secagem de lodo são estruturas compostas de tijolos, dispostos


dois a dois e com juntas preenchidas com areia grossa. Sob os tijolos, são
dispostas camadas de areia grossa e britas de granulometrias crescentes em
direção ao fundo, uma laje impermeável de onde o líquido que infiltra é drenado
e retornado à entrada da ETE. O lodo é disposto sobre os tijolos, secando por
infiltração de água no leito e por evaporação ao sol. Os leitos são alimentados
sob a forma de rodízio, a partir de canais com comportas. Um ciclo típico de
operação de leitos de secagem, comumente adotado em projetos em nossa
região, é de 30 dias de duração total, sendo 20 dias reservados para a
124

desidratação do lodo e 10 dias para a remoção do lodo seco e para rearranjo do


leito. Podem ser esperados teores de sólidos no lodo desidratado superiores a
30%.

Para a determinação da área necessária de leitos de secagem, a NB –


12.209/90 da ABNT preconiza como critério a taxa de aplicação de sólidos, que
não poderá ultrapassar a 15 kg SS / m2 x ciclo. Em nossa região são utilizadas
taxas da ordem de 10 a 12 kg SS / m2 x ciclo. Determinada a área total de leitos,
a mesma é subdivida em um certo número de leitos que não deverão ser muito
grandes para diminuir as dificuldades operacionais. Na Figura 38 tem-se uma
vista dos leitos de secagem de lodo da ETE Menino Deus, Curitiba/SP.

Figura 38: Leitos de secagem de lodo

Exemplo de dimensionamento de leitos de secagem de lodo

Dados:
 Produção de lodo: X = 2254 kg SS / dia
 Fração Volátil: Xv = 1757 kg SSV / dia

Considerando-se que, anteriormente à secagem, o lodo sofrerá redução de 55%


dos sólidos voláteis devido à digestão anaeróbia, tem-se:
125

Xv,RED = 0,55 x 1757 = 966 kg SSV / dia


Xp/secagem = 2254 – 966 = 1288 kg SS / dia
Xp/secagem = 1288 x 365 = 470120 kg SS / ano

Adotando-se 12 ciclos de secagem por ano, tem-se:

Xp/secagem = 470120 / 12 = 39177 kg SS / ciclo

Adotando-se a taxa de 12,5 kg SS / m2 x ciclo, tem-se a seguinte área


necessária de leitos de secagem de lodo:

AL.SEC = 39.177 / 12,5 = 3.134 m2

São propostos 27 leitos de secagem de lodo de (6,0 x 20,0)m de dimensões em


planta cada um.

Corte esquemático de um leito de secagem de lodo

Desidratação mecânica de lodo

Os principais tipos de máquina disponíveis no mercado são os filtros-prensa de


placas, filtros-prensa contínuos de esteira, os filtros a vácuo e os decanters
centrífugos.
126

Quando se empregam filtros-prensa de placa em estações de lodos ativados,


são exigidas dosagens de cloreto férrico, FeCl3 , de 7 kg / 100 kg SS e de cal
hidratada, Ca(OH)2 , de 15 kg / 100 kg SS, o que torna esta etapa da ETE
dispendiosa, aumenta o volume de lodo e dificulta a disposição agrícola do lodo.
Quando são usados somente polieletrólitos, dosagens da ordem de 0,5 a 0,6 kg
/ 100 kg SS normalmente são necessárias. O tipo de condicionamento do lodo e
as dosagens dependem fundamentalmente do estado em que o lodo é gerado,
principalmente seu grau de mineralização, sendo que lodos pouco mineralizados
são de desidratação mais difícil.

Na Figura 39 apresenta-se o esquema do funcionamento de um filtro-prensa de


placas.

Entrada do lodo do
tanque adensador

Saídas
laterais de
líquido
Formação da
Torta

Figura 39: Esquema do funcionamento do filtro-prensa de placas

Na Figura 40 apresenta-se a fotografia de um filtro-prensa de placas em


funcionamento na ETE Barueri/SP (SABESP).
127

Figura 40: Filtro-prensa de placas da ETE Barueri/SP

Exemplo de dimensionamento de um filtro-prensa de placas

V = 100 (SS) / N . P . 
V: Volume do filtro-prensa (Litros)
(SS): carga de sólidos em suspensão (kg/dia)
N: número de prensagens por dia
P: Teor de sólidos da torta (%)
: Massa específica da torta (kg/L)

Dados:

X = 6825 kg SS / dia
N=4
P = 30%
 = 1,06

Volume do filtro-prensa:
128

V = (100 x 6825) / (4 x 30 x 1,06) = 5.366 L

Utilizando-se placas de (1,5 m x 1,5 m) e 3 cm de espessura, tem-se:

Vcâmara = 1,5 x 1,5 x 0,03 = 0,0675 m3 = 67,5 L

Número de placas = 5.366 / 67,5 = 80

Exemplo de dimensionamento de um filtro prensa contínuo de esteira

Dados:

 X = 8212 kg SS / dia
  = 1030 kg / m3
 Teor de sólidos: 5%
 Vazão de lodo: QLODO = 8212 / (0,05 x 1030) = 160 m3/dia

Utilizando-se a taxa de aplicação de 300 kg SS / m x h e dois filtros de 1 m de


largura de esteira, tem-se o seguinte número de horas diárias de funcionamento:

No. horas/dia = 8.212 / (300/2) = 14

Consumo de polieletrólito:

Médio: 6 kg / 1000 kg SS
Máximo: 8 kg / 1000 kg SS

Teor de sólidos no lodo desidratado: 30%

Volume de lodo desidratado, com  = 1060 kg / m3 e 90% de captura de sólidos

Vlodo seco = (0,9 x 8212) / (0,3 x 1060) = 23 m3/dia

Na Figura 41 apresenta-se um filtro-prensa contínuo de esteira.


129

Figura 41: Filtro-prensa de esteira

Dimensionamento alternativo de um decanter centrífugo

Escolhendo-se uma centrífuga com capacidade de alimentação de 10 m3/hora,


tem-se o seguinte número de horas diárias de funcionamento:

No. Horas/dia = 160 / 10 = 16

Considerando-se o lodo desidratado a 20% de sólidos,  = 1060 kg / m3 e 90%


de captura de sólidos, tem-se a seguinte vazão de lodo desidratado:

Vlodo seco = (0,9 x 8212) / (0,2 x 1060) = 35 m3/dia

Na Figura 42 apresenta-se uma fotografia de um decanter centrífugo.


130

Figura 42: Decanter centrífugo instalado na ETE Piçarrão, Campinas/SP


131

10. Referências bibliográficas

Sobrinho, P. “Lagoas Aeradas – Aspectos Teóricos, Resultados Experimentais,


Considerações Sobre Projeto”. IV Curso Curso Internacional Sobre Controle
da Poluição das Águas. Japan International Cooperation Agency -
CETESB/São Paulo, 1998.
Chernicharo, C.A. “Pós-Tratamento de Efluentes de Reatores Anaeróbios”.
Programa de Pesquisa em Saneamento Básico – PROSAB.
FINEP/CNPq/Caixa Econômica Federal. Rio de Janeiro, 2.000.
Cossío, F.Y., “Lagunas de Estabilización – Teoria, Diseño, Evaluación y
Mantenimiento”. Empresa Pública de Teléfonos, Agua Potable y Alcantarillado
– ETAPA/Ecuador, 1993.
Espanhol, I. Notas de aula da disciplina “Tratamento de Águas Residuárias”.
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, 1986.
Jordão, E.P. e Pessoa, C.A. “Tratamento de Esgotos Domésticos”. Associação
Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental – ABES, 3a. ed. 1994.
METCALF & EDDY, Inc. “Wastewater Engineering: Treatment, Disposal, Reuse”.
McGraw-Hill International Editions, 3rd ed., New York, 1999.

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