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G iralda Seyferth
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qüentes m udanças nas configurações cultu tes tradições culturais, abordados através dos
rais de um ou de ambos os grupos” - , por conceitos de “m arginalidade” e “am bivalên
tanto trata-se de conceito com plem entar ao cia de atitudes”. O conceito de m inoria na
de assim ilação ou um a de suas dimensões cional desaparece, sendo privilegiado o de
mais objetivas porque relacionada aos valores grupo m arginal, que “consiste de em igrantes
culturais (W illem s, 1946, p. 37). Assim , in ou seus descendentes que vieram com a in
troduziu o m odelo antropológico de estudo tenção de radicar-se no país” (Idem , p. 1 75).10
da m udança cultural a partir do contato in- Ao optar por “grupo m arginal”, W illem s
terétnico, aplicado m etodologicam ente para estava atento ao princípio da transitoriedade,
entender o fenômeno da absorção dos im i isto é, àquela situação interm ediária no con
grantes no contexto do Estado-nação. Não tínuo do processo de assimilação dos im i
aceitou inteiram ente o postulado assim ila- grantes, na qual a com unidade étnica serve
cionista de Park e dos autores brasileiros como um a espécie de refugio, um insulam en-
identificados com Fairchild:8 o processo inte- to cultural que priva as populações de ascen
grativo é bilateral, em bora devam prevalecer dência germ ânica da oportunidade de partici
os padrões do grupo dom inante, isto é, a so pação num m eio social m ais amplo.
ciedade nacional. A questão da m arginalidade é central no
Nessa perspectiva, W illem s rejeita a trabalho de Thom as e Z naniecki, mas eles
idéia de m elting pot na form a em que foi deram atenção especial à organização dos
apropriada no Brasil, argum entando que o grupos prim ários, principalm ente à fam ília, e
contato entre grupos diversos não envolve,
a temas como o casam ento, am biente social,
necessariam ente, caldeam ento. C ontrariou,
vida econôm ica e religiosa, etc., e a m udança
de modo sutil, os pressupostos do naciona
social desde a Polônia - portanto, a im igra
lism o, ao dizer que são processos de m ud an
ção de camponeses poloneses para um a gran
ça sociocultural que não abrangem elem en
de cidade norte-am ericana (C hicago) é ana
tos biológicos. Sugeriu um a abordagem
lisada em suas várias dim ensões, inclusive a
processual afirm ando que ambos os concei
formação de um a “com unidade polonesa-
tos (assim ilação e aculturação) supõem con
am ericana”. De certa forma, os textos de
tatos heterogêneos entre grupos distintos e,
W illem s têm algum a aproximação m etodo
nesse caso, o fenôm eno a ser analisado é o da
lógica com essa perspectiva processual e de
m udança num dado sistem a social. Desde o
livro de 1940, distingue assim ilação (“fusão ênfase nos diferentes aspectos da organização
cultural e, como tal, afiliação espiritual e social dos im igrantes e suas m udanças desde
afetiva”) de adaptação (m esológica) e am al- o país de origem . No entanto, apesar de en
gam ação ou fusão (que designam “processos fatizar a relevância dos reajustam entos da
biológicos paralelos ou subseqüentes à assi personalidade, ele não trabalhou com traje
m ilação”) precedidas pela aproxim ação e tórias individuais — um assunto central no
acom odação (W illem s, 1940, pp. 15-16). trabalho de Thom as e Z naniecki, que dedi
De fato, o autor estabeleceu vastos parâm e caram a parte IV do seu estudo à edição co
tros para o estudo da m udança sociocultural m entada de um a life record (isto é, a história
envolvendo im igração, inspirado menos na de vida de um im igrante) —, nem com a
tese assim ilacionista e m uito m ais na obra de questão da delinqüência juvenil (algo m ar
T hom as e Z naniecki,9 dada a ênfase nos con cante n um a grande cidade como C hicago e
flitos resultantes do confronto entre diferen provavelmente pouco significativa no âm bi-
10
co da im igração alem ã no Brasil). Por outro ção de traços culturais distintos e relativa
lado, realizou a pesquisa em plena vigência mente autônomos (Willems, 1940, p. 330).
da cam panha de nacionalização, que interfe
riu com certa violência na vida cotidiana da Está suposta aí a idéia de com unal idade
população teuto-brasileira com intenções as- cultural, d elim itando pertencim entos e ex-
sim ilacionistas, mas só indiretam ente se refe clusões num contexto nacional específico -
riu a esse período de conflito, no prefácio do lim ites socioculturais obstando o processo
livro sobre a aculturação, ao dizer que “o cli de assim ilação. Os dados apresentados por
m a político dos últim os anos não foi nada W illem s rem etem o leitor para os processos
propício à realização de pesquisas dessa n atu de m ud an ça so cio cultural caracterizados
reza” (W illem s, 1946, p. 10). Apesar da dis- pela aculturação, mas igualm ente para as d i
tintividade cultural teuto-brasileira que m o ferenças que distinguem os teuto-brasileiros,
tivou a intervenção do Estado (que tam bém especialm ente nas cham adas “regiões de co
atingiu outros grupos de im igrantes), afas- lonização alem ã”. Entre essas diferenças, deu
tou-se da noção de colônia etnicam ente dife certo destaque ao “lin gu ajar” dos descen
renciada em pregada por T hom as e Z naniec- dentes, portanto, à com unicação n um a lín
ki, insistindo no seu caráter transitório.11 gua própria, distin ta do Hochdeutsch (alto
Isso m ostra a dificuldade de pensar so alem ão), às especificidades da organização
bre a pluralidade étnica e cultural, mesmo fam iliar e dom éstica (apesar da existência de
diante de um processo im igratório de longa casam entos interétnicos, um indicador p ri
duração, iniciado em 1824, e do reconheci vilegiado da assim ilação) e dos processos de
m ento da especificidade teuto-brasileira. A l trabalho, à d istintividade religiosa (que não
guns pontos interessantes em ergem do m o pode ser reduzida ao protestantism o), ao sis
delo teórico em pregado por W illem s. Em tem a educacional vigente até 1937 (no caso
prim eiro lugar, assim ilação e aculturação dos protestantes considerado um a tendência
destacam-se como essencialidades, supondo a transform ar grupos m arginais em m inorias
sua irrem ediabilidade ou, no m ínim o, sua étnicas), ao em bate entr z ju s soli e ju s san gui
inevitabilidade, dada a suprem acia da socie nis (que levou os colonos a conciliar o étn i
dade nacional. Em segundo lugar, a noção de co com o nacional); destacou, ainda, a im
m arginalidade como coisa provisória aponta p ortância da germ anidade (D eutschtum ) e
para um a concepção hegem ônica do Estado- seu uso pelas lideranças políticas e co m un i
nação e certam ente deu m argem à apropria tárias teuto-brasileiras.
ção do texto de 1940 pelos form uladores de D iante das im ponderabilidades sim bó
políticas públicas de nacionalização de ádve- licas da idéia de D eutschtum e sua relevância
nas. Em terceiro lugar, a noção de grupo na construção de um a identidade coletiva
m arginal deixou em plano secundário os fe articulada ao processo im igratório — que
nôm enos culturais que o próprio W illem s apontam para o conceito de grupo étnico
considerou obstáculos à assim ilação, confor elaborado por W eber (19 9 1, pp. 2 6 7 -2 7 7 ),
m e assinala de form a um tanto am bígua na segundo o qual os pertencim entos são aqu i
conclusão do livro de 1940: lo que seus m em bros acreditam que devem
ser,12 e as diferenças culturais m arcam e qua
O insulamento cultural dos núcleos (colo lificam o grupo mas não são, necessariam en
niais) tornava simplesmente impossível a as te, sua causa - e mesm o falando nas “perdas
similação, facilitando, no entanto, a forma que o patrim ônio cultural dos im igrantes
11
alem ães sofreu no B rasil”,13 W illem s chegou m anha e a própria especificidade da “cultura
à expressão “cultura híbrida” como indicador híbrida”. Referências a essa clivagem interna
da cultura m arginal teuto-brasileira e suas nas “colônias alem ãs” aparecem em outros
variações. U tilizando um grande volum e de trabalhos que analisaram o contato interétni-
referências bibliográficas relativas à coloni co na perspectiva da assim ilação, caso do li
zação alem ã em diversos estados brasileiros, vro de Ursula A lbersheim (19 6 2), antropólo
dim ensionou a aculturação em seus vários ga que realizou um estudo de com unidade
aspectos, mas tam bém encontrou os in dica num a área do Vale do Itajaí colonizada pela
dores da diferença cultural dem arcadora da Sociedade Colonizadora H anseática no início
etnicidade. E sua definição é bastante coe do século XX. A lem ão novo é um a categoria
rente, apesar do uso do conceito de acultu indicativa da distintividade cultural teuto-
ração, num a apropriação que denota mais a brasileira, presente tam bém nas obras literá
p erm utabilidade de culturas (mesm o supon rias (romances e contos) (escritos em alem ão
do o predom ínio de um a delas) do que o por gente das colônias, que enfatizaram o
conceito de assim ilação: conflito produzido pela convivência com os
novos im igrantes.
Se o conflito de lealdades fez do imigrante A m esm a perspectiva de distanciam ento
alemão, temporária ou definitivamente, um cultural aparece no estudo de Thales de Aze
indivíduo marginal, o mesmo já não se pode vedo sobre a im igração italiana no Rio G ran
afirmar do teuto-brasileiro que aprendeu, de do sul, publicado em 1975, sobretudo
nas suas próprias comunidades, a reagir, de quando expõe os “dilem as da aculturação”
uma determinada maneira, às diversas in diante dos princípios da ita lia n itá e dos dis
fluências culturais de que se acha rodeado. E cursos em defesa da herança cultural que
um dos característicos mais importantes da procuram um a co m patibilidade com a leal
cultura teuto-brasileira que ela desenvolveu dade à pátria adotiva - um a id éia que ga
padrões suficientemente integrados para dirigir nhou alento à m edida que a identidade e a
as reações individuais. 0 indivíduo encontra in tegrid ad e da “su b cu ltu ra ita lia n a ” são
as definições da sua situação na cultura de seu am eaçadas de alteração pelo contato com os
grupo e essas definições lhe foram incutidas brasileiros (Azevedo, 1982, p. 2 60).
desde a prim eira infância (Willems, 1946, p. “Subcultura italiana”, “cultura híbrida
265, grifos do autor). teuto-brasileira” expressam as clivagens pró
prias das sociedades culturalm ente plurais,
A “situação m arginal”, portanto, é pró quando está em jogo a construção do Estado-
pria da prim eira geração, os alem ães, im i nação, e não são necessariamente incom patí
grantes, enquanto a população teuto-brasi veis com a proposição teórica da aculturação,
leira (os descendentes, já em processo de conforme dem onstram os dois autores. A m
aculturação) tem um a cultura híbrida. Está bos dão certa im portância ao uso continuado
im plícito no texto o reconhecim ento da “dis da língua m aterna dos im igrantes - ainda que
tância cultural” em relação aos brasileiros e W illem s, num julgam ento de valor acerca das
aos im igrantes recém-chegados — supostos variações dialetais, desqualifique o “linguajar”
patrícios que, não obstante, eram estranhos. anôm alo teuto-brasileiro —e destacam as d i
E m encionada a categoria de identificação ferenças culturais produzidas no contexto que
N eudeutscher (alem ão novo) para caracterizar Azevedo (Idem , p. 244) denom inou “com ple
o distanciam ento cultural em relação à Ale xo sócio-cultural e econôm ico-político da so-
12
ciedade colonial” (um espaço com partilhado aculturação, cuja influência pode ser obser
por diversos grupos im igrados, cada um cio vada na obra de autores brasileiros ain d a na
so da sua cultura nacional). década de 1940. E o caso da síntese realiza
Tais diferenças com portam as caracterís da por A rthur Ram os na sua Introdução à
ticas socioculturais arroladas por W illem s ao antropologia b rasileira (19 4 7). Ao tratar dos
longo dos seus trabalhos, consideradas empe “contatos raciais e culturais”, m enciona a
cilhos à assimilação, e condenadas pelo princí m esm a bibliografia sobre assim ilação e acul
pio da nacionalidade vigente no Brasil que ele turação: além do próprio W illem s, estão ci
geu o português como única língua vernácula tados Park, Fairchild, Stonequist, T hom as e
e a formação histórica herdada do colonizador Z naniecki, R edfield, Linton e H erskovits -
português como a base cultural da nação, jun aparentem ente, um a indicação de que a
tamente com a mestiçagem. O conflito foi orientação teórica é a m esm a. No entanto,
inevitável, pois o recrudescimento do nacio esse não é o caso, pois parte substantiva do
nalismo, durante o Estado Novo, coincidiu texto é dedicada à caracterização racial dos
com um m om ento de afirmação das etnicida- diferentes grupos negros, indígenas e im i
des alem ã e italiana, em parte devido à pres grantes identificados no território nacional,
são nacionalista que, desde o início da Repú e à m iscigenação (portanto, o tem a do “cal-
blica, exigia a assimilação de im igrantes e deam ento” tem m ais relevância do que os
descendentes. Isso provocou um contra-dis- problem as de aculturação).
curso anti-assim ilacionista que partiu das li A p artir de um a vasta literatura produ
deranças com unitárias e políticas, em parte zida pela antropologia física e referida a ti
pologias raciais, Ram os traça um perfil do
porque aquilo que W illem s cham ou de “insu-
tipo físico de cada grupo (no caso dos im i
lam ento” estava acabando - os brasileiros, afi
grantes) nacional — um equívoco bastante
nal, chegaram às regiões de colonização e,
com um na vigência acadêm ica do conceito
com eles, um a intensificação do contato e, no
de raça. N a parte sobre im igração, a não ser
sentido inverso, a m obilidade social ascen
no caso dos portugueses, que têm um espa
dente e a m obilidade geográfica aproxim aram
ço bem m aior no texto pelo seu papel de co
os descendentes de im igrantes da sociedade
lonizadores, trata de cada grupo de im igran
nacional. De certa forma, W illem s e Azevedo
tes separadam ente, dedicando-se, prim eiro,
m encionam esse duplo movim ento, mas não
à classificação como “tipo” biológico, reme
fizeram qualquer referência aos procedim en
tendo, às vezes, ao paleolítico e seus fósseis,14
tos forçados de assimilação que ocorreram
e depois à classificação lingüística e à descri
entre 1937 e 1945. ção de alguns traços culturais característicos
A p artir de m ateriais de arquivo e de para, finalm ente, apresentar dados, inclusive
um a bibliografia m uito heterogênea e de sua estatísticos, acerca da sua presença no B rasil.15
vivência, como im igrante, no Vale do Itajaí, Na parte intitulada “As culturas européias”
onde atuou como professor na década de foram incluídos os japoneses, argum entando
1930, W illem s elaborou um am plo painel que constituem um grupo “europeizado”, em
sobre a im igração alem ã, procurando dados processo de aculturação (Ram os, 1947, vol.
e exemplos nas áreas coloniais povoadas por 2, p. 5 57). N a últim a parte do segundo vo
esse grupo. Praticam ente introduziu um lum e —“Os contatos raciais e culturais” - a
m odelo analítico baseado nos conceitos so m estiçagem é o principal assunto, com am
ciológicos norte-am ericanos de assim ilação e pla digressão sobre as opiniões de diferentes
13
pensadores sociais e cientistas, para m ostrar dos im igrantes ao novo am biente, com as
que o cruzam ento interracial não produz de conseqüentes transform ações nos hábitos
generescência. H á, pois, um am plo espaço alim entares, habitação, vestuário, métodos de
para os debates acerca do “problem a racial” cultivo etc. As relações interétnicas estão sub
(que em W illem s e nos teóricos norte-am e jacentes a essas discussões, e a palavra etnia
ricanos da aculturação é residual), um tem a aparece, às vezes, como sucedânea de naciona
ain da presente nos meios políticos e acadê lidade. O ensaio de W ilson M artins, publica
m icos brasileiros na década de 1940, in clu do em 1955 e reeditado em 1989, é um bom
sive na discussão da política im igratória exemplo desse entendim ento mais am plo -
(Seyferth, 2 0 0 2 ).16 Segundo Ram os (19 4 7, social, biológico e am biental - da mudança
vol. 2, p. 532) devem-se distin gu ir nos fenô cultural. Pode-se dizer que ele inverte a propo
menos da assim ilação e da aculturação (con sição assimilacionista, pois seu modelo analíti
ceitos às vezes apresentados em separado, às co de aculturação procura dem onstrar a in
vezes como com plem entares) os seguintes fluência dos im igrantes e suas respectivas
aspectos: “adaptação e aclim ação, isto é, o culturas na formação do Paraná, dando a esse
ajustam ento ao m eio geográfico e clim ático;
estado da federação um a brasilidade específi
a am algam ação ou assim ilação biológica; a
ca, de certa forma confrontada com a form u
assim ilação social ou assim ilação propria
lação regionalista de Gilberto Freyre.
m ente dita; a assim ilação cultural ou acu ltu
A leitura do últim o parágrafo do livro é
ração”. Entretanto, no capítulo dedicado a
a m elhor m aneira de entender os argum en
esses assuntos no contexto da im igração —
tos de M artins:
considerado pelo autor um trabalho “intro
dutório” - a adaptação m esológica (ou acli
mação nas regiões tropicais e subtropicais) e Assim é o Paraná, território que, do ponto
os indicadores de m iscigenação obtidos na de vista sociológico, acrescentou ao Brasil
obra de O liveira V ian n a e Alfredo Ellis Ju uma nova dimensão, a de uma civilização
nior ocupam m uito m ais o analista do que original construída com pedaços de todas as
os indicadores socioculturais de integração à outras. Sem escravidão, sem negro, sem por
sociedade brasileira. Seguindo certos pressu tuguês e sem índio, dir-se-ia que a sua defi
postos com uns do nacionalism o assim ilacio- nição humana não é brasileira [...] sua histó
nista, A rth ur Ram os ju lg a os grupos latinos ria é a de uma construção modesta e sólida e
m ais assim iláveis, em bora alerte para as tão profundamente brasileira que pôde, sem
“ideologias políticas”, que im põem novos alardes, impor o predomínio de uma idéia
obstáculos à “tarefa assim iladora e acultura- nacional a tantas culturas antagônicas. E que
tiva” dos italian o s.17 pôde sobretudo, numa experiência magnífi
N a década de 1950, diversos autores es ca, harmonizá-las entre si, num exemplo de
tudaram a im igração como fenôm eno de fraternidade humana a que não ascendeu a
aculturação, na sua dim ensão sociológica. própria Europa, de onde eles provieram. As
M as, em alguns casos, persistiu a tem ática da sim é o Paraná. Terra que substituiu o sem
m iscigenação percebida como um dos in d i pre estéril heroísmo dos guerreiros pelo hu
cadores da assim ilação, à qual se acrescentou milde e produtivo heroísmo do trabalho
a influência do meio físico, ou seja, aquilo cotidiano e que agora, entre perturbado e fe
que W illem s (1946) cham ou de “aculturação liz, se descobre a si mesma e começa, enfim,
ergológica”, ou “aclim ação” - a adaptação a se compreender (Martins, 1989, p. 446).
14
Essa síntese final supõe um a idéia de cionais, como naturais, traços e complexos
h arm onia étnica produzida por um a m istu que, na realidade, não o são. Ou por outra,
ra de m igrações (interna e intencional), ape que j á o são , desde que, segundo nota feliz de
lando para um relato de Sain t H ilaire, que Emílio Willems, nesta altura do processo
fala de “hom ens realm ente brancos” h abi miscigenador as designações alemão, italiano,
tando os C am pos Gerais (isto é, o Paraná) polonês, etc., referem-se à etnia e não à nacio
em 1820 (Idem , p. 126). Nesse mosaico ét nalidade: realmente, quase todos são, juridi
nico, não existem negros e índios e os m es camente, brasileiros de várias gerações [...]. O
tiços são poucos - um m ito de form ação do “brasileiro” como o “estrangeiro” são diferen
povo que discrepa do senso com um nacio tes, aqui, do “brasileiro” tradicional e do “es
trangeiro”, tal como existe em seu país de ori
nal. M artin s m ostra a relevância n um érica e
gem (Martins, 1989, p. 124).
a variedade de etnias européias que se esta
beleceram no Paraná, estado onde a coloni
Nessa passagem , como em todo o livro,
zação teve m aior im pulso no século XX, e
está im p lícita a concepção de um Brasil ét
que tam bém recebeu grandes contingentes
nico e culturalm ente p lural, que se contra
de descendentes de im igrantes alem ães, ita
põe a um a idéia hom ogênea de formação
lianos e poloneses do Rio Grande do Sul e
Santa C atarin a, trazidos por empresas colo- nacional - posição que não se coaduna com
nizadoras. Por isso, o m odelo analítico con os princípios da form ação nacional, o que
siste em descrever a paisagem (natural e h u explica o diálogo com G ilberto Freyre desde
m an a), apresentar dados históricos sobre o a introdução. A li confessa que o livro se deve
povoamento e a colonização, sopesando suces à influência dos estudos de Freyre sobre o
sos e eventuais fracassos,18 e assinalar a con nordeste, lugar dos vastos dom ínios da “cul
tribuição de cada grupo de im igrantes à for tura luso-tropical” {Idem, p. 5). Influência
mação sociocultural do Paraná. m etodológica pois, como Freyre, M artins é
O “Brasil diferente”, assinalado no título um ensaísta e os fundam entos do seu traba
do livro, tem relação com o sentido da acul lho procedem de um a am pla bibliografia usa
turação observada no Paraná, envolvendo, da criteriosam ente. Por outro lado, temas
principalm ente, um processo m iscigenador e destacados e tratados com m aior profundida
trocas culturais entre diferentes etnias euro de para diferenciar o Paraná dos im igrantes
péias. A parte a suposta irrelevância da escra são próprios do universo freyriano - paisa
vidão, e dos negros e mestiços e indígenas no gem , figuras hum anas, casa, com ida, vestuá
cômputo geral da população, para configurar rio, fam ília etc. No conjunto de textos in
um Paraná “branco” diante do “vulto da in cluídos no volum e Região e tradição (1941) e,
fluência estrangeira” {Idem, p. 125), o alenta de um modo geral, na sua obra, Freyre tam
do estudo do processo de assimilação tem bém fala de diferentes brasilidades: para ele,
fundam ento sociológico, embasado na noção a região é unívoca, a nação é plural. C ons
de etnia, e leva em conta a pluralidade cultu trói um a noção de pluralism o cultural, po
ral (no que se aproxim a de W illem s) como rém subordinada à idéia de assim ilação e a
forma legítim a de ser brasileiro: um a gradação de tradições m ais ou m enos
legítim as nos lim ites fixados pela formação
[...] uma segunda ou terceira geração, que nas nacional herdada dos tempos coloniais19 -
ce e cresce num meio já fortemente colorido transform ando o nordeste no lugar onde a
de influências estrangeiras, receberá como na tradição de longa duração está em equilíbrio
15
(isto é, contém proporcionalm ente elem en me assinalado desde W illem s (Idem , p. 21).
tos portugueses, negros e indígenas). Por A isso junta-se a am pla discussão sobre gru
tanto, é sob esse aspecto da diversidade étn i pos m inoritários após a Segunda G uerra
ca e das suas im plicações sobre a identidade M un d ial, estim ulada no âm bito acadêm ico
nacional que M artin s diverge de Freyre: para pelo trabalho de W irth (1 9 4 5 ), que deu des
ele, a nacionalidade é um a noção juríd ica taque à questão do pluralism o. A palavra et-
que não se confunde com etnia, term o que nicidade (um neologism o) com eçou a ser
aplica aos grupos de im igrantes. D aí, o Para usada por cientistas sociais no início da dé
ná, com seu am algam a de etnias e culturas cada de 1960, exatam ente para criticar as
em processo m útuo de aculturação, e a assi teorias da assim ilação que presum iram o de
m ilação em face do m eio (físico, cultural, saparecim ento dos grupos étnicos no con
social) brasileiro, é tão brasileiro quanto o texto do Estado-nação m oderno.20
nordeste de Freyre. No Brasil, o pluralism o cultural aparece
As considerações de natureza naciona como fenômeno politicam ente correto, sobre
lista em butida no texto não com prom etem tudo em trabalhos de autores que realizaram
o esforço de síntese em preendido por W il pesquisas sobre a imigração sob os auspícios
son M artin s e sua interpretação, do ponto da Unesco, não obstante seu com prom eti
de vista aculturativo, sobre a in fluência das mento com as teses da assim ilação cu ltu ral.21
culturas estrangeiras na configuração social Nesse caso, o pluralism o é aceitável na for
do Paraná e sua integração com o processo m a de relações equilibradas, conforme assi
de colonização do Brasil m eridional. nalou D iegues Ju n io r (19 6 4, pp. 3 6 4 -3 6 5 ),
Esse modo de destacar o pluralism o ét a partir de G ilberto Freyre, para referir-se à
nico e cultural nas abordagens baseadas no preservação de valores culturais trazidos pelo
conceito de aculturação teve algum a co nti im igrante no “processo transculturativo”.
nuidade na década seguinte, em bora con O estudo de Diegues Jun io r (1964) é
centrados em grupos específicos, sendo raros um a das poucas tentativas de abordagem do
os trabalhos que abordaram a im igração em fenômeno im igratório em seus aspectos mais
geral, ou que dedicaram m aior espaço à em i gerais, em bora centrado na tem ática desen-
gração. O p rincipal motivo dessa m udança é volvim entista da urbanização e da in d ustria
a dificuldade de lidar com os processos de lização. D ividiu a im igração em três períodos
formação das etnicidades, inclusive em con históricos - dois no Im pério, 1808-1850 e
textos im igratórios, que abalaram as convic 1850-1888, e um na República, 1888-1950
ções acerca da eficácia an alítica do conceito —, portanto os marcos divisórios são a extin
de assim ilação diante da problem ática dos ção do tráfico de africanos e a A bolição, sen
sistem as interétnicos. A rthur Ramos (1947) do o últim o o de m aior significação estatís
já havia alertado para os equívocos da idéia tica. Inicialm ente, faz um a descrição geral
de m eltin gp o t c omo sinônim o para assim ila do m ovim ento im igratório, com base em da
ção, e W illem s (1946) recorreu à noção de dos num éricos, incluindo os recenseamentos,
cultura híbrida para dar conta das especifici- fala rapidam ente das experiências de coloni
dades teuto-brasileiras. Por outro lado, acul zação, da im igração urbana, da contribuição
turação é um conceito menos abrangente do dem ográfica e das m udanças socioculturais.
que o de assim ilação, m ais flexível, envol De fato, o objetivo m aior desse estudo é
vendo as m udanças das configurações cu ltu analisar o papel dos im igrantes no processo
rais em todos os grupos envolvidos, confor de urbanização e industrialização do Brasil.
16
A li não faltam menções ao pioneirism o nas mação nacional) e consignado na legislação.
áreas de colonização e ao desenvolvim ento Aproxima-se, portanto, de um a concepção
concom itante da indústria e das cidades; mais nacionalista de assimilação dos estrangei
aceita a tese de senso com um nos trabalhos ros, ressaltando as diferentes “contribuições”,
m ais laudatórios produzidos pela historiogra mas, igualm ente, o am algam a racial (“em rit
fia local que atribui a industrialização à ex mo lento ainda”), em bora constate a diferen
pressividade do trabalho artesanal, supondo, ciação cultural sobretudo no sul do país. De
como tendência geral, que os ofícios dos arte fato, a cultura brasileira plural só é aceitável
sãos e dos artífices se desenvolveram “para a por esse autor “dentro da sua base lusitana”
constituição de um parque industrial mais {Idem, p. 3 71), preferencialm ente na form a
largo” (Idem , p. 2 10 ). Essa explicação para a de m eltin gpot. Apesar dessa lim itação m eto
formação industrial é verdadeira apenas em dológica, ainda vigente no pensam ento so
parte (e tem a ver com as inform ações de cial brasileiro naquela época, Diegues Junior
W illem s sobre a variedade profissional dos faz um a contribuição de síntese bastante sig
em igrados e com os dados acerca da ab un nificativa para o entendim ento do fenômeno
dância de pequenas empresas fam iliares de im igratório no Brasil.
base artesanal em áreas de colonização); tra Os estudos de aculturação e assimilação
balhos posteriores m ostraram que a base fi foram com uns nas décadas de 1950, 1960 e
nanceira que p erm itiu o desenvolvim ento 1970, com perspectivas teórico-m etodológi-
industrial no sul veio do com ércio e m uito cas m uito próximas às de W illem s, procuran
poucos artesãos viram suas oficinas atingir do abordar o tem a da integração sociocultu
um patam ar industrial (cf. Roche, 1969; ral dos im igrantes e seus descendentes na
Seyferth, 1974). sociedade brasileira, eventualm ente destacan
A abordagem , que privilegiou a form a do diferenças geracionais. Isso tem a ver com
ção urbana (inclusive das capitais) e o desen a análise em preendida por Thom as e Zna-
volvim ento econôm ico, apresentando pon niecki — trabalho ainda citado nesse período
tualm ente a “contribuição” dos im igrantes, - que destacou os conflitos entre a prim eira
tem como com plem ento um a análise sobre geração de im igrantes, que procura salvaguar
assim ilação cultural, e um capítulo final so dar seus valores, língua m aterna e tradições
bre pluralism o étnico e cultural. São ques nacionais, e a segunda geração, que é sociali
tões intercam biáveis, na m edida em que zada no novo país, e tende a se afastar dessa
“nem o im igrante é inteiram ente absorvido tradição. A transformação dos valores e das
pela cultura nacional, nem m antém íntegras atitudes individuais e suas conseqüências no
suas características culturais próprias” (D ie- âm bito dos grupos prim ários - especialm en
gues Junior, 1964, p. 2 78 ). D aí falar em pro te a fam ília —, assim como as perspectivas de
cesso de assim ilação cultural “mais pluralista” m obilidade social que favorecem a acultura
e, sobretudo, variado, pois ele se dá mais ra ção e a assim ilação, e as situações de conflito
pidam ente em áreas urbanas (como São Pau cultural envolvendo tanto as diferentes gera
lo ou Rio de Janeiro) e é mais lento nas áreas ções de im igrantes como a sociedade abran
rurais, onde os grupos ficaram isolados. No fi gente, são assuntos com uns a vários autores,
nal, inspirado principalm ente em Gilberto quase obrigatórios na m edida em que a pers
Freyre, afirma a receptividade e a solidarieda pectiva culturalista abre espaço, tam bém ,
de na convivência dos brasileiros com os im i para o estudo da m udança social e dos pro
grantes, produto da herança lusitana (e da for cessos de absorção num a estrutura pluralista.
17
W illem s e D iegues Ju n io r já haviam in que atualm ente denom inam os relações inte-
troduzido a questão da ascensão social como rétnicas e que na época eram analisadas na
m otivadora da aculturação ou da assim ila perspectiva de assim ilação, aculturação, ab
ção. Ela vai aparecer, de form a preponderan sorção, aclim ação, fixação, ou qualquer ou
te, em diversos trabalhos articulados à pers tro termo denorativo das transformações so
pectiva acim a m encionada, seja no contexto ciais e culturais produzidas pelo contato de
de obras m ais abrangentes, seja em artigos im igrantes e descendentes com a sociedade
sobre tem as específicos. Entre eles podem nacional.
ser destacados artigos do próprio W illem s A m udança de orientação teórica é mais
(1 9 4 4 , 1 948, 1 95 1 ); de Egon Schaden perceptível nas abordagens in fluenciadas
(19 5 6, 1957, 1973), que procurou com pa pela obra de S. N . Eisenstadt (19 5 4), que
rar a aculturação de japoneses e alem ães, deu m aior im portância à socialização e à
tendo em vista m udanças de status social e a transformação dos valores dos grupos p rim á
form a diferenciada de conflito interétnico; rios, mas observou que os processos de ab
de R uth C . L. Cardoso (1 9 5 9 ), que abordou sorção dos im igrantes, ou a evolução de um a
as associações juvenis de nisseis (a segunda nova estrutura institucional, não são sufi
geração de im igrantes japoneses) em São cientes para obliterar as distinções grupais,
Paulo, destacando seu papel integrativo, sua desenvolvendo-se um a estrutura pluralista
im portância no contexto da m obilidade so em que em ergem identidades separadas.
cial ascendente e sua atuação ante as m ud an Nesse caso, cham a a atenção para a coexis
ças im postas pela aculturação; o livro de Ur- tência dessa situação plural com a dinâm ica
sula A lbersheim (19 6 2), que possui um da m udança social, com possibilidades inte-
capítulo sobre a assim ilação dos teuto-brasi- grativas e desintegrativas, característica do
leiros n um a com unidade localizada no Vale processo de absorção. Abrem -se, pois, para o
do Itajaí, no qual são delineados indicadores im igrante papéis universais da sociedade re
de identidade e relações conflituosas com os ceptora, mas tam bém papéis especiais asso
brasileiros; os livros de A ltiva P. Balhana ciados às particularidades do seu grupo, com
(1 9 5 8 ), sobre a im igração italian a em C u ri possibilidades de conservar características es
tiba, e de Yukio Fuji e T. Lynn Sm ith truturais distintas (cf. Idem , cap. I).
(1 9 5 9 ), sobre os japoneses no Brasil, in teira No Brasil, os trabalhos m ais n itid am en
m ente dedicados à tem ática assim ilacionista te influenciados por E isenstadt são os de
em suas diferentes dim ensões. Francisca I. S. V ieira (19 7 3), resultado de
Essas são apenas algum as indicações da um a pesquisa sobre a im igração japonesa em
bibliografia m ais am pla que aborda a im igra M arília (SP ), e de F ienrique R attner (19 7 7),
ção em seus m últiplos aspectos - o processo sobre a com unidade ju d aica de São Paulo.22
m igratório desde o país de origem , a história V ieira realizou sua pesquisa entre 1964 e
da im igração no Brasil, a estrutura socioeco- 1966 na região da A lta Paulista, área classifi
nôm ica e a m obilidade social de grupos ur cada como frente de expansão no início do
banos e rurais, aculturação etc. U m bom século XX, onde foram inseridos im igrantes
exemplo dessa m ultiplicidade de abordagens japoneses. Produziu, como diz no prefácio,
é a coletânea organizada por H iroshi Saito e um trabalho m onográfico prelim inar, basea
Takashi M ayeam a (19 7 3), que reúne artigos do no conceito de absorção utilizado por Ei
já publicados de dezessete autores que trata senstadt, “onde os im igrantes são analisados
ram da im igração japonesa, voltados para o como grupo e focaliza-se em especial a insti
18
tucionalização do com portam ento dos im i categorias geracionais e regionais, a distinção
grantes e seus descendentes’ (V ieira, 1973, envolvendo indivíduos de diferentes etapas
p. 15). Isso im plicou na análise da transfor do processo im igratório, mas tam bém aborda
mação dos grupos básicos (ou prim ários) e as transformações ocorridas principalm ente
da extensão de sua participação nas prin ci na organização fam iliar (com ênfase nos casa
pais esferas da sociedade m ais am pla. Assim , mentos interétnicos),24 no sentido de desven
a parte do livro referente às condições histó dar os m ecanismos de absorção. Com o em
ricas da im igração japonesa (inclusive suas outros trabalhos sobre a im igração japonesa,
dim ensões dem ográfica e política) e às carac V ieira tam bém estuda as associações, mos
terísticas da inserção na frente de expansão trando seu papel na m anutenção da identida
do estado de São Paulo é m uito breve, con de étnica (operando como “agências étnicas
centrando-se a análise no “grupo étnico ja formalizadas”), mas funcionando, igualm en
ponês da cidade de M arília”. te, como canais de com unicação com a socie
O subtítulo da parte substantiva do livro dade brasileira. Nesse sentido, aponta, rapi
é, pois, indicativo da reorientação produzida dam ente, para a em ergência de lideranças
nos estudos de sistemas interétnicos na déca étnicas - políticas e econômicas - após a Se
da de 1970, na qual se destacam (entre m ui gunda Guerra M undial e sua aproximação
tos outros) os trabalhos de Fredrik Barth e com os brasileiros, num a abordagem sem e
A bner Cohen publicados em 1969 e, no Bra lhante às de W illem s e outros que considera
sil, um conjunto de ensaios de Roberto C ar ram as aspirações relativas à ascensão social
doso de O liveira (19 7 6)23 —em afinidade com um dos elementos determ inantes do processo
a coletânea organizada por Barth em que a de assimilação ou absorção.25
identidade étnica, o grupo étnico e o proces A m obilidade social ainda é assunto des
so de articulação étnica são considerados as tacado no trabalho de R attner (1977) sobre
“dimensões mais estratégicas do fenômeno os judeus em São Paulo, m ais fortem ente ins
das relações interétnicas” ( Idem , pp. XI-XII). pirado na obra de Eisenstadt (1954), cujo re-
Embora articulada à definição de Eisenstadt ferêncial em pírico são os im igrantes judeus
para absorção (m udança social com possibili em Israel. Na prática, o modelo analítico ado
dades integrativas e desintegrativas), V ieira tado é o mesmo desde W illem s: entre as
(1973, pp. 73-74) focaliza a natureza e a “condições da assimilação” destaca a urbani
composição do “grupo étnico japonês em zação, a industrialização, a inserção no siste
M arília” para chegar ao processo de institu ma de ensino brasileiro —que abrem espaço
cionalização do com portam ento de im igran para m udanças na posição social (“busca de
tes e descendentes. Destaca a categoria unívo status”); e o conflito geracional - , a segunda
ca de identificação — japoneses — e sua geração, nascida no Brasil, mais integrada à
oposição em relação aos brasileiros, partindo sociedade receptora, m ostrando um com por
de um a definição de “grupo étnico” m uito tam ento “am bivalente” em relação à religião e
próxim a à de Barth (1969). Associando as à cultura judaica. A palavra “am bivalência”,
duas perspectivas de forma complem entar, tal como em W illem s, serve para explicar a
V ieira analisa o grupo identificado de forma persistência de papéis e valores relacionados à
m ais geral por um a única designação - japo pertinência étnica, concom itante com a assi
nês - , as características culturais de distintivi- m ilação. Rattner destaca a im portância do
dade, as diferenciações internas baseadas em pluralism o cultural que perm ite a participa
19
ção do im igrante na sociedade receptora sem O com prom etim ento com a idéia de
renúncia aos papéis próprios do grupo étnico. aculturação ou absorção leva o autor a p en
Por isso, enfrenta o problem a da identidade sar esse fenôm eno de formação de um a
judaica, junto com a noção de am bivalência, identidade cultural unívoca - a de judeu
na sua dupla definição - interna à com unida brasileiro —, discutid a na form a de paradoxo
de e baseada na pertinência religiosa, na “edu ou am bivalência, para reportar-se, afinal, aos
cação judaica” no lar, na freqüência à sinago ditam es socioeconôm icos que im põem pa
ga, clubes e associações, escolas e entidades drões de conduta com patíveis com a inser
assistenciais exclusivas etc.; e externa, segun ção na sociedade brasileira. Todavia, conclui
do a qual (a partir de Sartre) judeu é aquele que os judeus paulistanos, por seu estilo de
que os outros consideram um judeu. Por ou vida, aspirações e form ação, estão integrados
tro lado, apresenta, no mesmo contexto co à sociedade onde vivem , mas não são assim i
m unitário, os indícios de um ethos geral de lados, m antendo um a identidade separada.
aculturação e integração: a não observância, Os problemas relativos às identidades ét
principalm ente a partir da segunda geração, nicas assinalados por V ieira e Rattner estão
de todos os ritos religiosos, a quase ausência presentes nos estudos de m aior abrangência
do uso do iidiche e do hebraico, casamentos tem poral, relativos à colonização desde o sé
mistos, pouca identificação ideológica com o culo XIX, que deram algum a atenção aos
sionismo. De certa forma, Rattner discute a problemas de aculturação e assimilação. A
prim azia da religião para dizer que a identida m onografia antropológica de Thales de Aze
de é pouco centrada na religião e configura-se vedo (1982 [1975]) sobre a colonização ita
m uito mais na convivência nos espaços co liana no Rio Grande do Sul é um bom exem
m unitários, num a certa concentração no es plo.27 Baseado em pesquisa docum ental e
paço urbano (referência ao “bairro judaico”) e bibliográfica, e em entrevistas, Azevedo dá al
no comportam ento diário no relacionam ento gum a atenção à política im igratória brasileira,
com os membros da com unidade. Persistem,
aos fatores determ inantes da emigração na
pois, os pressupostos com portam entais da
Itália, assim como à travessia até a inserção
am bivalência, segundo os quais as condutas
num a colônia; procurou analisar o ajusta
individuais e coletivas estão divididas entre a
mento do im igrante camponês no contexto
integração à sociedade brasileira e o pertenci-
colonial, sua adaptação ao meio, seu relacio
mento ao grupo étnico. A relevância da iden
nam ento com a sociedade nacional e os pro
tidade judaica deixa em segundo plano as no
cessos de aculturação, abrangendo “cem anos
ções de m arginalidade e hom em m arginal
de regime colonial” (Idem , p. 273). Nesse
(citadas no texto)26 para observar o fenômeno
tipo de abordagem , voltado para a coloniza
que denom inou
ção, a figura predom inante é o colono, ha
vendo pouca ou nenhum a menção à m obili
[...] processo de amalgamação de diferentes
dade espacial e à im igração em áreas urbanas,
correntes imigratórias, à medida que a se
gunda geração, nascida e educada no País inclusive nas principais cidades que se desen
[...], mistura-se com seus pares, sfardim com volveram a partir de núcleos coloniais.
achquenazim , filhos de judeus da Alemanha N a priorização tem ática de Azevedo, a
com os de origem egípicia ou rumena, geral em igração (suas causas, inclusive as formas de
mente da mesma forma e com as mesmas as aliciam ento na Itália) é tratada superficial
pirações (Rattner, 1977, p. 165). m ente, dando m aior atenção à expressão esta
20
tística da im igração italiana no Brasil e às voam ento subordinados aos com erciantes,
condições de recepção e do sistema colonial quase sempre tam bém im igrantes, que m o
no Rio Grande do Sul, passando pelas vicissi nopolizaram a com pra e a venda da produção
tudes dos colonos desde o porto de em barque colonial. Hoje, são categorias analíticas sub
até as regiões coloniais. Entre outros docu sum idas na abrangência sem ântica da noção
mentos, as cartas de im igrantes a seus fam ilia de “agricultura fam iliar”.
res e amigos serviram para reconstituir a tra Azevedo realizou um a análise antropoló
vessia, contando um a história de privações e gica do “regim e de colonização” (distribuição
sofrimentos - navios superlotados, falta de espacial dos colonos, formas de cultivo, orga
com ida, doenças, m ortalidade, longas cam i nização do trabalho familiar, surgim ento de
nhadas com o agravante da desorganização associações recreativas e beneficentes, indica
dos serviços de recepção e encam inham ento dores do sucesso do colono italiano, detalhes
até os núcleos coloniais - e de decepção no sobre a transmissão do patrim ônio e da vida
enfrentamento da realidade. De fato, tais religiosa etc.), cham ando a atenção para al
condições da emigração m ostram fatos co guns aspectos da organização social, específi
m uns a outras situações coloniais no sul do cos da im igração italiana. Considero sua
Brasil. As práticas de colonização, e suas con principal contribuição a relevância atrib uída
seqüências sociais e econômicas, foram obje à capela como unidade básica de organização
to das sínteses realizadas por W aibel (1958) - da sociedade rural form ada em cada traves
que estabeleceu os princípios da colonização são ou lin ha colonial, desde os tempos pio
européia no sul, dando atenção à “paisagem neiros da colonização. E m ostra seu papel na
cultural” criada pelos colonos e aos sistemas conformação das relações de vizinhança, so
de exploração agrícola - e por Roche (1969) - ciabilidade, solidariedade e aglutinação da
que tratou da colonização alem ã no Rio vida social, demarcadoras de um a “consciên
Grande do Sul e suas características sociocul- cia de com unidade” (Azevedo, 1982, p.
turais, cham ando a atenção para as formas de 196). Albersheim (1962) tam bém referiu-se
exploração agrícola e sua evolução, para a à essa forma de organização entre os alemães
m obilidade espacial dos colonos, que deno do Alto Vale do Itajaí: ali não existe a socie
m inou “enxamagem”, e para o desenvolvi dade da capela estudada por Thales de Aze
mento da indústria em diversos centros urba vedo, mas surgiu o mesmo sentido com uni
nos surgidos nas zonas coloniais a partir da tário entre habitantes de um a m esma linha
acum ulação de capitais por comerciantes de colonial, com seus princípios de solidarieda
produtos coloniais e do artesanato. A form a de e sociabilidade que podem ou não se rela
ção de um tipo de campesinato no contexto cionar a um espaço religioso (capela).28
de povoamento próprio das regiões coloniais, N a parte final do livro, Azevedo aborda
e sua m udança social em face da industriali a aculturação dos italianos e, p rin cip alm en
zação, foi objeto de um trabalho realizado por te, suas dificuldades diante da ita lia n itá .
m im no Vale do Itajaí (Seyferth, 1974). Afi N ão há um delineam ento teórico da acu ltu
nal, é de camponeses que os autores acim a ci ração, talvez porque o objeto de estudo é a
tados, inclusive Azevedo, estão falando: colô colonização, o universo rural produzido pela
nia e colono são termos que identificam um im igração italian a na região serrana do Rio
pequeno produtor camponês que possui os G rande do Sul. D aí a aproxim ação com os
meios de produção (inclusive a posse ou a trabalhos de W illem s e Roche, am bos estu
propriedade da terra), desde o início do po diosos da colonização alem ã e, como Azeve
21
do, aludiram à formação de culturas ou sub- sim, apesar de m encionar a identidade étnica,
culturas de raiz cam ponesa, diferenciadas no não utiliza esse conceito; e, na demonstração
contexto brasileiro . T rata-se de m ostrar conclusiva, afirm a que as características da or
como os im igrantes conservaram seus costu ganização social e das instituições, bem como
mes e tradições e como estas foram m odifi as expectativas éticas da cultura de origem ,
cadas na adaptação ao novo am biente e no próprias da colônia italiana, im pedem sua de
contato com a sociedade nacional. N a sope- sintegração e absorção no processo de acultu
sagem desses elem en tos, ap aren tem en te ração e assimilação.
contraditórios, evidenciam -se, antes, a im A inserção de im igrantes italianos no
portância da consciência de grupo e os sig m eio rural brasileiro é objeto de outro traba
nificados, inclusive identitários, das diferen lho antropológico im portante, publicado
ças culturais. Ao referir-se aos “dilem as da por João Batista Borges Pereira (1974). Tem
aculturação”, Azevedo (19 8 2, cap. V) procu proxim idade m etodológica e teórica com a
rou m ostrar o “caráter de defesa da herança m onografia de T hales de Azevedo: ambos
cu ltural” da ita lia n itá , com patibilizada com trabalharam com a teoria da aculturação,
analisando os processos de m udança socio
a lealdade à pátria adotiva, e o papel das li
cultural produzidos pelo contato interétnico,
deranças com unitárias, inclusive dos padres
dando continuidade à tradição iniciada por
católicos, e das associações culturais e recrea
W illem s em 1940; por outro lado, não des
tivas, na sua configuração e preservação.
cuidaram da dim ensão social decorrente da
Pode-se dizer que não deu m uita im p ortân
situação colonial, pois os im igrantes italianos
cia aos “problem as” de assim ilação (em bora
estão englobados na categoria colono, tem a
relevasse essa perspectiva) e dem onstrou que
que, sob m uitos aspectos, rem ete à um a con
dição cam ponesa.29 O estudo de Borges Pe
A longo prazo e como expressão de uma
reira tem um interesse adicional porque
consciência coletiva inclinada a consolidar
aborda a im igração italiana do pós-guerra
um modo global de vida, a luta pela identida
(colonos que chegaram ao Brasil na década
de étnica própria em face da sociedade nacio
de 1960), quando a m aioria das pesquisas de
nal vem a ter uma função determinante na
historiadores e cientistas sociais estavam vol
preservação de todo o complexo “colonial”
tadas para o período da grande im igração.
numa continuidade estrutural que perdura
Não concentrou-se, sim plesm ente, na carac
por um século [...] (Idem , pp. 244-245).
terização sociocultural do grupo estudado;
por meio de entrevistas, histórias de vida, ob
A í está a contribuição mais efetiva do au servação participante, e do trabalho realizado
tor: a partir de observações precisas sobre o jun to aos estudantes (solicitação de com posi
m undo rural do colono italiano no Rio Gran ções sobre o próprio grupo, os brasileiros, a
de do Sul —que remetem a um a identidade Itália e o Brasil) analisou as persistências, as
cultural própria no confronto com os brasi m udanças da cultura e a visão de m undo
leiros —, assinala a persistência do sistem a co desses im igrantes num a situação de contato
lonial em suas m últiplas distintividades desde com a sociedade/cultura brasileira, sem com
sua im plantação, no últim o quartel do século promisso com a noção de grupo étnico -
XIX, até o mom ento da escrita da monogra conceito nem sempre útil para a com preen
fia, ajustado às mudanças “geradas na sua são de contextos im igratórios e, no seu for
própria constituição intrínseca com a urbani m ato tradicional, criticado na antropologia
zação e a industrialização” {Idem, p. 273). As desde a década de I9 6 0 (cf. Barth, 1969).
22
Os livros de Azevedo, Borges Pereira, Viei para os estudos que focalizam as correntes
ra e Rarrner e a coletânea sobre a imigração ja im igratórias anteriores à Segunda G uerra
ponesa organizada por Saito e M ayem a aqui M un d ial, em bora a presença de agências e
destacados mostram que, na década de 1970, representantes dos países de em igração seja
ainda predom inavam os conceitos de acultu um a constante no Brasil desde o século XIX.
ração e absorção (um a variante para assim ila Nesse sentido, o livro de Constantino
ção) nos debates sobre a im igração no âm bi Ianni, publicado em 1963, é um a exceção.
to das ciências sociais. M as é falacioso Aborda, num a perspectiva crítica, os interesses
considerar esta abordagem teórica im própria envolvidos na emigração de cidadãos italianos
em face dos criticism os advindos dos concei para as Américas (e, mais especificamente,
tos de identidade e etnicidade que reconfigu para o Brasil), estando, pois, na contramão da
raram as análises de contextos m ulticulturais corrente principal que se interessa pela im igra
ou m ultiétnicos. Aculturação e etnicidade ção. Trata da política em igratória do Estado
não são fenômenos m utuam ente excluden- italiano, renunciando a um a perspectiva aca
tes, e o próprio W illem s, m ais de cinqüenta dêm ica31 para, num a atitude engajada, escre
anos atrás, percebeu a relevância da distinti- ver um livro-denúncia, fundam entado em
vidade cultural teuto-brasileira e sua signifi pesquisas docum entais, estatísticas e ju n to a
cação identitária, que subordinou ao concei em igrantes, repatriados, agentes do estado
to de cultura h íb rid a. Torna-se necessário etc., realizadas na década de 1950. Ianni par
lem brar que esses pesquisadores estavam te de um a pergunta aparentem ente óbvia:
m ais interessados nos processos de m udança por que os italianos continuam em igrando
social e cultural que conduzem à integração mesmo passada a “em igração da fome” (Ian
do im igrante no país de acolhida, e menos ni, 1972, p. 13). A resposta vai ser procura
preocupados com a pluralidade cultural e ét da na política em igratória italian a e nos inte
nica do Estado-nação im igrantista e assim ila- resses das elites políticas e econômicas. Fora
cionista. N ão ignoram a diferença cultural do contexto usual da pobreza, do desem pre
(contem plada na teoria da aculturação, que go, da concentração fundiária e outros fato
fala em m udança nas configurações culturais res que m otivam a em igração, Ianni refere-se
dos grupos em contato) e, de certa forma, a um a política do Estado voltado para a ex-
dem onstraram que o seguim ento da acultu patriação de cidadãos, reveladora da m ultidi-
ração (ou absorção) é concom itante, e às ve recionalidade do fenôm eno m igratório que
zes até concorrente, ao processo de constru m ovim enta a econom ia italiana.
ção de identidades culturais separadas.30 A análise de Ianni suscita m uitas ques
Dois aspectos im portantes para a com tões, mas quero destacar, especialmente, qua
preensão m ais abrangente da im igração são tro pontos. Em primeiro lugar, vai além dos
tratados superficialm ente na m aioria dos determinantes da ordem econômica para res
trabalhos m encionados: a em igração e a per saltar o fato de a emigração ser um instrum en
sistência dos laços com o país de origem . O to político na vida interna e nas relações inter
interesse m aior pela inserção dos estrangei nacionais da Itália. M ostra que certas políticas
ros na sociedade brasileira restringe o fenô do Estado também produzem emigrantes, ha
m eno da em igração a um conjunto de m oti vendo interesse em mantê-los ligados ao país
vações (quase sem pre econôm icas) para natal - como se formassem “colônias” no es
m igrar. A ligação com o Estado de origem e trangeiro incluindo até mesmo os descenden
a reem igração são, talvez, fatos irrelevantes tes de imigrantes. Isso conduz ao segundo
23
ponto: a quem interessa a emigração? Aí en de pessoas desencadeado pela em igração
tram em cena as elites políticas e econômicas, mexe com toda a sociedade de origem, quan
o próprio Estado, a igreja, o sistema financei do é mais com um pensar nas m udanças que
ro, a parentela dos emigrados. Segundo Ianni, a im igração acarreta nas sociedades de acolhi
os principais beneficiados são as empresas de da. Por isso, apesar da sua obviedade, não
navegação (cuja propaganda chega ate ao custa lem brar dessa dupla dim ensão do fenô
meio rural mais remoto), os intermediários m eno da im igração que, conforme assinalou
que atuam nos municípios recrutando em i Sayad (1998, p. 16), é um “fato social total”.
grantes, os favorecidos pelas remessas de di N um a justaposição dos termos Estado,
nheiro (especialmente parentes dos expatria nação, im igração, Sayad (Idem , p. 265) m os
dos e entidades as mais diversas, sobretudo tra que a “ordem da m igração”, com seu d u
religiosas), os bancos, muitos vezes com inte plo com ponente, a em igração e a im igração,
resses entrelaçados aos das empresas de nave está ligada a “duas ordens nacionais” relacio
nadas entre si. A parte a questão fundam en
gação, que lucram com as remessas em di
tal posta pela dup la condição do im igrante
nheiro, e o próprio Estado, beneficiário da
(e sua relação com a nação de origem e com
entrada de capitais que financiam o tesouro,
aquela onde se fixou) e suas im plicações, a
as obras públicas e a própria expansão indus
observação de Sayad, apesar de axiom ática,
trial, considerando, ainda, que as remessas ali
evidencia não só os paradoxos dessa id en ti
mentam o comércio interno e o intercâmbio
dade, mas tam bém perm ite refletir acerca
com o exterior, e o próprio fundo de poupan
dos m últiplos interesses envolvendo as p olí
ça nacional. Essas considerações são reforçadas
ticas m igratórias nos dois extremos do con
pelos indicadores estatísticos: entre 1869 e
tínuo. Sob esse aspecto, destaca-se a pesqui
1962 cerca de 24 milhões de italianos em igra
sa, m ais recente, de C élia Sakurai, que
ram, mas nem todos ficaram no estrangeiro
abordou a im igração japonesa no Brasil por
(.Idem , p. 93) .32 m eio da noção de “im igração tutelada”.
A terceira questão está contida no títu Destacou a form a de aceitação dos japoneses
lo do livro —Homens sem p az —, que remete no Brasil, que se concretizou no período an
ao peso em ocional de ser em igrante ou à terior à Segunda G uerra M un d ial, via sua
“consciência da paz perdida” em face dos inserção na agricultura, que perm itiu um a
duplos pertencim entos, sendo m encionados identificação positiva do im igrante, apesar
os distúrbios em ocionais, os conflitos cultu das diferenças culturais e das restrições de
rais, a desintegração da fam ília (quando ape natureza racial expressadas por um a parte da
nas os hom ens em igram ), os suicídios, a in elite nacional, caracterizada na contribuição
d igên cia (ou rebaixam ento da condição ao desenvolvim ento da p olicultura (portan
social); ou, então, os problem as do repatria to, o “sucesso” ajudou a construir um a im a
m ento quando a em igração produz poucos gem m ais aceitável, superando em parte, os
ricos e m uitos m alogrados que retornam distanciam entos). C onsiderou essa im igra
com auxílio consular. De fato, o retorno ra ção “tutelada” porque desde o início, em
ras vezes foi objeto de reflexão por parte dos 1908, esteve am parada pela orientação, aju
estudiosos da im igração, apesar dos sign ifi da e gerência de representantes do governo
cativos índices de repatriados e reem igrados japonês, e se estruturou “sobre um a cadeia
em todas as épocas. de relações m ontada a p artir do topo da es
Finalm ente, a forma de apresentação dos trutura estatal japonesa até chegar aos im i
dados perm ite perceber como o movim ento grantes no B rasil” (Sakurai, 1999, p. 2 02 ).
24
Considero essa abordagem tem ática im tam bém em contextos im igratórios anterio
portante porque aprofunda o estudo de cer res à Segunda Guerra M undial, sempre asso
tas particularidades de um processo im igra ciados aos interesses dos Estados em igrantis-
tório que esteve no centro do debate tas ou de instituições e empresas particulares,
nacionalista da prim eira m etade do século conforme assinalaram Azevedo (1982) e Sa
XX, percebido quase sempre de modo nega kurai (20 0 0).34
tivo, dadas as concepções raciais e eugenistas A am pla visibilidade do fenôm eno m i
envolvidas no ideário da formação do povo gratório em âm bito global e os índices sign i
brasileiro. De certa forma, os trabalhos de ficativos da em igração de brasileiros desde a
Sakurai (19 9 9, 2000) revelam como os d ita década de 1980 aum entaram o interesse aca
mes práticos e pragm áticos das políticas im i dêm ico pela im igração no Brasil. Im igração
gratórias passam por cim a das ideologias na e im igrantes, do século XIX até o presente,
cionalistas e mesmo dos ideais racistas. A são objetos de pesquisa de historiadores, an
despeito da restrição inicial- à im igração asiá tropólogos, sociólogos, dem ógrafos, geógra
tica consignada pelo decreto 528, de 1890, e fos — cada d isciplina com suas prioridades
devido à explícita preferência pelos im igran tem áticas. No cam po das ciências sociais,
tes europeus, o governo brasileiro revogou em particular da antropologia, a pluralidade
esse dispositivo em 1907, no m om ento in i étnica e a conseqüente form ação de id en ti
cial de retração dos fluxos europeus, em vir dades culturalm ente dem arcadas são temas
tude dos interesses dos cafeicultores paulistas
recorrentes que praticam ente substituíram o
e dos program as de colonização e, igualm en
m odelo analítico baseado nos conceitos de
te, para estabelecer relações comerciais mais
aculturação e assim ilação.
duradouras com o extremo oriente. E nesse
No seu artigo sobre os problemas de for
contexto de interesses que a autora apresenta
mação de novos Estados pós-coloniais, Geertz
dados que configuram um a im igração d irigi
(1963) cham ou a atenção para as dificuldades
da, subsidiada e estim ulada nos dois pólos do
de ajustar sentimentos primordiais próprios
contínuo m igratório — Brasil e Japão. Do
das situações de pluralidade étnica e cultural a
lado brasileiro, a perspectiva de m oderniza
sentimentos civis e nacionais. Não utiliza o ter
ção é a principal m otivação; no Japão, o cres
mo “grupo étnico”, mas está im plícita na sua
cim ento dem ográfico pressionou a em igra
argumentação a noção de povos diferenciados,
ção, estim ulada por empresas privadas e
estatais, que produziram assentamentos de com identidades fundadas em pertencimentos
fam ílias japonesas no Brasil. primordiais, derivados de princípios como pa
Ianni e Sakurai dim ensionaram de modo rentesco, raça, cultura, religião etc. —algo pró
mais sistemático o Estado em igrantista e sua ximo da concepção de etnia - , dificultando a
atuação no curso dos processos m igratórios, emergência da percepção (política) de cidada
um tem a que está mais em evidência no atual nia. Na mesma época, Glazer e M oynihan
m undo globalizado, onde em ergem Estados- (1963) abordaram as relações interétnicas em
nação transnacionais, mantenedores de polí Nova York procurando mostrar que, mesmo
ticas identitárias que ultrapassam as fronteiras passados quase quarenta anos desde a im igra
internacionais.33 Essa não é um a característica ção em massa de europeus, o padrão étnico
exclusiva da pós-m odernidade, pois políticas produzido por ela persiste, e atribuem essa per
de construção de identidades e de m an uten sistência a um a tendência central no ethos nor-
ção de certos laços prim ordiais existiram te-americano, que estrutura os imigrantes e
25
seus descendentes, assim como porto-rique (1976) e, de modo m ais in cipiente, estão
nhos e negros (os dois outros grupos estuda presentes em alguns trabalhos sobre a im i
dos) em grupos de diferentes status e caracterís gração, com o os de V ieira (1 9 7 3 ), Azevedo
ticas. Não descartam a assimilação e reafirmam (1982) e Rartner (19 7 7).
o poder assimilacionista da sociedade e cultura A pesquisa sobre a im igração alem ã que
norte-americanas, mas consideram m eltingpot realizei no Vale do Itajaí (SC ), e que resultou
apenas um a idéia antiga que não se realizou na na tese de doutorado defendida em 1976 na
prática.35 Para eles, os grupos étnicos são for Universidade de São Paulo (depois p ub lica
mas de vida social em permanente renovação e da em 1981), seguiu essa orientação teórica
transformação e são também motivados por para tratar da formação da identidade teuto-
interesses comuns, e a palavra etnicidade (um brasileira num contexto de colonização que
neologismo recém-dicionarizado) aparece para o nacionalism o brasileiro, especialm ente d u
designar o caráter ou a qualidade do grupo ét rante a cam panha de nacionalização do Es
tado Novo, considerou problem ático por
nico. O conceito foi aplicado a grupos de im i
causa das diferenças culturais e do uso coti
grantes e descendentes, e as virtudes teóricas da
diano de um a lín gua estrangeira. O trabalho
etnicidade seriam reafirmadas por ambos, so
focaliza o desenvolvimento da noção de co
bretudo na sua dimensão política no contexto
m unidade étnica ( Volksgemeinschaft) e de
do Estado de bem-estar social, tendo em vista
identidade teuto-brasileira e sua transform a
sua relevância como categoria social e sua visi
ção ao longo do tem po, a influência do na
bilidade m undial (Glazer e M oynihan, 1975).
cionalism o alem ão na sua configuração, os
D iante das virtualidades da noção de grupo ét
conflitos produzidos no confronto com o na
nico na antropologia, Barth (1969) problema-
cionalism o brasileiro e no contato com a po
tizou-a, introduzindo a questão da identidade
pulação nacional, especialm ente durante o
(étnica) apropriada como aspecto da organiza
Estado Novo, quando houve intervenção
ção social. Nesse caso, o ponto fundam ental na m ilitar que atin giu as instituições co m un itá
análise proposta diz respeito à fronteira étnica rias e restringiu as liberdades individuais. A
culturalm ente demarcada e socialmente cons pesquisa baseou-se em entrevistas, na histo
truída na interação com os outros. Para ele, a riografia local, nos m ateriais de arquivo, re
identidade não é imutável, mas socialmente lativos às instituições com unitárias e associa
definida na ação recíproca que marca as rela ções, e na im prensa e literatura em lín gua
ções interétnicas. alem ã, principais veículos de divulgação da
Os debates posteriores ora reificam , ora ideologia germ anista. Tratando de concep
criticam esses posicionam entos mas, de um ções conflitantes de identidade étnica e na
modo geral, a persistência e a relevância dos cional, a análise das categorias de identifica
fenôm enos abarcados pelas noções de etn ici ção e os períodos de m aior conflito tiveram
dade e grupo étnico, sua am plitude em p íri espaço privilegiado num texto que procurou
ca na form a de diferenças culturais e sua m ostrar por que e como os critérios de per-
ub iqüidade, deixaram em segundo plano as tencim ento à “com unidade étnica” (no sen
problem áticas de integração e absorção con tido dado por W eber, 1991) persistiram
tidas no m odelo analítico de assim ilação e mesmo depois de décadas sem entradas sig
aculturação. Essas novas reflexões teóricas nificativas de novos im igrantes e no curso
repercutiram no Brasil e foram discutidas, do processo de aculturação assinalado por
in icia lm e n te, por C ardoso de O liveira W illem s (1 9 4 6 ).36
26
A dissertação de mestrado de M aria H e problem a da transnacionalidade que m odifi
lena Beozzo de Lim a, defendida no PPGAS ca a identidade nacional —são temas estuda
do M useu N acional em 1973 (não p ub lica dos por Bela Feldm an-Bianco (2001, 2002),
da), foi um dos prim eiros trabalhos a dedi que tam bém orientou duas dissertações de
car m aior atenção à formação da identidade m estrado sobre a im igração portuguesa no
étnica em contexto m igratório. Trata-se de Brasil voltadas para a questão da identidade.
um estudo de base etnográfica realizado na Douglas M ansur da Silva (2000) tratou da
C asa do M inh o , Rio de Janeiro - “casa re configuração político-identitária de um gru
gional portuguesa” que concentra im igran po de exilados anti-salazaristas estabelecidos
tes naturais do norte de Portugal (oriundos na cidade de São Paulo e ligados ao jornal
do meio rural) e seus descendentes. Lim a P ortugal Democrático, no período entre 1956
analisa a inserção deles na sociedade brasilei e 1975; Eduardo Caetano da Silva (2003)
ra, as representações sobre a ascensão social, a analisou a dinâm ica da identidade e a etnici-
elaboração da identidade de “português do dade traduzida pela expressão portugalidade,
Brasil” e suas manifestações num contexto as no contexto associativo de portugueses e des
sociativo onde é celebrada a diferença cultu cendentes em São Paulo. As implicações polí
ral. Nesse sentido, aponta para o caráter sim ticas e o jogo de poder envolvendo reconfigu
bólico da idéia de “com unidade de origem ” rações da identidade (cultural) são a principal
atrib uída à casa regional, e sua im portância contribuição desses trabalhos sobre a im igra
identitária que passa pela afirm ação da supe ção portuguesa.
rioridade de padrões e valores lusitanos em A relevância tem ática da etnicidade e
relação aos da sociedade brasileira —d aí a ex seus aportes identitários vinculados à dife
pressão “missão herdada” (num certo senti renciação cultural podem ser observados em
do, percebida como a co ntinuidade civiliza- diversos trabalhos publicados nos últim os
tória do passado colonial), que com põe o vinte anos. A lgum as pesquisas foram realiza
título da dissertação. N a conclusão m encio das jun to a grupos que receberam pouca
na um a questão não discutida no texto: a atenção, talvez por causa da sua pequena v i
possível ligação entre a ideologia étnica dos sibilidade nas estatísticas im igratórias. E o
“portugueses” da C asa do M inh o e os inte caso da im igração ju d aica dirigid a para áreas
resses (no plano das relações internacionais) de colonização no sul do país, um tipo de lo
de Portugal. calização aceito por ser um a im posição da
A í está um indicativo im portante do pa p olítica im igratória do Estado brasileiro,
pel do Estado-nação português na configura vinculada a projetos coloniais, mesm o d ian
ção identitária dos im igrantes, um processo te de refugiados de origem urbana.37 A expe
que se tornou mais evidente com o fim do re riência de inserção rural de um grupo de re
gim e salazarista e a independência das colô fugiados ju d eu s o riundo s da A lem an ha
nias africanas em meados da década de 1970. nazista foi estudada por Ethel W. Kosminsky
A redefinição do papel do Estado-nação pós- (19 8 5), a partir de um a pesquisa realizada
colonial e a em ergência de políticas de identi em R olândia, no norte do Paraná. Seus resul
dade para incluir os portugueses da diáspora, tados m ostram , sem paradoxos aparentes
assim como as reconfigurações das sem elhan pois trata-se de pessoas que estavam integra
ças e das diferenças entre Portugal e Brasil, na das na com unidade nacional alem ã antes do
conjuntura da globalização (com implicações nazismo convertê-las em indesejáveis, um a
nas representações identitárias) - enfim , o configuração identitária vinculada à cultura
27
alem ã. M ais do que isso, à alta cultura, K ul- teiros foram expropriados, ficando à m argem
tu r , com o enunciado da educação literária e das colônias e dedicados à atividade extrativa
artística, e que se agrega aos princípios mais controlada por empresários de “origem ” ita
gerais da identidade judaica. liana. N a interface história-antropologia, Re
O utro bom exem plo dessa forma de gina W eber estudou os trabalhadores fabris
análise tem ática é o trabalho de Alcides Fer de Ijuí, um a “colônia m ista” de im igrantes
nando Gussi (1997) sobre a construção e a europeus situada no Rio G rande do Sul, no
reconstrução de um a identidade “am erica período inicial da industrialização (décadas
na” por parte dos descendentes de fam ílias de 1930/1940). Analisa a cultura operária
confederadas que vieram para o interior de desses im igrantes e descendentes (entre os
São Paulo (Santa Bárbara do O este e A m eri quais predom inam os alem ães), sua p artici
cana) no século XIX. O autor realizou um pação nos sindicatos, na política local, e as
bom trabalho etnográfico (inclusive dos relações interétnicas nas quais as fronteiras
eventos realizados num cem itério onde estão cultu ralm en te dem arcadas e socialm ente
sepultados os antepassados), reconstruiu al acionadas separam a população “de origem ”
gum as trajetórias fam iliares e sua associação (européia) dos “brasileiros”. Ennes analisou a
com a etnicidade e analisou um conjunto de presença japonesa n um a cidade do interior
dados relativos à fam ília, participação p o líti paulista a partir das relações sociais entre ja
ca, vida econôm ica, ascensão social etc., poneses e não japoneses com um enfoque
n um a interface entre história e antropologia teórico um pouco diverso, pois apresenta a
tam bém presente em outros estudos que tra noção de “identidade inacabada” para repen
tam da questão da identidade na longa d u sar a dinâm ica da “construção e desconstru-
ração, especialm ente no caso dos fluxos im i ção de identidades étnico-culturais” (Ennes,
gratórios que rem ontam ao século XIX. 2 00 1 , p. 16). Influenciado pela sociologia de
Antes da versão publicada, os dois traba Pierre Bourdieu, especialm ente a noção de
lhos citados foram apresentados como disser habitus, faz uma breve história da presença ja
tações de mestrado; fazem parte de um gran ponesa em Pereira Barreto para depois abor
de núm ero de teses e dissertações defendidas dar as relações sociais, a inserção de nipo-bra-
nos dois últim os decênios, cujo objeto é a sileiros na estrutura social e o processo de
im igração no Brasil. As lim itações de um ar trocas sim bólicas e práticas usadas na cons
tigo im pedem um a avaliação precisa dessa trução da identidade. O trabalho está basea
produção acadêm ica, em grande parte ainda do em algum as fontes docum entais e, p rinci
inédita. Entre os trabalhos publicados, que palm ente, em relatos orais de pessoas cujas
abordaram , no todo ou em parte, a tem ática trajetórias instruem a análise.
das relações interétnicas e da formação da Esses autores podem , eventualm ente,
identidade podem ser citados os de Arlene buscar fundam entos teóricos diversos, mas
R enk (19 9 7), M arcelo A. Ennes (2001) e têm procedim entos m etodológicos com uns,
R egina W eber (2002). Renk faz um a análise além do fato de abordar, no todo ou em par
antropológica do confronto interétnico entre te, a problem ática interétnica. Pesquisaram
ervateiros caboclos e colonos italianos oriun grupos que entraram no Brasil antes da Se
dos do Rio G rande do Sul e assentados no gunda Guerra M un d ial, quase sempre de in
oeste de Santa C atarina, a partir da década serção rural e associados ao desenvolvim ento
de 1920, por empresas de colonização. No urbano posterior à im igração - fenômeno
processo de ocupação do território, os erva com um no processo de ocupação territorial
28
no sul do país. Ao recorrer à história do pro os trabalhos de Oswaldo Truzzi (1992, 1997)
cesso im igratório, inclusive para explicitar as e Roberto G riin (1992) dedicados, respecti
persistências e as m udanças nas formulações vam ente, aos sírios e libaneses e aos armênios
das identidades e a m obilidade social, preci em São Paulo. Além de tratarem das identida
saram buscar dados em arquivos e usar técni des e dos contornos culturais dessas “colônias”,
cas próprias da história oral, que apelam ao assim como das m udanças que se produziram
conceito de m em ória e são diversas da histó desde os inícios dos fluxos imigratórios, os au
ria de vida antropológica e da noção de tra tores abordaram a questão crucial da m obili
jetó ria individual. M as têm a peculiaridade dade social e seu papel integrativo interno e
de não fazer, propriam ente, história da im i tam bém na sociedade brasileira. Truzzi (1992)
gração, pois o interesse m aior é o tem po pre analisou o papel do comércio e da formação
sente, a não ser no caso estudado por W eber universitária de profissionais liberais no pro
(20 0 2). D aí, o principal fundam ento m eto cesso de ascensão social que facilitou a inte
dológico é a entrevista e, por m eio dela, a gração social de famílias mais abonadas - su
m em ória e as representações, inclusive sobre cesso econômico que, em parte, ajudou a
o passado. U m bom exemplo dessa utilização superar os estereótipos e os preconceitos vin
da entrevista é a tese de M aria C atarin a C. culados pelos brasileiros à atribuição genérica
Z anini (2002) —um estudo m inucioso sobre da categoria “turco” aos oriundos do Oriente
a construção e a reconstrução da identidade M édio. Essa abordagem foi am pliada no ou
italian a na região de Santa M aria (RS) que se tro trabalho (Truzzi, 1997) que, além de mos
apóia nas m em órias dos descendentes acerca trar a diferenciação interna da colônia, apre
da “italian id ade” e oferece um panoram a senta um a análise da emergência de lideranças
dessa etnicidade vista do presente. e sua inserção política, um tema pouco usual
Os exemplos dados mostram a predom i assim como o capítulo dedicado à com para
nância tem ática dos processos de formação de ção com a imigração sírio-libanesa nos Esta
identidades étnicas ou culturais e sua relevân dos Unidos. Grün (1992) deteve-se no que
cia no âm bito das relações sociais num a socie cham ou de “especialização funcional” (ativi
dade plural. Não é assunto exclusivo, e sua dades concentradas no segmento de calçados
im portância está relacionada aos particularis- da economia) e na relação entre atividade eco
mos culturais produzidos pela im igração, es nôm ica (empresas familiares) e os condicio
tranhos à formação de um Estado-nação ao nantes culturais de um a identidade armênia.
mesmo tempo im igrantista e assim ilacionista. G rün retom ou o tem a da identidade ar
Além disso, articula-se com a noção de etnia m ênia num texto com parativo que m ostra
presente na idéia de colônia , com fronteiras particularidades da constituição da com uni
culturais buscadas nas tradições nacionais de dade judaica no Brasil, evidenciando o papel
cada grupo. O termo colônia não exprime dos intelectuais judeus na estruturação de
pertencim ento étnico apenas entre im igran um a identidade com um , apropriada de for
tes de inserção rural localizados em áreas de m a individual e coletiva. O texto está in clu í
colonização, mas tam bém aparece entre im i do num a coletânea organizada por Bila Sorj
grante e descendentes estabelecidos nas gran (19 9 7), dedicada aos temas do judaísm o, da
des cidades, que até agora receberam pouca identidade jud aica e da integração dos judeus
atenção — sobretudo os grupos com menor na sociedade nacional. D entro dessa perspec
visibilidade estatística - excetuando a cidade tiva tem ática, a coletânea apresenta textos de
de São Paulo. Sob esse aspecto, destacam-se Bernardo Sorj, que procura analisar a dinâ-
29
m ica da integração dos judeus tendo em vis oferece dados gerais sobre os diversos grupos
ta o im pacto lim itado do anti-sem itism o na im igrados, procurando ressaltar a co ntrib ui
sociedade brasileira; de Eva A. Blay, que ção de cada um deles à cultura e à econom ia
aborda trajetórias de m igração de fam ílias de brasileira. Autores que trataram de grupos es
judeus do norte da África para a Am azônia, pecíficos utilizaram o mesmo formato analí
apontando para processos concom itantes de tico, caso de Franco C enni (1975), que estu
integração social e preservação das in stitui dou a em igração italiana para vários estados
ções com unitárias (dem arcadoras de um a brasileiros, fixando-se mais substantivam ente
identidade específica); a questão da identida nas particularidades culturais, sobretudo dos
de tam bém está presente no trabalho de Bila que se dirigiram para São Paulo, e a contri
Sorj sobre casamentos mistos e conversão ao buição italian a para a alta cultura (literatura,
judaísm o m oderno no Brasil a partir de um arquitetura, teatro, pintura etc.). Algum as
estudo sobre a Federação Israelita do Rio de obras coletivas tam bém possuem esse perfil,
Janeiro, um a instituição representativa da co e reúnem textos apresentados em simpósios
m un idade jud aica. Trabalhos como esses ou sem inários por pesquisadores de diferen
m ostram que a formação e a persistência de tes disciplinas, alguns de caráter mais socio
identidades culturalm ente diferenciadas em lógico e outros descritivos, ou etnográficos,
sociedades plurais - particularm ente na pós- abordando um ou m ais aspectos da vida co
m odernidade, que transform ou o m ulticul- tidiana, das diferenças culturais, da coloniza
turalism o em fenômeno politicam ente corre ção, da vida religiosa, da história de certas
to (apesar dos discursos de exclusão que colônias etc. E o caso de várias publicações
m arcam a m aioria dos nacionalism os) - não relacionadas às im igrações alem ã e italiana,
são incom patíveis com a integração nas so principalm ente no Rio Grande do Sul, entre
ciedades nacionais. as quais podem ser citadas: os C olóquios de
Estes e os outros trabalhos citados que Estudos Teuto-brasileiros (o prim eiro deles
deram im p ortân cia à questão das id entid a publicado em 1963); a coletânea sobre colo
des apontam para a din âm ica social do fenô nização alem ã organizada por M ü ller (1980)
m eno cham ado etnicidade, que é co ntin com resultados do III Sim pósio da Imigração
gente, variável ou, conform e observação de e C olonização A lem ã no Rio Grande do Sul;
Sm ith (1 9 8 6 , p. 3 2), contém um paradoxo, a coletânea tam bém organizada por M üller
um a vez que é, a um só tem po, m utável (19 9 4), que contém artigos sobre os im pac
e persistente e seus símbolos são construídos e tos da cam panha de nacionalização do Esta
reconstruídos no curso da história. Por ou do Novo apresentados no X Sim pósio de
tro lado, a com plexidade das formas de in te H istória da Im igração e Colonização A le
gração social e a in interrup ta reconstrução mãs; os três volum es organizados por Luiz A.
das diferenças culturais deixam em evidên De Boni (19 8 7, 1990, 1996) sobre a “pre
cia as lim itações dos modelos de assim ilação sença italiana no Brasil” - os dois prim eiros
e aculturação, fato que não d im in u i a rele contendo artigos apresentados em dois sim
vância dos estudos sobre a im igração realiza pósios realizados em São Paulo e V itória com
dos com essa orientação teórica. patrocínio da Fondazione G iovanni A gnelli;
As m últiplas questões suscitadas pelo fe e os A nais do I e II Fórum de Estudos Italo-
nôm eno im igrató rio trazem dificuldades brasileiros publicados em 1979, com o título
para as análises de m aior abrangência, como Im igração ita lia n a : estudos.™ A am plitude te
a realizada por Diégues Jun ior (19 6 4), que m ática da im igração e da colonização inclui,
30
tam bém , estudos m onográficos, voltados Brasil. A lém da riqueza descritiva, tam bém
para um único núcleo, com binando dados presente em artigos que com põem as coletâ
históricos (quase sempre obtidos em arqui neas citadas e outras relativas a datas com e
vos locais) e resultados de trabalho de campo morativas, destacam-se trabalhos de estilo et
baseados em entrevistas com descendentes, nográfico, extrem am ente m inuciosos, que
referidos a im igrantes que chegaram antes da contém dados sobre a vida cotidiana, hábitos
Segunda Guerra M un d ial. Tratam , principal e costumes associados à colonização - no pas
m ente, da formação da com unidade, até o sado e no presente - , resultados de m eticulo
presente, em bora não sejam , necessariam en sas pesquisas realizadas em diversas regiões
te, “estudos de com unidade” no sentido que coloniais. São textos despreocupados com re
esse termo tem na antropologia.39 O livro de ferências teóricas que, além do valor etnográ
C hiyoko M ita (1999) é um exemplo dessa fico e do conhecim ento em pírico que propor
orientação m etodológica: estuda o estabele cionam , são im portantes fontes secundárias,
cim ento de um a colônia (agrícola) de im i úteis para outros pesquisadores. Seria por de
grantes japoneses em Bastos (SP) pela Bratac, mais exaustivo dar conta de toda essa produ
um a empresa colonizadora japonesa, dando ção, mas devo destacar, especialm ente, os n u
atenção m aior ao modelo de colonização ali merosos resultados das etnografias de Rovílio
im plantado, à organização econôm ica e so Costa e A rlindo I. Battistel sobre a im igração
cial e à crise produzida durante a guerra (e à italiana no Rio Grande do Sul, e de Teimo
reorganização da colônia após 1945). O utra Lauro M uller sobre as “colônias alem ãs”.40
vertente de análise privilegia a abordagem da Até aqui, observou-se a infinidade te
colonização a partir das teorias do cam pesi m ática da produção sociológica e antropoló
nato. E o caso da m inha pesquisa sobre a co gica relacionada à im igração no Brasil, espe
lonização alem ã no rio Itajaí-m irim (Sey- cialm ente aquela que rem onta ao século
ferth, 1974), e do trabalho realizado por XIX e p rim eira m etade do século XX. C o n
Arlene Renk (19 9 7), que focaliza um meio tudo, alguns assuntos ainda não foram sufi
rural na região oeste de Santa C atarina, onde cientem ente estudados por antropólogos e
os principais atores sociais são colonos de sociólogos: a im igração pós-Segunda G uerra
origem italiana e caboclos. Os mesmos atores M un d ial, p articularm ente, a im igração la ti
são objeto da pesquisa de N eusa M .S . Bloe- no-am ericana, m ais recente - que tam bém é
m er (20 0 0), desenvolvida nos campos de La im igração urbana; a im igração espanhola e
ges (SC ), num a área em que parte da popu portuguesa (cuja im p ortân cia num érica é
lação cam ponesa (com posta principalm ente considerável) e os fluxos de pequena rele
de italian o s e caboclos) está am eaçada de vância estatística; a im igração que ocorreu,
deslocam ento em virtude da im plantação de historicam ente, fora das regiões sul e sudes
projetos hidrelétricos. Dada a relevância da si te; as políticas im igratórias, em geral m en
tuação interétnica produzida pela colonização, cionadas pontualm ente em alguns traba
R enk e Bloemer tam bém analisam a questão lhos. Entre os estudos já publicados sobre os
das identidades, na sua dupla dim ensão cam fluxos m ais recentes, além do já citado texto
ponesa e étnica. de Borges Pereira (19 7 4), voltado para um
Ainda dentro de um a perspectiva m eto grupo italiano localizado no interior de São
dológica vinculada à antropologia inscrevem- Paulo, destaca-se a dissertação de m estrado
se numerosos trabalhos sobre a diferenciação de Sidn ey A ntônio da Silva, que estuda um
cultural produzida pela im igração no sul do grupo de im igrantes bolivianos que traba-
31
lham no ramo da costura na cidade de São se, porém , o trabalho sobre os im igrantes es
Paulo, publicada em 1997. N um trabalho panhóis da G alícia (galegos) estabelecidos na
etnograficam ente bem construído, analisa Bahia (im igração iniciada na década de 1880)
trajetórias, estratégias de sobrevivência, os realizado por Jefferson Bacelar (1994) - mos
problem as decorrentes da clandestinidade trando seu papel no pequeno com ércio em
(externalizados na categoria “indocum enta Salvador, a discrim inação por serem estran
do”), os cam pos cultural e religioso recriados geiros e as dificuldades de integração, e a
em São Paulo e sua significação id entitária, m anutenção de um a identidade galega ape
a perm anência e a m udança de valores em sar da assim ilação.
face das expectativas de m obilidade social. Finalm ente, um a últim a referência à na
Existem alguns trabalhos sobre grupos tureza interdisciplinar da im igração, eviden
menos significativos em termos estatísticos. ciada principalm ente em coletâneas que reú
H ack (1959), por exemplo, realizou sua pes nem trabalhos de pesquisadores de diferentes
quisa em seis colônias holandesas localizadas áreas do conhecim ento. D uas publicações
no sul e em São Paulo, privilegiando diferen recentes sobre políticas im igratórias, que
tes aspectos da sua inserção econôm ica e so contêm textos apresentados em sem inários,
cial, as formas de assentam ento, sua consti são exem plares, oferecendo um a perspectiva
tuição como pequenos produtores fam iliares. histórica e com parativa. A prim eira é resul
Trata-se de um antropólogo trabalhando na tado do Sem inário sobre M igrações Interna
cionais (contribuição para políticas) convo
interface com a geografia, disciplina que tem
cado pela C N P D (C astro, 2001) e faz um
um a contribuição im portante para os estu
balanço geral envolvendo experiências inter
dos da colonização estrangeira no Brasil.41
nacionais, as políticas im igratórias no Brasil
M enonitas, húngaros, ucranianos, suábios
em perspectiva histórica, as questões relati
do D anúbio, entre outros grupos menos co
vas à exclusão, aos direitos hum anos, ao
nhecidos que form aram colônias, principal
m ercado de trabalho para estrangeiros, aos
m ente no Paraná (a últim a fronteira da colo
novos im igrantes (com o os africanos e os
nização do sul), receberam algum a atenção
hispano-am ericanos), aos brasileiros no ex
de historiadores e geógrafos, mas perm ane
terior etc. A segunda contém textos apresen
cem ignorados pelas ciências sociais.
tados no Sem inário Internacional “Políticas
Nesse universo menos evidente da im i
M igratórias”, realizado no Idesp (Sales e Sal-
gração, T haddeus Blanchette (2001) reali les, 2 0 0 2 ), focalizando tendências e p o líti
zou um a pesquisa sobre norte-am ericanos e cas, passadas e presentes, da m igração inter
indivíduos de outras nacionalidades de lín nacional na A m érica Latina. Nos dois casos,
gua inglesa que vivem e trabalham na cida a questão das políticas foi d iscutida por pes
de do Rio de Janeiro, aos quais nem sempre quisadores da área acadêm ica com represen
é atrib uída um a identidade de im igrante, tantes de organizações governam entais e da
mas que de algum a form a se consideram ex sociedade civil.
patriados - um a discussão que aponta para A im igração na A m érica Latina tam bém
novas questões que surgem na esteira da glo é m atéria do volum e organizado por Boris
balização e da m obilidade geográfica. Fausto (19 9 9), que reúne trabalhos de histo
O norte e o nordeste do Brasil tam bém riadores, sociólogos e antropólogos sobre o
receberam im igrantes em diversas épocas; fi tem a da im igração em massa (historicam en
guram , eventualm ente, em historiografias, te localizada entre 1880 e o início da década
m as a literatura sobre eles é escassa. D estaca- de 1930) - apontando para as possibilidades
32
com parativas em âm bito interdisciplinar. conflitos decorrentes dessa situação. Essa no
Além das historiografias da im igração em di ção de totalidade está presente desde o traba
ferentes países da A m érica Latina, vários tra lho de Thom as e Z naniecki, segundo o qual
balhos abordam as trajetórias de grupos espe os processos de m udança envolvendo a em i
cíficos, discern in d o a d in âm ica de gração de poloneses para um a cidade dos Es
construção das identidades culturais e a in
tados Unidos só podem ser entendidos a par
serção na sociedade nacional. Por outro lado,
tir da compreensão da sociedade nacional de
no conjunto de trabalhos produzidos pelo
origem e dos problem as resultantes da inte
Grupo de Estudos M igratórios do Idesp (que
gração de camponeses num a outra sociedade
com põem a série Imigração publicada pela
Editora Sum aré) destacam-se alguns temas nacional (urbana) - num a abordagem m ulti-
pouco com uns: num volum e coletivo (Faus disciplinar que procurou unificar m etodolo
to et a l., 1995), Boris Fausto, O sw aldoTruz- gias da psicologia social e da sociologia. A s
zi, Roberto G riin e C élia Sakurai estudam teorias de assim ilação e aculturação seguiram
diferentes aspectos da participação política cam inho sem elhante, dando m aior atenção
de descendentes de im igrantes de várias et às m udanças sociais e culturais e a seus aspec
nias estabelecidas em São Paulo; Sakurai tos integrativos no sentido da absorção dos
(1993) utiliza o rom anceiro da im igração ja im igrantes na nova sociedade, sobretudo a
ponesa como fonte docum ental para o estu partir da segunda geração. Elas tiveram in
do de trajetórias, da fam ília, da identidade e fluência preponderante na m aioria dos estu
outras facetas do processo im igratório (pro dos sobre a im igração no Brasil, realizados
cedim ento que aparece tam bém na crítica li
por cientistas sociais, até o início da década
terária, mas com m etodologia e teoria dis
de 1970 - particularm ente após a publicação
tintas); Salles (1997) traça o perfil e a
do prim eiro livro de Em ílio W illem s. Os tra
inserção de médicos italianos em São Paulo,
balhos m ais recentes que usaram o modelo
objetivando um a análise da experiência so-
cioprofissional desse grupo; e A raújo (2000) de aculturação, publicados na década de
analisa a form ação da etnicidade italian a em 1970, já indicam m udança de orientação ao
São Paulo a p artir da vinculação a um a asso abordar questões relativas à diferenciação
ciação esportiva42 (o clube de futebol Pales cultural e à identidade étnica, aliás, percebi
tra Itália). das desde que W illem s apelou para a noção
Estas breves observações sobre um a par de “cultura híbrida”. De fato, nessas aborda
te da produção acadêm ica dedicada à im igra gens perde-se um pouco a contradição fun
ção no Brasil, necessariam ente lim itadas, dam ental produzida pela im igração em mas
apontam para as m últiplas possibilidades de sa de diferentes nacionalidades no âm bito do
pensar os fenômenos m igratórios. As p rinci Estado-nação assim ilacionista: a pluralidade
pais formulações teóricas surgidas na p rim ei cultural opõe-se aos pressupostos de hom o
ra metade do século passado procuraram dar geneidade do princípio de nacionalidade,
conta da totalidade que abrange a em igração ainda que este faça algum as concessões às in
e a im igração em suas m últiplas dimensões - fluências estranhas à form ação nacional.
coletiva e social, individual e com portam en- W illem s usou a noção de “cultura híbrida”
tal - , dando m aior ênfase aos processos de para referir-se aos antagonism os étnicos
inserção dos estrangeiros (e seus descenden abarcados pela idéia de “m arginalidade” - o
tes) na sociedade nacional receptora e aos hibridism o supõe um a com binação de ele
33
mentos tom ados de duas ou mais culturas, estudos antropológicos sobre etnias ou gru
im plícita no próprio conceito de acultura pos específicos prevaleceu, igualm ente, a aná
ção. Na verdade, o processo im igratório asso lise etnográfica.
ciado à ocupação territorial, particularm ente A com plem entaridade entre em igração
no sul do país, produziu um a pluralidade e im igração, por outro lado, cham a a aten
cultural vinculada à colonização, da qual ção para a im portância do ponto de partida
co m partilharam diferentes nacionalidades do im igrante - parte da totalidade acim a re
européias, e a adjetivação utilizada por W il- ferida e quase sem pre tangenciado. Isto é
lems é um a solução para falar dos elem entos p articularm ente im portante porque os laços
constitutivos da cultura teuto-brasileira. com a sociedade de origem perm anecem , às
Enfim, os que trabalharam com esses vezes por m uitas gerações, e existe, igu al
conceitos perceberam que eles não davam m ente, a interferência dos Estados-nação
conta de aspectos im portantes da im igração, que produzem em igrantes - situação presen
sobretudo os que apontavam para a confor te nos contextos da im igração em m assa e,
mação das diferenças sociais e culturais, refle sobretudo, evidenciada hoje pelo transna-
tidas na construção de identidades singulares. cionalism o e pela intensidade das reconfigu
Trata-se, fundam entalm ente, do estado pro rações de identidade na globalização.
visório que define a im igração e da situação Por fim , deve ser lem brado que, além de
duradoura, de fato, que o caracteriza, confor um a certa contin uidade tem ática e m etodo
me observação de Sayad, que conduz à con lógica, os objetos privilegiados ain d a são a
tradição constitutiva da condição do im igran im igração associada à ocupação territorial
te: ser ignorada como provisória e não se (isto é, à colonização) e os fluxos anteriores
confessar como definitiva (Sayad, 1998, p. à Segunda G uerra M un d ial. Já existem estu
45). Por isso mesmo, a etnicidade tornou-se dos sobre a inserção urbana, inclusive de
objeto tão evidente nas análises mais recentes, im igrantes que chegaram nas duas últim as
mesmo aquelas que enfocam a im igração em décadas; mas os deslocam entos internos (in
massa, situada na longa duração. M as não é clusive no contexto da grande im igração),
um tem a exclusivo, pois a construção das que conduziram contingentes significativos
identidades só pode ser com preendida por de im igrantes e descendentes assentados em
seus referentes sociais e culturais e pela alteri- colônias para centros urbanos, não recebe
dade configurada por fronteiras intergrupais. ram m aior atenção dos pesquisadores. Tema
H á, tam bém , um a continuidade tem ática em interdisciplinar, fenôm eno que interfere na
relação aos primeiros trabalhos e esta diz res sociedade inteira, a im igração é, por sua na
peito às questões de integração, inserção eco tureza, m ultifária, dificultando sua apreen
nôm ica e m obilidade social, e da conform a são como totalidade pretendida por alguns
ção das especificidades culturais e sociais. Nos postulados teóricos.
Notas
34
tes, 1941). M erecem destaque, entre outros, a M em ória escrita por A. C . Tavares Bastos
em 1867 (Bastos, 1976), o livro do político flum inense A ugusto de C arvalho (18 7 4), o
relatório apresentado ao M inistério da A gricultura, C om ércio e Obras Públicas pelo C o n
selheiro João Cardoso de M enezes e Souza (18 7 5), o livro de D om ingos Jaguaribe (1878)
e, no início do século XX, o trabalho organizado por Joaquim da Silva Rocha, da D ire
toria do Serviço de Povoamento, para o M inistério da A gricultura, Indústria e Com ércio,
publicado em 1918.
2. Os textos mais polêmicos estão relacionados com a im igração alemã. Ver, por exemplo, Blu
m enau (1850, 1851); Doerfifel (1865); Ferraz (1859); Jannasch (1905), Decker (1926).
3. Nos dois eventos, as partes sobre im igração são de autoria de M attoso M aia (Filadélfia) e
Eduardo da Silva Prado (Paris) [ver Brasil, 1876; Nery, 1889].
7. Park cham ou de assim ilação os “processos pelos quais povos de diversas origens raciais e
diferentes heranças culturais, ocupando um território com um , adquirem um a solidarie
dade cultural suficiente para sustentar um a existência nacional” (19 3 7, p. 2 81). M as ao
considerar a diferenciação racial um obstáculo a esse processo, o conceito de assim ilação
ficou restrito aos estudos sobre a integração dos im igrantes europeus à sociedade norte-
am ericana, e a própria idéia de am ericanização deu destaque à rapidez com que se adap
tam ao modo de vida próprio do país de acolhida.
9. O estudo sobre os poloneses não se baseou no conceito de assim ilação. A parte as noções
de atitudes e valores oriundas da psicologia social, que m arcam essa obra (e tem relação
com o desenvolvim ento/transform ação da personalidade), ela foi definida como um es
tudo de m udança social no curso de um processo m igratório, por m eio da tem ática da
desorganização e reorganização social (cf. T hom as e Z naniecki, 1974).
10. Segundo W illem s, o conceito de m inoria nacional é incom patível com a idéia de assim i
lação porque ela “tem a sua vida social e cultural consolidada e definida, seja por um pro
cesso de estancam ento de m arginalidade, seja pela segregação ou insulam ento cultural
com pleto” (19 4 0, p. 175).
35
11. A definição da “colônia polonesa-am ericana” aponta para um sistem a social caracterizado
por instituições recreativas, escolares e de ajuda m útua, e por um a organização econôm i
ca, religiosa e m oral específicas (cf. T hom as e Z naniecki, 1974, pp. 1 .5 1 0 -1 .5 7 4 ).
12. O enunciado da germ anidade contém os pressupostos da p rim ordialidade destacados por
W eber — crença na m esm a origem ou raça e sentim entos de vida em com um . Geertz
(1963) tam bém assinalou o papel da cultura na definição dos pertencim entos prim or
diais, pois laços de sangue, lín gua, cultura, raça etc. são vistos pelos atores sociais como
naturais, inefáveis, obrigatórios. Geertz procurou m ostrar como isso dificultava a form a
ção de novos Estados nacionais; W illem s afirm ou que a am bivalência produzida pelo con
tato entre grupos culturais distintos dificultava o processo de aculturação.
13. W illem s (19 4 6, cap. IV). A expressão usada é “desnivelam ento cu ltural”, em parte asso
ciado à m obilidade espacial dos colonos e aos padrões da agricultu ra extensiva praticada
no contexto da colonização estrangeira e sua conseqüente ligação com a “cultura cabo
cla”. A lguns anos depois, esse pressuposto de retrocesso (econôm ico/cultural), cham ado
“caboclização”, seria referendado pelo geógrafo Leo W aibel (1958) e por autores b rasilei
ros como W ilso n M artin s (1989).
14. No capítulo sobre o “grupo alem ão”, por exem plo, retrocede ao Pleistoceno para falar dos
hom ens de H eidelberg e N eanderthal, até chegar às invasões nórdicas (no final da A n ti
güidade) e aos “tipos” m odernos que estariam representados na A lem anha - as “raças” al
pina, d inária, nórdica etc. E um a form a de m ostrar a variedade tipológica, sem fazer hie
rarquizações, no contexto dos “brancos” (nesse caso, não é a cor da pele o indicador
preponderante) (Ram os, 1947, vol. 2, pp. 1 82-190).
15. A análise realizada por A rth ur Ram os define-se nos preceitos de um a antropologia geral
que, além da cultura, in clu i o estudo lingüístico e m orfológico dos diversos grupos hu
manos e os contatos raciais e culturais e suas conseqüências, entre elas a m iscigenação e a
aculturação.
16. Ver, por exem plo, o já citado livro de O liveira V ian n a (1932) e o trabalho de A rthur H ehl
N eiva (1944) apresentado ao Conselho de Im igração e C olonização. Ambos trataram a
im igração como “questão racial”.
17. O mesmo referencial aparece quando, seguindo os textos de W illem s, Ram os tece obser
vação sobre a assim ilação entre os alem ães. “Ideologia p olítica” e “propaganda organiza
da” (Ram os, 1947, vol. 2, pp. 551, 5 55 ), respectivam ente para italianos e alem ães, são
alusões indiretas à presença facista e nazista no Brasil.
18. O despreparo para o trabalho agrícola (característica dos im igrantes oriundos de áreas ur
banas ou que tinham outra profissão), a precariedade dos assentam entos (um problem a
existente desde os prim órdios da colonização), a m á localização (por falta de infra-estrutu
ra —estradas, mercados etc.), a insistência em form ar colônias mistas (com “nativos”, para
atender a nacionalização) são consideradas causas do fracasso de alguns em preendim entos.
H á um a concordância com Leo W aibel (1958), geógrafo que apresentou a unidade étnica
como condição do sucesso de um a colônia (cf. M artins, 1989, pp. 114-124). M artins re
36
fere-se tam bém aos “aspectos deploráveis” da influência nativa sobre o estrangeiro, com
partilhando com W aibel e W illem s a idéia do desnivelam ento cultural e “acaboclam ento”
de m uitos colonos (Idem , p. 191), mas externaliza m uito m ais o pressuposto da inferiori
dade cultural dos caboclos, usando a palavra nativo como sinônim o de brasileiro.
19. Esse posicionam ento de Freyre recusa a diferenciação étnica para fixar-se nas possíveis
contribuições culturais da im igração que não põem em risco a brasilidade equilibrada,
nem a hegem onia da lín gua nacional (cf. Freyre, 1940, 1941).
20. N um a análise crítica em relação aos conceitos de m eltin gp o t e de assim ilação, Glazer e
M oyn ih am (1963) usaram etnicidade como indicador para im portantes grupos sociais,
num estudo sobre os “grupos étnicos de Nova York”.
21. E, praticam ente, palavra-chave para aculturação, supondo influências culturais m útuas,
mas sempre com predom inância da cultura nacional. A rth ur H ehl N eiva e M anuel Die-
gues Ju n io r participaram da C onferência sobre Assim ilação C ultural dos Im igrantes, rea
lizada com patrocínio da Unesco em H avana, C uba, 1956 (cf. N eiva e D iegues Junior,
1956). D iegues Ju n io r tam bém produziu um relatório sobre esse assunto para a Unesco,
jun tam en te com Fernando Bastos de A vila, destinado a organizações governam entais.
Este últim o autor tam bém p ublicou um livro sobre im igração no Brasil (Ávila, 1956).
22. Essa influência, porém , não é única: os trabalhos clássicos de T hom as e Z naniecki, W irth
e W illem s estão presentes no estudo realizado por V ieira; e a tese de Stonequist sobre m ar
gin alidade foi utilizada por Rattner.
23. O ensaio em que Cardoso de O liveira apresenta o posicionam ento de Barth acerca de
grupo étnico e identidade étnica foi publicado anteriorm ente na R evista A m érica Indíge
na, XXXI (4), 1971.
24. A ênfase na fam ília, ou nos “grupos prim ários”, está em conform idade com a m aioria dos
estudos dessa natureza, desde T hom as e Z naniecki. As estatísticas sobre casam entos com
pessoas que não pertencem à “com unidade” ou “colônia” (term os com um ente em prega
dos para configurar as fronteiras da etnia) são consideradas um dos indicadores do pro
cesso de absorção, em bora o estudo de V ieira (19 7 3, cap. VII) aponte para conflitos re
lacionados aos “casam entos m istos”.
2 5. Sobre a vinculação entre assim ilação e m obilidade social, ver a coletânea organizada por
Saito e M aeyam a (19 7 3).
26. A base teórica vem de Stonequist, Eisenstadt e outros autores que discutiram a “m argina
lidade sociocultural” como decorrência da posição do indivíduo im igrante de prim eira ou
segunda geração entre duas culturas e de suas im plicações na desorganização da persona
lidade (ver Rattner, 1977, pp. 9 6 -1 0 9 ).
27. Até a década de 1970, alguns estudos sobre im igração e colonização alem ã no sul do Bra
sil, inclusive de geógrafos, deram algum espaço para os “problem as de aculturação e assi
m ilação” (ver Leo W aibel, 1958; U rsula A lbersheim , 1962; Jean Roche, 1969).
37
2 8. Esta organização tem relação com a distribuição dos lotes coloniais, dem arcados em li
nhas e travessões perpendiculares a elas, em geral acom panhando os cursos d’água. C ape
la e pequenas casas de com ércio surgiram nas confluências, tornando-se lugares de encon
tro dos seus povoadores (ver Roche, 1969; Seyferth, 1990).
29. A m igração é um fenôm eno social m ultid irecio nal, característico do cam pesinato, e não
está lim itad a a um m ovim ento rural-urbano, como dem onstraram Kearney (1996) e Sa-
yad (19 9 8).
3 0. Essa percepção é p articularm ente enfatizada quando entra em cena a segunda geração
(brasileiros segundo o ju s solí) e os conflitos decorrentes da integração na sociedade bra
sileira (cf. V ieira, 1973; Rattner, 1977).
31. Diz Ianni: “R enunciam os deliberadam ente à possibilidade de escrever um livro acadêm i
co [...]. O autor não é neutro: sente-se identificado com os em igrantes e seus interesses.
Isso talvez baste para explicar o caráter polêm ico deste trabalho” (19 7 2, p. 10). O olhar
jornalístico do autor, porém , não torna menos efetiva sua acurada análise sociológica.
3 2. Essa questão é m encionada porque o m ovim ento de retorno é tão significativo do fenô
m eno m igratório quanto o de saída; e deve ser considerada tam bém a em igração tem po
rária (que tam bém in jeta recursos com o retorno dos expatriados). Ianni usa a categoria
“expatriado” para referir-se ao em igrante tendo em vista a idéia de “em igração forçada” ou
coação associada às políticas e aos constrangim entos que induzem as saídas.
3 4. Foram várias as formas de intervenção jun to às com unidades de im igrantes no Brasil que
contribuíram para as construção de identidades diferenciadas: a propaganda nacionalista
por meios escritos ou não, as atuações consulares e de representações de associações ou
organizações de apoio aos em igrantes, suporte financeiro e m aterial didático para as esco
las com unitárias, incentivando o aprendizado da “lín gua m aterna” etc., além da notória
presença p olítica de representantes do nazismo e do facismo que ajudou (mas não foi cau
sa exclusiva) a desenvolver a cam panha de nacionalização (cf. Seyferth, 1999).
35. O livro de 1963 é um a resposta às teorias da assim ilação na versão de m eltin gp o t com seu
suposto igualitarism o contido na noção de “am ericanização”. Para Glazer e M oyn ih an, o
“am ericano” em abstrato não existe; existem negros, judeus, italianos, irlandeses etc., e o
old stock (os W A SP - anglo-saxões brancos e protestantes).
36. A questão da identidade étnica teuto-brasileira foi retom ada em trabalhos posteriores, al
guns deles com parativos (ver, por exem plo, Seyferth, 1990, 1999).
37. A articulação legal entre colonização e im igração persistiu até depois da Segunda G uerra
M un d ial: os preferidos eram aqueles que tinham como destino um núcleo colonial, o que
38
explica a inserção rural de refugiados e outros im igrantes de origem urbana. Houve o as
sentam ento de judeus em colônias no Rio G rande do Sul, com posterior deslocam ento
para cidades maiores. A experiência de localização de judeus no m eio rural, no contexto
de um a proposta filosem ita de integração na m odernidade patrocinada pela Jew ish C olo-
nization Association, foi analisada num artigo de B ila Sorj, que aponta para os problem as
de adaptação ao regim e de colonização (ver Sorj, 1997).
38. Os livros citados são apenas um a pequena am ostra de um am plo universo de publicações
de editoras do Rio G rande do Sul, voltadas para a im igração, surgidas nas três últim as dé
cadas. A coletânea organizada por De Boni (19 9 0), por exem plo, é o volum e de n° 100
da Coleção Im igração Italiana p ublicada pela Editora da Escola Superior de T eologia São
Lourenço de Brindes, de Porto Alegre. A lém desta, outras editoras, sobretudo ligadas a
universidades (como a U niversidade de Caxias do Sul, a U nisinos - São Leopoldo - e a
U niversidade R egional do Noroeste do Estado do Rio G rande do Sul - Ijuí), têm p u b li
cado resultados de pesquisas, principalm ente na área de história, mas tam bém das áreas
de sociologia e antropologia, assim como textos produzidos por im igrantes, voltados para
a im igração e a colonização no sul.
40. Ver, por exem plo, C osta e Battistel (19 8 2, 1983a/b), Battistel e C osta (20 0 0), M ü ller
(19 8 1). O grande painel sobre a vida dos colonos italianos, em três volum es, de C osta e
Battistel (19 8 2, 1983a, 1983b), é com pletado por um quarto volum e no qual Jú lio Po-
senato estuda a arquitetura das colônias (Posenato, 1983). A im portância da atuação de
Rovílio C osta, como pesquisador e editor, pode ser avaliada pelo volum e em sua hom e
nagem organizado por A ntônio Suliani (20 0 1), intitulad o E tnias & carism a: são quase
cem artigos (m ais de m il páginas), boa parte dos quais relacionados à im igração.
4 1. Grande parte das pesquisas sobre a colonização e a im igração no sul do Brasil, realizadas
por antropólogos e sociólogos, foram influenciadas pelos trabalhos de dois geógrafos -
W aibel (1958) e Roche (1969).
4 2 . M uitos autores que estudaram a im igração japonesa fazem referências ao papel aglutin a-
dor das associações (cf. Cardoso, 1959; V ieira, 1973), mas são raros os estudos de m aior
abrangência sobre o tem a. A revista publicada pelo C entro de Estudos M igratórios/SP de
dicou um núm ero às associações (ver Travessia, 3 4, m aio-ago. 1999); na sua dissertação
de m estrado, M arin a M ichahelles, trabalhando na interface história/antropologia, fez um
estudo sobre a identidade teuto-brasileira a partir da Sociedade G erm ania do Rio de Ja
neiro - a m ais an tiga associação étnica no Brasil, fundada em 1821 (M ichahelles, 2 00 3 ).
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Resumo
Abstract
Scholars from m any different fields o f knowledge began stud ying the them e o f im m igration
in Brazil beginn in g in the second h alf o f the nineteenth century, when the num ber o f foreig
ners en tering into the co un try started becom ing a significant portion o f the population. Im
m igration, considering its m ultiple aspects, is very m uch an interdiscip lin ary field, and it is
difficult to em brace the them e in its entireness. T he present paper is a p artial review o f the
contribution o f the social sciences - o f anthropology, in particular - to the stud y o f im m igra
tion in Brazil. It seeks to exam ine the theoretical basis, m ethods o f analysis, and recurring the-
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mes in this area, beginning with the first sociological publications of the twentieth century
and concluding with recent works, presenting a selection of the vast production undertaken
in the last twenty years.
Keywords: Migration studies (Brazil); Migration theory; Cultural change; Assimilation; Eth
nicity.
Résumé
Des chercheurs de différents domaines ont abordé le sujet de l’immigration au Brésil à partir
de la seconde moitié du XIXe siècle, quand les statistiques d’entrée d’étrangers sont devenues
significatives dans le comptage général de la population. L’immigration est, par ses multiples
aspects, un sujet interdisciplinaire, et il est difficile de la considérer dans sa totalité. Ce travail
aborde, partiellement, la contribution des sciences sociales - et, en particulier, de l’anthropo
logie - aux études à propos de l’immigration au Brésil. Il examine son fondement théorique,
les méthodes d’analyse et les thèmes récurrents depuis les premières publications sociologi
ques, apparues au XXe siècle, jusqu’à certains travaux plus récents, sélectionnés parmi les di
vers ouvrages publiés sur le sujet au cours de ces derniers vingt ans.
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