Вы находитесь на странице: 1из 6

18

Original

Perguntas e Respostas em Morte Encefálica – Parte 1


Questions and answers about Brain Death - Part 1.
Carolina Martins 1¹
Vânia Pinheiro2 ²
Valdenice Rumão3
Luiz R. Aguiar4 ,
Antonio Martins1,
Caio S. Leão5

RESUMO
A confirmação da morte encefálica consiste em uma das
Introdução
funções médicas de maior seriedade. No Brasil, a avalia-
ção da morte encefálica é pautada pelas Leis 9.434/1997 e A confirmação da morte encefálica consiste em uma das fun-
10.211/2001 e na Resolução 1.480/1997 do Conselho Federal ções médicas de maior seriedade. No Brasil, a avaliação da mor-
de Medicina e baseia-se no uso do Termo de Declaração da te encefálica é pautada pelas Leis 9.434/1997 e 10.211/2001 e
Morte Encefálica. Esse artigo revisa a literatura e legislação na Resolução 1480/1997 do Conselho Federal de Medicina e
no tema, respondendo dez das mais freqüentes perguntas em baseia-se no uso do Termo de Declaração da Morte Encefálica.
relação ao diagnóstico da morte encefálica.
Segundo a lei brasileira, a morte de um indivíduo pode ser de-
Palavra-chave: Morte Encefálica. clarada na ausência total e irreversível das funções do córtex e
tronco cerebral.
Embora essa afirmação pareça clara e direta, na prática ela en-
ABSTRACT volve diversos detalhes que precisam ser entendidos e incorpo-
rados. Quando acrescentados nas entrelinhas da mesma senten-
The diagnosis of brain death is the most serious of all medical ça, essas cláusulas fornecem a real dimensão da complexidade
acts. In Brazil, the evaluation and establishment of brain death
desse processo médico-legal.
diagnosis are based on specific laws and resolutions (Leis
9.434/1997 e 10.211/2001 and Resolução 1480/1997 - Consel- Assim, de acordo com a lei brasileira a morte de um indivi-
ho Federal de Medicina) and is centered on the Declaration of duo, e portanto a cessação do tratamento clínico e a possibi-
Brain Death (Termo de Declaração da Morte Encefálica). This lidade de uso dos órgãos para transplante pode ser declarada
paper reviews the literature and legislation on this subject, por 2 médicos diferentes, quando evidências clínicas e de exa-
answering ten of the most frequent questions on the diagnosis
mes complementares realizados em intervalos de tempo pré-
of brain death.
determinados, apontarem para ausência total e irreversível das
Keyword: Brain Death. funções do córtex e tronco cerebral em paciente cuja causa do
coma é conhecida.
“ A dead brain in a body with a still beating heart is one Esse artigo revisa a literatura e legislação no tema, responden-
of the more macabre products of modern technology.” do dez das mais freqüentes perguntas em relação ao diagnósti-
Pallis and Harley, 1996. co da morte encefálica.
1. Em que a legislação brasileira se pauta para o diagnósti-
“ What we are attempting to define and establish beyond co de morte encefálica?
reasonable doubt is the state of irreversible damage
to the brainstem. This is the point of no return.” A legislação brasileira (assim como a recomendação america-
Mohandas and Chou, 1971. na) pauta-se no conceito de falência global ou de todo o encé-

1- Faculdade Pernambucana de Saúde -IMIP, Recife


2- Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, Recife
3- Hospital Getúlio Vargas, Recife
4- Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR, Curitiba
5- Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira – IMIP

Recebido em dezembro 2009, aceito dezembro 2009

Martins C, Pinheiro V, Rumão V, Aguiar LR, Martins A, Leão CS - Perguntas e Respostas em Morte Encefálica - Parte 1 J Bras Neurocirurg 21 (1): 18-23, 2010
19

Original

falo para a determinação da morte (“whole brain death”). De para a realização padronizada dos testes para o diagnóstico de
acordo com esse conceito é necessário haver perda das funções morte encefálica e treinamento de sua equipe de pessoal. Tais
corticais e também das funções do tronco cerebral. Já o con- protocolos adéquam a realização da investigação da função ce-
senso inglês é mais específico e considera o tronco cerebral rebral às características e disponibilidade material do Serviço
com “a estrutura crítica dentro do sistema crítico”, consideran- onde o paciente se encontra.
do, portanto, a morte encefálica como morte do tronco cerebral
Uma condição básica e universal para todos os Protocolos en-
(“brainstem death”). De qualquer modo, qualquer que seja a
tretanto, é que nenhum item constante da Resolução 1480/97,
escola de pensamento que se considere, não são candidatos ao
que rege sobre os critérios para determinação da morte ence-
diagnóstico de morte encefálica pacientes com falência parcial
fálica, pode ser suprimido e todos os Protocolos institucionais
das funções do tronco (ex: síndrome “locked-in”, resultante de
precisam da validação pelo Conselho Regional de Medicina
uma lesão na porção ventral da ponte), os anencefálicos ou os
da região. Esse detalhe demonstra a necessidade de conhecer
pacientes em estado vegetativo persistente. Menção especial
a Lei apropriadamente, uma vez que ela é o escopo básico de
aos anencefálicos como doadores potenciais tem sido promul-
todo e qualquer protocolo para avaliação da morte encefálica.
gada pelo Conselho Federal de Medicina.
Conhecer a Lei 9.434/1997 e a Resolução 1480/1997 ajuda o
médico a determinar o que é uma imposição legal e quais são
2. Quem é o paciente candidato à avaliação da morte en-
as recomendações institucionais.
cefálica?
A legislação brasileira enfatiza o conceito de irreversibilidade. 5. Como deve ser registrada a avaliação da morte encefálica?
Para tanto, é necessário que a causa base da condição atual
Cada avaliação deve ser registrada de modo completo, cons-
do paciente seja conhecida e que fatores confusionais sejam
tando data e hora de cada exame no prontuário do paciente e
afastados. Por fatores confusionais entende-se toda e qualquer
no Termo de Declaração de Morte Encefálica. Recomenda-se
situação que possa gerar, intensificar ou prolongar o estado de
evitar abreviaturas e rasuras. Não havendo um protocolo pré-
coma de forma reversível. Assim, pacientes hipotensos, hipo-
definido para a realização dos testes, recomenda-se descrever a
térmicos, em uso de, ou dentro do período estimado de meta-
técnica utilizada. Na presença de fatores confusionais o exame
bolização de drogas depressoras do sistema nervosos central
deve ser descrito e a necessidade da correção apontada antes da
ou portadores de desarranjos metabólicos ou endócrinos seve-
reavaliação em vistas ao diagnóstico. O diagnóstico negativo
ros não são candidatos à avaliação até correção desses fatores
deve ser registrado com clareza e os dados clínicos e laborato-
confusionais ou dosagem sérica de drogas comprovando sua
riais que suportam a presença de função encefálica, ressaltados.
metabolização efetiva.
A alcalose metabólica ou a terapia com hiperventilação apesar 6. Que critérios clínicos norteiam o diagnóstico da morte
de não afetarem diretamente na instalação ou duração do coma, encefálica?
podem interferir na execução da prova da apnéia por deprimir os
A legislação brasileira menciona como parâmetros clínicos a se-
centros respiratórios. Recomenda-se a obtenção de pressão arterial
rem observados para caracterização da morte encefálica: coma
sistólica mínima de 90mmHg e temperatura corporal superior a
aperceptivo, ausência de atividade motora supra-espinal e apnéia.
36,4º C como pré-requisitos para a avaliação da morte encefálica.
Na caracterização do coma, o estado do paciente deve ser por-
3. Quem pode atestar a morte encefálica? menorizado e a estimulação aplicada, descrita. Para alguns, pela
atemporalidade do diagnóstico de morte encefálica os achados
A legislação brasileira preconiza que a avaliação da morte en-
clínicos não devem ser descritos com base em uma escala ou
cefálica seja realizada por dois médicos diferentes, sem liga-
qualquer outro instrumento de avaliação usado atualmente, ten-
ções com equipe de remoção e transplante de órgãos.
do em vista que mesmo os instrumentos e escalas mais podero-
É uma prática comum em diversos serviços no Brasil e exterior sos ainda não foram submetidos a tamanho crivo do tempo.
(protocolos institucionais) que uma dessas avaliações seja rea-
A ausência de atividade motora supra-espinal implica que re-
lizada por neurologista ou neurocirurgião, entretanto isso não
flexos medulares podem estar presentes em pacientes em morte
constitui exigência legal.
encefálica. Sabe-se que nos momentos que se seguem a insta-
lação da morte encefálica ocorre uma fase de hiporreflexia glo-
4. Por que parece haver protocolos diferentes para a avalia-
bal semelhante ao choque medular. Gradativamente os reflexos
ção da morte encefálica?
medulares vão reaparecendo e não é incomum que pacientes
De acordo com a Resolução 1480/1997 do Conselho Federal em morte encefálica apresentem reflexos somáticos simétricos
de Medicina, as instituições hospitalares poderão fazer acrés- ou assimétricos (torção cervical, flexão ou extensão do tronco
cimos ao termo da Resolução e virtualmente criar protocolos ou das extremidades), respostas viscerais maciças (incluindo ta-

Martins C, Pinheiro V, Rumão V, Aguiar LR, Martins A, Leão CS - Perguntas e Respostas em Morte Encefálica - Parte 1 J Bras Neurocirurg 21 (1): 18-23, 2010
20

Original

quicardia, hipertensão, rubor e sudorese) ou mesmo espasmos Tabela 2 – Cuidados necessários para realizar teste de apnéia sob
diafragmáticos. Do mesmo modo, por sua integração segmen- qualquer protocolo
tar, reflexos medulares podem estar presentes no paciente em
Cuidado Motivação Como evitar
morte encefálica e a pesquisa desses reflexos não tem importân-
cia para o diagnóstico a menos que se suspeite da ação de dro- 1 Evitar hipoxemia Evitar dano adicional no paciente Pré-oxigenação e oxigenação
grave, mas que ainda não por difusão.
gas relaxantes musculares, já que reflexos tendinosos presentes preenche os critérios de morte
excluem possibilidade de bloqueio neuromuscular. encefálica ou mesmo insulto
hipóxico aos órgãos do potencial
Muitas vezes desconcertante, a melhor forma de lidar com doador-cadáver.

as respostas motoras medulares é antecipar-se e assinalar a 2 Garantir hipercapnia Garantir prova satisfatória Cuidado nos pacientes em
suficiente para hiperventilação ou em alcalose
possibilidade de sua presença para cuidadores e familiares. A
ativação de centros metabólica. Reduza a freqüência
presença de atividade motora medular reflexa não preclude do respiratórios viáveis respiratória 10 min antes
diagnóstico de morte encefálica. de iniciar a prova. Obtenha
comprovação gasimétrica de
As funções do tronco cerebral devem ser testadas através do pCO2>40mmHg ao início da
teste dos reflexos do tronco (Tab. 1). E importante notar que prova.

testando o conjunto de reflexos do tronco faz-se uma varre- 3 Evitar aumento Evitar dano adicional no paciente Proceda ao teste da apnéia
indevido da pressão grave, mas que ainda não apenas quando afastados todos
dura crânio-caudal dos diversos níveis de integração ao longo intracraniana preenche os critérios de morte os fatores confusionais e todas
do tronco. Os reflexos do tronco cerebral estão presentes no encefálica. as outras manobras clínicas
paciente vivo e um a um, sua ausência reforça a possibilidade tenha sido realizadas e apontem
seriamente para a possibilidade
da morte encefálica. O teste de apnéia é um dos testes mais im- de morte encefálica.
portantes da função do tronco cerebral e baseia-se na incapa-
cidade do tronco cerebral deflagrar movimentos respiratórios
automáticos. Apnéia pode estar presente em situações clínicas
onde haja inibição dos centros respiratórios como alcalose me- Desde que o teste da apnéia necessariamente envolve a eleva-
tabólica ou na hiperventilação. O teste da apnéia deve ser re- ção da pCO2, ele potencialmente causa uma elevação da pres-
alizado de modo a excluir essas situações e ao mesmo tempo são intracraniana e, portanto, deve ser reservado para o final da
evitar hipoxemia (Tab. 2). avaliação clínica, quando todas as outras provas corroborarem
a possibilidade real da presença da morte encefálica.
Tabela 1 – Reflexos do tronco cerebral
Não é incomum o desenvolvimento de arritmias e/ou hipoten-
Reflexo
Aferência/
Teste
Morte são durante a prova da apnéia. A ocorrência dessas situações
Eferência encefálica pode motivar o abortamento da prova da apnéia prematuramen-
1 Pupilar ou CNII/CNIII Em ambiente de penumbra, faça incidir uma fonte Ausência de con-
te. Diz-se que o teste de apnéia é positivo quando nenhum mo-
Fotomotor de luz sobre cada pupila separadamente. Busque a tração pupilar
contração pupilar. vimento respiratório pode ser flagrado mesmo quando a pCO2
2 Córneo CNV/CNVII Faça um filete de algodão ou gaze estéril tocar cada Ausência de chega a níveis associados a estimulo respiratório máximo. Para
palpebral uma das córneas separadamente. Observe movimen- piscamento
tos palpebrais. palpebral um teste de apnéia satisfatoriamente conduzido, a pCO2 deve
3 Contração da CNV/CNVII Aplique estímulo doloroso na face (região supra- Ausência de con- elevar-se para 60mmHg ou mais, ou deve haver uma elevação
face orbitária). Busque contrações da face. tração da face
de 20mmHg acima da pCO2 inicial (a pCO2 ao final da prova
4 Óculo- CNVIII/CNIII e Esse teste não pode ser realizado na presença/ Ausência de
deve ser registrada). O tempo que o paciente deve permanecer
cefálico ou CNVI suspeita de lesão cervical. movimentos
dos olhos de
boneca
Eleve a cabeça à 30º.Vire a cabeça do paciente para
um lado e para o outro. Busque movimentos oculares
oculares
extrínsecos
desconectado do respirador deve ser suficiente para produzir
extrínsecos conjugados para o lado contralateral à esse tipo de elevação da pCO2. Considera-se que no paciente
virada da cabeça.
suspeito de morte encefálica, a elevação da pCO2 é de cerca de
5 Óculo- CNVIII/CNVI Esse teste oferece estimulação labiríntica máxima. Ausência de
vestibular Substitui o teste do reflexo óculo-cefálico nos qualquer mo- 2,5mmHg por minuto. Daí depreende-se a utilidade da gasime-
ou prova pacientes com suspeita de lesão raqui-medular. Para vimento ocular
calórica sua realização o conduto auditivo deve ser inspecio- extrínseco.
tria na prova da apnéia: realizada no princípio da prova, além
nado, estando livre de cerúmen e com membrana
timpânica íntegra e sem sinais de otorragia.
de garantir que não há hipocarbia inicial, a dosagem inicial
Eleve a cabeça à 30º em posição neutra. da pCO2 fornece uma idéia da duração necessária da prova,
6 Nauseoso ou CNIX/CNX Toque a parede posterior da faringe com um abaixador Ausência de gasimetria realizada ao final da prova de apnéia comprova a
de vômito de língua ou mova a sonda enteral ou traqueal. Observe resposta
para esboço de vômito. obtenção de pCO2 associada a um teste adequado.
7 Tosse CNIX/CNX Introduza cânula pelo tubo traqueal ou irrigue o tubo tra- Ausência de
O teste de apnéia pode não ser válido em pacientes com doença
queal com 1ml de salina ou comprima a traquéia sobre tosse reflexa.
o tubo traqueal. Observe para presença de tosse. pulmonar obstrutiva crônica, bronquiectasia, apnéia do sono e
CN - Nervo Craniano obesidade mórbida, situações onde a sensibilidade à hipercar-
bia está reduzida. Essas condições são facilmente identificadas

Martins C, Pinheiro V, Rumão V, Aguiar LR, Martins A, Leão CS - Perguntas e Respostas em Morte Encefálica - Parte 1 J Bras Neurocirurg 21 (1): 18-23, 2010
21

Original

na história clínica. Na ausência de dados clínicos, pode-se sus- Tabela 4 – Intervalo mínimo a ser respeitado entre as avaliações clí-
peitar de hipercapnia crônica quando (não havendo acidose) a nicas em paciente suspeito de morte encefálica de acordo com a
Resolução 1480/1997 do Conselho Federal de Medicina.
dosagem inicial do bicarbonato for elevada. Outro cuidado que
se deve ter é com o uso dos inibidores da anidrase carbônica Faixa Etária Tempo
que podem produzir alcalose metabólica e portanto, inibição Acima de 2 anos 6 horas
dos centros respiratórios. Uma sugestão de protocolo para rea- 1 a 2 anos incompletos 12 horas
lização do teste da apnéia pode ser encontrada na Tab. 3. 2 meses a 1 ano incompleto 24 horas
7 dias a 2 meses incompletos 48 horas
Tabela 3 – Teste da apnéia
1 Verifique se há presença de alcalose metabólica, uso de inibidores da
anidrase carbônica, antecedentes de doença pulmonar ou cardíaca
crônica. 8. Qual é o tempo estimado de ação das principais drogas
2 Gasometria pré-teste: Avalie pH, pCO2 e pO2 iniciais.
com ação depressora do sistema nervoso central?
3 Mantenha monitorização contínua da PA, saturação de O2 e cardioscopia É importante ter conhecimento do tempo médio de meia vida
4 Desconecte o paciente do respirador e ofereça oxigênio a 8-12 l/min por das principais drogas depressoras do sistema nervoso central
cateter inserido no interior do tubo traqueal (Tab. 5) e seus antídotos (Tab. 6). Esse é provavelmente um
5 Vigie o paciente atentamente por 5 minutos, buscando movimentos dos principais fatores confusionais a serem descartados na ava-
respiratórios liação do paciente suspeito de falência encefálica. Como regra
6 Se paciente desenvolve hipotensão ou arritmias graves ou a SatO2 cai geral, protocolos ingleses afirmam que no uso ou suspeita de
abaixo de 90% aborte o teste e reconecte o paciente ao respirador uso de drogas depressoras do sistema nervoso sem a disponibi-
7 Gasometria pós-teste: Se pCO2 pelo menos 60mmHg o teste de apnéia lidade imediata de dosagem sérica deve-se aguarda entre 50 a
foi realizado de maneira satisfatória e paciente pode ser reconectado 100h antes de qualquer avaliação de morte encefálica.
ao respirador. Não havendo movimentos respiratórios nesse período o
teste da apneia é positivo. O teste da apnéia é negativo (e paciente não
está em morte encefálica) se movimentos ventilatórios são detectados Tabela 5 – Duração do efeito das drogas depressoras do sistema ner-
durante a observação. voso central.
8 Caso pCO2 abaixo de 60mmHg após 5 min, teste pode ser prolongado
para 10 min desde que não se evidenciem as condições descritas no Meia vida plasmática habitual (Horas)
item 6. Fenilhidantoína Até 140
9 Se na avaliação do item 1, doença pulmonar ou cardíaca crônica que Fenobarbital 100
possa alterar a resposta dos centros respiratórios à hipercarbia é
encontrada, a deficiência do teste da apnéia nesse contexto deve ser Morfina 18-60
registrada. Carbamazepina 10-60
Fenotiazinas 3-36
Agentes hipoglicemiantes 2.5-36
7. Que intervalo de tempo deve ser observado entre as ava- Tiopental >24
liações clínicas? Anti-histamínicos 6-24
De acordo com a legislação brasileira o intervalo de tempo a Benzodiazepínicos 5-24
ser observado entre as avaliações depende da faixa etária do pa- Antidepressivos tricíclicos 4-24
ciente (Tab. 4). O período de observação permite a confirmação Valproato de sódio 7-10
da irreversibilidade do quadro e, quando devidamente conduzi-
Ketamina 2-4
do, reafirma a confiança da família no processo de avaliação do
paciente. Como se observa na Tab. 3, o período de observação Álcool (taxa metabólica) 10ml/hr
é proporcionalmente maior em crianças mais jovens. Isso se dá
pelo conceito de que cérebros jovens teriam potencial signifi- Tabela 6 – Características, dose e ação dos antídotos aos benzodia-
cativamente maior de recuperar-se de lesões que em adultos zepínicos, de utilidade na avaliação da morte encefálica.
seriam completas e irreversíveis. Alguns protocolos assinalam Antídoto Ação Dose Adultos Dose Crianças
a necessidade de tempo de observação prolongada naqueles pa- Flumazenil Neutralizar Dose inicial: 0,3 mg IV em Evitar abaixo de 1 ano de idade.
cientes que sofreram hipóxia e alguns citam avaliação seqüen- (lanexat) efeitos 60 segundos Dose inicial: 0,001mg/kg (até
cial pelo período de 24h. O emprego dos exames complementa- 5ml/0,5mg ou sedativos Doses subseqüentes: 0,2mg) IV em 15 seg
1mg centrais dos após 60 segundos, doses Doses subseqüentes: após inter-
res torna-se um auxiliar particularmente poderoso nesses casos. Pode ser diluído benzodiaze- subseqüentes até dose valos de 60 segundos, até dose
em SG5%, RL pínicos máxima de 2mg. Dose máxima 0,005mg/kg ou 1mg (o
ou SF0,9% habitual 0,3 a 0,6mg que for menor)

Martins C, Pinheiro V, Rumão V, Aguiar LR, Martins A, Leão CS - Perguntas e Respostas em Morte Encefálica - Parte 1 J Bras Neurocirurg 21 (1): 18-23, 2010
22

Original

9. Existem “pistas” clínicas de que o paciente não está em da ventilação mecânica, habitualmente existe reticência para
morte encefálica? que os aparelhos sejam desligados. Varias estratégias podem
ser úteis nesses casos para auxiliar os familiares a incorporar
Sim. Existem sinais clínicos que uma vez presentes atestam
as implicações do diagnóstico. O responsável médico pela
a viabilidade e a passagem de impulsos elétricos ao longo do
unidade pode reunir-se com a família na tentativa de dirimir
tronco cerebral. A presença desses sinais poupa o médico de
possíveis dúvidas, os familiares podem ser convidados a tra-
realizar as provas para averiguação da morte encefálica. Crises
zer um profissional de sua confiança para reavaliar o processo
(focais ou generalizadas), posturas anormais (tanto decortica-
realizado e em alguns casos, o departamento jurídico da insti-
ção quanto descerebração) ou trismo implicam na presença de
tuição pode ser convocado para esclarecer os termos legais do
neurônios funcionantes no tronco cerebral e, portanto, na au-
conceito de morte encefálica.
sência de morte encefálica.

10. Como deve ser conduzido o processo de avaliação da


morte encefálica?
Uma vez presentes as condições básicas para a avaliação,
excluídas as condições potencialmente reversíveis (fato- Referências
res confusionais) e realizada a primeira avaliação positiva
da morte encefálica, os familiares devem ser informados da 1. Advanced Trauma Life Support for Doctors, 1997, 6ª Edição,
possibilidade diagnóstica e do processo obrigatório para o Amer Coll Surg, Chicago, Il.
diagnóstico conclusivo.
2. Akamine N, Janiszewski M. Morte encefálica. In: Terapia intensiva
É importante enfatizar a necessidade do intervalo de tempo en- em neurologia. Knobel E (Ed.), Editora Atheneu, São Paulo, 2002.
tre as avaliações como forma de preencher o critério de irrever- 3. BRASIL. Conselho Federal de Medicina. Resolução n° 1.346.
sibilidade e na prática esse intervalo não só permite a tomada Estabelece critérios para a caracterização da parada total e irrever-
de consciência pela família, mas também reforça a confiança sível das funções encefálicas em pessoas com mais de dois anos
na idoneidade e embasamento científico do processo. É usual- de idade. (Diário Oficial da União; Poder Executivo, Brasília, DF,
17 out. 1991. Seção 1, p. 22731). Revogada pela Resolução CFM
mente nesse momento que a Central de Transplante de Órgãos é nº. 1.480/1997. In: Conselho Federal de Medicina, 1997.
notificada. O envolvimento precoce da Central de Transplantes
é altamente desejável uma vez que uma abordagem inicial dos 4. BRASIL. Presidência da República Decreto n. 2.268. Regula-
menta a Lei n º 9.434, de 4 de fevereiro de 1997. Dispõe sobre a
familiares permite avaliar as potencialidades de doação, permi- remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins
te que a equipe de cuidadores se resguarde de um envolvimento de transplante e tratamento, e dá outras providências. In: Diário
ativo com as questões da doação de órgãos e assegura as con- Oficial da União, Brasília, 1997, p. 13739.
dições ideais da chegada do órgão, uma vez doado, ao receptor. 5. BRASIL. Conselho Federal de Medicina. Resolução n° 1.480.
Observado o período de tempo recomendado para o caso, A morte encefálica será caracterizada através da realização de
exames clínicos e complementares durante intervalos de tempo
sendo o segundo exame e o exame complementar obrigatório variáveis, próprios para determinadas faixas etárias. Revoga-se a
compatíveis com o diagnóstico da morte encefálica, esse é o Resolução CFM nº. 1.346/91. (D.O.U.,Poder Executivo, DF, nº.
momento do óbito (e a hora que deve constar do atestado de 160, 21 ago. 1997. Seção 1, p. 18.227-8.
óbito). Uma vez determinada a presença de morte encefálica, 6. BRASIL. Presidência da República. Lei nº. 10.211. Altera os
apenas duas situações são possíveis: estar-se diante de um ca- dispositivos da Lei nº. 9.434, de 4 de fevereiro de 1997, que
dáver ou de um doador de órgãos. “dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo
humano para fins de transplante e tratamento”. In: Diário Oficial
De acordo com a legislação brasileira vigente no momento, o da União, Brasília: 2001, p. 06-Edição Extra.
indivíduo que, em vida, tenha manifestado-se favorável à doa-
7. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº. 1.752/GM, de 23 de
ção necessita concordância dos familiares (cônjuge ou parentes setembro de 2005. Determina a constituição de comissão intra-
até segundo grau) para efetivamente tornar-se doador. hospitalar de doação de órgãos e tecidos para transplante em
todos os hospitais públicos, privados e filantrópicos com mais
É importante que os familiares compreendam a diferença en- de 80 leitos. Diário Oficial da República Federativa do Brasil,
tre tratamento clínico da doença (que deve ser interrompido Brasília, n.196, 27 set 2005, seção 1, p.54
uma vez firmado o diagnóstico de morte encefálica) e o su-
8. BRASIL. Ministério da Saúde Lei n. 9.434, de 04 de fevereiro
porte clínico dos órgãos a serem doados. Caso o paciente não de 1997. Dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do
seja doador, as medidas de suporte de órgãos também devem corpo humano para fins de transplante e tratamento e dá outras
ser interrompidas. Na prática, isso é feito em anuência com providências. In: Ministério da Saúde. Legislação sobre trans-
os familiares. Caso a família se mostre contrária a interrupção plantes no Brasil, Brasília, 2006.

Martins C, Pinheiro V, Rumão V, Aguiar LR, Martins A, Leão CS - Perguntas e Respostas em Morte Encefálica - Parte 1 J Bras Neurocirurg 21 (1): 18-23, 2010
23

Original

9. Central de Transplantes de Pernambuco (PE). Disponível em http://


www.transplantes.pe.gov.br. Acesso em 12 de janeiro de 2009. Corresponding Author
10. Conselho Federal de Medicina (Brasil). Processo Consulta nº.
7311/97. Parecer sobre Morte Encefálica - aspectos legais des-
ligar os aparelhos - CFM - Brasil/1998. Relator: Nei Moreira Carolina Martins
da Silva. Parecer aprovado em Sessão Plenária do dia 17/06/98. Serviço de Neurocirurgia, Instituto de Medicina
Disponível em http://www.ufrgs.br/bioetica/par7311.htm. Aces- Integral Professor Fernando Figueira – IMIP, Recife
so em 6 de agosto de 2009. cmrecife@hotmail.com
11. Conselho Federal de Medicina (Brasil). Resolução nº. 1.826 de
06 de dezembro de 2007. Dispõe sobre a legalidade e o caráter
ético da suspensão dos procedimentos de suporte terapêuticos
quando da determinação da morte encefálica de indivíduos não-
doador. Disponível em http://www.portalmedico.org.br/resolu-
coes/cfm/2007/1826_2007.htm. Acesso em novembro de 2009.
12. Conselho Federal de Medicina (Brasil). Processo Consulta nº.
8563/200. Parecer sobre Diagnóstico de morte encefálica - CFM
-Brasil/2001. Relator Solimar Pinheiro da Silva. Parecer aprova-
do em Sessão Plenária do dia 21/11/01. Disponível em http://
www.portalmédico.or.br/pareceres/cfm/2001/42_htm. Acesso
em agosto de 2009.
13. Enghoff H, Holmdahl MH, Risholm L. Diffusion respiration in
man. Nature 1951, 168:830.
14. Halevy A, Brody B. Brain death. Reconciling definitions, crite-
ria, and tests. Ann Int Med, 1993, 119:519-25.
15. Kaufmann HH, Brick J, Frick M. Brain death. In: Youmans (ed),
Chapter 17, WB Saunders, 1996, Chap 17
16. Mohandas A, Chou SN. Brain death. A clinical and pathological
study. J Neurosurg 1971, 35:211-8.
17. Mollaret P, Goulon M. Le coma depassé. Rev Neurol, 1959, 101:
3-15.
18. Newell D, Seiler RW, Aaslid R. Head injury and cerebral circu-
latory arrest. In: Transcranial Doppler. Newell D, Aaslid R (eds).
Raven Press, New York, 1992, chap 10.
19. Pallis C, Harley DH. ABC of brainstem death. 2nd ed, BMJ Pub-
lishing Group, London 1996, 51 p.
20. Report of the Quality Standands Subcommitee of the American
Academy of Neurology. Practice parameters for determining
brain death in adults. Neurology 1995, 45: 1012-4.
21. Report of the Quality Standands Subcommitee of the American
Academy of Neurology. Practice parameters: Assessment and
management of patients in the persistent vegetative state. Neu-
rology 1995, 45: 1015-8.
22. Ropper AH, Kennedy SK, Russel L. Apnea testing in the diag-
nosis of brain death. Clinical and physiological observations. J
Neurosurg 1981, 55:942-6.
23. Schafer JÁ, Caronna JJ. Duration of apnea needed to confirm
brain death. Neurology 1978, 28:661-6.
24. Teasdale G, Jennet B. Assessment of coma and impaired con-
sciousness. A practical scale. Lancet, 1974, 13:81-3.
25. Wang MY, Wallace P, Gruen JP. Brain death documentation.
Analysis and issues. Neurosurgery, 2002, 51:731-6.
26. Wijdicicks EFM. Determining brain death in adults. Neurology,
1995, 45:1003-11.

Martins C, Pinheiro V, Rumão V, Aguiar LR, Martins A, Leão CS - Perguntas e Respostas em Morte Encefálica - Parte 1 J Bras Neurocirurg 21 (1): 18-23, 2010

Вам также может понравиться