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Soluções e Provas Antigas - Micro 2

Gil Riella

1 de abril de 2013
ii
Sumário

I Soluções das Listas de Exercícios 1


1 Introdução 3

2 Equilíbrio Geral - E…ciência no Sentido de Pareto 5

3 Equilíbrio Geral - Equilíbrio Competitivo 11

4 Equilíbrio Geral - Economias com Produção 17

5 Bem-estar Social 25

6 Monopólio 29

7 Discriminação de Preços 35

8 Escolha sob Incerteza 43

9 Teoria dos Jogos - Jogos na Forma Normal 51

10 Teoria dos Jogos - Estratégias Mistas 57

11 Teoria dos Jogos - Jogos Sequenciais 65

12 Oligopólio 73

13 Economia da Informação 81

14 Externalidades e Bens Públicos 91

15 Implementação de Projeto Público 99

II Provas Antigas 103


16 Primeiro Semestre de 2009 105
16.1 Primeira Prova . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105
16.2 Segunda Prova . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112

iii
iv SUMÁRIO

16.3 Terceira Prova . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116


16.4 Prova Substitutiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121

17 Segundo Semestre de 2009 129


17.1 Primeira Prova . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129
17.2 Segunda Prova . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135
17.3 Terceira Prova . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 139
17.4 Prova Substitutiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145

18 Primeiro Semestre de 2010 151


18.1 Primeira Prova . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151
18.2 Segunda Prova . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 156
18.3 Prova Substitutiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 162

19 Segundo Semestre de 2010 169


19.1 Primeira Prova . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 169
19.2 Segunda Prova . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 175
19.3 Prova Substitutiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 180

20 Primeiro Semestre de 2011 187


20.1 Primeira Prova . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 187
20.2 Segunda Prova . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 193
20.3 Prova Substitutiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 198

21 Segundo Semestre de 2011 205


21.1 Primeira Prova . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 205
21.2 Segunda Prova . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 211
21.3 Prova Substitutiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 217

22 Primeiro Semestre de 2012 223


22.1 Primeira Prova . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 223
22.2 Segunda Prova . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 228
22.3 Prova Substitutiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 233

23 Segundo Semestre de 2012 239


23.1 Primeira Prova . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 239
23.2 Segunda Prova . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 244
23.3 Prova Substitutiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 249
Parte I

Soluções das Listas de Exercícios

1
Capítulo 1

Introdução

A primeira parte deste arquivo inclui as soluções de todas as listas de exercícios. Creio que
não é necessário falar que é sempre melhor tentar resolver o exercício antes de olhar a solução.

3
4 CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO
Capítulo 2

Equilíbrio Geral - E…ciência no


Sentido de Pareto

Exercício 2.1 (Argumento intuitivo das taxas marginais de substituição na fronteira da


caixa de Edgeworth). Considere uma economia na caixa de Edgeworth em que as dotações
agregadas dos dois bens são dadas por A1 = A2 = 1. Utilizando a técnica aprendida nas notas
de aula mostre que se [(1; x2A ) ; (0; x2B )] é e…ciente no sentido de Pareto, então T M gS (A)
T M gS (B) e que se [(x1A ; 1) ; (x1B ; 0)] é e…ciente no sentido de Pareto, então T M gS (A)
T M gS (B).

Solução. Suponha que [(1; x2A ) ; (0; x2B )] é e…ciente, mas T M gS (A) = < = T M gS (B).
Fixe tal que < < e considere a alocação [(1 "; x2A + ") ; (0 + "; x2B ")], para
" bem pequeno. Observe que os dois consumidores estariam mais felizes, contradizendo a
e…ciência da alocação original. Nós concluímos que T M gS (A) T M gS (B). Agora suponha
que [(x1A ; 1) ; (x1B ; 0)] é e…ciente, mas T M gS (A) = > = T M gS (B). Novamente, …xe
tal que > > e considere a alocação [(x1A + "; 1 ") ; (x1B "; 0 + ")], para " bem
pequeno. Observe que os dois consumidores estariam mais felizes, o que é uma contradição.
Nós concluímos que T M gS (A) T M gS (B) : k

Exercício 2.2. Considere uma economia na caixa de Edgeworth em que as dotações iniciais
agregadas são dadas por A1 = A2 = 1 e as funções de utilidade dos consumidores são
1
dadas por U i (x1i ; x2i ) = (x1i ) (x2i ) , para algum 0 < < 1, para i = A; B. Ou seja, as
utilidades dos dois consumidores são medidas pela mesma função Cobb-Douglas. Utilize o
que aprendemos nas notas de aula e no exercício 2.1 acima para encontrar uma expressão
algébrica que caracterize a curva de contrato desta economia. Ou seja, ache uma expressão do
tipo x2A = f (x1A ) que caracterize todas as alocações e…cientes para esta economia. Represente
gra…camente, na caixa de Edgeworth, esta curva de contrato.

Solução. Vamos primeiro tentar identi…car as alocações e…cientes no interior da caixa de


Edgeworth. Como vimos nas notas de aula, tais alocações serão caracterizadas por T M gS (A) =

5
6 CAPÍTULO 2. EQUILÍBRIO GERAL - EFICIÊNCIA NO SENTIDO DE PARETO

T M gS (B). Primeiramente, observe que

U1A (x1A ; x2A )


T M gS (A) =
U2A (x1A ; x2A )
1
x2A
x1A
=
x1A
(1 ) x2A

x2A
= :
1 x1A

Como a função de utilidade do consumidor B é exatamente igual, nós sabemos que

x2B
T M gS (B) = :
1 x1B

Igualando as duas expressões acima nós temos:

x2A x2B
= .
1 x1A 1 x1B

Agora lembre-se que qualquer alocação factível tem que satisfazer x1B = 1 x1A e x2B = 1 x2A .
Usando tal fato na expressão acima nós …camos com a seguinte expressão:

x2A 1 x2A
=
1 x1A 1 1 x1A
()
x2A 1 x2A
=
x1A 1 x1A
()
x2A x1A x2A = x1A x1A x2A
()
x2A = x1A :

Ou seja, as alocações e…cientes no interior da caixa de Edgeworth estão todas localizadas


na diagonal.2.1 Será que existem alocações e…cientes na fronteira da caixa de Edgeworth?
Infelizmente este exemplo é um pouco problemático, já que a função Cobb-douglas acima
não está bem de…nida na fronteira da caixa de Edgeworth. Vamos ignorar um pouco tal fato
e usar a convenção de que toda vez que tivermos uma divisão por zero, então a expressão
será igual a in…nito. Vamos primeiro veri…car se algum ponto da forma [(0; x2A ) ; (1; x2B )] é

2.1
Neste ponto, eu aconselho que vocês sempre voltem na condição de igualdade entre as taxas marginais
de substituição e veri…quem se tais alocações realmente satisfazem aquela condição. É uma boa forma de
vocês conferirem que não erraram nenhuma conta.
7

e…ciente.2.2 Calculando as taxas marginais de substituição nós temos:

x2A
T M gS (A) =
1 0
= 1
x2B
>
1 1
= T M gS (B) ;

contrariando a condição de e…ciência em tal caso. Similarmente, em alocações da forma


[(x1A ; 0) ; (x1B ; 1)], nós temos:

0
T M gS (A) =
1 x1A
= 0
1
<
1 x1B
= T M gS (B) :

Novamente contrariando a condição de e…ciência em tal caso. Os outros dois casos podem ser
tratados de forma análoga e também não são compatíveis com as condições de e…ciência. Nós
aprendemos, então, que as únicas alocações e…cientes em tal caso são as que nós encontramos
no interior da caixa de Edgeworth mais as alocações [(0; 0) ; (1; 1)] e [(1; 1) ; (0; 0)], que são
sempre e…cientes. Gra…camente podemos representá-las como:

Improving directions
for agent 2

Improving directions
for agent 1

Figura 2.1: Alocações e…cientes para funções Cobb-douglas

Exercício 2.3. Repita a análise acima, mas agora suponha que as funções de utilidade dos
dois consumidores sejam dadas por U i (x1i ; x2i ) = x1i + (x2i ) para algum 0 < < 1. Continue
trabalhando com A1 = A2 = 1:
2.2
Algum ponto diferente de [(0; 0) ; (1; 1)], que nós sabemos que é sempre e…ciente.
8 CAPÍTULO 2. EQUILÍBRIO GERAL - EFICIÊNCIA NO SENTIDO DE PARETO

Solução. Novamente, vamos primeiro identi…car as alocações e…cientes no interior da caixa


de Edgeworth. Usando a condição que derivamos nas notas de aula nós temos:

T M gS (A) = T M gS (B)
()
1 1 1 1
x2A = x2B :

Usando o fato de que para alocações factíveis x2B = 1 x2A a condição acima pode ser escrita
como
1 1 1 1
x2A = 1 x2A
()
x2A = 1 x2A
()
1
x2A = :
2
Portanto, as alocações e…cientes no interior da caixa de Edgeworth serão caracterizadas
pelos pontos em que x2A = 1=2. Será que neste caso nós temos alocações e…cientes na
fronteira da caixa de Edgeworth? Vamos veri…car. Tentemos primeiro alocações da forma
[(0; x2A ) ; (1; x2B )]. Neste caso a condição que caracteriza e…ciência é

T M gS (A) T M gS (B)
()
1 1 1 1
x2A x2B
()
1 1 1 1
x2A 1 x2A
()
x2A 1 x2A
()
1
x2A :
2

Então, nós acabamos de descobrir que as alocações da forma [(0; x2A ) ; (1; x2B )] são e…cientes
1
desde que x2A 2
. Testemos agora o caso [(x1A ; 0) ; (x1B ; 1)]. Neste caso temos que testar a
seguinte condição:

T M gS (A) T M gS (B)
()
1 1 1
(0) (1)1 ;

o que obviamente não é verdade. Nós concluímos que não temos alocações e…cientes neste
9

caso. Agora o caso [(1; x2A ) ; (0; x2B )]. A condição para a e…ciência pode ser escrita como

T M gS (A) T M gS (B)
()
1 1 1 1
x2A 1 x2A
()
x2A 1 x2A
()
1
x2A .
2
Ou seja, alocações da forma [(1; x2A ) ; (0; x2B )] serão e…cientes desde que x2A 1=2. Finalmente,
podemos agora testar o caso [(x1A ; 1) ; (x1B ; 0)]. A condição para e…ciência agora é

T M gS (A) T M gS (B)
()
1 1 1
(1) (0)1 ;

o que obviamente nunca é verdade. Nós concluímos que não existem alocações e…cientes em
tal caso. Juntando todos os passos na análise acima nós obtemos a seguinte caracterização
para as alocações e…cientes em tal caso. [(x1A ; x2A ) ; (x1B ; x2B )] é e…ciente quando:

1. x1A = 0 e x2A 1=2, ou


2. x2A = 1=2, ou
3. x1A = 1 e x2A 1=2:

Gra…camente tais pontos são caracterizados pela seguinte …gura:

Improving directions
for consumer 1

Improving directions
for consumer 2

Figura 2.2: Alocações e…cientes para funções quasi-lineares.

k
10 CAPÍTULO 2. EQUILÍBRIO GERAL - EFICIÊNCIA NO SENTIDO DE PARETO
Capítulo 3

Equilíbrio Geral - Equilíbrio


Competitivo

Exercício 3.1. Considere uma economia na caixa de Edgeworth em que as funções de


1
utilidade dos consumidores são dadas por U A (x1A ; x2A ) = (x1A ) (x2A ) , para algum 0 <
< 1, e U B (x1B ; x2B ) = min (x1B ; x2B ). Suponha que as dotações iniciais dos consumidores
1 2 1 2
são (wA ; wA ) = (0; 1) e (wB ; wB ) = (1; 0).
(a) Dado um vetor de preços genérico (p1 ; p2 ), escreva o problema do consumidor B.
(b) Resolva o problema do consumidor B e encontre a sua função demanda (Use apenas
lógica, matemática não será de nenhuma utilidade aqui).
(c) Encontre o único equilíbrio competitivo desta economia.
Solução.
(a) O problema do consumidor B é completamente padrão e pode ser escrito como:
max min x1B ; x2B
(x1B ;x2B )
sujeito a
p1 x1B + p2 x2B p1
x1B ; x2B 0:

(b) Dada a função de utilidade do consumidor B, é evidente que não adianta nada ele ter
uma quantidade maior de um bem do que do outro. Ou seja, para maximizar a sua
utilidade o consumidor B irá certamente consumir a mesma quantidade dos dois bens.
Como o consumidor obviamente vai gastar toda a sua renda, nós podemos usar a sua
restrição orçamentária em igualdade para calcular o quanto ele irá consumir dos dois
bens. Ou seja, nós temos que resolver a seguinte equação:
p1 x1B + p2 x1B = p1 :
A solução da equação acima é x1B = p1p+p
1
2
. Como B consome a mesma quantidade dos
dois bens, nós sabemos que também é verdade que x2B = p1p+p
1
2
.

11
12 CAPÍTULO 3. EQUILÍBRIO GERAL - EQUILÍBRIO COMPETITIVO

(c) Para encontrarmos o equilíbrio competitivo desta economia primeiramente temos que
resolver o problema do consumidor A. O problema do consumidor A é
1
max x1A x2A
(x1A ;x2A )

sujeito a

p1 x1A + p2 x2A p2
x1A ; x2A 0:

O consumidor A tem uma função de utilidade Cobb-douglas tradicional e nós já


sabemos que tal tipo de consumidor gasta uma fração de sua renda com o bem 1 e uma
fração (1 ) com o bem 2. Ou seja, x1A = pp12 e x2A = (1 ) pp22 = (1 ). Lembre-se
que apenas preços relativos podem ser determinados em um equilíbrio competitivo.
Façamos, então, p1 = 1. Agora o nosso trabalho é descobrir p2 . Equilibrando o
mercado para o bem 2 nós obtemos a seguinte equação:
1
(1 )+ = 1:
1 + p2

Resolvendo a equação acima nós obtemos p2 = 1 : Substituindo o vetor de preços


que encontramos nas funções demandas dos consumidores nós encontramos a seguinte
alocação: (x1A ; x2A ) = (1 ;1 ) e (x1B ; x2B ) = ( ; ). Resumindo, o único equilíbrio
competitivo desta economia é dado pela alocação [(1 ;1 ) ; ( ; )], juntamente
com o vetor de preços 1; 1 : k

Exercício 3.2. Considere uma economia com dois bens e dois consumidores com funções de
utilidade estritamente crescentes em relação aos dois bens. Suponha, também, que a dotação
1 2 1 2
inicial [(wA ; wA ) ; (wB ; wB )] seja uma alocação e…ciente no sentido de Pareto. Mostre que se
1 2 1 2
(p1 ; p2 ), [(xA ; xA ) ; (xB ; xB )] é um equilíbrio competitivo para esta economia, então (p1 ; p2 ) e
1 2 1 2
[(wA ; wA ) ; (wB ; wB )] também é.
Solução. Considere o problema do consumidor A :

max U A x1A ; x2A


(x1A ;x2A )

sujeito a

p1 x1A + p2 x2A 1
p1 wA 2
+ p2 wA
x1A ; x2A 0:
1 2
Observe que (wA ; wA ) obviamente satisfaz as restrições do problema acima. Portanto, se o
consumidor A quisesse, ele poderia escolher comprar exatamente a sua dotação inicial. Por
outro lado, nós estamos assumindo que (x1A ; x2A ) é uma solução para o problema acima. Mas
isto implica que U A (x1A ; x2A ) U A (wA
1 2
; wA ). O mesmo raciocínio mostra que U B (x1B ; x2B )
B 1 2
U (wB ; wB ). Será que alguma das duas desigualdades acima pode ser estrita? Suponha que
13

pelo menos uma das duas desigualdades seja estrita. Mas observe que isto contradiz o fato
1 2 1 2
de que [(wA ; wA ) ; (wB ; wB )] é e…ciente no sentido de Pareto. Nós concluímos que as duas
desigualdades têm que ser satisfeitas com igualdade. Ou seja, U A (x1A ; x2A ) = U A (wA 1 2
; wA )
B 1 2 B 1 2 1 2 1 2
e U (xB ; xB ) = U (wB ; wB ). Mas então, (wA ; wA ) e (wB ; wB ) além de satisfazerem as
restrições dos problemas dos consumidores A e B, respectivamente, ainda dão uma utilidade
1 2 1 2
máxima para os consumidores. Ou seja, (wA ; wA ) e (wB ; wB ) também são soluções para
1 2 1 2
os problemas dos dois consumidores. Como obviamente [(wA ; wA ) ; (wB ; wB )] equilibra os
mercados para os dois bens na nossa economia, nós concluímos que tal alocação também é
parte de um equilíbrio competitivo com o vetor de preços (p1 ; p2 ) : k
Exercício 3.3 (Múltiplos Equilíbrios). Suponha que os dois consumidores em nossa economia
tenham funções de utilidade dadas por
1 2 8 1 1 8
U A x1A ; x2A = x1A x e U B x1B ; x2B = x + x2B :
8 A 8 B
1 2 1 2
As dotações iniciais são dadas por (wA ; wA ) = (2; r) e (wB ; wB ) = (r; 2), em que r :=
8=9 1=9 3.1
2 2 .

(a) Fixe um vetor de preços da forma (p1 ; p2 ) = (1; p) e escreva as funções demanda para
os dois consumidores em termos de p (por enquanto você ainda não precisa substituir
o valor de r nas expressões que você encontrar).

(b) Usando as funções de demanda encontradas no item (a), escreva a condição de equilíbrio
de mercado para o bem 1.

(c) Agora sim, substituindo o valor de r na condição de equilíbrio de mercado encontrada


acima, veri…que que p = 1; 2 ou 1=2 são soluções para aquela equação. Ou seja, nesta
economia nós temos 3 equilíbrios competitivos distintos.

Solução.

(a) O problema do consumidor A pode ser escrito como


1 2 8
max x1A x
(x1A ;x2A ) 8 A

sujeito a

x1A + px2A 2 + pr
x1A ; x2A 0:

Vamos seguir o nosso procedimento usual de ignorar a restrição de não negatividade do


consumo e olhar para a restrição orçamentária em igualdade. Ou seja, vamos trabalhar
com o seguinte problema:
1 2 8
max x1A x
(x1A ;x2A ) 8 A
3.1
Tal valor de r foi escolhido para que os preços de equilíbrio …quem com valores redondos.
14 CAPÍTULO 3. EQUILÍBRIO GERAL - EQUILÍBRIO COMPETITIVO

sujeito a
x1A + px2A = 2 + pr:
Usando a restrição orçamentária para eliminar x1A do problema nós …camos com

1 2 8
max 2 + pr px2A x :
2 xA 8 A

A condição de primeira ordem do problema acima é


9
p + x2A = 0;

o que nos dá x2A = p 1=9 . Da restrição orçamentária nós obtemos x1A = 2 + pr p8=9 .
O problema do consumidor B pode ser escrito como
1 1 8
max x + x2B
(
x1B ;x2B ) 8 B

sujeito a
x1B + px2B = r + 2p;
em que eu já ignorei a restrição de não negatividade do consumo e já escrevi a restrição
orçamentária com igualdade para economizar tempo. Novamente, usando a restrição
orçamentária para eliminar x2B do problema acima nós obtemos

1 1 8
max x + p 1r + 2 p 1 x1B
1
xB 8 B

A condição de primeira ordem do problema acima é


9
x1B p 1
= 0;

o que nos dá x1B = p1=9 . Da restrição orçamentária nós obtemos x2B = p 1 r + 2 p 8=9
.

(b) A condição de equilíbrio de mercado para o bem 1 será dada por

2 + pr p8=9 + p1=9 = 2 + r:

(c) Se nós substituirmos a expressão para r na condição encontrada no item (b) nós …camos
com a seguinte condição:

2 + p 28=9 21=9 p8=9 + p1=9 = 2 + 28=9 21=9 ;

que pode ser simpli…cada para

p 28=9 21=9 p8=9 + p1=9 = 28=9 21=9 :

É fácil agora veri…car que 1,2 e 1/2 de fato são soluções para a equação acima. k
15

Exercício 3.4. Considere uma economia na caixa de Edgeworth em que as funções de


1 2
utilidade dos consumidores sejam dadas por U A (x1A ; x2A ) = (x1A ) 3 (x2A ) 3 e U B (x1B ; x2B ) =
2 1
(x1B ) 3 (x2B ) 3 . Suponha que as dotações iniciais dos consumidores sejam (wA 1 2
; wA ) = (1; 0) e
1 2
(wB ; wB ) = (0; 1).

(a) Encontre o único equilíbrio competitivo desta economia. Isto é, encontre o vetor de
preços e a alocação que constituem um equilíbrio competitivo para esta economia

(b) É possível mostrar que a alocação (x1A ; x2A ) = 21 ; 45 e (x1B ; x2B ) = 12 ; 51 é e…ciente no
sentido de Pareto. Como a economia acima satisfaz as condições do Segundo Teorema
do Bem-estar nós sabemos que com uma correta redistribuição das dotações iniciais nós
podemos fazer com que tal alocação seja parte de um equilíbrio competitivo. Ou seja,
1 2 1 2
existem t1 ; t2 > 0 tais que quando (wA ; wA ) = (1 t1 ; t2 ) e (wB ; wB ) = (t1 ; 1 t2 ),
a alocação resultante do equilíbrio competitivo da economia é exatamente (x1A ; x2A ) =
1 4
;
2 5
e (x1B ; x2B ) = 12 ; 15 . Encontre o vetor de preços e as transferências t1 e t2
relacionadas a tal equilíbrio (Atenção! Existem várias combinações de transferências
que geram a alocação citada. Vocês podem escolher qualquer uma dentre as combinações
que funcionam.)

Solução.

(a) Como somente preços relativos são determinados em equilíbrio, nós podemos escolher
o preço de um dos bens como numerário. Façamos isto com o bem 1, então. O nosso
trabalho agora é encontrar o preço p do bem 2 que equilibra os mercados. Como os
dois consumidores são Cobb-douglas e a função demanda deste tipo de consumidor é
nossa velha conhecida, nós podemos escrever as demandas diretamente. O consumidor
A gastará 1=3 da sua renda com o bem 1 e 2=3 com o bem 2. Ou seja, sua demanda
será dada por
1 2
1 wA + pwA 1
x1A = =
3 1 3
e
1 2
2 wA + pwA 2
x2A = = :
3 p 3p
Já o consumidor B gasta 2=3 de sua renda com o bem 1 e 1=3 com o bem 2. Ou seja,
sua demanda é dada por
1 2
2 wB + pwB 2p
x1B = =
3 1 3
e
1 2
1 wB + pwB 1
x2B = = :
3 p 3
A condição de equilíbrio de mercado para o bem 1, por exemplo, é

x1A + x1B = 1;

o que é equivalente a
1 2p
+ = 1:
3 3
16 CAPÍTULO 3. EQUILÍBRIO GERAL - EQUILÍBRIO COMPETITIVO

É fácil ver que a única solução para a equação acima é p = 1. Substituindo tal valor
nas expressões para as demandas acima, nós obtemos a seguinte alocação no equilíbrio
(x1A ; x2A ) = 31 ; 23 e (x1B ; x2B ) = 32 ; 13 :

(b) Agora as demandas dos consumidores são dadas por


11 t1 + pt2
x1A = ;
3 1
21 t1 + pt2
x2A = ;
3 p
2 t1 + (1 t2 ) p
x1B =
3 1
e
1 t1 + (1 t2 ) p
x2B = :
3 p
Dividindo a expressão para x1A pela expressão para x2A nós obtemos

p x1 5
= A
2
= :
2 xA 8

Ou seja, o preço em um equilíbrio associado à alocação citada tem que ser p = 5=4. De
posse de tal preço agora nós podemos tentar encontrar valores de t1 e t2 que nos dêem a
alocação desejada. Como a questão já disse, vários valores de t1 e t2 podem ser usados
para tanto. Isto ocorre porque todas as equações geradas pelas funções demanda acima
são linearmente dependentes quando p = 5=4. Tentemos achar valores de t1 e t2 que
façam x1A assumir o valor desejado, então. Ou seja, tentemos encontrar valores de t1 e
t2 que resolvam a seguinte equação:

1 11 t1 + 54 t2
= :
2 3 1
A equação acima pode ser escrita de forma simpli…cada como

5t2 4t1 = 2:

Possíveis soluções para a equação acima são (t1 ; t2 ) = 0; 52 , (t1 ; t2 ) = 12 ; 45 , (t1 ; t2 ) =


1 3
; , etc.. É fácil checar que qualquer das combinações de transferências acima de
4 5
fato gera a alocação desejada. k
Capítulo 4

Equilíbrio Geral - Economias com


Produção

Exercício 4.1. Considere uma economia com um consumidor e uma …rma. Nesta economia
existem dois insumos para produção. Trabalho, representado pela letra L e terra, representado
pela letra T . O consumidor recebe uma dotação inicial de 15 unidades de L e 10 unidades
de T . Trabalho e terra são utilizados para produzir dois tipos de bens, maçãs, representado
pela letra A e Bandanas, representado pela letra B. Suponha que a tecnologia de produção
de maçãs seja dada pela seguinte função de produção:
A = min fL; T g :
Ou seja, para produzir uma unidade de maçã é necessário utilizar pelo menos uma unidade de
trabalho e uma unidade de terra. Por outro lado, para se produzir uma unidade de Bandana
só é necessário se utilizar uma unidade de trabalho. Ou seja, Bandana tem a seguinte função
de produção:
B = L:
Para …nalizar a descrição de nossa economia, suponha que as preferências do nosso consumidor
sejam dadas pela seguinte função de utilidade:
3 1
U (A; B) = A 4 B 4 :4.1
Calcule o equilíbrio competitivo desta economia.
Solução. Como sabemos que apenas preços relativos são determinados em um equilíbrio
competitivo, é conveniente escolhermos logo um dos preços como numerário. Façamos, então,
pL = 1. O nosso objetivo agora é encontrar pT ; pA e pB . Vamos primeiro analizar o problema
da produção de maçãs. Neste caso o problema da …rma pode ser escrito como:
max pA min fL; T g L pT T:4.2
(L;T )

A primeira coisa que podemos perceber no problema acima é que claramente a …rma nunca
vai querer usar uma quantidade desigual dos dois insumos, certo? Isto nos permite escrever
4.1
É isto mesmo, a utilidade do consumidor só depende de quanto ele consome de maçãs e bandanas.
4.2
Ou seja, o problema da …rma é escolher quanto ela vai usar dos insumos L e T na produção de maçãs
com o objetivo de maximizar o seu lucro.

17
18 CAPÍTULO 4. EQUILÍBRIO GERAL - ECONOMIAS COM PRODUÇÃO

o problema acima somente em termos de L. Ou seja, o problema da …rma pode ser escrito
como
max pA L (1 + pT ) L
L
Sejam LA e TA as quantidades dos insumos L e T que resolvem o problema de produção de
maçãs. Usando apenas lógica, podemos concluir que a solução do problema acima tem as
seguintes características:
TA = LA = 1, se pA > 1 + pT ;
TA = LA = 0, se pA < 1 + pT ;
TA = LA 0, se pA = 1 + pT :
De fato, se pA > 1 + pT , então a …rma obtém um lucro estritamente positivo com qualquer
unidade vendida do bem A. Portanto, ela vai querer produzir uma quantidade ilimitada do
bem. Claramente esta é uma situação em que um equilíbrio competitivo não poderá existir.
Por outro lado, se pA < 1 + pT , então a …rma obteria um lucro negativo com qualquer
unidade vendida do bem A. Então, é claro que neste caso a …rma não iria querer produzir
nada. Finalmente, se pA = 1 + pT , independentemente da quantidade produzida pela …rma,
o seu lucro será zero. Neste caso, todos os valores de LA e TA satisfazendo LA = TA são
soluções para o problema da …rma. Analisemos agora o problema de produção de bandanas.
Neste caso o problema da …rma pode ser escrito como
max pB L L pT T
(L;T )

A primeira coisa que podemos notar no problema acima, é que obviamente a …rma escolherá
usar zero unidades do bem T , já que este não é usado na fabricação de bandanas. O problema
acima reduz-se para
max pB L L
L
Chamando de LB ; TB os valores de L e T que solucionam o problema de produção de
bandanas e fazendo uma análise similar ao problema de produção de maçãs nós chegamos à
seguinte caracterização:
TB = 0
LB = 1, se pB > 1;
LB = 0, se pB < 1;
LB 0, se pB = 1:
O raciocínio para se chegar às condições acima é exatamente o mesmo do problema anterior.
Para podermos encontrar o equilíbrio competitivo desta economia, falta agora resolvermos
o problema do consumidor. Este pode ser escrito como:
3 1
max A 4 B 4
(L;T;A;B)

sujeito a
pA A + pB B + L + pT T 15 + 10pT
A; B; L; T 0:
19

Mas observe que a utilidade do consumidor não depende de quanto ele possui dos bens L e
T . Portanto, é óbvio que a solução do problema acima terá Lc = Tc = 0.4.3 Isto nos permite
escrever o problema acima de forma simpli…cada como:
3 1
max A 4 B 4
(A;B)

sujeito a

pA A + pB B 15 + 10pT
A; B 0:

Agora o problema se torna o de um consumidor Cobb-douglas e nós já sabemos que sua


solução terá o consumidor gastando 3=4 de sua renda com o bem A e 1=4 com o bem B. Ou
seja, a solução do problema acima será
3 15 + 10pT 1 15 + 10pT
Ac = e Bc = :
4 pA 4 pB
Agora nós já temos tudo que precisamos para podermos encontrar um vetor de preços que
equilibre a nossa economia. Comecemos equilibrando o mercado para o bem T , então. A
condição de equilíbrio de mercado para o bem T é dada por:

Tc + TA + TB = 10:4.4

Acima nós vimos que Tc = TB = 0. Portanto, a condição acima reduz-se para TA = 10.
Dada a caracterização da solução de produção de maçãs acima, é fácil ver que o equilíbrio
competitivo tem que estar ocorrendo em um ponto em que

pA = 1 + pT :

Isto implica que em equilíbrio nós também temos LA = 10. Tentemos agora equilibrar o
mercado para o bem L. A condição de equilíbrio de mercado para tal bem é dada por

Lc + LA + LB = 15:

Usando o que aprendemos acima tal condição pode ser simpli…cada para

10 + LB = 15:4.5

Ou seja, em equilíbrio nós temos LB = 5. Novamente, da caracterização da solução do


problema de produção de bandanas nós aprendemos que um vetor de preços que equilibre a
nossa economia tem que satisfazer
pB = 1:
4.3
Notação: Chamaremos de (Lc ; Tc ; Ac ; Bc ) a cesta de consumo que resolve o problema do consumidor.
4.4
Ou seja, o que o consumidor consome de T mais o que é usado de T na produção de maçãs e bandanas
tem que ser igual à dotação inicial do bem T .
4.5
Usamos aqui os fatos de que do problema do consumidor nós sabemos que Lc = 0 e na análise acima
aprendemos que LA = 10:
20 CAPÍTULO 4. EQUILÍBRIO GERAL - ECONOMIAS COM PRODUÇÃO

Finalmente, vamos agora equilibrar o mercado para o bem A. Como acima nós já aprendemos
que a …rma produzirá 10 unidades do bem A, a condição de equilíbrio para o mercado de tal
bem pode ser escrita simplesmente como

Ac = 10:

O que em termos da solução do problema do consumidor torna-se


3 15 + 10pT
= 10:
4 pA

Lembre-se que acima nós aprendemos que pA = 1 + pT . Portanto, podemos escrever a


condição acima como
3 15 + 10pT
= 10;
4 1 + pT
o que nos dá pT = 1=2 e, consequentemente, pA = 3=2.4.6 Portanto, o nosso equilíbrio
competitivo consistirá da alocação (Lc ; Tc ; Ac ; Bc ) = (0; 0; 10; 5), (LA ; TA ; AA ) = (10; 10; 10)
e (LB ; TB ; BB ) = (5; 0; 5), e do vetor de preços (pL ; pT ; pA ; pB ) = (1; 1=2; 3=2; 1): k

Exercício 4.2. Considere uma economia como a estudada nas notas de aula. Isto é, uma
economia com um insumo x, dois bens produzidos, y e z, dois consumidores, A e B, e
duas …rmas, f e g. As funções de produção das duas …rmas são dadas por fy (xfy ) = axfy ,
fz (xfz ) = cxfz , gy xgy = bxgy e gz (xgz ) = dxgz , em que a > b e d > c.

(a) Mostre que em qualquer plano de produção e…ciente para esta economia somente a
empresa f produz o bem y e somente a empresa g produz o bem z:

(b) Escolha o preço do bem x como numerário. Isto é, faça px = 1. Mostre que em
qualquer equilíbrio competitivo da economia acima, em que quantidades positivas dos
bens y e z sejam produzidas, o vetor de preços (1; py ; pz ) é sempre o mesmo. Isto
ocorre independentemente de quais sejam as funções de utilidade dos consumidores,
independentemente de quais sejam as dotações iniciais do bem x e independentemente
de como as ações das …rmas estejam distribuídas entre os consumidores (Dica: se tal
resultado é independente das funções de utilidade dos consumidores, então provavelmente
ele só depende do problema das …rmas. A letra (a) facilita a solução, mas, embora dê
mais trabalho, também dá para resolver a questão sem utilizá-la.).

Solução.

(a) Suponha que (xfy ; xfz ) e xgy ; xgz seja um plano de produção e…ciente. De…na xy :=
xfy + xgy e xz := xfz + xgz . Por de…nição, nós sabemos que (xfy ; xgy ) é solução para o
seguinte problema:
max axf + bxg
xf ;xg

4.6
Neste ponto é sempre uma boa idéia voltar ao problema do consumidor e veri…car que o vetor de preços
encontrado realmente faz o consumidor escolher consumir 10 unidades de A e 5 unidades de B.
21

sujeito a
xf + xg = xy
Mas é óbvio que a única solução para o problema acima é xf = xy e xg = 0.4.7 Ou
seja, xfy = xy e xgy = 0. Um raciocínio inteiramente análogo mostra que xfz = 0 e
xgz = xz :

(b) Seguindo a dica, olhemos para o problema das …rmas, então. Estudemos primeiro o
problema da …rma f :

max py axfy + pz cxfz (xfy + xfz )


xfy ;xfz

Obviamente, se py > 1=a ou pz > 1=c, a …rma poderia obter um lucro in…nito
produzindo uma quantidade in…nita de um dos bens. Logo, como por hipótese o
problema acima tem solução, nós temos que ter py 1=a e pz 1=c. Se py < 1=a, a
…rma tem prejuízo quando produz uma quantidade positiva do bem y. Pela letra (a),
nós sabemos que a …rma f produz uma quantidade positva do bem y, logo nós temos
que ter py = 1=a. Exatamente o mesmo raciocínio, agora aplicado ao problema da
…rma g, mostra que pz = 1=d: k

Exercício 4.3. Considere a economia no exemplo 1 das notas de aula sobre economias com
produção. É possível mostrar que a alocação (x1A ; x2A ) = (1=4; 1=4), (x1B ; x2B ) = (3=4; 7=4)
e (y 1 ; y 2 ) = (1; 2) é e…ciente no sentido de Pareto. Aquele exemplo satisfaz as condições
do segundo teorema do bem-estar, portanto, sabemos que com a correta redistribuição das
dotações iniciais e da propriedade da …rma existirá um equilíbrio competitivo que gera a
alocação acima. Encontre um destes equilíbrios (Dica: do problema do consumidor A você
já consegue descobrir qual vai ser o vetor de preços no equilíbrio. A partir daí, encontrar
uma distribuição de dotação inicial e de propriedade da …rma que leve a um equilíbrio com
a alocação acima é fácil).
Solução. Vamos primeiro estudar um pouco as características da alocação que temos em
mãos. Primeiramente, observe que os dois consumidores juntos consomem uma unidade do
bem 1 e a …rma utiliza outra unidade do bem 1 em seu processo de produção. Portanto,
como era o caso no exemplo das notas de aula, a dotação inicial agregada do bem 1 tem que
ser igual a 2. Isto é
1 1
wA + wB = 2:
Similarmente, os dois consumidores juntos consomem 2 unidades do bem 2 e a …rma produz
as mesmas 2 unidades do bem 2. Portanto, novamente como nas notas de aula, a dotação
inicial agregada do bem 2 tem que ser igual a zero. Ou seja,
2 2
wA = wB = 0:

Na nossa economia teremos ainda um vetor ( A ; B ) que representa a parcela dos lucros da
…rma que cada consumidor tem direito. Para completar esta análise preliminar lembre-se
que em um equilíbrio competitivo só preços relativos estão determinados, portanto, nós
4.7
É claro que implicitamente o problema acima também tem a restrição xf ; xg 0:
22 CAPÍTULO 4. EQUILÍBRIO GERAL - ECONOMIAS COM PRODUÇÃO

podemos escolher um dos preços como numerário. Façamos, então p1 = 1. O nosso vetor de
1 1
preços agora assume o formato (p1 ; p2 ) = (1; p). O nosso trabalho agora é encontrar wA ; wB ,
1 1
( A ; B ) e p, de modo que dados wA ; wB , ( A ; B ), o vetor de preços (1; p) e a alocação
(x1A ; x2A ) = (1=4; 1=4), (x1B ; x2B ) = (3=4; 7=4), (y 1 ; y 2 ) = (1; 2) constituam um equilíbrio
competitivo. Seguindo a dica do problema, vamos primeiramente olhar para o problema do
consumidor A. Tal problema pode ser escrito como
1 1
max x1A 2
x2A 2

(x1A ;x2A )

sujeito a

x1A + px2A wA1


+ A
x1A ; x2A 0:

O consumidor acima é o nosso velho amigo Cobb-douglas e nós já sabemos que a solução de
tal problema é dada por
1 1
1 wA + A 1 wA + A
x1A = e x2A = :
2 1 2 p

Se dividirmos x1A por x2A nós obtemos

x1A
= p:
x2A

Lembre-se que estamos procurando um vetor de preços que leve à cesta de consumo (x1A ; x2A ) =
(1=4; 1=4) no equilíbrio. Da condição acima nós vemos que tal vetor de preços terá que
satisfazer p = 1. Ou seja, conforme a dica do problema nos tinha informado, do problema
do consumidor A nós já conseguimos descobrir qual vetor de preços estará associado com
o equilíbrio competitivo que estamos tentando construir. Dado que o segundo teorema do
bem-estar nos garante que vai existir um equilíbrio competitivo com tal alocação, nós já
sabemos que se tentarmos resolver o problema da …rma com o vetor de preços em questão
nós teremos que obter exatamente (y 1 ; y 2 ) = (1; 2). Só por desencargo de consciência vamos
checar se isto realmente acontece. Lembre-se que o problema da …rma é
1
max
1
p2 y 1 2
y1:
y

A condição de primeira ordem do problema acima nos dá


1
p y1 2
= 1;

o que pode ser simpli…cado para


y 1 = p2 :
Como nós já aprendemos que p = 1, nós veri…camos que de fato sob tal vetor de preços
a …rma realmente escolhe y 1 = 1, o que gera um nível de produção y 2 = 2. Nós também
23

podemos observar que em tal situação o lucro da …rma será = 1. Finalmente, vamos olhar
para o problema do consumidor B:

max x1B + x2B


(x1B ;x2B )

sujeito a

x1B + px2B wB1


+ B
x1B ; x2B 0:

Como nós sabemos que um equilíbrio competitivo com o vetor de preços e a alocação em
questão vai existir, nós também já sabemos que com a correta distribuição de renda a cesta
(x1B ; x2B ) = (3=4; 7=4) será uma solução para o problema acima. Neste caso é fácil veri…car
que tal fato é verdade, já que, conforme aprendemos nas notas de aula, com p = 1, qualquer
combinação de x1B e x2B que esgote a renda do consumidor B será solução para tal problema.
Lembre-se que queremos que o consumidor B consuma a cesta (x1B ; x2B ) = (3=4; 7=4). Sob
o vetor de preços em questão isto implica em um gasto igual a 5=2. De forma similar, nós
queremos que o consumidor A consuma a cesta (x1A ; x2A ) = (1=4; 1=4), o que dá um gasto
igual a 1=2. Portanto, tudo que temos que fazer agora é escolher uma dotação inicial e um
vetor ( A ; B ) tais que a renda de A seja 1=2 e a renda de B seja 5=2. Existem in…nitas
combinações que geram tais rendas. A tabela abaixo mostra algumas possibilidades:
1 1
wA wB ( A; B )
1=2 3=2 (0; 1)
: k
0 2 (1=2; 1=2)
1=4 7=4 (1=4; 3=4)
24 CAPÍTULO 4. EQUILÍBRIO GERAL - ECONOMIAS COM PRODUÇÃO
Capítulo 5

Bem-estar Social5.1

Exercício 5.1. Considere uma situação em que os agentes têm preferências sobre um par
de alternativas x e y. Mostre que o funcional de bem-estar social dado pela regra de votação
por maioria simples é Paretiano e satisfaz as propriedades Anonimidade, Neutralidade entre
Alternativas e Resposta Positiva.

Solução. Lembre-se que, dada a notação introduzida nas notas de aula, o funcional de
bem-estar social dado pela regra da votação por maioria simples pode ser representado
pela seguinte fórmula:
8 PN
< 1 se Pi=1 fi > 0;
N
fS (f1 ; :::; fN ) = 0 se i=1 fi = 0;
: PN
1 se i=1 fi < 0:
P
Primeiramente, note que se (f1 ; :::; fN ) = (1; :::; 1), então N i=1 fi = N > 0. Similarmente, se
PN
(f1 ; :::; fN ) = ( 1; :::; 1), então i=1 fi = N < 0. Então, fS (1; :::; 1) = 1 e fS ( 1; :::; 1) =
1, o que implica que a regra da maioria é paretiana. Agora, como …zemos nas notas de
aula, para um determinado per…l (f1 ; :::; fN ) de…na n+ (f1 ; :::; fN ) como o número de 1’s
em (f1 ; :::; fNP ). Similarmente, de…na n (f1 ; :::; fN ) como o número de -1’s em (f1 ; :::; fN ).
Observe que N +
i=1 fi = n (f1 ; :::; fN ) n (f1 ; :::; fN ). Desta forma, nós podemos reescrever
a fórmula da regra da maioria como
8
< 1 se n+ (f1 ; :::; fN ) > n (f1 ; :::; fN ) ;
fS (f1 ; :::; fN ) = 0 se n+ (f1 ; :::; fN ) = n (f1 ; :::; fN ) ;
:
1 se n+ (f1 ; :::; fN ) < n (f1 ; :::; fN ) :

Mas agora é evidente que o valor fS (f1 ; :::; fN ) só depende do número de 1’s e -1’s no per…l
(f1 ; :::; fN ) e, consequentemente, a regra da maioria satisfaz Anonimidade. Agora observe
5.1
Quando eu imprimo o texto na minha impressora, algumas expressões que têm um símbolo de preferência
como sobrescrito aparecem apenas como um til. Isto é, a expressão %% aparece apenas como %~ , quando
impressa. Ou seja, o arquivo é visualisado corretamente na tela do computador, mas a impressão apresenta
tal problema. A única forma que eu encontrei para resolver isto foi imprimir o arquivo como imagem. No
meu caso isto é feito selecionando imprimir, depois clicando no botão avançado e depois selecionando a opção
imprimir como imagem. Isto é só uma dica caso alguém tenha o mesmo problema.

25
26 CAPÍTULO 5. BEM-ESTAR SOCIAL

que para um dado per…l (f1 ; :::; fN ), n+ (f1 ; :::; fN ) = n ( f1 ; :::; fN ) e n (f1 ; :::; fN ) =
n+ ( f1 ; :::; fN ). Note que se fS (f1 ; :::; fN ) = 1, o que é equivalente a dizer que n+ (f1 ; :::; fN ) >
n (f1 ; :::; fN ), nós claramente teremos n+ ( f1 ; :::; fN ) < n ( f1 ; :::; fN ), o que é equivalente
a dizer que fS ( f1 ; :::; fN ) = 1. Similarmente, se fS (f1 ; :::; fN ) = 0, o que é equivalente a
dizer que n+ (f1 ; :::; fN ) = n (f1 ; :::; fN ), nós teremos n+ ( f1 ; :::; fN ) = n ( f1 ; :::; fN ),
o que é equivalente a dizer que fS ( f1 ; :::; fN ) = 0. Finalmente, se fS (f1 ; :::; fN ) = 1, o
que é equivalente a dizer que n+ (f1 ; :::; fN ) < n (f1 ; :::; fN ), nós teremos n+ ( f1 ; :::; fN ) >
n ( f1 ; :::; fN ), o equivale a dizer que fS ( f1 ; :::; fN ) = 1. Portanto, em todas as
situações possíveis nós temos fS ( f1 ; :::; fN ) = fS (f1 ; :::; fN ), o que implica que a regra
da maioria satisfaz Neutralidade entre Alternativas. Para …nalizar, suponha que o per…l
(f1 ; :::; fN ) seja tal que fS (f1 ; :::; fN ) 0. Nós sabemos que isto é equivalente a dizer que
n+ (f1 ; :::; fN ) n (f1 ; :::; fN ). Seja agora (f^1 ; :::; f^N ) um per…l tal que f^i fi pra todo i,
com desigualdade estrita para algum i. Mas isto implica que n+ (f^1 ; :::; f^N ) n+ (f1 ; :::; fN )
e n (f1 ; :::; fN ) n (f^1 ; :::; f^N ), com pelo menos uma destas duas desigualdades estrita.
Mas então, claramente nós temos n+ (f^1 ; :::; f^N ) > n (f^1 ; :::; f^N ), o que é equivalente a dizer
que fS (f^1 ; :::; f^N ) = 1. Ou seja, a regra da maioria satisfaz Resposta Positiva. Isto completa
a solução do exercício. k
Exercício 5.2. Complete mais dois passos da demonstração do Teorema de Impossibilidade
de Arrow para dois agentes e três alternativas. Mais especi…camente, usando o que foi
aprendido nos passos 1 e 2 nas notas de aula mostre que para qualquer per…l (%1 ; %2 ) em
(% ;% )
que z 2 y, nós temos que ter z S 1 2 y e, posteriormente, mostre que para qualquer per…l
(%1 ; %2 ) em que x 2 y, nós temos que ter x S 1 2 y:
(% ;% )

Solução. Considere o seguinte per…l: %1 = (x; y; z) e %2 = (z; x; y). Pela propriedade de


(% ;% )
unanimidade, nós sabemos que para tal per…l nós temos que ter x S 1 2 y. Pelo passo 1
na demonstração nas notas de aula, nós também sabemos que para tal per…l nós temos que
ter z S 1 2 x. Mas então, usando a transitividade de %S 1 2 , nós obtemos z S 1 2 y.
(% ;% ) (% ;% ) (% ;% )

Por IAI, nós aprendemos que para qualquer per…l em que y 1 z e z 2 y nós teremos
(% ;% )
z S 1 2 y. Mas para per…s em que z 1 y e z 2 y, Paretianismo imediatamente implica
(% ;% )
que z S 1 2 y. Com isto nós concluímos que para qualquer per…l em que z 2 y nós
(% ;% )
necessariamente teremos z S 1 2 y, como queríamos.
Considere agora o per…l %1 = (y; x; z) e %2 = (x; z; y). Por unanimidade, nós sabemos que
(% ;% )
x S 1 2 z. Pelo que nós aprendemos na primeira parte do exercício, nós também temos que
ter z S 1 2 y. Mas então, usando a transitividade de %S 1 2 nós obtemos x S 1 2 y.
(% ;% ) (% ;% ) (% ;% )

Agora, por IAI, nós concluímos que para qualquer per…l em que y 1 x e x 2 y nós temos
(% ;% ) (% ;% )
que ter x S 1 2 y. Novamente, como por Paretianismo nós temos x S 1 2 y para todos
(% ;% )
os per…s em que x 1 y e x 2 y, nós concluímos que x S 1 2 y para qualquer per…l em
que x 2 y. Isto completa a solução do exercício. k
Exercício 5.3. Suponha que estejamos em uma economia como a da seção 4 das notas
de aula. Ou seja, os agentes têm preferências sobre suas cestas de consumo individual.
Seja x11 ; :::; xK 1 K
1 ; :::; xN ; :::; xN uma alocação e…ciente no sentido de Pareto. Mostre que
existe um agente i que não inveja ninguém. Ou seja, mostre que existe um agente i tal que
U i x1i ; :::; xK
i U i x1i ; :::; xK
i pra todo i:
27

Solução. Suponha que x11 ; :::; xK 1 K


1 ; :::; xN ; :::; xN seja e…ciente, mas todos os agentes
invejem alguém. Ou seja, suponha que para todo i exista j tal que U i x1j ; :::; xK j >
i 1 K
U xi ; :::; xi . Comecemos pelo agente 1. Por hipótese, existe um agente i (1) tal que
U i x1i(1) ; :::; xK
i(1) > U
i
x1i ; :::; xK
i . Agora observe que por hipótese o agente i (1) também

inveja alguém. Ou seja, se chamarmos este alguém de i2 (1) nós teremos U i(1) x1i2 (1) ; :::; xK
i2 (1) >

U i(1) x1i(1) ; :::; xK i(1) . Mas, por hipótese também existirá um agente i (1) que o agente i (1)
3 2

invejará, e assim por diante. Se continuarmos procedendo desta forma, nós acabaremos
com uma sequência dada por 1; i (1) ; i2 (1) ; i3 (1) ; :::; tal que para todo j 0 o agente
ij (1) inveje o agente ij+1 (1).5.2 Agora observe que na nossa economia nós temos um
número …nito, N , de agentes. Obviamente, existirá j > 0 tal que ij+1 (1) = il (1) para
algum l < j. Ou seja, existirá um indivíduo ij (1) que invejará alguém que já apareceu
anteriormente na sequência. Seja j o menor valor de j para que isto acontece, e seja
il (1) o indivíduo que ij (1) inveja. Pela discussão acima nós sabemos que l < j . Agora
olhemos para a seguinte sequência …nita de agentes: il (1) ; il+1 (1) ; :::; ij (1). Observe que na
sequência acima todo agente inveja o agente posterior a ele e o último agente, ij (1), inveja
o primeiro agente, il (1). Ou seja, na sequência acima temos um círculo de inveja. Mas
então, olhemos para a alocação x^11 ; :::; x^K 1 ; :::; x ^1N ; :::; x^K
N em que para l j j 1,
1 K 1 K 1 k 1 K
xij (1) ; :::; x^ij (1) ) = (xij+1 (1) ; :::; xij+1 (1) ) e (^
(^ xij (1) ; :::; x^ij (1) ) = (xil (1) ; :::; xil (1) ). Para os demais
1 K 1 K
agentes i de…na x^i ; :::; x^i = xi ; :::; xi . Primeiramente, observe que tudo que …zemos foi
redistribuir as cestas de consumo que tínhamos na alocação x11 ; :::; xK 1
1 ; :::; xN ; :::; xN ,
K

portanto se x1 ; :::; x1 ; :::; xN ; :::; xN era factível, então x^1 ; :::; x^1 ; :::; x^N ; :::; x^K
1 K 1 K 1 K 1
N
também é factível. Além disto, por construção, para l j j , nós temos U j (^ x1j ; :::; x^K
j ) >
j 1 K 1 K 1 K
U (xj ; :::; xj ). Para os demais indivíduos nós temos x^i ; :::; x^i = xi ; :::; xi , portanto,
U i x^1i ; :::; x^Ki = U i x1i ; :::; xKi . Mas então a alocação x^11 ; :::; x^K
1 ; :::; x^1N ; :::; x^K
N melhora
estritamente a situação de alguns indivíduos na economia sem piorar a situação de nenhum
outro. Isto contradiz a e…ciência no sentido de Pareto de x11 ; :::; xK 1
1 ; :::; xN ; :::; xN .
K

Nós temos, então, que concluir que a nossa hipótese inicial não é verdadeira. Ou seja, tem
que existir algum indivíduo i na nossa economia que não inveje ninguém, como queríamos
demonstrar. k
Exercício 5.4. Suponha que estejamos em uma situação com 3 alternativas fx; y; zg e três
agentes fA; B; Cg. As preferências dos agentes são dadas pela tabela abaixo:
A B C
x y z
:
y z x
z x y
Ou seja, o agente A prefere x a y e prefere y a z, e assim por diante. Suponha que nossa
tarefa seja escolher uma das alternativas acima com o intuito de fazer o melhor para a
sociedade. Considere o seguinte método: primeiro escolha um par de alternativas e realize
uma votação entre os agentes. Feito isto, pegue a alternativa vencedora da votação anterior
e realize uma nova votação contra a alternativa que …cou de fora da primeira votação.
5.2
Nós estamos adotando aqui a convenção de que o agente i0 (1) é simplesmente o agente 1.
28 CAPÍTULO 5. BEM-ESTAR SOCIAL

(a) Mostre que tal procedimento é totalmente manipulável. Isto é, mostre que de acordo com
a ordem de votação que escolhermos nós podemos in‡uenciar na escolha …nal.

(b) Suponha agora que nós usemos estas votações dois a dois para de…nir a nossa preferência
social entre as alternativas. Ou seja, uma alternativa será socialmente preferível a
outra se mais agentes a considerarem melhor do que a outra. Chame a preferência
social de…nida desta forma de %S . Não é difícil ver que tal método para de…nir
uma preferência social satisfaz Paretianismo e IAI, mas obviamente não é ditarorial.
Parece, então, que algo mais fundamental não está correto aqui. Discuta.

Solução.

(a) Suponha que primeiro façamos uma votação entre x e y. Neste caso x terá 2 votos contra
apenas 1 voto de y. Ou seja, x vencerá a votação. Agora se …zermos uma votação entre
x e z, z seria a alternativa que obteria 2 votos e venceria a eleição. Neste caso, então,
a escolha social seria z. Suponha agora que primeiro comecemos com uma votação
entre y e z. Neste caso y recebe 2 votos e vence a votação. Mas agora quando …zermos
uma votação entre x e y, x é quem receberá 2 votos. Neste caso a escolha social seria
x. Finalmente, se iniciarmos com uma votação entre x e z, vemos que z vence tal
votação por 2 a 1. Mas quando …nalmente realizarmos uma votação entre z e y, y é
quem vencerá a votação por 2 a 1. Ou seja, neste caso a escolha social seria y. Nós
mostramos, então, que se pudermos controlar a ordem da votação entre as alternativas
nós podemos fazer com que a escolha social seja qualquer uma que quisermos.

(b) Utilizando a regra proposta no exercício nós somos obrigados a concluir que x S y,
z S x e y S z. Como foi apontado pelo enunciado do exercício, tal procedimento
de fato satisfaz Paretianismo e IAI, e não é ditatorial. No entanto, isto não é uma
contradição ao Teorema da Impossibilidade de Arrow. Note que a preferência social
obtida com tal procedimento não é transitiva e esta é uma das hipóteses do teorema
de Arrow. Note, também, que é exatamente a intransitividade da preferência social
de…nida desta forma que gera o fenômeno descrito no item (a). O processo de escolha
por votação realmente escolhe a alternativa preferida entre um par de alternativas, mas
como a preferência social resultante não é transitiva, dependendo da ordem em que nós
comparamos as alternativas nós obtemos uma escolha diferente. k
Capítulo 6

Monopólio

Exercício 6.1 (Imposto sobre os lucros). Considere o exemplo 1 das notas de aula sobre
monopólio. Lembre-se que naquele exemplo nós tínhamos dois bens, x e y e um consumidor
p
com função deputilidade U (x; y) = x + 2 y. Também tínhamos uma tecnologia de produção
dada por y = x, ou seja, o bem x é usado como insumo para produzir o bem y. Finalmente,
o consumidor tinha uma dotação inicial wx do bem x.

(a) Calcule o nível de produção em equilíbrio quando a …rma age como monopolista (Dica:
Quase todo o trabalho já está feito nas notas de aula. Tudo que você tem a fazer é
pegar a expressão encontrada lá e usar uma condição de equilíbrio de mercado).

(b) Suponha agora que o governo resolva impor um imposto proporcional sobre o lucro do
monopolista. Isto é, se o monopolista tiver um lucro ele terá que pagar um valor
t de imposto, em que 0 < t < 1. O valor arrecadado com o imposto sobre os lucros
do monopolista será repassado diretamente ao consumidor na forma de um subsídio de
montante …xo.6.1 Calcule o nível de produção de equilíbrio agora.

(c) Se você fez as contas corretamente, você percebeu que o nível de produção no item (b) é
exatamente o mesmo do item (a). De acordo com tal modelo, parece não haver nenhuma
justi…cativa para a imposição de um imposto sobre os lucros das …rmas. É claro que
o modelo acima tem uma séria limitação que faz com que o modelo por de…nição já
ignore um possível efeito de tal imposto. Que limitação e que efeito são estes?6.2

Solução.

(a) Nas notas de aula nós chegamos à seguinte expressão caracterizando o nível de produção
de monopólio:
1 1 p
p = 2 wx x:
2 y
6.1
Ou seja, o consumidor verá tal subsídio como algo totalmente exógeno e totalmente independente das
suas ações.
6.2
O modelo obviamente tem várias limitações, mas tem uma que é claramente mais relevante para a
discussão aqui.

29
30 CAPÍTULO 6. MONOPÓLIO
p
Mas dada a nossa tecnologia de produção, nós sabemos que y = wx x. Usando isto
na expressão acima nós …camos com
1 1
p = 2y;
2 y

o que nos dá um nível de produção


1 1
y= p :
2 32

(b) Agora o problema do consumidor vira


p
max x + 2 y
(x;y)

sujeito a
x + py = wx + + s;
em que s é o subsídio que este recebe do governo. Repetindo os passos nas notas de
aula nós vemos que as condições de primeira ordem do problema do consumidor ainda
nos dão a mesma condição que antes. Ou seja, nós chegamos a
1
p = p:
y

Dada a caracterização da função demanda inversa do consumidor obtida na expressão


acima, o problema da …rma monopolista pode agora ser escrito como
!
1 p f
= max (1 t) pp x xf
xf x f

Mas a condição de primeira ordem do problema acima é exatamente a mesma que nós
tínhamos no caso sem imposto.6.3 Nas notas de aula nós já vimos que tal condição
implicava que
1 1 p
p = 2 wx x:
2 y
p
Ou seja, se novamente usarmos a observação de que y = wx x em equilíbrio, nós
obteremos o mesmo nível de produção que obtivemos antes.

(c) A grande limitação de tal modelo é que ele só tem um consumidor. Suponha que
o modelo tivesse dois consumidores. Neste caso, o nível de produção de equilíbrio
geralmente vai depender das dotações iniciais dos agentes e de como as ações da …rma
estão divididas entre os consumidores. Porém, se o governo impuser um imposto sobre
o lucro da …rma e redistribuí-lo entre os consumidores de acordo com o percentual
p
6.3
Isto não deve ser nenhuma surpresa. É claro que o valor de xf que maximiza p xf xf também
p
maximiza p xf xf para qualquer > 0:
31

de ações da …rma que cada consumidor possui, nós obteremos o mesmo resultado que
obtivemos agora. Ou seja, a alocação de equilíbrio será exatamente a mesma. Mas, é
claro, isto só ocorre se o governo usar como parâmetro de distribuição exatamente o
percentual de ações que cada consumidor possui. Se o governo utilizar qualquer outra
forma para calcular a redistribuição do imposto, a alocação de equilíbrio será diferente.
Em resumo, um modelo com apenas um consumidor, por de…nição, ignora os possíveis
efeitos de redistribuição de renda que um imposto sobre o lucro da …rma monopolista
pode ter. k

Exercício 6.2. Suponha que a …rma F produza um determinado bem y e que a sua função
custo seja dada por
C (y) = y 2 :
Ou seja, para produzir y unidades do bem a …rma gasta y 2 . Seja a função demanda inversa
do bem y dada por
p (y) = 3 y:

(a) Calcule o preço e a quantidade produzida do bem y quando o mercado é competitivo


(…rma age como tomadora de preços) e quando a …rma age como monopolista.
(b) Suponha agora que o governo, na tentativa de eliminar a ine…ciência do monopólio,
implemente o seguinte esquema de incentivo. O governo pagará um bônus de s reais
por cada real vendido pela …rma. Isto é, se a …rma obtiver uma receita de x reais com
a venda do bem y, então o governo lhe pagará um bônus de sx reais. Calcule o valor
de s que faz com que a …rma produza a quantidade e…ciente (o valor encontrado no
caso competitivo).

Solução.

(a) Quando a …rma age como tomadora de preços o seu problema pode ser escrito como

max py y2
y

A condição de primeira ordem para o problema acima nos dá

p = 2y:

Dada a curva de demanda inversa da economia, a oferta e a demanda só estarão


equilibradas se
2y = 3 y;
o que implica que
yc = 1
e
pc = 2:
Quando a …rma age como monopolista o seu problema pode ser escrito como

max (3 y) y y2
y
32 CAPÍTULO 6. MONOPÓLIO

A condição de primeira ordem para o problema acima é

3 4y = 0;

o que nos dá
3
ym =
4
e, consequentemente,
9
pm = :
4
(b) O problema da …rma agora pode ser escrito como

max (3 y) y (1 + s) y2
y

A condição de primeira ordem para o problema acima é

y (1 + s) + (3 y) (1 + s) 2y = 0:

Fazendo y = 1 na expressão acima, nós obtemos s = 1. k

Exercício 6.3. Uma empresa monopolista produz um bem q de acordo com uma função
custo dada por c (q) = q + q 2 . Suponha que a curva de demanda inversa do mercado seja
dada por p (q) = 13 q.

(a) Calcule a quantidade q produzida pelo monopolista. Qual o seu lucro?

(b) Suponha agora que, embora a empresa monopolista funcione em um mercado protegido
contra a importação, esta tenha a opção de vender o seu bem no mercado exterior. Mais
especi…camente, o monopolista tem a opção de vender o bem no mercado doméstico,
em que este enfrenta uma curva de demanda inversa dada por pd (qd ) = 13 qd ,
mas tem também a opção de vender o bem no mercado internacional por um preço
pi = 11. O preço do bem no mercado internacional não depende da quantidade qi
vendida pelo monopolista neste mercado. A função custo da …rma continua sendo
dada por c (q) = q + q 2 . A diferença é que agora q = qd + qi . Quanto a …rma venderá
no mercado doméstico e no mercado internacional? Qual o seu lucro agora? (Dica: A
intuição pode ser traiçoeira aqui. É melhor con…ar na matemática e resolver o problema
do monopolista completo.)

Solução.

(a) Neste caso o problema do monopolista é

max (13 q) q q q2
q

A condição de primeira ordem do problema acima nos dá q = 3 Tal quantidade implica


que o preço cobrado pelo monopolista será 10 e o seu custo será 12. Portanto o seu
lucro será = 10 3 12 = 18:
33

(b) O problema da …rma agora é

max (13 qd ) qd + 11qi (qd + qi ) (qd + qi )2


qd ;qi

As condições de primeira ordem do problema acima são

12 4qd 2qi = 0

e
10 2qd 2qi = 0:
Resolvendo o sistema acima nós obtemos qd = 1 e qi = 4. O preço no mercado
doméstico será 12. O custo da …rma será 5+52 = 30. Portanto, o lucro do monopolista
será

= 12 1 + 11 4 30
= 26: k

Exercício 6.4 (Monopsônio). Suponha que uma empresa produza um bem y que é vendido
no mercado internacional por um preço py = 24. O único insumo para a produção do bem y
é um bem super especializado, x. O bem y é produzido de acordo com a função de produção
y := ln x. O preço pago por unidade do insumo x segue a curva de oferta inversa w(x) = 2+x.

(a) Suponha primeiro que o mercado para o bem x seja competitivo. Isto é, suponha que
a …rma aja como tomadora de preços em relação ao preço w. Calcule quanto a …rma
utilizará do insumo x neste caso. (Atenção! Embora a …rma aja como tomadora de
preços em relação a w, posteriormente w tem que ser tal que a oferta e a demanda pelo
bem x …quem equilibradas). (Dica: No …nal você chegará em uma equação do segundo
grau que tem uma raiz positiva e uma negativa. Logicamente, a solução do problema é
a raiz positiva.)

(b) Suponha agora que a …rma seja o único consumidor do insumo x e que esta entenda que
a sua decisão em relação a quantidade utilizada de x afeta diretamente o preço pago
w(x). Isto é, a …rma não é mais tomadora de preços em relação ao bem x. Calcule
quanto a …rma utilizará do insumo x neste caso. (Dica: Novamente você chegará em
uma equação do segundo grau que tem uma raiz positiva e uma negativa em que a
solução do problema é a raiz positiva.)

(c) Se você fez as contas corretamente, você veri…cou que a quantidade de insumo x utilizada
na letra (a) foi maior do que na letra (b). Suponha que no caso tratado na letra (b) o
governo queira implementar um esquema de incentivos que faça com que a …rma utilize
a mesma quantidade de insumos da letra (a). O esquema funcionará da seguinte forma:
o governo subsidiará uma fração s dos custos da …rma com o insumo x. Isto é, se os
gastos da …rma com o insumo x forem l, esta receberá uma ajuda de s l do governo.
Qual o valor de s que faz com que a …rma utilize a mesma quantidade de insumo x
encontrada na letra (a)?
34 CAPÍTULO 6. MONOPÓLIO

Solução.
(a) Quando a …rma age como tomadora de preços o seu problema é:
max 24 ln x wx
x

A condição de primeira ordem do problema acima nos dá


24
= w:
x
Para que o mercado do bem x esteja equilibrado, o w que aparece na solução do
problema da …rma tem que coincidir com o que aparece na curve de oferta inversa. Ou
seja, a seguinte equação tem que ser satisfeita:
24
= 2 + x;
x
o que nos dá a seguinte equação do segundo grau:
x2 + 2x 24 = 0:
A solução positiva da equação acima é x = 4:
(b) O problema da …rma agora é
max 24 ln x (2 + x)x
x

A condição de primeira ordem do problema acima nos dá


24
= 2 + 2x;
x
o que implica que a solução do problema satisfaz a seguinte equação do segundo grau:
x2 + x 12 = 0:
A solução positiva da equação acima é x = 3:
(c) Com o subsídio descrito na questão o problema da …rma vira:
max 24 ln x (1 s)(2 + x)x
x

A condição de primeira ordem do problema acima nos dá


24
= (1 s)(2 + 2x);
x
o que implica que a solução do problema satisfaz a seguinte equação do segundo grau:
12
x2 + x = 0:
1 s
Substituindo x = 4 na equação acima nós …camos com a seguinte equação em relação
a s:
12
= 20;
1 s
Resolvendo a equação acima nós obtemos s = 2=5. k
Capítulo 7

Discriminação de Preços

Exercício 7.1 (Descrição grá…ca da solução do modelo de Mussa e Rosen). Considere o


modelo de discriminação de preços de segundo grau estudado nas notas de aula (o modelo de
Mussa e Rosen). Caracterize gra…camente a solução de tal modelo. Atenção, no livro texto
tem uma análise grá…ca para se chegar a solução de um modelo parecido com o de Mussa e
Rosen. Não é aquela análise grá…ca que eu quero. O que eu quero é algo mais simples. Dada
a solução que nós obtivemos nas notas, simplesmente mostre no mesmo grá…co os pacotes de
consumo dos dois consumidores, as curvas de indiferença dos dois consumidores que passam
por estes pacotes e os pacotes e…cientes, ou seja, os pacotes que teriam sido vendidos se o
monopolista pudesse diferenciar os dois consumidores, bem como as curvas de indiferença
que passam por tais pacotes.

Solução. Lembre-se que a solução do problema de Mussa e Rosen tem as seguintes características:

1. A quantidade oferecida ao agente do tipo H é a e…ciente.

2. A restrição de participação para o agente do tipo L é satisfeita com igualdade.

3. A restrição de compatibilidade de incentivos para o agente do tipo H é satisfeita com


igualdade.

As três condições acima implicam que a solução do modelo de Mussa e Rosen pode ser
representada gra…camente como na …gura 7.1.
Na …gura 7.1 os pacotes que solucionam o modelo de Mussa e Rosen estão identi…cados
com o sobrescrito MR. A primeira coisa que podemos perceber é que o pacote oferecido
ao agente L encontra-se exatamente na interseção entre as curvas de indiferença dos dois
agentes. Isto nada mais é do que a representação grá…ca do fato de que a restrição de
compatibilidade de incentivos para o agente do tipo H é satisfeita com igualdade. Ou seja,
o agente do tipo H é indiferente entre o seu pacote, pM R MR
H ; qH , e o pacote direcionado ao
MR MR
agente L, pL ; qL . A outra coisa que podemos perceber é que a curva de indiferença
do agente L que passa sobre o seu pacote intercepta a origem. Isto nada mais é do que a
representação grá…ca do fato de que na solução do modelo de Mussa e Rosen a restrição de
participação do agente do tipo L é satisfeita com igualdade. Finalmente, nós vemos na …gura
que a quantidade consumida pelo agente do tipo H na solução de Mussa e Rosen é igual a

35
36 CAPÍTULO 7. DISCRIMINAÇÃO DE PREÇOS

Figura 7.1: Solução do modelo de Mussa e Rosen

quantidade consumida por H quando o monopolista consegue diferenciar os consumidores,


E
representada na …gura por qH . Por outro lado, a quantidade consumida por L é menor do
que o nível e…ciente, que é a quantidade produzida pela …rma quando ela pode diferenciar os
dois consumidores. A razão disto, conforme podemos perceber na …gura, é o fato de que se o
monopolista tentasse fazer o agente L comprar a cesta pE E
L ; qL , então o agente H preferiria
MR MR
tal pacote ao pacote pH ; qH . Isto acaba fazendo com que o monopolista produza uma
quantidade menor do que a e…ciente para o agente L. k
Exercício 7.2. Suponha que a economia tenha dois tipos de consumidores e que a …rma
monopolista consiga diferenciá-los. A curva de demanda agregada dos consumidores do tipo
A é dada por
qA (pA ) = 20 pA
e a dos consumidores do tipo B é dada por
pB
qB (pB ) = 16 :
2
O custo de produção da …rma monopolista é dado por

c (qA + qB ) = 4 (qA + qB ) :

(a) Encontre os preços cobrados pelo monopolista quando a prática de discriminação de


preços é permitida. Calcule o excedente agregado dos consumidores neste caso. Isto
é, a soma dos excedentes dos dois tipos de consumidores (Dica: Para fazer a questão
você primeiro vai ter que derivar as curvas de demanda inversa para os dois tipos de
consumidores).

(b) Suponha agora que a prática de discriminação de preços seja proibida por lei. Encontre o
preço cobrado pela …rma neste caso. Também neste caso, calcule o excedente agregado
37

dos consumidores (Dica: Para fazer esta questão você terá que derivar a curva de
demanda agregada para este caso. Esta curva terá 3 regiões. Para preços abaixo de
um certo valor, os dois tipos de consumidores consomem. Para preços entre o valor
previamente mencionado e um valor mais alto apenas um tipo de consumidor consome.
Para preços acima do valor mais alto citado anteriormente, nenhum consumidor consome.
De posse da curva de demanda agregada, você pode agora derivar a curva de demanda
inversa. Esta também será dividida em regiões. A solução do problema da …rma se
dará na região em que esta resolve atender aos dois tipos de consumidores. Portanto,
na hora de resolver o problema da …rma você pode assumir que a curva de demanda
inversa da economia corresponde à parte da curva da demanda inversa em que a …rma
atende aos dois consumidores. Porém, para calcular o excedente dos consumidores você
precisará olhar para a curva de demanda inversa completa, considerando todas as suas
regiões).

Solução.

(a) Conforme a dica, vamos primeiro encontrar as curvas de demanda inversa para os dois
tipos de consumidores. Para tanto, tudo que temos que fazer é isolar p nas suas funções
demanda, o que nos dá as seguintes curvas de demanda inversa:

pA (qA ) = 20 qA

e
pB (qB ) = 32 2qB :
O custo marginal de produção do monopolista é constante e igual a 4. Como o
monopolista pode praticar discriminação de preços, suas escolhas ótimas igualarão
a sua receita marginal com cada tipo de consumidor ao seu custo marginal. Ou seja,
resolverão as seguintes equações:

20 2qA = 4

e
32 4qB = 4:
Resolvendo as equações acima nós obtemos

qA = 8

e
qB = 7:
As quantidades acima implicam que os preços cobrados pelo monopolista serão pA = 12
e pB = 18. O excedente dos consumidores do tipo A será dado pela área escura da
…gura abaixo.
38 CAPÍTULO 7. DISCRIMINAÇÃO DE PREÇOS

Figura 7.2: Excedente dos consumidores do tipo A.

Ou seja, o excedente dos consumidores do tipo A é 32. Já o excedente dos consumidores


do tipo B é dado pela área escura da …gura abaixo.

Figura 7.3: Excedente dos consumidores do tipo B.

Ou seja, o excedente dos consumidores do tipo B é 49. O excedente agregado, então,


é 32 + 49 = 81:

(b) A curva de demanda agregada agora é dada por


8
< 36 3p 2
, se p 20;
p
q (p) = 16 2 , se 20 < p 32;
:
0, se p > 32:

Tal curva de demanda agregada está associada com a seguinte curva de demanda
inversa:
32 2q, se q 6;
p (q) =
24 32 q, se q > 6:
39

Seguindo a dica, nós sabemos que a solução do problema do monopolista se dará na


região em que este atende aos dois tipos de consumidores. Ou seja, na região em que
a curva de demanda inversa da economia é
2
p (q) = 24 q:
3
Igualando a receita marginal ao custo marginal nós …camos com a seguinte equação:
4
24 q = 4:
3
Ou seja, a quantidade produzida pela …rma será q = 15. Isto dá um preço p = 14.
Finalmente, o excedente dos consumidores será dado pela área escura da …gura abaixo:

Figura 7.4: Excedente dos consumidores sem discriminação de preços.

Ou seja, o excedente dos consumidores é A + B + C = 36 + 36 + 27 = 99: k

Exercício 7.3 (Descontos para Estudantes). Suponha que um monopolista venda em um


mercado que tenha dois tipos de consumidores: estudantes e consumidores regulares. A
curva de demanda dos estudantes é dada por

qe = (2 3pe )

e a dos consumidores regulares é dada por

qr = (1 pr ) :

Por simplicidade, suponha que o custo de produção do monopolista é constante e igual a


zero.

(a) Suponha que o mercado seja composto só por estudantes. Que preço o monopolista
cobrará? E se o mercado for composto só por consumidores regulares, que preço o
monopolista cobrará?
40 CAPÍTULO 7. DISCRIMINAÇÃO DE PREÇOS

(b) Suponha agora que uma fração dos consumidores seja de estudantes e uma fração
(1 ) seja de consumidores regulares. Isto é, o lucro do monopolista assume o
seguinte formato: = (lucro obtido com estudantes) + (1 ) (lucro obtido com
consumidores regulares). Suponha, também, que o governo imponha uma lei que obrigue
que o preço cobrado dos estudantes seja sempre igual à metade do preço cobrado dos
consumidores regulares. Assumindo que o monopolista vá sempre tentar atender aos
dois mercados, calcule o preço cobrado dos consumidores regulares (o preço cobrado
dos estudantes será a metade) como função de . Observe que a fórmula para o preço
encontrada é uma função crescente em relação a , ou seja, quanto maior é a parcela
da população composta por estudantes, maior é o preço. Explique intuitivamente por
que isto ocorre, utilizando o que você aprendeu na letra (a).

Solução.

(a) Se o mercado for composto só por estudantes, o problema do monopolista pode ser
escrito como
max (2 3pe ) pe :7.1
pe

A condição de primeira ordem do problema acima nos dá pe = 1=3. Quando o mercado


é composto só por consumidores regulares o problema do monopolista pode ser escrito
como
max (1 pr ) pr
pr

Da condição de primeira ordem do problema acima nós obtemos que pr = 1=2.

(b) Agora o problema do monopolista pode ser escrito como


p p
max 2 3 + (1 ) (1 p) p
p 2 2
Da condição de primeira ordem do problema acima nós temos

3
1 p + (1 ) [1 2p] = 0
2
()
2
p= :
4
Como o exercício já havia nos informado, p é uma função crescente de . Além disto,
nós podemos observar que quando = 0 e, portanto, só existem consumidores regulares
no mercado, p = 1=2, que é o preço que encontramos na letra (a). Além disto, quando
= 1 e, portanto, só existem estudantes, p = 2=3, o que nos dá um preço para
7.1
Eu estou escrevendo o problema do monopolista como um em que ele escolhe o preço. Alternativamente,
eu poderia ter derivado a curva de demanda inversa e escrito o problema como um em que ele escolhe
a quantidade. As duas abordagens se equivalem, mas como na letra (b) será mais conveniente escrever
o problema como um em que o monopolista escolhe o preço, eu optei por usar a abordagem em que o
monopolista escolhe o preço desde o início.
41

estudantes igual a 1=3, que é exatamente o valor que encontramos na letra (a). A
razão pela qual o preço é uma função crescente de é simples. Quando é pequeno, o
monopolista se importa mais com as vendas para consumidores regulares e, portanto,
quanto menor , mais p se aproxima de 1=2. A medida que aumenta, as vendas para
estudantes passam a ser mais importantes e p=2 se aproxima de 1=3 o que é equivalente
a dizer que p se aproxima de 2=3: k
42 CAPÍTULO 7. DISCRIMINAÇÃO DE PREÇOS
Capítulo 8

Escolha sob Incerteza

Exercício 8.1 (Maximizar a Probabilidade de Obter a Consequência Favorita). Considere


o exemplo de preferência sobre loterias nas notas de aula. Isto é, suponha que o conjunto de
alternativas X tenha uma alternativa x que é a favorita do agente. Suponha, também, que
dadas duas loterias p e q,
p % q () p (x ) q (x ) :
Ou seja, o agente sempre busca maximizar a probabilidade de obter a sua consequência
favorita. Mostre que tal relação de preferências satisfaz Independência e a propriedade
Arquimediana (Dica: Não tente mostrar isto diretamente, use o teorema da utilidade esperada).

Solução. Lembre-se que, de acordo com o teorema da utilidade esperada, uma preferência
satisfaz Independência e a propriedade Arquimediana se e somente se ela tem uma representação
por utilidade esperada. Então, para provarmos que a preferência acima satisfaz as duas
propriedades, tudo o que precisamos fazer é encontrar uma representação por utilidade
esperada que a represente. Mas isto é fácil. Considere a função de Bernoulli u tal que
u (x ) = 1 e u (x) = 0 para todo x 2 X, com x 6= x . Calculemos agora a utilidade esperada
de uma loteria genérica dada tal função de Bernoulli. Lembre-se que a utilidade esperada
de uma loteria p genérica é dada por
X
U (p) = p (x) u (x) :
x2X

Mas como para todo x 6= x u (x) = 0, a expressão acima reduz-se para

U (p) = p (x ) 1:

Mas, então, para qualquer par de loterias p e q, dizer que p (x ) q (x ) é exatamente o


mesmo que dizer que X X
p (x) u (x) q (x) u (x) .
x2X x2X

Ou seja, % tem uma representação por utilidade esperada em que a função de Bernoulli u
é de…nida como acima. Pelo teorema da utilidade esperada, % satisfaz Independência e a
propriedade Arquimediana. k

43
44 CAPÍTULO 8. ESCOLHA SOB INCERTEZA

Exercício 8.2. Suponha agora que estejamos falando de loterias monetárias. Lembre-se que
para uma dada loteria p, nós usamos a notação E [p] para representar o seu valor esperado.
Nós usaremos a notação V ar (p) para representar a variância de uma determinada loteria.
Por exemplo, para loterias que retornam apenas dois prêmios, isto é, loterias do tipo p :=
(x) (1 ) (y), o valor esperado e a variância têm a seguinte forma

E [p] = x + (1 ) y

e
V ar (p) = (x E [p])2 + (1 ) (y E [p])2 :

1 2
(a) Calcule os valores esperados e as variâncias das loterias p := 3
(2) 3
(1) e q :=
1
4
(8) 43 (4) :

(b) (Dependendo dos seus conhecimentos de probabilidade e estatística este exercício pode
ser um pouco mais difícil, mas eu acho que vocês têm condições de resolvê-lo) Suponha
agora que o agente tenha uma função de utilidade sobre o conjunto de loterias monetárias
dada por
V (p) = E [p] (E [p])2 V ar (p) :
Considerando loterias que retornam apenas dois prêmios, isto é, loterias da forma
(x) (1 ) (y), mostre que a função de utilidade acima pode ser escrita no formato
de utilidade esperada. Ou seja, mostre que existe uma função u sobre os números reais
tal que para qualquer loteria p := (x) (1 ) (y),

V (p) = u (x) + (1 ) u (y) :

Solução.

(a) Comecemos com a loteria p. Para tal loteria nós temos

1 2 4
E [p] = 2+ 1=
3 3 3
e
2 2
1 4 2 4
V ar (p) = 2 + 1
3 3 3 3
2 2
1 2 2 1
= +
3 3 3 3
2
= :
9
Já para a loteria q nós temos

1 3
E [q] = 8+ 4=5
4 4
45

e
1 3
V ar (q) = (8 5)2 + (4 5)2
4 4
1 3
= (3)2 + ( 1)2
4 4
= 3:

(b) Considere uma loteria genérica p := (x) (1 ) (y). Observe que a variância de p
pode ser escrita como

V ar (p) = (x E [p])2 + (1 ) (y E [p])2


= x2 2xE [p] + (E [p])2 + (1 ) y2 2yE [p] + (E [p])2
= x2 + (1 ) y2 2E [p] ( x + (1 ) y) + (E [p])2 ;

em que nós simplesmente reagrupamos os termos na segunda expressão acima. Mas


observe que x + (1 ) y é exatamente o valor esperado de p, portanto, a expressão
acima pode ser escrita como

V ar (p) = x2 + (1 ) y2 2 (E [p])2 + (E [p])2


= x2 + (1 ) y2 (E [p])2 :

Mas agora nós podemos escrever V (p) como

V (p) = E [p] (E [p])2 V ar (p)


= E [p] (E [p])2 x2 + (1 ) y2 (E [p])2
= E [p] x2 (1 ) y2
= x + (1 )y x2 (1 ) y2
= x x2 + (1 ) y y2 :

Mas então, tudo que temos a fazer é de…nir u como a função tal que para todo z 2 R,
u (z) = z z 2 . k

Exercício 8.3 (Seguro Total). Lembre-se do exemplo nas notas de aula. Isto é, suponha
que tenhamos um agente com riqueza inicial igual a W . Com probabilidade um evento que
implica em uma perda de D reais para o agente vai ocorrer. O agente tem a oportunidade
de fazer um seguro para receber X reais caso o evento que desencadeie a perda dos D reais
ocorra. Suponha que o preço pago por cada real segurado seja simplesmente s.

(a) Suponha que o agente tenha contratado um seguro para X reais. Como não sabemos
ainda se o evento que ocasiona a perda dos D reais vai ocorrer, a riqueza futura do
agente é para nós uma variável aleatória, ou, na nossa terminologia, uma loteria.
Escreva a loteria que representa a riqueza futura de um agente que contratou um seguro
de X reais.
46 CAPÍTULO 8. ESCOLHA SOB INCERTEZA

(b) Observe que para cada possível valor de X, a expressão que você encontrou acima
representa uma loteria diferente. Deste modo, o problema de escolher o nível ótimo
de seguro pode ser interpretado como o problema de escolher a melhor loteria dentre
as diversas possíveis acima. Suponha agora que o seguro tenha um preço justo, isto
é, suponha que s = . Mostre que neste caso o valor esperado das loterias acima é
sempre o mesmo, independentemente do valor X.

(c) Ou seja, quando o seguro tem um preço justo, o problema do agente passa a ser o
de escolher entre várias loterias que têm o mesmo valor esperado. Use este fato
para argumentar que neste caso um agente avesso ao risco sempre vai escolher um
seguro total, ou seja, X = D (Dica: Você não tem que fazer conta. A conclusão vem
diretamente da de…nição de aversão ao risco).

Solução.

(a) Caso o evento não ocorra, a riqueza futura do agente será simplesmente W sX. Ou
seja, sua riqueza inicial menos quanto ele gastou em seguro. Caso o evento ocorra, sua
riqueza futura será W sX D + X. Ou seja, será igual à sua riqueza inicial menos
o que ele gastou em seguro, menos os D reais que ele perde, mais os X reais que ele
ganha da seguradora. Como o evento ocorre com probabilidade , a riqueza futura do
agente pode ser representada pela loteria

pX := (W D + (1 s) X) (1 ) (W sX) :

(b) Dado qualquer valor X, o valor esperado da loteria pX é

E [pX ] = (W D + (1 s) X) + (1 ) (W sX) :

Como por hipótese agora s = , a expressão acima pode ser escrita como

E [pX ] = (W D + (1 ) X) + (1 ) (W X)
= W D + (1 )X (1 )X
= W D:

Ou seja, o valor esperado de todas as loterias pX é o mesmo, independentemente do


valor X:

(c) Primeiro, observe que se o agente contratar um seguro total, ou seja, quando X = D, a
riqueza futura do agente será igual a W D, independentemente da ocorrência ou não
do evento que gera a perda dos D reais. Ou seja, contratar um seguro total é equivalente
a escolher a loteria degenerada que paga o prêmio W D com probabilidade 1. Mas
a de…nição de aversão ao risco nos diz que um agente avesso ao risco sempre vai preferir
receber o valor esperado de uma loteria com certeza do que …car com a própria loteria.
Como todas as loterias na parte (b) têm o mesmo valor esperado, isto implica que o
agente considerará a loteria pX com X = D melhor do que todas as outras. k
47

Exercício 8.4 (Demanda por Ativos de Risco). Suponha que existam dois estados possíveis
da natureza, f! 1 ; ! 2 g. A idéia é que no futuro um dos dois estados vai ocorrer. Suponha
que a probabilidade de que ! 1 vá ocorrer seja p (! 1 ) = 1=3 e a probabilidade de que ! 2 vá
ocorrer seja p (! 2 ) = 2=3. Suponha que a economia tenha dois ativos de risco. O primeiro
ativo, A1 , paga 1 real no estado ! 1 e paga 2 reais no estado ! 2 , já o ativo A2 paga 3 reais
no estado ! 1 e paga 0 reais no estado ! 2 .

(a) Suponha que os preços por unidade dos ativos A1 e A2 sejam, respectivamente, pA1 = 4=3
e pA2 = 1. Seja agora um agente com função de Bernoulli u (x) = ln x. Suponha que
tal agente tenha 2 reais para gastar entre os dois ativos descritos acima. Quanto ele
compraria de cada ativo e, dado o seu portifólio, quanto seria o retorno …nanceiro do
agente em cada um dos estados?

(b) Se você fez as contas corretamente, você percebeu que o portifólio escolhido pelo agente
na letra (a) dá um retorno maior no estado ! 2 do que no estado ! 1 . Este resultado é
intuitivo, já que o preço do ativo A2 corresponde exatamente ao valor esperado de uma
unidade de tal ativo enquanto, por outro lado, o preço do ativo A1 está mais barato
do que o valor esperado de uma unidade de tal ativo. Desta forma, é intuitivo que
o agente esteja comprando relativamente mais do ativo A1 e, portanto, o seu retorno
monetário seja maior no estado que é mais favorável a tal ativo. Suponha agora que o
ativo A1 também tenha um preço justo. Isto é, suponha que pA1 = 5=3. Calcule quanto
o agente compraria de cada ativo neste caso e compute o retorno …nanceiro do agente
em cada um dos estados.

(c) Se você fez as contas corretamente, você percebeu que no item anterior o retorno …nanceiro
do agente é o mesmo nos dois estados. Tal resultado não depende dos exatos valores
utilizados na questão. Em geral, se tivermos um agente avesso ao risco, todos os ativos
tiverem um preço justo e a nossa estrutura de ativos for rica o su…ciente, o agente vai
escolher um portifólio que elimine a incerteza sobre os seus ganhos futuros. No exemplo
aqui estudado, a riqueza da estrutura de ativos corresponde ao fato de que os dois ativos
acima são negativamente correlacionados. Isto é, o ativo A1 paga mais no estado ! 2
e o ativo A2 paga mais no estado ! 1 . Mostre que se isto não for verdade, então não
existe portifólio que elimine a incerteza sobre os ganhos monetários futuros do agente.
Atenção, tal resultado é independente do fato do portifólio ser o ótimo ou não e também
não depende dos preços dos ativos. O resultado é bem mais trivial, simplesmente, em
tal caso, qualquer portifólio pagará mais em um estado que no outro.

Solução.

(a) A decisão do agente pode ser representada pelo seguinte problema de maximização:
1 2
max ln (1 A1 + 3 A2 ) + ln (2 A1 + 0 A2 )
A1 ;A2 3 3
sujeito a
4
A1 + 1 A2 = 2:
3
48 CAPÍTULO 8. ESCOLHA SOB INCERTEZA

Ou seja, o problema do agente é maximizar a utilidade esperada do seu portifólio dado


que ele só tem 2 reais para gastar em ativos. Usando a restrição para eliminar A2 do
problema acima nós …camos com o seguinte problema simpli…cado:
1 2
max ln (6 3A1 ) + ln (2A1 )
A1 3 3
A condição de primeira ordem do problema acima é
1 4 1
+ = 0:
6 3A1 3 2A1
Resolvendo a equação acima para A1 nós obtemos
4
A1 = :
3
Usando a restrição do problema original nós obtemos
2
A2 = :
9
Dado tal portifolio o retorno …nanceiro do agente no estado ! 1 será 2. Já no estado ! 2
o retorno do agente será 8=3.
(b) Agora o problema do agente pode ser escrito como
1 2
max ln (1 A1 + 3 A2 ) + ln (2 A1 + 0 A2 )
A1 ;A2 3 3
sujeito a
5
A1 + 1 A2 = 2:
3
Novamente, usando a restrição para eliminar A2 do problema acima nós …camos com
o seguinte problema simpli…cado:
1 2
max ln (6 4A1 ) + ln (2A1 )
A1 3 3
A condição de primeira ordem do problema acima é
4 1 4 1
+ = 0:
3 6 4A1 3 2A1
Resolvendo a equação acima para A1 nós obtemos
A1 = 1:
Usando a restrição do problema original nós obtemos
1
A2 = :
3
Dado tal portifolio o retorno …nanceiro do agente no estado ! 1 será 2 que é o mesmo
retorno que o agente terá no estado ! 2 .
49

(c) Suponha que os nossos dois ativo sejam tais que A1 paga xA1 no estado ! 1 e yA1 no estado
! 2 , com xA1 > yA1 . Suponha, também, que A2 não seja negativamente correlacionado
com A1 . Isto é, suponha que A2 pague xA2 no estado ! 1 , yA2 no estado ! 2 , mas
que xA2 > yA2 . Sejam agora e as quantidades dos ativos A1 e A2 que o agente
está comprando, respectivamente. Mas então, o seu retorno no estado ! 1 será xA1 +
xA2 que é obviamente maior do que yA1 + yA2 . Ou seja, é impossível para o
agente eliminar a incerteza sobre os seus ganhos futuros, não importa quanto ele esteja
disposto a pagar por isto. Apesar desta parte do exercício ser bastante trivial, ela
ilustra um ponto importante. Geralmente, em situações práticas não é possível eliminar
completamente a incerteza sobre os ganhos futuros. Por exemplo, todos os ativos nas
bolsas de valores são pelo menos um pouco positivamente correlacionados. k
50 CAPÍTULO 8. ESCOLHA SOB INCERTEZA
Capítulo 9

Teoria dos Jogos - Jogos na Forma


Normal

Exercício 9.1 (Jogo da Produção de Armas Nucleares). Dois países vizinhos estão considerando
a possibilidade de construir armas nucleares. Se ambos construírem armas nucleares, então
a situação será ruim para os dois, já que isto implica em um alto custo …nanceiro, além
do risco que um vizinho detentor de armas nucleares representa. Caso apenas um dos
países construa armas nucleares, então o país construtor desfrutará de uma grande vantagem
estratégica e esta acaba sendo a melhor situação possível para ele. Por outro lado, o país
que não construir …cará numa situação muito ruim, já que …cará praticamente submisso
ao vizinho. Esta é a pior situação possível para ele. Finalmente, se ninguém construir
armas nucleares, a situação é boa para os dois, já que ambos economizam bastante dinheiro e
ninguém …ca ameaçado. Mesmo assim, ambos os países prefeririam a vantagem estratégica
de serem os únicos detentores da tecnologia nuclear.

(a) Descreva a situação acima como um jogo matricial. Os exatos valores dos ganhos
dos jogadores não importam. Você pode colocar o que você quiser, desde que eles
representem a situação acima de forma consistente. Em especial, as informações em
negrito têm que estar re‡etidas no jogo que você escrever.
(b) Resolva o jogo que você escreveu utilizando o conceito de solução mais simples possível.
Isto é, se o jogo for resolvível por dominância, então resolva-o por dominância. Caso o
jogo não seja resolvível por dominância, então tente resolvê-lo por eliminação iterativa
de estratégias estritamente dominadas. Caso ainda assim não seja possível resolver
o jogo, então tente resolvê-lo encontrando os seus equilíbrios de Nash (em estratégias
puras).

Solução.

(a) A situação descrita no enunciado pode ser representada pelo seguinte jogo:
País 2
C N
:
País C 0; 0 5; 5
1 N 5; 5 2; 2

51
52 CAPÍTULO 9. TEORIA DOS JOGOS - JOGOS NA FORMA NORMAL

Observe que todas as informações em negrito estão re‡etidas em tal jogo. A melhor
situação para um determinado país é quando este constrói armas nucleares e o seu
vizinho não. A situação em que ambos constroem é pior do que quando ambos não
constroem. Finalmente, a pior situação para um país é quando este não constrói armas
nucleares e o seu vizinho constrói.

(b) É fácil ver que no jogo acima C é uma estratégia estritamente dominante para ambos os
jogadores. Portanto, o jogo acima pode ser resolvível por dominância e a sua solução
corresponde ao caso em que ambos os países constroem armas nucleares. k

Exercício 9.2 (Jogo do Dinheiro Grátis). Dois agentes econômicos extremamente racionais
participam do seguinte jogo em que eles podem ganhar mais de um milhão de reais. Primeiramente,
ambos os jogadores, em salas separadas, têm que escrever 1, 100, 10:000 ou 1:000:000 em
folhas de papel que posteriormente são colocadas dentro de envelopes. Quando os envelopes
são abertos, o jogador que escreveu o menor número recebe uma quantia, em reais, igual à
soma dos dois números. O outro jogador não recebe nada. Caso ambos tenham escrito o
mesmo número, então cada um recebe, em reais, exatamente o valor que cada um escreveu.
Ou seja, se ambos escreverem 10:000, por exemplo, então cada jogador recebe 10:000 reais.

(a) Descreva a situação acima como um jogo matricial.

(b) Resolva o jogo que você escreveu na parte (a) por eliminação iterativa de estratégias
estritamente dominadas. Será que tais agentes realmente merecem a terminologia
racionais?

Solução.

(a) A situação acima pode ser descrita pelo seguinte jogo matricial:

1 100 10:000 1:000:000


1 1; 1 101 ; 0 10:001 ; 0 1:000:001 ; 0
100 0 ; 101 100 ; 100 10:100 ; 0 1:000:100 ; 0
10:000 0 ; 10:001 0 ; 10:100 10:000 ; 10:000 1:010:000 ; 0
1:000:000 0 ; 1:000:001 0 ; 1:000:100 0 ; 1:010:000 1:000:000 ; 1:000:000

Lembre-se que por convenção o jogador 1 é quem escolhe as linhas e o jogador 2 é quem
escolhe as colunas.

(b) Primeiramente, observe que jogar 1:000:000 é estritamente dominada por jogar 1, para
o jogador 1. Eliminando tal estratégia …camos com o seguinte jogo:

1 100 10:000 1:000:000


1 1; 1 101 ; 0 10:001 ; 0 1:000:001 ; 0
100 0 ; 101 100 ; 100 10:100 ; 0 1:000:100 ; 0
10:000 0 ; 10:001 0 ; 10:100 10:000 ; 10:000 1:010:000 ; 0
53

Mas observe que jogar 1:000:000 é também estritamente dominada por jogar 1, para o
jogador 2, no jogo acima. Eliminando-se tal estratégia o jogo reduz-se para
1 100 10:000
1 1; 1 101 ; 0 10:001 ; 0
100 0 ; 101 100 ; 100 10:100 ; 0
10:000 0 ; 10:001 0 ; 10:100 10:000 ; 10:000
Agora quem é estritamente dominada por jogar 1, para o jogador 1, é 10:000. Tirando
tal estratégia do jogo nós …camos com a matriz
1 100 10:000
1 1; 1 101 ; 0 10:001 ; 0
100 0 ; 101 100 ; 100 10:100 ; 0
Novamente, 10:000 é também estritamente dominada por 1 para o jogador 2, o que nos
dá o seguinte jogo, ainda mais simpli…cado:
1 100
1 1; 1 101 ; 0
100 0 ; 101 100 ; 100
Uma análise exatamente análoga a que …zemos até agora nos permitirá eliminar as
estrategias 100, para ambos os jogadores. Isto implica que o jogo acima é resolvível
por eliminação iterativa de estratégias estritamente dominadas e a sua solução consiste
dos dois jogadores jogarem 1. Observe que tal solução faz com que ambos os jogadores
obtenham um ganho …nal de 1 real cada. Dado que se ambos jogassem 1:000:000 ambos
teriam recebido 1:000:000 de reais, a extrema racionalidade dos dois agentes neste caso
não parece ser necessariamente um sinal de inteligência. k
Exercício 9.3 (Sorveteiros em Praia Circular). Considere novamente o problema dos sorveteiros
que têm que se posicionar em uma faixa de areia. A diferença agora é que esta faixa de areia
se encontra ao redor de uma lagoa circular. Suponha que o perímetro da lagoa seja 1 e que as
pessoas estejam distribuídas de maneira uniforme por toda a faixa de areia. Os sorveteiros
são idênticos e, portanto, as pessoas sempre compram do sorveteiro mais próximo. Caso mais
de um sorveteiro estejam posicionados em uma mesma posição, as pessoas que estão mais
próximas daquela posição se dividem igualmente entre todos os sorveteiros lá posicionados.
(a) Suponha que apenas dois sorveteiros estejam escolhendo aonde se posicionarem na faixa
de areia ao redor da lagoa. Caracterize todos os equilíbrios de Nash deste jogo. (Dica:
Você não precisa sair fazendo conta. A caracterização dos equilíbrios pode ser bem
intuitiva, você pode usar …guras, etc., mas seja preciso na sua explicação. Finalmente,
existe um número enorme de equilíbrios).
(b) Suponha que agora tenhamos três sorveteiros escolhendo uma posição na faixa de areia.
Caracterize todos os equilíbrios de Nash do jogo agora (Dica: Novamente existirão
diversos equilíbrios, mas você terá que dividí-los em duas classes. Equilíbrios em que
nenhum dos sorveteiros se posiciona na mesma posição que algum outro sorveteiro e
equilíbrios em que pelo menos 2 sorveteiros se posicionam em uma mesma posição).
54 CAPÍTULO 9. TEORIA DOS JOGOS - JOGOS NA FORMA NORMAL

Solução.

(a) Chamemos os dois sorveteiros de A e B, por exemplo. Suponha que o sorveteiro A esteja
posicionado em um lugar qualquer da faixa de areia (ver …gura abaixo).

Observe que se B se posicionar em um local diferente de A, independentemente da


sua exata localização, metade das pessoas estarão mais próximas de B do que de A.
Ou seja, onde quer que B se posicione este venderá sorvetes para exatamente metade
das pessoas na praia. Caso B se posicione no mesmo local que A ele também vende
sorvetes para exatamente metade das pessoas. Isto é, B é sempre indiferente entre
todas as suas estratégias. Por simetria, exatamente a mesma coisa acontece com A.
Mas então, qualquer per…l de estratégias é equilíbrio de Nash desse jogo.

(b) Chamemos agora os sorveteiros de A, B e C. Suponha que A e B estejam posicionados


em locais distintos (ver …gura abaixo).

Sejam DAB e dAB os comprimentos do maior e do menor arco entre A e B, respectivamente.


Se C se posicionar no menor arco entre A e B o seu ganho será dAB =2 1=4, com
igualdade se e somente se dAB = DAB = 1=2. Se C se posicionar no maior arco entre A e
B o seu ganho será DAB =2 1=4, com igualdade se e somente se dAB = DAB = 1=2. Já
se C se posicionar na mesma posição que A ou B o seu ganho será igual a 1=4. Vemos,
então, que qualquer posição no interior do maior arco que liga A e B é uma melhor
resposta para C. Por simetria, a mesma coisa acontece com A e B. Nós concluímos,
então, que qualquer per…l de posições em que todos os sorveteiros estejam posicionados
no maior arco que liga os outros dois sorveteiros é equilíbrio de Nash do jogo acima.
Por exemplo, o per…l na …gura abaixo é um equilíbrio do jogo:

Na verdade, como se posicionar no arco menor entre os outros dois sorveteiros só é


melhor resposta para C quando dAB = DAB , ou seja, quando os dois arcos têm o mesmo
55

tamanho, nós vemos que todos os equilíbrios de Nash em que todos os sorveteiros
escolhem posições diferentes são da forma acima. Resta testarmos equilíbrios em que
2 ou mais sorveteiros se posicionem em um mesmo lugar. Suponha que A e B estejam
na mesma posição (ver …gura abaixo).

Observe que se C se posicionar em uma posição diferente de A e de B, o seu ganho


será 1=2. Já se C se posicionar na mesma posição que A e B o seu ganho será 1=3.
Portanto, qualquer posição diferente da de A e B é melhor resposta para C. Vejamos
se existe alguma posição de C que faça com que se posicionarem em um mesmo local
sejam de fato melhores respostas para A e B. Pela nossa análise acima, nós vemos que
se posicionar no mesmo local que A só será uma melhor resposta para B se os dois
arcos entre A e C tiverem o mesmo tamanho. Por simetria, isto também faz com que
se posicionar no mesmo local que B seja uma melhor resposta para A. Nós aprendemos
que os per…s de posição em que dois sorveteiros estejam em um mesmo lugar e o outro
esteja na posição oposta, do outro lado da lagoa são os únicos equilíbrios de Nash do
jogo em que mais de um sorveteiro …cam na mesma posição. A …gura abaixo apresenta
um exemplo de tal equilíbrio.

k
56 CAPÍTULO 9. TEORIA DOS JOGOS - JOGOS NA FORMA NORMAL
Capítulo 10

Teoria dos Jogos - Estratégias Mistas

Exercício 10.1 (Encontro em Nova Iorque). Os professores X e Y marcaram um encontro


para tomar um café na loja do Starbucks próxima a Universidade de Nova Iorque. O problema
é que eles esqueceram de combinar se eles estavam falando da loja no Washington Square
Park ou da loja na Broadway. Suponha ainda que eles não têm como se comunicar.10.1 Tal
situação pode ser representada pela seguinte matriz de ganhos:
Professor Y
W B
:
Professor W 1; 1 0; 0
X B 0; 0 1; 1
Isto é, se ambos forem para o mesmo lugar, ambos recebem um ganho de 1. Se eles forem
para lugares diferentes, ambos recebem um ganho de zero. Permitindo o uso de estratégias
mistas, encontre todos os equilíbrios de Nash do jogo acima.
Solução. Nós estamos interessados em resolver o jogo acima permitindo o uso de estratégias
mistas. Ou seja, os conjuntos de estratégias dos dois jogadores serão AX = AY = [0; 1].
Tentemos primeiro encontrar um equilíbrio de Nash em que Professor X jogue W com
probabilidade 1. Isto é, vejamos se existe um per…l de estratégias ( ; ) com = 1 que
seja um equilíbrio de Nash para o jogo acima. Dado que = 1, o ganho que Professor Y
obtem com uma estratégia genérica é dado por
U Y (1; ) = 1 + (1 ) 0= :
Fica claro, então, que a melhor resposta para Professor Y neste caso é jogar = 1.
Veri…quemos, então, se = 1 é uma melhor resposta para Professor X quando Professor Y
joga = 1. Com Professor Y jogando = 1, o ganho de uma estratégia genérica , para
Professor X; pode ser escrito como
U X ( ; 1) = 1 + (1 ) 0= .
Fica claro que jogar = 1 é de fato a melhor resposta para Professor X quando Professor
Y joga = 1. Nós concluímos que o per…l ( ; ) = (1; 1) é o único equilíbrio de Nash do
jogo acima em que Professor X joga W com probabilidade 1.
10.1
Este jogo foi criado muito antes da existência do telefone celular.

57
58 CAPÍTULO 10. TEORIA DOS JOGOS - ESTRATÉGIAS MISTAS

Tentemos agora encontrar um equilíbrio de Nash em que Professor X jogue B com


probabilidade 1. Ou seja, um equilíbrio ( ; ) em que = 0. Contra 0, o ganho de
uma estratégia genérica de Professor Y é dado por
U Y (0; ) = 0 + (1 ) 1=1 :
É claro que a melhor resposta para Professor Y neste caso é jogar = 0. Resta veri…carmos
se jogar = 0 é uma melhor resposta para Professor X quando Professor Y joga = 0.
Neste caso, o ganho de uma estratégia genérica de Professor X é dado por
U X ( ; 0) = 0 + (1 ) 1=1 .
Fica evidente que jogar = 0 é de fato a melhor resposta para Professor X. Nós concluímos
que ( ; ) = (0; 0) é o único equilíbrio de Nash do jogo acima em que Professor X joga B
com probabilidade 1.
Finalmente, tentemos encontrar um equilíbrio de Nash do jogo acima em que Professor
X jogue uma estratégia mista não degenerada. Ou seja, um equilíbrio ( ; ) em que
0< < 1. Pela proposição que nós aprendemos nas notas de aula, nós sabemos que isto
só pode acontecer se o ganho que Professor X obtem quando joga = 1 é o mesmo que ele
obtem quando joga = 0. Em termos dos ganhos do jogo tal condição pode ser escrita como
U X (1; ) = U X (0; )
()
1 + (1 ) 0 = 0 + (1 ) 1:
Resolvendo a equação acima nós encontramos = 1=2. Ou seja, para que jogar uma
estratégia mista não degenerada seja uma melhor resposta para Professor X é necessário que
Professor Y esteja jogando cada uma de suas estratégias puras com probabilidade 1=2. Mas
isto implica que um equilíbrio de Nash em que Professor X use uma estratégia mista não
degenerada só pode ocorrer se Professor Y também estiver usando uma estratégia mista não
degenerada. Usando novamente a proposição nas notas de aula nós aprendemos que
UY ( ; 1) = UY ( ; 0)
()
1 + (1 ) 0 = 0 + (1 ) 1:
Resolvendo a equação acima nós obtemos = 1=2. Nós concluímos que ( ; ) = (1=2; 1=2)
é o único equilíbrio de Nash do jogo acima em que Professor X joga uma estratégia mista
não degenerada. Como este era o último caso que faltava ser analisado nós concluímos que
os equilíbrios de Nash do jogo acima são (1; 1) ; (0; 0) ; (1=2; 1=2) : k
Exercício 10.2. Considere o seguinte jogo:
Jogador 2
E D
:
Jogador C 1; 1 0; 1
1 B 0; 1 2; 0
Permitindo o uso de estratégias mistas, encontre todos os equilíbrios de Nash do jogo acima.
59

Solução. Tentemos primeiro encontrar um equilíbrio em que 1 jogue C com probabilidade


1. Ou seja, um equilíbrio ( ; ) em que = 1. Quando o jogador 1 joga = 1, o ganho
de uma estratégica genérica para o jogador 2 é dado por
U 2 (1; ) = 1 + (1 ) 1 = 1:
Isto é, qualquer estratégia é uma melhor resposta para o jogador 2 quando 1 joga = 1.
Tentemos, então, encontrar as estratégias que fazem = 1 ser uma melhor resposta para
o jogador 1. Não é difícil ver que = 1 será uma melhor resposta para o jogador 1 contra
uma estratégia se e somente se
U 1 (1; ) U 1 (0; ):
A condição acima é equivalente a
1 + (1 ) 0 0 + (1 ) 2:
Isolando na desigualdade acima nós obtemos 2=3. Ou seja, para qualquer 2=3,
jogar = 1 será uma melhor resposta para o jogador 1. Nós concluímos que todos os
per…s (1; ) com 2=3 são equilíbrios de Nash do jogo acima em que 1 joga C com
probabilidade 1. Tentemos agora encontrar equilíbrios do jogo acima em que 1 jogue B com
probabilidade 1. Neste caso, o ganho de uma estratégia genérica para o jogador 2 é dado
por
U 2 (0; ) = 1 + (1 ) 0:
Fica claro que a melhor resposta para 2 neste caso é jogar = 1. Temos que conferir agora
se = 0 é uma melhor resposta para 1 quando o jogador 2 joga = 1. Contra =1o
ganho de uma estratégia genérica para o jogador 1 é dado por
U 1 ( ; 1) = 1 + (1 ) 0:
Mas é evidente que a melhor resposta para o jogador 1 neste caso é escolher = 1.
Nós concluímos que não existe equilíbrio de Nash do jogo acima em que 1 jogue B com
probabilidade 1.
Finalmente, tentemos encontrar equilíbrios de Nash do jogo acima em que 1 jogue uma
estratégia mista não degenerada. Ou seja, tentemos encontrar equilíbrios ( ; ) em que
0< < 1. Pela proposição nas notas de aula nós sabemos que isto só pode acontecer se
U 1 (1; ) = U 1 (0; )
()
1 + (1 ) 0 = 0 + (1 ) 2:
Resolvendo a equação acima nós encontramos = 2=3. Ou seja, para que tenhamos um
equilíbrio de Nash em que 1 joga uma estratégia mista, nós temos que ter o jogador 2 usando
a estratégia mista = 2=3. Novamente, pela proposição nas notas de aula, isto só pode
ocorrer se o jogador 2 estiver indiferente entre as suas duas estratégias puras. Isto é,
U2 ( ; 1) = U2 ( ; 0)
()
1 + (1 ) 1 = 1 + (1 ) 0:
60 CAPÍTULO 10. TEORIA DOS JOGOS - ESTRATÉGIAS MISTAS

Resolvendo a equação acima nós obtemos = 1. Mas = 1 é uma estratégia mista


degenerada. Nós concluímos que o jogo acima não tem nenhum equilíbrio de Nash em que
o jogador 1 jogue uma estratégia mista não degenerada. k
Exercício 10.3 (Existência do Equilíbrio). Considere um jogo 2x2 genérico. Isto é, considere
um jogo representado pela seguinte matriz de ganhos:
Jogador 2
E D
:
Jogador C U 1 (C; E) ; U 2 (C; E) U 1 (C; D) ; U 2 (C; D)
1 B U 1 (B; E) ; U 2 (B; E) U 1 (B; D) ; U 2 (B; D)

(a) Suponha que o per…l (C; E) seja um equilíbrio de Nash do jogo acima (sem o uso de
estratégias mistas). Considere agora a extensão do jogo acima para o jogo correspondente
em que os jogadores podem usar estratégias mistas. Seja a probabilidade com que o
jogador 1 joga C e a probabilidade com que o jogador 2 joga E. Argumente que o
per…l ( ; ) = (1; 1) é um equilíbrio de Nash do novo jogo, em que estratégias mistas
são permitidas.

(b) Suponha agora que saibamos que no jogo acima (sem o uso de estratégias mistas) jogar
C seja uma melhor resposta para o jogador 1 quando 2 está jogando E. Suponha,
também, que o jogo acima não tenha nenhum equilíbrio de Nash em estratégias puras.
Isto vai implicar diversas relações entre os ganhos dos agentes nas diversas situações
possíveis. Por exemplo, como já sabemos que C é uma melhor resposta contra E para o
jogador 1, e já que por hipótese o jogo não tem equilíbrio de Nash em estratégias puras,
não pode ser verdade que E seja uma melhor resposta contra C para o jogador 2. Em
termos dos ganhos da matriz acima isto equivale a dizer que U 2 (C; D) > U 2 (C; E).
Usando o mesmo tipo de raciocínio compare agora U 1 (C; D) com U 1 (B; D), depois
U 2 (B; E) com U 2 (B; D) e, …nalmente, U 1 (C; E) com U 1 (B; E).

(c) (Esta questão é mais difícil, mas prestando atenção na dica ela é resolvível.) Usando o
que você aprendeu na letra (b), mostre que existe um valor 2 (0; 1) tal que

U 2 (C; E) + (1 ) U 2 (B; E) = U 2 (C; D) + (1 ) U 2 (B; D) :

Similarmente, mostre que existe um valor 2 (0; 1) tal que

U 1 (C; E) + (1 ) U 1 (C; D) = U 1 (B; E) + (1 ) U 1 (B; D) :

Dica: Suponha que a; b; c; d; e; f sejam números tais que

a c=e>0

e
b d = f > 0:
Observe que
f e f e
a+ d= c+ b:
e+f e+f e+f e+f
61

(d) Argumente que ( ; ) é um equilíbrio de Nash do jogo acima quando nós permitimos o
uso de estratégias mistas. Se você olhar com atenção você notará que a questão inteira
é uma demonstração passo a passo de que jogos 2x2 sempre têm equilíbrios de Nash
em estratégias mistas.
Solução.
(a) Como por hipótese (C; E) é um equilíbrio de Nash do jogo em estratégias puras, nós
sabemos que
U 1 (C; E) U 1 (B; E)
e
U 2 (C; E) U 2 (C; D) :
Considere agora o jogo em que estratégias mistas são permitidas. Observe que o ganho
de uma estratégia genérica , contra = 1, para o jogador 1, é dado por
U 1 ( ; 1) = U 1 (1; 1) + (1 ) U 1 (0; 1)
= U 1 (C; E) + (1 ) U 1 (B; E) :
Como já sabemos que U 1 (C; E) U 1 (B; E), é claro que = 1 maximiza o ganho
10.2
acima. Nós concluímos que = 1 é uma melhor resposta para 1 quando 2 está
jogando = 1. Olhemos agora para o ganho de uma estratégia genérica , para o
jogador 2, quando 1 está jogando = 1. Tal ganho é dado por
U 2 (1; ) = U 2 (1; 1) + (1 ) U 2 (1; 0)
= U 2 (C; E) + (1 ) U 2 (C; D) :
Novamente, como sabemos que U 2 (C; E) U 2 (C; D), é claro que = 1 maximiza o
ganho acima. Nós concluímos que = 1 é uma melhor resposta para 2 quando 1 está
jogando = 1. Isto conclui a demonstração de que (1; 1) é um equilíbrio de Nash do
jogo acima quando estratégias mistas são permitidas.
(b) A primeira informação que a questão nos dá é que C é uma melhor resposta para 1
quando 2 joga E. Em termos dos ganhos envolvidos no jogo isto é equivalente a dizer
que U 1 (C; E) U 1 (B; E). Como já mencionado na questão, o fato de que o jogo
não tem nenhum equilíbrio de Nash em estratégias puras implica que E não pode ser
uma melhor resposta para 2 quando 1 joga C. Em termos dos ganhos do jogo isto é
equivalente a dizer que U 2 (C; D) > U 2 (C; E). Nós acabamos de aprender, então, que
D é uma melhor resposta para 2 quando 1 joga C. Como o jogo não tem equilíbrios de
Nash, C não pode ser uma melhor resposta para 1 contra D. Ou seja, nós temos que
ter U 1 (B; D) > U 1 (C; D). Isto implica que B é uma melhor resposta para 1 contra
D. Novamente, o fato de que o jogo não tem equilíbrios de Nash implica que contra B
a melhor resposta para 2 tem que ser jogar E. Ou seja, U 2 (B; E) > U 2 (B; D). Como
E é uma melhor resposta para 2 contra B, B não pode ser uma melhor resposta para
1 contra E. Isto implica que U 1 (C; E) > U 1 (B; E) :
10.2
A…nal de contas a expressão acima nada mais é do que uma média ponderada entre U 1 (C; E) e
1
U (B; E). Como toda média tem que ser menor ou igual ao maior de seus termos, nós chegamos à conclusão
no texto.
62 CAPÍTULO 10. TEORIA DOS JOGOS - ESTRATÉGIAS MISTAS

(c) Da letra (b) nós sabemos que U 2 (C; D) > U 2 (C; E) e U 2 (B; E) > U 2 (B; D). De…na
a := U 2 (C; D), c := U 2 (C; E), b := U 2 (B; E), d := U 2 (B; D), e := U 2 (C; D)
U 2 (C; E) e f := U 2 (B; E) U 2 (B; D). Observe que, por construção,

a c=e>0

e
b d = f > 0:
Mas seguindo a dica nós sabemos que

f e f e
a+ d= c+ b:
e+f e+f e+f e+f
Agora de…na
f
:=
e+f
e observe que
e
1 = :
e+f
Substituindo as variáveis na equação acima por suas respectivas de…nições nós obtemos

U 2 (C; D) + (1 ) U 2 (B; D) = U 2 (C; E) + (1 ) U 2 (B; E) :

Da letra (b) nós também sabemos que U 1 (C; E) > U 1 (B; E) e U 1 (B; D) > U 1 (C; D).
De…na agora a := U 1 (C; E), c := U 1 (B; E), b := U 1 (B; D), d := U 1 (C; D), e :=
U 1 (C; E) U 1 (B; E) e f := U 1 (B; D) U 1 (C; D). Novamente, por construção, nós
temos
a c=e>0
e
b d = f > 0:
Aplicando a dica novamente nós obtemos

f e f e
a+ d= c+ b:
e+f e+f e+f e+f
De novo de…nindo
f
:= ;
e+f
nós podemos escrever a equação acima como

U 1 (C; E) + (1 ) U 1 (C; D) = U 1 (B; E) + (1 ) U 1 (B; D) :

(d) Olhemos primeiro para a condição envolvendo os ganhos do jogador 2. Isto é, a condição

U 2 (C; D) + (1 ) U 2 (B; D) = U 2 (C; E) + (1 ) U 2 (B; E) :


63

Observe que ela pode ser escrita em termos dos ganhos que o jogador 2 obteria se
ambos os jogadores estivessem jogando estratégias mistas degeneradas no jogo com
estratégias mistas como

U 2 (1; 0) + (1 ) U 2 (0; 0) = U 2 (1; 1) + (1 ) U 2 (0; 1) :

E pode ainda ser escrita em termos dos ganhos que o jogador 2 obteria com estratégias
mistas degeneradas contra a estratégia . Isto é,

U2 ( ; 0) = U 2 ( ; 1) .

Mas isto implica que faz o jogador 2 indiferente entre todas as suas estratégias, no
jogo com estratégias mistas. De forma similar, a condição

U 1 (C; E) + (1 ) U 1 (C; D) = U 1 (B; E) + (1 ) U 1 (B; D)

pode ser escrita como

U 1 (1; 1) + (1 ) U 1 (1; 0) = U 1 (0; 1) + (1 ) U 1 (0; 0) :

E a condição acima pode ser reescrita como

U 1 (1; ) = U 1 (0; ):

Mais uma vez, isto implica que faz o jogador 1 indiferente entre todas as suas
estratégias. Mas então, é óbvio que é uma melhor resposta contra e que é
uma melhor resposta contra . Ou seja, ( ; ) é um equilíbrio de Nash do jogo com
estratégias mistas. Nós acabamos de mostrar que um jogo 2x2 que não tem equilíbrio
de Nash em estratégias puras sempre tem um equilíbrio de Nash em estratégias mistas.
Como na letra (a) nós vimos que todo equilíbrio de Nash em estratégias puras gera um
equilíbrio de Nash correspondente no jogo com estratégias mistas, isto prova que jogos
2x2 sempre têm equilíbrios de Nash quando permitimos o uso de estratégias mistas. É
claro que nós já sabíamos que tal fato era verdade pelo teorema de Nash, mas esta é
uma demonstração direta de tal fato. k
64 CAPÍTULO 10. TEORIA DOS JOGOS - ESTRATÉGIAS MISTAS
Capítulo 11

Teoria dos Jogos - Jogos Sequenciais

Exercício 11.1 (Batalha dos Sexos Sequencial). Considere a versão sequencial do jogo
Batalha dos Sexos representada pela árvore de decisão abaixo.

Figura 11.1: Versão sequencial do jogo Batalha dos Sexos

No jogo acima, Mulher primeiramente escolhe ir à danceteria ou ao bar. Após ver a


escolha de Mulher, Homem decide se vai à danceteria ou ao bar. Nos nós terminais o ganho
do jogador Mulher vem representado na primeira posição. Por exemplo, quando Mulher joga
D e Homem toma a ação D no seu nó de decisão superior, Mulher recebe um ganho de 3 e
Homem recebe um ganho de 1.

(a) Represente o jogo acima na forma matricial e encontre todos os seus equilíbrios de Nash
(em estratégias puras).
(b) Resolva o jogo por indução retroativa e identi…que qual dos equilíbrios encontrados na
letra (a) é perfeito em subjogos.

Solução.

(a) Fazendo Mulher o jogador 1 e Homem o jogador 2, o jogo acima tem a seguinte
representação matricial:
DD DB BD BB
D 3; 1 3; 1 0; 0 0; 0
B 0; 0 1; 3 0; 0 1; 3

65
66 CAPÍTULO 11. TEORIA DOS JOGOS - JOGOS SEQUENCIAIS

Primeiro vejamos se existe algum equilíbrio em que Mulher jogue D. Quando Mulher
joga D as melhores respostas para Homem são DD e DB. De fato, tanto quando
Homem joga DD como quando Homem joga DB, jogar D é uma melhor resposta para
Mulher. Nós concluímos que (D; DD) e (D; DB) são equilíbrios de Nash do jogo acima.
Vejamos se existem equilíbrios de Nash em que Mulher joga B. Quando Mulher joga B
as melhores respostas para Homem são DB e BB. Quando Homem joga BB, jogar B
é de fato uma melhor resposta para Mulher, porém quando Homem joga DB a melhor
resposta para Mulher é jogar D. Nós concluímos que o único equilíbrio de Nash do
jogo acima em que Mulher joga B é (B; BB). Portanto, os equilíbrios de Nash do jogo
acima são (D; DD), (D; DB) e (B; BB) :

(b) No seu nó de decisão superior, a melhor ação para Homem é escolher D, já no seu nó de
decisão inferior, a sua melhor ação é B. Isto nos dá o seguinte jogo simpli…cado após
um estágio de indução retroativa:

Figura 11.2: Jogo após um estágio de indução retroativa

Mas agora é claro que a melhor ação para Mulher é D. A solução do jogo por
indução retroativa é, portanto, (D; DB). Conforme já sabíamos, a solução por indução
retroativa nos retorna um dos equilíbrios de Nash do jogo. k

Exercício 11.2 (Barreira a Entrada). Suponha que a …rma F2 seja monopolista em um


mercado que enfrenta a ameaça da entrada de uma nova empresa F1 . Se F1 resolver …car
de fora do mercado (estratégia F ), então F1 recebe um ganho de 1 e F2 recebe um ganho
de 9. Caso F1 resolva entrar no mercado (estratégia E), então F2 tem duas opções. Ela
pode lutar com F1 para expulsá-la do mercado (estratégia L). Neste caso, ambas as empresas
têm um alto custo e …cam com um ganho de 0. Por outro lado, F2 pode decidir não lutar
contra F1 (estratégia N ). Neste caso ambas recebem um ganho de 2. Tal situação pode ser
caracterizada pela seguinte árvore de decisão:
67

Figura 11.3: Jogo de entrada no mercado

(a) Resolva o jogo acima por indução retroativa.

(b) Suponha agora que F2 , já sabendo da possível entrada de F1 no mercado, considere a


opção de investir imediatamente em um aumento de capacidade. Neste caso, ela incorre
um custo de 3 imediatamente. Tal custo se re‡etirá nos ganhos de F2 em todas as
situações, menos no caso de uma luta pelo mercado. A idéia é que o aumento prévio
de capacidade dá uma vantagem a F2 na luta pelo mercado que compensa o seu custo.
Esta nova situação pode ser representada pela seguinte árvore de decisão:

Figura 11.4: Possibilidade de investimento prévio em capacidade

Resolva este novo jogo por indução retroativa.

Solução.

(a) Em seu único nó de decisão, é evidente que a melhor ação para F2 é escolher N . Isto
nos dá o seguinte jogo simpli…cado após um estágio de indução retroativa:
68 CAPÍTULO 11. TEORIA DOS JOGOS - JOGOS SEQUENCIAIS

Figura 11.5: Jogo de entrada no mercado após um estágio de indução retroativa

Mas agora é claro que a melhor ação para F1 é entrar no mercado. Ou seja, escolher E. A
solução do jogo por indução retroativa é, portanto, (E; N ).

(b) No seu nó de decisão superior a melhor ação para F2 é L, já no inferior a melhor ação
é N . Isto nos dá o seguinte jogo simpli…cado após um estágio de indução retroativa:

Figura 11.6: Jogo com possibilidade de investimento prévio após primeiro estágio de indução
retroativa

Agora é claro que em seu nó de decisão superior a melhor ação para F1 é F e no nó


inferior sua melhor ação é E. Isto nos dá o seguinte jogo simpli…cado após mais um
estágio de indução retroativa:
69

Figura 11.7: Jogo com possibilidade de investimento prévio após segundo estágio de indução
retroativa

Mas neste jogo simpli…cado é evidente que a melhor ação para F2 é fazer um investimento
prévio e aumentar a sua capacidade de produção. Ou seja, escolher A. Portanto, a
solução do jogo por indução retroativa é (F E; ALN ). Observe que a solução do jogo
envolve a empresa F2 investindo em uma capacidade de produção que ela nunca utiliza.
A razão para isto é a vantagem estratégica que isto lhe dá e que acaba mantendo F1
fora do mercado. k

Exercício 11.3 (Jogo da Centopéia). Considere o seguinte jogo em que os jogadores alternadamente
têm que tomar a decisão de parar ou continuar.

Figura 11.8: Jogo da centopéia

Resolva o jogo por indução retroativa.


Solução. Em seu último nó de decisão a melhor ação para 2 é parar, ou seja, escolher P .
Isto dá o seguinte jogo simpli…cado:

Figura 11.9: Jogo da centopéia após primeiro estágio de indução retroativa

Agora o último a jogar é o jogador 1, mas a sua melhor ação é novamente parar. O jogo
simpli…ca-se para
70 CAPÍTULO 11. TEORIA DOS JOGOS - JOGOS SEQUENCIAIS

Figura 11.10: Jogo da centopéia após segundo estágio de indução retroativa

Seguindo este procedimento, é fácil ver que a melhor estratégia do jogador que joga por
último sempre será parar. Portanto, a solução do jogo por indução retroativa é o per…l
de estratégias em que todos os jogadores decidem parar em todos os seus nós de decisão.
Observe que isto dá um ganho para o jogador 1 de 1 e um ganho de 0 para o joador 2. O jogo
da centopéia já foi testado extensivamente em laboratório. Na prática, o comportamento
dos agentes só se parece com o descrito na solução do jogo quando o número de estágios de
escolha do jogo é pequeno. A medida que a duração do jogo aumenta, as pessoas começam
a deixar o jogo continuar por um certo número de períodos para só então escolher parar. k

Exercício 11.4 (Divisão de Torta). Suponha que uma torta vá ser dividida entre dois
indivíduos. A divisão ocorrerá da seguinte forma. Primeiro o indivídio 1 parte a torta
em dois pedaços. Posteriormente o indivíduo 2 escolhe o seu pedaço e o pedaço restante
…ca para o indivíduo 1. Usando o conceito de indução retroativa de forma intuitiva, descreva
todas as soluções por indução retroativa do jogo nas três situações abaixo. Quando eu escrevo
de forma intuitiva isto signi…ca que você não precisa escrever a árvore de decisão do jogo
nem usar matemática. Você deve explicar a sua solução apenas com palavras.

(a) Suponha primeiro que a torta seja de um único sabor e ambos os indivíduos gostem do
sabor em questão. Descreva todas as soluções por indução retroativa do jogo neste caso.

(b) Suponha agora que a torta seja metade de chocolate e metade de baunilha. Suponha
ainda que o indivíduo 1 só goste de chocolate e o indivíduo 2 só goste de baunilha.
Suponha ainda que ao se deparar com dois pedaços com a mesma quantidade de baunilha
o indivíduo 2 pre…ra aquele que tem menos quantidade de chocolate. Descreva todas as
soluções por indução retroativa do jogo neste caso.

(c) Suponha agora que a torta seja metade de chocolate e metade de baunilha. Suponha
ainda que o indivíduo 1 goste igualmente dos dois sabores, mas que o indivíduo 2 só
goste de baunilha. Suponha ainda que ao se deparar com dois pedaços com a mesma
quantidade de baunilha o indivíduo 2 pre…ra aquele que tem menos quantidade de
chocolate. Descreva todas as soluções por indução retroativa do jogo neste caso.

Solução.

(a) Comecemos analisando a situação do …nal. Isto é, após o indivíduo 1 já haver partido
a torta. Se os dois pedaços não tiverem o mesmo tamanho o indivíduo 2 certamente
escolherá o maior pedaço, o que deixará o indivíduo 1 com menos do que a metade
da torta. Agora analisemos a situação do ponto de vista do indivíduo 1. Do ponto
de vista do indivíduo 1, sempre que ele não partir a torta exatamente ao meio este
71

…cará com um pedaço menor do que a metade da torta. Logo, a melhor ação para o
indivíduo 1 é partir a torta exatamente no meio.

(b) Novamente, comecemos analisando o jogo do …nal. Como o indivíduo 2 só gosta de


baunilha, este sempre escolherá o pedaço que tem mais baunilha. Em particular, se
o indivíduo 1 partir a torta separando a metade de chocolate da metade de baunilha
o indivíduo 2 escolherá a metade de baunilha. Isto mostra que do ponto de vista do
indivíduo 1 ele tem como obter a sua utilidade máxima no jogo, mas esta não é a
única solução do jogo. Note que qualquer particionamento da torta em que a metade
de chocolate …que toda em um mesmo pedaço e o pedaço sem chocolate inclua pelo
menos metade da quantidade de baunilha faz com que o indivíduo 2 escolha o pedaço
sem chocolate e também dá utilidade máxima ao indivíduo 1. Com qualquer outro
particionamento o indivíduo 1 …cará com um pedaço que não incluirá toda a metade
de chocolate e, portanto, não estará tomando uma ação ótima. Nós concluimos que as
soluções por indução retroativa agora são os particionamentos em que um dos pedaços
inclui toda a parte de chocolate e no máximo metade da parte de baunilha. Nestas
soluções o indivíduo 2 escolherá o pedaço sem chocolate.

(c) Comecemos analisando o jogo pelo …nal. Como o indivíduo 2 só gosta de baunilha, este
sempre escolherá o pedaço que tem mais baunilha. Como existe sempre um pedaço
com uma quantidade de baunilha igual a pelo menos 1/4 da torta, isto garante que o
indivíduo 1 nunca terminará o jogo com um pedaço maior do que 3/4 da torta. De
fato, existe apenas um particionamento que faz com que o indivíduo 1 termine com
um pedaço igual a 3/4 da torta. Tal particionamento consiste de um pedaço que inclui
toda a parte de chocolate e metade da parte de baunilha e outro que inclui apenas
metade da parte de baunilha. Observe que ao se deparar com tais pedaços o indivíduo
2 escolhe o que tem apenas baunilha. k
72 CAPÍTULO 11. TEORIA DOS JOGOS - JOGOS SEQUENCIAIS
Capítulo 12

Oligopólio

Exercício 12.1 (Fixação Simultânea de Preços com Custos Marginais Distintos). Suponha
que duas empresas vendam exatamente o mesmo produto e a competição se dê através da
…xação simultânea dos seus preços. A parte da demanda neste mercado é modelada por uma
curva de demanda linear, ou seja,

y (p) = a bp:

Quando as empresas cobram preços diferentes, somente a empresa com o menor preço atende
o mercado. As vendas e, consequentemente, o lucro da outra empresa são iguais a zero. No
caso em que as duas empresas cobram o mesmo preço, a nossa hipótese será que somente a
…rma 1 vende.12.1 Finalmente, nós assumimos que as empresas têm as seguintes funções de
custo:
C (y1 ) = c1 y1
e
C (y2 ) = c2 y2 ;
em que c2 > c1 e a=b > c2 .12.2

(a) Suponha primeiramente que a empresa 2 não exista. Ou seja, suponha que a empresa 1
seja monopolista neste mercado. Que preço ela cobrará?

(b) O caso em que as duas empresas escolhem os seus preços simultaneamente pode ser
modelado como um jogo. Por simplicidade, suponha que os conjuntos de estratégias
dos jogadores sejam A1 := [c1 ; a=b) e A2 := [c2 ; a=b). A interpretação aqui é que pi 2 Ai
é o preço escolhido pela …rma i. Os ganhos de ambos os jogadores serão dados pelos
seus lucros obtidos, de acordo com os preços escolhidos por ambas as …rmas. Seja p o
preço que você encontrou na letra (a) e suponha que c2 p. Uma das empresas tem
uma estratégia estritamente dominante neste caso. Qual delas e que estratégia é esta?
12.1
Esta hipótese tem que ser feita por razões técnicas. Sem tal hipótese, razões que não são economicamente
interessantes acabam fazendo com que o jogo não tenha equilíbrio de Nash.
12.2
A segunda condição garante que com um preço p = c2 a demanda pelo bem é estritamente positiva.

73
74 CAPÍTULO 12. OLIGOPÓLIO

(c) Dado o que nós aprendemos na letra (b), é possível perceber que o jogo acima tem um
número in…nito de equilíbrios de Nash que têm a mesma característica. A característica
de tais equilíbrios é que apenas uma empresa venderá neste mercado. A outra empresa
escolherá qualquer preço que seja superior ao cobrado pela sua concorrente. Descreva
esses equilíbrios.

(d) Suponha agora que c2 < p. Agora, embora o jogo tenha um único equilíbrio de Nash, este
continua tendo a mesma característica. Ou seja, nós continuamos tendo apenas uma
empresa vendendo em equilíbrio. Encontre o equilíbrio de Nash do jogo neste caso.

Solução.

(a) Como sempre, o objetivo da empresa 1 é maximizar o seu lucro. Se ela é monopolista no
mercado, então ela escolherá um preço que resolva o seguinte problema de maximização:

max py (p) c1 y (p)


p

A condição de primeira ordem do problema acima pode ser escrita como

y (p) + py 0 (p) c1 y 0 (p) = 0:

Dada a forma funcional para a curva de demanda agregada que nós assumimos acima,
esta condição pode ser escrita como

a bp bp + c1 b = 0:

Resolvendo a equação acima nós encontramos

a=b c1
p= + :
2 2
Observe que, como a=b > c2 > c1 , então o preço p escolhido pela …rma 1 em uma
situação de monopólio é maior do que o seu custo marginal. Tal resultado, é claro, é
consistente com o que aprendemos quando estudamos monopólio.

(b) É fácil ver que quem tem uma estratégia estritamente dominante é a empresa 1. Tal
estratégia é exatamente escolher p1 = p. Observe que, como p c2 e c2 é o mínimo
preço que a empresa 2 pode cobrar, ao escolher p1 = p a empresa 1 garante que só ela
estará atuando no mercado. Como nós vimos na letra (a) que p é o nível de preços
que maximiza o lucro da …rma 1 em uma situação de monopólio, nós concluímos que
escolher p1 = p também maximizará o lucro de 1 agora, independentemente do que a
…rma 2 estiver fazendo.12.3
12.3
Observe que contra qualquer estratégia da empresa 2, se a empresa 1 jogar um valor p1 6= p duas coisas
podem acontecer. Primeiramente, pode ser que p1 > p2 , o que daria um lucro nulo para a …rma 1. Segundo,
pode ser que p1 p2 . Neste caso só a …rma 1 vende, mas o preço p1 escolhido não é o ótimo em uma situação
de monopólio. Isto implica que o lucro dela será menor do que se ela tivesse escolhido um preço igual a p:
75

(c) Como a empresa 1 tem uma estratégia estritamente dominante, ou seja, uma estratégia
que é sua única melhor resposta contra qualquer estratégia da empresa 2, é claro
que qualquer equilíbrio de Nash do jogo necessariamente terá a empresa 1 escolhendo
p1 = p. Como p1 = p c2 , independentemente de sua escolha, a empresa 2 não venderá
nada. Ou seja, todas as suas estratégias lhe darão um lucro nulo e, consequentemente,
qualquer estratégia é uma melhor resposta para a empresa 2. Nós concluímos que todos
os per…s do tipo (p1 ; p2 ) em que p1 = p e p2 2 A2 são equilíbrios de Nash do jogo.

(d) Primeiramente, é fácil ver que o jogo não pode ter nenhum equilíbrio de Nash em que
p1 > p2 . Em tal situação somente a empresa 2 estará vendendo. Porém, dado A2 ,
nós sabemos que p2 > c1 , o que implica que se a empresa 1 escolhesse um preço entre
c1 e p2 , ela teria um lucro positivo. Nós aprendemos, então, que qualquer equilíbrio
de Nash do jogo tem que satisfazer p1 p2 . Agora observe que, se p1 > c2 , então
a empresa 2 poderia obter um lucro estritamente positivo se ela escolhesse um preço
entre c2 e p1 . Ou seja, nenhum preço p2 p1 pode ser uma melhor resposta para a
empresa 2 neste caso. Nós concluímos que o jogo não tem nenhum equilíbrio de Nash
em que p1 > c2 . Vejamos se existe algum equilíbrio de Nash em que p1 < c2 . Neste
caso, apenas a empresa 1 estará vendendo no mercado. Não é difícil ver que escolher
um preço entre p1 e c2 seria mais lucrativo para a …rma 1.12.4 Testemos agora se per…s
em que p1 = c2 e p2 > p1 são equilíbrios de Nash. Com p1 = c2 , independentemente
do preço escolhido pela …rma 2, ela não venderá nada. Ou seja, qualquer estratégia
é uma melhor resposta para a …rma 2 neste caso. No entanto, se p2 > c2 , então a
…rma 1 poderia aumentar o seu lucro se ela escolhesse um preço menor ou igual a p
e entre c2 e p2 . A última opção que nos resta é testar o que aconteceria com o per…l
(p1 ; p2 ) = (c2 ; c2 ). Pela nossa discussão anterior nós já sabemos que a …rma 2 está
de fato jogando uma melhor resposta. Como a …rma 1 está jogando o máximo preço
que ela pode escolher antes de perder completamente o mercado e tal preço está na
região em que seu lucro é uma função crescente de p1 , nós notamos que ela também
está jogando uma melhor resposta. Nós concluímos que (p1 ; p2 ) = (c2 ; c2 ) é o único
equilíbrio de Nash do jogo neste caso. k

Exercício 12.2 (Cournot com Custos Fixos). Suponha que duas empresas vendam exatamente
os mesmos produtos e que a competição entre ambas se dê pela …xação simultânea das
quantidades a serem produzidas. Novamente, suponha que a demanda seja representada
por uma curva de demanda inversa linear, ou seja,

p (y1 + y2 ) = a b (y1 + y2 ) :

Suponha, também, que o custo de produção de ambas as …rmas seja dado por

C (yi ) = d + cyi :
12.4
Observe que a função lucro da empresa 1, quando ela age como monopolista, é uma parábola que atinge
o seu máximo em p1 = p. Portanto, para valores de p1 entre 0 e p, o lucro da empresa 1, quando ela
monopoliza o mercado, é uma função crescente de p1 . Este é o argumento formal que mostra que escolher
um valor p1 < c2 não pode ser uma melhor resposta para a …rma 1.
76 CAPÍTULO 12. OLIGOPÓLIO

(a) Suponha que as empresas paguem o custo …xo d, mesmo se decidirem não produzir. Isto
é, suponha que mesmo que a empresa i escolha yi = 0, ainda assim seu custo seja dado
por C (0) = d + c 0 = d. Encontre o único equilíbrio de Nash do jogo neste caso.
(b) Suponha que a = 5, b = 1, d = 2 e c = 2. Calcule o lucro que ambas as empresas
obteriam no equilíbrio acima.
(c) Se você fez as contas corretamente, você notou que o lucro obtido por ambas as empresas
no equilíbrio acima foi negativo. Suponha agora que ambas as empresas tenham uma
estratégia adicional de não entrar no mercado. Neste caso, elas não produzem nada,
mas também não têm nenhum custo. Suponha que a empresa 2 esteja usando esta
estratégia. Qual a melhor resposta para a …rma 1?
(d) Mostre que, dados os valores dos parâmetros na letra (b), quando a …rma 1 produz a
quantidade que você encontrou na letra (c), a melhor resposta para a …rma 2 é realmente
…car fora do mercado. Isto é, mostre que qualquer quantidade que a …rma 2 resolva
produzir lhe dará um lucro negativo.

Solução.

(a) Suponha que a empresa 2 esteja produzindo uma quantidade genérica y2 . Neste caso, a
melhor resposta da empresa 1 resolve o seguinte problema de maximização:

max p (y1 + y2 ) y1 d cy1


y1

A condição de primeira ordem do problema acima é

p0 (y1 + y2 ) y1 + p (y1 + y2 ) = c:

Em termos da forma funcional da curva de demanda inversa que nós assumimos acima
a expressão acima pode ser reescrita como

by1 + a b (y1 + y2 ) = c:

Isolando y1 na equação acima nós encontramos


a c y2
y1 = :
2b 2
Um raciocínio análogo nos mostra que se a …rma 1 estiver produzindo uma quantidade
genérica y1 , então a melhor resposta para a …rma 2 será
a c y1
y2 = :
2b 2
As duas equações acima formam um sistema linear com duas equações e duas incógnitas.
Resolvendo o sistema acima nós obtemos
a c
y1 = y2 = :
3b
a c a c
Nós concluímos que o único equilíbrio de Nash do jogo acima é (y1 ; y2 ) = 3b
; 3b .
77

(b) Dados os valores na questão nós teríamos

5 2
y1 = y2 = = 1:
3
Isto nos daria
p=5 1 (1 + 1) = 3:
O lucro das duas …rmas, portanto, seria dado por

=3 1 2 2 1= 1:

(c) Se a empresa 2 não está produzindo nada, então a …rma 1 é monopolista no mercado.
Ou seja, ela resolve o problema

max p (y1 ) y1 d cy1


y1

A condição de primeira ordem do problema acima é

p0 (y1 ) y1 + p (y1 ) = c;

que pode ser reescrita como


by1 + a by1 = c:
Resolvendo a equação acima nós obtemos
a c
y1 = :
2b
Substituindo pelos valores dos parâmetros que nós assumimos na letra (b) nós obtemos

5 2 3
y1 = = :
2 1 2
Para con…rmarmos que y1 = 32 é de fato a melhor resposta para a …rma 1 neste caso,
nós ainda temos que comprovar que ela é melhor do que a estratégia de …car fora do
mercado. Isto é, temos que comprovar que tal escolha dá um lucro não negativo para
a empresa 1. Com tal valor de y1 nós temos
3 7
p=5 1 = :
2 2
O lucro da …rma 1 será dado por
7 3 3 1
1 = 2 2 = :
2 2 2 4
3
Como o lucro da …rma 1 é de fato positivo, nós concluímos que escolher y1 = 2
éa
melhor resposta para a …rma 1.
78 CAPÍTULO 12. OLIGOPÓLIO

(d) Suponha que a …rma 1 esteja produzindo y1 = 23 . Caso a …rma 2 resolva entrar no
mercado, o máximo lucro que ela poderá obter vem da solução do seguinte problema:

max p (y1 + y2 ) y2 d cy2


y2

Da parte (a) nós sabemos que a escolha ótima para a …rma 2 neste caso é
a c y1
y2 =
2b 2
5 2 3=2
=
2 2
3
= :
4
Tal escolha da …rma 2 implica que o preço do bem será

3 3 11
p=5 + = :
2 4 4

O que daria um lucro pra …rma 2 igual a


11 3 3 23
= 2 2 = :
4 4 4 16
Como o máximo lucro que a …rma 2 pode obter é negativo, nós concluímos que a sua
melhor resposta é realmente …car fora do mercado. k

Exercício 12.3 (Liderança de quantidade com custo quadrático). Suponha que duas empresas
produzam o mesmo produto e suas funções de custo sejam dadas por c(yi ) = yi2 . Suponha
também que a demanda pelo bem y seja representada pela seguinte curva de demanda inversa:

p(y1 + y2 ) = 56 (y1 + y2 ):

Finalmente, suponha que a …rma 1 tome a sua decisão de produção antes da …rma 2. Somente
após tomar conhecimento da decisão de produção da …rma 1 é que a …rma 2 decide o quanto
ela vai produzir. Modele a situação acima como um jogo sequencial e encontre as quantidades
que as duas …rmas vão produzir em equilíbrio usando o método de indução retroativa.

Solução. O jogo é simplesmente o jogo de Stackelberg descrito nas notas de aula. A árvore
de decisão do jogo pode ser representada por
79

em que
1 (y1 ; y2 ) = p(y1 + y2 )y1 y12
e
2 (y1 ; y2 ) = p(y1 + y2 )y2 y22 :
A primeira coisa a fazer é identi…car as melhores respostas da …rma 2 quando a …rma 1
produz uma quantidade genérica y1 . Neste caso, o problema da …rma 2 pode ser escrito
como:
max(56 (y1 + y2 ))y2 y22
y2

A condição de primeira ordem do problema acima nos dá


56 y1
y2 (y1 ) = :
4
Após o primeiro estágio de indução retroativa o jogo é simpli…cado para

Tudo que temos que fazer agora é encontrar a quantidade ótima que a …rma 1 vai escolher.
Isto é, temos que resolver o seguinte jogo:
3y1
max 1 (y1 ; y2 (y1 )) = (42 )y1 y12
y1 4
Da condição de primeira ordem do problema acima nós obtemos que y1 = 12. Substituindo
tal valor na expressão que nós encontramos para y2 nós obtemos y2 = 11: k
80 CAPÍTULO 12. OLIGOPÓLIO
Capítulo 13

Economia da Informação

Exercício 13.1. Considere a seguinte variação do modelo de seleção adversa que estudamos
nas notas de aula. Como nas notas de aula, existe uma certa quantidade de potenciais
vendedores de carros cuja qualidade se distribui de maneira uniforme entre 0 e 1. O proprietário
de um carro de qualidade q aceita vendê-lo por qualquer preço maior ou igual a q. Existe
um número grande de potenciais compradores de carro. A nossa hipótese agora será que se
a qualidade média (ou esperada) dos carros a venda for q, então o preço que faz o potencial
comprador indiferente entre comprar ou não um carro é q, em que 1 < < 2.

(a) Baseado na de…nição nas notas de aula, de…na um equilíbrio competitivo para este
modelo.

(b) Mostre que, independentemente do valor de , o único equilíbrio competitivo do modelo


acima é a situação em que nenhum carro é vendido.

Solução.

(a) Como existe um número grande de compradores, para existir um equilíbrio os compradores
têm que ser indiferentes entre comprar e não comprar um carro. Portanto, um equilíbrio
competitivo é um preço p que faz com que os compradores sejam indiferentes entre
comprar e não comprar um carro. Formalmente:

De…nição 13.1. Um equilíbrio competitivo é um preço p tal que a qualidade média,


q, dos carros que são vendidos a um preço p satisfaça q = p.

(b) Dada a nossa hipótese de que a qualidade se distribui de maneira uniforme entre 0 e 1, se
o preço de um carro é p, então a qualidade média dos carros que estão sendo vendidos
é q = p=2. Portanto, para que tenhamos um equilíbrio competitivo é necessário que
p
= p.
2
Como 6= 2, o único valor de p que satisfaz a condição acima é p = 0. Sob um preço
p = 0 nenhum carro é vendido, como queríamos mostrar. k

81
82 CAPÍTULO 13. ECONOMIA DA INFORMAÇÃO

Exercício 13.2 (Sinalização com custo para agente produtivo). Considere o modelo de
sinalização que estudamos nas notas de aula. A única diferença é que agora assumiremos
que o agente do tipo H também tem que pagar um custo cH para obter educação.
(a) Escreva a representação matricial do jogo com esta pequena modi…cação.
(b) Suponha que H cH > H + (1 ) L . Mostre que neste caso a solução do jogo não
se altera. Isto é, mostre que as proposições 1 e 2 nas notas de aula continuam válidas.
(c) Suponha agora que H cH < H +(1 ) L . Mostre que, independentemente de outras
hipóteses, o jogo pode ser resolvido por eliminação iterativa de estratégias estritamente
dominadas.
Solução.
(a) A única coisa que temos que fazer é subtrair cH do ganho de H quando este joga E.
Fora isto, a matriz do jogo é a mesma do jogo original. Ou seja,
L
E N
:
E H + (1 ) L cH ; H + (1 ) L cL H cH ; L
H
N H; L cL H + (1 ) L ; H + (1 ) L

(b) Suponha primeiro que H +(1 ) L cL > L . Se H jogar E, então a melhor hipótese
para L é jogar E. Mas quando L joga E a melhor resposta para H é jogar N . Nós
concluímos que não existe equilíbrio de Nash com H jogando E. Quando H joga N a
melhor resposta para L é jogar N . Porém, dada a hipótese na questão, quando L joga N
a melhor resposta para H é jogar E. Nós concluímos que também não existe equilíbrio
de Nash com H jogando N . Como isto encerra todas as possibilidades, nós concluímos
que o jogo não tem equilíbrio de Nash. Suponha agora que H + (1 ) L cL L.
Se L joga E, então a melhor resposta para H é jogar N . Mas quando H joga N
a melhor resposta para L é jogar N . Nós concluímos que não existe equilíbrio com
L jogando E. No entanto, quando L joga N , a melhor resposta de H é jogar E.
Observe, também, que quando H joga E, jogar N é de fato uma melhor resposta para
L. Portanto (E; N ) é um equilíbrio de Nash do jogo neste caso. Como nós já testamos
todas as possibilidades, nós sabemos ainda que (E; N ) é o único equilíbrio.
(c) Dada a hipótese na questão, é fácil ver que jogar N é uma estratégia estritamente
dominante para H. Alternativamente nós poderíamos dizer que E é uma estratégia
estritamente dominada para H e, portanto, pode ser eliminada do jogo. O jogo
simpli…ca-se para
L
E N
H N H; L cL H + (1 ) L; H + (1 ) L

É claro que agora jogar E é estritamente dominada por N para o jogador L. Portanto,
a solução do jogo por eliminação iterativa de estratégias estritamente dominadas é
(N; N ) : k
83

Exercício 13.3 (Inexistência de Equilíbrio no Modelo de Filtragem). Considere o modelo


de …ltragem que nós estudamos nas notas de aula. Lembre-se que nós mostramos que caso o
modelo tenha equilíbrio, então o contrato direcionado ao trabalhador do tipo L será (wL ; tL ) =
( L ; 0) e o direcionado ao trabalhador do tipo H será (wH ; tH ) = H ; HcL L .

(a) Represente tal equilíbrio gra…camente (está praticamente feito nas notas de aula).

(b) Suponha que H + (1 ) L > wH cH tH . Represente este fato no grá…co que você
fez na letra (a).

(c) Mostre que se a condição em (b) for verdade, existe um tipo de contrato que uma
empresa entrante pode oferecer que atrai os dois tipos de trabalhadores e lhe dá um
lucro estritamente positivo. Conclua que neste caso o modelo não tem equilíbrio.

Solução.

(a)

Figura 13.1: Equilíbrio

(b) Observe que ! H cH tH é exatamente o ponto em que a curva de indiferença do agente


H que passa por (wH ; tH ) intercepta o eixo y. Portanto, a representação grá…ca do
fato mencionado no enunciado da questão resume-se simplesmente a
84 CAPÍTULO 13. ECONOMIA DA INFORMAÇÃO

Figura 13.2: Candidato a equilíbrio quando é grande.

(c) Na …gura abaixo nós vemos que o contrato w; ~ t~ atrairia os dois tipos de trabalhadores.
Como w~ < H + (1 ) L , tal contrato daria um lucro estritamente positivo para
a …rma entrante. Como a nossa análise anterior mostrou que o único candidato a
equilíbrio neste caso era o par de contratos (wL ; tL ) e (wH ; tH ), nós concluímos que
neste caso o modelo não tem equilíbrio.

Figura 13.3: Contrato lucrativo para a …rma entrante.

k
Exercício 13.4. Considere o modelo de perigo moral nas notas de aula. Lá nós a…rmamos
que, no caso em que o esforço não é observável e a …rma quer induzir o gerente a se
esforçar, as duas restrições do problema da …rma serão satisfeitas com igualdade. Mostre
isto (principalmente mostrar que a segunda restrição tem que ser satisfeita com igualdade
não é tão simples. Se você preferir, você pode escrever apenas a intuição do fato, sem se
preocupar muito com os detalhes).
Solução. Lembre-se que o problema da …rma era

e = max pe ( H wH ) + (1 pe ) ( L wL )
wH ;wL
85

sujeito a
pe u (wH ) + (1 pe ) u (wL ) ce 0
pe u (wH ) + (1 pe ) u (wL ) ce pn u (wH ) + (1 pn ) u (wL ) :
Suponha que o problema acima tenha uma solução (wH ; wL ) que não satisfaça a primeira
restrição com igualdade. Ou seja,

pe u (wH ) + (1 pe ) u (wL ) ce > 0:

Mas considere um novo contrato (w~H ; w~L ) em que w~H = wH e w~L = wL " para um valor
" > 0 pequeno.13.1 Quando " é pequeno o su…ciente, ainda é verdade que

pe u (w~H ) + (1 pe ) u (w~L ) ce > 0:

Por outro lado,

pe u (w~H ) + (1 pe ) u (w~L ) ce = pe u (wH ) + (1 pe ) u (wL ) ce (1 pe ) (u (wL ) u (w~L ))


pn u (wH ) + (1 pn ) u (wL ) (1 pe ) (u (wL ) u (w~L ))
> pn u (wH ) + (1 pn ) u (wL ) (1 pn ) (u (wL ) u (w~L ))
= pn u (w~H ) + (1 pn ) u (w~L ) :

Portanto, (w~H ; w~L ) também satisfaz a segunda restrição. Como (w~H ; w~L ) obviamente dá um
lucro maior para a …rma do que (wH ; wL ), nós chegamos a uma contradição. Concluímos,
então, que qualquer solução do problema acima necessariamente tem que satisfazer a primeira
restrição com igualdade.
Suponha agora que (wH ; wL ) seja uma solução do problema que satisfaça a segunda
restrição com desigualdade, isto é suponha que

pe u (wH ) + (1 pe ) u (wL ) ce > pn u (wH ) + (1 pn ) u (wL ) :

Considere o seguinte par de salários:

w~H = wH + (1 ) (pe wH + (1 pe ) wL )

e
w~L = wL + (1 ) (pe wH + (1 pe ) wL ) ;
em que é bem próximo de 1.13.2 Com su…cientemente próximo de 1, ainda é verdade que

pe u (w~H ) + (1 pe ) u (w~L ) ce > pn u (w~H ) + (1 pn ) u (w~L ) :


13.1
A intuição aqui é a seguinte. Como a primeira restrição está sendo satisfeita com desigualdade estrita,
quando nós reduzimos um pouco o salário wL , esta continua sendo satisfeita. Mas agora observe que a
probabilidade do gerente receber wL é maior se ele não se esforçar do que se ele se esforçar. Portanto, dimuir
wL penalisa mais o lado direito da restrição de compatibilidade de incentivos do que o lado esquerdo. Assim,
se aquela restrição já era satisfeita antes, com uma diminuição de wL ela é satisfeita ainda mais facilmente.
13.2
A intuição agora é uma pouco mais sutil. O contrato (w ~H ; w
~L ) dá ao gerente, quando ele se esforça, o
mesmo salário esperado, pe wH + (1 pe ) wL , do que o contrato (wH ; wL ). A diferença é que (w ~H ; w
~L ) é um
contrato menos arriscado do que (wH ; wL ). Como (w ~H ; w
~L ) é bem próximo de (wH ; wL ) e (wH ; wL ) satisfaz a
segunda restrição com desigualdade estrita, (w ~H ; w
~L ) também satisfaz a segunda restrição com desigualdade
86 CAPÍTULO 13. ECONOMIA DA INFORMAÇÃO

Agora observe que, como u é estritamente côncava,

u (w~H ) = u ( wH + (1 ) (pe wH + (1 pe ) wL ))
> u (wH ) + (1 ) u (pe wH + (1 pe ) wL )
> u (wH ) + (1 ) [pe u (wH ) + (1 pe ) u (wL )]

u (w~L ) = u ( wL + (1 ) (pe wH + (1 pe ) wL ))
> u (wL ) + (1 ) u (pe wH + (1 pe ) wL )
> u (wL ) + (1 ) [pe u (wH ) + (1 pe ) u (wL )] :

Mas observe que

pe f u (wH ) + (1 ) [pe u (wH ) + (1 pe ) u (wL )]g


+ = pe u (wH ) + (1 pe ) u (wL ) :
(1 pe ) f u (wL ) + (1 ) [pe u (wH ) + (1 pe ) u (wL )]g

Mas então,

pe u (w~H ) + (1 pe ) u (w~L ) ce > pe u (wH ) + (1 pe ) u (wL ) ce


0:

Ou seja, o contrato (w~H ; w~L ) satisfaz as duas restrições do problema com desigualdade estrita.
Portanto, se de…nirmos um novo contrato (w^H ; w^L ) = (w ~H "; w~L "), para " pequeno o
su…ciente, ainda será verdade que (w^H ; w^L ) satisfará as duas restrições do problema. Mas
observe que

pe w^H + (1 pe ) w^L = pe w~H + (1 pe ) w~L "


= pe wH + (1 pe ) wL ":

Mas isto implica que o lucro da …rma com (w^H ; w^L ) é maior do que o lucro da …rma com
(wH ; wL ), o que é uma contradição. Nós concluímos que qualquer solução do problema acima
também tem que satisfazer a segunda restrição com igualdade. k

Exercício 13.5 (Perigo Moral com gerente neutro ao risco). Considere novamente o modelo
de perigo moral que estudamos nas notas de aula, mas agora suponha que a função u do
gerente é dada simplesmente por u (w) = w. Ou seja, o gerente também é neutro ao risco.
estrita. Como o gerente é estritamente avesso ao risco, ele considera (w ~H ; w
~L ) estritamente melhor do que
(wH ; wL ). Já que (wH ; wL ) satisfaz a primeira restrição, nós aprendemos que (w ~H ; w
~L ) satisfaz a primeira
restrição com desigualdade estrita. Como (w ~H ; w
~L ) satisfaz as duas restrições do problema com desigualdade
estrita, nós podemos reduzir um pouco w ~H e w~L que continuaremos satisfazendo ambas as restrições. Mas
tal contrato geraria um salário esperado menor do que pe wH + (1 pe ) wL , o que implica que o lucro da
…rma seria maior em tal caso. Isto contradiz o fato de que (wH ; wL ) é uma solução para o problema da …rma.
Nós concluímos que qualquer solução para o problema da …rma tem que satisfazer a segunda restrição com
igualdade.
87

(a) Considere primeiro o caso em que o esforço é observável. Argumente que, tanto no caso
em que a empresa quer induzir o gerente a se esforçar, quanto no caso em que ela
não quer, o problema da …rma tem in…nitas soluções, todas elas dando o mesmo lucro
esperado para a …rma, é claro.

(b) Suponha que no caso em que o esforço é observável, a melhor opção para a …rma seja
contratar o gerente e exigir que ele se esforce. Considere agora o caso em que a …rma
não pode observar o esforço, mas ela quer induzir o gerente a se esforçar. Uma das
soluções do problema da …rma no caso em que o esforço é observável ainda é uma
solução para o problema agora. A solução admite a seguinte interpretação: A …rma
vende o projeto para o gerente e deixa ele tomar a decisão de se esforçar ou não.
Escreva os detalhes desta solução (Dica1: Vender o projeto para o gerente simplesmente
signi…ca que o lucro da …rma será constante, independentemente de o projeto ter lucro
alto ou baixo. Dica2: Você não tem que fazer conta. Por favor, nada de Lagrangeano
nem coisas do gênero. Apenas use a única solução do caso com esforço observável que
dá um lucro constante para a …rma.).

Solução.

(a) O problema da …rma quando ela quer que o gerente se esforce é

e = max pe ( H wH ) + (1 pe ) ( L wL )
wH ;wL

sujeito a
pe (wH ce ) + (1 pe ) (wL ce ) 0:
Novamente, é óbvio que qualquer solução para o problema acima tem que satisfazer
a restrição com igualdade. Ou seja, qualquer possível solução para o problema acima
tem que satisfazer
pe (wH ce ) + (1 pe ) (wL ce ) = 0;
ou, equivalentemente,
pe wH + (1 pe ) wL = ce : (13.1)
Mas observe que o lucro da …rma com qualquer contrato que satisfaça a condição acima
é

e = pe ( H wH ) + (1 pe ) ( L wL )
= pe H + (1 pe ) L ce :

Ou seja, ele independe dos exatos valores de wH e wL . Nós concluímos que qualquer
contrato que satisfaça (13.1) é solução para o problema da …rma neste caso. Uma
análise absolutamente similar mostra que qualquer contrato que satisfaça

pn wH + (1 pn ) wL = 0

resolve o problema da …rma quando ela não quer que o gerente se esforce.
88 CAPÍTULO 13. ECONOMIA DA INFORMAÇÃO

(b) Seguindo a dica, vamos primeiro identi…car a única solução do caso em que o esforço
é observável que dá um lucro constante para a …rma. Isto é, queremos identi…car os
valores de wH e wL que satisfazem

H wH = L wL :

Como adicionalmente nós já sabemos que wL e wH têm que satisfazer

pe wH + (1 pe ) wL = ce ;

nós …camos com um sistema linear simples para resolver. Resolvendo o sistema acima
nós obtemos
wL = ce pe ( H L)

e
wH = ce + (1 pe ) ( H L) :

Observe que nós podemos reescrever wL e wH como

wL = L e

e
wH = H e;

em que e = pe H + (1 pe ) L ce é o lucro que a …rma obtém quando ela induz o


esforço no caso observável. Observe que tal representação dos salários está de acordo
com a interpretação do comportamento da …rma descrita no enunciado da questão. Por
construção, nós já sabemos que o contrato acima satisfaz a restrição de participação
do problema da …rma quando ela quer induzir o esforço.13.3 Precisamos mostrar agora
que tal contrato satisfaz a restrição de compatibilidade de incentivos. Lembre-se que,
por hipótese, o lucro da …rma é maior, no caso de esforço observável, quando a …rma
exige que o gerente se esforce. Matematicamente isto signi…ca que

pe H + (1 pe ) L ce pn H + (1 pn ) L:

Agora observe que

pe wH + (1 pe ) wL ce = pe H + (1 pe ) L e ce
pn H + (1 pn ) L e
= pn wH + (1 pn ) wL :

Portanto a restrição de compatibilidade de incentivos também é satisfeita. Como o


contrato acima resolvia o problema da …rma mesmo quando o esforço era observável,
ou seja, com uma restrição a menos, ele também tem que ser solução para o problema
agora. k
13.3
A…nal de contas, esta restrição também estava presente quando o esforço era observável.
89

Exercício 13.6. Um investidor está pensando em comprar um campo de petróleo. A probabilidade


de que existam 20 barris de petróleo no campo é igual a 1=3, a probabilidade de que existam
40 é também 1=3. Por …m, novamente com probabilidade igual a 1=3 pode ser que existam
120 barris de petróleo no campo. O dono atual do campo de petróleo poderia obter um lucro
de 1 real por barril. Ou seja, se o campo tivesse 40 barris o seu lucro seria de 40 reais. O
investidor é um produtor mais e…ciente e conseguiria obter um lucro de 1,50 reais por barril
caso este comprasse o campo. Ou seja, se o campo tivesse 40 barris ele obteria um lucro
de 60 reais. O dono do campo fez uma pesquisa intensa e sabe exatamente quantos barris
existem lá, mas o investidor não sabe. O investidor é neutro ao risco, ou seja, sua única
preocupação é maximizar o seu lucro esperado. Seja p o preço pelo qual o campo de petróleo
está sendo vendido. Além disto, suponha que se o dono do campo de petróleo fosse indiferente
entre vender ou não vender o campo pelo preço p, então ele venderia. Qual o máximo valor
de p pelo qual um investidor inteiramente racional aceitaria comprar o campo?
Solução. O segredo aqui é perceber que o problema é uma questão de seleção adversa.
Primeiro observe que caso o dono do campo de petróleo soubesse que o número de barris
ali fosse 120, ele só aceitaria vender o campo por um preço maior ou igual a 120 reais.
Mas suponha que o campo esteja sendo vendido por um preço maior ou igual a 120 reais.
Neste caso o investidor sabe que existe uma probabilidade igual a um terço de que o campo
contenha 20, 40 ou 120 barris. Mas então o seu lucro esperado será
1 1 1
= 180 + 60 + 30 p
3 3 3
= 90 p
< 0:

Ou seja, quando p 120 o investidor espera ter um lucro negativo com o campo de petróleo
e, portanto, não o compraria. Com um preço p < 120, o investidor sabe que se o dono está
aceitando vender o campo de petróleo, então este não tem 120 barris. Se p 40, então o
dono do campo aceitaria vendê-lo caso ele tivesse 20 ou 40 barris. Como as probabilidades
iniciais de haver 20 ou 40 barris eram iguais, ao aprender que não existe mais a possibilidade
da existência de 120 barris o investidor conclui que agora as probabilidades de haver 20 ou
40 barris são ambas iguais a 1/2. Sob tais probabilidades o lucro esperado pelo investidor
com a compra do campo é
1 1
= 60 + 30 p
2 2
= 45 p:

Portanto, para p 45 o lucro do investidor seria positivo e de fato 45 é o maior valor para
o qual isto ocorreria. k
90 CAPÍTULO 13. ECONOMIA DA INFORMAÇÃO
Capítulo 14

Externalidades e Bens Públicos

Exercício 14.1. Suponha que dois agentes estão decidindo o quão rápido dirigir. O agente i
escolhe a velocidade xi e recebe utilidade u (xi ) por isto. Por hipótese, u0 (xi ) > 0 e u00 (xi ) <
0. Contudo, quanto mais rápido os agentes dirigirem, maior é a probabilidade de eles terem
um acidente. Suponha que os agentes podem escolher apenas velocidades entre 0 e 1/2. Neste
caso, a probabilidade de um acidente será dada por p (x1 ; x2 ) = x1 + x2 . Para completar a
descrição das utilidades dos agentes, suponha que em caso de acidente o agente i tenha um
prejuízo ci > 0. Finalmente, a nossa hipótese é que os agentes maximizam a sua utilidade
esperada e que as suas funções de utilidade (Bernoulli) são quasi-lineares em relação ao
dinheiro. Isto é, a utilidade do agente i é dada por

U i (x1 ; x2 ) = p (x1 ; x2 ) (u (xi ) ci ) + (1 p (x1 ; x2 )) u (xi )


= u (xi ) p (x1 ; x2 ) ci :

(a) Encontre as condições que caracterizam as velocidades que maximizam a soma das
utilidades dos dois agentes (velocidades e…cientes).

(b) A situação acima está no formato de um jogo em que as estratégias dos jogadores é
escolher xi . Encontre as condições que caracterizam um equilíbrio de Nash para tal
jogo e mostre que os jogadores dirigirão mais rápido do que as velocidades e…cientes.

(c) Suponha agora que em caso de acidente o agente i receba uma multa ti : De quanto deve
ser a multa cobrada de cada agente para que eles escolham os níveis de velocidade
e…cientes?

Solução.

(a) Para responder a questão temos que resolver o seguinte problema:

max u (x1 ) + u (x2 ) (x1 + x2 ) (c1 + c2 )


x1 ;x2

Das condições de primeira ordem do problema acima nós aprendemos que as velocidades
e…cientes serão caracterizadas pelas condições

u0 (xe1 ) = (c1 + c2 )

91
92 CAPÍTULO 14. EXTERNALIDADES E BENS PÚBLICOS

e
u0 (xe2 ) = (c1 + c2 ) :

(b) Quando o jogador 2 joga uma velocidade x2 , a melhor resposta para o jogador 1 resolve
o seguinte problema:
max u (x1 ) (x1 + x2 ) c1 :
x1

A condição de primeira ordem do problema acima é

u0 (x1 ) = c1 :

Similarmente, quando o jogador 1 joga uma velocidade x1 , a melhor resposta para o


jogador 2 resolve o seguinte problema:

max u (x2 ) (x1 + x2 ) c2 :


x2

A condição de primeira ordem do problema acima é

u0 (x2 ) = c2 :

Na verdade, ambos os jogadores têm estratégias estritamente dominantes neste jogo.


Porém, para nós o que realmente importa é que o único equilíbrio de Nash do jogo será
caracterizado pelas condições
u0 (x1 ) = c1
e
u0 (x2 ) = c2 :
Mas observe que
u0 (xi ) = ci < c1 + c2 = u0 (xei ) :
Como u é uma função estritamente côncava, ou seja, u0 é uma função estritamente
decrescente, nós concluímos que xi > xei :

(c) O problema do agente i no caso em que ele tem que pagar uma multa ti em caso de
acidente torna-se
max u (xi ) (x1 + x2 ) (ci + ti )
xi

A condição de primeira ordem do problema acima é

u0 (xi ) = ci + ti .

Fica claro, então, que as multas que fazem com que os agentes escolham as velocidades
ótimas são
t1 = c2 e t2 = c1 : k
93

Exercício 14.2. Suponha que uma …rma produza um determinado produto x que é vendido
por um preço p. Ao produzir x a …rma gera uma externalidade negativa h. O custo de
produção da …rma é representado por uma função c (x; h), em que
dc (x; h)
cx (x; h) = >0
dx
e
dc (x; h)
ch (x; h) = < 0.
dh
A externalidade afeta um único consumidor cuja utilidade é dada por w (h), em que w
é a riqueza do consumidor, que nós consideraremos aqui como …xa.
(a) Como a função de utilidade do consumidor é linear em relação a sua renda, o conceito
apropriado para determinar os níveis socialmente ótimos de produção neste caso é
maximizar a soma da utilidade do consumidor mais o lucro da …rma. Escreva tal
problema de maximização e determine as condições de primeira ordem que caracterizam
sua solução.
(b) Escreva o problema da …rma quando ela tem como objetivo maximizar o seu lucro e
encontre as condições de primeira ordem que caracterizam a solução de tal problema.
(c) Suponha agora que o governo queira colocar um imposto sobre o nível de produção do
bem x. Mostre que com tal tipo de imposto não é possível fazer com que a …rma produza
as quantidades e…cientes de x e h. Mostre que com um imposto diretamente sobre a
produção de h isto é possível.
(d) Mostre, no entanto, que se h for sempre produzido como uma proporção …xa de x, isto é,
h (x) = x, para algum > 0, então um imposto sobre a produção de x pode restituir
a e…ciência.
Solução.
(a) O problema de maximização que caracteriza os níveis de produção e…cientes é
max px c (x; h) + w (h)
x;h

As condições de primeira ordem do problema acima são


p = cx (x; h)
e
0
ch (x; h) = (h) :
(b) O problema da …rma é
max px c (x; h)
x;h

As condições de primeira ordem do problema acima são


p = cx (x; h)
e
0 = ch (x; h) :
94 CAPÍTULO 14. EXTERNALIDADES E BENS PÚBLICOS

(c) Com um imposto sobre a produção de x, o problema da …rma torna-se


max (p t) x c (x; h)
x;h

As condições de primeira ordem do problema acima são


p t = cx (x; h)
e
0 = ch (x; h) :
Como tal imposto não afeta a condição de primeira ordem em relação a produção da
externalidade, em geral não é possível corrigir os problemas de ine…ciência com tal
tipo de imposto. Quando colocamos um imposto diretamente sobre a produção da
externalidade o problema da …rma torna-se
max px c (x; h) th
x;h

As condições de primeira ordem do problema acima são


p = cx (x; h)
e
t = ch (x; h)
0
Portanto, se t = (he ), em que he é o nível de produção de externalidade e…ciente, a
…rma produzirá as quantidades e…cientes.
(d) Primeiramente, no caso em que h é sempre uma proporção de x o problema que
caracteriza e…ciência é
max px c (x; x) + w ( x)
x
A condição de primeira ordem do problema acima é
0
p = c1 (x; x) + c2 (x; x) + ( x) :
Já o problema de maximização de lucro da …rma torna-se
max px c (x; x)
x

A condição de primeira ordem do problema acima é


p = c1 (x; x) + c2 (x; x) :
Finalmente, o problema da …rma com um imposto sobre o nível de produção de x é
max (p t) x c (x; x)
x

A condição de primeira ordem do problema acima é


p t = c1 (x; x) + c2 (x; x) :
Portanto, se t = 0 ( xe ), em que xe é o nível de produção e…ciente, a …rma escolherá
produzir a quantidade e…ciente. k
95

Exercício 14.3 (competição x cooperação). Um dono de restaurante pode escolher entre dois
esquemas de incentivos para gerenciar os seus dois garçons. Ele pode dividir as mesas entre
os garçons de modo que cada um deles atenda somente às mesas que lhe são designadas, ou
ele pode permitir que ambos cooperem e atendam a todas as mesas. No primeiro caso, quando
o primeiro garçom coloca um esforço x e o segundo um esforço y, o lucro do estabelecimento é
1
igual a 10x+10y. Além disto, o primeiro garçom recebe uma grati…cação igual a 10 10x = x
1
e o segundo recebe uma grati…cação igual a 10 10y = y. Ou seja, ambos os garçons recebem
uma grati…cação igual a 10% do que eles venderam. No segundo caso, quando os garçons
cooperam, existe uma externalidade positiva entre eles e o lucro do estabelecimento acaba
sendo igual a 10x + 10y + 10xy, em que é um parâmetro. Neste caso, cada garçom
recebe uma grati…cação igual a 5% do lucro do estabelecimento. Ou seja, a grati…cação de
cada garçom é dada por 20 1
(10x + 10y + 10xy) = x+y+ 2
xy
. Finalmente, em ambos os casos,
quando o primeiro garçon faz um esforço x, este paga um custo igual a x2 . Similarmente,
quando o segundo garçon faz um esforço y este paga um custo igual a y 2 . A utilidade de cada
garçon é dada pela diferença entre o que ele recebe de grati…cação e o custo que ele paga pelo
esforço. Ou seja, no primeiro caso a utilidade do primeiro garçom é x x2 e no segundo é
x+y+ xy
2
x2 . A utilidade do segundo garçom tem um formato análogo.

(a) Suponha que o dono do restaurante implemente o primeiro esquema de incentivos.


Quanto cada garçom se esforçará e qual será o lucro do restaurante neste caso?

(b) Suponha agora que o dono do restaurante implemente o segundo esquema de incentivos.
Quanto cada garçom se esforçará agora? Calcule o lucro do restaurante para =
0; 1 e 2, e diga que esquema de incentivos é melhor (do ponto de vista do dono do
restaurante) em cada caso (Dica: A situação agora é estratégica e vocês já sabem que
tipo de ferramenta tem que ser usada para modelar situações estratégicas).

Solução.

(a) O problema de maximização de utilidade do primeiro garçom é

max x x2
x

A condição de primeira ordem do problema acima nos dá x = 1=2. O problema do


segundo garçom é análogo e nós também obtemos y = 1=2. O lucro do restaurante,
antes do desconto das grati…cações dos garçons, é 10x + 10y = 10.14.1

(b) Quando o dono do restaurante implementa o segundo esquema de incentivos a situação


se torna estratégica e tem que ser modelada como um jogo. Tentemos encontrar os
equilíbrios de Nash do jogo em que os garçons escolhem quanto esforço fazer. Se o
garçom 2 estiver fazendo um esforço genérico y o esforço ótimo do garçom 1 resolve

x + y + xy
max x2
x 2
14.1
O lucro após o pagamento das grati…cações dos garçons será igual a 9.
96 CAPÍTULO 14. EXTERNALIDADES E BENS PÚBLICOS

A condição de primeira ordem do problema acima pode ser escrita como


1+ y
: x=
4
O problema do segundo garçom é análogo e, portanto, a escolha ótima do segundo
garçom quando o primeiro faz um esforço x satisfaz
1+ x
y= :
4
Um equilíbrio de Nash para o jogo acima é um par (x ; y ) que satisfaz as duas equações
acima simultaneamente. Resolvendo o sistema acima nós obtemos x = y = 4 1 . Com
2 1 2
tais níveis de esforço o lucro do restaurante é = 10 4
+ 4
.14.2 Quando
= 0 a expressão acima nos dá = 5. Quando = 1 nós temos = 70 9
e, …nalmente,
quando = 2 nós temos = 15. Nos dois primeiros casos o primeiro esquema de
incentivos é melhor e quando = 2 o segundo esquema de incentivos é melhor. k
Exercício 14.4 (Provimento de bem público). Suponha que dois países vizinhos estejam
decidindo o quanto investir em um determinado
p bem público G. As funções de utilidade dos
países são dadas por U (xi ; G) := xi + 2 G, em que xi é o quanto o país i gasta em consumo
privado e G := g1 +g2 é a soma das contribuições dos dois países para o bem público. Suponha
que o país 1 tenha uma renda igual a w1 e o país 2 tenha uma renda igual a w2 . Nós temos
que ter wi = xi + gi , para i = 1; 2.
(a) Calcule a quantidade e…ciente de investimento agregado no bem público. Isto é, a
quantidade que maximiza a soma das utilidades dos dois países. Atenção! Existem
várias combinações de g1 e g2 que estão relacionadas a alocações e…cientes, mas a
soma g1 + g2 é a mesma em todas elas.
(b) Suponha agora que os dois países estejam agindo de forma não coordenada. Quanto
será produzido do bem público? Agora, várias combinações de g1 e g2 serão equilíbrios
de Nash do jogo, mas em todos esses equilíbrios a soma g1 + g2 é a mesma.
Solução.
(a) Note que nós sempre temos que ter xi = wi gi , portanto, o problema de maximização
da soma das utilidades dos países pode ser escrito como
p p
max w1 g1 + 2 g1 + g2 + w2 g2 + 2 g1 + g2
g1 ;g2

As condições de primeira ordem do problema acima são:


2
g1 : p = 1 () g1 + g2 = 4
g1 + g2
2
g2 : p = 1 () g1 + g2 = 4:
g1 + g2
14.2
Este é o lucro antes do pagamento da grati…cação dos garçons. O lucro após o pagamento das
2
2 1
grati…cações será 9 4 + 4 .
97

As condições acima nos mostram que qualquer combinação de g1 e g2 tal que g1 +g2 = 4
maximiza a soma das utilidades dos países.

(b) Suponha que o país 2 esteja fornecendo uma quantidade g2 do bem público. A melhor
resposta do país 1 neste caso resolve o seguinte problema:
p
max w1 g1 + 2 g1 + g2
g1

A condição de primeira ordem do problema acima nos dá g1 = 1 g2 : Similarmente,


quando o país 1 está produzindo uma quantidade genérica g1 do bem público, a melhor
resposta do país 2 é produzir uma quantidade g2 = 1 g1 . Isto mostra que os equilíbrios
de Nash do jogo são as combinações de g1 e g2 tais que g1 + g2 = 1: k
98 CAPÍTULO 14. EXTERNALIDADES E BENS PÚBLICOS
Capítulo 15

Implementação de Projeto Público

Exercício 15.1. Considere o seguinte problema. Uma associação de moradores está estudando
se constrói ou não uma ponte. O custo de construção da ponte é c > 0. Cada um dos
N moradores associa à ponte um valor vi > 0. Embora a associação de moradores não
tenha como descobrirPos vi ’s dos diversos moradores, ela sabe que só é socialmente desejável
construir a ponte se Ni=1 vi c. Além disto, a associação não conta com recursos externos,
portanto, caso a opção seja por construir a ponte, os recursos têm que vir dos próprios
moradores.
PN O problema da associação é desenvolver um mecanismo que a permita descobrir
se i=1 vi c e além disto pague os custos da ponte caso a opção seja por construí-la.
P
(a) Considere o seguinte mecanismo. Cada jogador anuncia um valor si . Caso N i=1 si c
a ponte é construída e cada indivíduo i contribui com exatamente si . Discuta por que
tal mecanismo não é muito bom. Como os moradores se comportariam diante de tal
mecanismo?

(b) Considere
PN um outro mecanismo, então. Cada jogador anuncia um valor si . Caso
s
i=1 i c a ponte é construída e cada indivíduo i contribui com exatamente Nc .
Discuta por que tal mecanismo não é muito bom. Como os moradores se comportariam
diante de tal mecanismo?

(c) Finalmente,
PN considere o mecanismo de Clarke. Cada jogador anuncia um valor si . Caso
s
i=1 i c a ponte é construída e cada indivíduo i contribui com Nc . Além disto, os
indivíduos pivotais pagam uma multa caso a ponte seja construída ou não. De…namos
primeiro o que é um indivíduo pivotal. Dado um anúncio si do jogador i, nós de…nimos
o benefício líquido anunciado pelo jogador i como s~i = si Nc . Observe que dizer que
PN P
i=1 si c é o mesmo que dizer que N ~i 0. Isto motiva a seguinte de…nição:
i=1 s
P P P
De…nição 15.1. O indivíduo i é dito pivotal se j6=i s~j 0 e N ~j < 0 ou j6=i s~j <
j=1 s
P
0e N ~j 0. Intuitivamente, i é pivotal se o seu anúncio muda a opinião social a
j=1 s
respeito da ponte.

P
Caso o indivíduo i seja pivotal, ele paga uma multa ti = ~j . Observe que mesmo
j6=i s
quando a ponte não é construída um indivíduo pivotal tem que pagar multa. Mostre

99
100 CAPÍTULO 15. IMPLEMENTAÇÃO DE PROJETO PÚBLICO

que ao se deparar com tal mecanismo, anunciar um valor si = vi é uma estratégia


fracamente dominante para o jogador i. Isto é, independentemente do anúncio dos
outros indivíduos, se i anunciar si = vi o seu ganho é garantidamente maior ou igual
ao ganho que ele teria se anunciasse qualquer outro valor si :

(d) Mostre que o mecanismo é superavitário. Isto é, mostre que a soma do valor dos
pagamentos de todos os agentes é maior ou igual a c, no caso em que a ponte é
construída, e é maior ou igual a zero, no caso em que a ponte não é construída. Note
que as duas desigualdades anteriores podem ser estritas, dependendo do caso.

(e) Argumente que a alocação …nal obtida por tal mecanismo não é e…ciente no sentido de
Pareto, mas a medida que o número de indivíduos aumenta este problema torna-se
menor, podendo até mesmo desaparecer.

Solução.

(a) O problema com tal mecanismo é que o quanto o morador i paga pela construção da
ponte é uma função direta do seu anúncio. Por causa disto, é de se esperar que os
moradores anunciem valores menores do que o valor que eles realmente atribuem à
ponte. Eles fazem isto na esperança de que as constribuições dos outros moradores
já sejam su…cientes para a construção da ponte. É o velho problema do carona. Os
moradores tentam pegar carona na contribuição dos outros. Tudo isto fará com que
em certas situações em que é socialmente vantajoso construir a ponte esta não seja
construída.

(b) Na verdade, agora o problema é exatamente o contrário do que ocorria na situação


anterior. Note que agora o anúncio de cada morador só afeta a probabilidade da
ponte ser construída ou não, mas não muda o quanto este teria que pagar no caso da
construção da ponte. Considere um indivíduo i tal que vi < Nc . Para este indivíduo a
construção da ponte é um mal negócio, portanto, ele vai fazer tudo ao seu alcance para
impedir a construção da mesma. Como a única coisa que ele pode fazer é anunciar si , ele
anunciará o menor si possível. Digamos si = 0. Por outro lado, considere um indivíduo
j tal que vj > Nc . Para este indivíduo a construção da ponte é um bom negócio,
portanto, ele vai fazer tudo ao seu alcance para que esta seja construída. No caso,
ele anunciará o maior valor sj possível. Não é difícil imaginar que tais considerações,
em muitos casos, levarão a ine…ciências. Ou a ponte será construída quando não é
socialmente ótimo fazê-lo ou a ponte não será construída quando na verdade seria
melhor socialmente construí-la.

(c) Observe, primeiramente, que em qualquer situação o anúncio si do indivíduo i não afeta
diretamente o valor do seu pagamento.15.1 O único Pefeito do anúncio si é fazer o
indivíduo i pivotal ou não. Mais precisamente, dado j6=i s~j , só existem dois possíveis
ganhos para o jogador i, um ganho no caso de ele ser pivotal e outro no caso de ele não
ser pivotal. Estas observações facilitam a nossa comparação do ganho que i obteria
15.1
P
Note que ti = j6=i s
~j . Ou seja, o valor si não entra no cálculo de ti :
101

anunciando si = vi com os outros possíveis, anúncios, já que só precisamos olhar para


uma comparação.
P P
Precisamos analisar 4 casos. Comecemos com o caso j6=i s~j 0 e j6=i s~j + vi Nc <
0. Neste caso, quando i anuncia si = vi , i é pivotal, a ponte não é construída e seu
ganho é dado por X
ti = s~j :
j6=i

Pela discussão anterior, nós sabemos que só precisamos comparar o ganho acima com
o ganho que i obtém quando este não é pivotal. Neste caso a ponte é construída e o
ganho de i é
c
vi .
N
Mas por hipótese,
X c
s~j + vi <0
j6=i
N
()
X c
s~j > vi :
j6=i
N

Portanto, escolher si = vi é realmente uma melhor escolha para i neste caso.


P P
Suponha agora que j6=i s~j 0 e j6=i s~j + vi Nc 0. Neste caso, quando i anuncia
si = vi , i é não é pivotal, a ponte é construída e seu ganho é dado por
c
vi :
N
Por outro lado, se i anunciasse um valor que o …zesse ser pivotal a ponte não seria
construída e o seu ganho seria X
ti = s~j :
j6=i

Mas por hipótese,


X c
s~j + vi 0
j6=i
N
()
c X
vi s~j :
N j6=i

Portanto, escolher si = vi é realmente uma melhor escolha para i neste caso.


P P
Agora consire o caso em que j6=i s~j < 0 e j6=i s~j + vi Nc < 0. Neste caso, quando
i anuncia si = vi , i não é pivotal, a ponte não é construída e o seu ganho é igual a 0.
Por outro lado, se i anunciar um valor que o faça pivotal o seu ganho é
X c
s~j + vi .
j6=i
N
102 CAPÍTULO 15. IMPLEMENTAÇÃO DE PROJETO PÚBLICO

Como, por hipótese, este ganho é menor do que 0, nós concluímos que anunciar si = vi
é realmente uma melhor escolha para i neste caso.
P P
Finalmente, considere o caso em que j6=i s~j < 0 e j6=i s~j + vi Nc 0. Neste caso,
anunciar si = vi faz i pivotal e implica na construção da ponte. O seu ganho é dado
por X c
s~j + vi :
j6=i
N

Por hipótese, este ganho é maior ou igual a 0 que seria o ganho de i caso este …zesse um
anúncio que não o tornasse pivotal. Nós novamente concluímos que anunciar si = vi
é uma melhor escolha para i neste caso. Como este era o último caso que faltava ser
testado, nós concluímos que anunciar si = vi é de fato fracamente dominante para i.

(d) Se a ponte é construída todos os agentes pagam Nc e, além disto, os agentes pivotais
pagam mais a multa ti . Como a soma das parcelas Nc já cobre o custo da ponte, o
pagamento adicional feito pelos possíveis indivíduos pivotais torna a arrecadação com
o mecanismo potencialmente superior aos custos. Se a ponte não for construída não
existe custo algum e os moradores não têm que pagar as parcelas Nc . Mas mesmo neste
caso os possíveis indivíduos pivotais ainda têm que pagar multa, o que novamente torna
a arrecadação com o mecanismo potencialmente superior aos custos, que neste caso são
iguais a zero.

(e) No mecanismo, o incentivo para as pessoas anunciarem o seu verdadeiro valor vem das
multas que estas têm que pagar caso sejam pivotais. Como vimos acima, isto faz
com que potencialmente o valor dos pagamentos supere o custo total da ponte. Por
esta razão, embora o mecanismo gere a escolha socialmente e…ciente relativamente a
construir ou não a ponte, a alocação …nal não é necessariamente e…ciente, já que um
pouco de dinheiro pode estar sendo descartado. Com um número grande de indivíduos
a probabilidade de que alguém seja pivotal diminui bastante. Na verdade, na maioria
das vezes, com um número grande de indivíduos é provável que ninguém seja pivotal.
Como somente indivíduos pivotais pagam multa, com um número grande de indivíduos
é provável que o mecanismo gere uma alocação e…ciente.15.2 k

15.2
Isto não signi…ca que o mecanismo é perfeito. Na verdade, a análise feita aqui ignora um problema
grave com relação à implementação de mecanismos na prática. No nosso exemplo nós estamos assumindo
que todas as pessoas são obrigadas a participar do mecanismo, mas na vida real garantir isto pode ser
complicado. Nem todos os moradores precisam ser membros da associação e, mesmo se todos forem, pode
ser difícil forçar uma pessoa que não tem interesse na construção da ponte a participar do mecanismo. Para
levar em conta tal complicação prática nós precisaríamos incorporar uma restrição de participação ao nosso
mecanismo, mas agora nós já estamos nos distanciando muito dos nossos modestos objetivos aqui. Vocês
estudarão tais considerações mais a fundo se algum dia …zerem um curso de desenho de mecanismos.
Parte II

Provas Antigas

103
Capítulo 16

Primeiro Semestre de 2009

16.1 Primeira Prova


Questão 16.1.1. Considere uma economia na caixa de Edgeworth em que as funções de
1 2
utilidade dos consumidores são dadas por U A (x1A ; x2A ) = (x1A ) 3 (x2A ) 3 e U B (x1B ; x2B ) =
max (x1B ; x2B ). Suponha que as dotações iniciais dos consumidores são (wA 1 2
; wA ) = (1; 1)
1 2
e (wB ; wB ) = (1; 0).

(a) Dado um vetor de preços genérico (p1 ; p2 ), escreva e resolva o problema do consumidor
A para encontrar a sua função demanda. O consumidor A é o nosso velho amigo
Cobb-Douglas, portanto, se você já tiver a sua função demanda na memória, você pode
escrevê-la diretamente. Eu não faço questão que você faça as contas. Mas não esqueça
de escrever o problema do consumidor. (0.5 pontos).

(b) Dado um vetor de preços genérico (p1 ; p2 ), escreva e resolva o problema do consumidor
B para encontrar a sua função demanda.(Use apenas lógica, matemática não será de
nenhuma utilidade aqui) (1 ponto).

(c) Encontre o único equilíbrio competitivo desta economia. Isto é, encontre o vetor de
preços e a alocação que constituem um equilíbrio competitivo para esta economia (1.5
pontos).

Solução.

(a) O problema do consumidor A pode ser escrito como:


1 2
max x1A 3
x2A 3

(x1A ;x2A )

sujeito a

p1 x1A + p2 x2A p1 + p2
x1A ; x2A 0:16.1

105
106 CAPÍTULO 16. PRIMEIRO SEMESTRE DE 2009

Nós sabemos que um consumidor Cobb-Douglas como o acima vai gastar 1=3 da sua
renda com o bem 1 e 2=3 com o bem 2. Ou seja,
1 p1 + p2 2 p1 + p2
x1A = e x2A = :
3 p1 3 p2

(b) O problema do consumidor B pode ser escrito como:

max max x1B ; x2B


(x1B ;x2B )

sujeito a

p1 x1B + p2 x2B p1
x1B ; x2B 0:

A primeira coisa que podemos observar no problema acima é que obviamente o consumidor
irá gastar toda a sua renda em apenas um dos bens. Mais precisamente, ele gastará
toda a sua renda no bem mais barato. Se os dois bens tiverem o mesmo preço, então
ele é indiferente entre gastar toda a sua renda com o bem 1 ou com o bem 2, mas
observe que mesmo neste caso ele só consumirá um dos bens. Isto nos dá a seguinte
função demanda para o consumidor B :

x1B = 1 e x2B = 0; se p2 > p1 ;


p1
x1B = 0 e x2B = ; se p1 > p2 ;
p2
xB = 1 e xB = 0, ou, x1B = 0 e x2B = 1, se p1 = p2 :
1 2

(c) Primeiramente, sabemos que apenas preços relativos são determinados no equilíbrio.
Portanto, é conveniente escolhermos o preço de um dos bens como numerário. Aqui eu
farei p1 = 1. Agora temos 3 casos a considerar. Primeiro temos que tentar achar um
equilíbrio em que p2 > 1. Neste caso a condição de equilíbrio de mercado para o bem
1 torna-se:
1 1 + p2
+ 1 = 2:
3 1
Isolando p2 na equação acima nós obtemos

p2 = 2:

De fato, então, temos um equilíbrio competitivo neste caso. Precisamos, ainda, explicitar
que alocação faz parte de tal equilíbrio. Da função demanda do consumidor A, nós
vemos que para o presente vetor de preços nós temos:

x1A = 1 e x2A = 1.
16.1
Se você escreveu o problema do consumidor já de forma simpli…cada, sem a restrição de não negatividade
do consumo e com a restrição orçamentária em igualdade, não se preocupe, você não perderá pontos por
isto.
16.1. PRIMEIRA PROVA 107

Da função demanda do consumidor B nós vemos que

x1B = 1 e x2B = 0.

Observe que a alocação acima é de fato factível. A questão já nos disse que tal economia
só tem um equilíbrio competitivo, portanto nós poderíamos parar por aqui. De qualquer
forma, vamos testar os outros casos para garantir. Vamos checar agora se existe um
equilíbrio em que p2 < 1. Neste caso nós temos x1B = 0 e a condição de equilíbrio de
mercado para o bem 1 pode ser escrita como:
1 1 + p2
+ 0 = 2:
3 1
Isolando p2 na equação acima nós obtemos

p2 = 5:

Ou seja, ao tentarmos equilibrar o mercado para o bem 1 nós obtemos um valor de


p2 que é maior do que 1. Nós concluímos que não existe equilíbrio competitivo neste
caso. Finalmente, vamos testar se existe equilíbrio com p2 = 1. Agora nós temos
duas opções. Nós podemos usar x1B = 1 e x2B = 0 como solução para o problema
do consumidor 2, ou podemos usar x1B = 0 e x2B = 1. Se usarmos a primeira opção,
quando tentarmos equilibrar o mercado para o bem 1 estaremos na primeira situação
discutida acima, o que nos daria p2 = 2. Se usarmos a segunda opção, então estaremos
na segunda situação acima, o que nos daria p2 = 5. Ou seja, também não existe
equilíbrio competitivo neste caso. k

Questão 16.1.2. Suponha que a …rma F produza um determinado bem y e que a sua função
custo seja dada por
C (y) = y 2 :
Ou seja, para produzir y unidades do bem a …rma gasta y 2 . Seja a função demanda inversa
do bem y dada por
p (y) = 2 y:

(a) Suponha primeiro que o mercado para o bem y seja competitivo. Calcule o preço e a
quantidade produzida do bem y neste caso (1 ponto).

(b) Suponha agora que a …rma F aja como monopolista. Calcule o preço cobrado e a
quantidade produzida neste caso (1 ponto).

(c) (Um pouco mais difícil, pode ser uma boa idéia deixar este item para o …nal.) Suponha
agora que o governo, na tentativa de eliminar a ine…ciência do monopólio, implemente
o seguinte esquema de imposto e subsídio. Primeiramente, o governo subsidiará uma
fração t dos custos da …rma. Ou seja, se a …rma tiver um custo de produção total igual
a x, ela receberá tx do governo. Juntamente com isto, o governo cobrará um imposto
sobre os lucros da …rma. Tal imposto será uma fração do lucro total da …rma. Isto
é, se a …rma tiver um lucro , ela terá de pagar s de imposto. Atenção, o lucro da
108 CAPÍTULO 16. PRIMEIRO SEMESTRE DE 2009

…rma será dado pela receita que ela obtém com a venda do bem y, menos o custo de
produção da …rma, mais o valor do subsídio recebido pela …rma. Calcule os valores
de t e s que satisfazem as seguintes condições: (i) Com tais valores de t e s, a …rma
produz a quantidade e…ciente, ou seja, a mesma quantidade produzida na letra (a). (ii)
O esquema é balanceado, isto é, a quantidade total paga à …rma em forma de subsídio
deve ser igual à quantidade recebida da …rma na forma de imposto (2 pontos).

Solução.

(a) Em um mercado competitivo a …rma comporta-se como tomadora de preços. Neste caso
o problema da …rma pode ser escrito como

max py y2
y

A condição de primeira ordem do problema acima é simplesmente

p 2y = 0;

o que nos dá a condição y = p=2. Substituindo tal condição na expressão para a curva
de demanda inversa nós obtemos
p
p=2 :
2
Resolvendo a equação acima para p nós obtemos p = 4=3. Consequentemente, o nível
de produção neste caso será y = 2=3:

(b) O problema de uma …rma monopolista pode ser escrito como

max (2 y) y y2

A condição de primeira ordem para o problema acima é

2 4y = 0:

O que nos dá um nível de produção y = 1=2. Substituindo tal valor na curva de


demanda inversa nós obtemos p = 3=2:

(c) O problema da …rma neste caso pode ser escrito como

max (1 s) (2 y) y (1 t) y 2
y

Uma forma de resolver o problema acima seria primeiramente observar que o valor de
y que resolve tal problema também resolve o problema

max (2 y) y (1 t) y 2
y

Aqui nós não vamos fazer tal observação e vamos simplesmente calcular a condição de
primeira ordem do problema original. Tal condição vai ser dada por

(1 s) [2 2y 2 (1 t) y] = 0:
16.1. PRIMEIRA PROVA 109

É fácil agora ver que o termo (1 s) de fato é irrelevante para a solução do problema.
Ou seja, o nível de produção escolhido pela …rma vai satisfazer a condição
2 2y 2 (1 t) y = 0:
Lembre-se que queremos descobrir o valor do subsídio t que faz com que a …rma produza
a mesma quantidade que ocorreria em uma situação competitiva. O melhor a fazer,
então, é susbtituir o valor y = 2=3 na expressão acima e resolvê-la para encontrar o
valor de t. Fazendo isto nós obtemos a equação
2 2
2 2 2 (1 t) = 0;
3 3
que resolvida para t nos dá t = 1=2. Ou seja, para fazer com que a …rma produza a
quantidade e…ciente o governo tem que subsidiar 50% do custo de produção da …rma.
Como a …rma produz y = 2=3 neste caso, o governo gasta
2
1 2 2
=
2 3 9
em subsídios à …rma. O imposto s é cobrado sobre o lucro da …rma. Com tal nível de
produção, o preço cobrado pela …rma é p = 4=3, o que dá um lucro, antes do imposto,
igual a
2
42 1 2
= 1
33 2 3
2
= :
3
Portanto, o valor de s que zera os gastos do governo com a …rma resolve a equação
2 2
s= ;
3 9
o que nos dá s = 1=3: k
Questão 16.1.3. Suponha que estejamos em uma situação com 3 alternativas sociais, fx; y; zg
e 3 agentes fA; B; Cg que têm preferências estritas sobre as alternativas x, y e z. O
nosso objetivo é escolher uma das alternativas acima com o intuito de fazer o melhor para a
sociedade. Lembre-se do método que nós discutimos na lista de exercícios. Primeiro, escolha
um par de alternativas e realize uma votação entre os agentes. Feito isto, pegue a alternativa
vencedora na votação anterior e realize uma nova votação contra a alternativa que …cou de
fora da primeira votação. A alternativa vencedora desta última votação será a escolha social.
Lembre-se, também, que dado o per…l de preferências que tínhamos na lista de exercícios, tal
procedimento era totalmente manipulável. Ou seja, se nós alterássemos a ordem das votações
nós podíamos alterar a escolha …nal. Considere agora o seguinte per…l de preferências:
A B C
y x z
x y x
z z y
110 CAPÍTULO 16. PRIMEIRO SEMESTRE DE 2009

Ou seja, o agente A considera y x z, o agente B considera x y z e o agente C


considera z x y.

(a) O procedimento descrito acima é também manipulável para o presente per…l de preferências?
Fundamente bem a sua resposta, ou seja, teste todas as ordens de votação possíveis
(são apenas três) e mostre se a escolha social muda ou não de acordo com a ordem
(0.5 pontos).

(b) O per…l de preferências acima satisfaz uma propriedade especial. Existe uma ordenação
das alternativas sociais para qual as preferências de todos os agentes têm pico único.
Dada uma ordenação de alternativas, digamos [y; x; z], nós dizemos que uma preferência
% têm pico único em relação a tal ordenação se não é verdade que y x e z x. Ou
seja, uma preferência tem pico único em relação a uma dada ordenação se a alternativa
do meio, de acordo com a ordenação, não é a pior de todas. Observe que, no per…l
acima, as preferências de todos os agentes têm pico único em relação à ordenação
[y; x; z]. Dê um exemplo de outro per…l de preferências em que as preferências de todos
os agentes têm pico único em relação a alguma ordenação das alternativas. Escreva
o exemplo e mostre que ele tem pico único. Um exemplo correto sem explicação não
valerá nada. (1 ponto).

(c) Suponha que tenhamos um per…l de preferências em que as preferências dos 3 agentes
tenham pico único em relação à ordenação [x; y; z]. Suponha, também, que saibamos
que numa votação entre x e y, o vencedor é x. Mostre que, se aplicarmos o procedimento
de votações dois a dois descrito no enunciado da questão, independentemente da ordem
de votação, a escolha social será sempre x (Dica: Use o enunciado do problema para
descobrir as preferências de 2 agentes na economia. A partir daí o resto é fácil) (1.5
pontos).

Solução.

(a) Comecemos com uma votação entre x e y. Neste caso x vence por 2 a 1. Fazendo agora
uma votação entre x e z, vemos que novamente x vence por 2 a 1 e, portanto, x seria
a escolha social neste caso. Comecemos agora com uma votação entre x e z. Neste
caso x vence por 2 a 1. Se …zermos agora uma votação entre x e y, novamente x vence
por 2 a 1 e, portanto, x é a escolha social. Finalmente, comecemos com uma votação
entre y e z. Neste caso y vence por 2 a 1. Mas se …zermos agora uma votação entre y
e x, x é quem vence por 2 a 1 e, novamente, x é a escolha social. Veri…camos, então,
que em todos os casos possíveis a escolha social foi x. Com tal per…l de preferências o
procedimento de votações 2 a 2 não é manipulável.

(b) Esta questão é praticamente um presente. No enunciado da questão nós já temos um


per…l de preferências de pico único. Nós não podemos usar o mesmo per…l, mas nada
impede que nós simplesmente troquemos os nomes das alternativas. Uma opção é
trocar x por y no exemplo acima. Isto é, onde estiver escrito x, escreva y e onde estiver
16.1. PRIMEIRA PROVA 111

escrito y, escreva x. Isto nos dá o seguinte per…l de preferências:


A B C
x y z
:
y x y
z z x
Que tem pico único em relação à ordenação [x; y; z]. Uma outra possibilidade, também
trivial, seria simplesmente construir um per…l em que todos os agentes têm a mesma
preferência. Por exemplo, considere o per…l
A B C
x x x
:
y y y
z z z
Todas as preferências neste per…l têm pico único em relação a qualquer ordenação em
que o elemento do meio seja x ou y. Por exemplo, [y; x; z] ou [z; y; x].
(c) A questão agora fala de um per…l de preferências, mas não nos diz exatamente que per…l
é este. Nós só sabemos que todas as preferências no per…l têm pico único em relação à
ordenação [x; y; z] e que em uma votação entre x e y o vencedor é x. A dica nos diz que
estas informações são su…cientes para descobrirmos as preferências de 2 agentes neste
per…l. Vamos tentar descobrí-las, então. Sabemos que x vence y em uma votação.
Isto signi…ca que para pelo menos dois agentes, digamos A e B, nós temos x A y
e x B y. Olhemos para a preferência do agente A agora. Como ela tem pico único
em relação à ordenação [x; y; z], o agente A não pode considerar y a pior alternativa
de todas. Tentemos encaixar z na preferência do agente A, então. Tentemos primeiro
colocar z acima de x. Isto nos daria a seguinte preferência para o agente A :
A
z
:
x
y
Mas neste caso y seria a pior alternativa, o que nós já vimos que não pode ser verdade.
Tentemos, então, colocar z entre x e y. Ou seja, considere a seguinte preferência para
o agente A :
A
x
:
z
y
Mas novamente y seria a pior alternativa neste caso. Vemos que o único lugar em que
podemos colocar z é abaixo de y. Ou seja, nós vemos que a única preferência possível
para o agente A é
A
x
:
y
z
112 CAPÍTULO 16. PRIMEIRO SEMESTRE DE 2009

O mesmo raciocínio nos permite concluir que a preferência do agente B também é dada
por
B
x
:
y
z
Nós não temos nenhuma informação sobre a preferência do agente C, mas nós já
aprendemos que para dois dos agentes x é a melhor alternativa de todas. Não é difícil
ver que isto implica que, independentemente da ordem de votação, x será sempre a
escolha social. A…nal de contas, para qualquer ordem, eventualmente você terá que
fazer uma votação de x contra y ou contra z. Se esta votação estiver ocorrendo na
primeira rodada, então a alternativa x vai para a rodada …nal aonde ela vai vencer
novamente. Se esta votação já estiver ocorrendo na rodada …nal, então x a vencerá e
será a escolha social. k

16.2 Segunda Prova


Questão 16.2.1. Considere o seguinte jogo sequencial:

Figura 16.1:

Nos nós terminais, o primeiro valor se refere ao ganho do jogador 1 e o segundo ao ganho
do jogador 2. Resolva o jogo acima por indução retroativa (2 pontos).

Solução. No jogo acima o jogador 2 é o último a jogar. Em seu nó de decisão superior o


jogador 2 recebe um ganho de 2 se ele tomar a ação E e recebe um ganho de zero se ele
tomar a ação D. Logo, a melhor escolha para 2 no nó superior é E. Já no nó inferior, o
jogador 2 recebe um ganho de 9 se tomar a ação E e um ganho de 6 se tomar a ação D.
Portanto, novamente sua melhor ação é E. Isto nos dá o seguinte jogo reduzido após um
estágio de indução retroativa:
16.2. SEGUNDA PROVA 113

No jogo reduzido acima o jogador 1 tem a opção de jogar C e receber um ganho de 2,


ou jogar B e receber um ganho de 1. É claro que a sua melhor opção é jogar C. Portanto,
a solução por indução retroativa do jogo acima é (C; EE). Ou seja, a estratégia do jogador
1 é jogar C e a estratégia do jogador 2 é jogar E nos seus dois nós de decisão. k
Questão 16.2.2. Suponha que duas empresas, F1 e F2 , vendam exatamente o mesmo produto
e que a competição entre ambas se dê pela …xação simultânea das suas quantidades a serem
produzidas. Suponha que a parte da demanda nesta economia seja representada pela seguinte
curva de demanda inversa:
p (y1 + y2 ) = 5 (y1 + y2 ) :
Suponha, também, que o custo de produção da …rma 1 seja dado por
C (y1 ) = y1
e o da …rma 2 seja dado por
C (y2 ) = 4y2 :
A situação acima pode ser representada por um jogo. Os conjuntos de estratégias de ambos
os jogadores são dados por A1 = A2 = [0; 1), em que uma estratégia yi 2 Ai é simplesmente
a quantidade que a …rma Fi decide produzir. Os ganhos dos jogadores serão dados pelos seus
lucros, dadas as escolhas de produção de ambos.

(a) Suponha que a empresa F2 esteja produzindo uma quantidade y2 = 0. Calcule a melhor
resposta da …rma F1 para tal estratégia da …rma F2 . Compute também o preço que o
nível de produção escolhido pela …rma F1 implica neste caso (2 pontos).
(b) Suponha que a …rma F1 esteja produzindo a quantidade que você encontrou na letra (a).
Argumente que neste caso a única melhor resposta para a …rma F2 é realmente produzir
zero. Ou seja, argumente que qualquer outro nível de produção daria um lucro negativo
para a …rma F2 (2 pontos).

Solução.

(a) Como sempre, o objetivo da …rma F1 é maximizar o seu lucro. Dado que a …rma F2 não
está produzindo nada, a melhor resposta da …rma F1 resolve o seguinte problema de
maximização:
max p (y1 + 0) y1 y1
y1
114 CAPÍTULO 16. PRIMEIRO SEMESTRE DE 2009

A condição de primeira ordem do problema acima é

p0 (y1 + 0) y1 + p (y1 + 0) = 1:

Usando a forma funcional que nós assumimos para a função de demanda inversa, a
equação acima pode ser escrita como

y1 + 5 y1 = 1:

Resolvendo a equação acima nós obtemos y1 = 2. Portanto, se a …rma F2 não estiver


produzindo nada, a melhor coisa que a …rma F1 tem a fazer é produzir 2 unidades do
produto. Dada a curva de demanda inversa acima, isto implica em um preço dado por
p = 5 2 = 3:

(b) Observe que quando a …rma F1 produz y1 = 2, dada a curva de demanda inversa acima,
o máximo preço será 3 e tal preço só ocorre se F2 não produzir nada. Se F2 resolver
produzir alguma coisa o preço será ainda menor. Mas mesmo um preço igual a 3 já é
menor do que o custo marginal de F2 , que é igual a 4. Isto implica que se F2 resolver
produzir uma quantidade estritamente positiva do bem o seu lucro será necessariamente
negativo.

Alternativamente, se você preferir fazer contas, você poderia resolver a questão assim.
O lucro de F2 é dado por

2 (y1 ; y2 ) = 2 (2; y2 )
= p (2 + y2 ) y2 4y2
= (5 2 y2 ) y2 4y2
= y2 (5 2 y2 4)
= y2 ( 1 y2 ) :

Obviamente, para qualquer número positivo y2 , y2 ( 1 y2 ) é um número negativo.


Portanto, qualquer quantidade que F2 resolva produzir lhe dará um lucro negativo. k

Questão 16.2.3. Considere o seguinte jogo em forma matricial:

Jogador 2
E D
:
Jogador C 2; 1 2; 1
1 B 2; 1 2; 1

Encontre todos os equilíbrios de Nash em estratégias mistas para o jogo acima. Atenção,
o raciocínio para chegar ao resultado é mais importante do que o resultado em si. Apenas
escrever os equilíbrios sem uma explicação convincente não vale nada (2 pontos).

Solução. Na verdade, o jogo acima é exatamente o jogo de par ou ímpar que estudamos nas
notas de aula. Tudo que eu …z foi multiplicar o ganho do jogador 1 em todas as situações por
16.2. SEGUNDA PROVA 115

2. Como vamos ver abaixo, isto não altera em nada a solução do jogo.16.2 Sejam 2 [0; 1]
as estratégias do jogador 1 e 2 [0; 1] as do jogador 2, conforme o nosso roteiro usual de
solução, tentemos primeiro encontrar um equilíbrio de Nash ( ; ) em que = 1. Se
= 1, o ganho de uma estratégia genérica do jogador 2 é dado por

U 2 (1; ) = ( 1) + (1 ) 1.

É claro que a única melhor resposta para o jogador 2 neste caso é = 0. Portanto, se existe
um equilíbrio de Nash em que = 1, este tem que ser ( ; ) = (1; 0). Mas observe que,
se 2 está jogando = 0, então o ganho de uma estratégia genérica do jogador 1 é dado
por
U 1 ( ; 0) = ( 2) + (1 ) 2:
Mas é óbvio que a única melhor resposta para 1 neste caso é jogar = 0. Portanto, o per…l
(1; 0) não é um equilíbrio de Nash e nós concluímos que o jogo não tem nenhum equilíbrio
de Nash em que 1 jogue = 1. Tentemos agora encontrar um equilíbrio de Nash ( ; )
em que = 0. Neste caso, o ganho de uma estratégia genérica para 2 é dado por

U 2 (0; ) = 1 + (1 ) ( 1) :

É evidente que a única melhor resposta para 2 neste caso é jogar = 1. Portanto, se existir
um equilíbrio de Nash em que = 0, este equilíbrio tem que ser ( ; ) = (0; 1). No
entanto, quando 2 joga = 1 o ganho de uma estratégia genérica para o jogador 1 é dado
por
U 1 ( ; 1) = 2 + (1 ) ( 2) :
Mas é evidente que a única melhor resposta para 1 neste caso é jogar = 1. Portanto o
per…l (0; 1) não é um equilíbrio de Nash do jogo e nós concluímos que o jogo não tem nenhum
equilíbrio de Nash em que = 0. Só nos resta agora tentar encontrar um equilíbrio de Nash
( ; ) em que 0 < < 1. Pela proposição que aprendemos nas notas de aula, nós sabemos
que tal estratégia só pode ser uma melhor resposta contra (independentemente de quem
seja ) se
U 1 (1; ) = U 1 (0; ) :
Em termos dos ganhos no nosso jogo a condição acima pode ser escrita como

2 + (1 ) ( 2) = ( 2) + (1 ) 2:

Resolvendo a equação acima nós obtemos = 1=2. Portanto, em um equilíbrio de Nash


com 0 < < 1, o jogador 2 tem que estar jogando = 1=2. Mas observe que 0 < < 1.
Como também tem que ser uma melhor resposta contra , novamente, pela proposição
nas notas de aula, nós temos que ter.

U2 ( ; 1) = U 2 ( ; 0) :
16.2
Este é um resultado geral. Em qualquer jogo, se você multiplicar os ganhos de um jogador por uma
constante positiva, a solução do jogo não se altera. Isto está relacionado com o fato de que se você multiplicar
uma representação por utilidade esperada de uma preferência por uma constante positiva você obtém outra
representação por utilidade esperada da mesma preferência.
116 CAPÍTULO 16. PRIMEIRO SEMESTRE DE 2009

Em termos dos ganhos no nosso jogo a condição acima pode ser escrita como

( 1) + (1 ) 1= 1 + (1 ) ( 1) :

Resolvendo a equação acima nós obtemos = 1=2. Portanto, = 1=2 faz com que
qualquer estratégia do jogador 2 seja uma melhor resposta para ele e = 1=2 faz com que
qualquer estratégia do jogador 1 seja uma melhor resposta para ele. Logo = 1=2 é uma
melhor resposta contra = 1=2 e = 1=2 é uma melhor resposta contra = 1=2. Nós
concluímos que (1=2; 1=2) é um equilíbrio de Nash para o jogo acima. Como nós já testamos
todas as possibilidades, este na verdade é o único equilíbrio do jogo. k

Questão 16.2.4 (Minimizar a probabilidade de obter a consequência mais odiada.). Seja


X um conjunto …nito de alternativas e, como …zemos nas notas de aula, de…na (X) como
o conjunto de loterias sobre X. Considere o seguinte exemplo de preferências sobre loterias:
Existe uma consequência x 2 X que o agente detesta. Ao comparar duas loterias, o agente
sempre prefere aquela em que a probabilidade de obter x é menor. Formalmente, para duas
loterias p e q quaisquer,
p % q () p (x ) q (x ) :
Mostre que tal relação de preferências satisfaz Independência e a propriedade Arquimediana.
A dica, é claro, é a mesma da lista de exercícios. Não tente demonstrar isto diretamente,
use o teorema da utilidade esperada (2 pontos).
Solução. Dado o Teorema da Utilidade Esperada, tudo o que temos que fazer é encontrar
uma representação por utilidade esperada para a preferência acima. Isto é, nós precisamos
encontrar uma função de Bernoulli u sobre X tal que para quaisquer duas loterias p e q,
X X
p % q () p (x) u (x) q (x) u (x) :
x2X x2X

Mas observe que se nós de…nirmos u como u (x ) = 1 e u (x) = 0 se x 6= x , então, para


qualquer loteria p; X
p (x) u (x) = p (x ) :
x2X

Mas então,
X X
p (x) u (x) q (x) u (x) () p (x ) q (x ) () p (x ) q (x ) :
x2X x2X

Ou seja, tal função de Bernoulli nos dá uma representação por utilidade esperada da preferência
acima. Pelo Teorema da Utilidade Esperada, isto nos garante que a preferência acima satisfaz
Independência e a propriedade Arquimediana. k

16.3 Terceira Prova


Questão 16.3.1. Considere o modelo de perigo moral que estudamos nas notas de aula. Ou
seja, suponha que uma …rma queira contratar um gerente para a realização de um projeto.
16.3. TERCEIRA PROVA 117

O retorno do projeto pode ser alto, H = 3 ou baixo, L = 1. O gerente tem a opção de


se esforçar ou não. Quando o gerente se esforça a probabilidade do retorno do projeto ser
alto é pe = 2=3, quando ele não se esforça a probabilidade do retorno ser alto é apenas
pn = 1=3. Quando o gerente se esforça ele incorre em um custo ce = 1=3. A …rma oferecerá
um contrato de trabalho, (wH ; wL ) ; que estipula o salário do gerente no caso de um retorno
alto e de um retorno baixo. O objetivo da …rma é maximizar o seu lucro esperado. Isto é,
maximizar pi ( H wH ) + (1 pi ) ( L wL ) em que i = e ou n, dependendo de o gerente se
esforçar ou não. Para completar, suponha que o gerente é neutro ao risco. Ou seja, quando
ele se esforça a sua utilidade é dada por U e (wH ; wL ) = pe wH + (1 pe ) wL ce e no caso
em que ele não se esforça é dada por U n (wH ; wL ) = pn wH + (1 pn ) wL .

(a) Suponha primeiro que o esforço seja observável. Escreva e resolva os problemas da …rma
quando ela exige que o gerente se esforce e quando ela não exige. Calcule o lucro obtido
pela …rma nos dois casos (Dica: Ambos os problemas têm in…nitas soluções, portanto
o trabalho aqui é identi…car a condição que caracteriza todas as soluções do problema
da …rma) (1,5 pontos).

(b) Suponha agora que o esforço não seja observável. Qual o contrato ótimo para a …rma
neste caso? Tal contrato fará com que o gerente se esforce ou não? (Explique bem o
raciocínio da sua solução) (1,5 pontos).

Solução.

(a) Quando a …rma quer que o gerente se esforce o seu problema pode ser escrito como

e = max pe ( H wH ) + (1 pe ) ( L wL )
wH ;wL

sujeito a
pe wH + (1 pe ) wL ce 0:
Obviamente, qualquer solução do problema acima tem que satisfazer a restrição com
igualdade.16.3 Mas então o problema acima simpli…ca-se para

e = max pe ( H wH ) + (1 pe ) ( L wL )
wH ;wL

sujeito a
pe wH + (1 pe ) wL = ce :
Mas observe que o lucro da …rma com qualquer par de contratos que satisfaz a restrição
acima é

e = pe ( H wH ) + (1 pe ) ( L wL )
= pe H + (1 pe ) L ce :

Ou seja, o lucro da …rma não depende dos exatos valores de wH e wL , desde que
estes satisfaçam a restrição do problema com igualdade. Portanto, qualquer contrato
16.3
Ver notas de aula e lista de exercícios.
118 CAPÍTULO 16. PRIMEIRO SEMESTRE DE 2009

(wH ; wL ) que satisfaça a restrição com igualdade é solução para o problema da …rma
neste caso. O lucro da …rma com tal tipo de contrato é dado por

e = pe H + (1 pe ) L ce
2 1 1
= 3+ 1
3 3 3
= 2:

Se a …rma não quiser que o gerente se esforce o seu problema é

n = max pn ( H wH ) + (1 pn ) ( L wL )
wH ;wL

sujeito a
pn wH + (1 pn ) wL 0:
Um raciocínio exatamente análogo ao caso anterior mostra que qualquer contrato que
satisfaça
pn wH + (1 pn ) wL = 0
é solução para o problema da …rma agora. O lucro da …rma com tal tipo de contrato
é dado por

n = pn ( H wH ) + (1 pn ) ( L wL )
= pn H + (1 pn ) L
1 2
= 3+ 1
3 3
5
= :
3

(b) Da letra (a) nós vemos que o máximo lucro que a …rma pode esperar obter agora é 2, já
que o lucro no caso de esforço não observável não pode ser superior ao lucro no caso
de esforço observável. Da lista de exercícios, nós sabemos que com um gerente neutro
ao risco a …rma pode de fato obter o seu lucro máximo mesmo no caso de esforço não
observável. Para tanto o contrato oferecido pela …rma tem que ter o formato de venda
do projeto para o gerente, deixando que este decida depois se vale a pena se esforçar ou
não. Se a …rma vai conseguir atingir o lucro máximo com tal tipo de contrato, então
o preço pelo qual o projeto tem que ser vendido é P = e = 2.16.4 Ou seja, o contrato
oferecido pela …rma será wH = H e e wL = L e . É óbvio que com tal contrato
o lucro da …rma será exatamente e . Resta checar que o gerente aceita tal contrato e
também precisamos mostrar que sob tal contrato o gerente escolherá se esforçar. Se o
gerente aceitar tal contrato e se esforçar o seu lucro é
2 1 1
pe ( H e) + (1 pe ) ( L e) ce = (3 2) + (1 2)
3 3 3
= 0:
16.4
Observe que na letra (a) nós calculamos que o lucro da …rma era maior no caso em que ela exige que o
gerente se esforce.
16.3. TERCEIRA PROVA 119

Portanto, aceitar tal contrato é pelo menos tão bom para o gerente do que não aceitar
contrato algum. Finalmente, chequemos que sob tal contrato é melhor para o gerente
se esforçar do que não se esforçar. Observe que se o gerente não se esforçar o seu
retorno será
1 2
pn ( H e ) + (1 pn ) ( L e) = (3 2) + (1 2)
3 3
1
= :
3
Ou seja, não se esforçar sob tal contrato é até mesmo pior do que não aceitar contrato
algum. Portanto, sob tal contrato a escolha do gerente será se esforçar. k
Questão 16.3.2. Um apiário e uma fazenda produtora de maçãs estão localizados lado a
lado. Seja a a quantidade de maçãs produzidas e h a quantidade de mel. Os custos de
produção do apiário e da fazenda são, respectivamente,
h2
ch (h) =
100
e
a2
ca (a; h) = h:
100
O preço do quilo de mel é 2 reais e cada quilo de maçã é vendido por 3 reais.
(a) Calcule as quantidades de mel e maçã produzidas em equilíbrio (1,5 pontos).
(b) Suponha que o fazendeiro compre o apiário. Calcule as quantidades ótimas de mel e
maçã que ele iria produzir (1,5 pontos).
(c) Suponha que as duas …rmas estejam produzindo independentemente. O governo paga
um subsídio s por quilo de mel produzido. Calcule o valor de s que induziria o apiário
a produzir a quantidade socialmente ótima de mel (1,5 pontos).
Solução.
(a) O problema do apiário é
h2
max 2 h
h 100
A condição de primeira ordem do problema acima é
h
= 2:
50
Portanto o apiário produzirá uma quantidade de mel h = 100. Já o problema do
produtor de maçãs é
a2
max 3 a +h
a 100
A condição de primeira ordem do problema acima é
a
= 3:
50
Portanto uma quantidade a = 150 maçãs será produzida.
120 CAPÍTULO 16. PRIMEIRO SEMESTRE DE 2009

(b) Se o fazendeiro comprar o apiário, então o seu objetivo é maximizar o lucro agregado
das duas empresas. Ou seja,

h2 a2
max 2 h +3 a +h
h;a 100 100
As condições de primeira ordem do problema acima são
h
=3
50
e
a
= 3:
50
Portanto, as quantidades produzidas neste caso serão a = h = 150:

(c) Com um subsídio s sobre a produção de mel o problema do apiário torna-se

h2
max 2 h +s h
h 100
A condição de primeira ordem do problema acima é
h
= 2 + s:
50
É evidente que se s = 1, então a quantidade produzida de mel será igual a 150 que foi
o valor socialmente ótimo que calculamos na letra (b). k

Questão 16.3.3. Um investidor está pensando em comprar um campo de petróleo. A


probabilidade de que existam 20 barris de petróleo no campo é igual a 1=3, a probabilidade
de que existam 40 é também 1=3. Por …m, novamente com probabilidade igual a 1=3 pode
ser que existam 120 barris de petróleo no campo. O dono atual do campo de petróleo poderia
obter um lucro de 1 real por barril. Ou seja, se o campo tivesse 40 barris o seu lucro seria de
40 reais. O investidor é um produtor mais e…ciente e conseguiria obter um lucro de 1,50 reais
por barril caso este comprasse o campo. Ou seja, se o campo tivesse 40 barris ele obteria
um lucro de 60 reais. O dono do campo fez uma pesquisa intensa e sabe exatamente quantos
barris existem lá, mas o investidor não sabe. O investidor é neutro ao risco, ou seja, sua
única preocupação é maximizar o seu lucro esperado. Seja p o preço pelo qual o campo de
petróleo está sendo vendido. Além disto, suponha que se o dono do campo de petróleo fosse
indiferente entre vender ou não vender o campo pelo preço p, então ele venderia. Qual o
máximo valor de p pelo qual um investidor inteiramente racional aceitaria comprar o campo
(Eu faço questão que você explique bem o seu raciocínio aqui. Portanto, seja bastante claro
no desenvolvimento das suas idéias. Não escreva somente a resposta) (2,5 pontos).
Solução. O segredo aqui é perceber que o problema é uma questão de seleção adversa.
Primeiro observe que caso o dono do campo de petróleo soubesse que o número de barris
ali fosse 120, ele só aceitaria vender o campo por um preço maior ou igual a 120 reais.
Mas suponha que o campo esteja sendo vendido por um preço maior ou igual a 120 reais.
16.4. PROVA SUBSTITUTIVA 121

Neste caso o investidor sabe que existe uma probabilidade igual a um terço de que o campo
contenha 20, 40 ou 120 barris. Mas então o seu lucro esperado será
1 1 1
= 180 + 60 + 30 p
3 3 3
= 90 p
< 0:
Ou seja, quando p 120 o investidor espera ter um lucro negativo com o campo de petróleo
e, portanto, não o compraria. Com um preço p < 120, o investidor sabe que se o dono está
aceitando vender o campo de petróleo, então este não tem 120 barris. Se p 40, então o
dono do campo aceitaria vendê-lo caso ele tivesse 20 ou 40 barris. Como as probabilidades
iniciais de haver 20 ou 40 barris eram iguais, ao aprender que não existe mais a possibilidade
da existência de 120 barris o investidor conclui que agora as probabilidades de haver 20 ou
40 barris são ambas iguais a 1/2. Sob tais probabilidades o lucro esperado pelo investidor
com a compra do campo é
1 1
= 60 + 30 p
2 2
= 45 p:
Portanto, para p 45 o lucro do investidor seria positivo e de fato 45 é o maior valor para
o qual isto ocorreria. k

16.4 Prova Substitutiva


Questão 16.4.1. Considere o modelo de perigo moral que estudamos nas notas de aula. Ou
seja, suponha que uma …rma queira contratar um gerente para a realização de um projeto.
O retorno do projeto pode ser alto, H = 2 ou baixo, L = 1. O gerente tem a opção de
se esforçar ou não. Quando o gerente se esforça a probabilidade do retorno do projeto ser
alto é pe = 2=3, quando ele não se esforça a probabilidade do retorno ser alto é apenas
pn = 1=3. Quando o gerente se esforça ele incorre em um custo ce = 2=3. A …rma oferecerá
um contrato de trabalho, (wH ; wL ) ; que estipula o salário do gerente no caso de um retorno
alto e de um retorno baixo. O objetivo da …rma é maximizar o seu lucro esperado. Isto é,
maximizar pi ( H wH ) + (1 pi ) ( L wL ) em que i = e ou n, dependendo de o gerente se
esforçar ou não. Para completar, suponha que o gerente é neutro ao risco. Ou seja, quando
ele se esforça a sua utilidade é dada por U e (wH ; wL ) = pe wH + (1 pe ) wL ce e no caso
em que ele não se esforça é dada por U n (wH ; wL ) = pn wH + (1 pn ) wL .
(a) Suponha primeiro que o esforço seja observável. Escreva a condição que caracteriza
a solução do problema da …rma nos casos em que ela exige que o gerente se esforce
e quando ela não exige (lembre-se que ambos os problemas têm in…nitas soluções).
Calcule o lucro obtido pela …rma nos dois casos. (1,3 pontos).
(b) Suponha agora que o esforço não seja observável. Qual o contrato ótimo para a …rma
neste caso? Mostre que o gerente aceitará tal contrato e mostre se este contrato fará
com que o gerente se esfore ou não (Explique bem o raciocínio da sua solução) (1,2
pontos).
122 CAPÍTULO 16. PRIMEIRO SEMESTRE DE 2009

Solução.

(a) Quando a …rma exige que o gerente se esforce o seu problema pode ser escrito como

e = max pe ( H wH ) + (1 pe ) ( L wL )
wH ;wL

sujeito a
pe wH + (1 pe ) wL ce 0:
Obviamente as possíveis soluções do problema acima têm que satisfazer a restrição com
igualdade, já que se não fosse este o caso a …rma poderia diminuir um pouco um dos
dois salários e aumentar o seu lucro. O problema simpli…ca-se para

e = max pe ( H wH ) + (1 pe ) ( L wL )
wH ;wL

sujeito a
pe wH + (1 pe ) wL = ce :
Mas agora observe que, dada a restrição, o lucro da …rma pode ser reescrito como

e = pe ( H wH ) + (1 pe ) ( L wL )
= pe H + (1 pe ) L ce :

Ou seja, o lucro da …rma independe dos exatos valores de wH e wL , desde que eles
satisfaçam a restrição do problema com igualdade. Portanto, as soluções do problema
quando a …rma exige esforço são caracterizadas pela condição

pe wH + (1 pe ) wL = ce :

O lucro da …rma neste caso será

e = pe H + (1 pe ) L ce
2 1 2
= 2+ 1
3 3 3
= 1:

O problema da …rma quando ela não exige esforço pode ser escrito como

n = max pn ( H wH ) + (1 pn ) ( L wL )
wH ;wL

sujeito a
pn wH + (1 pn ) wL 0:
O mesmo argumento que …zemos acima nos garante que qualquer solução do problema
satisfaz a restrição do problema com igualdade. O problema simpli…ca-se, então, para

n = max pn ( H wH ) + (1 pn ) ( L wL )
wH ;wL
16.4. PROVA SUBSTITUTIVA 123

sujeito a
pn wH + (1 pn ) wL = 0:
É fácil ver que com qualquer contrato que satisfaça a restrição acima o lucro da …rma
é

n = pn ( H wH ) + (1 pn ) ( L wL )
= pn H + (1 pn ) L
1 2
= 2+ 1
3 3
4
= :
3
Portanto, a condição que caracteriza as soluções do problema da …rma neste caso é

pn wH + (1 pn ) wL = 0:

(b) Nós sabemos que quando o gerente é neutro ao risco a …rma pode obter o mesmo lucro
que ela obteria no caso de esforço observável oferecendo um contrato que pode ser
interpretado como a venda do projeto para o gerente. No caso, como o maior lucro no
caso de esforço observável ocorre quando a …rma não exige esforço, o contrato oferecido
pela …rma terá a forma

wH = H n
4
= 2
3
2
=
3
e

wL = L n
4
= 1
3
1
= :
3
Nós precisamos primeiro mostrar que o gerente aceitará tal contrato. Para tanto, nós
só precisamos mostrar que o gerente consegue obter uma utilidade esperada maior
ou igual a zero com tal contrato. Vejamos, então, qual seria a utilidade esperada do
gerente se ele aceitasse tal contrato e resolvesse não se esforçar. Neste caso a sua
utilidade esperada seria

U n (wH ; wL ) = pn wH + (1 pn ) wL
1 2 2 1
= +
3 3 3 3
= 0:
124 CAPÍTULO 16. PRIMEIRO SEMESTRE DE 2009

Só nos resta agora veri…car se tal contrato levaria o gerente a se esforçar ou não. Mas
observe que a utilidade do gerente com tal contrato, quando ele se esforça, é dada por

U e (wH ; wL ) = pe wH + (1 pe ) wL ce
2 2 1 1 2
= +
3 3 3 3 3
1
= :
3
Portanto, tal contrato levará o gerente a não se esforçar. k

Questão 16.4.2. Suponha que a …rma F produza um determinado bem y e que a sua função
custo seja dada por
C (y) = y 2 :
Ou seja, para produzir y unidades do bem a …rma gasta y 2 . Seja a função demanda inversa
do bem y dada por
p (y) = 3 y:

(a) Calcule o preço e a quantidade produzida do bem y quando o mercado é competitivo


(…rma age como tomadora de preços) e quando a …rma age como monopolista (1,3
pontos).

(b) Suponha agora que o governo, na tentativa de eliminar a ine…ciência do monopólio,


implemente o seguinte esquema de incentivo. O governo pagará um bônus de s reais
por cada real vendido pela …rma. Isto é, se a …rma obtiver uma receita de x reais com
a venda do bem y, então o governo lhe pagará um bônus de sx reais. Calcule o valor
de s que faz com que a …rma produza a quantidade e…ciente (o valor encontrado no
caso competitivo) (1,2 pontos).

Solução.

(a) Quando a …rma age como tomadora de preços o seu problema pode ser escrito como

max py y2
y

A condição de primeira ordem para o problema acima nos dá

p = 2y:

Dada a curva de demanda inversa da economia, a oferta e a demanda só estarão


equilibradas se
2y = 3 y;
o que implica que
yc = 1
e
pc = 2:
16.4. PROVA SUBSTITUTIVA 125

Quando a …rma age como monopolista o seu problema pode ser escrito como

max (3 y) y y2
y

A condição de primeira ordem para o problema acima é

3 4y = 0;

o que nos dá
3
ym =
4
e, consequentemente,
9
pm = :
4
(b) O problema da …rma agora pode ser escrito como

max (3 y) y (1 + s) y2
y

A condição de primeira ordem para o problema acima é

y (1 + s) + (3 y) (1 + s) 2y = 0:

Fazendo y = 1 na expressão acima, nós obtemos s = 1. k

Questão 16.4.3. Considere uma economia na caixa de Edgeworth em que as funções de


1 2
utilidade dos consumidores são dadas por U A (x1A ; x2A ) = (x1A ) 3 (x2A ) 3 e U B (x1B ; x2B ) = x1B +
ln x2B . Suponha que as dotações iniciais dos consumidores são (wA 1 2
; wA ) = (1; 1) e (wB 1 2
; wB )=
(0; 3).

(a) Dado um vetor de preços genérico, escreva e resolva os problemas dos dois consumidores
para encontrar suas funções demanda (em ambos os casos você já pode escrever a
restrição orçamentária diretamente com igualdade e pode ignorar as restrições de não
negatividade do consumo) (1,3 pontos).

(b) Encontre o único equilíbrio competitivo desta economia. Isto é, encontre o vetor de
preços e a alocação que constituem um equilíbrio competitivo para esta economia (1,2
pontos).

Solução.

(a) Seja um vetor de preços (p1 ; p2 ) qualquer. O problema do consumidor A pode ser escrito
como 1 2
1 3 2 3
max
1 2
x A x A
xA ;xA

sujeito a
p1 x1A + p2 x2A = p1 + p2
126 CAPÍTULO 16. PRIMEIRO SEMESTRE DE 2009

Como o consumidor A é o tradicional consumidor Cobb-doulglas nós já sabemos que


a sua função demanda será dada por
1 p1 + p2
x1A =
3 p1
e
2 p1 + p2
x2A = :
3 p2
Já o problema do consumidor B pode ser escrito como

max x1B + ln x2B


x1B ;x2B

sujeito a
p1 x1B + p2 x2B = 3p2
O Lagrangeano do problema acima é

$ = x1B + ln x2B p1 x1B + p2 x2B 3p2 :

As condições de primeira ordem do problema são

x1B : 1 = p1
1
x2B : 2 = p2
xB
: p1 x1B + p2 x2B = 3p2

Substituindo a primeira condição na segunda nós obtemos


p1
x2B = :
p2
Usando tal resultado na restrição do problema nós obtemos
3p2 p1
x1B = :
p1

(b) Como somente preços relativos podem ser determinados em um equilíbrio competitivo,
façamos p1 = 1. Equilibrando o mercado para o bem 2 nós …camos com a seguinte
equação:
2 1 + p2 1
+ = 4:
3 p2 p2
Resolvendo a equação acima nós obtemos
1
p2 = :
2
Substituindo tal valor nas funções demanda que obtivemos na letra (a) nós encontramos
1
x1A = ;
2
16.4. PROVA SUBSTITUTIVA 127

x2A = 2;
1
x1B =
2
e
x2B = 2:
Portanto, o único equilíbrio competitivo desta economia é dado pelo vetor de preços
(p1 ; p2 ) = (1; 1=2) e pela alocação f(x1A ; x2A ); (x1B ; x2B )g = f(1=2; 2); (1=2; 2)g: k

Questão 16.4.4. Suponha que duas empresas, F1 e F2 , vendam exatamente o mesmo produto
e que a competição entre ambas se dê pela …xação simultânea das suas quantidades a serem
produzidas. Suponha que a parte da demanda nesta economia seja representada pela seguinte
curva de demanda inversa:
p (y1 + y2 ) = 7 (y1 + y2 ) :
Suponha, também, que o custo de produção da …rma 1 seja dado por

C (y1 ) = 2y1

e o da …rma 2 seja dado por


C (y2 ) = 3y2 :
A situação acima pode ser representada por um jogo. Os conjuntos de estratégias de ambos
os jogadores são dados por A1 = A2 = [0; 1), em que uma estratégia yi 2 Ai é simplesmente
a quantidade que a …rma Fi decide produzir. Os ganhos dos jogadores serão dados pelos seus
lucros, dadas as escolhas de produção de ambos.

(a) Suponha que a empresa F2 esteja produzindo uma quantidade y2 . Calcule a melhor
resposta da …rma F1 para tal estratégia da …rma F2 . Repita o exercício para a …rma
F2 . Isto é, suponha que a …rma F1 esteja produzindo uma quantidade genérica y1 .
Calcule a melhor resposta da …rma F2 para tal estratégia da …rma F1 .(1,3 pontos).

(b) Encontre o único equilíbrio de Nash para o jogo acima (1,2 pontos).

Solução.

(a) Quando F2 produz uma quantidade qualquer y2 a melhor resposta para F1 resolve o
seguinte problema:
max [7 (y1 + y2 )] y1 2y1
y1

A condição de primeira ordem do problema acima é

7 y2 2y1 2 = 0:

Isolando y1 na equação acima nós obtemos


5 y2
y1 = :
2
128 CAPÍTULO 16. PRIMEIRO SEMESTRE DE 2009

Similarmente, quando F1 produz uma quantidade y1 a melhor resposta para F2 resolve


o seguinte problema:
max [7 (y1 + y2 )] y2 3y2
y2

A condição de primeira ordem do problema acima é

7 y1 2y2 3 = 0:

Isolando y2 na equação acima nós obtemos


4 y1
y2 = :
2

(b) O único equilíbrio de Nash do jogo acima resolve o seguinte sistema linear:
5 y2
y1 =
2
4 y1
y2 = :
2
A solução do sistema acima é
y1 = 2
e
y2 = 1: k
Capítulo 17

Segundo Semestre de 2009

17.1 Primeira Prova


Questão 17.1.1. Considere uma economia na caixa de Edgeworth em que as funções de
1 2
utilidade dos consumidores sejam dadas por U A (x1A ; x2A ) = (x1A ) 3 (x2A ) 3 e U B (x1B ; x2B ) =
2 1
(x1B ) 3 (x2B ) 3 . Suponha que as dotações iniciais dos consumidores sejam (wA 1 2
; wA ) = (1; 0) e
1 2
(wB ; wB ) = (0; 1).

(a) Encontre o único equilíbrio competitivo desta economia. Isto é, encontre o vetor de
preços e a alocação que constituem um equilíbrio competitivo para esta economia (2
pontos).

(b) É possível mostrar que a alocação (x1A ; x2A ) = 21 ; 45 e (x1B ; x2B ) = 12 ; 51 é e…ciente no
sentido de Pareto. Como a economia acima satisfaz as condições do Segundo Teorema
do Bem-estar nós sabemos que com uma correta redistribuição das dotações iniciais nós
podemos fazer com que tal alocação seja parte de um equilíbrio competitivo. Ou seja,
1 2 1 2
existem t1 ; t2 > 0 tais que quando (wA ; wA ) = (1 t1 ; t2 ) e (wB ; wB ) = (t1 ; 1 t2 ),
a alocação resultante do equilíbrio competitivo da economia é exatamente (x1A ; x2A ) =
1 4
;
2 5
e (x1B ; x2B ) = 12 ; 15 . Encontre o vetor de preços e as transferências t1 e t2
relacionadas a tal equilíbrio (Atenção! Existem várias combinações de transferências
que geram a alocação citada. Vocês podem escolher qualquer uma dentre as combinações
que funcionam.) (2 pontos).

Solução.

(a) Como somente preços relativos são determinados em equilíbrio, nós podemos escolher
o preço de um dos bens como numerário. Façamos isto com o bem 1, então. O nosso
trabalho agora é encontrar o preço p do bem 2 que equilibra os mercados. Como os
dois consumidores são Cobb-douglas e a função demanda deste tipo de consumidor é
nossa velha conhecida, nós podemos escrever as demandas diretamente. O consumidor
A gastará 1=3 da sua renda com o bem 1 e 2=3 com o bem 2. Ou seja, sua demanda
será dada por
1 2
1 wA + pwA 1
x1A = =
3 1 3
129
130 CAPÍTULO 17. SEGUNDO SEMESTRE DE 2009

e
1 2
2 wA + pwA 2
x2A = = :
3 p 3p
Já o consumidor B gasta 2=3 de sua renda com o bem 1 e 1=3 com o bem 2. Ou seja,
sua demanda é dada por
1 2
2 wB + pwB 2p
x1B = =
3 1 3
e
1 2
1 wB + pwB 1
x2B = = :
3 p 3
A condição de equilíbrio de mercado para o bem 1, por exemplo, é

x1A + x1B = 1;

o que é equivalente a
1 2p
+ = 1:
3 3
É fácil ver que a única solução para a equação acima é p = 1. Substituindo tal valor
nas expressões para as demandas acima, nós obtemos a seguinte alocação no equilíbrio
(x1A ; x2A ) = 13 ; 23 e (x1B ; x2B ) = 32 ; 13 :
(b) Agora as demandas dos consumidores são dadas por
11 t1 + pt2
x1A = ;
3 1
2 1 t1 + pt2
x2A = ;
3 p
2 t1 + (1 t2 ) p
x1B =
3 1
e
1 t1 + (1 t2 ) p
x2B = :
3 p
Dividindo a expressão para x1A pela expressão para x2A nós obtemos
p x1A 5
= 2 = :
2 xA 8
Ou seja, o preço em um equilíbrio associado à alocação citada tem que ser p = 5=4. De
posse de tal preço agora nós podemos tentar encontrar valores de t1 e t2 que nos dêem a
alocação desejada. Como a questão já disse, vários valores de t1 e t2 podem ser usados
para tanto. Isto ocorre porque todas as equações geradas pelas funções demanda acima
são linearmente dependentes quando p = 5=4. Tentemos achar valores de t1 e t2 que
façam x1A assumir o valor desejado, então. Ou seja, tentemos encontrar valores de t1 e
t2 que resolvam a seguinte equação:
1 11 t1 + 54 t2
= :
2 3 1
17.1. PRIMEIRA PROVA 131

A equação acima pode ser escrita de forma simpli…cada como

5t2 4t1 = 2:

Possíveis soluções para a equação acima são (t1 ; t2 ) = 0; 25 , (t1 ; t2 ) = 12 ; 45 , (t1 ; t2 ) =


1 3
; , etc.. É fácil checar que qualquer das combinações de transferências acima de
4 5
fato gera a alocação desejada. k

Questão 17.1.2. Suponha que a economia tenha dois tipos de consumidores e que a …rma
monopolista consiga diferenciá-los. A curva de demanda agregada dos consumidores do tipo
A é dada por
qA (pA ) = 20 pA
e a dos consumidores do tipo B é dada por
pB
qB (pB ) = 16 :
2
O custo de produção da …rma monopolista é dado por

c (qA + qB ) = 4 (qA + qB ) :

(a) Encontre os preços cobrados pelo monopolista quando a prática de discriminação de


preços é permitida. Calcule o excedente agregado dos consumidores neste caso. Isto
é, a soma dos excedentes dos dois tipos de consumidores (Dica: Para fazer a questão
você primeiro vai ter que derivar as curvas de demanda inversa para os dois tipos de
consumidores) (2 pontos).

(b) Suponha agora que a prática de discriminação de preços seja proibida por lei. Encontre o
preço cobrado pela …rma neste caso. Também neste caso, calcule o excedente agregado
dos consumidores (Dica: Para fazer esta questão você terá que derivar a curva de
demanda agregada para este caso. Esta curva terá 3 regiões. Para preços abaixo de
um certo valor, os dois tipos de consumidores consomem. Para preços entre o valor
previamente mencionado e um valor mais alto apenas um tipo de consumidor consome.
Para preços acima do valor mais alto citado anteriormente, nenhum consumidor consome.
De posse da curva de demanda agregada, você pode agora derivar a curva de demanda
inversa. Esta também será dividida em regiões. A solução do problema da …rma se
dará na região em que esta resolve atender aos dois tipos de consumidores. Portanto,
na hora de resolver o problema da …rma você pode assumir que a curva de demanda
inversa da economia corresponde à parte da curva da demanda inversa em que a …rma
atende aos dois consumidores. Porém, para calcular o excedente dos consumidores você
precisará olhar para a curva de demanda inversa completa, considerando todas as suas
regiões) (2 pontos).

Solução.
132 CAPÍTULO 17. SEGUNDO SEMESTRE DE 2009

(a) Conforme a dica, vamos primeiro encontrar as curvas de demanda inversa para os dois
tipos de consumidores. Para tanto, tudo que temos que fazer é isolar p nas suas funções
demanda, o que nos dá as seguintes curvas de demanda inversa:

pA (qA ) = 20 qA

e
pB (qB ) = 32 2qB :
O custo marginal de produção do monopolista é constante e igual a 4. Como o
monopolista pode praticar discriminação de preços, suas escolhas ótimas igualarão
a sua receita marginal com cada tipo de consumidor ao seu custo marginal. Ou seja,
resolverão as seguintes equações:

20 2qA = 4

e
32 4qB = 4:
Resolvendo as equações acima nós obtemos

qA = 8

e
qB = 7:
As quantidades acima implicam que os preços cobrados pelo monopolista serão pA = 12
e pB = 18. O excedente dos consumidores do tipo A será dado pela área escura da
…gura abaixo.

Figura 17.1: Excedente dos consumidores do tipo A.

Ou seja, o excedente dos consumidores do tipo A é 32.

Já o excedente dos consumidores do tipo B é dado pela área escura da …gura abaixo.
17.1. PRIMEIRA PROVA 133

Figura 17.2: Excedente dos consumidores do tipo B.

Ou seja, o excedente dos consumidores do tipo B é 49. O excedente agregado, então,


é 32 + 49 = 81:

(b) A curva de demanda agregada agora é dada por


8
< 36 3p 2
, se p 20;
p
q (p) = 16 2 , se 20 < p 32;
:
0, se p > 32:

Tal curva de demanda agregada está associada com a seguinte curva de demanda
inversa:
32 2q, se q 6;
p (q) =
24 32 q, se q > 6:
Seguindo a dica, nós sabemos que a solução do problema do monopolista se dará na
região em que este atende aos dois tipos de consumidores. Ou seja, na região em que
a curva de demanda inversa da economia é
2
p (q) = 24 q:
3
Igualando a receita marginal ao custo marginal nós …camos com a seguinte equação:
4
24 q = 4:
3
Ou seja, a quantidade produzida pela …rma será q = 15. Isto dá um preço p = 14.

Finalmente, o excedente dos consumidores será dado pela área escura da …gura abaixo:
134 CAPÍTULO 17. SEGUNDO SEMESTRE DE 2009

Figura 17.3: Excedente dos consumidores sem discriminação de preços.

Ou seja, o excedente dos consumidores é A + B + C = 36 + 36 + 27 = 99: k

Questão 17.1.3. Considere uma economia na caixa de Edgeworth, isto é, uma economia de
trocas com dois consumidores e dois bens.

(a) Suponha que a dotação agregada de ambos os bens seja igual a 1 e as funções de
utilidade dos dois agentes sejam dadas por U A (x1A ; x2A ) = min fx1A ; x2A g e U B (x1B ; x2B ) =
min fx1B ; x2B g. Caracterize as alocações e…cientes no sentido de Pareto para esta economia.
Quais destas alocações são justas (isto é, além de e…cientes nenhum dos dois consumidores
inveja a cesta de consumo do outro) (Dica: Na minha opinião o jeito mais fácil
de resolver a questão é usar apenas lógica. Se você prestar atenção na de…nição de
e…ciência no sentido de Pareto o resultado …ca claro. Algumas pessoas podem achar
mais fácil resolver a questão desenhando a situação na caixa de Edgeworth) (2 pontos)?

(b) Suponha que a dotação agregada de ambos os bens seja igual a 1 e as funções de utilidade
dos dois agentes sejam dadas por U A (x1A ; x2A ) = max f2x1A ; x2A g e U B (x1B ; x2B ) =
max fx1B ; 2x2B g. Caracterize as alocações e…cientes no sentido de Pareto para esta
economia. Quais destas alocações são justas (isto é, além de e…cientes nenhum dos
dois consumidores inveja a cesta de consumo do outro) (Dica: Novamente o jeito mais
fácil de resolver a questão é usar apenas lógica. Se você prestar atenção na de…nição
de e…ciência no sentido de Pareto o resultado …cará claro. Neste caso tentar desenhar
a situação na caixa de Edgeworth provavelmente atrapalhará mais do que ajudará.) (2
pontos)?

Solução.
17.2. SEGUNDA PROVA 135

(a) Dadas as funções de utilidade dos dois consumidores é óbvio que se algum deles estiver
recebendo mais de um bem do que do outro, este excesso de um dos bens não estará
contribuindo em nada para a sua utilidade. Formalmente, considere uma alocação
factível qualquer [(x1A ; x2A ) ; (x1B ; x2B )] em que x1A x2A = > 0. Como x1A + x1B = x2A +
x2B = 1, isto implica que x2B x1B = . Mas então, a alocação [ x1A 2 ; x2A + 2 ; x1B + 2 ; x2B 2
]
aumenta a utilidade dos dois consumidores em =2. Portanto, nenhuma alocação em
que x1A > x2A é e…ciente no sentido de Pareto. É fácil ver que o mesmo raciocínio pode
ser usado para mostrar que nenhuma alocação em que x1A 6= x2A ou x1B 6= x2B é e…ciente.
As únicas alocações restantes agora são as alocações em que x1A = x2A e x1B = x2B . É fácil
ver que tais alocações são de fato e…cientes. Observe que para aumentar a utilidade de
qualquer um dos consumidores, é necessário que este receba quantidades positivas de
ambos os bens. Mas então o outro consumidor vai …car com uma quantidade menor
de ambos os bens e, portanto, sua utilidade irá diminuir. Finalmente, a única alocação
justa nesta economia é a alocação em que x1A = x2A = x1B = x2B = 1=2. Em qualquer
outra alocação e…ciente um dos consumidores estará recebendo uma quantidade maior
de ambos os bens do que o outro. Mas então, o consumidor que estiver recebendo
menos irá preferir a cesta de consumo do outro.

(b) Observe que dadas as funções de utilidade acima e as dotações iniciais agregadas mencionadas
na questão a máxima utilidade que ambos os consumidores podem obter com uma
alocação factível é 2. Mas note que a alocação (x1A ; x2A ) = (1; 0) e (x1B ; x2B ) = (0; 1) é
factível e faz com que ambos atinjam suas utilidades máximas. Ou seja, é impossível
melhorar a utilidade de qualquer um dos consumidores e, portanto, tal alocação é
trivialmente e…ciente. Observe, também, que esta é a única alocação factível que
maximiza a utilidade dos dois consumidores ao mesmo tempo. Portanto, qualquer
outra alocação factível será dominada, no sentido de Pareto, por tal alocação. Nós
concluímos, então que a alocação acima é a única alocação e…ciente desta economia.
Finalmente, a utilidade de ambos os consumidores se reduziria de 2 para 1 se eles
recebessem a cesta do outro no lugar da sua. Logo nenhum dos consumidores inveja a
cesta de consumo do outro e esta alocação é justa. k

17.2 Segunda Prova


Questão 17.2.1. Considere o seguinte jogo sequencial. Dois indivíduos têm a possibilidade
de dividir 10 reais entre eles. O jogo funciona da seguinte forma: primeiramente o indivíduo
1 propõe uma entre duas possíveis divisões. Ele pode propor uma divisão justa, isto é, 5 reais
para cada um, ou uma divisão injusta, 8 reais para ele e 2 reais para o indivíduo 2. Após
observar a proposta do indivíduo 1, o indivíduo 2 decide se a aceita ou não. Caso este aceite,
ambos recebem os valores propostos na divisão. Caso este não aceite, ambos recebem zero
reais.

(a) Descreva a situação acima como um jogo sequencial, isto é, desenhe a árvore de decisões
que representa a situação acima (1,5 pontos).

(b) Encontre todos os equilíbrios de Nash (em estratégias puras, não necessariamente perfeitos
136 CAPÍTULO 17. SEGUNDO SEMESTRE DE 2009

em subjogos) do jogo que você escreveu acima. Um desses equilíbrios é baseado em uma
ameaça vazia. Explique (1,5 pontos).

Solução.

(a)

(b) O jogo acima tem 3 equilíbrios de Nash: (J; AR), (I; AA) e (I; RA). Observe que o
primeiro equilíbrio é baseado numa ameça vazia. Só é uma melhor resposta para o
jogador 1 jogar J porque o jogador 2 está jogando R no seu nó de decisão inferior. Mas
não faz sentido que o jogador 1 acredite em tal plano do jogador 2. Caso 1 jogasse
I, tal escolha implicaria em prejuízo para o jogador 2. Portanto, sendo o jogador 1
racional, ele teria que deduzir que 2 não levaria a frente a ameaça de jogar R caso ele
jogasse I: k

Questão 17.2.2. Dois vizinhos são as únicas pessoas que moram de frente para uma determinada
rua. Uma velhinha sofreu uma queda na rua e precisa ser socorrida. Caso uma ambulância
apareça para levar a velhinha cada um dos vizinhos ganha 2 pontos em utilidade, mas ambos
perdem um ponto em utilidade se tiverem que se levantar para chamar a ambulância. Ou seja,
se uma ambulância vier buscar a velhinha e o indivíduo i não a tiver chamado sua utilidade
é 2. Caso uma ambulância venha buscar a velhinha, mas o indivíduo i tiver levantado para
chamá-la, então sua utilidade é 1. Finalmente, se nenhum dos dois indivíduos ligar para a
ambulância a utilidade de ambos é zero.

(a) Represente a situação acima como um jogo matricial 2x2 (1,5 pontos).

(b) Encontre todos os equilíbrios de Nash (em estratégias mistas) do jogo que você escreveu
na letra (a) (2 pontos).

Solução.

(a)

Jogador 2
C N
:
Jogador C 1; 1 1; 2
1 N 2; 1 0; 0
17.2. SEGUNDA PROVA 137

(b) Seja a probabilidade com que 1 joga C e a probabilidade com que 2 joga C. Tentemos
primeiro encontrar um equilíbrio em que 1 jogue = 1. Neste caso, a única melhor
resposta para 2 é jogar = 0. Quando 2 joga = 0, jogar = 1 é de fato uma
melhor resposta para 1. Logo o per…l ( ; ) = (1; 0) é um equilíbrio de Nash do jogo.
Tentemos agora encontrar um equilíbrio em que 1 jogue = 0. Neste caso, a única
melhor resposta para 2 é jogar = 1. Quando 2 joga = 1, jogar = 0 é de fato
uma melhor resposta para 1. Logo, o per…l ( ; ) = (0; 1) é outro equilíbrio de Nash
do jogo. Finalmente, tentemos encontrar um equilíbrio em que 0 < < 1. Sabemos
que para que isto ocorra a estratégia de 2 tem que fazer 1 indiferente entre suas duas
estratégias puras. Ou seja, tem que satisfazer
1 + (1 ) 1= 2 + (1 ) 0:
O valor de que resolve a equação acima é = 1=2. Nós aprendemos, então, que
em qualquer equilíbrio de Nash em que 1 esteja jogando uma estratégia mista não
degenarada, 2 também estará jogando uma estratégia mista não degenerada. Mas então
a estratégia de 1 também tem que fazer 2 indiferente entre as suas duas estratégias
puras. Ou seja, tem que satisfazer
1 + (1 ) 1= 2 + (1 ) 0:
O valor de que resolve a equação acima é = 1=2. Nós concluímos que o único
equilíbrio de Nash do jogo em que 1 joga uma estratégia mista não degenerada é o
per…l ( ; ) = (1=2; 1=2) : k
Questão 17.2.3. Considere novamente o problema dos sorveteiros que têm que se posicionar
em uma faixa de areia. A diferença agora é que esta faixa de areia se encontra ao redor
de uma lagoa circular. Suponha que o perímetro da lagoa seja 1 e que as pessoas estejam
distribuídas de maneira uniforme por toda a faixa de areia. Os sorveteiros são idênticos
e, portanto, as pessoas sempre compram do sorveteiro mais próximo. Caso mais de um
sorveteiro estejam posicionados em uma mesma posição, as pessoas que estão mais próximas
daquela posição se dividem igualmente entre todos os sorveteiros lá posicionados.
(a) Suponha que apenas dois sorveteiros estejam escolhendo aonde se posicionarem na faixa
de areia ao redor da lagoa. Caracterize todos os equilíbrios de Nash deste jogo. (Dica:
Você não precisa sair fazendo conta. A caracterização dos equilíbrios pode ser bem
intuitiva, você pode usar …guras, etc., mas seja preciso na sua explicação. Finalmente,
existe um número enorme de equilíbrios) (1,5 pontos).
(b) Suponha que agora tenhamos três sorveteiros escolhendo uma posição na faixa de areia.
Caracterize todos os equilíbrios de Nash do jogo agora (Dica: Novamente existirão
diversos equilíbrios, mas você terá que dividí-los em duas classes. Equilíbrios em que
nenhum dos sorveteiros se posiciona na mesma posição que algum outro sorveteiro e
equilíbrios em que pelo menos 2 sorveteiros se posicionam em uma mesma posição) (2
pontos).
Solução.
(a) Chamemos os dois sorveteiros de A e B, por exemplo. Suponha que o sorveteiro A esteja
posicionado em um lugar qualquer da faixa de areia (ver …gura abaixo).
138 CAPÍTULO 17. SEGUNDO SEMESTRE DE 2009

Observe que se B se posicionar em um local diferente de A, independentemente da


sua exata localização, metade das pessoas estarão mais próximas de B do que de A.
Ou seja, onde quer que B se posicione este venderá sorvetes para exatamente metade
das pessoas na praia. Caso B se posicione no mesmo local que A ele também vende
sorvetes para exatamente metade das pessoas. Isto é, B é sempre indiferente entre
todas as suas estratégias. Por simetria, exatamente a mesma coisa acontece com A.
Mas então, qualquer per…l de estratégias é equilíbrio de Nash desse jogo.

(b) Chamemos agora os sorveteiros de A, B e C. Suponha que A e B estejam posicionados


em locais distintos (ver …gura abaixo).

Sejam DAB e dAB os comprimentos do maior e do menor arco entre A e B, respectivamente.


Se C se posicionar no menor arco entre A e B o seu ganho será dAB =2 1=4, com
igualdade se e somente se dAB = DAB = 1=2. Se C se posicionar no maior arco entre A e
B o seu ganho será DAB =2 1=4, com igualdade se e somente se dAB = DAB = 1=2. Já
se C se posicionar na mesma posição que A ou B o seu ganho será igual a 1=4. Vemos,
então, que qualquer posição no interior do maior arco que liga A e B é uma melhor
resposta para C. Por simetria, a mesma coisa acontece com A e B. Nós concluímos,
então, que qualquer per…l de posições em que todos os sorveteiros estejam posicionados
no maior arco que liga os outros dois sorveteiros é equilíbrio de Nash do jogo acima.
Por exemplo, o per…l na …gura abaixo é um equilíbrio do jogo:

Na verdade, como se posicionar no arco menor entre os outros dois sorveteiros só é


melhor resposta para C quando dAB = DAB , ou seja, quando os dois arcos têm o mesmo
tamanho, nós vemos que todos os equilíbrios de Nash em que todos os sorveteiros
escolhem posições diferentes são da forma acima. Resta testarmos equilíbrios em que
2 ou mais sorveteiros se posicionem em um mesmo lugar. Suponha que A e B estejam
na mesma posição (ver …gura abaixo).
17.3. TERCEIRA PROVA 139

Observe que se C se posicionar em uma posição diferente de A e de B, o seu ganho


será 1=2. Já se C se posicionar na mesma posição que A e B o seu ganho será 1=3.
Portanto, qualquer posição diferente da de A e B é melhor resposta para C. Vejamos
se existe alguma posição de C que faça com que se posicionarem em um mesmo local
sejam de fato melhores respostas para A e B. Pela nossa análise acima, nós vemos que
se posicionar no mesmo local que A só será uma melhor resposta para B se os dois
arcos entre A e C tiverem o mesmo tamanho. Por simetria, isto também faz com que
se posicionar no mesmo local que B seja uma melhor resposta para A. Nós aprendemos
que os per…s de posição em que dois sorveteiros estejam em um mesmo lugar e o outro
esteja na posição oposta, do outro lado da lagoa são os únicos equilíbrios de Nash do
jogo em que mais de um sorveteiro …cam na mesma posição. A …gura abaixo apresenta
um exemplo de tal equilíbrio.

17.3 Terceira Prova


Questão 17.3.1 (Fixação simultânea de preços com bens distintos). Suponha que duas
lojas em um mesmo shopping vendam dois produtos distintos. A competição entre elas se dá
pela …xação simultânea de seus preços. Embora as lojas vendam produtos distintos, o preço
cobrado por uma loja afeta as vendas da outra. Mais especi…camente, a curva de demanda
para o bem 1 é dada por Q1 = 1 p1 + 12 p2 . Já a curva de demanda para o bem 2 é dada
por Q2 = 1 p2 + 12 p1 . Por simplicidade, suponha que os custos …xos e marginais de ambas
as lojas sejam nulos.

(a) (1,5 pontos) Calcule os preços que ambas as lojas cobrarão em equilíbrio. Calcule o lucro
das duas lojas neste caso.

(b) (1 ponto) Suponha agora que as duas lojas tenham o mesmo dono. Que preços elas
cobrariam? Novamente, calcule o lucro das duas lojas.

(c) (1,5 pontos) Voltemos ao caso em que as lojas têm donos diferentes. Suponha que o
administrador do shopping ao perceber que as lojas estão praticando uma política de
preços predatória, e percebendo que ambas poderiam obter um lucro agregado maior se
140 CAPÍTULO 17. SEGUNDO SEMESTRE DE 2009

agissem de forma coordenada, implemente a seguinte política: no …nal do mês a loja


1 tem que repassar 1/3 dos seus lucros para a loja 2. De forma similar, no …nal do
mês a loja 2 tem que repassar uma fração t dos seus lucros para a …rma 1. Encontre
o valor de t que faz com que as lojas escolham os mesmos preços da letra (b) mesmo
tendo donos diferentes.

Solução.

(a) Dado um preço p2 , o preço p1 que maximiza o lucro da loja 1 resolve o seguinte problema
de maximização:
1
max 1 p1 + p2 p1
p1 2
A condição de primeira ordem do problema acima é
1
1 2p1 + p2 = 0;
2
o que implica que a melhor resposta da loja 1 quando a loja 2 está jogando um preço p2
genérico é p1 = 21 + 41 p2 : O problema da loja 2 é absolutamente simétrico ao problema da
loja 1, portanto, a melhor resposta da loja 2 contra um preço p1 genérico é p2 = 12 + 14 p1 .

Em equilíbrio, o preço p1 tem que ser uma melhor resposta ao preço p2 e o preço p2
tem que ser uma melhor resposta ao preço p1 . Ou seja, p1 e p2 têm que resolver o
seguinte sistema:
1 1
p1 = + p2
2 4
e
1 1
p2 = + p1 :
2 4
Resolvendo o sistema acima nós obtemos p1 = p2 = 23 . Com tais preços o lucro de cada
uma das lojas é igual a 94 .

(b) Se as duas lojas têm o mesmo dono, então este só vai se preocupar com o lucro agregado.
Ou seja, o problema de maximização do dono das lojas é

1 1
max 1 p1 + p2 p1 + 1 p2 + p1 p2
p1 ;p2 2 2

As condições de primeira ordem do problema acima são

1 2p1 + p2 = 0

e
1 2p2 + p1 = 0:
Resolvendo o sistema acima nós obtemos p1 = p2 = 1. O lucro de cada uma das lojas
neste caso é 21 :
17.3. TERCEIRA PROVA 141

(c) Suponha que a loja 2 esteja cobrando um preço p2 . Como agora a loja 1 repassa 1=3
dos seus lucros para a loja 2 e recebe uma fração t dos lucros da loja 2, o seu problema
agora é
2 1 1
max 1 p1 + p2 p1 + t 1 p2 + p1 p2 :
p1 3 2 2
A condição de primeira ordem para o problema acima é

2 1 t
1 2p1 + p2 + p2 = 0:
3 2 2

Como nós queremos que os preços sejam os mesmos da letra (c), nós sabemos que t
tem que ser tal que a equação acima seja verdadeira quando p1 = p2 = 1. Quando
p1 = p2 = 1 a equação acima nos dá t = 23 . De forma similar, quando a loja 1 está
cobrando um preço p1 , o problema da loja 2 agora é

1 1 1
max 1 p1 + p2 p1 + (1 t) 1 p2 + p1 p2 :
p2 3 2 2

Vocês podem checar que quando p1 = 1 e t = 32 , a solução do problema de maximização


acima é p2 = 1: k

Questão 17.3.2. Considere o modelo de perigo moral que estudamos nas notas de aula. Ou
seja, suponha que uma …rma queira contratar um gerente para a realização de um projeto.
O retorno do projeto pode ser alto, H = 8 ou baixo, L = 5. O gerente tem a opção de se
esforçar ou não. Quando o gerente se esforça a probabilidade do retorno do projeto ser alto
é pe = 2=3, quando ele não se esforça a probabilidade do retorno ser alto é apenas pn = 1=3.
Quando o gerente se esforça ele incorre em um custo ce = 2. A …rma oferecerá um contrato
de trabalho, (wH ; wL ) ; que estipula o salário do gerente no caso de um retorno alto e de um
retorno baixo. O objetivo da …rma é maximizar o seu lucro esperado. Isto é, maximizar
pi ( H wH ) + (1 pi ) ( L wL ) em que i = e ou n, dependendo de o gerente se esforçar
ou não. Para completar, suponha que o gerente é neutro ao risco. Ou seja, quando ele se
esforça a sua utilidade é dada por U e (wH ; wL ) = pe wH + (1 pe ) wL ce e no caso em que
ele não se esforça é dada por U n (wH ; wL ) = pn wH + (1 pn ) wL .

(a) (1,5 pontos) Suponha primeiro que o esforço seja observável. Escreva a condição que
caracteriza a solução do problema da …rma nos casos em que ela exige que o gerente
se esforce e quando ela não exige (lembre-se que ambos os problemas têm in…nitas
soluções). Calcule o lucro obtido pela …rma nos dois casos.

(b) (2 pontos) Suponha agora que o esforço não seja observável. Qual o contrato ótimo para
a …rma neste caso? Mostre que o gerente aceitará tal contrato e mostre se este contrato
fará com que o gerente se esforce ou não (Explique bem o raciocínio da sua solução).

Solução.
142 CAPÍTULO 17. SEGUNDO SEMESTRE DE 2009

(a) Quando a …rma exige que o gerente se esforce o seu problema pode ser escrito como

e = max pe ( H wH ) + (1 pe ) ( L wL )
wH ;wL

sujeito a
pe wH + (1 pe ) wL ce 0:
Obviamente as possíveis soluções do problema acima têm que satisfazer a restrição com
igualdade, já que se não fosse este o caso a …rma poderia diminuir um pouco um dos
dois salários e aumentar o seu lucro. O problema simpli…ca-se para

e = max pe ( H wH ) + (1 pe ) ( L wL )
wH ;wL

sujeito a
pe wH + (1 pe ) wL = ce :
Mas agora observe que, dada a restrição, o lucro da …rma pode ser reescrito como

e = pe ( H wH ) + (1 pe ) ( L wL )
= pe H + (1 pe ) L ce :

Ou seja, o lucro da …rma independe dos exatos valores de wH e wL , desde que eles
satisfaçam a restrição do problema com igualdade. Portanto, as soluções do problema
quando a …rma exige esforço são caracterizadas pela condição

pe wH + (1 pe ) wL = ce :

O lucro da …rma neste caso será

e = pe H + (1 pe ) L ce
2 1
= 8+ 5 2
3 3
= 5:

O problema da …rma quando ela não exige esforço pode ser escrito como

n = max pn ( H wH ) + (1 pn ) ( L wL )
wH ;wL

sujeito a
pn wH + (1 pn ) wL 0:
O mesmo argumento que …zemos acima nos garante que qualquer solução do problema
satisfaz a restrição do problema com igualdade. O problema simpli…ca-se, então, para

n = max pn ( H wH ) + (1 pn ) ( L wL )
wH ;wL

sujeito a
pn wH + (1 pn ) wL = 0:
17.3. TERCEIRA PROVA 143

É fácil ver que com qualquer contrato que satisfaça a restrição acima o lucro da …rma
é

n = pn ( H wH ) + (1 pn ) ( L wL )
= pn H + (1 pn ) L
1 2
= 8+ 5
3 3
= 6:
Portanto, a condição que caracteriza as soluções do problema da …rma neste caso é
pn wH + (1 pn ) wL = 0:

(b) Nós sabemos que quando o gerente é neutro ao risco a …rma pode obter o mesmo lucro
que ela obteria no caso de esforço observável oferecendo um contrato que pode ser
interpretado como a venda do projeto para o gerente. No caso, como o maior lucro no
caso de esforço observável ocorre quando a …rma não exige esforço, o contrato oferecido
pela …rma terá a forma
wH = H n
= 8 6
= 2
e
wL = L n
= 5 6
= 1:
Nós precisamos primeiro mostrar que o gerente aceitará tal contrato. Para tanto, nós
só precisamos mostrar que o gerente consegue obter uma utilidade esperada maior
ou igual a zero com tal contrato. Vejamos, então, qual seria a utilidade esperada do
gerente se ele aceitasse tal contrato e resolvesse não se esforçar. Neste caso a sua
utilidade esperada seria
U n (wH ; wL ) = pn wH + (1 pn ) wL
1 2
= 2+ ( 1)
3 3
= 0:
Só nos resta agora veri…car se tal contrato levaria o gerente a se esforçar ou não. Mas
observe que a utilidade do gerente com tal contrato, quando ele se esforça, é dada por
U e (wH ; wL ) = pe wH + (1 pe ) wL ce
2 1
= 2+ ( 1) 2
3 3
= 1:
Portanto, tal contrato levará o gerente a não se esforçar. k
144 CAPÍTULO 17. SEGUNDO SEMESTRE DE 2009

Questão 17.3.3. Um famoso ator de televisão está contratando um advogado para abrir um
processo de danos morais contra um jornal. O valor esperado da indenização que o ator vai
receber (levando em conta a probabilidade do ator ganhar ou não a ação e o valor desta em
caso de vitória) é l, em que l é o esforço que o advogado dedica a causa. O custo de se
2
esforçar, para o advogado, é dado pela função c (l) = l2 :

(a) (0,5 pontos) Qual o esforço que o advogado faz quando este recebe como pagamento
uma fração do que for obtido na ação judicial (ou seja, quando a indenização é x
o advogado recebe um pagamento x). Calcule os lucros do advogado e do ator neste
caso.

(b) (0,5 pontos) Qual seria a taxa ótima, do ponto de vista do ator. Calcule os lucros do
ator e do advogado com tal taxa.

(c) (1,5 pontos) Suponha agora que o ator tenha a opção de vender o projeto para o advogado.
Ou seja, o advogado paga um valor inicial ao ator e depois …ca com tudo que ele
conquistar na ação judicial. Suponha que o advogado não esteja trabalhando em nenhuma
outra causa e, portanto, caso ele não aceite o contrato oferecido pelo ator a sua renda
naquele mês será zero. Suponha, também, que quando indiferente entre aceitar ou não
o contrato o advogado o aceite. Calcule o preço pelo qual a ação será vendida. Calcule
os lucros do ator e do advogado neste caso. Eles estão melhores agora ou na parte (b)?

Solução.

(a) Se o advogado recebe uma fração da indenização, o seu problema de maximização é

l2
max l
l 2
A condição de primeira ordem para o problema acima nos dá l = . O lucro do ator
2 2
neste caso é (1 ) l = (1 ) e o lucro do advogado é l l2 = 2 :

(b) A taxa ótima, do ponto de vista do ator é aquela que maximiza o seu lucro. Ou seja,
aquela que maximiza (1 ) . A condição de primeira ordem para a maximização de
tal expressão nos dá = 2 . O lucro do ator com tal taxa é 14 , já o lucro do advogado
1

é 18 :

(c) O problema agora é parecido com a questão 2. Tudo que o ator tem que fazer é escolher
dentre os contratos que dão um lucro de pelo menos zero para o advogado, aquele que
maximiza o seu lucro. Porém, observe que depois que o advogado comprar a causa,
logicamente ele vai querer maximizar o seu lucro com a mesma. Ou seja, uma vez que
o advogado seja o dono da ação ele resolverá o seguinte problema

l2
max l :
l 2
A solução do problema acima é l = 1, o que dá um lucro igual 12 para o advogado.
Portanto, o máximo preço pelo qual o ator pode vender a ação para o advogado é 1=2.
17.4. PROVA SUBSTITUTIVA 145

Observe que o ator está melhor agora do que na letra (b), já que o seu lucro aumentou
de 14 para 12 . Por outro lado, o advogado está obviamente pior. Antes ele obtinha um
lucro de 81 e agora ele compra a ação exatamente pelo lucro que ele vai obter com ela.
Ou seja, seu lucro …nal é zero. k

17.4 Prova Substitutiva


Questão 17.4.1. (1,5p pontos) Uma economia é constituída por dois indivíduos cujas utilidades
são uA (f; mA ) = 43 f + mA e uB (f; mB ) = ln (1 f ) + mB , em que f é a poluição gerada
pelos cigarros consumidos pelo indivíduo A (medida por uma escala que varia entre 0 e 1)
e mi representa a quantidade de dinheiro do indivíduo i. As riquezas iniciais de ambos os
indivíduos são wA = wB = 10. Suponha que o indivíduo B tenha direito a todo o ar puro,
mas que possa vender, ao preço unitário p, o direito de poluir parte do ar ao indivíduo A.
Qual o preço p que vigorará em equilíbrio?

Solução. Como o indivíduo B tem direito a todo o ar puro, nós podemos representar a
f
situação como se o indivíduo B tivesse um estoque inicial wB = 1 de ar puro e o indivíduo A
f
tivesse um estoque inicial wA = 0 de ar puro. Agora o problema vira um de equilíbrio geral
tradicional. Dado um preço p, o indivíduo A resolve o seguinte problema:

4p
max f + mA
f;mA 3

sujeito a
f
pf + mA = 10 + pwA
f
Substituindo a restrição na função objetivo e usando o fato que wA = 0, nós podemos escrever
o problema acima como
4p
max f + 10 pf
f 3
A condição de primeira ordem para o problema acima é

2 1
p = p;
3 f
4 1
o que implica que f = 9 p2
. Já o problema do indivíduo B é

max ln (1 f ) + mB
f;mB

sujeito a
mB = 10 + pf
Substituindo a restrição na função objetivo do problema acima nós …camos com

max ln (1 f ) + 10 + pf
f
146 CAPÍTULO 17. SEGUNDO SEMESTRE DE 2009

A condição de primeira ordem do problema acima nos dá


1
f =1 :
p
Para que o mercado esteja em equillíbrio é necessário que a quantidade f escolhida pelos
dois indivíduos seja a mesma, ou seja
41 1
=1 :
9 p2 p
A solução positiva da equação acima é p = 34 . k
Questão 17.4.2. Suponha que Robinson Crusoé produza e consuma peixe (F) e côco (C).
Suponha que durante um certo período ele tenha decidido trabalhar 200 horas e que ele seja
indiferente entre gastar este tempo catando côco ou pescando. A função de produção de peixe
de Robinson é dada por
1
F = (lF ) 2
e a de côco é 1
C = (lC ) 2 :
em que lF e lC são o número de horas que Robinson passa pescando e catando côco, respectivamente.
Consequentemente,
lC + lF = 200:
A sua função de utilidade para consumo de peixe e côcos é dada por
1
U (F; C) = (F C) 2 :

(a) (1,0 ponto) Se Robinson não pode negociar com o resto do mundo, quantas horas ele
trabalha catando côco e quantas horas ele trabalha pescando? Quantos côcos e peixes
ele produzirá? Qual será sua utilidade? (Dica: Conhecendo a função demanda do
consumidor Cobb-Douglas você pode economizar muitas contas.)

(b) (1,5 pontos) Suponha que após Robinson já ter produzido as quantidades F e C acima,
mas antes de ele haver consumido qualquer parte de sua produção, o comércio internacional
se abra. Suponha que o preço de uma unidade de peixe seja 2 e o preço de uma
unidade de côco seja 1. Quantos peixes e quantos côcos Robinson consumirá agora?
Qual será sua utilidade? (Dica: Novamente, saber a função demanda do consumidor
Cobb-Douglas economiza contas aqui. Caso você não tenha conseguido resolver a letra
(a), suponha que os valores encontrados lá tenham sido F = C = 20 e resolva a letra
(b) partindo destes valores. ATENÇÃO! Esta NÃO é a resposta correta da letra (a))

(c) (1,5 pontos) Suponha agora que o comércio internacional se abra antes que Robinson
tome as suas decisões de produção. Os preços continuam os mesmos da letra (b).
Quantos côcos e quantos peixes Robinson produzirá agora? Quantos côcos e quantos
peixes ele consumirá? Qual será a sua utilidade?

Solução.
17.4. PROVA SUBSTITUTIVA 147

(a) Neste caso, Robinson resolve o seguinte problema:


1
1 1 2
max (lF ) 2 (lC ) 2
lF ;lC

sujeito a
lF + lC = 200:
Mas o problema acima está no formato de maximização de uma função de utilidade
Cobb-Douglas, em que os preços dos dois “bens”são iguais a 1, a riqueza do agente é
igual 200 e os pesos dos dois bens são iguais. Portanto, a solução do problema acima
é dada por lF = lC = 100. Com tais valores de lF e lC serão produzidos 10 peixes e 10
côcos. Finalmente, com tal produção Robinson obterá uma utilidade de 10.

(b) O problema agora é o problema de uma agente que começa com uma dotação inicial de
10 unidades de peixes e 10 unidades de côcos, e que pode negociar de acordo com os
preços acima. Ou seja, Robinson resolve o seguinte problema:
1
max (F C) 2
F;C

sujeito a
2F + C = 2 10 + 1 10 = 30:
Mas o problema acima continua no formato Cobb-Douglas, em que os dois bens tem
o mesmo peso. Isto implica que o agente gastará metade da sua renda com cada um
dos bens. Ou seja F = 21 30
2
= 15
2
e C = 12 30
1
= 15. A utilidade de Robinson com tais
15 15
valores será U 2 ; 15 = 2 :
p

(c) O problema de Robinson agora é


1
max (F C) 2
F;C;lF ;lC

sujeito a p p
2F + C = 2 lF + lC
e
lF + lC = 200:
Nós poderíamos escrever o lagrangeano e resolver o problema acima, mas é mais
fácil dividí-lo em duas partes. Obviamente, em qualquer solução do problema acima,
Robinson vai maximizar a sua renda com a produção de peixes e côcos. Ou seja,
Robinson primeiro resolve o seguinte problema
p p
max 2 lF + lC
lF ;lC

sujeito a
lF + lC = 200:
148 CAPÍTULO 17. SEGUNDO SEMESTRE DE 2009

Usando a restrição para eliminar lC da função objetivo o problema reduz-se para


p p
max 2 lF + 200 lF :
lF

A condição de primeira ordem do problema acima é


1 1
p = p ;
lF 2 200 lF
o que implica que lF = 160. Da prestrição nós aprendemos que lC = 40.p Isto dá
uma produção de peixes igual a 4 10 e uma produção de côcos igual a 2 10. Ou
seja, a prenda de Robinson
p com
p a venda de peixes e côcos no mercado internacional
é 2 4 10 + 1 2 10 = 10 10. Na segunda metade do problema de Robinson ele
maximiza a sua utilidade dada a sua renda. Ou seja, ele resolve
p
max F C
F;C

sujeito a p
2F + C = 10 10:
Mas o problema acima está no formato Cobb-Douglas com pesos 1/2. Logo, Robinson
dividirá a suaprenda igualmente
p entre os dois bens. pOu seja,
po seu consumo de peixes
1 10 10 5 10 1 10 10
será F = 2 2 = 2 e o de côcos será C = 2 1 = 5 10. A sua utilidade será
p p p p
U 5 210 ; 5 10 = 25 5 = 5 5. k

Questão 17.4.3. (1,5 pontos) Suponha p que a função de utilidade (função de Bernoulli) de
um investidor seja dada por U (M ) = m, em que m é sua riqueza. Suponha que este
investidor tenha uma riqueza inicial w = 150 e que ele pretenda investir toda a sua riqueza
inicial em um par de ações A e B. Hoje, os preços unitários de ambos os tipos de ação são
pA = pB = 25. O preço futuro de tais ações depende de dois estados da natureza conforme a
seguinte tabela:
Estado da Natureza Probabilidade pA pB
0 1=2 12 0 .
1 1=2 8 40
Determine a utilidade esperada do investidor admitindo que ele invista metade da sua renda
inicial em ações da empresa A e metade em ações da empresa B:
Solução. Como o investidor gastará 75 unidades monetárias em ações de cada empresa,
ele comprará 3 unidades de ações da empresa A e 3 unidades de ações da empresa B.
Isto implica que no estado 0 a sua renda será 3 12 + 3 0 = 36. Já no estado 1 a sua
renda
p será p3 8 + 3 40 = 144. Logo, a sua utilidade esperada com tal portifólio será
1 1
2
36 + 2
144 = 9: k

Questão 17.4.4. Uma empresa monopolista produz um bem q de acordo com uma função
custo dada por c (q) = q + q 2 . Suponha que a curva de demanda inversa do mercado seja
dada por p (q) = 13 q.
17.4. PROVA SUBSTITUTIVA 149

(a) (1,5 pontos) Calcule a quantidade q produzida pelo monopolista. Qual o seu lucro?

(b) (1,5 pontos) Suponha agora que, embora a empresa monopolista funcione em um mercado
protegido contra a importação, esta tenha a opção de vender o seu bem no mercado
exterior. Mais especi…camente, o monopolista tem a opção de vender o bem no mercado
doméstico, em que este enfrenta uma curva de demanda inversa dada por pd (qd ) =
13 qd , mas tem também a opção de vender o bem no mercado internacional por um
preço pi = 11. O preço do bem no mercado internacional não depende da quantidade
qi vendida pelo monopolista neste mercado. A função custo da …rma continua sendo
dada por c (q) = q + q 2 . A diferença é que agora q = qd + qi . Quanto a …rma venderá
no mercado doméstico e no mercado internacional? Qual o seu lucro agora? (Dica: A
intuição pode ser traiçoeira aqui. É melhor con…ar na matemática e resolver o problema
do monopolista completo.)

Solução.

(a) Neste caso o problema do monopolista é

max (13 q) q q q2
q

A condição de primeira ordem do problema acima nos dá q = 3 Tal quantidade implica


que o preço cobrado pelo monopolista será 10 e o seu custo será 12. Portanto o seu
lucro será = 10 3 12 = 18:

(b) O problema da …rma agora é

max (13 qd ) qd + 11qi (qd + qi ) (qd + qi )2


qd ;qi

As condições de primeira ordem do problema acima são

12 4qd 2qi = 0

e
10 2qd 2qi = 0:
Resolvendo o sistema acima nós obtemos qd = 1 e qi = 4. O preço no mercado
doméstico será 12. O custo da …rma será 5+52 = 30. Portanto, o lucro do monopolista
será

= 12 1 + 11 4 30
= 26: k
150 CAPÍTULO 17. SEGUNDO SEMESTRE DE 2009
Capítulo 18

Primeiro Semestre de 2010

18.1 Primeira Prova


Questão 18.1.1. Considere uma economia na caixa de Edgeworth em que as funções de
2 1
utilidade dos consumidores são dadas por U A (x1A ; x2A ) = (x1A ) 3 (x2A ) 3 e U B (x1B ; x2B ) = x1B +
x2B . Suponha que as dotações iniciais dos consumidores são (wA 1
; wA2
) = (0; 1) e (wB 1 2
; wB )=
(1; 0).

(a) Dado um vetor de preços genérico (p1 ; p2 ), escreva e resolva o problema do consumidor
B (Use apenas lógica, matemática não será de nenhuma utilidade aqui) (1,5 pontos).

(b) Encontre o único equilíbrio competitivo desta economia (1,5 pontos).

Solução.

(a) O problema do consumidor B é


max
1 2
x1B + x2B
xB ;xB

sujeito a

p1 x1B + p2 x2B 1
p1 wB 2
+ p2 wB = p1
x1B 2
0 e xB 0:

Obviamente, se p1 > p2 o consumidor B vai gastar toda a sua riqueza com o bem 2.
Se p2 > p1 , então ele gastará toda a sua riqueza com o bem 1. Finalmente, se p1 = p2 ,
então qualquer par (x1B ; x2B ) que exaura toda a riqueza do indivíduo B é solução para
o seu problema. Em resumo, a solução do problema acima é
9
(x1B ; x2B ) = 0; pp21 , se p1 > p2 >
=
1 2
(xB ; xB ) = (1; 0) , se p2 > p1 :
1 2 1 2 1 2
>
;
f(xB ; xB ) : xB ; xB 0 e p1 xB + p2 xB = p1 g , se p1 = p2

151
152 CAPÍTULO 18. PRIMEIRO SEMESTRE DE 2010

(b) Como apenas preços relativos são determinados em equilíbrio, façamos o bem 1 como
numerário. Ou seja, façamos p1 = 1 e p2 = p. O nosso trabalho agora é encontrar p que
equilibre os mercados em nossa economia. Para tanto, primeiro precisamos resolver o
problema do consumidor A. O problema do consumidor A é
2 1
max
1 2
x1A 3
x2A 3

xA ;xA

sujeito a

x1A + px2A wA1 2


+ pwA =p
x1A 2
0 e xA 0:

Nós sabemos que a solução do problema acima é dada por


2p 1
x1A = e x2A = :
3 3
Portanto, idependentemente do valor de p, em equilíbrio, o consumidor A consumirá
apenas 1=3 de unidades do bem 2. Mas observe que a dotação agregada do bem 2 na
economia é igual a 1. Ou seja, para que o mercado para o bem 1 esteja equilibrado, nós
precisamos que x2B = 2=3. Isto implica que o segundo caso na solução do problema do
consumidor B não pode ocorrer. Ou seja, nós temos que ter p 1. Mas se p 1, então
x1A = 2p
3
2
3
. Como a dotação agregada do bem 1 é também igual a 1, isto implica que,
para que o mercado para o bem 1 esteja em equilíbrio, nós precisamos que x1B > 0.
Ou seja, em equilíbrio, o consumidor estará consumindo quantidades posisitvas dos
bens 1 e 2. Isto só pode ocorrer se p = 1. Se p = 1, da solução do problema do
consumidor A nós aprendemos que x1A = 2=3 e x2A = 1=3. Das condições de equilíbrio
dos mercados nós aprendemos que x1B = 1=3 e x2B = 2=3. Observe que a cesta de
consumo (x1B ; x2B ) = (1=3; 2=3) de fato exauri a riqueza do consumidor B e, portanto,
é solução do seu problema quando p = 1. Conclusão: o único equilíbrio competitivo
desta economia é (p1 ; p2 ) = (1; 1), (x1A ; x2A ) = (2=3; 1=3) e (x1B ; x2B ) = (1=3; 2=3) : k

Questão 18.1.2. Considere uma economia na caixa de Edgeworth, isto é, uma economia de
trocas com dois consumidores e dois bens.

(a) Suponha que a dotação agregada de ambos os bens seja igual a 1 e as funções de utilidade
1
dos dois agentes sejam dadas por U A (x1A ; x2A ) = (x1A ) (x2A ) , para algum 0 < < 1,
e U B (x1B ; x2B ) = min fx1B ; x2B g. Caracterize todas as alocações e…cientes no sentido
de Pareto para esta economia (Dica: Na minha opinião o jeito mais fácil de resolver
a questão é usar apenas lógica. Se você prestar atenção na de…nição de e…ciência
no sentido de Pareto e olhar principalmente para o indivíduo B a situação …ca clara.
Algumas pessoas podem achar mais fácil resolver a questão desenhando a situação na
caixa de Edgeworth) (1,5 pontos).

(b) Suponha que a dotação agregada de ambos os bens seja igual a 1 e as funções de utilidade
1
dos dois agentes sejam dadas por U A (x1A ; x2A ) = (x1A ) (x2A ) para algum 1=2 < < 1
18.1. PRIMEIRA PROVA 153

e U B (x1B ; x2B ) = max fx1B ; x2B g. Caracterize todas as alocações e…cientes no sentido de
Pareto para esta economia (Dica: Novamente o jeito mais fácil de resolver a questão
é usar apenas lógica. Alocações em que x1B ; x2B > 0 podem ser e…cientes? E alocações
em que x1B > 0 e x2B = 0? E alocações em que x1B = 0 e x2B > 0? Neste caso tentar
desenhar a situação na caixa de Edgeworth provavelmente atrapalhará mais do que
ajudará. Observe que a hipótese de que > 1=2 é fundamental.) (1,5 pontos).

Solução.

(a) Primeiro testemos se existe alguma alocação e…ciente em que x1B > x2B . Como a dotação
agregada de ambos os bens é 1, nós temos que x1A = 1 x1B e x2A = 1 x2B . Além
disto, dada a função de utilidade do indivíduo B, é claro que sua utilidade com tal
cesta de consumo é apenas x2B . Mas então poderíamos de…nir uma nova alocação
(^ x1A ; x^2A ) := (x2A ; x2A ). É claro que U B (^
x1B ; x^2B ) := (x2B ; x2B ) e (^ x1B ; x^2B ) = U B (x1B ; x2B )
e U A (^ x1A ; x^2A ) > U A (x1A ; x2A ). Portanto, alocações em que x1B > x2B não podem ser
e…cientes no sentido de Pareto. Um raciocínio completamente simétrico mostra que
alocações em que x2B > x1B também não podem ser e…cientes. As únicas alocações
que podem ser e…cientes, então, são aquelas em que x1B = x2B . De fato, nós podemos
mostrar que todas as alocações desse tipo são e…cientes. Para ver isto, considere uma
alocação em que x1B = x2B . Neste caso, x1A = x2A = 1 x1B . A única forma de
aumentar a utilidade do consumidor B é aumentar x1B e x2B ao mesmo tempo. Mas isto
diminui x1A e x2A , o que claramente reduz a utilidade do agente A. De forma similar,
a única forma de aumentar a utilidade do agente A é aumentar x1A ou x2A . Mas ao
fazer isto nós diminuímos min fx1B ; x2B g, o que diminui a utilidade de B. Portanto, é
impossível aumentar a utilidade de um dos agentes sem diminuir a utilidade do outro.
Nós concluímos que todas as alocações em que x1B = x2B são e…cientes no sentido de
Pareto.

(b) Considere primeiro uma alocação em que 1 > x1B x2B > 0. Novamente, como
a dotação agregada de ambos os bens é igua a 1, nós temos que x1A = 1 x1B e
x2A = 1 x2B . Com tal alocação nós temos que U B (x1B ; x2B ) = x1B . Mas agora
considere uma nova alocação tal que (^ x1B ; x^2B ) := (x1B ; 0). É claro que U B (^ x1B ; x^2B ) =
U B (x1B ; x2B ), mas U A (1 x^1B ; 1 x^2B ) > U A (x1A ; x2A ). Portanto, alocações em que
1 > x1B x2B > 0 não são e…cientes. Um raciocínio absolutamente simétrico mostra
que alocações em que 1 > x2B > x1B > 0 também não são e…cientes. Considere agora
alocações em que 1 > x1B > 0 = x2B . Neste caso, (x1A ; x2A ) = (1 x1B ; 1). De…na
uma nova alocação (^ x1B ; x^2B ) := (0; x1B ). Observe que U B (^ x1B ; x^2B ) = U B (x1B ; x2B ). No
1
entanto, U A (1 x^1B ; 1 x^2B ) = (1 x1B ) > (1 x1B ) = U A (x1A ; x2A ).18.1 Portanto,
alocações em que 1 > x1B > 0 não são e…cientes. Testemos agora alocações em
que x1B = 0 e x2B < 1. Neste caso, x1A = 1 e x2A = 1 x2B . Considere uma cesta
1
x1A ; x^2A ) qualquer. Se x^1A x2A , então U A (^
(^ x1A ; x^2A ) U A (x2A ; 1) = (x2A ) < (x2A ) =
A 2 2 2 A 1 2 A 2
U (1; xA ). Se x^A xA , então U (^ xA ; x^A ) U (1; xA ). Portanto, qualquer cesta de
1 2 A
consumo (^ xA ; x^A ) tal que U (^ xA ; x^2A ) > U A (1; x2A ) necessariamente satisfaz x^1A > x2A
1

1
18.1 1 (1 x1B ) 1 2 1
Para ver que 1 x1B > 1 x1B note que = 1 x1B = 2 1 > 1:
(1 x1B ) (1 x1B )
154 CAPÍTULO 18. PRIMEIRO SEMESTRE DE 2010

e x^2A > x2A . Mas isto implica que U B (1 x^1A ; 1 x^2A ) < U B (0; 1 x2A ). Portanto,
é impossível aumentar a utilidade do consumidor A sem diminuir a utilidade do
consumidor B. Considere agora uma cesta de consumo (^ x1B ; x^2B ) qualquer. Suponha
B
que U (^ B
xB ; x^B ) > U (0; xB ). É claro que isto só pode ocorrer se x^1B > x2B ou x^2B > x2B .
1 2 2

No primeiro caso nós teríamos U A (1 x^1B ; 1 x^2B ) < U A (1 x2B ; 1) = (1 x2B ) <
1
(1 x2B ) = U A (1; 1 x2B ). No segundo caso, U A (1 x^1B ; 1 x^2B ) < U A (1; 1 x2B ).
Portanto, é impossível aumentar a utilidade do consumidor B sem diminuir a utilidade
do consumidor A. Nós concluímos que todas as alocações em que x1B = 0 e x2B < 1
são e…cientes no sentido de Pareto. Finalmente, considere alocações em que ou x1B = 1
ou x2B = 1. Neste caso, U B (x1B ; x2B ) = 1 e é impossível aumentar a utilidade do
consumidor B. Por outro lado, U A (1 x1B ; 1 x2B ) = 0 e a única forma de aumentar
a utilidade do consumidor A é dar a B uma cesta (^ x1B ; x^2B ) em que x^1B ; x^2B < 1. Mas
isto claramente diminui a utilidade de B. Nós concluímos que todas as alocações em
que ou x1B = 1 ou x2B = 1 também são e…cientes no sentido de Pareto. k
Questão 18.1.3. Suponha que um revendedor seja monopolista em um mercado em que a
curva de demanda inversa seja dada por p (q) = 16 2q.
(a) Suponha que o revendedor adquira o bem q do produtor a um preço por unidade igual a
r. Calcule a quantidade vendida, q, e o preço, p, cobrado pelo revendedor como funções
de r (1,5 pontos).
(b) Suponha que o custo marginal de produção do produtor seja constante e igual a zero.
Usando o que você aprendeu na letra (a) calcule o preço r que o produtor cobrará do
revendedor (1,5 pontos).
Solução.
(a) O problema do revendedor é
max (16 2q) q qr
q

A condição de primeira ordem do problema acima nos dá


16 2q 2q = r:18.2
r
Isolando q na expressão acima nós obtemos q = 4 4
. Substituindo tal valor na curva
de demanda inversa nós obtemos p = 8 + 2r :
(b) Como o custo marginal do produtor é nulo, seu problema de maximização de lucro se
resume a maximizar a sua receita. Ou seja, o problema do produtor é
r
max 4 r
r 4
A condição de primeira ordem do problema acima é
r r
4 = 0:
4 4
Isolando r na expressão acima nós obtemos r = 8: k
18.2
Ou seja, receita marginal é igual ao custo marginal.
18.1. PRIMEIRA PROVA 155

Questão 18.1.4. Suponha que tenhamos uma sociedade com N indivíduos que têm preferências
sobre duas alternativas, x e y. Lembre-se, das notas de aula, que neste caso a preferência
do indivíduo i pode ser representada por um número fi = 1; 0, ou 1. A interpretação
é que 1 signi…ca que i prefere x a y, -1 signi…ca que i prefere y a x, e 0 sigini…ca que i
é indiferente entre x e y. Um funcional de bem-estar social é uma regra que mapeia um
per…l de preferências dos agentes em uma preferência social fS . Ou seja, um funcional de
bem-estar social associa a cada possível vetor (f1 ; :::; fN ) um valor fS (f1 ; :::; fN ) = 1; 0; ou
1. Lembremos das três propriedades de funcionais de bem-estar social que discutimos nas
notas de aulas:

De…nição 18.1 (Anonimidade). Para qualquer vetor (f1 ; :::; fN ), o valor fS (f1 ; :::; fN ) só
depende do número de 1’s, 0’s e -1’s em (f1 ; :::; fN ).

De…nição 18.2 (Neutralidade Entre Alternativas). Dizemos que um funcional de bem-estar


social é neutro entre as alternativas se sempre temos fS (f1 ; :::; fN ) = fS ( f1 ; :::; fN ).

De…nição 18.3 (Resposta Positiva). Dizemos que um funcional de bem-estar social responde
de forma positiva a mudanças de preferências individuais, se para quaisquer dois per…s
(f^1 ; :::; f^N ) e (f1 ; :::; fN ) tais que f^i fi pra todo i, com desigualdade estrita para algum i,
e fS (f1 ; :::; fN ) 0, então fS (f^1 ; :::; f^N ) = 1.

Nas notas de aula nós aprendemos que o único funcional de bem-estar social que satisfaz
as três propriedades acima é a regra da maioria.

(a) Dê um exemplo de funcional de bem-estar social, diferente da regra da maioria simples,


que satisfaz Anonimidade e Neutralidade Entre Alternativas (Dica: de certa forma um
funcional que satisfaz Resposta Positiva respeita a vontade das pessoas. Que tal uma
versão da regra da maioria que desrespeite a vontade das pessoas?) (1 ponto).

(b) Dê um exemplo de funcional de bem-estar social, diferente da regra da maioria simples,


que satisfaz Anonimidade e Resposta Positiva (Dica: um funcional que satisfaz Neutralidade
entre Alternativas trata as duas alternativas de forma simétrica. Que tal uma versão
da regra da maioria que, a priori, tenha uma tendência maior de escolher uma das
alternativas do que a outra?) (1 ponto).

(c) Dê um exemplo de funcional de bem-estar social, diferente da regra da maioria simples,


que satisfaz Neutralidade Entre Alternativas e Resposta Positiva (Dica: um funcional
que satisfaz Anonimidade dá a mesma importância para todas as pessoas na sociedade.
O que seria uma versão da regra da maioria que dá mais importância para alguns
indivíduos especí…cos?) (1 ponto).

Solução.

(a) Seguindo a dica, nós podemos usar o funcional de bem estar social que sempre contraria
a vontade da maioria. Ou seja, se a maioria das pessoas prefere x a y, então tal
funcional diz que y é preferível a x socialmente, e se a maioria das pessoas prefere y a
156 CAPÍTULO 18. PRIMEIRO SEMESTRE DE 2010

x, então tal funcional diz que x é preferível a y socialmente. Usando o formalismo no


enunciado da questão tal funcional pode ser escrito como:
8 PN
< 1 se Pi=1 fi > 0;
N
fS (f1 ; :::; fN ) = 0 se fi = 0;
: Pi=1
N
1 se i=1 fi < 0:

(b) Um funcional de bem estar social que tem uma tendência maior de escolher x do que
y, pode ser um que exija mais do que uma maioria simples para declarar y preferível
a x. Por exemplo, suponha que o nosso funcional de bem estar social dê um voto
de vantagem para x no início da votação. É fácil ver que tal procedimento satisfaz
Anonimidade e Resposta Positiva, mas não satisfaz Neutralidade entre Alternativas.
Seguindo o formalismo no enunciado da questão, tal funcional pode ser escrito como:
8 PN
< 1 se Pi=1 fi > 1;
N
fS (f1 ; :::; fN ) = 0 se fi = 1;
: Pi=1
N
1 se i=1 fi < 1:

(c) Uma variação da regra da maioria simples que dá mais importância a alguns indivíduos
do que outros pode ser um funcional que dê diferentes pesos aos indivíduos. Suponha
que 1 ; 2 ; :::; N > 0. No formalismo do enunciado da questão, a versão da regra da
maioria em que os indivíduos têm pesos diferentes pode ser escrita como:
8 PN
< 1 se Pi=1 i fi > 0;
N
fS (f1 ; :::; fN ) = 0 se i=1 i fi = 0;
: PN
1 se i=1 i fi < 0:

É fácil ver que o procedimento acima satisfaz Neutralidade entre Alternativas e Resposta
Positiva, mas não satisfaz Anonimidade. k

18.2 Segunda Prova


Questão 18.2.1. Duas empresas, F1 e F2 , vendem exatamente o mesmo produto e a competição
entre ambas se dá pela …xação simultânea das suas quantidades a serem produzidas. A parte
da demanda nesta economia é representada pela seguinte curva de demanda inversa:

p (y1 + y2 ) = 120 (y1 + y2 ) :

Finalmente, os custos de produção das …rmas 1 e 2 são dados por C (yi ) = yi2 , para i = 1; 2:
A situação acima pode ser representada por um jogo. Os conjuntos de estratégias de ambos
os jogadores são dados por A1 = A2 = [0; 1), em que uma estratégia yi 2 Ai é simplesmente
a quantidade que a …rma Fi decide produzir. Os ganhos dos jogadores serão dados pelos seus
lucros, dadas as escolhas de produção de ambos.

(a) Calcule as quantidades y1 e y2 que ambas as …rmas vão produzir em equilíbrio. Ou seja,
encontre o único equilíbrio de Nash do jogo descrito acima. (1 ponto)
18.2. SEGUNDA PROVA 157

(b) Suponha que as empresas façam um conluio e resolvam maximizar o lucro agregado.
Quanto cada empresa vai produzir agora? (1 ponto)

(c) Suponha agora que, após a empresa 2 já haver de…nido a sua produção de acordo com o
valor encontrado na letra (b), a empresa 1 resolva trapacear e simplesmente maximizar
o seu lucro individual. Quanto a empresa 1 produzirá neste caso? (1 ponto)

Solução.

(a) Suponha que a …rma 2 esteja produzindo uma quantidade genérica y2 . A escolha ótima
da …rma 1 resolve o seguinte problema:

max (120 (y1 + y2 )) y1 y12


y1

A condição de primeira ordem do problema acima é dada por

4y1 = 120 y2 .

Similarmente, a condição que caracteriza a escolha ótima da …rma 2 quando a …rma 1


produz uma quantidade genérica y1 é

4y2 = 120 y1 :

Um equilíbrio de Nash para jogo acima é um par (y1 ; y2 ) que satisfaz as duas equações
acima simultaneamente. Resolvendo o sistema acima nós obtemos y1 = y2 = 24:

(b) O problema que caracteriza a maximização do lucro agregado é dado por

max (120 (y1 + y2 )) (y1 + y2 ) y12 y22


y1 ;y2

As condições de primeira ordem do problema acima são

4y1 = 120 2y2

e
4y2 = 120 2y1 :
Resolvendo o sistema acima nós obtemos y1 = y2 = 20:

(c) Agora, a produção da empresa 2 já está …xa no valor y2 = 20. Portanto, o problema
que caracteriza a escolha ótima da …rma 1 é

max (120 (y1 + 20)) y1 y12


y1

A condição de primeira ordem do problema acima nos dá y1 = 25: k


158 CAPÍTULO 18. PRIMEIRO SEMESTRE DE 2010

Questão 18.2.2. Considere o seguinte jogo em forma matricial:

Jogador 2
E D
:
Jogador C 2; 3 2; 3
1 B 2; 3 2; 3

Encontre todos os equilíbrios de Nash em estratégias mistas para o jogo acima. (2 pontos)
Solução. Na verdade, o jogo acima é exatamente o jogo de par ou ímpar que estudamos nas
notas de aula. Tudo que eu …z foi multiplicar o ganho do jogador 1 por 2 e o do jogador 2
por 3 em todas as situações. Como vamos ver abaixo, isto não altera em nada a solução do
jogo.18.3 Sejam 2 [0; 1] as estratégias do jogador 1 e 2 [0; 1] as do jogador 2. Conforme o
nosso roteiro usual de solução, tentemos primeiro encontrar um equilíbrio de Nash ( ; )
em que = 1. Se = 1, o ganho de uma estratégia genérica do jogador 2 é dado por

U 2 (1; ) = ( 3) + (1 ) 3.

É claro que a única melhor resposta para o jogador 2 neste caso é = 0. Portanto, se existe
um equilíbrio de Nash em que = 1, este tem que ser ( ; ) = (1; 0). Mas observe que,
se 2 está jogando = 0, então o ganho de uma estratégia genérica do jogador 1 é dado
por
U 1 ( ; 0) = ( 2) + (1 ) 2:
Mas é óbvio que a única melhor resposta para 1 neste caso é jogar = 0. Portanto, o per…l
(1; 0) não é um equilíbrio de Nash e nós concluímos que o jogo não tem nenhum equilíbrio
de Nash em que 1 jogue = 1. Tentemos agora encontrar um equilíbrio de Nash ( ; )
em que = 0. Neste caso, o ganho de uma estratégia genérica para 2 é dado por

U 2 (0; ) = 3 + (1 ) ( 3) :

É evidente que a única melhor resposta para 2 neste caso é jogar = 1. Portanto, se existir
um equilíbrio de Nash em que = 0, este equilíbrio tem que ser ( ; ) = (0; 1). No
entanto, quando 2 joga = 1 o ganho de uma estratégia genérica para o jogador 1 é dado
por
U 1 ( ; 1) = 2 + (1 ) ( 2) :
Mas é evidente que a única melhor resposta para 1 neste caso é jogar = 1. Portanto o
per…l (0; 1) não é um equilíbrio de Nash do jogo e nós concluímos que o jogo não tem nenhum
equilíbrio de Nash em que = 0. Só nos resta agora tentar encontrar um equilíbrio de Nash
( ; ) em que 0 < < 1. Pela proposição que aprendemos nas notas de aula, nós sabemos
que tal estratégia só pode ser uma melhor resposta contra (independentemente de quem
seja ) se
U 1 (1; ) = U 1 (0; ) :
18.3
Este é um resultado geral. Em qualquer jogo, se você multiplicar os ganhos de um jogador por uma
constante positiva, a solução do jogo não se altera. Isto está relacionado com o fato de que se você multiplicar
uma representação por utilidade esperada de uma preferência por uma constante positiva você obtém outra
representação por utilidade esperada da mesma preferência.
18.2. SEGUNDA PROVA 159

Em termos dos ganhos no nosso jogo a condição acima pode ser escrita como
2 + (1 ) ( 2) = ( 2) + (1 ) 2:
Resolvendo a equação acima nós obtemos = 1=2. Portanto, em um equilíbrio de Nash
com 0 < < 1, o jogador 2 tem que estar jogando = 1=2. Mas observe que 0 < < 1.
Como também tem que ser uma melhor resposta contra , novamente, pela proposição
nas notas de aula, nós temos que ter.
U2 ( ; 1) = U 2 ( ; 0) :
Em termos dos ganhos no nosso jogo a condição acima pode ser escrita como
( 3) + (1 ) 3= 3 + (1 ) ( 3) :
Resolvendo a equação acima nós obtemos = 1=2. Portanto, = 1=2 faz com que
qualquer estratégia do jogador 2 seja uma melhor resposta para ele e = 1=2 faz com que
qualquer estratégia do jogador 1 seja uma melhor resposta para ele. Logo = 1=2 é uma
melhor resposta contra = 1=2 e = 1=2 é uma melhor resposta contra = 1=2. Nós
concluímos que (1=2; 1=2) é um equilíbrio de Nash para o jogo acima. Como nós já testamos
todas as possibilidades, este na verdade é o único equilíbrio do jogo. k
Questão 18.2.3. Considere o modelo de perigo moral que estudamos nas notas de aula. Ou
seja, suponha que uma …rma queira contratar um gerente para a realização de um projeto. O
retorno do projeto pode ser alto, H , ou baixo, L , em que H > L . O gerente tem a opção
de se esforçar ou não. Quando o gerente se esforça a probabilidade do retorno do projeto
ser alto é pe e quando ele não se esforça a probabilidade do retorno ser alto é pn , em que
0 < pn < pe < 1. Quando o gerente se esforça ele incorre em um custo ce > 0. A …rma
oferecerá um contrato de trabalho, (wH ; wL ) ; que estipula o salário do gerente no caso de um
retorno alto e de um retorno baixo. O objetivo da …rma é maximizar o seu lucro esperado.
Isto é, maximizar pi ( H wH ) + (1 pi ) ( L wL ) em que i = e ou n, dependendo de o
gerente se esforçar ou não. Para completar, suponha que o gerente seja um maximizador de
utilidade esperada com uma função de utilidade genérica. Ou seja, quando ele se esforça a
sua utilidade esperada é dada por U e (wH ; wL ) = pe u (wH ) + (1 pe ) u (wL ) ce , e no caso
em que ele não se esforça é dada por U n (wH ; wL ) = pn u (wH ) (1 pn ) u (wL ), em que u é
um função qualquer.
(a) Suponha que a …rma consiga observar se o gerente se esforça ou não. Escreva o problema
que representa a escolha do contrato ótimo para a …rma quando ela exige que o gerente
se esforce (1,5 pontos). (1,5 pontos)
(b) Suponha que a função u acima seja estritamente convexa. Ou seja, o gerente é estritamente
AMANTE ao risco. Argumente, de forma apenas intuitiva, que neste caso o problema
que você escreveu na letra (a) não tem solução (Dica: mostre que para qualquer contrato
(wH ; wL ) que satisfaça a restrição do problema que você escreveu na letra (a) existe um
outro contrato (w^H ; w^L ) que também satisfaz a restrição do problema, mas que dá um
lucro esperado maior para a …rma. Isto é mais ou menos o que signi…ca o problema
não ter solução. A sua tarefa é explicar intuitivamente como construir (w^H ; w^L ).
ATENÇÃO! É para explicar apenas intuitivamente, não é para fazer nenhuma conta.)
(1,5 pontos)
160 CAPÍTULO 18. PRIMEIRO SEMESTRE DE 2010

Solução.

(a) Como os esforço é observável, a …rma só tem que escolher o melhor contrato dentre
aqueles que o gerente considera melhor do que não trabalhar. Ou seja, o problema
da …rma é
max pe ( H wH ) + (1 pe ) ( L wL )
wH ;wL

sujeito a
pe u (wH ) + (1 pe ) u (wL ) ce 0:

(b) Para um dado contrato de salários (wH ; wL ) de…na E (wH ; wL ) como o valor
esperado do contrato (wH ; wL ) quando o gerente se esforça. Ou seja, E (wH ; wL ) :=
pe wH + (1 pe ) wL . Observe que o lucro esperado da …rma quando ela oferece um
contrato de trabalho (wH ; wL ) e o gerente se esforça pode ser escrito como

= pe H + (1 pe ) L E (wH ; wL ) :

Intuitivamente, como o gerente é amante do risco, dentre dois contratos de salário


que tenham o mesmo valor esperado ele prefere estritamente aquele que tem mais
risco. Suponha que (wH ; wL ) satisfaça a restrição do problema escrito na letra
(a). Ou seja, suponha que (wH ; wL ) satisfaça

pe u (wH ) + (1 pe ) u (wL ) ce 0:

O valor esperado do contrato salarial acima é E (wH ; wL ) = pe wH + (1 pe ) wL .


Vamos agora construir um contrato (w~H ; w~L ) que tenha o mesmo valor esperado do
contrato acima, mas que seja mais arriscado. Fixe > 0. Note que se de…nirmos
w~H := wH + e w~L := wL 1 pepe , nós temos E(w~H ; w~L ) = pe w~H + (1 pe ) w~L =
pe wH + (1 pe ) wL = E (wH ; wL ). Ou seja, o contrato (w~H ; w~L ) tem o mesmo
valor esperado do contrado (wH ; wL ). No entanto, (w~H ; w~L ) é um contrato mais
arriscado. De…na
(1 pe ) (wH wL )
:= :
(1 pe ) (wH wL ) +
Observe agora que w~H +(1 ) (pe wH +(1 pe ) wL ) = wH e w~L +(1 ) (pe wH +
(1 pe ) wL ) = wL . Como u é uma função estritamente convexa nós temos

pe u (wH ) + (1 pe ) u (wL ) ce
= pe u ( w~H + (1 ) (pe wH + (1 pe ) wL ))
+ (1 pe ) u ( w~L + (1 ) (pe wH + (1 pe ) wL )) ce
< (pe u(w~H ) + (1 pe ) u(w~L )) + (1 ) u (pe wH + (1 pe ) wL ) ce
< (pe u(w~H ) + (1 pe ) u(w~L )) + (1 ) (pe u (wH ) + (1 pe ) u (wL )) ce

Da primeira e última linha acima nós …camos com

(pe u(w~H ) + (1 pe ) u(w~L ) ce ) > (pe u (wH ) + (1 pe ) u (wL ) ce ) :


18.2. SEGUNDA PROVA 161

Como pe u (wH )+(1 pe ) u (wL ) ce 0, nós concluímos que pe u(w~H )+(1 pe ) u(w~L )
ce > 0. Ou seja, o contrato (w~H ; w~L ) satisfaz a restrição do problema de forma
estrita. Além disto, o contrato (w~H ; w~L ) tem o mesmo valor esperado do contrato
(wH ; wL ) e, portanto, como nós vimos acima, dá o mesmo lucro para …rma.
Mas então, se de…nirmos um novo contrato (w^H ; w^L ) em que w^H = w~H " e
w^L = w~L ",para " su…cientemente pequeno, a restrição do problema continuará
sendo satisfeita. Porém, o contrato (w^H ; w^L ) dá um lucro estritamente maior
para a …rma do que o contrato (wH ; wL ). Como o contrato inicial (wH ; wL ) foi
escolhido de forma totalmente arbitrária, isto mostra que o problema escrito na
letra (a) não tem solução.18.4 k

Questão 18.2.4 (competição x cooperação). Um dono de restaurante pode escolher entre


dois esquemas de incentivos para gerenciar os seus dois garçons. Ele pode dividir as mesas
entre os garçons de modo que cada um deles atenda somente às mesas que lhe são designadas,
ou ele pode permitir que ambos cooperem e atendam a todas as mesas. No primeiro caso,
quando o primeiro garçom coloca um esforço x e o segundo um esforço y, o lucro do
estabelecimento é igual a 10x + 10y. Além disto, o primeiro garçom recebe uma grati…cação
1 1
igual a 10 10x = x e o segundo recebe uma grati…cação igual a 10 10y = y. Ou seja,
ambos os garçons recebem uma grati…cação igual a 10% do que eles venderam. No segundo
caso, quando os garçons cooperam, existe uma externalidade positiva entre eles e o lucro do
estabelecimento acaba sendo igual a 10x + 10y + 10xy, em que é um parâmetro. Neste
caso, cada garçom recebe uma grati…cação igual a 5% do lucro do estabelecimento. Ou seja,
a grati…cação de cada garçom é dada por 20 1
(10x + 10y + 10xy) = x+y+2
xy
. Finalmente,
em ambos os casos, quando o primeiro garçon faz um esforço x, este paga um custo igual a
x2 . Similarmente, quando o segundo garçon faz um esforço y este paga um custo igual a y 2 .
A utilidade de cada garçon é dada pela diferença entre o que ele recebe de grati…cação e o
custo que ele paga pelo esforço. Ou seja, no primeiro caso a utilidade do primeiro garçom é
x x2 e no segundo é x+y+ 2
xy
x2 . A utilidade do segundo garçom tem um formato análogo.

(a) Suponha que o dono do restaurante implemente o primeiro esquema de incentivos.


Quanto cada garçom se esforçará e qual será o lucro do restaurante neste caso? (1,5
pontos)

(b) Suponha agora que o dono do restaurante implemente o segundo esquema de incentivos.
Quanto cada garçom se esforçará agora? Calcule o lucro do restaurante para =
0; 1 e 2, e diga que esquema de incentivos é melhor (do ponto de vista do dono do
restaurante) em cada caso (Dica: A situação agora é estratégica e vocês já sabem que
tipo de ferramenta tem que ser usada para modelar situações estratégicas). (1,5 pontos).
18.4
Eu …z a análise formal completa na solução acima, mas, como estava claro no enunciado da questão,
uma análise intuitiva era su…ciente. O que eu queria ver mesmo na questão era a idéia de que sempre se
pode aumentar wH e diminuir wL de modo a se fazer um contrato mais arriscado e de mesmo valor esperado.
Como o agente é amante ao risco ele achará o novo contrato estritamente melhor do que o contrato original.
Mas então nós podemos diminuir um pouco os dois salários que o gerente continuará achando que é melhor
trabalhar sob o novo contrato do que não trabalhar. Isto aumenta o lucro da …rma e mostra que o problema
não tem solução.
162 CAPÍTULO 18. PRIMEIRO SEMESTRE DE 2010

Solução.

(a) O problema de maximização de utilidade do primeiro garçom é

max x x2
x

A condição de primeira ordem do problema acima nos dá x = 1=2. O problema do


segundo garçom é análogo e nós também obtemos y = 1=2. O lucro do restaurante,
antes do desconto das grati…cações dos garçons, é 10x + 10y = 10.18.5

(b) Quando o dono do restaurante implementa o segundo esquema de incentivos a situação


se torna estratégica e tem que ser modelada como um jogo. Tentemos encontrar os
equilíbrios de Nash do jogo em que os garçons escolhem quanto esforço fazer. Se o
garçom 2 estiver fazendo um esforço genérico y o esforço ótimo do garçom 1 resolve

x + y + xy
max x2
x 2
A condição de primeira ordem do problema acima pode ser escrita como

1+ y
x= :
4
O problema do segundo garçom é análogo e, portanto, a escolha ótima do segundo
garçom quando o primeiro faz um esforço x satisfaz

1+ x
y= :
4
Um equilíbrio de Nash para o jogo acima é um par (x ; y ) que satisfaz as duas equações
acima simultaneamente. Resolvendo o sistema acima nós obtemos x = y = 4 1 . Com
2 1 2
tais níveis de esforço o lucro do restaurante é = 10 4
+ 4
.18.6 Quando
= 0 a expressão acima nos dá = 5. Quando = 1 nós temos = 70 9
e, …nalmente,
quando = 2 nós temos = 15. Nos dois primeiros casos o primeiro esquema de
incentivos é melhor e quando = 2 o segundo esquema de incentivos é melhor. k

18.3 Prova Substitutiva


Questão 18.3.1 (Equilíbrio Geral com Preferências Homotéticas.). Existe uma classe de
funções de utilidade chamada de funções homotéticas. Estas funções têm a propriedade de
que o preço de equilíbrio independe de como as dotações iniciais são distribuídas entre os
indivíduos. Abaixo nós estudaremos duas destas funções:
18.5
O lucro após o pagamento das grati…cações dos garçons será igual a 9.
18.6
Este é o lucro antes do pagamento da grati…cação dos garçons. O lucro após o pagamento das
2
2 1
grati…cações será 9 4 + 4 .
18.3. PROVA SUBSTITUTIVA 163

(a) Considere uma economia de trocas com dois indivíduos, A e B e dois bens, x e y. As
x x y y
dotações iniciais dos indivíduos satisfazem wA + wB = wx e wA + wB = wy . As funções
de utilidade dos dois indivíduos são dadas por
p p
U i (xi ; yi ) = xi + yi , para i = A; B:

Mostre que o preço que vigora no único equilíbrio competitivo da economia acima
x y x y
independe dos exatos valores de wA , wA , wB e wB . Ou seja, encontre o preço de
equilíbrio competitivo da economia acima e mostre que o seu valor é função apenas de
wx e wy . (1,4 pontos)
(b) Suponha agora que a nossa economia tenha n indivíduos, 1; 2; :::; n, e dois bens, x e y.
Suponha que as dotações iniciais na nossa economia satisfaçam w1x +w2x +:::+wnx = wx
e w1y + w2y + ::: + wny = wy . As funções de utilidade dos indivíduos são dadas por

U i (xi ; yi ) = (xi ) (yi )1 , para i = 1; 2; :::; n, para algum 0 < < 1:

Ou seja, todos os consumidores são Cobb-Douglas com o mesmo parâmetro . Novamente,


mostre que o preço que vigora no único equilíbrio competitivo da economia acima
independe das exatas dotações iniciais e, também, independe do número de indivíduos,
n, na economia. Ou seja, encontre o preço de equilíbrio competitivo da economia acima
e mostre que o seu valor é função apenas de wx e wy . (1,4 pontos)

Solução.

(a) Fazendo o preço do bem x como numerário, o problema dos consumidores pode ser
escrito como:
p p
max xi + yi
xi ;yi

sujeito a
xi + pyi = wix + pwiy
Usando a restrição para eliminar xi da função objetivo, o problema simpli…ca-se para
q
p
max wix + pwiy pyi + yi
yi

Da condição de primeira ordem do problema acima nós temos


1 1 p 1
p = p x :
2 yi 2 wi + pwiy pyi
Elevando os dois lados da equação acima ao quadrado, simpli…cando os termos possíveis
e, posteriormente, invertendo as duas frações, nós …camos com

wix + pwiy pyi = p2 yi :

Isolando yi na expressão acima, nós obtemos


wix + pwiy
yi = , para i = A; B:
p2 + p
164 CAPÍTULO 18. PRIMEIRO SEMESTRE DE 2010

Para encontrar o preço de equilíbrio, basta equilibrar o mercado para o bem y. A


condição de equilíbrio de mercado para o bem y é
yA + yB = w y
()
x y x y
wA + pwA wB + pwB
+ = wy
p2 + p p2 + p
()
x x y y
(wA + wB ) + p (wA + wB ) = p2 + p w y
()
wx + pwy = p2 + p wy
()
wx
p2 = y :
w
p
Portanto, em equilíbrio, p = wx =wy .
(b) Agora todos os consumidores são Cobb-Douglas e nós já sabemos que as suas demandas
pelo bem x, por exemplo, serão dadas por
xi = (wix + pwiy ) :
Equilibrando o mercado para o bem x nós temos
x1 + ::: + xn = wx
()
y
(w1 + pw1 ) + ::: + (wnx + pwny ) = wx
x

()
(w1 + ::: + wn ) + p (w1y + ::: + wny ) = wx
x x

()
w + pwy = wx
x

()
(1 ) wx
p= : k
wy
Questão 18.3.2 (Descontos para Estudantes). Suponha que um monopolista venda em um
mercado que tenha dois tipos de consumidores: estudantes e consumidores regulares. A curva
de demanda dos estudantes é dada por
qe = (2 3pe )
e a dos consumidores regulares é dada por
qr = (1 pr ) :
Por simplicidade, suponha que o custo de produção do monopolista é constante e igual a
zero.
18.3. PROVA SUBSTITUTIVA 165

(a) Suponha que o mercado seja composto só por estudantes. Que preço o monopolista
cobrará? E se o mercado for composto só por consumidores regulares, que preço o
monopolista cobrará? (1,2 pontos)

(b) Suponha agora que uma fração dos consumidores seja de estudantes e uma fração
(1 ) seja de consumidores regulares. Isto é, o lucro do monopolista assume o
seguinte formato: = (lucro obtido com estudantes) + (1 ) (lucro obtido com
consumidores regulares). Suponha, também, que o governo imponha uma lei que obrigue
que o preço cobrado dos estudantes seja sempre igual à metade do preço cobrado dos
consumidores regulares. Assumindo que o monopolista vá sempre tentar atender aos
dois mercados, calcule o preço cobrado dos consumidores regulares (o preço cobrado
dos estudantes será a metade) como função de . Observe que a fórmula para o preço
encontrada é uma função crescente em relação a , ou seja, quanto maior é a parcela
da população composta por estudantes, maior é o preço. Explique intuitivamente por
que isto ocorre, utilizando o que você aprendeu na letra (a). (1,4 pontos)

Solução.

(a) Se o mercado for composto só por estudantes, o problema do monopolista pode ser
escrito como
max (2 3pe ) pe :18.7
pe

A condição de primeira ordem do problema acima nos dá pe = 1=3. Quando o mercado


é composto só por consumidores regulares o problema do monopolista pode ser escrito
como
max (1 pr ) pr
pr

Da condição de primeira ordem do problema acima nós obtemos que pr = 1=2.

(b) Agora o problema do monopolista pode ser escrito como


p p
max 2 3 + (1 ) (1 p) p
p 2 2
Da condição de primeira ordem do problema acima nós temos

3
1 p + (1 ) [1 2p] = 0
2
()
2
p= :
4
18.7
Eu estou escrevendo o monopolista como um em que ele escolhe o preço. Alternativamente, eu poderia
ter derivado a curva de demanda inversa e escrito o problema como um em que ele escolhe a quantidade. As
duas abordagens se equivalem, mas como na letra (b) será mais conveniente escrever o problema como um
em que o monopolista escolhe o preço, eu optei por usar a abordagem em que o monopolista escolhe o preço
desde o início.
166 CAPÍTULO 18. PRIMEIRO SEMESTRE DE 2010

Como o exercício já havia nos informado, p é uma função crescente de . Além disto,
nós podemos observar que quando = 0 e, portanto, só existem consumidores regulares
no mercado, p = 1=2, que é o preço que encontramos na letra (a). Além disto, quando
= 1 e, portanto, só existem estudantes, p = 2=3, o que nos dá um preço para
estudantes igual a 1=3, que é exatamente o valor que encontramos na letra (a). A
razão pela qual o preço é uma função crescente de é simples. Quando é pequeno, o
monopolista se importa mais com as vendas para consumidores regulares e, portanto,
quanto menor , mais p se aproxima de 1=2. A medida que aumenta, as vendas para
estudantes passam a ser mais importantes e p=2 se aproxima de 1=3 o que é equivalente
a dizer que p se aproxima de 2=3: k

Questão 18.3.3. Suponha que em um mercado de carros usados existam dois tipos de carros:
os de qualidade alta, que têm um valor monetário, para os potenciais vendedores, igual a
qh = 110, e os de qualidade baixa, que têm um valor monetário, para os potenciais vendedores,
igual a ql = 70. A princípio, metade dos carros são de qualidade alta e metade são de
qualidade baixa. Os potenciais compradores aceitam pagar um valor igual a 23 q por um carro
de qualidade esperada igual a q.

(a) Suponha que um potencial comprador veja um carro sendo vendido por um preço p.
Qual o máximo valor de p pelo qual um potencial comprador (100% racional) aceitará
comprar o carro? Considere que quando indiferentes entre vender e não vender um
carro os potenciais vendedores o vendem. (1,4 pontos)

(b) Suponha agora que exista ainda um outro tipo de carro, o de qualidade baixíssima, com
valor, para os vendedores, igual a qb = 30. Considere que 1=3 dos carros tenham
qualidade qb , 1=3 tenham qualidade ql e 1=3 tenham qualidade qh . Qual o máximo
valor p que um potencial comprador aceitará pagar por um carro usado agora. (1,4
pontos)

Solução.

(a) Suponha que p 110. Neste caso, os potenciais compradores sabem que tanto os donos
de carros de qualidade ql como os donos de carros de qualidade qh estão vendendo
os seus carros. Portanto, a qualidade esperada de um carro usado sendo vendido é
1
q + 12 qh = 90. O máximo valor que um potencial comprador aceita pagar por um
2 l
carro de qualidade esperada igual a 90 é 90 32 = 135. Ou seja, 135 é o máximo valor
que um potencial comprador aceitará pagar por um carro usado neste caso.

(b) Suponha primeiro que p 110. Neste caso, os potenciais compradores sabem que
carros de todas as qualidades estão a venda e a qualidade esperada de um carro usado
no mercado é 13 qb + 13 ql + 31 qh = 70. O máximo valor que um potencial comprador
aceita pagar por um carro de qualidade esperada igual a 70 é 70 23 = 105. Portanto,
um potencial comprador nunca comprará um carro com preço maior ou igual a 110.
Testemos um preço p tal que 70 p < 110. Neste caso, os potenciais compradores
sabem que apenas carros de qualidade qb e ql estão a venda. A qualidade esperada
de um carro usado no mercado é 12 qb + 12 ql = 50. O máximo valor que um potencial
18.3. PROVA SUBSTITUTIVA 167

comprador aceita pagar por um carro de qualidade esperada igual a 50 é 50 32 = 75.


Portanto, o máximo valor que um potencial comprador aceitará pagar por um carro
usado neste caso é 75. k

Questão 18.3.4 (Praia Inclinada). Considere, novamente, o problema de dois sorveteiros


que estão escolhendo aonde se posicionarem em uma praia. Como nas notas de aula, modele a
praia como o intervalo [0; 1] e suponha que os consumidores estejam distribuídos de maneira
uniforme pela praia. A diferença é que agora nós assumiremos que a praia encontra-se
em uma rampa, em que 0 é o ponto mais baixo da rampa e 1 é o ponto mais alto. A
nossa hipótese será que os consumidores não gostam de subir a praia para comprar sorvete,
portanto, sempre que um sorveteiro estiver à direita do consumidor e o outro à esquerda, o
consumidor comprará do vendedor à esquerda (os consumidores …cam tão felizes ao comprar
um sorvete que não se importam com o fato de que eles precisarão subir a praia para voltar aos
seus lugares quando descem a praia para comprar o sorvete). Caso os dois sorveteiros estejam
à direita ou à esquerda do consumidor, então este compra do sorveteiro mais próximo. A
nossa análise aqui será mais intuitiva, portanto, não será necessário discretizar o intervalo
[0; 1] como nas notas de aula. Ou seja, suponha que os sorveteiros podem escolher qualquer
número entre 0 e 1.

(a) Argumente intuitivamente (com …guras, etc.) que o per…l em que ambos os sorveteiros
se posicionam no centro da praia ainda é um equilíbrio de Nash do jogo neste caso.
(1,4 pontos)

(b) Será que existem outros equilíbrios? Justi…que bem a sua resposta. Discuta bem o
máximo de casos que você conseguir analisar. (1,4 pontos)

Solução.

(a) Seja a posição escolhida pelo sorveteiro 1 e a posição escolhida pelo sorveteiro
2. Vamos mostrar que o per…l ( ; ) = (1=2; 1=2) é equilíbrio de Nash do jogo.
Para tanto, precisamos mostrar que ambos estão jogando uma melhor resposta contra
a estratégia que o outro está usando. Primeiro, observe que, como os dois estão
exatamente na mesma posição, ambos vendem uma quantidade igual a 1=2. Vamos
mostrar que o sorveteiro 2 está jogando uma melhor resposta. Suponha que o sorveteiro
2 desvie para uma posição à direita de 1=2, ou seja, suponha que o sorveteiro 2 jogue um
> 1=2. Neste caso, todos os consumidores à esquerda desta nova posição comprarão
do sorveteiro 1 e o ganho do sorveteiro 2 será igual a 1 < 1=2. Suponha agora que
o sorveteiro 2 desvie para uma posição < 1=2. Neste caso, todos os consumidores à
esquerda de 1=2 comprarão do sorveteiro 2 e os à direita de 1=2 comprarão do sorveteiro
1. O ganho do sorveteiro 2 continua sendo 1=2 neste caso. Nós concluímos que jogar
1=2 é de fato uma melhor resposta contra 1=2. Como o problema do sorveteiro 1 é
análogo ao do sorveteiro 2, isto mostra que (1=2; 1=2) é um equilíbrio de Nash do jogo.

(b) É fácil mostrar que não existem outros equilíbrios. Analisemos primeiro per…s em que
= . Neste caso, ambos os jogadores estarão obtendo um ganho igual a 1=2. Se
= > 1=2, o sorveteiro 1, por exemplo, poderia desviar para uma posição ^ :=
168 CAPÍTULO 18. PRIMEIRO SEMESTRE DE 2010

" > 1=2. Neste caso o seu ganho seria igual a , que é estritamente maior do que
1=2. Se = < 1=2, o sorveteiro 1 poderia desviar para uma posição ^ := +" < 1=2.
Neste caso o seu ganho seria igual a 1 ( + ") > 1=2. Nós concluímos que per…s em
que = 6= 1=2 não são equilíbrios de Nash. Suponha, então, que > . Neste
caso, o ganho do jogador 1 é igual a 1 . Mas se ele desviasse para um ^ 2 ( ; )
o seu ganho seria igual a 1 ^ > 1 . Nós concluímos que também não existe
equilíbrio de Nash neste caso. Como o caso > é análogo, isto mostra que, de fato,
( ; ) = (1=2; 1=2) é o único equilíbrio de Nash do jogo. k
Capítulo 19

Segundo Semestre de 2010

19.1 Primeira Prova


Questão 19.1.1. Considere uma economia na caixa de Edgeworth, isto é, uma economia de
trocas com dois consumidores e dois bens. Suponha que a dotação agregada de ambos os bens
seja igual a 1. Para os pares de funções de utilidade abaixo, caracterize todas as alocações
e…cientes no sentido de Pareto e diga quais dessas alocações e…cientes são justas.
(a) U A (x1A ; x2A ) = x1A + x2A e U B (x1B ; x2B ) = x1B + x2B . (Dica: Para resolver a questão use
apenas lógica. Se você prestar atenção na de…nição de e…ciência no sentido de Pareto
e olhar para as funções de utilidades dos agentes com atenção tudo …cará claro. Além
disto, não precisa ser muito formal. Se você me explicar bem a sua lógica com palavras
já é su…ciente. Mas tem que explicar.) (1,5 pontos).
(b) U A (x1A ; x2A ) = 2x1A + x2A e U B (x1B ; x2B ) = x1B + 2x2B . (Dica: Novamente, para resolver
a questão use apenas lógica. Agora você tem que pensar um pouco mais, mas se você
prestar atenção na de…nição de e…ciência no sentido de Pareto e olhar para as funções
de utilidades dos agentes com atenção provavelmente você ainda será capaz de resolver
a questão.) (1,5 pontos).
Solução.
(a) Note que para qualquer alocação factível na economia acima
U A x1A ; x2A + U B x1B ; x2B = x1A + x2A + x1B + x2B
= x1A + x1B + x2A + x2B
= 2:
Como a soma das utilidades dos dois indivíduos é constante, …ca claro que sempre que
aumentarmos a utilidade de um deles a utilidade do outro irá diminuir. Isto mostra
que todas as alocações factíveis, isto é todas as alocações em que x1A + x1B = 1 e
x2A + x2B = 1, são e…cientes no sentido de Pareto. Finalmente, como as funções de
utilidade dos dois indivíduos são iguais, caso um tenha utilidade maior do que o outro,
o outro sempre sentirá inveja. Isto mostra que as alocações justas são as alocações
factíveis que satisfazem x1A + x2A = 1 = x1B + x2B .

169
170 CAPÍTULO 19. SEGUNDO SEMESTRE DE 2010

(b) Primeiro estudemos alocações em que x1A < 1 e x2B < 1. Neste caso, considere uma
x1A ; x^2A ) := (x1A + "; x2A ") e (^
nova alocação (^ x1B ; x^2B ) := (x1B "; x2B + "), em que "
é pequeno o su…ciente de modo que [(^ x1A ; x^2A ) ; (^
x1B ; x^2B )] seja uma alocação factível.
Agora observe que
U A x^1A ; x^2A = 2 x1A + " + x2A "
= 2x1A + x2A + "
> 2x1A + x2A
= U A x1A ; x2A
e
U B x^1B ; x^2B = x1B " + 2 x2B + "
= x1B + 2x2B + "
> x1B + 2x2B
= U B x1B ; x2B :
Isto mostra que alocações em que x1A < 1 e x2B < 1 não são e…cientes. Estudemos
agora alocações do tipo [(1; x2A ) ; (0; 1 x2A )]. Fixe uma outra alocação factível qualquer
x1A ; x^2A ) ; (1 x^1A ; 1 x^2A )]. De…na := 1 x^1A . Se = 0, então [(^
[(^ x1A ; x^2A ) ; (1 x^1A ; 1 x^2A )]
é somente uma transferência de bem 2 de um indivíduo para o outro e, logicamente,
não pode melhorar a situação de um indivíduo sem piorar a do outro. Se > 0, para
que U A (^ x1A ; x^2A ) U A (1; x2A ) nós necessariamente temos que ter x^2A x2A 2 . Mas
isto implica que
UB 1 x^1A ; 1 x^2A U B 0; 1 x2A = 2 x^2A x2A
4
< 0:
x1A ; x^2A ) U A (1; x2A ), então necessariamente U B (1 x^1A ; 1 x^2A ) <
Ou seja, se x^1A < 1 e U A (^
B
U (0; 1 xA ). Isto mostra que todas as alocações do tipo [(1; x2A ) ; (0; 1 x2A )] são
2

e…cientes no sentido de Pareto. Um raciocínio simétrico mostra que todas as alocações


do tipo [(x1A ; 0) ; (1 x1A ; 1)] também são e…cientes. Resta investigar quais dessas
alocações são justas. Considere uma alocação do tipo [(1; x2A ) ; (0; 1 x2A )]. É fácil
checar que U A (1; x2A ) > U A (0; 1 x2A ), portanto o agente A não inveja o agente B.
Para que o agente B não tenha inveja do agente A é necessário que
U B 0; 1 x2A U B 1; x2A
()
2 1 x2A 1 + 2x2A
()
1
x2A :
4
Portanto, alocações do tipo [(1; x2A ) ; (0; 1 x2A )] serão justas se, e somente se, x2A 1=4.
Um raciocínio simétrico mostra que alocações do tipo [(x1A ; 0) ; (1 x1A ; 1)] serão justas
se, e somente se, 1 x1A 1=4, ou, equivalentemente, se, e somente se, x1A 3=4. k
19.1. PRIMEIRA PROVA 171

Questão 19.1.2. Considere uma …rma que atue em um mercado em que a curva de demanda
inversa seja dada por p (q) = 12 2q. Suponha que a função custo da …rma seja dada por
c (q) = q 2 .
(a) Suponha primeiro que o mercado seja competitivo. Calcule o lucro da …rma neste caso.
Explique o seu raciocínio, só a resposta não vale nada. (1 ponto).
(b) Suponha agora que a …rma atue como monopolista. Calcule o lucro da …rma. (1 ponto).
(c) Finalmente, suponha que a …rma atue como monopolista e pratique discriminação de
preços de primeiro grau. Calcule o lucro da …rma. (1,5 pontos)
Solução.
(a) Neste caso, a …rma age como tomadora de preços e resolve o seguinte problema:
max pq q2
q

A condição de primeira ordem do problema acima nos dá q = p2 . Em equilíbrio,


a quantidade ofertada pela …rma tem que ser mesma quantidade utilizada para a
determinação do preço na curva de demanda inversa o que implica que p satisfaz
p = 12 p;
o que por sua vez implica que p = 6. Dado o que nós aprendemos acima, isto implica
que q = 3. O lucro da …rma neste caso será = 6 3 32 = 9:
(b) O problema da …rma monopolista é
max (12 2q) q q2
q

A condição de primeira ordem do problema acima nos dá


12 4q 2q = 0;
o que implica que q = 2. Da curva de demanda inversa nós obtemos que p = 8. O
lucro do monopolista neste caso é = 8 2 4 = 12:
(c) Quando o monopolista pode praticar discriminação de preços de primeiro grau, ele vende
cada unidade do bem para o consumidor que está disposto a pagar o preço máximo por
ela e ele continua vendendo até que o preço da última unidade vendida seja exatamente
igual ao seu custo marginal. Ou seja, a quantidade vendida por um monopolista que
pratica discriminação de preços de primeiro grau resolve
12 2q = 2q;
o que implica que q = 3. Como cada unidade é vendida pelo máximo preço que um
consumidor está disposto a pagar pela unidade, a receita do monopolista neste caso é
Z 3
12 2qdq = 27:
0

Como o custo do monopolista é dado por c (3) = 9, o seu lucro é = 18: k


172 CAPÍTULO 19. SEGUNDO SEMESTRE DE 2010

Questão 19.1.3. Suponha que Robinson Crusoé produza e consuma peixe (F) e côco (C).
Suponha que durante um certo período ele tenha decidido trabalhar 128 horas e que ele seja
indiferente entre gastar este tempo catando côcos ou pescando. A função de produção de
peixes de Robinson é dada por
1
F = (lF ) 2
e a de côcos é
1
C = (lC ) 2 :
em que lF e lC são o número de horas que Robinson passa pescando e catando côcos,
respectivamente. Consequentemente,

lC + lF = 128:

A sua função de utilidade para consumo de peixes e côcos é dada por


1
U (F; C) = (F C) 2 :

(a) Se Robinson vive sozinho e não pode negociar com ninguém, quantas horas ele trabalha
catando côcos e quantas horas ele trabalha pescando? Quantos côcos e peixes ele
produz? (Dica: Conhecendo a função demanda do consumidor Cobb-Douglas você pode
economizar muitas contas. Além disto, lembre-se que maximizar f (x; y) ou maximizar
p
f (x; y) sempre dá a mesma resposta.) (1 ponto)

(b) Suponha que após Robinson já ter produzido as quantidades F e C acima, ele encontre
Sexta-feira, que possui uma dotação de 12 peixes e 2 côcos. A função de utilidade de
Sexta-feira é dada por
1
U Sexta (F; C) = (F C) 2 :
Considerando Robinson e Sexta-feira como tomadores de preços nos mercados de peixes
e de côcos, encontre o único equilíbrio competitivo da economia acima. Quantos peixes
e quantos côcos Robinson consome neste equilíbrio? Quantos peixes e quantos côcos
Sexta-feira consome? (1 ponto)

(c) Suponha agora que no período seguinte Robinson resolva trabalhar 80 horas. Suponha
ainda que no período seguinte Robinson encontre Sexta-feira antes de tomar as suas
decisões de produção (isto é, antes de decidir quantas das 80 horas ele gastará pescando
e quantas ele gastará catando côcos) e que na ocasião Sexta-feira tenha uma dotação de
16 peixes e 2 côcos. Novamente considerando Robinson e Sexta-feira como tomadores
de preços nos mercados de peixes e côcos, é possível veri…car que tal economia tem um
equilíbrio competitivo em que o preço do peixe é 1 e o preço do côco é 2. Quantos
côcos e quantos peixes Robinson produz nesse equilíbrio competitivo? Quantos côcos
e quantos peixes ele consome? Quantos peixes e quantos côcos Sexta-feira consome?
(1,5 pontos)

Solução.
19.1. PRIMEIRA PROVA 173

(a) Neste caso, o problema de Robinson pode ser escrito como


1
1 1 2
max (lF ) 2 (lC ) 2
lF ;lC

sujeito a
lF + lC = 128:
Conforme explicado na dica, maximizar a função objetivo é o mesmo que maximizar
uma função Cobb-Douglas com pesos iguais a 1/2. Observe, também, que a restrição
do problema pode ser interpretada como uma restrição orçamentária em que os dois
preços são iguais a 1. Dado o que discutimos acima, nós sabemos que a solução do
problema acima será lF = lC = 64. Dadas as tecnologias de produção, isto implica que
Robinson produz 8 peixes e 8 côcos.

(b) Como somente preços relativos podem ser determinados em equilíbrio, façamos o preço
do peixe como numerário. O nosso trabalho agora é encontrar o preço p do côco que
equilibre os mercados. O problema de Robinson é
1
max F R C R 2

F R ;C R

sujeito a
F R + p C R = 8 + p 8:
8+8p 8+8p
Nós sabemos que a solução do problema acima é F R = 2
e CR = 2p
. Já o
problema de Sexta-feira é
1
max F S C S 2

F S ;C S

sujeito a
F S + p C S = 12 + p 2:
12+2p 12+2p
Nós sabemos que a solução do problema acima é F S = 2
e CS = 2p
. A condição
de equilíbrio de mercado para o bem F é
8 + 8p 12 + 2p
+ = 20,
2 2
o que implica que p = 2. Com tal preço as quantidades consumidas são F R = 12,
C R = 6, F S = 8 e C S = 4.

(c) Como a questão já nos deu os preços de equilíbrio, tudo que temos a fazer é resolver
os problemas dos agentes para encontrar as grandezas solicitadas. Primeiramente,
em uma situação com possibilidade de negociação é claro que Robinson produzirá
quantidades de peixes e côcos que maximizem sua renda. Ou seja, as horas dedicadas
a cada atividade resolvem o seguinte problema:
1 1
max (lF ) 2 + 2 (lC ) 2
lF ;lC
174 CAPÍTULO 19. SEGUNDO SEMESTRE DE 2010

sujeito a
lF + lC = 80:
Usando a restrição para eliminar lC o problema simpli…ca-se para
1 1
max (lF ) 2 + 2 (80 lF ) 2
lF

A condição de primeira ordem do problema acima nos dá


1 1 1
p =p ;
2 lF 80 lF
o que implica que lF = 16. Da restrição do problema nós aprendemos que lC = 64.
Dadas as tecnologias de produção, nós concluímos que Robinson produz 4 peixes e 8
côcos. Dados os preços de equilíbrio, isto dá a ele uma renda igual 20. Para decidir
como dividir sua renda entre peixes e côcos Robinson resolve o seguinte problema:
1
max F R C R 2

F R ;C R

sujeito a
F R + 2 C R = 20:
A solução do problema acima é F R = 10 e C R = 5. Finalmente, o problema de
Sexta-feira é 1
max F S C S 2
F S ;C S

sujeito a
F S + 2 C S = 16 + 2 2:
A solução do problema acima é F S = 10 e C S = 5. Observe que, conforme informado
no enunciado da questão, os mercados de peixes e côcos de fato estão equilibrados. k

Questão 19.1.4. Considere uma sociedade com 3 indivíduos em que um governante tenha
que decidir entre 2 projetos públicos, a e b. A utilidade do indivíduo i quando o projeto
x 2 fa; bg é escolhido é
ui x; wi = v i (x) + wi ;
em que wi é a riqueza do indivíduo i e v i (x) é o valor monetário que o indivíduo i dá ao
projeto x.

(a) Suponha que o governante utilize uma votação por maioria simples para escolher o
projeto a ser implementado. Mostre através de um exemplo que se considerarmos a
possibilidade de transferências monetárias entre os indivíduos pode ser que tal escolha
não seja e…ciente no sentido de Pareto. Isto é, construa um exemplo com 3 indivíduos
em que 2 indivíduos preferem o projeto a, um indivíduo prefere o projeto b, mas
existem transferências monetárias que fazem com que todos os indivíduos …quem mais
felizes com a implementação do projeto b e sua nova riqueza do que se o projeto a for
implementado e eles mantiverem a sua riqueza inicial. (1,5 pontos)
19.2. SEGUNDA PROVA 175

(b) Considere agora uma votação em que os pesos dos votos dos indivíduos sejam diferentes.
Mais especi…camente, suponha que o peso do voto do individuo i seja dado por i :=
jv i (a) v i (b)j. Suponha que nesta votação com pesos diferentes para cada indivíduo
o projeto vencedor tenha sido a. Mostre que, mesmo considerando a possibilidade de
transferências monetárias entre os indivíduos, tal escolha é e…ciente no sentido de
Pareto. (1,5 pontos)
Solução.
(a) Suponha que v 1 (a) = 1, v 1 (b) = 6, v 2 (a) = v 3 (a) = 2 e v 2 (b) = v 3 (b) = 1. Em uma
votação por maioria simples o projeto a é implementado e os indivíduos …cam com
utilidades u1 (a; w1 ) = w1 + 1, u2 (a; w2 ) = w2 + 2 e u3 (a; w3 ) = w3 + 2. Mas considere
a alocação em que o projeto b é implementado e o indivíduo 1 paga 2 reais a cada um dos
outros dois indivíduos. Observe que as utilidades neste caso são u1 (b; w1 4) = w1
4+6 = w1 +2, u2 (b; w2 + 2) = w2 +2+1 = w2 +3 e u3 (b; w3 + 2) = w3 +2+1 = w3 +3.
Observe que as utilidades de todos os indivíduos aumentaram.
(b) Considere agora uma votação como a explicada
P no enunciado
P da questão. Observe
que a ganha a votação se e somente se 3i=1 v i (a) > 3i=1 v i (b). Considere primeiro
3
alocações em que o projeto a é implementado e transferências monetárias fti gi=1 são
feitas.
P3 Como as transferências ocorrem entre os indivíduos, elas têm que satisfazer
i=1 ti = 0. Observe agora que com qualquer alocação em que o projeto a seja
implementado
X3 X3 X3
ui a; wi + ti = v i (a) + wi :
i=1 i=1 i=1
Ou seja, com qualquer alocação em que o projeto a é implementado a soma das
utilidades dos agentes é sempre a mesma. Consequentemente, é impossível encontrar
uma alocação em que o projeto a é implementado que domine no sentido de Pareto a
alocação em que o projeto a é implementado e nenhuma transferência é feita. Considere
agora alocações em que o projeto b é implementado. Neste caso nós temos
X
3 X
3 X
3
i i i i
u b; w + t = v (b) + wi :
i=1 i=1 i=1
P3i i
P3
Mas acima nós já aprendemos que i=1 v (a) > i=1 v (b), o que implica que a
soma das utilidades dos indivíduos quando o projeto b é implementado é estritamente
menor do que a soma da utilidade dos indivíduos quando o projeto a é implementado.
Nós concluímos que nenhuma alocação em que o projeto b é implementado domina,
no sentido de Pareto, a alocação em que o projeto a é implementado e nenhuma
transferência é feita. k

19.2 Segunda Prova


Questão 19.2.1. Suponha que duas empresas vendam exatamente o mesmo produto e que
a competição entre ambas se dê pela …xação simultânea das quantidades a serem produzidas.
176 CAPÍTULO 19. SEGUNDO SEMESTRE DE 2010

Suponha que a demanda seja representada pela seguinte curva de demanda inversa linear:
p (y1 + y2 ) = 7 (y1 + y2 ) :
Suponha, também, que o custo de produção de ambas as …rmas seja dado por
C (yi ) = yi :
(a) Calcule o lucro das …rmas em equilíbrio. Calcule também o lucro que uma …rma monopolista
com a mesma função custo acima obteria com a mesma curva de demanda inversa.
(1,8 pontos)
(b) Suponha agora que para entrarem no mercado as …rmas antes têm que fazer um investimento
inicial que custa 6 unidades monetárias. Após feito tal investimento, o lucro da …rma
que fez o investimento será dado pelos lucros calculados na letra (a), dependendo da
outra …rma ter entrado ou não no mercado. Modele tal situação como um jogo matricial
em que as estratégias das …rmas são fazer ou não fazer o investimento inicial e encontre
todos os equilíbrios de Nash, em estratégias mistas, de tal jogo. (1,7 pontos)
Solução.
(a) Suponha que a empresa 2 esteja produzindo uma quantidade genérica y2 . Neste caso, a
melhor resposta da empresa 1 resolve o seguinte problema de maximização:
max p (y1 + y2 ) y1 y1
y1

A condição de primeira ordem do problema acima é


p0 (y1 + y2 ) y1 + p (y1 + y2 ) = 1:
Em termos da forma funcional da curva de demanda inversa que nós assumimos acima
a expressão acima pode ser reescrita como
y1 + 7 (y1 + y2 ) = 1:
Isolando y1 na equação acima nós encontramos
7 1 y2
y1 =
2 2
y2
= 3 :
2
Um raciocínio análogo nos mostra que se a …rma 1 estiver produzindo uma quantidade
genérica y1 , então a melhor resposta para a …rma 2 será
y1
y2 = 3 :
2
As duas equações acima formam um sistema linear com duas equações e duas incógnitas.
Resolvendo o sistema acima nós obtemos
y1 = y2 = 2:
Nós concluímos que o único equilíbrio de Nash do jogo acima é (y1 ; y2 ) = (2; 2). Agora
observe que p (2 + 2) = 3, o que implica que o lucro de cada uma das …rmas é dado
por 1 (2; 2) = 2 (2; 2) = 4:
19.2. SEGUNDA PROVA 177

Suponha agora que só existe uma …rma monopolista atuando nesse mercado. O problema
de tal …rma é
max p (y) y y
y

A condição de primeira ordem do problema acima é


p0 (y) y + p (y) = 1:
Em termos da forma funcional da curva de demanda inversa que nós assumimos acima
a expressão acima pode ser reescrita como
y+7 y = 1:
Isolando y na equação acima nós encontramos y = 3: Tal quantidade induz um preço
p (3) = 4, o que implica que o lucro de uma …rma monopolista é dado por (3) =
4 3 3 = 9:
(b) Se uma …rma não faz o investimento inicial ela não entra no mercado e o seu lucro é
zero. Se as duas …rmas fazem o investimento inicial, ambas obtêm o lucro de duopólio,
4, mas têm ainda que pagar o custo do investimento inicial, o que lhes dá um ganho
de 4 6 = 2. Finalmente, se apenas uma …rma faz o investimento inicial, esta obtém
o lucro de monopólio, 9, e paga o custo do investimento, 6. Isto lhe dá uma ganho de
9 6 = 3. Tais ganhos induzem o seguinte jogo matricial:
Firma 2
I N
:
Firma I 2; 2 3; 0
1 N 0; 3 0; 0
Tentemos agora encontrar os equilíbrios de Nash do jogo acima. Seja a probabilidade
com que a …rma 1 joga I e a probabilidade com que a …rma 2 joga I. Testemos
primeiro se existe algum equilíbrio de Nash do jogo em que a …rma 1 jogue = 1.
Quando a …rma 1 joga I com probabilidade 1, a única melhor resposta da …rma 2 é jogar
N com probabilidade 1, ou seja, é jogar = 0. Quando a …rma 2 joga = 0 também
é verdade que a única melhor resposta da …rma 1 é jogar = 1. Nós concluimos que
( ; ) = (1; 0) é o único equilíbrio de Nash do jogo em que a …rma 1 joga = 1.
Testemos agora se existe um equilíbrio em que a …rma 1 joga = 0. Quando a …rma
1 joga = 0 a única melhor resposta da …rma 2 é jogar = 1. Quando = 1 jogar
= 0 é a única melhor resposta da …rma 1. Nós concluimos que ( ; ) = (0; 1) é o
único equilíbrio de Nash do jogo em que a …rma 1 joga = 0. Finalmente, testemos
se existe algum equilíbrio em que a …rma 1 joga um 2 (0; 1). Para que isto aconteça
é necessário que a estratégia da …rma 2 satisfaça
U 1 (1;) = U 1 (0; )
()
( 2) + (1 )3 = 0
()
3
= :
5
178 CAPÍTULO 19. SEGUNDO SEMESTRE DE 2010

Ou seja, para que a …rma 1 esteja jogando uma estratégia mista não degenerada em
equilíbrio é necessário que a …rma 2 esteja jogando a estratégia mista não degenerada
= 3=5. Mas isto só pode acontecer se satis…zer

U2 ( ; 1) = U 2 ( ; 0)
()
( 2) + (1 )3 = 0
()
3
= :
5
A análise acima mostra que quando = 3=5 qualquer estratégia é melhor resposta
para a …rma 2. Similarmente, quando = 3=5 qualquer estratégia é melhor resposta
para a …rma 1. Em particular, = 3=5 é melhor resposta contra = 3=5 e = 3=5
é melhor resposta contra = 3=5. Nós concluimos que ( ; ) = (3=5; 3=5) é um
equilíbrio de Nash do jogo e a análise acima mostra que este é o único equilíbrio de
Nash do jogo em que a …rma 1 joga uma estratégia mista não degenerada. Como nós
esgotamos todos os casos possíveis, isto mostra que os três equilíbrios acima são os
únicos do jogo. k

Questão 19.2.2. Um apiário e uma fazenda produtora de maçãs estão localizados lado a
lado. Seja “a” a quantidade de maçãs produzidas e “h” a quantidade de mel. Os custos de
produção do apiário e da fazenda são, respectivamente,

ch (h; a) = 3h2 ah

e
a2
ca (a; h) = ah:
2
Ou seja, a produção de mel gera uma externalidade positiva para a produção de maçãs e
a produção de maçãs gera uma externalidade positiva para a produção de mel. O preço do
quilo de mel é 6 reais e cada quilo de maçã é vendido por 4 reais.

(a) Calcule as quantidades de mel e maçãs produzidas em equilíbrio. (1,8 pontos)

(b) Suponha que o fazendeiro compre o apiário. Quanto ele produzirá de mel e maçãs? (1,7
pontos)

Solução.

(a) O problema do apiário pode ser escrito como

max 6h 3h2 ah
h

A condição de primeira ordem do problema acima é

6h = 6 + a:
19.2. SEGUNDA PROVA 179

O problema da fazenda é
a2
max 4a ah
a 2
A condição de primeira ordem do problema acima é

a = 4 + h:

A solução do sistema linear formado pelas condições de primeira ordem dos dois
problemas acima nos dá h = 2 e a = 6:

(b) O novo problema de maximização do fazendeiro é

a2
max 6h 3h2 ah + 4a ah
h;a 2

As condições de primeira ordem do problema acima são

h : 6h = 6 + 2a
a : a = 4 + 2h

A solução do sistema acima nos dá h = 7 e a = 18: k

Questão 19.2.3. Suponha que em um mercado de carros usados existam três tipos de carros:
os de qualidade alta, que têm um valor monetário para os potenciais vendedores igual a
qh = 100, os de qualidade média, que têm um valor monetário para os potenciais vendedores
igual a qm = 70, e os de qualidade baixa, que têm um valor monetário para os potenciais
vendedores igual a ql = 10. A princípio, um terço dos carros é de qualidade alta, um terço
é de qualidade média e um terço é de qualidade baixa. Os potenciais compradores aceitam
pagar até um valor igual a 23 q por um carro de qualidade esperada igual a q.

(a) Suponha que um potencial comprador veja um carro sendo vendido por um preço p.
Qual o máximo valor de p pelo qual um potencial comprador (100% racional) aceitará
comprar o carro? Considere que quando indiferentes entre vender e não vender um
carro os potenciais vendedores o vendem. (1,8 pontos)

(b) Suponha agora que, por lei, um comprador de um carro usado tenha o direito de revendê-lo
imediatamente para o governo pela metade do preço que ele pagou. Ou seja, se um
comprador comprar um carro por um preço p ele pode, após aprender qual é a qualidade
do carro, revendê-lo ao governo por p=2, se assim o desejar. Qual o preço máximo que
um potencial comprador aceita pagar por um carro usado agora? (1,7 pontos)

Solução.

(a) Suponha que p 100. Neste caso, os potenciais compradores sabem que tanto os
donos de carros de qualidade ql , como os donos de carros de qualidade qm , como os
donos de carros de qualidade qh estão vendendo os seus carros. Portanto, a qualidade
esperada de um carro usado sendo vendido é 13 ql + 13 qm + 31 qh = 60. O máximo valor
180 CAPÍTULO 19. SEGUNDO SEMESTRE DE 2010

que um potencial comprador aceita pagar por um carro de qualidade esperada igual
a 60 é 60 32 = 90. Ou seja, um potencial comprador não aceita comprar um carro
por um preço p 100. Suponha agora que 70 p < 100. Neste caso, os potenciais
compradores sabem que apenas donos de carros com qualidade ql e qm estão vendendo
os seus carros. A qualidade esperada de um carro sendo vendido é 21 ql + 12 qm = 40. O
máximo valor que um potencial comprador aceita pagar por um carro de valor esperado
igual a 40 é 40 23 = 60. Ou seja, um potencial comprador não aceita comprar um
carro por um preço p tal que 70 p < 100. Suponha agora que 10 p < 70. Agora,
um potencial comprador sabe que apenas carros de qualidade ql estão sendo vendidos.
O máximo valor que um potencial comprador aceita pagar por um carro de qualidade
ql é 10 23 = 15. Portanto, o máximo valor que um potencial comprador aceita pagar
por um carro usado neste mercado é p = 15:

(b) Suponha que p > 150. Neste caso, mesmo se um potencial comprador tivesse certeza
de que o carro é de qualidade qh , ainda assim não valeria a pena para ele comprá-lo
(note que a possibilidade de devolver o carro e recuperar metade do valor pago não
muda esta conclusão). Suponha agora que 100 p 150. Neste caso, um potencial
comprador sabe que todas as qualidades de carro estão sendo vendidas. Observe que
se um potencial comprador compra um carro e o revende para o governo ele recebe no
máximo 75 unidades monetárias de volta, o que é menor que o valor que ele atribui aos
carros de qualidade qm e qh . Observe, também, que ao revender o carro ao governo o
potencial comprador recebe de volta pelo menos 50 unidades monetárias, que é maior
que o valor que ele atribui a um carro de qualidade ql . Ou seja, se 100 p 150,
e o potencial comprador tiver pago p por um carro, ele o devolve se e somente se
a qualidade do carro é ql . Portanto, o retorno esperado que o potencial comprador
p
obtém quando ele compra um carro por um preço p tal que 100 p 150 é 31 2
+
1 1
3
(105 p)+ 3 (150 p). Tal retorno é não negativo se e somente se p 102: Portanto,
o máximo preço que um potencial comprador aceita pagar por um carro usado agora
é p = 102: k

19.3 Prova Substitutiva


Questão 19.3.1. Considere uma economia na caixa de Edgeworth em que as funções de
1 2
utilidade dos consumidores são dadas por U A (x1A ; x2A ) = (x1A ) 3 (x2A ) 3 e U B (x1B ; x2B ) = x1B +
ln x2B . Suponha que a dotação agregada do bem 1 seja 2 e a dotação agregada do bem 2 seja 6.
É possível mostrar que a alocação f(x1A ; x2A ) ; (x1B ; x2B )g = f(1; 4) ; (1; 2)g é e…ciente no sentido
Pareto. Como a economia descrita acima satisfaz as condições no segundo teorema do bem
estar, nós sabemos que com a correta distribuição das riquezas na economia a alocação acima
1 2
pode ser obtida como parte de um equilíbrio competitivo. Isto é, existem valores (wA ; wA )
1 2
e (wB ; wB ) que fazem a alocação acima ser parte de um equilíbrio competitivo quando as
1 2 1 2
dotações iniciais dos indivíduos são exatamente (wA ; wA ) e (wB ; wB ). Na verdade, é possível
1
encontrar uma distribuição de riquezas em que wA = 2 que induz a alocação acima em
equilíbrio. Encontre tal distribuição e encontre também o vetor de preços de equilíbrio (Dica:
Do problema do consumidor A você consegue descobrir os preços associados ao equilíbrio.
19.3. PROVA SUBSTITUTIVA 181

De posse dos preços, descobrir as dotações iniciais é quase imediato) (2 pontos).


Solução. Como apenas preços relativos são determinados em equilíbrio, façamos p1 = 1 e
p2 = p. Em um equilíbrio competitivo (x1A ; x2A ) tem que resolver o seguinte problema:
1 2
max
1 2
x1A 3
x2A 3

xA ;xA

sujeito a
x1A + px2A 1
wA 2
+ pwA :
Nós sabemos que a solução do problema acima satisfaz
1 1
x1A = 2
wA + pwA
3
e
1 2
2 wA + pwA
x2A = :
3 p
Dividindo a primeira expressão pela segunda nós obtemos:
x1A p
2
= :
xA 2
Substituindo os valores de x1A e x2A que queremos que ocorram em equilíbrio na expressão
1
acima nós aprendemos que p = 1=2. Como também sabemos que wA = 2, da função demanda
1
para xA acima nós temos
1 1 2
1 = 2 + wA
3 2
()
2
2 = wA :
1 1
Como wA = 2 e a quantidade agregada do bem 1 também é 2, nós sabemos que wB = 0.
2 2 2
Além disto, de wA + wB = 6 nós aprendemos que wB = 4. Só para checar, vamos veri…car
que tais dotações iniciais e preço realmente induzem o indivíduo B a escolher os valores
desejados. O problema do indivíduo B agora é
max
1 2
x1B + ln x2B
xB ;xB

sujeito a
1
x1B + x2B = 2:
2
Usando a restrição para eliminar x1B na função objetivo o problema de maximização acima
simpli…ca-se para
1 2
max 2 xB + ln x2B
2
xB 2
A condição de primeira ordem do problema acima nos dá
x2B = 2:
Agora, da restrição orçamentária nós aprendemos que x1B = 1: k
182 CAPÍTULO 19. SEGUNDO SEMESTRE DE 2010

Questão 19.3.2. Considere dois consumidores que têm funções de utilidade U A (x1A ; x2A ) =
1 2 2 1
(x1A ) 3 (x2A ) 3 e U B (x1B ; x2B ) = (x1B ) 3 (x2B ) 3 . Suponha que tenhamos que alocar duas unidades
do bem 1 e quatro unidades do bem 2 entre esses dois consumidores. Encontre uma alocação
justa nessa situação (ou seja, uma alocação e…ciente em que nenhum dos consumidores tenha
inveja do outro) (2 pontos).
Solução. Seguindo as notas de aula, nós sabemos que para encontrarmos uma alocação justa
tudo que temos que fazer é encontrar o equilíbrio competitivo de uma economia em que
1 2
os indivíduos têm as mesmas dotações iniciais. Isto é, uma economia em que wA; wA =
1 2
(wB ; wB ) = (1; 2). Façamos o bem 1 como numerário e chamemos de p o preço do bem 2. O
problema do consumidor A é
1 2
1 3 2 3
max
1 2
x A x A
xA ;xA

sujeito a
x1A + px2A 1 + 2p:
A solução do problema acima é
1
x1A = (1 + 2p)
3
e
2 1 + 2p
x2A =
3 p
Já o problema do consumidor B é
2 1
max
1 2
x1B 3
x2B 3

xB ;xB

sujeito a
x1B + px2B 1 + 2p
A solução do problema acima é
2
x1B = (1 + 2p)
3
e
1 1 + 2p
x2B =
3 p
Equilibrando o mercado para o bem 1 nós temos
1 2
(1 + 2p) + (1 + 2p) = 2;
3 3
o que implica que p = 1=2. Tal preço gera a alocação (x1A ; x2A ) = (2=3; 8=3) and (x1B ; x2B ) =
(4=3; 4=3) : k
Questão 19.3.3 (Duas praias). Considere novamente o problema dos dois sorveteiros, mas
suponha agora que existam duas faixas de areia isoladas. As pessoas estão distribuídas de
maneira uniforme pelas duas faixas de areia, mas a segunda faixa de areia tem o dobro do
tamanho da primeira. Quando os dois sorveteiros se posicionam na mesma faixa de areia,
as pessoas naquela faixa de areia compram do sorveteiro que estiver mais próximo delas.
19.3. PROVA SUBSTITUTIVA 183

Quando ambos se posicionam em um mesmo lugar metade das pessoas naquela faixa de
areia compram de um sorveteiro e a outra metade compra do outro. As pessoas em uma
faixa de areia não têm como comprar sorvete de um sorveteiro que esteja posicionado na
outra faixa de areia, mesmo que isto signi…que que elas …carão sem sorvete, o que ocorre
sempre que os dois sorveteiros estiverem posicionados na outra faixa de areia.

(a) Existe algum equilíbrio de Nash do jogo acima em que os dois sorveteiros se posicionem
em faixas de areia diferentes? Argumente intuitivamente, mas use o conceito de
equilíbrio de Nash de forma clara na sua explicação (1 ponto).

(b) Existe algum equilíbrio de Nash em que os dois sorveteiros se posicionem na mesma faixa
de areia? Novamente, argumente intuitivamente, mas use o conceito de equilíbrio de
Nash de forma clara na sua explicação (1 ponto).

(c) Como as suas respostas nas letras (a) e (b) mudariam se a segunda faixa de areia fosse
do mesmo tamanho da primeira? E se o tamanho da segunda faixa de areia fosse o
triplo da primeira? (1 ponto)

Solução.

(a) Suponha que o sorveteiro A esteja posicionado na faixa de areia menor e o sorveteiro B
esteja posicionado na faixa de areia maior. Neste caso, o sorveteiro A está vendendo
uma quantidade igual a 1=2 de sorvetes e o sorveteiro B está vendendo uma quantidade
igual a 1 de sorvetes. Suponha agora que o sorveteiro B não esteja posicionado no
centro da faixa de areia maior. Digamos que ele esteja mais pra esquerda. Mas então,
se o sorveteiro A se posicionasse na faixa de areia maior logo à direita do sorveteiro B
ele venderia uma quantidade maior do que 1=2 de sorvetes. Isto mostra que quando o
sorveteiro B não se posiciona no centro da faixa de areia maior se posicionar na faixa
de areia menor não é uma melhor resposta para o sorveteiro A. Suponha, então, que
o sorveteiro B esteja posicionado no centro da faixa de areia maior. Neste caso, se o
sorveteiro A se posicionar na faixa de areia maior, mas não no centro, ele venderá uma
quantidade menor do que 1=2 de sorvetes. Já se ele se posicionar exatamente no centro
da faixa de areia maior ele vende uma quantidade exatamente igual a 1=2 de sorvetes.
Ou seja, em nenhum local na faixa de areia maior o sorveteiro A vende mais sorvetes
do que quando ele se posiciona na faixa de areia menor. Isto mostra que qualquer
posição na faixa de areia menor é melhor resposta para o sorveteiro A neste caso.
Analisemos agora a situação sob o ponto de vista do sorveteiro B. Como o sorveteiro
A está posicionado na faixa de areia menor, em qualquer lugar da faixa de areia maior
o sorveteiro B vende uma quantidade igual a 1 de sorvetes. Já se ele se posicionar na
faixa de areia menor ele vende uma quantidade menor do que 1=2 de sorvetes. Isto
mostra que se posicionar exatamente no centro da faixa de areia maior é uma melhor
resposta para o sorveteiro B. Nós concluimos que os equilíbrios de Nash em que os
sorveteiros se posicionam em faixas de areia diferentes são aqueles em que um deles
se posiciona exatamente no centro da faixa de areia maior e o outro se posiciona em
qualquer lugar da faixa de areia menor.
184 CAPÍTULO 19. SEGUNDO SEMESTRE DE 2010

(b) É evidente que não existe equilíbrio em que os dois se posicionem na faixa de areia
menor, já que qualquer um dos dois poderia se mudar para a faixa de areia maior e
passar a vender uma quantidade igual a 1 de sorvetes. Suponha, então, que os dois
estejam posicionados na faixa de areia maior, mas que pelo menos um deles não esteja
posicionado no centro da praia. Digamos que o sorveteiro A esteja posicionado no lado
esquerdo da praia mais à esquerda do que o sorveteiro B. Mas aí o sorveteiro B poderia
aumentar o seu ganho movendo-se para uma nova posição mais próxima do sorveteiro
A.19.1 Isto mostra que o único candidato a equilíbrio com os dois sorveteiros …cando
em uma mesma faixa de areia é o per…l em que ambos se posicionam exatamente no
centro da faixa de areia maior. De fato, quando o sorveteiro B se posiciona no centro da
faixa de areia maior qualquer outra posição nesta mesma faixa de areia faz com que o
sorveteiro A venda uma quantidade menor do que 1=2 de sorvetes. Já qualquer posição
na faixa de areia menor faz com que o sorveteiro A venda uma quantidade exatamente
igual a 1=2. Isto mostra que se posicionar no centro da faixa de areia maior é realmente
uma melhor resposta para o sorveteiro A neste caso. O mesmo raciocínio mostra que
se posicionar no centro da faixa de areia maior é também uma melhor resposta para
o sorveteiro B. Isto mostra que o único equilíbrio em que ambos os sorveteiror …cam
na mesma faixa de areia é o per…l em que ambos se posicionam no centro da faixa de
areia maior.

(c) Suponha que as duas faixas de areia sejam do mesmo tamanho. Agora, se os dois
estiverem na mesma faixa de areia ambos estarão vendendo uma quantidade menor do
que 1 de sorvetes. Mas então qualquer um deles poderia se mover para a outra faixa de
areia e vender uma quantidade exatamente igual a 1 de sorvetes. Suponha, então, que
ambos estejam em faixas de areia diferentes. Neste caso, ambos estão vendendo uma
quantidade 1 de sorvetes. Em qualquer outra posição na mesma faixa de areia que eles
estão posicionados eles também vendem uma quantidade 1 e em qualquer posição na
outra faixa de areia eles vendem uma quantidade menor do que 1. Isto mostra que
qualquer per…l em que ambos se posicionem em faixas de areia diferentes é equilíbrio
de Nash neste caso. Se a faixa de areia maior tiver o triplo do tamanho da faixa de
areia menor, então é fácil ver que se posicionar na faixa de areia menor nunca será uma
melhor resposta para nenhum dos dois sorveteiros, já que qualquer um deles poderia
vender mais sorvetes movendo-se para o centro da faixa de areia maior, por exemplo.
Resta testar equilíbrios em que os dois se posicionem na faixa de areia maior. O mesmo
raciocínio da letra (b) mostra que o único equilíbrio neste caso é o per…l em que os
dois se posicionam exatamente no centro da faixa de areia maior. k

Questão 19.3.4. Considere o problema que vimos em sala. Uma associação de moradores
está estudando se constrói ou não uma ponte. O custo de construção da ponte é c > 0. Cada
um dos N moradores associa à ponte um valor vi > 0. Embora a associação de moradores
não tenha como descobrir os vP i ’s dos diversos moradores, ela sabe que só é socialmente
desejável construir a ponte se N i=1 viP c. O problema da associação é desenvolver um
mecanismo que a permita descobrir se N i=1 vi c.
19.1
A análise aqui está meio resumida, mas o raciocínio é exatamente o mesmo do problema dos sorveteiros
tradicional.
19.3. PROVA SUBSTITUTIVA 185
P
(a) Considere o mecanismo de Groves. Cada jogador anuncia um valor si . Caso N i=1 si c
c
a ponte é construída e cada indivíduo i contribui com N . Além disto, todos os indivíduos
recebem uma transferência que será de…nida abaixo. De…namos primeiro o benefício
c
líquido anunciado pelo jogador i como s~i = si P N
. Quando a ponte é construída,
a transferência recebida pelo indivíduo i é ti = ~j + hi (s1 ; :::; si 1 ; si+1 ; sN ) e
j6=i s
quando a ponte não é construída a transferência recebida pelo indivíduo i é ti =
hi (s1 ; :::; si 1 ; si+1 ; sN ), em que hi é qualquer função que depende apenas dos valores
anunciados pelos indivíduos diferentes de i. Mostre que ao se deparar com tal mecanismo,
anunciar um valor si = vi é uma estratégia fracamente dominante para o jogador i.
Isto é, independentemente do anúncio dos outros indivíduos, se i anunciar si = vi
o seu ganho é garantidamente maior ou igual ao ganho que ele teria se anunciasse
qualquer outro valor siP (Dica: Você tem que dividir a análise em dois casos. Primeiro
c
suponha que vi n + j6=i s~j 0. Mostre que anunciar si = vi é a melhor P coisa que
o indivíduo i tem a fazer neste caso. Feito isto, suponha que vi nc + j6=i s~j < 0.
Mostre que também neste caso anunciar si = vi é a melhor coisa que o indivíduo i tem
a fazer) (2 pontos).

(b) Considere agora o mecanismo de Clarke que estudamos em sala. Lembre-se que o
mecanismo deP Clarke é aquele em que quando o indivíduo i é pivotal ele paga uma
multa igual a j6=i s~j . O mecanismo de Clarke é um caso particular do mecanismo de
Groves acima. Mostre isto. Isto é, diga qual a função hi que transforma o mecanismo
de Groves no mecanismo de Clarke (2 pontos).

Solução.
P
(a) Suponha primeiro que vi nc + j6=i s~j 0. Neste caso, se o indivíduo i anunciar P si = v i
a ponte será construída e a utilidade do indivíduo i será Ui (vi ) = vi nc + P j6=i s~j +
c
hi (s1 ; :::; si 1 ; si+1 ; sN ). Observe que com qualquer valor si tal que si n + j6=i s~j 0
a ponte continua
P sendo construída e a utilidade do indivíduo i continua sendo Ui (si ) =
c
vi n + j6=i s~j + hi (s1 ; :::; siP1 ; si+1 ; sN ). Suponha agora que o indivíduo i anuncie
um valor si tal que si nc + j6=i s~j < 0. Neste caso a ponte não é construída e a
utilidade do indivíduo i é apenas Ui (si ) = hi (s1 ; :::; si 1 ; si+1 ; sN ). Mas por hipótese,
c X
vi + s~j 0
n j6=i
()
c X
vi + s~j + hi (s1 ; :::; si 1 ; si+1 ; sN ) hi (s1 ; :::; si 1 ; si+1 ; sN ) :
n j6=i

Ou seja, nenhum anúncio dá ao Pindivíduo i uma utilidade maior do que anunciar vi .


c
Suponha agora que vi n
+ j6=i s~j < 0. Neste caso, se o indivíduo i anunciar
si = vi a ponte não será construída e a utilidade do indivíduo i P será Ui (vi ) =
c
hi (s1 ; :::; si 1 ; si+1 ; sN ). Com qualquer anúncio si tal que si n
+ ~j < 0 a
j6=i s
ponte continua não sendo construída e a utilidade do indivíduo i continua sendo
Ui (si ) = hi (s1 ; :::; si 1 ; si+1 ; sN ). Suponha agora que o indivíduo i anuncie um valor si
186 CAPÍTULO 19. SEGUNDO SEMESTRE DE 2010
P
tal que si nc + j6=i s
~Pj 0. Neste caso a ponte é construída e a utilidade do indivíduo
c
i é Ui (si ) = vi n
+ j6=i s~j + hi (s1 ; :::; si 1 ; si+1 ; sN ). Mas por hipótese,
c X
vi + s~j < 0
n j6=i
()
c X
vi + s~j + hi (s1 ; :::; si 1 ; si+1 ; sN ) < hi (s1 ; :::; si 1 ; si+1 ; sN ) :
n j6=i

Ou seja, novamente nenhum anúncio dá ao indivíduo i uma utilidade maior do que a


que ele obtem quando fala a verdade. Isto mostra que anunciar a verdade é de fato
fracamente dominante para o jogador i:

(b) De…na hi como


P P
s~j se j6=i s
~j 0
hi (s1 ; :::; si 1 ; si+1 ; sN ) := j6=i P :
0 se j6=i s
~j < 0
P P
Note que quando j6=i s~j 0 e si nc + j6=i s~j 0Pe, portanto, o indivíduo i não é
pivotal, a transferência recebida P por i é dada por Pti = j6=i s~j +hi (s1 ; :::; si 1 ; si+1 ; sN ) =
c
0. Similarmente, P quando s
~
j6=i j < 0 e s iPn + j6=i s
~j < 0, ti = hi (s1 ; :::; si 1 ; si+1 ; sN ) =
c
0. Já quando j6=i s~j 0 e si P n + j6=i s~j < P 0 a transferência recebida P por i é
c
ti = hi (s1 ; :::; si 1 ; si+1 ; sN ) = P
j6= s~
i j e quando s
~
j6=i j < 0 e s i nP
+ j6=i s
~j 0
a transferência recebida por i é ti = j6=i s~j + hi (s1 ; :::; si 1 ; si+1 ; sN ) = j6=i s~j . Estes
são exatamente os valores que aparecem no mecanismo de Clarke. k
Capítulo 20

Primeiro Semestre de 2011

20.1 Primeira Prova


Questão 20.1.1 (Monopsônio). Suponha que uma empresa produza um bem y que é vendido
no mercado internacional por um preço py = 24. O único insumo para a produção do bem y
é um bem super especializado, x. O bem y é produzido de acordo com a função de produção
y := ln x. O preço pago por unidade do insumo x segue a curva de oferta inversa w(x) = 2+x.

(a) Suponha primeiro que o mercado para o bem x seja competitivo. Isto é, suponha que
a …rma aja como tomadora de preços em relação ao preço w. Calcule quanto a …rma
utilizará do insumo x neste caso. (Atenção! Embora a …rma aja como tomadora de
preços em relação a w, posteriormente w tem que ser tal que a oferta e a demanda pelo
bem x …quem equilibradas). (Dica: No …nal você chegará em uma equação do segundo
grau que tem uma raiz positiva e uma negativa. Logicamente, a solução do problema é
a raiz positiva.) (1,3 pontos)
(b) Suponha agora que a …rma seja o único consumidor do insumo x e que esta entenda que
a sua decisão em relação a quantidade utilizada de x afeta diretamente o preço pago
w(x). Isto é, a …rma não é mais tomadora de preços em relação ao bem x. Calcule
quanto a …rma utilizará do insumo x neste caso. (Dica: Novamente você chegará em
uma equação do segundo grau que tem uma raiz positiva e uma negativa em que a
solução do problema é a raiz positiva.) (1,3 pontos)
(c) Se você fez as contas corretamente, você veri…cou que a quantidade de insumo x utilizada
na letra (a) foi maior do que na letra (b). Suponha que no caso tratado na letra (b) o
governo queira implementar um esquema de incentivos que faça com que a …rma utilize
a mesma quantidade de insumos da letra (a). O esquema funcionará da seguinte forma:
o governo subsidiará uma fração s dos custos da …rma com o insumo x. Isto é, se os
gastos da …rma com o insumo x forem l, esta receberá uma ajuda de s l do governo.
Qual o valor de s que faz com que a …rma utilize a mesma quantidade de insumo x
encontrada na letra (a)? (Dica: Lembre-se que as soluções de uma equação do segundo
grau da forma x2 + bx + c = 0 são dois números u e v tais que u + v = b e u v = c.
Portanto, se você conhece u, imediatamente você sabe que v = b u e também sabe
que c = u v:). (1,2 pontos)

187
188 CAPÍTULO 20. PRIMEIRO SEMESTRE DE 2011

Solução.
(a) Quando a …rma age como tomadora de preços o seu problema é:
max 24 ln x wx
x

A condição de primeira ordem do problema acima nos dá


24
= w:
x
Para que o mercado do bem x esteja equilibrado, o w que aparece na solução do
problema da …rma tem que coincidir com o que aparece na curve de oferta inversa. Ou
seja, a seguinte equação tem que ser satisfeita:
24
= 2 + x;
x
o que nos dá a seguinte equação do segundo grau:
x2 + 2x 24 = 0:
A solução positiva da equação acima é x = 4:
(b) O problema da …rma agora é
max 24 ln x (2 + x)x
x

A condição de primeira ordem do problema acima nos dá


24
= 2 + 2x;
x
o que implica que a solução do problema satisfaz a seguinte equação do segundo grau:
x2 + x 12 = 0:
A solução positiva da equação acima é x = 3:
(c) Com o subsídio descrito na questão o problema da …rma vira:
max 24 ln x (1 s)(2 + x)x
x

A condição de primeira ordem do problema acima nos dá


24
= (1 s)(2 + 2x);
x
o que implica que a solução do problema satisfaz a seguinte equação do segundo grau:
12
x2 + x = 0:
1 s
Seguindo a dica, como queremos que uma das raízes da equação acima seja 4, nós
sabemos que a outra tem que ser 5. Ainda seguindo a dica, nós concluimos que s
tem que satisfazer
12
= 20;
1 s
o que implica que s = 2=5. k
20.1. PRIMEIRA PROVA 189

Questão 20.1.2. Robinson Crusoé e Sexta-feira vivem em ilhas vizinhas e produzem e


consomem peixe (F) e côco (C). Suponha que em um certo mês ambos tenham decidido
trabalhar 180 horas e que eles sejam indiferentes entre gastar o tempo catando côcos ou
pescando. As funções de produção de Robinson são dadas por F R := 2lFR e C R := lCR , em
que F R e C R são as quantidades de peixe e côco produzidas por Robinson e lFR e lCR são
os números de horas que Robinson passa pescando e catando côcos, respectivamente. Já as
funções de produção de Sexta são dadas por F S := lFS e C S := 2lCS , em que F S ; C S ; lFS e lCS
são interpretados de forma similar ao caso de Robinson. A função de utilidade de Robinson é
1 2 1 2
dada por U R (F; C) = F 3 C 3 e a função de utilidade de Sexta é dada por U S (F; C) = F 3 C 3 .

(a) Suponha que em uma determinada época do ano as duas ilhas estejam completamente
isoladas pela maré. Quantas horas Robinson trabalha pescando e quantas horas ele
trabalha catando côcos? E Sexta-feira? Quantos peixes e quantos côcos Robinson
consome? E Sexta-feira? (Dica: Para um número a > 0 o vetor (x ; y ) que maximiza
a função a f (x; y) é o mesmo que maximiza a função f (x; y)) (1,3 pontos)

(b) Suponha que após Robinson e Sexta já haverem produzido as quantidades acima, mas
antes deles haverem consumido qualquer coisa, a maré esvazie e apareça uma oportunidade
de comércio entre as suas duas ilhas. Considerando Robinson e Sexta como tomadores
de preços, encontre o único equilíbrio competitivo da economia. Quantos peixes e
quantos côcos Robinson e Sexta-feira consomem em tal equilíbrio? (1,2 pontos)

(c) Suponha agora que a maré esvazie antes de Robinson e Sexta haverem tomado as suas
decisões de produção. Mostre que esta nova economia tem um equilíbrio competitivo em
que pC = 2pF . Quantos peixes e quantos côcos Robinson e Sexta-feira produzem em tal
equilíbrio? Quantos peixes e quantos côcos Robinson e Sexta-feira consomem? (Dica:
Observe que você pode dividir os problemas de Robinson e Sexta em dois. Primeiro um
de maximização da riqueza dado o número de horas que eles podem trabalhar e depois
um de maximização de utilidade dada a riqueza acumulada). (1,2 pontos)

Solução.

(a) O problema de Robinson é


1 2 1 1 2
max(2lFR ) 3 (lCR ) 3 = 2 3 (lFR ) 3 (lCR ) 3
R ;lR
lF C

sujeito a
lFR + lCR = 180
Seguindo a dica, nós sabemos que a solução do problema acima é a mesma de um
problema Cobb-douglas em que os preços são iguais a 1 e a riqueza é 180. A solução
do problema acima é lFR = 60 e lCR = 120, o que implica que F R = 120 e C R = 120. O
problema de Sexta é
1 2 2 1 2
max(lFS ) 3 (2lCS ) 3 = 2 3 (lFS ) 3 (lCS ) 3
S ;lS
lF C

sujeito a
lFS + lCS = 180
190 CAPÍTULO 20. PRIMEIRO SEMESTRE DE 2011

Novamente o problema acima é um do tipo Cobb-douglas cuja solução é lFS = 60 e


lCS = 120, o que implica que F S = 60 e C S = 240:

(b) Como apenas preços relativos podem ser determinados em equilíbrio, façamos pF = 1 e
pC = p. O problema de Robinson pode ser escrito como
1 2
max (F R ) 3 (C R ) 3
F R ;C R

sujeito a
F R + p C R = 120 + 120p
A solução do problema acima é
1
F R = (120 + 120p)
3
e
2 120 + 120p
CR = :
3 p
O problema de Sexta pode ser escrito como
1 2
max (F S ) 3 (C S ) 3
F S ;C S

sujeito a
F S + p C S = 60 + 240p
A solução do problema acima é
1
F S = (60 + 240p)
3
e
2 60 + 240p
CS = :
3 p
Equilibrando o mercado para o bem F nós …camos com a seguinte equação:
1 1
(120 + 120p) + (60 + 240p) = 180
3 3
Resolvendo a equação acima nós obtemos p = 1: Tal valor de p nos dá F R = 80,
C R = 160, F S = 100 e C S = 200:

(c) Façamos pF = 1 e, consequentemente, pC = 2. O problema de Robinson pode ser escrito


como
1 2
max (F R ) 3 (C R ) 3
R ;lR ;F R ;C R
lF C

sujeito a
F R + 2C R = 2lFR + 2lCR
e
lFR + lCR = 180
20.1. PRIMEIRA PROVA 191

Seguindo a dica, nós sabemos que o problema acima pode ser dividido em dois.
Primeiro Robinson resolve o seguinte problema:

max 2lFR + 2lCR


R ;lR
lF C

sujeito a
lFR + lCR = 180
É fácil ver que qualquer combinação de lFR e lCR que satisfaz a restrição é solução para
o problema acima e gera uma riqueza para Robinson igual a 360. Posteriormente,
Robinson resolve o seguinte problema:
1 2
max (F R ) 3 (C R ) 3
F R ;C R

sujeito a
F R + 2C R = 360
A solução do problema acima é F R = 120 e C R = 120: O problema de maximização
de riqueza de Sexta-feira é
max lFS + 4lCS
S ;lS
lF C

sujeito a
lFS + lCS = 180
É evidente que a única solução para o problema acima é lFS = 0 e lCS = 180, o que gera
uma riqueza de 720 para Sexta. O problema de maximização de utilidade de Sexta é
1 2
max (F S ) 3 (C S ) 3
F S ;C S

sujeito a
F S + 2C S = 720
A solução do problema acima é F S = 240 e C S = 240. Isto gera um consumo agregado
de peixe igual a 360. Como Sexta não produz peixe, todo o peixe deve ser produzido
por Robinson. Isto é, a solução do problema de maximização de riqueza de Robinson
que será parte do equilíbrio é lFR = 180 e lCR = 0. Note que todos os mercados estão
equilibrados. k

Questão 20.1.3. Considere uma economia na caixa de Edgeworth em que as funções de


1 1
utilidade dos consumidores sejam dadas por U A (x1A ; x2A ) = (x1A ) 2 (x2A ) 2 e U B (x1B ; x2B ) =
x1B + ln x2B . Suponha que as dotações iniciais dos consumidores sejam (wA 1 2
; wA ) = (1; 0) e
1 2
(wB ; wB ) = (0; 1).

(a) Encontre o único equilíbrio competitivo desta economia. Isto é, encontre o vetor de
preços e a alocação que constituem um equilíbrio competitivo para esta economia. (1,3
pontos)
192 CAPÍTULO 20. PRIMEIRO SEMESTRE DE 2011

(b) É possível mostrar que a alocação (x1A ; x2A ) = 32 ; 25 e (x1B ; x2B ) = 13 ; 53 é e…ciente no
sentido de Pareto. Como a economia acima satisfaz as condições do segundo teorema
do bem estar nós sabemos que com a correta redistribuição das dotações iniciais nós
podemos fazer com que tal alocação seja parte de um equilíbrio competitivo. Ou seja,
1 2 1 2
existem 0 t1 ; t2 1 tais que quando (wA ; wA ) = (1 t1 ; t2 ) e (wB ; wB ) = (t1 ; 1 t2 )
a alocação resultante do equilíbrio competitivo da economia é exatamente (x1A ; x2A ) =
2 2
;
3 5
e (x1B ; x2B ) = 13 ; 53 . Na verdade, existe um vetor de tranferências (t1 ; t2 ) com
t1 = 1=2 que gera a alocação acima em equilíbrio. Encontre o vetor de preços e a
transferência t2 relacionados a tal equilíbrio. (1,2 pontos)

Solução.

(a) Como somente preços relativos são determinados em equilíbrio, faça p1 = 1 e p2 = p. O


problema do consumidor A é
1 1
max
1 2
(x1A ) 2 (x2A ) 2
xA ;xA

sujeito a
x1A + px2A = 1
1 1
A solução do problema é x1A = 2
e x2A = 2p
. Já o problema do consumidor B é

max x1B + ln x2B


x1B ;x2B

sujeito a
x1B + px2B = p
Isolando x1B na restrição e substituindo na função objetivo o problema simpli…ca-se
para
max2
p px2B + ln x2B
xB

A condição de primeira ordem do problema acima nos dá

1
= p;
x2B

o que implica que x2B = p1 e x1B = p 1. Equilibrando o mercado para o bem 1 nós
obtemos a seguinte equação:
1
+ p 1 = 1;
2
o que implica que
3
p= :
2
Isto implica que x2A = 13 , x1B = 1
2
e x2B = 23 .
20.2. SEGUNDA PROVA 193

(b) O problema do consumidor B agora é

max x1B + ln x2B


x1B ;x2B

sujeito a
1
x1B + px2B =+ p(1 t2 )
2
Isolando x1B na restrição e substituindo na função objetivo o problema simpli…ca-se
para
1
max + p(1 t2 ) px2B + ln x2B
2
xB 2
Da condição de primeira ordem do problema acima nos aprendemos que x2B = p1 . Como
sabemos que x2B = 35 , nós aprendemos que p = 35 . Substituindo tais valores, juntamente
com x1B = 13 na restrição do problema acima nós obtemos que t2 = 12 : k

20.2 Segunda Prova


Questão 20.2.1 (Liderança de quantidade com custo quadrático). Suponha que duas empresas
produzam o mesmo produto e suas funções de custo sejam dadas por c(yi ) = yi2 . Suponha
também que a demanda pelo bem y seja representada pela seguinte curva de demanda inversa:

p(y1 + y2 ) = 56 (y1 + y2 ):

Finalmente, suponha que a …rma 1 tome a sua decisão de produção antes da …rma 2. Somente
após tomar conhecimento da decisão de produção da …rma 1 é que a …rma 2 decide o quanto
ela vai produzir. Modele a situação acima como um jogo sequencial e encontre as quantidades
que as duas …rmas vão produzir em equilíbrio usando o método de indução retroativa. (2
pontos)

Solução. O jogo é simplesmente o jogo de Stackelberg descrito nas notas de aula. A árvore
de decisão do jogo pode ser representada por

em que
1 (y1 ; y2 ) = p(y1 + y2 )y1 y12
194 CAPÍTULO 20. PRIMEIRO SEMESTRE DE 2011

e
2 (y1 ; y2 ) = p(y1 + y2 )y2 y22 :
A primeira coisa a fazer é identi…car as melhores respostas da …rma 2 quando a …rma 1
produz uma quantidade genérica y1 . Neste caso, o problema da …rma 2 pode ser escrito
como:
max(56 (y1 + y2 ))y2 y22
y2

A condição de primeira ordem do problema acima nos dá


56 y1
y2 (y1 ) = :
4
Após o primeiro estágio de indução retroativa o jogo é simpli…cado para

Tudo que temos que fazer agora é encontrar a quantidade ótima que a …rma 1 vai escolher.
Isto é, temos que resolver o seguinte jogo:
3y1
max 1 (y1 ; y2 (y1 )) = (42 )y1 y12
y1 4
Da condição de primeira ordem do problema acima nós obtemos que y1 = 12. Substituindo
tal valor na expressão que nós encontramos para y2 nós obtemos y2 = 11: k
Questão 20.2.2 (Provimento de bem público). Suponha que dois países vizinhos estejam
decidindo o quanto investir em um determinado
p bem público G. As funções de utilidade dos
países são dadas por U (xi ; G) := xi + 2 G, em que xi é o quanto o país i gasta em consumo
privado e G := g1 +g2 é a soma das contribuições dos dois países para o bem público. Suponha
que o país 1 tenha uma renda igual a w1 e o país 2 tenha uma renda igual a w2 . Nós temos
que ter wi = xi + gi , para i = 1; 2.

(a) Calcule a quantidade e…ciente de investimento agregado no bem público. Isto é, a


quantidade que maximiza a soma das utilidades dos dois países. Atenção! Existem
várias combinações de g1 e g2 que estão relacionadas a alocações e…cientes, mas a
soma g1 + g2 é a mesma em todas elas. (1,5 pontos)

(b) Suponha agora que os dois países estejam agindo de forma não coordenada. Quanto será
produzido do bem público? Agora, várias combinações de g1 e g2 serão equilíbrios de
Nash do jogo, mas em todos esses equilíbrios a soma g1 + g2 é a mesma. (1,5 pontos)

Solução.
20.2. SEGUNDA PROVA 195

(a) Note que nós sempre temos que ter xi = wi gi , portanto, o problema de maximização
da soma das utilidades dos países pode ser escrito como
p p
max w1 g1 + 2 g1 + g2 + w2 g2 + 2 g1 + g2
g1 ;g2

As condições de primeira ordem do problema acima são:


2
g1 : p = 1 () g1 + g2 = 4
g1 + g2
2
g2 : p = 1 () g1 + g2 = 4:
g1 + g2
As condições acima nos mostram que qualquer combinação de g1 e g2 tal que g1 +g2 = 4
maximiza a soma das utilidades dos países.

(b) Suponha que o país 2 esteja fornecendo uma quantidade g2 do bem público. A melhor
resposta do país 1 neste caso resolve o seguinte problema:
p
max w1 g1 + 2 g1 + g2
g1

A condição de primeira ordem do problema acima nos dá g1 = 1 g2 : Similarmente,


quando o país 1 está produzindo uma quantidade genérica g1 do bem público, a melhor
resposta do país 2 é produzir uma quantidade g2 = 1 g1 . Isto mostra que os equilíbrios
de Nash do jogo são as combinações de g1 e g2 tais que g1 + g2 = 1: k

Questão 20.2.3 (Estratégias Mistas no Modelo de Sinalização). Considere o modelo de


sinalização que vimos em sala. Isto é, suponha que existam dois tipos de trabalhadores, os de
produtividade alta, H , e os de produtividade baixa, L . A nossa hipótese é que H > L > 0.
Um fração dos trabalhadores é do tipo H e uma fração 1 é do tipo L, em que 0 < < 1.
Ambos os trabalhadores têm a possibilidade de obter educação. O trabalhador do tipo H pode
obter educação sem custo algum, enquanto o tipo L tem que pagar um custo cL para isto.
Finalmente, nós faremos a hipótese de que o mercado de …rmas é competitivo e que quando
os dois tipos de trabalhadores tomam decisões diferentes em relação a obter ou não educação
isto funciona como um sinal que os identi…ca. Deste modo, se ambos os tipos obtiverem
educação ou ambos não obtiverem, o salário pago pelas …rmas será igual a H + (1 ) L.
Se apenas um dos tipos obtiver educação, o salário pago ao trabalhador do tipo H será H e
o pago ao tipo L será L .

(a) A situação descrita acima pode ser representada por um jogo 2 2 em que as estratégias
dos jogadores são obter ou não educação. Escreva a matriz de tal jogo. (Dica: É
exatamente o mesmo jogo das notas de aula) (1,5 pontos)

(b) Suponha que = 2=3, H = 6, L = 3 e cL = 1. Encontre todos os equilíbrios de Nash,


em estratégias mistas, do jogo que você escreveu na letra (a).20.1 (1,5 pontos)

Solução.
20.1
Só para garantir que você não deixe de fazer a letra (b) por não ter conseguido fazer a letra (a), aí vai
196 CAPÍTULO 20. PRIMEIRO SEMESTRE DE 2011

(a) A matriz do jogo descrito acima é


Jogador L
E N
Jogador E H + (1 ) L; H + (1 ) L cL H; L
H N H; L cL H + (1 ) L; H + (1 ) L

(b) Com tais valores a matriz do jogo vira


Jogador L
E N
Jogador E 5; 4 6; 3
H N 6; 2 5; 5
Seja a probabilidade com que o jogador H joga E e a probabilidade com que o
jogador L joga E. Tentemos primeiro encontrar equilíbrios em que H jogue = 1.
Neste caso, a única melhor resposta para L é jogar = 1. Mas quando L joga = 1 a
única melhor resposta para H é jogar = 0. Nós concluimos que não existe equilíbrio
neste caso. Tentemos agora equilíbrios com = 0. Neste caso, a única melhor resposta
para L é = 0. Mas quando L joga = 0 a única melhor resposta para H é jogar
= 1. Nós concluimos que não existe equilíbrio neste caso. Finalmente, tentemos
equilíbrios com 2 (0; 1). Nós sabemos que para que isto ocorra tem que fazer H
indiferente entre jogar = 1 e = 0. Isto é, tem que satisfazer
5 + (1 ) 6= 6 + (1 ) 5:
Resolvendo a equação acima nós obtemos = 1=2. Como = 1=2 é uma estratégia
mista não degenerada, para que L a jogue em equilíbrio é necessário que a estratégia
do jogador H faça L indiferente entre jogar = 1 e = 0. Isto é, tem que satisfazer
4 + (1 ) 2= 3 + (1 ) 5:
Resolvendo a equação acima nós obtemos = 3=4. Portanto, o único equilíbrio de
Nash do jogo é o per…l ( ; ) = (3=4; 1=2): k

Questão 20.2.4 (Divisão de Torta). Suponha que uma torta vá ser dividida entre dois
indivíduos. A divisão ocorrerá da seguinte forma. Primeiro o indivídio 1 parte a torta em
dois pedaços. Posteriormente o indivíduo 2 escolhe o seu pedaço e o pedaço restante …ca para
o indivíduo 1. Usando o conceito de indução retroativa de forma intuitiva, descreva todas
as soluções por indução retroativa do jogo nas três situações abaixo. Quando eu escrevo de
forma intuitiva isto signi…ca que você não precisa escrever a árvore de decisão do jogo nem
usar matemática. Você deve explicar a sua solução apenas com palavras.
a matriz após a substituição dos valores na letra (b):
Jogador L
E N
Jogador E 5; 4 6; 3
H N 6; 2 5; 5
20.2. SEGUNDA PROVA 197

(a) Suponha primeiro que a torta seja de um único sabor e ambos os indivíduos gostem do
sabor em questão. Descreva todas as soluções por indução retroativa do jogo neste caso.
(1 ponto)

(b) Suponha agora que a torta seja metade de chocolate e metade de baunilha. Suponha
ainda que o indivíduo 1 só goste de chocolate e o indivíduo 2 só goste de baunilha.
Suponha ainda que ao se deparar com dois pedaços com a mesma quantidade de baunilha
o indivíduo 2 pre…ra aquele que tem menos quantidade de chocolate. Descreva todas as
soluções por indução retroativa do jogo neste caso. (1 ponto)

(c) Suponha agora que a torta seja metade de chocolate e metade de baunilha. Suponha
ainda que o indivíduo 1 goste igualmente dos dois sabores, mas que o indivíduo 2 só
goste de baunilha. Suponha ainda que ao se deparar com dois pedaços com a mesma
quantidade de baunilha o indivíduo 2 pre…ra aquele que tem menos quantidade de
chocolate. Descreva todas as soluções por indução retroativa do jogo neste caso. (1
ponto)

Solução.

(a) Comecemos analisando a situação do …nal. Isto é, após o indivíduo 1 já haver partido
a torta. Se os dois pedaços não tiverem o mesmo tamanho o indivíduo 2 certamente
escolherá o maior pedaço, o que deixará o indivíduo 1 com menos do que a metade
da torta. Agora analisemos a situação do ponto de vista do indivíduo 1. Do ponto
de vista do indivíduo 1, sempre que ele não partir a torta exatamente ao meio este
…cará com um pedaço menor do que a metade da torta. Logo, a melhor ação para o
indivíduo 1 é partir a torta exatamente no meio.

(b) Novamente, comecemos analisando o jogo do …nal. Como o indivíduo 2 só gosta de


baunilha, este sempre escolherá o pedaço que tem mais baunilha. Em particular, se
o indivíduo 1 partir a torta separando a metade de chocolate da metade de baunilha
o indivíduo 2 escolherá a metade de baunilha. Isto mostra que do ponto de vista do
indivíduo 1 ele tem como obter a sua utilidade máxima no jogo, mas esta não é a
única solução do jogo. Note que qualquer particionamento da torta em que a metade
de chocolate …que toda em um mesmo pedaço e o pedaço sem chocolate inclua pelo
menos metade da quantidade de baunilha faz com que o indivíduo 2 escolha o pedaço
sem chocolate e também dá utilidade máxima ao indivíduo 1. Com qualquer outro
particionamento o indivíduo 1 …cará com um pedaço que não incluirá toda a metade
de chocolate e, portanto, não estará tomando uma ação ótima. Nós concluimos que as
soluções por indução retroativa agora são os particionamentos em que um dos pedaços
inclui toda a parte de chocolate e no máximo metade da parte de baunilha. Nestas
soluções o indivíduo 2 escolherá o pedaço sem chocolate.

(c) Comecemos analisando o jogo pelo …nal. Como o indivíduo 2 só gosta de baunilha, este
sempre escolherá o pedaço que tem mais baunilha. Como existe sempre um pedaço
com uma quantidade de baunilha igual a pelo menos 1/4 da torta, isto garante que o
indivíduo 1 nunca terminará o jogo com um pedaço maior do que 3/4 da torta. De
198 CAPÍTULO 20. PRIMEIRO SEMESTRE DE 2011

fato, existe apenas um particionamento que faz com que o indivíduo 1 termine com
um pedaço igual a 3/4 da torta. Tal particionamento consiste de um pedaço que inclui
toda a parte de chocolate e metade da parte de baunilha e outro que inclui apenas
metade da parte de baunilha. Observe que ao se deparar com tais pedaços o indivíduo
2 escolhe o que tem apenas baunilha. k

20.3 Prova Substitutiva


Questão 20.3.1. (a) Considere uma economia na caixa de Edgeworth em que as dotações
iniciais agregadas são dadas por A1 = 1qe A2 = 2 e as funções de utilidade dos
1
consumidores são dadas por U i (x1i ; x2i ) = x1i + (x2i ) 3 , para i = A; B. Utilize o que
aprendemos nas notas de aula e na lista de exercícios para encontrar uma expressão
algébrica que caracterize a curva de contrato desta economia. Ou seja, ache uma
expressão do tipo x2A = f (x1A ) que caracterize todas as alocações e…cientes para esta
economia. Represente gra…camente, na caixa de Edgeworth, esta curva de contrato.
(1,5 pontos)

(b) Uma das alocações e…cientes que você deve ter encontrado acima é a alocação (x1A ; x2A ) =
( 13 ; 1) e (x1B ; x2B ) = ( 23 ; 1). A economia acima satisfaz as condições do segundo teorema
1 2 1 2 1
do bem estar e existe um vetor de dotações iniciais (wA ; wA ); (wB ; wB ) com wA = 1=2
que faz com que a alocação acima seja parte de um equilíbrio competitivo. Encontre
o vetor de preços e o restante da dotação inicial relacionados a tal equilíbrio. (1,5
pontos)

Solução.

(a) Vamos primeiro encontrar as alocações e…cientes no interior da caixa de Edgeworth.


Tais alocações são caracterizadas pela condição T M gS(A) = T M gS(B), ou seja:

U1A (x1A ; x2A ) U1B (x1B ; x2B )


=
U2A (x1A ; x2A ) U2B (x1B ; x2B )
()
2 2
3(x2A ) 3 = 3(x2B ) 3
()
x2A = x2B
()
x2A = x2B = 1

Portanto, as alocações e…cientes no interior da caixa de Edgeworth são aquelas em que


x2A = x2B = 1. Tentemos agora alocações em que x1A = 0. Tais alocações são e…cientes
quando T M gS(A) T M gS(B), ou seja, quando
2 2
3(x2A ) 3 3(x2B ) 3 .
20.3. PROVA SUBSTITUTIVA 199

Como as expressões acima são funções crescentes de x2A e x2B , a condição acima será
verdade sempre que x2A x2B . Isto é, sempre que x2A 1.Testemos agora alocações
1
em que xA = 1. Tais alocações são e…cientes quando T M gS(A) T M gS(B). Isto é
quando
2 2
3(x2A ) 3 3(x2B ) 3 .
A condição acima será verdade sempre que x2A x2B , ou seja, sempre que x2A 1.
2 2
Finalmente, testemos alocações com xA = 0 e com xA = 2. Tais alocações serão
e…cientes quando T M gS(A) T M gS(B) e T M gS(A) T M gS(B), respectivamente.
Porém, no primeiro caso nós temos
2
T M gS(A) = 0 < 3(2) 3 = T M gS(B)

e no segundo caso nós temos


2
T M gS(A) = 3(2) 3 > 0 = T M gS(B):

Nós concluimos que não existem alocações e…cientes nesses casos. Portanto, as alocações
e…cientes no interior da caixa de Edgeworth são aquelas em que x1A 2 (0; 1) e x2A = 1 e
as alocações e…cientes na fronteira da caixa de Edgeworth são aquelas em que x1A = 0
e x2A 1 ou x1A = 1 e x2A 1. Gra…camente:

Improving directions
for consumer 1

Improving directions
for consumer 2

Figura 20.1: Alocações e…cientes


200 CAPÍTULO 20. PRIMEIRO SEMESTRE DE 2011

(b) Fazendo p1 = 1, o primeiro passo é encontrar p2 = p: O problem do consumidor A pode


ser escrito como q
1
max
1 2
x1A + (x2A ) 3
xA ;xA

sujeito a
1
x1A + px2A =
+ pwA 2
2
Substituindo a restrição na função objetivo o problema simpli…ca-se para
r
1 2 2 2 3
1
max + pw A px A + (x A )
x2A 2

A condição de primeira ordem do problema acima nos dá

1 1 1 2 2
q x 3
p = 0:
2 1 2
1 3 A
2
+ pwA px2A + (x2A ) 3
2
A condição acima só pode ser verdade se 13 (x2A ) 3 = p. Como na alocação em questão
nós temos x2A = 1, isto implica que o preço de equilíbrio é p = 31 . De posse do preço
de equilíbrio, a restrição orçamentária do consumidor A implica que
1
2 x1A + px2A 2
wA =
p
1
3
+ 3 12
1
= 1
3
1
= :
2
Como a dotação agregada do bem 1 é 1, o fato de que wA 1
= 12 implica que wB
1
= 12 .
2
Similarmente, o fato de que a dotação agregada do bem 2 é 2 implica que wB = 32 : k

Questão 20.3.2 (Monopsônio revisitado). Suponha que uma empresa produza um bem y que
é vendido no mercado internacional por um preço py = 96. O único insumo para a produção
do bem y é um bem super especializado, x. O bem y é produzido de acordo com a função de
produção y = ln x. O preço pago por unidade do insumo x segue a curva de oferta inversa
w(x) = 4 + x.

(a) Suponha primeiro que o mercado para o bem x seja competitivo. Isto é, suponha que
a …rma aja como tomadora de preços em relação ao preço w. Calcule quanto a …rma
utilizará do insumo x neste caso. (Atenção! Embora a …rma aja como tomadora de
preços em relação a w, posteriormente w tem que ser tal que a oferta e a demanda pelo
bem x …quem equilibradas). (Dica: No …nal você chegará em uma equação do segundo
grau que tem uma raiz positiva e uma negativa. Logicamente, a solução do problema é
a raiz positiva.) (1,5 pontos)
20.3. PROVA SUBSTITUTIVA 201

(b) Suponha agora que a …rma seja o único consumidor do insumo x e que esta entenda que
a sua decisão em relação a quantidade utilizada de x afeta diretamente o preço pago
w(x). Isto é, a …rma não é mais tomadora de preços em relação ao bem x. Calcule
quanto a …rma utilizará do insumo x neste caso. (Dica: Novamente você chegará em
uma equação do segundo grau que tem uma raiz positiva e uma negativa em que a
solução do problema é a raiz positiva.) (1,5 pontos)
(c) Se você fez as contas corretamente, você veri…cou que a quantidade de insumo x utilizada
na letra (a) foi maior do que na letra (b). Suponha que no caso tratado na letra (b)
o governo queira implementar um esquema de incentivos que faça com que a …rma
produza a mesma quantidade de bem y da letra (a). O esquema funcionará da seguinte
forma: o governo fornecerá uma certa quantidade do insumo x de graça para a …rma.
Esta quantidade vem de um estoque do governo e, portanto, não afeta a curva de oferta
do bem x. Qual a quantidade x do bem x que o governo tem que fornecer para a …rma?
(Dica: Observe que o que você sabe é que a soma da quantidade de bem x fornecida
pelo governo mais a quantidade que a …rma vai comprar no mercado tem que ser igual
a quantidade de insumo usada na letra (a)) (1 ponto)
Solução.
(a) O problema da …rma neste caso é
max 96 ln x wx
x

A condição de primeira ordem do problema acima nos dá


96
= w:
x
Em equilíbrio, o w que aparece na expressão acima tem que concordar com o w que
aparece na curva de oferta inversa. Isto é, x tem que satisfazer
96
= 4+x
x
()
x2 + 4x 96 = 0
A raiz positiva da equação acima é x = 8:
(b) O problema da …rma agora é
max 96 ln x (4 + x)x
x

A condição de primeira ordem do problema acima nos dá


96
= 4 + 2x
x
()
x2 + 2x 48 = 0
A raiz positiva da equação acima é x = 6:
202 CAPÍTULO 20. PRIMEIRO SEMESTRE DE 2011

(c) Seja x a quantidade do bem x que o governo vai doar para …rma. O problema da …rma
agora é
max 96 ln(x + x) (4 + x)x
x

A condição de primeira ordem do problema acima é


96
= 4 + 2x:
x +x
Como nós queremos que x + x = 8, a equação acima implica que x = 4: Ou seja a
quantidade que o governo tem que doar para a …rma é x = 4: k

Questão 20.3.3 (Perigo Moral). Considere o modelo de perigo moral que estudamos nas
notas de aula. Ou seja, suponha que uma …rma queira contratar um gerente para a realização
de um projeto. O retorno do projeto pode ser alto, H = 3 ou baixo, L = 1. O gerente tem
a opção de se esforçar ou não. Quando o gerente se esforça a probabilidade do retorno do
projeto ser alto é pe = 2=3, quando ele não se esforça a probabilidade do retorno ser alto
é apenas pn = 1=3. Quando o gerente se esforça ele incorre em um custo ce = 1. A …rma
oferecerá um contrato de trabalho, (wH ; wL ) ; que estipula o salário do gerente no caso de um
retorno alto e de um retorno baixo. O objetivo da …rma é maximizar o seu lucro esperado.
Isto é, maximizar pi ( H wH ) + (1 pi ) ( L wL ) em que i = e ou n, dependendo de o
gerente se esforçar ou não. Para completar, suponha que o gerente sejapestritamente avesso
ao risco com função de utilidade em relação a salário dada por u(w) = w. Ou seja, quando
p p
ele se esforça a sua utilidade esperada é dada por U e (wH ; wL ) = pe wH + (1 pe ) wL ce
p p
e no caso em que ele não se esforça é dada por U n (wH ; wL ) = pn wH + (1 pn ) wL .

(a) Suponha primeiro que o esforço seja observável. Escreva e resolva os problemas da …rma
quando ela exige que o gerente se esforce e quando ela não exige. Calcule o lucro obtido
pela …rma nos dois casos e descubra qual o melhor contrato para a …rma neste caso.
(Dica: Podem aparecer salários negativos ou nulos, não tem problema) (1,5 pontos).

(b) Suponha agora que o esforço não seja observável. Qual o melhor contrato para a …rma
neste caso? (Dica: Você não precisa fazer nenhuma conta. Mas explique bem a lógica
da sua solução) (1 ponto)

Solução.

(a) O problema da …rma pode ser escrito de forma genérica como

max pi ( H wH ) + (1 pi )( L wL )
wH ;wL

sujeito a
p p
pi wH + (1 pi ) wL ci 0
em que pi = pe no caso em que a …rma exige que o gerente se esforce e pi = pn quando
a …rma não exige. Similarmente, ci = 1 no caso em que a …rma exige que o gerente
se esforce e ci = 0 quando não. O argumento tradicional nos garante que a restrição
acima tem que ser satisfeita com igualdade. Conforme discutido na prova, a escolha da
20.3. PROVA SUBSTITUTIVA 203
p
função de utilidade acima não foi muito apropriada, já que w não está de…nida para
valores negativos. De qualquer forma, seguindo o raciocínio nas notas de aula, nós
sabemos que a solução do problema da …rma quando o gerente é estritamente avesso
ao risco, envolve a …rma pabsorvendo todo o risco da situação. Isto é, será um salário
constante w que satisfaz w = ci . Isto implica que no caso em que a …rma não exige
esforço o contrato ótimo será wH = wL = 0 e no caso em que a …rma exige esforço será
wH = wL = 1. O lucro da …rma no caso que ela não exige esforço é
1 2
pn H + (1 pn ) L = 3+ 1
3 3
5
=
3
e o lucro dela no caso em que ela exige esforço é
2 1
pe ( H 1) + (1 pe )( L 1) = 2+ 0
3 3
4
= :
3
Ou seja, o melhor contrato para a …rma é aquele em que ela não exige que o gerente
se esforce.

(b) Como o melhor contrato no caso em que o esforço é observável é aquele em que a …rma
não exige que o gerente se esforce, nós sabemos que este também será o melhor contrato
no caso em que o esforço não é observável. Observe que tal contrato dá ao gerente
uma utilidade não negativa, portanto ele o aceita. Além disto, como o salário em tal
contrato é constante, é claro que ele vai aceitá-lo e não vai se esforçar. Finalmente,
como o problema da …rma no caso de esforço não observável tem mais restrições, nós
sabemos que o seu lucro não pode ser maior no caso de esforço não observável que no
caso de esforço observável. Isto implica que o contrato ótimo no caso de não exigir
esforço encontrado na letra (a) de fato é também o melhor contrato no caso de esforço
não observável. k

Questão 20.3.4 (Praia com densidade de pessoas diferente). Considere novamente o problema
dos dois sorveteiros que têm que escolher uma posição em uma faixa de areia. Porém,
suponha agora que na metade esquerda da praia a densidade de pessoas seja três vezes maior
do que na metade direita. Seja a posição escolhida pelo sorveteiro 1 e a escolhida pelo
sorveteiro 2. Por exemplo, se os sorveteiros estiverem posicionados como na …gura 20.2
abaixo, o ganho do sorveteiro 1 será 3 +2 e o ganho do sorveteiro 2 será 3 ( 12 +
2
) + 12 .
Encontre todos os equilíbrios de Nash do jogo. A sua solução pode ser bem intuitiva, mas o
conceito de equilíbrio de Nash deve estar claro. (1,5 pontos)
204 CAPÍTULO 20. PRIMEIRO SEMESTRE DE 2011

Figura 20.2: Exemplo de posicionamento na praia

Solução. A exata densidade de pessoas em cada parte da praia não importa muito para o
raciocínio. O que importa mesmo é identi…car o ponto tal que metade das pessoas se encontre
à direita daquele ponto e metade à esquerda. Pela descrição do problema é fácil ver que tal
ponto é a posição 1=3. Agora o mesmíssimo raciocínio usado nas notas de aula mostra que
o per…l em que ambos os sorveteiros se posicionam na posição 1=3 é o único equilíbrio de
Nash do jogo. k
Capítulo 21

Segundo Semestre de 2011

21.1 Primeira Prova


Questão 21.1.1. Considere uma economia na caixa de Edgeworth, isto é, uma economia de
trocas com dois consumidores e dois bens.

(a) Suponha que a dotação agregada de ambos os bens seja igual a 1 e as funções de
utilidade dos dois agentes sejam dadas por U A (x1A ; x2A ) = x1A + 2x2A e U B (x1B ; x2B ) =
min fx1B ; x2B g. Caracterize todas as alocações e…cientes no sentido de Pareto para esta
economia. Quais dessas alocações são justas? (Dica: Na minha opinião o jeito mais
fácil de resolver a questão é usar apenas lógica. Se você prestar atenção na de…nição de
e…ciência no sentido de Pareto e olhar principalmente para o indivíduo B a situação
…ca clara. Algumas pessoas podem achar mais fácil resolver a questão desenhando a
situação na caixa de Edgeworth) (1,5 pontos).

(b) Suponha que a dotação agregada de ambos os bens seja igual a 1 e as funções de utilidade
dos dois agentes sejam dadas por U A (x1A ; x2A ) = x1A +x2A e U B (x1B ; x2B ) = max fx1B ; x2B g.
Caracterize todas as alocações e…cientes no sentido de Pareto para esta economia.
Quais dessas alocações são justas? (Dica: Novamente o jeito mais fácil de resolver a
questão é usar apenas lógica. Alocações em que x1B ; x2B > 0 podem ser e…cientes? E
alocações em que x1B > 0 e x2B = 0? E alocações em que x1B = 0 e x2B > 0? Neste caso
tentar desenhar a situação na caixa de Edgeworth provavelmente atrapalhará mais do
que ajudará.) (1,5 pontos).

Solução.

(a) Primeiro testemos se existe alguma alocação e…ciente em que x1B > x2B . Como a dotação
agregada de ambos os bens é 1, nós temos que x1A = 1 x1B e x2A = 1 x2B . Além
disto, dada a função de utilidade do indivíduo B, é claro que sua utilidade com tal
cesta de consumo é apenas x2B . Mas então poderíamos de…nir uma nova alocação
x1B ; x^2B ) := (x2B ; x2B ) e (^
(^ x1A ; x^2A ) := (x2A ; x2A ). É claro que U B (^
x1B ; x^2B ) = U B (x1B ; x2B )
A
e U (^ xA ; x^A ) > U (xA ; xA ). Portanto, alocações em que xB > x2B não podem ser
1 2 A 1 2 1

e…cientes no sentido de Pareto. Um raciocínio completamente simétrico mostra que


alocações em que x2B > x1B também não podem ser e…cientes. As únicas alocações

205
206 CAPÍTULO 21. SEGUNDO SEMESTRE DE 2011

que podem ser e…cientes, então, são aquelas em que x1B = x2B . De fato, nós podemos
mostrar que todas as alocações desse tipo são e…cientes. Para ver isto, considere uma
alocação em que x1B = x2B . Neste caso, x1A = x2A = 1 x1B . A única forma de
aumentar a utilidade do consumidor B é aumentar x1B e x2B ao mesmo tempo. Mas isto
diminui x1A e x2A , o que claramente reduz a utilidade do agente A. De forma similar,
a única forma de aumentar a utilidade do agente A é aumentar x1A ou x2A . Mas ao
fazer isto nós diminuímos min fx1B ; x2B g, o que diminui a utilidade de B. Portanto, é
impossível aumentar a utilidade de um dos agentes sem diminuir a utilidade do outro.
Nós concluímos que todas as alocações em que x1B = x2B são e…cientes no sentido de
Pareto. Finalmente, é claro que sempre que x1A = x2A > x1B = x2B o indivíduo B prefere
a cesta do indivíduo A. Similarmente, sempre que x1B = x2B > x1A = x2A o indivíduo
A prefere a cesta do indivíduo B. Isto mostra que a única alocação justa é a alocação
x1A = x2A = x1B = x2B = 1=2:

(b) Considere primeiro uma alocação em que x1B x2B > 0. Novamente, como a dotação
agregada de ambos os bens é igua a 1, nós temos que x1A = 1 x1B e x2A = 1
x2B . Com tal alocação nós temos que U B (x1B ; x2B ) = x1B . Mas agora considere uma
nova alocação tal que (^ x1B ; x^2B ) := (x1B ; 0) e (^ x1A ; x^2A ) := (1 x1B ; 1). É claro que
B 1 2 B 1 2 A
U (^ xB ; x^B ) = U (xB ; xB ), mas U (^ xA ; x^A ) > U A (x1A ; x2A ). Portanto, alocações
1 2

em que x1B x2B > 0 não são e…cientes. Um raciocínio absolutamente simétrico
mostra que alocações em que x2B > x1B > 0 também não são e…cientes. Considere
agora alocações em que x2B = 0. Neste caso, U B (x1B ; x2B ) = x1B e U A (x1A ; x2A ) =
2 x1B . Considere uma alocação (^ x1A ; x^2A ) e (^ x1B ; x^2B ) qualquer. Se U A (^ x1A ; x^2A ) >
A 1 2 1 2 1 B 1 2
U (xA ; xA ), então x^B + x^B < xB , o que implica que U (^ xB ; x^B ) = maxf^ x1B ; x^2B g <
x1B = U B (x1B ; x2B ). Alternativamente, se maxf^ x1B ; x^2B g = U B (^x1B ; x^2B ) > U B (x1B ; x2B ) =
x1B , então U A (^ x1A ; x^2A ) = 2 (^ x1B + x^2B ) < 2 maxf^ x1B ; x^2B g < 2 x1B = U A (x1A ; x2A ). Isto
2
mostra que todas as alocações em que xB = 0 são e…cientes. Um raciocínio simétrico
mostra que as alocações em que x1B = 0 também são e…cientes. Olhemos agora para as
alocações em que x1B = 0. Isto implica que x1A = 1 e, portanto, a não ser que x2B = 1 o
indivíduo B preferirá a cesta do indivíduo A a sua. Note, também, que as cestas (0; 1) e
(1; 0) dão utilidade um para ambos os indivíduos. Ou seja, a alocação (x1A ; x2A ) = (1; 0)
e (x1B ; x2B ) = (0; 1) é justa. Um raciocínio simétrico mostra que a única outra alocação
justa é (x1A ; x2A ) = (0; 1) e (x1B ; x2B ) = (1; 0) : k

Questão 21.1.2. Considere uma economia com um consumidor e duas …rmas. Nesta
economia existem dois insumos para produção, T e L. O consumidor recebe uma dotação
inicial de 15 unidades de L e 10 unidades de T . Os insumos T e L são utilizados para
produzir dois tipos de bens, A e B. Suponha que a tecnologia de produção do bem A seja
dada pela seguinte função de produção:

A = min fL; T g :

Ou seja, para produzir uma unidade de A é necessário utilizar pelo menos uma unidade de
T e uma unidade de L. Por outro lado, o bem B tem a seguinte função de produção:

B = L + T:
21.1. PRIMEIRA PROVA 207

Para …nalizar a descrição de nossa economia, suponha que as preferências do nosso consumidor
sejam dadas pela seguinte função de utilidade:
2 3
U (A; B) = A 5 B 5 :
As letras abaixo o ajudam a encontrar o único equilíbrio competitivo desta economia.

(a) Para um vetor de preços genérico (você já pode escolher um dos preços como numerário
se quiser), resolva o problema da …rma produtora do bem A e escreva também a solução
do problema do consumidor. (1,5 pontos)
(b) Usando o que você aprendeu na letra (a), argumente que em equilíbrio necessariamente
a …rma produtora do bem B vai usar uma quantidade positiva do insumo L em seu
processo produtivo (Você não tem que fazer conta. Isto vem de uma lógica simples
relacionada às dotações iniciais do consumidor.). Use isto para derivar uma relação
entre os preços dos bens B e L. (1,5 pontos)
(c) Encontre o único equilíbrio competitivo desta economia (Dica: divida a análise em 2
casos. O caso em que pT > pL e o caso em que pT = pL . Ambos os casos são fáceis
de analisar, mas você só será capaz de equilibrar os mercados em um dos casos). (1,5
pontos)

Solução.

(a) Escolhendo o preço do bem L como numerário, o problema da …rma produtora do bem
A pode ser escrito como
max pA minfLA ; TA g LA pT TA
LA ;TA

Dada a função de produção acima, é claro que a solução do problema acima só pode
ocorrer em um ponto em que LA = TA .21.1 Portanto, nós podemos escrever o problema
acima como função apenas de LA . Isto é, podemos escrevê-lo como
max pA LA (1 + pT )LA
LA

A solução do problema acima é


9
1, se pA > 1 + pT =
LA = 0, se pA < 1 + pT :
;
[0; 1), se pA = 1 + pT
Dada a nossa observação anterior, nós concluimos que a solução do problema da …rma
produtora do bem A é
9
1, se pA > 1 + pT =
TA = LA = 0, se pA < 1 + pT :
;
[0; 1), se pA = pA < 1 + pT
21.1
Notação: Nós usaremos LA ; TA ; LB ; TB para representar as quantidades de L e T utilizadas na produção
dos bens A e B, respectivamente.
208 CAPÍTULO 21. SEGUNDO SEMESTRE DE 2011

O consumidor é do tipo Cobb-Douglas e nós sabemos que a solução do seu problema


é dada por
2 15 + 10pT + A + B
A=
5 pA
e
3 15 + 10pT + A + B
B= ;
5 pB
em que A e B são os lucros das …rmas produtoras dos bens A e B, respectivamente.

(b) O problema da …rma produtora do bem B pode ser escrito como

max pB (LB + TB ) LB pT TB
LB ;TB

Da letra (a) nós sabemos que a …rma produtora do bem A utiliza quantidades iguais
de ambos os bens no seu processo produtivo. Mas a dotação inicial que o consumidor
tem do bem L é maior do que a dotação que este tem do bem T . Em equilíbrio esta
quantidade extra do bem L tem que ser utilizada em algum lugar e o único lugar
disponível é na produção do bem B. Dado o problema do produtor do bem B, é
fácil ver que para que este utilize uma quantidade positiva do bem L no seu processo
produtivo duas coisas têm que ocorrer. Primeiramente, como L e T são substitutos
perfeitos na produção do bem B, nós necessariamente temos que ter pL pT , ou seja,
1 pT . Além disto, para que a …rma não queira produzir uma quantidade in…nita
nem uma quantidade nula é necessário que pB = pL = 1.

(c) Tentemos primeiro um equilíbrio com pT > pL = 1. Neste caso, apenas o insumo L é
utilizado na produção do bem B, o que implica que 10 unidades do bem T e 10 unidades
do bem L são usadas na produção do bem A. Isto por sua vez implica que apenas
5 unidades do bem L são usadas para produção do bem B. As observações acima
implicam que 10 unidades do bem A e 5 unidades do bem B são produzidas. Para
que o mercado do bem B esteja equilibrado é necessário que o consumidor consuma 5
unidades de tal bem. Isto é,
3
(15 + 10pT ) = 5
5
()
2
pT = ;
3
o que é uma contradição.21.2 Nós concluimos que não existe equilíbrio neste caso.
Tentemos agora um equilíbrio com pT = pL = 1. Neste caso, a quantidade consumida
do bem B será igual a
3
B = (15 + 10)
5
= 15:
21.2
Note que ambas as …rmas têm lucro zero em equilíbrio, portanto os termos A e B que antes apareciam
nas funções demanda do consumidor são nulos e podem ser ignorados.
21.1. PRIMEIRA PROVA 209

Para que o mercado do bem B esteja equilibrado é necessário, então, que 15 unidades
do bem B sejam produzidas. Ou seja, é necessário que LB + TB = 15. Note ainda que
para que o problema de produção do bem A tem uma solução diferente de zero e de
in…nito nós temos que ter pA = 1 + pT = 2. Substituindo tal valor na função demanda
pelo bem A nós encontramos
2 15 + 10
A =
5 2
= 5:

Isto implica que LA = TA = 5 e, consequentemente, LB = 10 e TB = 5. Note que


os mercados de todos os bens estão equilibrados e todos os agentes estão tomando
decisões ótimas dados os preços. Isto mostra que o único equilíbrio competitivo desta
economia é dado por (pL ; pT ; pA ; pB ) = (1; 1; 2; 1), (LA ; TA ) = (5; 5), (LB ; TB ) = (10; 5)
e (A; B) = (5; 15). k

Questão 21.1.3 (Quantidade ótima de seguro). Considere um agente com riqueza inicial
igual a 1600 reais. Com probabilidade 1=3 um evento que implica em uma perda de 1100 reais
para o agente vai ocorrer. O agente tem a oportunidade de fazer um seguro para receber X
reais caso o evento que desencadeie a perda dos 1100 reais ocorra. Suponha que o preço pago
por cada real segurado seja 1=2 real.

(a) Suponha que o agente tenha contratado um seguro para X reais. Como não sabemos
ainda se o evento que ocasiona a perda dos 1100 reais vai ocorrer, a riqueza futura
do agente é para nós uma variável aleatória, ou, na nossa terminologia, uma loteria.
Escreva a loteria que representa a riqueza futura de um agente que contratou um seguro
de X reais. (1 ponto)

(b) Encontre a quantidade de seguro que um agente maximizador de utilidade esperada com
função de Bernoulli dada por u(x) = ln(x) contrataria. (1,5 pontos)

Solução.

(a) A loteria que representa a situação é:


2 1 1 1 2 1 1 1
1600 X 1600 1100 X +X = 1600 X 500 + X :
3 2 3 2 3 2 3 2

(b) A utilidade esperada do agente quando este contrata um seguro de X reais é


2 1 1 1
ln 1600 X + ln 500 + X :
3 2 3 2
O valor de X que maximiza a expressão acima satisfaz a seguinte condição de primeira
ordem:
12 1 11 1
+ = 0:
2 3 1600 2 X 2 3 500 + 12 X
1

Resolvendo a equação acima nós obtemos X = 400: k


210 CAPÍTULO 21. SEGUNDO SEMESTRE DE 2011

Questão 21.1.4. Suponha que um monopolista atue em um mercado em que existam dois
grupos de consumidores com curvas de demanda dadas por
y1 (p1 ) = 14 2p1
e
y2 (p2 ) = 36 3p2 :
Suponha que a função custo do monopolista seja dada por c(y1 + y2 ) = 2 (y1 + y2 ).
(a) Supondo que o monopolista possa praticar discriminação de preços, calcule quanto o
monopolista venderá para os consumidores do tipo 1 e para os consumidores do tipo 2.
(1,5 pontos)
(b) Suponha agora que a discriminação de preços seja proibida por lei. Calcule quanto o
monopolista venderá para os consumidores do tipo 1 e para os consumidores do tipo 2
(Dica: você terá que investigar dois casos. O caso em que o monopolista resolve atender
a apenas um dos grupos de consumidores e o caso em que o monopolista resolve atender
aos dois grupos. A solução do problema do monopolista será o caso que lhe der o maior
lucro). (1,5 pontos)
Solução.
(a) Não é necessário fazer isto, mas vamos primeiro obter as curvas de demanda inversa
correspondentes aos dois grupos de consumidores.21.3 Tais curvas são dadas por
1
p1 (y1 ) = 7 y1
2
e
1
y2 :
p2 (y2 ) = 12
3
Agora podemos escrever o problema do monopolista como
1 1
max 7 y1 y1 + 12 y2 y2 2 (y1 + y2 )
y1 ;y2 2 3
As condições de primeira ordem do problema acima nos dão y1 = 5 e y2 = 15:
(b) Olhando para as curvas de demanda dos dois grupos de consumidores nós vemos que a
demanda dos consumidores do tipo 1 zera para preços superiores a 7 e a demanda dos
consumidores do tipo 2 zera para preços superiores a 12. Portanto, as duas situações a
serem consideradas são quando o monopolista resolve atender apenas aos consumidores
do tipo 2 e quando o monopolista resolve atender aos dois grupos de consumidores.
Suponha primeiro que o monopolista resolva atender apenas aos consumidores do tipo
2. Neste caso o problema do monopolista pode ser escrito como
1
max 12 y2 y2 2y2
y2 3
21.3
Lembre que nós podemos modelar o monopolista como escolhendo preço ou quantidade. Isto não altera
o resultado.
21.2. SEGUNDA PROVA 211

A condição de primeira ordem do problema acima nos dá y2 = 15, o que implica em um


preço p2 = 7. Note que tal preço de fato induz uma demanda nula dos consumidores do
tipo 1. Consequentemente, o lucro do monopolista em tal caso é = 12 13 15 15
2 15 = 75. Consideremos agora o caso em que o monopolista resolve atender aos dois
grupos. A curva de demanda do mercado agora é composta pela soma das demandas
dos dois grupos. Isto é, nós trabalharemos com a seguinte curva de demanda:

y (p) = 50 5p:

A curva de demanda inversa correspondente à curva de demanda acima é


1
p (y) = 10 y:
5
O problema do monopolista pode ser escrito como

1
max 10 y y 2y
y 5

A condição de primeira ordem do problema acima nos dá y = 20, o que implica que
o preço cobrado será p = 6, que é consistente com o fato de que o monopolista está
atendendo aos dois grupos de consumidores. Finalmente, o lucro do monopolista em
tal caso é = 10 51 20 20 2 20 = 80. Portanto, quando a discriminação de
preços é proibida o monopolista cobrará um preço igual a 6 reais. Isto implica que os
consumidores do tipo 1 consumirão 2 unidades e os consumidores do tipo 2 consumirão
18 unidades. k

21.2 Segunda Prova


Questão 21.2.1 (Fixação simultânea de preços com bens distintos). Suponha que duas
lojas em um mesmo shopping vendam dois produtos distintos. A competição entre elas se dá
pela …xação simultânea de seus preços. Embora as lojas vendam produtos distintos, o preço
cobrado por uma loja afeta as vendas da outra. Mais especi…camente, a curva de demanda
para o bem 1 é dada por Q1 = 2 2p1 + p2 . Já a curva de demanda para o bem 2 é dada por
Q2 = 6 6p2 + 3p1 . Por simplicidade, suponha que os custos …xos e marginais de ambas as
lojas sejam nulos.

(a) Calcule os preços que ambas as lojas cobrarão em equilíbrio. (1 ponto)

(b) Suponha agora que as duas lojas tenham o mesmo dono. Que preços elas cobrarão? (1
ponto)

(c) Voltemos ao caso em que as lojas têm donos diferentes. Suponha que o administrador do
shopping ao perceber que as lojas estão praticando uma política de preços predatória,
e percebendo que ambas poderiam obter um lucro agregado maior se agissem de forma
coordenada, implemente a seguinte política: o administrador se compromete a comprar
uma quantidade …xa de unidades do bem 1 e uma quantidade …xa de unidades do
212 CAPÍTULO 21. SEGUNDO SEMESTRE DE 2011

bem 2 pelos preços que as lojas estiverem cobrando. Encontre os valores de e que
fazem com que as lojas escolham os mesmos preços da letra (b) mesmo tendo donos
diferentes. Atenção! Você deve assumir que o administrador do shopping só cumpre
o acordo se os preços forem razoáveis. Isto é, a solução do problema das lojas não
é colocar o preço igual a in…nito e vender apenas para o administrador. Na prática,
considere que a solução dos problemas das duas …rmas sejam caracterizadas por suas
condições de primeira ordem. (1 ponto)

Solução.

(a) Dado um preço p2 , o preço p1 que maximiza o lucro da loja 1 resolve o seguinte problema
de maximização:
max (2 2p1 + p2 ) p1
p1

A condição de primeira ordem do problema acima é

2 4p1 + p2 = 0;

o que implica que a melhor resposta da loja 1 quando a loja 2 está jogando um preço
p2 genérico é p1 = 12 + 14 p2 : Similarmente, dado um preço p1 , o preço p2 que maximiza
o lucro da loja 2 resolve o seguinte problema de maximização:

max (6 6p2 + 3p1 ) p2


p2

A condição de primeira ordem do problema acima é

6 12p2 + 3p1 = 0;

o que implica que a melhor resposta da loja 2 quando a loja 1 está jogando um preço
p1 genérico é p2 = 12 + 14 p1 .
Em equilíbrio, o preço p1 tem que ser uma melhor resposta ao preço p2 e o preço p2
tem que ser uma melhor resposta ao preço p1 . Ou seja, p1 e p2 têm que resolver o
seguinte sistema:
1 1
p1 = + p2
2 4
e
1 1
p2 = + p1 :
2 4
Resolvendo o sistema acima nós obtemos p1 = p2 = 23 .
(b) Se as duas lojas têm o mesmo dono, então este só vai se preocupar com o lucro agregado.
Ou seja, o problema de maximização do dono das lojas é

max (2 2p1 + p2 ) p1 + (6 6p2 + 3p1 ) p2


p1 ;p2

As condições de primeira ordem do problema acima são

2 4p1 + 4p2 = 0
21.2. SEGUNDA PROVA 213

e
6 12p2 + 4p1 = 0:
3
Resolvendo o sistema acima nós obtemos p1 = 2
e p2 = 1.

(c) Suponha que a loja 2 esteja jogando um preço p2 genérico. O preço p1 que maximiza o
lucro da loja 1 agora resolve o seguinte problema:

max (2 2p1 + p2 ) p1 + p1
p1

A condição de primeira ordem do problema acima é

2 4p1 + p2 + = 0;

o que implica que a melhor resposta da loja 1 quando a loja 2 está jogando um preço
p2 genérico é p1 = 2+4 + 14 p2 . Como nós estamos atrás de um equilíbrio em que p1 = 32
e p2 = 1, isto implica que nós temos que ter = 3: Suponha agora que loja 1 esteja
jogando um preço p1 genérico. O preço p2 que maximiza o lucro da loja 2 agora resolve
o seguinte problema:
max (6 6p2 + 3p1 ) p2 + p2
p2

A condição de primeira ordem do problema acima é

6 12p2 + 3p1 + = 0;

o que implica que a melhor resposta da loja 2 quando a loja 1 está jogando um preço
p1 genérico é p2 = 6+12
+ 14 p1 . Como nós estamos atrás de um equilíbrio em que p1 = 32
e p2 = 1, isto implica que nós temos que ter = 32 : k

Questão 21.2.2. Suponha que em um mercado de carros usados existam dois tipos de carros:
os de qualidade alta, que têm um valor monetário, para os potenciais vendedores, igual a
qh = 140, e os de qualidade baixa, que têm um valor monetário, para os potenciais vendedores,
igual a ql = 40. A princípio, metade dos carros são de qualidade alta e metade são de
qualidade baixa. Os potenciais compradores aceitam pagar um valor igual a 23 q por um carro
de qualidade esperada igual a q.

(a) Suponha que um potencial comprador veja um carro sendo vendido por um preço p.
Qual o máximo valor de p pelo qual um potencial comprador (100% racional) aceitará
comprar o carro? Considere que quando indiferentes entre vender e não vender um
carro os potenciais vendedores o vendem. (1 ponto)

(b) Suponha agora que exista ainda um outro tipo de carro, o de qualidade baixíssima, com
valor, para os vendedores, igual a qb = 24. Considere que 1=3 dos carros tenham
qualidade qb , 1=3 tenham qualidade ql e 1=3 tenham qualidade qh . Qual o máximo
valor p que um potencial comprador aceitará pagar por um carro usado agora. (1,5
pontos)

Solução.
214 CAPÍTULO 21. SEGUNDO SEMESTRE DE 2011

(a) Suponha que p 140. Neste caso, os potenciais compradores sabem que tanto os donos
de carros de qualidade ql como os donos de carros de qualidade qh estão vendendo os
seus carros. Portanto, a qualidade esperada do carro sendo vendido é 12 ql + 12 qh = 90.
O máximo valor que um potencial comprador aceita pagar por um carro de qualidade
esperada igual a 90 é 90 32 = 135. Como 135 < 140, um potencial comprador
não aceita comprar o carro por um preço maior ou igual a 140. Suponha agora que
40 p < 140. Neste caso, os potenciais compradores sabem que necessariamente o
carro é de qualidade baixa. Portanto, o máximo valor que o potencial comprador aceita
pagar por tal carro é 40 23 = 60. Como 40 60 < 140, 60 é o máximo valor que um
potencial comprador aceitará pagar pelo carro.

(b) Suponha primeiro que p 140. Neste caso, os potenciais compradores sabem que carros
de todas as qualidades estão a venda e a qualidade esperada do carro sendo vendido é
1
q + 31 ql + 13 qh = 68. O máximo valor que um potencial comprador aceita pagar por
3 b
um carro de qualidade esperada igual a 68 é 68 32 = 102. Portanto, um potencial
comprador nunca comprará um carro com preço maior ou igual a 140. Testemos um
preço p tal que 40 p < 140. Neste caso, os potenciais compradores sabem que apenas
carros de qualidade qb e ql estão a venda. A qualidade esperada do carro sendo vendido
é 21 qb + 12 ql = 32. O máximo valor que um potencial comprador aceita pagar por um
carro de qualidade esperada igual a 32 é 32 23 = 48. Como 40 48 < 140, o máximo
valor que um potencial comprador aceitará pagar pelo carro neste caso é 48. k

Questão 21.2.3. Suponha que dois países vizinhos estejam decidindo o quanto investir em
um determinado
p bem público G. p
As funções de utilidade dos países são dadas por U1 (x1 ; G) :=
x1 + 2 G e U2 (x2 ; G) := x2 + 4 G, em que xi é quanto o país i gasta em consumo privado
e G := g1 + g2 é a soma das contribuições dos dois países para o bem público. Suponha que
o país 1 tenha uma renda igual a w1 e o país 2 tenha uma renda igual a w2 . Nós temos que
ter wi = xi + gi , para i = 1; 2.

(a) Calcule a quantidade e…ciente de investimento agregado no bem público. Isto é, a


quantidade que maximiza a soma das utilidades dos dois países. Atenção! Existem
várias combinações de g1 e g2 que estão relacionadas a alocações e…cientes, mas a
soma g1 + g2 é a mesma em todas elas. (1,5 pontos)

Os dois itens seguintes mostram que o jogo que representa a situação em que os dois
países escolhem o quanto produzir do bem público de forma isolada tem um equilíbrio de
Nash em que um país pega carona completamente na contribuição do outro. Isto é, um
dos países produz uma quantidade igual a zero do bem público (na verdade, este é o único
equilíbrio, mas mostrar isto dá um pouco de trabalho e eu resolvi deixar fora da prova).

(b) Sem fazer conta, dê um palpite a respeito de quem vai produzir e quem não vai produzir o
bem público em equilíbrio (quem …caria mais tentado a produzir se o outro não estivesse
produzindo nada?). Seja o país i o que você acha que produzirá zero em equilíbrio.
Suponha que o país i esteja de fato produzindo zero. Calcule a melhor resposta do país
j neste caso. (1 ponto)
21.2. SEGUNDA PROVA 215

(c) Seja gj a quantidade que você encontrou na letra (b). Escreva o ganho do país i como
função de gi quando gj = gj . Mostre que este ganho é uma função estritamente
decrescente de gi para todo gi 0, o que implica que escolher gi = 0 é de fato a melhor
resposta do país i quando o país j produz a quantidade gj . (1 ponto)
Solução.
(a) Note que nós sempre temos que ter xi = wi gi , portanto, o problema de maximização
da soma das utilidades dos países pode ser escrito como
p p
max w1 g1 + 2 g1 + g2 + w2 g2 + 4 g1 + g2
g1 ;g2

As condições de primeira ordem do problema acima são:


1 2
g1 : p +p = 1 () g1 + g2 = 9
g1 + g2 g1 + g2
1 2
g2 : p +p = 1 () g1 + g2 = 9:
g1 + g2 g1 + g2
As condições acima nos mostram que qualquer combinação de g1 e g2 tal que g1 +g2 = 9
maximiza a soma das utilidades dos países.
(b) O país 2 obtém mais utilidade com o bem público do que o país 1, portanto, faz sentido
acreditar que ele será quem produzirá o bem G em equilíbrio. Suponha que o país 1
esteja de fato produzindo uma quantidade g1 = 0 do bem público. A melhor resposta
do país 2 neste caso resolve o seguinte problema:
p
max w2 g2 + 4 g2
g2

A condição de primeira ordem do problema acima é


2
p = 1;
g2
o que implica que g2 = 4.
(c) Suponha que o país 2 esteja produzindo uma quantidade g2 = 4 do bem público. Neste
caso, o ganho do país 1 com uma quantidade g1 genérica é dado por
p
w1 g1 + 2 g1 + 4:
A derivada da expressão acima em relação a g1 é
1
1+ p :
g1 + 4
Como a expressão acima é negativa para qualquer valor g1 0, nós concluimos que
o ganho do país 1 é uma função decrescente de g1 , o que mostra que a sua melhor
resposta é produzir g1 = 0. Isto mostra que (g1 ; g2 ) = (0; 4) é um equilíbrio de Nash
do jogo (conforme o enunciado adiantou, é o único, mas a demonstração deste fato
…cará para uma próxima ocasião.). k
216 CAPÍTULO 21. SEGUNDO SEMESTRE DE 2011

Questão 21.2.4 (Praia com buraco). Considere mais uma vez o problema dos dois sorveteiros
que têm que se posicionar em uma faixa de areia. Como sempre, suponha que as pessoas
estejam distribuídas uniformemente pela praia e que estas sempre compram do sorveteiro
que está mais próximo delas. O objetivo dos sorveteiros é maximizar o número de sorvetes
vendidos. A diferença agora é que existe uma região da praia em que os sorveteiros estão
proibidos de se posicionarem. Atenção! Apenas os sorveteiros estão proibidos de …carem na
região mencionada, as pessoas estão distribuídas de maneira uniforme por toda a faixa de
areia, incluindo o pedaço proibido para os sorveteiros.

(a) Suponha primeiro que a região proibida seja composta por um intervalo aberto simétrico
ao redor do centro da praia. Por exemplo, suponha que a praia seja o intervalo [0;1]
e a região proibida seja o intervalo aberto (0,4;0,6). Encontre todos os equilíbrios de
Nash do jogo neste caso. (1 ponto)
(b) Suponha agora que a região proibida seja composta por um intervalo aberto no canto da
praia. Por exemplo, suponha que a praia seja o intervalo [0;1] e a região proibida seja
o intervalo (0,8;1]. Encontre todos os equilíbrios de Nash do jogo neste caso. (1 ponto)
(c) Suponha agora que a região proibida seja composta por um intervalo aberto não simétrico
ao redor do centro praia. Por exemplo, suponha que a praia seja o intervalo [0;1] e a
região proibida seja o intervalo aberto (0,4;0,7). Encontre todos os equilíbrios de Nash
do jogo neste caso. (1 ponto)

Solução.

(a) Suponha que o sorveteiro 1 esteja em uma posição que não seja nem 0; 4 e nem 0; 6.
Digamos que ele esteja em uma posição à esquerda de 0; 4. Se o sorveteiro 2 estiver
posicionado à direita do sorveteiro 1 (incluindo o caso em que ele está na mesma
posição do sorveteiro 1 e não importando se ele está à esquerda ou à direita do buraco),
o sorveteiro 1 pode aumentar o seu lucro se movendo um pouco para à direita. Se o
sorveteiro 2 estiver posicionado à esquerda do sorveteiro 1, o sorveteiro 1 pode aumentar
o seu lucro se movendo um pouco para à esquerda. Isto mostra que não existe equilíbrio
de Nash em que o sorveteiro 1 se posicione à esquerda de 0; 4. Dada a simetria do
jogo, nós concluimos que não existe equilíbrio de Nash em que um dos jogadores se
posicione em uma posição diferente de 0; 4 e de 0; 6. Nós agora podemos mostrar que
qualquer per…l em que os dois jogadores estejam posicionados nestas duas posições
é equilíbrio de Nash. Para ver isto, suponha que o sorveteiro 1 esteja na posição
0; 4. Note que se o sorveteiro 2 se posicionar em 0; 4 ou em 0; 6 o seu ganho será
igual a 1=2 e em qualquer outra posição o seu ganho será estritamente menor do que
1=2. Ou seja, as únicas melhores respostas do sorveteiro 2 contra 0; 4 são 0; 4 e 0; 6.
Similarmente, as únicas melhores respostas do sorveteiro 2 contra 0; 6 são 0; 4 e 0; 6
e, dada a simetria do jogo, as melhores respostas do sorveteiro 1 contra 0; 4 ou 0; 6
também são 0; 4 e 0; 6. Isto mostra que o conjunto de equilíbrios de Nash do jogo é
f(0; 4; 0; 4); (0; 6; 0; 6); (0; 4; 0; 6); (0; 6; 0; 4)g:
(b) Suponha que o sorveteiro 1 esteja posicionado à esquerda da praia, isto é, em uma
posição menor do que 1=2. Se o sorveteiro 2 estiver à sua direita, incluindo a possibilidade
21.3. PROVA SUBSTITUTIVA 217

de estar na mesma posição, o sorveteiro 1 pode aumentar o seu lucro se movendo um


pouco para à direita. Se o sorveteiro 2 estiver posicionado à sua esquerda, então o
sorveteiro 1 pode aumentar o seu lucro se movendo um pouco para a esquerda. Isto
mostra que em qualquer possível equilíbrio de Nash do jogo o sorveteiro 1 tem que estar
posicionado exatamente no centro da praia. Por simetria, isto também tem que valer
para o sorveteiro 2. É fácil veri…car que o per…l (s1 ; s2 ) = (1=2; 1=2) é equilíbrio de
Nash do jogo. Para ver isto, simplesmente note que quando o jogador i se posiciona em
1=2 o jogador j obtém um ganho estritamente menor do que 1=2 em qualquer posição
diferente de 1=2.

(c) O mesmo raciocínio usado na letra (a) nos permite concluir que em qualquer possível
equilíbrio neste caso os dois sorveteiros necessariamente têm que estar posicionados
nas posições 0; 4 ou 0; 7. No entanto, agora nós podemos mostrar que não existe
equilíbrio em que um dos sorveteiros se posicione em 0; 7. Para ver isto, note que
independentemente do outro sorveteiro estar posicionado em 0; 4 ou em 0; 7, um sorveteiro
posicionado em 0; 7 pode aumentar o seu ganho se ele mudar para a posição 0; 4.21.4
Isto mostra que o nosso único candidato a equilíbrio é o per…l (s1 ; s2 ) = (0; 4; 0; 4). É
fácil veri…car que quando o outro sorveteiro está posicionado na posição 0; 4, qualquer
posição diferente de 0; 4 dá ao sorveteiro um ganho menor do que 1=2. k

21.3 Prova Substitutiva


Questão 21.3.1. Suponha que a …rma F produza um determinado bem y e que a sua função
custo seja dada por
C (y) = y 2 :
Ou seja, para produzir y unidades do bem a …rma gasta y 2 . Seja a função demanda inversa
do bem y dada por
p (y) = 2 y:

(a) Suponha primeiro que o mercado para o bem y seja competitivo. Calcule o preço e a
quantidade produzida do bem y neste caso (1,4 pontos).

(b) Suponha agora que a …rma F aja como monopolista. Calcule o preço cobrado e a
quantidade produzida neste caso (1,4 pontos).

Solução.

(a) Em um mercado competitivo a …rma comporta-se como tomadora de preços. Neste caso
o problema da …rma pode ser escrito como

max py y2
y

21.4
Se o outro estiver posicionado também em 0; 7 o ganho do sorveteiro passa de 1=2 para um valor
estritamente maior do que 1=2. Se o outro sorveteiro estiver posicionado em 0; 4, o ganho do sorveteiro passa
de um valor menor do que 1=2 para 1=2.
218 CAPÍTULO 21. SEGUNDO SEMESTRE DE 2011

A condição de primeira ordem do problema acima é simplesmente

p 2y = 0;

o que nos dá a condição y = p=2. Substituindo tal condição na expressão para a curva
de demanda inversa nós obtemos
p
p=2 :
2
Resolvendo a equação acima para p nós obtemos p = 4=3. Consequentemente, o nível
de produção neste caso será y = 2=3:

(b) O problema de uma …rma monopolista pode ser escrito como

max (2 y) y y2

A condição de primeira ordem para o problema acima é

2 4y = 0:

O que nos dá um nível de produção y = 1=2. Substituindo tal valor na curva de


demanda inversa nós obtemos p = 3=2: k

Questão 21.3.2 (Quantidade ótima de seguro). Considere um agente com riqueza inicial
igual a 3200 reais. Com probabilidade 1=3 um evento que implica em uma perda de 2000
reais para o agente vai ocorrer. O agente tem a oportunidade de fazer um seguro para
receber X reais caso o evento que desencadeie a perda dos 2000 reais ocorra. Suponha que
o preço pago por cada real segurado seja 1=2 real. Encontre a quantidade de seguro que um
agente maximizador de utilidade esperada com função de Bernoulli dada por u(x) = ln(x)
contrataria. (1,4 pontos)
Solução. A utilidade esperada do agente quando este contrata um seguro de X reais é
2 1 1 1
ln 3200 X + ln 1200 + X :
3 2 3 2
O valor de X que maximiza a expressão acima satisfaz a seguinte condição de primeira
ordem:
12 1 11 1
+ = 0:
2 3 3200 2 X 2 3 1200 + 12 X
1

Resolvendo a equação acima nós obtemos X = 1600=3: k


Questão 21.3.3. Considere uma economia na caixa de Edgeworth em que as funções de
1 1
utilidade dos consumidores sejam dadas por U A (x1A ; x2A ) = (x1A ) 2 (x2A ) 2 e U B (x1B ; x2B ) =
x1B + ln x2B . Suponha que as dotações iniciais dos consumidores sejam (wA 1 2
; wA ) = (1; 0) e
1 2
(wB ; wB ) = (0; 1).

(a) Encontre o único equilíbrio competitivo desta economia. Isto é, encontre o vetor de
preços e a alocação que constituem um equilíbrio competitivo para esta economia. (1,4
pontos)
21.3. PROVA SUBSTITUTIVA 219

(b) É possível mostrar que a alocação (x1A ; x2A ) = 32 ; 25 e (x1B ; x2B ) = 13 ; 53 é e…ciente no
sentido de Pareto. Como a economia acima satisfaz as condições do segundo teorema
do bem estar nós sabemos que com a correta redistribuição das dotações iniciais nós
podemos fazer com que tal alocação seja parte de um equilíbrio competitivo. Ou seja,
1 2 1 2
existem 0 t1 ; t2 1 tais que quando (wA ; wA ) = (1 t1 ; t2 ) e (wB ; wB ) = (t1 ; 1 t2 )
a alocação resultante do equilíbrio competitivo da economia é exatamente (x1A ; x2A ) =
2 2
;
3 5
e (x1B ; x2B ) = 13 ; 53 . Na verdade, existe um vetor de tranferências (t1 ; t2 ) com
t1 = 1=2 que gera a alocação acima em equilíbrio. Encontre o vetor de preços e a
transferência t2 relacionados a tal equilíbrio. (1,5 pontos)

Solução.

(a) Como somente preços relativos são determinados em equilíbrio, faça p1 = 1 e p2 = p. O


problema do consumidor A é
1 1
max
1 2
(x1A ) 2 (x2A ) 2
xA ;xA

sujeito a
x1A + px2A = 1
1 1
A solução do problema é x1A = 2
e x2A = 2p
. Já o problema do consumidor B é

max x1B + ln x2B


x1B ;x2B

sujeito a
x1B + px2B = p
Isolando x1B na restrição e substituindo na função objetivo o problema simpli…ca-se
para
max2
p px2B + ln x2B
xB

A condição de primeira ordem do problema acima nos dá

1
= p;
x2B

o que implica que x2B = p1 e x1B = p 1. Equilibrando o mercado para o bem 1 nós
obtemos a seguinte equação:
1
+ p 1 = 1;
2
o que implica que
3
p= :
2
Isto implica que x2A = 13 , x1B = 1
2
e x2B = 23 .
220 CAPÍTULO 21. SEGUNDO SEMESTRE DE 2011

(b) O problema do consumidor B agora é

max x1B + ln x2B


x1B ;x2B

sujeito a
1
x1B + px2B =+ p(1 t2 )
2
Isolando x1B na restrição e substituindo na função objetivo o problema simpli…ca-se
para
1
max + p(1 t2 ) px2B + ln x2B
2
xB 2
Da condição de primeira ordem do problema acima nós aprendemos que x2B = p1 . Como
sabemos que x2B = 35 , nós aprendemos que p = 35 . Substituindo tais valores, juntamente
com x1B = 13 na restrição do problema acima nós obtemos que t2 = 12 : k

Questão 21.3.4 (Praia com buraco 2). Considere mais uma vez o problema dos dois
sorveteiros que têm que se posicionar em uma faixa de areia. Suponha que as pessoas estejam
distribuídas uniformemente em um pedaço da praia e que estas sempre compram do sorveteiro
que está mais próximo delas. O objetivo dos sorveteiros é maximizar o número de sorvetes
vendidos. A diferença agora é que existe uma região da praia sem pessoas. Atenção! Apesar
das pessoas não se posicionarem na região mencionada, estas podem atravessar a região
para comprar sorvete, caso o sorveteiro mais próximo esteja do outro lado. Além disto, os
sorveteiros podem se posicionar na região sem pessoas.

(a) Suponha primeiro que a região sem pessoas seja composta por um intervalo fechado
simétrico ao redor do centro da praia. Por exemplo, suponha que a praia seja o
intervalo [0;1] e a região sem pessoas seja o intervalo fechado [0,4;0,6]. Encontre
todos os equilíbrios de Nash do jogo neste caso. (1,5 pontos)

(b) Suponha agora que a região sem pessoas seja composta por um intervalo fechado não
simétrico ao redor do centro praia. Por exemplo, suponha que a praia seja o intervalo
[0;1] e a região sem pessoas seja o intervalo fechado [0,4;0,8]. Encontre todos os
equilíbrios de Nash do jogo neste caso. (1,4 pontos)

Solução.

(a) Seja s1 a posição do sorveteiro 1 e s2 a posição do sorveteiro 2. Considere um per…l em


que que s1 < 0; 4 e s1 < s2 . Note que o sorveteiro 2 poderia aumentar o seu ganho
escolhendo uma nova posição em (s1 ; s2 ), o que implica que não existe equilíbrio de
Nash neste caso. O mesmo raciocínio mostra que nenhum per…l em que pelo menos um
dos sorveteiros esteja posicionado fora de [0; 4; 0; 6] é equilíbrio de Nash. Nós podemos
agora mostrar que qualquer per…l em que s1 ; s2 2 [0; 4; 0; 6] é equilíbrio. Para isto,
considere um per…l em que s1 ; s2 2 [0; 4; 0; 6]. Observe que, independentemente dos
exatos valores de s1 e s2 , ambos os sorveteiros estão vendendo para exatamente 0; 4
das pessoas. Note que isto não se altera se um dos sorveteiros desviar para uma nova
21.3. PROVA SUBSTITUTIVA 221

posição ainda dentro de [0; 4; 0; 6]. Já se um dos sorveteiros desviar para uma posição
fora de [0; 4; 0; 6], ele certamente não atenderá às pessoas do outro lado do buraco, o
que garante que tal desvio lhe dará um ganho menor ou igual a 0; 4. Isto mostra que
quando um dos sorveteiros está posicionado dentro do buraco, qualquer posição dentro
do buraco é melhor resposta para o outro sorveteiro. Nós concluimos que os únicos
equilíbrios de Nash são os per…s (s1 ; s2 ) em que 0; 4 s1 ; s2 0; 6:

(b) Primeiramente, observe que o tamanho agregado da extensão de praia em que existem
pessoas posicionadas é 0; 6. Isto implica que a posição 0; 3 é a posição divide o número
de pessoas ao meio. Agora um raciocínio exatamente igual ao problema dos sorveteiros
original mostra que o único equilíbrio de Nash é o per…l em que os dois sorveteiros
…cam posicionados em 0; 3. k
222 CAPÍTULO 21. SEGUNDO SEMESTRE DE 2011
Capítulo 22

Primeiro Semestre de 2012

22.1 Primeira Prova


Questão 22.1.1. Suponha que Robinson Crusoé produza e consuma peixe (F) e côco (C).
Suponha que durante um certo período ele tenha decidido trabalhar 180 horas e que ele seja
indiferente entre gastar este tempo catando côco ou pescando. A função de produção de peixe
de Robinson é dada por
F = 2lF
e a de côco é
C = lC :
em que lF e lC são o número de horas que Robinson passa pescando e catando côco, respectivamente.
Consequentemente,
lC + lF = 180:
A sua função de utilidade para consumo de peixe e côcos é dada por
1 2
U (F; C) = F 3 C 3 :

(a) Se Robinson não puder negociar com o resto do mundo, quantas horas ele trabalhará
catando côco e quantas horas ele trabalhará pescando? Quantos côcos e peixes ele
produzirá? (Dica: Para um número a > 0, o vetor (x ; y ) que maximiza a função
a f (x; y) é o mesmo que maximiza a função f (x; y). Como sempre, sabendo a fórmula
para a demanda de um consumidor Cobb-Douglas você economiza muitas contas.) (1
ponto)

(b) Suponha que após Robinson já ter produzido as quantidades F e C acima, mas antes
de ele haver consumido qualquer parte de sua produção, o comércio internacional se
abra. Suponha que os preços de uma unidade de peixe e de uma unidade de côco
sejam iguais a 1. Quantos peixes e quantos côcos Robinson consumirá agora? (Dica:
Novamente, saber a função demanda do consumidor Cobb-Douglas economiza contas
aqui. (1 ponto)

(c) Suponha agora que o comércio internacional se abra antes que Robinson tome as suas
decisões de produção. Os preços continuam os mesmos da letra (b). Quantos côcos e

223
224 CAPÍTULO 22. PRIMEIRO SEMESTRE DE 2012

quantos peixes Robinson produzirá agora? Quantos côcos e quantos peixes ele consumirá?
(Dica: Observe que você pode dividir o problema de Robinson em dois: Primeiro um
de maximização de riqueza dado o número de horas que ele pode trabalhar e depois um
de maximização de utilidade dada a riqueza acumulada). (1,5 pontos)

Solução.

(a) O problema de Robinson é


1 2 1 1 2
max(2lF ) 3 (lC ) 3 = 2 3 (lF ) 3 (lC ) 3
lF ;lC

sujeito a
lF + lC = 180
Seguindo a dica, nós sabemos que a solução do problema acima é a mesma de um
problema Cobb-douglas em que os preços são iguais a 1 e a riqueza é 180. N’ós sabemos
que a solução de tal problema é lF = 60 e lC = 120, o que implica que Robinson produz
F = 120 e C = 120.
(b) O problema de Robinson pode ser escrito como
1 2
max(F ) 3 (C) 3
F;C

sujeito a
1 F + 1 C = 1 120 + 1 120
A solução do problema acima é F = 80 e C = 160:
(c) O problema de Robinson pode ser escrito como
1 2
max (F ) 3 (C) 3
lF ;lC ;F;C

sujeito a
1 F + 1 C = 1 2lF + 1 lC
e
lF + lC = 180
Seguindo a dica, nós sabemos que o problema acima pode ser dividido em dois.
Primeiro Robinson resolve o seguinte problema:
max 2lF + lC
lF ;lC

sujeito a
lF + lC = 180
É fácil ver que a solução do problema acima é lF = 180, o que implica que Robinson
produz 360 unidades de peixe e nenhuma unidade de côco. Isto lhe dá uma riqueza
igual a 360. Posteriormente, Robinson resolve o seguinte problema:
1 2
max(F ) 3 (C) 3
F;C
22.1. PRIMEIRA PROVA 225

sujeito a
1 F + 1 C = 360
A solução do problema acima é F = 120 e C = 240. k

Questão 22.1.2. Considere uma empresa monopolista em um mercado com curva de demanda
inversa dada por P (Q) = 34 Q. A função custo do monopolista é dada por C (Q) =
Q2 + 2Q + 6.

(a) Encontre o preço cobrado pelo monopolista e calcule o excedente agregado da economia
neste caso. (1,5 pontos)

(b) Suponha agora que o governo obrigue o monopolista a cobrar um preço igual a 24
unidades monetárias. Calcule o excedente agregado da economia neste caso. (1 ponto)

Solução.

(a) O problema do monopolista é

max (34 Q) Q Q2 + 2Q + 6
Q

A condição de primeira ordem do problema acima é

34 2Q 2Q 2 = 0:

Resolvendo a equação acima, nós obtemos Q = 8, o que implica em um preço P = 26.


A curva de custo marginal é dada por

C 0 (Q) = 2Q + 2

Gra…camente, tal solução pode ser representada como na …gura abaixo:

Figura 22.1: Excedente agregado sem intervenção.


226 CAPÍTULO 22. PRIMEIRO SEMESTRE DE 2012

O excedente do consumidor é dado pela área da região A na …gura. Já o do produtor


é dado pela soma das áreas das regiões B e C. Calculando tais áreas nós obtemos um
excedente do consumidor igual a 32 e um excedente do produtor igual a 64 + 64 = 128.
Isto dá um excedente agregado igual a 160.

(b) Com um preço igual a 24, a quantidade vendida do bem será igual a 10. Gra…camente,
tal situação pode ser representada por:

Figura 22.2: Excedente agregado com intervenção.

Novamente, o excedente do consumidor é dado pela área da região A na …gura e o do


produtor é dado pela soma das áreas das regiões B e C. Calculando tais áreas nós
obtemos um excedente do consumidor igual a 50 e um excedente do produtor igual a
20 + 100 = 120. Isto dá um excedente agregado igual a 170. k

Questão 22.1.3. Responda os seguintes itens sobre a teoria da utilidade esperada.


p
(a) Considere um agente com função de Bernoulli dada por u(x) = x, em que x é a sua
riqueza. Suponha que tal agente participe de um jogo em que os ganhos são dados pela
tabela abaixo.
Ganho Probabilidade
$ 400 1/3
$ 225 1/3
$ 100 1/3

Calcule a utilidade esperada do indivíduo com tal jogo. (1 ponto)

(b) Um indivíduo tem uma propriedade que lhe proporciona uma colheita de $ 100.000
quando as condições climáticas são favoráveis, algo que ocorre com probabilidade igual
a 0,6. Quando as condições climáticas não são favoráveis o indivíduo tem um prejuízo
de $ 20.000. Suponha que um arrendatário ofereça $ 60.000 pelo aluguel da propriedade
por um ano. Se o indivíduo é avesso ao risco, é possível a…rmar que ele aceitará a
oferta do arrendatário? Explique muito bem a sua resposta. (1 ponto)
22.1. PRIMEIRA PROVA 227

Solução.
(a) A utilidade esperada do indivíduo será dada por
1 1 1 1p 1p 1p
u (400) + u (225) + u (100) = 400 + 225 + 100
3 3 3 3 3 3
1 1 1
= 20 + 15 + 10
3 3 3
= 15:

(b) O valor esperado do lucro do indivíduo com a propriedade é dado por 0; 6 100:000+0; 4
( 20:000) = 52:000. O arrendatário oferece ao indivíduo um valor certo igual a 60:000,
que é maior do que o valor esperado que acabamos de calcular. Como o indivíduo é
avesso ao risco ele preferiria receber 52:000 com certeza a permanecer na propriedade.
Como o arrendatário oferece 60:000 > 52:000, o indivíduo aceita a proposta. k
Questão 22.1.4. Considere uma economia de trocas com 180 consumidores e 2 bens, x e y.
As dotações iniciais são distribuídas da seguinte forma: 120 consumidores têm como dotação
inicial apenas 10 unidades do bem x e os outros 60 consumidores têm como dotação inicial
apenas 5 unidades do bem y. Todos os consumidores têm a mesma função de utilidade dada
2 1
por U (x; y) = x 3 y 3 . Calcule o único equilíbrio competitivo desta economia. Em particular,
encontre os preços que equilibram os mercados e as quantidades agregadas consumidas por
cada tipo de consumidor. (2 pontos)
Solução. Como somente preços relativos podem ser determinados em equilíbrio, façamos
px := 1. O nosso trabalho passa a ser encontrar o valor p := py que equilibra os mercados.
O problema dos consumidores que têm dotação apenas do bem x é
2 1
max x 3 y 3
x;y

sujeito a
1 x + p y = 1 10
A solução do problema acima é x = 23 101
= 20
3
, y = 1 10
3 p
= 10 1
3 p
. Já o problema dos
consumidores que têm apenas dotação do bem y é
2 1
max x 3 y 3
x;y

sujeito a
1 x+p y =p 5
A solução do problema acima é x = 23 5p
1
= 10
3
p, y = 13 5p
p
= 35 . Equilibrando o mercado para
o bem x nós temos:
20 10
120 + p 60 = 120 10
3 3
()
800 + 200p = 1200
()
p = 2:
228 CAPÍTULO 22. PRIMEIRO SEMESTRE DE 2012

As quanitdades agregadas consumidas pelos consumidores que têm dotação apenas do bem
x serão X = 20
3
120 = 800 e Y = 10 1
3 2
120 = 200. Já as consumidas pelos consumidores
que têm dotação apenas do bem y serão X = 103
2 60 = 400 e Y = 35 60 = 100. k

22.2 Segunda Prova


Questão 22.2.1. Considere o modelo de perigo moral que estudamos nas notas de aula. Ou
seja, suponha que uma …rma queira contratar um gerente para a realização de um projeto.
O retorno do projeto pode ser alto, H = 3 ou baixo, L = 1. O gerente tem a opção de
se esforçar ou não. Quando o gerente se esforça a probabilidade do retorno do projeto ser
alto é pe = 2=3, quando ele não se esforça a probabilidade do retorno ser alto é apenas
pn = 1=3. Quando o gerente se esforça ele incorre em um custo ce = 1=3. A …rma oferecerá
um contrato de trabalho, (wH ; wL ) ; que estipula o salário do gerente no caso de um retorno
alto e de um retorno baixo. O objetivo da …rma é maximizar o seu lucro esperado. Isto é,
maximizar pi ( H wH ) + (1 pi ) ( L wL ) em que i = e ou n, dependendo de o gerente se
esforçar ou não. Para completar, suponha que o gerente é neutro ao risco. Ou seja, quando
ele se esforça a sua utilidade é dada por U e (wH ; wL ) = pe wH + (1 pe ) wL ce e no caso
em que ele não se esforça é dada por U n (wH ; wL ) = pn wH + (1 pn ) wL .

(a) Suponha primeiro que o esforço seja observável. Encontre o contrato ótimo, ou os
contratos ótimos, para a …rma neste caso? Atenção! A sua resposta deve indicar
o salário pago no caso de retorno alto e o salário pago no caso de retorno baixo. No
caso de in…nitas soluções a sua resposta deve indicar qual a condição que caracteriza
todos os pares (wH ; wL ) que são ótimos. Além disto, a sua resposta deve indicar se os
contratos ótimos exigem que o gerente se esforce ou não. (1,5 pontos).

(b) Suponha agora que o esforço não seja observável. Qual o contrato ótimo, ou os contratos
ótimos, para a …rma neste caso? Explique bem o raciocínio da sua resposta. (1,5
pontos).

Solução.

(a) Quando a …rma quer que o gerente se esforce o seu problema pode ser escrito como

e = max pe ( H wH ) + (1 pe ) ( L wL )
wH ;wL

sujeito a
pe wH + (1 pe ) wL ce 0:
Obviamente, qualquer solução do problema acima tem que satisfazer a restrição com
igualdade.22.1 Mas então o problema acima simpli…ca-se para

e = max pe ( H wH ) + (1 pe ) ( L wL )
wH ;wL

22.1
Ver notas de aula e lista de exercícios.
22.2. SEGUNDA PROVA 229

sujeito a
pe wH + (1 pe ) wL = ce :
Mas observe que o lucro da …rma com qualquer par de contratos que satisfaz a restrição
acima é

e = pe ( H wH ) + (1 pe ) ( L wL )
= pe H + (1 pe ) L ce :

Ou seja, o lucro da …rma não depende dos exatos valores de wH e wL , desde que
estes satisfaçam a restrição do problema com igualdade. Portanto, qualquer contrato
(wH ; wL ) que satisfaça a restrição com igualdade é solução para o problema da …rma
neste caso. O lucro da …rma com tal tipo de contrato é dado por

e = pe H + (1 pe ) L ce
2 1 1
= 3+ 1
3 3 3
= 2:

Se a …rma não quiser que o gerente se esforce o seu problema é

n = max pn ( H wH ) + (1 pn ) ( L wL )
wH ;wL

sujeito a
pn wH + (1 pn ) wL 0:
Um raciocínio exatamente análogo ao caso anterior mostra que qualquer contrato que
satisfaça
pn wH + (1 pn ) wL = 0
é solução para o problema da …rma agora. O lucro da …rma com tal tipo de contrato
é dado por

n = pn ( H wH ) + (1 pn ) ( L wL )
= pn H + (1 pn ) L
1 2
= 3+ 1
3 3
5
= :
3
Portanto, os contratos ótimos para a …rma exigem que o gerente se esforce e satisfazem
2
w + 13 wL = 13 :
3 H

(b) Da letra (a) nós vemos que o máximo lucro que a …rma pode esperar obter agora é 2, já
que o lucro no caso de esforço não observável não pode ser superior ao lucro no caso
de esforço observável. Da lista de exercícios, nós sabemos que com um gerente neutro
ao risco a …rma pode de fato obter o seu lucro máximo mesmo no caso de esforço não
observável. Para tanto, o contrato oferecido pela …rma tem que ter o formato de venda
230 CAPÍTULO 22. PRIMEIRO SEMESTRE DE 2012

do projeto para o gerente, deixando que este decida depois se vale a pena se esforçar ou
não. Se a …rma vai conseguir atingir o lucro máximo com tal tipo de contrato, então
o preço pelo qual o projeto tem que ser vendido é P = e = 2.22.2 Ou seja, o contrato
oferecido pela …rma será wH = H e = 1 e wL = L e = 1. É óbvio que com
tal contrato o lucro da …rma será exatamente e . Resta checar que o gerente aceita
tal contrato. Se o gerente aceitar tal contrato e se esforçar a sua utilidade esperada é
2 1 1
pe ( H e) + (1 pe ) ( L e) ce = (3 2) + (1 2)
3 3 3
= 0:

Portanto, aceitar tal contrato é pelo menos tão bom para o gerente quanto não aceitar
contrato algum. Logo, o gerente aceitará tal contrato.22.3 k

Questão 22.2.2. O planeta X tem duas super potências que estão à beira de uma guerra
nuclear. Ambas estão considerando a possibilidade de bombardear ou não o inimigo. Se as
duas decidirem não atacar, então ambas …cam com uma utilidade igual a 10. Se uma delas
resolve atacar e a outra não, a que ataca …ca com uma utilidade de 0 e a que não ataca e é
destruída …ca com uma utilidade de -10990. Finalmente, se os dois países atacam, o planeta
X é destruído e ambos …cam com uma utilidade de -1000 (se é para morrer é melhor morrer
sabendo que o inimigo também foi destruído).

(a) Represente a situação acima como um jogo matricial. (1 ponto)

(b) Encontre todos os equilíbrios de Nash, permitindo o uso de estratégias mistas, do jogo
que você escreveu na letra (a) e indique qual a probabilidade do mundo acabar em cada
um desses equilíbrios. (1,5 pontos).

Solução.

(a) A situação pode ser representada pelo seguinte jogo:

País 2
A N
:
País A 1000; 1000 0; 10990
1 N 10990; 0 10; 10

(b) Seja a probabilidade com que o país 1 joga A e a probabilidade com que o país 2
joga A. Tentemos primeiro encontrar equilíbrios em que o país 1 jogue = 1. Neste
caso, a única melhor resposta para o país 2 é jogar = 1. Quando o país 2 joga = 1,
jogar = 1 é de fato a única melhor resposta para o país 1. Nós concluimos que
( ; ) = (1; 1) é um equilíbrio de Nash do jogo. Neste equilíbrio a probabilidade do
22.2
Observe que na letra (a) nós calculamos que o lucro da …rma era maior no caso em que ela exige que o
gerente se esforce.
22.3
Nós podemos veri…car que sob tal contrato a utilidade esperada do gerente é maior quando ele se esforça
do que quando ele não se esforça. Portanto, o gerente aceitará tal contrato e se esforçará, mas a questão não
perguntou isto.
22.2. SEGUNDA PROVA 231

mundo acabar é 1. Tentemos agora equilíbrios em que o país 1 jogue = 0. Agora,


a única melhor resposta do país 2 é = 0. Quando o país 2 joga = 0 a única
melhor resposta para o país 1 é jogar = 0. Nós concluimos que ( ; ) = 0 é um
outro equilíbrio de Nash do jogo. Neste equilíbrio a probabilidade do mundo acabar é
zero. Finalmente, tentemos encontrar equilíbrios em que 0 < < 1. Para que jogar
tal valor de seja uma melhor resposta para o país 1 a estratégia do jogador 2 tem
que satisfazer U 1 (1; ) = U 1 (0; ). Isto é, tem que satisfazer

1000 = 10990 + (1 ) 10:


1 1
Resolvendo a equação acima nós obtemos = 1000 . Como 0 < 1000 < 1, para que
1
o país 2 jogue = 1000 em equilíbrio, a estratégia do país 1 tem que satisfazer
2 2
U ( ; 1) = U ( ; 0). Isto é, tem que satisfazer

1000 = 10990 + (1 ) 10:


1 1
Resolvendo a equação acima nós obtemos = 1000 . Ou seja, quando = 1000 qualquer
1
coisa é melhor resposta para o país 1. Similarmente, quando = 1000 qualquer coisa
1
é melhor resposta para o país 2. Em particular, = 1000 é melhor resposta contra
1 1 1
= 1000 e = 1000 é melhor resposta contra = 1000 . Nós concluimos que ( ; ) =
1
; 1 é mais um equilíbrio de Nash do jogo. A probabilidade do mundo acabar
1000 1000
1
neste equilíbrio é 1000000 : k

Questão 22.2.3. Um bar funciona dentro de uma danceteria. Em uma determinada noite,
a curva de demanda inversa da entrada na danceteria é dada por

PD (QD ) = 1200 2QD .

Já a curva de demanda inversa para um drink no bar é dada por

PB (QB ) = QD 2QB ;

em que QD é o número de pessoas que entram na danceteria em uma determinada noite e


está fora do controle do dono do bar. Os custos da danceteria e do bar são nulos.

(a) Supondo que a danceteria e o bar tenham donos diferentes, responda quantas pessoas
entrarão na danceteria e quantas consumirão no bar em uma determinada noite. (1
ponto).

(b) E se a danceteria e o bar pertencerem a um mesmo dono? Quantas pessoas entrarão na


danceteria em uma determinada noite? E quantas consumirão no bar? (1,5 pontos).

Solução.

(a) O problema do dono do bar é

max (1200 2QD ) QD


QD
232 CAPÍTULO 22. PRIMEIRO SEMESTRE DE 2012

A condição de primeira ordem do problema acima é


4QD = 1200;
o que implica que QD = 300. O problema do dono do bar em uma noite em que 300
pessoas entram na danceteria é
max (300 2QB ) QB
QB

A condição de primeira ordem do problema acima é


4QB = 300;
o que implica que QB = 75:
(b) Vamos primeiro resolver o problema do bar para uma quantidade genérica QD . Isto é,
vamos primeiro resolver o seguinte problema:
max (QD 2QB ) QB
QB

A condição de primeira ordem do problema acima é


4QB = QD ;
QD
o que implica que QB = 4
. Tal valor de QB dá um lucro ao bar de QD 2 Q4D QD
4
=
Q2D
8
.
O dono da danceteria agora tem interesse de maximizar o lucro do bar mais o da
danceteria. O seu problema é
Q2D
max (1200 2QD ) QD +
QD 8
A condição de primeira ordem do problema acima é
QD
4QD= 1200;
4
o que implica que QD = 320. Quando 320 pessoas entram na danceteria nós já vimos
que o bar atenderá um número QB = 320
4
= 80 de clientes. k
Questão 22.2.4 (Liderança de preços). Suponha que duas empresas concorram através da
…xação de seus preços, mas que, diferentemente das notas de aula, a …rma 1 …xe o seu preço
primeiro e somente após haver observado o preço …xado pela …rma 1 é que a …rma 2 …xe o
seu preço. Ambas as …rmas têm o mesmo custo marginal constante e igual a c > 0 e a curva
de demanda do mercado é dada por
Q (P ) = a bP:
Os consumidores compram apenas da …rma que estiver cobrando o preço mais barato e a nossa
hipótese será de que quando as duas …rmas cobram o mesmo preço todos os consumidores
compram da …rma 2. Nós vamos investigar as soluções por indução retroativa do jogo. Sua
análise deve ser completamente intuitiva, sem fazer contas, mas tenha certeza de que você
está usando a idéia de indução retroativa no seu raciocínio.
22.3. PROVA SUBSTITUTIVA 233

(a) Existe alguma solução por indução retroativa em que apenas a …rma 2 venda? Se a
resposta for sim, descreva todas elas. (1,5 pontos).
(b) Existe alguma solução por indução retroativa em que apenas a …rma 1 venda? Se a
resposta for sim, descreva todas elas. (1,5 pontos).
Solução.
(a) Seja P o preço que maximizaria o lucro da …rma 2 em uma situação de monopólio. Vamos
agora analisar as melhores escolhas da …rma 2 como função do preço P1 escolhido pela
…rma 1. Se P1 < c, então não é interessante para a …rma 2 entrar neste mercado,
então qualquer preço maior do que P1 é uma melhor ação para a …rma 2 neste caso.
Se P1 = c, então a …rma 2 é indiferente entre escolher um preço P2 = c e …car com
todo o mercado, ou escolher um preço P2 > c e deixar o mercado para a …rma 1. Se
c < P1 P , então a melhor ação para a …rma 2 é escolher P2 = P1 . Tal escolha faz
com que a …rma 2 …que com todo o mercado e na região (c; P ] quanto maior P2 melhor
para a …rma 2. Finalmente, se P1 > P , então a melhor ação para a …rma 2 é escolher
P2 = P , já que isto lhe dará o lucro de monopólio. Resumidamente, em qualquer
solução por indução retroativa do jogo a estratégia da …rma 2 tem que satisfazer
8
>
> P2 2 (P1 ; 1) se P1 < c;
<
P2 2 [c; 1) se P1 = c;
P2 (P1 ) =
>
> P2 = P1 se c < P1 P ;
:
P2 = P se P1 > P :
É fácil ver que sempre que a estratégia da …rma 2 satis…zer as condições acima nenhuma
escolha de P1 fará com que a …rma 1 tenha um ganho positivo, sendo que valores de
P1 < c lhe darão um ganho negativo. Na verdade, contra qualquer estratégia da …rma
2 que satisfaça as condições acima as melhores respostas da …rma 1 consistem de todas
as estratégias P1 c. Note ainda que para valores de P1 tais c P1 P existe uma
estratégia da …rma 2 que satisfaz as condições acima em que a …rma 2 joga exatamente
P2 = P1 e …ca com todo o mercado. Já para valores de P1 > P , todas as estratégias da
…rma 2 que satisfazem as condições acima jogam P2 = P . Estas são todas as soluções
por indução retroativa do jogo em que apenas a …rma 2 vende.
(b) Na letra (a) nós já vimos que a …rma 1 nunca jogará P1 < c em equilíbrio. Quando
a …rma 1 joga P1 > c a …rma 2 sempre joga um valor P2 P1 e a …rma 1 …ca fora
do mercado. Logo, a única possibilidade para um equilíbrio em que apenas a …rma 1
venda é se esta jogar P1 = c. Neste caso, existem estratégias da …rma 2 que são parte
de soluções por indução retroativa do jogo em que a …rma 2 joga qualquer P2 > c após
observar P1 . Todos estes per…s são soluções por indução retroativa do jogo em que
somente a …rma 1 vende. k

22.3 Prova Substitutiva


Questão 22.3.1. Em uma dada economia existem um insumo, x, e dois bens produzidos,
y e z. Na economia existem duas …rmas, f e g, capazes de produzir os dois bens e com
234 CAPÍTULO 22. PRIMEIRO SEMESTRE DE 2012

funções de produção dadas por fy xfy = ln xfy , fz (xfz ) = 2 ln xfz , gy xgy = 2 ln xgy e
gz (xgz ) = ln xgz . Lembre-se que xfy é a quantidade do insumo x que a …rma f usa para
produzir o bem y, xfz é a quantidade do insumo x que a …rma f usa para produzir o bem z,
etc..

(a) Para um plano de produção xfy ; xfz e xgy ; xgz qualquer, de…na Xy := xfy + xgy e
Xz := xfz + xgz . Ou seja, Xy é a quantidade agregada do bem x usada para produzir o
bem y e Xz é a quantidade agregada do bem x usada para produzir o bem z. Supondo
que o plano de produção em questão seja e…ciente, escreva xfy , xfz , xgy e xgz como
funções de Xy e Xz apenas.(1,2 pontos).

(b) Considere novamente um plano de produção e…ciente xfy ; xfz e xgy ; xgz . Suponha
que a quantidade do insumo x utilizada neste plano de produção seja igual a 12.22.4
Além disto, suponha que neste plano de produção a quantidade produzida do bem y
seja igual a 5 ln 2. Usando o que você aprendeu na letra (a), encontre xfy ; xfz e
xgy ; xgz . (Dica: Lembre-se que ln ab = ln a + ln b)(1,5 pontos).

Solução.

(a) Em um plano de produção e…ciente xfy e xgy têm que ser solução do seguinte problema:

max ln xf + 2 ln xg
xf ;xg

sujeito a
xf + xg = Xy :
Isolando xg na restrição e substituindo na função objetivo o problema simpli…ca-se
para
max ln xf + 2 ln (Xy xf )
xf

A condição de primeira ordem do problema acima nos dá xfy = Xy =3. Substituindo


tal valor na restrição do problema, nós obtemos xgy = 2Xy =3: Similarmente, xfz e xgz
têm que ser solução do seguinte problema:

max 2 ln xf + ln xg
xf ;xg

sujeito a
xf + xg = Xz :
Isolando xg na restrição e substituindo na função objetivo o problema simpli…ca-se
para
max 2 ln xf + ln (Xz xf )
xf

A condição de primeira ordem do problema acima nos dá xfz = 2Xz =3. Substituindo
tal valor na restrição do problema, nós obtemos xgy = Xz =3:
22.4
Ou seja, xfy + xfz + xgy + xgz = 12.
22.3. PROVA SUBSTITUTIVA 235

(b) Como a quantidade produzida do bem y é 5 ln 2, nós temos que ter


ln xfy + 2 ln xgy = 5 ln 2:
Usando o que aprendemos na letra (a), nós podemos escrever a expressão acima como
Xy 2Xy
ln + 2 ln = 5 ln 2
3 3
()
ln Xy ln 3 + 2 ln 2 + 2 ln Xy 2 ln 3 = 5 ln 2
()
3 ln Xy = 3 ln 2 + 3 ln 3
()
ln Xy = ln 6
()
Xy = 6:
Isto implica que Xz = 6 e, consequentemente, xfy = Xy =3 = 2, Xgy = 2Xy =3 = 4,
xfz = 2Xz =3 = 4 e xgz = Xz =3 = 2: k
Questão 22.3.2. Suponha que a …rma F produza um determinado bem y e que a sua função
custo seja dada por C (y) = y 2 . Ou seja, para produzir y unidades do bem a …rma gasta y 2 .
Seja a função demanda inversa do bem y dada por
p (y) = 2 y:
(a) Suponha primeiro que o mercado para o bem y seja competitivo. Calcule o lucro da …rma
F neste caso. (0,8 pontos)
(b) Suponha agora que a …rma F seja monopolista neste mercado. Calcule o lucro da …rma
F neste caso. (0,7 pontos).
(c) Finalmente, suponha que a …rma F seja monopolista e pratique discriminação de preços
de primeiro grau. Calcule o lucro da …rma F neste caso. (1 ponto)
Solução.
(a) Neste caso, a …rma age como tomadora de preços e o seu problema é:
max py y2
y

A condição de primeira ordem do problema acima nos dá p = 2y. Em equilíbrio, o


preço em tal expressão tem que concordar com o preço obtido a partir da curva de
demanda inversa. Isto é, em equilíbrio y satisfaz
2y = 2 y;
o que implica que y = 2=3. O preço de equilíbrio é p = 2y = 4=3, o que implica que o
2 2
lucro da …rma é py y 2 = 43 23 3
= 49 :
236 CAPÍTULO 22. PRIMEIRO SEMESTRE DE 2012

(b) Agora o problema da …rma é


max (2 y) y y2
y

A condição de primeira ordem do problema acima nos dá y = 1=2. Substituindo


tal valor na curva de demanda inversa nós obtemos p = 3=2. O lucro da …rma é
1 2
py y 2 = 23 12 2
= 21 :

(c) Quando a …rma pratica discriminação de preços de primeiro grau, esta produz até o
ponto em que o preço é igual ao custo marginal. Isto é, y satisfaz

2 y = 2y;
R2 R2
o que implica que y = 23 . A receita da …rma neste caso é 0
3
p (y) dy = 0
3
2 ydy =
2 2
10=9. O lucro da …rma é 10 9 3
= 23 : k

Questão 22.3.3. Um famoso ator de televisão está contratando um advogado para abrir um
processo de danos morais contra um jornal. O valor esperado da indenização que o ator vai
receber (levando em conta a probabilidade do ator ganhar ou não a ação e o valor desta em
caso de vitória) é l, em que l é o esforço que o advogado dedica à causa. O custo de se
2
esforçar, para o advogado, é dado pela função c (l) = l4 :

(a) Qual o esforço que o advogado faz quando este recebe como pagamento uma fração do
que for obtido na ação judicial (ou seja, quando a indenização é x o advogado recebe
um pagamento x). Calcule os lucros do advogado e do ator neste caso. (0,5 pontos)

(b) Qual seria a taxa ótima, do ponto de vista do ator. Calcule os lucros do ator e do
advogado com tal taxa. (0,8 pontos)

(c) Suponha agora que o ator tenha a opção de vender o projeto para o advogado. Ou seja,
o advogado paga um valor inicial ao ator e depois …ca com tudo que ele conquistar na
ação judicial. Suponha que o advogado não esteja trabalhando em nenhuma outra causa
e, portanto, caso ele não aceite o contrato oferecido pelo ator a sua renda naquele mês
será zero. Suponha, também, que quando indiferente entre aceitar ou não o contrato
o advogado o aceite. Calcule o preço pelo qual a ação será vendida. Calcule os lucros
do ator e do advogado neste caso. Eles estão melhores agora ou na parte (b)? (1,3
pontos)

Solução.

(a) O problema do advogado neste caso é

l2
max l
l 4
A condição de primeira ordem do problema acima nos dá l = 2 . O lucro do advogado
2
é 2 2 (24 ) = 2 e o do ator é 2 2 2.
22.3. PROVA SUBSTITUTIVA 237

(b) A taxa ótima do ponto de vista do ator resolve


2
max 2 2

A condição de primeira ordem do problema acima nos dá = 12 . O lucro do advogado


é 41 e o do ator é 12 :
(c) Da letra (a) nós sabemos que quando o advogado recebe 100% do retorno do processo
2
ele escolhe um esforço l = 2. Isto dá um lucro para o advogado igual a l l4 = 1. Como
não aceitar o contrato dá ao advogado lucro zero e quando indiferente entre aceitar ou
não o advogado aceita, o contrato aceito neste caso dará lucro zero ao advogado. Isto
é, o preço de venda da ação será igual a 1. O lucro …nal do advogado é zero e o lucro
do ator é exatamente o preço pelo qual ele vende a ação, ou seja, é igual a 1. É claro
que o ator está melhor e o advogado está pior do que na parte (b). k
Questão 22.3.4 (Divisão de dinheiro). Dois indivíduos têm que decidir como dividir 100
reais entre eles. Considere os seguintes procedimentos:
(a) O indivíduo A faz uma proposta (isto é, ele diz com quanto ele …cará e com quanto
o indivíduo B …cará). Se a proposta for aceita pelo indivíduo B, ambos recebem as
quantias propostas imediatamente. Se o indivíduo B rejeitar a proposta, uma taxa de
10 reais é cobrada e os dois acabam por receber, no dia seguinte, 45 reais cada. Ambos
os indivíduos preferem receber mais dinheiro do que menos, mesmo que tenham que
esperar por isto. No entanto, ambos preferem receber uma certa quantia de dinheiro
imediatamente a recebê-la no dia seguinte. Só são permitidas propostas com valores
inteiros. Por exemplo, 50,50 e 40,50 não é uma proposta válida. Descreva todas as
soluções por indução retroativa do jogo.(1 ponto).
(b) Agora nós adicionaremos mais um estágio ao jogo. Novamente, o jogo começa com o
indivíduo A propondo uma divisão dos 100 reais. Se o indivíduo B aceitar a divisão,
ambos recebem as quantias propostas imediatamente e o jogo acaba. Se o indivíduo B
rejeitar a proposta, uma taxa de 5 reais é cobrada e o jogo se reinicia no dia seguinte
com o indivíduo B fazendo uma proposta para a divisão dos 95 reais restantes. Se o
indivíduo A aceitar a proposta, ambos recebem os valores propostos imediatamente e
o jogo é encerrado. Se o indivíduo A recusar a proposta, uma nova taxa de 5 reais é
cobrada e cada um deles recebe 45 reais no dia seguinte. Novamente, só são permitidas
propostas com números inteiros, ambos os indivíduos preferem receber mais dinheiro
do que menos, mesmo que tenham que esperar por isto, e ambos preferem receber uma
certa quantia de dinheiro imediatamente a receber a mesma quantia no dia seguinte.
Descreva todas as soluções por indução retroativa do jogo neste caso.(1,2 pontos).
Solução.
(a) Comecemos analisando o comportamento do indivíduo B. Neste caso, é claro que ele
recusará qualquer proposta em que ele …que com menos de 45 reais e aceitará qualquer
proposta em que ele receba pelo menos 45 reais. Dado tal comportamento do indivídua
B, é claro que o indivíduo A irá oferecer a divisão 45 reais para B e 55 reais para A.
Tal proposta será aceita por B.
238 CAPÍTULO 22. PRIMEIRO SEMESTRE DE 2012

(b) Novamente, comecemos pelo …nal do jogo. No último estágio, é claro que o indivíduo
A recusará qualquer proposta em que ele receba menos de 45 reais e aceitará qualquer
proposta em que ele receba pelo menos 45 reais. Olhemos agora para os nós de decisão
do indivíduo B, após ele ter recusado a primeira proposta do indivíduo A. Neste caso,
B sabe que se ele …zer uma proposta em que A …que com menos de 45 reais, este
a recusará e B acabará …cando com apenas 45 reais, no dia seguinte. É claro que a
melhor proposta para B neste caso é fazer a proposta 50 reais para B e 45 reais para
A. Olhemos agora para os nós de decisão de B após A ter feito uma proposta. Como
B sabe que se ele recusar a proposta ele receberá 50 reais no dia seguinte, é claro que B
recusará qualquer proposta em que ele …que com menos de 50 reais e aceitará qualquer
proposta em que ele receba pelo menos 50 reais. Dado tal comportamento de B, é
claro que A fará a proposta de divisão em que ambos recebem 50 reais. k
Capítulo 23

Segundo Semestre de 2012

23.1 Primeira Prova


Questão 23.1.1. Considere uma economia na caixa de Edgeworth, isto é, uma economia
de trocas com dois consumidores e dois bens. Suponha que a dotação agregada de ambos os
bens seja igual a 1 e as funções de utilidade dos dois agentes sejam dadas por U A (x1A ; x2A ) =
minfx1A ; x2A g e U B (x1B ; x2B ) = max fx1B ; x2B g.

(a) Caracterize todas as alocações e…cientes no sentido de Pareto para esta economia. (Dica:
Na minha opinião o jeito mais fácil de resolver a questão é usar apenas lógica. Se
você prestar atenção na de…nição de e…ciência no sentido de Pareto e nas funções de
utilidade dos indivíduos a situação começa a …car clara. Algumas pessoas podem achar
mais fácil resolver a questão desenhando a situação na caixa de Edgeworth) (2 pontos)

(b) Caracterize todas as alocações justas para esta economia. (Dica: Novamente, na minha
opinião, o jeito mais fácil de resolver a questão é usar apenas lógica.) (1 ponto)

Solução.

(a) Fixe uma alocação factível (x1A ; x2A ) e (x1B ; x2B ) qualquer. Note que maxfx1B ; x2B g =
maxf1 x1A ; 1 x2A g = 1 minfx1A ; x2A g. Isto implica que U A (x1A ; x2A )+U B (x1B ; x2B ) = 1,
para qualquer alocação factível. Ou seja, a soma das utilidades dos dois indivíduos é
sempre a mesma, para qualquer alocação factível. Logo, qualquer que seja a alocação
factível inicial, é impossível aumentar a utilidade de um indivíduo sem piorar a do
outro. Nós concluimos que todas as alocações factíveis são e…cientes neste caso.

(b) Fixe uma alocação factível qualquer (x1A ; x2A ) e (x1B ; x2B ). Suponha que U B (x1B ; x2B ) =
x1B x2B . Isto implica que U A (x1A ; x2A ) = x1A x2A . O indivíduo A não sente inveja de
B se e somente se x1A x2B = 1 x2A , o que é equivalente a x1A + x2A 1. Já o indivíduo
B não sente inveja de A se e somente se 1 x1A = x1B x2A , o que é equivalente a
1 xA + xA . Ou seja, a alocação é livre de inveja se e somente se x1A + x2A = 1. A
1 2

mesma conclusão é obtida se começarmos com a hipótese x2B x1B . Nós concluimos
que as alocações justas são aquelas em que x1A + x2A = 1. k

239
240 CAPÍTULO 23. SEGUNDO SEMESTRE DE 2012

Questão 23.1.2. Considere uma empresa monopolista em um mercado com curva de demanda
inversa dada por P (Q) = 36 Q. A função custo do monopolista é dada por C (Q) = Q2 .

(a) Encontre o preço cobrado pelo monopolista e calcule o seu lucro neste caso. (2 pontos)
(b) Suponha agora que o monopolista tenha a opção de construir uma segunda planta cujo
custo de produção também será dado por C(Q) = Q2 . Ou seja, se o monopolista
construir a nova planta ele poderá dividir a sua produção entre duas plantas com função
custo C(Q) = Q2 cada. O custo de construção da nova planta é de 100 unidades
monetárias. Dado o lucro encontrado na letra (a), o monopolista optará por construir
a nova planta ou não? (1 ponto)

Solução.

(a) O problema do monopolista é

max(36 Q)Q Q2
Q

A solução do problema acima é Q = 9. preço cobrado pelo monopolista é P = 36 9=


27 e o seu lucro é = 27 9 92 = 162:
(b) Quando a …rma tem duas plantas o seu problema pode ser escrito como

max (36 Q1 Q2 )(Q1 + Q2 ) Q21 Q22


Q1 ;Q2

As condições de primeira ordem do problema acima são

Q1 : 36 2Q1 2Q2 2Q1 = 0

e
Q2 : 36 2Q2 2Q1 2Q2 = 0:
A única solução do sistema acima é Q1 = Q2 = 6. O preço do bem neste caso será
P = 36 Q1 Q2 = 24. O lucro da …rma será = 24(Q1 + Q2 ) Q21 Q22 = 216.
Como o 216 162 < 100, o monopolista não optará por construir a nova planta. k

Questão 23.1.3. Suponha que um monopolista atue em um mercado em que existam dois
grupos de consumidores com curvas de demanda dadas por y1 (p1 ) = 28 2p1 e y2 (p2 ) = 72
3p2 . Suponha ainda que a função custo do monopolista seja dada por c(y1 +y2 ) = 2 (y1 + y2 ).

(a) Supondo que o monopolista possa praticar discriminação de preços, calcule quanto o
monopolista venderá para os consumidores do tipo 1 e para os consumidores do tipo 2.
(2 pontos)
(b) Suponha agora que a discriminação de preços seja proibida por lei. Calcule quanto o
monopolista venderá para os consumidores do tipo 1 e para os consumidores do tipo 2
(Dica: você terá que investigar dois casos e compará-los. O caso em que o monopolista
resolve atender a apenas um dos grupos de consumidores e o caso em que o monopolista
resolve atender aos dois grupos. (1 ponto)
23.1. PRIMEIRA PROVA 241

Solução.

(a) Vamos primeiro calcular as curvas de demanda inversa dos dois grupos. Estas são dadas
por
y1
p1 (y1 ) = 14
2
e
y2
p2 (y2 ) = 24 .
3
O problema do monopolista agora pode ser escrito como
y1 y2
max(14 )y1 + (24 )y2 2 (y1 + y2 )
y1 ;y2 2 3
As condições de primeira ordem do problema acima nos dão y1 = 12 e y2 = 33.

(b) Vamos primeiro identi…car a curva de demanda agregada da economia. Esta terá a
seguinte forma: 8
< 100 5p, se p 14,
y(p) = 72 3p, se 14 p 24,
:
0, se p 24.
Isto gera a seguinte curva de demanda inversa:
y
24 3
, se y 30,
p(y) = y
20 5
, se y 30.

Caso o monopolista queira atender apenas aos consumidores do tipo 2 o seu problema
é
y
max(24 )y 2y
y 3
A condição de primeira ordem do problema acima nos dá y = 33. Note, porém, que
y = 33 já está na região em que o monopolista atende aos dois grupos de consumidores
em sua curva de demanda. Isto implica que o monopolista escolherá atender aos dois
grupos de consumidores e o seu problema será
y
max(20 )y 2y
y 5
A condição de primeira ordem do problema acima nos dá y = 45. Isto implica que o
preço cobrado será p = 20 455
= 11. Substituindo tal valor nas curvas de demanda dos
dois grupos de consumidores nós obtemos y1 = 28 2 11 = 6 e y2 = 72 3 11 = 39. k

Questão 23.1.4. Suponha que Robinson Crusoé produza e consuma peixe (F) e côco (C).
Suponha que durante um certo período ele tenha decidido trabalhar 80 horas e que ele seja
indiferente entre gastar este tempo catando côco ou pescando. A função de produção de
1 1
peixe de Robinson é dada por F = (lF ) 2 e a de côco é dada por C = (lC ) 2 , em que lF e
lC são os números de horas que Robinson passa pescando e catando côco, respectivamente.
Consequentemente, lF + lC = 80. Robinson sabe ainda que no próximo período as condições
climáticas não serão favoráveis e ele não conseguirá produzir nem côco nem peixe. Portanto,
242 CAPÍTULO 23. SEGUNDO SEMESTRE DE 2012

parte do que ele produzir no primeiro período será consumido apenas no segundo período. A
função de utilidade de Robinson é:
1 4 1 4
U (F1 ; C1 ; F2 ; C2 ) = ln F1 + ln C1 + ln F2 + ln C2 ;
5 5 5 5
em que F1 e F2 são as quantidades de peixe que ele consome no primeiro e segundo períodos,
respectivamente, e C1 e C2 são as quantidades de côco que ele consome no primeiro e segundo
períodos, respectivamente.

(a) Supondo que Robinson pode armazenar quantos côcos e quantos peixes quiser para o
próximo período, calcule quanto tempo Robinson trabalhará produzindo côco, quanto
tempo ele trabalhará produzindo peixe e quantos côcos e peixes ele consumirá em cada
período. (Dica 1: Suponha que Robinson tenha produzido uma quantidade C de côcos.
Quantos destes côcos serão consumidos no primeiro período e quantos serão consumidos
no segundo período? Respondendo esta questão a sua vida …ca muito mais fácil. Dica
2: Para ; > 0 e 2 R a solução do problema

max ln x + ln y +
xy
s:a: px x + py y = I
I I
éx= + px
ey= + py
. Dica 3: ln x = ln x e ln xy = ln x + ln y:) (2 pontos)

(b) Suponha agora que não exista tecnologia de armazenamento. Isto é, côcos e peixes não
podem ser armazenados para o próximo período. No entanto, existem mercados de
côcos e peixes nos dois períodos. No primeiro período o preço do côco é 1 e do peixe é
2. No segundo isto se inverte e o preço do côco é 2 e o do peixe é 1. Quanto tempo
Robinson trabalhará produzindo côco e peixe? Quantos côcos e peixes ele consumirá
em cada período? (Dica 1: O problema pode ser dividido em duas partes e isto facilita
muito a vida. Dica 2: Para ; ; ; > 0, a solução do problema

max ln x + ln y + ln w + ln z
x;y;w;z
s:a: px x + py y + pw w + pz z = I
I I I I
éx= + + + px
, y= + + + py
, w= + + + pw
ez= + + + pz
:) (1 ponto)

Solução.

(a) Seguindo a dica, vamos primeiro investigar como Robinson distribui o consumo de côcos
entre os dois períodos. Suponha que Robinson tenha produzido uma quantidade C de
côcos. Ele escolherá C1 e C2 de forma a resolver o seguinte problema:
4 4
max ln C1 + ln C2
C1 ;C2 5 5
s:a: C1 + C2 = C

O problema acima está no formato de um problema de um consumidor Cobb-Douglas


e sua solução é C1 = C2 = C=2 (ver dica 1). É claro que a mesma coisa vale para a
23.1. PRIMEIRA PROVA 243

distribuição do consumo de peixes entre os dois períodos. Agora nós podemos escrever
o problema da escolha de lC e lF como
1 1 1 1
1 (lF ) 2 4 (lC ) 2 1 (lF ) 2 4 (lC ) 2
max ln + ln + ln + ln
lC ;lF 5 2 5 2 5 2 5 2
s:a: lC + lF = 80:

O problema acima é equivalente a

1 4
max ln lF + ln lC 2 ln 2
lC ;lF 5 5
s:a: lC + lF = 80:

A solução do problema acima é lC = 54 80


1
= 64 e lF = 15 80
1
= 16. Isto implica que ele
produzirá 8 côcos e 4 peixes. Consequentemente, ele consumirá 4 côcos e 2 peixes em
cada período.

(b) Como existem preços para côco e peixe nos dois períodos, é claro que Robinson produzirá
côcos e peixes de modo a maximizar o valor monetário de sua produção. Isto é,
Robinson primeiro resolve o seguinte problema:
1 1
max(lC ) 2 + 2(lF ) 2
lC ;lF
s:a: lC + lF = 80

Isolando lF na restrição e substituindo na função objetivo o problema simpli…ca-se para


1 1
max(lC ) 2 + 2(80 lC ) 2
lC

A condição de primeira ordem do problema acima é

1 1 1
p =p ;
2 lC 80 lC

o que nos dá lC = 16. Consequentemente, nós temos lF = 64. Isto implica que
Robinson produzirá 4 côcos e 8 peixes. O valor monetário de tal produção é I =
4 + 2 8 = 20. Agora temos que ver como Robinson distribui tal riqueza entre os dois
períodos. Isto é, temos que resolver o seguinte problema:

1 4 1 4
max ln F1 + ln C1 + ln F2 + ln C2
F1 ;C1 ;F2 ;C2 5 5 5 5
s:a: 2F1 + C1 + F2 + 2C2 = 20

1 20 4 20 1 20
A solução do problema acima é F1 = 10 2
= 1, C1 = 10 1
= 8, F2 = 10 1
= 2 e
4 20
C2 = 10 2
= 4. k
244 CAPÍTULO 23. SEGUNDO SEMESTRE DE 2012

23.2 Segunda Prova


Questão 23.2.1. Considere o modelo de perigo moral que estudamos nas notas de aula. Ou
seja, suponha que uma …rma queira contratar um gerente para a realização de um projeto.
O retorno do projeto pode ser alto, H = 24, ou baixo, L = 6. O gerente tem a opção de se
esforçar ou não. Quando o gerente se esforça a probabilidade do retorno do projeto ser alto
é pe = 2=3, quando ele não se esforça a probabilidade do retorno ser alto é apenas pn = 1=6.
Quando o gerente se esforça ele incorre em um custo ce = 6. A …rma oferecerá um contrato
de trabalho, (wH ; wL ) ; que estipula o salário do gerente no caso de um retorno alto e de um
retorno baixo. O objetivo da …rma é maximizar o seu lucro esperado. Isto é, maximizar
pi ( H wH ) + (1 pi ) ( L wL ) em que i = e ou n, dependendo de o gerente se esforçar
ou não. Para completar, suponha que o gerente é neutro ao risco. Ou seja, quando ele se
esforça a sua utilidade é dada por U e (wH ; wL ) = pe wH + (1 pe ) wL ce e no caso em que
ele não se esforça é dada por U n (wH ; wL ) = pn wH + (1 pn ) wL .

(a) Suponha primeiro que o esforço seja observável. Escreva a condição que caracteriza os
contratos ótimos para a …rma neste caso. (1,5 pontos)

(b) Suponha agora que o esforço não seja observável. Qual o contrato ótimo para a …rma
neste caso? Mostre que o gerente aceitará tal contrato e mostre se este contrato fará
com que o gerente se esforce ou não. (Explique bem o raciocínio da sua solução.) (1,5
pontos)

Solução.

(a) Quando a …rma exige que o gerente se esforce o seu problema pode ser escrito como

e = max pe ( H wH ) + (1 pe ) ( L wL )
wH ;wL

sujeito a
pe wH + (1 pe ) wL ce 0:
Obviamente as possíveis soluções do problema acima têm que satisfazer a restrição com
igualdade, já que se não fosse este o caso a …rma poderia diminuir um pouco um dos
dois salários e aumentar o seu lucro. O problema simpli…ca-se para

e = max pe ( H wH ) + (1 pe ) ( L wL )
wH ;wL

sujeito a
pe wH + (1 pe ) wL = ce :
Mas agora observe que, dada a restrição, o lucro da …rma pode ser reescrito como

e = pe ( H wH ) + (1 pe ) ( L wL )
= pe H + (1 pe ) L ce :
23.2. SEGUNDA PROVA 245

Ou seja, o lucro da …rma independe dos exatos valores de wH e wL , desde que eles
satisfaçam a restrição do problema com igualdade. Portanto, as soluções do problema
quando a …rma exige esforço são caracterizadas pela condição

pe wH + (1 pe ) wL = ce :

O lucro da …rma neste caso será

e = pe H + (1 pe ) L ce
2 1
= 24 + 6 6
3 3
= 12:

O problema da …rma quando ela não exige esforço pode ser escrito como

n = max pn ( H wH ) + (1 pn ) ( L wL )
wH ;wL

sujeito a
pn wH + (1 pn ) wL 0:
O mesmo argumento que …zemos acima nos garante que qualquer solução do problema
satisfaz a restrição do problema com igualdade. O problema simpli…ca-se, então, para

n = max pn ( H wH ) + (1 pn ) ( L wL )
wH ;wL

sujeito a
pn wH + (1 pn ) wL = 0:
É fácil ver que com qualquer contrato que satisfaça a restrição acima o lucro da …rma
é

n = pn ( H wH ) + (1 pn ) ( L wL )
= pn H + (1 pn ) L
1 5
= 24 + 6
6 6
= 9:

Como o maior lucro foi obtido no caso que a …rma exige que o gerente se esforce, os
contratos ótimos no caso de esforço observável satisfazem

pe wH + (1 pe ) wL = ce

e exigem esforço.

(b) Nós sabemos que quando o gerente é neutro ao risco a …rma pode obter o mesmo lucro
que ela obteria no caso de esforço observável oferecendo um contrato que pode ser
interpretado como a venda do projeto para o gerente. No caso, como o maior lucro
246 CAPÍTULO 23. SEGUNDO SEMESTRE DE 2012

no caso de esforço observável ocorre quando a …rma exige esforço, o contrato oferecido
pela …rma terá a forma

wH = H e
= 24 12
= 12

wL = L e
= 6 12
= 6:

Nós precisamos primeiro mostrar que o gerente aceitará tal contrato. Para tanto, nós
só precisamos mostrar que o gerente consegue obter uma utilidade esperada maior
ou igual a zero com tal contrato. Vejamos, então, qual seria a utilidade esperada do
gerente se ele aceitasse tal contrato e resolvesse se esforçar. Neste caso a sua utilidade
esperada seria

U e (wH ; wL ) = pe wH + (1 pe ) wL ce
2 1
= 12 + ( 6) 6
3 3
= 0:

Só nos resta agora veri…car se tal contrato levaria o gerente a se esforçar ou não. Mas
observe que a utilidade do gerente com tal contrato, quando ele não se esforça, é dada
por

U n (wH ; wL ) = pn wH + (1 pn ) wL
1 5
= 12 + ( 6)
6 6
= 3:

Portanto, tal contrato levará o gerente a se esforçar. k

Questão 23.2.2. Um apiário e uma fazenda produtora de maçãs estão localizados lado a
lado. Seja “a” a quantidade de maçãs produzidas e “h” a quantidade de mel. Os custos de
produção do apiário e da fazenda são, respectivamente, ch (h; a) = 6h2 2ah e ca (a; h) =
a2 2ah. Ou seja, a produção de mel gera uma externalidade positiva para a produção de
maçãs e a produção de maçãs gera uma externalidade positiva para a produção de mel. O
preço do quilo de mel é 12 reais e cada quilo de maçã é vendido por 8 reais.

(a) Calcule as quantidades de mel e maçãs produzidas em equilíbrio. (1,5 pontos)

(b) Suponha que o fazendeiro compre o apiário. Quanto ele produzirá de mel e maçãs? (1,5
pontos)
23.2. SEGUNDA PROVA 247

Solução.

(a) O problema do apiário pode ser escrito como

max 12h 6h2 2ah


h

A condição de primeira ordem do problema acima é

12h = 12 + 2a:

O problema da fazenda é
max 8a a2 2ah
a

A condição de primeira ordem do problema acima é

2a = 8 + 2h:

A solução do sistema linear formado pelas condições de primeira ordem dos dois
problemas acima nos dá h = 2 e a = 6:

(b) O novo problema de maximização do fazendeiro é

max 12h 6h2 2ah + 8a a2 2ah


h;a

As condições de primeira ordem do problema acima são

h : 12h = 12 + 4a
a : 2a = 8 + 4h

A solução do sistema acima nos dá h = 7 e a = 18: k

Questão 23.2.3 (Liderança de preços com seguidor escolhendo quantidade). Suponha que
duas …rmas que vendem o mesmo produto atuem em um mercado com curva de demanda
dada por
y(p) = 20 p:
y2
A função custo da …rma 1 é dada por c1 (y1 ) = 2y1 e a da …rma 2 é dada por c2 (y2 ) = 22 .
O mercado funciona da seguinte forma: primeiro a …rma 1 escolhe o preço p que ela irá
cobrar. A …rma 2 observa tal preço e sabe que ela terá que respeitá-lo. Encarando o preço
estipulado pela …rma 1 como dado, a …rma 2 escolhe y2 para maximizar o seu lucro. Dado y2 ,
a quantidade y1 que a …rma 1 vende é dada pela diferença entre a quantidade demandada sob
o preço p e y2 . Isto é, y1 = y(p) y2 . Resolva tal jogo por indução retroativa e encontre as
quantidades y1 e y2 produzidas pelas duas …rmas em equilíbrio, bem como o preço p estipulado
pela …rma 1 no primeiro estágio do jogo. (Dica: Primeiro encontre a melhor escolha, y2 (p),
da …rma 2 dado um preço p genérico. Isto permite que você calcule o lucro da …rma 1 para
cada valor de p que ela escolher. Encontre p que maximize este lucro.) (3 pontos)
248 CAPÍTULO 23. SEGUNDO SEMESTRE DE 2012

Solução. Seguindo a dica, suponha que a …rma 1 tenha escolhido um preço p. O problema
da …rma 2 é
y22
max py2
y2 2
A condição de primeira ordem do problema acima nos dá y2 = p. Isto implica que y1 =
20 p p, o que dá um lucro à …rma 1 igual a 1 (p) = p(20 2p) 2(20 2p). A condição de
primeira ordem para a maximização de tal expressão nos dá p = 6. Portanto, em equilíbrio
nós temos p = 6, y1 = 8 e y2 = 6. k

Questão 23.2.4. Três indivíduos disputam um mesmo objeto em um leilão selado de terceiro
preço. Isto é, os três indivíduos colocam os seus lances em envelopes fechados. Quando
os envelopes são abertos, o indivíduo que deu o maior lance leva o objeto e paga por ele
apenas o terceiro maior lance. Os valores que os indivíduos atribuem ao objeto satisfazem
v1 > v2 > v3 > 0 e v1 , v2 e v3 são conhecimento comum. Isto é, todos os indivíduos sabem
exatamente qual o valor que os outros atribuem ao objeto. Finalmente, se o indivíduo i
ganha o objeto pagando o preço b por ele, a sua utilidade é vi b. Se ele não ganha o objeto
a sua utilidade é zero. Responda cada uma das questões abaixo. As suas respostas devem ser
claras, objetivas e inteiramente baseadas no conceito formal do que é um equilíbrio de Nash.

(a) Argumente que não existe equilíbrio de Nash do jogo em que o indivíduo 3 vença o leilão.
(1 ponto)

(b) Construa um equilíbrio de Nash do jogo em que o indivíduo 2 vença o leilão. Após
apresentar o per…l de estratégias você tem que argumentar que ele é de fato um equilíbrio.
(1 ponto)

(c) Construa um equilíbrio de Nash do jogo em que o vencedor do leilão pague exatamente v3
pelo objeto. Novamente, após apresentar o per…l de estratégias você tem que argumentar
que ele é de fato um equilíbrio. (1 ponto)

Solução.

(a) Suponha que exista um equilíbrio em que o indivíduo 3 vença o leilão. Para que vencer
o leilão seja uma melhor resposta para o jogador 3, é necessário que o terceiro lance
seja menor ou igual a v3 . Considere agora o jogador dono do segundo maior lance no
suposto equilíbrio acima (em caso de empate no segundo maior lance pegue qualquer
um dos dois jogadores). Este jogador não está jogando uma melhor resposta. Observe
que, por construção, o terceiro lance é menor ou igual a v3 que é menor do que o valor
que o dono do segundo maior lance dá ao objeto. Mas então, para tal jogador seria
estritamente melhor ganhar o leilão. Ou seja, seria estritamente melhor dar um lance
maior do que o lance do jogador 3.

(b) Considere o seguinte per…l: O jogador 1 dá um lance b1 2 (v3 ; v2 ). Os jogadores 2 e 3


dão lances b2 > b3 > v1 . Para o jogador 1 ganhar o leilão ele teria que dar um lance
maior ou igual a b2 , mas isto faria b3 o terceiro lance. Como b3 > v1 , o jogador 1 …caria
pior em tal situação. Similarmente, se o jogador 3 resolver dar um lance vencedor, o
23.3. PROVA SUBSTITUTIVA 249

terceiro lance continua sendo b1 > v3 , portanto, não vale a pena para o jogador 3 dar
tal lance. Finalmente, o jogador 2 está ganhando o leilão e tendo um ganho positivo.
Com qualquer outro lance que faça o jogador 2 ganhar o leilão sozinho o seu ganho
não se altera. Com um lance que faça o jogador 2 ganhar o leilão de forma empatada
o seu ganho vira metade do que era antes. Com um lance que faça o jogador 2 não
ganhar o leilão o seu ganho é nulo. Isto mostra que todos o jogadores estão jogando
melhores respostas e, de fato, o per…l acima é um equilíbrio de Nash.

(c) Suponha que b1 = v3 , b2 > b3 > v1 . O jogador 3 é indiferente entre não ganhar o leilão
e ganhar o leilão. O jogador 2 está vencendo o leilão e tendo um ganho positivo. Com
qualquer outro lance que ele ganhe o leilão o seu ganho não muda. Com um lance em
que ele ganhe o leilão de forma dividida ou não ganhe o leilão o seu ganho diminui.
Finalmente, para o jogador 1 ganhar o leilão ele teria que dar um lance maior ou igual
a b2 o que faria com que o terceiro lance …casse maior do que v1 . Isto dá ao indivíduo
1 um ganho negativo e, portanto, não vale a pena para ele. Nós concluímos que tal
per…l é de fato um equilíbrio de Nash. k

23.3 Prova Substitutiva


Questão 23.3.1. Considere uma economia de trocas com três consumidores e dois bens. As
2 1
funções de utilidade dos consumidores são dadas por U A (x1A ; x2A ) = (x1A ) 3 (x2A ) 3 , U B (x1B ; x2B ) =
1 2 1 1
(x1B ) 3 (x2B ) 3 e U C (x1C ; x2C ) = (x1C ) 2 (x2C ) 2 .
1 2 1 2
(a) Suponha que as dotações iniciais dos consumidores sejam (wA ; wA ) = (6; 0), (wB ; wB )=
(3; 3) e (wC1 ; wC2 ) = (0; 2). Encontre o único equilíbrio competitivo desta economia. Isto
é, encontre o vetor de preços e a alocação que constituem um equilíbrio competitivo para
esta economia. (1,3 pontos)

(b) É possível mostrar que a alocação (x1A ; x2A ) = (4; 1), (x1B ; x2B ) = (3; 3) e (x1C ; x2C ) = (2; 1)
é e…ciente no sentido de Pareto. Como a economia acima satisfaz as condições do
Segundo Teorema do Bem-estar, nós sabemos que com uma correta redistribuição das
dotações iniciais nós podemos fazer com que tal alocação seja parte de um equilíbrio
2 2
competitivo. Na verdade, existem wA , wB e wC2 tais que quando wA 1
= 0, wB 1
=9 e
1
wC = 0 a alocação acima é parte de um equilíbrio competitivo quando a dotação inicial
2 2
dos consumidores é [(0; wA ); (9; wB ); (0; wC2 )]. Encontre o vetor de preços e os valores
2 2
wA , wB e wC2 relacionados a tal equilíbrio. (Dica: a partir do problema de qualquer
dos consumidores você consegue encontrar o vetor de preços. A partir daí encontrar
2 2
wA , wB e wC2 é fácil.) (1,2 pontos)

Solução.

(a) Primeiramente, como apenas preços relativos são determinados em equilíbrio, façamos
p1 = 1 e p2 = p. Todos os consumidores são do tipo Cobb-Douglas e nós já sabemos
como são as suas funções demanda. Dado um vetor de preços genérico (1; p), as
quantidades consumidas de cada bem pelos consumidores serão: (x1A ; x2A ) = ( 23 61 ; 31 p6 ) =
250 CAPÍTULO 23. SEGUNDO SEMESTRE DE 2012

(4; p2 ), (x1B ; x2B ) = ( 13 3+3p


1
; 32 3+3p
p
) = (1 + p; 2+2p
p
) e (x1C ; x2C ) = ( 12 2p ; 1 2p ) = (p; 1). A
1 2 p
condição de equilíbrio de mercado para o bem 1 pode ser escrita como

4 + 1 + p + p = 9,

o que implica que p = 2. Tal preço induz a alocação (x1A ; x2A ) = (4; 1), (x1B ; x2B ) = (3; 3)
e (x1C ; x2C ) = (2; 1) em equilíbrio.

(b) Novamente, seja p1 = 1 e p2 = p. Como o consumidor A é Cobb-douglas, nós sabemos


w2 p w2 p
que x1A = 4 = 32 1A e x2A = 1 = 13 pA . Dividindo x1A por x2A nós obtemos

4
= 2p,
1
2 2
o que implica que p = 2. Agora só temos que encontrar os valores wA , wB e wC2
que fazem os consumidores consumirem as quantidades estipuladas na questão quando
p = 2. Vamos fazer isto olhando para as quantidades que cada consumidor consome
do bem 1. Assim:
2
2 2wA
x1A = 4 = ;
3 1
2
o que implica que wA = 3,
2
1 9 + 2wB
x1B = 3 = ;
3 1
2
o que implica que wB =0e
1 2wC2
x1C = 2 = ;
2 1
o que implica que wC2 = 2. k

Questão 23.3.2. Considere um agente que tem uma riqueza inicial igual a 3200 reais. Com
probabilidade 1=3 um evento que implica em uma perda de 2200 reais vai ocorrer. O agente
tem a oportunidade de fazer um seguro para receber X reais caso o evento que desencadeia
a perda dos 2200 reais ocorra. Suponha que o preço por cada real segurado seja 1=2 real.
Encontre a quantidade ótima de seguro que um agente maximizador de utilidade esperada
com função de Bernoulli dada por u(x) = ln(x) contratará. (2,5 pontos)

Solução. Quando o agente contrata um seguro de X reais a sua utilidade esperada é dada
por

1 1 2 1
ln 3200 2200 X + X + ln 3200 X
3 2 3 2
=
1 1 2 1
ln 1000 + X + ln 3200 X
3 2 3 2

A condição de primeira ordem para a maximização da expressão acima nos dá X = 800. k


23.3. PROVA SUBSTITUTIVA 251

Questão 23.3.3. Suponha que em um mercado de carros usados existam dois tipos de carros:
os de qualidade alta, que têm um valor monetário, para os potenciais vendedores, igual
a qh = 2800, e os de qualidade baixa, que têm um valor monetário, para os potenciais
vendedores, igual a ql = 800. A princípio, metade dos carros são de qualidade alta e metade
são de qualidade baixa. Os potenciais compradores aceitam pagar um valor igual a 32 q por
um carro de qualidade esperada igual a q.

(a) Suponha que o preço de mercado de um carro usado seja p. Qual o máximo valor de p
pelo qual um potencial comprador (100% racional) aceitará comprar um carro usado?
Considere que quando indiferentes entre vender e não vender um carro os potenciais
vendedores o vendem. (1,3 pontos)

(b) Suponha agora que exista ainda um outro tipo de carro, o de qualidade baixíssima, com
valor, para os vendedores, igual a qb = 480. Considere que 1=3 dos carros tenham
qualidade qb , 1=3 tenham qualidade ql e 1=3 tenham qualidade qh . Qual o máximo
valor p que um potencial comprador aceitará pagar por um carro usado agora? (1,2
pontos)

Solução.

(a) Suponha primeiro que p 2800. Neste caso, os potenciais compradores sabem que
os carros das duas qualidades estão sendo vendidos e, portanto, a qualidade esperada
de um carro à venda é 12 2800 + 12 800 = 1800. O máximo preço que um potencial
comprador aceitaria pagar por um carro de qualidade esperada igual a 1800 é 1800 32 =
2700. Portanto, se p 2800 os potenciais compradores não compram carros usados.
Considere agora p tal que 800 p < 2800. Neste caso, apenas carros de qualidade baixa
estão à venda e, consequentemente, a qualidade esperada de um carro no mercado é 800.
O máximo preço que um potencial comprador aceita pagar por um carro de qualidade
esperada 800 é 800 32 = 1200. Como 800 1200 < 2800, este é o máximo preço pelo
qual um potencial comprador aceitaria comprar um carro usado neste mercado.

(b) Novamente, suponha primeiro que p 2800. Neste caso, os potenciais compradores
sabem que os carros das três qualidades estão sendo vendidos e, portanto, a qualidade
esperada de um carro à venda é 13 2800 + 31 800 + 13 480 = 1360. O máximo preço que
um potencial comprador aceitaria pagar por um carro de qualidade esperada igual
a 1360 é 1360 23 = 2040. Portanto, se p 2800 os potenciais compradores não
compram carros usados. Considere agora p tal que 800 p < 2800. Neste caso, apenas
carros de qualidade ql e qb estão à venda e, consequentemente, a qualidade esperada
de um carro no mercado é 12 800 + 21 480 = 640. O máximo preço que um potencial
comprador aceita pagar por um carro de qualidade esperada 640 é 640 32 = 960.
Como 800 960 < 2800, nós concluimos que o máximo preço pelo qual um potencial
comprador aceitaria comprar um carro usado neste mercado é 960. k

Questão 23.3.4. Três indivíduos disputam um mesmo objeto em um leilão. Os valores que
os indivíduos atribuem ao objeto satisfazem v1 > v2 > v3 > 0 e v1 , v2 e v3 são conhecimento
comum. Isto é, todos os indivíduos sabem exatamente qual o valor que os outros atribuem
252 CAPÍTULO 23. SEGUNDO SEMESTRE DE 2012

ao objeto. Finalmente, se o indivíduo i ganha o objeto pagando o preço b por ele, a sua
utilidade é vi b. Se ele não ganha o objeto a sua utilidade é zero. Responda cada uma das
questões abaixo. As suas respostas devem ser claras, objetivas e inteiramente baseadas no
conceito formal do que é um equilíbrio de Nash.

(a) Suponha primeiro que o leilão seja um leilão selado de primeiro preço. Isto é, os três
indivíduos colocam os seus lances em envelopes fechados. Quando os envelopes são
abertos, o indivíduo que deu o maior lance leva o objeto e paga por ele exatamente o
seu lance. Existe algum equilíbrio de Nash do jogo em que o indivíduo 1 não ganhe
o leilão? Em caso de resposta a…rmativa, apresente o per…l e argumente que ele é
um equilíbrio em que o indivíduo 1 não ganha o leilão. Em caso de resposta negativa,
explique claramente as razões porque é impossível que o indivíduo 1 não ganhe o objeto
em equilíbrio. (1,3 pontos)

(b) Suponha agora que o leilão seja um leilão selado de segundo preço. Isto é, os três
indivíduos colocam os seus lances em envelopes fechados. Quando os envelopes são
abertos, o indivíduo que deu o maior lance leva o objeto e paga por ele o segundo
maior lance. Existe algum equilíbrio de Nash do jogo em que o indivíduo 1 não ganhe
o leilão? Novamente, em caso de resposta a…rmativa, apresente o per…l e argumente
que ele é um equilíbrio em que o indivíduo 1 não ganha o leilão. Em caso de resposta
negativa, explique claramente as razões porque é impossível que o indivíduo 1 não ganhe
o objeto em equilíbrio. (1,2 pontos).

Solução.

(a) Suponha que um indivíduo diferente do indivíduo 1 esteja ganhando o leilão, digamos,
o indivíduo j. Como sempre é possível para o indivíduo j dar um lance igual a zero,
garantindo assim uma utilidade de pelo menos zero, para que ganhar o leilão seja uma
melhor resposta para ele é necessário que o seu lance satisfaça bj vj < v1 . Mas
então, o indivíduo j está ganhando o leilão pagando menos do que v1 . Claramente
seria melhor para o indivíduo 1 dar um lance b1 2 (bj ; v1 ) e ganhar o leilão obtendo
uma utilidade estritamente positiva. Nós concluimos que em qualquer equilíbrio de
Nash do jogo o indivíduo 1 ganha o leilão.

(b) Considere um per…l em que b3 > v1 e b1 < b2 < v3 . Note que o indivíduo 3 está
ganhando o leilão e pagando apenas b2 < v3 pelo objeto. Sua utilidade em tal situação
é v3 b2 > 0. Ele também teria esta utilidade com qualquer outro lance que o …zesse
ganhar o leilão. Com um lance que o …zesse perder o leilão a sua utilidade seria zero.
Isto mostra que o indivíduo 3 está jogando uma melhor resposta. Os indivíduos 1
e 2 não estão ganhando o leilão e, portanto, estão …cando com utilidade zero. Com
qualquer lance que …zesse um deles ganhar o leilão eles teriam utilidade negativa, já
que teriam que pagar b3 > v1 > v2 pelo objeto. Isto mostra que os indivíduos 1 e 2
também estão jogando melhores respostas. Nós concluimos que o per…l apresentado é
um equilíbrio de Nash em que o indivíduo 3 vence o leilão. k

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