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Monica Schieck
Federal University of Rio de Janeiro
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Do moderno ao contemporâneo 3
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4 Mônica Schieck
gares da vida pública informal” onde os la- sinala que as comunidades virtuais não pre-
ços sociais seriam revigorados por apresen- cisam opor-se as comunidades físicas: são
tar como característica primária a conversa- formas diferentes de comunidades, com leis
ção gerando, assim, um sentimento de comu- e dinâmicas específicas, que interagem com
nidade. (OLDENBURG, 1999, on-line)2 outras formas de comunidade. (Wellman
Entretanto, Howard Rheingold, no seu li- apud CASTELLS, 2003, p.444)
vro “The Virtual Community”, ao descre- Chegando ao início deste século XXI, de-
ver sua experiência na rede de conferência vido à emergência das novas formas de co-
WELL3 , contava que os participantes, muitas municação sem fio (comunicação descentra-
vezes separados geograficamente, acabaram lizada, multiplicação da capacidade de cir-
por estabelecer uma ligação afetuosa e senti- culação de informações em curtos espaços
ram a necessidade de um encontro pessoal. de tempo, rapidez nas rearticulações neces-
O conceito comunidades virtuais, cunhado sárias, etc.) percebemos uma constante co-
pelo autor, caracteriza as comunidades cons- nexão entre o espaço virtual e o físico, pro-
truídas no interior do ciberespaço formada porcionado, principalmente, pelas novas di-
por grupos de discussão e produção de co- nâmicas de acesso e o uso da rede nas metró-
nhecimento temático, capaz de gerar um sen- poles contemporâneas. As tecnologias infor-
timento de familiaridade e companheirismo macionais são “a infra-estrutura que permite
entre os membros do grupo, podendo, inclu- os intercâmbios em tempo real.” (SAÉZ,
sive, ultrapassar os limites da Internet para 2001, p.213) Ou ainda como destaca Santos,
encontros no espaço social geográfico (AN- “à medida que mudam a tecnologia e as as-
TOUN, 2004, p.209). Estando a comuni- pirações humanas,” novas conexões se tor-
cação mediada por computador (CMC) na nam possíveis. (SANTOS, 2001, p.33)
ponta dos dedos de qualquer criança, “as co- Sendo assim, podemos dizer, que o desen-
munidades virtuais transformariam a Inter- volvimento da computação sem fio, “perva-
net em um meio de todos os meios de comu- siva e ubíqua, a partir da popularização dos
nicação cujas mensagens seriam novas for- telefones celulares, das redes de acesso à In-
mas de vida comunitária, o que faria da In- ternet sem fio (Wi-Fi e Wi-Max)4 e das redes
ternet uma mídia para se viver.” (Rheingold caseiras de proximidade com a tecnologia
In: ANTOUN, 2004, p.210). bluetooth”5 (LEMOS, 2004, on-line)6 pro-
Durante a década de 90 vários foram os 4
Wi-Fi e Wi-Max são padrões técnicos da IEEE
debates que surgiram a partir desta concei- para Internet sem fio. Por ondas de rádio (espectro de
tuação. Para tanto apontamos uma pesquisa uso caseiro, como microondas ou telefones sem fio)
empírica realizada entre os anos de 1996 e pode-se criar acesso à Internet sem fio por algumas
1999, por Barry Wellman, onde o autor as- centenas de metros.
5
Bluetooth permite que dados sejam transferidos
2 pelo ar em curtas distâncias, mais usado para conectar
Disponível: <http://www.montclair.edu/pages/ic
s/Oldenburg.html> Acesso: 25 jun.2005 equipamentos caseiros como impressoras, celulares,
3 computadores.
Whole Earth ‘Lectronic Link – WELL – sistema
6
de comunicação simultânea, entre diversas pessoas Disponível em: <http://www.cem.itesm.mx/
espalhadas geograficamente, que permite a troca de dacs/publicaciones/logos/anteriores/n41/alemos.html>.
informações via Internet. (RHEINGOLD, 1993, p.13) Acesso: 19 out. 2004
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Do moderno ao contemporâneo 5
vocam impacto nas práticas sociais, na vi- ternet como nos telefones celulares, “qual-
vência do espaço urbano e na forma de pro- quer um pode produzir, armazenar e fazer
duzir e consumir informação. O ciberespaço circular informação sobre vários formatos e
envolve o espaço físico e as relações estabe- modulações individualmente.” (Castells In:
lecidas entre os indivíduos passam a ser fei- LEMOS,on-line)7 Sendo assim, podemos di-
tas na mesma dimensão da conexão virtual, zer, que o cenário das metrópoles contempo-
a cibercultura entra numa nova época: râneas e o reflexo das práticas comportamen-
tais e discursivas sobre a arquitetura das ci-
A cibercultura solta as amarras e dades refletem um declínio na centralidade
desenvolve-se de forma onipresente, com a desvalorização do antigo recorte, da
fazendo com que não seja mais o usuário antiga repartição das dimensões físicas. (VI-
que se desloca até a rede, mas a rede que RILIO, 1999, p.22) A atual configuração do
passa a envolver os usuários e os objetos espaço e do tempo dá origem a fenômenos
numa conexão generalizada. (ibid.,id., socioculturais complexos que vão refletir di-
on-line) retamente nas nossas referências perceptivas,
cognitivas e políticas.
Na era da conexão móvel a geografia do Esse novo regimento de espacialização
espaço urbano encontra-se essencialmente das experiências sociais e subjetivas, que se
marcada pelo constante fluxo das tecnolo- estrutura em torno do deslocamento e não da
gias informacionais de comunicação (TIC), fixação, nos remete as cidades da cibercul-
gerando fusões mais incisivas e tornando as tura. André Lemos vai nos dizer que a ciber-
barreiras entre as fronteiras casa/ trabalho, cidade: “é a cidade contemporânea e todas
público/ privado, eletrônico/ físico, menos as cidades contemporâneas estão se trans-
nítidas. “A difusão da tecnologia móvel de formando em cibercidades. Podemos enten-
comunicação contribui para expansão do es- der por cibercidades as cidades nas quais as
paço de fluxos e do tempo como estruturas infra-estruturas de telecomunicações e tec-
para nossa vida cotidiana.” (CASTELLS, nologias digitais já é uma realidade.” (LE-
2005, p.238) MOS, 2004b, p.20; GRAHAM, 2002) Trata-
A comunicação móvel promove mudanças se de viver em uma nova cidade, em um novo
na referência do local, o espaço de intera- espaço urbano, espaços globais regidos pelo
ção passa a ser definido no interior dos flu- tempo real, imediato do mundo globalizado.
xos de comunicação. As pessoas estão aqui e Para Manuel Castells a era da informação
lá, lá e aqui, numa constante combinação de está produzindo uma nova forma urbana, a
lugares. Os lugares não desaparecem, mas cidade informacional. A interação entre as
passam a existir como pontos de convergên- novas tecnologias de informação e os proces-
cia das redes de comunicação estabelecida sos atuais de transformação social causam
de acordo com suas necessidades e propó- um grande impacto nas cidades e no espaço.
sitos. (ibid.,id.,p.232) A paisagem comuni-
7
cacional contemporânea é constituída pelo Disponível em: <http://www.facom.ufba.br/cib
erpesquisa/andrelemos/midia_locativa.pdf> Acesso:
que Castells denomina como “mass self com- 20 ago. 2007.
munication”, por estar presente tanto na In-
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6 Mônica Schieck
De um lado, o layout da forma urbana passa mance (flash mob) ou ter um cunho político
por uma grande transformação, mas essa mais engajado (smart mobs).
transformação não segue um padrão único,
universal: apresenta uma variação considerá- As primeiras de caráter mais hedonista,
vel que depende das características dos con- são as flash mobs, mobilizações instan-
textos históricos, territoriais e institucionais. tâneas com o objetivo de enxamear (
Por outro lado, “a ênfase na interatividade swarm) para um lugar e rapidamente se
entre os lugares rompe os padrões espaci- dispersar, criando um efeito de estupe-
ais de comportamento em uma rede fluída de fação no público. As segundas, ativis-
intercâmbios que forma a base para o sur- tas, têm por objetivo mobilizar multidões
gimento de um novo tipo de espaço, o es- com fins de protesto político em praça
paço de fluxos” (CASTELLS, 2003, p.487) pública. (LEMOS, 2004, on-line)8
As cidades contemporâneas podem ser en-
tendidas como estruturas técnico-sociais que 3 Mobilizações Instantâneas
dão suporte para a mobilidade e o fluxo: flu-
xos de pessoas, mercadorias, informação, ca- A onda das flash mobs, que invadiu as princi-
pital, resíduos e significado. “As cidades pais capitais do mundo em 2003, pode ser in-
ficam emaranhadas no que Castells chama terpretada como um fenômeno de brilho pas-
a ‘variável geométrica’ da internacionaliza- sageiro que vem sendo reapropiado ao longo
ção da ‘Sociedade em Rede’.”(GRAHAM, deste período. Em 2006, na cidade de Los
2002, p.01) Angeles, uns amigos homossexuais resolve-
O espaço de fluxos das megacidades ram reinventar a modinha das flash mobs -
(CASTELLS, 2003, p.492) não se opõe ao “um conceito já um pouco ultrapassado -
espaço de lugar, pelo contrário, ele intensi- com a finalidade de abrir a cabeça dos hete-
fica a conexão entre esses dois espaços. As rossexuais e renovar a noite gay na cidade”9 .
ruas, as praças e os monumentos, os lugares No site da “Guerrilha Gay Bar”10 os respon-
antropológicos das cidades (AUGÉ, 2003), sáveis definem o conceito como “uma mes-
passam a ser interfaceados pelo espaço de cla dos antigos flash mobs, com a Revolução
fluxos devido aos diversos dispositivos mó- Francesa e Kylie Minogue ( cantora australi-
veis de comunicação e a mobilidade propor- ana)” e aproveitam para explicar como funci-
cionada por sua utilização (LEMOS, 2005, ona. Uma vez por mês, quase sempre na se-
p.20). Assistimos, assim, na era da conexão, gunda sexta-feira, o grupo se reúne e invade
o experimento de novas práticas sociais que 8
Disponível em: <http://www.cem.itesm.mx/dac
evidenciam essa inter-relação, como é o caso s/publicaciones/logos/anteriores/n41/alemos.html>.
das flash mobs e das smart mobs. Trata-se de Acesso em: 19 out. 2004.
9
agregações sociais que utilizam as tecnolo- Performances Flashmobs voltam com invasões
gias móveis para organizar ações que, muitas gays à festas héteros. Já é moda em Los Angeles. Dis-
ponível: <http://mixbrasil.uol.com.br/mp/upload/noti
vezes, reúnem multidões com a finalidade de cia/3_45_51655.shtml> Acesso em: 24 ago. 2006
realizar um ato conjunto intervindo no coti- 10
Guerrilla Gay Bar, Los Angeles. Disponível:
diano da cidade. Essas práticas podem ter <http://guerrillagaybar.com/> Acesso em: 24 ago
uma finalidade artística, como uma perfor- 2006.
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Do moderno ao contemporâneo 7
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8 Mônica Schieck
tava indo participar”. Entretanto, ao entrar de consumo forçando as pessoas a lidar com
numa dessas grandes lojas “a idéia inicial é o descartável, a novidade e as perspectivas
que você vai comprar algo e quando expres- de obsolescência instantânea, constituindo o
samos qualquer movimento diferente pode que Alvin Toffler classificou como a socie-
parecer que estamos infringindo as regras. dade “do descarte”. (Toffler apud HARVEY,
Como o espaço comercial é quase público, 2007 p. 258) Ou como sugere Serpa, “o im-
pensei que poderia parecer político ir a uma portante é observar a conversão de um pú-
dessas lojas.”12 blico, que outrora fizera uso cultural da ra-
Observando que na sociedade contempo- zão, em um público consumidor de cultura.”
rânea a superficialidade vem se firmando no (SERPA, 2004, p.32)
campo da cultura, apontamos as flash mobs Bill Wasik, o agora identificado editor
como uma possível metáfora desse consumo da revista Harper’s14 e idealizador das flash
cultural. O consumo, desvinculado de seu mobs ocorridas em Nova York, alega que o
aspecto puramente econômico, passa a ser consumo estando vinculado mais a necessi-
regido por uma lógica de significações onde dade de se sentir parte do grupo do que pela
tudo se converte em signo, principalmente qualidade em si, diz:
quanto aos ‘estilos’ e ‘atitudes’. “Aqui em
O que há de novo nos modernos (hips-
Nova York nós estamos sempre em busca da
ters), em oposição as vanguardas de épo-
próxima tendência”13 , declara Bill.
cas anteriores, está em como a Inter-
Estando diante de uma aceleração genera-
net lhes permite convergir sobre produtos
lizada dos tempos de giro de capital, acentu-
culturais quase instantaneamente. E de-
amos que as conseqüências mais importan-
pois – quase tão instantaneamente – per-
tes são a “volatilidade e efemeridade de mo-
cebem que esses produtos arrumam adep-
das, produtos, técnicas de produção, proces-
tos demais e os abandonam. (WASIK,
sos de trabalho, idéias e ideologias, valores
2006, on-line)15
e práticas estabelecidas. A sensação de que
“tudo o que é sólido se desmancha no ar” Em abril deste ano, na estação de me-
raramente foi mais pervasiva.” (HARVEY, trô Victoria em Londres16 , quatro mil pes-
2007, p.258) soas se reuniram para dançar silenciosa-
A experiência cotidiana do indivíduo co- mente cada uma ao som do seu MP3 players
mum encontra-se altamente marcada pelos e iPods. Respondendo ao convite distribuído
mecanismos da aceleração do giro de bens por e-mails e mensagens de textos (SMS)
12
através do site mobileclubbing.com.17 para
Mr. BILL "FLASH MOB". Disponível em:
< http://cordova.asap.um.maine.edu/∼wagora/w- 14
(ibid., id.,)
agora/flashmobster.html>. Acesso em: 29 mar. 15
(ibid., id.,)
2004. 16
4,000 flash mob dancers startle commu-
13
Lembra o ‘flash mob’? Fui eu que inven- ters at Victoria. Disponível em: <http://www.
tei. Fonte: Jornal Folha de São Paulo, Ilus- thisislondon.co.uk/news/article-23391632-details/4,0
trada, publicada em 20 jul. 2006. Disponível: 00+flash+mob+dancers+startle+commuters+at+Victo
<http://www1.folha.uol.com.br/fsp/indices/inde2007 ria/article.do > Acesso: 08 jul. 2007.
2006.htm> 17
Mobileclubbing. Disponível em: <http://www.
mobileclubbing.com> Acesso em: 08 jul. 2007.
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Do moderno ao contemporâneo 9
"dance like you’ve never danced before"a mente em frente ao quartel general do Par-
partir das 18h53min, os mobbers dançaram tido Popular – partido do governo local –
por duas horas ao som de suas trilhas sono- para protestar contra o que eles achavam ser
ras. “Quando você entra na dança fica in- uma falta de transparência na investigação
consciente e esquece que está em uma esta- sobre o bombardeio nos trens. Depois do
ção de metrô”, diz uma participante. A flash ataque, o ministro principal do governo acu-
mob só terminou porque a polícia foi acio- sava o grupo separatista basco ETA18 como
nada para dispersar o grupo. o responsável pelo atentado. Sendo conveni-
Identificamos, neste caso, que o espaço ente para o Partido Popular que o ETA fosse
da estação do metrô, comumente utilizado acusado, a população sente-se enganada e or-
para o embarque e o desembarque de pas- ganiza o protesto em questão de horas utili-
sageiros, foi transformado em outro, ou seja, zando as mensagens de texto (SMS) distri-
num espaço particular onde cada um dançava buídas pelo celular.19
ao som de sua música. “O corpo existe no Não havendo um consenso se a reivindi-
espaço e deve submeter-se à autoridade ou cação foi orquestrada pela oposição através
criar espaços particulares de resistência e da companhia PRISA, proprietária da rádio
liberdade – “heterotopias” – diante de um SER e do jornal El Pais, para desestabili-
mundo de outra maneira repressor.” (HAR- zar o governo dias antes do processo eleito-
VEY, 2007, p.196) Reconhecemos, assim, ral ou se organização foi realmente espon-
que somente através da popularização das tânea20 , evidenciamos que não pretendemos
tecnologias informacionais de comunicação atribuir os efeitos políticos somente à mobi-
foi possível distribuir e fazer circular a infor- lização, no caso a derrota do partido da si-
mação sobre o evento com agilidade. E que tuação, mas concordamos que as tecnologias
a ocupação de um espaço público, mesmo móveis, atualmente, são um importante ins-
tendo como característica principal a diver- trumento de mobilização.
são, ainda é objeto de repressão policial. Na China21 , em junho deste ano, um mi-
Segundo Valentim, esse tipo de “cole- lhão de mensagens de texto (SMS) encami-
tivo inteligente auto-organizável que emer- 18
O ETA (sigla em língua basca para Euzkadi Ta
giu nas cidades e que intensifica ainda mais Azkatasuna, Pátria Basca e Liberdade) luta para for-
um certo potencial politicamente revoluci- mar uma entidade independente no País Basco, região
onário que o ciberespaço já possuía atra- que compreende uma porção do nordeste da Espanha
vés das comunidades virtuais” (VALEN- e uma pequena parte do sudoeste da França.
19
A 21st-century protest. Disponível: <http://
TIM, 2005, p.235), demonstra a capacidade
www.guardian.co.uk/print/0,3858,4886990-110837,0
das pessoas em agir de forma competente 0.html> Acesso: 22 set. 2004.
e coordenada conforme interesses comuns. 20
Were Spanish Smart Mobs Spontaneous? Dis-
Despontando de um posicionamento polí- ponível: <http://www.smartmobs.com/archive/
tico, as smart mobs, ganharam notoriedade 2004/09/17/iv_were_spanish....html>. Acesso: 10
mar. 2005.
depois da explosão de uma bomba dentro 21
Thousands protest against chemical plant in
do metrô na Estação de Atocha em Madri, China. Disponível: <http://www.reuters.com/artic
no mês de março de 2004, quando mais de le/environmentNews/idUSPEK3416020070601?page
cinco mil pessoas reuniram-se espontanea- Number=1> Acesso: 10 jun. 2007.
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10 Mônica Schieck
nhadas por cidadãos ao governo local de Xi- uma resposta a decisão do governo de isolar
amen, na Província de Fujian, acabaram por seus líderes.24 Aqui uma pergunta se faz per-
convencer ao governo a suspender a constru- tinente: os ataques inesperados que culmina-
ção de uma fábrica química altamente polui- ram em depredações a instituições públicas,
dora. Desencadeada por um grupo de oposi- ônibus incendiados, na execução de policiais
tores a instalação da fábrica de paraxileno22 , e agentes carcerários, podem ser percebidos
a campanha distribuiu mensagens alegando como uma smart mob? Howard Rheingold,
que a fábrica era “uma bomba atômica em tido como um entusiasta em relação às novas
potencial” além de estar situada a apenas tecnologias, mostra-se cauteloso ao afirmar
sete quilômetros do centro da cidade, perto que “é provável que surjam efeitos contra-
de áreas residenciais e centros de educação. ditórios e simultâneos: pessoas podem ga-
Manifestantes utilizando máscaras antigás e nhar novos poderes ao mesmo tempo que
segurando faixas seguiram em protesto até a nós podemos perder nossas antigas liberda-
sede do governo na cidade para exigir a re- des.” (RHEINGOLD, 2002, p. 13) Mas
núncia do Secretário do Partido Comunista. sem perder totalmente o entusiasmo, acres-
As autoridades locais reconheceram a impor- centa: “quando juntamos diferentes peças
tância da manifestação e em seguida anunci- de componentes tecnológicos, econômicos e
aram a criação de um departamento policial sociais, o resultado é uma infra-estrutura
somente para vigiar as comunicações móveis que possibilita determinados tipos de práti-
e o acesso a Internet através de uma longa cas sociais que não seriam possíveis antes”.
lista de palavras que, ao surgirem numa men- (ibid., id., p.12)
sagem de texto, deverá bloquear seu envio.23 Sendo assim, ao observarmos o caráter
Observando uma outra possibilidade de inovador de tais fenômenos argumentamos
articulação, identificamos os ataques em di- que as mobs estão sendo capazes de reu-
versos pontos da cidade de São Paulo em nir um considerável número de pessoas que
maio 2006, como uma mobilização acionada utilizam as novas tecnologias como instru-
do interior da penitenciária de Araraquara mento para sua organização. A participa-
por sistemas eletrônicos móveis. Os ataques ção em uma flash mob ou em uma smart
pulverizados, considerados os maiores con- mob poderia estar contribuindo para mudan-
tra a força de segurança no Estado, foram ças cognitivas futuras? Se pensarmos que as
atribuídos aos líderes da facção criminosa tecnologias de comunicação são peças fun-
PCC (Primeiro Comando da Capital), como damentais em todo processo de desenvolvi-
22
mento da humanidade, podemos conjeturar
Produto petroquímico utilizado na fabricação de
poliéster e garrafas PET. O composto é um cancerí- que um novo comportamento sociocultural
geno em potencial se entra em contato com humanos. está emergindo dessa nova relação homem/
(Informação disponível na referida matéria.) novas tecnologias.
23
O SMS como arma da oposição ao mo-
24
nopólio do poder na China. Disponível: Entenda a onda de violência em SP. Disponível
<http://dn.sapo.pt/2007/06/13/internacional/o_como_ em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidia
arma_oposicao_monopolio_poder.html>. Acesso no/ult95u121459.shtml>. Acesso em: 20 maio 2006.
em: 15 jun. 2007.
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