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Dli,Dli,Dli,Dli,Dli

Tocava a sineta para a ceia... E a malta corria habitualmente


famulenta como fossem perder a ultima refeição das suas vidas.

Ensonados reclamavam:

- Xé! Porra vai bater com esse mambo do terço.

- OH! É sempre igual que já nem sei se digo:

Nome do pai do filho e espirito santo


ou
Espirito santo filho dum caralho.

- Pssss! tão! Não gozes que isso é pecado! Depois vais para o
inferno!

Em tom popular que mais parecia a brejeirice da Beatriz Costa. –


Xancanxé - Cortou:

- As vossas cabeças é que vão para o inferno com o pecado do meu


punho se não se calam! É sempre a mesma coisa... Nunca aprendem a
comportar-se! Ponham-se sossegados que Sr. Júlio César quer dar uma
palavrinha!

Pê Júlio pôs-se no meio do Refeitório e disse:

- Ora bem; chegou-me aos ouvidos que a malta não quer participar no
grupo desportivo; que anda a faltar aos treinos sem justificação! Cá
entre nós, sabemos muito bem, que o Sr. Alberto Cappello têm vindo
ao longo destes anos, disponibilizar-se para ser vosso mentor no
desporto de espirito voluntário e gratuito! Seus intuitos são de
amor e caridade à causa dos mais desfavorecidos; DESFAVORECIDOS QUE
SÃO VOCÊS! É uma tremenda ausência de consideração para com ele e
para com a sua família! Mas também é uma tremendíssima falha de
consciência das coisas, principalmente quando vem cá; POR e PARA
vocês! Isso não pode ser aceito cá em casa! Nem o vamos! Não andamos
a parir nem a doutrinar filhos infecundos! Portanto; ficamos assim
combinados: SE ALGUÉM não for aos treinos, não pega em nenhuma bola
cá em casa! Nem futebolada na Adega nem nada! Quem eu vir a jogar,
sem ser nos treinos; faz as malas e vai à sua vidinha! As regras são
para cumprir e ponto final! Aproveitemos esta ocasião para rezar;
pedindo ao senhor a sua razão para que possa ser nossa nestas horas
de insensatez e rebeldia.

A Farrapada permanecera atrapalhada; como se as suas consciências


tivessem sido gregadas pelas vesgas e chocado na cadência do ar,
acabando por serem afogadas por uma estúpida alucinação.

Xancanxé meio incrédulo em tom congestionado. – Disse:

- Ponham-se direitos! Nome do Pai do filho e do espirito santo!

A Farrapada sentou-se. Depois alguém dispôs da voz e imperou:

- MISTÉRIOS GOZOSOS

Primeiro Mistério meditemos:

A Anunciação do Anjo a Nossa Senhora e a encarnação do verbo!

A farrapada sublevada; a evaporar foices e martelos pelos tímpanos,


decompôs a voz em dois tons:

Uns pediram força a deus e rezaram:

- Ave Maria cheia de graça

Rogue por nós pecadores,

Agora e para sempre amém.

Outros convocaram entre eles a força e a justiça dos homens.

- Filho da puta! Este cabeça de porco só quer estragar a nossa vida!

- Mesmo mano! Temos que fazer atentado! É a nossa única solução.

- Tou a Cagar bem nele! Eu amanhã estou no campo para jogar!

- Mesmo pessoal! Temos que fazer revolução!

- Hoje temos que nos encontrar a seguir da janta! Para discutir os


atentados...

- Ah! Vai haver atentado!

- Se o pessoal não se for cortes! Sim!

- Mas não deem cana!

- Então fazemos o atentando e amanhã vamos jogar bola para cagar


fortemente na cara dele?

- Claro! Unidos jamais somos vencidos...

- Na hora é só Cagufa! É sempre a mesma cena!...


De repente Pe. Júlio César arregaçou a voz e disse:

-Quem é que está a cochichar? Alguma coisa queira ser dita que seja
dita; em alto e em bom som! Para que toda gente possa ouvir! Já que
somos uma Família, e nas Famílias não há segredos! Ora vamos lá ver
então a brincadeira! Não quero voltar a ouvir interferências!...

A Farrapada respondeu entre eles num tom minimalista:

- Tu nem sabes o que te espera oh padreco!

- Quando levares granada de cagalhoto na testa; vais pedir auxilio a


Deus.

- Hehhehhe! Mesmo! Vamos calcetar aquelas beiças com paralelo! Já


que a fronha dele mais parece a estrada nacional!

O Anoitecer estava; tenebroso, homicida, oportuno para festalizar


delito. Ruídos surdos exorbitavam dele, a fruir; projetavam-se no
ar, ansiosos para esfaquearem ouvidos. A Farrapada já se deparava na
lixeira. Mancha Negra; Herbolazz Farrapense arremessou a voz numa
oratória revolucionaria:

- Pessoal?! Não podemos admitir estas merdas! Temos sofrido com as


paranoias dos padres aos longos dos anos! Sabemos bem o quanto temos
aguentado para mantermos as nossas vidas nos eixos! Por isso; não
podemos tolerar este tipo de estupidez! Aliás! Isto é o CUMULO DA
ESTUPIDEZ. Sempre participamos nas atividades desportivas de livre e
espontânea vontade! Nunca fomos obrigados a nada! Não era agora que
íamos ser! Não podemos deixar passar. Há um limite do aceitável!
Pessoal?! Temos que ser sérios, francos, e decididos pela causa!
Isto só será possível se toda gente for unida; não há espaço para
chibatas nem covardolas! São as nossas vidas que estão em perigo! É
agora ou nunca! Ele tem que pagar! E vai pagar! Por que senão; a
vida vai ficar cada vez pior e pior! Até não restar ninguém na casa;
só restará as camas vazias como rodapé da nossa inexistência.

A Farrapada com paus inclinados que mais pareciam foices; e as caras


tingidas de Cheguevaras juvenis manifestaram-se em chinfrins
gasolinados:

- Contêm comigo caralho!

- Comigo também!

- Vamos partir com esse mambo meu cota!


- Eu também!

- Vamos dar uma lição a esse bosta!

- Eu vou mandar paralelo na cabeça!

- Oh com aquela cabeça que mais parece um autocarro duvido muito que
faça algum estrago! Hehehehe!

- Mesmo assim vou mandar paralelo nem que seja para ver qual é o
mais forte!

- Já tenho alguns sacos para colocar cagalhoto!

- Temos que arranjar mais coisas fedorentas! Esse cabeça de porco


tem que passar pelo mal que nos fez passar!

- Ei! Pessoal?! O Mancha Negra quer dar as coordenadas a seguir.

Mancha Negra assumiu o peito valente e imperou:

- Malta; É o seguinte; eu sei que toda a malta quer participar no


ataque, mas temos que ser inteligentes; metade da malta tem que ir
para as suas casas para não dar estrilho nenhum, nem causar
desconfiança que estamos a tramar tramoia! Enquanto que a outra
metade fica aqui para eu atribuir a cada um o seu papel na intifada!
Não há margem para erros!! Combinado malta?

- Sim Mancha Negra! – Respondeu a Farrapada eufórica.

Em sacrifício pela causa, a Farrapada dividiu-se em dois; e uns


romperam-se com os punhos cerrados e a idealizar explosões. Os
outros permaneceram com os bustos inchados a expelir arrojo para
fora; preparadíssimos para darem a febra e a alma ao manifesto.

Mancha Negra agrupou a malta para perto dele; umas dúzias de


farrapos atrelaram-se a ele como munição apetecida. Mancha Negra
pegou num rolo de fita preta; enxertou-a, e de seguida embalou a
face de cada farrapo para que não fossem desmascarados durante o
ato. A farrapada maquilhada como fuzileiros da noite pegara no
armamento; paus, pedras, pedaços de ferro, cagalhoto de fragrâncias
antipáticas e sabores antisociais fruta podre e outras substâncias
ocultas ainda por descobrir pelos arqueólogos.

Mancha Negra mirou com penetração para a farrapada e disse:

- Agora temos que esperar e esperar para quando a aldeia estiver em


silencio atuarmos!

Impacientes a Farrapada nem conseguiu cerrar as pestanas; a


adrenalina exumava-se pelos olhos da pequenada como juramento de
revolução.
...

A Aldeia inquietara-se; os berros mastigados da farrapada eram


suprimidos pelos ronronares do sono diluído. A obscuridade receosa
impunha-se colonizando as ruas e avenidas da Casa dos Farrapos
Condenados da Terra; dela, só se acudia os preliminares dos insetos
noturnos; a encabar algazarras inusitadas. Mancha negra em modo
soldado abriu sinal para a farrapada penetrar; e a farrapada
penetrou em toque subtil de gato precavido, a rastejar, e sem
barulho, rasgaram, dominando pelados e alamedas de alcatrão, sempre
ritmados e em constante silencio. Olharam em frente; viram claridade
a mergulhar dos vidros do escritório do Pe. Júlio César. A luz
beliscava seus rostos cobertos e camuflados, como fosse iluminação
de Deus a entrar pelas suas faces. Entretanto alguém deu aviso que
estava tudo apto para perpetuar o ataque. Mancha Negra, cada vez
mais cauteloso mandou a farrapada avançar, e a farrapada avançou;
lentamente desperta, para apavorar, completamente desperta, para
atacar. A Pequenada já estava por debaixo da varanda do escritório
de Pe. Júlio César. Mancha Negra mandou a farrapada olhar para os
dedos dele, quando ele fechasse a mão; era o gesto para assaltar com
tudo e mais alguma coisa...Antes de dar o toque difusivo, Mancha
Negra foi ter com cada pequeno revolucionário para avaliar se
permaneciam aptos para o embate. Analisou as caras Farcianas; tirou
notas, extraiu diagnósticos, e, confirmou os estados de alma e de
espirito da pequenada. A Farrapada estava pronta para estourar
justiça. Avançou e em modo silencioso disse:

4, 3, 2,1 AGORA!- E fechou as mãos.

A Farrapada mal escutou a anorexia da contagem; disparou com toda a


bravura a investida revolucionária, e em milésimos de segundo, as
munições Farrapenses, desatrelaram das suas mãos; as pedras, os
cagalhotos, as substâncias não identificáveis; uma espécie de pizza
insurreta fluiu no ar; voou e voou com tanta pujança, que detonou
vidro atrás de vidro do escritório, como fosse mesmo arremesso
bombista, encomenda da butique Talibã. Do interior do escritório
ouviram-se berros; disconectos e descuidados, cujos alaridos deram a
entender o sucesso do atentado. Cá fora, a farrapada havia
desaparecido; apagou-se tão rápido que nem o eco duma gargalhada
ficou para fazer de roteiro. Quando Pe. Júlio César saiu da varanda;
a sua cara confirmara in loco o sucesso das operações, pois, viu-se
na testa dele, alguns detritos de cagalhoto a marinar. Ele furioso,
a espumar raiva por todos os poros; repetiu vezes sem conta:

- SEUS INSURRECTOS! EU VOU SABER QUEM FOI! SEUS INSURRETOS FILHOS DO


DIABO! FILHOS INGRATOS! VÂNDALOS! SEUS MARGINAIS É O QUE SÃO! VÃO ME
PAGAR CARO! ISSO É QUE VÃO! NÃO ESPERAM PELA DEMORA!

A Farrapada revolucionaria da lixeira, havia se dispersado há


tempos do local do crime, seus ouvidos junto com o resto dos seus
corpos, decaíram cada um em suas camas; fecharam as pestanas, e, com
glamour, ensonaram-se vitoriosos; replenos de gargalhada.

...

De manhã a farrapada nem se preocupou com Dli, Dli, Dli, da sineta;


despertaram bem cedinho com as caras lavadinhas de remelas,
impacientes por ver o sucesso do ataque sob a claridade do dia.
Xancaxé deu sinal para entrar; e o pessoal entrou a vocalizar
prefácios silenciosos; uns atrás de outros rindo-se de esguelha da
cara do Pe. Júlio César que segundo as feições, sofrera algumas
obras de ultimo recurso. Antes de Xancaxé tomar partido da reza, Pe.
Júlio César chegou-se à frente e disse:

- Pois bem! Não sei se a comunidade sabe, mas ontem houve uns
espertinhos que puseram-se a lançar objetos para o meus escritório;
partiram vidros estragaram coisas de grande valor sentimental e
espiritual! Uma grande desastrada! Estes comportamentos não são
comportamentos de filhos do senhor! São obras do DIABO! E como tal
não podemos tolerar filhos do DIABO cá em casa; nem podemos admitir
em qualquer circunstancia este tipo de comportamento! Infelizmente
não sabemos quem eles são, porque o diabo é matreiro e os seus
filhos também se escondem por detrás dos justos e dos inocentes. E
com tal, sabemos que o diabo não se irá revelar perante a
comunidade. Portanto, e em prol da pureza da nossa família toda a
farrapada irá ficar sem a bola até que eu me esqueça do assunto! E
logo eu; que tenho uma boa memória! Pode ser que os diabinhos se
cansem e se manifestem! Quem eu encontrar a jogar à bola, vou
entender como filho do diabo, e por isso, irá a sua vidinha! Rua com
o demônio! Isto até vem a calhar, pois sabemos que esta empreitada
desrespeitosa nasceu porque eu havia impedido de jogarem à bola fora
do grupo desportivo. Reflitam muito bem sobre vossas vidas! Por que
ainda há tempo de mudarem de equipa! Para Deus, são todos titulares
no seu coração!

A Farrapada Invaporizados de vapores indignantes. – Retorquiu:

- Ei eu estava a dormir!

- Essa é que é boa! Vamos ver então!

- Tá a precisar de outro! Mas com mais intensidade!

- Não quero saber! Vou jogar!

-Pessoal! Vamos todos para o campo a seguir da refeição!

- Mas é mesmo para ir pessoal!

- Quem se cortar! Saberemos logo que é do mercado de chibos!


- As vidas são nossas! Somos nós é que não temos ninguém! Esse
padreco tem tudo e mais alguma coisa! Ainda vem para aqui estragar
as nossas vidas!

- Pois é mesmo verdade mano!

- Para esse Padrocas; se isto acabar ele vai fazer filme pornô para
a paróquia!

- AhAhAh! A revolução é hoje, e agora! Malta!

- Mas eu nem culpa tenho disso! Estava a chonar uma beca que nem
patinho! E agora vou pagar por vocês! Fogo! Ganda lata!

- Cala-te oh chibata do caralho! Vesse logo que és dos dele! Espera


até que a tua vez chegar! Com ele ninguém escapa!... Diz NÃO! E VAIS
VER O QUE É BOM! DEPOIS DIZ QUE NÃO AVISAMOS NABIXA DUM RAIO!

- Mas eu não tou a dizer isso! Eu só estou a dizer que não tenho
culpa! Nem nada! Estava no meu canto!

- oh seu Nabixo? Mas tu não sabes que somos uma família que temos de
estar pelos justos e pelos injustos! Amanhã podes ser tu a precisar
duma mão porque ele te mandou embora!

- Oh! Não preciso nada disso! Estou sempre no meu canto!

- Estás é no colo dele é o que tu queres dizer!

- Cala-te mazé!

- Tás a mandar calar quem pá! Mando-te uma rotativa que ficas a
procurar os dentes pelo refeitório!

- Cheira a força!

- A seguir falamos então! Quero ver se tens paleio lá fora!

- OH MEU GRANDE CROMO? Quando precisares do pessoal! Bamos-te mandar


à merda! Mesmo à merdinha; para provares o sabor da merda de Farrapo
que és!

- Ei! Malta! Deixem para lá isso! Não podemos convencer todos à


nossa causa! É tempo perdido! É sempre assim há sempre cortes e
chibatas!

- Mesmo Manolo! Temos sorte que a maioria não pode com ele nem a
feijões!

- Também com paranoias deste tipo; só um masoquista é que podia


gostar!

- Que psicopata!
- Psicopata do caralho!

Revoltadíssima, a farrapada comeu tão rápido que nem pensara na


comida durante o ato. Xancaxé deu os habituais sinais de reza e a
farrapada rezou, a verter raiva, prontíssimos para a revolução.

...

No campo nem a frieza antipática da matina descomungava a farrapada


de se vestir a rigor; expunham tanto estilo nas canetas que se
assemelhava a uma rendição do mundial de 66. Bárbaros no vestir; a
farrapada punha-se a fazer espadachim de olhares uns contra os
outros tentando avaliar quem detinha as melhores indumentárias. Uns
mais ecológicos calçavam chuteiras (Made em Third mundo) adidas de
pau de de caravela mil e troca o passo. Outros calçavam chuteiras
sem serviço de atacadores, para que em caso de finalização, o
goleiro desfrutasse dum remate dois em um. Claro, também havia
aqueles que calçavam chuteiras com uns preguinhos à frente, cujo
desígnio era furar a bola caso estivessem a arruinarem-se no
marcador. Mancha Negra era o capitão da equipa; ele, de astúcia
Guerrilheira antecipara-se para dar rosto à revolução. No campo; nem
toda a farrapada aderira à insurreição. Presenciaram-se pelo menos
uns quarenta e pouco rapazes. Especado no meio do pelado, Mancha
Negra chamou o pessoal para se juntar a ele, mandou-os fazer um
circulo e disse:

- Pessoal! Este é um dia como os outros! Vamos jogar à bola como


sempre jogamos; cheios de alegria, cheios de garra!

- Sim! Vamos começar a jogatana!

- Vou fazer um golo à José Manuel Pepe!

- Oh! Quem é esse Matreco?

- Matreco! Quem te dera jogar como ele!

- Vou dar um samba à Garrincha!

- Eu sou mais o mestre Zico!

-oh!oh!oh! E o grande Beckenbauer

- Só se fores o bembebauar dos paraolímpicos!

- AHAHAHA! Vamos mazé jogar que o Maradona vai dar espetáculo!

- Que?! Tu?! Maradona

- Claro! Já devias saber que sim!

- Oh meu amigo! Vai lavar a fronha! Não queremos aqui


toxicodependentes com tiques de jogadores!
- Ahahahahah! Então mais respeito pelo Maestro!

- Maestro é o grande Pelé. Ele é o Tom Jobim do futebol

É uma bola, é um pé, é um fim do caminho.


É um resto de goleiro, um pouco sozinho.
É um caco de canela, é a ferida, é o amor do futebol.
De dia ou de noite, Pelé é o laço, é o anzol de todo futebol!

- OUUUUU! PARA!PARA!PARA! Não insultes o Jobim! Que inventada é essa


pá!

- É PELE E JOBIM BRINCANDO!

- Oh deixa lá isso! Cada macaco no seu galho!

- Então farrapada?! É PARA JOGAR OU QUÊ!

- Bora lá começar a futebolada!

Dada à licença para a abertura da partida; a farrapada


insubordinaria com as chuteiras apavoradas por fiscalização
dentária, e com as vistas almejadas de jovialidade, desamarraram as
canetas das amarras do aquecimento e como touros à La espanhola,
correram, e, lavraram o pelado desnudo, num tresloucado
autoflagelamento, sempre atrás da bola com uma empolada dedicação;
que as suas pernas esquartejadas de ferimentos mais pareciam ateliês
de cubismo de canelada. E a Farrapada; cientes da punição que
estavam subordinados, cerraram as portadas da alma, inteiramente
submersos, inteiramente a cagarem para os delírios do mundo. Seus
íntimos estavam como o Green disse algures:

- “Uma sensação que podia dizer-se quase de horror apossou-se dele ao olhar
para os vestidos de cassa banca, que lembrava lhe o cheiro a incenso das
igrejas na sua meninice, as velas, os rendados, e o sentimento de
suficiência, as imensas exigências feitas nos degraus do altar por homens
que não sabiam o que era sacrifício. Os velhos campônios ajoelhavam-se ali
perante as imagens sagradas, de braços abertos na posição da cruz; cansados
pelo longo dia de trabalho nas plantações, procuravam nova mortificação. E
o padre vinha com o saco das esmolas, tirando-lhes os centavos, intrujando-
os por causas de pecados insignificantes e consoladores, nada sacrificando
em troca”.

E a farrapada continuara a derrapar, e a derrapar, bola e alegria,


como estivessem mesmo viver o mundial de futebol. No campo a
farrapada ainda desprezava suores pela bola, quando num intervalo de
olho, olhou para a encosta; e viu um homem de andar apressado, a
diluir agitações com a cabeça e a triturar ardores como comboio
raivoso em direção a eles.

Alguém tomou a voz e disse:

- Pessoal! Olhem; É o Cabeça de Porco!


A farrapada. - Retorquiu:

- Agora é que vai ser! Revolução pessoal!

- Mantenham-se calmos... Deixem esse panaca falar...

- Saco-lhe a cabeça mazé; ficamos já com bola suplente para a


segunda parte!

- Fogo! O gajo está mesmo vermelho parece um colhão inchado!

Pe. Júlio César com o corpo a tremer de furor. – Gritou:

- O QUE É QUE OS MENINOS ESTÃO AQUI A FAZER? NÃO OUVIRAM QUE EU


DISSE ONTEM?

Alguém respondeu:

- Não! Não ouvimos!

Pe. Júlio César a vomitar cólera pelas beiças, furiosíssimo. –


Imperou:

- AI NÃO? ORA MUITO BEM! FAÇAM AS VOSSAS MALINHAS, E IDE A VOSSA


VIDINHA.

A farrapada estupefata respondeu em uníssono:

- Vai mandar rapazes para a rua por causa da bola?

- Você é ridículo!

- Ridículos são vocês!!! – Respondeu ele em tom vitorioso.

O pessoal empapado de insurreição, a entornar ódio por todos os


poros disparou vorazmente:

- ISTO NÃO VAI FICAR ASSIM!

- VOCÊ NEM SABE O QUE ESPERA!

- AINDA DIZ QUE É PAI DOS RAPAZES DA RUA

- PAI UMA OVA! UM ADMINISTRADOR!

- FOGO! EU NÃO ME ACREDITO NISTO! ISTO É O CÚMULO! MANDAR RAPAZES


PARA RUA COMO CAPRICHO

- EU NÃO TENHO NADA A PERDER! MANDO-LHE UMA COÇA JÁ DE SEGUIDA!

- CALMA TEMOS QUE SER MAIS ESPERTOS!

- ESPERTOS? A NOSSA ESPERTEZA TROUXE-NOS A RUA!

- ELES NÃO GOSTAM DE QUEM OS DESAFIA!


- POIS NÃO!

- MAS DESTA VEZ NÃO FICA ASSIM

- XÉ, MEU COTA! NUNCA VI UM MAMBO DESSES!

- AUÁ! ESTE MATUMBO NÃO KOBRIKA!

- A Mim nunca me enganou! Ao tempo que ele queria nos despachar! Ele
quer desinfetar a casa para colocar só rapazes que ele gosta e não
lhe questionam!

- MAS QUE LATA! NÃO VIEMOS PARA AQUI PARA AGRADAR PADRES VIEMOS PARA
TRANSFORMAR AS NOSSAS VIDAS!

Pe. Júlio César; virou as costas, e partiu como se nada fosse, como
gato preto a passear na rua totalmente alheio.

Mancha Negra, furiosos e a dispersar incompreensões, imperou a voz


num desafogo insurgente:

- Malta! Isto não pode ficar assim! Pessoal! Temos que defender as
nossas vidas! Não viemos da rua para ir para rua... Aos anos que ele
tem feito isto e ninguém diz nada! Nem se revolta! Não pode ser!
Temos o direito de defender e lutar pela nossa vida e pelas vidas
que ainda não chegaram! Pois, se a casa continuar com este tipo de
educação não durará muito tempo! E a casa é nossa; dos rapazes! Sem
ela; eles nem existiam! Pessoal! Lembrem-se bem do que o grande
Santo Jesus Aguiar disse: “Lembrem-se e compreendam que o objeto principal e
total da obra é o rapaz, ao qual de maneira nenhuma podem sobrepor questões de
ordem secundária; eles são o fruto da obra, nunca a expulsão do rapaz seja
praticada, pois os pais de família não mandam os filhos embora. De resto a
experiência ensina que o rapaz da rua se elimina por si mesmo, quando lhe falta a
capacidade moral de suportar o clima da obra”.

Malta! Prestem atenção; faremos o seguinte: vamos todos lá para


baixo fazer greve de fome até ele nos aceitar de volta.

A Farrapada respondeu energética e obstinada:

- Sim! Bora lá para baixo fazer a dieta das nossas vidas

- Esse gajo nem sabe com que se meteu... Somos farrapos da rua! Com
a coragem da rua!

A Farrapada nem se deu ao trabalho de tomar banho; partiu suja e


suada para o portão da Casa dos Farrapos Condenados da Terra.
Quando chegaram ao portão; Mancha Negra mandou a farrapada encostar-
se ao murro. Depois pediu a um dos farrapos para escrever num cartão
velho o seguinte:

“Fomos expulsos da nossa casa por causa de estarmos a jogar bola nas
nossas horas livres. Não temos família nem outra casa, nem comida. Estamos
a fazer greve de fome até sermos admitidos, se tivermos que morrer que
assim o seja, pois, não temos nada a perder”.

Assinado: OS FARRAPOS

Entretanto, algum pombo correio voou até ao escritório do Pe. Júlio


César para trespassar o conhecimento da greve.

Com ar despreocupado e entontecido. – Disse:

- Ai eles estão a fazer greve de fome? Ahahahah? Não estou nada


preocupado; daqui a nada se cansam! Eles que continuem lá que já não
fazem parte desta família! As ordens são para ser cumpridas. Só
assim é que nos entendemos!

No mesmo fluxo de informação outro pombo correio, voou também, só


que noutra direção, mudou as coordenadas em direção ao apeadeiro de
Pe. Carlos Salazar. Ele recebeu a notícia, remoeu-a e com certa
azia. – Lamentou:

- Asério que isso está a acontecer na nossa família? Ora bola!!!


Que chatice dos diabos!!! Podiam me ter avisado atempadamente!
Talvez pudesse amasiar a situação. Agora nada posso fazer! Como
sabem; ou deviam saber, não posso contradizer uma decisão de outro
apóstolo de Deus! Eles vão ter que se virar! Não sei como; mas
vão...

Na porta da Casa dos Farrapos Condenados da Terra; a Farrapada,


espalmada pelo ardor tropical do asfalto; amontanharam-se uns em
cima dos outros, com as carinhas a mudarem de tom, tipo camaleão, e
com as bocas a tricotear alguns sorrisos por cima de corpinhos a
emagrecerem de suculência anêmica. A Farrapada fraca e pensativa
idealizava o tombar das delicias da gastronomia Farrapense, a caírem
nas suas boquinhas meigas e acolhedoras. Como lhes caia bem aqueles;
iogurtes de matizes esverdeadas a solicitarem por missa do sétimo de
dia, urgentemente. Aquele pão pedregulho, astro fundamental na
construção do convento de Mafra. Mas o que eles mais cobiçavam era o
leitinho lírico e multicolor do estrondoso Kandinsky, desmamado das
tetas das dornas. E sem darem por ela, as imagens doces
desapareciam, e nas suas cabeças surgiam, as suas vidas a serem
minimizadas pelo despotismo desenfreado do Pe. Júlio César, e de
repente, essas imagens ganhavam pujança, incorporavam-se neles como
soro alimentar, dando-lhes mais força, para continuar e continuar,
imaginando, e lutando pelas suas próprias vidas.
De repente, as pessoas em volta e meias começaram a surgir,
indignadas, perguntavam:

- O que é que os meninos estão aqui a fazer ao relento?

Alguém retorquiu:

- A Lutar pelas nossas vidas minha senhora! O Padre expulsou-nos!


Não temos onde ficar! Nem temos comida!

- Que vergonha! Ainda dizem que são servos do senhor! Uns aldrabões
de primeira!

- Oh meus filhos... se não tivesse filhos eu adotava-vos!...

- Isto não pode acontecer! É uma vergonha nunca mais vou contribuir!
A partir de agora darei os meus donativos a vocês; na primeira
pessoa!

- Lutem meus filhos! Continuem a lutar que daqui a nada eles mudam
de ideias.

As caricias solidárias das pessoas enternecia lhes a alma, e a


farrapada ali, sentada, a tremer, a derreter, a morrer... Ao escutar
o toque solidário das pessoas, sentiram-se mais rejuvenescidos, mais
capazes para suportarem a orfandade do alcatrão.

Entretanto dentro da Casa dos Farrapos Condenados da Terra Pe.


Júlio César chamara Xancaxé:

- Xancaxé vai lá ver o que se passa que esta historia já está a


passar dos limites! Convence-lhes que aceito de volta que me pedir
desculpas! Não precisam de se sacrificar por algumas maçãs do diabo!

- Sim senhor Padre! – Respondeu Xancaxé.

Perto do Portão, Xancaxé elevou a voz e disse:

- Pessoal! É o seguinte; eu entendo a vossa causa, mas quem fica a


perder são vocês; as vossas vidas valem mais que do que isto que
estão a fazer! Tenham juízo e ide lá falar com o Senhor Padre!

A Farrapada revoltada. – Respondeu:

- Esse merdas, mandou-nos embora; ele que venha aqui pedir desculpa
a nós!

- Cobarde não tem coragem!

- Peso na consciência! Doi muito.

- Ele que se desenmerde!

- vamos ficar aqui! Até morrer


- Ele queria guerra! Agora vai tê-la

- Não pensou que éramos vidas humanas na altura; agora vai ter que
repensar no que fez...

Xancaxé entontecido por não conseguir dissuadir a farrapada. –


Disse:

- Malta? Voçês é que sabem, mas ele disse que quem quiser pode
voltar só têm é que pedir-lhe perdão.

A Farrapada enervada. - Barafustou:

- AHAHAHHAHA! Que grande lata! Então o gajo manda-nos para a rua e


depois quer que peçamos desculpa!

- Que grande sádico! Só pode!

- Vai ter uma sorte do caralho!

- Eu não peço desculpa!

- Nem eu!

- Ninguém pede pá! Somos espíritos dormentes ou quê!

- Ele que peça desculpa a deus por ter nascido!

Xancaxé de cabis baixo. – Lamentou:

- Façam como quiserem... Já ditei as condições! Não há volta a dar!

Junto da porta da Casa dos Farrapos Condenados da Terra, o volume de


pessoas aumentava; ganhavam cada vez mais força. As famílias
começaram a juntar-se envolta da farrapada, abriam os corações e os
farnéis, tentando convencer a farrapada a comer as palavras
solidárias, e os farnéis deliciosos. Seduzidos; alguns acabavam por
ceder um punho atrevido; e beliscavam os farnéis e as palavras
bondosas, sem nunca desapegarem, do chão nem dos seus companheiros
grevistas.

Nesse vaivém de pessoas; aparecera a policia no local. Um homem de


andar sonolento e cara donutiana. – Perguntou:

- Então! Rapaziada? O que se passa aqui!

A Farrapada. - Respondeu:

- O padre mandou-nos embora! Tamos a fazer greve de fome até nos


aceitar!

- Não temos para onde ir! Vamos ficar aqui até morrer!
O Policia meio confuso! – Perguntou:

- Mas porquê que vos mandou embora!

- Olha! Porque tavamos a jogar à bola nas nossas horas livres!

- Mas isso não tem muito sentido! – Respondeu o policia cada vez
mais confuso.

- Mas existe algum sentido na cabeça daquele padroca!

- Mesmo pá o gajo é bué malaico!

- Lá pro fermento de fariseu!

- Tenham calma rapaziada!- Respondeu o Policia

Ainda acrescentou:

- Eu vou lá em cima falar com ele para ver se resolvemos esta


situação.

- Oh! Vai perder o seu tempo!

- Esperem um bocado que eu volto já! Tudo se resolve com bom senso!
- Respondeu o Policia.

O policia entrou na Casa dos Farrapos Condenados da Terra, rasgou a


estrada com rapidez até ao escritório de Pe. Júlio César.

Puc, Puc, Puc,! - Posso entrar Senhor Abade!

- Pode Senhor Guarda! Em que lhe posso ser útil!

- Pois; É o seguinte Senhor abade; Passei pelo vosso portão e lá


fora está um volume grande de rapazes a fazerem greve de fome por
que o senhor os expulsou!

- Ah?! Isso! Até já me havia esquecido...! Em relação a isso nada


posso lhe dizer senhor guarda! Já foram avisados que podem voltar;
só tem é que pedir desculpa à comunidade pelo espetáculo que estão a
fazer! São eles que não querem voltar! São orgulhos duma figa! E nós
dois cá sabemos que o orgulho é o pior veneno do mundo! Mandei o
chefe falar com eles, mas nada mudou, não querem ouvir nada nem
ninguém, só o diabo! E, portanto, nada posso fazer!

O policia ficara ainda mais confuso do que o inicial! Em jeito


preocupado. – Insistiu:

- Mas Senhor Abade; eles não podem ficar ali mais tempo! Sem comer
nem beber nada! Alguém pode ir para o hospital! E ai será uma
trapalhada para a vossa obra!

Pe. Júlio César de olhar despreocupado - Respondeu:


- Eles aguentam bem Senhor Guarda! Foram fortes para começar a greve
são fortes para acabar com ela! É assim Senhor Guarda; se o senhor
conseguir os dissolver desta empreitada e conseguir chamá-los à
razão, resolveremos o assunto duma só rajada... Como já tinha dito;
nada posso fazer por eles! Só me resta rezar para que o senhor lhes
toque, de levezinho e lhes amanse os corações turbulentos!... Pois,
a vida é deles, e se ouvirem a Deus pode ser que tenham uma segunda
oportunidade para se SALVAREM!

O Policia resignado – Respondeu:

- Pronto Senhor Abade! Vou ver o que consigo fazer para resolver
este drama, antes que piore!

- Faça isso Senhor Guarda! E que Deus lhe abençoe e deposite um


pouco de fé em si!

Absorto, o Policia deu a volta e partiu em direção ao Portão.

No Portão da Casa dos Farrapos Condenados da Terra, a farrapada


definhava a cota gotas; suas caras enfraquecidas assemelhavam-se às
caretas revolucionárias do Guilherme Farinas.

O policia junto da Farrapada penetrou o olhar com extrema


preocupação e disse:

- Malta; Eu sei que vocês se sentem injustiçados, desprezados,


excluídos, pela decisão do Senhor Abade; dos dois dedos de conversa
que tivemos, apercebi-me que vocês tem toda a razão! Até é absurdo
falar sobre este assunto com alguém sério! Mandar rapazes para rua
sem nada; não me parece sentimento cristão! E nem percebi bem a
justificação que me deu. Todavia, vocês na vida têm que ser
pragmáticos, não podem pensar que vão vencer todas as lutas,
principalmente aquelas em que estão em desvantagem. Pois, sabemos
que ele é que têm a faca e o queijo das vossas vidas na mão! Têm que
pensar que ele já tem a vida feita! Voçês ainda estão a espreitá-la
da janela! E ele pode muito bem fechar as persianas, ao mínimo
capricho. A meu ver a melhor revolução que podem fazer, é
trabalharem por vocês! Quem vos garante que ele não vai aplicar este
tipo de castigo no futuro? Ninguém sabe! Têm que ser interesseiros
nos vossos interesses e engolir uns tantos de sapos para depois
vomitarem cabeçudos de sucesso! Aproveitem, estudem, trabalhem,
juntem dinheirinho, e a cima de tudo; formem família! A Família é o
mais importante de tudo! Vá, acabem lá com isso! Não precisam de
muitas cerimónias! Encenem uma desculpa esfarrapada! “Quem não chora
não mama” é o que o povo diz! Ide lá pra cima comer qualquer coisa;
que não quero ser testemunha duma escusada fatalidade.

A Farrapada, dissolvida pela potente argumentação do Policia. –


Respondeu meio convencida meio revoltada:
-

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