Вы находитесь на странице: 1из 36

A Escola Milesiana

Anaximandro

1. Nacionalidade

“Anaximandro, filho de praxíades, nasceu em Mileto.” (Diógenes Laércio. Vidas


doutrinas, opiniões dos filósofos mais ilustres, II, 1)

2. Época

“Diz Apolodoro, em sua Cronologia, que tinha ele (Anaximandro) 64 anos no segundo
ano da 58ª olimpíada (c. 546 a.C.) e que morreu pouco depois” (Idem. Ibem, II, 2)

3. Obras

“Escreveu ele (Anaximandro) sobre a Natureza, circuito da terra e sobre as estrelas fixas
e (construiu) um globo celeste e (produziu) outros trabalhos” (Suda)

(Excetuando o escrito primeiramente mencionado, os demais são recebidos com reservas


pelos historiadores mais escrupulosos).

4. O sábio:

1. Atividades científicas

- O gnomon

 Foi ele o inventor deste instrumento? “Foi ele (Anaximandro) o primeiro inventor do
gnomon.” (Diógenes Laércio. Op. Cit. II,1)
 Ou tê-lo-ia recebido dos babilônios? “Aprenderam (os gregos) dos babilônios, o uso
do quadrante solar (rolos), dos gnomon e a divisão do dia em 12 pares.” (Herodoto.
Histórias. II, 109)

- A obliqüidade do Zodíaco:

 Foi ele o descobridor? “Anaximandro descobriu a obliqüidade do Zodíaco...” (Plínio.


História Natural, II, 101)
 Ou o descobridor foi Oinópides? “Diz Eudemo em sua Astronomia que foi
Oinópides o primeiro a descobrir a obliqüidade do Zodíaco” (Teão de Esmirna. Liber
de Astronomia)

- A carta geográfica:

 “Anaximandro, Discípulo de Tales, foi o primeiro a aventurar-se n elaboração de um


mapa do mundo habituado; depois dele, Hecateu de Mileto, homem muito viajado,
tornou o mapa mais aperfeiçoado de modo a parecer algo maravilhoso” (Agatemero.
Hypotyposis Geographicae. I, 1)
 “Diz Erastótenes que os primeiros a seguir Homero foram dois: Anaximandro,
conhecido e concidadão de Tales, e Hecateu, o milesiano. Anaximandro foi o primeiro
a publicar um mapa geográfico, enquanto Hecateu deixou um desenho que se acredita
que seja seu, com base no que resta de seus escritos.” (Estrabon, I)

1
- Previsão de um terremoto:

 “... o físico Anaximandro preveniu os lacedemônios que eles precisavam deixar sua
cidade e suas casas para se alojarem no campo com suas armas, pois que um tremor
de terra era eminente.” (Cícero. Da admiração. III, 16, 1)
 “Diz ele (Anaximandro) que a terra tem forma cilíndrica e que sua profundeza
iguala um terço de as largura.” (Pseudo-Plutarco. Stromata., fragm. 2)
 “ A terra Plaina livremente sem ser sustentada por nada. Mantém-se ela por
encontrar-se a igual distância do todo. Sua forma é redonda convexa como um coluna
de pedra. Estamos sobre uma de suas superfícies e a outra está do lado oposto.”
(Idem. Ibidem, I, 6)

- O Biólogo

 “As criaturas vivas nasceram do úmido quando evaporado este pelo sol. No
começo, assemelhava-se o homem a outro animal, isto é, um peixe” (Idem. Ibidem, I,
6)
 “Os primeiros animais se produziram na umidade, encerrado cada um em casca
espinhenta. Com o tempo, surgiram em sítios mais seco. Quando se rompeu a casca.
Eles modificaram o seu gênero de vida em pouco tempo.” (Aécio. Aetii Placita, V, 19,
1)
 “Além disso, dizia ele que, originariamente, nascera o homem de animais de outa
espécie. Razão disto por ele apresentada era que, enquanto outros animais logo
encontram, por si mesmos, sua nutrição, exige o homem logo período de aleitamento.
Ora, fosse ele originariamente como ele é hoje, jamais teria sobrevivido” (Pseudo-
Plutarco. Stromata. Fragm. 2)
 “Achava ele (Anaximandro) que no princípio os seres humanos nasceram no
interior dos peixes e, depois de nutridos como tubarões e capacitados a ase
protegerem, foram lançados sobre a praia e ganharam a terra.” (Plutarco.
Symposiaca, 730).

- O fisiólogo:

O apeiron como princípio das coisas: “Anaximandro de Mileto, filho de Praxíades,


concidadão e associado de Tales, dizia que a causa material e o elemento primeiro das
coisas era o infinito, tendo sido ele o primeiro a assim denominar a causa material.
Declara ele que esta não era a água nem qualquer outro assim denominar a causa
material. Declarava ele que esta não era a água nem qualquer outro dos assim chamados
elementos mas uma substância diferente deles, que era infinita e da qual procediam todos
os céus e o e os mundo contidos neles.” (Teofrasto. Op. cit., Fragm. 2)
O apeiron como princípio das coisas: “Disse ele (Anaximandro) eu (tal substância) era
eterna e sempre jovem e envolvia todos os mundos.” (Hipólito. Op. cit., I, 6)
“E as coisas retornam daquilo de que saíram ‘conforme está prescrito; porque oferecem
elas reparação e satisfação uma às outras pela sua injustiça, conforme a ordem do
tempo’, conforme dizia ele nestes termos um pouco poéticos.” (Teofrasto. Op. cit., Fragm.
2).
“E além disso (dizia Anaximandro) havia aí (no apeiron) um movimento eterno, no curso
do qual se realizava o nascimento dos mundos” (Hipólito. Op. cit., I, 6)
“Não atribuía ele (Anaximandro) a origem das coisas a qualquer modificação da matéria
mas dizia que os opostos foram alterados no substrato, que era um corpo ilimitado.”
(simplício. Física.p. 150, 20)

2
Por que quantitativamente infinito? “Acreditava na existência do infinito (apeiron) resulta
principalmente de 5 considerações: se a geração e a destruição não cessam, é
unicamente porque aquilo de que provêm todas as coisas é infinito.” (Aristóteles. Física,
III, 4, 203b. 15 e 18-19)
“Foi ele (Anaximandro) o primeiro a propor (a substância primordial) como ilimitada de
modo que pudesse considerá-la inextinguível para a geração das coisas.” (Simplício.
Sobre o céu, P. 615, 15-16)
Por que nenhum dos chamados elementos? “... há quem considere deste modo (isto é,
distinto dos chamados ‘elementos’) estão em oposição uns contra os outros: o ar é frio, a
água é úmida, o fogo é quente; (ora) se (um de tais ‘elementos’) fosse infinito (como é a
substância originária), os demais cessariam de existir. Então (acha quem assim pensa) o
apeiron há de ser diferente (dos chamados ‘elementos’) e é a origem deles.” (Aristóteles,
Op. cit., III, 5, 204b, 23-29)

Seria o apeiron:

1. algo intermediário entre a água e o fogo? “... descrevem alguns a natureza do todo
como água ou fogo ou algo intermediário entre eles” (Aristóteles, Op. cit., I, 5., 189b’).
2. algo intermediário entre a água e o ar? “Pois que o número de princípios é
necessariamente limitado, resta examinar se são muitos ou um. Filósofos há que propõem
um único princípio, para uns, a água, para outros, o fogo, para outros enfim, algo mais
leve do que a água e mais denso do que ar, um corpo infinito de que se diz conter todos
os céus.” (Aristóteles. Do céu, III, 5, 303b, 9-12)
3. algo intermediário entre o fogo e o ar? “Todos estes filósofos têm assim vislumbrado
uma espécie de causa falando do ar ou do fogo ou da água ou mesmo de um elemento
mais sutil do que ar” (Aristóteles. Metafísica, I, 7, 988 a, 29 – 32)
4. uma mistura ou mescla dos chamados ‘elementos’? “Asseveram outros físicos que os
opostos estão contidos no uno e dele procedem por segregação, por exemplo,
Anaximandro...” (Aristóteles. Op. cit., I, 4, 187 a 20-3) “... porque, uma vez que ‘todas as
coisas estão juntas’ e a “mistura” de Empédocles e Anaximandro...” (Aristóteles. Op. cit.,
XII, 2, 1069b, 20-22).

Por que a substância primordial não podia ser um elemento qualitativamente definido,
como, por exemplo, fora a água de Tales?
“Teria argumentado Anaximandro: achou Tales que todas as coisas se originaram da
água, mas a água (que se apresenta sob forma de chuva, mar e rios) se opõe ao fogo
(por exemplo, o sol, o vapor ígneo, os vulcões) e tais coisas são mutuamente destrutíveis.
Como poderia então tornar-se o fogo parte tão saliente de nosso mundo se estivesse ele
em oposição constante, desde o princípio, à massa infinitamente extensa e sua opositora
(a água)? Como, na verdade, poderia ter ele simplesmente surgido num só momento que
fosse? Os constituintes litigantes de nosso mundo então devem ter evoluído de quam
substância Kirk na Raven. The presocratic philosophers, p. 113).
As escassas palavras que nos chegaram do próprio Anaximandro: “E as coisas retornam
àquilo de eu saíram ‘conforme está prescrito, porque oferecem elas reparação umas às
outras”.
“Aqui a lei jurídica que Sólon considerava dominadora do mundo humano, lei que punia as
prevaricações e as violências, torna-se lei cósmica, lei que regula o nascimento e o
perecimento dos mundos. Mas, qual é a injustiça praticada por todos os seres e o que
devem eles expiar? Certamente deve-se ela à constituição mesma e, portanto, ao
nascimento dos seres, uma vez que nenhum deles pode evitá-lo como não pode livrar-se
da pena. Ora, viu-se que o nascimento é a separação dos seres da substância indefinida.
Evidentemente tal separação é a ruptura da unidade, própria esta do apeiron, e a

3
substituição pela diversidade e, consequentemente, pelo contraste do que era
homogeneidade e harmonia. Determina-se pois, com a separação, a condição própria dos
seres finitos: múltiplos, diversos e se opondo entre si, destinados pois, inevitavelmente, a
pagar com morte o seu próprio nascimento e volver à unidade” (Jaeger, Werner. La
teologia de los primeros filosofos griegos).

Escola de Mileto

Anaxímenes

1. Nacionalidade

“Anaxímenes, filho de Euristato, natural de Mileto.” (Diógenes Laércio. Vidas. II, 3)


“Anaxímenes de Mileto, filho de Euristrato...” (Teofrasto. Opinião dos Físicos, Fragm. 2)

2. Época

“Anaxímenes, filho de Euristrato, foi discípulo de Anaximandro.” (Diógenes Laércio. Vidas.


II, 3). “Anaxímenes de Mileto, que fora associado de Anaximandro...” (Teofrasto. Opinião
dos Físicos. Fragm. 2)

3. O Sábio

I. O geógrafo

“Acreditam Anaxímenes, Anaximandro e Demócrito que a terra se sustenta por ser chata
pois, assim, não pode cortar ar que está debaixo dela, mas o cobre como uma tampa, o
que ocorre com os corpos achatados, que dificilmente se podem mover, mesmo pelos
ventos, em virtude da resistência oposta” (Aristóteles. Do céu. II, 13, 294 b, 13-17).

II. O astrônomo

“A terra é chata, sendo sustentada sobre o ar; igualmente o sol, a lua e os outros corpos
celestes, que são ígneos, mantêm-se sobre o ar em virtude do seu achatamento.”
(Hipólito. Refutações. I, 7, 4) “Diz Anaxímenes que os corpos celestes fazem voltas por
serem arrastados por ar condensado e oponente” (Aécio. Placita. II, 23, 1) “Dizia
Anaxímenes que as estrelas estavam fixadas como pregos na abóbada cristalina do céu”
(Aécio. Placita. II, 4, 3).

III. O filósofo

O ar como princípio de todas as coisas: “Anaxímenes de Mileto , filho de Euristrato que se


associara a Anaximandro, dizia como este que a substância fundamental era una e
infinita. Não dia, porém, que fosse indeterminada conforme Anaximandro, pois declarava
que era o ar” (Teofrasto. Opinião dos Físicos. Fragm. 2) “Dele (isto é, do ar) dizia
(Anaxímenes) nasceram as coisas que são, têm sido e serão, os deuses e as coisas
divinas, enquanto as demais provêm de sua descendência.” (Hipólito. Refutações. I, 7) “E
a forma do ar é a seguinte: onde ela mais se iguala é imperceptível à nossa vista, mas o
frio e o calor, a umidade e o movimento tornaram-no visível. Ele está sempre em
movimento pois, contrariamente, não se modificaria tanto quanto se modifica” (Idem.
Ibidem.) “Quando dilatado de modo a ficar rarefeito, ele se torna fogo, enquanto que, por
outro lado, os ventos são ar condensado. As nuvens se formam de ar pela compressão, e

4
quando se tornam estas mais condensadas, transformam-se em água. Continuando a
condensar-se, a água se torna terra e, quando condensada tanto quanto possível , torna-
se pedra.” (Idem. Ibidem)

I. Rarefação e condensação: “Ele (o ar) se separa em diversas substâncias em virtude de


sua rarefação e condensação” (Teofrasto. Opinião dos Físicos. Fragm. 2)
II. Hilozoísmo: “Exatamente, dizia ele (Anaxímenes), como nossa alma, que é ar, nos
sustenta, também sopro e o ar contém o mundo inteiro” (Aécio. Placita. I, 3, 4)

[NOTA: esta últimas palavras transcritas por Aécio são tradicionalmente consideradas as
únicas que nos chegaram de autoria do próprio Anaxímenes]

A Escola Milesiana

Heráclito de Éfeso

1. Nacionalidade:

“Heráclito, filho de Bloson ou, segundo outros, de Heracon, procedia de Éfeso.” (Diógenes
Laércio. Vidas. IX, 1)

2. Época:

“Floreceu ele por ocasião da 69ª Olimpíada (504/3, 501/0) (Idem. Ibidem)

3. Obras

“Quanto ao trabalho a ele atribuído, constitui um trabalho Sobre a Natureza, que foi
dividido em três discursos: um sobre o universo outro sobre política e outro sobre
teologia” (Idem, Ibidem., IX, 5-6)
(Nota: há outros trabalhos com vários títulos a ele atribuídos mas sem confirmação
autorizada).

4. A estranha personalidade

“Desde a sua juventude foi objeto de estranheza. Quando moço, costumava dizer que
nada sabia, mas quando se tornou amadurecido, proclamava tudo saber. Não foi discípulo
de ninguém, declarando que pesquisou por si mesmo” (Idem. Ibidem., II, 3)

“Tendo se retirado no templo de Artemis onde jogava dados com rapazes, os efeseanos
rodearam-no e puseram-se a olhá-lo, momento em que ele perguntou: “por que se
surpreendem, velhacos? Não é preferível quem faça isto a participar como vocês da vida
administrativa?” Finalmente tornou-se tamanha a sua misantropia que retirou-se para as
montanhas onde passou a alimentar-se de ervas e outras plantas nativas.” (Idem.
Ibedem., IX, 3)

“Considera-o Teofrasto de temperamento bilioso, motivo por que algumas partes de seus
trabalhos são inacabados e outras estranhamente heterogêneas” (Idem. Ibidem., IX, 6)

5. O estilo enigmático: Heráclito, o Obscuro e Enigmático

5
“Depositou ele o seu trabalho no templo de Artemis e, segundo alguns, escreve-o
deliberadamente obscuro para que só os capacitados possam lê-lo e não se torne
desprezível por haver se vulgarizado.”

“Consta que, havendo Eurípedes dado a Sócrates o trabalho de Heráclito para ler, pediu-
lhe opinião a respeito e obteve dele esta resposta: “a parte que compreendi é excelente,
excelente julgo ser também a que não compreendi, esta parte exige o fôlego de um
mergulhador délio para alcançar-lhe o fundo.”

“Diz Seleuco, o gramático, que em seu livro intitulado O Mergulhador, contava um certo
Cróton que fora alguém chamado Crátes o introdutor do livro de Heráclito na Grécia
(continental), falando que necessário era ser um mergulhador délio para não ser tragado
pelo escrito” (Idem. Ibedem., IX, 12)

“Discutir essas doutrinas de Heráclito com as pessoas de Éfeso é tão impraticável como
discutir com insensatos. Pode-se que eles estão, em consonância com o seus próprios
escritos, em eterno movimento. Proposta que lhe seja feita qualquer questão a um deles,
tirará ele de sua aljava fórmulas enigmáticas e as lançará como setas; e, se a eles
perguntares de que se trata, outra seta te ferirá sob a forma de uma nova metáfora.
Jamais chegarás a qualquer conclusão com qualquer deles, tampouco chegará qualquer
daqueles entre eles próprios” (Platão. Teeteto, 179-180c)
“É uma regra geral que a composição escrita deve ser fácil de se ler e, portanto,
facilmente exposta; isto não ocorre desde que haja muitos conectivos ou cláusulas, ou
onde seja difícil a pontuação conforme ocorre nos escritos de Heráclito. Pontuar seus
escritos não é tarefa fácil pois geralmente não sabemos se determinada palavra pertence
ao que procede ou ao que se segue” (Aristóteles. Retórica, III, 5, 147b, 14-15)

6. A misantropia:

- O desprezo pelas massas em geral e pelo homem vulgar em particular:

“As multidões não atentam para as coisas que encontram nem as observam quando elas
lhes chamam a atenção, embora imaginem fazê-lo” (Fragm. DK. 22 B17)

“Porque os melhores dentre eles escolhem uma coisa de preferência a todas as outras,
uma glória imortal dentre os mortais, ao passo que a maioria se empaturra de comida
como animais” (Fragm. DK. 22 B 29)

“Embora ouvindo, eles não compreendam e são como surdos. É a respeito deles que diz
o provérbio: “Estão ausentes quando presentes” (Fragm. DK. 22 B 48)

“Eles são ausentes às coisas com que têm comércio constate” (Fragm. DK. 22 B 72)

“Que saber ou inteligência têm eles? Acreditam nos poetas populares e seguem as
massas como mestra, ignorando que há muitos maus e poucos bons.” (Fragm. DK. 22 B
104)

“Quando os demais homens, não sabem o que fazem acordados, assim como esquecem
o que fazem quando adormecidos.” (Fragm. DK. 22 B 1)

“Os cães ladram para quem não conheçam” (Fragm. DK. 22 B 97)

6
- Desprezo pelos homens famosos:

“Aprender muita coisa não enriquece a inteligência, pois, do contrário, tê-lo-iam


enriquecido Hesíodo e Pitágoras, bem como “Xenófanes e Hecateu” (Fragm. DK. 22 B 40)

“Hesíodo é mestre da maioria dos homens. Estão eles convencidos de que ele sabia
muitas coisas, ele que não conhecia o dia e a noite. Estes não são mais do que um”
(Fragm. DK. 22 B 57)

“Pitágoras, filho de Mnemarco, levou suas pesquisas além de qualquer homem e,


selecionando esses escritos, reivindicou como sabedoria própria o que nada mais era do
que o acúmulo de conhecimentos, uma arte nociva” (Fragm. DK. 22 B 129)

7. A necessidade do amplo saber:

“Os homens que amam a sabedoria (filósofos) devem, em verdade, instruir-se sobre
muitas coisas” (Fragm. DK. 22 B 35)

8. Mas a sabedoria não resulta de simples expansão de conhecimento:

“Aqueles que procuram ouro removem muita terra e só encontram pouco” (Fragm. DK. 22
B 22)

“A sabedoria é ma única coisa: compreender o propósito que dirige todas as coisas través
de todas as coisas” (Fragm. DK. 22 B 41)

9. O vir a ser universal e ininterrupto como qüididade do real:


“Não podemos descer duas vezes no mesmo rio, pois novas águas estão sempre fluindo
em sua direção” (Fragm. DK. 22 B 12)

10. O fogo como princípio das coisas:

“Há permuta de todas as coisas por fogo e de fogo por todas as coisas, assim como de
mercadorias por ouro e de ouro por mercadorias” (Fragm. DK. 22 B 90)

11. A medida (metron) reguladora do vir a se:

“Este mundo, o mesmo para todos, não se fez por nenhum dos deuses ou dos homens;
mas sempre foi, é e haverá de ser um fogo eternamente vivo que se acende com medida
e se apaga com medida (Fragm. DK. 22 B 30)

12. O uno e o múltiplo:

“Os pares são coisas inteiras e coisas não inteiras, o que está unido e o que está
desunido, o harmonioso e o discordante. O uno se compõe de todas as coisas e todas as
coisas saem do uno” (Fragm. DK. 22 B 10)

13. A guerra como necessidade:

“Errou Homero dizendo: - “Possa extinguir-se a discórdia entre deuses e homens!” Não
percebia ele que rezava pela destruição do universo. Porque, se ouvida a sua prece ,
todas as coisas pereceriam” (Fragm. DK. 22 B 12)

7
“Necessário é saber que a guerra é comum (universal), que a luta é a justiça e que todas
as coisas ocorrem pela luta e pela necessidade” (Fragm. DK. 22 B 80)

14. A harmonia dos contrários:

“Não sabem os homens como o que varia está de acordo com sigo mesmo; há uma
harmonia das tensões opostas, como a do arco e da lira” (Fragm. DK. 22 B 51)
15. O relativismo:

“Os bois se sentem felizes quando encontram ervas amargas para comer” (Fragm. DK. 22
B 51 a)

“A água do mar é a mais pura e a mais impura: os peixes podem bebe-la e ela lhes é
salutar. Pelos homens não pode ser bebida, sendo-lhes funesta” (Fragm. DK. 22 B 61)

“Para Deus todas as coisa são belas boas e justas, mas os homens consideram certas
coisas injustas e outras justas” (Fragm. DK. 22 B 102)

16. O Lógos:

“O Lógos, (lei universal) tal como aqui descrevo, embora sempre verdadeiro, não é
compreendido pelos homens , seja antes de ouvi-lo, seja quando o ouvem pela primeira
vez. Porque, embora todas as coisas ocorram em conformidade com o Lógos, procedem
os homens como gente sem experiência, mesmo que encontrem eles as palavras e as
ações como as exponho, distinguindo cada coisa conforme a sua natureza e declarando
como (cada coisa) se faz. Os demais homens, entretanto, não sabem o que fazem
quando acordados, assim como esquecem o que fazem quando adormecidos” (Fragm.
DK. 22 B 1)

“Consequentemente deve-se seguir o Lógos (isto é) o que é comum a todos. Mas,


embora seja o Lógos universal, vive a maioria como se tivesse entendido peculiar a cada
um” (Fragm. DK. 22 B 2)

“Enquanto você ouvir não a mim, mas ao Lógos, será sábio concordar que toda as coisas
são uma só” (Fragm. DK. 22 B 50)

17. Três afirmações básicas de Heráclito de Éfeso:

Além do Lógos e intimamente vinculada a ele, parece que a interpretação heracliteana do


universo implica em três asserções básicas. Nenhuma dessas asserções deve ser
compreendida plenamente sem as outras. Elas constituem de fato apenas três modos
diversos para explicar a mesma verdade:

- a harmonia dos opostos sempre ocorre, motivo por que a luta é um fato básico no
mundo natural (Fragm. DK. 22 B 12 a 22 e 8);
- tudo se encontra em constante movimento e modificação (Fragm. DK. 22 B 12 e
90);
- o mundo é um fogo vivo e eterno (Fragm. DK. 22 B 30). (Guthrie. History of Greek
Philosophy)

8
A Escola Itálica

1. O mistério em torno de seu fundador e de seus discípulos imediatos:

“Para dizer a verdade, ainda vivo, já passara Pitágoras para a lenda. Não podemos
proceder relativamente a ele de acordo como os métodos de pesquisa histórica. Por muito
que remontemos às fontes de informação, Pitágoras sem se integrar como Orfeu no puro
mito, apresenta-se como um ser sobrenatural” (Françoís Millepíerres. Pythagore, fil d’
Apollon, p. 10)

1.a. A ausência de qualquer escrito da Escola:

“... porque nenhuma composição houve de Pitágoras. (Jâmblico. Sobre a vida de


Pitágoras, p. 252) (Veja-se abaixo, 1.b., o texto da obra supla de Jâmblico)

1.b. O Segredo da Ordem:

“A severidade de seu segredo era espantosa pois, através de tantas gerações, ninguém
jamais encontrou qualquer nota pitagórica antes do tempo de Filolau.” (Idem. Ibidem. P.
199)
“O que Pitágoras dizia a seus discípulos ninguém pode saber com segurança, pois nem o
silêncio era casual entre eles. Contudo, eram especialmente conhecidas, conforme o juízo
de todos, as seguintes doutrinas:

1) a que afirma ser a alma imortal;


2) que transmigra de uma a outra espécie animal;
3) que, dentro de certos períodos, o que já acontece uma vez, torna a acontecer e
nada é absolutamente novo e
4) que é necessário julgar que todas os seres estão unidos por elos de parentesco.
De fato, parece ter sido Pitágoras quem primeiro introduziu essas crenças na Grécia”
(Porfírio. Vita Pittagorae, 19)

1.c. O herói lendário:

“Pitágoras, filho de Apólo de Hermes, desceu aos infernos e de lá retornou; tem ele uma
coxa de ouro, possui o dom da ubiqüidade e faz profecias...” (Aristóteles. Sobre os
Pitagóricos)

1.d. Notícias contraditórias sobre os méritos intelectuais do mestre:

1.d.1. Heráclito de Éfeso: “A aprendizagem de muitas coisas não enriquece a


inteligência, do contrário, tê-la-iam enriquecido Hesíodo e Pitágoras, Xenófanes e
Hecateu.” (Fragm. DK 40)
“Pitágoras, filho de Mnemarco, levou a pesquisa científica além de qualquer homem e,
fazendo uma seleção desses escritos reivindicou como sabedoria própria o que nada
mais era do que o conhecimento de muitas coisas e uma arte nociva.” (Fragm. DK 129)

1.d.2. Empédocles de Agrigento: “E havia entre eles (isto é, aqueles da idade de ouro)
um homem de raro saber, versado ao máximo em toda sorte de obras sábias, dotado da
maior riqueza de pensamentos...” (Fragm. DK 129)

9
2. Certeza da existência do mestre:

2.a. Heródoto de Halicarnasse: “Esse Zalmóxis... vincula-se aos gregos e especialmente a


Pitágoras, que não foi o menor dos sábios entre os helenos...” (Histórias, IV, 95)

2.b. Heráclito de Éfeso: veja acima, em 1.d., os fragmentos DK 40 e DK 129.

3. Época do mestre:

“Disse Aristoxemo que quando tinha (Pitágoras) 40 anos de idade e se tornara mais
opressiva a tirania de Polícrates,... imigrou ele, finalmente, para a Itália” (Porfírio. Vida de
Pitágoras, p. 9)

4. Nacionalidade:

Não há certeza, embora se saiba que, ainda jovem, viveu em Samos: “Pelo que se ouve
dizer dos gregos habitantes de Helesponto e de Ponto, esse Zalmóxis teria sido em
Samos escravo de Pitágoras, filho de Mnemarco...” (Heródoto, Op. cit.)

5. Acusmáticos ou (Pitagóricos ou Matemáticos):

“Era dupla a forma de instrução: um grupo de discípulos se chamva de Matemáticos,


outro de Acusmáticos. Os Matemáticos eram aqueles que haviam aprendido mais
pormenorizadamente e promoveram a versão exata de seu conhecimento, os
Acusmáticos, aqueles que haviam ouvido apenas as diretrizes resumidas de seus
escritos, sem mais rigorosa exposição” (Porfírio. Op. cit., p. 37)

6. Aspecto místico:

6.a. A taumaturgia: “Pitágoras, filho de Mnemarco, não se obstem de fazer milagres ao


modo de Ferecides.” (Aristóteles. Fragm. DK 186)
“Foi ele (Pitágoras), conforme já se disse, discípulo de Ferecides de Sirios... Quando
jovem, tanto aspirava a obter conhecimentos que deixou sua cidade e iniciou-se em todos
os mistérios e ritos não só da Grécia como dos países estrangeiros ... Em Creta, desceu
ao antro de Hidra com Epimênides, também entrou nos santuários egípcios, onde obteve
o saber secreto concernente aos deuses...” (Diógenes Laércio. Vidas, VIII, 2-3)

6.b. A doutrina da metempsicose:

6.b.1. O dualismo antropológico:

“Consta que um dia, quando passava por uma rua na hora em que se surrava um cão,
exclamou: - Parai! Não o surreis! É a alma de um amigo. Reconheci-o pelo tm de sua
voz...) (Xenófanes. Fragm DK 7)

“Porque fui outrora um moço e uma moça, um arbusto e um pássaro e um peixe mudo do
mar (logo que nasci) chorei e levantei vendo a região que não me era familiar” “De
quantas honras, de que altura de felicidade caí para errar nesta terra dentre os mortais!
...” “Encontremo-nos nesta caverna...” “Ai de ti, miserável raça de mortais, duas vezes
amaldiçoada de quantas lutas e de quantos gemidos nascestes!” “De criaturas vivas ele
fez mortos, modificando suas formas.” “(A divindade) revestiu (as almas) com estranho
invólucro de carne” (Empédocles. Fragm DK 117-120 e 124-126)

10
“Dizem alguns que o soma (swma: corpo) é o sema (shma: Túmulo) da alma, por estar ela
nele sepultada durante a vida. Como, por outro lado, é por meio dele que exprime a alma
o que queria ela dizer, fala-se que, também sob esse aspecto, convém a ele o nome de
sema. O que parece mais verosímil é terem sido os órficos os criadores desse nome,
querendo dizer que a alma expia as faltas porque é punida e que está ela encerrada em
um corpo como se estivesse numa prisão, para que a mantenha ele sã e salva, como o
seu nome indica é ele então soma (swma: salvação) da alma até que ela tenha resgatado
sua dívida.” (Platão. Crátilo. 400 b c)

6.b.2. A impraticabilidade do suicídio:

“... nós, homens, estamos numa situação da qual não temos condição de escapar nem
fugir... Estamos sob a guarda dos deuses e constituímos uma parte de suas
propriedades...” (Platão. Fédon. 62, 6)

6.2.3. A via da libertação: a katharsis e em que consiste

“Se é verdade o que acabamos de dizer, companheiro, grande é para mim nesta altura
em que chego a esperança de atingir plenamente em algum lugar a recompensa pelos
esforços que despedi durante a vida. Esta viagem que hoje me foi imposta suscita-se bela
esperança como acontece com todo aquele que considere estar o seu pensamento
preparado, por assim dizer, purificado... Ora, purificar a alma não é precisamente, como
acabamos de dizer, separá-la o mais possível do corpo e habituá-la a concentrar-se, de
modo a viver tanto quanto possível, nesta vida como na futura, por si mesma, como se
desvinculada dos laços que a pendem ao elemento corporal?
Todo aquele que atinja o Hades sem se ter purificado e iniciado permanente no lodaçal,
ao passo que o purificado e iniciado, lá chegando, viverá com os deuses. Como dizem os
versados nas iniciações: “muitos são os portadores de tirsos, poucos porém os inspirados.
Ora, a meu ver, estes não são outros senão os filósofos. Por considerar-me entre eles,
nenhum esforço poupei durante a vida para alcançar tal fim.” “...deve confiar no destino de
sua alma o homem que, durante a sua vida, haja desprezado os prazeres e os
ornamentos corporais por tê-los considerado elementos estranhos, mais próprios para
produzirem o mal do que o bem: aquele que, pelo contrário, haja satisfeito os prazeres da
Ciência e, depois de ter ornado sua alma, não com elementos a ela estranhos, mas com
os que lhes sejam próprios, a saber, a temperança, a justiça, a coragem, a liberdade, a
verdade, este estará em situação de aguardar com confiança a partida para o Hades
quando o destino o chamar.” (Platão. Fedon, 67, b-d e 144 d-c)

6.b.4. A verdade música:

“Não sabes que os músicos tratam do mesmo modo a harmonia? Aplicando-se a medir
pelo ouvido os acordes e tons percebidos, fazem eles, como os astrônomos, trabalho
inútil. E – pelos deuses – são ridículos quando falam de freqüência e voltam os ouvidos
como se quisessem captar um som na vizinhança; acham uns que entre duas notas
percebem uma intermediária que é menor e precisa ser tomada como medida: sustentam
outros, ao contrário, que se assemelham eles aos sons precedentes; uns e outros,
entretanto, situam o ouvido acima do espírito (uns e outros situam o ouvido do corpo
acima do ouvido do espírito).” (Platão. República, VII, 530 c)

7. O aspecto filosófico – científico:

7.a. A matemática como atividade científica

11
“O que há de mais admirável na ciência moderna é a sua volta ao pitagorismo” (Bertrand
Russel)

“Diz Aristóteles, em seu tratado Sobre a Aritmética, que parece ter sido precisamente
Pitágoras o primeiro a estender o estudo dos números além das necessidades do
comércio” (Estobeu. Eclogae Physicae, I, 201)

7.b. Os números como princípios das coisas:

“Aqueles que se chamam pitagóricos consagraram-se pela primeira vez às matemáticas,


fazendo-as progredir. Instruídos nesta disciplina, acharam eles que os princípios
matemáticos fossem os princípios de todos os seres. E como, de tais princípios, são os
números, por natureza, os primeiros, e como nos números, mais do que no fogo, na terra
e na água, acreditassem os pitagóricos perceber muita analogia com o que é e com o que
se torna..., como vissem também que os números exprimiam as propriedades e as
proporções musicais, enfim, como todas as outras coisas lhes parecessem formadas à
semelhança dos números, afigurando-se-lhes os números às realidades primordiais de
universo – então acharam eles que os princípios dos números fossem os elementos de
todos os seres, acreditando que todo o céu fosse harmonia e número.” (Aristóteles.
Metafísica, I, 5, 985 b, 24-984 a 4)

7.c. Os elementos dos números

“Parece que também estes pensadores consideravam o número tanto como matéria das
coisas como elemento constituinte de suas modificações e de seus estados. E
sustentavam que os elementos dos números são o par e o ímpar, sendo este limitado e
aquele ilimitado; e que o Uno (a unidade) procede de ambos pois é, ao mesmo tempo, par
e ímpar, e o número procede do Uno, e que todo o céu, como já foi dito, se constitui de
princípios que se arranjam em duas séries paralelas: limite e ilimitado, ímpar e par, uno e
múltiplo, direita e esquerda, macho e fêmea, em repouso e em movimento, reto e curvo,
luz e obscuridade, bom e mau, quadrado e oblongo” (Idem. Ibidem., I, 5, 986 a, 16-27)

7.d. A harmonia das esferas

“... De acordo com certos filósofos, o movimento dos corpos tamanhos, necessariamente
há de produzir som, pois é o que ocorre, mesmo nesta terra, com os corpos que estão
longe de possuir tais massas a desenvolver semelhante velocidade. Ora, quando se
movem com tanta rapidez e sol e a lua bem como todos os outros astros, grandes que
são em número e em tamanho, impossível é (pensam aqueles filósofos) que não
produzam som prodigiosamente intenso. Apoiados em tais raciocínios e no argumento de
que as velocidades, dependentes das distâncias, têm proporções de acordes musicais,
asseveram eles de que o som produzido pelo movimento circular dos astros constitui
harmonia. Considerando, entretanto, que pareça anormal não percebermos tal som,
argumentam eles que o ouvimos desde a hora do nosso nascimento, o que o torna
indiscernível de seu oposto, o silêncio, sendo um e outro distinguíveis pelo contraste.
Assim como os ferreiros perdem pelo hábito qualquer sentimento de diferenciação, o
mesmo ocorre entre os homens “(Aristóteles. Do céu, II, 9, 209b, 15-21)

7.e. Prelúdio da tese heliocêntrica

“Assegura a maioria dos filósofos que se situa a terra no centro do universo... mas os
representantes da Escola Itálica, conhecidos como Pitagóricos, sustentavam ponto de

12
vista contrário. No centro, diziam eles, está o fogo não sendo a terra mais do que um dos
astros, produzindo ela o dia e a noite em virtude de seu movimento regular em redor do
centro. Além disso, contrariam eles outra terra, contrária à nossa a qual deram o nome de
“anti-terra”. Assim procedendo, não procuraram edificar teorias e causas em consonância
com fatos observados, experimentaram acomodar tais fatos e certos pontos de vista que
lhes eram peculiares. Mas, outros filósofos houve que concordaram com eles, procurando
confirmação mais para teorias do que para fatos. Com efeito – pensaram eles – à coisa
mais nobre convém a região mais nobre. O fogo, sustentaram, é mais nobre do que a
terra e o limite, mais nobre do que o intermediário; ora (na esfera), extremidades e centro
são limites. Então, adotando tais observações, como ponto de partida, sustentaram ser o
fogo, o que ocupa o centro da esfera, não a terra. Os Pitagóricos apresentam outra razão:
sustentam que a parte mais importante do universo deve ser a mais bem guardada e esta
parte é o centro, denominando-a, ou melhor, o fogo, ocupante de tal parte, a “Cidade de
Zeus”, como se o termo “centro” fosse inteiramente inequívoco e o centro da figura
matemática também fosse o da coisa ou seu centro natural.
Entretanto, é preferível tratar do que se passa no céu em sua totalidade analogamente
como se procede com os animais cujo centro não coincide com o corpo.” (Idem. Ibidem.
II, 13, 293ª, 17 – 293b 8)

7.f. A importância da década:

“... E todas as concordâncias que pudessem (os Pitagóricos) estabelecer entre os


números e a música, por um lado, e por outro lado, os fenômenos celestes, as partes do
céu e a ordem do universo, eles a coletavam e arranjavam de modo a se adaptarem ao
seu sistema, e, se alguma lacuna se apresentasse em qualque parte, eles depressa
promoviam uma emenda para manter a coerência da teoria. Ex.: como parece ser a
‘década’ um número perfeito e abranger toda a natureza dos números, disseram eles que
os corpos celestes em movimento eram dez; mas como sejam apenas nove os corpos
visíveis, inventaram eles o décimo: a “anti-terra” (Aristóteles. Metafísica, I, 5 986aq 3-12)

8. Como se deve estabelecer segundo Guthrie. A History of Greek Philosophy os vínculos

8.a. O mundo é um kosmos: Palavra intraduzível que exprime a noção de ordem, arranjo
ou perfeição estrutural, unida à noção de beleza:

“Pitágoras foi o primeiro que denominou kosmos o conjunto as coisas por causa de sua
ordem.” (Aécio. Plácito, II, 1, I)
“Além disso, foi ele (Pitágoras) o primeiro a denominar kosmos o céu e a considerar
redonda a terra” (Diógenes Laércio. Vidas, VIII, 48)

8.b. Toda a natureza, nela compreendida a alma humana, está intimamente relacionada
com o universo vivo e divino:

“Sendo toda a natureza divina homogênea...” (Platão. Méton, 81d)


“Os sábios (isto é, os Pitagóricos), Cálicles, afirmam que o céu e a terra, os deuses e os
homens são vinculados pela amizade, pelo respeito e pela ordem, pela moderação e pela
justiça, motivo porque dão a este todo o nome de kósmos (ordem), não o de desordem ou
desregramento.” (Platão. Górgias, 507a)

8.c. O semelhante é conhecido pelo semelhante, isto é, quanto mais se conheça alguma
coisa, mais afim a ela se é: “Porque é com a terra que vemos a terra, com a água vemos
a água, pelo ar, vemos o ar brilhante, pelo fogo, o fogo devorador. É pelo amor que

13
vemos o amor, pelo ódio funesto, vemos o Ódio.” “não nos é possível situar Deus diante
dos nossos olhos, ou percebê-lo com nossas mãos, sendo a via de persuasão a mais
ampla no coração do homem.” (Empédocles. Fragm. DK. 109 e 133)

8.d. Conseqüente procurar através da Filosofia o melhor entendimento da estrutura do


kosmos divino é realizar e cultivar o elemento divino que o homem traz consigo:
“Sócrates: - Com efeito, Adimanto, aquele cujo espírito esteja verdadeiramente dedicado
à contemplação das essências, não tem oportunidade de baixar suas vistas para as ações
humanas... mas, antes, observando e contemplando objetos ordenados e imutáveis... e
que se encontram sob a lei da ordem e da razão, trata de imita-los e se torna, tanto
quanto possível, semelhante a eles; ou acreditas que seja possível viver com o que se
admira sem imitá-lo?

Adimanto: - Não, isto é impossível...


Sócrates: - Portanto, o filósofo, que vive com o que é divino e ordenado torna-se
ordenado e divino, tanto quanto lhe permite a natureza humana. “(Platão. A República.
VI, 500 b.d)

9. Dificuldades decorrentes do texto aristotélico para a interpretação da filosofiapitagórica

“...Acharam eles(os Pitagóricos) que os princípios da matemática fossem os princípios de


todos os seres. E, como, de tais princípios, sã os números naturalmente os primeiros..
então consideram eles os princípios dos números os elementos de todos os seres...
“(Metafísica, I, 5, 985b, 26-986 a, 3)
“A este respeito (isto é, relativamente aos princípios das coisas) também eles (os
Pitagóricos) ensinaram que os números constituem os princípios tanto material dos seres,
como de suas modificações e de seus estados (isto é, o número era ao mesmo tempo
tanto causa material e causa eficiente das coisas).” (Idem. Ibidem. I, 5, 986a, 15-17)
“Quanto aos Pitagóricos, percebendo que muitas determinações dos números eram
imanentes aos corpos sensíveis, supuseram que e as coisas sensíveiseram números; tais
números, entretanto, não eram separados mas estavam na constituição das próprias
coisas.” (Idem. Ibidem., 14, 3, 1090 s, 20-23)
“Quanto a participação (das idéias pelas coisas segundo Platão), ele só modifica o nome;
com efeito, dizem os Pitagóricos, que as coisas existem por imitação dos números, ao
passo que, para Platão, há participação, modificando-se apenas a palavra” (Idem.
Ibidem., I, b, 987b, 11-12)
“Aqueles que se chamavam Pitagóricos recorrem à princípios e a elementos muito mais
distanciados (isto é, muito afastados, mais abstratos) do que os filósofos [ isto porque eles
não consideram tais princípios procedentes das coisas sensíveis, pois objetos
matemáticos – excetuados os da astronomia – estão compreendidos naquela classe dos
seres sem movimento.] Entretanto, toda as suas discussões e pesquisas se referem à
natureza, pois tratam da origem do céu observando o que acontece e suas diferentes
partes, (tratam) de suas modificações e funcionamento. É a tais princípios que aplicam
eles inteiramente seus princípios e suas causas, querendo isto dizer que aparentemente
(pelo menos) concordam com os demais filósofos, os naturalistas, em que a realidade se
reduz inteiramente ao que é sensível (e que está compreendido no âmbito do que
denominamos céu). Entretanto, suas causas e princípios (que são abstratos) são
suficientes para alçarem a uma região de realidades mais elevadas, a elas se adaptando
melhor do que as suas teorias físicas. Não nos explicam eles , porém, como é que, sendo
o limite e o ilimitado, o par e o ímpar, os únicos princípios admitidos, se produzirá o
movimento. Tampouco nenhuma explicação nos dão de como se poderia operar sem
movimento e sem modificação o movimento e a destruição, bem como a revolução dos

14
corpos que se deslocam no céu. Mais: admitindo-se, como já foi demonstrado, que a
grandeza espacial resultasse dos princípios por eles admitidos, como explicar que alguns
sã leves e outros pesados? A julgar o que afirmam e sustentam eles próprios, suas
considerações tanto se referem aos seres matemáticos quanto aos sensíveis. E , se
jamais falaram a respeito do fogo ou da terra ou de todos os corpos da mesma natureza,
suponho que seja porque nada tinham eles especificamente a falar do seres sensíveis
(isto é, nada tinham a dizer especialmente de tais coisas, porque, para eles, os princípios
matemáticos eram suficientes para explicá-las)” (Metafísica, I, 8, 989b, 29-990a, 18)
“Para outros filósofos (Xenócrates e Espeusipo), só o número matemático existe como
primeira das realidades, separado das coisas sensíveis (conforme acham geralmente os
Platônicos) e que são delas formados. Com efeito, constróem eles todo o universo a partir
de números, não porém de números constituídos de unidades abstratas, porque supõem
eles que tal realidade tenha extensão. (Ibidem., XIII, 6, 1080b, 15-21)
“Os Pitagóricos identificaram o infinito com o par, pois todo número par é indefinidamente
divisível por dois. Neste sentido, o número dois, pelas possibilidades de suas divisões
indefinidas, confere infinidade às coisas ao passo que o ímpar, ou que ultrapassa o par,
ou que o limita, impedindo as divisões de irem tão longe, não pode ser considerado
infinito, pois o ímpar é essencialmente indivisível por dois, prova disto é o que ocorre com
os números, acrescentando-se os gnomons ao redor da unidade obtém-se, ora uma figura
sempre diferente, ora sempre a mesma (conforme o aumento seja de gnomons pares ou
ímpares)” (Física, III, 4, 203a, 10-14)

A Escola Eleata

Xenófanes de Colofônio

1. Nacionalidade:

“Xenófanes, filho de Dáxios, de acordo com Apolodoro de Ortomenes, procedente de


Colofônio...” (Diógenes Laércio. Vidas. IX, 18)

2. Data:

“Segundo Irineu, viveu Xenófanes no tempo de Hieron (que reinou em 478-467), tirano da
Sicília, e do poeta Epicarno, enquanto Apolodoro afirma que nasceu ele por ocasião da
40ª Olimpíada (620-612) e viveu até o tempo de Dario e Círio.” (Clemente de Alexandria.
Stromata. I, 64)
“Floresceu Xenófanes por ocasião da 60ª Olimpíada. (540-537) (Diógenes Laércio. Vidas.
IX, 180)

3. O sábio:

3.1. O cientista da natureza:

“Dizia Xenófanes que se produziu uma mistura de terra com o mar e que a primeira se
dissolveu pouco a pouco para a unidade. Provas disto são, para ele, as seguintes:
encontram-se conchas nos locais situados nos meios das terras e sobre as montanhas, e
que se acharam, nas pedreiras de Siracusa, as marcas de um peixe e de fucos, enquanto
que, em Parcos, presenciou-se a forma de uma enchova nas profundezas da pedra e, em
Malta, as marcas achadas de todos os animais marinhos. Tais marcas, pelo que se diz, se
produziram outrora, quando todas as coisas ainda estavam cobertas de lodo e as
impressões tornaram-se secas na lama. Todos os seres humanos se destruíram quando

15
foi a terra tragada pelo mar, tornando-se lama. Houve então outro começo de geração, e
isto ocorreu em todos os mundos.” (Hipólito. Refutações. I, 15, 5)

3.2. Atitude crítica contra:

3.2.1. O costume grego de valorizar demasiadamente a força física:

“...Porque muito preferível à força do homem e do cavalo é o nosso elevado saber...”


(Fragm. DK. 2 {parte})

3.2.2. – Pitágoras e a teoria da metempsicose:

“Consta que um dia quando passava (Pitágoras) por uma rua na hora em que se surrava
um cão exclamou: ‘Parai! Não o surreis! É a alma de um amigo. Reconheci-o pelo tom da
voz.” (Fragm. DK. 7)

3.2.3. O antropomorfismo:

“Homero e Hesíodo atribuíram aos deuses todas as coisas que, entre os homens, são
opróbrio e vergonha: roubos, adultérios, embustes recíprocos”. (Fragm. DK, 21 B 11)
“Mas os mortais representam os deuses a seu modo, como se fossem engendrados com
vestimentas, voz e figuras semelhantes às suas.” (Fragm. DK, 21 B 14)
“... se os bois, os cavalos e os leões tivessem mãos e se, com estas mãos, pudessem
juntar e produzir obras de arte como os homens, os cavalos pintariam as imagens dos
deuses semelhantes às dos cavalos e fariam seus corpos de acordo com as próprias
espécies.” (Fragm. DK, 21 B 15)
“Os etíopes fazem os seus deuses negros e com os narizes achatados, dizem os trácios
que os seus têm os olhos azuise cabelos ruivos.” (Fragm. DK, 21 B 16)

3.2.4. O politeísmo:

“Um único Deus, o maior entre os deuses e os homens, e que não se assemelha aos
homens nem pela forma nem pelo pensamento.” (fragm. DK, 21 B 31)
(Outra tradução do mesmo fragmento (adotada por Giovanni Reale: “Uno, Deus, sumo
entre os deuses e os homens, nem por figura nem por pensamento semelhante aos
homens”.
Para Giovanni Reale interpretar o fragmento como monoteísmo é interpretá-lo
erroneamente. Cf. História da Filosofia Antiga, I, p. 101. Op. cit.)

“Por inteiro ele vê, por inteiro ele pensa, por inteiro ele ouve” (Fragm DK, 21 B 26)

3.2.6. O saber ingênuo (ou vulgar):

“Nenhum homem ouve nem jamais haverá que tenha conhecido certo dos deuses e de
todas as coisas que falo. Ainda que, por acaso, dissesse ele a plena verdade, não se
tornaria ciente de si mesmo, mas a aparência prevalece sobre todas as coisas (segundo
outros tradutores: “mas a fantasia prevalece em todos os homens)” (Fragm DK, 21 B 34)

“Os deuses não revelaram todas as coisas aos homens desde o começo, mas,
pesquisando encontrarão eles com o tempo, o que for melhor” (Fragm DK, 21 B 17)
“Não houvesse Deus feito o mel e os homens achariam os figos muito mais doces.”
(Fragm DK, 21 B 38)

16
3.3.1. Fundador ou precursor da Escola Eleata?

3.3.1. Palavras de Platão:

“Entre nós, a Escola de Eléia, a partir de Xenófanes, e mesmo de data anterior, considera
o que se denomina todo como um único ser...” (O Sofista, 242 a)
Para confronto: “Todos os sábios, um por um, salvo Parmênides, concordaram neste
ponto: Protágoras. Heráclito e Empédocles e, dentre os poetas, os mais eminentes em
cada gênero de poesia – na comédia, Epicarmo, tragédia, Homero. Quando este diz: “-
Oceano é a origem dos deuses e Tétis sua mãe.”, está dizendo que tudo é produto do
fluxo e do movimento” (Teeteto, 152, d-e)
“Tens toda razão em dizer que nada mais é a Ciência do que a sensação e esta doutrina
se harmoniza com a de Homero, a de Heráclito e a de todos aqueles que o seguem: tudo
se move como um rio...” (Idem. Ibidem., 100 d)
“Discutir estas doutrinas de Heráclito, ou como dizer, de Homero ou mesmo de sábios
mais antigos, com as próprias pessoas de Éfeso que se consideram hábeis é tão
impraticável como discutir com impetuosos. Pode-se dizer que estão eles em consonância
com seus escrito: em perpétuo movimento” (Idem. Ibidem., 199 e)

3.3.2. Palavras de Aristóteles:

“Quanto a Xenófanes, o mais antigo dos partidários do uno (porque se diz que
Parmênides foi seu discípulo)... (Metafísica, I, 5, 786b, 21)

3.3.3. Palavras de Diógenes Laércio:

“Parmênides, natural de Eléia, filho de Pijus, foi aluno de Xenófanes. Embora tenha sido
Parmênides instruído por Xenófanes, não foi, entretanto, seu sectário: de acordo com
Socion, associou-se ele também com Amínias, o pitagórico... inclinou-se ele a seguir mais
este Amínias... Além disso, foi Amínias, e não Xenófanes, que o levou a adotar vida
tranqüila de estudioso.” (Vidas. IX, 2.1)

3.3.4. Palavras de Teofrasto (segundo Simplício):

“Diz Teofrasto que Xenófanes de Colofônio, mestre de Parmênides, supõe que fosse
único o princípio (arch) ou que toda existência fosse una (nem limitada, nem ilimitada,
nem em movimento, nem em repouso); e Teofrasto concorda que o relato da opinião de
Xenófanes pertence mais a outro estudo do que à Filosofia da Natureza (fusiça)”. (Física.
22-26).

Escola Eléia

Parmênides de Eléia

1. Nacionalidade:

“Parmênides, nascido em Eléia, filho de Pyro...” (Diógenes Laércio. Vidas. IX, 21)

2. Época:

“Floresceu ele por ocasião da 69ª Olimpíada (504-500) (Idem. Ibidem., IX, 23)

17
“Então, segundo Antifon, contara-lhe Pitódoro que, um dia, vieram Zenão e Parmênides
para as grandes Panatenéias. Parmênides já se encontrava em idade avançada, com a
cabeleira inteiramente branca, mas com bela e nobre aparência. Tinha ele cerca de 65
anos... Zenão se aproximava então dos 40 anos... Sócrates era então muito jovem
naquela época” (Platão. Parmênides, 127 a-C)

3. Relações doutrinárias:

a. “Entre nós, a Escola de Eléia a partir de Xenófanes e mesmo de data anterior,


considera o que se denomina todo como um único ser...” (Platão. O sofista, 242 a)
b. “... quanto a Xenófanes, o mais antigo dos partidários do uno (porque se diz que
Parmênides foi seu discípulo) ...” (Aristóteles. Metafísica. I, 5, 786 b, 21).
c. “Parmênides, natural de Eléia, filho de Pyro, foi aluno de Xenófanes. Embora tenha
sido Parmênides instruído por Xenófanes, não foi, entretanto, seu sectário. De acordo
com Socion, associou-se ele também com Anímias, o pitagórico... Inclinou-se ele a
seguir mais este Anímias... além disso, foi Anímias, e não Xenófanes, que o levou a
adotar a vida tranqüila de estudioso.” (Diógenes Laércio. Vidas. IX, 2 d)

4. O poema:

a. introdução: “Benvindo sejas, ó jovem, que vens a minha morada, conduzido, no


carro que te trazes, por cocheiros imortais! Não é o mau destino, mas o Direito e a Justiça
que te trancaram nesta via. Em verdade ela fica distante do caminho batizado pelos
homens. Mas é necessário que, encontrando-a, aprendas todas as coisas: tanto o
coração impassível da verdade bem arredondada quanto as opiniões ilusórias dos
mortais, onde não a verdadeira certeza. Todavia, deves aprender também estas coisas
(estas opiniões) – como teriam os mortais de julgar as coisas que lhe aparecem –
enquanto vais através de todas as coisas em tua viagem... Mas, distancia o teu
pensamento desta via de pesquisa, e não deixes que o hábito te forces, em virtude de sua
grande experiência, a lançar obre esta via uma visão sem propósito, ou um ouvido
sonoro, ou um saber, mas julga, pelo teu raciocínio, a prova tão discutida que pronunciei!
E então só resta uma via que se possa falar...” (Fragm DK, 28 B 1. Parte)

b. O caminho da verdade: “Vem agora e dir-te-ei – e ouves minhas palavras, guarda-as


para ti – a respeito das duas vias de pesquisa que podem ser pensadas; uma delas: é e
não pode deixar de ser (o ser é e não pode deixar de ser); esta é a Via da Persuasão,
porque acompanhada da Verdade; a outra via, não é e não é necessário que seja; esta, te
digo, é um via em que nada se pode aprender. Porque não podes conhecer o que não é –
isto é impossível – nem exprimi-lo (expressá-lo).” (Fragm. DK, 28 B 2)

“Porque é a mesma coisa pensar e ser.” (Diels)


“Porque uma única e mesma coisa pode ser pensada e pode ser.” (Kirk & Raven)
“Porque a mesma coisa é o pensar e a existência (do pensado)” (Rodolfo Mondolfo)
“De fato o mesmo é o pensar e o ser.” (Giovanni Reale)

“Seja qual for o ponto de que eu parta, a mesma coisa será, pois haverá de voltar ao
mesmo ponto.” (Fagm. DK, 28 B 5)

“O que possa ser falado (ser dito) e pensado há de ser, pois é possível,mas não ser (é)
impossível. É o que te ordeno considerar. Mas, depois, impedir-te-ei de seguir aquele
caminho em que erram os mortais, nada conhecendo, bicéfalos, porque a perplexidade de
seus corações torna desorientada sua inteligência e são levados como surdos e cegos,

18
assustados, ao mesmo tempo, sem juízo, para quem ser e não ser são considerados
como o mesmo e não o mesmo para quem, em cada coisa, há lugar para cosas opostas.”
(Fragm. DK, 28 B 6)
“Porque isto ( tal ponto de vista) jamais será provado: que as coisas não são, mas que
desvies o teu pensamento desta via de pesquisa e que não deixes a experiência
ordinária, em sua variedade, forçar-te a seguir este caminho (permitir que) a vista sem
propósito como é e o ouvido cheio de som e o paladar sejam dirigentes; mas (deves)
julgar através da razão a tão discutida tese por mim suposta.” (Fragm. DK, 28 B 7)

“E só resta um caminho que possamos falar, isto é, isto (que é) é. Neste caminho muitas
características (sinais) há: o que é incriado e indestrutível porque (ele) é completo (ou
inteiro), imóvel e sem fim. E jamais foi no passado, tampouco será ( no futuro) porque é
agora, todo e ao mesmo tempo, uno, sem descontinuidade; porque, que espécie de
origem poderias procurar para ele? Como e donde (poderia ele) ter-se originado? Não te
permitirei falar ou pensar que se tenha ele originado do não ser, porque não é exprimivel
(ou expressável) que o que não seja. E, se houvesse originado do nada, que necessidade
o teria feito nascer de preferências mais tarde ou mais cedo? Então, ou ele é
absolutamente, ou não é de nenhum modo.”
“Eis que não libera a justiça suas cadeias, não deixando nada vir à luz do dia ou
desaparecer; mas sustenta ela (a justiça) firmemente o que é. A respeito, a decisão
depende disto: é ou não é. Certamente a questão é julgada como deve necessariamente
ser, isto é, devemos afastar (uma das vias) por ser inconcebível ou inexprimível pois
então é uma via verdadeira, ao passo que a outra (via) é real, é verdadeira. Como poderia
o que é perecer? Como poderia o que é ter vindo à existência? Se veio à existência, ele
não é, tampouco é, se ele for no futuro. Portanto, o nascimento está excluído e, do
perecimento não se pode falar.”
“Tampouco é o (ser) divisível, pois é absolutamente igual. Não há (dele) mais aqui e
menos ali, pois isto o impediria de se manter igualmente, mas está tudo pleno do que é
(realmente). Consequentemente ele é completamente contínuo, o que é (realmente) isto,
ele é imóvel nos laços de possantes cadeias, sem começo nem fim, pois que nascimento
e perecimento foram decididamente rejeitados, repudiados que foram pela verdadeira
convicção. Continuando o mesmo e no mesmo lugar, permanece fixo em si mesmo,
porque a poderosa necessidade o mantém nos laços do limite que o faz firme de cada
lado, eis porque não lhe é permitido ser infinito, pois nada lhe falta, ao passo que, se
fosse infinito, tudo lhe faltaria.”
“Porque não podemos encontrar um pensamento sem algo que seja a respeito de que ele
(o pensamento) se exprima. E não há nem haverá jamais algo fora do que é, porque o
destino o encadeou de modo a ser inteiro e imutável. Eis porque todas as cosas
consideradas pelos mortais nada mais são do que nomes dados, como se elas realmente
existissem: nascimento e perecimento, ser e não ser, mudança de lugar e alteração de
luza brilhante. E desde que tenha ele um limite extremo, é completo em todos os sentidos
tal como a massa de uma esfera arredondada, pesando igualmente desde o centro para
todas as direções, pois não pode ele ser maior ou menor neste lugar do que naquele,
constituindo um todo inviolável. Porque igual em si mesmo em todas as direções,
alcançará ele uniformemente seus limites.” (Fragm. DK, 28 B 8 [parte])

“A doutrina do caminho da verdade estende-se do fragm. 2 até quase o fim do fragm. 8.


Já no fragm. 2, o filósofo distingue dois caminhos de investigação, o de ser e o do não
ser, sendo que o primeiro é o caminho da certeza, pois conduz à verdade, e o segundo
permanece imperscrutável para o homem. Trata-se, pois, de pensar o ser. E o núcleo da
doutrina Parmenídea está na sua afirmação de que pensar e ser é o mesmo (fragm. 3).
No fragm. 8, Parmênides define o ser e encontra nele a medida do pensar.

19
A terceira parte do poema começa no penúltimo parágrafo do fragm. * (“Com isto ponho
fim ao discurso digno de fé que te dirijo...”) e ocupa-se do caminho da opinião. Aqui,
Parmênides desenvolve a sua cosmologia. Desde a antigüidade discute-se o modo como
esta duas partes do poema podem ser conciliadas.” (Gerd Bornheim, organizador. Os
filósofos pré-socráticos. São Paulo, Cultrix, 1977)

c. O caminho da opinião: “Após terem sido todas (as coisas) denominadas luz e noite, e
aquilo que está de acordo com a sua força ter sido atribuído como nome a todas as
coisas, tudo, concomitantemente, está pleno de luz e de noite invisível, uma e outra em
igualdade; pois nada existe que não participe de um e outro.” (DK, 28 B 9)
“Conhecerás a essência do éter e todas as constelações no éter, e a ação consumidora
dos puros e límpidos raios do sol, e de onde provêm; e aprenderás a essência e a
circulação da lua arredondada; conhecerás também o céu circundante, de onde surgiu e
como a necessidade que o dirige o constrange a manter os limites dos astros.” (DK, 28 B
11)

“(...) como a Terra e o Sol e a Lua e o éter universal e a celeste via-láctea e o Olimpo
mais extremo e também como a cálida força das estrelas começaram a existir.” (DK, 28B
11)

“Ao (anéis) mais estreitos estão cheios de fogo sem mistura; os (seguintes) estão cheios
de noite, mas entre ambos está projetada a parte de fogo: no centro destes (anéis) está a
divindade que tudo governa; pois em tudo ela é o princípio do cruel nascimento e da
união, enviando o feminino a unir-se com o masculino, como, ao contrário, o masculino
com o feminino.” (DK, 28B 12)

“Em primeiro lugar criou (a divindade do nascimento ou do amor), entre todos os deuses,
a Eros (...).” (DK, 28B 13)

“(A Lua:) Brilhante durante a noite, luz estranha errante em torno à Terra.” (DK, 28B 14)

“(A Lua:) Sempre olhando para os raios do Sol.” (DK, 28B 15)

“(A Terra:) Enraizada na água.” (DK, 28B 15 a)

“Assim como cada um detém uma mistura própria ao movimento pródigo de seus
membros, assim o espírito se apresenta ao homem. Pois é em cada um e em todos os
homens aquilo que pensa, as propriedades internas dos membros: e o pensamento
predomina.” (DK, 28B 16)

“À direita os moços, à esquerda as moças.” (DK, 28B 17)

“Quando a mulher e o homem misturam as semente do amor, a força, quando em


equilíbrio, foma nas veias, de sangues diferentes, corpos bem constituídos. Mas se, ao
misturarem-se as sementes, as forças permanecem em luta e não produzem uma união
no corpo que resulte da mistura, afligirão funestamente a vida nascente por duplicidade
de sexo.” (DK, 28B 18)

“Assim, segundo a opinião, estas coisas vieram à luz e agora são e, no curso do tempo,
crescerão e depois morrerão. A cada uma os homens atribuíram um nome que lhes é
próprio.” (DK, 28B 19)

20
Escola de Eléia

Zenão de Eléia

1. Vida:
Segundo Apolodoro, floresceu Zenão na 74 ª Olimpíada (464-460 a.C.), data que se obtém
fazendo Zenão quarenta anos mais novo do que Parmênides. Parmênides e Zenão
encontram-se com Sócrates antes de 449. Zenão é filho de Celeutagoras.

2. Seus escritos:

Supõem-se que Zenão tenha escrito “Interpretação de Empédocles”, “As disputas”,


“Tratado da natureza”. É improvável que tenha ele escrito sob forma de diálogo.

3. Dialética:

Platão, no Sofista, dá a Zenão o título de inventor da dialética.

4. O objetivo da obra é mostrar a que absurdo nos leva a admissão da multiplicidade.

5. Método:

Partir de postulados admitidos pelo adversário, chegando a conclusões contraditórias.

6. A dialética é a arte de argumentar partindo, não de premissas verdadeiras, mas de


premissas admitidas por outros. Se a teoria de Parmênides conduz à contradição
relativamente aos sentidos, Zenão quer apenas mostrar que as teses pluralistas levam a
contradições semelhantes.

7. Zenão e o Pitagorsmo:

A dialética de Zenão dirigi-se contra os Pitagóricos inimigos de Parmênides, que afirmam


que “as coisas são uma pluralidade”.

8. Argumentos:

Os quatro argumentos contra a pluralidade:

“Se as coisas são uma pluralidade”:

1. “Se o uno não tivesse tamanho, não existiria... Mas se existe, o uno deve ter um
determinado tamanho e uma determinada espessura, e deve estar a uma determinada
distância do outro, e pode-se dizer o mesmo do que é e do que venha a ser diante
dele. É a mesma coisa afirmar isto uma vez e o afirmar sempre: pois nenhuma parte
dele será a última e não há uma coisa que possa ser comparada à outra. Se as coisas
são, pois, uma pluralidade, devem ser ao mesmo tempo grandes e pequenas,
pequenas a ponto de não terem qualquer tamanho, e grandes a ponto de serem
infinitas.” (Simplício. Física, 140, 34)

2. “Se ele (o uno) tivesse se juntado a qualquer outra coisa, ele não a tornaria maior:
pois nada pode aumentar de tamanho através do acréscimo do que não tem tamanho,
daí se segue imediatamente que o que se juntou nada era. Mas, se quando alguma

21
coisa é separada de alguma outra coisa, esta última não se torna menor: e, por outro
lado, se quando alguma coisa se junta a algo mais, nada acresce a ele, fica claro que
o que se ajuntou nada era, e que aquilo que foi separado também não é nada.” (Idem.
Ibidem, 139, 5)

Zenão procura contestar a pluralidade:

P. “Se as coisas são uma pluralidade, elas devem ser, ao mesmo tempo, grande e
pequenas,
Q. pequenas ao ponto de não terem tamanho
R. e grandes ao ponto de serem infinitas.”

P. Se as coisas são uma pluralidade (de elementos indivisíveis ou constituem um conjunto


infinito de matéria) – a prova desta proposição é reconstituída por Zenão nas proposições
auxiliares de Q: tudo o que é divisível é dotado de tamanho e que tem tamanho não pode
ser uno, mas múltiplo. (Veremos que, para Zenão o infinito extensivo é identificado com a
linha e o infinito intensivo com o ponto).

A1. Se as coisas fossem múltiplas, cada uma delas teria que possuir unidade e
identidade;
A2. Mas nada pode ter unidade se tem tamanho;
A3. Pois o que tem tamanho é divisível em partes;
A4. E o que tem partes não pode ser uno.
A5. Assim, se há muitas coisas, nenhuma delas pode ter tamanho.

O elemento indivisível é o que não tem tamanho. (tamanho = divisibilidade). Uno é o que
não tem tamanho. Esta afirmação, aceita por Parmênides, seria dificilmente aceita por
seus contemporâneos. Os adversários de Parmênides admitem a pluralidade, logo as
coisas são formadas de partes unas, indivisíveis. Mas, se o uno não tem tamanho, se ele
não existe, como a realidade, as coisas poderiam ser formadas pela união de coisas unas
e indivisíveis?

Transição de Q a R:

Se houvesse, muitos existentes, cada um teria necessariamente de ter tamanho. Pois, (a)
se (um existente sem tamanho) fosse acrescentado a outro existente, não o faria maior.
Pois, (b) não tendo tamanho, nada poderia acrescentar. E então se seguiria que (c) a
coisa adicionada seria nada, Se, na verdade, (d) quando algo é subtraído de outro, o
último não é reduzido, nem ainda (é o último) aumentando quando (o primeiro é)
acrescentado (a ele). É claro que o que é acrescentado ou subtraído é nada.

{ transição: a, b, c, d – conclusão}

Zenão não pretendia contestar o pluralismo, mas apenas mostrar que as proposições do
pluralismo traziam em si tantas contradições quanto as de Parmênides.

A polêmica de Zenão dirige-se contra uma certa concepção de unidade. Eudemo cita: “se
alguém fosse capaz de me dizer o que é uma unidade, eu seria capaz de dizer o que são
as coisas.” Logo, é impossível dizer que as coisas sejam um pluralidade.

3. P. “Se as coisas são uma pluralidade, elas devem ser exatamente tão múltiplas
quanto elas são, serão finita em número.

22
Se as coisas são uma pluralidade, elas serão infinitas em número, porque haverá sempre
outras coisas entre elas, e de novo outras coisas entre estas. E assim as coisas são
infinitas em número.” (Idem. Ibidem, 140, 27)
Se há um espaço, ele seria em alguma coisa porque tudo o que é, é em alguma coisa, e o
que é em alguma coisa, é no espaço. Assim, o espaço será no espaço e isto continua ao
infinito, eis porque não há espaço.”

Q. Se o múltiplo fosse constituído de unidades, e se estas unidades fossem indivisíveis,


então não teriam tamanho: então também a multiplicidade não tem tamanho;

R. O múltiplo seria constituído de um contínuo infinito (não de unidades). Se assim fosse,


um todo teria tamanho e poderia ser dividido em partes. Então este contínuo seria infinito
pois perder-se-ia supor a existência de infinitos elementos pela sua divisibilidade (para
cada ponto dividido é sempre possível encontrar um outro elemento divisível).

Aporias do Movimento: (trata-se da reconstituição do pensamento de Zenão, transmitido


por Aristóteles)

1. “Tu não podes chegar à extremidade de um estádio. Não podes percorrer em um


tempo finito um número infinito de pontos. És obrigado a atingir uma metade da
distância dada antes de atingir o todo e, antes disso, a metade da metade. E assim
sucessivamente ao infinito, de forma que, dado um número infinito de partes em não
importa que espaço, não podes percorrer infinitos pontos sucessivos um tempo finito.”
(Aristóteles. Física.)
Como é possível percorrer infinitos pontos em um tempo finito? Este argumento procura
apenas demonstrar a infinitude da linha (ou do espaço). O argumento examinado,
examinado pelos matemáticos modernos, demonstrou-se incontestável.

2. “Aquiles jamais ultrapassará a tartaruga. Deve primeiramente atingir o lugar de que


a tartaruga partiu. Durante este tempo, a tartaruga ganhará uma certa dianteira que
Aquiles deverá vencer; a tartaruga aproveitar-se-á então para percorrer um novo
trecho do caminho. Aquiles se aproximará sempre dela, sem vencê-la jamais.”

3. “A flecha que voa está em repouso. De fato, se uma coisa está em repouso quando
ocupa um espaço igual a si mesma, não pode se mover.”

A ............................................................................ B

Pensamento subjacente: um corpo que ocupa lugar no espaço está em repouso. Como a
flecha ocupa um lugar em determinado momento, está em repouso aí.
Zenão é contra a distinção entre o espaço e o corpo que o ocupa. Reforça assim a
negação parmenídea do vazio. (Parmênides fala da esfera infinita sem nada em seu
redor).

4. “A metade do tempo pode ser igual ao dobro do tempo. Suponhamos três séries de
corpos das quais uma (A) está em repouso, ao passo que outras duas (B, C) movem-se
com velocidade igual em direções opostas. Quando estiverem as três séries na mesma
parte do estádio, B terá passado duas vezes diante de igual números de corpos, tanto da
série C quanto da série A. Logo, o tempo necessário para passar diante de C é duas
vezes mais longo do que para passar diante de A. Mas o tempo que B e C empregam
para atingir a posição A é o mesmo. O dobro do tempo é, pois, igual à metade.”

23
(Zenão apresenta duas teses: a metade do tempo é igual ao dobro do tempo e metade do
tempo é igual a si mesma ).

A............
B............
............C
Quando: A . . . . . . . . . . . .
B............
C............

A metade do tempo que B levou para percorrer a metade de A foi também o tempo que
levou para percorrer todo C. Portanto, a metade do tempo é igual ao tempo inteiro. (Zenão
considerou apenas o movimento de B.)

O objetivo de Zenão é o de fortalecer as teses de Parmênides. Não procura negar tempo


e movimento; mostra apenas que, se fôssemos tratar deles, acharíamos tantos e tais
problemas que melhor seria não fazê-lo.

As aporias de Zenão seriam talvez uma manifestação muito próxima ao pensamento de


Heráclito: é impossível à razão humana conhecer um todo organizado e não
decomponível em partes tais como a vida e o movimento.
Parmênides nega todo o movimento. Seus sucessores abandonam a hipótese monista
justamente por não poderem negar o movimento.
Zenão mostra apenas as contradições da tese pluralistas. Seus argumentos não são
meros sofistas, marcam um grande progresso na área da quantidade.

Escola de Eléia

Melissos de Samos

1. Dados biográficos:

“Melissos, filho de Itágenes, nasceu em Samos e foi discípulo de Parmênides. Participou


também da vida política, ganhando estima de seus concidadãos. Elegendo-se almirante,
obteve a maior projeção de seu nome através de seus próprios méritos... De acordo com
Apolodoro, floresceu ele por ocasião da 84ª Olimpíada (444-440)” (Diógenes Laércio,
Vidas, IX, 24)

“Fosse qual fosse (o plano militar de Péricles) mostraram os fatos que estava ele errado:
enquanto distanciado (da ilha de Samos), o filósofo Melissos, filho de Itágenes, então
almirante dos Samianos, ou porque desprezasse o pequeno número de barcos deixados
para o bloqueio, ou porque fossem ineptos os comandantes daqueles barcos, certo é que
concitou os cidadãos a atacarem os sitiantes. Com isso, tornaram-se os Samianos os
vitoriosos, matando grande número de seus inimigos e fundando muitos barcos, tornando
assim o mar livre para entrarem na cidade os víveres e todas as aquelas coisas de que
precisavam. Diz Aristóteles que o próprio Péricles já havia sido, de outra vez, vencido no
mar por Melissos” (Plutarco. Péricles, 26)

2. Doutrina:

2.1. A eternidade do ser:

24
“O que era sempre foi e sempre será. Porque houvesse ele nascido, teria tido começo
(pois teria começado a existir neste ou naquele momento) e teria tido fim (pois teria
cessado de vir a existir neste ou naquele momento) mas, se ele não começou nem
acabou, sempre foi e será sem começo nem fim porque nada existe eternamente, a
menos que exista plenamente.” (Diels-Kranz, 30 B 2)

2.2. A infinidade do ser:

“Além disso, pois que ele sempre é, deve ser infinito em grandeza.” (Diels-Kranz, 30 B 3)
“Pois nada do que teve começo e teve fim é eterno e infinito.” (Diels-Kranz, 30 B 4)
“Em virtude (de tais argumentos) esses filósofos ultrapassaram a sensação e a
desprezaram, visando a atender ao raciocínio, pretendendo mesmo que fosse o universo
uno e imóvel, chegando certos deles (trata-se de Melissos e seus sequazes) a
acrescentar que ele era infinito, desde que todo limite confrontaria com o vazio (e o vazio
era inaceitável pois se opunha ao ser)” (Aristóteles, Da geração e da destruição, I, 8, 325
a, 13-16)

2.3. A unidade do ser:

“Se não fosse único, o ser seria limitado por outra coisa.” (Diels-Kranz, 30 B 5.)
“Porque, se ele é (infinito), deve ser uno, pois se fosse duplo, então não poderia ser
infinito: neste caso seriam limitados um pelo outro.” (Diels-Kranz, 30 B 6)
“E, desde que é uno, o ser é absolutamente semelhante: não fosse assim, seria múltiplo
e, não, uno” (Diels-Kranz, 30 B 6 a)

2.4. A imutabilidade do ser:

“... e ele (o ser) não pode perecer nem tornar-se maior; e não sofre dor nem castigo.
Porque, qualquer destas coisas lhe ocorresse, não seria mais uno. Pois, se se alterasse,
então deveria o real necessariamente não ser todo semelhante: o que era outrora deveria
perecer, e o que não fosse deveria vir à existir. Ora, se ele se modificasse (na proporção
de) um cabelo que fosse, curso de mil anos, ele pereceria inteiramente no curso do
tempo.” (Diels-Kranz, 30 B 7 parte)

2.5. A imobilidade do ser:

“Tão pouco ele move-se, pois nele não há lugar para se mover, mas é pleno. Se
houvesse nele qualquer vazio, iria ele ocupar o vazio. Mas, desde que nele não haja
qualquer vazio: nenhum lugar para onde possa ele se deslocar.” (Diels-Kranz, 30 B 7
parte)

2.6. Corpóreo ou incorpório?

“Ora, se ele deve existir, deve necessariamente ser uno, não pode ter corpo, porque, se
tivesse corpo, ele teria partes e, então, já não seria uno.” (Diels-Kranz, 30 B 9)

Veja-se no fragm. DK 30 B 3, já transcrito.

“Parece haver Parmênides atendido mais à unidade formal, ao passo que Melissos
atendeu mais a unidade material... “(Aristóteles, Metafísica, I, 9, 786b, 18-19)

25
Os Pluralistas

Empédocles

1. Data:

“Diz-nos o gramático Apolodoro, em sua Cronologia, que era Empédocles filho de Meton
e fala Glauco que foi ele a Turio (cidade da Magna Grécia) quando acabava de ser
fundada (445-444)” (Diógenes Laércio, Vidas, VIII, 52)

2. Nacionalidade:

“De acordo com Hipólito, era Empédocles filho de Meton e neto de Empédocles, tendo
nascido Agrigento (Sicília)” (Idem. Ibidem., VIII, 51)

3. Aspecto místico:

“... marcho dentre vós como deus imortal, deixando então de ser mortal, honrado entre
todos como convém, coroado com flâmulas e grinaldas...” (Diels-Kranz. 31 B 112, parte)

Vejam-se os fragmentos Diels-Kranz 31 B 117-120 e 124-126 já transcritos e referentes


aos Pitagóricos e à Escola Itálica.

“Porque fui outrora um moço e uma moça, um arbusto e um pássaro e um peixe mudo no
mar (logo que nasci) chorei e lamentei vendo a região que não era familiar”. “De quantas
honras, de que altura caí para errar nesta terra de mortais!...” “Encontremo-nos nesta
caverna...” “ai de ti, miserável raça de mortais, duas vezes amaldiçoada, de quantas lutas
e de quantos gemidos nasceste!” “De criaturas vivas ele fez mortos, modificando suas
formas” “(a divindade) revestiu (as almas) com estranho imólocro de carne” (DK 31 B 117-
120 e 124-126).

4. Cosmologia:

4.1. As quatro raízes de todas as coisas:


“Aprendo, primeiramente, quais são as quatro raízes de todas as coisas: Zeus (o ar), que
brilha; Hera (a terra), que dá a vida; Aidoneus (o fogo); e Nestes (a água), cujas lágrimas
constituem fontes de vida para os mortais” (Diels-Kranz, 31 B 6)

4.2. A eternidade das raízes:


“E dir-te-ei outra coisa: não há entrada na existência, nem fim na morte funesta para o
que é perecível, mas, tão somente mistura e modificação do que foi misturado.
Nascimento nada mais é do que uma expressão dada a este fato pelos homens.” (Diels-
Kranz, 31 B 8)
“Loucos! – pois não tem pensamentos consistentes aqueles que imaginam ter vindo à
existência aquilo que, antes, nada era, ou que (imaginam) poder qualquer coisa ser
destruída. Porque não é possível que possa algo nascer do que não existe; e é impossível
e inaudito que deva perecer o que é, pois este sempre será em qualquer lugar que se
coloque.” (Diels-Kranz, 31 B 11-12)

4.3. Vida e morte são apenas acidentes:


“Mas quando os elementos (as quatro raízes) se misturam sob a forma de homem, vindo
à luz do dia, ou sob a figura de uma espécie de animal selvagem, ou de plantas, ou de

26
pássaros, então, dizem os homens que tais seres nasceram; e quando (aqueles
elementos) se separam, chamam isto de morte dolorosa. Não empregam então expressão
adequada, mas também eu tenho o hábito de assim proceder” (Diels-Kranz, 31 B 7)
4.4. Inexistência do vazio (ou vácuo):
“E no Todo nenhum vazio há, tampouco o pleno em excesso.” (Diels-Kranz, 31 B 13)

4.5. Amor e ódio:


“Quero anunciar-te duplo discurso: em dado momento, o Uno se forma do Múltiplo, em
outro momento ( o Uno) se divide e, do Uno sai o Múltiplo. Há duplo nascimento das
coisas perecíveis e dupla destruição. A reunião de todas as coisas leva uma geração à
existência e a destrói; a outra cresce e a dissipa quando as coisas se separam. E essas
coisas não cessam de mudar continuamente de lugar, todas elas se reunindo, em dado
momento, por efeito do amor, e levadas, em outro momento, a direções diversas pela
repulsão do Ódio. Enquanto estejam então as coisas passando do Múltiplo ao Uno, e
tornando uma vez mais múltiplo quando fragmentado o Uno, elas entram no mundo da
existência, e sua vida não dura. Mas, ao passo que não param elas de mudar de lugar,
são sempre imóveis no ciclo da existência.” (Diels-Kranz, 31 B 17 parte)

4.6. Amor e Ódio também são elementos?


“(Empédocles) achava que eram quatro os elementos materiais: fogo, ar, água e terra,
todos eternos, mas variando o tamanho e a pequenez através da mistura e da separação;
mas seus verdadeiros princípios, aqueles que transmitiam àqueles movimentos, eram o
Amor e o Ódio. Sujeitavam-se os elementos continuamente a uma modificação
alternativa, ora misturando-se pelo Amor, ora separando-se pelo Ódio;
consequentemente, seus primeiros princípios eram realmente seis! (Simplício. Física, 25,
21)

4.7. Os quatro estágios evolutivos:


“Sustenta Empédocles que as primeiras gerações de animais e plantas não eram
completas, constituindo de membros separados e sem qualquer vinculação; as segundas,
que surgiram da vinculação daqueles membros, foram como criaturas em sonhos; a
terceira foi a geração das formas inteiramente naturais; e a quarta surgiu, não mais das
homeomerias (as raízes), tais como a terra ou a água, mas por geração em outros casos,
como resultado da condensação nutritiva, em outros, porque a beleza feminina provocou
o impulso sexual, e as várias espécies animais se distinguiram pela qualidade da mistura
nelas existente.” (Aécio, Placita V, 19, 5)

4.8. A sobrevivência do mais apto:


“Sempre que algo ocorra, aparentando algum propósito, as criaturas sobrevivem, pois que
se constituíram elas de modo favorável; mas, quando assim não ocorra, as criaturas
perecem, e ainda estão perecendo como, por exemplo, - segundo Empédocles – os bois
com cara de homem.” (Aristóteles. Física. II, 8, 198b, 29-32)

4.9. Teoria do conhecimento:


“Porque é com a Terra que vemos a Terra; com a água, a água; pelo ar, vemos o Ar
brilhante; pelo fogo, o Fogo devorador. E pelo amor, vemos o Amor; e pelo ódio, vemos o
Ódio.” (Diels-Kranz, 31 B 109)

Os Pluralistas

Anaxágoras

27
1. Data:

“Diz-se eu tinha ele vinte anos por ocasião da invasão de Xerxes (480 a.C.) e que viveu
72 anos. Em sua Cronologia, diz Apolodoro que ele nasceu por ocasião da 70 ª Olimpíada
(500-497), tendo morrido por ocasião da 88ª Olimpíada (428). (Diógenes Laércio. Vidas.
II, 7)

2. Nacionalidade:

“Anaxágoras, filho de Hegeríbulo ou Eubulo, nasceu em Clazômenas (na Jônia, perto da


atual Ermirna)” (Idem. Ibidem., 55)

3. Cosmologia:

3.1. Mistura original:

“Todas as coisas existem conjuntamente, infinitas em número e em pequeneza. E quando


todas as coisas existem conjuntamente, nenhuma delas pode ser distinguida por causa de
sua pequenez.” (Diels-Kranz. 59 B 1 – parte)

3.2. Infinita divisibilidade das coisas:

“Tampouco há um grau último de pequenez dentro do que é pequeno, pois é impossível


que o que exista cesse de existir pela divisão.” “Do mesmo modo há sempre algo maior
do que é grande.” (Diels-Kranz 59 B3)

3.3. As sementes principais do universo:

“E uma vez que assim sejam estas coisas, devemos supor que muitas coisas, e de todas
as espécies, estão contidas nas coisas que vão se unindo, sementes de todas as coisas,
com toda sorte de formas, cores e sabores e que os homens delas se formaram bem
como os demais seres vivos dotados de vida... Mas, antes que fossem elas separadas,
quando todas as coisas existiam conjuntamente, nenhuma cor podia se distinguir, pois a
mistura de todas as coisas a isto se opunha – do úmido e do seco, do quente e do frio, do
luminoso e do sombrio...” (DK 59 B 4)

3.4. Vida e morte são apenas acidentais:

“Adotam os helenos procedimento incorreto quando falam de nascimento e destruição,


porque nada nasce ou se destrói: mas há mistura e separação das coisas que existem.
Estariam então certos se chamassem o nascimento de mistura, e a destruição de
separação” (Diels-Kranz 59 B 17)

3.5. Em todas as coisas há uma porção de todas as coisas:

“E como as porções do grande e do pequeno sejam iguais quanto à soma, por isto
mesmo, todas as coisas hão de estar em cada coisa, tais coisas não podem existir
separadamente, mas todas as coisas têm uma porção de cada coisa. Uma vez que não
possam existir em último grau de pequenez, elas não podem existir separadamente, nem
podem vir a ser por si mesmas; mas, assim como eram as coisas originariamente, assim
devem elas ser agora, todas conjuntamente” (Diels-Kranz 59 B 6)

28
“Como pode o cabelo vir a ser o que não é cabelo ou a carne vir a ser o que não é
carne?” (Diels-Kranz 59 B 16)
3.6. Nous, o princípio ordenador:
“Em cada coisa há uma porção de cada coisa, exceto no Nous” (Diels-Kranz 59 B 16)
“As demais coisas participam, em certa medida, de cada coisa, ao passo que Nous é
infinito e autônomo, e não está misturado com coisa nenhuma, mas existe unicamente em
si mesmo e por si mesmo. Porque, não existisse ele em si mesmo, mas fosse misturado a
alguma outra coisa, participaria ele de todas as coisas; porque em cada coisa há uma
porção de cada coisa... e as coisas que fossem misturadas com ele impedi-lo-iam, de
modo que nada poderia controlar. Porque ele é a mais sutil e pura de todas a coisas, e
tudo conhece a respeito de cada coisa, sobre cada coisa tem o maior poder...” (Diels-
Kranz 59 B 12 parte)

“Quando vem um homem a dizer que há, tanto no âmbito da natureza quanto dentre os
animais uma inteligência que constitui causa da ordem e do arranjo universal, afigura-se
ele como único de bom senso dentre o falatório oco de seus predecessores” (Aristóteles,
Metafísica, I, 3, 984b, 15-18)

Os Atomistas

Leucipo

1. Data:

(ver Teofrato. Opinião dos Físicos, fragm. 2) e Aristófanes. As Nuvens. V. 227 e Seg.,
adiante referidos). Floresceu entre 440-435.

2. Nacionalidade:

“Leucipo de Eléia ou de Mileto (ambas estas procedências são apresentadas)...”


(Teofrasto. Opinião dos Físicos fragm. 5 - parte)

“Leucipo nasceu em Eléia, as alguns acham que foi em Abdera, e outros, em Mileto.”
(Diógenes Laércio. Vidas. IX, 30)

Demócrito

1. Data:

“...depois, encontrou-se ele com Leucipo e, de acordo com alguns, com Anaxágoras,
sendo 40 anos mais jovem do que o último.” (Idem. Ibidem. IX, 34)

2. Nacionalidade:

“Demócrito era filho de Hegistrato, embora digam alguns que era filho de Demásipo.
Nasceu ele em Abdera (na Trácia) ou, segundo outros, em Mileto.” (Idem. Ibidem. IX, 34)

3. Cosmologia

3.1. A necessidade de admitir o vazio (o vácuo):

29
“alguns antigos (os eleatas) haviam, com efeito, pensado que o ser fosse
necessariamente uno e imóvel; o vazio era, segundo ele, o não-ser, não podendo haver
movimento pois que inexistia o vazio. Acrescentaram eles que também não podia haver a
pluralidade, pois nada isolava as coisas unas das outras... Mas acreditou Leucipo
apresentar argumentos, concordando com os dados dos sentidos, não negavam nem a
geração, nem a destruição, nem o movimento, nem a pluralidade dos seres. Tais
concessões, feitas aos fenômenos sensíveis, mas concordando com os construtores do
Uno (os Eleatas) quanto à impossibilidade do movimento sem o vazio, disse ele (Leucipo)
que o vazio era o Não ser e que nenhuma outra parte do ser era não ser. Isto porque, no
sentido legitimo do termo, o Ser era absoluto, plenum. Mas assim entendido, o Ser não
era – segundo Leucipo – uno, mas havia uma infinidade de seres, e que uma dessas
unidades era indivisível por causa da pequenez do seu volume. Essas unidades se
moviam no vazio – e determinavam por sua associação, a geração e a dissociação, a
destruição.” (Aristóteles. Da geração e da destruição. I, 8, 3225ª, 2-32)

3.2. Os átomos:

“Disseram (Leucipo, Demócrito, e Epicuro) que os primeiros princípios eram infinitos em


número e achavam que fossem átomos indivisíveis e impassíveis por causa de sua
compassividade e falta de qualquer vazio. Neles, surgiu a divisibilidade por causa do
vazio nos corpos compostos..” (Simplício. Do Céu. 242, 13)

“Leucipo de Eléia ou de Mileto... associara-se com Parmênides em filosofia. Não seguiu


porém a mesma vida de Parmênides e de Xenófanes em sua explicação das coisas, mas,
ao que parece, via exatamente contrária. Eles (os Eleatas) consideravam o Todo uno,
imóvel, incriado e finito, não nos permitindo mesmo indagar o que não é; ele (Leucipo)
supunha inúmeros elementos, sempre em movimento, a saber, aos átomos. E achava ele
que fossem as formas infinitas em número, pois não havia razão para que fossem elas,
antes de uma espécie do que de outra, e também porque constatava ele um vir a ser e
uma modificação incessante das coisas. Além disso, sustentava que o que é não é mais
real do que o que não é, e que ambos constituem causas das coisas que nascem; porque
estabelecia ele inicialmente que a substância dos átomos era completa e plena,
denominando-a o que é; e achava que se movessem eles no vazio, denominando este o
que não é.” (Teofrasto. Opinião dos Físicos. 8)

3.3. A estrutura da realidade:

“Leucipo e seu associado Demócrito consideraram elementos (básicos do universo) o


Pleno e o Vazio (ou vácuo), que eles denominavam, respectivamente, Ser e Não ser. O
ser era constituído pelo Pleno e Sólido, o Não ser, pelo Vazio e Raro. Desde que o Vazio
não era menos existente do que o Corpo, seguia-se que o Não ser não existia menos do
que o Ser. Eram estas duas as causas materiais das coisas existentes. E assim como
aqueles (Anaximandro e Diógenes de Apolônia) que admitiram uma substância
fundamental única, geradora, por meio de suas modificações, dos demais seres,
postulando a rarefação e a condensação como origem de suas modificações, assim
também esses filósofos (Leucipo e Demócrito) afirmaram que as diferenças entre os
átomos constituem causas das demais qualidades. Sustentaram eles que tais diferenças
eram três: figura, ordem e posição. As diferenças do Ser – diziam eles – só decorrem da
proporção (suqmez), do contato (diaqigqh) e da situação (troph). Ora, a proporção era a
figura, o contato, a ordem, a situação, a posição. Assim era que A difere de N pela figura;
NA de NA, pela ordem; e Z de N, pela posição. Quanto ao problema do movimento, donde

30
e como os seres o possuem, tais filósofos, como outros, deixaram negligentemente em
silêncio.” (Aristóteles. Metafísica. I, 4, 985b, 4-20)

O Período Antropológico

Os sofistas

A. Sentidos da palavra “Sofista”

A.I. sinônimo de “sábio“


A.II. “aquele que habitualmente usa sofismas, isto é, argumentos falsos com aparências
de verdadeiros” (Aristóteles. Das Refutações dos Sofistas)

B. Características:

B.I. Humanismo (e não naturalismo):

B.II. Pragmatismo (Aristóteles. Das Refutações dos Sofistas).


Pragmatismo (de pragma): referente à ação e não teoria – (theoria – contemplação,
atitude desinteressada);

B.III. donde, preocupação com a virtude (arete); no sentido grego, e não com a verdade
(aletheia);

B.IV. donde preocupação mais com a forma do que com a matéria do conhecimento. Daí
a importância de disciplinas tais como a Gramática, a Retórica e a Dialética, etc.;

B.V. exercício individual não “escolar” do magistério.

C. Causas

C.I. Intrínsecas: de natureza histórico-filosófico: “... a escola concordava apenas em


relação a uma coisa: todas as outras escolas estavam erradas” (Burnet, Greek
Philosophy, p. 105)

C.II. Extrínsecas:

C.II.a. As guerras persas e seus resultados:


“A tendência democrática da constituição tornou-se cada vez mais acentuada...” (Robin)

C.II.b. A expansão econômica:


“Com a extensão cada vez mais ampla do horizonte grego, entraram eles em contato com
os povos estrangeiros, com algumas culturas antigas e avançadas como os Babilônios e
os Egípcios, e, por outro lado, com nações bárbaras como os Cítios, os Trácios e os
Líbios.
A comparação entre a diversidade dos costumes e formas de vida destes povos e de seu
próprio povo incrementou o espírito crítico” (Zeller. Outlines of History of Greek
philosophy, p. 76)

D. Os grandes Sofistas

D.I. Protágoras de Abdera (c. 480/410)

31
D.I.A. Missão a que se propôs:

“... procurando-me a aluno só aprenderá ele aquilo que tem ele propósito de aprender. De
que matéria se trata? Justamente de cuidar de suas atividades pessoais: seja do melhor
modo de cuidar de sua economia doméstica, seja da melhor maneira de tratar de seus
negócios de Estado, defendendo-o pela ação ou pela palavra.” (Platão. Protágoras, 318e-
319e).

D.I.B. Ceticismo gnosiológico: a tese da “homomensura”:

“Pareces dizer da ciência, coisa que não é vulgar: trata-se do que a respeito dizia o
próprio Protágoras. Definia-a ele como ter, embora em termos diferentes. Não dizia, com
efeito, que era o homem a medida de toda as coisas, da existência das que existem, e da
não existência das que não existem?... Não quer isto dizer que., tal uma coisa me pareça,
tal será ela para mim, e tal a mesma coisa te pareça, tal será ela para ti?... Presume-me
que um sábio não fale em vão. Sigamo-lo então. Não ocorre que, expostos ao mesmo
vento, um de nós sinta frio, e o outro, não? Ou que um o sinta levemente e o outro
intensamente?... Neste caso, que diremos nós? Que o vento seja em ti mesmo frio ou não
frio? Ou, se dermos crédito a Protágoras, que o vento seja frio para quem assim o sinta, e
não frio para quem assim o perceba?... Então, aparência e sensação constituem a mesma
coisa no que concerne, não só ao calor, como às demais coisas do mesmo gênero,
porque tais cada um as sinta, tais parecem ser elas para cada um.” (Platão, Teeteto,
151e-152e)

D.I.C. Pragmatismo Político:

“Quando se apossou o homem de sua parcela divina, dedicou-se ao trabalho de erguer


altares aos deuses e fazer imagens suas, por causa de sua afinidade com eles, era o
único animal que acreditava em sua existência. A seguir, graças à aptidão que lhe era
ínsita, descobriu o homem a articulação da palavra, além de construir casas, fazer
vestimentas e obter alimento da terra. Com tais recursos viviam os homens primeiramente
isolados, e as cidades não existiam, de modo que eram eles abatidos por animais
selvagens, sempre mais fortes,. Para viver, ser-lhe-iam suficientes as artes mecânicas
não fossem os animais selvagens: ainda não possuíam a arte política de que faz parte a
arte militar.
Procurando então se salvar, uniram-se os homens, fundando cidades. Mas, quando se
encontraram em comunidade, começaram a prejudicar uns aos outros, pois que ainda
lhes faltava a arte política. Separaram-se novamente, e continuaram a ser devorados
(pelos animais selvagens). Receando então que nossa raça fosse aniquilada, mandou
Zeus que Hermes distribuísse aos homens o sentimento da justiça bem como o respeito
alheio, afim de que servissem de princípios reguladores dos Estados, unindo os cidadãos
pelo laço da amizade.” (Platão. Protágoras. 322 a)

D.I.D. Agnosticismo religioso:

“No que concerne aos deuses, não estou em condições de saber s existem ou não. Pois
muitos são os obstáculos que nos impedem tal conhecimento: tanto a obscuridade do
assunto quanto a brevidade da vida.” (Diógenes Laércio. Vidas. IX. 51-52)

D.II. Trasímaco de Calcedônia:

32
D.II.A. A lei sempre representa o interesse dos mais fortes:

“Afirmo que direito (ou justo) nada mais é do que aquilo que trava vantagem ao mais forte.
Não sabes que, dentre os Estados, uns constituem a tirania, outros a democracia, outros
a aristocracia? E o elemento mais forte do Estado não é o Governo?... Ora, cada Governo
estabelecesse as leis que lhes interessam: a democracia, leis democráticas; a tirania, leis
tirânicas, e assim por diante estabelecendo estas leis e para seu interesse próprio,
declaram-nas este Governo justas, punindo aqueles que as transgridem como violadores
do direito e autores da injustiça. Isto prova o que afirmei, em qualquer Estado, justo é isto:
o que traga vantagem para o Governo constituído: ora, elemento mais forte do Estado é o
Governo constituído, donde esta conclusão para todo aquele que tem raciocínio: em
qualquer parte, justo é o que traga vantagem para o mais forte.” (Platão. República. I,
338 a – 339 a)

D.II.B. A desvantagem de ser justo:

I. (em sentido socrático) “Eis aí, Sócrates, simplório como é necessário encarar as
coisas: em tudo o homem justo é inferior ao injusto. Primeiro, no comércio: se associa-se
ao justo jamais poderá ganhar por ocasião da dissolução da sociedade, mas sairá sempre
perdendo. Depois, nos negócios públicos: se trata-se de pagar impostos, o justo sempre
paga mais, o injusto, menos; por outro lado, quando se trata de receber, o primeiro
receberá sempre menos, o segundo, mais. No que concerne à ocupação de cargos
públicos, embora negligenciando os seus negócios domésticos para melhor se dedicar ao
Estado, o justo, por causa de seus espírito, nenhum proveito tira da coisa pública. Além
disso, contrai ele o ódio dos parentes e amigos, recusando-se a atendê-los em detrimento
da Justiça, quanto ao injusto, é precisamente o contrário que ocorre” (Idem. Ibidem. I 343
dc)

O Período Antropológico

Os grandes sofistas (II)

D. III. Cálicles: a lei sempre representa o interesse dos mais fracos:

“Na maioria das vezes, natureza e lei se contradizem. É inevitável cair em contradição, se,
por falso pudor, receia-se dizer o que se pensa. Já descobristes este segredo e dele te
serves para discutires com má fé: se se fala da lei, perguntas sobre a natureza e se se
fala natureza perguntas sobre a lei. Foi assim que quando, ainda há pouco, a respeito da
injustiça cometida e sofrida, falava Pólos do que há de mais feio segundo a lei,
prosseguias a discussão, referindo-te à natureza. Porque, segundo a natureza, o que há
de mais feio é sempre o mais desvantajoso, isto é, sofrer a injustiça, ao passo que,
segundo a lei, é praticada. O sofrimento da injustiça não é próprio de um homem, mas de
um escravo, para ____________ morte seria de fato mais adequada do que a vida,
considerando que quando ele é lesado e escarnecido, não pode defender-se ou defender
qualquer outra pessoa que lhe seja próxima. A razão disso, segundo o meu modo de
pensar, é que aqueles que fazem as leis são a maioria dos que são fracos; eles fazem leis
e atribuem louvores e censuras visando a si próprios e aos seus próprios interesses;
amedrontam os homens fortes e aqueles que podem destacar-se entre eles, a fim de que
não tirem proveito deles: e dizem que a desonestidade é vergonhosa e injusta;
significando, através da palavra injustiça, o desejo do homem de ter mais do que os seus
vizinhos; pois, conhecendo a sua própria inferioridade; suspeito que fiquem muito
satisfeitos com a igualdade. Consequentemente, a tentativa de ter mais do que muitos, é

33
convencionalmente designada como vergonha e injusta e é designada injustiça, enquanto
a própria natureza indica que é justo que os melhores tenham mais do que os piores, os
mais poderosos do que os mais fracos; e mostra, de muitas maneiras, tanto entre os
homens como entre os animais, e mesmo entre cidades e raças, que a justiça consiste na
dominação do superior e em ter mais do que o inferir. Na verdade, baseado em que
direito, levou Xerxes a guerra contra a Grécia, seu pai contra a Cítia, sem se falar em uma
infinidade de exemplos do mesmo gênero? Mas todos estes homens agiram, a meu ver,
de acordo com a própria natureza do direito, e, por Zeus, segundo a lei da natureza, mas
nunca de acordo com a lei estabelecida pelo homens. Mas contrariando tais princípios, o
que de fato fazemos é preparar os melhores e os mais fortes dentre nós, dos quais nos
assenhoramos quando ainda em tenra idade, como leõezinhos nossos, para então
subjugá-los mediante atrativos e ilusões, asseverando-lhes que é necessário respeitar a
igualdade e que, precisamente isto constitui o belo e o justo. Entretanto, se surgisse um
homem bastante forte para sacudir estes entraves e dificuldades e os inutilizar, estou
certo de que, amassando sob os pés os nossos protocolos e disfarces bem como todas
as leis contrárias à natureza, ele se voltaria e veríamos então surgir nosso chefe neste
homem que até agora era nosso escravo. E então, o direito da natureza brilharia com toda
a sua pujança”. (Platão. Górgias. 483 a – 484 a).

D.IV. Hípias: a lei tiraniza os homens violando a natureza:

“Cidadãos que aqui estais: considero-os parentes, aliados, patrícios, não pela Lei, mas
pela Natureza. Porque, por natureza, o semelhante é afim ao semelhante. Mas vem a lei
que sempre acaba por tiranizar os homens, sempre violando a natureza...” (Platão.
Protágoras. 377 c-d)

D.V. Górgias de Leôncio: ceticismo gnosiológico radical:

a. nada existe;
b. se algo existisse, seria inconcebível,
c. se algo existisse e fosse concebível, seu conhecimento seria incomunicável. (Diles
Kranz, 82 B 3)

“Aquilo que alguém vê, como poderia exprimí-lo com a palavra? Ou como isto poderia
tornar-se manifesto a quem o escuta, sem tê-lo visto? De fato, a vista não conhece o sons
e os ouvidos não ouve as cores, mas os sons, e contudo, quem fala diz algo, mas não diz
nem uma cor nem uma experiência. Aquilo, pois, que alguém não concebe, como poderá
concebê-lo em conseqüência da intervenção de um outro, ou meio da palavra deste o por
meio de um sinal diferente da experiência, senão, no caso de uma cor, por tê-la visto, no
caso de um rumor, por tê-lo ouvido? De fato, quem fala não diz absolutamente um rumor
ou uma cor, mas uma palavra. Consequentemente não é possível nem mesmo figurar
com o pensamento uma cor, mas vê-la, nem um som, mas ouvi-lo. E mesmo que seja
possível conhecer tudo aquilo que se conhece, de que modo aquele que ouve poderá
representar-se conceitualmente o mesmo objeto? Com efeito, não seria possível que a
mesma realidade pensada encontrasse contemporaneamante em vários sujeitos
separados entre si: o um, com efeito, sereis dois. E, muito embora admitindo que a
mesma realidade pensada se encontre em vários sujeitos, nada impede que não se lhe
mostre semelhante, pois eles não são semelhantes sob todos os aspectos, nem se
encontram em idênticas condições: se, de fato, se encontrassem numa idêntica condição,
seriam um e não dois. Por outro lado, nem se quer o mesmo sujeito experimenta
percepções semelhantes ao mesmo tempo, mas as da audição são diferentes das da
visão, e agora diferente do passado. Por conseqüência dificilmente alguém poderia ter

34
percepções diferentes idênticas às de outro. Segundo esta dedução, nada existe e,
mesmo que existisse, não seria de modo algum cognoscível, e mesmo que o fosse,
ninguém poderia manifestá-lo a outro, pelo fato de que as coisas não são palavras e
ninguém consegue pensar uma coisa idêntica a que pensa outro.” (Ps. Aristóteles. De.
Mel. Xenoph. Górgia, 6, 980 a 20)

D.VI. Pólos: a prática da injustiça não traz necessariamente a infelicidade:

Pólos: Para refutar-te, Sócrates, não é necessário procurar exemplo do passado: os de


ontem e os de hoje bastam para convencer-te de que estás errado, e demonstram que os
injustos são sempre felizes ... Sem dúvida, sabes que Arquelau, filho de Pérdicas, reina
na Macedônia. Parece-te ele feliz ou infeliz?

Sócrates: Nada sei a respeito, Pólos; nunca me encontrei com ele.

Pólos: Que? Não sabes por não haveres te encontrado com ele? Enão tens meios de
saber, daqui, que ele é feliz?

Sócrates: Por Zeus, não.

Pólos: Queres dizer então que ignoras ser feliz o grande rei?

Sócrates: juro dizer-te a verdade, realmente não sei de sua posição relativamente à
instrução e à justiça.

Pólos: E só isto (instrução e justiça) constituem a felicidade?

Sócrates: Para mim, só isto, Pólos, homem e mulher são felizes quando são honestos, e
desonestos necessariamente infelizes.

Pólos: Então, a teu ver, Arquelau é infeliz?

Sócrates: Sim, se ele é injusto.

Pólos: Injusto? Como haveria de ser? Nenhum direito tinha ele ao trono que hoje ocupa,
pois é filho de uma escrava de Alquetes, irmão de Péricles. Ora se observasse ele a lei
seria hoje escravo de Alquetes e, a teu ver, inteiramente infeliz. Mas, verdade foi que
praticou os crimes mais graves, e, então, deveria ele ser a mais infeliz das criaturas. Para
começar, com o pretexto de retribuir a Alquetes seu amo e tio, o trono de que o haveria
despojado Pérdicas, Arquelau o chamou em sua casa. Lá chegando, acompanhado de
seu filho, primo de Arquelau, este embebedou ambos e os colocou em um carro, degolou-
os e deu sumiço neles, isto feito, não se apercebeu de que era o mais infeliz dos homens
nem manifestou qualquer remorso. Pouco depois, tomou ele o seu próprio irmão, filho
legítimo de Pérdicas, criança de sete anos, a quem caberia legalmente a coroa da
Macedônia e, em vez de atender à justiça e ser feliz, (segundo o teu ponto de vista)
colocando-o no trono, jogou-o num poço, afogou-o e foi dizer para Cleópatra, mãe da
vítima, que o menino sofrera um acidente quando corria atrás de um ganso. Ora, tratando-
se do maior criminoso dentre os macedônios, longe de ser o mais feliz, é ele então o mais
infeliz dos homens; e, provavelmente, haverá mais de um ateniense, a começar por ti, que
preferia a posição de qualquer outro macedônio à de Arquelau.” (Platão. Górgea. 470c –
417 d)

35
D.VII. Alcidamas: a lei não deve distinguir entre livres e escravos:

“Afirmam outros que o domínio do senhor sobre os seus escravos é contrário à natureza,
e que a distinção entre escravo e livre só existe por lei, não pela natureza” (Aristóteles.
Política, I, 3, 1253b. 20-22)

36

Вам также может понравиться