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Da primeira vez que fomos (Frucchi, Bernardo e Camila) nasceram essas experiências:
Desde a minha infância, lembro-me ser fascinada por três ambientes: museus, bibliotecas e
cemitérios. Sempre que podia estava em um desses locais visitando e me maravilhando com tudo.
Don Guis. em seus textos nos fala: "Como é humana a nossa humanidade" e é justamente através
dela que Deus usa para nos atrair a Si.
Então, tudo está em jogo: meu instinto, minha inteligência, minha afetividade, meus limites, minha
personalidade, o medo da morte....tudo é tão humano; tudo vivível, tudo foi me dado para que eu
possa reconhecê-Lo em tudo. E se isso é verdadeiro, o cemitério tem que estar dentro dessa
proposta.
Levando isso em conta, nos ajuda a vencer o pré-conceito (medo) inicial em ir visitar um cemitério,
ajuda a quem tem essa dificuldade a ver que ir lá com essa dimensão é a chance de viver o
espaço com tudo o que ele tem de bom, positivo, humano e verdadeiro.
A gente tem que se ajudar é nisso mesmo: aquele que teve a graça de ver o Belo em qualquer que
seja a circunstância da vida que o mostre ao outro, que anuncie com alegria e potência o
acontecimento visto, vivido e feito um juízo. É para isso que somos amigos, para nos ajudar a fazer
MEMÓRIA DE CRISTO na realidade. Cristo venceu a morte e por sua promessa somos
convidados ao mesmo designio. O cemitério é esse testemunho humano materializado em lápides,
ícones e mausoléus de que somos todos destinados a um Bom Fim: Cristo Jesus.
Junto com o convite vão anexados os relatos da última vista feita no Bonfim, para quem quiser ler.
Aquilo que sentimos quando perdemos alguém é exatamente o que deve ser sentindo. O
problema é que normalmente só freqüentamos um cemitério nessas circunstâncias: cegos de dor,
atordoados na tristeza, os sentidos amortecidos, o peso da perda. Dessa maneira, estando
fechados nessas categorias, parece ser impossível ver o Bom Fim que tudo tem. É preciso se dar
o tempo de viver o processo de visitação a um cemitério de uma outra maneira, compreendendo
que esse é um primeiro passo que nos permitirão possuir a dor, a tristeza e a perda de um ente
querido com uma mentalidade nova, mais humana, mais digna.
Bernardo escreveu por ocasião da sua primeira visita ao Bonfim em Maio de 2008:
Camila escreveu por ocasião da sua primeira visita ao Bonfim em Maio de 2008:
Bem, a visita ao cemitério, pra mim, surgiu de uma conversa com o Bernardo, que já tinha sido
convidado pela Frucchi. De toda a visita (que eu não vou entrar em muitos detalhes por restrições
de edição...), algumas coisas me provocaram muito, acho que isso é que é importante
compartilhar.
Começando: eu nunca gostei muito de visitar cemitérios, deve ser compreensível pelo
contexto em que acontece uma vista a um. Bem, mas desta vez foi diferente. Talvez as pessoas
que vão enterrar seus entes estejam num momento de dor tão grande que seja difícil pra se abrir
àquilo que nós vimos na visita. Então a primeira coisa foi que a proposta era estar em um lugar
com uma atenção diferente, que procura um significado maior do que um fim que se encerra numa
lápide, e que este olhar aconteça acompanhado de pessoas que me ajudam a ver isso. Entendi
que a proposta foi de que esta Presença de vida a que somos tão ávidos, ela é Presença mesmo,
porque se encontra em todos os lugares, mesmo ali, no cemitério.
Segunda coisa, a surpresa, diante dos símbolos, dos recados gravados na pedra, das
imagens colocadas, percebemos o quanto a afirmação destes objetos dizem de uma exigência de
vida, dizem de uma experiência humana que tende para um infinito que transcende a morte. Diante
de algumas sepulturas percebemos como o que estava estampado, ou por uma imagem ou por
dizeres trazia uma experiência que era nossa mesmo, de reconhecer o que aquelas pessoas
estavam dizendo com as mensagens, mesmo nem sabendo quem eram aquelas pessoas. Isso foi
tão concreto a ponto de estarmos diante de um túmulo e nos emocionarmos com o que aquele
conjunto expressava, porque falava de um desejo nosso de que nossas vidas não caminhassem
para um nada. Foi uma experiência de vida e de beleza. Porque eu sai de lá afirmando minha vida
e não preocupada com minha morte.
olá!
Pode parecer brincadeirinha, mas não é! Para sua surpresa estou escrevendo, em primeira mão,
as minhas impressões sobre nossa visita de hoje. Acho que elas ainda se desdobrarão em outras
tantas, mas de cara queria dizer duas coisas que logo me chamaram atenção e me deixaram
agradecida.
A primeira aconteceu antes da nossa visita e foi meu encontro com a sepultura do meu regente.
Pela primeira vez visitei um túmulo de alguém que conheço depois daquela nossa primeira visita.
Para mim foi uma descoberta belíssima do significado daquelas edificações lá. Em nenhum outro
lugar do mundo poderia estar diante do Rafael de novo como pude hoje. Sem dor, sem culpa por
não ter ido ao seu enterro, sem medo do que ele ia achar de mim, sem querer agradá-lo. Estava
diante dele livre, com o coração tranqüilo, estávamos humanamente um diante do outro. Pude
experimentar isso. Foi muito bom porque sei que a pessoa dele não está mais enterrada ali, mas é
ali que eu o encontro. Foi muito belo.
A segunda coisa foi reafirmar que aquilo tudo que vimos na nossa primeira visita não é uma
interpretação egoísta diante de esculturas ou frases. Vendo o entusiasmo com que a Jordana
tentava olhar tudo, não deixar passar uma sepultura sequer, vendo o interesse da Vanessa de
entender aquelas coisas todas, suntuosas, vendo sua mãe disponibilíssima ( e a Fabíula também,
porque não deve ter sido lá a melhor coisa para se fazer numa tarde de sábado...) para estar junto
com a gente; entendi que aquilo que a gente viu na primeira visita diz de algo maior do que o meu
gosto pelo que é bonito. Fala mesmo da nossa humanidade, do coração que está diante da
verdade do que fomos feitos, da expressão de humanidade diante da dor, estas coisas todas.
Fiquei grata por ser humana e poder passar por uma experiência destas com todas aquelas
pessoas.Era isso que ficou berrando logo de início. Assim que vierem mais coisas vou derramando
elas pra você.
Caríssimos,
Eu estudei o Cemitério do Bonfim com uma paixão nova. A preparação foi um presente, mas não
se compara com o “presente maior” que foi a presença de vocês. Quanta coisa me foi dita por
seus olhares, os comentário feitos, a opinião dada. Minha mãe faz um belíssimo trabalho como
legionária em ajudar, por graça de Nossa Senhora do Carmo, aos que ficam velando seus mortos,
assistindo aos doentes terminais, pedindo que a Virgem Maria rogue por nós..."agora e na hora da
nossa morte". Sua admirável devoção a Santa Terezinha, também compartilhada pela Fabíola e a
Vanessa. Obrigadíssima, minha mãe, por sua disponibilidade em compartilhar tudo isso conosco.
Eu sei que sua vocação como legionária de Maria é uma das coisas mais caras que a senhora tem
na vida e, mesmo cara, nos presenteou com ela. Que ímpeto no olhar curioso da Jordana que não
queria perder um só túmulo de vista...nos chamou a atenção para detalhes que da primeira visita
não tínhamos percebido. A Fabíola me ajudou a entender melhor a poesia de João Cabral de Melo
Neto contando-me sobre o poeta e, cada vez, que ela me falava um pouco mais sobre ele eu ia me
surpreendendo com tudo e aumentava a certeza da escolha do poema de abertura. O Marcone,
desta vez, resolveu seguir o exemplo de Nossa Senhora (também muito usado pelo Bernardo):
"Olhava e guardava tudo em seu coração".
O próximo passo, o estudo está quase concluído, é visitarmos o Cemitério do Carmo em São João
Del Rei. Preciso ir lá antes do dia "D" para ajustar o percurso, consultar o livro de registro, colher
algumas informações locais, conversar com os zeladores. Para irmos para lá precisaremos nos
organizar...a pesar de não termos uma data marcada fiquemos com a proposta feita. Vocês
animam?!
Frucchi
Oi,
Agora depois de refletir mais um pouco sobre a vivencia que tive e do retorno ao
meu dia-a-dia percebo o tanto que foi importante esta visita. Durante o nosso
encontro já tinha falado como me tocou a imagem do Cristo buscando resgatar a
ovelha perdida. Em vários momentos de minha vida me senti resgatada, às vezes
até de mim mesma, mas ao olhar aquela imagem e escutar a suas palavras, foi
como se o meu coração de repente se desse conta de uma realidade que estava
posta mas ele ainda não tinha se dado conta. Fico ainda perplexa comigo mesma
como eu não me dava conta desta verdade. Já vinha pensando sobre o amor de
Cristo e do meu Senhor por mim, mas é engraçado, quanto mais me percebo
amada, mais me dou conta de como é difícil para mim me reconhecer digna dele,
e, então reduzo ele ao tamanho da minha capacidade de visualizar
empobrecendo a grandeza e a beleza que o amor divino verdadeiramente tem.
Em outro momento conversamos sobre o sentido do trabalho e da humildade da
humanidade perante o nosso Senhor. Penso agora o tamanho de nossa
arrogância, boa parte de nós (eu inclusa) trabalha pensando em um fim, um
resultado, pobre de nós mesmo diante de tantas provas que nada nos pertence,
nem mesmo o corpo que temos, menos ainda o resultado de nossos esforços,
brigamos, ficamos com raiva da vida, de Deus, quando as coisas não acontecem
de acordo com o esperado, e sempre temos justificativas para nossos arrombos
de raiva e rancor. Pior ainda desenvolvemos um medo patológico de tudo e de
todos e nos enclausuramos em nossas prisões internas e externas. Como
podemos não confiar nosso destino a Ele, que sempre nos amparou, ou melhor
nos criou.
Jamais terei como agradecer ou pagar a graça que recebi ao compartilhar aqueles
momentos com o nosso pequeno grupo, pois diante da irrefutabilidade da morte e
da conversa tão franca quanto bela, consegui entrar em contato com a minha
humanidade, com os meus medos e crenças e diante destes continuo o meu
trabalho de resignificar o sentido da minha vida, quem sabe a casa de meu Pai.
Abraços,
Magda.
Frucchi
Durante todo o percurso da visita, lembrei da minha avó, que faleceu em abril do ano
passado. Ficou muito claro pra mim o tanto que os anos de convivência com ela foi um
presente pra mim, assim como também, a morte dela foi um presente para mim. Um
presente, uma oportunidade para eu encontrá-Lo através e junto dos amigos que eu conheci.
E por isso é possível reconhecer o amor de Deus em cada coisa e pessoa que cruza o nosso
horizonte. Isso não é óbvio!!! Pelo menos pra mim não é, frequetemente eu me vejo
refazendo o percurso! Como naquele escrito (que não lembro direito) que dizia que tem
algumas coisas que não vou entender agora, mas depois. A vida nos convida a nossa
humanidade, a nos deixar provocar, comparar e julgar. Ficou escancarado pra mim o tanto
que o nosso desejo de infinito precisa ser levado a sério, precisa ficar, e é tão radical que
transcende a minha existência. A vida, a arte, a memória...
Não sei se deu pra entender, eu sou péssima em organizar minhas idéias... RS
Mas foi essa a experiência que eu fiz! De me maravilhar com o tanto que a vida é séria!
Bjocas
Carol Taqueti