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E.A. VIEIRA, E.B. CAETANO, C.A.M. RUSCONI & P.M.

YOSHII
ARTIGO ORIGINAL

Contribuição ao estudo anátomo-funcional da sínfise


púbica: análise crítica de 10 peças anatômicas*
EDUARDO ÁLVARO VIEIRA1, EDIE BENEDITO CAETANO1,
CASSIO AUGUSTO DE MELLO RUSCONI2, PAULO MARCEL YOSHII2

RESUMO ABSTRACT
Os autores estudaram os elementos anatômicos que Contribution to the functional anatomic study of pubic
compõem a articulação da sínfise púbica, salientando symphysis: critical analysis of 10 anatomical pieces
sua importância na estabilidade estrutural e funcional. The authors studied the anatomical elements that make-
Realizaram também uma revisão crítica da literatura up the pubic symphysis joint and discuss about their im-
pertinente. Foram estudadas 10 articulações de cadá- portance for structural and functional stability. They also
veres a fresco, sendo realizada a dissecção pormenori- performed a critical review of the relevant literature. They
zada de todos os elementos anatômicos, procurando sa- studied ten ‘fresh’ cadaver joints through a detailed dis-
lientar as estruturas de suporte ligamentar, músculos section of all anatomical elements, among which the struc-
periarticulares, bem como a estrutura macroscópica do tures of the joint support and the periarticular muscles, in
disco intra-articular. O estudo anátomo-funcional des- addition to the macroscopic structure of the intra-articu-
sa articulação é essencial para o diagnóstico e trata- lar disk. The functional anatomic study of such important
mento das síndromes dolorosas que ocorrem, principal- joint is essential for the diagnosis and treatment of painful
mente, na prática esportiva. syndromes mainly occurring in individuals that practice
sports.
Unitermos – Sínfise púbica; anatomia funcional; estabilidade arti-
cular
Key words – Pubic symphysis; functional anatomy; joint stability

INTRODUÇÃO
A osteíte púbica de causa traumática é uma síndrome ra, dor inguinocrural dos jogadores de futebol e pubial-
pouco conhecida e de etiologia ainda a esclarecer(1,2,3,4). Uma gia(3,5).
revisão crítica da literatura demonstra o pequeno número Os atletas com osteíte púbica apresentam dor difusa na
de trabalhos existentes abordando o tema, sendo referida pelve, abdome inferior e irradiação para região perineal e
por uma variedade de denominações pouco elucidativas, raiz da coxa, o que torna obrigatório o diagnóstico diferen-
tais como: teno-osteocondrite do púbis, síndrome do grá- cial com outras patologias, como: hérnia inguinal, prosta-
cil, osteopatia dinâmica do púbis, síndrome pélvica aduto- tite, orquite, nefrolitíase, osteomielite, espondilite anqui-
losante, artrite reumatóide, metástase tumoral, etc.(1,2,3,4,5,6).
As alterações radiográficas associadas são inespecíficas,
* Trabalho realizado no Serviço de Ortopedia e Traumatologia da Faculda-
de de Medicina de Sorocaba, Pontifícia Universidade Católica de São incluindo esclerose, rarefação e lesões císticas(4,7).
Paulo – SOT-FMS-PUC-SP. Descrições recentes dessa síndrome em atletas sugerem
1. Professor Titular da Disciplina de Ortopedia e Traumatologia – FMS- que alterações anátomo-funcionais têm papel fundamental
PUC-SP. no seu desenvolvimento, como resultado da prática de inú-
2. Médico Ex-residente – SOT-FMS-PUC-SP.
meros esportes de competição (futebol, vôlei, ciclismo,
Endereço para correspondência: Eduardo Álvaro Vieira, Rua Santa Cruz,
275-285 – 18031-550 – Sorocaba, SP. Tels.: (15) 232-2962 e 231-7234.
atletismo, etc.)(4,6).
Recebido em 19/2/01. Aprovado para publicação em 6/11/01. Em nosso trabalho, procuramos elucidar as característi-
Copyright RBO2001 cas da sínfise púbica. Para tanto, descrevemos as bases
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CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO ANÁTOMO-FUNCIONAL DA SÍNFISE PÚBICA

1 MÚSCULO PECTÍNEO

2 MÚSCULO RETO ABDOMINAL

3 MÚSCULO ADUTOR LONGO

4 MÚSCULO ADUTOR CURTO

5 MÚSCULO GRÁCIL

1
2
3

4
5

Fig. 1 – Estrutura óssea da pelve demonstrando os locais de in-


serção e origem dos principais músculos da sínfise púbica Fig. 2 – Esquema ilustrativo demonstrando as inserções muscu-
lares periarticulares
Fig. 1 – Pelvis bone structure showing the specific sites of inser-
tion and origin of the main pubic symphysis muscles Fig. 2 – Illustrative scheme showing the periarticular muscle in-
sertions

anátomo-funcionais dessa articulação, com relação à sua


estabilidade estática e dinâmica. As inserções periarticula-
dos em dois tipos: a) ligamento interósseo e b) ligamentos
res dos músculos e ligamentos intrínsecos e extrínsecos
periféricos.
exercem forças de magnitude e sentidos diferentes sobre a
O ligamento interósseo, também chamado de disco in-
articulação, fornecendo dados importantes para a demons-
terpubiano, é uma fibrocartilagem que tem a forma de
tração das sobrecargas que nela ocorrem.
cunha, constituindo-se de duas porções: uma periférica,
CARACTERÍSTICAS ANATÔMICAS dura, densa e muito resistente (porção cartilaginosa) e uma
DA SÍNFISE PÚBICA central, mais friável e que apresenta uma cavidade irregu-
lar de paredes aderidas (porção fibrocartilaginosa), de maior
Os livros de anatomia(8,9,10,11,12,13,14) e os trabalhos bási-
diâmetro nas mulheres.
cos(6,15) no assunto descrevem a sínfise púbica como uma
Os ligamentos periféricos, em número de quatro, embo-
articulação anfiartrodial, isto é, uma juntura cartilaginosa,
ra sejam anatomicamente classificados, formam uma es-
não sinovial e com pouco movimento, formada pela união
pécie de cápsula fibrosa, confundindo seus limites. São eles:
fibrocartilaginosa dos dois ossos púbicos. A pelve é for-
I) ligamento anterior: também chamado de ântero-inferior,
mada por dois ossos inominados, unidos anteriormente pela
grosso e resistente, formado por diversos fascículos fibro-
sínfise púbica e posteriormente com o sacro através de duas
sos de direção e tamanho diversos, provenientes das fibras
articulações chamadas de sacroilíacas, apresenta angula-
tendinosas dos numerosos músculos que se inserem e se
ção de 40o a 45o em relação ao plano frontal.
originam na sínfise púbica. II) ligamento superior: é uma
Estruturas ligamentares cinta fibrosa de coloração amarelada que se estende hori-
Os dois ramos púbicos são unidos por ligamentos, res- zontalmente de um púbis ao outro. III) ligamento inferior:
ponsáveis pela estabilidade estática, podendo ser dividi- também chamado de subpúbico, triangular ou arqueado. É
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o responsável pela maior estabilidade da sínfise púbica. de inserção. A origem, inserção, inervação e ação desses
IV) ligamento posterior: é mais delgado, sendo pratica- músculos está ilustrada nos quadros 1A e 1B.
mente formado pelo periósteo posterior. Esse complexo funcional é suscetível a desequilíbrios
Estruturas musculares funcionais que ocorrem na prática esportiva. Seu estudo é
A estabilidade dinâmica é resultante da ação dos mús- absolutamente indispensável para o diagnóstico e tratamen-
culos periarticulares que formam um complexo aparelho to ortopédico específico.

QUADRO 1A
Músculos abdominais
Abdominal muscles

Origem Inserção Inervação Ação

Oblíquo Faces externas Linha alba, tubérculo Seis nervos torácicos Flexão e rotação
externo da 5a à 12a cos- púbico e metade an- inferiores e nervo do tronco
telas terior da crista ilíaca subcostal
Oblíquo Fáscia toraco- Bordas inferiores das Ramos ventrais dos Flexão e rotação
interno lombar, crista 10a à 12a costelas, li- nervos. Torácicos in- do tronco
ilíaca nha alba e púbis feriores e 1o n. lombar
Reto Processo xifói- Sínfise púbica e cris- Ramos ventrais dos Flexão do tronco
abdome de e 5a à 7a car- ta ilíaca seis nervos torácicos
(fig. 1) tilagens costais inferiores
Piramidal Crista púbica, Linha alba Nervo subcostal Tensão da linha
entre o tubér- alba
culo púbico e a
face sinfisial

QUADRO 1B
Músculos da coxa
Thigh muscles

Origem Inserção Inervação Ação

Pectíneo Linha pectínea do Linha pectínea do Nervo femoral Adução e flexão


(figs. 1 e 2) osso púbis fêmur da coxa
Grácil Corpo e ramo in- Face medial da tí- Nervo obturatório Adução e flexão
(figs. 1 e 2) ferior do púbis bia da coxa
Adutor Corpo do púbis Linha áspera Nervo obturatório Adução da coxa
longo abaixo da crista
(figs. 1 e 2)
Adutor Corpo e ramo in- Linha pectínea Nervo obturatório Adução da coxa
curto ferior do púbis
(figs. 1 e 2)
Adutor Ramo inferior do Tuberosidade glú- Nervo obturatório Adução da coxa
magno púbis, ísquio e tu- tea e linha áspera
beros. isquiática medial

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CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO ANÁTOMO-FUNCIONAL DA SÍNFISE PÚBICA

MATERIAL E MÉTODOS realizados cortes transversais na sínfise para melhor ob-


servação do disco intra-articular (figs. 3 e 4).
Foi realizado estudo prévio em cadáveres fixados em
formol para o conhecimento das estruturas que constituem
RESULTADOS
a sínfise púbica. A seguir, foram dissecadas articulações
da sínfise púbica de 10 cadáveres do Serviço de Anatomia Os pormenores de cada sínfise dissecada foram avalia-
Patológica da FMS/PUC-SP, sendo oito do sexo masculino e dos quanto às características dos ligamentos e músculos
dois do feminino. Todas as dissecções foram realizadas com que se inserem ou se originam na região em estudo.
documentação fotográfica e descrição seqüencial das es- Procurou-se observar o trajeto das fibras musculares, dos
truturas relacionadas à articulação, procurando-se indivi- ligamentos e sua importância na estabilidade da articula-
dualizar os grupos musculares e os ligamentos intrínsecos ção.
e extrínsecos. Através de uma incisão tipo Pfannenstiel,
Observou-se panoramicamente a região estudada, evi-
abordou-se a região; a dissecção evidenciou os músculos
denciando-se os músculos que se originam ou se inserem
reto abdominal, piramidal, oblíquos do abdome, grácil,
na sínfise púbica. Eles apresentam disposição padrão, à
pectíneo, e adutor longo, curto e magno, bem como os li-
semelhança dos ponteiros de um relógio, podendo assim
gamentos anterior, posterior, superior e inferior e o disco
ser descritos (figs. 5 e 6): à 0 hora, insere-se o músculo
fibrocartilaginoso intra-articular. Efetuou-se a tenotomia
reto abdominal (e piramidal quando presente); às 6 horas
dos músculos reto abdominal e adutor longo e observou-se
origina-se o músculo grácil; às 7 horas à direita e às 5 ho-
se ocorriam alterações no tensionamento dos outros mús-
ras à esquerda origina-se o músculo adutor longo; às 8 ho-
culos da região, através da digitopressão. Também foram
ras à direita e às 4 horas à esquerda origina-se o músculo
pectíneo.
O músculo piramidal em nosso estudo foi encontrado
em sete peças (70%) (figs. 5 e 7).
Evidenciamos o complexo ligamentar que envolve a ar-
ticulação da sínfise púbica. Os ligamentos extrínsecos su-
perior, inferior, posterior e anterior formam uma espécie
de cápsula fibrosa à semelhança de um manguito transver-
sal, com entrelaçamento de suas fibras, o que confere grande
resistência e estabilidade a essa articulação (figs. 8 e 9).

Fig. 4 – Visão anterior, em corte frontal, da articulação da sínfise


púbica visualizando-se o disco intra-articular (a), tecido ósseo (b),
Fig. 3 – Esquema demonstrativo de um corte frontal da sínfise cartilaginoso (c) e os segmentos dos ramos pubianos.
púbica numa visão panorâmica de localização na pelve Fig. 4 – Anterior view of the frontal section of the pubic symphy-
Fig. 3 – Demonstrative scheme of a frontal section of the pubic sis joint showing the intra-articular disk (a) bone tissue (b) carti-
symphysis in full view to show pelvis location laginous tissue, and (c) pubic limb.

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Notamos também, em todos os casos estudados, que o Através de cortes transversais no plano frontal da sínfise
ligamento inferior é o mais espesso de todos, promovendo púbica verificamos que o disco fibrocartilaginoso tem a
maior estabilidade local (fig. 8). forma de cunha (figs. 3 e 4), sendo mais alargada em sua
O ligamento anterior apresenta-se como um entrelaça- porção anterior e de maior diâmetro no homem que na
mento de fibras provenientes de vários músculos da região mulher.
(fig. 9). Efetuamos a ressecção do músculo reto abdominal, bi-
lateral, e notamos que ocorria à digitopressão tensionamen-
to maior dos músculos que se originam na sínfise púbica,
principalmente o músculo adutor longo. Após a tenotomia
parcial desse músculo verificamos que ocorria diminuição
de sua tensão.

Fig. 5 – Visão panorâmica da articulação da sínfise púbica mos-


trando o aparelho de inserção muscular e sua relação com o cor-
dão espermático: a) músculo piramidal; b) m. reto abdominal; c)
m. pectínio; d) m. adutor longo; e) m. grácil.
Fig. 5 – Full view of the pubic symphysis joint showing the mus-
cular insertion device and its relation with the spermatic cord. a)
pyramidal muscle; b) rectus muscle of abdomen; c) pectineus
muscle; d) long adductor muscle; and e) gracilis muscle.

Fig. 6 – Reprodução esquemática dos músculos periarticulares,


ligamento inguinal e cordão espermático: A) músculo piramidal;
B) m. reto abdominal; C) m. pectínio; D) m. adutor longo; E) m.
grácil (Fonte: Netter).
Fig. 6 – Schematic reproduction of the periarticular muscles, in- Fig. 7 – Articulação da sínfise púbica, com os músculos periarti-
guinal ligament, and spermatic cord. A) Pyramidal muscle; B) rec- culares. Em destaque (a) o músculo piramidal.
tus muscle of abdomen; C) pectineus m.; D) long adductor mus- Fig. 7 – Pubic symphysis joint with periarticular muscles. In de-
cle; E) gracilis muscle (source: Netter). tail, (a) the pyramidal muscle.

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Fig. 8 – Visualização panorâmica da articulação da sínfise púbica


mostrando a estrutura ligamentar e músculos periarticulares: a)
ligamento superior; b) lig. inferior; c) lig. anterior.
Fig. 8 – Full view of the pubic symphysis joint showing the joint
structure and the periarticular muscles: a) superior ligament; b)
inferior ligament; c) anterior ligament.

Não foi observada diferença quanto à presença ou não


de uma cavidade no centro do disco interpubiano, tanto no
sexo masculino quanto no feminino.
Notamos a proximidade do cordão espermático em rela-
ção à articulação da sínfise púbica, havendo em média dis-
tância de 3,5cm (figs. 5 e 6).

DISCUSSÃO
A palavra sínfise tem origem grega e significa ‘crescer
Fig. 9 – Visão panorâmica particularizando a origem do m. adutor
junto’(15). É uma descrição adequada pelo fato de a sínfise (a), grácil (b) e pectíneo (c) unilateral. Nota-se também a ampla
púbica ser formada pela confluência dos ossos do púbis. expansão do ligamento anterior (d).
Cada osso púbico consiste em um corpo e dois ramos: o Fig. 9 – Full view showing the origin of the adductor muscle (a),
superior une-se ao ilíaco e o inferior ao ísquio. Situada na gracilis muscle, (b) and unilateral pectineus muscle (c). The large
linha média à sínfise, atua como uma dobradiça que asse- expansion of the anterior ligament (d) is also shown.

gura a coesão do arco pélvico. Está sujeita a consideráveis


forças de tração e compressão, mas em condições fisioló-
gicas não sofre alterações(1,4,6). Na marcha e, portanto, durante a fase dinâmica, o ramo
Um estudo pormenorizado de cada peça dissecada per- do púbis ipsilateral do membro apoiado é mantido em po-
mitiu comprovar a complexidade e o grande número de sição horizontal, enquanto o membro elevado traciona o
estruturas responsáveis pela manutenção da integridade da púbis inferiormente. Como conseqüência, a sínfise púbica
sínfise púbica, bem como dos elementos que nela se inse- está sujeita a forças de cisalhamento que produzem movi-
rem e se originam e que atuam na movimentação do tronco mentos verticais. Durante a corrida, as forças de estresse
e do quadril. causadas pelo movimento das articulações coxofemorais e
As alterações funcionais na origem e inserção dos mús- também das contrações musculares potentes são desloca-
culos na sínfise púbica, com o conseqüente desequilíbrio das para as articulações sacroilíacas, levando a movimen-
biomecânico, parecem ser a causa mais provável da osteíte tos de nutação do lado apoiado e contranutação do lado
púbica(3,4,5,15,16,17). oposto. Essas condições de dois movimentos opostos de
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forças provocam torções em torno do eixo horizontal da púbico posterior é delgado, estando relacionado com a fás-
sínfise púbica(6). cia abdominal intrapélvica. O ligamento púbico inferior
É importante enfatizar que todos esses movimentos des- contribui de forma acentuada para a estabilidade(12,15) (fig.
critos têm um limite de amplitude. Em atletas, entretanto, 3). Este, em conjunto com os outros anteriormente citados,
e especialmente os profissionais, o anel pélvico é submeti- contribui para neutralizar as forças de cisalhamento e de
do a consideráveis estresses repetidos durante a prática tensão, minimizando as amplitudes de movimento durante
desportiva. Essa condição causa repetidos microtraumas, muitas atividades esportivas.
podendo levar a alterações estruturais(1,3,4,6). A osteíte púbica, raramente ocorre em mulheres. Me-
Verificamos através das dissecções que a disposição dos yers et al(4), em trabalho de revisão de 169 atletas profis-
sionais submetidos a cirurgia devido à pubialgia, relata-
músculos quanto à origem e inserção é disposta em círcu-
lo, à semelhança dos ponteiros de um relógio, constituindo ram a presença somente de homens com essa patologia.
um verdadeiro aparelho de inserção, contribuindo de for- Em seu estudo, algumas atletas do sexo feminino tinham,
na verdade, outras patologias não diagnosticadas, princi-
ma acentuada para o equilíbrio e estabilidade da sínfise
púbica. Essa distribuição peculiar dos músculos contribui- palmente relacionadas ao sistema genital feminino, e, quan-
ria para melhor distribuição das forças, evitando a concen- do tratadas adequadamente, evoluíram para a melhora da
dor. Esse predomínio no sexo masculino não é explicado.
tração destas em um ponto somente, protegendo, portanto,
a articulação. Sabe-se que, devido a alterações hormonais na mulher, fre-
qüentemente é encontrada em peças anatômicas do sexo
Uma anteversão acentuada da pelve causa mudança do feminino uma cavidade irregular no centro da sínfise púbi-
centro de gravidade para frente, propiciando também a dor
ca(12). Entretanto, em nosso estudo, macroscopicamente não
púbica(6). Como observado em nosso estudo, após a teno- encontramos essa cavidade nos dois cadáveres do sexo fe-
tomia do músculo reto abdominal, ocorreu aumento da ten- minino por nós dissecados. Essa diferença na anatomia do
são nos músculos adutores, principalmente o adutor lon-
disco interpubiano pode ser uma das causas da menor inci-
go. Segundo Meyers et al(4), hipotonia muscular do reto dência de osteíte púbica no sexo feminino, além das modi-
anterior provocaria anteversão acentuada da pelve, causan- ficações hormonais e da menor prática de algum tipo de
do desequilíbrio muscular, principalmente nos adutores do
esporte de competição pelas mulheres.
quadril. Em pacientes em tratamento devido à osteíte pú-
bica, o fortalecimento da musculatura abdominal levou à
cura em grande número de atletas(4,6). CONCLUSÕES
A dor púbica também está relacionada ao trauma em atle- 1) A sínfise púbica é formada por várias estruturas mus-
tas profissionais, sendo o futebol o esporte em que os atle- culo-tendíneas e ligamentares. Existe um verdadeiro apa-
tas mais apresentam pubialgia(3,4,16). Conforme Meyers et relho de inserção quanto à direção das fibras dos músculos
al(4), o mecanismo do trauma seria uma hiperextensão ab- que nela se inserem ou se originam.
dominal ou uma hiperabdução da coxa, sendo a sínfise pú- 2) O músculo piramidal em nosso material de observa-
bica o eixo central do movimento. Nesse caso, os múscu- ção esteve presente em 70% dos cadáveres estudados.
los adutores tendem a abrir a sínfise na hiperabdução, as- 3) Macroscopicamente, não foi encontrada diferença
sim como os músculos oblíquos e o reto abdominal ten- entre o disco interpubiano nos homens e mulheres, no que
dem a tracionar proximalmente na hiperextensão do tron- se refere à presença ou não de uma cavidade em seu inte-
co (força de cisalhamento)(3). rior.
Análises biomecânicas da pelve mostram que os ossos 4) Através de cortes seletivos dos ligamentos periféri-
inominados funcionam como arcos, transferindo o peso do cos, detectamos que o ligamento subpúbico é o mais po-
tronco superior da bacia para os quadris(6). A sínfise conec- tente.
ta esses dois arcos de suporte de peso e os ligamentos cir- 5) A tenotomia seletiva do músculo reto abdominal pa-
cunferenciais mantêm a integridade mecânica. O ligamen- rece levar a tensionamento maior dos músculos adutores.
to suprapúbico insere-se na crista e no tubérculo do púbis, 6) É fundamental o conhecimento da anatomia da sínfi-
enquanto as fibras do ligamento púbico anterior misturam- se púbica para a melhor compreensão das síndromes dolo-
se com a fáscia dos músculos dessa região. O ligamento rosas que acometem essa articulação.
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CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO ANÁTOMO-FUNCIONAL DA SÍNFISE PÚBICA

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