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APRENDAMOS ENSINANDO-NOS!
Quem for poeta, que o entenda! Pois poesia e boniteza ele semeia
quando a abre a boca ou deixa fluir sobre o papel a pena. Ensinava
assumindo-se aprendiz, aprendia com os que ensinava, ambos co-
partícipes de um processo entre sujeitos que, conscientes de sua
inconclusão, buscam ser mais. Nossa vocação ontológica não é o de
sofrer opressão, e a liberdade agredida berra em nós em revolta contra
os grilhões de todas as opressões. Escola não deve ser espaço de
domesticação ou controle, mas espaço de curiosidade e busca, diálogo
e descoberta, interação e co-laboração…
Paulo Freire foi ainda – multi homem! – um filósofo político dos mais
perspicazes que já nasceu do solo brasileiro, autor do clássico
internacional, traduzido para dezenas de línguas, A Pedagogia do
Oprimido (editora Paz e Terra). Freire soube muito aprender com as
obras de Gilberto Freire (sobretudo Casa Grande e Senzala e Sobrados
e Mocambos), Antonio Candido, Álvaro Vieira Pinto…
Célebre por sua tentativa de síntese entre Karl Marx e Jesus Cristo,
Paulo Freire foi um “marxista cristão” – com o perdão do rótulo – com
tropismo pela Teologia da Libertação. Teve seu pensamento
influenciado por teóricos e teólogos cristãos, como Maritain e
Bernanos, e manifesta simpatia e quase devoção pela figura de Santo
Agostinho. Confessa que o livro de Agostinho, Cidade De Deus, foi por
muitas razões uma das leituras mais importantes de sua vida.
Freire não era alguém que fazia da revolução um ídolo, nem que
idealizasse o líder revolucionário como se fosse um novo messias,
destinado a guiar e dirigir as massas rumo à perfeição de um paraíso
terrestre… A revolução também precisa ser des-mistificada, seu
“sonho” insensato deve ser trespassado pela adaga crítica, até mesmo
porque a história é dinamismo perpétuo, e, logo, as revoluções do
passado nunca irão se repetir tais e quais. As revoluções do futuro
serão, em larga medida, inéditas, ou seja, ocorrências históricas sem
precedentes.
“Costumo dizer que a revolução que foi… já não é. Porque para
ser, tem que não ter sido. Tem que estar sendo. Isso implica que
a sociedade sofra uma transformação na sua infraestrutura e se
opere o esforço crítico-consciente sobre a superestrutura, a
ideologia. É esse processo que chamo de transformação
infraestrutural. No qual, de um lado é preciso fazer a
modificação das relações sociais de produção que vão constituir
uma nova prática, que, por sua vez, vai reconstituir a
consciência. De outro lado, fazer um ataque à velha ideologia
que era coerente com a antiga estrutura que foi transformada.
(…) Em história se faz o que se pode. Não o que se gostaria de
fazer. E a única possibilidade que tenho de fazer amanhã o
impossível de hoje, é fazer hoje o possível de hoje. É fazendo o
possível de hoje que faço o impossível de hoje e amanhã.” 4
“Olha, apesar da fome, minha infância foi muito feliz. Essa fome
a gente até que conseguia matar de vez em quando furtando os
quintais alheios, roubando jaca, roubando manga, roubando
banana. Eu, junto com meu irmão Temístocles, conhecia
perfeitamente a geografia dos quintais dos outros. E então,
quantas vezes a gente escondeu cachos de banana em buracos
secretos… A gente acomodava as bananas em folhas secas e
mornas que aceleravam a sua maturação… Naquela época, na
minha escola primária, eu não sabia quanto era 4 vezes 4, nem
sabia a capital da Inglaterra, mas sabia, primeiro, a geografia
desta fome, segundo, eu sabia calcular muito bem em quantos
dias eu devia voltar para pegar a banana madura no meu
esconderijo.”7
O menino Freire também está exposto à experiência estética, mesmo
em meio à geografia da fome. O estômago roncando e doendo por
dentro, mas na casa o som de um piano decorando o espaço invisível
viajado pelos sons: a família não se desfazia jamais de um piano
alemão onde a tia de Paulinho tocava Beethovens e Bachs…
E. Carli
Goiânia, Agosto de 2015
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PEDAGOGIA DO OPRIMIDO
PEDAGOGIA DA AUTONOMIA
PEDAGOGIA DA INDIGNAÇÃO
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OUÇA:
“Paulo Freire, Andarilho da Utopia’
Programa da Rádio Nederland com apoio da USP e Instituto Paulo Freire
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LEIA A SEGUIR:
“A PEDAGOGIA DO OPRIMIDO”, DE PAULO FREIRE
[trechos da obra clássica]
SECTARIZAÇÃO VS RADICALIZAÇÃO
“A luta pela humanização, pelo trabalho livre, pela desalienação, pela afirmação dos
homens como pessoas, como ‘seres para si’, esta luta pela humanização somente é
possível porque a desumanização, mesmo que um fato concreto na história, não é,
porém, destino dado, mas resultado de uma ‘ordem’ injusta que gera a violência dos
opressores e esta, o ser menos. (…) O ser menos leva os oprimidos, cedo ou tarde,
a lutar contra quem os fez menos. E esta luta somente tem sentido quando os
oprimidos, ao buscarem recuperar sua humanidade, que é uma forma de criá-la, não
se sintam opressores, nem se tornem, de fato, opressores dos opressores, mas
restauradores da humanidade em ambos. E aí está a grande tarefa humanista e
histórica dos oprimidos – libertar-se a si mesmos e aos opressores. (…) Só o poder
que nasça da debilidade dos oprimidos será suficientemente forte para libertar a
ambos.”
“Descobrir-se na posição de opressor, mesmo que sofra por este fato, não é ainda
solidarizar-se com os oprimidos. Solidarizar-se com estes é algo mais que prestar
assistência a 30 ou 100, mantendo-os atados, contudo, à mesma posição de
dependência. Solidarizar-se não é ter a consciência de que explora e ‘racionalizar’ a
culpa paternalisticamente. A solidariedade, exigindo de quem se solidariza que
‘assuma’ a situação de com quem se solidarizou, é uma atitude radical. O opressor
só se solidariza com os oprimidos quando o seu gesto deixa de ser um gesto piegas
e sentimental, de caráter individual, e passa a ser um ato de amor àqueles. Quando
para ele os oprimidos deixam de ser uma designação abstrata e passam a ser os
homens concretos, injustiçados e roubados. (…) Só na plenitude deste ato de amar,
na sua existenciação, na sua práxis, se constitui a solidariedade verdadeira.” (Pg.
49)
Acima: crianças que trabalhavam nas indústrias inglesas; o trabalho infantil estava entre
alguns dos procedimentos instaurados pela “Revolução Industrial” nos moinhos satânicos
onde moeu suas vítimas o capitalismo selvagem em ascensão…
Pg. 80 e 81
“Em verdade, não seria possível à educação problematizadora, que rompe com os
esquema verticais característicos da educação bancária, realizar-se como prática da
liberdade, sem superar a contradição entre o educador e os educandos. Como
também não lhe seria possível fazê-lo fora do diálogo. É através deste que se opera
a superação de que resulta um termo novo: não mais educador do educando, mais
educando do educador, mas educador-educando com educando-educador.
Desta maneira, o educador já não é o que apenas educa, mas o que, enquanto educa,
é educado, em diálogo com o educando que, ao ser educado, também educa. Ambos,
assim, se tornam sujeitos do processo em que crescem juntos e em que os
‘argumentos de autoridade’ já não valem. (…) Em lugar de serem recipientes dóceis
dos depósitos, são agora investigadores críticos, em diálogo com o educador,
investigador crítico também.
“Diferentemente dos outros animais, que são apenas inacabados, mas não são
históricos, os homens se sabem inacabados. Têm a consciência de sua inconclusão.
Aí se encontram as raízes da educação mesma, como manifestação exclusivamente
humana, isto é, na inconclusão dos homens e na consciência que dela tem. (…)
Enquanto a concepção ‘bancária’ dá ênfase à permanência, a concepção
problematizadora reforça a mudança. Deste modo, a prática ‘bancária’, implicando o
imobilismo, se faz reacionária, enquanto a concepção problematizadora que, não
aceitando um presente ‘bem-comportado’, não aceita igualmente um futuro pré-
dado, se faz revolucionária.
Na condição de seres históricos, os homens são seres que caminham para frente,
que olham para frente; seres a quem o imobilismo ameaça de morte; para quem o
olhar para trás não deve ser uma forma nostálgica de querer voltar, mas um modo
de melhor conhecer o que está sendo, para melhor construir o futuro.”
“Dizer a palavra não é privilégio de alguns homens, mas direito de todos os homens.
Precisamente por isto, ninguém pode dizer a palavra verdadeira sozinho, ou dizê-la
para os outros, num ato de prescrição, com o qual rouba a palavra aos demais… Não
é possível o diálogo entre os que negam aos demais o direito de dizer a palavra e os
que se acham negados deste direito. É preciso primeiro que os que assim se
encontram negados no direito primordial de dizer a palavra reconquistem esse
direito, proibindo que este assalto desumanizante continue.
(…) Por isto, o diálogo é uma exigência existencial. E, se ele é o encontro em que se
solidarizam o refletir e o agir de seus sujeitos endereçados ao mundo a ser
transformado e humanizado, não pode reduzir-se a um ato de depositar ideias de um
sujeito no outro, nem tampouco tornar-se simples troca de ideias a serem
consumidas pelos permutantes. Não é também discussão guerreira, polêmica, entre
sujeitos que não aspiram a comprometer-se com a pronúncia do mundo, nem a
buscar a verdade, mas a impor a sua.
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SIGA VIAGEM:
A DESCOLONIZAÇÃO DAS MENTES - Paulo Freire e Amílcar
Cabral: pedagogos da revolução!
Em "Antropologia"
Em "Ciências Humanas"
“Uma multidão cega, cruel na medida de seu medo, podia, uma manhã, ataca-la a pedradas
ou submetê-la à prova da água, o afogamento. Ou enfim, coisa mais terrível, podia arrastá-la,
uma corda amarrada no pescoço, até o pátio da igreja, que disso teria feito uma festa piedosa,
lançando-a à fogueira para a edificação do povo.” (Michelet)
NO LABIRINTO COM O SR. MINOTAURO
“Nosso impulso ao conhecimento é demasiado forte para que ainda possamos estimar a
felicidade sem conhecimento ou a felicidade de uma forte e firme ilusão; a inquietude de
descobrir e solucionar tornou-se tão atraente e imprescindível para nós como o amor infeliz
para aquele que ama: o qual ele não trocaria jamais pelo estado de indiferença. O
conhecimento, em nós, transformou-se em paixão que não vacila ante nenhum sacrifício e
nada teme, no fundo, senão sua própria extinção…” (NIETZSCHE, Aurora)