Вы находитесь на странице: 1из 9

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO – UFMA

CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA

Roberto Alexandre da Silva Junior

"DIALÉTICA DA MALANDRAGEM"

Resenha-fichamento dos artigos de Antônio


Cândido e Roberto Schwarz apresentada
para a disciplina História do Brasil
Republicano: do Estado Novo aos dilemas
do Brasil Contemporâneo, no curso de
licenciatura em História, da Universidade
Federal do Maranhão – UFMA.
Prof. Me. Wagner Cabral da Costa

São Luís/MA 2017


Na presente resenha-fichamento, busco compreender a partir da análise de
Antônio Cândido, em sua crítica “Dialética da Malandragem”, a tese do primeiro
malandro da literatura brasileira, essa figura presente no imaginário do povo brasileiro
que vive e conhece bem a cultura do “levar vantagem em tudo”. Para esse fim, Antônio
Cândido toma como objeto de sua crítica a consagrada obra do escritor Manoel Antônio
de Almeida, “Memórias de um Sargento de Milícias”. A crítica de Antônio apresenta
abordagem bem ampla da literatura, no qual selecionei algumas passagens que
fortalecem o argumento na modalidade de fichamento. O contexto histórico da obra, faz
sentir muito bem a ausência daqueles personagens que alavancaram, por que não dizer,
que construíram o século XIX, os negros. Antônio Cândido descortina uma sociedade
sem identidade, cujos personagens oscilam entre dois lados, duas esferas da sociedade,
por assim dizer, entre a elite e a escravatura. Não há dúvida de que reside aí o ponto de
equilíbrio das relações humanas daquele momento incipiente de formação de classes
sociais.
A “Dialética da Malandragem” nos faz mergulhar no folhetim de Manuel
Antônio de Almeida, a fim de entendermos, amplamente a riqueza da obra. Cândido
reavalia, inclusive, a crítica de seus antecessores com relação à obra de Almeida. É, sem
dúvida, uma crítica de grande amplitude, pois lança, um olhar sobre o passado, cujo
retorno nos devolve discussões atuais, como a imoralidade do clero, interesses
econômicos e, ao fim e ao cabo, a vadiagem como meio de vida, retrato cultural da
sociedade brasileira.
A seguir, trechos fichados para a análise das etapas de construção de narrativa realistas
em literaturas improvisadas na retratação e reconstituição histórica, romance Picaresco do tipo
marginal, com personagens no estilo pícaro, anti-heroicos.
Buscando compreender a construção da obra, percebe-se que há uma tentativa de
“Chegar a uma estrutura de estruturas, ou melhor, a uma estrutura composta de duas outras: a
forma da obra, articulada ao processo social, que tem de estar construído de modo a viabilizar
e tornar inteligível a coerência e a força organizadora da primeira, a qual é o ponto de partida
da reflexão”. “Refletindo sobre a forma das Memórias, Antonio Candido estabelecia, atrás dos
altos e baixos do acabamento, uma organização de entrecho complexa e de muito alcance”. “A
conjunção da análise formal e da localização sociológica enquanto complementares abria uma
perspectiva diferente sobre a nossa cultura e literatura, que permitia identificar, batizar e
colocar em análise uma linha de força inédita até então para a teoria, a linha da
"malandragem. ”
“É certo que em "Dialética da Malandragem" a forma literária recebe um tratamento
mais estruturado que a realidade social. Esta diferença não aparece na exposição que fizemos,
pois procuramos salientar o jogo entre as estruturas literária e histórica, que é o centro do
ensaio. ”
“Entendida como um princípio mediador que organiza em profundidade os dados da
ficção e os da realidade, sendo parte dos dois planos. Sem descartar o aspecto inventivo, que
existe, há aqui uma presença da realidade em sentido forte, muito mais estrita do que as teorias
literárias costumam sugerir. Noutras palavras, antes de intuída e objetivada pelo romancista, a
forma que o crítico estuda foi produzida pelo processo social, mesmo que ninguém saiba dela.
Trata-se de uma teoria enfática do realismo literário e da realidade social enquanto formada.”
Na comparação entre o tipo malandro, como personagem próprio da construção aqui
difundida, busca-se difundir com a imagem do Pícaro, assim, em geral, o próprio pícaro narra
as suas aventuras, o que fecha a visão da realidade em torno do seu ângulo restrito; e esta voz
em terceira pessoa é um encanto para o leitor, transmitindo uma falsa candura que o autor cria
habilmente e já é recurso psicológico de caracterização.
“Na origem o pícaro é ingênuo; a brutalidade da vida é que aos poucos vai o tornando
esperto e sem escrúpulos, quase como uma defesa; mas Leonardo, bem obrigado pelo padrinho,
nasce malandro feito, como se se tratasse de uma qualidade essencial, na um atributo
adquirido por força das circunstâncias. ” “Espécie de aprendizagem que amadurece”
“O termo pícaro – romance espanhol – significando um tipo inferior de servo,
sobretudo um ajudante de cozinha, sujo e esfarrapado. E é do fato de ser criado que decorre
um princípio importante na estruturação do romance, pois passando de amo a amo que o
pícaro vai-se movendo, mudando de ambiente, variando a experiência e vendo a sociedade no
conjunto. O Leonardo tinha por parte dos seus padrinhos, um projeto de vida que em seus
primeiros anos não correspondia com a necessidade de ganhar a vida com um trabalho servil.”
“Características semelhantes entre os pícaros: amável, risonho, espontâneo nos atos e
estreitamente aderente aos fatos que o vão rolando pela vida, vive ao sabor da sorte, sem
planos e reflexões. ”
“O pícaro anda por diversos lugares e entra em contato com vários grupos e camadas.
O fato de ser um aventureiro desclassificado se traduz pela mudança de condição, cujo tipo
elementar, é a mudança de patrões. Criado de mendigo, criado de escudeiro pobre, criado de
padre, o pequeno vagabundo percorre a sociedade, cujos tipos vão surgindo e se completando,
de maneira a tornar o livro uma sondagem dos grupos sociais e dos costumes. Embora
deformado pelo ângulo satírico, o seu ponto de vista descobre a sociedade na variação dos
lugares, dos grupos, das classes. Nessa lenta panorâmica, um moralismo corriqueiro para
terminar, mas pouca ou nenhuma intenção realmente moral, apesar dos protestos constantes
com que o narrador procura dar um cunho exemplar às suas malandragens.”
O Livro de Manuel Antonio é contado na terceira pessoa por um narrador que não se
identifica e varia com desenvoltura o ângulo secundário, de maneira a estabelecer uma visão
dinâmica da matéria narrada. Em compensação, há neles semelhanças subjetivas, “na
contraproposta de Antonio Candido, o herói Leonardo filho será visto não como pícaro (isto é,
como exemplo de uma figura e de uma forma consagradas pela tradição literária europeia,
filiação que resolveria o problema crítico), mas como malandro (uma figura historicamente
original, que sintetiza (a) uma dimensão folclórica e pré-moderna - o trickster; (b) um clima
cômico datado – a produção satírica do período regencial; e (c) uma intuição profunda do
movimento da sociedade brasileira).”
“No conceito da "dialética de ordem e desordem" sob este aspecto. Noutras palavras,
trata-se de ler o romance sobre fundo real e de estudar a realidade sobre fundo de romance, no
plano das formas mais que dos conteúdos, e isto criativamente. Quer dizer, não através das
formas de preceito, que são justamente o que a emancipação da forma - e sua imantação pela
história contemporânea - puseram de lado, mas através da sondagem mais ousada possível da
experiência estética e dos conhecimentos havidos: ler uma na outra, a literatura e a realidade,
até encontrar o termo de mediação. ”
“Poderíamos, então, dizer que a integridade das memórias é feita pela associação
intima entre um plano voluntário (a representação dos costumes e cenas do Rio) e um plano
talvez na maior parte involuntário (traços semi-folclóricos, manifestados sobretudo no teor dos
atos e das peripécias). Há também, é claro, eventuais influencias eruditas e traços das
correntes literárias que naquele momento constituíam as tendências peculiares do romantismo.
De fato, para compreender um livro como Memórias convem lembrar a sua afinidade com a
produção cômica e satírica da regência e primeiros anos do segundo reinado, no jornalismo,
na poesia, no desenho e no teatro. Pela mesma altura, surge a caricatura política, nos
primeiros desenhos de Araújo Porto-Alegre. Os próprios poetas que hoje consideramos uma
serie plangente de carpitadores, fizeram poesia cômica, obscena e maluca, por vezes com
bastante graça, como Laurindo Rabelo e Bernardo Guimarães. ”
“Embora não sejam licenciosos, como também não são sentimentais, os romances
picarescos são frequentemente obscenos e usam a vontade o palavrão, em correspondência
com os meios descritos.”

Há uma divisão para demarcar os tipos de estruturas literárias, assim, usa-se essa
estratégia para demonstrar as singularidades. II – romance malandro - Digamos que Leonardo
não é um pícaro, mais sim um Malandro que seria elevado a categoria de símbolo por Mário de
Andrade em Macunaíma, O malandro, como o pícaro, é uma espécie de gênero mais amplo de
aventureiro astucioso, comum a todos os folclores.

“Que a forma das Memórias seja original e profundamente representativa do Brasil é


uma tese nada óbvia. A sua explicação compreende vários passos, entre os quais três
principais. No primeiro, a personagem central é caracterizada como malandro. Esta figura
enfeixa uma dimensão folclórica (o espertalhão da lenda), uma dimensão de época (o estilo
satírico da Regência), e um movimento em que está transposto um dinamismo histórico de
alcance - como se verá - nacional (as idas e vindas entre os hemisférios da ordem e da
desordem sociais). No segundo passo, um levantamento minucioso das evoluções das
personagens mostra que esta alternância de ordem e desordem é a própria forma do romance,
a lei de sua intriga. E, terceiro passo, esta fórmula - a dialética de ordem e desordem - resume
a regra de vida de um setor capital da sociedade brasileira: o dos homens livres que, não sendo
escravos nem senhores, viviam num espaço social intermediário e anômico, em que não era
possível prescindir da ordem nem viver dentro dela.”
“O livro é caracterizado através da figura do malandro, as relações entre ficção e
realidade são de senso comum. Trata-se de uma personagem que existe nos dois planos, e as
características extraliterárias que a definem, definem também o espaço literário armado em
torno dela. As suas coordenadas são suficientes, por exemplo, para distinguir entre as
Memórias e o mundo do romance picaresco.”
“III romance documentário? O romance de tipo realista, arcaico ou moderno,
comunica sempre uma certa visão da sociedade, cujo aspecto e significado procura traduzir em
termos de arte. É mais duvidoso que dê uma visão informativa, pois geralmente só podemos
avaliar a fidelidade da representação através de comparações com os dados que tomamos a
documentos de outro tipo.”
“O panorama social não é amplo. Restrito espacialmente, a sua ação decorre no Rio,
sobretudo no que são hoje as áreas centrais e naquele tempo constituíam o grosso da cidade, a
ação é circunscrita a um tipo de gente livre e modesta, que hoje chamaríamos pequena
burguesia. Documentário restrito, pois, que ignora as camadas dirigentes, de um lado, as
camadas básicas, de outro. Na verdade, o que interessa a analise literária é saber, nesse caso,
qual a função exercida pela realidade social historicamente localizada para constituir a
estrutura da obra. A força de convicção do livro depende, pois essencialmente de certos
pressupostos de fatura, que ordenam a camada superficial dos dados. Estes precisam ser
encarados como elementos de composição, não como informes proporcionados pelo autor, pois
neste caso estaríamos reduzindo o romance a uma série de quadros descritivos dos costumes do
tempo.”
“No caso das Memórias que o seu princípio formal, a dialética de ordem e desordem,
dá generalidade à experiência de um setor da sociedade, o intermediário, que nem trabalha
regularmente nem acumula ou manda, e que neste sentido parece o menos essencial. Romance
representativo”
“A natureza popular é um dos fatores do seu alcance geral e, portanto, da eficiência e
durabilidade com que se atua sobre a imaginação dos leitores. Nas memórias, o segundo
estrato é constituído pela dialética da ordem e da desordem, que manifesta concretamente nas
relações humanas no plano do livro, do qual forma o sistema de referencia.”
“É burla e é serio, porque na sociedade que formigas nas Memórias é sugestiva, não
tanto por causa das descrições dos festejos ou indicações de usos e lugares; mas porque se
manifesta num plano mais fundo e eficiente o referido jogo dialético da ordem e da desordem,
funcionando como correlativo ao que se manifestava na sociedade daquele tempo. Sociedade na
qual poucos livres trabalhavam e uns outros flauteavam ao Deus dará, colhendo as sobras do
parasitismo, do expediente, das munificências, da sorte ou do roubo miúdo. “
“Onde se manifesta esta intuição? Na forma literária - sobretudo no balanço do
entrecho. Acompanhando a circulação das personagens, o A. nota que elas vão e vêm entre as
esferas sociais da ordem e da desordem, e que estas idas e vindas são consideradas com
imparcialidade pelo romancista, isto é, sem aderir às valorações positiva e negativa que o
campo da ordem costuma estipular para si mesmo e para o seu oposto.”
“Com efeito, não é a representação dos dados concretos particulares que produz, na
ficção, o senso da realidade; mas sim a sugestão de uma certa generalidade, que olha para os
dois lados e dá consistência tanto aos dados particulares do real quanto aos dados particulares
do mundo fictício.”
V. mundo sem culpa. “As memórias de um sargento de milícia, cria um universo que
parece liberto do peso do erro e do pecado. O sentimento do homem aparece nele como uma
espécie de curiosidade artificial, que põe em movimento os interesses dos personagens uns
pelos outros e do autor pelos personagens, formando a trama das relações vividas e descritas.
E como todos tem defeitos, ninguém merece censura.”
“Esta constelação gera a imagem entre fabulosa e real do mundo sem culpa. As
observações do A. a respeito são numerosas e sugestivas. Para argumentar, ficaremos com
apenas três: - as Memórias são únicas no panorama de nossa ficção oitocentista, por não
expressarem uma visão de classe dominante; - ligam-se a uma atitude muito brasileira, de
"tolerância corrosiva", que vem da Colônia ao séc. XX, à qual se prende uma linha mestra de
nossa cultura; - a disposição de acomodar, que é central para a dialética da malandragem,
pode parecer uma inferioridade diante dos valores puritanos de que se nutre a sociedade
capitalista, mas facilitará a nossa inserção num eventual mundo mais aberto (este passo é
ilustrado com uma referência à Letra Escarlate de Hawthorne e ao drama das feiticeiras de
Salem, em que aparecem aspectos negativos da preeminência da lei na sociedade norte-
americana)”.
“Um dos maiores esforços das sociedades, através da sua organização e das ideologias
que a justificam, é pressupor a existência objetiva e o valor real de pares antitéticos, entre os
quais é preciso escolher, e que significam licito ou ilícito, verdadeiro ou falso, moral ou imoral,
justo ou injusto, esquerda ou direita e assim por diante. Quanto mais rígida a sociedade, mais
definido cada termo e mais apertada a opção. Por isso mesmo desenvolvem-se paralelamente
as acomodações de tipo casuístico, que fazem da hipocrisia um pilar da civilização.”
“O principio moral das memórias parece ser, exatamente como os fatos narrados, uma
espécie de balanceio entre o bem e o mal, compensados a cada instante um pelo outro sem
jamais aparecerem em estado de inteireza. Os extremos se anulam e a moral dos fatos é tão
equilibrada quanto a relação dos homens.”
“A memória de um sargento de milícias, contrasta com a ficção brasileira no tempo.
Uma sociedade jovem, que procura disciplinar a irregularidade de sua seiva para se equiparar
a velhas sociedades que lhe serve de modelo, desenvolve normalmente certos mecanismos
ideais de contensão. Esse endurecimento do grupo e do individuo confere a ambos grande
força de identidade e resistência, mas desumaniza as relações com os outros.”
“Na sociedade parasitária e indolente que era a dos homens livres do Brasil de então,
haveria muito disso, graças a brutalidade do trabalho escravo, que o autor elide junto com
outras formas de violência.”
“A dialética de ordem e desordem é um princípio de generalização que organiza em
profundidade tanto os dados da realidade quanto os da ficção (sejam ou não documentários),
dando-lhes inteligibilidade. Trata-se de uma generalidade que participa igualmente da
realidade e da ficção: está nas duas, que encontram nela a sua dimensão comum.”
“Esta forma é tanto o esqueleto de sustentação do romance, quanto a redução
estrutural de um dado social externo à literatura e pertencentes à história. Trata-se, noutras
palavras, da formalização estética de um ritmo geral da sociedade brasileira da primeira
metade do século XIX.”
“São expressões que designam o modo e o ponto em que a dinâmica estética se prende
à dinâmica social, à exclusão de outros modos e pontos. Assim, a unificação entre as esferas do
romance e da realidade se faz através de sua separação quase total, e a dialética das duas
passa pela sua articulação precisa, e não, como sói acontecer, pela sua confusão. Conteúdos de
romance não são conteúdos reais, e vê-los esteticamente é vê-los no contexto da forma, a qual
por sua vez retoma (elabora ou decalca) uma forma social, que se compreende em termos do
movimento da sociedade global.”
“Reúne: uma análise de composição, que renova a leitura do romance e o valoriza
extraordinariamente; uma síntese original de conhecimentos dispersos a respeito do Brasil,
obtida à luz heurística da unidade do livro; a descoberta, isto é, a identificação de uma grande
linha que não figurava na historiografia literária do país, cujo mapa este ensaio modifica; e a
sondagem da cena contemporânea, a partir do modo de ser social delineado nas Memórias.”
“A originalidade nacional implicada na forma das Memórias e explorada em
"Dialética da Malandragem" é da ordem da estrutura. Trata-se da imitação de uma estrutura
histórica por uma estrutura literária. Quanto aos pressupostos desta posição, note-se que o
país a que alude a forma de um romance não é o mesmo a que alude uma passagem de intenção
documentária. Neste sentido, é interessante lembrar que as Memórias são um livro de nosso
Romantismo, e que a sua abundante cor local participava do esforço patriótico de consolidar
uma identidade e uma literatura nacionais, para o qual aliás a intenção documentária também
contribui.”
“As Memórias são o único livro de nosso séc. XIX que não expressa uma visão de
classe dominante, e para contraste faz várias observações a respeito de Alencar, que no entanto
é um autor de intenções muito sociais Comumente, observações como estas estariam baseadas
no estilo um pouco elevado de Alencar e no estilo muito familiar de M. A. de Almeida. No
contexto, porém, as coisas se precisam: o estilo das Memórias é ligado à dialética de ordem e
desordem e à experiência de classe que lhe corresponde, de que de certo modo é uma suma.
Assim, não ser de classe dominante no caso é isto, e não outra coisa mais genérica. Ao passo
que o estilo de Alencar, bem como outros aspectos da cultura brasileira da época, são ligados a
fantasias de contenção do impulso, próprias à normatividade de ma sociedade jovem, que
procura disciplinar as suas irregularidades.”
“À parte os resultados, a originalidade de "Dialética da Malandragem" não está no
desejo de ligar literatura e sociedade, que, afinal de contas, é dos mais disseminados. Está na
firmeza com que o A. se deixa guiar pelo discernimento formal, seja para discriminar as
componentes de fatura do livro e estabelecer a sua organização, seja para buscar o seu
correlato social, que será construído para explicar a forma.”
“Já no campo marxista, a ligação entre literatura e sociedade não é uma audácia, é
uma obrigação. Entretanto, feitas as notórias exceções, a situação não é melhor. Do ponto de
vista de método, comumente estamos num dos casos já aventados: o crítico dispõe de um
esquema sociológico, a que a obra serve de confirmação. Se consideramos porém que o dito
esquema é uma versão por assim dizer oficial da história do país, veremos que a dificuldade
não é de método, mas de política.”
“Quanto ao estruturalismo, a maneira exaustiva de levantar os passos da intriga,
apoiada até num bonito gráfico, é talvez uma homenagem prestada às suas exigências, que por
esta via são incorporadas produtivamente. No que diz respeito à forma, entretanto, que é o
essencial, são posições diferentes. Como vimos, em "Dialética da Malandragem" a noção de
forma está referida à prática histórica. A oposição de ordem e desordem não faz parte de um
quadro universalista, pelo contrário, ela é esclarecida à luz do movimento e do momento
sociais, onde os termos encontram a sua dialética. Para indicar a diferença, talvez se possa
dizer que, posto diante da alternância de ordem e desordem, o estruturalista iria destacar a
alternância e transformá-la numa regra separada, a ser descrita em seu próprio plano e
segundo o estilo da lingüística. Ao passo que o dialético quer saber o que é que alterna e por
que. Para ele, a alternância é a cifra, e uma solução, para conflitos que não estão no plano
dela, a que no entanto dão o nervo. Estes compõem uma atualidade histórica, em que se
engrenam realidades heterogêneas, tais como um modo de produção, relações de classe,
ideologias, um gênero e um estilo literários etc.”
“A transformação de um modo de ser de classe em modo de ser nacional é a operação
de base da ideologia. Com a particularidade, no caso, de que não se trata de generalizar a
ideologia da classe dominante, como é hábito, mas a de uma classe oprimida. Com efeito, o A.
identifica a dialética de ordem e desordem como um modo de ser popular. Mais adiante ele a
generaliza para o país, sublinha os inconvenientes de racismo e fanatismo religioso que ela nos
poupou, e especula sobre as suas afinidades com uma ordem mundial mais favorável, que pelo
contexto seria pós-burguesa. Assim, a matriz de alguns dos melhores aspectos da sociabilidade
desenvolvida pelos homens pobres, à qual o futuro talvez reserve uma oportunidade. Noutras
palavras, além de a identificar e valorizar, o A. a traz ao âmbito das grandes opções da história
contemporânea (com horizonte diferente, a mesma simpatia social se encontra em seus belos
estudos sobre a cultura caipira). Eis aí a posição, e por que não dizer, a originalidade deste
ensaio.”
“Em "Dialética da Malandragem" colaboram forças e objetivos que comumente andam
separados, o que assinala talvez o término de um período ingrato em nossa crítica. É como se a
acumulação universitária e científica tivesse chegado a um ponto em que não há mais porque
ser inseguro deste lado. Sem ostentação de terminologia, e com notável liberdade de método, o
A. se volta para o interesse literário tal como a vida o põe: o que me diz este livro hoje? Se na
fase de furor terminológico, inaugurada por Afrânio Coutinho, a finalidade da literatura de
ensaio esteve em documentar atualização científica, parece que agora ela volta à vocação
interpretativa, que é o seu interesse verdadeiro e extra-universitário. Seja dito de passagem que
noutros campos da ciência social parece ter havido uma evolução semelhante. Assim, o ensaio
retoma o esforço de interpretação da experiência brasileira, que havia sumido da crítica
exigente, e talvez se possa dizer que inaugura a sondagem do mundo contemporâneo através de
nossa literatura.”

Candido, Antonio: "Dialética da Malandragem", Revista do Instituto de Estudos Brasileiros,


S. Paulo, 1970, nº 8. O romance de Manuel Antonio de Almeida é de 1852.

Schwarz, Roberto: PRESSUPOSTOS, SALVO ENGANO, DE "DIALÉTICA DA


MALANDRAGEM", Divulgado em: http://acd.ufrj.br/pacc/literaria/schwarz.html

Вам также может понравиться